UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
CURSOS DE PÓS–GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO "A VEZ DO MESTRE"
A LEITURA E A ESCRITA - UM CONTEXTO SOCIAL
por
SHEILA MARCELINO DOS SANTOS
Professor Orientador: Diva Nereida M. M. Maranhão
RIO DE JANEIRO
agosto/2002
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
CURSOS DE PÓS–GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO "A VEZ DO MESTRE”
A LEITURA E A ESCRITA - UM CONTEXTO SOCIAL
Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós Graduação Lato Sensu em Orientação Educacional para disciplina de metodologia de pesquisa. Por: Sheila Marcelino dos Santos Professora Orientadora: Diva Nereida Marques M. Maranhão
RIO DE JANEIRO
agosto/2002
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela
oportunidade, a minha família
pelo carinho e amor e ao meu
namorado pelo apoio.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todas as
crianças que terão oportunidade
de ler e escrever neste país.
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EPÍGRAFE
"Quem somos nós, quem é cada um de nós, senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações?" Cada vida é uma enciclopédica, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis".
Ítalo Calvino
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RESUMO
"O diferente de nós não é inferior. A intolerância é
isso: é o gosto irresistível de se opor às diferenças"
Paulo Freire
O trabalho que apresento tem o objetivo de elucidar algo que em
nossa prática tem sido algo de grande observação e preocupação por
parte dos elementos formadores de nossas escolas, a leitura e a
escrita, ou seja, a formação de leitores e escritores em nossas salas
de aula.
Parto das contribuições de autores e teóricos da educação que
acreditam que a repetição mecânica da leitura e a não estimulação da
escrita própria do aluno, faz com que o mesmo, se comporte como
mero reprodutor, levando-o a desmotivação e à falta de interesse.
Acredito que, para que haja formação de leitores e escritores
verdadeiramente conscientes de sua inserção social, desenvolvendo a
criticidade e tendo uma interação expressiva e reflexiva sobre a leitura
e conseqüentemente da escrita, a escola deva criar possibilidades
partindo do grande universo criado pela linguagem, possibilitando ao
aluno decifrar códigos, redigir através de signos, objetivar seu trabalho
a fim de recuperar informações nas variadas formas textuais. Criando
situações para que os alunos negociem os diferentes sentidos que são
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atribuídos ao texto, compartilhando experiências de leitura e de vida,
conscientes que este saber, constitui-se de grande valor social e que
este não se dá desvinculado da experiência do leitor.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
A ALFABETIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE LEITORES E ESCRITORES 11
1.1 - Alfabetização e cultura 17
1.2 - Os métodos para alfabetizar 20
CAPÍTULO II
O ENSINO DA LINGUA PORTUGUESA NA ESCOLA 25
2.1 - Os caminhos da linguagem escrita 30
CAPÍTULO III
UMA PERSPECTIVA DA LEITURA E DA ESCRITA SOCIAL 34
CONCLUSÃO 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42
ANEXOS 45
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INTRODUÇÃO
"A leitura de mundo precede a leitura da palavra,
daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele.
Linguagem e realidade se pretendem
dinamicamente. A compreensão do texto a ser
alcançada por sua leitura crítica implica a
percepção das relações entre o texto e o
contexto."
(Freire, 1985, p.11)
Nunca os tópicos leitura e a escrita estiveram com um grau tão
elevado de importância e no entanto, de preocupação por parte dos
envolvidos em educação.
O fato de, hoje em dia, o ser humano estar inserido no mundo
letrado e possuir a capacidade de decifrar o escrito e ter condições de
ler independentemente, constitui-se um fator importantíssimo em
nossa cultura grafocêntrica.
A aquisição da leitura e escrita antes de constituir-se fator
relevante em nossas escolas, deve constituir fator social determinado
pela interação, troca, diálogo e permeado por confronto de idéias,
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conhecimentos que ampliariam o universo dos novos leitores e
escritores. A simples mecanização da leitura e escrita têm formado no
decorrer dos anos, cidadãos reprodutores e modelizados, sem
autonomia e por isso desinteressados.
A ênfase tem estado numa possível revisão, retomando o
ensino da leitura e escrita no conhecimento letrado do aluno, aquele
que é transmitido em sua inserção cultural e social; analisando os
processos de aprendizado elaborados por ele próprio, e no papel
significante ou insignificante que os métodos de ensino que têm sido
empregados em nossas escolas, considerando o importante papel do
professor mediador, adequando-se a situações, enquanto o indivíduo
escolariza-se.
A escola deve ser agente socializador, tão importante quanto a
família, onde a sustentação se dá em socializar conhecimentos e
erradicar todas as formas que constroem a desigualdade entre os
grupos sociais.
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CAPÍTULO I
A ALFABETIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE LEITORES E
ESCRITORES
"O ensino fundamental, com duração mínima de
oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública,
terá o objetivo à formação básica do cidadão,
mediante: o desenvolvimento da capacidade de
aprender, tendo como meios básicos o pleno
domínio da leitura e da escrita e do cálculo..."
