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História do Brasil Prof. Lamarão

1. A UNIÃO IBÉRICA E A

INVASÃO HOLANDESA.

Em 1580, o Rei de Portugal

morre e, sem deixar um

herdeiro direto, o trono

português é transmitido a Felipe

II, Rei da Espanha. Com isso,

com a união dos dois Reinos

Ibéricos sob o domínio de um

mesmo rei, teve início o período

denominado União Ibérica.

Contudo, os Países Baixos

mantinham com a Espanha (de

quem era colônia) sucessivas

guerras pela sua autonomia

política. Desta maneira, Felipe II,

visando atingir uma importante

fonte econômica holandesa,

proíbe a participação destes no

circuito do açúcar brasileiro.

Visando retomar os seus lucros

com o comércio do açúcar, os

Países baixos criam A

Companhia de Comércio das

Índias Ocidentais, imitando a

bem sucedida experiência da

Companhia das Índias Orientais,

que se tratava da reunião de

capitais abertos de investidores,

que detinham participação no

lucro conforme o tamanho do

seu investimento inicial, num

sistema de ações bastante

parecido com o que temos

atualmente. Estas duas

Companhias foram

fundamentais para a quebra do

monopólio ibérico dos mares,

questionando o princípio do

Mare clausum (a navegação

pelos mares é exclusiva de

Portugal e Espanha) defendido

pelos ibéricos e afirmando o

princípio do Mare Liberum (a

navegação pelos mares é livre

pra todos os países). Esta forma

de sociedade anônima visava

reunir recursos capazes de

manter um assentamento

holandês em terras Americanas

e, assim, retomar o comércio e

sua participação nos lucros do

açúcar que chegava a, em certos

casos, quase 40% do total dos

lucros.

Assim pouco a pouco se reuniu

condições de além de atividades

de saques e pirataria com os

navios de açúcar vindos do

Brasil, iniciar uma tentativa real

que poria em xeque o domínio

ibérico do nordeste brasileiro.

Em uma primeira oportunidade,

tentou-se invadir a capital,

Bahia. Para tanto, organizou-se

grandiosa esquadra que

mobilizou 26 navios que

totalizavam 450 canhões e mais

de três mil homens. Bahia foi

rapidamente tomada em seus

pontos chaves e seu governador

capturado e enviado para a

Holanda. Os homens bons da

Bahia se exilaram em suas

fazendas e organizaram

importante estratégia que

impediu a expansão da invasão

holandesa, utilizando-se da

tocaia como um importante

mecanismo de combate aos

holandeses.

Contudo, a ação da Coroa

Ibérica é que foi fundamental

para a vitória dos portugueses.

Para os portugueses era uma

questão fundamental

retomarem a Bahia, daí que

fizeram espalhar a ideia de que

com a Bahia tomada se iniciava

uma base para a tomada de

outras regiões da América

Espanhola. Assim, o Rei da

Espanha e Portugal mobiliza

uma tropa composta por 52

esquadras e 12 mil homens

dando fim, em menos de um

ano, a primeira invasão

holandesa no Brasil.

No entanto, os holandeses não

parariam por aí.

1.1 A INVASÃO

HOLANDESA A PERNAMBUCO

Assim, mantendo suas

atividades piratas no mar do

Caribe, a Cia. Das Índias

Ocidentais apreende um navio

espanhol abarrotado de prata e,

com isso, arrecada os recursos

necessários para uma nova

incursão no território brasileiro.

Desta vez, a Capitania escolhida

fora a de Pernambuco que, além

de menos defendida do que a

capital, era a principal produtora

de açúcar. As movimentações

navais dos holandeses serviram

de alerta aos espanhóis e

brasileiros que já sabiam da

iminência do ataque. Contudo,

isto não significou que estes

tivessem tempo ou condições

de impedir a invasão. A medida

mais drástica tomada foi

transferir Matias de

Albuquerque para organizar as

defesas. Sem recursos materiais

e bélicos, tendo que improvisar

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navios comerciais para batalhar

com os navios holandeses, a

resistência aos holandeses é

derrubada em pouco tempo.

Uma contra ofensiva

metropolitana é organizada,

mas suas naus são derrotadas

ainda na Bahia.

Assim, com Pernambuco

tomado, o objetivo dos

portugueses era impedir a

expansão desta invasão. Para

isto, utilizaram de táticas mistas

de guerra, tanto europeias

quanto locais. Tropas volantes

se posicionavam ao longo das

estradas e das saídas das tropas

holandesas. Por outro lado, foi

organizado um arraial (de Bom

Jesus), para organizar as tropas

e armamentos sob a estratégia

europeia. Em pouco tempo os

holandeses conquistaram a ilha

de Itamaracá (1633), o Rio

Grande do Norte (1634) e a

Paraíba (1634).

A derrota do Arraial de Bom

Jesus foi simbólica nesta

invasão. Divulgando propaganda

que anunciaria as vantagens dos

colonos de se aliarem aos

holandeses (liberdade de

religião e respeito à propriedade

privada) esta ação militar

contou, assim, com o apoio de

alguns colonos, como o caso de

Fernandes Calabar que

apresentava aos holandeses os

principais acidentes geográficos

da região.

1.2 O GOVERNO DE

NASSAU

Assim, após a

conquista de

um amplo

território, os

holandeses

decidem

substituir o

Conselho

Político por

uma administração mais

centralizada. Assim, é escolhido

como Governador Geral do

Brasil Holandês o conde

Maurício de Nassau. Após sua

chegada, Nassau sufoca os

últimos focos de resistência.

Desta maneira, os holandeses

puderam se lançar ao controle

de portos na África, controlando

outro fator importante da

produção do açúcar.

Dispondo de vastos recursos

matérias disponibilizados pelas

lucrativas atividades da Cia de

Comércio Ocidental, Nassau fez

uma administração política

bastante diferente da lusitana.

Concedeu crédito e perdoou

dívidas de açucareiros, com o

objetivo de acelerar a produção

ao tempo que angariava apoio

político. Além disto, era

garantida na Nova Holanda a

liberdade do Culto e, com isso, a

convivência de distintas

religiões. Os colonos lusitanos

eram católicos, os holandeses

eram calvinistas e, por fim, fora

estimulado a vinda de judeus da

Holanda para a Nova Holanda.

Além disso, pintores distintos

como Albert Eckhout foram

trazidos para o Brasil e

produziram uma vasta obra

artística baseada na região de

Pernambuco. Naturalistas foram

trazidos com o objetivo de

estudarem a fauna e a flora do

Brasil. O médico pessoal de

Nassau produziu o primeiro livro

de medicina baseado em

doenças tropicais. Urbanistas

foram estimulados a pensarem

Nova Holanda, bem como

escultores e botânicos. O

palácio de Friburgo, sede de

Nova Holanda, é hoje a sede do

governo Estadual de

Pernambuco. Não à toa, muitos

especialistas classificam esta

região como a mais importante

do Atlântico Sul no século XVII.

1.3 A INSURREIