A SUSTENTABILIDADE NOS PROJETOS DE
HABITAÇÃO DE SOCIAL NO CENTRO URBANO DE
SÃO PAULO: VILA DOS IDOSOS
Rosio Fernández Baca Salcedo, Renata Cardoso Magagnin, Talita Cristina
Pereira
1 INTRODUÇÃO
Diante dos problemas da poluição do ar, da água, do solo, do desmatamento
indiscriminado, do uso irracional dos recursos não renováveis, da destruição
demasiada de construções, da falta de acessibilidade, da desigualdade social
gritante, entre outros, surge no final do século XX, a proposta de
sustentabilidade como parte do processo de reflexão para a solução desses
problemas. A sustentabilidade é a “manutenção quantitativa e qualitativa do
estoque de recursos ambientais, utilizando tais recursos sem danificar suas
fontes ou limitar a capacidade de suprimento futuro, para que tanto as
necessidades atuais quanto aquelas do futuro possam ser satisfeitas”
(AFONSO, 2006, p. 11).
A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU
(1991) indica que para haver sustentabilidade, é preciso que:
todos tenham suas necessidades básicas atendidas e lhes sejam
proporcionadas oportunidades de concretizar seu desejo de uma vida
melhor;
Os padrões de consumo sejam mantidos dentro do limite de
interferência que o meio natural pode suportar;
As necessidades humanas sejam atendidas de modo igualitário,
assegurando a todos as mesmas oportunidades;
Os recursos não renováveis sejam utilizados de modo racional, com
ênfase na reciclagem e no uso eficiente, de modo que não se
esgotem antes de haver substitutos adequados;
Impactos negativos sobre a qualidade do ar, da água e dos demais
elementos naturais minimizados, a fim de manter a integridade global
do sistema (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO, 1991).
Também, a Carta do Rio (CONFERÊNCIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS
SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991 apud IPHAN,
2004) ressalta que “todos os Estados e todas as pessoas deverão cooperar na
tarefa essencial de erradicar a pobreza, como requisito indispensável do
desenvolvimento sustentável, a fim de reduzir as disparidades nos níveis de
vida e responder às necessidades da maioria dos povos”. Necessidades como:
alimentação, saúde, educação, habitação, lazer, etc.; cujos espaços
construídos devem contemplar propostas arquitetônicas que reflitam novos
parâmetros de habitabilidade.
Al incidir sobre la forma de habitar, el arquitecto influenciará cada
usuario para que tenga un modo de vida sostenible, intentando que
en el conjunto, la sociedad tenga un comportamiento consciente y
responsable en relación a los problemas globales (CARDOSO, 2008,
p. 5-6).
A Agenda 21 trata dos aspectos que devem ser trabalhados para transformar a
dinâmica social na direção da sustentabilidade: dimensões sociais e
econômicas, conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento,
fortalecimento do papel dos grupos principais com a proposta de ações de
integração e participação de vários grupos sociais no redirecionamento do
processo de transformação social, iniciativas relacionadas à participação das
autoridades locais e das comunidades científica e tecnológica, e meios de
implementação (COFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 2001). Portanto, os governos federal,
estadual e local devem contemplar ações de sustentabilidade nas políticas,
programas e projetos. As universidades podem desenvolver pesquisas
atreladas a sustentabilidade: manejo de recursos naturais, tecnologias,
poluição ambiental, reabilitação de edifícios, proposta de ações de
sustentabilidade, entre outros. E cabe a população adotar ações de
sustentabilidades no seu fazer cotidiano.
O Protocolo de Kyoto, desdobramento da Conferência do Rio 1992, visa
atender os princípios estabelecidos na Convenção sobre Mudanças Climáticas.
No Brasil, os projetos prioritários são relativos à implantação de fontes
renováveis de energia e uso de novas tecnologias para geração de energia,
entre outros.
Em relação à arquitetura, Corcuera (2005) ressalta que a sustentabilidade “está
ligada a dois conceitos: energia e meio ambiente; que apoiam-se sobre três
pilares: deve ser socialmente justo, economicamente viável e preservar o meio
ambiente”.
Ainda em relação à arquitetura, as Nações Unidas (UNCHS, 1993 apud
CORCUERA, 2005) indicaram as seguintes estratégias para o design de
componentes e projeto de edifícios: uso de materiais e sistemas estruturais de
baixa energia, optar por materiais de descarte ou reciclagem, projetar edifícios
com larga durabilidade, adaptáveis a novas necessidades, levando em conta a
reciclagem de seus materiais, entre outros.