(LDB,1996, p.22)
Durante o início da alfabetização, o papel do professor deveria
ser de ensinar o sistema alfabético da escrita, fazendo a ponte com o
sistema fonográfico que "garantiria ao aluno a possibilidade de ler e
escrever por si mesmo" (PCN, 1997, p.33). O ensino da leitura deveria
partir de experiências do professor enquanto leitor. Entender a leitura
é falar sobre ela, sendo leitor que sentindo prazer na prática, poderia
mediar discussões e diálogos com seus alunos e outros professores;
considerando nas histórias, as leituras de cada um. Esses poderiam
ser os desafios do professor nos tempos atuais.
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Propiciar a leitura e conseqüentemente a escrita, seria o papel
social primordial da escola; já que o contexto cultural em que estão
inseridos os alunos, sobretudo o contexto urbano, é permeado pela
escrita, que ampliam para fora da escola condições para que este
aluno aprenda a ler e escrever.
Alfabetizar demonstra ser uma das questões sociais que mais
implicaria na política e economia, por se evidenciar num instrumento e
veículo de política educacional, que ultrapassaria o âmbito acadêmico
e escolar. A excessiva preocupação didática com métodos para
alfabetizar, a discussão sobre condutas, dando prioridade a técnicas, a
modelos de textos que procurariam criar hábitos de ler nos novos
leitores, demonstram ser exemplos que afastariam o leitor do livro do
real prazer de ler na escola.
Ao ingressar na pré-escola a criança já traz uma competência
lingüística que pode fazê-la interagir com as demais, e encontra
espaço para falar, brincar, construir sentido e aprender. Este ambiente
constitui-se um espaço "alfabetizador, pois pode ser onde a criança
experimenta a escrita e suas funções sociais - a escrita com sentindo"
(Garcia, 1997, p.17). É nele que pode criar seus próprios desenhos,
perguntam e pedem auxílio para escrever o que desejam, vêem um
espaço de criação e de interação fortemente ativo e interativo. As
variadas situações experimentadas podem levá-la a processar que a
escrita registrada pelos professores, nos livros de histórias, nos
bilhetes enviados aos pais pode ter uma função social.
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Para leitura, em nossa cultura, pode-se dizer que haveria
múltiplos valores. Para indivíduos das classes economicamente
favorecidas a utilização da norma lingüística, seria um privilégio. Para
os indivíduos das classes populares, poderia funcionar como
instrumento para obtenção de melhores condições de vida, dando à
leitura a função utilitária.
A escola regular, por vezes, pode alterar este quadro quando
silencia esta criança, seguindo à risca a cartilha e livros didáticos
repletos de atividades sem sentindo que podem até simbolizar
expressões de controle.
A relação de poder, por vezes, é evidenciada e centralizada na
figura do professor, que se torna centro do saber, correspondendo a
uma concepção metodológica em quem ensina, restando ao aluno
cumprir seu papel, o de obedecer - "Ele é apenas o que não sabe e
precisa ser ensinado." (Garcia, 1997, p. 18). É aí que cabe o papel do
professor transformador, aquele que substituindo uma visão simplista
da educação, adquire a posição de transformação do atual contexto.
Juntos, aluno e professor, podem buscar o significado social para o
tratamento da metodologia, equacionando currículo, cultura e prazer
no que é ensinado.
A escola, pensando em facilitar a aprendizagem, fragmenta em
partes o conhecimento, demonstrando assim a destituição de sentido
do que é ensinado. E nesse sentindo, ensinar, pode passar a ter a
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concepção de estímulo-resposta fixando etapas a serem alcançadas e
não exigindo o exercício do pensamento.
"Subtraída a significação, avulta a importância da
forma, o invólucro vazio. Ensinar a ler e a escrever
se reduz a uma seqüência de dificuldades
crescentes: primeiros sons isolados - em
correspondência com sinais gráficos - as letras:
depois desmontagem / montagem, de palavras;
palavras relacionadas em frases, frases formando
parágrafos, parágrafos finalmente integrando
textos. Em resumo: as partes somadas dariam o
todo."
(Garcia, 1997, p.19)
Fragmentar o que é ensinado e optar por retroceder a unidades
mínimas de linguagem, pode demonstrar o desconhecimento de
"percurso já construído pelo falante." (Garcia, 1997, p.20). A criança
que já constrói seus próprios textos, que está inserido numa certa
riqueza de linguagens obtidas em seu cotidiano, que atribui
significados interagindo em seu grupo social competentemente, não
deveria ser levada a retroceder, a balbuciar sílabas sem sentido.
Ao aprender a falar a criança, geralmente, conta com o apoio do
grupo social, fazendo-a perceber que através da interação se faz a
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ponte para o entendimento. Quanto ao aprendizado sistemático da
leitura e escrita, deveria haver um processo que não destituísse de
sentido o que se aprende.
