2
ANÁLISE INTEGRADA DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DO ESTUÁRIO DO RIO CHORÓ – CASCAVEL – CEARÁ
Cícera Angélica de Castro dos Santos - Universidade Federal do Ceará-UFC (mestranda em Geografia) - [email protected]
Prof. Dr. Edson Vicente da Silva - Universidade Federal do Ceará-UFC (Docente) – [email protected]
RESUMO
Este trabalho resulta da pesquisa desenvolvida no estuário do Choró, Cascavel, Ceará. A bacia do rio Choró abrange o território de 13 municípios cearenses, onde as características fisiográficas apresentam-se diversificadas. O rio desemboca a nordeste da vila de Jacarecoara no município de Cascavel, junto a sua foz esta a comunidade de Barra Nova. No local está ocorrendo à expansão da vila de pescadores, com a construção de casas de veraneio e equipamentos de infra-estrutura, sendo iniciada a partir da ocupação de áreas mais próximas das margens do estuário e da faixa de praia. As intervenções antrópicas foram inicialmente implantadas na planície de maré, bancos de areia existentes na margem do canal e desembocadura, em áreas de manguezal e zonas de aporte de sedimentos eólicos. A referida pesquisa tem por objetivos analisar e monitorar a qualidade ambiental da zona estuarina em questão, elaborar diretrizes para o seu planejamento ambiental visando apresentar alternativas de manejo, através de zoneamento e gestão integrada, além de realizar uma análise integrada que permitirá cartografar as diferentes unidades de paisagem e interpretar suas condições e inter-relações na dinâmica do conjunto estuarino. As residências de pescadores e casas de veraneio foram construídas na margem esquerda do canal, em grande parte sobre terraços marinhos holocênicos, planície de maré (com a construção de muros para interceptar a entrada da maré) e bancos de areia, sem levar em consideração as áreas de domínio das marés, e expansão do manguezal, iniciando uma completa desestruturação ambiental, urbanística, cultural e social da pequena vila de pescadores. O crescimento das cidades litorâneas, sem levar em conta as reações biofísicas e o suporte ambiental, além de acarretar em impactos sociais, promove interferências no fluxo de materiais, gerando uma série de impactos relacionados ao uso e ocupação desordenada das unidades geoambientais.
ABSTRACT
This work results from research developed in the estuary of crying, Cascavel, Ceará. Chor The river basin covers the territory of 13 municipalities Ceará, where the physiographic features present are diverse. The river flows northeast to the town of Jacarecoara in the city of Cascavel, near its mouth that the community of Barra Nova. In the local expansion is occurring to the village of fishermen, with the construction of summer houses of equipment and infrastructure, which started from the occupation of areas closer to the shores of the estuary and the strip of beach. Anthropogenic interventions were initially established on the plains of tide, the sand banks in the margin of the outfall channel and in areas of mangrove areas, and sediment input of wind. The research aims to analyze and monitor the environmental quality of estuarine area in question, prepare guidelines for its environmental planning to submit alternative
3
management through zoning and integrated management, and conduct an integrated analysis that will map the different units of landscape conditions and interpret their inter-relationships and the dynamics of the whole estuarine. The homes of fishermen and the summer homes were built on the left bank of the channel, largely on Holocene marine terraces, tidal plain of (the construction of walls to intercept the entry of the oil) and banks of sand, without taking into account the areas of tidal area, and expansion of the mangrove, starting a complete environmental destruction, urban, cultural and social of the small village of fishermen. The growth of coastal cities, without taking into account the reactions and support biophysical environment, and lead to social impacts, promote interference with the flow of materials, generating a series of impacts related to the use and occupancy of the disordered units geoambientais. Palavras – Chave: Estuário; Análise Ambiental; Uso e Ocupação do Solo.
Introdução
Geograficamente, a zona costeira cearense possui um conjunto de usos e
atividades que a tornam única. A exploração dos recursos naturais, a biodiversidade, os
ecossistemas da zona costeira fazem com que a valorização deste espaço intensifique o
processo de ocupação, que em muitas vezes ocorre de forma desordenada.
