12
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHO
CENTRO DE CINCIAS BIOLGICAS E DA SADE
DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO
SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS
MESTRADO
AVALIAO DA QUALIDADE AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRFICA DO
BACANGA (SO LUS MA) COM BASE EM VARIVEIS FSICO-QUMICAS,
BIOLGICAS E POPULACIONAIS: SUBSDIOS PARA UM MANEJO SUSTENTVEL
Ana Luiza Privado Martins
Dissertao de Mestrado
13
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHO
CENTRO DE CINCIAS BIOLGICAS E DA SADE
DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO
MESTRADO EM SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS
AVALIAO DA QUALIDADE AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRFICA DO
BACANGA (SO LUS MA) COM BASE EM VARIVEIS FSICO-QUMICAS,
BIOLGICAS E POPULACIONAIS: SUBSDIOS PARA UM MANEJO SUSTENTVEL
Ana Luiza Privado Martins
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Sustentabilidade de
Ecossistemas, como requisito parcial para
obteno do ttulo de mestre em
Sustentabilidade de Ecossistemas.
Orientador: Antnio Carlos Leal de Castro
Co-orientador: Odylon Teixeira de Melo
Agncia financiadora: CAPES
So Lus
2008
14
O mundo tornou-se perigoso porque os homens
aprenderam a dominar a natureza antes de se
dominarem a si mesmos.
(Albert Schweitzer)
15
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela sua graa infinita e por mais uma vitria alcanada. Sem ele
simplesmente no teria chegado at aqui.
Ao meu pai Walber, minha irm Carla, e especialmente minha me Maria
Santana, por toda pacincia, fora e incentivo a continuar. No tenho palavras para agradec-la.
A Renato Almeida, por todo amor, ajuda e compreenso.
Ao professor Antnio Carlos Leal de Castro, pela oportunidade de uma orientao
segura, alm da sua disponibilidade de tempo, exigncia e incentivo, os quais foram cruciais para
finalizao deste trabalho.
Ao professor Odylon Teixeira de Melo, pela co-orientao, e a Paulo Csar pelo
auxlio nas anlises qumicas.
Ao coordenador do mestrado, Cludio Urbano Bittencourt, por suas valiosas
sugestes.
Aos professores formadores da banca de qualificao, Gilda Vasconcelos e Marco
Valrio Cutrim, pelas importantes contribuies em prol da melhoria deste trabalho.
A Leonardo Soares pelas grandes colaboraes prestadas durante este estudo.
A Moacyr Rodrigues, Getlio Morais Jnior, Davi Gomes e Amaral pelo apoio
durante os trabalhos de campo e laboratrio.
Aos pescadores e moradores do Bacanga pela acessibilidade durante a aplicao
dos questionrios.
Aos colegas de turma, em especial a Hellen Vinhote, Nala Arraes e Fernanda
Hellena pela amizade e carinho sempre.
professora Maria Jos Saraiva, pela constante disponibilidade em ajudar e
incentivo.
Ao professor Policarpo, por sempre se mostrar prestativo.
A todos os amigos, especialmente a Areta Pessoa, Angela de Jesus, Marcos
Moura, Luana Martins, Luciana Martins, Amanda Madureira, Leonardo Latorre e professores
Gerias e Humberto, pela presena constante me incentivando a no desistir jamais.
A todos que direta ou indiretamente contriburam para a finalizao deste trabalho.
16
SUMRIO
p.
1 INTRODUO .................................................................................................. 12
2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 14
2.1 Geral ................................................................................................................. 14
2.2 Especficos ........................................................................................................ 14
3 REVISO DE LITERATURA ......................................................................... 15
3.1 Histrico de ocupao da Bacia Hidrogrfica do Bacanga ......................... 15
3.2 Sustentabilidade e Qualidade Ambiental ...................................................... 17
3.3 Utilidade dos indicadores ambientais ............................................................ 19
4 METODOLOGIA .............................................................................................. 24
4.1 Caracterizao da rea de estudo ........................................................... 24
4.2 Material e Mtodos ......................................................................................... 26
4.2.1 Pesquisa de campo e laboratrio ................................................................ 26
4.2.1.1 Variveis fsico-qumicas .......................................................................... 26
4.2.1.2 Ictiofauna ................................................................................................... 30
4.2.1.3 Aplicao de questionrios ....................................................................... 31
4.2.2 Anlise e tratamento dos dados .................................................................. 32
4.2.2.1 Anlise de componentes principais (ACP) .............................................. 32
4.2.2.2 ndice de Integridade Bitica (IIB) .......................................................... 32
4.2.2.3 Freqncia de Ocorrncia da Ictiofauna ................................................ 33
4.2.2.4 Diversidade, Equitabilidade e Riqueza Ictiofaunstica ....................... 34
4.2.2.5 Curva de abundncia e biomassa (ABC) ................................................ 35
4.2.2.6 Similaridade ictiofaunstica ...................................................................... 36
4.2.2.7 Programas computacionais ...................................................................... 37
5 RESULTADOS E DISCUSSO ....................................................................... 38
5. 1 Variveis fsico-qumicas ............................................................................... 38
5.2 Dados ictiolgicos ............................................................................................ 46
5.3 Perfil scio-econmico-ambiental da Bacia Hidrogrfica do Bacanga ...... 58
17
5.3.1 Populao moradora da bacia .................................................................... 58
5.3.2 Pescadores da bacia ..................................................................................... 65
5.4 Pesca e Qualidade Ambiental ......................................................................... 71
6 CONCLUSES .................................................................................................. 74
REFERNCIAS .................................................................................................... 77
APNDICES .......................................................................................................... 88
ANEXOS ................................................................................................................ 111
18
LISTA DE TABELAS
p.
Tabela 1. Pontos de coleta das variveis fsico-qumicas na Bacia Hidrogrfica
do Bacanga ..............................................................................................................
27
Tabela 2. Pontuao de Integridade Bitica, classes e atributos ........................... 89
Tabela 3. Pontuaes e atributos utilizados na determinao da Integridade
Bitica para a comunidade de peixes da bacia hidrogrfica do Bacanga ...............
90
Tabela 4. Variveis ambientais registradas para a bacia hidrogrfica do Bacanga,
de outubro/2007 a junho/2008 ................................................................................
91
Tabela 5. Resultado da anlise de componentes principais (ACP) das variveis
fsico-qumicas coletadas na bacia hidrogrfica do Bacanga (outubro/2007
junho/2008) .............................................................................................................
44
Tabela 6. Classificao dos peixes registrados na bacia hidrogrfica do Bacanga,
de outubro/2007 a junho/2008 ................................................................................
92
Tabela 7. Nmero de indivduos por espcie nos cinco pontos de coleta da
ictiofauna e participao relativa total, na bacia hidrogrfica do Bacanga, entre
outubro/2007 a junho/2008 .....................................................................................
93
Tabela 8. Peso (g) por espcie nos cinco pontos de coleta da ictiofauna e
participao relativa total, na bacia hidrogrfica do Bacanga, entre outubro/2007
a junho/2008 ............................................................................................................
94
Tabela 9. Amplitude de variao do comprimento total das espcies por ponto
de coleta da ictiofauna da bacia hidrogrfica do Bacanga, de outubro/2007 a
junho/2008 ..............................................................................................................
95
Tabela 10. Representao da freqncia de ocorrncia e da constncia das
espcies da ictiofauna por ponto de coleta na bacia hidrogrfica do Bacanga,
entre outubro/2007 e junho/2008 ............................................................................
96
Tabela 11. ndice de diversidade, equitabilidade e riqueza da ictiofauna na bacia
hidrogrfica do Bacanga, de outubro/2007 a junho/2008 .......................................
97
Tabela 12. Distribuio espacial do ndice de Integridade Bitica para a
19
ictiofauna da bacia hidrogrfica do Bacanga em Outubro/2007 ............................. 97
Tabela 13. Distribuio espacial do ndice de Integridade Bitica para a
ictiofauna da bacia hidrogrfica do Bacanga em Dezembro/2007 ..........................
98
Tabela 14. Distribuio espacial do ndice de Integridade Bitica para a
ictiofauna da bacia hidrogrfica do Bacanga em Fevereiro/2008 ...........................
98
Tabela 15. Distribuio espacial do ndice de Integridade Bitica para a
ictiofauna da bacia hidrogrfica do Bacanga em Abril/2008 ..................................
99
Tabela 16. Distribuio espacial do ndice de Integridade Bitica para a
ictiofauna da bacia hidrogrfica do Bacanga em Junho/2008 .................................
99
20
LISTA DE FIGURAS
p.
Figura 1. Localizao da bacia hidrogrfica do Bacanga ...................................... 25
Figura 2. Bacia Hidrogrfica do Bacanga, com os seis pontos de amostragem .... 28
Figura 3. Locais de coleta das variveis fsico-qumicas na bacia hidrogrfica do
Bacanga ...................................................................................................................
29
Figura 4. A. Garrafa do tipo Van Dorn utilizada na coleta de gua para
determinao do oxignio dissolvido; B. Medidor de pH de campo ......................
30
Figura 5. Pescadores realizando coleta do material ictiolgico na bacia
hidrogrfica do Bacanga .........................................................................................
31
Figura 6. Comportamento das variveis fsico-qumicas, na bacia hidrogrfica
do Bacanga, de outubro/2007 a junho/2008 .......................................................
43
Figura 7. Anlise de componentes principais entre as variveis fsicas e
qumicas dos locais de coleta na bacia do rio Bacanga (outubro/2007
junho/2008) .............................................................................................................
45
Figura 8. Ictiofauna da bacia hidrogrfica do Bacanga, coletada entre
outubro/2007 a junho/2008 .....................................................................................
100
Figura 9. Dendrograma de agrupamento da matriz de presena e ausncia da
ictiofauna do Bacanga .............................................................................................
51
Figura 10. ndice de diversidade, riqueza e equitabilidade da ictiofauna na bacia
hidrogrfica do Bacanga, de outubro/2007 a junho/2008 .......................................
52
Figura 11. Curva de dominncia cumulativa por espcie ranqueada (ABC) para
os cinco meses de coleta no igarap do Coelho ......................................................
53
Figura 12. Curva de dominncia cumulativa por espcie ranqueada (ABC) para
os cinco meses de coleta na Barragem ....................................................................
54
Figura 13. Curva de dominncia cumulativa por espcie ranqueada (ABC) para
os cinco meses de coleta no rio Gapara ..................................................................