"O aprendizado da escrita á desde o princípio,
destituído de sentido e monitorado sob a vigilância
e tirania da norma ortográfica. A construção do
conhecimento é tolhida e contida sob a camisa-de-
força do estritamente ensinado".
(Garcia, 1997, p.22)
Para isto a escola deveria ter claras as propostas metodológicas
que levaram ao fracasso de vários alunos, atribuindo-lhe a culpa por
não conseguirem se adequar ao método e por vezes estarem excluído
dele. Assim sendo, poderia ser garantido a todos, o lugar na escola,
mas o sucesso e o fracasso, dependeriam de cada um, da adequação
de cada ser humano.
"O aprendizado da fala está desde o princípio centrado na
interação" (Garcia, 1997, p.16) e, a partir daí que analisamos a
interação social, como ponte para o ensino da leitura e escrita. A
criança que vive o processo ensino-aprendizagem como uma relação
dialógica, pode buscar em seu mundo interior os conhecimentos
reformulando sua própria vida interior.
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Ao dominar a escrita alfabética, o aluno, não está garantindo a
possibilidade de ler compreensivamente textos e nem produzí-los. O
livro didático e o livro literário parecem insuficientes para o
desenvolvimento das habilidades para o leitor dinâmico e criativo. Para
que isso possa ocorrer, seria importante um trabalho sistemático
pedagógico, onde o contato com histórias, notícias de jornal e de
vários gêneros, lidos ao aluno, possibilite um maior contato com o
universo escrito, a fim de ampliar as suas possibilidades de
comunicação. Seria fundamental no processo de alfabetização, a
observação de situações, e em que condições são processadas a
produção do conhecimento escolar da escrita, em que aspectos estas
situações levaria ao aluno estabelecer ligações e composições óbvias
com o mundo, com a sua realidade.
Caberia ao professor o papel de provocar, questionar, ajudar a
estabelecer prazos, mediando a construção do conhecimento;
lembrando que este trabalho se constrói coletivamente, sem negar o
processo individual e o movimento de integração das varias áreas do
saber.
Mediar a produção do aluno confrontando com sua própria
produção, seria o anúncio do resultado escolar da criança, pois a
forma de como é direcionado este trabalho, implicaria no sucesso ou
insucesso do aluno. Na construção do sucesso escolar há evidências
que se o professor assumir em seu cotidiano uma postura de
interlocutor, aberto ao diálogo para a interação, para a construção,
poderia haver maior percepção do conhecimento já incorporado pelo
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aluno, podendo agir na ampliação deste saber, "O professor toma em
suas mãos o papel articulador deste processo" (Garcia, 1997, p.53)
"A alfabetização é um processo que, ainda que se
inicie formalmente na escola, começa, de fato,
antes de a criança, chegar à escola, através das
diversas leituras que vai fazendo do mundo que a
cerca, desde o momento em que nasce e, apesar
de se consolidar nas quatro primeiras séries,
continua pela vida a fora."
(Garcia, 1997, p.66)
1.1 - ALFABETIZAÇÃO E CULTURA
"A alfabetização é hoje, nas sociedades modernas
industrializadas, um absoluto direito humano.
Independentemente das condições econômicas e
sociais e, que o grupo se encontra, índices de
alfabetização representam o grau com que esses
direitos são efetivamente encontrados e
distribuídos pela população."
Magda Becker Soares
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Partindo da definição de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira,
alfabetizar seria "ensinar a ler e a escrever". (2001, p. 30). Este
conceito poderia demonstrar uma prática de reprodução; aquele que
sabe ensina ao que não sabe. Segundo Patrícia Corsino, doutoranda
em Educação pela PUC-RJ em pesquisa realizada pelo Departamento
de Educação denominada Níveis e Conteúdos de Alfabetismo Infanto-
Juvenil, quando propõe discussão acerca de questões sobre
Alfabetismo e Cultura conceitua :
"Alfabetismo e cultura não são conceitos simples
de serem definidos devido à multiplicidade de
facetas que comportam e à permanente
construção tecida por cada momento sócio-
histórico".
(MEC, 1999, p. 21)
Um sujeito culto poderia ser aquele que possui "um leque de
conhecimentos e de competências intelectuais e / ou artísticas
valorizadas socialmente". (MEC, 1999, p.22). Culto, seria aquele que
adquiriu cultura através de livros, literaturas em geral, podendo ter o
mesmo significado de letrado, já que em nossa sociedade ambas as
definições parecem sinônimas.
Cultura, pelas ciências que estudam a sociedade, pode se definir
"como conjunto de traços característicos do modo de vida de uma
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sociedade, de uma comunidade ou de um grupo." (MEC, 1999, p. 22).
Partindo deste princípio, o sujeito seria portador, herdeiro e produtor
de cultura em cada grupo, e o próprio grupo teria características
próprias. Assim poderíamos dizer que há um estreito laço entre cultura
e educação, "pode-se dizer que a cultura é o conteúdo substancial da
educação". (MEC, 1999, p. 22).
