1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA
CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
ANAIS DO I ENCONTRO DE
GEOGRAFIA DO ARAGUAIA
CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA – PARÁ – BRASIL
2014
3
SUMÁRIO A COMERCIALIZAÇÃO DE HORTALIÇAS NA FEIRA MUNICIPAL ALOÍSIO DAMASCENO NO MUNICÍPIO DE
CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA (PARÁ) ................................................................................................................... 4
A URBANIZAÇÃO NO BAIRRO DA SACRAMENTA (BELÉM-PA): A (RE) PRODUÇÃO DO ESPAÇO, OS
INDICADORES SOCIOECONÔMICOS E A VIOLÊNCIA URBANA NO CONTEXTO TERRITORIAL VIGENTE ........... 13
REFLEXOS DO USO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NO NÚCLEO NOVA MARABÁ, MUNICÍPIO DE MARABÁ/PA .... 23
GESTÃO E SUSTENTABILIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS ................................................... 32
A MIGRAÇÃO PERIURBANA NO MUNICÍPIO DE ALFENAS (MG): ..................................................................... 42
Uma Abordagem sobre sua Organização Espacial .......................................................................................... 42
A REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO:centro e nova centralidade de Conceição do Araguaia (Pará) .. 52
ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A GÊNESE E PARTICIPAÇÃO DOS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS NO PERÍODO DE
PRIMAVERA-VERÃO (2000/2001) NO ESTADO DO TOCANTINS: VARIAÇÕES NO EIXO ALTO PARNAÍBA (MA) –
PEDRO AFONSO (TO) – CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA (PA) ................................................................................ 58
PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO, ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE URBANA NOS NÚCLEOS SÃO FELIX E
MORADA NOVA: diagnóstico do transporte coletivo em Marabá (Pará) ....................................................... 65
AS TERRITORIALIDADES DAS FESTAS DE BREGA .............................................................................................. 74
NA ZONA RURAL DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ ............................................................................................... 74
FORMAÇÃO TERRITORIAL DE MARABÁ ........................................................................................................... 82
ATIVIDADES TURÍSTICAS E RECREATIVAS NA .................................................................................................. 91
CACHOEIRA RONCADEIRA EM TAQUARUÇU, PALMAS-TO .............................................................................. 91
GESTÃO E SUSTENTABILIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS ................................................. 100
O LÚDICO E O ENSINO DE GEOGRAFIA: uma proposta para o processo de ensino-aprendizagem .............. 110
IMPACTOS SOCIOESPACIAIS E SOCIOAMBIENTAIS DA INSTALAÇÃO DE UMA EMPRESA MINERÁRIA NA
REGIÃO SUDESTE PARAENSE: o caso do projeto Níquel Araguaia ................................................................ 118
PERSPECTIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE SÃO
DOMINGOS DO ARAGUAIA (PARÁ) ............................................................................................................... 126
POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS MUNICIPAIS EM MARABÁ (PARÁ): a perspectiva dos direitos
individuais e coletivos.................................................................................................................................... 137
O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA ................................................................................. 143
NA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA AMAZÔNIA ......................................................................................... 143
UM OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O PROCESSO DE ASSENTAMENTO PADRE JOSIMO TAVARES NO MUNICÍPIO
DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA (PARÁ) .......................................................................................................... 152
ANÁLISE TEÓRICA DAS QUESTÕES AGRÁRIAS DE LUTA PELA TERRA NO PAÍS DO LATIFÚNDIO: um enfoque
no município de Conceição do Araguaia (Pará)............................................................................................. 162
4
A COMERCIALIZAÇÃO DE HORTALIÇAS NA FEIRA MUNICIPAL ALOÍSIO
DAMASCENO NO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA (PARÁ)
ADRIANO ALVES TAVARES EDSON DOS SANTOS BARBOSA
Universidade do Estado do Pará (UEPA) RESUMO: Este trabalho tem por objetivo caracterizar os aspectos econômicos da comercialização de hortaliças, na Feira Livre Aloísio Damasceno no município de Conceição do Araguaia, no Estado do Pará. Visando a importância histórica da atividade de comércio em feira livre, e ressaltando a possibilidade de desenvolvimento da mesma no município, sendo assim agregando valores a economia municipal. O determinado trabalho assinala como exploratório, utilizando-se de métodos quantitativos e qualitativos e de coletas de dados bibliográficos. Os resultados apontam para uma atividade de caráter rural familiar na maior parte da produção de hortaliças, o que indica um possível caminho para as políticas públicas para o desenvolvimento da atividade em Conceição do Araguaia, no sentido de agregação de valores aos produtos gerados no local. PALAVRAS-CHAVE: Comércio. Economia. Feira livre. Hortaliças. Município.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O âmbito comercial inicia-se nos primórdios do progresso humano, dada à importância do
comércio no contexto socioeconômico, as primeiras relações comerciais surgem antes mesmo do
nascimento de Cristo, por volta do século IV a.C, nos primeiros aglomerados de pessoas na região que
hoje é conhecida como Oriente Médio, em rotas terrestres que ligavam as duas cidades de maior
importância na região da época (Egito à mesopotâmia), os produtos comercializados até então, eram
apenas artigos de luxo e alimentos, porém ao longo do tempo, essas regiões foram obrigadas a manter
uma relação comercial externa, em busca de algo que não possuía em seu vasto território, pois segundo
Medeiros (2011):
A base econômica da Mesopotâmia era a agricultura, porém, dependente do comercio exterior, importava matérias-primas como madeiras, pedras, e metais. Da África, importava marfim e ouro, da Síria, madeiras e pedras de mármore, e da Ásia menor, prata, cobre e ferro (MEDEIROS, 2011, p. 8).
O autor acima citado ressalta que desde o inicio do comercio já se fazia necessário à busca pelo
mercado externo, daquela mercadoria que a população não produzia ou era inexistente no território
5
local. E coloca a agricultura como fator preponderante na economia das localidades da Mesopotâmia e
Egito e outras de menores expressões.
Essas formas comerciais foram evoluindo, ficando mais intensas, à medida que o número de
pessoas na Terra foi aumentando. A cultura grega mais complexa e sofisticada obteve maior sucesso
produtivo e comercial. Com o passar do tempo surge o Império Romano com o seu expansionismo
dominante, ampliando as suas rotas comerciais, o que possibilitou definitivamente a substituição da
atividade agrícola pela comercial, com rotas comercias que ia do Mediterrâneo até a África, essas
atividades comerciais foram facilitados exatamente devido ao fato de serem terrestres.
A Idade Média tem inicio após a queda do Império Romano para os (Bárbaros), por volta do
século V, este período também ficou conhecido como Medieval. Na Europa há um longo período do
desenvolvimento humano, e comercial, é neste momento que segundo (MEDEIROS, 2011), se intensifica
as feiras locais, “Nos primeiros séculos de Feudalismo, os elementos característicos do comércio eram as
feiras locais e os mercadores ambulantes.” Embora a maior parte desta produção ficasse dentro do
próprio feudo. O mercado local se expandiu através de vias fluviais favorecendo o desenvolvimento do
comércio no continente Europeu. Constantinopla passou a ser o centro comercial de toda a Europa,
devido à produção de tecidos de seda.
Uma grave crise comercial assolou toda a Europa no século XIV, causando uma redução
significativa na produção de alimentos e mercadorias devido a mortes de muitas pessoas, pois foi nesta
época que houve uma drástica redução no número de habitantes europeus, uma vez que, segundo
(MEDEIROS apud STELZER, 2007): “Deparou-se com uma grave crise conjuntural, causada pelo
esgotamento da produção agrícola e pela crise demográfica, resultado da Peste Negra, provocando
redução das trocas”. Com esse fator de “enfermidade”, as circulações de mercadorias e de bens ficaram
prejudicadas, pois se tratava de uma doença muito contagiosa e perigosa para a humanidade, o que
levou as autoridades a frenar tal processo de trocas.
Somente a partir do século XVI, o comércio voltou a ganhar força, fato este que está ligado ao
descobrimento das Américas, essa crescente comercial também está ligada a grande quantidade de
minerais preciosos encontrados no continente americano. Neste período colonial o comércio se torna
cada vez mais lucrativo, uma vez que os preços das mercadorias elevar-se, enquanto o salário mantinha-
se estagnado, pois para Medeiros (2011):
O lucro gerado proporcionou o incremento das atividades econômicas e a ascensão da classe de comerciantes, que passaram a galgar posição social considerada importante. As nações que dominavam a navegação, como Inglaterra, Espanha, França e Holanda, procuraram fortalecer o comércio exterior como fonte de poder, por ser essa atividade geradora de riqueza [...] (MEDEIROS, 2011, p. 14).
6
O que o autor coloca, é que os comerciantes passam ter mais status dentro do campo social
perante a população. As grandes nações, com maior tecnologia de transporte no mundo, trabalham a
perspectiva do comércio como uma relação de poder, como ponto crucial geopoliticamente para
administrar seus territórios.
E é neste ponto da história que possivelmente surge às primeiras feiras livres na América do Sul,
com a chegada dos portugueses ao Brasil, há registro de feiras desde a época colonial, existia a presença
de populares ou feiras africanas já naquela época, eram negociado produtos da lavoura, pesca e
produtos feito em casa.
Para alguns teóricos é nesta época que surge o capitalismo, que se propaga no mundo cada vez
mais através de novas tecnologias, troca de informações e mercadorias, na busca desenfreada pelo
lucro, da busca pela riqueza. Surge aqui o esqueleto do capitalismo; trabalho assalariado, sistema de
troca, relações bancarias dentre outras relações que surgiram, pois para (MEDEIROS apud RESENDE,
2011): “as principais características econômicas no período da expansão ultramarina mudaram bastante
a estrutura da economia europeia, iniciando a base denominada de capitalismo ou pré-capitalismo [...]”.
O surgimento do capitalismo está diretamente ligado à circulação de objetos e, é nesta fase que
esse processo tem maior intensificação, o que ocasiona uma maior produção de bens de consumo, para
a obtenção de lucro através do acumulo de capital, pois segundo Marx (1867):
A circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital. Produção de mercadorias e circulação de mercadorias, comércio, são os pressupostos históricos sobre os quais ele surge. Comércio mundial e mercado mundial inauguram no século XVI a moderna historia da vida do capital (MARX, 1867, p. 267).
Para Marx o capitalismo moderno surge a partir do momento em o comércio sai do continente
europeu, e passa a ser mundial, com mercadorias circulando por diversas nações como uma uma
velocidade considerada rápida para a época em questão.
A história humana evolui, assim como o modo das pessoas se relacionarem com o meio também
é modificado, pois, as técnicas evoluem com o marco da Revolução Industrial na Inglaterra, no século
XVIII, o comércio revoluciona bastante, pois o número de mercadorias é confeccionado na velocidade da
máquina a vapor, surge agora o capitalismo industrial, a globalização fica cada vez mais evidente o que
logicamente ocasiona uma redução protecionista defendida por partes.
A relação econômica está muito ligada à política, pois é esta que regulamenta as taxas e os
moldes da economia formal, uma vez que esta é mais fácil de ser controlada pelo Estado devido serem
7
regulamentadas pela União. Enquanto a economia informal sobrevive na clandestinidade, através da
sonegação de impostos, sem registro; tal modelo é uma atividade predominante em países
subdesenvolvidos, e é desenvolvido com maior volúpia no espaço urbano; tal processo é acompanhado
pelo crescimento populacional. Quando se fala que o Estado controla o comércio, o contrário também
poderão ocorrer, quando se trata do comércio formal, grandes empresas podem influenciar em decisões
do Estado, pois segundo Giddens (1991):
As politicas econômicas nacionais e internacionais destes estados envolvem muitas formas de regulamentação da atividade econômica, mas, como foi notado, sua organização institucional mantém uma “insulação” do econômico em relação ao politico. Isto possibilita um amplo escopo para as atividades globais das corporações de negócios, que sempre têm uma base matriz num estado especifico, mas podem desenvolver muitos outros envolvimentos regionais em outros lugares (GIDDENS, 1991, pp. 65, 66).
Na atualidade o que se tem visto é esta realidade que Giddens menciona acima, as grandes
empresas solicitam do Estado determinadas garantias, para que as mesmas venham a investir no
território nacional.
A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO PARA AS RELAÇÕES COMERCIAIS
O homem se torna cada vez mais alienado ao trabalho comercial, quando o mesmo deixa de
produzir para si e, passa a produzir para outros, isso tudo devido ao imbróglio da intensificação
comercial, onde o mesmo produz para abastecer uma região, ou um determinado espaço, no qual este
último é muito disputado, pois um determinado espaço geográfico pode ter diversas finalidades, o
espaço atualmente é tão importante quanto à atividade comercial exercida no mesmo, pois segundo
Santos (2009):
O espaço, portanto, tornou-se a mercadoria universal por excelência. Como todas as frações do território são marcadas, doravante, por uma potencialidade cuja definição não pode encontrar senão a posteriori, o espaço se converte numa gama de especulações de ordem econômica, ideológica, política, isoladamente ou em conjunto (SANTOS, 2009, p. 30).
O espaço também virou uma mercadoria, como coloca Santos, um espaço geográfico bem
localizado comercialmente pode valer muito mais do que em uma área periférica, pois é no centro que
está concentrado o maior número de bens e de serviços, como por exemplo: bancos, escolas, redes de
supermercados, lojas, dentre outros, lembrando que quando se fala em centro é diferente de
centralidade, nas centralidades podem ser agregados valores elevados também, uma vez que lá possui
8
alguns tipos de serviços como no centro, é claro que em menor número. É bom ressaltar que quando se
trata de uma cidade considerada pequena na região, esses bens de serviços são em menor número, e
por isto tem o valor de espaço muito abaixo do que em grandes cidades ou capitais.
Com a globalização e o avanço da tecnologia, o mundo tem passado por uma grande
transformação, que acabou criando uma divisão do modelo econômico existente no mundo atual,
criando uma grande desigualdade econômica e social, essa desigualdade fica mais evidenciado nos
países subdesenvolvidos, pois é possível observar que mesmo com o crescimento econômico desses
países, as diferenças sociais vêm aumentando bastante.
De um lado estão os ricos que buscam cada vez mais acumular capital, estão alinhados com o
processo de modernização e com os avanços tecnológicos e utiliza desses avanços para obter mais
capital, de outro lado o aumento do desemprego, a classe trabalhadora que possuem salários baixos
boa parte trabalhando na informalidade, pessoas que não possuem nenhum tipo de renda, outras que
são mantidas pelo governo através programas sociais ou vivendo na pobreza, e a partir desta realidade
fica evidenciado a tese de (SANTOS, 1979), sobre a existência de dois circuitos da economia urbana, que
são conhecidos como circuito superior e circuito inferior:
Um dos dois circuitos é o resultado direto da modernização tecnológica. Consiste nas atividades criadas em função dos progressos tecnológicos e das pessoas que se beneficiam deles. O outro é igualmente um resultado da mesma modernização, mas um resultado indireto, que se dirige aos indivíduos que só se beneficiam parcialmente ou não se beneficiam dos progressos técnicos recentes e das atividades a eles ligadas. (SANTOS, 1979. p. 38).
Santos afirma que o avanço tecnológico e a modernização da economia é responsável pela
desigualdade econômica e social encontrada nos países subdesenvolvidos, essa divisão da economia
acaba gerando uma divisão do espaço.
Esses dois circuitos e sua divisão econômica está diretamente relacionada aos avanços
tecnológicos, o circuito superior resultado direto da modernidade e a onde estão as grandes indústrias,
comércios modernos, as indústrias de exportação e os bancos, já o circuito inferior também é resultado
destes avanços, porém de forma marginalizada e excludente, a população não se beneficia deste
processo de modernização, a economia deste setor é de maneira informal, o comércio ainda é
tradicional, é neste aspecto que as feiras livres se incluem, fazendo parte do comércio clássico. A
maioria da população acaba sofrendo as consequências desta modernização tecnológica principalmente
em relação à agricultura aonde o homem vem sendo substituído por máquinas, e desta forma acaba se
9
gerando o desemprego no campo. Entretanto, precisamos ressaltar que estes dois circuitos estão
interligados, pois segundo Santos (1979):
Os atacadistas e transportadores tem atividades do tipo misto, pelo fato de sua dupla ligação. Ambos têm laços funcionais tanto com circuito superior como com o circuito inferior da economia urbana e regional. O atacadista está no topo de uma cadeia decrescente de intermediários, que chega frequentemente ao nível do “feirante” ou do simples vendedor ambulante (SANTOS, 1979. p. 41).
Utilizamos os atacadistas e as transportadoras para demostrar a ligação do circuito superior com
o circuito inferior, porém podemos destacar também os bancos que se encontra no circuito superior da
economia assim como coloca Santos, e que mantêm uma relação direta com o circuito inferior, pois eles
financiam atividades do circuito inferior, de outro lado destacamos a utilização por parte do circuito
superior da mão de obra gerada pelo circuito inferior.
ECONOMIA DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA
Primeiramente é preciso lembrar ao leitor que não foi possível encontrar dados detalhados
recentes do município, pois a Secretaria de Fazenda demora um pouco para atualizar esses dados mais
detalhadamente, e foi necessário buscar em outras fontes de informações, que também não possui
esses dados atualizados, mesmo assim é necessário situar aos interessados como é o funcionamento da
economia conceicionense, mesmo com dados de três anos atrás.
A economia de Conceição do Araguaia no ano de 2011, teve um PIB de R$ 310.089,43 milhões
(DATASUS/IBGE), ficando em 37º no estado do Pará. O setor de serviços é responsável por 64,3% do
total, com esses dados pode-se afirmar que o comércio tem uma grande importância econômica para o
município, por meio da geração de emprego e renda. A indústria aparece em segundo lugar na geração
de riquezas, sendo responsável por 14,4% do total, com isso pode-se observar que a indústria local não
conseguiu ainda se expandir, por isto acaba apresentando um baixo valor agregado no resultado final do
PIB da cidade, a indústria de fabricação de queijo mussarela - L’anno Laticínios (antiga LeitBom), e a
indústria de beneficiamento de couro – JBS (antiga Bertin), são as únicas industrias de porte nacional no
município de Conceição do Araguaia.
O setor agropecuário teve uma participação de 13,70% no PIB, apesar de não apresentar
números expressivos, a atividade agrícola tem um grande potencial econômico, porque o município
possui uma grande área rural com vários PA’s (projetos de assentamentos), nessas localidades acaba
predominando a agricultura familiar que é responsável por grande parte da produção de alimentos, que
abastece supermercados e a feira municipal.
10
A EXPANSÃO DO COMÉRCIO DE HORTALIÇAS
O comércio de hortaliças vem crescendo nos últimos anos, a busca por uma alimentação mais
saudável fez com que esse comércio se expandisse, até alguns anos atrás as comercializações de
hortaliças eram feitas apenas nas feiras livres, porém com o avanço das vendas de hortaliças, vários
tipos de mercados como sacolões e supermercados passaram a investir na venda da mesma.
Nas grandes cidades o mercado atacadista tem um papel muito importante para o escoamento
da produção de hortaliças, até os anos 1980, os supermercados não tinha muito interesse neste tipo de
mercadoria, pois para estes essa era uma atividade secundaria, e não era muito lucrativa. Porém com
uma nova realidade de consumo, e o crescimento nas vendas deste gênero alimentício fez com que os
supermercados investissem na melhoria e expansão dos departamentos de comercialização de
hortaliças. Atualmente as hortaliças já representa boa parte das vendas dos supermercados, até mesmo
superando outros gêneros alimentícios.
Alguns fatores também têm contribuído para o aumento das vendas de hortaliças nos
supermercados, os clientes encontram mais facilidade na hora de comprar os produtos, as promoções,
propagandas, as formas de pagamento; como o parcelamento das compras por meio de cheques e o
cartão de crédito, faz com que muitos consumidores procurem essas comodidades na hora da compra.
Mesmo com o aumento das vendas de hortaliças por parte dos supermercados, as feiras livres
que resiste ao tempo, pois esta é uma das formas mais antigas de comércio de varejo, ainda é o grande
mercado responsável pelas vendas de hortaliças, as diversidades dos produtos encontrados nas feiras
atraem muitos clientes, que procuram este espaço por variados motivos, seja pelo fresco dos produtos
que são retirados do campo de produção poucas horas antes de ser posto a venda ou pela maioria das
vezes acabam comprando diretamente do produtor/vendedor, ficando mais fácil saber a procedência
dos produtos. Devido a estes e outros fatores até os dias de hoje muitas pessoas consumidoras deste
tipo de produtos ainda mantém a tradição de comprar hortaliças nas feiras livres.
Em Conceição do Araguaia mesmo com a maioria dos supermercados comercializando hortaliças,
a Feira Aloísio Damasceno ainda tem um grande fluxo de pessoas que compram diversos tipos de
mercadorias, sendo que o comércio de hortaliças é um dos mais procurados por parte da população
local, mesmo os clientes não encontrando na feira as facilidades e comodidades que os supermercados
oferecem os consumidores em sua grande maioria ainda procuram a feira para comprar seus produtos.
É impressionante como uma atividade que se iniciou há aproximadamente dez séculos atrás,
ainda se mantém presente no espaço contemporâneo, essa relação comercial ainda é muito forte no
11
município, aos sábados e domingos é possível notar a intensidade e a força comercial desta, basta olhar
em torno da feira livre para notar que outros gêneros de prestação de serviço foram se aproximando
para tirar proveito comercial do público que frequenta o local.
PRODUTORES E COMERCIANTES
Alguns comerciantes de hortaliças da feira livre também plantam em pequenas propriedades e
acanhadas quantidades, para posteriormente comercializarem as mesmas no espaço da feira livre,
porém devido à quantidade plantada ser pouca, os vendedores que não produzem o suficiente para
abastecer a banca, e são obrigados comprarem de atravessador (pessoas que compram mercadorias
fora para revender). Embora no município já haja locais utilizando a técnica da hidropônia, que tem um
tempo de produção mais rápido do que o convencional, sendo que o tempo hábil para a comercialização
é de 25 dias, o método tradicional leva em média 45 dias para da o ponto de venda.
CONCLUSÃO
Descreveu-se acima as caraterísticas da feira livre e dos comerciantes de hortaliças do município,
observou-se ainda que a feira livre municipal, mesmo com a falta de apoio do governo municipal aos
produtores e comerciantes, possui um grande potencial econômico e comercial, embora a quantidade
de hortaliças produzidas no município seja insuficiente para a população local. Por fim as relações
comerciais e produtivas são fortemente ligadas por afeto ou por parentesco, o que dificulta a entrada de
outras pessoas neste mercado informal, assim se tornando quase que um monopólio familiar.
Feitas as considerações, pode-se apontar que as metodologias ampliam o conhecimento e
servem de base para avaliações da economia rural familiar especificas do local. É importante ressaltar
que esse trabalho é uma experiência para ser analisada para se pensar a melhoria tanto no local da
produção, dando suporte ao produtor, quanto ao comerciante melhorando o espaço físico da feira livre,
para o progresso de ambos os segmentos.
REFERÊNCIAS
GIDDENS, A. As consequencias da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
GIDDENS, A. Mundo em Descontrole. Rio de Janeiro: Record, 2007.
HARVEY, D. A Produção Capitalista do Espaço. São Paulo: Annablume, 2005.
MARX, K. O Capital. São Paulo: Nova Cultura, 1996.
12
MEDEIROS, H. J. Teorias do Comércio Internacional e Política Comercial. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2011.
SANTOS, M. O Espaço Dividido. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979.
SANTOS, M. Pensando o Espaço do Homem. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.
13
A URBANIZAÇÃO NO BAIRRO DA SACRAMENTA (BELÉM-PA): A (RE)
PRODUÇÃO DO ESPAÇO, OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS E A
VIOLÊNCIA URBANA NO CONTEXTO TERRITORIAL VIGENTE
LEONARDO DE SOUZA ALVES UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA)
RESUMO: O presente artigo visa compreender os indicadores socioeconômicos e de violência do bairro da Sacramenta a luz de seu processo histórico de ocupação enquanto espaço periférico da cidade de Belém (PA). Foi elaborado a partir de pesquisas bibliográfica e documental sobre o processo de produção do espaço urbano belenense e da temática da violência urbana a partir da consolidação de uma economia neoliberal no contexto regional e brasileiro. O artigo divide-se em quatro tópicos: o primeiro visa localizar o bairro da Sacramente no processo de periferização urbana e de ocupação das baixadas belenenses, o segundo analisará o papel da cidade não mais como um “sonho de modernidade”, mas como um polo de pobreza, posteriormente serão apresentados dados estatísticos sobre a violência no bairro, e por fim faz-se uma analise sobre o “medo” cada vez mais ligado ao viver nas cidades. PALAVRAS-CHAVE: Espaço Urbano. Violência. Território.
INTRODUÇÃO
A Amazônia sempre foi reconhecidamente um espaço de conflitos, principalmente pela
terra, inicialmente pela expansão econômica da borracha, posteriormente como lócus da
expansão de outras culturas como: a soja, o dendê e agora um novo debate acerca da introdução
da cana-de-açúcar em terras amazônicas ganha força, bem como pode ser um novo elemento para
o acirramento dos conflitos pela terra, transformando a reforma agrária cada vez mais em um
sonho distante.
Todavia principalmente a partir da década de 1970, com as intervenções do governo
militar, com o Plano de Integração Nacional, construindo estradas (a transamazônica é o maior
exemplo), grandes projetos (extrativistas principalmente), entre outros, integraram a Amazônia ao
resto do Brasil, dando-lhe assim um lugar na Divisão Internacional do Trabalho e
consequentemente na Divisão Territorial do Trabalho, em um país cada vez mais inserido nos
propósitos econômicos internacionais.
A partir desse contexto é que as cidades e a estrutura urbana se consolidam no território
amazônico e uma metrópole origina-se de tal processo: Belém (lócus e objeto espacial de estudo).
A estrutura urbana belenense ganha tendencialmente uma importância cabal na dinâmica dessa
região brasileira.
14
A capital paraense atende aos interesses neoliberais, mantendo forte influência sobre as
cidades vizinhas (primeiramente Ananindeua e posteriormente outras, a exemplo Marituba,
Benevides, entre outras), crescendo e expandindo-se horizontalmente, o que tornou a criação da
Região Metropolitana de Belém algo necessário, assim como originando um processo mais
recente: a conurbação sobre a cidade de Ananindeua. Não só se expande como se torna cada vez
mais excludente: o sonho da cidade como um quadro de possibilidade de modernidade, de
melhores possibilidades econômicas em relação ao campo, deparou-se com a realidade: “o
processo de urbanização revela uma crescente associação com o da pobreza, cujo lócus passar a
ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade” (SANTOS, 2009, p. 11).
Adentra-se assim ao que Milton Santos (2009) chama de período técnico-científico
informacional, gerando novos processos de apropriação do território belenense, o espaço torna-se
cada vez mais heterogêneo; cada vez mais excludente. É nesse contexto de nosso objeto espacial
de estudo que se sobressai um dos bairros periféricos da cidade de Belém – o bairro da
Sacramenta, reconhecidamente um bairro de morada predominante de uma população pobre da
capital paraense. Mesmo que ao longo do tempo, obras de saneamento básico principalmente,
feitas pelo Estado, tenham valorizado parte do espaço, a máxima anteriormente dita pouco
mudou. A Sacramenta é assim considerado como uma Baixada, sendo tal denominação melhor
abordada em tópico específico deste artigo.
Deste modo engendra-se esse bairro como palco de segregação, de exclusão social1. A
pobreza, a falta de saneamento básico e principalmente a falta de estruturas pública de qualidade,
em áreas essenciais como: educação, saúde e segurança, dão margem para a territorialização de
um novo elemento nesse mosaico heterogêneo chamado cidade: a violência, no contexto desse
trabalho a violência praticada por uma criminalidade tipicamente urbana, a exemplo os assaltos,
tráfico de drogas (extremamente presente nas grandes cidades, cada vez mais interconectadas,
como em uma conexão perversa), etc. Temos uma Geografia da Violência e a violência
tradicionalmente de cor vermelha, é principalmente a partir da década de 1990, desenhado sobre
um quadro cinza, o quadro da cidade.
Este trabalho centra-se então em analisar os indicadores socioeconômicos e de violência
do Bairro da Sacramenta a luz do processo histórico de ocupação desse espaço, compreendendo
mais especificamente a dinâmica populacional da Sacramenta, enquanto um bairro ocupado em
um contexto de baixada belenense, bem como seu papel como um espaço segregação na cidade.
1 José de Souza Martins (1997, apud COUTO, 2011) tem preferência pelo termo “inclusão precária”.
15
O seu desenvolvimento se dá a partir de uma pesquisa bibliográfica, acerca da produção
do espaço da cidade de Belém, do processo econômico e de urbanização brasileira, principalmente
a partir da década de 1970 (expansão do modelo neoliberal) e da temática sobre a violência
urbana. Também foram consultados os anuários estatísticos de Belém bem como os dados
populacionais de Belém presentes no acervo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Assim a cidade como já foi dita é um campo em que a violência está muito presente, com
uma população cada vez mais aterrorizada, construída pela contradição, e é na periferia que a
violência encontra o seu principal campo para se hegemonizar.
O BAIRRO DA SACRAMENTA E O CONTEXTO DAS BAIXADAS BELENENSES
A cidade de Belém funda-se em 1616 a partir do contexto da construção de uma
fortificação militar de seu território:
A construção desta fortaleza de madeira com cobertura de palha recebeu então a denominação de Forte do Presépio, atualmente Forte do Castelo, dando início à formação do primeiro aglomerado urbano, mais tarde conhecido por Feliz Lusitânia e, posteriormente, Santa Maria de Belém do Grão-Pará (SARGES, 2002, p. 44).
O território passa assim a ser ocupado, porém é apenas a partir do “período da
Borracha”, conhecido como Belle-Époque, a partir da segunda metade do século XIX, com o
dinheiro advindo da extração e venda para principalmente o exterior, que a cidade belenense terá
as suas primeiras estruturas eminentemente urbanas com a introdução de um modelo francês de
cidade.
Outros dois momentos históricos merecem destaque para o crescimento da população na
cidade de Belém: um novo período da borracha para abastecer o mercado durante a Segunda
Guerra Mundial e posteriormente durante as ações de integração amazônica empreendida pelo
governo militar (RODRIGUES, 2000).
Tabela 1: População da cidade de Belém-Pa entre 1649-2010
Anos População de Belém
1649 6.500 1749 6.574 1800 12.500 1851 18.000 1890 96.500 1905 120.000 1920 236.400
16
1940 208.706 1950 225.000 1960 359.000 1980 933 287 1991 1 244 689 2000 1 280 614 2010 1 393 399
Fonte: Penteado (1968) e Anuário Estatístico do Município de Belém 2012
É a partir da década de 1960 que o bairro da Sacramenta irá ganhar maior importância
com um intenso crescimento populacional, já que em 1950 nele moravam apenas 6.686 pessoas,
enquanto em 1960 a população era de cerca 20.773 pessoas, obtendo o terceiro maior
crescimento da população absoluta entre os bairros do município (PENTEADO, 1968). Já em 2010,
moravam no bairro cerca de 44.407 pessoas (Anuário Estatístico do Município de Belém, 2012).
A Sacramenta, como boa parte dos bairros belenenses, caracteriza-se como uma Baixada,
com inúmeras áreas alagadas ou alagáveis, com ocupação intensiva de pessoas de baixa renda.
Trindade Jr. (1997, p. 22) estabelece um parâmetro de conceituação acerca das Baixadas
belenenses:
As baixadas existentes em Belém são áreas inundadas ou sujeitas às inundações – decorrentes, em especial, dos efeitos das marés – e ficaram conhecidas, principalmente a partir da década de 60, por serem espaços de moradia das camadas sociais de baixo poder aquisitivo.
Esses espaços caracterizam-se então como “segregados, socialmente excluídos, com
deficiência e insuficiência de equipamentos urbanos e comunitários” (Trindade Jr., 1997, p. 29).
Assim a vitrine é quebrada, ou seja, a cidade vista como espaço de modernidade depara
com sua realidade marcada pelas contradições. O homem sem grande instrução, pressionado a
sair de sua terra e vir para cidade, é forçado a viver em espaços cada vez mais segregados, de
baixada. A distribuição espacial dos indivíduos se apresentará de forma forçada.
DO SONHO À REALIDADE: A CIDADE COMO ESPAÇO DE CONTRADIÇÕES
Mesmo com a intensa expansão do espaço urbano a partir da introdução do modelo
capitalista, é a partir do fim da Segunda Guerra Mundial com o modelo econômico neoliberal que
consolidou o processo de transformação do globo em um espaço cada vez mais urbano,
consolidando o poder político e econômico no âmbito da cidade.
Neste contexto as grandes cidades passam a receber uma massa populacional em sua
maioria sem instrução, que acabam expandindo a fila de desempregados ou entrando em um
17
mercado informal. Sem oportunidade, essa massa acaba por ir morar nas áreas de baixada, de
invasão, desprovidas do apoio estrutural do Estado, retirando desse sujeito à cidade, a cidadania.
“A cidade, em si, como relação social e como materialidade torna-se criadora de pobreza”
(SANTOS, 2009, p. 10), ou seja, no mundo em que Stiglitz (apud Harvey, 2005, p. 84) afirma que
“países pobres estão na verdade subsidiando os mais ricos”, a criação de espaços segregados
torna-se necessário para a expansão capitalista, bem como a pobreza é o motor da acumulação
capitalista, de uma maior mais valia de empresas muito interessadas no lucro do que na qualidade
de vida da maioria da população.
A tabela 2 demonstra que as contradições na distribuição de renda e consequentemente
na produção do espaço urbano são reflexos das contradições existentes no mundo moderno
(CARLOS, 2009, p. 293).
Tabela 2: Comparação do valor do rendimento nominal médio mensal, valor do rendimento nominal media no mensal das pessoas com rendimento, responsáveis pelos domicílios particulares permanentes da Sacramenta com os 5 bairros de melhor e pior
desempenho– 2000.
Bairro Pessoas Com Rendimento
Responsáveis Pelos Domicílios Particulares
Permanentes
Valor Do Rendimento
Nominal Médio Mensal Das Pessoas Com Rendimento,
Responsáveis Pelos Domicílios
Particulares Permanentes (R$)
Valor Do Rendimento
Nominal Mediano Mensal Das Pessoas Com Rendimento,
Responsáveis Pelos Domicílios
Particulares Permanentes (R$)
Nazaré 5 075 3 445,50 2 500,00
Miramar 9 2 886,67 2 000,0
Reduto 1 817 2 874,62 2 000,00
Sacramenta 9 153 495,61 300,00
São Clemente 1 265 281,37 200,00
São Francisco 386 402,86 200,00
Caruara 40 327,93 151,00 Fonte: Anuário Estatístico do Município de Belém (2012, adaptado pelo autor)
Sobre o espaço urbano, do ponto de vista da produção, Ana Fani Carlos destaca dois
momentos de acumulação que se interpenetram.
No primeiro momento, o espaço produzido torna-se mercadoria, assentado na expansão da propriedade do solo urbano no conjunto da riqueza. Trata-se, de um lado, do espaço fragmentado pelo setor imobiliário, que entra no circuito de produção da riqueza criando o espaço o espaço material (construído). A cidade surge como mercadoria a ser consumida e, assim, seus fragmentos são comprados e vendidos no mercado imobiliário – aqui a moradia é uma
18
mercadoria essencial à reprodução da vida [...] No segundo momento – o atual – o circuito de realização do capital (nos termos assinalados do movimento de passagem da hegemonia do capital industrial ao capital financeiro) redefini o sentido do espaço que assume também a condição de produto imobiliário. É o momento histórico no qual a reprodução, estabelecida no plano global, orienta os processos locais (a produção do espaço na metrópole) e a distribuições dos lucros advindos dos lucros advindos do solo urbano (pelo consumo produtivo) estende-se por toda cidade. Trata-se da distribuição internacional da mais-valia produzida no processo local de produção da cidade como decorrência da flexibilização do solo urbano no contexto de realização do ciclo do capital. Esse movimento, todavia, não exclui a continuidade do primeiro. (CARLOS, 2009, p. 294-295).
A transformação do capitalismo industrial para o financeiro dá a economia uma maior
fluidez e deixa o mercado mais propício as crises que tem suas implicações nas populações mais
pobres, aumentando a desigualdade assim também a exclusão social vigente no espaço urbano. O
sonho viu uma realidade marcada pela contradição, todavia nesse novo momento do capitalismo
marcadas pelo desenvolvimento da acumulação bem como o espaço como produto da
necessidade do mercado mostra com mais clareza a sua perversidade.
A cidade é estruturada e reestruturada segundo os interesses de uma classe dominante
pela especulação imobiliária valorizando e desvalorizando os diferentes espaços urbanos.
Em todos esses momentos da reprodução do capital, a interferência do Estado é fundamental e a ação desencadeia um processo de revalorização/desvalorização dos lugares, e com isso aprofundando o movimento de expulsão/atração de habitantes (em função de sua compatibilização com os movimentos de renovação), produzindo o fenômeno de explosão do centro, que é um movimento de expulsão dos habitantes em direção dos habitantes em direção à periferia, reproduzindo-a num outro patamar (CARLOS, 2009, p. 297).
Quem paga por esse processo mercantilizado do espaço é como sempre a massa
populacional, os mais pobres. “A pobreza não é apenas o fato do modelo socioeconômico vigente,
mas, também, no modelo espacial” (SANTOS, 2009, p. 10).
Desta forma a falta de estruturas do Estado abre espaço para um novo tipo de poder nas
baixadas de Belém, a criminalidade, que adentra a esses espaços com pouca dificuldade e se
instala provocando medo que cada vez mais se generaliza para a cidade, com a constituição de um
crime organizado que cada vez mais desafia a polícia e põe o território de controle do Estado em
xeque. O conflito se acirra entre esses dois agentes territoriais pondo em risco as maiores vítimas
desse processo: a camada mais pobre que não tem recursos para sair daquela sua realidade e vive
cada vez mais sobre o domínio do pavor.
19
O TERRITÓRIO DA VIOLÊNCIA: O CASO SACRAMENTA
Como já referido o desenvolvimento de Belém deu-se em um terceiro estágio a partir das
políticas públicas do governo militar sobre a Amazônia, já que suas ações como a criação da
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM, tiveram impacto da fronteira
econômica seja no meio rural quanto no meio urbano amazônico:
O conceito de fronteira econômica era aplicado a partir de suas várias instâncias de suas várias instancias: agrícola, industrial, agroindustrial, urbana, de povoado, de infraestrutura regional, etc. Ao mesmo tempo, o Plano definia uma estratégia de planejamento urbano a nível nacional, a partir da criação das “Regiões Metropolitanas” (COSTA, 1995, p. 64).
A Metrópole belenense cresce como um polo de pobreza e a Sacramenta é um exemplo
disso: “a grande cidade, mais do que antes, é um polo de pobreza (a periferia no pólo...) e
capacidade de atrair e manter gente pobre, ainda que muitas vezes em condições sub-humanas”
(SANTOS, 2011, p. 10).
O Bairro da Sacramenta é neste contexto um campo propício para o desenvolvimento de
atividades criminosas, ou seja, o poder do Estado (com P maiúsculo) dá espaço a uma forma de
poder mais perigosa, invisível, difícil de ser identificado muito menos é concreto (com p
minúsculo) (RAFFESTIN, 1993). A violência se territorializa onde o poder do Estado é fraco, onde as
estruturas estatais são falhas.
Domina-se o território e cria-se em uma população pobre já massacrada pela violência do
governo que o priva do direito a cidade, o controle pela coerção, causando medo, criando o que
Marcelo Lopes de Souza (2008) denominou de Fobópole (originada das palavras phóbos = medo e
polis = cidade).
Tabela 3: Classificações dos bairros de maior incidência de criminalidade, no Município de Belém – 2009
Classificação Bairros Incidentes População (IC) 10.000 Habitantes
1o Guamá 6 840 102 124 669,77 2o Pedreira 6 306 69 067 913,03 3o Jurunas 5 099 62 740 812,72 4o Marco 4 810 64 016 751,37 5o CN-1,2,3,4,5,8 4 021 70 000 574,43 6o Coqueiro 3 792 36 963 1025,89 7o Sacramenta 3 766 44 407 848,06 8o São Braz 3 764 19 881 1893,26 9o Marambaia 3 559 62 370 570,63
10o Campina 3 405 5 407 6297,39 Fonte: Anuário Estatístico do Município de Belém (2012)
20
Porém ao analisarmos pele incidência de criminalidade a cada 10.000 habitantes temos a
saída da Sacramenta da sétima posição, para a quinta colocação.
Assim a criminalidade adentra às baixadas belenenses de forma cada vez mais profunda,
como o tráfico de drogas, que ao se caracterizar de modo informal “permitem todos os tipos de
inovação financeira e práticas nebulosas que, no entanto, geram um monte de dinheiro” (HARVEY,
2011, p. 29). Criam então o sentimento de insegurança, e assim os dados de homicídios deixam
clara a materialização desse sentimento:
Tabela 5: Registros de vítimas de homicídio, no Bairro da Sacramenta - 2008-2009.
Bairro 2008 2009 Variação (%)
Sacramenta 28 31 10,71 Fonte: Anuário Estatístico do Município de Belém (2012, adaptado pelo autor)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ligar a segurança pública apenas a uma maior intervenção da polícia (como caso de
polícia) se demonstra não apenas limitado, mas também falho. A problemática é muito maior,
ligado a um processo histórico de segregação da população mais pobre no âmbito da cidade, que
transformou esses espaços em propícios para a proliferação da criminalidade, colocando aos
moradores uma realidade de insegurança, com o medo como o maior auxilio para sua
“segurança”. O crime migra com a atuação da polícia, ocasionando uma mobilidade do crime para
outros locais em que a atuação da polícia ainda é falha, ou seja, a segurança pública baseada
apenas na polícia, já o contingente não os permite ter o controle sobre o território, muito menos
sobre a vertical crescente de uma criminalidade cada vez mais organizada, não permite
compreender a complexidade do processo.
O bairro da Sacramenta engendrada como baixada belenense, mesmo que obras do
Estado fizeram com que ele fosse mais valorizado, porém ainda mantendo uma população pobre,
estruturas de ensino, saúde, segurança deficientes e a certo tempo já despontando entre os
bairros mais perigosos do município de Belém.
A análise de uma escala espacial micro, como a de um bairro, trouxe dificuldades pela
falta quantitativa e qualitativa de dados disponíveis, principalmente porque há escassez de
trabalhos referentes a Sacramenta, muito menos está no eixo mais tradicional sobre a violência
(Guamá, Terra Firme e Jurunas). Porém a dinâmica do bairro no contexto da capital paraense
torna a produção do seu espaço, um elemento interessante de analise científica.
21
O bairro adentra a um contexto de um espaço de exclusão social da cidade, que possui
dinâmicas próprias de seu espaço, porém com influências de modelos de desenvolvimento
exteriores, da cidade de Belém, dos interesses do Estado brasileiros para com a Região Amazônica,
bem como interesses internacionais sobre o território brasileiro, principalmente a partir da década
de 1970 com a introdução do modelo econômico que a iniciativa privada retomou o controle
econômico: neoliberalismo.
No período técnico-científico informacional, os interesses hegemônicos influenciam
mesmo nas menores escalas, seja no desenvolvimento, seja na desvalorização espacial. A
Sacramenta caracteriza-se por ter principalmente uma população pobre que cada vez mais tem
que conviver com a violência próximo de sua casa.
Desta forma é importante enfatizar que a cidade do medo existe, cada vez mais forte,
com uma legitimação cultural sobre as jovens que veem na criminalidade uma oportunidade mais
fácil de sair da pobreza, burlando regras morais, leis, em troca de uma vida mais curta, que, no
entanto seria provavelmente sem grandes perspectivas com uma estrutura educacional precária.
A partir dessa perspectiva para muitos jovens vale muito mais apenas viver intensamente por
pouco tempo do que viver sob as mazelas da baixadas belenenses.
Assim adentramos a um novo período marcado pelo medo não só de sair de casa, mas
também de ficar. A ideia da casa como o porto seguro encontra falhas severas. As perspectivas
futuras não são positivas com a introdução de tecnologias que integram o crime organizado,
conseguem informações com maior velocidade, estando sempre a mais de um passo da polícia.
Em pleno século XXI, a população pobre belenense não só não come direito, mas agora também
não dorme sossegado2.
REFERÊNCIAS
ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO MUNICÍPIO DE BELÉM, 2012;
BECKER, Bertha K. Manual do Candidato: geografia. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2009;
CARLOS, Ana Fani. A “Ilusão” da transparência do espaço e a “fé cega” no planejamento urbano: os desafios de uma geografia urbana crítica. In.: CIDADES: revista científica. vol. 6, n. 10. Presidente Prudente, 2009;
CASTELLS, Manuel. A conexão perversa: a economia do crime global. In.: CASTELLS, Manuel. Fim do milênio. São Paulo: Paz e Terra, 1999 pp.203-249;
2 Alusão à famosa frase de Max Weber (2012) no livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo: “o protestante prefere comer bem, e o católico, dormir sossegado” (p.43)
22
COUTO, Aiala Colares de Oliveira. A cidade dividida: da inclusão precária à territorialização perversa. Belo Horizonte: SIMPURB, anais do simpósio, 2011;
HARVEY, David. O neoliberalismo: histórias e implicações. São Paulo: Loyola, 2005;
HARVEY, David. O enigma do capital: e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011;
PENTEADO, Antonio Rocha. Belém do Pará (Estudo da Geografia Urbana). 2o vol. Belém: UFPA, 1968 (Coleção José Veríssimo);
RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993;
RODRIGUES, Edmilson. Os Desafios da Metrópole: reflexões sobre o desenvolvimento para Belém. Belém: NAEA/UFPA, 2000;
SANTOS, Milton. Urbanização Brasileira. 5a ed. São Paulo: EDUSP, 2009;
SARGES, Maria de Nazaré. Belém: riquezas produzindo a belle-époque (1870-1912). Belém, Paka-Tatu, 2002;
SOUZA, Marcelo Lopes de. Fobópole: o medo generalizado e a militarização da questão urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008;
TRINDADE Jr, Saint-Clair Cordeiro da. Produção do Espaço e Uso do Solo Urbano em Belém. Belém: NAEA/UFPA/PLADES, 1997;
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 4a ed. São Paulo: Martin Claret, 2012.
23
REFLEXOS DO USO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NO NÚCLEO NOVA
MARABÁ, MUNICÍPIO DE MARABÁ/PA
ELVIS VIEIRA MOREIRA ABRAÃO LEVI DOS SANTOS MASCARENHAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ (UNIFESSPA)
INTRODUÇÃO
Marabá, cidade do interior do Pará, localizado no sudeste do estado é “palco” do estudo do
referente artigo, que tem por objetivo mostrar as formas de uso e apropriação da água apontando
os riscos de vulnerabilidade Sócio-ambiental referentes à contaminação das águas subterrâneas,
derivadas de uma má formação Socio-espacial que consequentemente trará problemas a saúde da
população que a utiliza, relacionando as formas de uso e ocupação no núcleo Nova Marabá,
embasando-se em fundamentos hidrogeológicos que explicam a dinâmica das águas subterrâneas,
juntamente com formação histórica do abastecimento de Marabá.
