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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ ESCOLA DECOMUNICAO ECO
DOUTORADO EM CINCIA DA INFORMAO
INFORMAO MUSEOLGICA:
uma proposio terica a partir da Cincia da Informao
ANA LCIA SIAINES DE CASTRO
Museloga, Doutoranda em Cincia da Informao
1998
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INFORMAO MUSEOLGICA: UMA PROPOSIO TERICA A PARTIR DACINCIA DA INFORMAO
ANA LCIA SIAINES DE CASTRO
Doutoranda em Cincia da Informao, (CNPq/IBICT-UFRJ/ECO).Museloga
O MUSEU DE TUDO
Este museu de tudo museuComo qualquer outro reunido;Como museu, tanto pode serCaixo de lixo ou arquivo.Assim, no chega ao vertebrado
Que deve entranhar qualquer livro: depsito do que a est,Se fez sem risca ou risco.
(Joo Cabral de Melo Neto, 1988)
O MUSEU COMO QUESTO
Perceber as bases empricas da informao museolgica a proposio deste
trabalho, cujo ncleo central pretende discutir os princpios gerais e especficos que
motivam a pesquisa sobre a rea museolgica, cogitada como um caso de interesse terico
para a Cincia da Informao. A questo ser enfocada levando em conta dois tpicos
bsicos: o universo do objeto museal como agente de informao e construtor de
significado e o espao museolgico enquanto narrador autorizado e referncia cultural.
Expresso e autoridade que advm de sua presena institucional e de sua penetrao no
campo psicossocial do indivduo.Como definir sempre uma prtica acadmica de prospeco do territrio conceitual,
no artigo 3 do Estatuto do International Council of Museum - ICOM - Museu uma
instituio permanente, sem fins lucrativos, a servio da sociedade e de seu
desenvolvimento, aberta ao pblico, e que adquire, conserva, pesquisa, comunica e expe,
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com a finalidade de estudo, educao e lazer, os testemunhos materiais do homem e de seu
meio ambiente. Porm compreender a relao dialtica que acompanha o homem em sua
trajetria no campo material - sua vinculao com o objeto - e o campo simblico - sua
expresso museolgica - requer ampliao de anlise sobre aspectos que esto adiante dainstitucionalizao e na retaguarda da relao especular que movimenta o ser humano em
suas referncias simblicas. Processo que indica ser a vivncia de museu to remota quanto
a percepo do homem acerca de seu meio ambiente e de seus objetos.
Multifacetado como conceito social, sua origem consolida-se atravs de feies
nucleares inseridas no universo psicossocial da evoluo humana 1. Em sua feio
mitolgica remete-se a Templo das Musas- filhas de Zeus e Mnemosyne, deusa da
memria- do qual etimologicamente deriva o vocbulo museu, ou seja, mouseion do grego,
museum do latim tardio. Situado em Atenas, era um local evocativo inspirao e ao
saber onde os eruditos do mundo helnico e egpcio reuniam-se para apreciar as artes,
desenvolver estudos filosficos e criar poesias sob a inspirao das Musas. Tanto o
mouseion ateniense como o alexandrino dispunham de biblioteca, anfiteatro, jardim
botnico, pinacoteca e alas de exposio, caracterizando-se como centros de produo
intelectual e artstica.
Com a expanso do conhecimento, ressalta-se um dos traos denotativos de museu, em
sua feio enciclopdica, cuja marca indica os princpios do procedimento museolgico.
Percebido na exaustividade que passa a determinar os princpios de catalogao das
colees, como no generalismo enciclopdico que orienta sua acumulao desordenada,
caracterizando os chamados gabinetes de curiosidades, que reuniam desde importantes
acervos a objetos exticos e at fragmentos insignificantes. Tal prtica pode ser responsvel
por certa conotao pejorativa de museu que por longo tempo permanece no imaginrio
popular at erudito, como se percebe no instigante poema de Joo Cabral (1988, p.269) que
representa o olhar do poeta sobre o Templo das Musas.
1 Tal conceituao de museu pode ser melhor pesquisada em minha dissertao de mestrado: Omuseu: do sagrado ao segredo. Uma abordagem sobre informao museolgica e comunicao.Orientao: Prof. Maria Nlida Gmez. 205 f. Rio de Janeiro,ECO/UFRJ, 1995.
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A estabilizao da moderna acepo de museu vem a ser firmada em sua feio
institucional, resultado da conjugao de pilares sociais, polticos, culturais e econmicos.
Processo que favorece complexa vinculao do museu como o Estado, desde sua
formalizao at sua histria recente, seja pela funo atribuda oficialmente de principaldepositrio de documentos e objetos ligados a fatos histricos, saber cientfico ou produo
artstica, seja pela prpria estrutura poltico-administrativa. Neste contexto, a instituio
museal mantm-se como reduto de fiana e garantia de certo tipo de patrimnio cultural
que espelha o poder da camada dirigente de uma sociedade, detendo a posio privilegiada
de expor ao seu visitante mltiplos aspectos da produo do conhecimento humano em sua
relao social (Castro, 1995, p.18-22).
no clareamento dessas vertentes constitutivas que se pode cogitar em escavar o
terreno museal naquilo que ao longo de sua permanncia o manteve margem das
transformaes que envolvem o conceito de informao e suas demandas nos setores
cientficos e produtivos, tecnolgicos e scio-econmicos. Isso posto, a conjuntura
informacional do museu por no se organizar em um sistema de recuperao e difuso de
informao fica restrita ao filtro institucional, atravs do qual a comunicao museal
estruturada, possibilitando, assim, estratgias de sacralizao que podem passar
despercebidas, mas que representam obstculo ideolgico e provocam distanciamento
social.