54
Figura 14. Curva de dominncia cumulativa por espcie ranqueada (ABC) para
os cinco meses de coleta no igarap do Jambeiro ...................................................
55
21
Figura 15. Curva de dominncia cumulativa por espcie ranqueada (ABC) para
os cinco meses de coleta no igarap do Mamo .....................................................
55
Figura 16. Esgotamento sanitrio na bacia hidrogrfica do Bacanga .................... 59
Figura 17. Destino dado ao lixo pelos moradores na bacia hidrogrfica do
Bacanga ...................................................................................................................
60
Figura 18. Deposio de lixo a cu aberto na bacia hidrogrfica do Bacanga ...... 61
Figura 19. Problemas ambientais observados ........................................................ 62
Figura 20. Sugestes para melhoria da qualidade ambiental da bacia
hidrogrfica do Bacanga .........................................................................................
65
Figura 21. Principais apetrechos de pesca utilizados na bacia hidrogrfica do
Bacanga ...................................................................................................................
66
Figura 22. A. Tempo que exerce a profisso de pescador; B. Peixes mais
pescados na bacia hidrogrfica do Bacanga ............................................................
66
Figura 23. A. Quantidade de dias de realizao da atividade pesqueira na
semana; B. Quantidade de horas/dia de pescaria na bacia hidrogrfica do
Bacanga ...................................................................................................................
67
Figura 24. A. Quantidade pescada/dia de pescaria; B. Destino do pescado na
bacia hidrogrfica do Bacanga ................................................................................
67
Figura 25. A. Pescados vendidos mais caros; B. Renda obtida com a atividade
pesqueira na bacia hidrogrfica do Bacanga ...........................................................
68
Figura 26. A. Pesca piorou nos ltimos anos; B. O que aconteceu com os peixes
ao longo dos anos na bacia hidrogrfica do Bacanga .............................................
69
Figura 27. Problemas ambientais prejudiciais pesca na bacia hidrogrfica do
Bacanga ...................................................................................................................
70
Figura 28. Sugestes para melhoria da atividade pesqueira na bacia hidrogrfica
do Bacanga ..............................................................................................................
71
22
RESUMO
As presses advindas do aumento da urbanizao tm causado graves prejuzos ambientais. Diante disso, o presente estudo objetivou avaliar a qualidade ambiental da Bacia Hidrogrfica do Bacanga, que representa uma das bacias mais degradadas da ilha de So Lus (Maranho). O trabalho consistiu em anlises de indicadores fsico-qumicos, biolgicos e populacionais. Para realizao do mesmo, efetuaram-se coletas bimestrais de gua em seis pontos, no perodo de outubro/2007 a junho/2008, a fim de se caracterizar as seguintes variveis hidrolgicas: profundidade, transparncia, temperatura, salinidade, pH, oxignio dissolvido, material em suspenso e nutrientes (amnia, nitrato e fosfato). Comunidades de peixes foram utilizadas como bioindicadores da qualidade ambiental, sendo as capturas realizadas em cinco pontos no mesmo perodo de amostragem das variveis hidrolgicas. Questionrios foram aplicados populao moradora e aos pescadores da bacia, para caracterizao scio-econmico-ambiental da rea. Observou-se que a profundidade mais elevada nas proximidades da Barragem, enquanto os valores de pH estiveram reduzidos durante o perodo chuvoso. A transparncia e o material em suspenso no revelaram nenhum padro de variao. A temperatura provavelmente esteve relacionada ao horrio das coletas, enquanto a salinidade foi mais elevada nos pontos prximos foz. A amnia e o fosfato apresentaram altas concentraes no rio das Bicas, enquanto o oxignio dissolvido revelou os valores mais baixos para esse ponto, o qual consiste em depositrio de esgoto da ilha de So Lus. Houve formao de quatro grupos pela anlise de componentes principais, sendo que amnia, nitrato, pH, salinidade, profundidade e fosfato foram as variveis mais representativas. A comunidade ictiofaunstica esteve representada por 3.682 indivduos distribudos em 36 espcies, sendo estas agrupadas, por similaridade, em trs grupos, definidos possivelmente em funo do gradiente de salinidade da gua. A diversidade no demonstrou padro definido, no permitindo inferir sobre o estresse ambiental, embora tenham ocorrido valores reduzidos para a mesma. O mtodo ABC classificou o ambiente como sem perturbao (igarap do Coelho), moderadamente perturbado (Barragem e Gapara) e perturbado (igaraps do Jambeiro e Mamo), enquanto o ndice de integridade bitica classificou o ambiente nas categorias de muito pobre a pobre. O perfil dos moradores da bacia revelou a precariedade dos servios de esgotamento sanitrio e de coleta do lixo, sendo que os problemas mais citados foram: lixo, esgoto, queimadas e desmatamento do mangue. Com relao caracterizao dos pescadores da rea, os peixes mais pescados so peixe-prata, tainha, bagre, sardinha e tilpia. A maioria adquire at 5 kg de peixe por dia de pescaria, sendo estes destinados venda e ao consumo. A renda obtida com a atividade pela maior parte dos entrevistados fica entre R$ 200,00 e R$ 400,00. Segundo a maioria deles, a pesca piorou nos ltimos anos, sendo a poluio e a barragem os problemas mais prejudiciais mesma. Como sugesto para melhoria da atividade pesqueira, destacou-se a fiscalizao da abertura das comportas da barragem. Apesar da reduzida qualidade ambiental no Bacanga, essa bacia ainda revela importncia para os pescadores. Os cenrios propostos para a pesca apontam um investimento voltado para a sustentabilidade como alternativa mais vivel para o local. Palavras-chave: Qualidade ambiental. Indicadores ambientais. Ictiofauna. Pesca. Bacanga.
23
ABSTRACT
Pressures happened of the urbanizations increase have caused serious damages to the environment. Because of this, the present study objectified to evaluate the environmental quality of the Bacanga River Basin, that represents one of the most degraded basins of the So Lus Island (Maranho). The work consisted in analyses of the physical-chemistries, biological and population indicators. For it accomplishment, bimonthly collections of water were effected in six points, between Octuber/2007 and June/2008, in order to characterize the following hydrological variables: depth, transparency, temperature, salinity, pH, dissolved oxygen, material in suspension and nutrients (ammonia, nitrate and phosphate). Fish communities were used as environmental quality bioindicators, being realized catches in five points in the same sampling period of hydrological variables. Questionnaires were applied to the living population and the fishermen of the basin, for social, economical and environmental characterization of the area. It was observed that the depth is higher next Barragem, while the pHs values were reduced during the rainy period. Transparency and material in suspension didnt disclose any standard of variation. Temperature was probably related to the collects time, while the salinity was more raised in the estuarys mouth points. Ammonia and phosphate presented high concentrations in the Bicas river, while the dissolved oxygen disclosed the values lowest for this point, which consist in depositary of sewage of the So Lus Island. Four groups were formed by principal components analyses, being that ammonia, nitrate, pH, salinity, depth and phosphate were the most representative variables. Ichthyofaunistic community was represented by 3.682 individuals distributed in 36 species, which were grouped, for similarity, in three groups, defined possibly in function of the waters salinity gradient. The diversity didnt demonstrate defined standard, and it didnt allow inferring about the environmental stress, even reduced values had occurred for it. The ABC method classified the environment as without disturbance (Coelho narrow river), moderately disturbed (Barragem and Gapara) and disturbed (Jambeiro and Mamo narrow river), while biotic integrity index classified the environment between very poor and poor categories. Profile of the inhabitants of the basin disclosed the precariousness of the sanitary exhaustion and collection of the garbage services, being that the more cited problems were: garbage, sewage, forest fires and deforestation of mangrove. With regard to the characterization of the areas fishing, the fishes more captured are prata, tainha, bagre, sardinha and tilpia. The majority obtains till 5 kg of fish per day of fishery, being these destined to sale and consumption. Gains obtained with the activity by mostly of the interviewed is between R$ 200,00 and R$ 400,00. According to majority of them, fishery got worse in recent years, being the pollution and the barrage the most harmful problems to it. As suggestion for improvement of the fishing activity, it was distinguished inspection of the barrage floodgates opening. Although the reduced environmental quality in the Bacanga, this basin still discloses importance for the fishery. The scenes considered for fisheries indicate an investment directed to the sustainability as more viable alternative to the place. Key words: Environmental quality. Environmental indicators. Ichthyofauna. Fishery. Bacanga.
24
1 INTRODUO
Os problemas ambientais decorrentes do processo de urbanizao tm assumido
grande relevncia, pois este implica uma grande transformao do meio, levando a uma
diminuio da qualidade ambiental. Sabe-se que esta situao surge em funo da inexistncia de
uma incorporao mais efetiva dos fatores naturais como variveis do planejamento no processo
de tomada de deciso urbana.
As presses originadas da urbanizao ocorrem com maior gravidade nas cidades
menos desenvolvidas. Em boa parte das reas urbanas das citadas regies, aos problemas de
superpopulao somam-se os mais altos nveis de degradao ambiental, a falta de recursos
financeiros e a inexistncia de polticas apropriadas para o enfrentamento das questes relativas a
um desenvolvimento urbano com melhores condies ambientais e de vida (MONTEIRO, 1997).
No Brasil, as transformaes ocorridas na economia nacional nas ltimas dcadas
tiveram como uma das conseqncias, o aumento do quadro urbano do pas. O crescimento da
populao urbana aconteceu de forma rpida e desordenada, aumentando consideravelmente a
presso sobre os fatores naturais.
No estado do Maranho, mais precisamente na capital So Lus, esse processo no
foi diferente. A cidade cresceu sem planejamento urbano, ocasionando o declnio da qualidade
ambiental, sendo a Bacia Hidrogrfica do Bacanga um ntido exemplo de ocupao desordenada
e sem planejamento.
Observa-se que o contnuo crescimento populacional em reas de mananciais tem
levado os ecossistemas aquticos a nveis cada vez mais elevados de poluio. Nas ltimas
dcadas, esses ambientes tm sido alterados de maneira significativa em funo de mltiplos
impactos ambientais advindos desse crescente aumento populacional e de diversas atividades
antrpicas.