Apesar do núcleo ter sido projetado pela SUDAM no período da ditadura militar, passou
por recorrentes invasões de terras, aumentando seu contingente populacional, ocasionando uma
demanda por serviços, principalmente por abastecimento de água, do qual recorreram a
perfurações no solo para construções de poços semi e artesianos, naturalmente sem
planejamento técnico. Seu crescimento populacional é fruto de ciclos econômicos começando
pelo caucho (arvore da família das seringueiras), Castanha, pecuária, minério (ouro, ferro e
diamante) etc. que sérvio como ponto de atração de migrantes, contribuindo para formação dos
cinco núcleos descontínuos existentes na cidade, em decorrência do primeiro núcleo estar
assentado em uma planície fluvial entre dois rios, o Tocantins e o Itacaiunas não condicionando
geograficamente com os ditames da expansão urbana da época (SOUSA, 2013).
Esse trabalho foi realizado em parceria com projeto PIBID (Programa de iniciação à Bolsa a
Docência), Laboratório Regional de Análises de Águas de Marabá responsável pela coleta e
análises das amostras das soluções Alternativas coletivas (SAC’s), Soluções Alternativas individuais
(SAI’s) e Sistema Alternativo de Abastecimento, no caso, a Companhia de Saneamento do Estado
do Pará (COSANPA) nos anos de 2010 a março de 2014, totalizando 278 amostras, sendo previstas
mais coletas para análises no respectivo ano, revelando dados das porcentagens das amostras de
águas colhidas no núcleo Nova Marabá que são inapropriadas para o consumo, destacando fontes
de contaminação e seus principais agentes.
24
CONSIDERAÇÕES GERAIS A RESPEITO DO HISTORICO DE APROPRIAÇÃO E DA DINÂMICA DAS
ÁGUAS SUBTERRÃNEAS
Nesse capítulo venho abordar as históricas formas de uso e apropriação dos recursos
hídricos pelo homem, além de enfatizar a sua dinâmica natural como ocorre, assim como sua
importância para reprodução da vida na terra, até culminar com o contexto da formação de
abastecimento da cidade de Marabá, do qual seus mananciais e evidentemente a sua população
não estão fora da vulnerabilidade sócio-ambiental caracterizando um reflexo da falta de controle
dos recursos hidrológicos, bem como parte do todo de um problema nacional, apesar de existir
leis para uso, controle e apropriação da água.
Vestígios encontrados de gerações passadas como tuneis e poços construídos para
capitação de água na Pérsia (atual Irã) por volta de 800.a.c comprovam que as águas subterrâneas
são aproveitadas pelo homem desde a idade antiga. Portanto muito antes da sua compreensão, da
sua ocorrência, origem e movimento. Omero, Tales e Platão antigos filósofos gregos, admitiam a
hipótese de que as nascentes eram formadas por águas do mar conduzidas através de canais
subterrâneos para baixo das montanhas de onde ascendiam até a superfície depois de purificadas.
(apud FILHO, 2000).
Nos dias de hoje Segundo estimativas da UNESCO (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
PARA EDUCAÇÃO E CULTURA, 1992), no período de 1970-1995 foram perfurados cerca de 300
milhões de poços. Essas obras fornecem águas subterrâneas para o abastecimento de mais 50% da
população do planeta e para irrigação de mais de 90 milhões de hectares. O uso das águas
subterrâneas é indispensável, 97% da água potável disponível vem do subsolo e 3% é superficial e
os Estados Unidos é responsável pelo maior consumo de água subterrânea do planeta, perfuram
em media cerca 400 mil poços por ano e tem um volume de explotação que ultrapassa 300
milhões de m³ desde os anos 90, onde sete estados são campeões (Arizona, Califórnia, Texas,
Florida, Kansas, Hidaho e Nebraska). Solley et. al., 1993 (apud FILHO, 2000).
A capital do México que detém uma das maiores populações do mundo com mais 16
milhões de habitantes é abastecida por águas subterrâneas com uma descarga anual de 1,5 bilhão
de m³ (GARDUNO e ARREGUIN-CORTES, 1994 apud FILHO, 2000) 75% do abastecimento publico
europeu advém das águas do subsolo, mas essa estimativa chega aos 90% nos países como
Alemanha, Dinamarca, Bélgica, Suécia e Áustria (OECD- Organization for Economic Cooperation
and development, 1989 apud FILHO, 2000). Já na Austrália possui perfurações de poços que
chegavam ao numero de 400 mil com produção no alcance de 3 milhões m³/ano para abastecer as
regiões do sudeste e sudoeste, além de irrigar o cultivo agrícola (FILHO, 2000).
25
No Brasil necessita-se de um controle para o uso das águas do subsolo do qual não se tem
dados exatos sobre a quantidade de poços que surgem anualmente, mas segundo o IBGE-
1991(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica) mostra que 61% da população é abastecida
com águas subterrâneas, 43% com poços tubulares, 12% por fontes ou nascentes e 6% por poços
escavados (do tipo amazonas). O centro sul com estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do
Sul possuem cidades com mais de 70% dos abastecimentos por poços. (FILHO, 2000)
No nordeste as cidades de Natal e Mossoró no Rio Grande do Norte, Maceió em Alagoas,
Recife e Olinda em Pernambuco, o abastecimento publico é bastante acentuado em relação a
fornecimento de águas por poços. Devido às secas periódicas nessa região, o governo desenvolveu
políticas de perfurações de poços e construções de pequenos e médios açudes para amenizar a
falta d’água, mas não levavam em conta as leis, políticas e estudos sobre o uso disponível dos
recursos subterrâneos para o nordestino, sendo utilizados de maneira desvinculada, descontinua e
desordenada. Outro fator desfavorável é a pouca potencialidade hidrológica onde 50% do
nordeste esta assentada em rochas cristalinas do embasamento Pré-Cambriano (Feitosa, 2000). Os
trabalhos realizados pela SUDENE (Superintendência de desenvolvimento do nordeste) deram
inicio à hidrologia brasileira e estudos de águas de forma técnica e gerencial que desenvolveu
pesquisas e trabalhos com perfurações de poços com profissionais especializados quantificando e
qualificando o teor da água. (FILHO, 2000).
Para entender melhor as dinâmicas das águas subterrâneas para o seu uso, possuem um
ciclo de recarga que depende especialmente das condições climáticas, do qual é chamado de Ciclo
hidrológico, que Segundo Karmann é um processo natural responsável pela dinâmica que a água
exerce no planeta dando ênfase a importância das reservas de águas subterrâneas que
correspondem a maioria da água doce existente no globo junto com as propriedades físicas e
químicas do solo. Sem falar dos processos e de atividades humanas ou simplesmente biológicos
existentes atualmente que dificultam ou contribuem para a sua distribuição e uso.
De maneira simplificada o ciclo hidrológico acontece da seguinte forma: os solos as
vegetações, rios e oceanos perdem umidade através da incidência dos raios solares
transformando-os em vapor d’água que ao se aglutinarem precipitam na superfície terrestre ou
marinha, onde parte da chuva é absorvida pela cobertura vegetal que depois será liberada por
evapo-transpiração. O solo dependendo do seu poder de permeabilidade recarregara o lançou
freático por infiltração podendo ou não ter comunicação com rios e oceanos, por outro lado, o
que não poder ser absorvido pelo solo começa a formar canalículos, facilitando o escoamento
26
superficial que aumentara o leito dos rios, além de deslocar sedimentos para as áreas rebaixadas.
(KARMANN, 2000).
A água derivada da chuva para poder chegar ao regolito, o solo deve possuir propriedades
permeáveis ou porosos como sedimentos arenosos e rochas expostas (fraturadas por hidrolise),
que facilitem a sua infiltração diferente de matérias como argila, rochas metamórficas ou ígneas
que dificultam a passagem de solventes. Percebamos que a climatologia, hidrografia e
geomorfologia são ciências que estão intimamente ligadas na produção desse processo. Outro
fator importante que é desfavorável atualmente para a recarga do subsolo é formação de grandes
centros urbanos, pois, há o asfaltamento do solo e escoamento da água das casas de maneira
rápida para as ruas como se fosse “lixo”, indo parar junto com outros detritos no rio, o assoreando
e consequentemente o poluindo. (KARMANN, 2000).
A infiltração da água no solo pode chegar a três partes, a primeira é fluxo não saturado,
localizado acima do nível freático com características de um vazio preenchido parcialmente por
água e ar. A Segunda é o inter-fluxo continuação do escoamento da água para o interior da terra.
A terceira é a recarga ou recursos renováveis do aquífero, em que se completa o escoamento da
infiltração onde está protegido de evaporação e transbordamento (KARMANN, 2000).
Todo esse processo de recarga e descarga das águas subterrâneas sofre influência direta do
homem, pois está atrelada ao aumento populacional que exige uma demanda maior por esse
recurso, uma vez que a rede de distribuição de água “tratada” não supre todas as necessidades
dos habitantes, consequentemente provocando uma vulnerabilidade socioambiental pela
construção demasiada de poços amazônicos, contaminando os mananciais com resíduos
industriais, Necrochorume, churume de depósitos de lixo urbano, produtos agrícolas, pesticidas,
fertilizantes, herbicidas, vazamentos de reservatório de combustíveis, esgoto a céu aberto sem
tratamento e que pelo bombeamento vai parar nas torneiras das residências para uso domésticos
podendo-lhes causar danos a saúde devido a desinformação ou por falta de opção (Filho, 2000).
Realidade tratada nesse caso na cidade de Marabá/Pá especificamente no núcleo Nova Marabá
onde problemas hídricos encontrados a nível nacional se fazem presentes nesse município como
reflexo de uma sociedade contemporânea, em que será retratada no decorrer dos próximos
capítulos.
27
FORMAÇÃO URBANA E DESENVOLVIMENTO DO ABASTECIEMTO DE ÁGUA DA CIDADE DE
MARABÁ
Marabá cidade localizada no sudeste do Pará ao longo de sua historia desde sua
emancipação do município de Baião em 1913, também passou por sucessivas divisões territoriais
para formação de outros municípios como Itupiranga em 1948, São João do Araguaia e Jacundá
em 1961 e por fim em 1988 Parauapebas e Curianópolis, restando lhe uma área de 15.157,90 Km²
(IBGE-95). Assim como outras cidades da Amazônia, surgem às margens de rios, nesse caso entre a
planície de inundação de dois, o Tocantins e Itacaiunas, servindo como entreposto comercial para
circulação de mercadorias e acesso a capital do estado.
Seu primeiro núcleo urbano a Marabá Pioneira (conhecida também por cidade velha) surge
sem nenhum projeto de urbanização e sofre sucessivas enchentes devido a sua localização
geográfica. Nova Marabá que aparece no contexto dos anos 70 como centro planejado pela
SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) em uma área de fazenda com o
padrão altimétrico mais elevado a salvo das enchentes e atendendo as necessidades
expansionistas da cidade e que é cortada por varias rodovias como a Transamazônica, facilitou a
migração. O núcleo Cidade Nova as margens do rio Itacaiunas cresce com residências de iniciativas
individuais (invasões) e posteriormente São Felix e Morada Nova nos limites do perímetro urbano
fazendo parte dos cinco núcleos descontínuos da cidade (SOUZA, 2013).
Todo esse Crescimento se deu através de ciclos econômicos começando pela extração do
caucho e da castanha passando pela pecuária e mineração atraindo migrantes de todas as partes
do país (SOUZA, 2013). Essa aglomeração populacional exponencial requer uma demanda de
serviços, saúde, educação, moradia e saneamento básico, nesse caso a discussão perpassa como a
população se abastecia de água antes e depois da implantação do sistema de abastecimento de
água na cidade de Marabá.
No primeiro momento após a sua emancipação 1913 segundo Moraes o uso da água já era
feita por poços e cacimbas, além disso, possuía uma característica particular a venda de águas
trazida do leito dos rios para a população com maior poder aquisitivo, residente no núcleo
pioneiro, através de latas penduradas por madeira leve e resistente chamada de “sarau”, que
depois passou a ser transportada nos lombos de animais pelos chamados popularmente de
“aguadeiros”, porem as famílias mais pobres utilizavam se diretamente do rio para os seus
afazeres domésticos e pessoais.
No segundo momento após os anos 40 começou o primeiro projeto que deu inicio a
construção do reservatório de água através da prefeitura juntamente com a fundação SESP
28
(Sistema Especial de Saúde Pública que posteriormente passou a gestão para COSAMPA)
precisamente em 1946, a fim de proporcionar vantagens sob o ponto de vista sanitário. Assim foi
criado o Sistema de Água e Esgoto (SAE) de Marabá, porém foi apenas em 1950 que foi efetivada a
construção que detinha uma caixa d’água localizada no centro da cidade tendo 18 metros e 28
centímetros de altura com capacidade para 227 m³ de água, situando se próximo de um poço com
20 metros do lençol freático permanente de 10 metros, 5 filtros conduzem a água até a caixa por
uma bomba alimentada por óleo diesel (BRASIL, 2009 apud MORAES, 2009).
No terceiro momento nos anos 60 ocorreu a 1ª rede geral de saneamento de Marabá
diante do crescimento populacional, composta por 11.000 metros que totalizava 800 ligações
domiciliares derivada do sistema isolado capitado do rio Tocantins que ainda abastece o núcleo
Pioneiro (MORAES, 2009). Posteriormente ao surgimento do núcleo Nova Marabá, no ano de 82
foi inaugurado as instalações do ETA (Estação de tratamento de Água) com Capacidade de 900 L/s
do qual a população era abastecida duas vezes ao dia uma pela manha outra pela tarde onde
algumas famílias detinham de um reservatório pequeno na frente de suas residências (MORAES,
2009).
Essa estação só abastecia 70% da Nova Marabá, devido não estar concluída todas as suas
instalações, ficaram de fora as folhas 6, 7, 8, 12, 13, 14, 24, 25, 33 e 35 correspondia a 2000
ligações, só em 1996 foi concluída, oferecendo sistemas de abastecimento de água “tratada”
passando de 900L/s pra 1800l/s, mas que funcionava mal hidraulicamente (COSANPA, 2009).
Atualmente apesar da evolução no abastecimento de água, o contingente populacional ainda se
expande impulsionados por projetos de desenvolvimento regional com a especulação da
implantação da ALPA (Aços Laminados do Pará) em Marabá e políticas de apropriação do espaço,
desenvolvidas por agentes imobiliários como loteamentos e condomínios fechados “engrossam o
caldo” da necessidade por esse recurso indispensável, à água.
FONTES DE CONTAMINAÇÃO E AS FORMAS DE USO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM MARABÁ
Atualmente a maior causa das problemáticas ambientais é de ação humana e a água é um
bem comum para a reprodução da vida, do qual está sendo poluída e cada fez mais inadequada
para uso. Segundo a portaria 518 do Ministério da Saúde (2004) a água para o consumo humano
cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam aos padrões de
potabilidade e que não ofereça risco a saúde.
No núcleo Nova Marabá, as fontes de contaminação das águas do subsolo são inúmeras, ao
começar pelo cemitério Jardim da saudade localizado na folha 29, construído sem levantamento
29
hidrogeológico prévio, vulnerável a lançamento de necrochorume derivado da composição dos
cadáveres oferecendo riscos sanitários e higiênicos a saúde. Segundo Silva (2008, p.40-41).
O necrochurume é constituído de água, sais minerais, proteínas e 471 substancias orgânicas incluindo 2 diaminas, que são muito toxicas, a cadaverina e a putrescina, além de vírus e bactérias. Essas duas toxinas Cadaverina (1,5 Pentanodiamina) e Putrescina (1,4 Butanodiamina) são venenos perigosos sem antídotos eficazes. (SILVA, 2008).
Outro problema a ser citado são os esgotos domésticos lançados em vias publicas sem
tratamento, no caso do extenso canal da “grota criminosa” que corta várias folhas (bairros) até
lançar seus dejetos no rio Itacaiunas. Sua composição tem presença de coliformes fecais, gordura,
óleo, ureia, sulfatans, fenóis, micro-organismos como: protozoários, vírus, fungos, bactérias, algas
e etc. Os postos de combustíveis também contribuem para a poluição dos lençóis freáticos do
núcleo, pois seus tanques estão passivos de vazamentos (SILVA, 2008).
Em Marabá a área urbana e adjacências refere-se, basicamente a sistemas de aquíferos em
meios fraturados e de porosidade granular. Assim, a área é constituída em sua totalidade por
rochas cristalinas da formação de Couto Magalhães (filitos, ardósias, xistos e quartzitos, do qual
possui boas características de infiltração e armazenamento, onde esta assentada o núcleo Nova
Marabá) 50% e secundariamente pelos sedimentos da formação Itapecuru (30%) e também, das
coberturas do manto de inteperismo e aluviões as margens dos rios (20%). (CPRM, 96. Apud. Silva,
2008).
No núcleo Nova Marabá, além da boa potencialidade hidrogeológica é preciso que se
entenda que as dinâmicas sociais fazem parte do “retrato” das formas de uso da água, uma vez
que as invasões de terras são “corriqueiras” que culminam com a formação de bairros sem
planejamento que são os casos das folhas 13, 14, 25, 33 e 35 sem falar na invasão da coca- cola
correspondendo a 12.401 domicílios (Nova Marabá), do qual não possuem sistema de
abastecimento, recorrendo a perfurações no solo para construção de poços, evidentemente sem
critérios técnicos, uma vez que constroem fossas sépticas próximas dessas escavações,
contaminando seu próprio abastecimento, como ocorre em vários pontos da cidade, sendo difícil
ter um levantamento de dados exatos (MORAES, 2009).
Marabá possui duas formas de abastecimento de água, além da COSANPA, as soluções
alternativas coletivas (SAC’s) ou chafarizes e as Soluções Alternativas individuais (SAI’s). Ambas são
perfurações no lençol freático, a primeira possui entorno de 30 unidades de responsabilidade da
prefeitura localizadas em suas repartições publicas como escolas, hospitais, postos etc. onde é
30
utilizado em função da precariedade da Cia. de abastecimento ou inexistência. Ao todo segundo a
secretaria de saúde (março, 2009), a cidade possui 384 (SAC’s) cadastrados. (Moraes, 2009).
Já os (Sai’s) são poços particulares, do tipo tubular ou amazônico (que em sua maioria,
irregular do ponto do vista sanitário) utilizados pela população em decorrência da falta de
abastecimento ou pela precariedade da água oferecida pela COSANPA. Atualmente são 3.796
pontos cadastrados na secretaria de saúde em toda a cidade, sendo aproximadamente 149 na
Nova Marabá (MORAES, 2009).
No quadro abaixo estão os dados em porcentagens de todas as amostras impróprias para o
consumo no núcleo Nova Marabá, nos anos de 2010 a março de 2014 (totalizando 278 amostras
coletadas) realizados pelo laboratório regional de águas de Marabá, através de análises físico-
químico, PH (Potencial Hidrogeniônico), bacteriológico e turbidez.
Ano SAC’s SAI’s SAA (COSANPA)
2010 25% 25% 10%
2011 20% 0% 35%
2012 20% 30% 50%
2013 80% 50% 20%
2014 até Março 30% 20% 08%
Fonte: Secretaria de Vigilância Ambiental Organização: Moreira, E.V.(2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hoje Marabá possui muitos projetos para o abastecimento de água, com o intuito de
oferecer uma melhor qualidade de vida para seus habitantes e que já melhorou muito desde o seu
contexto histórico na oferta desse recurso. Projetos como PAC (programa de aceleração do
Crescimento) surgem para dar condições estruturais de ampliação e abastecimento para
população tanto em números quanto na “qualidade do serviço”. É importante considerar que o
déficit no abastecimento tanto no núcleo Nova Marabá como quanto em todos, buscou
acompanhar o crescimento demográfico da cidade e que as perfurações de poços de forma
desordenada e inadequada como consequência, proporcionou de certo modo uma
vulnerabilidade dos lençóis freáticos, além das fontes de contaminação (cemitérios, esgoto, postos
de combustíveis) devido as boas condições de permeabilidade solo. Outro fator a ser levar em
conta, são os dados coletados pelo Laboratório Regional de Águas das amostras sem condição de
31
consumo, estão atrelados diretamente ao período das chuvas tendendo a ter uma turbidez maior
que o permitido se comparados ao período de estiagem.
A falta de manutenção nos reservatórios de água da COSANPA podem ser vetores de
contaminação por proliferação de bactérias. Os SAC’s e SAI’s do núcleo também apresentam
disfunções na qualidade da água por apresentarem coliformes totais e variações no PH, estando
fora dos padrões da portaria 518 do Ministério da Saúde. Deve-se cobrar do poder publico e dos
responsáveis por esses abastecimentos corrigir, assistênciar e assegurar as condições de qualidade
desse recurso para o consumo da população, contribuindo com o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) dessa cidade, além de regularizar as perfurações de poços como lei municipal, pois
causam sérios problemas de saúde sobrecarregando os postos e hospitais, ocasionando gastos aos
cofres públicos.
REFERÊNCIAS
SILVA, Manoel Rodrigues. Potabilidade da água subterrânea em Marabá, 2008.
SOUSA, Marcus Vinicius Mariano de. Condomínios, loteamentos e invasões: as diferentes lógicas de (re) produção do espaço urbano em Marabá/Pá.p.1-9, 2013.
FILHO, João Manoel. Hidrogeologia. 2ª Ed. Cap.1. Água Histórico e Importância. p. 3-12, 2000.
FEITOSA, Edilton Carneiro. Hidrogeologia. 2ª Ed. Cap.4. pesquisa de água subterrânea .p. 74, 2000.
MORAES, Lindalva Canaan Jorge. Abastecimento de Água na Cidade de Marabá/Pá, 2009.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Atlas de Saneamento, 1995.
CCZ – Centro de controle de zoonoses. (Laboratório Regional de Águas de Marabá) relatório de analises de águas dos anos. 2010-2014.
COSAMPA. UNITO. Relatório de Atividades: 3. Marabá, 2009.
KARMAMM, Ivo ciclo da água: água subterrânea e sua geológica. In Teixeira, w,; Toledo, m.c.m; Fairchild, T.R.; taioli, F.(orgs) Decifrando a Terra. São Paulo, 2000.
32
GESTÃO E SUSTENTABILIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS
SUBTERRÂNEOS
CRISTIANE DAMBRÓS JONATAN ALEXANDRE DE OLIVEIRA
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO (UNESP)
INTRODUÇÃO
O presente texto tem como objetivo contribuir com o debate a cerca do conhecimento
sobre os recursos hídricos subterrâneos. Neste sentido, abordar-se-á inicialmente a diferenciação
entre bacia hidrográfica e bacia hidrogeológica, fornecendo subsídios para a compreensão de
outros conceitos, neste caso, aquífero e água subterrânea, além de discutirmos a sustentabilidade
e a gestão dos recursos hídricos subterrâneos, de forma sucinta, citando exemplo do Brasil e do
mundo.
Discussões referentes à gestão dos recursos hídricos têm sido constante em pesquisas de
âmbito nacional e internacional, pois tal temática se insere no contexto das discussões sobre
sustentabilidade e “abastecimento hídrico”, quando este se refere às preocupações que
envolvem as políticas públicas. Hoje, tais problemas carecem de alternativas que permitam
reverter às condições precárias de atendimento às necessidades das populações desprovidas de
recursos e concentradas em áreas de baixa disponibilidade hídrica.
No Brasil, tem-se atribuído crescente importância às investigações científicas orientadas
para a avaliação das potencialidades e das vulnerabilidades de uso dos sistemas hídricos, cujos
enfoques priorizam a melhoria da qualidade ambiental, além da qualidade de vida das
populações e biota que ocupam as áreas urbanas e rurais.Este trabalho vai ao encontro de
discussões a cerca da temática, água subterrânea, contribuindo para o, desvendar de
particularidades dos aquíferos e, para a melhoria na eficiência de se seu gerenciamento.
CONCEITUANDO BACIA HIDROGRÁFICA E BACIA HIDROGEOLÓGICA
O regime hidrológico de uma região é determinado por suas características físicas,
geológicas, topográficas e por suas condições climáticas. A precipitação, por ser o principal input,
é o mais importante fator climático do balanço hidrológico de uma região, bem como sua
distribuição e modos de ocorrência. Durante vários anos, o nível das águas subterrâneas pode
33
sustentar o nível dos rios, porém, nos períodos de alta precipitação pluviométrica, os rios podem
fornecer grandes volumes de água para os aquíferos, cujas águas, durante períodos de seca, irão
sustentar os rios. (VILLELA e MATTOS, 1975).
Para compreensão do funcionamento deste complexo sistema, a legislação brasileira,
dividiu-os em unidades de gerenciamento, propostas pela Lei Nº 9.433 da República Federativa
do Brasil de 1997 tendo como área de estudo, sub-bacias hidrográficas. Dependendo da escala
uma sub-bacia hidrográfica pode ser considerada uma bacia hidrográfica e vice-versa. Para
Santana (2003) sub-bacia e bacia hidrográfica são termos relativos.
Em concordância com Souza e Fernandes (2002) e Santana (2003), usa-se a terminologia
sub-bacia hidrográfica, pois o termo microbacia, embora difundido em nível nacional, constitui-se
uma denominação empírica, imprópria e subjetiva.
O termo bacia hidrográfica, é amplamente discutida no Brasil, a partir da década de 1970.
Já é aceitável defini-la como um sistema ecológico, seguindo a hierarquia de organização espacial
de forma natural dos rios e da topografia presente na unidade. A separação das unidades ocorre
topograficamente e esta linha de divisão chama-se divisor de águas ou divisor topográfico.
Lima (1986) e Lima e Zakia (2000) conferem ao conceito de bacia hidrográfica aspectos
geomorfológicos, onde uma bacia hidrográfica como um sistema geomorfológico aberto em um
delicado equilíbrio transicional ou dinâmico, em contínua troca de energia, mesmo quando
perturbado por ações antrópicas.
As composições de um conjunto de cursos de água organizadas pelas condições
geomorfológicas, divisores topográficos, definem uma bacia hidrográfica. Os elementos variáveis
estão no tamanho da área e nos processos naturais atuantes (CHRISTOFOLETTI, 1980;GUERRA,
1978; SILVA, 1995), Para o PNRH, uma bacia hidrográfica é a unidade territorial de planejamento.
A formação dos cursos de água se dá pelo escoamento superficial das águas
pluviométricas e pelas águas subterrâneas aflorantes. A integração entre os cursos de água se dá
pela perda de altitude, formando o rio principal. Este, por sua vez, receberá água de outros
tributários até o exutório da bacia hidrográfica.
Sua delimitação é estabelecida com base em carta topográfica ou fotografia aérea.
Atualmente é frequente o uso de imagens de satélite e desoftwares especializados, gerando
modelos digitais de elevação hidrograficamente consistente. A delimitação de uma bacia
hidrográfica é diferente de uma bacia hidrogeológica (Figura 1).
Estes dois tipos de bacias, na maioria das vezes, apresentam disparidade nas suas áreas de
abrangência, como pode ser visualizado na Figura 1. Uma bacia hidrogeológica pode ser
34
entendida como uma unidade geológica que contenha um ou mais aquíferos. Esta é uma
tentativa de caracterizar aquíferos com os mesmos critérios da bacia hidrográfica.
Figura 1: Organização estrutural de uma bacia hidrogeológica delimitada pelas zonas de falha, sob desenho de uma bacia hidrográfica para melhor exemplificação, a seção CD demonstra a condição geológica e topográfica da bacia
hidrográfica. Fonte: ARRAES e CAMPOS (2007).
As bacias hidrogeológicas necessitam de uma série estudos para o estabelecimento de
suas reais dimensões. Há situações em que uma bacia hidrogeológica abrange mais que uma
bacia hidrográfica (Figura 2). Ao analisar a figura, observa-se que entre uma e outra bacia
hidrográfica ocorre uma diferença de padrões de fluxo e formas de infiltração e escoamento de
base em relação ao escoamento superficial, devido à organização dos padrões e na densidade de
drenagem, na forma e dissecação do relevo e comprimento de rampas.
Para Arraes e Campos (2007) uma bacia hidrogeológica pode ser entendida como o limite
entre as zonas de recarga e descarga de determinado aquífero. A área de recarga seria o topo da
zona saturada e o exutório a área onde as águas retornam a superfície do terreno. O exutório de
uma bacia hidrogeológica, geralmente, não pode ser definido como um ponto, mas como uma
área ou linha de descarga, dificultando a delimitação da mesma.
35
Figura 2: Corte vertical identificando duas bacias hidrogeológicas (sistemas subterrâneos) e seu comportamento de
fluxo e recarga local e regional e, identificação de divisores hidrográficos indicando a presença de mais de uma bacia hidrográfica neste sistema, além das drenagens e do exutório regional.
Fonte: ARRAES e CAMPOS (2007).
Em síntese, uma bacia hidrográfica pode ser entendida como uma área delimitada por
divisores topográficos, drenada por um rio principal e seus afluentes, este originando subdivisões
denominadas de sub-bacias hidrográficas. Enquanto as bacias hidrogeológicas podem ser
entendidas como uma área de domínio de um complexo geológico que delimita a direção de fluxo
da água subterrânea, delimitada a partir da identificação das zonas de recarga e descarga. Neste
sentido, pode-se reafirmar a complexidade de estudos referentes ao comportamento das águas
de escoamento subterrâneas em relação às águas de escoamento superficial.
CONCEITUANDO ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
O entendimento conceitual de águas subterrâneas está em concordância com Manoel
Filho (2008), como sendo toda água presente no subsolo em zona saturada. Porém, apresentar-
se-ão outras definições defendidas por pesquisadores renomados.
Tundisi (2005) explica que água subterrânea é toda a água encontrada no subsolo da
superfície terrestre, ocorrendo em duas zonas, uma saturada e outra não saturada, sendo que
por esta, a água infiltrada das precipitações promove a recarga dos aquíferos. Já para Tood
(1967),é toda água que ocupa os vazios de um estrato geológico, ou seja, é o estudo da
ocorrência, distribuição e movimento da água abaixo da superfície da Terra, levando em conta
suas propriedades físicas e químicas, suas interações com o meio físico e biológico e suas reações
à ação do homem. A geohidrologia tem a mesma conotação e a hidrogeologia apenas difere pela
sua maior ênfase na geologia.
A exploração da água subterrânea está condicionada a fatores quantitativos
(condutividade hidráulica e coeficiente de armazenamento), qualitativos (composição rochosa,
36
condições climáticas e renovação das águas) e econômicos (profundidade do aquífero e
condições de bombeamento), (OLIVEIRA e SOUZA, 2008). Além destes três fatores é necessidade
entender sua importância no ciclo hidrológico. Albuquerque (2007) é bastante enfático em dizer
que as águas subterrâneas estão interligadas às águas superficiais.
“É preciso ter a consciência de que água subterrânea é um segmento do ciclo hidrológico, intimamente relacionadas com as águas fluviais. A exploração de um segmento tem reflexos imediatos na exploração do outro. Sem o conhecimento desta relação quantitativa, a gestão de recursos hídricos ficará seriamente comprometida, resultando em problemas futuros” (ALBUQUERQUE, 2007, p. 37).
Portanto, pode-se justificar, assim, o entendimento de que os atores que constituem o
planeta estão em sintonia, interligados através de um complexo e perfeito sistema de inter-
relação e auto-organização.
Manoel Filho (2008, p. 53) define água subterrânea como, “aquela que ocorre abaixo do
nível de saturação ou nível freático, presente nas formações geológicas aflorantes e parcialmente
saturadas, e nas formações geológicas profundas totalmente saturadas”.
Quando solos ou rochas apresentam transmissividade de água em sua zona saturada, de
forma economicamente viável, constituem um aquífero. Também existem o aquicludo (pode
armazenar, mas é incapaz de transmitir água) e o aquitardo (apresenta transmissividade, mas não
é economicamente viável) (FEITOSA et al., 2008).
Originalmente, a palavra aquífero deriva das palavras: aqui = água; fero = transfere; ou do
grego, suporte de água (HEINEN et al., 2001). Assim, entende-se como aquífero toda a formação
geológica que armazena água em seus poros (assemelhando-se a uma esponja) ou fraturas que,
por sua vez, podem abranger milhões de quilômetros quadrados até espessuras de poucos
metros (REBOUÇAS et al., 2002).
Portanto, entende-se como água subterrânea toda água contida na zona saturada do solo
ou em rochas. Já um aquífero é a capacidade de armazenamento de água, tanto em solo como
em rocha, onde é possível a explotação em condições economicamente viáveis. Os aquíferos
livres ou não confinados têm sua superfície freática em equilíbrio com a pressão atmosférica, com
a qual se comunica livremente. Segundo Oliveira e Souza (2008), estes são os aquíferos mais
comuns e mais explorados pelas populações, sendo também os que mais apresentam problemas
de contaminação.
37
Tanto em aquífero livre como no confinado há a presença da zona vadosa, da zona
saturada e da franja capilar. Porém, é no aquífero livre que as forças capilares são mais eminentes
e tem-se a franja capilar mais definida.
A zona vadosa compreende a parte acima da zona saturada onde os espaços vazios não
são preenchidos por água, porém com ar. Para Oliveira e Souza (2008) “é a parte do solo que está
parcialmente preenchida por água. Nesta zona a água ocorre na forma de películas aderidas aos
grãos do solo.” Em termos de retenção de umidade na zona vadosa, os autores ainda descrevem
que os solos “finos tendem a ter mais umidade do que os grosseiros, pois há mais superfícies de
grãos onde a água pode ficar retida por adesão”.
A franja capilar pode ser entendida como uma região próxima ao nível freático, onde a
umidade é maior devido à presença da zona saturada abaixo. Sua denominação provém da
presença de forças capilares que promovem a ascensão da água, partindo do nível freático,
através de diminutos canais ou poros (OLIVEIRA e SOUZA, 2008). Na zona saturada, é consenso de
que todos os vazios, poros ou fraturas das rochas são totalmente preenchidos por água.
As rochas sedimentares areníticasarmazenam os maiores e melhores reservatórios de
água subterrânea, sendo os principais alvos de pesquisas. Resultando, assim, em um amplo
arsenal de dados analíticos, quantitativos e qualitativos para novos estudos e ampliação do
conhecimento junto à complexidade que envolve a dinâmica de um aquífero. No Brasil, pode-se
citar como exemplo o Sistema Aquífero Guarani – SAG, localizado na Bacia Sedimentar do Paraná,
e o Sistema Aquífero Alter do Chão, na Bacia Sedimentar do Amazonas, constituídos por
formações rochosas sedimentares distintas, caracterizados pelo grau de homogeneidade
granulométrica (CPRM, 2012).
Os aquíferos porosos ocorrem em regolitos e em rochas sedimentares clásticas
consolidadas, sedimentos inconsolidados e/ou solos arenosos. As relações entre a porosidade e a
permeabilidade são variáveis tanto na lateral, quanto na vertical, por isso, muitos poços
apresentam diferentes coeficientes de armazenamento e texturas, em função de seus
paleoambientes deposicionais, formando diferentes estruturas sedimentares primárias que
interferem na vulnerabilidade do aquífero à contaminação (MACHADO e FREITAS, 2005; FOSTER
et al, 2006).
SUSTENTABILIDADE E GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
O termo sustentabilidade, é originário do Latim sus-tenere, que significa sustentar ou
manter. Para a CMMAD/ONU (1991), a sustentabilidade, do ponto de vista socioeconômico-
38
ambiental, é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações
futuras, ou seja, incorpora a conservação ambiental ao crescimento econômico e a equidade
social.
A presença de águas subterrâneas, embora comum, não se encontra uniformemente
distribuída e em igual profundidade da superfície terrestre. De igual modo varia a composição
química, sendo mais ou menos mineralizada. Esta variação de lugar, profundidade e composição,
indica que deve haver controle inteligente de uso pensado em termos de sustentabilidade destes
recursos, pois apresenta uma grande variabilidade, tanto no espaço como no tempo (REBOUÇAS,
2004).
Conway (1997) diz que a sustentabilidade só ocorre se a taxa de extração da água ficar
abaixo da taxa de recarga. Em sua obra cita a frase de AjitBanarjee: “A tecnologia só é boa se for
sustentável e só é sustentável se incluir pessoas, porque as pessoas são partes do meio
ambiente.” E, salienta que a gestão participativa foi bem sucedida porque se baseou na crença de
que as pessoas são importantes e devem ser envolvidas nas soluções dos problemas.
A sustentabilidade é apenas um dos indicadores de um ecossistema, sendo eles:
“produtividade (rendimento), estabilidade (constância de produtividade em face de flutuação),
sustentabilidade (capacidade de o sistema manter a produtividade) e equitatividade (igualdade
de distribuição aos beneficiários)” (CONWAY, 1997). Assim, em uma análise conjunta pode-se
saber quanto produz e quanto produzirá um determinado sistema, no caso o sistema água
subterrânea.
Para Tuinhof et al. (2002), a sustentabilidade é a preservação do potencial atendendo a
sua própria oferta e não a sua demanda, este controle é entendido como um círculo virtuoso e
ele só ocorre se houver a participação dos usuários. Portanto, o sistema de águas subterrâneas
não é apenas um reservatório mineral, mas faz parte do ecossistema.
Pesquisadores, como Veiga (2006), propõem três objetivos que um sistema sustentável
deve atender, sendo eles: (1) preservação do potencial da natureza para a produção de recursos
renováveis; (2) limitações do uso de recursos não renováveis; (3) respeito e realce para a
capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais.
Kalf e Woolley (2005) questionam a sustentabilidade em regiões áridas, por exemplo, na
bacia do rio Murray no sul da Austrália e a região do Texas nos EUA. No caso da Austrália, a
recarga anual é inferior a 1 mm/ano e nos EUA a recarga varia de 2,5 a 5% do volume bombeado.
Deste modo, nestas regiões, torna-se inviável o uso sustentável e a aplicação de uma gestão de
acordo com o circulo virtuoso, proposto por Tuinhof et al. (2002). Neste caso, se poderá recorrer
39
a uma gestão de acordo com Conway (2003), que remete um uso equilibrado e voltado para o
coletivo. Neste sentido, os autores preferem priorizar estudos referentes ao tempo de duração de
um reservatório subterrâneo, ao invés de pensar em como usar de forma sustentável as águas
subterrâneas.
A sustentabilidade das águas subterrâneas só será possível em regiões onde a recarga é
significativa, do contrário, deve-se priorizar a gestão quanto ao uso deste recurso, pois tratá-la no
âmbito da sustentabilidade não será viável. Deste modo apoia-se em Tucci (1993) que ressalta a
gestão como uma atividade analítica e criativa voltada à formulação de princípios e diretrizes dos
sistemas gerenciais, favorecendo a tomada de decisões, uso, controle e proteção dos recursos
hídricos.
Para que realmente ocorra a gestão dos recursos naturais é fundamental conhecer o que
se quer gerenciar. Na Lei Nº. 9.984 de 2000está contido uma frase que diz: “não se gerencia o que
não se conhece”. Este é mais um argumento da necessidade de estudos que visam conhecer a
dinâmica das águas subterrâneas, para posteriormente definir seu plano de gestão.
No Brasil, a gestão dos recursos hídricos obedece a uma série de normas, contidas na Lei
Nº. 9.433, da República Federativa do Brasil, de 1997. Nela se considera a bacia hidrográfica como
unidade de gestão. Também reconhece que a captação de águas subterrâneas, por ser obra
hidrogeológica, deve obter a autorização para que seja feita sua instalação e operação. As normas
culminam na Resolução Nº. 15 de 11 de janeiro de 2001, do CNRH, que reconhece a indissociável
interação entre água superficial e subterrânea, necessitando de uma gestão integrada, e que,
nem sempre os limites de um aquífero coincidem com os de uma bacia hidrográfica.
Os itens mínimos para o planejamento de uma bacia estão contemplados na Resolução
Nº. 17 de 29 de maio de 2001. A Resolução Nº. 22, de 24 de maio de 2002, determina que o Plano
de Recursos Hídricos deva considerar os múltiplos usos das águas subterrâneas; suas
peculiaridades; os aspectos quali-quantitativos através de monitoramento, caracterização e
definição as inter-relações de cada aquífero com os demais corpos hídricos superficiais,
subterrâneos e com o meio; obter informações hidrogeológicas sendo estas indispensáveis.
Neste sentido a Resolução 92/2008, do CNRH, vem a calhar, estabelecendo a necessidade
de promover a utilização racional das águas subterrâneas e sua gestão integrada com as águas
superficiais, de forma sustentável. Está resolução estabelece critérios e procedimentos gerais
para proteção e conservação das águas subterrâneas no território brasileiro.
Assim, ações potencialmente impactantes, bem como as ações de proteção e mitigação
das águas subterrâneas, devem ser diagnosticadas e previstas nos Planos de Recursos Hídricos,
40
incluindo-se medidas emergenciais a serem adotadas em casos de contaminação e poluição
acidental, visando à gestão sistêmica, integrada e participativa das águas na promoção do
desenvolvimento social e ambientalmente sustentável.
A gestão sistêmica se firma na Resolução N°. 98 de 26 de março de 2009, através de
princípios, fundamentos e diretrizes para criar, implementar e manter os programas de educação
ambiental, de desenvolvimento de capacidades, de mobilização social e de comunicação de
informações em GIRH, recomendadas a todos os entes do SINGREH.
No momento o grande desafio nacional reside na aplicação da legislação vigente, pois se
deve ter em mente que o espaço geográfico brasileiro é um dos maiores portadores, senão o
maior, de recursos hídricos subterrâneos representados por diversos domínios hidrogeológicos.
CONSIDERAÇÕES
Entende-se que o estudo e o gerenciamento das águas subterrâneas, são muito mais
trabalhosos e compreendem um período de tempo muito maior para suas investigações. Seus
estudos não pode ser desassociado da conservação ambiental e de sua matriz ecológica, pois nela
se encontra, além do homem, a manutenção da vida animal e vegetal da superfície do planeta
Terra. Uma vez que todas as formas de vida dependem da existência, equilíbrio e inter-relações
do meio.
A gestão dos recursos hídricos se apresenta como uma das ferramentas eficazes para a
reorganização espacial, principalmente, o gerenciamento do uso dos recursos hídricos
subterrâneos, responsáveis por 97% da água doce líquida do Planeta Terra. Portanto, o grande
desafio está na formação de técnicos com visão interdisciplinar, capazes de interpretar em sua
totalidade o Ciclo Hidrológico e, a partir disto, planejar e gerenciar o uso dos recursos hídricos de
forma sustentável.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, J. P. T. Água subterrânea no planeta água. Estudos geológicos. V 17, 2007.
ARRAES, T. M.; CAMPOS, J.E.G. Proposição de critérios para avaliação e delimitação de bacias hidrogeológicas. Revista Brasileira de Geociências, v. 37, p. 81-89, 2007.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia: a análise de Bacias Hidrográficas. SP : Ed. EB, 1980.
CONWAY, G. Produção de alimentos no século XXI: biotecnologia e meio ambiente. SP: Estação Liberdade, 1997.
41
FOSTER, S; et. al.Proteção da qualidade da água subterrânea: um guia para empresas de abastecimento de água, órgãos municipais e agencias ambientais. Mundi Prensa. 2006.
HEINEN, C.; et. al. Aquífero Guarani. Boletim Informativo. Santa Cruz do Sul: Núcleo de pesquisa e extensão em gerenciamento de recursos hídricos da UNISC/RS. v. 4, n. 2, fev. 2001.
KALF, F. R. P.; WOOLLEY, D. R. Applicability and methodology of determining sustainable yield in groundwater systems.HydrogeologyJournal, Austrália. Vol.13, Nº 1, mar. 2005.
LIMA, W.P. Princípios de hidrologia florestal para o manejo de bacias hidrográficas. Piracicaba; ESALQ/USP, 1986.
LIMA, W.P.; ZAKIA M.J.B. Hidrologia de matas ciliares. In: RODRIGUES; R.R.; LEITÃO FILHO; H.F. Matas ciliares: conservação e recuperação. SP: Editora da USP, 2000. p.33-43.
MACHADO, J. L. F.; FREITAS, M. A “Projeto Mapa Hidrogeológico do RS”. CPRM, 2005.
MANOEL FILHO, J. Ocorrência das águas subterrâneas. In: FEITOSA, F.A.C. et al. (Org.)Hidrogeologia: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: CPRM: LABHID, 2008. 53-64 p.
OLIVEIRA, E.; SOUZA, J. C. S. Águas Subterrâneas: conservação e gerenciamento. In: MACHADO, R. (org.) As Ciências da Terra e sua importância para a Humanidade: a contribuição brasileira para o Ano Internacional do Planeta Terra. SP: SBG. Curitiba/PR, 2008.
REBOUÇAS, A. da C.; BRAGA, B.; TUDINISI, J. G. Águas doces no Brasil: Capital ecológico, uso e conservação. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Escrituras, 2002.
REBOUÇAS, A. da C. Uso inteligente da água. Ed.: Escrituras, São Paulo, 2004.
SANTANA, D. P. Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas. Embrapa Milho e Sorgoo, 2003.
SILVA, A.M. Princípios Básicos de Hidrologia. Dep. de Engenharia. UFLA. Lavras/MG. 1995.
SOUZA, E. R.; FERNANDES, M.R. Sub-bacias hidrográficas: unidades básicas para o planejamento e gestão sustentáveis das atividades rurais. MG: DETEC/EMATER-MG. 2002.
TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. EDUSP, Editora da UFRGS. 1993.
TUINHOF, A., et. al.Gestión de Recursos de Agua Subterránea una introducción a su alcance y práctica.GW MATE Publication. Washington, EUA: 2002.
TUNDISI, J. G. Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Carlos, SP. RiMa, IIE, 2005.
VEIGA, J. E. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. RJ: Garamond. 2006.
VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia Aplicada. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1975.
42
A MIGRAÇÃO PERIURBANA NO MUNICÍPIO DE ALFENAS (MG):
Uma Abordagem sobre sua Organização Espacial
JONATAN ALEXANDRE DE OLIVEIRA CRISTIANE DAMBRÓS
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO (UNESP)
INTRODUÇÃO
Em meados do século XVIII, devido ao avanço da acumulação de capitais, iniciou-se o
processo de fortalecimento das aglomerações urbanas e consequentemente o êxodo rural
(SATHLER, 2006).
Com isso, a produção agrícola foi cada vez mais sendo inserida no sistema de produção
industrial, submetendo-se as crescentes demandas do capital urbano (SATHLER, 2006).
A partir do século XX, as pesquisas sobre as relações entre o campo e a cidade tiveram,
primeiramente, uma maior atenção por parte dos sociólogos norte-americanos. As análises iniciais
tinham um caráter dicotômico, ou seja, opunham o “rural” e o “urbano”. (BIAZZO, 2008).