Além das estratégias citadas, Corcuera (2005) destaca:
O uso de sistemas de energia mais eficientes e menos poluentes
privilegiando as formas passivas de energia (inércia térmica,
ventilação natural, iluminação natural, etc.) pela correta implantação
do edifício;
O uso de sistemas de coleta e tratamento de água para reduzir a
demanda do sistema público e proporcionar o uso racional da água;
O uso de sistemas de automação e monitoramento inteligentes
visando a otimização e a eficiência de instalações;
Uso de sistemas para redução da formação de lixo e correta
separação e destinação do mesmo para reciclagem ou
compostagem;
O desenho funcional do edifício, reduzindo deslocamentos e
equipamentos e permitindo a acessibilidade física de todos ocupantes
de forma autônoma e segura;
O cuidado de preservação do local e seu entorno durantes as obras
civis e após;
A otimização e racionalização do processo de construção, de modo a
reduzir o desperdício e descarte de materiais durante a construção
(CORCUERA, 2005).
Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo analisar a sustentabilidade
do projeto de habitação social do Conjunto Habitacional Vila dos Idosos,
localizado no centro urbano de São Paulo, implementado pela Prefeitura
Municipal de São Paulo (gestões de 2001 a 2004 e de 2005 a 2008) através do
Programa de Locação Social.
A metodologia: a análise da sustentabilidade dos projetos de habitação social
do Conjunto Habitacional Vila dos Idosos foi realizada a partir dos seguintes
indicadores: aspectos socioeconômicos dos residentes (sexo, idade, renda
mensal, condições da anterior residência e grau de satisfação dos usuários
com a residência atual), viabilidade econômica (incentivos públicos, custo da
obra e financiamento, e valor da locação) e meio ambiente (acessibilidade,
sistema construtivo e acabamentos, iluminação e ventilação natural, uso de
sistemas de coleta e tratamento de água, uso de sistemas de automação e
monitoramento inteligentes visando à otimização e a eficiência de instalações,
coleta seletiva do lixo, entre outros).
As informações foram coletadas através de questionários aplicados aos
moradores, entrevistas realizadas com os arquitetos responsáveis pelo projeto,
levantamento fotográfico do edifício e das habitações, redesenho no Autocad
das plantas, cortes e fachadas do edifício, e memorial de obra.
2 LOCAÇAO SOCIAL: CONJUNTO HABITACIONAL VILA DOS
IDOSOS
O Programa de Locação Social teve início a partir da Lei Estadual 10.365 de 2
de setembro de 1999, a qual definiu as condições primárias para a aplicação
do Programa. Baseada na referida Lei Estadual a Prefeitura de São Paulo
elaborou a Resolução CFMH nº 23, de 12 de junho de 2002. O objetivo do
programa é suprir a demanda de moradia para setores da população que não
possuem condições de participar de outros programas que envolvem a
aquisição ou arrendamento.
As unidades produzidas através deste programa com recursos do Fundo
Municipal de Habitação são de propriedade do Poder Público. São beneficiários
do Programa de Locação Social as pessoas sós e as famílias cuja renda não
ultrapasse três salários mínimos e que pertençam prioritariamente aos
seguintes grupos: idosos acima de 60 anos, pessoas em situação de rua,
pessoas portadoras de direitos especiais e moradores de áreas em risco ou
insalubres (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2002).
O Conjunto Habitacional “Armando Amadeu”, mais conhecido como Vila dos
Idosos, está localizado na Praça Ili Ottani do Bairro Pari, o acesso principal ao
edifício encontra-se na Av. Carlos de Campos, número 840. O bairro
apresenta-se com infraestrutura consolidada, com oferta considerável de
estabelecimentos de comércio, serviços e instituições, e de fácil acesso ao
transporte público (ônibus), enquanto que a estação de metrô mais próxima é a
“Armênia”, localizada a 2 km.
O Conjunto Habitacional Vila dos Idosos é resultado da luta do Grupo de
Articulação para Moradia de Idosos na Capital (GARMIC), formado por idosos
que lutaram pelo direito de possuir uma moradia definitiva (QUIROGA, 2007). A
Prefeitura Municipal de São Paulo nas gestões 2001 a 2004 e 2005 a 2008,
através do Programa Locação Social implementou o Conjunto Habitacional Vila
dos Idosos.