O crescimento urbanístico em regiões litorâneas tem acarretado em diminuição
na qualidade ambiental nas zonas costeiras originando uma série de impactos
ambientais, gerando dificuldades na gestão dos recursos naturais disponíveis. O estudo
dos estuários apresenta normalmente um elevado grau de dificuldade uma vez que estes
sistemas aquáticos envolvem geometrias, usos da terra e padrões de circulação
hidrodinâmica muito complexas e apresentam-se fortemente modificados por ações
antropogênicas.
Neste sentido, torna-se necessário analisar e monitorar a qualidade ambiental
da zona estuarina em questão, elaborar diretrizes para o planejamento ambiental,
visando apresentar alternativas de manejo, através de zoneamento e gestão para a área
de estudo.
4
Localização da Área de Estudo
A área de pesquisa localiza-se no setor leste do litoral cearense. O município de
Cascavel encontra-se localizado no setor Nordeste do Ceará. Limita-se ao Norte com
Oceano Atlântico, Pindoretama e Aquiraz, ao Sul com Ocara e Beberibe, a Leste com
Beberibe e o Oceano Atlântico e a Oeste com Horizonte, Pacajus e Chorozinho.
Figura 01: Mapa de localização da área de estudo
Situada no setor leste do litoral cearense, a foz do rio Choró desemboca na
localidade de Barra Nova, no município de Cascavel, distante cerca 60 km da capital. A
bacia do rio Choró abrange cerca de 5.000 km².
5
A bacia hidrográfica do rio Choró – ao lado das bacias do Pirangi, do Pacoti,
do Cocó e Ceará – apresenta-se como um dos pequenos sistemas hidrográficos do
Nordeste cearense, encravadas entre o Jaguaribe e o Acarau.
A bacia do Choró abrange em parte, ou no todo, o território de treze municípios
cearenses: Beberibe, Cascavel e Pacajús (litoral); Aratuba, Mulungu e Guaramiranga
(Serra de Baturité); Aracoiaba, Redenção e Baturité (pé-de-serra úmido); Capistrano e
Itapiúna (pé-de-serra seco); Canindé e Quixadá (sertão), onde as características
fisiográficas apresentam-se diversificadas.
Análise Integrada das Condicionantes Geoambientais da Área
A análise integrada do ambiente natural se utiliza de estudos unificados das
condições naturais que dão uma percepção do meio em que vive o homem e em que se
adaptam os demais seres vivos.
A análise ambiental integrada deve ser considerada como o estudo unificado
das ciências da Terra que dão uma percepção geral do meio em que vive o homem.
Visa-se a análise dos elementos que compõem a natureza não por si mesmos, mas
também por suas conexões.
A necessidade de percepção do conjunto considerada como requisito para a
análise integrada presume a consideração dos mecanismos que integram
harmonicamente a natureza, considerando a complexidade e heterogeneidade. Isso
requer a adoção de metodologias e técnicas que visem a compreensão concomitante e
integral dos elementos que representem condições potencialmente positivas ou
limitantes pra a utilização dos recursos naturais.
6
Nas figuras 02,03 e 04 é possível observar as modificações na paisagem
através da instalação de equipamentos urbanos.
Figura 02: Rio Choró
Figura 03: Instalação do Parque Eólico
Figura 04: Casas de Veraneio
Condições geológicas e geomorfológicas
O baixo vale do Choró tem nos sedimentos cenozóicos os terrenos dominantes.
Na faixa costeira os terrenos holocênicos arenosos constituem a planície litorânea, cuja
largura é variável em função de uma maior ou menor penetração em direção ao mar, dos
tabuleiros esculpidos nos depósitos mais antigos da Formação Barreiras. (SOUZA,
1975).
A linha de costa é pouco recortada. Orientando no sentido NW-SE. A foz do
rio evidencia traços de um rio com barra modificada pela migração do campo de dunas.
De acordo com a compartimentação morfoestrutural de Souza (1988), estas
unidades encontram inseridas dentro dos depósitos sedimentares cenozóicos, sendo os
seguintes: planície litorânea e tabuleiro litorâneo.
A planície litorânea tem suas feições morfológicas compostas pela faixa de
praia e pós-praia, planícies flúvio-marinha, campo de dunas móveis e fixas, resultantes
de processos de acumulações eólicas, marinhas e fluviais, isoladas ou em conjunto.