Solari (1979) salienta que com o desenvolvimento das sociedades industriais, acentua-se a
urbanização da vida rural, transformando o agricultor em um empresário. Assim, segundo Biazzo
(2008), surge no Brasil a ideia do “contínuo”.
Wanderley (2002) aponta a existência de dois campos de reflexões dentro dessa corrente.
Um destacando a expansão da força do urbano, e outro que aproxima a relação entre a cidade e o
campo, sendo que estes mantém suas especificidades.
Nesse sentido, a identificação das relações existentes entre o campo e a cidade é mais
importante do que a busca pela definição exata de cada um destes conceitos.
O crescimento do perímetro urbano contribui para a inserção de determinados espaços
com dinâmicas rurais que são denominados de espaços periurbanos. Sendo possível notar nas
periferias do sítio urbano, o desenvolvimento de atividades rurais, envolvendo tanto os cultivos
agrícolas como a criação de animais (PINTO; COSTA, 2009).
O crescimento urbano na década de 1990, provocou alterações nas periferias de cidades
médias, especialmente no município de Alfenas(MG). As características do avanço da urbanização
são localizadas no município, como o progresso da população urbana em áreas antes consideradas
como rurais está consolidado, onde se tinha o predomínio da cafeicultura e pequenas
propriedades de agricultores familiares, sofreram intensas transformações, esse cenário se
43
modifica com a urbanização sem planejamento estadual e municipal, considerando esse espaço
como uma zona de transição entre rural e urbano, denominado de espaço periurbano.
Dessa forma, o município se consolida como cidade média por sua integração entre
tamanho demográfico, funções urbanas e organizações do espaço periurbano. Nesta perspectiva
CORRÊA (2007, p. 23) acerca da ideia de cidade média irá nos dizer que,
Sua particularidade reside no pressuposto de uma específica combinação entre tamanho demográfico, funções urbanas e organização de seu espaço intra-urbano, por meio da qual pode-se conceitualizar a pequena, média e a grande cidade, assim como a metrópole. Esse pressuposto, por outro lado, alicerça o esforço de se construir teoricamente esse objeto de estudo, complexo e diferenciado, resultado de um processo de urbanização em contextos econômicos, políticos e sociais heterogêneos em um mundo desigualmente fragmentado e articulado.
O conceito de cidade média se baseia nas relações urbanas, sobretudo nas atividades que
produzem e reproduz o espaço urbano que está fundamentado na noção de rede urbana, esse
conjunto integrado de cidades que estabelecem relações econômicas, sociais e políticas entre si
(SPOSITO, 2007).
.
Figura 1. Mapa de localização da Microrregião de Alfenas.
Embora Alfenas exerça a suas funções comerciais abrangendo os conceitos de fixos e
fluxos. Dessa forma, o município influência a sua microrregião com a presença de bancos,
hospitais e universidades, essas atividades são desenvolvidas dentro do seu território a serviço da
sua população local e regional, onde a sua importância no campo é reduzida, devido o predomínio
desse tipo de atividade, em municípios menores que incorporam a sua microrregião, realizam
44
atividades agrícolas, como por exemplo, moradores residentes no município de Areado se
deslocam até Alfenas para realizar suas atividades ligadas ao setor terciário, A cidade possui
grande importância na economia regional correspondendo 63,78% do seu PIB o setor de serviços.
Nesse sentido, este trabalho buscou um questionamentos quanto à organização espacial
em áreas limítrofes do município de Alfenas (MG), ou seja, qual a funcionalidade das áreas
urbanas que limitam a zona rural, e reciprocamente, o quanto é rural os espaços que circundam o
perímetro urbano.
Figura 2. Parte do perímetro urbano do município de Alfenas e localização do bairro Pinheirinho e da unidade II da
UNIFAL/MG.
Procurando compreender as relações campo-cidade no bairro Pinheirinho, situado em uma
área de expansão urbana do município, próximo deste bairro está instalado o campus Santa Clara
da Universidade Federal de Alfenas. Assim, o recorte espacial do projeto é o espaço periurbano
entre o bairro Pinheirinho, zona urbana e a zona rural que o envolve, buscando entender a
organização espacial entre campo-cidade, em diversos aspectos: econômicos, culturais,
demográficos, sociais e ambientais.
Nesse sentido, as contribuições de Alentejano (2003) que considera o rural como elemento
de descrição e explicação da realidade, embora tenha mudado de significado. Para o autor, as
dimensões econômicas, social e espacial da relação dos atores sociais com a terra são
fundamentais para definir a natureza do rural:
45
Assim, independentemente das atividades desenvolvidas, sejam elas industriais, agrícolas, artesanais ou de serviços, das relações de trabalho existente, sejam assalariadas, pré-capitalistas ou familiares e do maior ou menos desenvolvimento tecnológico, temos a terra como elemento que perpassa e dá unidade a todas relações, muito diferente do que acontece nas cidades, onde a importância econômica, social e espacial da terra é muito mais reduzida. (ALENTEJANO, 2003, p.11)
O que vai diferenciar o urbano do rural é a intensidade da territorialidade, pois o primeiro
representa relações mais globais, mais deslocadas do território, enquanto o rural reflete uma
maior territorialidade, uma vinculação local mais intensa. Assim, o urbano e o rural estão em
constantes trocas nos espaços, devendo ser compreendidos dando ênfase para a população e seus
processos que integram a organização espacial.
METODOLOGIA
Em termos metodológicos, optou-se pela realização de um estudo de caso. Segundo Yin
(2001), o estudo de caso tem por base buscar uma imagem mais completa e autêntica dos fatos
que caracterizam o problema pesquisado, representando uma estratégia muito utilizada quando
se levantam questões do tipo “como” e “por que”, em que o pesquisador tem pouco controle
sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em
algum contexto. Esse é justamente o contexto no qual este trabalho se inseriu.
Nesse sentido, embora o trabalho seja pautado num estudo de caso do bairro pinheirinho,
no decorrer da pesquisa procuramos não perder a visão de totalidade dos processos, numa
constante de movimentos que abarcam diferentes dimensões (econômicas, sociais, políticas e
culturais) e escalas (local – regional – estadual – nacional – global).
Nessa perspectiva, para compreendermos toda heterogeneidade, complexidade e
diversidade que marcam a organização do espaço rural brasileiro na atualidade, necessitamos
considerar também, entre outros fatores, as particularidades que caracterizam os diferentes
lugares e as articulações das dinâmicas locais/globais. Tal preocupação com a perspectiva
global/local torna-se formidável na medida em que é necessário entender o “funcionamento da
economia ao nível mundial e seu rebatimento no território de um país, com a intermediação do
Estado, das demais instituições e do conjunto dos agentes da economia, a começar pelos seus
atores hegemônicos” (SANTOS, 2008, p. 46)
Segundo Santos (2008) através da escala do local ou no lugar que se oferece ao movimento
do mundo a possibilidade de sua realização de forma mais eficaz. Isso porque, cada lugar se define
46
tanto por sua existência corpórea, quanto por sua existência relacional. Dessa forma, o autor
destaca a importância que a Geografia assume ao estudar o que cada lugar tem de singular, de
específico, de diferente, sem perder, no entanto o enfoque da totalidade.
Nesse sentido, ao se apresentar os conceitos e objetivos para a pesquisa procurar-se-á um
caminho que auxilie na obtenção de dados e informações, considerando-se tanto as fontes
secundárias como as primárias.
A respeito da obtenção dos dados de fonte primária foram elaborados roteiros de
entrevistas para serem aplicados aos moradores do bairro pinheirinho, abarcando o
desenvolvimento da agricultura urbana, renda familiar, escolaridade, percepção, modo de
trabalho.
RESULTADOS
Foram realizados dois trabalhados de campo com intuito de aplicar entrevistas aos
moradores do bairro Pinherinho, a partir das entrevistas, foram feitas uma caracterização dos
moradores do bairro Pinherinho, situado na região periférica em contato com espaços funcionais
da agropecuária, a respeito da agricultura urbana.
Foram analisadas 100 famílias através de questionários, nos mostrou que 55,0% famílias
praticam agricultura urbana e 45,0% não praticam (Gráfico 1), demonstrando a forte influência de
práticas agrícolas e do rural no espaço urbano.
Gráfico 1 – Prática da agricultura urbana no bairro Pinheirinho.
Fonte: Trabalho de campo, Setembro de 2013.
As famílias que praticam agricultura urbana representando 55,0% cuidam do manejo
manualmente e diariamente de suas hortas, as famílias que não praticam agricultura urbana
45,0%, argumentaram que não tem tempo pra cuidar dos cultivos, devido ao trabalho ou pela falta
0
10
20
30
40
50
60
Praticam (AU) Não Praticam (AU)
Agricultura Urbana
Agricultura Urbana
47
de espaço dentro de sua casa. Questionadas se tivessem uma área maior em casa ou uma horta
comunitária se eles praticariam agricultura urbana, a resposta foi positiva, dessa forma, podemos
considerar que devido à falta incentivos governamentais e articulação entre Universidade e
Governo interagindo em conjunto com os moradores do bairro.
Outro ponto analisado foi a respeito do nível de escolaridade das famílias que praticam
agricultura urbana (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Nível de escolaridade no bairro Pinheirinho.
Fonte: Trabalho de campo, Setembro de 2013.
Esse nível faz relação à migração do campo para a cidade, grande parte dos entrevistados
nasceram no campo e se deslocaram para a cidade a procura de melhores condições de vida,
sendo que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos, pois, ajudavam seus país em
atividades agrícolas.
Em relação às famílias analfabetas representaram 25,5%, fundamental incompleto 36,3%,
fundamental completo 16,4%, médio completo 12,7%, superior incompleto 7,2% e superior
completo 1,8%. O baixo nível de escolaridade no bairro é relacionado com cultura agrícola, pois, a
maioria dos moradores do bairro não conseguiram se manter no campo onde era sua principal
fonte de renda e não se tinha preocupação em realizar seus estudos.
Com relação à renda familiar dos moradores que praticam agricultura urbana a um
predomínio da renda oscilando de um a dois salários mínimos (Gráfico 3). Essa renda familiar é
caracterizada por trabalhadores industriais, vale ressaltar que o município conta com um distrito
industrial, sendo assim, percebe-se o destaque no setor de serviços.
0
5
10
15
20
25
Escolaridade dos Moradores que Praticam Agricultura Urbana.
48
Gráfico 3 – Renda das famílias que praticam agricultura urbana.
Fonte: Trabalho de campo, Setembro de 2013.
A renda média das famílias analisadas que praticam agricultura urbana é baixa, pessoas
que ganham até um salário mínimo representando 23,6%, de 1 a 2 salários mínimos 40,0%, de 2 a
3 salários mínimos 18,2%, de 3 a 4 salários mínimos 10,9%, de 4 a 5 salários mínimos 5,5% e de 5 a
6 salários mínimos 1,8%, isso explica o baixo uso de agrotóxicos, as famílias não usam agrotóxicos
devido ao auto custo e consideram suas produções pequenas investir em algum capital e não a
preocupação ambiental.
Em analogia às famílias que praticam agricultura urbana e suas perspectivas quanto a
relação campo-cidade vinte e cinco famílias consideram-se moradores da cidade e outras cinco
famílias do campo. A respeito da destinação da agricultura urbana quase sua totalidade é para o
autoconsumo (Gráfico 4).
Gráfico 4 – Finalidade da produção.
Fonte: Trabalho de campo, Setembro de 2013.
0
10
20
30
Até 1SM
De 1 a 2SM
De 2 a 3SM
De 3 a 4SM
De 4 a 5SM
De 5 a 5SM
Renda das Famílias que Praticam Agricultura Urbana
Renda das Famílias quePraticam Agricultura Urbana
0
10
20
30
40
50
60
Subsustência Comercialização
Finalidade da Produção
Finalidade da Produção
49
Dentre as famílias analisadas apenas 5,5% das famílias comercializam seus produtos, criam
minhoca e plantam hortaliças vendendo para o mercado local e 94,5% das famílias praticam
atividades para subsistência para diminuir gastos em supermercados e feiras. Essa agricultura
urbana que é caracterizada pelo aumento no custo de alimentos como vegetais e verduras, sendo
assim, as famílias exercem agricultura urbana também pelo fato de ter tempo disponível.
Gráfico 5 – Horta Comunitária.
Fonte: Trabalho de campo, Setembro de 2013.
A proposta de Agricultura Urbana teve com finalidade compreender se os moradores
concordavam em construir uma horta comunitária para o bairro, com apoio da Universidade e
Prefeitura Municipal, a resposta foi positiva 85,5% dos moradores compartilharam a idéia e
apenas 15,0% não compartilharam a idéia por falta de tempo ou por questões culturais. Conclui-se
que os moradores do bairro aceitam a ideia de uma horta comunitária, ou seja, eles acreditam que
a chegada da UNIFAL pode trazer benefícios para o bairro. Com relação a percepção dos
moradores (Gráfico 6)
Gráfico 6 – Percepção dos moradores em relação a Unifal.
Fonte: Trabalho de campo, setembro de 2013.
0
20
40
60
80
100
Concordam Não Concordam
Horta Comunitária
Horta Comunitária
0
20
40
60
80
100
Alterou Não Alterou
UNIFAL
UNIFAL
50
Na percepção dos moradores em relação à presença da Unifal, 88,0% dos moradores
possuem muitas convicções que a Unifal já trouxe melhorias de infraestrutura para o bairro e
valorizou muito à área urbana. A maior preocupação dos moradores são com questões de
melhorias em infraestrutura como na saúde e policiamento, muitos esperavam a valorização do
espaço urbano, ou seja, uma especulação imobiliária, muitas imobiliárias da cidade já estão
fazendo propostas aos moradores visando à valorização do imóvel devido a presença da Unifal.
O trabalho teve em seu princípio fazer as análises sobre as relações campo-cidade junto as
perspectivas em relação a nova unidade da UNIFAL-MG. Verificamos a influência dos espaços
periurbano no bairro pinheirinho possuindo características do campo influenciada pelos
trabalhadores nasceram no campo e mudaram para a cidade.
Em relação a perspectivas dos moradores com a expansão da UNIFAL, eles acreditam eles
possuem uma visão otimista, acreditando em benéficos positivos para o bairro, como
policiamento e valorização de seus imóveis, a integração entre Universidade, moradores e
prefeitura é fundamental para qualidade de vida dos moradores e aprendizagem acadêmica, nesse
sentido, a proposta da horta comunitária, pode ser consolidada por meio desses três eixos,
consolidando assim a idéia de agricultura
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENTEJANO, P.R. As relações campo-cidade no Brasil do século XXI. p.25-39.Terra Livre. n.21, 2º sem. 2003.
BIAZZO, P. P. Campo e Rural, Cidade e Urbano: distinções necessárias para uma perspectiva crítica em Geografia Agrária. In: Encontro Nacional de Grupos de Pesquisa, 4, 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 2008. p. 132-150.
CORRÊA, R. L. Construindo o conceito de cidade média.In: SPOSITO, M. E. B(org.). Cidades Médias: espaços em transição. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
PINTO, C. V.; COSTA, A. J. V.; A noção de ruralidade no espaço urbano: estratégias sócio-produtivas do “rururbano” pelotense. In: Congresso de Iniciação Científica, 8, 2009, Pelotas. Anais... Pelotas: Gráfica da Universidade Federal de Pelotas, 2009, p. 35-40.
RUA, J. Urbanidades no rural: o devir de novas territorialidades. p.82-106. In: Campo-Território. v.1, n.1, 2006.
SATHLER, D. O Rural e o Urbano no Brasil. In: Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 15, 2006, Caxambú. Anais...Caxambú: Associação Brasileira de Estudos Populacionais, 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-IBGE. Cidadesat. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat>. Acesso em: 10 de Abril de 2014.
51
SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. 6ª ed. São Paulo: Edusp, 2008 (1988).
SOLARI, A. B. O objeto da sociologia rural. In: SZWRESCSANYI, T.; QUEDA, O. Vida Rural e Mudança Social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional. 1979. p. 03-14.
SPOSITO, M. E. B. (org.). Cidades Médias: espaços em transição. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
WANDERLEY, M. N. B. Territorialidade e ruralidade no nordeste: por um pacto social pelo desenvolvimento rural. In: SABOURIN, E.; TEIXEIRA, O. N. (Org.). Planejamento e desenvolvimento dos territórios rurais: conceitos, controvérsias e experiências. Brasília: Embrapa informação tecnológica, 2002. p. 39-52.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2ª edição. Porto Alegre: Bookman, 2001.
52
A REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO:
centro e nova centralidade de Conceição do Araguaia (Pará)
HELOANE SOARES PINTO JOÃO AURÉLIO CORREA SOARES
UNIVERSIDADES DO ESTADO DO PARÁ (UEPA)
INTRODUÇÃO
A urbanização e seu processo de reestruturação sempre intrigaram geógrafos, pois, no que
se refere aos centros urbanos e sua organização, os seus efeitos refletem diretamente na vida da
população. Tais procedimentos partem de escalas gerais de análises, em escalas regionais, ou
nesse caso, aspectos locais.
Para muitos pesquisadores os centros das cidades, seus processos organizacionais e suas
constantes mutações trazem vários questionamentos, principalmente quando se referem aos
estudos sobre a urbanização regional (Amazônia), os quais se encontraram em um processo de
urbanização extremamente inacabado com constantes mudanças. Nesse contexto é impossível
desassociar o processo de urbanização dos conceitos de centro e centralidade, principalmente no
que consiste a realidade Amazônica, sendo assim, torna-se necessário fazer analise não apenas
espacial, mas também temporal, ou seja, os limites iniciais das diversos pontos por agora
ponderados.
É interessante pensar como se produz e reproduz o meio urbano, a partir das novas
relações sociais que são capazes de mudar a vida da população, e é neste âmbito que algumas
questões se fazem presente nas discursões sobre centro e nova centralidade em Conceição do
Araguaia.
OBJETIVOS
GERAL
O presente trabalho tem objetivo principal analisar as formas de organização espacial do
centro urbano do município de Conceição do Araguaia compreendendo a mudança locacional em
escala tempo/espacial do centro comercial enfatizando seu processo histórico de reorganização.
ESPECÍFICOS
- Identificar e compreender os processos espaciais existentes na produção do espaço urbano de
Conceição do Araguaia.
Trabalho apresentado na disciplina de
Metodologia do Trabalho Cientifica em
Geografia, como requisito avaliativo, sob
orientação do Professor Mestre
Wanderson Carvalho.
53
- Analisar a dinâmica de descentralização das atividades econômicas de Conceição de Araguaia,
processo esse que configurou uma realocação espacial e/ou nova centralização comercial.
- Discutir os processos históricos que cominou na perca da centralidade a beira-rio (dendrítica) e a
nova centralidade ligada à articulação rodoviária da rede urbana.
- Compreender de que forma a população se organizou, recebeu e reproduziu a nova área central
da cidade de Conceição do Araguaia.
JUSTIFICATIVA
Entender as mudanças no espaço urbano é de fundamental importância para analise do
desenvolvimento estrutural da cidade. Mudanças estas que configuram e (re) modelam a
paisagem urbana das pequenas cidades, sobretudo na Amazônia.
É interessante estabelecer uma relação dialética entre as constatações empíricas,
discursões teóricas e procedimentos práticos das formas de reorganização do espaço urbano.
Segundo Carlos (2008) não resistimos à tentação de enveredar pelo caminho movediço das
controversas que povoam, hoje, o pensamento geográfico. Por isso as análises da (re) produção do
espaço urbano intrigam tantos os geógrafos, em especialmente, os centros e a criação de novas
centralidades econômicas, pois afetam as funcionalidades locacionais da população das cidades,
em especial nas pequenas cidades brasileiras.
O real motivo desta pesquisa é apresentar e analisar sistematicamente a forma de
organização e (re) produção do espaço urbano em Conceição do Araguaia analisando o centro e a
realocação da área central deste espaço urbano, que teve por tempos características ribeirinhas,
onde se encaixa nos estudos mais avançados sobre a dinâmica de urbanização na Amazônia,
porem atualmente adota uma organização ligada à malha urbana inter-regional.
METODOLOGIA
Partindo de uma primeira análise empírica, constatou-se que a centralidade econômica de
Conceição do Araguaia e seus pressupostos: meios de produção, circulação e realização do
trabalho pelo homem, passou por um processo de realocação espacial verificado em um tempo
histórico, ocorrida por diversos fatores, entre eles: a valorização das rodovias, motivados pelos
processos de integração nacional da década de 1970; outro fator que configura esse processo é
perca da importância do rio Araguaia, que tem como primeiro motivo o aumento das atividades
urbanas, e crescimento populacional para áreas periféricas.
54
Segundo Lakatos (2010) a observação é “técnicas de coletas de dados para conseguir
informações e a utilização dos sentidos na observação de determinados aspectos da realidade”. As
análises de construção deste trabalho foram a partir da observação das formas de organização de
antigas construções que configuram o velho centro comercial de Conceição do Araguaia. As
principais considerações do velho centro comercial foram constatadas em pesquisas indiretas (a
partir de conversas informais com moradores antes de Conceição do Araguaia) com moradores
antigos da cidade. É importante relatar que as pesquisas documentais foram de suma importância
para a elaboração deste projeto, pesquisas estas que foram feitas em uma galeria, prefeitura e
outros centros da administração municipal. Outros instrumentos usados para a elaboração desta
pesquisa foram imagens, fotografias, mapas e outros instrumentos metodológicos.
RESULTADOS PRELIMINARES
Segundo Luz 2004, a área que viria se tornar Conceição do Araguaia começou a ser
percorrida e navegada no ano de 1780 por caboclos e beatos além de índios que ali já habitavam,
tal território devido as diversas palmilhadas de cristãos de diferentes ordens já não era uma área
tão desconhecida quando frei Gil de Vilanova de ordem dominicana chegou para catequizar os
índios e realizar sua obra missionaria.
O frei percorreu por diversos anos os arredores do território que mais se tornaria a cidade
Conceição, através de seu evangelismo o mesmo alcançou outras aldeias que se localizavam as
margens do rio Araguaia os convencendo a se localizarem junto a ele em um arraial, que, em 1897
tornará o arraial de Conceição do Araguaia. A junção de cristões e índios sob o comando do líder
dominicano promoveu o dito primeiro gesto histórico, o qual foi celebrado a primeira missa a qual
solenizou o santo sacrifício debaixo de um imenso pequizeiro, batizando o lugar no dia 14 de Abril
de 1897 com o nome de Conceição do Araguaia em tributo a Virgem Imaculada que se tornará à
padroeira do lugar.
Luz (2004) salienta, “A fundação de Conceição do Araguaia, portanto, inseriu-se numa
trama das relações sociais – esgarçadas, mais reais e em desenvolvimento – polarizadas em torno
de bens espirituais e materiais” (LUZ, 2004, p.15). Os quais em poucos anos organizaram os índios
em sua maioria catequizados e iniciaram umas das primeiras atividades econômica local ao lado
de afluxo de imigrantes que chagará para, maiormente trabalhar na extração das drogas do
sertão.
Após um ano depois de sua fundação Conceição já contava com quase um mil habitantes, e
é neste contexto que surgem as relações, os interesses, acompanhados por problemas tanto
55
financeiros como políticos, o que ocasionou na mudança de foco idealizados pelos dominicanos,
que, inicialmente predominava-se o valor de uso e a produção para auto consumo e consumo
local, passando a prevalecer o valor de troca e produção mercantil.
Em 27 de fevereiro de 1901 devido à alta na economia em decorrência a exploração da
borracha e o crescimento populacional o povoado de Conceição do Araguaia foi elevado à
freguesia, atrelado a tudo isso vários processos marcaram tal crescimento como: a mercantilização
das relações econômicas e a importação de utensílios tanto para trabalho como de uso pessoal.
Luz (2004) destaca a mercantilização das relações econômicas em virtude a exploração
extrativista tanto do caucho como da seringa salientou novos interesses e relações, aumentou a
imigração, expandiu o núcleo urbano e fez surgir um poder politico-administrativo independente,
o que foi inesperado pelos dominicanos que até então a principal preocupação era a parte
espiritual da população.
Essa nova fase na história da urbanização de Conceição do Araguaia colocou um ritmo novo
a população, ao comércio e as relações sociais tanto dentro como fora do núcleo urbano. A
população começa a desejar “coisas” novas, quer experimentar os luxos oferecidos pelo dinheiro,
cobra segurança da parte dos dominicanos. A vida econômica e social de Conceição ganha novos
rumos e cores, e como descreve Lefebvre
“As necessidades sociais têm um fundamento antropológico; opostas e complementares, compreendem necessidade de segurança e a de abertura, a necessidade de certeza e a necessidade de aventura, a da organização do trabalho e a do jogo, as necessidades de previsibilidade e do imprevisto, de unidade e de diferença, de isolamento e de encontro, de trocas e de investimentos, de independência (e mesmo de solidão) e de comunicação, de imediaticidade e de perspectiva a longo prazo.” (LEFEBVRE, 1991, p.103).
As transformações do espaço e das relações sociais eram visíveis na então freguesia a qual
se viu totalmente envolvidas nos negócios e nas atividades da borracha, as modificações foram
totalmente simultâneas tanto nas relações quanto nas estruturas politicas e econômicas, o que
formou uma nova relação de poder, fugindo da direção espiritual e do predomínio dos
dominicanos.
A população era encontrada principalmente na área central da cidade, porém se
encontrava também famílias distribuídas às margens da extração do látex, neste momento tanto a
cidade crescia como seu arredores de forma inexplicável, no de 1991 se abriu uma pequena
estrada que ligava o Xingu à Conceição, ampliando ainda mais a malha populacional que de forma
rápida e numerosa criaram outros territórios, uns mais importantes e outro menos. E foi nesse
56
contexto que Conceição do Araguaia foi intitulada município, para que a mesma pudesse
constituir formalmente seu poder politico-administrativo e resolver os problemas que estavam
permeando-a como por exemplo as tensões e lutas sociais, sendo também uma forma de garantir
que jurisdição do Estado do Pará tomasse posse deste território, o qual no dia 03 de novembro de
1908 de acordo com a lei estadual de nº 1.091 à registrou.
No entanto o município de Conceição do Araguaia até meados de 1928 segundo a
descrição do senhor Moacir Costa (morador e um dos vereadores e ex vice-prefeito de Conceição
do Araguaia) era uma cidade pequena, a mesma tinha sua parte central iniciada a beira-rio, bem
em frente a atual Catedral de Nossa Senhora da Conceição e seu término no bairro que hoje é
conhecido como Capelinha. Seu centro comercial era compreendido em 06 (seis) principais
comércios, que se localizavam na rua Couto, os quais atendiam as necessidades básicas da
população, e eram abastecidos com cargas que vinham direto de Belém do Pará em navios e
balsas que chegavam.
De fato que com o passar do ano mais ou menos na década de 1970 a ponte que liga o
estado do Pará e o até então Estado de Goiás que no ano 1988 através de um novo ordenamento
territorial dividiu Goiás em duas partes, sendo a parte norte transformado no estado do Tocantins,
foi construída, e mais um desenvolvimento chega à Conceição do Araguaia trazendo consigo
abertura de estradas e uma reconfiguração da área central.
Com o fácil acesso a cidade, Conceição começou a receber mais imigrantes que migravam
principalmente do estado do Goiás em busca de minérios e terras produtivas, com o contingente
populacional aumentando viu-se necessário uma nova transformação do espaço, novos bairros
foram criados, os quais seguiam os padrões estabelecidos pelas estradas e ruas que neste dado
momento estavam sendo cunhados. Neste contexto de produções e reproduções das relações
sociais e do espaço que um novo centro é criado o qual começa a perder características beira-rio e
ganha um novo padrão, agora beira-estrada. Alves 2010, salienta;
“Pensar o centro, hoje, implica, necessariamente, em se repensar os locais, de modo a articulá-los. O surgimento de novos centros se dá em razão da própria dinâmica de crescimento da aglomeração urbana metropolitana, que tinha expressão na área central. A área central sempre foi marcada pela centralidade que hoje expressa” (ALVES, 2010, p. 34)
A reconfiguração do território de Conceição assim como a de seu centro fez-se necessária,
de modo que suas relações sejam elas sociais, econômicas ou politicas-administrativas foram
articuladas e repensadas, para que, atendesse tal configuração que estava sendo estabelecida,
57
onde a dinâmica de crescimento que antes eram as margens do rio Araguaia toma um novo rumo,
o qual obedece a evolução das estradas e ruas que eram formadas para a acomodação do
contingente humano que ali chegará.
Para atender as necessidades da população que agora se localizará em um padrão beira-
estrada viu-se a necessidade repensar sobre a localização do centro, pois agora tanto o território
habitado como a população aumentará, e é nesse contexto que surge a nova centralidade de
Conceição do Araguaia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Glória da Anunciação. O uso do centro da cidade de São Paulo e sua possibilidade de apropriação. Ed. FFLCH. São Paulo, 2010.
CARLOS, A. F. A. A (re) produção do espaço urbano. 1. Ed. 1. reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
LAKATOS, E. M. & M. de A. MARCONI. Fundamentos da Metodologia Cientifica. 7ed. São Paulo: Atlas 2010.
LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. Traduzido por Ed. Moraes Ltda. São Paulo, 1991.
LUZ, Isaú Coelho. Rastros e Pegadas. 2ºed. Goiânia, 2004.
58
ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A GÊNESE E PARTICIPAÇÃO DOS
SISTEMAS ATMOSFÉRICOS NO PERÍODO DE PRIMAVERA-VERÃO
(2000/2001) NO ESTADO DO TOCANTINS: VARIAÇÕES NO EIXO ALTO
PARNAÍBA (MA) – PEDRO AFONSO (TO) – CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA
(PA)
LUAM PATRIQUE OLIVEIRA GOMES LUCAS BARBOSA E SOUZA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS (UFT)
INTRODUÇÃO
O grande avanço das pesquisas em Climatologia Geográfica no Brasil, por meio da
consolidação da Escola Brasileira de Climatologia Geográfica, teve como alicerce o legado deixado
pelo Professor Doutor Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, a partir da década de 1960
(MONTEIRO, 1963). A partir de suas contribuições, ocorreu uma enorme evolução nesses estudos,
beneficiando a Geografia no Brasil, em especial a Climatologia, com aplicações em diferentes
porções do território (ZAVATTINI e BOIN, 2013). O presente trabalho, por sua vez, constitui parte
dos esforços para o desenvolvimento da Climatologia Geográfica no Estado do Tocantins, por meio
do reconhecimento das principais características de sua circulação atmosférica.
A Climatologia, por se tratar do estudo dos padrões de comportamento da atmosfera e
suas interações com as atividades humanas, revela importante contribuição para a sociedade.
Caracteriza-se como um campo do conhecimento em que as relações entre sociedade e natureza
são o caminho para a compreensão das distintas paisagens do planeta, contribuindo ainda para
uma intervenção mais cautelosa na organização do espaço (AYOADE, 2002; MENDONÇA e DANNI-
OLIVEIRA, 2007).
Tendo como objetivo o desvendar da participação e da gênese dos sistemas atmosféricos
no sentido leste-oeste (longitudinal) do Estado do Tocantins e em suas regiões limítrofes,
considerou-se o transecto Alto Parnaíba (MA)- Pedro Afonso (TO)- Conceição do Araguaia (PA),
com o estudo voltado para o período de Primavera/Verão dos anos de 2000 e 2001. Para a
execução deste artigo, seguiram-se os preceitos metodológicos originalmente desenvolvidos por
Monteiro (1971) e posteriormente definidos por Zavattini e Boin (2013), que sugere o uso da
59
técnica de analise rítmica para desvendar a participação dos sistemas atmosféricos sob uma
determinada área (GOMES, 2013).
OBJETIVOS
Identificar os sistemas atmosféricos atuantes sobre o eixo: Alto Parnaíba – MA (a leste do
Estado do Tocantins), Pedro Afonso – TO (porção centro-norte do Estado do Tocantins) e
Conceição do Araguaia – PA (a oeste do Estado do Tocantins), no período Primavera/Verão dos
anos de 2000 e 2001.
Compreender a variação quantitativa dos principais elementos climáticos (temperatura,
pluviosidade, umidade relativa do ar, direção do vento, dentre outros).
Proceder à análise das variações entre aspectos da gênese (sistemas atmosféricos atuantes) e da
participação climática destes, considerando o eixo longitudinal formado pelas três localidades.
METODOLOGIA
Primando por uma abordagem comparativa entre as diferentes localidades e em seu
entorno imediato, buscou-se realizar as analises em escala diária, por meio da técnica de analise
rítmica, embora não seja enfocada neste artigo.
Foram realizadas identificações dos tipos de sistemas atmosféricos atuantes sobre as três
localidades nos anos referenciados, por meio do uso das imagens de satélite meteorológico GOES
8 obtidas nos sites da agência estadunidense National Oceanic and Atmospheric Administration
(NOAA) e, no Brasil, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), via download. As imagens
foram inspecionadas visualmente, sempre obedecendo à escala diária, em conjunto com a
conferência dos dados climáticos (temperatura, pluviosidade, umidade relativa do ar, direção do
vento, dentre outros) das Estações Climatológicas Convencionais (analógicas) da rede de
observação do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no Estado do Tocantins e no seu
entorno imediato.
Os dados climáticos, juntamente com os sistemas atmosféricos identificados, foram
agrupados em gráficos de análise rítmica, permitindo uma melhor visualização do ritmo. Nesses
gráficos há uma integração dos elementos da gênese e da dinâmica atmosférica, com as variações
provocadas nos dados, favorecendo uma abordagem quali-quantitativa do objeto de estudo nas
localidades selecionadas. Para a produção e finalização dos gráficos de análise rítmica foram
utilizados os softwares Microsoft Excel® e Corel Draw®, no Laboratório de Análises Geo-
Ambientais do Curso de Geografia (Campus de Porto Nacional).
60
Para comparação entre as localidades estudadas, foram levados em consideração os
índices de Participação de cada sistema atmosférico e a gênese registrada no período analisado
para cada um das estações.
RESULTADOS FINAIS
Com a identificação dos Sistemas atmosféricos aliada a analise dos dados pluviométricos
das localidades, no período de Primavera-Verão (2000 e 2001) apontando a participação e a
gênese dos sistemas atmosféricos.
Iniciando por Conceição do Araguaia (PA), na primavera (2000) pode-se observar uma
maior atuação de Sistemas Equatoriais com 64% (MEA-NEB, MEC e MEA), a Massa Equatorial
Atlântica com Nebulosidade (MEA-NEB) apresentou 26% de atuação, seguida pela Massa
Equatorial Continental (MEC) com 24%, e Massa Equatorial Atlântica com 14%. Já os Sistemas
Tropicais obtiveram 36% de atuação (MTA e MTA-NEB), a Massa Tropical Atlântica com
Nebulosidade (MTA-NEB) registrou um total de 21%, e a Massa Tropical Atlântica (MTA) 15%,
Gráfico 01.
Neste período foi registrado um total pluviométrico de 811,6 mm, sendo que 78% deste
total estiveram ligados à atuação de Sistemas Equatoriais (MEC-40%,327,8 mm, MEA-NEB -35%,
284,5mm e MEA -3%, 21 mm) e 22% por Sistemas Tropicais (MTA-NEB -20%, 163,9 e MTA-2%,14,4
mm), Gráfico 02.
Gráficos. 01 e 02- Participação e Gênese (Primavera), em Conceição do Araguaia-PA
No verão os Sistemas Equatoriais (MEA-NEB, MEC e MEA) ainda estiveram em predomínio
atuando 66%, a Massa Equatorial Atlântica com Nebulosidade (MEA-NEB) com 30% de atuação,
Massa Equatorial Continental (MEC) com 27% e a Massa Equatorial Atlântica com 9%. Os sistemas
Tropicais (MTA-NEB e MTA) apresentaram 34% de atuação neste período, sendo 24% da Massa
Tropical Atlântica com Nebulosidade (MEA-NEB) e 10% da Massa Tropical Atlântica (MTA), Gráfico
03.
MEA14% MEA-NEB
26%
MTA15%
MTA-NEB21%
MEC24%
Part. Primavera
MEC40%
MEA3%
MEA-NEB35%
MTA2%
MTA-NEB20%
Gên. Primavera
61
As gêneses das chuvas no verão novamente estiveram ligadas a atuação de Sistemas
Equatoriais (MEA-NEB, MEC e MEA), tendo um total pluviométrico um pouco menor, 570,9 mm,
44% da MEA-NEB (250,6 mm), 17% da MEC (99,4 mm) e 5% da MEA (28,1 mm), 34% deste total
foram gerados por Sistemas Tropicais, 27% da MTA-NEB (154,9 mm), 7% da MTA (37,9 mm),
Gráfico 04.
Gráficos. 03 e 04 - Participação e Gênese (Verão), em Conceição do Araguaia-PA
Em Pedro Afonso (TO), no período da primavera notou-se a tímida participação de
Sistemas Frontais, 3% (FPA-REP e FPA-DISS), Frente Polar Atlântica em Repercussão (FPA) com 2%
de atuação e a Frente Polar em Dissipação (FPA-DISS) com 1%. Os Sistemas Tropicais (MTA-NEB e
MTA) atuaram 38%, Massa Tropical Atlântica com Nebulosidade (MTA-NEB) obteve 20% e a Massa
Tropical Atlântica com 18%. Ainda neste período os Sistemas equatoriais (MEA-NEB, MEA e MEC)
obtiveram maior predomínio, registrando 59% de atuação, resumindo-se em Massa Equatorial
Atlântica com Nebulosidade com 29%, Massa Equatorial Atlântica com 23% e a Massa Equatorial
Continental com 7%, Gráfico 05.
Com um total pluviométrico de 754,6 mm na primavera, provocados em maioria por
Sistemas Equatoriais (MEA, MEA-NEB e MEC), MEA- 39% (293,6 mm), MEA-NEB –17% (128 mm) e
MEC- 2% (17,9 mm), seguido por Sistemas Tropicais (MTA-NEB e MTA), MTA-NEB -11% (82,2 mm)
e MTA- 16% (121,6 mm) e apresentando menor porcentual de gênese, os Sistemas Frontais (FPA-
REP e FPA-DISS) que geraram 15% das chuvas nesta estação, Frente Polar em Repercussão (FPA-
REP)14% (102,6 mm) e a Frente Polar em Dissipação (FPA-DISS) 1% (8,7 mm) em processo de
Frontólise quando adentra os limites do estado, Gráfico 06.
MEA9%
MEA-NEB30%
MTA10%
MTA-NEB24%
MEC27%
Part. Verão MEC17%
MEA5%
MEA-NEB44%
MTA7%
MTA-NEB27%
Gên. Verão
62
Gráficos. 05 e 06- Participação e Gênese (Primavera), em Pedro Afonso-TO
Ao contrário da Primavera, no verão não fora registrada nenhuma atuação de Sistemas
Frontais, no entanto observou-se também uma maior participação de sistemas Tropicais (MTA-
NEB e MTA), totalizando 53% de atuação, tendo a Massa Tropical Atlântica com nebulosidade
(MTA-NEB) 35% atuação e a MTA com 18%. Os Sistemas Equatoriais (MEA-NEB, MEA e MEC)
atuaram 47% no período, onde 37% da participação foram ocasionados pela atuação da Massa
Equatorial Atlântica com Nebulosidade, 7% da Massa Equatorial Atlântica (MEA) e apenas 3% da
Massa Equatorial Continental (MEC), Gráfico 07.
Foi registrado no Verão um total pluviométrico de 580 mm, 64% deste total foram gerados
por Sistemas Equatoriais, MEA-NEB-36% (220,7 mm), MEA-20% (116 mm), MEC-6% (35,2 mm) e
36% por Sistemas Tropicais, MTA-NEB – 28% (159,2 mm) e MTA- 8% (48,9 mm), Gráfico 08.
Gráficos. 07e 08 Participação e Gênese (Verão) Pedro Afonso-TO
A primavera em Alto Parnaíba apresentou uma maior atuação de Sistemas Tropicais (MTA-
NEB e mta) totalizando 60% de atuação, pelo qual 37% foram da Massa Tropical Atlântica com
Nebulosidade (MTA-NEB) e 23% da Massa Tropical Atlântica (MTA). Os Sistemas Tropicais
obtiveram 39% de atuação no período, sendo 20% da Massa Equatorial Atlântica (MEA), 18% da
Massa Equatorial Atlântica com Nebulosidade (MEA-NEB) e apenas 1% da Massa Equatorial
FPA-REP2%
FPA-DISS1% MEC
7%
MEA23%
MEA-NEB29%
MTA18%
MTA-NEB20%
Part.Primavera
FPA-REP14%
FPA-DISS1%
MEC2%
MEA39%
MEA-NEB17%
MTA16%
MTA-NEB11%
Gên. Primavera
MEC6%
MEA20%
MEA-NEB38%
MTA8%
MTA-NEB28%
Gên.Verão
MEC3%
MEA7%
MEA-NEB37%MTA
18%
MTA-NEB35%
Part. Verão
63
Continental (MEC), a Frente Polar em Repercussão registrou apenas 1% de atuação ao longo da
estação, Gráfico 09.
Registrando apenas 437,3 mm, a primavera em Alto Parnaíba-MA teve sua gênese
fortemente relacionada á atuação de sistemas Equatoriais, MEA-7% (29,9 mm), MEA-NEB -58%
(254,9 mm). E registrando um pequeno porcentual de atuação no período estão os Sistemas
Tropicais, MTA-NEB -34% (148,1 mm) e MTA-1% (4,4 mm), Gráfico 10.
Gráficos- 09 e 10 Participação e Gênese (Primavera), Alto Parnaíba-MA
Não se diferenciando da Primavera, o Verão em Alto Parnaíba também registrou maior
atuação de Sistemas Tropicais (MTA e MTA-NEB), tendo 65% de atuação, Massa Tropical Atlântica
(MTA) com 33% e a Massa Tropical Atlântica com 32%. Os Sistemas Equatoriais novamente
registraram um menor porcentual de atuação com 35%, Massa Equatorial Atlântica (MEA)
obtendo 18% e a Massa Equatorial Atlântica com Nebulosidade com 17%, Gráfico 11.
O Verão apresentou um baixo total pluviométrico, apenas 373 mm, gerados em sua
maioria pela Massa Tropical Atlântica com Nebulosidade (MEA-NEB) que atuou 56% (210,4 mm),
MTA 11% (40,2 mm), constando um predomino tropical. Os Sistemas Equatoriais (MEA e MEA-
NEB) obtiveram menores porcentuais, MEA-NEB -28% ( 105 mm) e MEA- 5% ( 17,4 mm). Gráfico
12.
Gráficos – 11 e 12 Participação e Gênese (Verão), Alto Parnaíba-MA
MEA20%
MEA-NEB18%
MTA23%
MTA-NEB37%
FPA-REP1%
MEC1%
Part. Primavera
MEA7%
MEA-NEB58%
MTA1%
MTA-NEB34%
Gên. Primavera
MEA20%
MEA-NEB18%MTA
23%
MTA-NEB37%
FPA-REP1%
MEC1%
Part. Primavera MEA5%
MEA-NEB28%
MTA11%
MTA-NEB56%
Gên.Verão
64
As análises realizadas no período de Primavera-Verão (2000/2001) para as três localidades
permitiram verificar uma ligeira diferenciação quanto a atuação dos sistemas atmosféricos e a
Gênese pluvial.
Observou-se em Conceição do Araguaia-PA um maior predomínio de sistemas Equatoriais
(MEC, MEA e MEA-NEB), gerando maiores totais pluviométricos, já os sistemas tropicais (MTA e
MTA-NEB) registraram menor atuação ao longo do período. Já Pedro Afonso-TO e Alto
Parnaíba-MA apresentaram uma leve semelhança quanto a atuação e gênese climática, com uma
maior predominância de sistemas tropicais (MTA e MTA-NEB) e pequena atuação de sistemas
Frontais (FPA-REP, FPA-DISS).
REFERÊNCIAS
AYOADE, J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2002.
GOMES, L. P. O. Gênese e a dinâmica climática no Estado do Tocantins: uma abordagem preliminar comparativa entre Porto Nacional e Araguaína. Porto Nacional: UFT, 2013 (Relatório Final de Iniciação Científica, PIBIC/CNPq).
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007.
MONTEIRO, C. A. F. O Clima da Região Sul. In: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA. Geografia do Brasil – Grande Região Sul, v.IV, t.I, Rio de Janeiro: IBGE, 1963, p117-169.
65
PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO, ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE
URBANA NOS NÚCLEOS SÃO FELIX E MORADA NOVA:
diagnóstico do transporte coletivo em Marabá (Pará)
AMARILDO DE SOUSA CALDA ANDRÉ PARENTE DA SILVA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ (UNIFESSPA)
OBJETIVO
Nosso objetivo ao proceder este trabalho é analisar à quantas anda os serviços de
mobilidade e acessibilidade nos núcleos São Felix e Morada Nova, que nos últimos anos vem
sofrendo significativas alterações, alterando a dinâmica das relações sociais, de modo a
impossibilitar a reprodução dos sujeitos nessa fração da cidade.
Palavras-chave: Mobilidade urbana, acessibilidade e planejamento urbano.
METODOLOGIA
Na elaboração desse trabalho lançamos mão de algumas ferramentas teórico-
metodológicas, que consideramos fundamentais para sua constituição. Embasados no
materialismo histórico dialético procedemos nosso estudo com base em pesquisa documental e
bibliográfica, observação sistemática de campo, coleta de dados, aplicação de questionários e
entrevistas com os itinerários do transporte coletivo dos núcleos estudados bem como pesquisa
em órgãos municipais como (DMTU).
INTRODUÇÃO
Abordar a questão da mobilidade urbana e suas problemáticas não é tarefa simples, no
entanto é fundamental para diagnosticar e compreender os problemas voltados à sociedade que
as utiliza, de modo a contribuir para o melhoramento destes serviços. O trabalho em questão faz
parte de um estudo que aborda o drama da mobilidade urbana na cidade de Marabá em especial
o transporte público coletivo, no que diz respeito às dificuldades enfrentadas pelos usuários em
suas atividades diárias de se locomover pela cidade, usufruindo de seu espaço como lhe é de
direito.
A grande questão que acaba acarretando grandes transtornos à população é a falta de
eficiência dos serviços prestados no que diz respeito ao transporte público bem como a falta de
66
infraestrutura das paradas de ônibus na cidade dificultando a espera pelo coletivo e
impossibilitado que as pessoas trafeguem pela cidade por conta das péssimas condições dos
ônibus da rede urbana, fato que limita suas atividades no espaço da cidade.
Ao trabalhar com a questão da mobilidade urbana e transporte público coletivo, é preciso
abordar os vários fatores que contribuem para a precariedade desses serviços, como a falta de
fiscalização sobre a qualidade dos serviços prestados à população, a falta de esclarecimento sobre
os direitos do usuário do transporte coletivo, dificuldade de acesso as paradas de ônibus e a falta
de estrutura das mesmas, falta de informação aos itinerários dos ônibus, carência no número de
linhas de ônibus e de sua frota. No entanto é preciso primeiramente estabelecer algumas
diretrizes que são as bases norteadoras dos argumentos que serão tratados a seguir. Sendo que,
no que diz respeitos a transporte coletivo urbano nas cidades brasileiras a constituição de 1998
tem dado competências aos três níveis de governos.