A partir daí, poderemos avaliar que seria pela educação que o
sujeito ampliaria suas fronteiras culturais, mas não poderíamos
justificar a educação fora da cultura. Perpetuar cultura seria
responsabilidade da educação, talvez no âmbito escolar de maneira
formal, de forma institucionalizada, ampliando conhecimentos,
habilidades, difundindo entre os sujeitos culturas específicas, num
processo de interação social.
Quanto ao alfabetismo, que poderia ser a parte essencial do
conjunto educação e cultura e na cultura onde encontraria mais vigor,
pode-se dizer que alfabetização seria o início do estado de ser
alfabetizado.
Ser alfabetizado como define a ONU (Organização das Nações
Unidas) em 1948, seria "ler e escrever um bilhete simples no seu
idioma" (MEC, 1999, p.24) restringe o significado a pensarmos em
qual seria a verdadeira concepção de leitura e escrita para quem
redige e lê apenas um simples bilhete.
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Alfabetização com qualidade, poderia estar em criar condição do
sujeito ser alfabetizado dentro de suas propriedades cognitivas,
afetivas e culturais comportando variadas definições frente à leitura e
escrita, associando-se ao desenvolvimento econômico, político e
social. A escola não deveria estar arraigada a mitos culturais e
lingüísticos, sendo portadora e difusora de cultura oficial e da língua
padrão, onde qualquer desvio ou diferença pode representar o
fracasso. Ao contrário, deveria ser sinônimo de progresso,
desenvolvimento e modernidade, tendo sua tarefa central no
progresso civil do cidadão, contribuindo para o exercício da cidadania.
1.2 - OS MÉTODOS PARA ALFABETIZAR
"É possível formar cidadãs e cidadãos autônomos
numa escola onde a autonomia não seja discutida,
mas intimamente vivenciada por seus diferentes
segmentos."
Sônia Couto, Instituto Paulo Freire, SP
Descobrir um único método ou métodos para alfabetizar, que
fossem verdadeiramente eficazes, seria a vontade de cada educador,
de cada instituição de ensino, de pais e dos próprios educandos.
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Na área educacional, inúmeros trabalhos e pesquisas têm sido
realizados em alfabetização, para tentar solucionar este problema. No
entanto, as pesquisas podem apontar para uma crítica aos habituais
métodos de ensino e ao uso das cartilhas na maioria das escolas. De
época em época, ela pode nos aparecer com uma roupagem diferente,
mas seu conteúdo fragmentado, seguindo uma visão na boa
aquisição para a atividade de leitura e escrita, por vezes transforma
nossas escolas em reprodutoras de sistemas. A cartilha pode
desqualificar alunos e professores, quando é usada como algo
imprescindível dentro das classes de alfabetização.
Foucambert (1980:37 apud Garcia, 1997, p. 70), chama a
atenção para os métodos de ensino de leitura e escrita, quando os
mesmos salientam prioridade na compreensão do funcionamento da
língua e somente depois no uso dela, quando o contrário poderia estar
em:
"Aprender a ler e escrever é primordialmente,
aculturar-se num novo modo de comunicação e
expressão, numa nova linguagem e
secundariamente, apropriar-se das características
( ortográficas, gramaticais...) da língua."
(Garcia, 1997, p. 70)
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Diante disto, na prática alfabetizadora, o discurso, e a prática
deveriam estar relacionados com a vida real ou com o imaginário das
crianças, um mundo para elas, carregado de sentindo.
A obrigatoriedade do método e o uso unicamente da cartilha,
pode comprometer alguns educandos, levando-os por vezes ao
fracasso, pois a linguagem por eles utilizadas podem estar distantes
do universo social da criança.
Vejamos alguns exemplos de leituras que são trabalhadas em
classes de alfabetização.
"A sopa
Vovô Tadeu toma sopa.
A sopa é de batata.
A sopa é muito boa.
Laila só toma o suco de tomate".
(Bragança, Carpaneda, Nassur, 1994, p. 46)
"Caio toca cuíca.
A cuíca caiu.
Caio colou a cuíca.'
(Gonçalves, Shunck, 1993, p. 30)
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Alguns métodos ou a maioria deles, podem partir do
princípio de que o ensino da língua deve ser simplificada para ser
entendida e ensinada, usando-se de textos pequenos, com frases
curtas ou parte-se das letras e sílabas que formarão palavras para
depois de algum tempo formarem textos. Os textos podem apresentar-
se de forma descentralizada, criando uma separação entre os textos
que existem no mundo, no cotidiano da criança, dos textos que
servem para ensinar a ler.
"Regina bateu a gema.
A gema é mole.
Ela colocou a gema batida no leite do bebê.
O bebê tomou toda a gemada."
(Gonçalves, Shunck, 1993, p. 82)
"Essa baleia é mãe.
Veja como ela nada.
A baleia leva seu bebê.
Ele mama.