7
A planície litorânea, na área de estudo, é a unidade com maior expressão
espacial. Apresenta maior fragilidade ambiental e possui um grande potencial para o
desenvolvimento de atividades turísticas. Estas áreas estão sujeitas aos impactos
provocados, principalmente pela ação antrópica, através da ocupação desordenada, e por
tensores naturais, como a deriva litorânea as estações de chuva e de estiagem.
O tabuleiro litorâneo está modelado na Formação Barreiras, cujos sedimentos
são de origem continental. Dentro da área de pesquisa, os tabuleiros acompanham a
linha de costa, estando localizados a retaguarda do campo de dunas.
O recurso hídrico e contexto hidroclimático
O rio principal tem suas nascentes em altitudes pouco superiores a 300 m a
oeste do município de Quixadá. Desemboca na localidade de Barra Nova, no município
de Cascavel após percorrer um curso de 173 km.
A largura da bacia tende a um considerável estreitamento de montante para
jusante, passando de 50 a 40 km nos setores superior e médio, para menos de 20 km no
baixo curso. O Choró coleta água de uma grande parte da Serra do Estevão (bacia
superior) e principalmente do setor úmido oriental do Maciço de Baturité (sub-bacia do
rio Aracoiaba).
O tipo de escoamento dominante no alto curso tem um papel determinante na
dinâmica fluvial, tanto no que diz respeito ao transporte de material, como no tocante às
formas deposicionais situadas a jusante. Os maiores coletores de água desse setor da
bacia estão entre os da margem esquerda, destacando-se os rios Cangati e Castro, com
orientações W-E. Os tributários da margem direita representam pequenos cursos
intermitentes.
8
O clima é caracterizado como Tropical Quente Semi-Árido Brando,
apresentando pluviosidade média de 1.331,7 mm. A temperatura média varia de 26º a
28(Cº). O período chuvoso concentra-se nos meses de janeiro a maio, as precipitações
são regularmente distribuídas na estação chuvosa.
Características pedológicas e recobrimento vegetal
Através de levantamento bibliográfico e cartográfico foram identificados os
solos predominantes na área de estudo. A identificação dos solos é de grande
importância para a realização da análise integrada da paisagem, pois a partir dessa
classificação torna-se possível propor medidas de uso e ocupação, levando-se em
consideração em as variáveis limitantes e potencialidades dos solos.
Figura 05: Desembocadura do rio Choró, praia de Barra Nova, Cascavel-Ceará. Fonte: SEMACE – Superintendência Estadual do Meio Ambiente
9
Na área estudada, podem ser identificados três tipos de solos predominantes: os
Neossolos Quartzarênicos encontrados principalmente nas praias, pós-praias e nos
campos de dunas. Os Neossolos Flúvicos são encontrados principalmente à beira dos
cursos fluviais e os Gleyssolos ou Solos Indiscriminados de Mangue, presentes na
planície flúvio-marinha, como pode ser observado nas figuras 06,07 e 08.
No tocante aos aspectos vegetacionais, a cobertura vegetal exerce diversas
funções na manutenção dos ecossistemas, como: regulação climática e do ciclo da água,
alimento para as mais diversas espécies da fauna e para os seres humanos, proteção do
solo e das margens dos rios, estabilização do relevo.
Na área de pesquisa, as formações vegetais observadas podem ser classificadas
de acordo com Silva (1998), em: Vegetação Pioneira Psamófila, Vegetação
Subperenifólia de Dunas, Vegetação Paludosa de Mangue e Vegetação Subcaducifólia
de Tabuleiro, como são observadas nas figuras 09 e 10.
Figura 06: Neossolos Quartzarênicos na faixa de praia
Figura 07: Neossolos Flúvicos no leito do rio
Figura 08: Gleyssolos
10
Considerações Finais
Os estuários localizados no Estado do Ceará apresentam como grande
peculiaridade a presença de barramentos ao longo dos canais fluviais e estuarinos que
controlam o desperdício de água doce para o interior do sistema, porém as construções
dessas barragens sem a devida consonância com o grau de suporte destes ambientes
provocam uma série de alterações físicas, químicas e biológicas resultando em inúmeros
impactos a jusante dessas construções. Outra questão crucial que atinge o estuário
analisado é o são impactos como: desmatamento do manguezal, da mata ciliar,
soterramento de gamboas e canais de maré e contaminação da água por efluentes
contaminados.
A expansão da vila de pescadores, a construção de casas de veraneio e a
instalação de equipamentos de infra-estrutura caracterizam as modificações espaciais
realizadas na área, sendo iniciada a partir da ocupação de áreas mais próximas das
margens do estuário e da faixa de praia.
As residências de pescadores e casas de veraneio forma construídas na margem
esquerda do canal, em grande parte sobre terraços marinhos holocênicos, planície de
Figura 09: Aspectos vegetacionais
Figura 10: Vegetação Paludosa de Mangue
11
maré (com a construção de muros para interceptar a entrada da maré) e bancos de areia,
sem levar em consideração as áreas de domínio das marés, e expansão do manguezal.
O campo de dunas moveis e semi-fixas estão sendo loteados, o que pode
acarretar em soterramento de casas e inviabilizar a manutenção de infra-estrutura básica.
Os campos dunares em contato com a faixa praial e as margens do canal devem ser
preservados, visto sua intensa participação na dinâmica estuarina e no aporte
sedimentar, realizado através do ciclo sedimentológico, evitando processos erosivos na
desembocadura do rio e na faixa de praia.
Com a construção das casas de segunda residência está iniciada uma completa
desestruturação ambiental, urbanística, cultural e social da pequena vila de pescadores.
A continuidade da expansão através da implementação de loteamentos,
construção de vias de acesso, centros comerciais são ocupadas áreas ao longo da faixa
de praia e canais estuarinos. Desta forma, as intervenções em Barra Nova ocorrem na
faixa de berma, planícies de maré, dunas fixas e no ambiente estuarino.
Serão avaliados as condições ambientais da área onde está implementada a
atividade de carcinicultura, bem como alterações ambientais provocadas pela atividade
da carcinicultura.
O crescimento das cidades litorâneas, sem levar em conta as reações biofísicas
e o suporte ambiental, além de acarretar em impactos sociais, promove interferências no
fluxo de materiais, gerando uma série de impactos relacionados ao uso e ocupação
desordenada das unidades geoambientais.
As zonas litorâneas com presença de estuários são ambientes nos quais os
impactos antrópicos tem causado uma grande multiplicidade de alterações. Eles são
considerados como locais ideais para o desenvolvimento industrial, portuário e agrário
devido à quantidade abundante de água que dispõem por serem regiões que sofrem
influências marinhas e fluviais. Assim, essas regiões sofrem intensas pressões e
demandas dos vários setores da sociedade, podendo ser essa pressão a causadora de
mudanças e degradações ambientais, que podem se tornar irreversíveis se não forem
gerenciadas adequadamente.
12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUASIS – Associação de pesquisa e preservação de ecossistemas aquáticos. A Zona Costeira do Ceará: Diagnóstico para gestão integrada. Fortaleza: AQUASIS, 2003. BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. 351p. BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global. Caderno de Ciências da Terra, São Paulo, 1972. N.13, p.1-27. CAVALCANTI, A. P. B. Métodos e técnicas da análise ambiental: guia de estudos para estudos do meio ambiente. Teresina: UFPI, 2006. 111p. CPRM. Atlas digital dos recursos naturais do estado do Ceará. 2003. CD-ROM. IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – Perfil Básico do Município de Cascavel. Fortaleza, 2005. IPLANCE. Atlas do Ceará. Fortaleza, Fundação Instituto de Planejamento do Ceará, 1995. RODRIGUEZ, J. M. M; SILVA. E. V. da & CAVALCANTI. A.P.B. Geoecologia da
Paisagem – uma análise geossistêmica da análise ambiental. Fortaleza: Edições: UFC,
2004.
SILVA, E .V .Geoecologia da Paisagem do Litoral Cearense: uma abordagem ao
nível regional e tipológica. Tese (para professor titular), UFC, 1998. 436p.
SOTCHAVA, V .B . O estudo dos geossistemas. São Paulo: USP, 48p. (Traduzido da
versão inglesa The Study of Geossystems). 1977.
SOUZA. M. J. N. Geomorfologia do vale do Choró. Tese de Mestrado, Universidade
de São Paulo. IGEOG –USP . série Teses e Monografias. N.°16. São Paulo, 1975.
TRICART. Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977, 97p.