Tomando como suporte estrutural a conceituao proposta pelo terico russo
Mikhailov (1980) - para quem a discusso do conceito de informao privilegia o foco de
informao cientfico-cultural tanto em sua estrutura semntica como em sua feio
esttica - pretende-se desenvolver a perspectiva terica da informao museolgica tendo
como respaldo terico a reflexo crtica de Abraham Moles (1978), que avana e amplia o
conceito enunciado nessa mesma direo. Alm de introduzir vises de alguns tericos da
museologia que analisam a questo da informao como ponto-chave para repensar aampliao da funo do museu e dialogar com especialistas da rea da Cincia da
Informao, tais como Le Coadic (1996), Wersig (1993), Belkin (1978) e Gmez (1994),
autores que vm se debruando sobre a questo do museu como fato informacional.
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O CAMPO INFORMACIONAL
Pensar o museu como espao comunicacional e emissor de informao constitui-se
em um fato cientfico que o assenta como territrio a ser explorado para remover-secamadas cristalizadas de contemplao esttica e alienao conceitual. Por prudncia,
deve-se admitir que s recentemente esta posio vem sendo compartilhada por alguns
especialistas internacionais da rea museolgica, assim como por poucos mas importantes
profissionais brasileiros que sustentam suas pesquisas fundamentadas em conceitos
extrados da Cincia da Informao. Uma aproximao terica que vem ganhando um
espao promissor.
A constatao de que o museu em sua prtica e a museologia em seus princpios
metodolgicos ainda mantm-se alheios percepo das propriedades da informao, sua
circularidade e comportamento, tpicos bsicos da Cincia da Informao articulados a
vrias disciplinas de pesquisa que determinam seu perfil multidisciplinar, favorece a
afirmativa de que o fato cientfico referido delineia um campo informacional de
dimenses ainda insuficientemente avaliadas pelos profissionais que atuam na instituio
museal.
No dispondo de uma estrutura conceitual para ativar sua linguagem documentria
nem desenvolver seu sistema de recuperao, transferncia e disseminao de informao,
o museu permanece imobilizado em seu tempo eterno, alheio troca social e distante da
diversidade cultural. Mesmo considerando as recentes tentativas de revitalizao miditicas
que vm ocorrendo em funo de eventos de grande porte, cujo resultado de pblico pode
parecer estimulante, tal postura no tem contribudo para minimizar a desestruturao
informacional percebida no museu. Tanto no tocante s colees e aos acervos como na
produo de uma pesquisa bem sistematizada e disseminada, que, em ltima instncia,
representa sua funo bsica e intrnseca enquanto instituio cultural.Se como campo de investigao terica a extenso vasta, por experincia
profissional pode-se afirmar que o estgio atual ratifica a proposio de identificar a
estrutura da informao museolgica, no s pelo seu potencial mas na expectativa de
que venha a servir de subsdio para uma revitalizao e conseqente ampliao do
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significado do museu no imaginrio social e no quadro cultural, tanto no conceito popular
quanto no erudito, como indica o belo poema de Joo Cabral que recobre este trabalho
como reflexo essencial. Pode-se, ainda, conjeturar que tal concepo contribua nem que
seja para desfazer-se da incmoda conotao de local de coisas antigas ou de meramenteum parque de atraes promocionais no campo da cultura de massa, fator e postura que
muitas vezes desviam confortavelmente a ateno do verdadeiro problema.
Colocando a proposta de iluminar sobre o que caracterizaria a informao
museolgica, toma-se como ponto de partida a conceituao proposta pelo terico russo
Mikhailov (1980, p. 73), at para no estabelecer outra abrangncia. A informao aqui
referenciada relaciona-se informao cientfica, tanto em sua estrutura hierrquica como
em sua construo semntica, resultado de atividades sociais de produo do conhecimento.
Apesar desse conceito no encontrar a mesma ressonncia ou o mesmo significado entre
alguns tericos anglo-saxos amplamente referenciados na literatura recente da Cincia da
Informao, por aproximao terica a opo prende-se ao fato de o autor enfatizar a
informao como aspecto de transformao da realidade e seu carter social ligado a
fenmenos e regularidades inerentes sociedade humana.
Portanto, categorizar o termo informao significa estabelecer perfeitamente a
distino conceitual do que a define. No sentido filosfico, para Mikhailov, informao
pode ser definida como o contedo da relao entre objetos interativos que se manifesta
em uma mudana de estado dos mesmos. Segundo o terico russo, o contedo cientfico da
informao seria obtido a partir do processo de conscientizao, ou seja, na prtica e no
esforo ativo do indivduo em transformar a natureza e a sociedade, e no necessariamente
apenas nas pesquisas e desenvolvimento cientficos.
Em sua anlise, Mikhailov (1980, p.70-89) percebe a distino clara de que nem
toda informao obtida pelo processo ativo pode ser considerada cientfica, mas somente
aquela que seja o ponto de partida para a ao de transformao, cuja conscientizaosensitiva d ao homem apenas uma noo dos aspectos externos das coisas. S ao expressar
seus pensamentos lgicos de forma verbal, na utilizao do cdigo lingstico, que o
indivduo poder apreender a natureza interna das coisas e suas inter-relaes. Portanto,no
seria apressado dizer-se que a estrutura formal da informao cientfica tem caractersticas
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hierrquicas, propriedades peculiares e contedos semnticos. Nesse contexto, o termo
informao cientfica alcana um sentido amplo, genrico, como pressuposto processual,
cognitivo e cultural, resultado das prticas socio-histricas, representando um fenmeno
social nico dentro da esfera da comunicao cientfica.Sem estimular polmica incua, razovel afirmar que provocar a comunicao
ativar a engrenagem informacional, no havendo precipitao em considerar que o termo
informao cientfica torna-se extensivo proposio conceitual da informao
museolgica, enquanto princpio formulador.