(Gonçalves, Shunck, 1993, p. 74)
"Juca vai à janela e fala:
-- Juliano, veja o javali.
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Ele saiu da jaula.
O javali corria na rua."
(Gonçalves, Shunck, 1993, p. 70)
Alfabetização que queira buscar o sucesso, deveria se
comprometer em se apropriar da linguagem social "enquanto
instrumento de afirmação social" (Garcia, 1997, p. 70), cobrindo de
sentido, a aquisição da leitura e escrita.
"Conhecer os textos que fazem parte do cotidiano
dos alunos e quais práticas de leitura e de escrita
estão a eles relacionadas tem um duplo objetivo:
contextualizá-los como leitores e pessoas capazes
de escrever e fornecer subsídios para ações
pedagógicas."
"(MEC, 1999, p. 43)
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CAPÍTULO II
O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA
Com base na leitura de Parâmetro Curricular Nacional de
Língua Portuguesa, pode-se considerar a preocupação quanto à
aprendizagem do aluno do Ensino Fundamental, baseando-se no
resultante da articulação de três variáveis: o aluno, a língua e o
ensino; "O aluno é o sujeito da ação de aprender, aquele que age
sobre o objeto do conhecimento" (PCN, 1997, p.29)
A Língua Portuguesa que se fala e se escreve dentro e fora da
escola, a que se fala em todas as camadas sociais, a que circula em
escritos sociais, é o segundo elemento desta importante articulação. O
ensino seria o terceiro elemento desta tríade, onde a prática
educacional organiza a mediação entre o sujeito e o objeto.
É neste ponto que vale a implementação e direção de
atividades, onde possa acontecer a mediação, com objetivo de
orientar, apoiar e direcionar a ação e a reflexão do aluno no objeto do
conhecimento.
"A importância e o valor dos usos da linguagem são
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determinados historicamente segundo as
demandas sociais de cada momento. Atualmente
exige-se níveis de leitura e de escrita diferentes e
muitos superiores aos que satisfizeram as
demandas até bem pouco tempo atrás e tudo indica
que essa exigência tende a ser crescente"
(PCN, 1997, p.30)
É neste sentido, que a escola como instituição de acesso ao
conhecimento deverá atender a essa demanda implicando numa
revisão das práticas de ensino, no que trata da Língua, como algo sem
vida, com regras textuais a serem aprendidas. Existem práticas que
possibilitem ao aluno aprender a partir de textos que sejam de seu
convívio social, relacionado a ações do cotidiano, à busca da reflexão
crítica e da informação. Nas atividades com a Língua pode-se refletir
sobre a questão da produção e interpretação textual e à gramática.
Não se pode negar o contato com as regras textuais, que
respondem a exigências práticas da Língua e que favoreçam a
produção textual crítica, a interpretação que busque a imaginação e
que possibilitem a elaboração abstrata do pensamento.
Discussão acerca do fracasso escolar no Ensino Fundamental, e
particularmente no ensino da Língua Portuguesa, no sentido de que há
necessidade de melhorar a qualidade da educação no País, vem
acontecendo desde a década de 80.
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No Ensino Fundamental, o eixo da discussão tem estado na
questão de leitura e escrita, onde é expressa na dificuldade da escola
ensinar a ler e a escrever.
As dificuldades apontam primeiro em alfabetizar e a segunda por
não conseguir que o aluno uso eficazmente a linguagem até pelo
menos, a conclusão do Ensino Fundamental.
Essas evidências apontam para a necessidade de redirecionar o
trabalho escolar para um novo caminho, o da reorientação curricular,
fugindo da mecanização obsessiva e da preocupação com a
convenção ortográfica, que por vezes deram subsídios para a
compreensão do fracasso escolar. E para a busca da construção de
uma prática pedagógica mais compatível com o processo de
aprendizagem vivenciado pelo aluno, podendo garantir ao professor
uma boa formação dando subsídios à reflexão crítica de uma prática
verdadeiramente consciente.
"Toda educação verdadeiramente comprometida
com o exercício da cidadania precisa criar
condições para o desenvolvimento da capacidade
de uso eficaz da linguagem que satisfaça
necessidades pessoais"
(PCN, 1997, p.30)
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Diante dos novos padrões tecnológicos e das novas formas de
gerenciar o trabalho, há evidências das necessidades de se
redirecionar a aprendizagem para a compreensão ampla de idéias e
valores indispensáveis no momento atual, onde a associação com
novos conhecimentos e habilidades cognitivas deverá favorecer o
convívio com as mudanças e com as diferenças que surgem no
mundo atual.
Este convívio pode apontar para uma nova formação de hábitos
e valores que possam beneficiar "a solidariedade e a rejeição ás
desigualdades sociais".( MEC, 1998, p. 19).
Uma escola inserida num contexto em que a tecnologia
predomina, pode ter a consciência no desenvolvimento de um trabalho
na formação de cidadãos conscientes, cientes de sua autonomia,
permitindo que os alunos tenham posição crítica ante a grande
quantidade de informação que recebem.