A União compete, principalmente, o estabelecimento da legislação de trânsito e de diretrizes gerais das políticas urbanas de habitação, saneamento e transportes públicos; aos Estados, o licenciamento de veículos e motoristas e a criação de sistemas de transporte coletivo para as Regiões Metropolitanas e Aglomerados Urbanos; e aos Municípios cabem as responsabilidades pela construção, manutenção e sinalização das vias públicas, pela regulamentação de seu uso, pela gestão dos sistemas de transportes públicos no seu âmbito e pela fiscalização do cumprimento da legislação e normas de trânsito, no que se refere à circulação, estacionamento, parada de veículos e circulação de pedestres. (Lei nº 12.587,de 3 de janeiro de 2012).
De acordo com a constituição federal este modelo apresentaria uma melhoria na
qualidade de transporte público urbano e favoreceria as classes da sociedade que o utilizaria com
mais frequência. Levando em consideração os aspectos apresentados anteriormente, este modelo
de transporte coletivo também foge de nossa realidade, uma vez que a crise dos transportes
coletivos de acordo com Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana, envolve quatro
aspectos; a crise na gestão, na rede de transporte, no modelo remuneratório e na infraestrutura.
O crescimento das cidades bem como a ocupação acelerada e desordenada do solo fez com que os
órgãos municipais perdessem o controle da infraestrutura e do planejamento urbano. Situação
evidenciada na cidade de Marabá.
DISCUSSÃO
Para melhor compreender a dinâmica do desenvolvimento urbano, bem como, a
configuração territorial da cidade de Marabá, trabalhamos com a ideia de Corrêa, (2011) que
considera o espaço urbano como uma “objetivação geográfica do estudo da cidade, apresentando
67
no entanto, características de fragmentação, articulação, reflexo, condição social e campo
simbólico de luta”.
Nestes termos, a fragmentação é entendida como o resultado decorrente das ações de
agentes modeladores que produzem e consomem os espaços urbanos, ou seja, é fruto das ações
inerente à reprodução capitalista, que engloba a apropriação de terras utilizadas para os mais
diversos fatores, principalmente de fins capitalista, sendo uma característica marcante da cidade
refletida nos conflitos e antagonismos de classes, bem como pelos movimentos sociais de luta
contra este modo de produção e reprodução, fragmentador da sociedade.
Dados estes termos, todo o arranjo de estruturação do espaço urbano se dá de forma
articulada, mantendo-se unidas entre as demais partes do espaço urbano, a articulação por sua
vez é viável através dos fluxos de pessoas e de veículos bem como das relações espaciais, sendo
que o transporte assume um papel fundamental nesse processo que da vida à cidade, ou seja, a
mobilidade urbana é que proporciona essa articulação.
Outro viés que se pode considerar, consiste na ideia de que o espaço urbano é um reflexo
da sociedade, dado seu contexto histórico, pois, como bem afirma Corrêa (2011) “a estruturação
do espaço urbano, é fruto ou reflexo das ações que se realizam no presente e no passado”,
principalmente através das ações que o capitalismo impõe. É de se considerar também, que o
capitalismo através de especulações imobiliárias, de políticas de habitação, torna a cidade um
espaço desigual e contraditório, esta desigualdade por sua vez é posta através de elementos
sociais, evidenciados na negação do direito à cidade, visibilizada por meio do acesso desigual aos
recursos básicos necessários à reprodução da vida social.
Desse modo, é importante considerar o processo acelerado de urbanização e a ocupação
dos solos, que vêm fragmentando a cidade, favorecendo fenômenos como a especulação dos
espaços públicos, o crescimento desordenado e falta de planejamento urbano, que implica na
falta de planejamento da cidade, ganhando contorções de difícil leitura inerente ao processo de
apropriação e uso do solo.
De acordo com Silva Junior (2011), o crescimento urbano das cidades “propicia o
surgimento de áreas que se contrapõem e se complementam, sendo que, com a ampliação do
tecido urbano, surgem na cidade, áreas centrais e áreas periféricas”. Dessa forma Tem-se uma
construção do espaço através da luta de classe, ou grupos, pelo direito a moradia digna na
sociedade, desse modo às ocupações são concretizadas na medida que há uma necessidade
legitima por parte dessas classes fragmentadas na cidade.
68
O espaço da cidade é um produto social e as ações dos grupos e/ou indivíduos são elementos integrantes do processo de produção e apropriação do espaço. Uma das formas em que esta apropriação se dá é através da interação entre os mais diversos locais no espaço urbano, ocorrendo o acesso aos diversos objetos espaciais através dos deslocamentos diários de pessoas. (ORNAT; SILVA, 2007).
Com a demanda populacional aumentando e as vias de circulação crescendo, surge a
necessidade de planejamentos, para que se possa atender estas novas áreas, oferecendo-lhes às
condições necessárias para reprodução da vida social das pessoas que ali habitam, uma vez que a
utilização dos meios de transporte são essenciais para proporcionar o fluxo e mobilidade de
pessoas para as mais diversas atividades como relata Vasconcellos.
O transporte é uma atividade necessária à sociedade e produz uma grande variedade de benefícios, possibilitando a circulação das pessoas e de mercadorias utilizadas por elas, e por consequência, a realização das atividades sociais e econômicas desejadas. No entanto, este transporte implica em alguns efeitos, aos quais chamamos de impactos. Vasconcellos (2006 pg 11).
A criação de meios que envolvem o planejamento urbano e serviços públicos em áreas
urbanas, tende a aumentar os custos nesses serviços, aumentando assim a demanda de
investimentos que devem englobar estas finalidades, um exemplo é o transporte coletivo, que
necessita de adequação para melhor qualidade dos serviços, afim de se chegar de fato a
materialização de uma malha viária de qualidade.
RESGATE HISTÓRICO DA FORMAÇÃO DO NUCLEO SÃO FELIX
A cidade de marabá no seu aspecto estrutural organiza o seu espaço baseado em vários
núcleos urbanos com uma dispersão razoável entre os mesmos distribuídos em Marabá Pioneira,
cidade nova/Amapá, Nova Marabá, São Félix, Morada Nova e Distrito Industrial. A partir da década
de 1960, a cidade vivencia a abertura da rodovia PA- 70 (BR-222), que liga a cidade de Marabá à
rodovia Belém – Brasília, vale ressaltar que o bairro São Felix já possuía residência onde o
transporte de pessoas e mercadorias se dava através de balsas que integrando Nova Marabá e o
núcleo São Felix. De acordo com MATTOS (1996)
“Em 1960 o Bairro São Felix existia, mas havia nele poucas casas devido o terreno ser de baixada e inundável no período chuvoso. Em 1965 havia ali apenas 3 casas. Próximo à rampa de embarque e desembarque de veículos foi se formando uma vila, por habitantes da vila do geladinho, que paulatinamente foi sendo transferida para o local. Em 1970 já havia 297 casas. (MATTOS 1996, p.67)
69
É possivel perceber que mesmo com precarias condições de integração e mobilidade
urbana na cidade de Marabá , houve um favorecimento para o surgimento do bairro distante da
zona urbana de Marabá, neste termos vale resaltar que com a alteração da dinamica economica
na cidade, surge um novo cenário a partir de 1966. Neste período houve a ocorrência de
manganês na serra do sereno, e logo em seguida ferro, na serra norte, dando início aos trabalhos
na província mineral em Parauapebas na serra dos Carajás.
Para o escoamento do minério da região, houve a necessidade de construção da ponte
Rodoferroviária pela a CIA Companhia Vale do Rio Doce, (CVRD), cria uma estrada de ferro com
890 km de extensão, no trajeto a rodovia atravessa marabá pelo rio Tocantins, na altura do São
Felix, onde foi construída uma ponte com 2.310 metros. Fato interessante a ressaltar é que a
estrada de ferro entrou em funcionamento em 1984, apenas para o transporte de minério de ferro
e carga, somente em fevereiro de 1985 é que foi inaugurada para transporte de passageiro.
A integração dos núcleos por intermédio da ponte acarretou mudanças na mobilidade
urbana, além do transporte de minério proporcionado pela estrada de ferro, a cidade viu sua
população crescer consideravelmente, ainda que agora se tenha um escoamento mais rápido de
mercadoria para a cidade, devemos considerar que em consequência da construção da ponte os
núcleos São Felix e Morada Nova presenciaram um elevado aumento populacional acompanhado
de uma grande precariedade na sua estrutura urbana.
DIAGNÓSTICO DO TRANSPORTE PUBLICO EM MARABÁ NÚCLEOS SÃO FELIX E MORADA NOVA:
RESULTADOS E APONTAMENTOS PRELIMINARES
ATIVIDADE DE CAMPO 1
Nesta etapa realizamos no dia 03 de julho de 2013 o trabalho de campo nos referido
núcleos, com fins quantitativos de coleta de dados, onde fizemos um percurso que teve a duração
de uma hora, considerando o ponto inicial o km 3 da folha 33, rodovia transamazônica até a última
parada de ônibus em Morada Nova, local em que foi dado início ás pesquisas procedendo
entrevistas a partir do diálogo com usuários do transporte coletivo, e em seguida aplicando alguns
questionários aos mesmos. Através da análise durante o trajeto Morada Nova / Velha Marabá, foi
possível perceber a falta de estrutura das paradas de ônibus, onde lamentavelmente foram
constatados pontos de ônibus sem a menor condição para espera do coletivo principalmente onde
a demora destes é longa como é o caso, da grande maioria das paradas à céu aberto e grande
quantidade de pessoas nas mesmas à espera do coletivo.
70
Outro ponto que observamos diz respeito às dificuldades no acesso das pessoas ao
transporte coletivo, pelo fato de que os ônibus passam apenas nas avenidas principais obrigando
grande parte das pessoas a andarem uma longa distância para ter acesso ao transporte, e até
mesmo as ruas, algumas não são asfaltadas sendo a maioria delas desprovidas de calçamento para
os pedestres.
Foi aplicada no núcleo São Felix e Morada Nova em torno de 100 questionários para fins de
pesquisa quantitativa, obtenção e levantamentos de dados, atendendo as necessidades para os
estudos a respeito do diagnostico do transporte coletivo em Marabá. Sendo que ao final da
pesquisa com os entrevistados foi possível perceber que, quem mais utiliza o transporte público
equivale a usuários do gênero feminino somando 70% dos entrevistados e para os usuários do
gênero masculino apenas 30%. Outro ponto importante é que as idades dos entrevistados variam
entre a casa dos 20 aos 35 anos, (com a média de 40 anos) sendo que, existe outra massa
corresponde aos usuários na faixa dos 60 anos em diante, vale destacar que este último se desloca
para fins de tratamento de saúde devido a precariedade desses serviços e equipamentos públicos
nos núcleos em questão.
De acordo com a pesquisa, o tempo estimado na espera de coletivo no núcleo São Felix
varia com o tempo aproximado de 17 minutos, sendo que no núcleo Morada Nova esse tempo
chega a superar uma hora na espera pelo ônibus, principalmente nos locais mais distantes, tal
como o bairro novo progresso e São Felix I,II e III, além disso contatou-se também que o usuário
que necessita sair do núcleo Morada Nova tem que permanecer no ônibus de 40 minutos a 3
horas, como é o caso no deslocamento até o bairro liberdade. Dessa forma foi possível estabelecer
que 40% das pessoas utilizam o transporte público coletivo para se deslocarem ao trabalho, 25 %
para estudos, 22% para tratamento de saúde e 13% para outras finalidades, vale lembrar que para
a elaboração das perguntas foi dotado o critério de perguntas de caráter preciso, ou seja,
perguntas fechadas, porem com espaço para dialogo, ou justificativa.
Referente aos ônibus podemos falar que a grande parte destes não estão preparados no
que se refere à acessibilidade no atendimento à idosos, gestantes e cadeirantes assim como
pessoas com necessidades especiais, fato que podemos comprovar na atividade de campo
observando a estrutura dos coletivos onde constatamos através de nossas análises, bem como, do
depoimento das pessoas que relatam que a circulação na cidade de Marabá são ainda muito
limitados no que se refere a acessibilidade.
Dessa forma mediante a aplicação do questionário sobre a qualidade do transporte
coletivo em Marabá o que se percebe é que a grande maioria dos usuários estão insatisfeitos com
71
os serviços prestados à população e dentre as problemáticas levantadas pelos mesmos às mais
recorrentes foram a carência de linhas de ônibus, estrutura das paradas, e superlotação dos
coletivos principalmente nos horários de pico.
Das pessoas entrevistadas foram 50 no total no núcleo de Morada Nova e 50 no núcleo São
Felix, totalizando 100 entrevistados, esses questionários foram aplicados nos horários de “picos”
do bairro colhendo informações de pessoas de todas as idades de jovens estudantes,
trabalhadores, domésticas, até aposentados que apontaram basicamente às mesmas deficiências
do serviço de transporte público no município de Marabá, principalmente no que se refere aos
núcleos São Felix e Morada Nova.
ATIVIDADE DE CAMPO 2
O trabalho de campo II, realizado no dia 19 de Março de 2014, em um ponto estratégico na
cabeceira da ponte rodoferroviária do rio Tocantins, tendo por finalidade uma análise do destino,
trajeto e intervalo de tempo entre os coletivos que fazem esse percurso ligando os bairros São
Felix e Morada Nova ao restante da cidade diagnosticando através quais são os bairros que menos
são contemplados pelos transporte coletivo e qual é seu tempo médio de espera nas paradas de
ônibus. Foi constatado que o transporte coletivo possibilita o deslocamento da população
residente no bairro para os diversos núcleos da cidade e que devido ao grande aumento no bairro
são Felix e morada nova proporcionado pela implantação de projetos imobiliários e habitacionais,
tais como o programa minha casa minha vida ( quantidade de residências) que são no total de
3500 casas que aumentaram a demanda pelo coletivo nos dois núcleos, esse fenômeno
proporcionou um grande aumento na demanda de ônibus e uma superlotação nas paradas.
O que foi constado é que os trajetos dos coletivos contemplam um deslocamento, que se
destina ao núcleo Marabá Pioneira, esse percurso se dá pelas principais vias urbanas de morada
Nova, passando pela BR 222 , São Felix pioneiro e BR 222 cortando o núcleo nova Marabá,
chegando a Marabá Pioneira Para esse percurso observamos que 82 viagens se destinam para o
núcleo Morada nova, uma vez chegando neste bairro os ônibus mudam o destino e retorno para a
velha Marabá, esse tipo de deslocamento é problemático devido as pessoas que precisam ir para o
núcleo cidade nova terem que pegar outro ônibus efetuando a compra de uma nova passagem, de
acordo com o projeto da empresa de transporte coletivo local, será implantado um terminal de
integração onde não será preciso um segundo pagamento, apenas a troca de ônibus.
Já o deslocamento do bairro São Felix é composto por 56 viagens por dia, que se
distribuem para todo o bairro, no entanto, a abordagem quantitativa do trabalho de campo
72
constatou problemas que também foram observados no trabalho de campo I, o que se pode
observar é que existe realmente uma falha no atendimento pelo o transporte coletivo, em
decorrência da demanda de passageiros, pois estes ônibus em seu trajeto contempla todo o
núcleo são Felix pioneiro e os demais núcleos tal como o são Felix residencial Tocantins e novo
progresso tendo apenas 15 viagens para atender a demanda pelo transporte coletivo do bairro.
para se confirmar a demora na espera pelo coletivo constatado no trabalho de campo I, existe
apenas na data do trabalho de campo II, uma defasagem aproximada de espera pelo primeiro
ônibus até o segundo do dia, uma espera de uma hora e meia, sendo que o primeiro ônibus que
atende em pico passa as 06 e 56 e o segundo apenas as 08 e 27 da manhã, considerando as 15
viagens e distribuindo pelo 18 horas de horários do itinerários a espera fica em torno de uma hora
e vinte minutos em média de espera pelos ônibus.
Além da espera constatamos que para o núcleo São Felix I,II e III a demora média é de uma
hora e dezesseis minutos, onde os usuários geralmente para não perderem o horário tendem a
descer a BR 222 e se deslocarem 2 km de distância até suas residências, Vale ressaltar que para o
deslocamento da marabá pioneira estão disponíveis um grande fluxo de viagens diárias somando-
se um total de 93 viagens diárias. Há de se considerar que essa quantidade de viagens é
influenciada pela a concentração do centro logístico na velha Marabá sendo que quase todos os
ônibus da linha que fazem os bairros são Felix e morada nova contemplam este núcleo, somando
131 viagens por dia.
Já em relação ao destino São Felix- Novo Horizonte a quantidade de viagens por dia
equivale a 19, totalizando na média 56 minutos de espera na parada de ônibus. Com base nesses
dados é importante perceber que os núcleos apresentados acima tem uma carência na quantidade
e distribuição dos coletivos para suprir a demanda tanto do núcleo, São Felix como o de Morada
Nova.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em consideração que trata-se de um trabalho ainda em andamento, nossas
pesquisas evidenciam que existe uma grande problemática no que se refere a circulação de
pessoas dos núcleos São Felix e Morada Nova e integração com os demais núcleos da cidade, na
medida em que existe uma centralidade nas linhas de ônibus como é o caso do núcleo Marabá
pioneira, bem como o privilégio de pontos centrais da cidade como as avenidas principais, fazendo
que outras áreas da cidade fiquem desprovidos de tais serviços como é o caso dos núcleos
estudados.
73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Corrêa, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas/ Roberto Lobato Corrêa; prefacio Milton Santos. – 6º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 304 p.
VASCONCELLOS, Eduardo Alcântara de. Transporte e meio ambiente: conceitos e informações para análise de impactos. São Paulo: Edição do Autor, 2006.
MINISTÉRIO DAS CIDADES. PlanMob – Construindo a cidade sustentável: caderno de referências para a elaboração de pano de mobilidade sustentável. Brasília:2007.
ORNAT, Marcio; SILVA, Joceli. Deslocamento cotidiano e gênero: acessibilidade diferencial de homens e mulheres ao espaço urbano de Ponta Grossa – Paraná. Revista de História Regional, 12(1): 175-195, 2007.
MATTOS, Maria Virginia Bastos. História de Marabá. Marabá Grafil, 1996, P 67. MORBACH, Augusto bastos .Editora Belém, impressora Oficial.1952. p.11.
74
AS TERRITORIALIDADES DAS FESTAS DE BREGA
NA ZONA RURAL DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ
AILANE TEIXEIRA DE LIMA PALOMA DE OLIVEIRA SANTOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ (UNIFESSPA)
Muitas são as histórias a respeito da música brega, Costa (2009) classifica o brega como um
ritmo musical regional, porém, existe preconceito que muitas vezes não é com o ritmo, mas sim
com o nome “brega”, pois o este é visto como música de mau gosto e sentimentalista, haja vista
que algumas bandas que fizeram sucesso em outras regiões mudaram o nome do, mas o ritmo era
o brega, então a questão era com o nome e não necessariamente com ritmo.
Assim identificar as territorialidades exercidas pelas festas de brega, é o que o presente
artigo visa trabalhar além de ressaltar questões referentes aos sujeitos envolvidos na difusão das
festas Costa (2009), chama de circuito bregueiro os constantes movimentos das festas, pois, estas
não são estáticas percorrendo várias comunidades, ou seja, o circuito de festas.
Levando em consideração as territorialidades e os sujeitos que fazem as festas de brega se
legitimarem na zona rural, procura-se dá ênfase a importância destes sujeitos que são os artistas,
estúdios, Dj’s, festas, aparelhagens, vendedores e consumidores para a territorialidade da festa
de brega na zona rural de São Miguel do Guamá as territorialidades.
O trabalho está organizado da seguinte forma: de inicio faz-se uma breve história de como
surgiu o brega para que se tenha melhor compreensão a respeito do mesmo mostrando seus
principais representantes, posteriormente trabalha-se com a categoria território como sendo este
lócus das relações, pois, é neste que se desenvolvem as territorialidades tendo como referencial
teórico Haesbaert (2006) e para além deste há também Moraes (2005) que trabalha o território
pelo viés de que é neste que as relações sociais, acontecem em seguida apresenta-se o brega
como sendo manifestação cultural, trabalhando com o conceito de festa segundo Dumazedier
(1914), que enfatiza que nas festas atuais podem ou não apresentar características das festas mais
antigas ou tradicionais, em seguida se trabalha com as territorialidades e a festa, ou seja, é o
momento que será identificadas as estratégias utilizada pela aparelhagens para se
territorializarem na zona rural de São Miguel do Guamá bem como dá ênfase para os sujeitos que
se articulam para o ápice dessa territorialidade que é a festa.
75
No nordeste paraense é praticamente impossível sair de casa e não se deparar com a
musica brega seja ela tocada nas rádios, tvs e bares, sendo assim este ritmo parte do cotidiano
assim torna-se relevante mostrar que o ápice das territorialidades do brega são as festa haja vista,
que é nesse momento que ocorre a interação de todos os sujeitos envolvidos, ênfase para o que
Costa (2009) chama de festeiro um dos sujeitos responsáveis pelas territorialidade do brega, este
sujeito na zona rural de São Miguel do Guamá é bastante comum encontra-lo e não podendo
negar sua importância, pois, este é o organizador da festa, é o festeiro que fica nos bastidores
organizando no que se refere a divulgação, contrato da aparelhagem etc.
Com tudo é fato que aparelhagens possuem estratégias para se territorializarem nessas
comunidades da zona rural, e como isto ocorre é o que o presente artigo discuti, além de analisar
o motivo pelo qual o ritmo mais tocado nessas festas é o brega. Haesbaert (2009 p.92) enfatiza
que cada vez mais o território também é simbólico, onde se cria afetividade com o mesmo, assim
procura-se identificar se há afetividade e se houver identifica-la, com tudo Magnani (1988) retrata
que a festa se caracteriza pelos laços de afetividade entre a vizinhança e seus pedaços.
O presente artigo tem como objetivo analisar as estratégias que as aparelhagens utilizam
para se territorializarem, bem como identificar as ações dos sujeitos que propiciam essas
territorialidades na zona rural de São Miguel do Guamá e para identificar esses sujeitos torna-se
necessário ir para campo para a realização de entrevistas com todos os sujeitos que fazem parte
desse circuito de festas, ler artigos referentes à temática além de buscar informações junto a
Secretaria de Cultura de São Miguel do Guamá e órgãos responsáveis pelo funcionamento das
festas. A pesquisa encontra se na fase inicial, porém será aprofundada a medida que o trabalho
avançar, uma vez que este tema é norteador do trabalho de conclusão de curso (TCC).
UMA BREVE HISTÓRIA
Muitas são as historias referentes à origem da música brega, no entanto usa-se como
principal teórico para esta temática o antropólogo José Mauricio Dias da Costa, este define como
sendo um estilo musical regional, porém existe preconceito com o ritmo, pois, o mesmo é visto
como música de “mau gosto” e sentimentalista, um dos principais representantes são Reginaldo
Rossi, Juca Medalha e Adelino Nascimento.
No Pará houve o primeiro movimento bregueiro ocorrido na década de 80 enfraquecido e
sem apoio da mídia o movimento dependia das aparelhagens, vale ressaltar que estas ainda eram
uma espécie de aparelho com toca discos e o locutor que comandava a festa atual Dj os holofotes
76
estavam voltados para o axé músic e outros, o brega após cinco, seis anos de decadência começa a
ressurgir a passos lentos, com uma proposta diferente batidas caribenhas.
Além dos norte do Brasil e ritmo passou a ir para outras regiões e o ritmo foi rebatizado
como “brega pop” e um de seus representantes é o cantor e compositor Tony Brasil. Alguns
cantores foram descobertos a partir da renovação e o preconceito está com o nome e não
necessariamente com o ritmo este muitas vezes rotulado musica “escrachada” ou “falta de
cultura”, pois alguns cantores pra fazerem sucesso iam para outros estados e não usavam outras
denominações para sua música embora o ritmo fosse brega e faziam sucesso. O “brega pop”
ganha espaço com letras mais suaves e românticas e tendo a aprovação do publico que o
denomina como brega, com tudo a grande questão era como fazer as demais regiões do Brasil
aceitar a nome sem preconceito.
Em suma, segundo Costa (2009) o que alavancou o surgimento do brega teria sido o
declínio da jovem guarda ocorrido no final da década de 70, os cantores que surgiram nessa época
tinham resquícios da jovem guarda, no Pará nesse mesmo período surge o primeiro “Movimento
do Brega” que se difundira na década de 80 por diversos artistas com letras que expressam
sentimentalismo.
Não se pode deixar de mencionar que o surgimento do ritmo até os dias atuais sempre
esteve acompanhado das aparelhagens que impulsionou o desenvolvimento e/ou divulgação do
ritmo, por meio das festas de aparelhagens, porem no final da década de 80 houve o declínio já
que o centro das atenções era o axé music, mas em meados da década de 90 surge o brega pop,
com inovações na batida, na letra e no ritmo nesse contexto mais acelerado, surge assim o 2º
Movimento do Brega e no final da mesma década o ritmo chegara a todas as rádios e alguns
programas de televisão mas sendo as aparelhagens a principal divulgadora da música Brega.
O TERRITÓRIO COMO LOCUS DAS RELAÇÕES
Trabalhar com a categoria território é complexo, pois, seu conceito vem passando por
tentativas de definições e tem sido cada vez mais questionado. Para Rogério Haesbaert que
trabalha com território como sendo locus de exercício de poder e podendo ser fixo ou adquirir
movimento “território-rede”. Assim Haesbaert (2006) ressalta que:
O território, enquanto relação de apropriação e/ou domínio da sociedade sobre o seu espaço, não está relacionado apenas à fixidez e à estabilidade (como uma área de fronteiras bem definidas), mas incorpora como um de seus constituintes fundamentais o movimento, as diferentes formas de mobilidade, ou seja, não é apenas um “território zona”, mas também um “território-rede”. (HAESBAERT 2006, p.118).
77
Para o referido autor o território integra todos os âmbitos da sociedade podendo ser
delimitado, mas o território também pode ser fluido. Assim, é possível afirmar que é no território
que as relações se desenvolvem sejam elas relações de poder ou não, com tudo é interessante
frisar que acompanhado a territorialização está a desterritorialização, ou seja, para que ocorra a
primeira algum sujeito sofrerá a segunda, pois não há territorialidade sem que haja uma
desterritorialidade.
[...] simultaneamente, à desterritorialização dá-se a reterritorialização. São processos intimamente ligados na dinâmica sócio espacial. Na primeira, há perda do território inicialmente apropriado e construído, a supressão dos limites, das fronteiras, como afirma Raffestin (1984), e na segunda, uma reprodução de elementos do território anterior, pelo menos, em algumas das suas características. Saquet (2003apud SOUZA, 2010, p.179).
O brega a passos lentos foi se inserindo no meio cultural, assumindo as diferentes formas
de mobilidade como menciona Haesbaert (2006) ocorrendo a articulação entre os sujeitos que
fazem a territorialidade do brega, esses sujeitos são estúdios de gravações, emissoras de televisão,
rádios, lojas de disco, vendedores ambulantes, Djs e por ultimo o público apreciador que
juntamente com as aparelhagens assumem papel de grande importância, pois estes fazem e/ou
levam a territorialidade do brega, a maior expressão de territorialidade são as festas de
aparelhagens, festas estas que serão tratada com detalhes mais adiante.
Diante disso percebe-se que, o território do brega não é apenas o “território zona” que
segundo Rogerio Haesbaert, é aquele fixo e definido. O territórios do brega também são
estabelecidos pelos seus sujeitos que por sua vez se fixam nos espaços onde as festas acontecem
mas também podem ser um “território-rede” onde os sujeitos se movimentam e/ou se articulam
formando os territórios culturais.
Ainda se tratando de território Moraes (2005), afirma que:
O território é uma materialidade terrestre que abriga o patrimônio natural de um país, suas estruturas de produção e os espaços de reprodução da sociedade (latosensu). É nele que se alocam as fontes e os estoques dos recursos naturais disponíveis para uma dada sociedade e também os recursos ambientais existentes. É nele que acumula as formas espaciais criadas pela sociedade ao longo tempo (o espaço produzido). Tais formas se agregam ao solo onde foram construídas, tornando-se estruturas territoriais, condições de produção e reprodução em cada conjuntura considerada (MORAES, 2005 p.43).
78
Assim como Haesbaert (2006), para Moraes (2005), o território também é onde as relações
sociais acontecem ao longo do tempo, ou seja, é o espaço produzido pelas relações sociais sendo
esta entendida a partir do espaço e da sociedade segundo Souza (2010). Assim é essa estrutura
que permite a produção e reprodução da sociedade, ou seja o território onde as relações se
desenvolvem.
O BREGA COMO MANIFESTAÇÃO CULTURAL
Quando se fala de lugar e de território, é falar do significado destes para cada indivíduo
uma vez que se cria afetividade com o mesmo, já que nestes é onde as relações sociais
acontecem. Em se tratando de manifestação cultural, será abordada a festa de aparelhagem e/ou
de brega como sendo uma expressão dessa manifestação.A principio é de suma importância
mostrar o conceito de festa segundo Dumazedier (1914).
Se quisermos que a palavra festa englobe aquilo que as festas se tornaram, ou antes, as práticas festivas de diferentes tipos de hoje, parece-nos que devemos primeiramente renunciar a reduzir a festa a um de seus aspectos particulares do passado. Eles podem estar presentes ou ausentes: “a festa supõe uma reelaboração que ultrapassa o passado, ou então, é uma reprodução conformista de um velho rito social...” A festa é uma luta entre “a criatividade que brota e a construção formal ou institucional inerente a toda e qualquer cultura”, ou “é uma simples sobrevivência ou persistência tradicional”. Ela pode afrontar as proibições ou consolida-las: ainda uma língua de Esopo”, etc, etc. (DUMAZEDIER, 1914 p. 52).
Assim, as festas podem ou não apresentar aspectos das festas mais antigas, tendo em vista
que existem as tradicionais que visam celebrar e manter características durante anos, assim como
menciona o autor, a festa pode ser entendida como luta entre as tradicionais que tentam manter
suas características e as que surgem constantemente com características mais atuais.
Assim vale ressaltar que essas festas acabam exercercendo uma territorialidade haja vista
que estas festas se sobressaem mediante as outras, além de possuir público alvo que
acompanham as festas esse público é popularmente conhecido como seguidores das festas de
aparelhagens sendo estas uma das principais divulgadoras do brega e a maior representação dessa
territorialidade é a festa propriamente dita.
É neste momento que todos os sujeitos se articulam e como resultado desta articulação
está a festa de brega e/ou de aparelhagem que constantemente se territorializam na zona rural de
São Miguel do Guamá. Com tudo identificar as estratégias destas festas de aparelhagens para
exercer a sua territorialidade é o que será abordado em seguida.
79
AS TERRITORIALIDADES E AS FESTAS
As territorialidades bem como afirma Haesbaert (2006) não é somente o território da
fixidez, mas é também o território de movimentos, assim as festas vivem em movimentos já que o
calendário festivo é de festas que ocorrem nos finais de semana em comunidades diferentes, e
assim vai se desenhando o movimento das festas.
De acordo com o antropólogo Maurício Dias existem dois tipos de aparelhagens ligadas às
festas as dos anos 1950 e 60 comandadas pelos chamados sonoros, e que hoje como resquícios
destes existem as festas de baile da saudade com aparelhagens originadas a partir dos sonoros e
do outro lado estão às aparelhagens de grande porte estas possuem tecnologia de ultima geração
que em sua maioria atraem público mais jovem.
As festas em sua plenitude ocorriam com mais frequência na cidade e aqui se trata de São
Miguel do Guamá, dificilmente se falava em festas de aparelhagens na zona rural e as que tinham
eram de ano em ano chamadas de festas tradicionais é importante salientar que as aparelhagens
não eram locais, essas festas celebravam geralmente o padroeiro da comunidade, dia das Mães
etc. É importante ressaltar que neste momento as aparelhagens já desenvolviam uma influencia
na zona rural ainda que em pequena dimensão.
Com a grande aceitação do público, as festas de aparelhagens foram definindo o seu
território juntamente com o ritmo brega, que por sua vez tornou-se a maior forma de lazer para as
comunidades da zona rural. As festas ocorrem com frequência, mas é preciso não somente
conquistar o território, mas manter a territorialidade. E embasar as aparelhagens de aparato
tecnológico para agradar o público seja as principais estratégias por parte das aparelhagens para
continuarem a exercer suas territorialidades.
Assim, o atual contexto permite com mais facilidade ter acesso a tecnologia, como Milton
Santos enfatiza que mesmo de maneira heterogênea as técnicas abrange o território como um
todo classificando assim o mundo atual como meio técnico-científico-informacional, ou seja, as
técnicas se é homogêneo uma vez que o mundo em sua totalidade é possuidor de tecnicas, porém
heterogêneo é a intensidade que essa técnicas se estabelem.
Mediante as tecnologias, esta se torna uma das estratégias para que as aparelhagens se
territorializem, haja vista que o público torna-se cada vez mais atraídos, telões, iluminação, e a
qualidade do som etc. Como menciona Costa (2009) que a participação do público nas festas é
vista como lazer, uma vez que esta a festa proporciona uma fuga do cotidiano e de suas
obrigações.
80
É interessante frisar que as festas na zona rural de São Miguel do Guamá, também há o
circuito mencionado por Costa (2009), já que as festas ocorrem em comunidades diferentes assim
pode dizer que as aparelhagens vão fazendo um ordenamento com festas ocorrendo aos finais de
semana em comunidades diferentes, o grande responsável pela organização das festas e um dos
sujeitos responsáveis pela territorialidade das festas que é o festeiro, é este que entra em contato
com empresário, que consegue patrocínio, ou seja, este sujeito se articula com os demais para que
o evento ocorra.
A articulação entre os sujeitos tem como resultado a festa, onde o público comparece e
exerce um papel importante, pois, além da festa ser uma forma de lazer para o público este
também é sujeito. A relação entre os Djs e o público é nítida durante a festa o público que
concebe se o brega novo, vai ou não assim as aparelhagens precisam ter lançamentos e tocar o
que o público gosta “o brega”, que tem grande aceitação, por ser um ritmo dançante com
músicas com letras fáceis, algumas falam de amor etc. Estes sujeitos são fomentadores das
territorialidades das festas de brega e/ou aparelhagens.
Mediante as articulações e a aceitação do público a partir da reprodução da música brega
os sujeitos passam a estabelecer o território brega que são fixados nos espaços onde ocorrem as
festas e que também são fluxos no momento que os sujeitos se articulam: são os territórios
culturais.
Com tudo como ressalta Raffestin (1993) que o território é a base e produto das relações,
ou seja, no território ocorrem às relações, todos os atores se apropriam do espaço, porém, de
maneira diferenciada. O produto desta territorialidade está no número de festas que cada vez
mais aumentam, ou seja, é o território do brega que se consagra.
“Mas é a presença do público nestes espaços festivos que garante a vitalidade da produção musical do brega em Belém. São as experiências dos frequentadores do circuito bregueiro que nutrem as criações dos artistas do brega e que indicam os caminhos a serem seguidos por esta indústria cultural. Apresentações musicais e festas de brega produzem efeitos que atuam mutuamente nos dois campos, reiventando-se periodivamente. (COSTA, 2009 p. 136)”.
Com tudo, pode-se dizer que o território do brega na zona rural de São Miguel do Guamá é
definido, bem como suas territorialidades, porém é de fundamental importância para manter as
territorialidades criar estratégias, assim a o próprio ritmo brega juntamente com as aparelhagens
ao mesmo tempo que estes são sujeitos a se territorializarem podem serem vistos como
81
estratégias de territorialização, uma vez que o ritmo aderido pelo público abre caminhos para
suas territorialidades, ou seja, o brega torna –se sujeito e estratégia de territorialidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, Antonio Maurício Dias da Festa na cidade: o circuito Bregueiro de Belém do Pará. EDUEPA, 2ª edição, 2009.
DUMAZEDIER, Jofre, 1914 –A revolução cultural do tempo livre/ Jofre Dumazedier, tradução e revisão técnica Luiz Octávio de Lima Camargo, colaboração na Tradução Marilia Ansarah- Paulo: Studio Nobel; SESC, 1994. (cidade aberta) ____________lazer e cultura popular, 1976- Ed. Perspectiva S-A. São Paulo.
Eliseu Savério Sposito, Denise Cristina Bomtempo, Adriano Amaro de Souza (organizadores).- - 1. ed._ São Paulo; Expressão Popular, 2010.
HAESBAERT, Rogério. Ordenamento Territorial. Boletim Goiano de Geografia, vol. 26, n.1, jan /jun. 2006.
MORAES, Antônio Carlos Robert. Ordenamento Territorial: uma conceituação para o planejamento estratégico, In: Oficina sobre a Politica Nacional de Ordenamento Territorial, 2005, Brasília. Para pensar a Politica Nacional de Ordenamento Territorial- Oficina sobre a Politica Nacional de Ordenamento Territorial. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2003.
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.
SANTOS, Milton, 1996-2001. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção/ Milton Santos, - 4 ed. 5. reimp. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.
SOUZA, Marcelo Lopes de, 1963- Os conceitos da Pesquisa Sócios- Espacial- 2013. 1 ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
82
FORMAÇÃO TERRITORIAL DE MARABÁ
FERNANDO DE SOUZA LIMA RAIMUNDO CÉSAR DE PAULA VIEIRA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ (UNIFESSPA)
INTRODUÇÃO
O processo de formação do território brasileiro se baseou primariamente na lógica de
exploração dos recursos naturais, formou-se o território, depois veio à ideia de nação. Essa
exploração do território brasileiro deu-se por “frentes de expansão agrária” (VELHO 1981),
que foram impulsionadas por vários “ciclos econômicos” do capital, que ajudaram na ocupação do
país, desde seu litoral até a Amazônia . A Amazônia a ultima região a ser integrada ao Brasil
enquanto império apresentava a política de ser um “fundo territorial”, (MORAES 2011) assim
torna-se área de reserva para o capital, para novos empreendimentos e projetos, que aproveite
esses recursos naturais disponíveis em grande volume.
Assim mas especificamente na porção Oriental da Amazônia, estes ciclos econômicos
ligados a várias escalas global , nacional , regional e local, estão mais evidentes pois delineiam a
economia , motivados por “frentes de expansão agrária” (VELHO 1981) “frentes pecuaristas”,
“frentes extrativistas”, “frentes mineradoras” . Como iremos ver no Sudeste paraense na cidade
de Marabá reflexos desses “ciclos” na sua formação e ao mesmo tempo fragmentação do
território, onde houve intenso movimento migratório de andarilhos e de pessoas ligadas a
grandes latifúndios, principalmente do Maranhão, Norte do Goiás .(ver anexo )
CONTEXTO HISTÓRICO
O município de Marabá de início fazia parte do território de Baião, o mesmo englobava
uma extensão de terras de que englobava de São João do Araguaia a Conceição do Araguaia.
Então já de inicio, indagamos o que fez essa cidade se desmembrar desse município? . Surgem
vários fatores ligados à política, frentes de expansão do capital. Portanto por influência ligada a
escala nacional de “ciclos econômicos do capital” ocupação de seu por conta dessas frentes em
dois padrões de ocupação segundo GONÇALVES (2001), rio- várzea- floresta, estrada-terra firme-
subsolo.
83
Em meados do século XVII existiam grandes “frentes de expansão agrária”,
movimentadas pela criação de bois, em que (VELHO, 1981), chama de “frentes pecuaristas”,
vindas do Maranhão e do Tocantins. Nesse período houve então movimentos de bois vindos de
várias partes do Nordeste, do sul da Bahia, de Pernambuco em direção ao sul do Maranhão, isso
claro com interesse definitivamente politico de uma carta régia enviada para Governo do Estado
Maranhão, para que explorasse o Tocantins por outro lado da capitania, enquanto Goiás
explorasse o rio Tocantins em seus respectivos lados (VELHO 1981).
Então nesse período surgiu disputa de limites de fronteira entre respectivos Estados.
Na verdade neste contexto ainda não existindo o município de Marabá, esse território já estava
numa área de interesse de disputa. Essas frentes de expansão sempre foram impulsionadas por
ideologias, Milton Santos associa a ocupação, de “território usado” e que a Amazônia esta
associada a ser associado à concepção de “fundo territorial” conceito Lenista, apresentado por
(MORAES, 2011). .
Esse “padrão de ocupação” (GONÇALVES 2001) organizado pelo viés do rio teve uma
grande influencia além de econômica e politica, mais precisamente em política em que se houve
um fato singular que influenciou significavamente no povoamento e surgimento de Marabá, a
revolução de Boa Vista Tocantins, onde hoje é Tocantinópolis - TO, que atraiu uma elite, que irá
dominar e organizar este território (MATTOS, 1996).
Este fato iniciou-se a partir do final do século XIX em que houve naquele momento a
proclamação da republica, por Deodoro da Fonseca. Quando o mesmo renunciou, assumiu
Floriano Peixoto em que logo se tratou de exonerar os governadores que eram fiéis a Deodoro da
Fonseca, causando uma agitação política em todo país (MATTOS,1996). Por conta disso houve
rivalidades entres aliados de governadores de estados principalmente o norte de Goiás, onde
situava Boa Vista em que os coronéis que eram do lado de Floriano expulsaram seus rivais que
vieram onde seria a Marabá e formaram um Burgo Agrícola próximo ao rio Itacaiúnas. (MATTOS,
1996).
FUNDAÇÃO DE MARABÁ (CAUCHO)
Com Instalação do “Burgo Agrícola do Itacaiúnas” , em 1895, no dia 05 de agosto. Este
burgo tinha o total de 222 habitantes, em que se baseava em roças e criação de gados , segundo o
escritor Ignácio Batista de Moura (MATTOS, 1996). No que foi essa criação de gado foi o primeiro
foi responsável pela descoberta do caucho que iria ser no primeiro momento até o período de
1894-1920, (MATTOS, 1996) seria o que iria sustentar a economia da cidade, e é responsável pelo
84
desmembramento de Marabá de Baião. O que acontecia era que essa cidade tinha como uma de
suas rotas o rio Tocantins e rio Itacaiúnas, mas também tinha quem viesse por chão como
andarilho à procura de terras para poderem criar seu gado e fazer suas plantações (MATTOS
1996).
A atração de migrantes em busca desse produto da floresta, pois o período que se
tratava final do século XIX a borracha era o ciclo econômico em que se passava na Amazônia havia
um grande “boom”, e que o caucho muito semelhante, sendo uma espécie de vegetais produtoras
de látex. A Exploração do caucho e ao mesmo tempo do gado verdadeiras multidões, de todas as
partes Maranhão e Norte de Goiás, (VELHO 1981), sempre usando a rota do rio e a floresta,
ocupação de rio-várzea-floresta, (GONÇALVES 2001). Em 1898 Através dessas rotas de
escoamento do caucho, na foz do Itacaiúnas, ponto bem estratégico (MATTOS 1996), é que um
andarilho Maranhense Francisco Coelho localizou seu ponto de comércio , um barracão com nome
“Marabá” inspirado no poeta Gonçalves dias , em área de “planície de inundação” , alheio a
cheias do rios , fenômeno bastante natural do rio , mas que as poucos se tornando uma pequena
vila (MATTOS 1996).
Na verdade a cidade já nasce com o discurso de ser rica, concentração lucros, uma
ideia de ser a “terra prometida” para essas pessoas, isso fez com que , o antigo burgo agrícola do
Itacaiúnas que ficava aproximadamente 18 quilômetros, mudasse para o “Pontal” a migração se
intensificou mais ainda a partir de 1903 com o falecimento do Coronel Carlos Gomes Leitão
(MATTOS 1996), as famílias que moravam no Burgo migraram para o “Pontal”. Marabá passou
realmente a ser uma vila de bastante importância para economia do Pará, atraíram muitas
pessoas, como comerciantes, andarilhos que estavam à procura dessa matéria- prima. Mas isso se
tornou problema, pois houve intensos conflitos de comerciantes, muitas mortes por pistolagem
(MATTOS 1996), mas também tornou se local de passagem de apenas ser fonte de riqueza de
alguns comerciantes.
O fato era que aquele burgo de Marabá já estava alimentando uma ideia de
dependência do município de Baião. Tanto é que houve necessidade de interferência do Governo
do Pará que a partir de 1904 fundou uma subprefeitura para esse Burgo de Marabá (MATTOS
1996). Assim houve pressão dos comerciantes a cada ano que se passava o comércio do caucho
estava lucrando, o Governo do Goiás que tinha uma briga jurídica por parte do Território do Pará,
alegava em incorporar Marabá, os comerciantes sabendo desse discurso usaram isso pra si e
fizeram com que o Governo do Pará aceitasse Marabá independente de Baião (VELHO 1981).
85
A partir do dia 27 Fevereiro de 1913 pelo decreto da LEI n° 1278, foi criado o município
de Marabá, e sua instalação veio a partir do dia 05 de Abril do mesmo ano (MATTOS 1996), e
assim depois foi expandindo o seu território. Nesta época do caucho passava por um período em
que a borracha estava no auge, em Marabá existia se outros produtos como Castanha- do- Pará,
mais naquele contexto não era produzido em grande escala, quando a borracha perdeu-se um
pouco a importância pelo fato da demanda de outros países mais próximos começarem a cultivar
seringais como a Malásia e alguns países asiáticos (MATTOS 1996), a produção de castanha
começou a virar foco, pela desvalorização da borracha no mercado Global.
Nesse período do ciclo econômico do caucho em Marabá, a cidade passou ter uma
indústria extrativa e a concentrar dinheiro, (BRANDÃO, 1998) exploração bem devastadora o
interesse de se formar uma cidade com aspecto urbano miserável, e com grande riqueza de uma
minoria (VELHO 1981). Quadro1 mostra como foi à produção do caucho na cidade:
QUADRO 1 . PRODUÇÃO DO CAUCHO DE 1894-1919.
A
NO
T
ON.
A
NO
T
ON.
A
NO
TO
N.
A
NO
T
ON.
1
895
0
.896
1
901
10
.987
1
907
71.
900
1
914
41
8.400
1
896
2
.830
1
902
18
.900
1
908
89.
745
1
915
34
7.899
1
897
4
.640
1
903
22
.095
1
910
91.
604
1
916
28
7.158
1
898
7
.234
1
904
19
.785
1
911
105
.500
1
917
27
4.789
1
899
7
.034
1
905
20
.100
1
912
345
.800
1
918
29
4.279
1
900
1
0.056
1
906
27
.239
1
913
462
.500
1
919
37
6.987
FONTE : Adaptado de BRANDÃO, José da Silva 1998 (pag-266)
O período do caucho teve sua fase de ápice no final do século XIX até meados da
década de 1920, mas por conta da crise da borracha, a pouco demanda dos países compradores
da mesma, não durou mais com tanta intensidade, muita gente ganhou dinheiro, mas a cidade
continuou sendo alvo das cheias dos rios. Mas assim, com o caucho, menos explorado a pecuária
se consolidando, a castanha – do - pará aparece como novo rumo para economia de Marabá.