Sabe-se que os rios so ecossistemas aquticos que participam de todos os
processos ecolgicos que ocorrem em sua bacia. Visto que todos os componentes de uma bacia
hidrogrfica esto interligados e os rios so os veculos dessa integrao, uma ao localizada
feita em qualquer ponto da bacia pode ser sentida a quilmetros de distncia. Dessa forma, ela
constitui excelente unidade de planejamento e gerenciamento. Segundo LIMA (2005), a bacia
25
hidrogrfica reflete sistemicamente todos os efeitos de aes e degradaes. A identificao da
mesma como unificadora dos processos ambientais e das interferncias humanas leva sua
adoo como unidade de pesquisa, permitindo a avaliao da qualidade e sustentabilidade
ambiental, a partir da anlise tanto de fatores fsico-qumicos, como tambm biolgicos e scio-
econmicos.
Estudar a qualidade ambiental em bacias hidrogrficas torna-se necessrio, visto
que a mesma est intimamente ligada qualidade de vida da populao humana, sendo
fundamental para o desenvolvimento sustentvel.
Dentre as bacias hidrogrficas inseridas em reas urbanizadas na cidade de So
Lus, destaca-se a bacia do Bacanga, a qual vem sofrendo com uma ocupao urbana desde a
chegada dos franceses na cidade em 1612. Ela muito importante devido sua localizao, alm
da utilizao como fonte de suprimento de gua potvel e outros recursos para a populao.
Observa-se que nessa bacia, a ocupao das margens vem se intensificando.
Grande parte da rea foi ocupada de maneira irregular, o que provocou, ao longo dos anos, o
surgimento de bairros sem infra-estrutura e pessoas vivendo sem condies de higiene (RHAMA,
2008). De acordo com a MMT (2007), esta a bacia da ilha de So Lus com maior densidade
populacional (80 habitantes/ha), alm de possuir a segunda maior populao, perdendo apenas
para a bacia do rio Anil.
Apesar disso, o Bacanga tem recebido pouca ateno do ponto de vista de estudos
dos ecossistemas, sendo bastante oportuna uma avaliao da qualidade desse ambiente. Alguns
poucos dados relacionados rea consistem principalmente em relatrios tcnicos, realizados
pelo LABOHIDRO (1982, 1983, 1998 e 1999), onde foram feitos estudos referentes a alguns
aspectos qumicos e biolgicos do rio Bacanga.
Sabe-se que as atividades relacionadas ao uso e ocupao do solo em uma bacia
so acompanhadas de uma srie de alteraes na dinmica dos elementos fsicos, qumicos,
biolgicos e antrpicos (as quais so refletidas no corpo dgua), em funo da integridade e das
complexas interaes existentes entre os mesmos. Por isso, esses aspectos devem ser largamente
verificados, contribuindo para o manejo sustentvel da rea.
Dessa forma, pressupe-se que os usos e a ocupao da bacia hidrogrfica do
Bacanga causam alteraes fsicas e qumicas no hbitat aqutico, provocando modificaes na
26
estrutura e nas interaes da biota nesse ambiente, afetando as comunidades de peixes, as quais
constituem indicadores sensveis da qualidade ambiental deste ecossistema.
Diante disso, o presente estudo pretende reconhecer o atual status da qualidade
ambiental na bacia hidrogrfica do Bacanga. Sabe-se, porm, que este trabalho apenas
proporcionar uma viso parcial da situao real da mesma, sendo necessrias outras pesquisas
que venham contribuir com os demais aspectos relevantes, a fim de que se possa ter uma viso
mais ampla da realidade do local.
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Avaliar a qualidade ambiental da Bacia Hidrogrfica do Bacanga, So Lus,
Maranho, atravs de indicadores fsico-qumicos, biolgicos e populacionais, gerando subsdios
para a gesto e planejamento ambiental sustentvel da mesma.
2.2 Especficos
- Avaliar composio, freqncia de ocorrncia, diversidade, equitabilidade e
riqueza da ictiofauna, alm de determinar a similaridade entre os pontos de coleta
da comunidade de peixes;
- Aplicar o mtodo de comparao de abundncia/biomassa (ABC) para a
ictiofauna;
- Determinar o ndice de Integridade Bitica, utilizando a comunidade ctica;
- Avaliar as caractersticas fsico-qumicas da gua;
- Caracterizar as populaes humanas moradoras e os pescadores da bacia,
enfocando aspectos scio-econmicos e ambientais.
27
3 REVISO DE LITERATURA
3.1 Histrico de ocupao da Bacia Hidrogrfica do Bacanga
Desde a chegada dos colonizadores europeus ilha de So Lus, esta vem sendo
ocupada de maneira desordenada, desencadeando rpidas transformaes. Porm, foi a partir do
ano de 1970 que ela experimentou um exacerbado crescimento, devido ausncia de perspectiva
de trabalho no meio rural decorrente de um intenso processo de desorganizao da estrutura
fundiria e da pequena produo agrcola (FETAEMA, 2003 apud TEIXEIRA & TEIXEIRA,
2005). Tal expanso, ocorrida sem qualquer planejamento, comprometeu a estrutura e o
funcionamento dos mais expressivos corpos dgua da rede hidrogrfica da ilha (TEIXEIRA &
TEIXEIRA, 2005), como os pertencentes s bacias do rio Anil e do rio Bacanga.
Na cidade de So Lus, o crescimento populacional era condicionado pela
topografia e proximidade com o centro histrico e corpos dgua, favorecendo assim, a ocupao
da bacia do Bacanga (COELHO, 2006). A centralidade desta permitiu que o principal rio que a
constitui (rio Bacanga) sofresse, desde o perodo de colonizao at a atualidade, grandes
transformaes ambientais (TEIXEIRA & TEIXEIRA, 2005).
O rpido e desordenado crescimento do municpio de So Lus vem causando
elevadas alteraes na vegetao nativa, em particular na bacia em estudo. Durante muito tempo
essa bacia vem sofrendo com constantes mudanas. A ocupao das margens conseqncia de
uma expanso demogrfica, que em sua maioria, produz apropriaes de suas reas baixas, como
manguezais e matas secundrias (OLIVEIRA, 2008).
O Governo Estadual do Maranho construiu, na dcada de setenta, uma barragem
com comportas na foz do rio Bacanga. Essa interveno criou um lago salino, modificando o
esturio do rio, e trouxe superfcie terras anteriormente submersas, inclusive boa parte dos
manguezais, que foram subseqentemente ocupados por habitaes informais, onde os moradores
esto sujeitos a problemas srios de drenagem e esgotos devido ao alto nvel dos aqferos.
Atualmente, as comportas da barragem precisam de reparos e so mal operadas, impedindo a
passagem da gua durante as chuvas intensas, causando inundaes nos assentamentos informais
beira do lago. A irregularidade na abertura das comportas resulta na falta de troca de guas, o
28
que compromete significativamente a capacidade do lago de assimilar a matria orgnica,
agravando a degradao da qualidade da gua. Associada poluio domstica e industrial, essa
situao aumenta a concentrao de substncias que contaminam os peixes capturados no local.
Existem vrias verses com relao justificativa para a construo da barragem,
conforme relatado na Reviso e Aprofundamento do Diagnstico Tcnico-Operacional do
Sistema de Drenagem das guas Pluviais Urbanas, onde so mencionadas: a gerao de energia,
a reduo da distncia ao Porto de Itaqui de 36 km para 9 km, e a formao do lago artificial para
auxiliar no processo de urbanizao e de saneamento da cidade. Entretanto, o fato que a sua
presena interfere na dinmica do fluxo de gua do lago para o mar e vice-versa (MMT, 2007).
Segundo alguns estudos, a atividade agrcola localizada de forma desconcentrada
ao sul da bacia, certamente foi um dos primeiros estgios de ocupao da mesma, abrindo mais
tarde espao para a urbanizao. Observa-se atualmente que o processo de ocupao mais intenso
na rea se d pela margem direita do rio Bacanga ( jusante e imediatamente montante da
barragem). A urbanizao da sua margem esquerda est associada construo da barragem no
local (ALMEIDA, 1998).
Quanto aos assentamentos industriais na bacia, a maior interveno foi a
instalao do ptio de manobra ferroviria da Companhia Vale, que est localizada na margem
esquerda do curso superior do rio Bacanga. Outras ocupaes correspondem a micro e pequenas
empresas, como as de confeces, madeireiras, metalrgicas, dentre outras (SEMATUR/CVRD,
1992).
A bacia do Bacanga abriga duas unidades de conservao (UCs): o Parque
Estadual do Bacanga (criado pelo Decreto Estadual n 7.545/1980) e a rea de Proteo
Ambiental (APA) do Maracan (criada pelo Decreto Estadual n 12.103/1991).
O Parque Estadual do Bacanga possui nos seus limites, alm de todo potencial
bitico, construes antigas que datam do sculo XVIII, a exemplo do Stio do Fsico. Este se
localiza na margem direita do Rio Bacanga, sendo possvel observar as runas remanescentes de
um dos maiores complexos industriais do Maranho (RIBEIRO, 2003), encontrado prximo a
extensos manguezais, que forneciam o tanino utilizado no processo de curtio de couro
(TEIXEIRA & TEIXEIRA, 2005).
29
Poucos trabalhos foram realizados na bacia do Bacanga como um todo, sendo que
a grande maioria trata principalmente do Parque Estadual localizado na rea, destacando-se
alguns, como o realizado por ROCHA (2003), que se props a identificar os principais impactos
ocorrentes nesse local, sugerindo medidas mitigadoras para os mesmos. PINHEIRO-JNIOR
(2006) realizou estudo com objetivo de subsidiar a gesto ambiental desse Parque, utilizando
geotecnologias. BITTENCOURT (2008) fez uma anlise das condies da rea, atrelada a uma
investigao da conscincia ambiental da populao residente do Parque e do entorno do mesmo.
Na APA do Maracan destaca-se principalmente o trabalho realizado por
NASCIMENTO (2004), o qual pretendeu contribuir para o plano de manejo desta UC.
Recentemente foi implantado na bacia um programa de recuperao ambiental e
melhoria da qualidade de vida no local. Este se estruturou em eixos de ao urbanstico, scio-
econmico, ambiental e institucional e est sendo financiado pela prefeitura de So Lus e Banco
Mundial BIRD. A implantao do programa se constitui numa estratgia de atuao preventiva
no ordenamento do uso do solo, preservao dos recursos ambientais remanescentes e
recuperao fsico-ambiental da bacia. Engloba aes de urbanizao, drenagem, pavimentao,
educao ambiental, re-assentamentos decorrentes das intervenes de infra-estrutura, aes de
reabilitao de reas degradadas e de desenvolvimento econmico e social (MMT, 2007).