Em consonncia com a abordagem aqui desenvolvida, a partir do trabalho de Aldo
Barreto (1994, p.3), estudioso que vem mantendo um dilogo terico com vrios autores
da rea da Cincia da Informao, pode-se considerar que a informao em seu aspecto
fenomenolgico ajusta-se a um processo de comunicao, tanto em sua funo mediadora
na produo de conhecimento quanto como fato social que , vinculado a processos
comunicacionais. Tanto para o autor como para os clssicos da rea, a informao
qualifica-se em forma e substncia, tal qual estruturas significantes que operam com a
condio precpua de provocar conhecimento para o indivduo e para o grupo social. Um
instrumento modificador da conscincia humana que tem como escopo a possibilidade de
modificar seu "estoque mental de informaes" (Barreto, 1994, p. 4).
Assim colocada, a produo de informao implica adoo de prticas bem
sedimentadas e racionalizadas, a fim de que as etapas operacionais de reunir, selecionar,
codificar, classificar, armazenar e transferir informao possam resultar no que Barreto
denomina de "estoques de informao". Seu entendimento posiciona de forma inequvoca
que por maior que seja o repositrio de informao, mesmo considerando o potencial
acumulado, ele esttico, no produz por si s qualquer conhecimento, a no ser no
mbito da transferncia da informao. Sendo uma posio decisiva para conferir respaldo
nossa proposta terica, quando afirma que:"as estruturas significantes armazenadas em bases de dados, bibliotecas,arquivos ou museus possuem a competncia para produzir conhecimento,mas que s se efetiva a partir de uma ao de comunicao mutuamenteconsentida entre a fonte (os estoques) e o receptor" (Barreto,1994, p.9).
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Ainda em consonncia com Barreto (1990, p. 113), que ressalta em seus trabalhos
tericos o museu como uma das instituio paradigmtica de estoques informacionais, tanto
por seu volume, relevncia e contextualidade, a estruturao adequada da informao
museolgica representa a possibilidade de disseminar uma produo de conhecimento quetem de ser levada em conta no s por seu contnuo e cumulativo crescimento como para
criar melhores condies de democratizar o acesso informao.
Na medida em que uma instituio sociocultural como o museu tem reduzido grau de
acessibilidade e baixo teor de comunicao, a informao pode provocar um processo de
expanso e representar um fator de mudana no plano do poder econmico, assim como da
realizao cultural, na observao de Gmez (1987, p.157). At porque a informao vem
desempenhando um novo papel na sociedade contempornea, na medida em que sua
redistribuio passa a funcionar como vetor de transformao, minimizando as diferenas e
os conflitos.
Papel este que sustenta a ao social entre os agentes envolvidos no quadro do
conhecimento, da informao e da transferncia de informao, no sentido de direcion-la
em seu propsito de exteriorizar a informao em novos blocos sociais. Para tanto, o
conhecimento deve ser percebido como ato de pensamento, que penetra e define o objeto
prprio de seu conhecimento, ou seja, seu processo. O qual para sua efetivao implica
"formaes objetivas" estabelecidas simbolicamente, objetivadas em produto, como
componentes de um campo temtico. E tambm "formaes subjetivas" que envolvem
atividades do pensamento, como elucida Gmez (1994, p.4).
A produo de informao operacionaliza-se atravs de prticas bem definidas e na
construo de seu campo social. Uma das formas possveis de compreender o fenmeno da
informao percebendo-o em interao no campo comunicacional. Considerando que o
conhecimento cientfico um conhecimento social, efetivado a partir de leis, teorias e
hipteses, atravs do qual o indivduo se insere no mundo que o contorna, a informaocientfica o produto comunicado, faceta desta complexidade que o conhecimento.
Vale ressaltar que o relacionamento entre linguagem, significado e realidade
representa um estmulo para o compartilhamento de significado, assim como possibilita a
interao simblica. Por extenso, atravs de processos cognitivos, o indivduo habilita-se
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a recolher, armazenar, interpretar e recuperar informao, solidificando seu papel
estruturador no comportamento social, na tomada de deciso.
A informao, como campo temtico da Cincia da Informao, em sua
multiplicidade de contextos, entendida como algo que se explicita, que no diz respeitoapenas gnoseologia, mas ontologia, no diz respeito apenas noo de alguma coisa,
mas tambm prpria coisa, como analisa Zeman (1970, p.158). Para o autor, a
informao est ligada organizao, conservao e transmisso desta organizao, fator
de manuteno da unidade de saber da prpria Cincia da Informao e seu alcance
multidisciplinar.
Muitos dos tericos mais representativos da Cincia da Informao vm levando
em conta o fato de que uma percepo de verdade cientfica no ocorre em uma cincia
isolada, vedada a aproximaes, pois ela s se constitui em processo quando da
concorrncia de vrias reas do saber, e que tal fenmeno configura-se em campo de fora
poltico e social.
Para Wersig (1993, p.233), a questo toma contornos mais crticos, quando enfatiza
que a Cincia da Informao no se configura em um conjunto de disciplinas clssicas e
sim como um complexo em desenvolvimento de novas abordagens, cujos problemas seriam
obrigatoriamente precedidos por estratgias que enfrentem suas contradies e
complexidade, para que possam lidar com condies caticas Neste contexto, fica-se muito
vontade para associar tais condies ao processo museal em sua vertente informacional.
Todo evento informativo, na expresso de Belkin (1978, p.80), pode ser considerado
como uma estrutura resultante ou organizao. Assim sendo, falar de organizao
identific-la com informao, tendo como conseqncia terica o que o autor sugere, ao
buscar em sua definio a sntese clssica, que "informao o que capaz de transformar
estruturas". Tomando por emprstimo tal conciso terica, por analogia nossa, pode-se
situar o reverso daquilo que se est discutindo neste trabalho: a imvel estruturainformacional museolgica.