86
A EXPANSÃO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ (CASTANHA- DO- PARÁ)
A partir de uma infraestrutura montada na época do burgo agrícola para exploração do
caucho (1898-1919) segundo o (VELHO 1981), a extração da castanha torna-se o foco a ser seguido
e grande responsável pela consolidação de Marabá naquele momento como grande polo
extrativista.
Segundo Velho (1981, pg. - 48) “Nos primórdios, o sistema básico de relações sociais envolvido na exploração da castanha- do- pará, prosseguiu na mesma linha seguida anteriormente pela borracha nessa região, os castanhais eram livres , os indivíduos que desejassem sair à cata da castanha eram aviados pelos comerciantes, entre os quais , desde cedo, destacaram –se, ao lado dos nacionais, os origens sírio – libanesa . Os Comerciantes de Marabá, por sua vez, eram financiados e abastecidos pelos comerciantes e exportadores de Belém. Esse sistema predominará durante toda a década de vinte., só com o seu declínio é que se darão modificações importantes nas formas de relacionamento engendradas na fase da borracha”
A castanha - do - para proporcionou a cidade de Marabá, a ser segunda principal
cidade do Pará, só perdendo pra Belém, além de aumentar o volume populacional, este “ciclo’’ foi
cenário de muitos conflitos violentos entre indígenas e fazendeiros, causando muitas mortes.
(VELHO 1981) . Neste período houve surgimento de oligarquias, pequenos grupos que formariam
uma elite, que dominavam as terras de Marabá, formando os “polígonos dos castanhais”,
processo que deu-se na forma de arrendatários através de uma politica do Estado naquele
momento.
A “frente extrativista da castanha” (VELHO 1981), o “padrão de organização do
espaço” (GONÇALVES 2001) era o rio o principal articulador do escoamento da produção do
escoamento deste produto da floresta, e a principal via de ocupação dos migrantes, isso influencia
de acordo com época da safra em que a população era de 1500 habitantes, dobra o contingente
por conta da exploração da castanha. Vale ressaltar também que o município expandiu e
aumentou significavamente seu território, agregando o extinto município de São João do Araguaia
em 1923 (MATTOS 1996), quando assim foi elevada a categoria de cidade. e nisso a exploração
torna –se intensa , o numero de pessoas cresce exorbitantemente . Alguns estudiosos relatam,
(VELHO 1981), (MATTOS 1996), a importância que a cidade tomou com esse titulo sendo uma
cidade polarizadora da economia do Pará.
“Apesar de tudo, no entanto, cidade guarda muito o caráter provisório, dado o fato do predomínio praticamente absoluto de uma atividade sazonal não permitira que boa parte da população se fixe em definitivo” .(VELHO 1982, pg-57)
87
A exploração intensa dessa época dos castanhais motivou descobertas de diamantes
minerais, além de madeira, terra que quando desmatadas beneficiavam a pecuária o fato é que
Marabá sofreu outro desmembramento por conta de seu gigante território quando nasceu em
1947 o município de Itupiranga que fica á oeste, isso deu, mas a fato de que na 2ª Guerra Mundial
o caucho voltou a ser explorado, mas não com tanta força, a castanha já dominava a economia, o
hectolitro era unidade de medida de venda da mesma, como mostra neste quadro a época de
ápice deste período :
QUADRO 2: PRODUÇÃO DA CASTANHA ENTRE OS ANOS DE 1955-1969.
Fonte: adaptado de VELHO (1981), apud. (Agencia de Estatística de Marabá e Coletoria Estadual.)
Essas “frentes extrativistas” do caucho e Castanha –do- Pará condicionaram atração
do Estado frente a Marabá o controle começa a despertar interesse de grandes empresas do
capital, que vem que nessa porção existe além de uma riqueza florestal, mas também recursos de
grandes fontes minerais com o mesmo caminho da fase extrativista a fase mineral. Amazônia que
desde inicio tem uma grande conexão com o mercado pelo global pelos fatos das matérias primas
de nossas florestas serem retiradas e exportadas para todas as partes do mundo, a fase mineral só
vai dinamizar ainda mais essa produção provocando ainda mais catástrofes a essa região, Marabá
é uma cidade que apresenta as características desta mineradora.
FRAGMENTAÇÃO DA CIDADE DE MARABÁ (MINERAÇÃO)
A partir da década de 1970 o Estado tem o objetivo de integração da Amazônia por
vias de estradas, os rios deixam de ser prioridades e as estradas passam ser as vias de
escoamento da produção , no qual (GONÇALVES,2001) irá chamar padrão de organização
“estrada-terra-firme-subsolo” . Marabá virá uma “fronteira” de expansão do capital (BECKER
88
1990 apud TRINDADE JR. 2006). O Estado interfere no urbano da cidade (construção da
transamazônica) e políticas de colonização mais planejada, afim de um ideal de “integrar para não
entregar” o que mostra que a região amazônica torna-se um grande polo econômico ao Brasil, por
via de que todas as outras regiões já têm uma conotação de se desenvolver o urbano. Nesse os
grandes projetos surgem e por via da mineração que vai ser um grande fator para desvendar a
fragmentação do território de Marabá.
Segundo (COELHO 2007)“Os múltiplos impactos econômicos de uma grande mineração de ferro na Amazônia brasileira sobre uma organização econômica e politica que girava em torno da extração da castanha do para demonstra esse processo”.
Surge nesse período à regularização de terras por via de instituições como Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e Grupo Executivo de Terras do Araguaia -
Tocantins (GETAT), a fim de evitar as tensões emblemáticas ente proprietários de terras que
pertencia àquela oligarquia local dos castanhais, e os pequenos camponeses, criação da
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia ( SUDAM) , que foi importante projeto
politico alinhado a esse outros de se criar um núcleo administrativo de fato planejando um bairro
que fosse o centro e perpasse pela rodovia Transamazônica que virá a ser um importante eixo que
impulsionou uma mudança na configuração territorial do município.
A construção da mina de Carajás, pela CVRD, (Companhia Vale do Rio Doce)
transforma significativamente, a cidade de Marabá, a descoberta do garimpo de Serra Pelada,
conectando a economia ao mercado internacional, e a mesmo motiva esta fragmentação do
território, em meados dos anos 1980, aumento do numero de contingente de pessoas, população
na época que era estimada em aproximadamente de 59.915 habitantes (IBGE 1980 apud
MATTOS 1996), foi dobrada para à formação de novos municípios, ( Curionópolis, Itupiranga,
Parauapebas, São João do Araguaia) a partir da porção norte da cidade, e do outro lado do rio
Itacaiúnas, a formação de novos Bairros por via desse eixo da Transamazônica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de Marabá mostra-se uma realidade totalmente influenciada por esses ciclos
econômicos que fizeram parte do seu passado, e hoje se delineiam com aspectos nos registros dos
bairros da cidade que retratam esses processos econômicos, além de que Marabá hoje se tornou
fragmentadas formando-nos vários outros municípios (, Curionópolis, Itupiranga, Parauapebas,
89
São João do Araguaia). Portanto o processo de expansão da cidade configura-se com aspecto de
fragmentação do seu território e ao mesmo tempo de expansão da malha urbana.
Os problemas sociais ocasionadas, por consequência desses “ciclos econômicos” em
Marabá também devem ser destacados, houve intensas mortes, por grandes latifúndios de terras
em mãos de poucos, até os dias as atuais a cidade vive esse cotidiano de grandes projetos, com
grande atração de pessoas, que não se ligam em modificar a realidade da cidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, José da Silva. As origens de Marabá. Chromo Arte Editora, Volume 01 1998.
COELHO, Maria Célia Nunes/ MONTEIRO, Maurílio de Abreu. Mineração e reestruturação na Amazônia. Organizadores. – Belém; NAEA, 2007.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Amazônias, Amazônias: Coleção Caminhos da Geografia. Editora, Contexto 2001
MATTOS, Maria Virgínia Bastos de. História de Marabá. Editora Grafil. 1996 1ª edição.
MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia histórica do Brasil: capitalismo, território e periferia . São Paulo : Annablume, 1ª edição fevereiro de 2011.
TRINDADE JR, Saint-Clair. Repensando a concepção de Amazônia. IN: Silva, José; LIMA, Luiz ELIAS, Denise (orgs). Panorama da geografia brasileira1. São Paulo: Annablume/ANPEGE, 2006, P.355-364.
VELHO, Otávio Guilherme. Frentes de Expansão e Estrutura Agrária: Estudo de penetração numa Área Transamazônica, Zahar Editora Rio de Janeiro 1981 2. ed.
90
ANEXO ÚNICO
Mutação do Território Marabaense
FONTE: Extraído da obra de BRANDÃO, José da Silva (pag-266)
91
ATIVIDADES TURÍSTICAS E RECREATIVAS NA
CACHOEIRA RONCADEIRA EM TAQUARUÇU, PALMAS-TO
THALYTA DE CÁSSIA DA SILVA FEITOSA ROSANE BALSAN
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS (UFT)
INTRODUÇÃO
O turismo é uma das expressões modernas mais expressivas do lazer no Mundo
Contemporâneo. Para melhor explicar esta afirmação, pode-se dizer que tal fenômeno está
diretamente vinculado ao lazer, em que a prática turística é uma materialização das vivências
deste (TAVEIRA; GONÇALVES, 2012).
A prática de atividades turísticas e recreativas para o ser humano torna-se cada vez mais
importante para desenvolver o seu bem estar físico e mental. É através delas que o indivíduo pode
melhorar a sua qualidade de vida, saindo um pouco de sua rotina do dia a dia.
A cachoeira Roncadeira atualmente é de propriedade particular e para ter acesso à mesma
as pessoas precisam pagar um valor de R$ 7,00 por pessoa. É um atrativo turístico e possui uma
queda d’água de aproximadamente 70 metros de altura e fica localizada em Taquaruçu, Distrito do
município de Palmas capital do estado do Tocantins, ficando a aproximadamente 30 km de
distancia do centro da capital é um ambiente natural para praticas de lazer e esportes que é um
dos atrativos que a Roncadeira oferece.
Taquaruçu (Distrito de Palmas) destaca-se e consolida-se no cenário turístico tocantinense
pela peculiaridade de seus recursos naturais. Sua diversidade de atrativos localiza-se no espaço
rural e são recursos naturais como água e formações decorrentes de processos que originaram
principalmente cachoeiras, proporcionando a prática de rapel e tirolesa, atividades estas que
também estão ligadas ou são representantes do turismo de aventura.
Conforme o Ministério do Turismo (2007) atrativos turísticos naturais são elementos da
natureza que, ao serem utilizados para fins turísticos, passam a atrair fluxos turísticos. A
importância deste trabalho é conhecer as práticas turísticas e recreativas da Cachoeira Roncadeira
em Taquaruçu. Como também demonstrar que as pessoas buscam lazer através dos recursos
naturais manifestada especialmente por meio, do esporte, do turismo e da aventura.
92
A paisagem, aspecto visível do espaço, constitui-se em elemento para o desenvolvimento
do turismo, pelas suas condições geográficas e, pela sua beleza cênica. A Geografia do Turismo
caminha para refletir sobre o consumo desses espaços naturais que se tornam espaços de
consumo, acirrando aí a busca de lazer extremamente veloz.
OBJETIVOS
O presente trabalho buscou analisar as atividades turísticas e recreativas na Cachoeira
Roncadeira em Taquaruçu, Palmas-TO. Como objetivos específicos foi enumerar as atividades
turísticas e recreativas na Cachoeira Roncadeira em Taquaruçu, Palmas – TO; Identificar quais os
dias da semana que ocorre maior fluxo de pessoas que frequentam a cachoeira Roncadeira em
Taquaruçu, Palmas-TO; Analisar o perfil dos visitantes da Cachoeira Roncadeira em Taquaruçu,
Palmas - TO.
METODOLOGIA
A pesquisa é de caráter quantitativo descritivo. Para obter informações sobre quantas
atividades turísticas e recreativas existem atualmente na cachoeira Roncadeira em Taquaruçu,
Palmas-TO e identificar os dias da semana que ocorre maior fluxo de pessoas que frequentam a
cachoeira, foi realizada uma entrevista com o responsável e duas perguntas lhe foram feitas,
sendo uma sobre as atividades turísticas e recreativas na cachoeira e outra referente à quantidade
de pessoas que visitam diariamente.
Para analisar e descrever o perfil dos visitantes da cachoeira Roncadeira em Taquaruçu,
Palmas – TO, foi aplicado um questionário com 8 perguntas, para levantar dados sobre estado de
origem, sexo, idade, escolaridade, renda mensal, se praticou alguma atividade recreativa na
cachoeira e sobre a opinião da infraestrutura. Foram aplicados e coletados 52 questionários para
os visitantes da cachoeira no dia 24 e 25 de agosto de 2013, com idades superiores há 18 anos.
Para tabulação dos dados as informações foram organizadas e tabuladas no programa Microsoft
Excel 2007, onde se elaborou tabelas e gráficos.
RESULTADOS
Segundo o responsável pela cachoeira Roncadeira, atualmente possui duas atividades
recreativas: Rapel e Trilha.
O Rapel é uma técnica usada para efetuar uma descida vertical com o auxílio de uma corda
(foto 1). É utilizada por escaladores no final de uma escalada, por espeleólogos ao descerem em
93
profundas cavernas e etc. Atualmente é utilizado para praticar o turismo de aventura que segundo
o Ministério do Turismo (2014) compreende os movimentos turísticos da prática de atividades de
aventura de caráter recreativo e não competitivo. Para praticar esta atividade na cachoeira
durante o período que foi realizado a pesquisa 24 e 25 de agosto de 2013, os visitantes pagavam
um valor de R$ 50,00 reais por pessoa.
A utilização de trilhas ecológicas tem como finalidade aproveitar os momentos de lazer do
visitante para a transmissão de conhecimentos, pois a compreensão dos processos e
acontecimentos ali presentes se torna mais fácil através do contato com a paisagem, tanto do
ponto de vista recreativo quanto educativo (COSTA et al, 2012). Goulart; Guilarducci (2013)
considera que as trilhas de uso público em áreas naturais permitem suprir as necessidades
recreativas, com a segurança e o conforto necessários para o visitante e sem prejudicar o meio
ambiente. A foto 2 mostra a trilha ecológica da cachoeira.
Foto 3: Práticas de Rapel na Cachoeira Roncadeira Foto 4: Trilha Ecológica da Cachoeira. Roncadeira. Fonte:
Thayane Feitosa Fonte: Thalyta Feitosa
Atualmente a busca pelo lazer faz parte da vivência do ser humano e se tornou uma
necessidade para realizar o seu descanso. Segundo Franzini (2003) o lazer turístico é uma opção
que o indivíduo faz para utilização de seu tempo livre, deslocando-se para um determinado local,
com o objetivo de recuperar ou encontrar um bem estar que lhe falta.
Acerca dessa maior busca por lazer, nota-se que de modo geral o ser humano necessita de
lugares onde possa fugir dos aspectos rotineiros, como: trânsito conturbado, rotinas de trabalho
exaustivas, o constante contato com elementos artificiais em detrimento ao natural, tudo isso que
94
despertam a necessidade dos indivíduos entrarem em contato com a natureza em seus momentos
de lazer (BEZERRA et al, 2013).
Dos 52 entrevistados, 75% das pessoas que estavam na cachoeira durante o período em
que foi realizada a pesquisa respondeu que praticou alguma atividade recreativa, enquanto que
25% disseram que não. Das que responderam sim, 14% citaram o Rapel e 68% a trilha (gráfico 1).
Foram mencionadas também outras atividades como: caminhada, nadar, banho.
Gráfico 1: Atividades praticadas pelos visitantes. Fonte: Dados coletados pela autora no período de 24 a 25 de agosto de 2013
O quadro abaixo mostra os dias da semana em que ocorreu maior fluxo de pessoas que
frequentaram a cachoeira Roncadeira em Taquaruçu, Palmas – TO durante o período que foi
realizado a pesquisa. Estes dados foram coletados através da entrevista realizada com o
responsável, onde o mesmo nos mostrou um livro de registro que é obrigatório os visitantes
assinar para ter acesso à cachoeira, nele solicita informações básicas como: nome, estado que
mora e data de visita. Nota-se que o dia em que ocorreu o maior fluxo de pessoas foi no domingo
com 225 pessoas (quadro 1).
Quadro 1 – Dias da semana em que ocorreu maior fluxo de pessoas
Dias da Semana Data Quantidade de Pessoas
Domingo 18/08/2013 225
Segunda 19/08/2013 12
Terça 20/08/2013 14
Quarta 21/08/2013 6
Quinta 22/08/2013 16
Número de pessoas (%)
Atividades Praticadas
95
Sexta 23/08/2013 22
Sábado 24/08/2013 118
Fonte: Dados coletados pela autora no período de 24 a 25 de agosto de 2013
PERFIL DOS VISITANTES DA CACHOEIRA RONCADEIRA EM TAQUARUÇU, PALMAS-TO
Através da análise dos dados coletados, o estado de procedência da maioria dos visitantes
da cachoeira é do próprio Tocantins, representando 42% do total (tabela 1). Talvez essa
porcentagem possa ser explicada em função da busca de lazer mais próximo ao local de residência
dessas pessoas, ou seja, a proximidade geográfica facilita a escolha desses visitantes. Dentre os
demais estados brasileiros, destacam-se a presença de pessoas provenientes de Minas Gerais
(19%), Goiás (17%), São Paulo (8%). Enquanto que Rio de Janeiro (6%), Distrito Federal (4%), Ceará
(2%), Paraíba (2%) .
Tabela 1 – Estado de Origem
Estado de Origem %
Ceará 2
Distrito Federal 4
Goiás 17
Minas Gerais 19
Paraíba 2
Rio de Janeiro 6
São Paulo 8
Tocantins 42
Total 100
Fonte: Dados coletados pela autora no período de 24 a 25 de agosto de 2013
Em relação ao gênero, observou-se que 60% das pessoas entrevistadas que estavam na
cachoeira é do sexo feminino e 40% masculino.
Considerando a idade das pessoas que estavam visitando a cachoeira, observa-se no
gráfico 3 que há uma concentração na faixa etária entre 18 a 28 anos, representando um total de
52%.
96
Gráfico 3: Idade dos visitantes. Fonte: Dados coletados pela autora no período de 24 a 25 de agosto de 2013
Sobre o nível de escolaridade das pessoas que estavam visitando a cachoeira no período da
pesquisa, nota-se que 34% possui o superior completo (tabela 2), 27% o superior incompleto e
19% ensino médio completo.
Tabela 2 – Escolaridade
Escolaridade %
Ens. Fundamental
Incompleto 4
Ensino Médio Incompleto 4
Ensino Médio Completo 19
Superior Incompleto 27
Superior Completo 34
Pós Graduação 6
Mestrado 6
Total 100
Fonte: Dados coletados pela autora no período de 24 a 25 de agosto de 2013
A renda mensal dos visitantes está entre 2 a 3 salários minímos (52%) (gráfico 4).
Número de Pessoas (%)
Idade
97
Gráfico 4: Renda mensal dos visitantes. Fonte: Dados coletados pela autora no período de 24 a 25 de agosto de 2013
Quanto à classificação da infraestrutura da cachoeira, no questionário foi colocado uma
pergunta sobre o que essas pessoas achavam da infraestrutura que a cachoeira atualmente
oferece. De acordo com os dados obtidos, 54% responderam que a cachoeira possui uma boa
infraestrutura para recepcionar as pessoas que ali visitam 21% acharam ótima, 19% regular e
apenas 6% responderam que é ruim (gráfico 5).
Gráfico 5: Infraestrutura da cachoeira. Fonte: Dados coletados pela autora no período de 24 a 25 de agosto de 2013
Embora a infraestrutura da cachoeira tenha sido classificada como boa, as pessoas fizeram
algumas recomendações como: colocar mais guias de turismo, sinalização, lixeiras entre outros.
Vale enfatizar que o profissional guia de turismo, a única profissão na área de turismo
regulamentada e oficializada por lei devendo o mesmo ser cadastrado pelo Ministério do Turismo
para exercer as atividades de acompanhamento, orientação, transmissão de informações a grupos
de pessoas durante a realização de visitas, passeios e viagens.
98
CONCLUSÃO
O presente trabalho demonstrou a importância de conhecer as atividades turísticas e
recreativas que a Cachoeira Roncadeira em Taquaruçu oferece. Pois para muitos essas atividades
são entendidas apenas como atividade econômica, porém vimos que também que é uma prática
social, onde as pessoas estão cada vez mais em busca do lazer através dos recursos naturais
manifestada especialmente por meio, do esporte, do turismo e da aventura. A maioria das pessoas
que frequentaram a cachoeira durante o período da pesquisa é do próprio estado do Tocantins,
mostrando que elas não precisaram ir tão longe para buscar lazer nas horas livres. O maior fluxo
de pessoas está concentrado nos finais de semana, dias em a maioria dos assalariados não
trabalha e destinam suas horas vagas ao lazer.
Se tratando da infraestrutura da cachoeira, os visitantes classificaram como boa, no
entanto fizeram algumas recomendações como: colocar mais guias, sinalização, lixeiras e etc. É
importante ressaltar a importância do investimento na infraestrutura da cachoeira, para melhor
acomodar as pessoas e para preservação da própria cachoeira, pois segundo Nascimento (2009),
mais do que um atrativo turístico é considerada um dos recursos hídricos mais importantes do
distrito de Taquaruçu, não somente pelo seu valor paisagístico e natural, mas pela sua
proximidade da cidade e por ser a fonte de abastecimento de água da comunidade.
Assim, o planejamento do turismo é apontado como uma acuidade imprescindível para o
desenvolvimento desta atividade nos parâmetros da sustentabilidade que busca o equilíbrio entre
o desenvolvimento social, desenvolvimento econômico e preservação ambiental, garantindo para
as futuras gerações um ambiente de qualidade. Nesse contexto, o Turismo que desponta em
Taquaruçu pode ser denominado de ecoturismo? Um destino é considerado ecoturístico por ter
opções de passeios oriundos de recursos naturais? Enfim, qual é o turismo que acontece nesse
distrito?
REFERÊNCIAS
BEZERRA, Sebastiana Guedes; FILHO, Valdeci Pareira da Silva; MACEDO, Anderson Andryolly da Silva; PINHEIRO, Isabelle de Fátima Silva. Atividades turísticas e impactos ambientais negativos: uma avaliação da área de proteção ambiental jenipabu, Extremoz/RN. In: II Congresso Nacional de Planejamento e Manejo de Trilhas e I Colóquio Brasileiro da Red Latino America de Senderismo, 2, 2013, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://infotrilhas.com/anais_IICNPMT/2-IICNPMT_anais_GT%2002.pdf> Acesso: 02 de abr. 2014.
99
BRASIL. Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil: módulo operacional 7. Brasília: Ministério do Turismo, 2007.
COSTA, Marília Maria Silva da; SILVA, Edvaldo Beserra da; MENESES, Leonardo Figueiredo de. Proposta de trilha ecológica como atrativo ecoturístico na área de proteção ambiental da barra do Rio Mamanguape – PB. Turismo: Estudos e Práticas - UERN, Mossoró/RN, vol. 1, n. 2, p. 104-117, jul./dez. 2012. Disponível em: <http://periodicos.uern.br/index.php/turismo/article/view/339 > Acesso: 29 de mar. 2014.
FRANZINI, Raquel Xavier. O turismo como opção de lazer. Revista Ciências Humanas: São Paulo, v. 9. n. 1. p. 1-5, I semestre, 2003. Disponível em <http://site.unitau.br//scripts/prppg/humanas/index.htm > Acesso: 30 de mar. 2014.
GOULART, Ézio Dornela; GUILARDUCCI, Bruno Campos. Planejamento e recuperação das trilhas de acesso às cachoeiras Paraíso e Véu da noiva – APA – São Thomé – São Thomé das Letras (MG). In: II Congresso Nacional de Planejamento e Manejo de Trilhas e I Colóquio Brasileiro da Red Latino America de Senderismo, 2, 2013, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://infotrilhas.com/anais_IICNPMT/2-IICNPMT_anais_GT%2002.pdf> Acesso: 02 de abr. 2014.
NASCIMENTO, Junior Batista do. Turismo, Palmas sua história, trajetória e conquista. Palmas: TOP, 2009.
TAVEIRA, Marcelo; GONÇALVES, Salete. Lazer e turismo: uma análise teórico-conceitual. In: FONSECA, Maria Aparecida (Org.). Segunda residência, lazer e turismo. Natal – RN: EDUFRN, 2012.
100
GESTÃO E SUSTENTABILIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS
SUBTERRÂNEOS
CRISTIANE DAMBRÓS JONATAN ALEXANDRE DE OLIVEIRA
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO (UNESP)
INTRODUÇÃO
O presente texto tem como objetivo contribuir com o debate a cerca do conhecimento
sobre os recursos hídricos subterrâneos. Neste sentido, abordar-se-á inicialmente a diferenciação
entre bacia hidrográfica e bacia hidrogeológica, fornecendo subsídios para a compreensão de
outros conceitos, neste caso, aquífero e água subterrânea, além de discutirmos a sustentabilidade
e a gestão dos recursos hídricos subterrâneos, de forma sucinta, citando exemplo do Brasil e do
mundo.
Discussões referentes à gestão dos recursos hídricos têm sido constante em pesquisas de
âmbito nacional e internacional, pois tal temática se insere no contexto das discussões sobre
sustentabilidade e “abastecimento hídrico”, quando este se refere às preocupações que
envolvem as políticas públicas. Hoje, tais problemas carecem de alternativas que permitam
reverter às condições precárias de atendimento às necessidades das populações desprovidas de
recursos e concentradas em áreas de baixa disponibilidade hídrica.
No Brasil, tem-se atribuído crescente importância às investigações científicas orientadas
para a avaliação das potencialidades e das vulnerabilidades de uso dos sistemas hídricos, cujos
enfoques priorizam a melhoria da qualidade ambiental, além da qualidade de vida das
populações e biota que ocupam as áreas urbanas e rurais. Este trabalho vai ao encontro de
discussões a cerca da temática, água subterrânea, contribuindo para o, desvendar de
particularidades dos aquíferos e, para a melhoria na eficiência de se seu gerenciamento.
CONCEITUANDO BACIA HIDROGRÁFICA E BACIA HIDROGEOLÓGICA
O regime hidrológico de uma região é determinado por suas características físicas,
geológicas, topográficas e por suas condições climáticas. A precipitação, por ser o principal input,
é o mais importante fator climático do balanço hidrológico de uma região, bem como sua
distribuição e modos de ocorrência.Durante vários anos, o nível das águas subterrâneas pode
sustentar o nível dos rios, porém, nos períodos de alta precipitação pluviométrica, os rios podem
101
fornecer grandes volumes de água para os aquíferos, cujas águas, durante períodos de seca, irão
sustentar os rios. (VILLELA e MATTOS, 1975).
Para compreensão do funcionamento deste complexo sistema, a legislação brasileira,
dividiu-os em unidades de gerenciamento, propostas pela Lei Nº 9.433 da República Federativa
do Brasil de 1997 tendo como área de estudo, sub-bacias hidrográficas. Dependendo da escala
uma sub-bacia hidrográfica pode ser considerada uma bacia hidrográfica e vice-versa. Para
Santana (2003) sub-bacia e bacia hidrográfica são termos relativos.
Em concordância com Souza e Fernandes (2002) e Santana (2003), usa-se a terminologia
sub-bacia hidrográfica, pois o termo microbacia, embora difundido em nível nacional, constitui-se
uma denominação empírica, imprópria e subjetiva.
O termo bacia hidrográfica, é amplamente discutida no Brasil, a partir da década de 1970.
Já é aceitável defini-la como um sistema ecológico, seguindo a hierarquia de organização espacial
de forma natural dos rios e da topografia presente na unidade. A separação das unidades ocorre
topograficamente e esta linha de divisão chama-se divisor de águas ou divisor topográfico.
Lima (1986) e Lima e Zakia (2000) conferem ao conceito de bacia hidrográfica aspectos
geomorfológicos, onde uma bacia hidrográfica como um sistema geomorfológico aberto em um
delicado equilíbrio transicional ou dinâmico, em contínua troca de energia, mesmo quando
perturbado por ações antrópicas.
As composições de um conjunto de cursos de água organizadas pelas condições
geomorfológicas, divisores topográficos, definem uma bacia hidrográfica. Os elementos variáveis
estão no tamanho da área e nos processos naturais atuantes (CHRISTOFOLETTI, 1980;GUERRA,
1978; SILVA, 1995), Para o PNRH, uma bacia hidrográfica é a unidade territorial de planejamento.
A formação dos cursos de água se dá pelo escoamento superficial das águas
pluviométricas e pelas águas subterrâneas aflorantes. A integração entre os cursos de água se dá
pela perda de altitude, formando o rio principal. Este, por sua vez, receberá água de outros
tributários até o exutório da bacia hidrográfica.
Sua delimitação é estabelecida com base em carta topográfica ou fotografia aérea.
Atualmente é frequente o uso de imagens de satélite e desoftwares especializados, gerando
modelos digitais de elevação hidrograficamente consistente. A delimitação de uma bacia
hidrográfica é diferente de uma bacia hidrogeológica (Figura 1).
Estes dois tipos de bacias, na maioria das vezes, apresentam disparidade nas suas áreas de
abrangência, como pode ser visualizado na Figura 1. Uma bacia hidrogeológica pode ser
102
entendida como uma unidade geológica que contenha um ou mais aquíferos. Esta é uma
tentativa de caracterizar aquíferos com os mesmos critérios da bacia hidrográfica.
Figura 1: Organização estrutural de uma bacia hidrogeológica delimitada pelas zonas de falha, sob desenho de uma bacia hidrográfica para melhor exemplificação, a seção CD demonstra a condição geológica e topográfica da bacia
hidrográfica. Fonte: ARRAES e CAMPOS (2007).
As bacias hidrogeológicas necessitam de uma série estudos para o estabelecimento de
suas reais dimensões. Há situações em que uma bacia hidrogeológica abrange mais que uma
bacia hidrográfica (Figura 2). Ao analisar a figura, observa-se que entre uma e outra bacia
hidrográfica ocorre uma diferença de padrões de fluxo e formas de infiltração e escoamento de
base em relação ao escoamento superficial, devido à organização dos padrões e na densidade de
drenagem, na forma e dissecação do relevo e comprimento de rampas.
Para Arraes e Campos (2007) uma bacia hidrogeológica pode ser entendida como o limite
entre as zonas de recarga e descarga de determinado aquífero. A área de recarga seria o topo da
zona saturada e o exutório a área onde as águas retornam a superfície do terreno. O exutório de
uma bacia hidrogeológica, geralmente, não pode ser definido como um ponto, mas como uma
área ou linha de descarga, dificultando a delimitação da mesma.
103
Figura 2: Corte vertical identificando duas bacias hidrogeológicas (sistemas subterrâneos) e seu comportamento de fluxo e recarga local e regional e, identificação de divisores hidrográficos indicando a presença de mais de uma bacia
hidrográfica neste sistema, além das drenagens e do exutório regional. Fonte: ARRAES e CAMPOS (2007).
Em síntese, uma bacia hidrográfica pode ser entendida como uma área delimitada por
divisores topográficos, drenada por um rio principal e seus afluentes, este originando subdivisões
denominadas de sub-bacias hidrográficas. Enquanto as bacias hidrogeológicas podem ser
entendidas como uma área de domínio de um complexo geológico que delimita a direção de fluxo
da água subterrânea, delimitada a partir da identificação das zonas de recarga e descarga. Neste
sentido, pode-se reafirmar a complexidade de estudos referentes ao comportamento das águas
de escoamento subterrâneas em relação às águas de escoamento superficial.
CONCEITUANDO ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
O entendimento conceitual de águas subterrâneas está em concordância com Manoel
Filho (2008), como sendo toda água presente no subsolo em zona saturada. Porém, apresentar-
se-ão outras definições defendidas por pesquisadores renomados.
Tundisi (2005) explica que água subterrânea é toda a água encontrada no subsolo da
superfície terrestre, ocorrendo em duas zonas, uma saturada e outra não saturada, sendo que
por esta, a água infiltrada das precipitações promove a recarga dos aquíferos. Já para Tood
(1967),é toda água que ocupa os vazios de um estrato geológico, ou seja, é o estudo da
ocorrência, distribuição e movimento da água abaixo da superfície da Terra, levando em conta
suas propriedades físicas e químicas, suas interações com o meio físico e biológico e suas reações
à ação do homem. A geohidrologia tem a mesma conotação e a hidrogeologia apenas difere pela
sua maior ênfase na geologia.
104
A exploração da água subterrânea está condicionada a fatores quantitativos
(condutividade hidráulica e coeficiente de armazenamento), qualitativos (composição rochosa,
condições climáticas e renovação das águas) e econômicos (profundidade do aquífero e
condições de bombeamento), (OLIVEIRA e SOUZA, 2008). Além destes três fatores é necessidade
entender sua importância no ciclo hidrológico. Albuquerque (2007) é bastante enfático em dizer
que as águas subterrâneas estão interligadas às águas superficiais.
“É preciso ter a consciência de que água subterrânea é um segmento do ciclo hidrológico, intimamente relacionadas com as águas fluviais. A exploração de um segmento tem reflexos imediatos na exploração do outro. Sem o conhecimento desta relação quantitativa, a gestão de recursos hídricos ficará seriamente comprometida, resultando em problemas futuros” (ALBUQUERQUE, 2007, p. 37).
Portanto, pode-se justificar, assim, o entendimento de que os atores que constituem o
planeta estão em sintonia, interligados através de um complexo e perfeito sistema de inter-
relação e auto-organização.
Manoel Filho (2008, p. 53) define água subterrânea como, “aquela que ocorre abaixo do
nível de saturação ou nível freático, presente nas formações geológicas aflorantes e parcialmente
saturadas, e nas formações geológicas profundas totalmente saturadas”.
Quando solos ou rochas apresentam transmissividade de água em sua zona saturada, de
forma economicamente viável, constituem um aquífero. Também existem o aquicludo (pode
armazenar, mas é incapaz de transmitir água) e o aquitardo (apresenta transmissividade, mas não
é economicamente viável) (FEITOSA et al., 2008).
Originalmente, a palavra aquífero deriva das palavras: aqui = água; fero = transfere; ou do
grego, suporte de água (HEINEN et al., 2001). Assim, entende-se como aquífero toda a formação
geológica que armazena água em seus poros (assemelhando-se a uma esponja) ou fraturas que,
por sua vez, podem abranger milhões de quilômetros quadrados até espessuras de poucos
metros (REBOUÇAS et al., 2002).
Portanto, entende-se como água subterrânea toda água contida na zona saturada do solo
ou em rochas. Já um aquífero é a capacidade de armazenamento de água, tanto em solo como
em rocha, onde é possível a exploração em condições economicamente viáveis. Os aquíferos
livres ou não confinados têm sua superfície freática em equilíbrio com a pressão atmosférica, com
a qual se comunica livremente. Segundo Oliveira e Souza (2008), estes são os aquíferos mais
comuns e mais explorados pelas populações, sendo também os que mais apresentam problemas
de contaminação.
105
Tanto em aquífero livre como no confinado há a presença da zona vadosa, da zona
saturada e da franja capilar. Porém, é no aquífero livre que as forças capilares são mais eminentes
e tem-se a franja capilar mais definida.
A zona vadosa compreende a parte acima da zona saturada onde os espaços vazios não
são preenchidos por água, porém com ar. Para Oliveira e Souza (2008) “é a parte do solo que está
parcialmente preenchida por água. Nesta zona a água ocorre na forma de películas aderidas aos
grãos do solo.” Em termos de retenção de umidade na zona vadosa, os autores ainda descrevem
que os solos “finos tendem a ter mais umidade do que os grosseiros, pois há mais superfícies de
grãos onde a água pode ficar retida por adesão”.
A franja capilar pode ser entendida como uma região próxima ao nível freático, onde a
umidade é maior devido à presença da zona saturada abaixo. Sua denominação provém da
presença de forças capilares que promovem a ascensão da água, partindo do nível freático,
através de diminutos canais ou poros (OLIVEIRA e SOUZA, 2008). Na zona saturada, é consenso de
que todos os vazios, poros ou fraturas das rochas são totalmente preenchidos por água.
As rochas sedimentares areníticas armazenam os maiores e melhores reservatórios de
água subterrânea, sendo os principais alvos de pesquisas. Resultando, assim, em um amplo
arsenal de dados analíticos, quantitativos e qualitativos para novos estudos e ampliação do
conhecimento junto à complexidade que envolve a dinâmica de um aquífero. No Brasil, pode-se
citar como exemplo o Sistema Aquífero Guarani – SAG, localizado na Bacia Sedimentar do Paraná,
e o Sistema Aquífero Alter do Chão, na Bacia Sedimentar do Amazonas, constituídos por
formações rochosas sedimentares distintas, caracterizados pelo grau de homogeneidade
granulométrica (CPRM, 2012).
Os aquíferos porosos ocorrem em regolitos e em rochas sedimentares clásticas
consolidadas, sedimentos inconsolidados e/ou solos arenosos. As relações entre a porosidade e a
permeabilidade são variáveis tanto na lateral, quanto na vertical, por isso, muitos poços
apresentam diferentes coeficientes de armazenamento e texturas, em função de seus
paleoambientes deposicionais, formando diferentes estruturas sedimentares primárias que
interferem na vulnerabilidade do aquífero à contaminação (MACHADO e FREITAS, 2005; FOSTER
et al, 2006).
SUSTENTABILIDADE E GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
O termo sustentabilidade, é originário do Latim sus-tenere, que significa sustentar ou
manter. Para a CMMAD/ONU (1991), a sustentabilidade, do ponto de vista socioeconômico-
106
ambiental, é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações
futuras, ou seja, incorpora a conservação ambiental ao crescimento econômico e a equidade
social.
A presença de águas subterrâneas, embora comum, não se encontra uniformemente
distribuída e em igual profundidade da superfície terrestre. De igual modo varia a composição
química, sendo mais ou menos mineralizada. Esta variação de lugar, profundidade e composição,
indica que deve haver controle inteligente de uso pensado em termos de sustentabilidade destes
recursos, pois apresenta uma grande variabilidade, tanto no espaço como no tempo (REBOUÇAS,
2004).
Conway (1997) diz que a sustentabilidade só ocorre se a taxa de extração da água ficar
abaixo da taxa de recarga. Em sua obra cita a frase de AjitBanarjee: “A tecnologia só é boa se for
sustentável e só é sustentável se incluir pessoas, porque as pessoas são partes do meio
ambiente.” E, salienta que a gestão participativa foi bem sucedida porque se baseou na crença de
que as pessoas são importantes e devem ser envolvidas nas soluções dos problemas.
A sustentabilidade é apenas um dos indicadores de um ecossistema, sendo eles:
“produtividade (rendimento), estabilidade (constância de produtividade em face de flutuação),
sustentabilidade (capacidade de o sistema manter a produtividade) e equitatividade (igualdade
de distribuição aos beneficiários)” (CONWAY, 1997). Assim, em uma análise conjunta pode-se
saber quanto produz e quanto produzirá um determinado sistema, no caso o sistema água
subterrânea.
Para Tuinhofet al. (2002), a sustentabilidade é a preservação do potencial atendendo a sua
própria oferta e não a sua demanda, este controle é entendido como um círculo virtuoso e ele só
ocorre se houver a participação dos usuários. Portanto, o sistema de águas subterrâneas não é
apenas um reservatório mineral, mas faz parte do ecossistema.
Pesquisadores, como Veiga (2006), propõem três objetivos que um sistema sustentável
deve atender, sendo eles: (1) preservação do potencial da natureza para a produção de recursos
renováveis; (2) limitações do uso de recursos não renováveis; (3) respeito e realce para a
capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais.
Kalf e Woolley (2005) questionam a sustentabilidade em regiões áridas, por exemplo, na
bacia do rio Murray no sul da Austrália e a região do Texas nos EUA. No caso da Austrália, a
recarga anual é inferior a 1 mm/ano e nos EUA a recarga varia de 2,5 a 5% do volume bombeado.
Deste modo, nestas regiões, torna-se inviável o uso sustentável e a aplicação de uma gestão de
acordo com o circulo virtuoso, proposto por Tuinhofet al. (2002). Neste caso, se poderá recorrer a
107
uma gestão de acordo com Conway (2003), que remete um uso equilibrado e voltado para o
coletivo. Neste sentido, os autores preferem priorizar estudos referentes ao tempo de duração de
um reservatório subterrâneo, ao invés de pensar em como usar de forma sustentável as águas
subterrâneas.
A sustentabilidade das águas subterrâneas só será possível em regiões onde a recarga é
significativa, do contrário, deve-se priorizar a gestão quanto ao uso deste recurso, pois tratá-la no
âmbito da sustentabilidade não será viável. Deste modo apoia-se em Tucci (1993) que ressalta a
gestão como uma atividade analítica e criativa voltada à formulação de princípios e diretrizes dos
sistemas gerenciais, favorecendo a tomada de decisões, uso, controle e proteção dos recursos
hídricos.
Para que realmente ocorra a gestão dos recursos naturais é fundamental conhecer o que
se quer gerenciar. Na Lei Nº. 9.984 de 2000está contido uma frase que diz: “não se gerencia o que
não se conhece”. Este é mais um argumento da necessidade de estudos que visam conhecer a
dinâmica das águas subterrâneas, para posteriormente definir seu plano de gestão.
No Brasil, a gestão dos recursos hídricos obedece a uma série de normas, contidas na Lei
Nº. 9.433, da República Federativa do Brasil, de 1997. Nela se considera a bacia hidrográfica como
unidade de gestão. Também reconhece que a captação de águas subterrâneas, por ser obra
hidrogeológica, deve obter a autorização para que seja feita sua instalação e operação. As normas
culminam na Resolução Nº. 15 de 11 de janeiro de 2001, do CNRH, que reconhece a indissociável
interação entre água superficial e subterrânea, necessitando de uma gestão integrada, e que,
nem sempre os limites de um aquífero coincidem com os de uma bacia hidrográfica.
Os itens mínimos para o planejamento de uma bacia estão contemplados na Resolução
Nº. 17 de 29 de maio de 2001. A Resolução Nº. 22, de 24 de maio de 2002, determina que o Plano
de Recursos Hídricos deva considerar os múltiplos usos das águas subterrâneas; suas
peculiaridades; os aspectos quali-quantitativos através de monitoramento, caracterização e
definição as inter-relações de cada aquífero com os demais corpos hídricos superficiais,
subterrâneos e com o meio; obter informações hidrogeológicas sendo estas indispensáveis.
Neste sentido a Resolução 92/2008, do CNRH, vem a calhar, estabelecendo a necessidade
de promover a utilização racional das águas subterrâneas e sua gestão integrada com as águas
superficiais, de forma sustentável. Está resolução estabelece critérios e procedimentos gerais
para proteção e conservação das águas subterrâneas no território brasileiro.
Assim, ações potencialmente impactantes, bem como as ações de proteção e mitigação
das águas subterrâneas, devem ser diagnosticadas e previstas nos Planos de Recursos Hídricos,
108
incluindo-se medidas emergenciais a serem adotadas em casos de contaminação e poluição
acidental, visando à gestão sistêmica, integrada e participativa das águas na promoção do
desenvolvimento social e ambientalmente sustentável.
A gestão sistêmica se firma na Resolução N°. 98 de 26 de março de 2009, através de
princípios, fundamentos e diretrizes para criar, implementar e manter os programas de educação
ambiental, de desenvolvimento de capacidades, de mobilização social e de comunicação de
informações em GIRH, recomendadas a todos os entes do SINGREH.
No momento o grande desafio nacional reside na aplicação da legislação vigente, pois se
deve ter em mente que o espaço geográfico brasileiro é um dos maiores portadores, senão o
maior, de recursos hídricos subterrâneos representados por diversos domínios hidrogeológicos.
CONSIDERAÇÕES
Entende-se que o estudo e o gerenciamento das águas subterrâneas, são muito mais
trabalhosos e compreendem um período de tempo muito maior para suas investigações. Seus
estudos não pode ser desassociado da conservação dos ambiental e de sua matriz ecológica, pois
nela se encontra, além do homem, a manutenção da vida animal e vegetal da superfície do
planeta Terra. Uma vez que todas as formas de vida dependem da existência, equilíbrio e inter-
relações do meio.
A gestão dos recursos hídricos se apresenta como uma das ferramentas eficazes para a
reorganização espacial, principalmente, o gerenciamento do uso dos recursos hídricos
subterrâneos, responsáveis por 97% da água doce líquida do Planeta Terra. Portanto, o grande
desafio está na formação de técnicos com visão interdisciplinar, capazes de interpretar em sua
totalidade o Ciclo Hidrológico e, a partir disto, planejar e gerenciar o uso dos recursos hídricos de
forma sustentável.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, J. P. T. Água subterrânea no planeta água. Estudos geológicos. V 17, 2007.
ARRAES, T. M.; CAMPOS, J.E.G. Proposição de critérios para avaliação e delimitação de bacias hidrogeológicas. Revista Brasileira de Geociências, v. 37, p. 81-89, 2007.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia: a análise de Bacias Hidrográficas. SP : Ed. EB, 1980.
CONWAY, G. Produção de alimentos no século XXI: biotecnologia e meio ambiente. SP: Estação Liberdade, 1997.
109
FOSTER, S; et. al.Proteção da qualidade da água subterrânea: um guia para empresas de abastecimento de água, órgãos municipais e agencias ambientais. Mundi Prensa. 2006.
HEINEN, C.; et. al. Aquífero Guarani. Boletim Informativo. Santa Cruz do Sul: Núcleo de pesquisa e extensão em gerenciamento de recursos hídricos da UNISC/RS. v. 4, n. 2, fev. 2001.
KALF, F. R. P.; WOOLLEY, D. R. Applicability and methodology of determining sustainable yield in groundwater systems.HydrogeologyJournal, Austrália. Vol.13, Nº 1, mar. 2005.
LIMA, W.P. Princípios de hidrologia florestal para o manejo de bacias hidrográficas. Piracicaba; ESALQ/USP, 1986.
LIMA, W.P.; ZAKIA M.J.B. Hidrologia de matas ciliares. In: RODRIGUES; R.R.; LEITÃO FILHO; H.F. Matas ciliares: conservação e recuperação. SP: Editora da USP, 2000. p.33-43.
MACHADO, J. L. F.; FREITAS, M. A “Projeto Mapa Hidrogeológico do RS”. CPRM, 2005.
MANOEL FILHO, J. Ocorrência das águas subterrâneas. In: FEITOSA, F.A.C. et al. (Org.)Hidrogeologia: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: CPRM: LABHID, 2008. 53-64 p.
OLIVEIRA, E.; SOUZA, J. C. S. Águas Subterrâneas: conservação e gerenciamento. In: MACHADO, R. (org.) As Ciências da Terra e sua importância para a Humanidade: a contribuição brasileira para o Ano Internacional do Planeta Terra. SP: SBG. Curitiba/PR, 2008.