3.2 Sustentabilidade e Qualidade Ambiental
Nas ltimas dcadas, principalmente a partir do final do ano de 1960 e incio de
1970, a ocorrncia de inmeros problemas ambientais nas escalas local, regional e mundial
trouxe para o centro das discusses a necessidade de se encontrar modos de garantir o bem-estar
de indivduos e sociedades sem comprometer a qualidade do meio ambiente. Anteriormente,
predominava a idia de que o progresso de uma sociedade dependia somente do seu grau de
desenvolvimento econmico (MATOS, 2005). Porm, com a intensificao dos problemas
ambientais, essa concepo foi questionada (NOBRE & AMAZONAS, 2002). a partir desse
perodo que comea a ganhar fora a idia de desenvolvimento sustentvel.
De acordo com RUSCHEINSKY (2004), o termo sustentabilidade comeou a
ser usado pelos ecologistas modernos nos anos 80. O conceito mais divulgado e utilizado
30
atualmente o do Relatrio de Brundtland Nosso Futuro Comum da ONU: O
desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as geraes futuras atenderem suas prprias necessidades (BIDONE &
MORALES, 2004).
A Conferncia ECO-92, realizada cinco anos aps o Relatrio de Brundtland,
aprovou a Agenda 21. Este documento gerado pelo evento contribuiu para a difuso e ampliao
das discusses em relao ao termo Desenvolvimento Sustentvel (SILVA, 2002), levando a uma
reflexo sobre a qualidade ambiental sustentvel. Assim, ganhou fora a percepo de que a
qualidade de vida dos indivduos no pode ser dissociada da qualidade do ambiente em que estes
vivem, com o qual interagem e do qual dependem para sobreviver (FREY, 2001). Segundo
RUSCHEINSKY (2004), sustentabilidade ambiental inseparvel das questes e da
sustentabilidade econmica e social.
Conforme ORTH (2001), a qualidade ambiental pode ser definida como uma
adequao ao uso dos recursos naturais direcionando os caminhos favorveis vida dos seres que
habitam um mesmo ambiente.
Devido s constantes discusses sobre o assunto nos ltimos anos, alguns
trabalhos tm sido realizados no mundo todo, inclusive no Brasil, enfocando a qualidade
ambiental. MONTEIRO (1997) realizou um trabalho cujo objetivo era efetuar uma anlise dos
efeitos ambientais produzidos pelas atividades que so desenvolvidas no territrio urbano de
Corumb, em Mato Grosso do Sul, uma cidade situada dentro da bacia hidrogrfica do Alto
Paraguai, na plancie do Pantanal Mato-grossense. Esse estudo traz algumas contribuies para a
discusso dos problemas ambientais, em particular dos que ocorrem nas cidades, afetando a
qualidade ambiental e de vida da populao.
MATOS (2005) avaliou a qualidade ambiental da bacia hidrogrfica do crrego
Piarro, em So Paulo, embasando-se teoricamente nos paradigmas da complexidade e da
sustentabilidade e utilizando indicadores como procedimento metodolgico. LIMA (2007)
abordou esse assunto em estudo realizado ao sul do estado de Gois, no municpio de Morrinhos,
propondo inclusive um ndice de qualidade ambiental.
No estado de Santa Catarina, destacam-se alguns trabalhos. SILVA (2002), por
exemplo, props um estudo na bacia hidrogrfica da Lagoa da Conceio, um dos principais
31
atrativos tursticos de Florianpolis, visando analisar a qualidade ambiental urbana frente ao
processo de expanso populacional acelerado e desordenado, utilizando como indicadores a
densidade, o uso e a ocupao do solo. Outro estudo realizado nesse estado foi o de
MARCOMIN (2002), o qual avaliou o comprometimento ambiental da bacia hidrogrfica do rio
Pinheiros, com base na caracterizao e diagnstico dos elementos da paisagem.
O Maranho um estado deficiente em termos de estudos enfocando essa
temtica, sendo, portanto, de grande importncia que os mesmos sejam realizados.
3.3 Utilidade dos indicadores ambientais
Os indicadores consistem em informaes que facilitam a compreenso dos dados,
melhorando a qualidade de uma pesquisa. Segundo GARCIAS (1999), entende-se por
indicador aquela informao que explicita o atributo que permite a qualificao das condies,
enquanto ndice consiste no parmetro que mede o indicador, atribuindo-lhe valores numricos.
Para SHIELDS et al. (2002), o uso de indicadores uma ao bastante til e recomendada para
subsidiar tomada de decises visando a sustentabilidade. De acordo com BELLEN (2005), eles
simplificam as informaes sobre fenmenos complexos, tentando melhorar com isso, o processo
de comunicao.
Para a criao e aplicao de indicadores de qualidade ambiental, preciso
compreender os elementos e processos que compem o sistema ambiental, como eles se
relacionam e influenciam essa qualidade, levando-se em considerao os aspectos fsico-naturais
e scio-econmicos (NIEMEIJER, 2000). A sistematizao e simplificao das informaes
propiciada pelos indicadores de qualidade ambiental facilitam a modelagem do sistema ambiental
e o entendimento de sua organizao espacial, bem como auxiliam na tomada de decises sobre
aes a serem desencadeadas para melhoria da qualidade ambiental e promoo da
sustentabilidade. Esse instrumento se torna de fundamental importncia principalmente em
grandes centros urbanos, nos quais as interaes entre os fatores que afetam a qualidade
ambiental so bastante complexas e as informaes necessrias para subsidiar o planejamento
ambiental devem ser apresentadas de maneira a permitir a participao e o dilogo entre os
32
diferentes segmentos da sociedade envolvidos na busca da sustentabilidade do ambiente urbano
(MATOS, 2005).
O uso de indicadores vem crescendo na sociedade, auxiliando na tomada de
decises e sinalizando o estado de um aspecto ou a condio de uma varivel, o que proporciona
uma comparao das diferenas observadas no tempo e no espao (ENGECORPS, 2005).
Os indicadores ambientais so definidos como medidas fsicas, qumicas,
biolgicas ou scio-econmicas que melhor representam os elementos-chave de um ecossistema
complexo (WARD et al., 1998). Devem ter a capacidade de tornar perceptvel um fenmeno que
no detectvel naturalmente, pelo menos de imediato, sendo distinto de um dado estatstico ou
primrio, embora possa ser representado de forma grfica ou estatstica (BIDONE & MORALES,
2004). Eles tm um significado bem conhecido e podem ser mensurados regularmente,
produzindo dessa forma, informaes valiosas sobre aspectos importantes do ambiente
(ANZECC, 2000).
Entretanto, avaliar a qualidade ambiental utilizando indicadores no tarefa to
simples, havendo necessidade de uma prvia seleo dos mesmos. GUZZO (2002) realizou
estudo sobre indicadores de qualidade de gua para bacias hidrogrficas, discutindo trinta destes
e selecionando os quinze mais importantes, disponibilizando um importante instrumento para
gesto da qualidade ambiental de bacias. LOPES et al. (2005) selecionaram indicadores para
gesto da bacia hidrogrfica do Crrego Rico, em Jaboticabal, So Paulo. Nesse trabalho foram
feitas coletas de gua em quatro pontos entre a nascente e o ponto de captao para
abastecimento, para posterior anlise, sendo desenvolvido um diagnstico.
WOOTON (1990) ressalta que o uso de indicadores vem sendo feito atravs da
anlise de parmetros fsicos e qumicos da gua, como o oxignio dissolvido, a condutividade, o
pH, a temperatura, a salinidade e a turbidez. Porm, em se tratando da qualidade da gua,
observamos que esses parmetros geralmente so empregados com um enfoque voltado ao
consumo humano, estabelecendo valores que demonstram os nveis de potabilidade, mas no se
preocupando, necessariamente, com a manuteno da biota aqutica. Alm disso, somente o uso
destes parmetros no suficiente para retratar a realidade de um ambiente, necessitando de
indicadores biolgicos para serem mais eficientes (WOOTON, 1990; CASTRO & CASATTI,
1997; SMITH et al., 1997). Segundo FAUSCH et al. (1990), devido a perturbaes antrpicas
33
freqentemente agirem de maneira complexa, seus efeitos em ecossistemas aquticos raramente
podem ser avaliados utilizando-se apenas variveis fsico-qumicas como medidas indiretas de
integridade biolgica. Dessa forma, faz-se necessrio o uso de bioindicadores.
O monitoramento de variveis fsicas e qumicas traz algumas vantagens na
avaliao de impactos ambientais em ecossistemas aquticos, tais como: identificao imediata
de modificaes nas propriedades fsicas e qumicas da gua, deteco precisa da varivel
modificada e determinao destas concentraes alteradas. Entretanto, este sistema apresenta
algumas desvantagens, tais como a descontinuidade temporal e espacial das amostragens. A
amostragem de variveis fsicas e qumicas fornece somente uma fotografia momentnea do que
pode ser uma situao altamente dinmica (WHITFIELD, 2001). Em funo da capacidade de
autodepurao e do fluxo unidirecional de ecossistemas lticos, os efluentes slidos carreados por
drenagens pluviais para dentro de ecossistemas aquticos podem ser diludos (dependendo das
concentraes e tamanho do rio) antes da data de coleta das amostras ou causarem poucas
modificaes nos valores das variveis. Alm disso, o monitoramento fsico e qumico da gua
pouco eficiente na deteco de alteraes na diversidade de hbitats e microhbitats e insuficiente
na determinao das conseqncias da alterao da qualidade de gua sobre as comunidades
biolgicas. Por outro lado, as comunidades biolgicas refletem a integridade ecolgica total dos
ecossistemas, integrando os efeitos dos diferentes agentes impactantes e fornecendo uma medida
agregada dos impactos (BARBOUR et al., 1999).
As comunidades biolgicas de ecossistemas aquticos so formadas por
organismos que apresentam adaptaes evolutivas a determinadas condies ambientais e
apresentam limites de tolerncia a diferentes alteraes das mesmas (ALBA-TERCEDOR, 1996).
Desta forma, o monitoramento biolgico constitui-se como uma ferramenta na avaliao das
respostas destas comunidades a modificaes nas condies ambientais originais, tendo como
base a utilizao de bioindicadores de qualidade de gua e hbitat (BARBOUR et al., 1999).