Recentes reflexes, encontradas na literatura produzida pelo grupo europeu da
chamada Nova Museologia, liderado pelo holands Peter van Mensch, reafirmam a
necessidade da museologia de aproximar-se de outras perspectivas cientficas, em evento
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multidisciplinar, e enfatizam que sua revitalizao deve partir de anlises sobre as
condies e resultantes da natureza da rea. O embasamento terico apoia-se na
constatao de que seu saber encontra-se em estgio heurstico de observao e definio,
como alerta Tomislav Sola (1987, p.45)., muselogo iugoslavo particularmente lcidosobre o estgio atual da disciplina e de seu quadro terico.
Como reforo, a questo ganha com o questionamento de Waghburn, terico
holands, que percebe e enfatiza a necessidade do registro da informao no ser somente
a mera conservao do objeto museolgico e, sim, ampla construo de um sistema
organizado atravs do qual seja redimensionado seu potencial de pesquisa e
compartilhamento de comunicao enquanto herana natural e material que representa.
(Waghburn apudMensch, 1989, p. 94).
Uma estrutura de identificao da informao museolgica tem obrigatoriamente que
avaliar os diversos planos informacionais e as variadas categorias documentais que
exprimem e compem o objeto museolgico. O campo informacional que o museu
representa possibilita enfrentar seu eterno desafio, tal qual uma esfinge ameaando
devorar quem no a decifra, e confirmar o que Deloche (1989, p.55), em sua condio de
terico perceptivo da museologia comprometida com esta questo, anuncia: "As tcnicas
do futuros tero a chave dos segredos do passado".
Como reforo argumentativo, vale perceber que para Desvalles, outro autor que
vem alertando para o foco comunicacional do espao museal, a comunicao tem que ser
entendida como aquela que:
no coloca em primeiro plano nem a conservao dos objetos por elesprprios, nem a colocao no espao por ela mesma, na medida em quesua razo de ser traduzir a relao com a realidade, ela deve procurar amelhor linguagem de apreenso desta realidade e da comunicao do quefoi apreendido (Desvalles, 1992, p.20).
Constata-se, a bem da ampliao conceitual, que Le Coadic (1996, p.16), um dos
autores mais referenciados da Cincia da Informao, vem se interessando pela questo do
museu como campo informacional, percebendo que, em suas mltiplas atribuies ligadas
administrao e gesto dos acervos, o museu responde com generalizaes empricas, fato
que dificultaria uma organizao rigorosa da informao.
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No h como desconsiderar que a ampliao informacional museolgica, tanto em
sua estruturao como em sua vertente comunicacional, pode recolocar de forma mais
eficaz a democratizao do acesso aos acervos no s por meios museogrficos,
expositivos, mas sobretudo como um processo de aquisio de conhecimento, parafortalecimento da identidade cultural, com possibilidades de constituir-se em um
movimento de retomada do dilogo que o museu deve provocar no indivduo e na
sociedade.
Para tanto, como desconsiderar o alerta de Jeudy ao analisar que:
os monumentos, os objetos reunidos e consagrados por sua exposio aopblico, engendram efeitos de projeo que, secretamente, modificamsem cessar os modos de sua percepo esttica ou de sua apreensoafetiva (Jeudy, 1990, p.19).
S para no perder de vista a idia de devoluo do bem cultural comunidade que o
produziu, projeto to caro a Alosio Magalhes (1985), um conceito que passa por um
desenvolvimento harmonioso e uma interao reflexiva para que polticas econmicas e
tecnolgicas possam inserir o bem cultural como alternativa de sedimentao social. No
como uma formulao utpica, mas como uma proposio cultural factvel de execuo e
de mobilizao social.
A MUSEIFICAO DO OBJETO
O senso comum atribui ao museu uma ligao com o que autntico, original e,
recorrentemente, com a preservao da memria dos testemunhos materiais que identificam
uma certa camada social. Como se o que tenha sido recolhido, guardado, estudado e
exposto seja, a rigor, o primordial, o inesquecvel. Inapelavelmente, escapam do museu
variantes sociais e culturais que provocam, pelo mnimo, uma reduo de complexidade e
uma desfigurao semntica. Por seu percurso restrito, tal qual um caleidoscpio, o museu
provocaria uma vertigem de percepes e lembranas, at ento adormecidas, criaria
caminhos para uma viagem cujo roteiro s o indivduo representado pode estabelecer e
determinar quando se completa.
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Estender-se-ia ao museu a funo de local de guarda e fiana de traos mnemnicos
sociais, atravs da concretude dos componentes fsicos do que se designa como objeto
museolgico, em uma recomposio de significado. Dizendo de outra forma, como se o
objeto contivesse em si toda a memria do que o distingue, o singulariza. Enquanto que asociedade obteria do museu uma das formas de se reconhecer espelhada na representao
coletiva de uma classe social, beneficiada pela postura de conhecer para no esquecer,
guardar para no desaparecer, em uma relao dialtica no campo material e simblico.
Nessa viso de museu e de objeto museolgico paira a percepo de um revestimento
associado a tempo eterno, um congelamento temporal que atenderia a uma expectativa
ontolgica projetada pelo sujeito e pela sociedade: a eternidade. Tal qual uma cercadura
mgica para proteger da angstia do desaparecimento, ver-se-ia criada a possibilidade de
acesso ao desvendamento da morte ressignificada (Castro, 1995, p.64-73).
O museu, como representao que habita o imaginrio social, mais do que
configurao institucional, vem acumulando variadas referncias e diversos significados
que vo desde a denotao de local de objetos antigos, esttico, at a conotao de centro
cultural, espao mltiplo que oferece opes de laser. Entre a consolidao desta imagem
de inutilidade e o recente conceito de local aprazvel e seguro, o museu desloca-se em um
vcuo que ora provoca indiferena, imobilidade ou distanciamento, ora pretende ativar as
funes de cultura, memria e identidade, reafirmando sua vocao ideolgica de guardio
do patrimnio nacional, como alerta Lumbreras (1980, p.15).
aceitvel referenciar o museu em sua concepo convencional, pois ela faz parte de
sua construo social, d sentido sua permanncia ao longo da trajetria humana. Tendo
como acepo bsica a funo de recolher, organizar e expor aquilo que deve ser mantido e
preservado, como j foi exposto anteriormente, o investimento psicossocial dado memria
testemunhal permanece resguardado na materialidade do objeto museolgico em resposta
subjetividade humana. Em sua utilizao museificada, o objeto garante a constncia ereduz a incerteza do desaparecimento. Perde-se a dinmica do tempo social, porm,
mergulha-se na reverncia histrica ao objeto.
Se a nao tem no historiador seu bigrafo, como diz Le Goff (1992, p.106), o
museu, por analogia nossa, atua como um dos seus mais credenciados narradores, pois,
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para o historiador, "tornar-se senhores da memria e do esquecimento uma das grandes
preocupaes das classes, dos grupos, dos indivduos que dominaram ou dominam as
sociedades histricas" (Le Goff, 1992, p.213).
Nessa construo de significado promovida pelo museu pode estar a chave paraabertura do entendimento de sua funo como um dos alicerces da memria coletiva como
exerccio de poder, da pedagogizao do discurso museal em reverncia ao patrimnio
pblico.
Pode-se conjeturar teoricamente que a museificao da memria coletiva distancia-
se, sob certo aspecto, do conceito elaborado por Halbwachs (1990, p. 53-57), para quem a
natureza social da memria distribui-se por seus variados resduos no interior de uma
sociedade, grande ou pequena. O indivduo no guarda o passado, pois sua conservao,
para o autor, s ocorre pela ao do grupo atravs de processos institucionais vinculados
aos quadros da memria social. O museu, por outro lado, aproximar-se-ia da elaborao
mtica de memria, percebida por Jean-Pierre Vernant (1991, p.75), ao considerar que a
rememorao do passado tem como contrapartida necessria o esquecimento do presente,
um deciframento do invisvel. Pois, lembrar morrer em parte, ou, ao menos, cair nos
braos de Mnemosyne, a deusa da Memria e a fonte da Imortalidade.
O caminho a percorrer para iluminar a significao do objeto enquanto meteoro
psicossocial e representao do universo museolgico assemelha-se aos corredores de um
labirinto. Um trajeto atravessado por diversos nveis culturais que implicam leituras
diferenciadas, confirmando sua presena material e simblica constante no curso da
humanidade.
A comunicao social expressada pelo objeto na relao com o homem tem razes
profundas e remotas. Nas vrias etapas e diversos progressos obtidos na capacidade do
homem em comunicar-se, recuando aos Cro-Magnon - Homo-Sapiens Sapiens -, at as
formas mais organizadas e desenvolvidas de viver, o objeto mostrar-se-ia um dosimpulsionadores essenciais para o homem e sua relao com o meio ambiente. Para
Baudrillard (1972, p. 43), a necessidade de produo de bens e objetos firma-se para que
sejam produzidos e trocados, a fim de que se estabelecessem formas de hierarquia social,
de convvio humano.
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No contexto social, o objeto impregnado de uma finalidade de uso, uma
funcionalidade. Porm sua presena no se restringe ao estatuto de utenslio - sua utilidade
-, mas sobretudo atua na ordem simblica da representao, um prolongamento da ao
humana. Roland Barthes (1987, p.173) considera o objeto um mediador entre a ao e ohomem, um transitivo que possibilitaria ao indivduo agir sobre o mundo, modificar o
mundo.
Nessa medida, o deslocamento internalizado do objeto pode alcanar camadas mais
profundas no terreno psicossocial, quando o sujeito vincula-se ao objeto em exaltao
mimtica de si mesmo, da prpria imagem. Em sintonia com seu mundo subjetivado, o
indivduo desinternaliza o objeto para duplic-lo em torno de si atravs da coleo. Moles
(1978, p.139) percebe que o colecionador funde-se coleo de forma que uma seja a
sintaxe do outro. Nesta mesma direo, Baudrillard (1993) percebe todo um processo de
hierarquizao simblica estruturada em uma sociologia do objeto.
Investido da misso de no desaparecer, o objeto transfigura-se em relato, em
histria. Como exemplifica Bourdieu (1983, p.73), ao destacar o significado dos "lbum de
famlia", exemplar claro de um legado afetivo e histrico, feito para ser deixado para a
posteridade Torna-se passvel de percepo, como um espelho, a relao intensa que o ser
humano tem como seu acervo particular, ou seja, a partir dos resduos objetais, dos
testemunhos materiais e simblicos, que se expressam na geografia simblica da
lembrana e da reminiscncia, dando consistncia temporalidade e espacialidade da
memria.
Ao mesmo tempo em que tem acrescida sua dimenso funcional a instncia de
documento, em dimenso histrica, o objeto torna-se passvel de ser recoberto pela
camada museal. Da sinuosidade do caminho que o diferencia socialmente at ser
entronizado s galerias labirnticas do museu, o objeto recompe seu sentido original. So
acrescidos outros significados, de carter simblico e de feio histrica. Passa a serexpresso museolgica, exemplar de sustentao da verdade conferida pelo museu no
processo de seleo que o distingue dos demais que no alcanaram tal categoria.