"Para a formação da autonomia, é necessário que os alunos
posicionem e se façam representar" (MEC, 1998, p. 19), considerando
suas próprias capacidades de produção e do uso das variadas
linguagens, que os façam apropriar-se das diversas formas de diálogo
do atual contexto social.
No atual contexto social e cultural onde está inserida a escola,
caberia o exercício de uma metodologia baseada na troca, onde o
professor pudesse ser o elemento mediador do conhecimento,
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articulando a pesquisa de novos saberes, estando em sintonia com as
necessidades dos novos tempos.
"A escola deverá permitir que os conflitos e as
diferenças se expliquem, pois, dessa maneira,
caminharemos para a construção de novas formas
de ver, sentir e entender, organizar e representar o
mundo, respeitando as diferentes visões dos
indivíduos".
(MEC, 1998, p.19)
Espera-se ao longo de oito anos de duração do Ensino
Fundamental, que o aluno possa obter competências em relação à
linguagem, que torne possível o acesso aos bens culturais, alcance
participações no mundo letrado, possibilitando resolver problemas da
vida em seu cotidiano.
Para que isso ocorra, a escola deverá organizar-se para que
essas expectativas se concretizem, valorizando a leitura como fonte
de informação, utilizando a linguagem como instrumento de
aprendizagem, valendo-se dela como melhoria da qualidade das
relações pessoais.
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2.1 - OS CAMINHOS DA LINGUAGEM ESCRITA
A escrita não pode ser uma simples transcrição da fala, pois
seria importante a noção de que o sujeito em sua compreensão da
linguagem escrita, irá entrar em contato com a utilização das letras
como sinais de representação dentro e fora da escola.
Em nossa língua, a grafia, ou a representação gráfica pode
variar bastante com o som (fonema).
"O som "z', por exemplo, que aparece em casa, é
idêntico ao da palavra zumbido. As letras "s"e
"z"representam, vocábulos o mesmo som. Em
muitas regiões do Brasil, a letra "l" é pronunciada,
como ''u'', como por exemplo, em final, ou almoço,
som totalmente diferente do ''l'' de luz ou de lápis".
(MEC, 1999,P. 36)
Como podemos perceber a notação gráfica de um mesmo som
pode variar bastante, mas seria importante a percepção de que
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"nem sempre todos os fonemas pronunciados
numa palavra são representados graficamente.
Como é o caso do som "i" em "também", que na
verdade se lê "tambeim", ou de "talvez", que se
fala "talveiz"."
(MEC, 1999, p. 36)
Poderíamos dizer que a tendência de quem começa a ter contato
com a escrita é a de reproduzir todos os sons que aparecem na fala.
Para que haja um entendimento dos estudantes acerca das diferenças
entre o modo de escrever e de falar, seria interessante trabalhos de
conscientização que levasse à compreensão e o domínio da
ortografia. O trabalho do professor deveria contemplar as revelações
entre sons e letras, ao mesmo tempo em que ocorre a aprendizagem,
de modo a levar os alunos à consciência de como no "dialeto padrão"
(MEC, 1999, p. 37) se fala aquilo que eles estão aprendendo e
representando por escrito, observando também, a oralidade, eixo
importante para a compreensão dos sons.
Seria importante a conscientização também, de que "as formas
de falar das sociedades são meras convenções, escolhas arbitrárias
de letras para cada som e de sons para representar cada objeto
(MEC, 1999, p. 37).
A partir daí, seria importante o valorizar da bagagem cultural do
educando, para que no momento do confrontar com o mundo letrado,
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não haja problema com a auto-estima, dificultando assim, todo
processo construído. O aluno precisa ter claro que mesmo no "dialeto
padrão" (MEC, 1999, p. 37), há uma grande variedade de linguagem,
que socialmente são prestigiadas, mas que na expressividade e na
comunicação são "igualmente válidas" (MEC, 1999, p. 38). Diante
disto seria impossível classificar uma fala, uma linguagem ou até
mesmo um falante mais certo mais errado que outro, ou "mais
evoluído ou mais primitivo, simplesmente pelo modo como ele
pronuncia as palavras" (MEC, 1999, p. 37), nem mesmo classificar os
textos produzidos por diferentes autores da mesma forma. O que seria
possível, é classificar de acordo com a proximidade ou não com a
norma padrão da língua.
Como pode-se perceber, a escola deveria estar atenta a esta
variedade, e trazer para dentro das salas de aula atividades que
dessem condição ao aluno de perceber esta diferente relação, sem
reforçar preconceitos, valorizando concepções de certo e errado, mas
procurando corrigir o aluno com moderação para que este possa
alcançar a sua autonomia como escitor.