CANIL (2006) fez uma avaliao de indicadores ambientais utilizados no
gerenciamento de bacias hidrogrficas, tendo a bacia do Rio Humber, em Toronto (Canad),
como objeto de estudo. Nesse local foram utilizados indicadores como cobertura vegetal, slidos
em suspenso, poluentes orgnicos, comunidades de peixes, dentre outros.
34
A comunidade de peixes apresenta numerosas vantagens como organismos
indicadores, citando dentre estas, a disponibilidade de informaes sobre o ciclo de vida de
grande nmero de espcies e por incluir uma variedade de nveis trficos (onvoros, herbvoros,
insetvoros, planctvoros, carnvoros), compreendendo alimentos tanto de origem aqutica como
terrestre. A posio dos peixes no topo da cadeia alimentar em relao a outros indicadores de
qualidade de gua favorece uma viso integrada do ambiente aqutico. Alm disto, so
relativamente fceis de serem identificados, e situaes crticas, como mortalidade de peixes,
podem ser informadas pelo pblico em geral, o que pode chamar ateno para alteraes nas
condies de qualidade de gua dos ambientes (ARAJO, 1998).
Sabe-se que variaes na composio das comunidades de peixes esto
relacionadas com a estrutura de seus hbitats e disponibilidade de alimento, possibilitando o uso
do grupo como bioindicador e auxiliando no diagnstico das condies dos ecossistemas
aquticos (BIGOSSI et al., 2004). Assim, as caractersticas da comunidade ctica num
determinado corpo dgua do indcios da situao ambiental do local, servindo como subsdio
tcnico-cientfico para utilizao em programas de avaliao da qualidade ambiental de uma
determinada bacia, como se pretende no presente estudo.
Para auxiliar nas anlises de bioindicao de ecossistemas aquticos, comum o
emprego de ndices de riqueza de espcies, diversidade e equitabilidade, bem como o ndice de
integridade bitica (este ainda no muito utilizado no Brasil). Todos estes possuem vantagens e
desvantagens de aplicao.
Os ndices de riqueza, diversidade e equitabilidade foram amplamente utilizados e,
desta forma, a metodologia largamente conhecida, existindo muitos trabalhos prvios acerca de
aspectos tericos e propriedades estatsticas. A riqueza de espcies e a equitabilidade so
matematicamente relacionadas com a diversidade (PEET, 1974), e desta forma, os ndices de
diversidade tornam-se de difcil interpretao. Alm disso, os ndices de diversidade e a
equitabilidade incorporam pouca informao biolgica, o que restringe severamente seus usos em
anlises ambientais detalhadas (BIZERRIL & COSTA, 2001).
Muitas pesquisas j foram realizadas utilizando peixes como bioindicadores,
empregando ndices para avaliao da estrutura da comunidade. No Brasil, alguns trabalhos no
estado do Paran, utilizando ndices de diversidade para a comunidade ctica merecem destaque.
35
CUNICO et al. (2006), por exemplo, fizeram uma relao entre a urbanizao e as assemblias de
peixes em crregos do municpio de Maring, utilizando esses ndices. FALCO et al. (2008)
utilizaram caractersticas da comunidade ctica para avaliar a qualidade ambiental no complexo
estuarino de Paranagu. Destacam-se tambm nesse estado, os trabalhos de VIEIRA &
SHIBATTA (2007), realizado em Londrina; e de OTERO et al. (2006), o qual identificaram
alteraes em atributos da ictiofauna que pudessem refletir impactos antropognicos ao longo de
uma rea com diferentes nveis de ocupao humana nas baas de Antonina e Paranagu.
Outra metodologia utilizada para avaliao da qualidade ambiental a aplicao
do ndice de Integridade Bitica (IIB). KARR (1981) descreveu, pela primeira vez, uma
avaliao de integridade bitica utilizando a comunidade de peixes. Este mtodo tem sido, a
partir desse modelo inicial, adaptado em diferentes regies, visto que os ambientes e a ictiofauna
so diferenciados e peculiares para cada local. No trabalho de KARR (1981) descrita uma
rotina de monitoramento das fontes de gua usando os peixes, o que pode rapidamente e a um
baixo custo servir como uma abordagem exploratria da qualidade ambiental.
Esse ndice de avaliao ambiental tem sido utilizado em alguns pases.
HOCCUTT et al. (1994) propuseram uma base biolgica de avaliao da qualidade da gua no
rio Kavango, na frica, adaptando o IIB inicialmente proposto por KARR (1981). DEEGAN et
al. (1997) desenvolveram um ndice de integridade bitico estuarino utilizando peixes na baa de
Buttermilk, no sul de Massachusetts, Estados Unidos. Na costa norte do Caribe, RODRGUEZ-
OLART et al. (2006) realizaram estudos de integridade bitica das comunidades de peixes,
usando essa metodologia, fazendo uma relao com os gradientes ambientais.
No Brasil, o primeiro trabalho a utilizar o IIB foi realizado por ARAJO (1998),
no rio Paraba do Sul, estado do Rio de Janeiro, adaptando a metodologia de KARR (1981) para
as condies ambientais locais. No pas, a maioria das pesquisas que utilizaram esse ndice em
comunidades de peixes foi realizada em gua doce. Porm, SOUSA (2003) criou o IIB para o
esturio do rio dos Cachorros e estreito dos Coqueiros, no estado do Maranho, adaptando-o s
condies ambientais da ilha de So Lus. SANTOS (2007) tambm adaptou esse ndice para o
ambiente estuarino, criando o ndice de Integridade Bitica Estuarino para a Baa de Sepetiba,
Rio de Janeiro.
36
Em So Paulo os seguintes trabalhos utilizando o IIB em comunidades de peixes
podem ser destacados: MARCIANO et al. (2004), na bacia do rio Sorocaba; e FERREIRA &
CASATTI (2006), em um crrego na bacia do alto rio Paran.
No estado do Paran tambm existem trabalhos com esse enfoque, citando-se o
realizado por BASTOS & ABILHOA (2004), os quais trabalharam em riachos urbanos da bacia
hidrogrfica do rio Belm, onde o ndice demonstrou ser um eficiente mecanismo de
monitoramento ambiental.
No estado do Maranho, alm do trabalho de SOUSA (2003) citado anteriormente,
foi efetuado por SOARES (2007) um estudo utilizando o IIB ao longo do rio Pacincia.
Os trabalhos j realizados revelam a grande utilidade do emprego de indicadores
para anlise da qualidade ambiental, sendo importante ferramenta para avaliao da
sustentabilidade e gesto ambiental.
4 METODOLOGIA
4.1 Caracterizao da rea de estudo
O Estado do Maranho est localizado na faixa de transio entre o clima
equatorial e tropical. So Lus, capital do estado, situa-se na ilha homnima, no Atlntico Sul. O
clima da ilha de So Lus, segundo a classificao proposta por Kppen, tropical do tipo AW,
com temperaturas mdias entre 19C e 28C, pluviosidade mdia pouco abaixo de 2.000 mm/ano
e duas estaes bem definidas, chuvosa (janeiro-junho) e seca (julho-dezembro). A umidade
relativa do ar apresenta mdia anual na faixa entre 75 a 90% (MMT, 2007; RHAMA, 2008).
So Lus possui rea territorial de 827 km2 e 957.515 habitantes (IBGE, 2008), e
consiste na principal cidade da Regio Metropolitana da Grande So Lus. Essa regio
composta pelos municpios de So Jos de Ribamar, Raposa, Pao do Lumiar e So Lus, que
juntos perfazem uma populao de, aproximadamente, 1,3 milhes de habitantes (RHAMA,
2008).
37
Alm de posio geogrfica privilegiada, o municpio de So Lus possui
inmeros rios, riachos e cobertura vegetal de grande diversidade, caractersticas estas que lhe
atribuem importncia ecolgica. Tais fatores criaram condies para a formao de um litoral
especialmente recortado, com vrias pequenas reentrncias e igaraps.
A rea especfica do estudo consiste na bacia hidrogrfica do Bacanga, a qual est
situada na poro noroeste da ilha de So Lus MA e inserida nas coordenadas de 2 32 26
2 38 07 S e 44 16 00 44 19 16 W, possuindo uma rea de aproximadamente 110 km.
Limita-se ao norte com a baa de So Marcos e com a bacia do Anil; ao sul, com a chapada do
Tirirical; a leste, com as bacias do Anil, Pacincia e Cachorros; e a Oeste, com a bacia do Itaqui
(MMT, 2007) (Figura 1). importante dizer que o estudo ocorreu apenas nos trechos mdio e
inferior da bacia, devido maior facilidade de acesso e maior ocupao humana nesses locais.
SO LUS
BRASIL
MARANHO
Bacia hidrogrfica do Bacanga Figura 1. Localizao da bacia hidrogrfica do Bacanga (imagem SPOT-1995).
O rio Bacanga o principal componente hidrolgico da bacia do Bacanga. Tem
suas nascentes difusas em bairros prximos regio do Maracan, percorrendo uma distncia de
aproximadamente 22 km entre estas e a barragem construda na sua foz, a qual interliga o centro
38
histrico da cidade de So Lus ao bairro do Anjo da Guarda e outros bairros adjacentes a este. O
rio Gapara e o rio das Bicas constituem alguns dos mais importantes afluentes desse rio.
O Bacanga um rio que apresenta um curso de pequeno porte, onde a participao
das guas doces a mnima possvel, devido influncia das mars, que possuem grandes
amplitudes. A barragem no local ocasionou a formao de um lago, que explorado por uma
boa parcela da populao que vive em torno do mesmo (MMT, 2007).
Apesar da presso exercida pela ocupao urbana informal, a bacia do Bacanga
ainda possui grande cobertura vegetal, consistindo em uma rea importante em termos de
atividade econmica, bem como de recursos naturais e humanos. A rea abriga o centro histrico
da cidade, a principal regio industrial, o Parque Estadual do Bacanga (onde est localizado o
reservatrio que produz 10% da gua potvel de So Lus) e a rea de Proteo Ambiental do
Maracan (criada como rea de tamponamento da expanso urbana e industrial), bem como um
alto percentual da populao de baixa renda do municpio.
4.2 Material e Mtodos
O trabalho consistiu em anlises das variveis fsico-qumicas da gua e avaliao
da composio e estrutura da comunidade de peixes, alm de caracterizao scio-econmico-
ambiental da populao moradora e dos pescadores da bacia do rio Bacanga.