O projeto de arquitetura foi elaborado pelo escritório de arquitetura Vigliecca &
Associados e o prédio inaugurado em 2007. O edifício apresenta o seguinte
programa arquitetônico: 145 apartamentos, sendo 88 quitinetes (31,30m²) e 57
apartamentos com um dormitório (44,12m²), três salões de festas, três
elevadores, biblioteca, horta comunitária, campo de bocha (inacabado), amplo
espaço verde e um espelho d'água no centro do gramado. Em cada andar há
um salão com espaço para assistir televisão ou jogar cartas. Ver Figuras 1, 2, 3
e 4.
Figura 1: Vila dos Idosos Figura 2: Maquete física da Vila dos Idosos Fonte: PEREIRA, 2011 Fonte: VIGLIECCA&ASSOC, 2011
Figura 3: Implantação Vila dos Idosos Legenda: Quitinetes (marrom), Apartamentos com 1
dormitório (amarelo), Áreas comunitárias (lilás), Guarita (laranja), Elevadores (vermelho), Horta
(verde escuro), Espelho d’água (azul), Biblioteca (cinza), Áreas livres (verde claro).
Figura 4: Planta-tipo Legenda: Quitinetes (marrom), Apartamentos
com 1 dormitório (amarelo), Áreas comunitárias (lilás), Elevadores (vermelho) e Escadas (azul).
Fonte: VIGLIECCA&ASSOC, 2012 Organização: PEREIRA, 2012
Fonte: VIGLIECCA&ASSOC, 2012 Organização: PEREIRA, 2012
2.1 COMPONENTE SOCIAL
A análise das características sócio-econômicas dos residentes do Conjunto
Habitacional Vila dos Idosos foi feita através da aplicação de questionários aos
moradores durante o segundo semestre de 2011.
De um universo de 145 beneficiários, foram entrevistados 67. Adotando como
referência a Tabela de Amostras Casuais Simples para nível de Confiança de
95,5% (ORNSTEIN, 1992, p. 80), com uma população no intervalo entre 151 –
200, e com uma margem de erro de 10%, para mais ou para menos, a amostra
necessária mínima seria de 67 habitantes. Os questionários foram aplicados
em setembro de 2011.
Os residentes foram caracterizados por: sexo, idade, renda familiar, local da
residência anterior e grau de satisfação com a atual moradia.
Dentre os entrevistados e suas famílias (perfazendo um total de 90 pessoas), a
maioria são mulheres (56,67%) e uma minoria homens (43,33%). O maior
grupo da amostra corresponde às mulheres com idades entre 70 e 79 anos
(25,56%), seguidas pelo grupo de homens nesta mesma faixa etária (23,33%).
Com relação à renda dos residentes, a maioria possui até 1 salário mínimo
(97,01%), 1,49% até 2 salários mínimos e outros 1,49% até 3 salários
mínimos. Portanto, os moradores possuem renda de até 3 salários mínimos.
Com esta questão também foi possível verificar que os moradores
apresentavam-se satisfeitos com o baixo preço dos aluguéis, pois poder pagar
por sua moradia traz aos idosos uma sensação de bem-estar, de
contentamento. Com relação à questão “Endereço anterior da residência”, as
respostas fornecidas demonstram que grande parte dos idosos habitava em
casas alugadas, nas quais pagavam mensalidades muito altas quando
comparadas à renda que possuíam. Assim, a condição anterior de moradia de
muitos idosos era uma casa alugada (35,82%), geralmente em regiões mais
simples da cidade, onde pagavam aluguéis elevados. A segunda opção mais
escolhida como resposta foi apartamento alugado com 29,85%.
Quando perguntamos: “Sua moradia melhorou em relação à anterior?”, a
maioria dos entrevistados disse estar satisfeito, mencionavam a satisfação de
poder pagar um preço mais justo pelo espaço em que habitam.
Com relação à imagem da atual residência, a maioria dos entrevistados
declarou ter sensações agradáveis (64,18%), apenas para 19,40%, a moradia
traz imagens negativas (falta de espaço, ausência de alguns ambientes, desejo
de mudar-se, inimizades com a vizinhança), 5,97% expressaram que a palavra
casa, os remetia a imagens de ambientes divididos, e outros 5,97% não
responderam a esta pergunta.
2.2 VIABILIDADE ECONÔMICA
A análise da viabilidade econômica foi realizada através dos seguintes
indicadores: incentivos do poder público, custo da obra, valor da locação.