Nem sempre esta verdade refere-se sua origem. Pelo contrrio, distancia-se dela.
O revestimento feito implica que um exemplar signifique o todo, ungido pela aura de objeto
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nico. Totalidade e unicidade que o configuram como representao absoluta do sujeito e
da sociedade, atravs das quais ambos tm garantia de se verem espelhados, em reflexo
narcsico. Processo de construo simblica que tem legitimidade garantida pelo museu
em seu perfil institucional e por seu papel ideolgico de sustentao da unidade social.Isso posto, seria ingenuidade admitir que o museu, instituio legitimadora de
valores, aceitasse qualquer objeto para fazer parte de seu acervo. Como muito bem coloca
Moles (1978, p.75), todo museu efetua sua prpria seleo no mundo dos objetos, at
porque ocorreria a contradio de admitir que o "mundo o museu dele prprio". Seria
como negar a sua prpria existncia.
Assim, pode-se afirmar, a acumulao de objetos a gnese do museu. Colecionar,
organizar e expor so aes que acompanham a humanidade desde seus remotos vestgios
de estrutura social. Sua seleo no impregnada de carter aleatrio, mesmo que tenha
atributo religioso ou profano, histrico ou social, artstico ou cientfico. Representa
afirmao de identidade e garantia de autenticidade, trao identitrio da instituio
museal.
Aproxima-se, ento, o momento mgico da crise sacrificial, utilizando uma
expresso do antroplogo Marcel Mauss (1968), pela qual passa o objeto museolgico:
tomado pela uno sacralizadora, quando sacrificada sua funo original, em ritual
simblico, marcando-o indelevelmente. A tradio de sacralizar o objeto museolgico
instaura-se como algo inerente condio de sua sobrevivncia, cuja permanncia
esvanece-se no mundo mtico que mantm o museu. O objeto conservado provocaria um
contato fsico afetivo com o passado configurado como tradio, em mito de origem.
A posse simblica do objeto ao ser includo no universo museolgico,
primitivamente, desde sua chegada via pblica, provocada pela institucionalizao dos
acervos reais, at a abertura das colees privadas, determinar a formao dos museus
pblicos, como hoje conhecemos. Porm, ao longo de sua instaurao nem todas ascamadas sociais desfrutariam de seu espao. Muitos dos critrios seletivos ainda so
mantidos, na medida em que o espao social do museu permanece restrito queles que
dominam seu cdigo semntico, esttico, cronolgico e histrico.
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Privilegiando como concepo terica de museu, em consonncia com Le Goff
(1992, p.547), enquanto uma coleo de documentos culturais, testemunhos inseridos na
sociedade que os produziram, os quais expressam em sua globalidade partes ou segmentos
de uma continuidade de significados. Para tanto, o documento no incuo, insere-se emuma posio na sociedade aonde no cabe ignorar que inexiste documento-verdade. Para o
autor, no limite da anlise, todo documento mentira, constituindo o museu um sistema
de signos, ou seja, constructus de significados que em sua relao social estabelecem
hierarquias sociais e culturais. Nesse aspecto, o objeto museolgico como um documento-
monumento, no sentido do esforo que toda sociedade faz para impor ao futuro, voluntria
ou involuntariamente, uma imagem de si prpria, no dizer de Le Goff (1992, p.548),
torna-se passvel de um sistema de classificao. At porque, segundo o historiador,
A revoluo documental tende a promover uma nova unidade deinformao: em lugar do fato que conduz ao acontecimento e a umahistria linear, a uma memria progressiva, ela privilegia o dado, que leva srie e a uma histria descontnua.(...) A memria coletiva valoriza-se,institui-se em patrimnio cultural. (Le Goff, 1992, p.542).
Sob essa tica, pode-se perceber que o conjunto de objetos-signo recolhidos,
classificados e expostos revela que o museu desempenha sua funo de roteirista
credenciado na construo de uma espcie de texto que deve ser lido e, na melhor das
hipteses, compreendido. Mesmo que tal postura signifique a confirmao da excluso
social, pois o discurso no contempla as vrias camadas nem todas as memrias sociais.
Para tanto, na tentativa de redefinir seus interlocutores, abrindo espao para a
reflexo da funo social do museu, qual seja a de local que pode contribuir para
clareamento de uma das leituras possveis da formao de uma sociedade em seus variados
segmentos, fundamental para a democratizao do uso da instituio museal que suportes
semiticos e sistemas de informao estejam plenamente acessveis e disponibilizados ao
seu usurio.
Quanto mais ativos forem os meios comunicacionais e melhores os mecanismos de
informao, maior espao haver para troca e possvel interao do visitante com o
espetculo museolgico: as exposies. Ativao cultural que pressupe no uma forma
monolgica, ordenada, como vem sendo percebida, mas uma interao dialgica,
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participativa, que possa provocar a troca de experincias sociais e revelar a
intersubjetividade possvel a cada um dos atores envolvidos, usurios e profissionais de
museu.
Mesmo que se reconhea que o espao museal vem gradativamente sendo absorvidopara o foco da animao cultural, ou at que se perceba movimentos de esforo pedaggico
na transmisso das variadas experincias humanas no campo cultural, na tentativa de
colocar o museu como um local que possibilita uma das leituras da formao de uma
sociedade, no nossa inteno entrar nesta discusso, at porque o manto sagrado da
museificao permanece intocado.
Para reforar conceitualmente a questo, se a musealizao e, posteriormente, a
sacralizao atingem o objeto como um raio, fazendo-o perder seu sentido real e temporal,
no h como deixar de cogitar que tal condio favorece sobremaneira a desintegrao
informacional museolgica percebida e aqui discutida.