4.2.1 Pesquisa de campo e laboratrio
4.2.1.1 Variveis fsico-qumicas
O perodo de amostragem para as variveis fsico-qumicas consistiu nos meses de
outubro e dezembro de 2007, e fevereiro, abril e junho de 2008. As amostragens foram feitas no
turno da manh, em seis pontos, os quais foram definidos em funo das caractersticas gerais da
rea e das variveis hidrogrficas localizadas ao longo do curso dgua (Tabela 1; Figuras 2 e 3).
Para caracterizao hidrolgica da rea, alm de amostras de gua foram efetuadas tambm
observaes in loco, determinando-se, dessa forma, as seguintes variveis: profundidade,
39
transparncia, temperatura, potencial hidrogeninico (pH), oxignio dissolvido (OD), salinidade,
material em suspenso, e nutrientes (amnia, nitrato e fosfato).
Tabela 1. Pontos de coleta das variveis fsico-qumicas na bacia hidrogrfica do Bacanga, de outubro/2007 a
junho/2008.
P o n to D e s c ri oB ar ra g em0 2 3 2.8 4 1 S4 4 1 8.0 8 2 O
R io d as B ic a s0 2 3 3.1 3 2 S4 4 1 7.2 0 5 O
Ig a ra p d o J a m b e iro
0 2 3 3.8 8 2 S4 4 1 8.0 3 1 O
Ig a ra p d o C o e lh o0 2 3 4.2 9 8 S4 4 1 6.8 8 0 O
R io G a p a r a0 2 3 5.0 2 6 S4 4 1 8.1 7 7 O
Ig a ra p d o M a m o0 2 3 4.9 9 8 S4 4 1 7.2 5 3 O
r e a lo c a liz a d a n o la go fo r m a do p e la b ar r a ge m e x is te n ten o lo c a l. A s pr o x im id a d es d e s s e p on to c o rr e s p o nd e m aa lgu m a s d a s re g i es m ai s u r ba n iz a do s d a b a c ia . M u itasc a s a s fo ra m c o n s tr ud a s b eir a d o rio , e m re a s b a ix as .N o p e r od o c hu v o s o , q u a nd o n o o c o r r e a b er tu r a d asc o m po r ta s d a ba r r ag e m , e s s a s c a s a s f ic am in u nd a d as .A l m d a s c a s a s , a s m a rg e n s ta m b m s o c a r a c ter iz a d asp or v e ge ta e s de m a n gu e .
a r ea m a is e x p o s ta d e g ra d a o am b ie n ta l e a m a isp olu d a po r e s ta r c ir c u n d ad a p e lo s ba ir r os da C o h e b ,S a c a v m , p a r te d o P a r q ue d o s N o b re s , T im b ir a s eP in d or a m a , a l m d os b a ir ro s d e in v a s o d o C or o a d inh o ep ar te do C o r o ad o . N e s s e loc a l, o c o rr e d es c a r g a d e g ra n d ep ar te do s e s g o tos d a c id ad e .
E v id e nc i a- s e ne s s e po n to , g r an d e in f lu n c ia u r b an a , c omm u ita s c a s a s lo c ali za d a s s m a r ge n s do c u rs o d g ua , asq ua is t m s u b s t itu d o c a d a v ez m a is a s v e g eta e s d em a ng u e .
A p r es e n ta u m a c e ntu a d o e s t g io d e de g r a da o am b ie n ta ld ev id o p ro x im id a d e c om as zo n a s u rb a n as ,p rin c ip a lm e nte d o P a rq u e T im b ira s e d o ba ir ro d o C o ro a d o .E n c o ntr a - s e n a s s u a s p r o x im id ad e s o S t io d o F s ic o . Ac o be r tu ra v eg e ta l c o ns ti tu d a p r e do m in a n te m e n te p o rc a po e ir a b a ix a , a l m d e pe q u e na s r ea s d e c u lti vo .
P o s s u i p o uc a s r e s id n c ias na s s ua s m arg e ns . A lg u nslo c ais , p o r m , e n c o n tr a m - s e b a s ta nte d e s m a ta d o s , emfu n o d o c u lt iv o de a r r oz , q u e p la n ta do p e la c o m un id a d ep r x im o de s e m b o c ad u r a d e s s e r io .
r e a lo c al iza d a n a s p r o x im id ad e s d o P ar q u e E s ta d u al d oB a c a ng a , c ar a c te ri za d a , p o r tan to , p o r a p r es en ta r p o uc ash ab ita es . O b s e r v a- s e , c o ntu d o , p e q u en a s re a s d ec u lt iv o.
40
Fonte: Google Earth (2007)
Figura 2. Bacia Hidrogrfica do Bacanga, com os seis pontos de amostragem.
41
A B C
D E F
Figura 3. Locais de coleta das variveis fsico-qumicas na bacia hidrogrfica do Bacanga. A. Barragem; B. Rio das
Bicas; C. Igarap do Jambeiro; D. Igarap do Coelho; E. Rio Gapara; F. Igarap do Mamo.
A profundidade, a transparncia e a temperatura foram medidas no local de
amostragem com uso de fio de prumo, disco de Sechi e termmetro de campo, respectivamente.
As amostras de gua para determinao do oxignio dissolvido foram tomadas com um
amostrador do tipo Van Dorn, fixadas e acondicionadas em frascos protegidos dos raios
solares. Para medio do pH foi utilizado um medidor de campo, enquanto as amostras para
determinao das outras variveis foram coletadas e armazenadas em frascos de polietileno de
1litro, colocadas dentro de uma caixa de isopor com gelo, a fim de minimizar a ao bacteriana e
as reaes qumicas at a chegada ao Laboratrio de Qumica do LABOHIDRO (Laboratrio de
Hidrobiologia da UFMA), para as anlises necessrias. Cabe dizer que as coletas da gua foram
realizadas na sub-superfcie (Figura 4).
42
A B
Figura 4. A. Garrafa do tipo Van Dorn utilizada na coleta de gua para determinao do oxignio dissolvido; B.
Medidor de pH de campo.
Para determinao da salinidade foi utilizado o mtodo qumico de Mohr-
Knudsen, enquanto para quantificao do material em suspenso utilizou-se o mtodo
gravimtrico, ambos descritos por AMINOT & CHAUSSEPIED (1983). A determinao do
oxignio dissolvido foi feita atravs do mtodo qumico (WINKLER, modificado por
GOLTERMAN et al., 1978). Com relao anlise dos nutrientes, para o fosfato foi utilizado o
mtodo de MURPHY & RILEY (1962), para a amnia utilizou-se o mtodo do azul de indofenol,
e para o nitrato foi realizado o mtodo da reduo quantitativa sobre a coluna de cdmio
(AMINOT & CHAUSSEPIED, 1983).
4.2.1.2 Ictiofauna
Foram realizadas coletas da ictiofauna por pescadores da rea no mesmo perodo de amostragem das variveis hidrolgicas,
assim como nos mesmos pontos, exceto no rio das Bicas. Explica-se a ausncia de coleta da ictiofauna nesse local, pela falta de peixes nesse
ponto. Atravs de uma amostragem prvia, verificou-se este fato, alm da inviabilidade de realizao do trabalho por pescadores nessa rea, visto
que estes teriam contato com gua completamente contaminada por esgotos. Porm, a coleta das variveis hidrolgicas nessa localidade justifica-
se pelo fato desta consistir em uma regio depositria de grande quantidade de esgotos da bacia, importante, portanto, para o diagnstico da
situao.
As capturas do material biolgico ocorreram com uso de redes de emalhar do tipo
malhadeira (com malhas de 18, 20, 25 e 40 mm entre-ns adjacentes), com um esforo de pesca
43
de 12 horas (Figura 5). Aps as coletas, os peixes foram acondicionados em sacos plsticos
etiquetados com informaes do tipo: local de amostragem, data e horrio da captura, etc. Em
seguida foram colocados em caixas de isopor contendo gelo e transportados para o Laboratrio
de Ictiologia do LABOHIDRO, onde foram identificadas as espcies e determinadas suas
caractersticas biomtricas. Paralelamente foram observados aspectos da anatomia externa para
eventual deteco de anomalias, tumores, deformaes ou outras doenas; e interna, para
avaliao morfolgica das estruturas do trato digestivo e reconhecimento do hbito alimentar
(analisando-se a morfologia do estmago e o espao que ele ocupa na cavidade abdominal, a
morfologia dos dentes faringeanos e suas disposies e a morfologia do intestino, assim como a
forma dos rastros branquiais).
Para classificao quanto ao hbito alimentar, foram analisados os estmagos dos peixes,
enquanto para classificar as espcies de acordo com a tolerncia e categoria bioecolgica foram
utilizados os trabalhos de SOARES (2007) e CASTRO (1997), respectivamente.
Figura 5. Pescadores realizando coleta do material ictiolgico na bacia hidrogrfica do Bacanga.
44
4.2.1.3 Aplicao de questionrios
A fim de se avaliar os aspectos sociais, econmicos e ambientais na rea, foram
aplicados questionrios semi-estruturados populao moradora da bacia (APNDICE 1), nas
proximidades dos pontos de coleta das variveis fsico-qumicas, exceto nas adjacncias do
igarap do Mamo (devido ao nmero muito reduzido de casas no local). Para aplicao destes,
partiu-se do pressuposto de que a partir da no variabilidade das respostas dadas, a amostra seria
considerada suficiente. Assim, chegou-se a um total de 80 questionrios aplicados.
Tambm foram aplicados 50 questionrios aos pescadores locais (APNDICE 2),
a fim de se avaliar a interferncia de fatores ambientais sobre a pesca. Para isso, foi utilizada a
mesma metodologia usada na aplicao dos questionrios populao.
Os questionrios constaram principalmente de itens relacionadas caracterizao
do entrevistado, estrutura familiar, caracterizao do domiclio (no caso dos moradores),
interferncia sobre o ambiente, caracterizao da atividade pesqueira (no caso dos pescadores) e
percepo ambiental.
Foram tambm realizadas observaes no local, alm de registros fotogrficos.
4.2.2 Anlise e tratamento dos dados
4.2.2.1 Anlise de componentes principais (ACP)
As variveis hidrolgicas foram submetidas anlise de componentes principais, a
qual consiste em uma tcnica estatstica poderosa que pode ser utilizada para reduo do nmero
de variveis e para fornecer uma viso estatisticamente privilegiada do conjunto de dados. Essa
anlise fornece as ferramentas adequadas para identificar as variveis mais importantes no espao
das componentes principais.