O valor da linguagem escrita deve ser compreendido pelo aluno,
como uma forma duradoura, confiável na transmissão das mensagens,
pois através dela, podemos saber fatos do passado registrados na
história, por exemplo. Seria também importante considerar, que
através dela o indivíduo também se expressa registrando sentimentos,
atitudes, ações que acompanhados de expressões, irão alcançar
outros indivíduos. O importante seria, o entendimento que a expressão
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escrita tem força suficiente ao se expressar, por isso que o desejo de
cada vez melhor usar-se da ortografia de forma coerente, deveria ser
o desejo de cada educando.
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CAPITULO III
UMA PERSPECTIVA DA LEITURA E DA ESCRITA SOCIAL
A leitura pode representar para cada ser humano variadas
possibilidades. As de ver o mundo em cores, de ver as verdades que
ele possa conter, de poder argumentar com este mundo e assim poder
entendê-lo melhor. Pode fazer ver este mundo com maior
encantamento, mas para isto seria preciso que haja percepção do
poder da linguagem e da palavra, especificamente.
"reconhecemos o valor das linguagens não
verbais, mas é a palavra que consegue viabilizar-
se como expressão de todos os integrantes de
cada comunidade"
(MEC, 2000, p.22)
Através da linguagem criamos, nos comunicamos, nos
construímos enquanto sociedade. Pela linguagem nos expressamos,
nos revelamos para o outro enquanto ser social, fazendo assim,
história ou parte dela.
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Vygotsky (1975, apud Smolka, 1999) sendo um teórico social,
afirma que a linguagem se constrói na interação social. Não somente
no caso da linguagem, mas no desenvolvimento cultural, a criança
adquire informações sociais e depois individuais. O significado das
palavras varia para criança, de acordo com que as formas que o
pensamento funciona. Sendo a linguagem articulada e gerada na
prática social da família, formará o principal sistema de signos que
mediatizará a atividade humana.
Como exemplos destes signos, teríamos a linguagem falada e
escrita constituindo-se como instrumentos culturais que vão sendo
elaborados através do comportamento. "A natureza do próprio
desenvolvimento humano se transforma do biológico para o sócio-
histórico" (Vygotsky, 1975, 51 apud Smolka, 1999, p.57).
Na psicologia dialética de Vygotsky (1975, apud Smolka, 1999)
a linguagem é uma atividade criadora e constitutiva de conhecimento e
por isso transformadora. Então, a aquisição e o domínio da escrita
acarretaria uma grande mudança no desenvolvimento cultural da
criança.
Em seus estudos acerca de cinqüenta anos atrás, Vygotsky
(1975, apud Smolka, 1999) já se perguntava da dificuldade da escrita
para criança. "Em certos períodos, há uma defasagem de seis a oito
anos entre as suas idades lingüísticas escrita e faladas" (Vygotsky,
1975, 98 apud, Smolka, 1999, p.57). Referente a defasagem, ele
aponta para a escrita como um simbolismo de segunda ordem que é
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mediada pela fala, apresentando dificuldades como uma forma de
representação convencional. A aquisição dos signos é apreendida tão
logo o domínio da linguagem falada é adquirido por completo,
desprendendo-se do elo imaginário.
A função do adulto para a internalização da linguagem, se daria
com as implicações pedagógicas que facilitariam a descoberta da
criança por si só, ou da cooperação, para que haja a construção
individual do conhecimento. Seria a zona de desenvolvimento
proximal, afirmada por Vygotsky (1978, apud. Smolka, 1999)
Para Piaget (1975, apud Smolka 1999) e Emília Ferreiro (1979,
apud Smolka, 1999) que procuram ver do ponto de vista da criança
que aprende , as relações de pensamento e linguagens "em cada um
dos esquemas teóricos, vão resultar em diferentes posições no que diz
respeito às relações de ensino." (Smolka, 1999, p.58). Diante disto à
questão da leitura e escrita seria uma análise do processo individual
do conhecimento, demonstrada por Piaget (1975, apud Smolka 1999)
e Emília Ferreiro (1979, apud Smolka, 1999), mas seria levado em
consideração a internalização das funções sociais apontados por
Vygotsky (1975, apud Smolka, 1999). Para a aprendizagem o ideal
seria "a assimilação da experiência social e histórica" (MEC, 1998,
p.205).
Segundo Smolka em seu livro: A Criança na Fase Inicial da
Escrita, o processo de aquisição da escrita pode ser analisado por três
pontos de vista. O primeiro seria o da carência ou da incompetência,
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onde a língua assume a função "com padrões fixos mutáveis" (Smolka,
1999, p. 62), baseados na repetição, no treino, na memorização sem
as quais não seria possível a reprodução da escrita. Neste aspecto a
criança se tornaria passiva e suas tentativas, seriam até mesmo
reprimidas com insegurança de errar. A leitura e a escrita seriam
avaliadas por supostos modelos corretos.