REBOUÇAS, A. da C.; BRAGA, B.; TUDINISI, J. G. Águas doces no Brasil: Capital ecológico, uso e conservação. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Escrituras, 2002.
REBOUÇAS, A. da C. Uso inteligente da água. Ed.: Escrituras, São Paulo, 2004.
SANTANA, D. P. Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas. Embrapa Milho e Sorgoo, 2003.
SILVA, A.M. Princípios Básicos de Hidrologia. Dep. de Engenharia. UFLA. Lavras/MG. 1995.
SOUZA, E. R.; FERNANDES, M.R. Sub-bacias hidrográficas: unidades básicas para o planejamento e gestão sustentáveis das atividades rurais. MG: DETEC/EMATER-MG. 2002.
TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. EDUSP, Editora da UFRGS. 1993.
TUINHOF, A., et. al.Gestión de Recursos de Agua Subterránea una introducción a su alcance y práctica.GW MATE Publication. Washington, EUA: 2002.
TUNDISI, J. G. Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Carlos, SP. RiMa, IIE, 2005.
VEIGA, J. E. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. RJ: Garamond. 2006.
VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia Aplicada. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1975.
110
O LÚDICO E O ENSINO DE GEOGRAFIA:
uma proposta para o processo de ensino-aprendizagem
CAMILA GARCIA NASCIMENTO DE SOUZA BRUNO ARTHUR SILVA DE SOUZA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ (UNIFESSPA) RESUMO: O presente trabalho consiste em analisar a importância e relevância do lúdico como uma ferramenta no processo de ensino-aprendizagem da ciência geográfica nas séries básicas, do segundo segmento do Ensino Fundamental. Quais as possibilidades do ensinar a Geografia a partir das atividades lúdicas? Quais os jogos lúdicos podem ser utilizados para ministrar determinados conteúdos da disciplina de Geografia? Pretendendo responder positivamente a esses questionamentos, realizamos tanto pesquisa no âmbito teórico como na perspectiva prática. Dessa forma, entender a relação entre o ensino de geografia e as atividades lúdicas, bem como tal relação pode tornar-se um aliado do professor na sua jornada de ensinar é o questionamento central dessa pesquisa.
INTRODUÇÃO
Hoje, diante das tendências tecnológicas, novas técnicas de ensino têm sido inseridas no
ambiente escolar contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem. Novas práticas didáticas
estão sendo trabalhadas em sala, confirmando resultados eficazes. Nesse sentido, o lúdico, como
uma perspectiva construtivista, é uma atividade que permite novas possibilidades de apreender e
dinamizar os conteúdos a serem abordados na aula. Assim, o ensino da Geografia tem adquirido
uma nova roupagem na abordagem dos conteúdos pelo processo da ludicidade.
À medida que a sociedade incorpora novas tecnologias em seu cotidiano, agregando
valores cada vez mais informatizados e virtuais, a sala de aula torna-se cada vez menos um lugar
deleitoso e prazeroso. Dessa forma, faz-se necessário, novos métodos, novas técnicas e novas
metodologias que possam reverter tal situação e contribuir com o processo de ensino e
aprendizagem. Nesse contexto, podemos observar a importância do lúdico no processo de
aprendizagem escolar, uma vez que, aguça nos alunos o desejo pelo novo, a busca pelo
aprendizado e o próprio desenvolvimento de suas habilidades físico-motoras, colaborando para a
formação de pessoas críticas e conscientes de seus deveres e responsabilidades sociais.
111
Metodologia
Para a elaboração desse trabalho, primeiramente, priorizou-se uma pesquisa bibliográfica
para embasamento teórico do mesmo. Leituras a cerca das atividades lúdicas no ensino de
geografia foram necessárias para darmos continuidade e caráter científico a essa pesquisa.
A partir das contribuições teóricas de alguns autores de notável referência na academia,
como, CASTELLAR, S. M. V; SACRAMENTO, A. C. R; MUNHOZ, G; TONINI, I. M; LOPES, O. A,
podemos perceber como o lúdico pode ser inserido na sala de aula e como os professores podem
conduzir tais atividades, contextualizando as brincadeiras de forma que os alunos interpretem o
conteúdo criticamente, organizando e construindo conceitos necessários para a compreensão da
sua realidade.
Também fez-se necessário à seleção prévia dos jogos, juntamente com a professora da classe,
de acordo com a sua adequação ao ambiente escolar, bem como, a apreensão com mais facilidade
do conteúdo proposto. Posteriormente, houve a aplicação dos jogos com a turma do 7° ano do
segundo segmento do Ensino Fundamental, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Salomé
Carvalho, localizada na sede municipal de Marabá.
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO DA GEOGRAFIA.
A palavra Lúdico tem origem latina “ludus” que quer dizer “jogo”, “brincar”. No entanto, o
fenômeno da ludicidade tem uma concepção mais ampla quanto ao processo de ensino-
aprendizagem. Neste caso, a função educativa das brincadeiras oportuniza o aprendizado do
aluno, despertando-o para o conhecimento e a compreensão do mundo, na busca de novas
experiências do seu próprio espaço vivido. Desse modo, o brincar é uma atividade que permite aos
alunos desenvolverem relações sociais através da convivência e da participação nas brincadeiras
estabelecendo assim novas experiências, novos diálogos e tecendo novas ações diante da sua
realidade.
Nos dias atuais, onde cada vez mais as inovações tecnológicas tem adentrado o ambiente
escolar, é um desafio aos educadores proporcionar aulas que estimulem nos alunos (as) o
interesse pela temática apresentada, utilizando as técnicas de ensino de forma contextualizada e
não mecânica, principalmente no que diz respeito a aproximação do conteúdo com a realidade do
aluno, levando-o a refletir criticamente sobre o seu lugar e sobre a sua inserção na sociedade.
Nesse sentido, o professor deve reconhecer a importância do ensino lúdico para a
compreensão dos fenômenos geográficos, procurando novas estratégias metodológicas para
trabalhar de forma didática algo bastante complexo como é a Geografia.
112
É importante percebermos que, tanto na Geografia Tradicional, baseada na memorização
do conteúdo bem como da sua transmissão por parte do professor; como na Geografia Crítica,
baseado na leitura crítica de uma conjuntura social, política e econômica do mundo, não levam em
consideração o lúdico como uma ferramenta de auxílio do professor.
Não menosprezando a Aula Expositiva, essa têm a sua dimensão crítica ao se trabalhar o
conteúdo, uma vez que, toma como ponto de partida a experiências do aluno e o leva a observar
melhor a realidade à sua volta fora dos limites escolar (LOPES 2005); nem o Estudo do Texto, este
apresentar uma leitura criteriosa do texto, onde o aluno perceba as intensões criticas do autor,
concordando e refutando com o mesmo (AZUMBA; SOUZA, 2005). Mas, reconhecendo a
importância de se incorporar os jogos no ensino da disciplina, despertando o interesse do aluno
por meio de formas mais prazerosas de aprendizagem.
Na somente as atividades lúdicas, jogos, brinquedos ou brincadeiras, mas atividades que
despertem nos alunos o senso crítico ao analisar a sua realidade. Nessa perspectiva temos as
músicas, onde muitas falam sobre as diferenças sociais, culturais; muitas denunciam tensões e
conflitos éticos; muitas apresentam a realidade de forma bastante crítica, expondo os agentes
responsáveis por inúmeras disparidades sociais. As propagandas, bem como as notícias de jornais,
podem ser trabalhadas como um recurso didático muito interessante no ensino de geografia,
fazendo os alunos perceber a realidade criticamente (TONINI, 2011).
Por meio das atividades lúdicas os alunos reportam muitas situações-problemas
presenciadas no seu cotidiano, as quais, pela imaginação e pela curiosidade são reelaboradas,
aguçando o seu raciocínio, a sua habilidade de compreender o meio, a sua criatividade e o
despertar para a busca de novos conhecimentos. Dessa forma, brincando os alunos significam e
ressignificam o mundo. Inventam e reinventam suas experiências. Configuram e reconfiguram o
seu cotidiano. Desenvolvem a capacidade do autoconhecimento e a aprendem a compreender a
realidade.
Nessa perspectiva, os jogos são instrumentos do cotidiano dos alunos, e trabalhados em
sala possibilita maior interação destes com o conteúdo ministrado. “O jogo auxilia na construção
cognitiva do aluno, pois estimula habilidades que são importantes para a construção do
conhecimento e para a vida como: observar, analisar, conjecturar e verificar, compondo o que se
entende por raciocínio lógico” (Castellar, Sacramento, Munhoz apud MORAES e SACRAMENTO,
2011).
É necessário que os professores reflitam a sua prática pedagógica diante do contexto
informacional, onde a sala de aula torna-se cada vez menos atrativa para o aluno, e dessa forma,
113
busque técnicas de ensino motivadoras, que trabalhe a criatividade e a recreação aliadas ao
desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais dos alunos.
Segundo Kishimoto apud CUSATI e SOARES (2008:5):
“O jogo caracteriza-se como uma importante e viável alternativa para favorecer a construção do conhecimento ao aluno, pois permite o desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo, moral e a, aprendizagem de conceitos uma vez que, jogando, a criança experimenta, descobre, inventa, exercita e confere as suas habilidades. Por tanto, o jogo deve ser considerado não como fim em si mesmo, mas como um processo que auxilia a conduzir um conteúdo curricular específico, resultado em um empréstimo da ação lúdica para aquisição de informações”.
Assim, percebemos que no contexto atual do mundo globalizado, os professores deixam de
serem meros transmissores de conhecimento e passam a serem facilitadores e mediadores do
processo de aprendizagem, na busca constante de novos caminhos e estratégias didáticas.
UMA PROPOSTA DE TRABALHO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA COM ATIVIDADES LÚDICAS
As reflexões sobre a utilização de jogos e brincadeiras para a disciplina de Geografia aqui
relatadas, longe estão de menosprezar outra metodologia para o ensino de Geografia, mas no
sentido de despertar no aluno o interesse e a motivação de aprender de forma mais estimulante.
Para tanto, nos propomos acompanhar a professora da disciplina de Geografia da turma do
7° ano, do segundo seguimento do Ensino Fundamental da Escola Municipal Salomé Carvalho, em
duas atividades lúdicas realizadas pela mesma com os alunos, observando a sua metodologia, bem
como a interação dos alunos com os jogos e o direcionamento dos conteúdos ministrados.
Nessa perspectiva, as atividades que foram elaboradas serão aqui descritas para
observação do conteúdo e dos objetivos propostos. É importante ressaltarmos que,
primeiramente, a professora ministrou o conteúdo em duas aulas expositiva dialogada de
quarenta e cinco minutos cada, chamando a atenção dos alunos para os conceitos e categorias da
ciência geográfica que serão trabalhados. As atividades lúdicas somente foram apresentadas nas
aulas seguintes.
O conteúdo apresentado foi: A regionalização do território brasileiro, onde a professora
expôs o conteúdo de forma dialogada, abordando e caracterizando a divisão regional do IBGE e a
divisão do Brasil em três regiões geoeconômicas.
No decorrer da aula expositiva, a professora enfatizou o conceito de regionalização
interpelando os alunos: o que é regionalização? Por que regionalizar? Essas perguntas nortearam a
aula, para direcionar as atividades lúdicas a serem propostas.
114
Os jogos selecionados foram: o jogo do certo e do errado e o jogo acerte a pergunta.
No primeiro, dividiu-se a turma em duas equipes, uma representada por A e a outra por B.
Além dessa divisão cada equipe escolheu um porta-voz da resposta. As perguntas foram
elaboradas pela professora e tinham três alternativas, sendo uma verdadeira. Em seguida as
perguntas foram sorteadas entre as equipes. A equipe vencedora foi a que respondeu
corretamente ao menos seis das dez perguntas.
O objetivo da primeira atividade lúdica foi verificar se, os alunos conseguiram identificar a
importância do processo de regionalização para um país como o Brasil. Dessa forma, apreendendo
os diferentes tipos de regionalização, caracterizando as características específicas de cada uma
delas.
No segundo, a turma foi dividida em duas equipes, escolhendo um representante porta-
voz. A professora sendo mediadora da brincadeira realizou a leitura de uma resposta e em seguida
lançou três perguntas com uma alternativa correta para a resposta lançada. A equipe vencedora
foi a que acertou ao menos sete das dez respostas, pautadas na temática apresentada pela
professora.
O objetivo dessa atividade lúdica foi verificar, mediante o conhecimento prévio, se os
alunos apreenderam o conteúdo de forma clara, percebendo as dúvidas, as inseguranças em
alguns conceitos, a confusão entre algumas características especificas de determinada
regionalização.
Nessa perspectiva, foram apresentadas as atividades lúdicas nas aulas de geografia para o
7° ano, sendo uma alternativa viável, mediante a facilidade dos jogos, tanto para os profissionais
como para os alunos.
Nosso objetivo aqui não é apresentar a equipe vencedora, mas mostrar uma proposta
pedagógica, uma estratégia de ensino, um caminho para o processo de aprendizagem, que se
concretiza de forma prazerosa, dinâmica, participativa, e crítica, conforme a mediação do
professor.
No decorrer das atividades com a turma do 7° ano, observamos a interação dos alunos na
aula, perguntando, fazendo colocações, expondo suas ideias a cerca da temática estudada. O
incremento do lúdico nas aulas de geografia se faz de forma dinâmica e prazerosa, onde os
conteúdos adquirem uma nova roupagem no processo de ensino aprendizagem.
Ao longo das aulas percebemos que os integrantes das equipes se empenham em
responder corretamente, e dessa forma, uniam-se para combinarem a resposta, alguns
115
levantavam sugestões e apresentavam os motivos pelos quais acreditavam ser verdade, outros se
faziam mais tímidos, mas participavam da socialização.
Foi muito interessante o acompanhamento das atividades com a turma. O direcionamento
do lúdico no ensino de geografia se deu de forma positiva, deixando a aula mais dinâmica e
participativa. As equipes mostraram interesse pela temática proposta e mesmo diante de algumas
dúvidas, de algumas colocações inadequadas da construção de alguns conceitos, os alunos
apresentavam interesse pela forma de produção da aula.
Na primeira atividade, os resultados esperados foram alcançados. Os alunos demonstraram
segurança nas respostas, reuniam-se e apresentavam colocações de acordo com o tema proposto,
refutavam algumas perguntas, questionavam a professora. Nesse sentido, observamos que a
apreensão do conteúdo de fez de forma eficaz, onde os alunos buscavam interagir, compartilhar, e
questionar a equipe adversária, não com o senso de briga, mas de discussão da própria temática.
Na segunda atividade, observamos maior desempenho crítico dos alunos, mesmo porque a
atividade exigia mais concentração e habilidade lógica para se chegar à resposta correta. Os alunos
apresentaram bastante domínio do conteúdo trabalhado em sala, com colocações críticas a cerca
das particularidades, ou seja, dos aspectos em comum que específica determinada região.
Também realizavam comparações entre as áreas regionalizadas, percebendo as desigualdades
sociais, os problemas de infraestrutura, os altos índices de criminalidade, que mesmo não sendo
critérios que determinam uma regionalização, mas que estão presentes em ambas as
regionalizações.
Dessa forma, observamos a importância de novas técnicas de ensino que contribuam com
a aprendizagem dos alunos, que os façam compreender as dimensões do espaço em que vivem,
que apresentem argumentos críticos sobre a sua realidade, que obtenham percepções criteriosas
das disparidades existentes, que realmente vejam a sua realidade criticamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, buscamos demonstrar como algumas atividades lúdicas podem ser
utilizadas como uma estratégia metodológica no processo de ensino e aprendizagem de geografia,
em benefício tanto do professor como do aluno. Os primeiros pelo fato apresentarem aulas mais
dinâmicas e prazerosas, na busca do aprimoramento de uma técnica que proporcione aos alunos
melhor discernimento do conteúdo. Os segundos, pela interação, pela participação, pela avaliação
crítica dos conteúdos propostos e melhor apreensão dos conteúdos, dos conceitos elementares.
116
Acreditamos que as contribuições aqui relatadas são primordiais, uma vez que, os recursos
lúdicos são de fácil acesso, onde se busca novos caminhos e possibilidades para o ensino de
geografia, estimulando os alunos a perceberem a importância dessa ciência para a compreensão
de muitos fenômenos que acontecem em seu cotidiano.
É importante frisarmos a importância do papel do professor de geografia na idealização de
atividades que colaborem para a aprendizagem dessa disciplina. Muitos não realizam tais
atividades por requerer tempo, outros por falta de interesse próprio e aqueles que se propõe, mas
é impedido por alguma circunstância ocorrente no ambiente escolar. Assim, são muitos os
empecilhos e obstáculos a serem superados, tanto pelo corpo docente como discente.
É possível notarmos que poucos geógrafos se dedicam na pesquisa sobre a inserção das
atividades lúdicas na sala de aula, reconhecendo a importância dos jogos pedagógicos para o
ensino e aprendizagem da disciplina de geografia.
Ao acompanharmos a professora do 7° ano na elaboração das suas aulas, percebemos que
não é tarefa fácil e requer bastante tempo, principalmente para a seleção da atividade com que se
vai trabalhar. Primeiro, pelo caráter didático e metodológico do jogo, pois o mesmo deve
apresentar fácil manuseio e regras claras e objetivas. Segundo, pela finalidade de apresentar o
conteúdo de geografia de forma dinâmica e interessante, sem, todavia desviar o foco da temática
em estudo.
Diante desse cenário, muitos professores deixam de lado o inovar a sua aula e passam a
reproduzir uma geografia decorativa, pensando o direcionamento das aulas sem consonância com
a realidade do aluno, tornando o ensino de geografia superficial e alheio ao indivíduo. Assim,
deixando de lado o formar pessoas críticas e politizadas.
Nesse sentido, as contribuições desse trabalho são na perspectiva de se perceber a
importância da incorporação das atividades lúdicas no ensino de geografia, uma vez que, as
mesmas são instrumentos para que os alunos adquiram conhecimento de forma dinâmica e
prazerosa.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
ALMEIDA, R. D. A propósito da questão teórico-metodológica sobre o ensino de geografia. In: Revista Terra Livre – AGB. São Paulo. Nº 8, 1991.
AZAMBUJA, J. Q; SOUZA, M. L. R. O estudo de texto com técnica de ensino. et alli. Técnicas de ensino: por que não? Campinas / SP: papiros, 2005. p. 35-48.
117
CALLAI, H. C. A geografia e escola: muda a geografia? Muda o ensino? In: Revista Terra Livre – AGB. São Paulo, nº 16, 2001.
CASTELLAR, S. M. V; SACRAMENTO, A. C. R; MUNHOZ, G. B. Recursos multimídia na educação geográfica: perspectivas e possibilidades. In: Revista Ciência Geográfica – AGB. Bauru/SP. Nº 1, 2011.
CUSATI, I. C; SOARES, C. A. Repercussões da Oficina de jogos e experimentos na formação dos alunos do Curso de Pedagogia- o Jogo de Xadrez e suas implicações pedagógicas. IN. IV Colóquio Luso-Brasileiro sobre questões curriculares VIII Colóquio sobre Questões Curriculares. Florianópolis, ANAIS, 2008.
LOPES, O. A. Aula expositiva: superando o tradicional. In: FELTRAN, A. et alli. Técnicas de ensino: por que não? Campinas/SP: papirus, 2005. p. 35-48.
SILVA, R. M. L. Ciência Lúdica: Brincando e Aprendendo com Jogos sobre Ciências (org). Salvador: Editora Universitária da UFBA, EDUFBA, 2008.
TONINI, I. M. para pensar o ensino de geografia a partir de uma cultura visual. REGO, N; CASTROGIOVANNI, A. C; KAERCHER, N. A. (orgs). Geografia: práticas pedagógicas para o ensino médio. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 93-103.
118
IMPACTOS SOCIOESPACIAIS E SOCIOAMBIENTAIS DA INSTALAÇÃO DE
UMA EMPRESA MINERÁRIA NA REGIÃO SUDESTE PARAENSE:
o caso do projeto Níquel Araguaia
CASSYO LIMA SANTOS UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA)
RESUMO: O trabalho visa estudar três vertentes de extrema relevância para compreender o
contexto da mineração em suas diversas peculiaridades, fazendo um contra ponto em entre os
impactos ambientes decorrentes da atuação de empresas de mineração na extração de minérios,
que causa degradação aos recursos naturais, passando pela compreensão intrínseca dos fatores
implicantes nas condições socioeconômicas e chegando ao fator do desenvolvimento regional. A
pesquisa teve como metodologia principal o estudo de revisão bibliográfica. Foram utilizados
também relatórios de impactos ambientais de realidades presentes nos municípios paraenses e
identificar os estudos presentes sobre as dinâmicas da mineração do Brasil e principalmente no
estado do Pará. Cabe à população se apropriar da verdadeira realidade que o município passará
nos breves consecutivos anos, para que possa também contribuir para o desenvolvimento
regional, trazendo um novo viés para a sociedade que tanto almeja por melhores condições de
trabalho e de vida.
PALAVRAS-CHAVES: Impactos Socioespacias; Impactos Socioambientais; Desenvolvimento
Regional; Projeto Níquel Araguaia.
INTRODUÇÃO
Os objetivos do trabalho visa fazer um recorte dentro do contexto da mineração no
estado do Pará. Realizando um percurso dos impactos socioambientais e dos contrastes
socioespaciais de empresas mineradoras na região sudeste paraense, perpassando pele embate
do desenvolvimento regional. O projeto níquel Araguaia se instalará a aproximadamente 25 km
do município de Conceição do Araguaia-PA, próximo também ao município de Redenção-PA.
O trabalho visa estudar três vertentes de extrema relevância para compreender o
contexto da mineração em suas diversas peculiaridades, fazendo um contra ponto em entre os
impactos ambientes decorrentes da atuação de empresas de mineração na extração de minérios,
que causa degradação aos recursos naturais, passando pela compreensão intrínseca dos fatores
implicantes nas condições socioeconômicas e chegando ao fator do desenvolvimento regional,
pois ao mesmo tempo em que a indústria de mineração se instala em um município causando
impactos ambientais ela traz consigo o discurso do desenvolvimento regional, trazendo em seu
119
contexto uma gama de perspectivas para o desenvolvimento e crescimento da cidade, porém
crescer em muitas das vezes não significa desenvolver.
O trabalho se subdividirá em três subtópicos, sendo que o primeiro será:
Desenvolvimento Regional e Preservação Ambiental, onde serão argumentados os fatores e os
discursos de empresas sobre o fator crescimento e desenvolvimento, o segundo sobre os Impactos
Socioambientais e Contrates Socioespaciais, onde será enfatizando os problemas decorrentes no
ambiento do meio ambiente e as transformações sociais presentes em municípios que passaram e
então vivendo as dinâmicas no espaço urbano e os fatores resultantes da mineração nas condições
de vida determinada sociedade e o terceiro tema será sobre o Histórico e Objetivos da Instalação
da Empresa Horizonte Minerals, sendo caracterizado as pesquisas e estudos recentes da
mineração para o início da exploração no Projeto Níquel Araguaia.
METODOLOGIA
A pesquisa se concretizou em duas etapas. A pesquisa teve como metodologia principal o
estudo de revisão bibliográfica. A primeira etapa concretizou-se através de pesquisa bibliográfica
onde foi possível identificar os estudos presentes sobre as dinâmicas da mineração do Brasil e
principalmente no estado do Pará, que possuem uma extensão territorial gigantesca de minérios.
A segunda etapa se constituiu através da pesquisa de campo no município de Conceição
do Araguaia, possibilitando o um estudo das dinâmicas urbanas advindas pela expectativa da
população sobre essa determinada empresa. Foram utilizados também relatórios de impactos
ambientais de realidades presentes nos municípios paraenses.
DESENVOLVIMENTOS REGIONAL E MINERAÇÃO
O embate que se trava aqui se justifica em compreender e instigar as populações não
somente dessa região, mas de um contexto mais amplo como um todo sobre os questionamentos
socais, ambientais e políticos que um empreendimento minério pode causar em uma determinada
região.
Segundo Silva (2007) enfatiza que as populações são condicionadas a terem como visão
que as condições das empresas abrangerão o desenvolvimento de infraestrutura de determinada
região, como a criação de empregos, circulação de riquezas, incremento no comércio e serviços,
fortalecimento do setor público entre outras vertentes, porém não é isso que ocorre.
Segundo Monteiro (2004, Pág. 13) “(...) ao utilizar recurso que não mais estará à
disposição da sociedade, deve oferecer uma compensação pela perda permanente daquele bem
120
(...)” esse trecho faz uma síntese do discurso de empresas de mineração pois afirmam que eles
recompensam de certa forma os impactos decorrentes da mineração
As cidades próximas que a empresa horizonte minerals irá de instalar como o município
de Conceição do Araguaia é uma cidade que possue uma fragilidade em termos de infraestrutura
seja ela na educação, saúde, segurança entre outros fatores, pois na verdade as populações
residentes nestes municípios esperam que o projeto trará uma novo viés para uma nova condição
de vida, onde terá empregos, melhores condições de vida e saúde, porém não conseguem
enxergar outras vertentes que como advento de uma empresa de mineração pode ocasionar,
como inchações populacionais, aumento da violência urbana, prostituição, especulação mobiliária,
aumento dos produtos alimentícios entre outros fatores, o ramo minerário pode ser uma fator
para o chamado desenvolvimento regional, porém os recursos extraídos da venda dos minérios
são exportados para grandes empresas internacionais que se apropriam a preço bem baratos de
um recurso que deveria ser implantado para o desenvolvimento local, regional e nacional,
sobretudo devido as políticas publicas vigentes e, sobre a administração do governo seja ela no
ambiento federal, estadual ou municipal.
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS E SOCIOESPACIAIS
A mineração sempre atraiu empresas para o estado do Pará, devido o seu grande
potencial em minérios, porém essa matéria prima é utilizada, sobretudo para enriquecer o
governo e grandes empresas nacionais e internacionais.
Segundo Sánchez (1994, Pág. 71) alguns entraves são visualmente perceptíveis em
empreendimentos de mineração do Brasil, como impactos sociais, consumo de recursos naturais,
gerenciamento de resíduos sólidos e reciclagem de materiais e impactos ambientes no decorrer
no tempo de mineração.
Os impactos ambientais causados por essa atividade são inúmeras, primeiro porque
trabalham com substâncias químicas e materiais pesados, que causa mal a saúde humana, além
dos impactos causados no solo, sendo que a extração de minérios não é renovável.
Os minérios extraídos no estado do Pará passar por todo um processo de industrialização
em outros países e volta ao Brasil com valores altíssimos de impostos, e o brasileiro usufrui de um
benefício extraído do seu próprio país.
Já é presente no município de Conceição do Araguaia e Redenção a especulação
mobiliária decorrente dos estudos que estão sendo presentes na região da empresa horizonte
121
minerals para o município, loteamentos estão sendo presentes desde o ano de 2012, e a
tendência e aumentar cada vez mais, os lotes estão sendo valorizadas, e as empresas que
administram esses residenciais são, sobretudo de região vizinhas que visam lucrar com a
instalação do Projeto Níquel Araguaia. Como exemplos semelhantes temos os municípios de
Ourilândia do Norte e Parauapebas, está última que vive um inchaço populacional, com grandes
mazelas sociais. Nesses dois casos a exploração de minérios gera recursos somente para a
empresa, que utiliza da mão de obra desses moradores, e em muitas das vezes com condições de
trabalhos não adequadas.
É interressante ressaltar que a possível vinda de empresas exploradoras de mineiros irá
modificar as condições de vida da população, trazendo benéficos, mas também uma séria de
problemas, primeiro porque essas empresas querem somente acumulação de capital, e segundo
os recursos não ficam na própria cidade.
A região Sudeste Paraense concentra um dos maiores projetos de assentamentos do
Brasil, pois é uma região que necessita de projetos que atenda não somente a população que
detenha poderio econômico, mas que alcance as parcelas pobres dessa região. Estudos de
prospecção estão sendo realizados desde o ano de 2010. Devido à ênfase dessa empresa, já
ocorrem mudanças no parcelamento do solo, ocasionando o surgimento de loteamentos,
decorrido da especulação mobiliária.
HISTÓRICO E OBJETIVO DA INSTALAÇÃO DA EMPRESA HORIZONTE MINERALS.
Os primeiros levantamentos no município de Conceição do Araguaia iniciaram há
aproximadamente a cerca de quatro anos, e será instalada uma empresa mineradora de grande
porte, pois já estão sendo feitas estudos para exploração de minério, sendo que os primeiros
levantamentos revelam que este município tem grandes jazidas de níquel. E assim como todo
empreendimento minérário não ocorre de uma oura pra outra, dados do site da empresa afirmam
que em 2017 está previsto para iniciar a exploração mineraria na região.
Segundo os fontes do próprio site da Horizonte Minerals o Projeto Araguaia compreende
múltiplos alvos de exploração de níquel laterítico mineralização que foram identificados no prazo
de 14 licenças de exploração, totalizando 112. 866 há. Após várias negociações internas de
comprar de direitos de explorações e participações entre empresas. Em agosto de 2012 uma pré-
avaliação econômia foi lançado com relação ao Araguaia. Após isso, a companhia avançou o
projeto através de um estudo prévio de viabilidade, com o trabalho adicional, incluindo a
continuação da perfuração e avaliações metalúrgicas.
122
Após a conclusão de uma terceira fase de perfuração de diamante em 2013 um total de
1.412 HQ buracos diamantes, totalizando 35.200 metros foi concluído no projeto Araguaia até o
momento. Em março de 2014 Horizonte completou um pré-estudo de viabilidade o que
demonstra a economia robusta de uma operação de ferro-níquel no Araguaia. As poucas
informações que se tem é do próprio site da Horizonte Minerals:
O projeto níquel Araguaia está localizada na fronteira sudeste do Estado do Pará com o estado do Tocantins, a cerca de 40km ao norte de Conceição do Araguaia(população de 45.557), ao sul da principal Carajás Mining District. O projeto conta com boa infra-estrutura regional, incluindo uma rede de rodovias federais e estradas, com acesso a baixa tarifa de energia hidroelétrica. A cidade portuária de São Luís oferece a facilidade da cadeira de fornecimento primário de in-boud e out-boud logística de manuseio de material a grande de carvão e potencialmente produto Fe-Ni. ( Site, Horizonte Minerals, 2014) .
É notório que os municípios não estão preparados fisicamente para atender a demanda
populacional, isso decorre desde o alojamento ate a alimentação. Tem-se como exemplo os
municípios de Parauapebas onde ocorreu um inchaço populacional, ocasionado pela instalação da
empresa mineradora VALE. Segundo (SILVA, 2007) “A mineração, evidentemente, causa um
impacto ambiental considerável. Ela altera intensamente a área minerada e as áreas vizinhas,
onde são feitos os depósitos de estéril de rejeito” nesse exemplo que o autor coloca fica claro a
modificação do meio ambiente, e os impactos não fica somente no local se extrai os mineiros e
sim se amplia seus reflexos por localidades mais longas.
123
Imagem 01- Localização de Infra-Estrutura.
Fonte: Site- Horizonte Minerals.
Não se pode negar que para uma minoria as rendas e os lucros aumentaram e
aumentarão cada vez mais, porém o questionamento que se põem em debate são os problemas
ambientais e, sobretudo os socioambientais, além da segregação espacial, pois a grande maioria
vive em condições precárias. Abaixo segue uma tabela sobre a reserva de mineral para o projeto
de níquel Araguaia-Marçode 2014.m
Classe Depósito Minério de massa seca (kt)
Ni (%)
Fe (%)
Al2O3 (%)
SiO2/MgO
Provável Baião 3500 1.67 17.41 4,58 2.56
Provável Pequizeiro 9300 1.70 15.58 5.39 2.56
Provável Pequizeiro Ocidente
380 1.57 20.38 4.63 4.29
Provável Jacutinga 960 1.81 15.13 2.96 2.11
Provável Vila Oito Leste 2450 1.55 15.97 3.73 2.22
Provável Vila Oito 3580 1,63 14.61 3.63 2.05
Provável Vila Oito Oeste 1020 1.59 19.35 4.25 3.32
Total Provável 21.200 1,66 16.01 4,59 2.44
Comprovado NIL N / D N / D N / D N / D
Total provadas e prováveis 21.200 1,66 16.01 4,59 2.44
Tabela 01- Mineral Reserva para o projeto de níquel Araguaia-Março de 2014.
Fonte: Site- Horizonte Minerals.
Segundo (SAIDELLES ET AL, 2001) “com a instalação do empreendimento mineiro alguns
fatores não podem ser evitados, o que provoca danos ao meio físico, como por exemplo, o
decapeamento, abertura de trincheiras ou poços cortes, entre outros, causando grandes
modificações no meio biótico”. O projeto minerário dessa região voltar-se-á principalmente para
extração de níquel, que tem em grande abundância na região do Araguaia.
124
Imagem 02- Localização do Projeto Níquel Araguaia.
Fonte: Site- Horizonte Minerals.
A região Amazônica é rica em recursos naturais, e a cobiça por empresas nacionais e
estrangeiras se apropriam a qualquer custo das matérias-primas. Sendo que esses recursos são
vendidos para grandes potências com preços muito abaixo do valor de mercado. A expectativa é
grande da população tanto do município de Conceição do Araguaia, quanto dos municípios
vizinhos para a instalação dessa empresa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É relevante ressaltar que os empreendimentos minerários de certa forma transformam
tantos os aspectos humanos quantos ambientais o trabalho não se finaliza aqui, pois o mesmo
somente procurou instigar o debate acerca das transformações focando os benefícios e os
malefícios da instalação de uma empresa de extração de minérios na região do sudeste paraense.
Cabe a população se apropriar da verdadeira realidade que o município passará nos breves
consecutivos anos, para que possa também contribuir para o desenvolvimento regional, trazendo
um novo viés para a sociedade que tanto almeja por melhores condições de trabalho e de vida.
125
REFERÊNCIAS
HORIZONTE MINERALS. Disponível em <http://horizonteminerals.com/pre_feasibility_study/> Acesso em 19 de abril de 2014.
MONTEIRO, Maurílio de Abreu. Amazônia: mineração, tributação e desenvolvimento regional. Novos cadernos NAE. v. 7, n. 2, p. 159-186, dez. 2004.
SAIDELLES, Fabio Luiz Fleig. KÖNIG, Flávia Gizele. SCHUMACHER Mauro Valdir A atividade mineradora, seus impactos e aspectos de sua recuperação-uma revisão de Literatura. 1 º Simpósio BrasileirodePós-Graduação em Engenharia Florestal. 2011.
SÁNCHEZ, Luis Henrique. Gerenciamento Industrial de indústria de mineração. Revista de Administração, São Paulo v. 29, n.1, p. 67-75, janeiro/março 1994.
SILVA, João Paulo Souza. Impactos ambientais causados por mineração. Revista Espaço Da Sophia - Nº 08 – Mensal – Ano I. Novembro/2007.
VIEIRA, Elias Antonio. A (in) sustentabilidade da indústria da mineração no Brasil. Estação Científica (UNIFAP) Macapá, v. 1, n. 2, p. 01-15, 2011.
126
PERSPECTIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS NO MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS DO ARAGUAIA (PARÁ)
VALTEY MARTINS DE SOUZA NILENE FERREIRA CARDOSO SOUZA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ (UNIFESSPA)
RESUMO: A discussão nesse trabalho será acerca da epistemologia e do ensino de Geografia nas turmas de EJA – Educação de Jovens e Adultos – no município de São Domingos do Araguaia, Pará. Essa discussão se justifica devido a relatos de alunos e alunas acerca de dificuldades no aprendizado na disciplina de Geografia. Portanto, esse estudo mostrará as concepções teóricas presentes nos livros didáticos e nas práticas dos professores. Assim, se realizou uma releitura conceitual acerca dos fundamentos epistemológicos da Geografia, se analisou os livros didáticos da EJA e se pesquisou as concepções teóricas que os docentes adotam. Portanto, o objetivo desse trabalho será o de verificar que concepção teórica os manuais didáticos e os professores de Geografia adotam. Como resultados os estudos apontam para o uso, principalmente, de concepções tradicionais de Geografia nos livros didáticos e nas práticas dos professores. PALAVRAS-CHAVES: Epistemologias de Geografia; EJA; Livro didático.
INTRODUÇÃO
O tema discutido nesse trabalho será a epistemologia e o ensino de Geografia nas turmas
de EJA – Educação de Jovens e Adultos – no município de São Domingos do Araguaia, Pará. Essa
discussão se justifica devido a relatos de alunos e alunas acerca de dificuldade em aprender
Geografia nas turmas de EJA. Assim, o foco desse estudo se dará no uso do livro didático e nas
concepções teóricas adotadas pelos professores.
Como metodologia de elaboração desse trabalho se fez uma releitura conceitual acerca
dos fundamentos epistemológicos da Geografia: Geografia Tradicional; Positivismo Lógico ou
Neopositivismo; Geografia Crítica; Geografia Humanista; e a perspectiva Pós-moderna em
Geografia. Também foram analisados os livros didáticos da EJA para se verificar as concepções
teóricas que tais manuais adotam. Desse modo, foi realizada também uma pesquisa de campo que
visava verificar as concepções teóricas adotadas pelos docentes nas aulas de Geografia.
Os objetivos desse trabalho passam pela verificação da concepção teórica que se
encontram implícitas nos manuais didáticos de Geografia utilizados nas turmas de 3.ª e 4.ª etapas
na Educação de Jovens e Adultos no município de São Domingos do Araguaia, Pará, e as
127
concepções teóricas adotadas pelos professores que ministram a disciplina de Geografia nessas
turmas.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DA GEOGRAFIA
GEOGRAFIA TRADICIONAL
No ponto de vista de Diniz Filho (2009), essa corrente do pensamento geográfico tinha
como pressuposto básico, a ideia de que a geografia é uma ciência de síntese, ou ciência de
contato entre as disciplinas que estudam a natureza e as sociedades. Para esse autor, os temas de
pesquisas principais da Geografia tradicional eram as relações homem-natureza, a distribuição dos
elementos físicos e humanos na superfície da Terra e as formas de integração entre esses
elementos. Pelo menos três vertentes se estabeleceram no estudo desses temas: o determinismo
ambiental, o possibilismo e a abordagem que considera a diferenciação de áreas.
Para Diniz Filho (2009), cada uma dessas vertentes constituía uma proposta diferente de
realização da síntese geográfica, mas aquela que acaba por predominar na primeira metade do
século XX foi aquela que privilegia o estudo regional, mas especificamente em sua versão
possibilista. A escala regional passou a ser vista como aquela em que melhor se realiza a síntese
geográfica, principalmente devido à dificuldade de se estabelecer leis gerais pelo estudo da
relação homem-meio.
POSITIVISMO LÓGICO OU NEOPOSITIVISMO
Como resposta à crise do positivismo clássico, Diniz Filho (2009) aponta surgimento do
neopositivismo nas décadas de 1920 e 1930, no entanto, foi somente a partir dos anos 1950 que
esse método se tornou influente nas ciências sociais e também na geografia. Desse modo, surgiu a
“Geografia Quantitativa”, que passa a substituir o estudo das relações homem-natureza
materializada na paisagem pela sugestão de que o objeto da Geografia é a organização espacial,
isto é, os padrões de distribuição dos elementos físicos e humanos na superfície terrestre e as
relações espaciais.
Para Lencioni (1999), o ponto de vista do positivismo lógico percebe que os resultados de
qualquer investigação devam ser expressos de forma clara, sendo expressivos se afirmarem a
ocorrência de fatos empíricos, devendo, ainda, buscar uma linguagem comum a todas as ciências.
Através da linguagem matemática acontece a possibilidade dessa linguagem comum, sendo a
lógica a demonstração máxima do rigor científico.
128
GEOGRAFIA CRÍTICA
De acordo com Diniz Filho (2009), os adeptos desse modelo geográfico se caracterizam por
objetivarem fazer da geografia uma ciência social capaz de elaborar uma crítica radical ao
capitalismo e por defenderem um conjunto de pressupostos afinados com esse objetivo, dentre os
quais vale destacar três: a tese de que as mazelas socioespaciais e ambientais da época presente
são inerentes ao desenvolvimento do capitalismo; a visão de que a geografia se diferencia das
outras ciências da sociedade justamente por analisar o espaço social e as formas de apropriação
da natureza; e a aversão ao princípio da neutralidade do método, em nome de uma ciência que se
sugere libertadora.
Nesse sentido, segundo Lencioni (1999), a incorporação do marxismo à Geografia priorizou
algumas análises geográficas tornando-as centrais, como por exemplo, o modo de produção
capitalista, as relações sociais de produção, o desenvolvimento das forças produtivas e a ênfase
dada à história.
A PERSPECTIVA HUMANISTA EM GEOGRAFIA
Para Diniz Filho (2009), essa perspectiva da Geografia é a tendência do pensamento
geográfico que estuda as experiências de indivíduos e grupos em relação ao espaço com o escopo
de compreender seus comportamentos e valores. Esse modelo geográfico procura servir como
ferramenta de autoconhecimento para o homem, sendo que o subsídio da Geografia nesse
empreendimento está nos conhecimentos que oferece acerca dos numerosos tipos de percepção,
atitudes e valores relativos ao espaço e à natureza.
Lencioni (2009), afirma que essa abordagem geográfica significou um novo trilhar da
Geografia, fazendo com que o espaço deixasse de ser a referência central devido a sua dimensão
abstrata. Para essa autora, a referência passou a ser o espaço vivido, aquele que é edificado
socialmente a partir da percepção das pessoas. Mais do que isso, espaço vivido pode também ser
entendido como aquele interpretado pelos indivíduos e revelador das práticas sociais.
A PERSPECTIVA PÓS-MODERNISTA
Na perspectiva proposta por Diniz Filho (2009), as epistemologias classificáveis como “Pós-
modernas” se apresentam em oposição frontal tanto as correntes marxistas quanto as positivistas,
pois o foco de suas críticas é justamente a racionalidade do modelo normativo de ciência, que
129
coloca a possibilidade de estabelecer teorias objetivas expressas numa linguagem lógica
(matemática ou discursiva) e a partir da aplicação de métodos austeros.
Visto dessa forma, Diniz Filho (2009) entende que o pós-modernismo não se constitui em
uma corrente político-ideológica definida e muito menos numa escola de pensamento filosófico
e/ou científico. Para esse autor, modernismo e pós-modernismo não são conceitos científicos
operacionalizáveis para o estudo de objetos precisos, mas sim procedimentos que indicam certas
percepções fundamentais que regulam as reflexões e condutas intelectuais, políticas, morais e
estéticas.
Assim, na percepção de Lencioni (1999), os pós-modernistas se caracterizam por um
profundo ecletismo, onde o conhecimento é produzido através da mescla das várias correntes do
pensamento.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada na elaboração desse trabalho foi uma releitura conceitual acerca
dos fundamentos epistemológicos da Geografia, a análise dos livros didáticos da EJA para se
verificar as concepções teóricas que tais manuais adotam, e uma pesquisa de campo que visava
verificar as concepções teóricas adotadas pelos docentes nas aulas de Geografia. Assim, a
pesquisa foi feita com um número de 11 (onze) educadores da disciplina de Geografia vinculados
ao município e ao estado. Se utilizou questionários estruturados que incluíam questões (catorze
no total) que se relacionavam a formação dos professores da EJA, ao tempo de trabalho nesse
segmento, as turmas que o professor trabalha, a escolha ou não dos conteúdos, o planejamento, a
escolha do livro didático (através do livro escolhido e da contextualização, verifica-se a corrente
epistemológica adotada pelo professor), a contextualização dos assuntos abordados em sala de
aula, o material didático utilizado (através deles e das próximas questões, se nota as práticas do
professor), as técnicas que o professor utiliza para ministrar suas aulas, a preferência do professor
com relação ao modo como os alunos devem se comportar durante as aulas, o modo como o
docente vê o desinteresse de alguns alunos pelas aulas e a maneira como o professor avalia o
alunado. Foram realizadas gravações das falas e anotações para que os dados fossem compilados,
bem como fotografias foram tiradas para compor o registro do ensino de Geografia na EJA no
município de São Domingos do Araguaia. Os dados coletados nas entrevistas são apresentados na
forma de percentuais.
130
RESULTADO E DISCUSSÃO
ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA DA EJA
Os livros didáticos utilizados nas turmas de 3.ª e 4.ª etapas da EJA3 no município de São
Domingos do Araguaia, Pará, no ano letivo de 2009, são livros integrados (volume único), com
cinco disciplinas: Português, Matemática, História, Geografia e Ciências. Esses manuais didáticos
fazem parte da Coleção Novo Curupira, editados no ano de 2005 pela Editora Amazônia, e foram
distribuídos às escolas pela Secretaria de Estado de Educação.
Desse modo, é muito importante destacar que o principal objetivo nesse momento, é o de
analisar somente o conteúdo de Geografia contido nesses manuais4, verificando quais as bases
teóricas contidas nos mesmos. Assim, o procedimento adotado será o de ponderar primeiro, sobre
o conteúdo de 3.ª etapa, para depois verificar o de 4.ª etapa. Desse modo, se verificará se os
conteúdos da disciplina de Geografia abordam a Geografia Tradicional, a Teorética-quantitativa, a
Crítica, a da Percepção ou a Pós-modernista.
ANALISANDO OS CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA DAS TURMAS DE 3.ª ETAPAS
Em um primeiro momento se abordará o que se entende estar faltando ou que existe em
pequena quantidade no manual analisado. Na sequência, se abordará a concepção teórica que os
autores parecem defender.
No caso específico do conteúdo analisado em Duarte e Bastos (2005), as ilustrações se
apresentam demasiadamente pequenas, quase imperceptíveis, os poucos mapas que ilustram o
conteúdo em pauta, são diminutos a ponto de as letras se tornarem demasiadamente pequenas,
quase invisíveis aos olhos cansados dos adultos que frequentam os bancos das escolas que
oferecem essa forma de ensino, a EJA.
Nessa conjuntura, se verificou também em Duarte e Bastos (2005), que alguns conceitos
precisavam ser mais bem discutidos. Na página 1635, os autores falam de lugar6, no entanto, não
valorizam e nem discutem esse conceito, dando uma ideia que essa definição é abstrata, sem
nenhuma relação com o local, que é o espaço que os alunos e alunas mais interagem.
3 As turmas de 3.ª etapas da EJA correspondem às turmas de 6.º e 7.º ano do Ensino Regular, e as turmas de 4.ª etapas desse mesmo modelo, equivalem as turmas de 8.º e 9.º ano. 4 Os conteúdos de Geografia contidos nos livros de 3.ª e 4.ª etapas são de autoria de Kleber Duarte e Sandra Bastos. 5 O manual de Geografia está entre as páginas 141 a 186. 6 Na percepção de Cunha (2008), esse termo pode ser entendido como o espaço preenchido, não desordenadamente, mas a partir de significados de quem os ocupa. Para essa autora, os lugares são preenchidos por subjetividades e vão se constituindo lentamente, passando a ser dotados de valores e inserindo-se na geografia social de um grupo, que passa a percebê-los como sua base, sua expressão.
131
Outro conceito que Duarte e Bastos (2005) só mencionam (página 163) e não chegam a se
aprofundar, é a definição de fronteira7. Eles fazem um breve comentário sobre a temática em
questão, se apegando mais ao sentido de fronteira física, se esquecendo que existem outras
fronteiras que são construídas socialmente, como a cultural, a econômica e a religiosa, por
exemplo. Nesse caso, se houvesse um aprofundamento na temática facilitaria o entendimento dos
educandos, pois, esse seria um dos momentos de se fazer um “gancho” com os conhecimentos
que os alunos e alunas trazem de seus cotidianos.
Visto sob essas condições, Duarte e Bastos (2005) também deixaram a desejar quando
falam sobre outro conceito bastante discutido pela Geografia, o território8. Esses autores, nas
páginas 165 e 166, discorreram sobre o território brasileiro, sem mencionar por um só momento,
o significado de tal conceito. Nesse caso, ainda não fizeram a devida relação entre o local, o
regional, o nacional e o global. Parece-me que esses autores estão com um problema de escala.
Nessas condições, entende-se que Duarte e Bastos (2005), ao falarem do Mercosul (página
166), não apresentam mapas para facilitar o entendimento dos educandos, e nem fazem a devida
relação do local com as outras escalas que levam ao global. Além disso, ao mencionarem a
pluralidade cultural em um só parágrafo de sete linhas, se esqueceram que deveriam se
aprofundar um pouco mais na temática9, pois a população amazônica se apresenta multifacetada,
se caracterizando por uma intensa mistura de raças e culturas.
Desse modo, se entende ainda, que no momento de falar dos conflitos agrários, Duarte e
Bastos (2005) deixaram a desejar por não conseguirem espacializar tais conflitos através de
mapas, mostrando onde eles ocorrem com maior frequência. Assim, para um maior entendimento
por parte do alunado, teria sido mais aproveitável se os autores houvessem feito a ponte entre os
conflitos agrários e a implantação de Grandes Projetos, principalmente os minerais.
Nesses termos, entende-se que o aprendizado de forma eficaz fica comprometido. Além do
mais, entende-se que Duarte e Bastos (2005), em determinado momento (página 163), ao falarem
de território se prendem muito aos temas de pesquisas principais da Geografia Tradicional, que
7 De acordo com Nogueira (2007), fronteira não precisa, necessariamente, ser vista apenas como a linha física que demarca os territórios, ela pode ser vista como vivida, pois assim, nos remete para a relação entre o ser e o lugar, não podendo passar ao largo da questão da identidade com o lugar, como referência identitária, ou seja, com uma identidade territorial cuja manifestação empírica, é a própria experiência de habitar este lugar. 8 Cunha (2008), ao analisar Lopes, define território como um espaço mediado pelas representações construídas por um determinado grupo ao estabelecer seu poder frente a outro e que se apropria do espaço como forma de sua expressão e projeção. 9 Entende-se que apesar do livro em questão ter sido editado pela Editora Amazônia, o mesmo é de responsabilidade do governo estadual, pois foi tal governo que o escolheu como manual didático a ser distribuído a EJA de todo o estado do Pará.
132
eram as relações homem-natureza, a distribuição dos elementos físicos e humanos na superfície
da Terra e as formas de integração entre esses elementos.
Assim, entende-se que Duarte e Bastos (2005) corroboram com a corrente tradicional da
Geografia ao elaborarem atividades que se prendem a questões como as da página 157, por
exemplo: “Que fenômeno está representado no mapa?”, “Como você o classifica?”, O que indica a
legenda do Mapa?” e “Que conclusões você pode tirar sobre o tema demonstrado?”.
Desse modo, entende-se também, que Duarte e Bastos (2005) apresentam resquícios da
chamada Geografia Crítica ao falarem do processo histórico de construção das regiões brasileiras,
em especial, o Nordeste. Nesse caso, foi dada uma maior ênfase a exploração econômica como
motor no processo de criação/formação da região. Entretanto, aparece uma característica do
tradicionalismo geográfico quando os autores compartimentam a região em “O Agreste”, “O
Sertão” e “O Meio-Norte”. Dentro desta compartimentação “O Sertão” é estudado pelo viés de
sua divisão em clima, vegetação, hidrografia e atividades econômicas. Caracterizando dessa
maneira, uma utilização de artifícios característicos do viés tradicional da Geografia, portanto,
compreende-se que Duarte e Bastos (2005) parecem se prender mais a esse último modelo
geográfico citado.
ANALISANDO OS CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA DAS 4ª ETAPAS
Como foi feito na análise dos conteúdos de geografia das turmas de 3.ª etapas, em
primeiro lugar se apontará as possíveis falhas, para depois, falar das concepções teóricas que
podem estar contidas neles.
Ao falar do mundo e das diversas mudanças no espaço geográfico, logo no início do
conteúdo geográfico, Duarte e Bastos (2005a), citam as diferentes culturas, línguas, religiões e
riquezas materiais, entretanto, apenas citam sem nenhum aprofundamento, sem nenhuma
análise ou relação entre eles.
Esse mesmo raciocínio é utilizado para regionalizar o mundo. Quando Duarte e Bastos
(2005a) falam de Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, se esquecem de conceituá-los, ou
mesmo discorrer um pouco mais sobre essa temática, apresentando somente as características
dos mesmos. Duarte e Bastos (2005a) ainda falam da divisão do mundo em Primeiro, Segundo e
Terceiro Mundos, Norte e Sul. No entanto, apesar dessas regionalizações ainda serem utilizadas
por alguns autores, os articulistas do conteúdo em pauta, se esqueceram de apontar as falhas
dessas formas de regionalizar o mundo.
133
Nesse cenário, quando Duarte e Bastos (2005a) falam da América Anglo-saxônica, da
América Latina, da América Central, da Europa, da Ásia, da África e da Oceania, compartimentam o
estudo de cada uma delas em aspectos físicos (relevo, hidrografia, climas e vegetação), aspectos
humanos e aspectos econômicos. Portanto, as temáticas discutidas por esses autores, apresentam
forte característica do tradicionalismo geográfico, principalmente por nos passar a ideia de que os
mencionados aspectos são estanques e não mantém relações entre si.
Além disso, as atividades sugeridas por Duarte e Bastos (2005a) são do tipo: “O que são os
Belts?”, “Qual a base da economia da América Central?” e “Por que a África do Sul não entrou
numa guerra civil após o regime do Apartheid?”. Notou-se que questões como essas não
proporcionam análise e nem a relação entre o assunto e o cotidiano dos educandos, dessa forma,
entende-se que a concepção teórica adotada pelos autores é a de cunho tradicional.
O ENSINO DE GEOGRAFIA NAS TURMAS DE 3.ª E 4.ª ETAPA NO MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS
DO ARAGUAIA, PARÁ
Para analisar o ensino da disciplina de Geografia nas turmas de 3.ª e 4.ª etapa no município
de São Domingos do Araguaia, Pará, se realizou uma pesquisa de campo junto a professores que
ministram essa disciplina. Durante a pesquisa, detectou-se que dos onze professores pesquisados,
27,27% são pedagogos, 18,18% são licenciados em Letras, 18,18% são licenciados em Matemática,
18,18% são licenciados em História e somente 18,18% são licenciados em Geografia. Nota-se que
81,81% (nove dos onze entrevistados) dos docentes não possuem a formação necessária, e essa é
uma condição sine qua non para que o aprendizado aconteça. Notou-se também, que a grande
maioria dos docentes, 81,81%, possuem uma experiência de quatro anos ou menos, e 18,18%
apresentam uma experiência de 5 anos ou mais que isso. Esse também pode ser um dos fatores
que contribuem para o aumento nas dificuldades dos alunos e alunas em aprender os
conhecimentos geográficos, pois, na percepção de Romanowski (2007), “Os saberes da experiência
são os conhecimentos adquiridos durante a prática. São resultantes do fazer (p. 57)”. Assim, a
inexperiência da maioria dos docentes pesquisados pode contribuir para dificultar o aprendizado,
pois na perspectiva de Souza (2005), citada por Romanowski (2007), ficou evidenciado em
pesquisas, que os professores iniciantes estão mais preocupados em sistematizar os conteúdos de
ensino e os professores mais experientes estão mais preocupados com a aprendizagem e as
dificuldades dos alunos.
Nesses termos, quanto ao planejamento das aulas, somente 27,27% planejam todas as
aulas, sendo que os 72,72% restantes planejam a maioria ou apenas algumas. Isso é preocupante,
134
pois, segundo Stefanello (2008), o planejamento é um instrumento primordial, devido nortear
todo o trabalho do sistema escolar e, inclusive, ajuda na formação de uma sociedade com
indivíduos que pensam criticamente. Portanto, quando o docente for planejar suas aulas, deve
escolher previamente os conteúdos a ser ministrados e não fazer como os 9,09% dos
entrevistados que afirmaram apenas seguir a sequência que se apresenta no livro didático.
No tocante a escolha do livro didático, se verificou que 45,45% dos entrevistados
apresentam características de geógrafos críticos, pois, preferem livros que privilegiam o contexto
econômico, social e político. Os 18,18% que disseram escolher os livros que dividem o espaço
quanto aos seus recursos como o relevo, o clima, a hidrografia, a vegetação, a sociedade, parecem
apresentarem mais características da Geografia Tradicional que vê o espaço de forma
compartimentada. Os 9,09% que disseram gostarem mais dos livros que falam das representações
que as pessoas fazem do espaço em particular, parecem se identificarem mais com a Geografia da
Percepção e do Comportamento. Os 27,27% restantes parecem trabalharem em favor da
Geografia Teorética-quantitativa, pois afirmaram escolher os manuais que apresentam um
número grande de mapas, gráficos e tabelas.
Na parte que fala da contextualização dos assuntos abordados em sala de aula, parece que
36,36% dos entrevistados compartilham a causa da Geografia que dá ênfase ao modo como o
alunado entende/explica o espaço e o lugar vivido por eles, se utilizando dos conhecimentos
prévios dos educando, pois, esse tipo de contextualização requer a participação dos mesmos para
se construir o conhecimento. Os que disseram preferirem contextualizar utilizando exemplos que
privilegiam a história e a economia do lugar, parece optarem pelo viés crítico dos conhecimentos
geográficos. No entanto, 18,18% falaram que os exemplos preferidos são os que usam números e
estatísticas, caracterizando assim, a opção pela Nova Geografia.
Nessa mesma linha de raciocínio, notou-se que todos os entrevistados afirmaram usar o
livro didático, de modo que 27,27% deles usam também jornais, revistas e músicas, 18,18% usam,
além do manual, músicas e vídeos. 36,36% disseram fazer uso de todos os recursos citados até
agora mais história em quadrinhos. O dado preocupante fica por conta dos 18,18% que falaram
fazer uso apenas do livro didático. Assim, comprova-se que a maioria deles utiliza outros recursos
que vão para além do uso do manual didático. Assim, esse pode ser um ponto positivo a favor da
maioria dos professores de geografia da EJA no município estudado.
No que se refere ao modo como os docentes ministram suas aulas, a grande maioria,
81,81% afirmaram que preferem as aulas em que o professor ao explicar o conteúdo, permite que
o aluno tenha voz e dialogue para a construção do conhecimento. Esse tipo de aula, a expositiva
135
dialógica, é entendido por Lopes (1993), como a forma de aula que utiliza o diálogo entre o
professor e os alunos para estabelecer uma relação de intercâmbio de conhecimentos e
experiências. Os 18,18% que disseram ministrar a maioria das aulas de forma expositiva, parecem
serem adeptos da Geografia Tradicional que, segundo Lopes (1993), essa técnica tem sido
identificada como a mais tradicional das técnicas de ensino.
Nessa pesquisa ainda se observou que 72,72% dos docentes preferem terem suas
explanações interrompidas para que os alunos perguntem e tirem suas dúvidas. Esse fato é uma
característica apresentada pela construção do conhecimento, pois, dessa forma, pode ocorrer o
diálogo entre dois sujeitos desse processo: o(a) aluno(a) e o(a) professor(a). Os 27,27% que
disseram preferir que os alunos só interrompessem as aulas após a explicação para não cortar o
raciocínio do professor, parecem intercederem por uma Geografia Tradicional em que o aluno
deve “se comportar” devido a(o) fala/discurso do professor ser mais importante que as dúvidas
que por ventura surgirem.
Quanto à opinião dos professores a respeito do modo como eles veem os educandos, se
entende como preocupante o relato de 18,18% dos entrevistados que entendem como
preguiçosos os alunos que não demonstram interesse pelas aulas. Entende-se que eles deveriam
concordar com os 81,81%, que acham que essa falta de interesse pode estar ligada ao cansaço
pelo trabalho diário ou a falta do uso de uma nova metodologia que chame a atenção para as
aulas.
Quanto ao modo como os professores avaliam os alunos, a maioria, 81,81% afirmou que o
método utilizado é o processual, onde são considerados todos os aspectos pedagógicos
desenvolvidos em sala de aula. Parece que Melo; Urbanetz (2008) também concordam com esse
método avaliativo, pois, dizem que para a avaliação ser eficiente ela precisa acontecer
permanentemente durante todo o processo educativo. Os dados preocupantes ficam por conta
dos 18,18% que afirmaram que na hora de avaliar os alunos e alunas, fazem somente uma prova
escrita, preferencialmente com questões objetivas, pois assim, fica mais fácil de corrigir.
CONCLUSÃO
Conclui-se então que os manuais didáticos utilizados na EJA do município de São Domingos
do Araguaia, Pará, fazem uso da Geografia Tradicional, que é aquele modelo em que está presente
a ideia de que a geografia é uma ciência de síntese, ou ciência de contato entre as disciplinas que
estudam a natureza e as sociedades. Isso ficou bem claro na forma como os conteúdos dos
manuais didáticos foram organizados, sintetizando conhecimentos de Geografia e de outras
136
disciplinas, de forma que houve a compartimentação entre os elementos da natureza e os
elementos humanos presentes no espaço.
Quanto às concepções teóricas adotadas pelos professores da EJA local, entende-se que
uns adotam a concepção Tradicional de Geografia, outros a concepção Crítica da Geografia, outros
preferem o entendimento da Geografia Teorética-quantitativa, e ainda há os que dão mais ênfase
à Geografia Humanista. Essas concepções ficaram bastante claras, principalmente, na escolha do
livro didático, no modo como ministram as aulas e na maneira de avaliar os discentes.
REFERÊNCIAS
CUNHA, M. I. Os conceitos de espaço, lugar e território nos processos analíticos da formação dos docentes universitários. In: Educação Unisinos, v. 12, n. 3, set/dez, 2008. Disponível em: <http://www.unisinos.br/publicacoes_cientificas/images/stories/pdfs_educacao/vol12n3/182a186_art03_cunha.pdf>. Acessado em: 25 jan. 2010.
DINIZ FILHO, L. L. Fundamentos Epistemológicos da Geografia. – Curitiba, Ibpex, 2009. (Coleção metodologia do ensino de História e Geografia; v. 6).
DUARTE, K; BASTOS, S. Educação de Jovens e Adultos: livro integrado. Volume único. - 3 etapa. Belém, Amazônia, 2005.
_______. Educação de Jovens e Adultos: livro integrado. Volume único. - 4 etapa. Belém, Amazônia, 2005a.
LENCIONI, S. Região e geografia. São Paulo, Edusp, 1999.
LOPES, A. O. Aula Expositiva: Superando o Tradicional. In: PASSOS, I; VEIGA, A. (orgs.). Técnicas de ensino: por que não? 2 ed. Campinas, Papirus, 1993. (Coleção magistério: Formação e trabalho pedagógico).
MELO, A; URBANETZ. S. T. Fundamentos de didática. Curitiba, Ibpex, 2008.
NOGUEIRA, R. J. B. Fronteira: espaço de referência identitária? In: Rev. eletrônica Ateliê Geográfico. v. 1, n. 2, Goiânia, 2007. (p. 27-41). Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/atelie/article/viewFile/3013/3051>. Acessado em: 25 jan. 2010.
ROMANOWSKI, J. P. Formação e profissionalização docente. 3 ed. ver. e atual. – Curitiba, Ibpex, 2007.
SOUZA, G. M. R. Professor reflexivo no ensino superior: intervenção na prática pedagógica. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2005.
STEFANELLO, A. C. Didática e avaliação da aprendizagem no ensino de geografia. Curitiba, Ibpex, 2008.
137
POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS MUNICIPAIS EM MARABÁ (PARÁ):
a perspectiva dos direitos individuais e coletivos
RAFAEL DOS SANTOS CARVALHO LYWELTHON NASCIMENTO DA SILVA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ (UNIFESSPA)
RESUMO: Este artigo discute as políticas públicas educacionais em Marabá-PA sob a perspectiva dos direitos individuais e coletivos. Inicia-se com a apresentação do conceito de políticas públicas educacionais e, em seguida, discutiremos as metodologias e as políticas públicas em Marabá-PA, sobretudo sob a análise dos processos de implementação, execução e formas de atendimento dessas políticas sobre três eixos de analise: Educação Especial; Educação Infantil e Educação EJA, aqui compreendidas como direito do cidadão. Finalmente, são apresentados os resultados obtidos, esperando cumprir com a nossa missão de produzir, socializar e transformar o conhecimento na Amazônia para a formação de cidadãos capazes de promover a construção de uma sociedade sustentável. PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas Educacionais; Educação Infantil; Educação Inclusiva; Educação EJA. INTRODUÇÃO
As políticas públicas educacionais ao longo dos anos vêm sendo cada vez mais alvo de
debates, seja em torno da Geografia ou das demais ciências. Todavia, é necessário definirmos o
que são políticas públicas para avançarmos nosso debate. Segundo Azevedo (2003), política
pública se refere a tudo o que um governo faz ou deixa de fazer, levando em consideração suas
ações ou omissões. Nesse sentido, se política pública é tudo aquilo que um governo faz ou deixa
de fazer, políticas públicas educacionais é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer em
relação à educação. Segundo Oliveira (2007), políticas educacionais é um foco mais específico do
tratamento da educação, que em geral se aplica às questões escolares. Em outras palavras, pode-
se dizer que políticas públicas educacionais dizem respeito à educação escolar. Nesse caso,
entende-se por políticas públicas educacionais aquelas que regulam e orientam os sistemas de
ensino, instituindo a educação escolar.
Pensar a problemática das políticas públicas educacionais sob a perspectiva dos direitos
individuais e coletivos sugere compreender que todos somos cidadãos de direitos e deveres. Na
perspectiva apresentada por Lefebvre (2002) e Cavalcanti (2008) esse direito envolve o direito à
cidade, à educação, à formação política dos cidadãos para exercerem a cidadania e o direito a
138
participarem da vida pública, das decisões em conjunto. Essa formação, segundo Cavalcanti
(2008), pode ser obtida na escola. Entretanto, acreditamos que o direito a ter onde estudar, o
direito ao acesso às escolas, creches, salas multifuncionais que possam atender as normas de
acessibilidade e a condições de ensino de qualidade, são direitos individuais e coletivos, sendo
fundamentais para o cidadão.
É com essa visão que nos propomos analisar as políticas públicas educacionais, verificando
as formas de implementação, execução e acessibilidade dos locais de ensino.
Tendo em vista os processos de implementação e execução dessas políticas, este artigo
apresenta a perspectiva dos direitos individuais e coletivos a partir de análises das políticas
públicas educacionais do município de Marabá-PA. Nesse sentido, tem como objetivo a
observação do processo de implementação da Educação Infantil, Educação de Jovens e Adultos -
EJA e Educação especial, no tocante à criação de creches, pré-escolas, escolas e salas
multifuncionais, analisando as formas de atendimento e a execução técnica das formas de
acessibilidade de acordo com a lei 10.048/2000, e recursos aos alunos com necessidades
educacionais especiais.
Somos guiados por três eixos temáticos que consideramos fundamentais para a melhoria
da qualidade da educação básica em nosso município: a observação sobre o processo de
implementação da educação infantil; observação da execução técnica das formas de acessibilidade
e de recursos aos alunos com deficiência; observação das formas de atendimentos nas escolas aos
alunos da Educação de Jovens e Adultos – EJA em Marabá-PA, parcelas de alunos que ao longo da
história da educação brasileira vem estando à margem dos sistemas de educação, precipuamente
em nossa mesorregião.
METODOLOGIA
Conforme exemplifica Moroz & Gianfaldoni (2002, p.21), a pesquisa científica caracteriza-
se pelo procedimento sistemático de busca de solução para determinado problema, e como uma
das metas principais é a observação das políticas públicas educacionais municipais voltadas para o
desenvolvimento da Educação Infantil, Educação Inclusiva e Educação de Jovens e Adultos, sendo
o lócus de observação os órgãos do sistema municipal de educação e as escolas, onde realizamos
os levantamentos dos dados referentes aos três eixos temáticos já abordados, usamos como
procedimentos metodológicos as entrevistas, pesquisa de campo, aplicação de formulários,
observações, além de levantamentos documentais, caracterizando a pesquisa qualitativo-
quantitativa, escolhidos por favorecer uma maior diversidade de informações.
139
DISCUSSÃO
A educação básica tem passado por precarizações em torno dos seus sistemas de ensino,
tanto pela dificuldade de implementação de escolas, creches, salas multifuncionais, garantindo a
matrícula e permanência dos alunos, como pela dificuldade de cumprirem com suas obrigações
legais impostas pela Constituição Federal de 1988 e LDB 9394/96, que institui a competência dos
entes federados, incumbindo aos municípios de oferecer a educação infantil em creches e pré-
escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental.
Sabendo da necessidade das políticas públicas educacionais em garantir acesso e
permanência aos educandos nos diversos níveis de ensino, surge a necessidade de elencar
parâmetros de qualidade que possam nortear a elaboração e execução dessas políticas
educacionais em consonância aos direitos individuais e coletivos. Nesse sentido, os municípios ao
longo dos anos têm passado por processos de expansão urbana, e essa expansão tem originado
novos meios de habitação, muitas vezes à margem dos agentes econômicos e sociais,
proporcionando o aumento da segregação urbana. Esse processo de expansão urbana exige a
construção de novos espaços educacionais, pois existem novas demandas a serem compreendidas
pelas políticas públicas educacionais. Por essas demandas possuírem necessidades urgentes de
espaços educativos como creches, pré-escolas, escolas e salas multifuncionais, as construções tem
se manifestado de forma irregular ao cumprimento da lei 10.048/2000, dificultando o acesso às
escolas e aos espaços públicos. Da mesma forma, as aulas em diversos casos funcionam em
lugares precários e não suportam a demanda dos alunos, além de não garantirem o acesso e a
permanência aos educandos, infligindo os direitos garantidos por lei, assim como “o direito à
cidade e à educação” (Lefebvre 2002; Cavalcanti 2008).
Com base nesses parâmetros, ou seja, a partir dos direitos individuais e coletivos, foram
averiguadas as formas e condições de ensino, verificando se os estabelecimentos escolares
atendem a demanda municipal e se estes possuem equipamentos e normas de acessibilidade e
que estejam em cumprimento com as legislações vigentes.
RESULTADOS
Os resultados obtidos nos possibilitou uma maior compreensão do cenário educacional de
Marabá. Atualmente e sempre a partir dos dados já recolhidos em campo, no Plano Municipal de
Educação de Marabá vigente e também pelo estudo realizado, podemos asseverar as seguintes
informações em relação:
140
1 – Eixo de Educação Infantil: número de creches e pré-escolas escolas ainda bastante inferior à
demanda de alunos em todos os núcleos e bairros da cidade. Detectamos então que para uma
população de mais de 250 mil habitantes, só existem 23 núcleos de educação infantil na zona
urbana e 02 na zona rural (Plano Municipal de Educação de Marabá-Pará-2012-2021), sendo que
pelos dados da observação e levando em consideração os Parâmetros de Qualidade para Educação
infantil (2006), essas escolas não obedecem à maioria dos Princípios de Qualidade determinados
pelo Ministério da Educação - MEC.
Assim, no que se refere à educação infantil, ao mesmo tempo em que as escolas se apresentaram
insuficientes para a demanda de alunos, a maioria das escolas não estão de acordo com as normas
de acessibilidade, dificultando o acesso dos alunos com deficiência a esses espaços educacionais.
2 – Eixo da Educação Inclusiva: Salas de recursos/multifuncionais em número insuficiente para o
atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais matriculados nas turmas
regulares, número insuficiente de professores por sala para realização do Atendimento
Educacional Especializado - AEE, o que reflete na baixa qualidade da educação desses alunos e os
impossibilita de prosseguir com sucesso aos outros níveis. Também foram detectados a falta de
equipamentos técnicos (como as lupas), que servem de auxilio aos alunos.
3 – Eixo de Educação de Jovens e Adultos – EJA: Sabendo da necessidade de ampliação da
concepção de Educação de Jovens e Adultos – EJA pela sociedade, a qual não deve ser vista apenas
como um simples processo de escolarização aos que não conseguiram permanecer na idade
própria na escola, mas sim como um direito de aprender e de ampliar conhecimentos que
permitam a todos os alunos prosseguirem com sucesso até os níveis mais altos de escolaridade, é
que nesse estudo verificamos algumas necessidades urgentes em relação a essa modalidade-EJA:
inexistência nas escolas consultadas e que ofertam a Educação de Jovens e Adultos de uma
Proposta Curricular específica e adaptada às reais condições dos alunos atendidos; evasão
expressiva em algumas escolas.
Ainda consideramos resultados de nossas análises as palestras e encontros unindo
graduandos e professores da educação superior da Universidade Federal do Pará - UFPA e da
Secretaria Municipal de Educação de Marabá - SEMED, que realizamos para socializar os
conhecimentos e despertar o interesse para essa temática. Elaboramos o I encontro sobre a
temática: Observatório das Políticas Públicas Educacionais do Município de Marabá-Pará, que
serviu também como comprovação das atividades curriculares independentes a todos os alunos
participantes. Nesse evento também foi socializado, através de grupos de trabalho (GTs),
141
informações concernentes à documentação nacional relacionada aos três eixos: Educação Infantil,
Educação Inclusiva e Educação de Jovens e Adultos e de alguns dados da educação do município.
Uma grande contribuição foi favorecer aos alunos das licenciaturas uma compreensão
mais aprofundada acerca dos direitos humanos e do conceito de cidadania, de políticas públicas
educacionais, pois acreditamos que é só a partir do reconhecimento das diferenças e na
participação dos sujeitos, que poderá haver maior compreensão dos mecanismos e processos de
hierarquização que operam na regulação e produção das desigualdades.
Todos precisam compreender essa problematização, pois ela explicita os processos
normativos de distinção dos alunos em razão de características intelectuais, físicas, culturais,
sociais e linguísticas, entre outras, estruturantes do modelo tradicional de educação.
CONCLUSÃO
Por mais que as políticas públicas educacionais municipais em Marabá-PA possam estar
sendo desenvolvidas, reconhecemos que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino
demonstram ainda enormes problemáticas com evidência nas políticas públicas educacionais
desenvolvidas pelos municípios. Assim, pelos dados levantados até o momento não vimos
prioridade do município de Marabá-Pará com a Educação Infantil, Educação Inclusiva e a Educação
de Jovens e Adultos, modalidades do ensino fundamental e também direito compulsório das
crianças e adolescentes marabaenses.
Portanto, destacamos até aqui as contribuições desta pesquisa, que atualmente encontra-
se inativa devido algumas problemáticas envolvendo o projeto de extensão ao qual estava
vinculada, ocorrido no processo de transição da Universidade Federal do Pará - UFPA para
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA, culminando na desvinculação do
projeto de âmbito da UFPA.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Sérgio de. Políticas públicas: discutindo modelos e alguns problemas de implementação. In: _____. Políticas públicas e gestão local: programa interdisciplinar de capacitação de conselheiros municipais. Rio de Janeiro: FASE, 2003.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Parâmetros de Qualidade para Educação Infantil. Vol. Brasília-DF. 2006.
142
BRASIL. Lei nº 10.048 de 08 de Novembro de 2000. Dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10048.htm>. Acesso em 10 dez. 2013.
BRASIL. Lei nº 9394 de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 10 dez. 2013.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br /ccivil_03/constituicao/constitui% C3%A7ao.htm>. Acesso em: 11 ago. 2013.
CAVALCANTI, Lana de Souza. A geografia escolar e a cidade: Ensaios sobre o ensino de geografia para a vida cotidiana. São Paulo. Papirus, 2008.
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo. Cortez, 2009.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo. Morais, 1991.
LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte. Ed. da UFMG.
MARABÁ. Plano Municipal de Marabá-2012-2021. Secretaria Municipal de Educação. 2012.
MOROZ, M & GIANFALDONI, M. O Processo de Pesquisa: Iniciação. Brasília. Ed. Plano, 2002.
OLIVEIRA, Adão F. de. Percalços da escola e desafios da educação. In:___. Educação na alternância: cidadania e inclusão social no meio rural brasileiro. Goiânia: Editora da UCG, 2007.
143
O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA
NA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA AMAZÔNIA
THIAGO SILVA DA CRUZ UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA)
RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo de discutir a formação sócio-espacial da Amazônia a partir da contribuição do sagrado pregado pela Igreja Católica Apostólica Romana, desde o período colonial com o surgimento de diversas cidades através das ações dos missionários religiosos, até a atualidade exercendo a sua influência na paisagem e na forma urbana com seus espaços sagrados impregnados de simbolismos. PALAVRAS-CHAVE: Sagrado. Igreja Católica. Cidade.
INTRODUÇÃO
A atual configuração das cidades amazônicas é fruto de um processo complexo e
dinâmico que remonta ao período colonial com os portugueses sendo os principais responsáveis
pelo surgimento de cidades com grandes características europeias. Porém, a Igreja esteve
presente na região desde o inicio da colonização através dos missionários dominicanos,
agostinhos, carmelitas, mercedários, franciscanos e os jesuítas que contribuíram
significativamente na formação do espaço geográfico amazônico.
O inicio da ocupação e conquista da Amazônia no século XVII estava pautada na política
portuguesa de expansão territorial e soberania lusitana, pois o espaço recém-descoberto era
constantemente invadido por outros países interessados no domínio da região. A via de transporte
e o único meio de adentrar a região na época eram através dos rios que exerceu importância
fundamental no controle do território, ou seja, o controle dos principais rios significaria o domínio
do espaço amazônico, haja vista, que os núcleos urbanos surgidos na época localizavam-se as
margens dos rios. Os fortes levantados pela força militar da coroa portuguesa ao longo do rio
amazonas e seus afluentes representavam a estratégia de defender os territórios conquistados e
afastar as possíveis ameaças estrangeiras.
A fundação da cidade de Belém em 1612 e as sucessivas operações militares que
ocorreram após esse fato, demostra o real interesse dos portugueses no controle e na expansão
de suas fronteiras. A política de domínio e ocupação fez surgir os primeiros núcleos de
povoamento que se difundiram pela Amazônia, alguns dos povoados desse período encontra-se
hoje como centros urbanos. A consolidação dos núcleos de povoamento e o contato com a
natureza possibilitaram o descobrimento de drogas e especiarias que despertaram o interesse da
144
coroa portuguesa em explorar os recursos naturais da região, isso contribuiu para o surgimento de
outros núcleos de povoamento.
Com o domínio do território os portugueses procuraram durante todo o período colonial
diversas maneiras de manter e fortalecer, tanto no aspecto demográfico quanto no econômico, os
núcleos de povoamento para garantir a subsistência dos mesmos. Para isso foram adotadas
estratégias de povoamento com povos oriundos de Portugal, primeiramente famílias da ilha de
Açores e posteriormente com aventureiros e criminosos de toda espécie que seriam responsáveis
pelo desenvolvimento da lavoura na Amazônia.
Neste cenário as missões religiosas contribuíam no controle dos povos indígenas que
habitavam a região, onde as ações missionárias neste período estavam voltadas exclusivamente
para a educação religiosa dos povos pré-existentes, almejando a transformação dos índios em
cristãos e o convívio amigável dos mesmos com os colonizadores, defendendo ao máximo os
indígenas das investidas lusitanas em escraviza-los. Porém, a influência da igreja começa a mudar
com ações de caráter econômico, visando não apenas recursos para a catequese, mas buscando
condições de formar os futuros missionários na própria região, obra que não poderia se realizado
sem recursos.
A CONQUISTA DO ESPAÇO AMAZÔNICO: OS PORTUGUESES E OS MISSIONÁRIOS RELIGIOSOS.
Como afirma SIGNES (2011) o inicio da expansão da colonização na América estava
marcado pela divisão entre dois agentes fundamentais, por um lado, o Estado sendo responsável
pelas políticas de conquista e povoamento, de outro, a Igreja estando a cargo do “controle de
almas” dos povos que habitavam o território recém-descoberto. As relações entre essas duas
instituições variavam, encontrando casos em que o Estado era subordinado a Igreja, pois algumas
ordens religiosas possuíam certa autonomia em relação ao poder estatal, destacando-se a
Companhia de Jesus que seguia sua própria constituição.
Neste período vários aldeamentos missionários foram criados com o deslocamento de
diversos povos indígenas para essas áreas, esse processo trouxe uma grande mudança na
composição ética e cultura da Amazônia com inserção de costumes europeus até então
desconhecidos pela população pré-existente na região.
As missões religiosas tiveram como principal objetivo espalhar os princípios
fundamentados do ministério de Jesus Cristo, divulgando o evangelho cristão e o modo de vida
europeu para todo o mundo, a fim de transformar a maior quantidade de pessoas em fiéis do
catolicismo (BRUST, 2007). No entanto, ao se instalarem em comunidades as ações dos
145
missionários ultrapassavam a simples pregação da palavra, compreendendo a transformação da
vida da população local, perpassando os aspectos social, econômico, educativo e entre outros.
Com o decorrer do tempo os religiosos perceberam que o formato das missões não
estava alcançando os objetivos esperados, surge com isso à necessidade de uma nova forma de
catequisar os índios, criam-se a partir de então os chamados aldeamentos. Este sistema consistia
em agrupar os índios e os religiosos em um único território, onde os indígenas deveriam seguir as
leis e os costumes dos missionários europeus. Os aldeamentos se localizavam próximos aos
povoados portugueses com os índios sendo encaminhados de maneira espontânea ou através do
uso da força para o convívio com os padres.
A implantação das aldeias jesuítas trouxe a necessidade de construir residências para a
instalação e fixação dos missionários e índios, desse modo, a Igreja além da importância espiritual
passa a ter contribuição material importante, possuindo papel de destaque na formação das
primeiras cidades amazônicas. Para SIGNES (2011) na consolidação dos aldeamentos as fazendas
jesuítas tinham papel fundamental, pois através delas os religiosos retiravam os alimentos para o
seu sustento. Além do seu caráter econômico as fazendas eram verdadeiros núcleos de
povoamento, possuindo grande quantidade de trabalhadores para atender a demanda de
alimentos dos aldeamentos.
Os índios que eram educados e civilizados para o convívio e a subordinação ao Estado e
principalmente a Igreja serviam de mão de obra nos aldeamentos e nas fazendas jesuítas, isso fez
com que grande parte dos portugueses não concordasse com as aldeias jesuítas afirmando que os
religiosos estariam usando os índios como escravos em prol deles, e ao mesmo tempo barrando as
investidas lusitanas contra os mesmos. Segundo SIGNES os aldeamentos possuíam três grandes
funções:
Práticas religiosas, desempenho das atividades econômicas e o que chamamos de lazer. Com relação a este lazer destacasse que em todo tipo de atividade era visível à presença do cristianismo. Além disso, os aldeamentos também possuíam um cunho militar, já que os indígenas defendiam o espaço colonial de tribos hostis aos jesuítas e as invasões estrangeiras (2011, p. 9).
Os religiosos também usavam a estratégia de agregar alguns valores e costumes dos
índios nos aldeamentos com o objetivo de facilitar a aceitação de conversão e a fixação dos
mesmos nesse novo espaço. No entanto, a transformação na cultura dos povos nativos acontecia
de forma demasiada, o que gerou a extinção de várias tribos indígenas, assim como seus costumes
e crenças. No centro dos aldeamentos geralmente em um ponto elevado eram construídas as
146
Igrejas, não existia ainda um modelo urbanístico a ser seguido, mas as estruturas simples dos
templos se assemelhavam as encontradas em Portugal (SIGNES, 2011). Esses povoados então
cresciam em torno da “Matriz” com as residências ao entorno desde principal símbolo de poder da
Igreja sobre o espaço.
Para o êxito dos religiosos na Amazônia, assim como em todo o território nacional, a
catequese representou sua principal arma para a conversão dos índios, ensinando-lhes os dogmas
cristãos e o estilo de vida europeu. Sendo que através do batismo o índio se tornaria filho de Deus
e alcançaria o céu, e os que não recebessem este sacramento da Igreja católica estariam
condenados ao inferno. Neste cenário, os religiosos priorizavam a catequização das crianças, haja
vista, que eram de mais fácil controle por não possuírem uma mentalidade formada, onde a
simples convivência com os missionários possibilitaria a convenção ao catolicismo e ao modo de
vida europeu, diferentemente do que acontecia com os adultos enfrentando algumas resistências,
pois os mesmos não aceitavam a ideia de transformação de seus costumes e crenças.
Além de se preocupar com a catequização dos povos indígenas os missionários jesuítas
enfrentavam diversos conflitos contra os colonizadores portugueses, pois estes viam na mão-de-
obra indígena a única fonte de trabalho do novo território, enquanto os religiosos se negavam
entregar os índios para serem escravizados. Isso provocou vários tumultos entre Igreja e Estado,
até Portugal em 1759 decretar a expulsão dos missionários jesuítas da colônia. Segundo Alves
(1979) “possuíam eles, só nas margens do Madeira, em pleno coração da Amazônia, vinte e oito
missões florescentes”. Em pouco mais de um século em território amazônico os jesuítas
demostraram uma grande força na transformação sócio-espacial com surgimentos de diversas
aldeias no interior da floresta, que se encontra hoje transformada em cidade com traços deste
período. Cabe ressaltar que as outras ordens religiosas como os franciscanos e carmelitas
desempenharam sua respectiva importância no contexto colonial amazônico.
Com a independência do Brasil em 1822 a ocupação e as transformações do espaço
amazônico continuaram com destaque para os períodos dos ciclos da borracha que impulsionou a
vinda de migrantes nordestinos para região, as cidades denominadas como as pontas do sistema
por TAVARES (2008), Belém e Manaus, cresceram rapidamente, porém essa atividade sofreria a
estagnação devido ao crescimento acelerado e racional da produção asiática, além da posterior
descoberta do material sintético.
A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO NOVO PADRÃO DE ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
AMAZÔNICO.
147
Os processos transformadores do espaço amazônico não devem ser vistos isoladamente
e/ou separadamente, pois a organização atual de uma dada região requer a analise dos processos
ocorridos no passado, uma vez que a configuração de um determinado momento usa de alguma
forma o suporte encontrado anteriormente. Neste sentindo, é necessário evidenciar as
transformações ocorridas na Amazônia a partir da década de 60 do século XX, sendo o período
onde se verificou as principais e importantes mudanças no cenário tradicional da região
amazônica. Segundo GONÇALVES (2001) apud TAVARES (2011) a organização do espaço
amazônico se dividem em dois grandes padrões, padrão Rio - várzea - floresta x Padrão Rodovia -
Terra Firme - Subsolo, o primeiro predominante até a década de 50 do século XX e o segundo
padrão predominando a partir da metade do século XX.
Até a década de 1960 foi em torno dos rios que se organizou a vida das populações amazônicas. A partir de então, e por decisões tomadas fora da região, os interesses se deslocam para o subsolo, para suas riquezas minerais, por uma decisão política de integrar o espaço amazônico ao resto do país protagonizado pelos gestores territoriais civis e militares. O regime ditatorial se encarregou de criar as condições para atrair os grandes capitais para essa missão geopolítica (Gonçalves, 2012, p. 79).
Apesar das tentativas de povoamento e o crescimento populacional a região amazônica
até então era caracterizada por sua baixa densidade demográfica. Porém, com os militares no
controle estatal iniciaram-se grandes transformações com o discurso de integrar a Amazônia ao
restante do país, neste período foram implantadas grandes obras, além de incentivos para a
exploração da matéria prima, principalmente dos recursos minerais visando com isso atrair
capitais para investir na região.
Neste período houve a implantação de uma rede rodoviária na Amazônia destacando a
construção da rodovia Belém-Brasília e a Transamazônica com a finalidade de facilitar o acesso à
região, iniciou-se, assim, uma maior mobilidade populacional gerando o surgimento de dezenas de
vilas e povoados ao longo dessas rodovias formados por pessoas atraídas pelas grandes extensões
de terras devolutas, almejando usufruir dos recursos naturais oferecidos pela região.
Ainda no contexto do regime militar a criação dos polos de desenvolvimento
caracterizou-se um dos planos para desenvolver a Amazônia, essa estratégia tinha como objetivo
promover as potencialidades agropecuária, agroindustrial e florestal em pontos prioritários que
seriam responsáveis por irradiar o desenvolvimento em toda a região. Neste período são
implantadas várias empresas multinacionais responsáveis por desenvolver os grandes projetos
territoriais como a UHE de Tucuruí e o Projeto Grande Carajás.
148
O fluxo migratório para a Amazônia até 1960 ocorria de maneira espontânea através de
trabalhadores rurais, posseiros e pequenos proprietários, entretanto, a partir da década de 1970
acentua-se a apropriação privada da terra controlada pelo Estado. Assim sendo, a migração passa
a ser induzida e controlada pelo Estado, acontecendo à atração da força de trabalho de forma
generalizada para o desenvolvimento dos projetos planejados para a região. Foram concedidos
créditos e incentivos fiscais através da SUDAM (Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia) a fim de dinamizar o cenário econômico a partir da implantação de atividades
agropecuárias e latifundiárias.
A migração controlada pelo Estado ocorreu entre 1966 e 1985 intensificando a
apropriação privada da terra por parte das empresas agropecuárias, grandes fazendeiros,
pequenos produtores e grileiros, LEFEBVRE (1978) denomina este processo como a produção do
espaço pelo Estado, isto é, após a consolidação do território o Estado passa o produzir o seu
próprio espaço político exercendo, assim, o controle social com base nas normas e leis,
imprimindo ao território um controle técnico e político almejando a apropriação física e o domínio
do território (BECKER, 2001).
A mobilização da força de trabalho representou desse modo, uma das principais
estratégias do Estado para expansão da fronteira na Amazônia, pois a região se caracterizava por
sua baixa densidade populacional, tornando-se necessário o deslocamento em massa permitindo a
organização de um mercado de trabalho regional consolidado. Segundo BECKER (1990) para atrair
migrantes para a Amazônia o governo utilizava instrumentos como propagandas e ofertas de
empregos nas grandes obras implantadas na região, além de possibilitar o acesso a terra.
Neste contexto, MITSCHEIN et al (1989) enfatizam que o espaço urbano tem sido
abordado por Berta Becker e Lia Machado como sendo de fundamental importância para a
ocupação da fronteira:
(...) o espaço urbano tem sido abordado por Berta Becker (1982, 1984, 1987) e Lia Machado (1982, 1987) como “base Logística” (Becker, 1987:7) da ocupação da fronteira; pois além de serem os pontos básicos da administração estatal e da circulação de bens, capitais e informações, pelos quais o espaço regional está sendo incorporado ao global, as cidades são o lugar privilegiado (Machado, 1982) para criar um mercado para aquela mercadoria que é imprescindível para poder transformar as riquezas naturais em valores de troca, isto é, uma mão-de-obra móvel e livre que, da mesma maneira em que lhe é negado o acesso à terra como meio de (re) produção, aceita a sua condição social, o que segundo as duas autoras está sendo facilitado no contexto urbano pelos serviços públicos (escolas, previdência social, etc.) por parte do Estado e as
149
ofertas de consumo que o capitalismo moderno oferece (1989, p. 18).
Segundo Gonçalves (2012) “o processo que ensejou essa urbanização se deu, de um lado,
como resultado de um determinado modelo agrário e, de outro, por um modelo industrial que
não abarcava a população regional”. Com frequência a população urbana regional vai ser vista
como invasora devido a grande maioria ser imigrantes oriundos de outras regiões a procura de um
futuro promissor no interior da Amazônia. Essa dinâmica do capitalismo vem reorganizando a
espacialidade das cidades amazônicas, pincipalmente a partir de 1960.
BECKER (2005) apresenta quatro tipos de urbanização para a Amazônia: a espontânea, a
provocada pela colonização planejada pelo Estado, a de enclave e o padrão tradicional de
ocupação.
A urbanização espontânea caracterizava-se pela ação estatal no sentido de favorecer a
apropriação privada da terra, enquanto a urbanização provocada pela colonização planejada pelo
Estado estava voltada para a atração da mão-de-obra instaladas as margens das estradas recém-
construídas. Já a urbanização de enclave apresenta-se relacionada à instalação das grandes
empresas mineradoras e madeireiras no território, e por fim a urbanização pelo padrão tradicional
de ocupação ocorrida as margens dos rios amazônicos.
As ações do Estado para desenvolver a Amazônica trouxe consequências importantes nos
aspectos econômico, social e cultural predominantemente nos núcleos urbanos já existentes
reconfigurando a paisagem e a organização sócio-espacial da região. Para SOUZA (2000) Até a
década de 60 do século passado predominava-se cidades as margens dos rios articuladas entre si,
com algumas de tamanhos expressivos e vários com pequenas aglomerações distribuídas pelo
enorme espaço amazônico, onde a maioria da população realizava atividades primárias como a
pesca, agricultura e extrativismo.
Conforme enfatiza BECKER (2005), houve grandes mudanças estruturais e novas
realidades onde se destaca a conectividade regional, não apenas através das rodovias, mas
também por meio da telecomunicação que possibilitou articulações locais/nacionais e
locais/globais. Outra transformação importante ocorreu na economia passando da exclusividade
do extrativismo para a industrialização com a extração dos minerais realizados pelas grandes
empresas multinacionais. Esse processo acarretou importantes modificações estruturais no
povoamento se localizando agora as margens das rodovias, e não mais como no passando ao
longo da rede fluvial.
150
Após 1960 com a integração total da amazônica na lógica atual do capital, a cidade
apresenta-se como lugar imprescindível para a efetivação do capitalismo, tornando-se o principal
ponto de concentração da mão-de-obra, possibilitando a circulação de capitais, mercadorias,
informações, assim como os próprios trabalhadores atraídos para desenvolver os projetos
planejados para a região (ALMEIDA, 2002).
Neste cenário, a Amazônia apresentou um acelerado crescimento demográfico com
grande maioria da população localizando-se nos núcleos urbanos caracterizando um intenso
processo de urbanização, desse modo, a região passa a possuir nas últimas décadas do século XX
as maiores taxas de crescimento urbano do país se tornando para BECKER (2005) uma “floresta
urbanizada”. Este processo apresenta-se fundamentalmente relacionado à inserção do Brasil no
novo modelo de produção capitalista, articulando os interesses do capital industrial e financeiro
mediados pelo Estado.