Para aplicao dessa anlise, as variveis, com exceo do pH, foram
transformadas previamente anlise [log10 (x+1)].
45
4.2.2.2 ndice de Integridade Bitica (IIB)
KARR & DUDLEY (1981) apud FAUSCH et al. (1990) definem integridade
bitica como a capacidade de suportar e manter uma comunidade balanceada, integrada e
adaptvel de organismos, tendo a composio de espcies, diversidade e organizao funcional
comparvel quela de um habitat natural da regio. FAUSCH et al. (1990) consideram que a
integridade bitica de uma comunidade de peixes um indicador sensvel do estresse direto e
indireto do ecossistema aqutico inteiro, tendo grande aplicao em monitoramento biolgico
para avaliar a degradao ambiental.
No presente estudo foi utilizado o ndice de Integridade Bitica (IIB) para a
comunidade de peixes, o qual foi desenvolvido por KARR (1981) para avaliar a degradao
ambiental em rios dos Estados Unidos, integrando fatores ambientais e ecolgicos. Segundo o
IIB, o ambiente classificado em seis classes de qualidade de gua Excelente, Bom, Razovel,
Pobre, Muito Pobre e Sem Peixe (Tabela 2-APNDICE), com base em certos critrios
biolgicos da assemblia de peixes relacionados composio e riqueza de espcies, composio
trfica e abundncia e condies dos peixes (Tabela 3-APNDICE).
O IIB consiste em doze categorias (atributos), sendo que para cada uma delas foi
dada uma nota que variava entre 5 (situao esperada boa), 3 (situao regular) e 1 (situao
ruim), para acomodar as mudanas ecolgicas e evolutivas do atributo. Essas categorias deveriam
ser comparadas a valores esperados em um esturio relativamente livre de degradao, de
tamanho semelhante e de mesma regio ecolgica. Visto que na rea de estudo era impossvel
encontrar locais com comunidades de peixes inalteradas, foi necessrio adotar critrios prprios
tanto na composio dos atributos quanto nas faixas de pontuao, porm, com base na
metodologia delineada por KARR & ARGERMEIER (1986). Esses critrios tomaram como base
os levantamentos ictiofaunsticos feitos por MARTINS-JURAS et al. (1987) e CASTRO (1997)
nas comunidades de peixes da ilha de So Lus MA. SOUSA (2003) adaptou o IIB para as
condies ecolgicas dos esturios da ilha, e sua adaptao foi tomada como base para aplicao
desta metodologia na rea de estudo.
4.2.2.3 Freqncia de Ocorrncia da Ictiofauna
46
O estudo da freqncia de ocorrncia das espcies baseou-se na proporo entre o
nmero de amostras contendo uma dada espcie e o nmero total de amostras obtidas, segundo a
frmula:
Fo = T x 100
A Onde:
Fo = freqncia de ocorrncia;
T = nmero total de amostras com cada txon;
A = nmero total de amostras.
As classes de freqncia dos indivduos foram determinadas obedecendo-se
nomenclatura empregada por BATISTA & RGO (1996), com a seguinte classificao:
9 Altamente constantes espcies presentes entre 70% e 100% das amostras; 9 Constantes espcies presentes entre 50% e 69%; 9 Moderadas espcies presentes entre 30% e 49%; 9 Pouco constantes espcies presentes entre 10 % e 29%; 9 Raras espcies presentes em menos de 10%.
4.2.2.4 Diversidade, Equitabilidade e Riqueza Ictiofaunstica
Foram empregados ndices informativos que estimaram diversidade,
equitabilidade e riqueza das espcies nos diferentes pontos de captura da rea em estudo.
Os ndices de diversidade mais utilizados so os de Shannon-Wienner e de
Simpson. Este ltimo foi utilizado no presente estudo. Ele fornece a probabilidade de dois
indivduos tomados ao acaso, serem da mesma espcie e, segundo KREBS (1989), enfatiza
melhor as espcies dominantes na comunidade. A expresso que o representa est dada abaixo:
D = 1 - pi2Onde: D = diversidade de Simpson;
47
pi = proporo de indivduos da espcie i na comunidade.
A equitabilidade expressa a maneira pela qual o nmero de indivduos est
distribudo entre as diferentes espcies, isto , indica se as diferentes espcies possuem
abundncias (nmero de indivduos) semelhantes ou divergentes. Utilizou-se neste trabalho, a
equitabilidade de Simpson, a qual relaciona o ndice de diversidade de Simpson com o nmero de
espcies amostradas. A expresso que representa este ndice :
Es = D Dmax
=
11max
NN
SSD
Onde:
Es = equitabilidade de Simpson;
Dmax = diversidade de espcies sob condio de equitabilidade mxima;
S = nmero de espcies;
N = nmero de indivduos.
A riqueza, por sua vez, consiste no nmero total de espcies (S) em uma unidade
amostral, sendo que quanto maior a amostra, maior o nmero de espcies que podero ser
amostradas. Dessa forma, ela diz pouco a respeito da organizao da comunidade, aumentando
em funo da rea, mesmo sem modificao do habitat. Esta varivel foi estimada atravs do
ndice de riqueza de Margalef.
4.2.2.5 Curva de abundncia e biomassa (ABC)
Foi utilizado o mtodo de comparao abundncia/biomassa, o qual tambm
conhecido como ABC (Abundance Biomass Comparison) e est, atualmente, sendo difundido na
literatura especializada. Essa tcnica proposta por WARWICK (1986) foi inicialmente aplicada
para estimar o impacto da poluio sobre a comunidade de macroinvertebrados bentnicos de
ambientes marinhos. De acordo com CLARKE & WARWICK (1994), as curvas ABC podem ser
48
empregadas para monitorar perturbaes (efeito de poluio) sofridas pela ictiofauna. Esse
mtodo compara a dominncia em termos de abundncia e a dominncia em termos de biomassa,
onde as espcies so posicionadas em ordem decrescente de dominncia no eixo x, e em
percentagem de dominncia, em escala cumulativa, no eixo y.
As curvas ABC se baseiam na teoria evolucionria clssica da seleo r e k. Em
estados no-perturbados, a comunidade supostamente dominada por espcies da seleo k (de
crescimento lento, grandes e de maturao tardia), e a curva da biomassa se estende acima da
curva de abundncia, classificando o ambiente como no-estressado. Caso haja incremento da
perturbao, espcies de crescimento lento no conseguem acompanhar, e o sistema se torna cada
vez mais dominado por espcies da seleo r (de rpido crescimento, pequenas e oportunistas), e
a curva de biomassa estar abaixo da curva de abundncia, indicando um ambiente estressado.
Em ambientes de poluio moderada as espcies de seleo k vo sendo eliminadas e as curvas
tendem a ser bastante prximas, podendo se cruzar ao curso de seu comprimento. A diferena
entre as duas curvas estimada atravs da estatstica W, que representa a rea entre elas. O sinal
negativo de W indica que a curva da biomassa est abaixo da curva da abundncia e sugere um
ambiente perturbado; quando o valor prximo de zero e as curvas esto muito prximas, indica
um ambiente moderadamente perturbado; e quando o valor de W maior que zero e a curva de
biomassa supera a de abundncia, sugere um ambiente sem estresse ambiental (YEMANE et al,
2005).
4.2.2.6 Similaridade ictiofaunstica
Para avaliao dos padres de similaridade ictiofaunstica entre os locais de coleta
foram usadas medidas de similaridade binria, baseadas em dados de presena-ausncia das
espcies. As unidades bsicas de anlises foram matrizes retangulares constitudas de colunas,
que representaram as estaes de coleta, e linhas que representaram as espcies.
O coeficiente de distncia euclidiana ao quadrado foi selecionado, e o mtodo de
Ward (varincia mnima) foi utilizado como critrio de agrupamento.
49
A matriz foi submetida anlise de agrupamento (Cluster), a qual organiza em um
dendrograma aquelas amostras que so mais semelhantes, mostrando visualmente a associao de
proximidade das amostras que so mais similares (LEGENDRE & LEGENDRE, 1983).
4.2.2.7 Programas computacionais
A diversidade e a riqueza da ictiofauna, assim como a curva ABC foram obtidas
utilizando-se o pacote computacional PRIMER 5.0 (2001). A equitabilidade foi calculada atravs
do programa DivEs Diversidade de Espcies 2.0 (RODRIGUES, 2005).
O programa STATISTICA (2001) foi utilizado para obteno da similaridade
ictiofaunstica e para a anlise de componentes principais (ACP) das variveis hidrolgicas.
Para anlise dos questionrios aplicados utilizou-se o programa JMP 3.2.6 (1995).
50
5 RESULTADOS E DISCUSSO
5. 1 Variveis fsico-qumicas
O levantamento de variveis ambientais constitui fator de grande importncia para
complementar o entendimento da situao de um determinado corpo hdrico, revelando tambm
caractersticas da sua bacia hidrogrfica.
Durante o perodo estudado, a profundidade variou de 0,65 m (Mamo Abril/08)
a 5,92 m (Barragem Jun/08), alcanando sempre valores mais elevados na Barragem (Figura 6-
A). Segundo o LABOHIDRO (1998), no Bacanga, essa varivel provavelmente um reflexo da
influncia da barragem no estrangulamento do volume de gua que transita atravs das
comportas, alm da influncia sofrida pela pluviosidade.
A transparncia da gua teve uma variao de 17 cm (Coelho Fev/08 e Jambeiro
Jun/08) a 90 cm (Coelho Out/07, e Jambeiro e Gapara Fev/08) (Figura 6-B).
Sabe-se que a transparncia importante para a penetrao da luz na coluna
dgua, tendo, portanto, influncia no processo fotossinttico. Constitui-se, assim, em um fator
essencial para os processos de produo de matria orgnica e para o equilbrio do balano de
gases nos ambientes aquticos, os quais representam a base de sustentao da atividade
fisiolgica das comunidades (LABOHIDRO, 1983). No presente estudo, entretanto, essa varivel
no apresentou padro especfico.
A temperatura alcanou valor mnimo de 26 C (Bicas e Gapara Fev/08) e
mximo de 34,7 C (Jambeiro Dez/07) (Figura 6-C). Essa varivel provavelmente esteve
relacionada hora do dia em que as coletas estavam sendo realizadas.