Em 2002, a Prefeitura de São Paulo, ao formular o Plano Diretor Estratégico do
Município, visando combater o processo de esvaziamento do Bairro Pari
ocasionado em parte pela transferência de muitas indústrias para outras
regiões, incluiu o Pari na Macroárea de Reestruturação e Requalificação
Urbana e a área onde foi implantada o empreendimento como ZEIS 3 (Zona
Especial de Interesse Social). Segundo o Estudo de Pré-viabilidade Técnico-
Econômica da Vila dos Idosos, elaborado pela COHAB-SP em 2003 (CEDTEC,
2012) o bairro faz parte da denominada Z2, a qual caracteriza-se como,
predominantemente, residencial e com densidade demográfica baixa. Em 2005,
o Pari foi incluído como área de intervenção da Operação Urbana Diagonal Sul
(CEDTEC - PMSP, 2012).
O Plano Diretor, nesta região, “objetiva-se alcançar transformações
urbanísticas estruturais para obter melhor aproveitamento das privilegiadas
condições locacionais e de acessibilidade” (PMSP, 2002). Para isto, o
esvaziamento populacional deve ser combatido através da implantação de
habitações de interesse social e pela intensificação de ofertas do mercado
imobiliário, através de melhorias na qualidade dos espaços públicos existentes
no bairro, pelo estímulo das atividades comerciais e de serviços, pela
preservação e reabilitação de edifícios pertencentes ao patrimônio
arquitetônico e pela reorganização da infraestrutura e do transporte coletivo
(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2002).
Segundo a ficha de inscrição da Vila dos Idosos no Prêmio Melhores Práticas
da Caixa Econômica Federal elaborada em 2009, os recursos do
empreendimento foram provenientes: 61% (R$ 5.202.771,07) da Caixa
Econômica Federal, 39% (R$ 3.300.000,00) da Prefeitura Municipal de São
Paulo obtidos do Orçamento Geral da União, que estavam destinados ao
Programa Morar Melhor – Programa Especial de Habitação Popular (PEHP) e
do empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A
Prefeitura Municipal disponibilizou o terreno para a realização do projeto.
O valor da locação do apartamento pago pelos residentes é realizado segundo
a renda mensal familiar e a composição familiar. Ver Tabela 1.
Tabela 1 – Comprometimento de Renda Familiar para o pagamento da habitação no
Programa de Locação Social
Faixa de Renda Familiar
(em salários mínimos)
Composição Familiar
(membros)
Capacidade de
endividamento
Até 2 SM Todas 10%
Acima de 2 SM até 3 SM
1 – 4
5 – 7
8 ou mais
12%
11%
10%
Acima de 3 SM*
1 – 4
5 – 7
8 ou mais
15%
14%
13%
* Famílias com renda per capita inferior a 1 SM
Este “valor de referência” é composto pela taxa de recuperação mensal, pela
taxa de administração do agente operador e pela taxa de manutenção do
condomínio (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2002). Os valores
pagos pelos beneficiários da Locação Social são retribuídos ao Fundo
Municipal de Habitação.
2.3 MEIO AMBIENTE
O meio ambiente é analisado através dos seguintes indicadores:
acessibilidade, segurança, sistema construtivo e acabamentos, iluminação e
ventilação natural, uso de sistemas de coleta e tratamento de água, uso de
sistemas de automação e monitoramento inteligentes visando a otimização e a
eficiência de instalações, coleta seletiva do lixo, entre outros.
A análise da acessibilidade e segurança apresenta-se como ponto importante
em todos os edifícios. Na Vila dos Idosos, devido ao seu público alvo, estes
aspectos se tornam ainda mais relevantes. Em entrevista ao arquiteto
responsável pelo projeto, perguntamos: “De que forma os critérios
estabelecidos para acessibilidade de deficientes físicos, segurança no edifício,
rotas de emergência em caso de incêndio, sustentabilidade (captação solar,
reciclagem e armazenamento de águas pluviais) influenciaram o projeto
arquitetônico?”. Segundo Héctor Vigliecca, todos “estes critérios já são uma
condicionante do partido arquitetônico” (janeiro de 2012).
Ainda em relação à acessibilidade no edifício, perguntamos aos moradores: “A
acessibilidade no prédio é ótima, boa, regular ou ruim?”. Para 34,33% dos
residentes é “ótima”, para 55,22% “boa”. Apenas 10,45% dos moradores
consideraram-na “regular”. A maior parte dos habitantes da Vila dos Idosos
mencionou os elevadores enquanto respondiam a esta questão. Para eles, a
presença de três colunas de elevadores em pontos estratégicos do edifício
(seus “vértices”) é adequada. A manutenção é constante, e mesmo quando
surge algum problema, a distância entre os elevadores não é demasiada. Além
disso, para aqueles que têm mais disposição física, a presença das escadas
facilita o trajeto a todas as partes do edifício.