Para BECKER (2006) “a nova configuração do mapa urbano revela que a Amazônia é um
espaço definitivamente urbanizado, mas que essa urbanização se apresenta de forma
diferenciada”. Essa diferença apresenta-se não apenas nas condições intra-regionais, mas também
ocorre entre as próprias unidades da federação que formam a região amazônica.
Neste novo padrão de organização espacial da Amazônia, rodovia - terra firme - subsolo, a igreja
católica perde espaço não conseguindo acompanhar o ritmo acelerado da expansão urbana.
Porém, vários aldeamentos criados pelos religiosos anteriormente a esse processo serviu de
suporte para que novas realidades urbanas fossem surgindo, ou seja, o sagrado permanece
presente explicito e/ou implicitamente com seus espaços simbólicos na paisagem atual de diversas
cidades amazônicas, consolidado através de um processo histórico com intervenção efetiva da
Igreja na formação sócio-espacial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação sócio-espacial a partir do sagrado marcou a humanidade durante
praticamente todo seu processo histórico com características e identidades próprias. O sagrado
pregado pela Igreja Católica Apostólica Romana contribuiu e vem contribuindo de maneira
marcante na formação das cidades amazônicas, desde o período colonial com a criação de vários
aldeamentos religiosos com o objetivo de facilitar a catequização dos povos indígenas, até os dias
atuais com as influencias exercidas por seus espaços sagrados impregnados de simbolismos.
A Amazônia enfrentou dois grandes padrões no contexto espacial, de um lado, o padrão
rio – várzea – floresta; e de outro, o padrão rodovia – terra firme – subsolo. Nos dois períodos a
151
Igreja Católica esteve presente formando e reconfigurando a paisagem urbana de diversos
munícipios amazônicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, F. O entroncamento como forma espacial no urbano em área de fronteira: caso do Km 06, Marabá-PA. 2002. 95 f. Universidade Federal do Pará. Marabá-PA, 2002.
ALVES, Marcio Moreira. A Igreja e a Política no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1979.
BECKER, B. K. . Geopolítica da Amazonia. Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n.53, p. 71-86, 2005.
BECKER, B. K. . Revisão das Políticas de Ocupação Amazônica: É Possível identificar Modelos para projetar Cenários?. Parcerias Estratégicas (Brasília), Brasília, v. 12, p. 135-159, 2001.
BECKER, B. K. . Significados da Defesa da Amazonia: Projeto Geopolitico ou Fronteira Tecno(Eco)lógica para o Século XXI?. ANTROPOLOGIA E INDIGENISMO, Rio de Janeiro, v. 1, 1990.
BECKER, Bertha K. Amazônia: geopolítica na virada do III milênio. 2ª ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
BECKER, Bertha. Dinâmica Urbana na Amazônia. In: DINIZ, C. C; LEMOS, M.B. (Org.). Economia e Território. Minas Gerais: UFMG, 2005.
GONÇALVES, Carlos Walter Porte. Amazônia, amazônias. 3º.ed. São Paulo: Contexto, 2012.
LEFEBVRE, H. De l’ État. Paris: Antropos, 1978.
MITSCHEIN, T. A.; MIRANDA, Henrique; PARAENSE, Mariceli. Urbanização Selvagem e Proletarização Passiva na Amazônia: O caso de Belém. Belém: CEJUP, 1989.
SIGNES, A. F.; Aline da Costa Silva ; BLANCO, A. L. ; ARAUJO, A. L. A. ; AZEREDO, D. E. ; OLIVEIRA, G. S. C.; ALEXANDRE, M. L. B. S. ; OMENA, L. G. S. ; BASTOS, S. S. . Apóstolos divinos ou da coroa: Jesuítas no Brasil e no paraguai.. In: Graciela Bonassa garcia. (Org.). Perspectivas historicas de uma mesma América. : , 2011, v. , p. -.
SOUZA, Carlos Augusto da Silva. Urbanização da Amazônia. Belém: UNAMA, 2000 (Série Relatórios de Pesquisa).
TAVARES, Maria Goretti da Costa. A formação territorial do espaço paraense: dos fortes à criação de municípios. Revista ACTA Geográfica, ANO II, n°3, jan./jun. de 2008. p.59-83.
_________. A Amazônia brasileira: formação histórico-territorial e perspectivas para o século XXI. GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 29 - Especial, p. 107-121, 2011.
152
UM OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O PROCESSO DE ASSENTAMENTO
PADRE JOSIMO TAVARES NO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA
(PARÁ)
CASSYO LIMA SANTOS ÚRSULA RODRIGUES VIEIRA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA) RESUMO: A pesquisa realizada foi de suma relevância, pois ofereceu base para traçar os principais paradigmas do Assentamento Padre Josimo Tavares e teve como um dos principais objetivos elucidar o conhecimento agrário no município de Conceição do Araguaia-PA. Existe um número muito grande de assentamentos na região amazônica sendo caracterizada por famílias e pela produção da agricultura, com investimentos no setor agrário onde irar capacitar o pequeno produtor e suas associações. Oferecendo maquinários tecnológicos a eles é possível competir com as grandes indústrias, estabelecendo infraestrutura, educação e saúde de qualidade. Assim não teria porque esse pequeno produtor sair de suas terras, desse modo iria contribuir com a economia do município e consequentemente terá sua parcela no desenvolvimento do país. PALAVRAS-CHAVE: Assentamento; Reforma agrária; Padre Josimo Tavares.
INTRODUÇÃO
O artigo é apresentado em três partes para melhor compreensão, na primeira evidencia-
se o processo histórico que o Brasil se encontrava, nos anos 60 e o forte incentivo do Governo
Federal para instalações de empresas no norte do país, isso tornou o estado do Pará como foco do
progresso por dispor de matéria- prima (SANTANTA & SANTANA, 2011). Na segunda parte serão
abordados os conflitos agrários ocasionados pela falta de políticas públicas e fiscalização com a
implantação dessas empresas, por parte do governo em se anular diante desse processo. É
quando será dado ênfase a Conceição do Araguaia, sendo o primeiro município, com maior
número de assentamento do estado do Pará, com destaque ao assentamento Padre Josimo
Tavares, a antiga “Fazenda Bradesco” pertencente ao grupo Bradesco com forte poder econômico
e influência no país onde será transcorrido o processo até se tornarem assentados.
Já na última parte serão apresentadas as reais condições dessas famílias hoje, já que
pouca coisa mudou, exibiremos entrevista com os assentados, mapas, e gráficos propondo uma
discussão além do que se diz se reforma agrária na prática. O trabalho esta subdividido em três
partes iniciando com o seguinte eixo: a forte influência dos movimentos sociais: em busca da
153
reforma agrária, no segundo tópico será abordado o processo de ocupação no assentamento
Padre Josimo Tavares e o terceiro subtópico abordará um novo viés da realidade dos assentados.
METODOLOGIA
O presente trabalho foi elaborado em três fases. Sendo desenvolvido na disciplina de
geografia agrária. Para dar suporte a elaboração do artigo que teve como finalidade possibilitar
uma maior compreensão do espaço agrário e suas interfaces no Sul do Pará. Foram utilizadas
referências bibliográficas de autores da região que abordam os seguintes temas: reforma agrária,
conflitos agrários, assentamentos, entre outros.
O trabalho foi realizado em setembro de 2013, cujo objetivo foi conhecer as entrelinhas
históricas do processo de ocupação no assentamento Bradesco, aproximadamente há 57 km do
município de Conceição do Araguaia-PA. Foram feitas entrevistas com alguns assentados, onde
relataram historicamente o processo de ocupação, desde as primeiras lutas ate a conquista da
terra, analisando as vertentes dos moradores e a função do INCRA- Instituto Nacional de
Colonização e Reforma agrária.
A pesquisa realizada foi de suma relevância na elaboração do artigo, já que ofereceram
base para traçar os principais paradigmas desse processo que teve como um dos principais
objetivos elucidar o conhecimento agrário no município de Conceição do Araguaia-PA.
A FORTE INFLUÊNCIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS: EM BUSCA DA REFORMA AGRÁRIA
A região Sul e Sudeste do Pará é evidencia no cenário agrário, a luta pela a posse da terra,
os movimentos sociais entre eles o MST (Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra) junto com a
CPT (Comissão Pastoral da Terra), clamam pela tão sonhada reforma agrária, tem como intuito a
distribuição de terras de forma igualitária, nessa esfera todas às pessoas poderiam ter um lugar
para morar, plantar e colher, segundo o INCRA:
“Reforma agrária é o conjunto de medidas para promover a melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social, desenvolvimento rural sustentável e aumento de produção. A concepção é estabelecida pelo Estatuto da Terra” (Lei nº 4504/64).
O norte do Brasil é visto como um palco de conflitos agrários, onde posseiros dominavam
a região, geralmente eram muito violentos, e utilizavam da brutalidade para dominar o território.
Em contraponto a esse processo o movimento sem terra, tendo uma filosofia bastante tênue,
seguindo princípios de igualdade e parceria, concretizando o processo de manifestação pacífica,
154
onde a violência foi minimizada pela organização do STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais)
dessa forma contribuiu para significativamente para um novo olhar sobre os assentamentos. A
CPT foi de grande importância nesse trajeto, pois desenvolviam e articulavam práticas
pedagógicas que fortalecia o movimento, com isso os trabalhadores compreendiam seus direitos e
deveres perante a terra. Os acampamentos aconteceram com objetivo de conquistar terras, que
pertenciam ao grupo Bradesco.
O PROCESSO DE OCUPAÇÃO NO ASSENTAMENTO PADRE JOSIMO TAVARES EM CONCEIÇÃO DO
ARAGUAIA (PARÁ)
O forte incentivo por parte do Governo Federal, que almejavam inserir a Amazônia no
processo globalizado, já que a região é detentora de 54% (FONTE AMAZONIA) do território
brasileiro, desse modo oferecia inúmeras vantagens a empresas e aos grandes empresários para
se instalarem na região que ganhariam grandes extensões territoriais. Com o lema “Homem sem
terra, para terra sem Homem” realizou uma forte campanha que ocasionou o processo de
ocupações.
A região norte a parti da década de 50 ganhou evidência nacional e internacional, com
implantação de grandes projetos com o propósito de exploração dos recursos naturais da região
amazônica e pela a quantidade de mão de obra barata disponibilizada. Para a implantação desses
projetos se utiliza de grande tecnologia avançada e exigem de infraestrutura para escoação da
produção como: ferrovias, aeroportos, energia elétrica, portos e núcleos urbanos.
Vale ressaltar que esses grandes projetos não visam o bem estar da população local,
atendem necessidade do governo federal e principalmente de empresas internacionais. Os
principais projetos instalados na região amazônica: o Projeto Manganês, Projeto Jari, Programa
Grande Carajás, O Projeto ALBRÁS-ALUNORTE, Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Nesse processo
existiu um índice muito grande de migrações, em especial para o estado do Pará, pessoas oriundas
do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso chegaram com o objetivo de vida melhor a sua família.
Como foi dito anteriormente esses grandes projetos absorveram essa quantidade de mão
de obra para a execução das obras quando esses projetos se davam por concluídos esses
indivíduos não tinham muita escolha. A maioria dessas pessoas se tornava desempregados, sem
estudos e condições financeiras mínimas para viver nem se quer um lugar morar o jeito é procurar
ocupar terras ditas vazias, no entanto essas escolhas podem lhe custar à vida é a onde começa os
conflitos agrários pela a posse da terra nesses locais os conflitos agrários se intensificaram.
155
Tantos incentivos fiscais por parte do Governo Federal ficou fácil à vinda dos grandes
grupos econômicos para se instalar na região norte, além dos grandes projetos, esses tais grupos
econômicos recebe grande quantidade de terras. Nesse âmbito se destacou o grupo Bradesco que
se instalaram no município de Conceição do Araguaia.
Outro destaque que atraiu centenas de migrantes para ocupar a região esteve associado
à agricultura e a pecuária, com intuito de oferecer dignidade às pessoas de condições mínimas
financeiras. Porém os grandes beneficiados foram os grandes projetos e as empresas, que
passaram a serem detentoras de amplos latifúndios na região paraense.
O processo de ocupação da terra neste local se iniciou no ano de 1996, quando pequenos
produtores da região, cujas condições eram mínimas, devido à falta de investimentos públicos na
área da saúde, educação e moradia que é o mínimo para sobrevivência da população, com isso
acarretou o início da luta por um espaço pela terra, onde poderia melhorar suas condições de
vida, porém encontraram grandes enclaves burocráticos e administrativos para poder usar de um
bem necessário de produção agrícola e garantindo pela constituição.
Em pesquisa de campo os moradores relataram fatos de relevância para a história de
ocupação do assentamento Padre Josimo Tavares, com o intuito de dar viabilidade ao
assentamento. No município de Marabá acamparam em frente ao INCRA, reivindicando o
andamento do processo, além de descolarem a Brasília em busca de respostas concretas para a
conquista do assentamento.
A REALIDADE DO ASSENTAMENTO RETRATADA PELO INCRA E PELOS MORADORES
Em trabalho de campo realizado pela Universidade do Estado do Pará na disciplina de
geografia agrária no assentamento Padre Josimo Tavares, mas conhecido como “Fazenda
Bradesco” no município de Conceição do Araguaia, propriedade que até então pertencia ao Grupo
Bradesco com aproximadamente 61.000,00 hm2 dimensões territoriais, tinha como produção a
criação e o abate de gado. Nesse local residiam pessoas, que não possuíam lotes que dependiam
da fazenda para trabalhar e obter o seu sustento, onde também existia o trabalho escravo, além
de serem muito humilhados e vivendo em condições desumanas, pessoas oriundas das localidades
vizinhas como Tocantins, Maranhão, Minas Gerais, entre outros.
Todas essas pessoas que nesse local residiam poderiam a qualquer momento perder a
posse da propriedade, já que não permitiam sua legalidade, pois não possuíam nenhum
documento conhecidos como “posseiros”. Então começaram a se reunir em busca de único
156
interesse, adentrar na “Fazenda Bradesco” com isso surgiram os primeiros acampamentos dentro
do local, nesse período cadastraram-se 1.200 famílias.
Nesses acampamentos, foram diversas vezes expulsos com muita violência e sobre
ameaças de morte, feitas pelos pistoleiros sobre comando de ordem do Grupo Bradesco,
resolveram buscar ajuda no STR junto com a CPT de Conceição do Araguaia, que os orientaram e
se propuseram a dá todo apoio possível, pois a luta era constante. Sem nenhuma solução ou
resposta decidiram procura o INCRA que não deu muita ênfase ao episódio, então se iniciou vários
acampamentos em frente ao órgão.
A região da Bradesco se destacou devido a sua grande contingência de terra, pois
estavam nas mãos de grandes autoridades. Os problemas enfrentados no campo são inúmeros, a
agricultura é o suporte de produção para o enriquecimento dessas pessoas, pois a função
econômica da mesma para a região é insubstituível. Nessa ótica o processo de assentamento
contribuiu e contribui intensamente para o processo de reforma agrária tão discutido no espaço
brasileiro.
Com o massacre de Eldorado dos Carajás, na “Fazenda Macaxeira” onde houve muitas
mortes de Sem Terras favoreceu o andamento do processo de assentamento, o que correspondeu
o aceleramento e efetivação das divisões territoriais, a reforma agrária se tornou repercussão
nacional.
O INCRA decidiu acelera o processo de assentamento na região. No ano de 1997
mandou visitas técnicas á “Fazenda Bradesco” para fazer vistoria nas terras, que foi declarada
improdutiva, nesse mesmo ano o local se tornou um PA (Projeto de Assentamento) conseguiram
os títulos das terras definitivas e logo a demarcação dos lotes, uma conquista para os
trabalhadores depois de tantas lutas.
Sendo assim as famílias começaram a fazer roças coletivas que no princípio produziam
somente mandioca e abacaxi, o trabalho era de subsistência e logo em seguida iniciou a
comercialização do excedente da produção, nos primeiros anos a produção foi oferecendo ganho,
mais a seguir foram trazendo prejuízos, pois, era difícil o escoamento da produção, pois até hoje a
estrada de acesso é inteiramente de chão batido, ou seja, cascalhada.
Grande parte da farinha vendida no município de Conceição do Araguaia é produzida no
assentamento Padre Josimo Tavares, ou seja, os benefícios são inúmeros quando se planeja e
estrutura o parcelamento do solo adequado a quem realmente necessita.
Então o governo federal junto a INCRA decidiram criar políticas públicas que propõem
melhorias para o sistema agrário, objetivando: “a desconcentração e a democratização da
157
estrutura fundiária; a produção de alimentos básicos; a geração de ocupação e renda; o combate à
fome e à miséria; a diversificação do comércio e dos serviços no meio rural; a interiorização dos
serviços públicos básicos; a redução da migração campo-cidade; a democratização das estruturas
de poder; a promoção da cidadania e da justiça social”.
Imagem 01- Escola Vinte de Abril
Fonte: Autores do Trabalho
Imagem 02- Rua do Assentamenoto Padre Josimo Tavares
Fonte: Autores do Trabalho
158
Imagem 03- Propriedade que era dos donos da Fazenda Bradesco.
Fonte: Autores do Trabalho
Imagem 02- Av. Principal Assentamento Padre Josimo Tavares.
Fonte: Autores do Trabalho
159
Vale ressaltar que o ideário agrário ainda terá um longo caminho a percorrer, para de fato
atender as peculiaridades de cada assentamento, desenvolvendo maneiras fundamentais para a
sobrevivência no campo. Desde o início de sua criação, os projetos para assentamentos com o
fomento ao benefício de alimentação que é estabelecido para a estruturação da família no acesso
a terra, dentre esses projetos o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar) criado em 1996 tem como objetivo melhorar a vida do homem no campo. Esse projeto
libera uma quantia em dinheiro aos pequenos produtores pertencentes às associações rurais, para
investir na sua propriedade, sendo assim o empréstimo pode ser utilizado na agricultura, na
pecuária entre outros.
Devido às dificuldades no campo serem inúmeras, a alternativa é morar na cidade, já
que no campo faltam investimentos principalmente na área da saúde e educação, e decidem
migrar para a cidade com a perspectiva de desenvolvimento nos estudos dos filhos, pois não
desejam para eles, uma vida tão sofrida no campo, como as que eles passaram.
Muitas das vezes vendem sua terra, ou trocam por lotes na cidade, no entanto não
podem fazer isso, já que o governo federal não permite, abandonam aquela terra que conquistou
com tanto esforço e determinação, desistem do sonho e partem para a cidade quando chegam,
percebem que as coisas são bastante diferentes.
As dificuldades são ainda maiores, geralmente vão morar nas periferias, por não terem
condições de estudo e nem de mão de obra qualificada, já que seu conhecimento é voltado para
as práticas do campo, e tornam-se refém do sistema capitalista onde começam a vender sua mão
de obra, para sustentar sua família e muitas das vezes vivendo na miséria. Então o sistema
capitalista atua, e se apropria desse trabalhador.
Com isso o governo deixa bem intenso, as desigualdades socioespaciais arquivando
qualquer importância pelas as brigas sangrentas que acontecem no campo. A reforma agrária seria
a melhor a solução, pois ameniza os conflitos agrários e grande latifúndios. Fazendo um paralelo a
outros projetos de assentamentos próximos a Bradesco, percebe-se a monotonia da violência. O
êxito dessa luta se deu após um ano, exatamente em 1997, onde 61.000 hectares foram
projetados para o assentamento, ficando 50% para reserva ambiental.
Atualmente existe cerca de 860 famílias assentadas, cada uma com oito alqueires, onde
plantam e colhem, criam galinhas, porcos e gados. Em sua grande parte produzem mandioca e
abacaxi, produtos esses que passaram a ser cultivado devido o tipo de solo ser propício a esse tipo
de cultura, até porque estamos em uma área de ecótono entre o bioma Cerrado e Amazônia assim
160
vivem e produzem para a sua própria subsistência, onde o excedente e vendido para a feiras de
municípios próximos ou até mesmo pra outros estados.
Imagem 03: Localização do Assentamento Padre Josimo Tavares Fonte: Banco de Dados –INCRA –Conceição do Araguaia-PA 2014
Os assentados são vistos até hoje como pessoas inoportunas que vivem das conquistas de
terras alheias, porém essa visão é ultrapassada e outro viés deve ser repensando a respeito do
conjunto de pessoas que lutam por apenas seus direitos estabelecidos na Constituição Brasileira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existe um número muito grande de assentamentos na região amazônica sendo
caracterizada por famílias e pela produção da agricultura, com investimentos no setor agrário
onde irar capacitar o pequeno produtor e suas associações. A assistência técnica no assentamento
Padre Josimo Tavares ocorre, porém com deficiências do órgão responsável por atribuir qualidade
e auxílio às famílias que necessitam de conhecimento técnico para produção agrícola.
Oferecendo maquinários tecnológicos a eles é possível competir com as grandes
indústrias, estabelecendo infraestrutura, educação e saúde de qualidade. Assim não teria porque
esse pequeno produtor sair de suas terras, desse modo iria contribuir com a economia do
município e consequentemente terá sua parcela no desenvolvimento do país.
161
REFERÊNCIAS
DEMOCRACIA. Disponível em: http://www.anovademocracia.com.br/no-40/1529-fartura-e-terror-nas-terras-da-antiga-fundacao-bradesco Acesso em 24 de março de 2014.
INCRA-Reforma agrária. Disponível em: < http://www.incra.gov.br/index.php/reforma-agraria-2/questao-agraria/reforma-agraria> Acesso em 18 de abril de 2014.
MESQUITA, Helena Angélica de. A Luta Pela Terra No País Do Latifúndio: Quando Um Conflito Por Terra Se Torna Um Massacre Contra Trabalhadores. Rondônia, 1995. CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária, v.3, n. 6, p. 109-124, ago. 2008.
SANTANA, Luiz Antonio Ferreira de. S. SANTANA, Sílvia Cristina C. Relato: reforma agrária. Caderno de Estudos Ciência e Empresa, Teresina, Ano 8, n. 1, jul. 2011.
162
ANÁLISE TEÓRICA DAS QUESTÕES AGRÁRIAS DE LUTA PELA TERRA NO
PAÍS DO LATIFÚNDIO: um enfoque no município de Conceição do
Araguaia (Pará)
ADRIANA GONÇALVES BRANDÃO MÁRIO DE JESUS CUNHA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ (UEPA) RESUMO: Neste artigo abordar-se o processo histórico das origens agrárias brasileiras, utilizando-se dos debates, reflexões e perspectivas que hoje a constituem, levando em consideração a hereditariedade da formação agrária complexa do território brasileiro, reportando as desigualdades e a falta de oportunidades as classes camponesas. A análise das complexidades das questões agrárias existentes no período colonial reporta ao início dos conflitos pela posse de terras, vividas por famílias excluídas pelas leis existentes na época. Abordar-se também sobre Os grandes latifúndios na Amazônia: um caso especial do município de Conceição do Araguaia-PA. PALAVRAS-CHAVE: Questões Agrárias, Camponês e Grandes Latifúndios.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho abordar-se sobre as questões agrárias do Brasil, onde a Metodologia
utilizada foi a pesquisa bibliográfica e documental sobre a temática, e a pesquisa de campo com os
atores sociais envolvidos no referido processo. Foi feito um recorde cronológico com ênfase no
período da Ditadura Militar que foi marcado pela intensificação dos confrontos entre fazendeiros
e camponeses em várias regiões brasileiras. Para essa análise foi utilizado como suporte teórico os
autores: Oliveira (2007), Martins (1995) e Ianni (1979) que fizeram pesquisas especificamente na
região do Sul e Sudeste paraense e que possuem diversas contribuições a cerca da invisibilidade
política dos camponeses.
Para que ocorra a efetivação da Reforma Agrária faz-se necessário desenvolver duas
politicas essenciais: a política fundiária e a política agrícola visto que estas formam o alicerce para
a efetivação da Reforma Agrária. Posteriormente ao aporte teórico, foi feito uma análise sobre os
grandes latifúndios na Amazônia com enfoque no Munícipio de Conceição do Araguaia-PA. A
questão da concentração latifundiária no município foi bastante caracterizada primeiramente
pelos limites impostos pelos seringalistas na época da borracha e posteriormente agravada pelas
políticas públicas impostas para a região através dos governos militares. Como consequência
dessas ações governamentais houve uma transformação do espaço geográfico com o
reordenamento da estrutura latifundiária do município e a implantação dos projetos
agropecuários apoiados pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). Os
163
resultados esperados com essa pesquisa é que ela venha contribuir com a discussão a cerca da
questão agrária no Brasil e especialmente na região do Sul do Pará no município de Conceição do
Araguaia.
PROCESSO HISTÓRICO DAS ORIGENS AGRÁRIAS BRASILEIRAS
A formação agrária do nosso país foi e ainda é bastante complexa, com traços de
desigualdades econômicas, políticas e sociais herdadas de suas origens no período colonial.
Martins (1995) Relata que neste tempo os pobres e os excluídos pelo morgadio, que era o regime
que excluía de herança os filhos bastardos e de índias, sofria com a discriminação e falta de
oportunidade para adquirir um pedaço de terra. O autor afirma que já neste período surgiram os
conflitos pela posse de terras por famílias que se sentiam discriminadas e sem oportunidades de
ter sua propriedade.
Na mesma linha de pensamento Ianni (2004) destaca que a democracia nunca esteve no
campo a não ser como promessa, o pouco que se fez é resultado das lutas dos trabalhadores do
campo e índios, o poder sempre esteve nas mãos dos grandes latifundiários e empresários
nacionais e empresas multinacionais, sempre deixou claro seu poder sobre os camponeses,
assalariados e indígenas.
O campesinato brasileiro foi fortemente marcado no período colonial pela obtenção de
terra pelas sesmarias. A questão da aquisição das sesmarias tinha também os seus privilégios,
onde um branco excluído de herança pelo morgadio podia conseguir sua terra através da
sesmaria, e um mestiço pobre pelo grande preconceito da época podia abrir sua posse, mas
dificilmente podia se torna um sesmeiro Martins (1995).
O campesinato da época era constituído não só pelos agregados, existiam outras classes
que dava origem ao grupo dos desfavorecidos de melhores oportunidades:
Mas não somente os agregados constituíam o campesinato da época. Também haviam os posseiros e os sitiantes. Ambos as vezes se confundiam, porque a condição de posseiros dizia respeito á relação jurídica com a terra, quando o camponês tinha a posse, mas não tinha o domínio (MARTINS, 1995, p. 39-40)
O referido autor ressalta que este período foi profundamente caracterizado por relações
sociais que marcaram os camponeses desta época, a abolição dos escravos, o fim da república em
maio de 1888, transferências das terras da união para o Estado e o fim do tráfego negreiro em
1850, com o fim da escravidão dos negros houve a necessidade de substituir a mão-de-obra
escrava por emigrantes livres vindos da Europa como os italianos, alemães e depois os espanhóis,
164
pois esta substituição imediata da mão-de-obra asseguraria o não prejuízo nas lavouras de café e
cana-de-açúcar.
Essas medidas de substituição imediata da mão-de-obra escrava deu origem à lei das
terras.
[...] Tais medidas se concretizaram na Lei de Terras, não por coincidência promulgada no mesmo ano de 1850. Tal lei instituía um novo regime de sesmarias suspenso em junho de 1822 e não mais restaurado. Nesse meio tempo, ter-se-ia multiplicado o numero de posseiros em todo o país (MARTINS, 1995, p. 41-42).
De certa forma esta Lei de Terras foi instituída para privar os pobres, agregados e os
escravos alforriados de adquirir um pedaço de terra, onde desvincularia o poder dos coronéis que
era medido pela obtenção de grandes latifúndios.
O surgimento de tais leis relacionadas ao campo foram cruciais para o desenvolvimento
do capitalismo no meio rural brasileiro, de maneira que o crescimento e a diversificação estava
presente na economia agrária, vinda das exportações, mercado urbano e industrialização, crescia
as classes politicas que detinha o poder de regular as relações de produção na agricultura Ianni
(2004).
BRASIL: REFORMA AGRÁRIA E OS GRANDES LATIFÚNDIOS
A estrutura latifundiária concentrada é um processo bem presente no espaço geográfico
brasileiro, a terra sempre ficou reunida na mão de poucos. Uma política que esteve presente na
formação agrária complexa do Brasil, desde o período colonial. Primeiro com as capitanias
hereditárias com doação de terra aos donatários, depois o regime das sesmarias marcado pelo
coronelismo, escravos e agregados.
Segundo Oliveira, (2007) a reforma agrária de modo geral está atrelada as revoluções
camponesas e aos conflitos, é uma forma do governo resolver as tensões no campo e ao mesmo
tempo um planejamento governamental para definir a estrutura latifundiária de regiões ou país.
A reforma agrária que os camponeses anseiam é aquela realizada com a desapropriação
dos grandes latifúndios improdutivos, com o planejamento a fim de beneficiar a população rural,
direitos básicos para exercer sua cidadania e ter condições de sobrevivência nos assentamentos.
Não como foi no governo militar o remanejo de várias famílias para a Amazônia sem nem um tipo
de planejamento para os recém-assentados.
Para Lima (2006) apud Araújo e Lima (2011) p. 7:
A implementação da Reforma agrária no Brasil, caracteriza-se como um desafio principalmente para os trabalhadores sem-terra, uma vez que o poderio
165
econômico/capitalista está ao lado dos latifundiários juntamente com a imponência do Governo Estatal, unidos para que o sistema continue sendo favorável aos seus interesses, que os pobres continuem pobres e os sem-terra assim permaneçam.
De acordo com Oliveira, (2007) para a implantação da reforma agrária é importante que
se desenvolva duas politicas essenciais: a política fundiária e a política agrícola. A fundiária refere-
se aos princípios que as sociedades adotam como normas aceitáveis ou não no processo de
apropriação privada da terra. Como limites de tamanhos da propriedade particular da terra. Já a
política agrícola é o conjunto de ações governamentais que visa desenvolver os assentamentos
com assistências sociais, técnicas e fomento, o estimulo a produção agrícola desde
comercialização a industrialização dos produtos agropecuários. Cabem também nesta política a
melhoria de vida dos assentados com escolas, saúde, energia elétrica rural, moradia e vários
outros serviços oferecidos pelo governo. Para o autor estas duas políticas formam o alicerce da
reforma agrária.
O processo de reforma agrária é marcado por lutas camponesas e vários conflitos
agrários onde as principais reivindicações são o direito de acesso a terra. Neste contexto
destacamos a importância dos grupos sociais que lutam por estes direitos STR (Sindicato dos
Trabalhadores Rurais), CPT (Comissão Pastoral da Terra) e o MST (Movimento dos Sem Terra),
aliança social de ênfase na luta pela terra e demais questões agrárias, o autor Ariovaldo Umbelino
de Oliveira caracteriza o MST como:
[...] o movimento soci-territorial rural mais organizado no final do Século XX e início do Século XXI, representa no conjunto da história recente deste país, mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiro sem sua luta cotidiana pela terra. Essa luta camponesa revela a todos interessados na questão agrária, um lado novo e moderno. Não se está diante de um processo de luta para não deixar a terra, mas sim, diante um processo de luta para entrar na terra. (OLIVEIRA, 2007.p 139)
No governo Fernando Henrique Cardoso ou FHC o processo de reforma agrária teve
dificuldade através da política adotada pelo presidente, “a reforma agrária se tornou política
compensatória, e símbolo de respeito à “lei e a ordem”, uma definição típica de um governo
neoliberal. Para isto foram criados obstáculos à luta dos trabalhadores sem-terra como a medida
antiinvasão” (SILVA, 2011, p.16). Neste período surgem vários conflitos e invasões contra o avanço
do capitalismo neoliberal, ocorrendo massacres na luta pela posse de terra, como o de
Corumbiara na fazenda Santa Eliana em Rondônia e Eldorado dos Carajás na fazenda Macaxeira na
região Sul do Estado do Pará e vários outros espalhados em todo Brasil.
166
E importante lembrar que as políticas neoliberais adotadas pelo governo FHC deram inicio
as constantes lutas e invasões pelo acesso a terra, era uma forma de pressionar o governo a
desapropriação de áreas improdutivas e a criação de novos assentamentos. Com as reivindicações
dos grupos sociais foram ampliadas às áreas de instalações camponesas e a criação de programas
voltados para o desenvolvimento rural como a política pública de crédito PRONAF (Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), podemos destacar também o Banco da Terra
destinado a compra e venda de terras para fins de desapropriação, a implantação deste projeto
acarretou um reajuste no preço do imóveis rurais, outro fator que teve revolta do movimentos
socioterritoriais, foi a seleção das famílias serem de reponsabilidades de órgãos regionais
dificultando o acesso a terra a quem realmente precisa, e fortalecendo o fácil acesso das pessoas
com vínculos com os responsáveis pela triagem.
No governo FHC teve uma grande política voltada para desarticular os grupos sociais de
luta pelo acesso a terra, implantação de militares para desmobilização destes agentes,
ocasionando em grandes massacres. Através da pressão destes grupos socioterritoriais, houve um
número significativo de novos assentamentos nos quais podemos mencionar também a
regularização de PAʼS (Projetos de Assentamentos) antigos o que não aconteceu nos mandatos
dos governos anteriores.
Em 2003 assumiu a presidência Luiz Inácio Lula da Silva, apoiado pelas ligas camponesas
com plano político voltado para o fortalecimento da agricultura familiar e qualidade de vida ao
homem do campo e principalmente uma Reforma Agrária tanto almejada pelo MST, portanto
surge com o governo Lula uma grande esperança do campesinato com a melhoria de vida ao
homem do campo. Há controvérsias referentes à criação de novos assentamentos Segundo
(OLIVEIRA, 2006 apud SOUZA, 2011, p.9) “[...] tudo indica tratar-se de reconhecimento das famílias
já assentadas para fins de sua inserção nas políticas do governo, mas nunca, novos assentamentos
do governo LULA. São, portanto, casos típicos de reordenação de assentamentos antigos”. Esta
política de reordenamento de PA parece hereditária passando de um governo a outro, não
desmerecendo a importância deste processo, mas no mandato de Luiz Inácio Lula da Silva se
beneficiou da quantidade de criação de novos assentamentos usando dados de regularização de
PAʼS, uma forma de aumento de documentos para fortalecer que realmente acontecia a Reforma
Agrária.
Não podemos negar o desenvolvimento do Brasil no governo Lula, o principal foi liquidar
as dívidas externas do país, o melhoramento do programa “Luz Para Todos”, um programa voltado
para a distribuição de energia elétrica nas comunidades rurais, acessibilidade ao PRONAF que
167
beneficiou o homem do campo e estimulou Agricultura Familiar e outros projetos voltados para a
comunidade carente, mas na Reforma Agrária muito ficou a desejar pelo acesso a terra e criação
de novos assentamentos.
Isto quer dizer que desde 2003, o MDA/INCRA vem faltando com a verdade para com a sociedade brasileira, e mais ainda, para com os movimentos sociais e sindicais que lutam pela reforma agrária. Quando se divulga um dado total que é produto da soma de metas desiguais, tenta-se passar para todos que estes dados referem-se ao cumprimento da Meta 1 [...]” (OLIVEIRA, 2007, p.164).
Vários autores que discutem sobre as questões agrárias brasileiras, ressaltam que o Brasil
ainda é considerado o país do latifúndio pela falta de política voltada para desapropriação
latifundiária concentrada a fins da criação de novos assentamentos no país. Contudo Ariovaldo
Umbelino de Oliveira coloca a Reforma agrária como uma forma de extinguir as injustiças de
oportunidades de acesso a terra:
Dessa forma, a reforma agrária continua ser uma necessidade estrutural da sociedade brasileira, e um instrumento para corrigir a desigual distribuição da terra e sua retenção improdutiva, descumprindo o preceito constitucional de que a propriedade privada da terra deve cumprir sua função social, como está previsto no artigo 184 da Constituição Federal do país (OLIVEIRA, 2007, p.150).
OS GRANDES LATIFÚNDIOS NA AMAZÔNIA: UM CASO ESPECIAL DO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO
DO ARAGUAIA-PA
Com o golpe militar 64, as tensões no campo aumentaram confrontos entre fazendeiros e
camponeses em várias regiões do Brasil. A reforma agrária proposta no governo militar tinha
como estratégia esvaziar regiões de conflitos assim desarticulando ligas camponesas, e a não
desapropriação latifundiária dessas áreas de tensão, fazendo redirecionamento das famílias nas
áreas de conflitos para regiões vazias que, então esses grupos foram deslocados para a região
amazônica. Martins (1995, p. 96) Enfatiza que: “o Estatuto faz, portanto, da reforma agrária
brasileira uma reforma tópica, de emergência, destinada a desmobilizar o campesinato sempre e
onde o problema da terra se torna tenso, oferecendo riscos políticos”.
A Amazônia foi um cenário de uma reforma agrária para a desarticulação do
campesinato, financiado pelos grandes projetos agropecuários com estímulos fiscais e créditos
beneficiados pela SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) criada em 1966 e
com o apoio do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) abordaremos a
sequencia da implantação destes projetos audaciosos por impressas nacionais e multinacionais no
município de Conceição do Araguaia.
168
A questão latifundiária no município de Conceição do Araguaia foi caracterizada antes da
chegada destes projetos na Amazônia por meio dos limites imposto pelos seringalistas, para IANNI
(1979) na época da borracha o seringalista era caracterizado como um latifundiário da região que
demarcava as áreas de exploração do látex. Com a queda da extração da borracha o município
entrou em colapso, diminuindo o fluxo de pessoas, e redirecionando uma nova forma de
sobrevivência das famílias da região.
No inicio do ano de 1960, ocorreram várias transformações no quadro econômico e social
do município de Conceição do Araguaia. Tais modificações não se restringiam apenas ao município
e o Estado do Pará, mas também a outras regiões como os Estados do Goiás e Maranhão, com o
desenvolvimento do capitalismo industrial no sul do país, dando novas formas de estruturas
agrárias no Brasil. Naquele período grande fluxo de pessoas vindas de várias regiões do país e
principalmente do Nordeste migravam para o Pará onde havia muitas terras devolutas, surgindo
uma nova classe social na Amazônia, as causas mais obvias que impulsionou este processo foi a
construção da Belém Brasília e concessão dos projetos agropecuários pela SUDAM, aumentando o
fluxo de pessoas nas terras aos redores da rodovia e nas estradas construídas no Estado, destaca-
se que houve grandes tensões pelas terras disputadas nesta época. IANNI (1979)
O autor relata como se dava a implantação dos projetos agropecuários no município de
Conceição do Araguaia:
Realmente, entre 1966 e 1975 a SUDAM aprovou 33 projetos agropecuários para serem implantados no município de Conceição do Araguaia. Área de cada um desses projetos variava de cerca de 2.586 até 69.748 hectares. Todos, portanto, envolvia grandes extensões de terra. As terras devolutas e de posseiros, além das terras de latifúndios antigos ou recentes preexistentes em Conceição, começavam a ser redefinidas, enquanto objeto e meio de produção (IANNI, 1979, p.91).
Segundo SILVA (2001, p.12)
[...] a expansão da grande empresa capitalista na agropecuária brasileira nas décadas de sessenta e setenta foi ainda muito mais acelerada do que em períodos anteriores. E essa expansão destruiu outros milhares de pequenas unidades de produção, onde o trabalhador rural obtinha não apenas parte da sua própria alimentação, como também alguns produtos que vendia nas cidades. Foi essa mesma expansão que transformou o colono em bóia-fria, que agravou os conflitos entre grileiros e posseiros, fazendeiros e índios, e que concentrou ainda mais a propriedade da terra.
Com a chegada desses projetos mudava a rotina das famílias já inseridas no município,
como posseiros e latifundiários, onde a utilização das terras era apenas para suprir as
necessidades básicas do grupo familiar.
169
O interesse do governo na implantação desses projetos agropecuários na Amazônia legal
tinha como principal objetivo o desenvolvimento da região, mas a realidade é que esses projetos
de certa forma caracterizou a permanência de grandes latifúndios principalmente no município de
conceição do Araguaia.
Muitas empresas não desenvolveram os objetivos reais desses grandes projetos é o que
afirma Loureiro e Pinto (2005) apud Pantoja, Schmitz e Oliveira (2011) p. 04:
Muitos empresários não investiram os recursos em novas empresas na região, mas sim na compra de terras para simples especulação futura; alguns aplicaram-nos em suas empresas situadas noutras regiões do país; e várias empresas foram criadas de forma fictícia. Outras (como a Volkswagen, o Bamerindus etc.) devastaram grandes extensões de terras cobertas por ricas florestas e transformaram essas áreas em pasto para a criação de gado, desprezando a enorme disponibilidade de pastos e campos naturais; enfim, trouxeram grandes prejuízos ecológicos, desperdiçaram ou desviaram os recursos públicos colocados à sua disposição, criaram poucos empregos e não trouxeram o prometido desenvolvimento para a região.
Com a chegada desses projetos no município de conceição do Araguaia a estrutura
fundiária é diversifica. IANNI (1979) Afirma que 1977, o município contava com quatro tipos de
modalidades agrárias, a primeira é o latifúndio, seguido pela segunda a empresa agropecuária,
mineradora e madeireira, esses grupos se apoiavam no domínio e propriedade titulada da terra, a
terceira é a posse, que corresponde a média e pequena parte das terras, não possui títulos é
constituída pela classe dos menos favorecidos que compõem o campesinato da região, a quarta é
a colônia são criadas por agentes governamentais como o INCRA, com títulos provisórios ou
definitivos. (colocar as primeiras colônias)
O referido autor destaca que neste período apenas duas cidades tinham uma formação
mais antiga Marabá e Conceição do Araguaia, entre elas alguns povoados como de Alacilândia e
Rio Maria e várias extensões de terras cobertas por densas matas. Essas cidades tem uma
importância muito grande no que desrespeita ao desenvolvimento da região Sul do Pará, como
base de apoio as populações que vinham de várias regiões do Brasil principalmente do Nordeste,
em busca da oportunidade do acesso a terra, trabalhos em garimpos ou em grandes fazendas.
Podemos perceber que esses projetos impulsionou a migração para a região e também
trouxe consigo a disputa entre os posseiros e latifundiários que já estavam instalados na
localidade, também os que chegavam com o sonho de adquirir um pedaço de terra. A
conflitualidade é um fator relevante quando falamos de desenvolvimento rural não há
desenvolvimento sem conflitos.
170
Bernardo Mançano Fernandes (2004) aborda sobre a conflitualidade emposta pelo
capital desenvolvido do meio rural:
O capital gera a conflitualidade determinando a relação social dominante, tornando sempre subalterno o campesinato. Nessa condição, nasce o conflito, porque o capital, tentando manter sua lógica e seus princípios, enfrenta permanentemente os camponeses para continuar dominando-os. Por sua própria dignidade, os camponeses lutam continuamente pela autonomia política e econômica (FERNANDES, 2004, p. 9).
Com as reivindicações dos movimentos socioterritoriais como MST com o apoio da CPT,
foi possível fortalecer o campesinato brasileiro, possibilitando o acesso a terra e assim através
desses movimentos desenvolverem várias regiões do Brasil, podemos atribuir este fator a região
Sul do Pará, tornado uma política essencial para desarticular a estrutura fundiária composta por
latifúndios improdutivos que veio de herança dos grandes projetos agropecuários, e desenvolver
uma nova política agrícola voltada para agricultura familiar. Mesmo que alguns conflitos tenham
sido violentos como o massacre de Eldorado dos Carajás na fazenda Macaxeira em 1996, não
inibiu os camponeses de lutar pela igualdade de oportunidade no campo, muito ainda deve ser
feito na região amazônica para inibir a violência contra posseiros dando a eles maiores
oportunidades no campo.
Segundo informações do INCRA, no sudeste do estado do Pará esta inserido o maior
numero de assentamentos do Brasil, e encontra sobre a competência da Superintendência
Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA- SR 27), matriz na cidade
de Marabá. O município de Conceição do Araguaia se localiza nesta mesma região destacada
anteriormente, possui números significativos de projetos de assentamentos nos quais os principais
são: Joncom, Padre Jocimo Tavares, São Domingos e Canarana entre outros. Torna-se evidente a
competência desses agentes sociais de luta pela terra com a capacidade de possibilitar um novo
espaço geográfico, gerado por meio das suas ações e lutas, em uma área antes dominada pelo
grande latifúndio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desse artigo foi de fazer uma reflexão teórica a cerca das questões agrárias do
no nosso país com enfoque no município de Conceição do Araguaia-PA. Dessa forma vale ressaltar
que o trabalho objetivou também mostrar como anda o processo de Reforma Agrária na
Amazônia.
171
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, Maíra Silva de; LIMA, Edvaldo Carlos. A Importância do MST na Luta pela Terra e pela Reforma Agrária no Semi-Árido Nordestino: o caso dos Assentamentos Rurais Normandia-PE e Juazeiro I-PB. IN. VI Simpósio Nacional de Geografia Agrária, Belém. UFPA, p. 1-19, 2011.
FERNANDES, Bernardo Mançano. Questão Agrária: conflitualidade e desenvolvimento territorial. (Departamento de Geografia e no Programa de Pós – Graduação em Geografia). P. 1-57. Presidente Prudente. Universidade Estadual Paulista – UNESP. 2004.
IANNI, Octavio. A Luta pela Terra: história Social da Terra e da Luta pela Terra numa Área da Amazônia. 2ª ed. Petrópolis: vozes, 1979.
_______. Origens Agrárias do Estado Brasileiro. 1ª reimpr, da 1ª ed. de 1984. São Paulo: Brasiliense, 2004.
LAKATOS, E. M. MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas. 2003.
MARQUES, Marta Inez Medeiros. A atualidade do uso do Conceito de Camponês. Revista NERA, Presidente Prudente, Ano11, nº. 12, p. 57-67. Jan-Jun./2008.
MARTINS, José de Souza. Os Camponeses e a Política no Brasil. 5ª ed. Petrópolis, Vozes 1995.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo Capitalista de Produção, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo: FFLCH, 2007. Disponibilizado em: http://www.fflch.usp.br/dg/gesp.
PANTOJA, Rosiane Cristina Pimentel; SCHMITZ, Heribert; OLIVEIRA, Lélia Lúcia Ferreira de. Regularização Fundiária no Pará: as Experiências na Criação de Assentamentos e Quilombos Estaduais. In: VI Simpósio Nacional de Geografia Agrária, Belém. UFPA, p. 1-23, 2011.
SILVA, Edson Batista da. O Espaço Agrário Brasileiro em Disputa. IN. VI Simpósio Nacional de Geografia Agrária, Belém. UFPA, p. 1-21, 2011.
SILVA, José Graziano da. O Que é Questão Agrária. 4ª reimpr. Da. 2ª ed. de 1993. São Paulo: Brasiliense, 2001.
SOUZA, Luciana Carvalho e. A Luta pela Terra e as Políticas Públicas de Formação dos Assentamentos Rurais: a Criação de Projetos Nacionais de Reforma Agrária. IN. VI Simpósio Nacional de Geografia Agrária, Belém. UFPA, p. 1-18, 2011.