Muitos autores tm se referido importncia das freqentes variaes trmicas
observadas em reas estuarinas, as quais so atribudas dentre outras coisas, interao de
diferentes massas de gua. Grandes variaes so pouco observadas em regies de clima tropical.
Em termos ambientais, o comportamento da temperatura de extrema importncia, pois
influencia diretamente processos fisiolgicos dos organismos que habitam as massas de gua,
alm da estreita relao que mantm com outras propriedades fsicas e qumicas da gua, teor de
oxignio dissolvido, pH, viscosidade, densidade, etc (LABOHIDRO, 1983).
51
O menor valor registrado pelo pH foi de 5,4 (Gapara Fev/08), enquanto o maior
foi de 8,83 (Barragem Dez/07) (Figura 6-D). Observa-se que na Barragem, essa varivel
alcanou os maiores valores em quatro dos cinco meses amostrados. Tem-se o conhecimento de
que o potencial hidrogeninico expressa a intensidade da condio cida ou alcalina de uma
soluo, apresentando, em geral, valores entre 6 e 8 na grande maioria dos corpos dgua (LIMA,
2001). Em trabalho realizado por BRITO (1997) no Bacanga, o pH variou de 6,63 a 7,26. Em
estudo realizado por BARBOSA (2000) no esturio desse rio, os valores de pH encontrados
foram de 8,23 em mdia nas guas de superfcie.
As medidas de pH so de extrema utilidade, pois fornecem inmeras informaes
a respeito da qualidade da gua. Segundo alguns autores, tambm podem ser induzidas pelas
variaes da mar. Geralmente um pH muito cido ou muito alcalino est associado
presena/ausncia de despejos industriais. Segundo ESTEVES (1998), durante o perodo chuvoso
so introduzidos nos corpos dgua, grandes propores de matria orgnica e substncias
hmicas, encontrando-se altas concentraes de cido sulfrico, ntrico, actico, alm de cido
carbnico que so formados, principalmente, pela atividade metablica dos microorganismos
aquticos e, conseqentemente, reduzem os valores do pH. Nota-se atravs da Figura 6.D, que a
reduo dos valores dessa varivel foi observada no presente estudo no perodo chuvoso de
coleta, o qual compreendeu os meses de fevereiro, abril e junho de 2008.
Com relao salinidade, o menor valor registrado foi 0,32 (Gapara e Mamo
Abr/08), e o maior foi 30,99 (Barragem Out/07) (Figura 6-E). Essa varivel registrou sempre
valores mais elevados nos pontos prximos foz (como a Barragem), e mais baixos nos meses
chuvosos de coleta (fevereiro, abril e junho).
Na rea do Bacanga, de acordo com o LABOHIDRO (1998), a salinidade est
relacionada com o aporte fluvial, a precipitao pluviomtrica, a evaporao e a contribuio
marinha da baa de So Marcos.
Em se tratando do oxignio dissolvido, este obteve o valor mnimo de 1,13 mg/L
(Bicas/Jun 08) e mximo de 5,6 mg/L (Mamo Fev/08 e Barragem Abr/08) (Figura 6-F).
Geralmente, os valores mais baixos ocorreram no rio das Bicas, o qual consiste em um grande
depositrio de esgotos da ilha de So Lus. Em estudo realizado pelo LABOHIDRO (1998) no
52
local, o OD j atingia concentraes reduzidas, sendo o valor de 1,54 mg/L registrado como o
mais baixo.
O oxignio dissolvido proveniente de duas principais fontes: da atmosfera, pelos
movimentos ondulatrios causados pelos ventos e oscilaes da temperatura da gua; e da
fotossntese, realizada pelos organismos clorofilados que desdobram o gs carbnico sob a ao
da luz solar, liberando o oxignio no meio (KLEEREKOPER, 1990). Ele consiste em um sensvel
indicador de fenmenos biolgicos e qumicos, sendo uma das variveis mais importantes na
caracterizao ambiental, podendo ser usado para avaliao da qualidade da gua, consistindo em
um indicador de condies de poluio por matria orgnica. Sendo assim, uma gua no poluda
(por matria orgnica) tende a apresentar maiores valores dessa varivel. Por outro lado, teores
baixos podem indicar que houve uma intensa atividade bacteriana decompondo a matria
orgnica lanada no corpo dgua (BAIRD, 2002; BARBOSA, 2000; MOTA, 1995).
FREITAS et al. (2000) consideram normal o valor de 5 mg/L para esturio. No
presente estudo, poucas vezes essa concentrao foi alcanada. importante, entretanto, lembrar
que o local estudado no Bacanga no consistiu apenas de reas de esturio, como tambm de
gua doce. Alm disso, deve-se levar em considerao a grande interferncia sofrida no local
devido existncia da barragem, a qual dificulta a renovao das guas, ocasionando o acmulo
de matria orgnica de origem natural (manguezal) e antropognica (esgotos e lixo domstico).
Sabe-se que quanto maior a carga de matria orgnica, maior o nmero de microorganismos
decompositores e conseqentemente, aumenta o consumo de oxignio. A gua com contedo de
oxignio dissolvido muito reduzido no sustenta peixes e organismos similares. Assim, a morte
de peixes em rios poludos se deve muitas vezes, portanto, ausncia de oxignio e no
presena de substncias txicas.
Observou-se no presente estudo que os valores obtidos para o material em
suspenso variaram bastante, alcanando o mnimo de 1,33 mg/L (Barragem Jun/08), e mximo
de 380,6 mg/L (Coelho Fev/08) (Figura 6-G). Com relao a essa varivel no foi observado
nenhum padro.
O material em suspenso consiste no material particulado no dissolvido,
encontrado suspenso no corpo dgua, composto por substncias inorgnicas e orgnicas,
incluindo-se a os organismos planctnicos (fito e zooplncton). Sua principal influncia na
53
diminuio da transparncia da gua, impedindo a penetrao da luz. De acordo com o
LABOHIDRO (1998), o material em suspenso pode estar associado, dentre outras coisas, ao
lanamento de esgotos domsticos.
Com relao aos nutrientes, os valores correspondentes amnia variaram entre
1,3 M (Jambeiro Out/07) e 380,6 M (Coelho Fev/08) (Figura 6-H).
Apesar de a amnia ser uma substncia txica no persistente e no cumulativa,
em grandes concentraes pode causar sufocamento de peixes. A literatura mostra que em locais
poludos seu teor costuma ser alto. Sabe-se que o caminho de decomposio das substncias
orgnicas nitrogenadas chegar ao nitrato, passando primeiro pelo estgio de amnia. Devido a
isso, a presena desta substncia indica uma poluio recente.
Em situaes com valores de pH acima de 7,0 e temperatura crescente, o
nitrognio amoniacal se faz presente e altamente txico para peixes. Fatores como pH e
temperatura, presena de outros poluentes e concentrao de OD, dentre outros fatores,
influenciam na toxicidade desse nutriente (CANAD, 1999; BRITISH COLUMBIA, 1998). De
acordo com o LABOHIDRO (1998), o principal fornecedor de nitrognio amoniacal e de outros
nutrientes para o sistema estuarino de So Lus o esgoto domstico da cidade.
Em se tratando do nitrato, o valor mnimo foi de 0,97 M (Jambeiro Out/07),
enquanto o mximo foi de 56,98 M (Barragem Abr/08) (Figura 6-I).
Os nitratos so muito solveis em gua, sendo a forma mais oxidada e estvel do
nitrognio nesse ambiente. Como esse nutriente a forma primria de nitrognio utilizada pelos
vegetais que convertem o nitrato em nitrognio orgnico para estimular o crescimento,
quantidades excessivas podem resultar em proliferaes em massa de fitoplncton e macrfitas
aquticas. As principais fontes de poluio so os adubos de solo, esgotos sanitrios humanos e
fezes de animais, e ainda, a deposio atmosfrica (BRITISH COLUMBIA,1998; MCNEELY et
al. , 1979). Segundo MOTA (1995), as elevadas concentraes de compostos do nitrognio
(amoniacal, nitritos, nitratos, entre outros) podem ser utilizadas como indicadores da qualidade
sanitria das guas.
Com relao ao fosfato, foi observado que este variou de 0,03 M (Mamo
Out/07) a 12,85 M (Bicas Dez/07) (Figura 6-J). De acordo com BAUMGARTEN et al.
54
(1996), em esturios no poludos, as concentraes desse nutriente atingem geralmente o valor
de 1,2 M.
O fosfato pode provir de adubos, da decomposio de matria orgnica, de
detergente, de material particulado presente na atmosfera ou da solubilizao de rochas, e o
principal responsvel pela eutrofizao artificial. Seu aumento na coluna dgua eleva a florao
de algas e fitoplncton. Segundo o LABOHIDRO (1998), no Bacanga esse nutriente tem como
fontes, as entradas pelo sistema fluvial, a contribuio marinha das guas da baa de So Marcos
e a contribuio dos esgotos domsticos, sendo esta ltima, a principal fonte de fsforo para a
rea.
43
0
1
2
3
4
5
6
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
7
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Prof
undi
dade
(m)
Profundidade (m)
01020304050607080
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
90100
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Tran
spar
nci
a (c
m)
Transparncia (cm)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Tem
pera
tura
(C)
Temperatura (C)
0123456789
10
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
pH pH
0
5
10
15
20
25
30
35
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Salin
idad
e (
)
Salinidade
0
1
2
3
4
5
6
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Oxi
gni
o di
ssol
vido
(mg/
L)
OD
0
50
100
150
200
250
300
350
400
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Mat
eria
l em
sus
pens
o (m
g/L)
Material em suspenso (mg/L)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Am
nia
(M
)
Amnia (M)
0
10
20
30
40
50
60
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Nitra
to (
M)
Nitrato (M)
0
2
4
6
8
10
12
14
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08
Ms
Fosf
ato
(M
)
Fosfato (M)
A B
C D
E F
G H
I J
Figura 6. Comportamento das variveis fsico-qumicas na bacia hidrogrfica do Bacanga, de outubro/2007 a junho/2008. A. Profundidade; B. Transparncia; C. Temperatura da gua; D. pH; E. Salinidade; F. Oxignio dissolvido; G. Material em suspenso; H. Amnia; I. Nitrato; J. Fosfato.
44
importante citar que o excesso de nutrientes no constitui o nico problema
causado pelos esgotos no local em estudo. De acordo com a MMT (2007), foram encontrados nas
guas do Bacanga, elevadas concentraes de cdmio,