A INFORMAO MUSEOLGICA
A tradio museolgica centrada no objeto, em seu culto subjetivo e aurificante,
passa a desenvolver um padro documental em sintonia com os princpios da sacralizao.
Comporta-se como se o objeto falasse por si s ou seu valor museal contivesse todo seu
significado, no refletindo sua dimenso de documento cultural, referncia que lhe d a
insero sociocultural. Ao realizar a anlise informacional que precede a documentao,
suas categorias limitam-se s suas caractersticas fsicas, procedncia, dimenses, tcnica
e autoria.
Tal procedimento desencadeia uma impreciso e inconsistncia na informao de
tal ordem que muito vem contribuindo para consolidar a imagem de inoperncia edepsito de velharia que habita o imaginrio da populao, de pesquisadores e at de
poetas, em deferncia ao belo poema de Joo Cabral de Melo Neto, quando se referem a
museu.
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Muito recentemente que passa a ter relevncia o fato de o objeto ser depositrio
de uma gama complexa de nveis informacionais. E a estrutura desta informao est a
exigir normatizao sistemtica e anlise metodolgica voltadas para as questes da
realidade museolgica. Tanto no Brasil como no exterior, alguns nomes ligados NovaMuseologia compartilham esta reflexo em trabalhos publicados, de grande acuidade
terica. Helena Ferrez em sua significativa contribuio como cientista da informao
voltada questo da documentao em museus, vem construindo seu arcabouo terico
em consonncia com Mensch, entendendo que os "objetos produzidos pelo homem so
portadores de informaes intrnsecas e extrnsecas que, para uma abordagem museolgica
precisam ser identificadas" (Ferrez, 1991, p.3).
Como reforo argumentativo e expresso de um consenso terico, o muselogo
holands Peter van Mensch (1990, p.59), j aqui citado por fora de sua consistncia
terica, destaca que o objeto adquire uma posio chave na museologia como condutor de
informao. Assim como Waghburn percebe a necessidade de registrar informao por
outro meio que no seja a mera preservao do objeto (Waghburn apud Mensch, 1989,
p.94). Enquanto que para Maroevic, o conceito de informao associado a museu amplia-
se ao considerar a musealidade, ou seja, a propriedade do objeto enquanto documento ou
valor documentrio, como foco especfico da pesquisa museolgica. Para este autor, "a
museologia lida com o estudo sistemtico dos processos de emisso de informao contida
na estrutura material da muselia" (Maroevic apudMensch, 1994, p.11).
Tomando como ponto focal o objeto museal como fonte da informao
museolgica, esta configura-se a partir de sua construo, tanto de ordem simblica como
material. Significa dizer que a informao no pode ser separada de seu suporte fsico e
semntico. Mikhailov citando Klaus (1980, p.75), elucida a questo ao indicar que "a
informao como um reflexo, no espelho, de algum objeto, um reflexo que s existe se
houver espelho", sendo esta uma propriedade inerente a todo tipo de informao.Para comear a delinear a informao museolgica, necessrio distinguir suas
propriedades a fim de que sua mensagem seja decomposta e compreendida. A irradiao
deste contedo enseja a configurao de uma atividade cognitiva no indivduo e na
sociedade, em processo de comunicao social. O contedo informacional inerente ao
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objeto museal, para um entendimento sistematizado, decompe-se em informao
semntica, portanto cientfica, e em informao esttica, de teor cultural. Isto pressupe
caractersticas e estruturas diferenciadas para as duas naturezas da informao
museolgica: semntica e esttica.Em sintonia com os conceitos de Abraham Moles (1978, p.80-189), seu
entendimento terico clarifica a questo ao constatar que em sua vertente esttica a
informao vincula-se diretamente emisso proposta pelo objeto, naquilo que ele tem
contm de imprevisibilidade, de originalidade. Mensagem que atua sobre a emoo esttica,
suscita estados interiores, age sobre a psicofisiologia do indivduo. Estados que se vinculam
a sistemas simblicos intraduzveis, sem estrutura de linguagem. Para o autor, informao
nesse contexto :
uma quantidade essencialmente diferente da significao e independentedesta. Uma mensagem de informao mxima pode parecer desprovida desentido, se o indivduo no for suscetvel de a decodificar parareconduzir a uma forma inteligvel. De maneira geral, a inteligibilidadevaria em sentido inverso da informao. (Moles, 1978, p. 86).
Sua efetividade limita-se ao quadro pessoal e de conhecimentos do receptor para
que tenha sentido e seja absorvida, como elabora o terico francs. A estrutura receptora
determina sua apreenso, ou dizendo de outra forma, a mensagem esttica assimilada por
um mecanismo de escolha preferencial feito pelo indivduo afetado por uma certa
combinao fenomnica, imagtica, sonora ou tctil, em proporo maior ou menor
individualmente.
Como interface, a estrutura semntica da informao comporta-se de um modo
lgico, enuncivel, traduzvel em lngua estrangeira, como identifica Moles (1978, p.192).
Possuindo alto teor de estrutura conceitual, de carter pragmtico, a informao semntica
aquela que prepara atos, tomadas de deciso, alterando o quadro cognitivo do receptor.