No que se refere à acessibilidade dos ambientes internos do edifício podemos
afirmar: i) os acessos aos apartamentos não apresentam desníveis que
possam comprometer o acesso de qualquer idoso à edificação (ver Figuras a
seguir); ii) a circulação vertical pode ser realizada tanto por escadas (que
possuem guarda corpo de acordo com as normas de acessibilidade) como por
elevadores; iii) os espaços de circulação horizontal (corredores) possuem
dimensões compatíveis para o trânsito de cadeirantes auxiliados por um
acompanhante; iv) os acessos ao interior dos apartamentos possuem portas
com dimensões adequadas para portadores de necessidades especiais.
Internamente, como mostrou os croquis dos apartamentos tipo I e II, as portas
também estão adequadas às normas técnicas brasileiras de acessibilidade.
Entretanto, é importante destacar que o projeto prevê apenas 09 apartamentos
e 16 quitinetes (implantadas no andar térreo) com adaptação às pessoas com
dificuldade de locomoção, com espaço interno para circulação de cadeirantes;
o que significa que apenas 17,2% das unidades (apartamentos e quitinetes)
podem ser consideradas inclusivas. As demais unidades não levaram em
consideração que o envelhecimento traz algumas restrições de mobilidade
(temporária ou permanente) e por este motivo todos os ambientes devem
assegurar ao idoso uma autonomia de utilização de todos os ambientes de sua
residência. Um dos ambientes mais problemáticos é o banheiro, como pode ser
observado na Figura 6, nas unidades não adaptadas o layout do ambiente não
permite que o usuário que ao longo de sua permanência neste local possa ter
Figura 5a,b,c,d,e,f : Acessos à edificação, acesso ao elevador, circulação, escada e acesso ao
apartamento. Fonte: SALCEDO, 2011.
problema de mobilidade e assim ser usuário de cadeira de rodas tenha
liberdade de deslocamento; uma vez que a norma técnica diz que a área
mínima de circulação para a rotação em 360º de uma cadeira de rodas é de
1,50m2. Não há área de transferência da cadeira de rodas para o vaso sanitário
e a área do chuveiro não possui assento para os idosos ou cadeirantes.
Figura 6: Planta dos Apartamentos Tipos I e II
Fonte: http://www.vigliecca.com.br/
Com relação aos espaços externos, a Vila dos Idosos foi projetada para
atender as necessidades de interação entre os moradores, através de uma
vivência comunitária. Os acessos às áreas comuns de convivência são
realizados em nível, conforme mostram as Figuras 7 e 8.
Figura 7: Área de convivência Figura 8: Entrada principal
Fonte: http://www.vigliecca.com.br/ Fonte: PEREIRA, 2011.
O edifício Vila dos Idosos foi executado em alvenaria estrutural. A cobertura do
edifício foi realizada com telhas trapezoidais de aço galvanizado e estas estão
apoiadas na laje através de perfis metálicos e uma estrutura auxiliar de tijolos.
Quanto ao acabamento interno, ao serem entregues aos moradores, as
“alvenarias internas receberiam acabamento em pintura látex na cor branca ou
pintura acrílica na cor branca sobre gesso”. As áreas molháveis (sanitários) são
“revestidas em parte com cerâmica esmaltada 30x25cm na cor branca, e em
parte com revestimento em massa única e pintura acrílica texturizada”. As
alvenarias externas deveriam receber “acabamento com emboço e reboco e
texturizado de acrílico” (MANUAL DO MORADOR, 2011).
Segundo o Manual do Morador (2011), o piso das áreas de “circulação,
escadas, salas e dormitórios são em laje de concreto nivelado a laser com
acabamento com motoacabadora”. O piso dos sanitários e cozinhas “de
cerâmica esmaltada 30x30cm PEI 3 na cor gelo” e o forro e sancas realizados
nestas áreas são executados “em placas de gesso fixadas com arame
amarrado na laje” e com acabamento feito “com pintura látex na cor branca”.
Para auxiliar no aumento da taxa de permeabilidade do solo as calçadas foram
executadas “em blocos de concreto intertravados nas dimensões 20cm x10cm
e uma espessura de 4cm na cor cinza”.