O segundo aspecto seria o da construção individual do
conhecimento, analisando o conflito cognitivo como indica Piaget
(1975, apud Smolka, 1999) e Ferreiro (1979, apud Smolka,1999),
considerando que no processo ensino-aprendizagem, o erro seria
construtivo no processo, e que as tentativas com relação à escrita
seriam levadas em consideração "Leva em conta tentativas e as
hipóteses infantis relativas à escrita como representação da fala
(relação dimensão sonora/extensão gráfica)". (Smolka, 1999, p.62,63)
Este segundo aspecto se contrapõe ao primeiro, mas no entanto,
têm-se entendido que no processo de aquisição da escrita, o ensino
tem-se reduzido à grafia e sons limitando o processo das crianças à
suposição, quando o conflito cognitivo no processo de leitura e escrita
abrange outras dimensões.
Neste terceiro ponto de vista, que completaria o segundo, seria
levado em consideração à atividade mental da criança baseada na
interação, na discussão das condições e do funcionamento da escrita
analisando sua função social. A atividade mental seria analisada não
somente como atividade mental e cognitiva (Piaget) mas, também
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como atividade discursiva (Vygotsky). O processo de leitura e escrita
tomaria força na interação, partindo do discurso interior e apostando
na capacidade da criança em tornar significativo o processo,
interagindo e entendendo a implicação de significados que isto traria
para sua vida.
"a criança aprende ao ouvir, a entender o outro
pela leitura; aprende a falar, a dizer o que quer
pela escrita. (Mas esse aprender significa fazer,
usar, praticar, conhecer. Enquanto escreve, a
criança aprende a escrever e aprende sobre a
escrita)"
(Smolka, 1999, p.63)
A leitura não poderia se tornar um ato solitário fora do mundo
que cerca os indivíduos. Neste universo há lugar para as relações
interpessoais que por certo enriqueceriam o universo do leitor. A
aquisição do conhecimento pode depender do outro, "conhecer o
humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo e não separá-lo
dele" (Morin, 2000, p.47).
A linguagem escrita faz parte do cotidiano das pessoas, pois as
situações escritas estão presentes a todo instante. "A linguagem
escrita exige um alto grau de abstração" (MEC, 1999, p.37), pois ao
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escrever o indivíduo teria de substituir os sons ou a linguagem sonora
aos signos escritos e para que isto ocorra de forma plena, o sujeito de
inteligivelmente transferir estas situações, aplicando-as corretamente.
Esta aplicação, ou apropriação da linguagem escrita não é simples,
exige-se um processo gradual, e um trabalho sistematizado e
amplamente reflexivo. "Ler e escrever seriam processos distintos e
complementares que exigem diferentes habilidades". (MEC, 1999,
p.37).
A leitura seria a demonstração do conhecimento do outro, do
mundo. A escrita seria a compreensão do sujeito, de si próprio.
Para o indivíduo, a apropriação da leitura poderia representar
maior segurança no caminhar, seguindo em frente, para relacionar-se
participar e interferir no mundo em que está inserido, praticando
assim, a cidadania, que deve estar presente e ativa na escola. As
relações entre escola, família, grupos sociais, organizações de
movimentos culturais, devem constituir um elo para a formação do
indivíduo ciente de seus deveres e direitos como cidadão político.
A função real da leitura, deveria ser o de propiciar ao indivíduo
condições de significações tecidas entre as emoções e imaginário,
entre o consciente e o inconsciente, entre o pensamento e a
criatividade. "As pessoas aprendem a gostar de ler quando, de alguma
forma, a qualidade de suas vidas melhora com a leitura".( PCN, 1997,
p.36).
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CONCLUSÃO
"Precisamos contribuir para criar a escola que é
aventura, que marcha, que não tem medo do risco,
por isso que recusa o imobilismo. A escola em que
se pensa, em que se atua, em que se cria, em que
se fala, em que se ama, se adivinha, a escola que
se apaixonadamente diz sim à vida."
Paulo Freire
A leitura e a escrita não podem conviver com o medo, com a
cobrança descabida, e com a punição, nem tampouco conviver com a
repetição mecânica. Ao contrário, deve estar permeado pela emoção e
pelo prazer da descoberta, sendo renovados à cada leitura e a cada
nova produção com novas experiências e significados.
Como educadores, sabemos que as possibilidades nunca
acabam e que estas geram mudança, que podem causar dificuldades,
mas estas não podem construir fator de bloqueio para o crescimento
dos alunos.
A responsabilidade de criar novas possibilidades da leitura e
escrita fazem parte importante do desenvolvimento da cidadania, e os
professores devem estar cientes do importante papel que não se limita
à mera transmissão de conhecimentos. O exercício cotidiano deve ser
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prazeroso, tendo objetivos claros, constituindo-se em avanços
significativos vinculados às experiências e contribuições por parte dos
alunos.
Não podemos deixar morrer o entusiasmo da descoberta através
da leitura e escrita, da alegria do aluno em se expressar através delas
e afinal influenciar decisivamente em seu próprio mundo, tornando-o
capaz de dominar o mecanismo e os recursos do sistema de
representação escrita e possibilitando novas leituras a partir de suas
relações com o mundo.
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ANEXOS