Com smbolos universalmente aceitos, constituindo um cdigo normatizado,intencionalizado, a informao semntica est associada a um processo de comunicao,
fator relacional entre uma fonte geradora e um canal de transferncia, tendo em vista um
destinatrio apto semanticamente a receb-la. Desta forma, a informao semntica
conceitual, pois so os conceitos que compem o significado das palavras e generalizam as
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caractersticas dos objetos e dos fenmenos, no dizer de Mikhailov (1981, p.78). Ao agir
como mediadora na produo de conhecimento, para Barreto (1994, p.3) a informao
atua e refora a inteno semntica de transferncia, seu uso efetivo e respectiva ao
resultante.O museu, como um espao estruturado para proporcionar tanto a fruio esttica
quanto a aquisio de conhecimento, possibilita o contato efetivo com os dois nveis de
informao. Os textos e etiquetas encontradas ao lados das obras expostas pertencem ao
contexto semntico da informao, podendo atuar como complemento recepo da
informao esttica proporcionada pela criao artstica. Com Moles, compreende-se que
"as mensagens de contedo puramente semntico e puramente esttico no so limites,
plos dialticos. Toda mensagem real comporta sempre, intimamente misturadas, certa
proporo de uma e de outra." (Moles, 1978, p. 196).
Colocadas as categorias estruturais da informao museolgica, buscamos
decompor os segmentos informacionais que seriam determinantes para complementar a
anlise do processo museal, atravs da qual o objeto museolgico ganharia uma estrutura
documentria consistente e referenciada, que, para Ferrez, (1989, p.2) representa um
conjunto de informaes sobre cada um de seus itens, visando sua representao e
preservao por meio da palavra e da imagem.
Tendo em vista, como vem sendo analisado, o conjunto de significados que
revestem o objeto museolgico, na dimenso de expressivo documento cultural que
representa, uma estrutura de registros com possibilidade de dar conta de sua representao
tem que se apoiar em tratamento documental, conceituado por Mikhailov (1981, p.71)
como parte das atividades de tratamento da informao, que implica a operao de traduo
de um documento em termos documentrios.
A representao da informao envolve-se, portanto, diretamente com a
representao do conhecimento de forma simblica. Para Saracevic, (1970, p. xxii) arepresentao da informao significa o manejo conceitual do documento em alguma forma
ou estrutura, o que, no mnimo, implica uma linguagem - seja natural, artificial, codificada -
ou uma combinao de linguagens.
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Estrutura documentria que tem como funo bsica as etapas de representao e
recuperao, conceituadas pela Cincia da Informao como Sistema de Recuperao de
Informao - SRI. Sua principal meta maximizar o uso da informao, baseando-se no
que concerne a natureza, planejamento, componentes e avaliao de sua performance,como diz Saracevic (1970, p. xxiii). Enquanto que o conceito de relevncia, para o autor,
define-se como uma medida de eficcia que pressupe ajustes seguros no sistema e facilita
a correo da inconsistncia da informao.
Em outros termos, uma anlise documentria, um dos tpicos mais sedimentados
da Cincia da Informao, definida igualmente por seus tericos clssicos como um
conjunto de procedimentos efetuados a fim de expressar o contedo de documentos,
possibilita que a passagem de um documento para uma representao textual seja
compreendida como uma operao semntica, isto , provida de sentido. O que significa
dizer uma linguagem articulada, consistente e de preciso. A extrao de elementos
informacionais, ou indicadores semnticos, evidencia a importncia de se trabalhar com um
conceito de anlise de contedo sistmico, em linguagem documentria, cuja gramtica
deve corresponder a um conjunto de regras que expressem laos semnticos e funes
sintticas entre seus termos (Cunha, 1989, p. 40-61).
Enquanto que para Lancaster (1979, p. 9), um SRI eficiente pressupe a existncia
de critrios e polticas de seleo, o qual implica um conhecimento detalhado e exato da
comunidade a que se dirige e rea a que se refere. Neste contexto, conceitos como
exaustividade e especificidade seriam de grande valia prtica documentria museolgica,
pois representam instrumentais tericos que ampliariam a exatido e a profundidade da
anlise do documento museal.
A experincia de Ferrez e Bianchini (1987), ao elaborarem o Thesaurus para
acervos museolgicos, evidencia o grande distanciamento da museologia brasileira face
aos avanos metodolgicos relacionados informao e sua recuperao, quando Ferrezidentifica que "os museus brasileiros encontram muitas dificuldades em se organizar como
sistemas de informao, isto , intermedirios entre documento/objeto e usurios" (Ferrez,
1987, p.xvi).
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A literatura internacional sinaliza que os museus europeus e americanos enfrentam
dificuldades similares, dada a natureza fechada da rea, como j foi discutido
anteriormente, porm em fase mais avanada de superao at por conta de maiores
recursos e da prtica saudvel de reunir equipes multidisciplinares para enfrentar taldesafio. Tanto que desperta interesse o depoimento de Le Coadic a respeito da experincia
e resultados dos museus cientficos canadenses:
uma boa apresentao de cincia e tecnologia em museus, isto ,transferncia de informao atravs de objetos, psteres, fotografias,vdeos, conferncias, livros, etiquetas, uma das chaves do sucesso noproblema do entendimento da cincia pelo pblico. (Le Coadic, 1992, p.171).
A apreenso do conceito de informao pela museologia e o aprimoramentoprofissional do muselogo, em consonncia com a Cincia da Informao e reas afins
mais solidificadas no campo terico e prtico, podem representar a conquista de um
respaldo maior para a rea na postulao de novas polticas para o setor e maiores
investimentos de pesquisa e desenvolvimento.
Portanto, vale ter uma aproximao com a proposio de Calabrese (1980, p.65),
para quem um museu verdadeiramente moderno deve lograr constituir tramas fascinantes
por meio de seus prprios recursos, o que significa dizer, no se limitar mera exibio de
seus princpios de classificao.
S assim torna-se vivel a expectativa do museu que, ao sair de sua torre de
marfim, seja entendido como instituio comunicativa, fonte de pesquisa cientfica e
esttica, transmissora de conhecimento e disseminadora de informao, ao ser vivenciado
como local onde o contexto cultural seja mostrado e discutido em toda pluralidade social.
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