Ao aprofundarmos os estudos em relação à iluminação e ventilação naturais
das unidades visitadas, tendo como referências os padrões estabelecidos pelo
Código de Obras e Edificações de São Paulo, observou-se que a análise do
item “Insolação”, nos 226 cômodos avaliados no edifício demonstrou que
51,33% dos ambientes estavam orientados corretamente em relação ao Sol,
sendo avaliados como “ótimo”. Outros 30,09% foram classificados como “ruim”
por possuírem aberturas com orientações incorretas (sul), e 18,58% dos
cômodos tiveram a insolação classificada como péssima por não apresentarem
aberturas (banheiros das quitinetes – a ventilação é realizada por dutos); a
opção “bom” não foi selecionada. A “Qualidade da Iluminação” que também
consiste num aspecto importante para avaliar a salubridade das moradias,
demonstrou que dos 226 cômodos analisados 11,06% obtiveram a
classificação “ótimo”, enquanto que 11,06% representaram a opção “bom”;
18,58% a opção “ruim” e 59,30% a opção “péssimo”. Estes valores
demonstram que a área da maior parte das aberturas é insuficiente para
iluminar bem os ambientes, a falta de aberturas voltadas para o exterior nos
banheiros das quitinetes também contribuiu para que a porcentagem
insatisfatória aumentasse.
Segundo informações concedidas pela COHAB-SP o edifício conta com
medidores de água, energia elétrica e gás individual e, também, com captação
de águas pluviais (o reservatório encontra-se sob o espelho d’água). Quanto à
captação de energia solar, a COHAB-SP informou que ainda não foram
desenvolvidos sistemas que possam captar a energia suficiente para um
conjunto habitacional, de dimensões consideráveis, a um baixo custo. Implantar
este sistema inviabilizaria o empreendimento economicamente e, por este
motivo, optou-se pela não exigência deste item no edital de licitação da obra
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Conjunto habitacional da Vila dos Idosos implementado pela Prefeitura
Municipal de São Paulo através do Programa Locação Social foram atendidas
algumas necessidades dos idosos como: acessibilidade, segurança, tipologias
de apartamentos com 1 dormitório (44,12m²), proximidade ao transporte
coletivo, comércio e serviços, atendimento social, valor da locação proporcional
a renda mensal do beneficiário e atividades coletivas de socialização.
A maioria das unidades de habitação (88), quitinetes não atendem as
necessidades dos idosos, por ter uma área pequena de 31,30m² e não possuir
ambiente próprio para dormitório. Esta área é insuficiente para o
desenvolvimento de atividades, acomodação do mobiliário e locomoção;
portanto há necessidade de que todas as unidades de habitação tenham 1
dormitório com área suficiente.
Tendo em vista que os idosos apreciam a entrada da radiação solar em suas
casas, pois isto confere a elas mais salubridade e conforto térmico,
destacamos que a localização e dimensionamento das aberturas devem ser
estudados com cuidado, para reduzir o gasto desnecessário com energia
elétrica.
Sugerimos que os futuros empreendimentos levem em consideração a
possibilidade de implantar sistema de captação da energia solar, uso de
sistemas de coleta e tratamento de água, captação e reciclagem de águas
pluviais, sensores que minimizem o consumo de água e energia elétrica, uso
de materiais e sistemas estruturais de baixa energia, optar por materiais de
descarte ou reciclagem, e projetar edifícios com larga durabilidade, adaptáveis
as necessidades dos usuários. Tais medidas, à primeira vista podem ser
consideradas inviáveis devido ao seu alto custo, porém, em longo prazo
gerarão benefícios aos moradores e retorno econômico aos investidores.
Outra sugestão é que os futuros empreendimentos para idosos possam ser
totalmente inclusivos, permitindo que todos os usuários tenham segurança e
conforto ao longo de sua permanência no imóvel. Desta forma, os
empreendimentos garantirão a satisfação pessoal, física e também econômica
dos moradores e o Programa de Locação Social se firmará como uma
alternativa viável para garantir o cumprimento do direito a uma moradia digna
para todos.
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VIGLIECCA, Héctor. Entrevista concedida em 19 de janeiro de 2012.
AGRADECIMENTO
A FAPESP pelo auxílio concedido para a realização da pesquisa e participação
neste evento. Aos moradores da Vila dos Idosos, à Prefeitura Municipal de São
Paulo e ao escritório Vigliecca&Assoc.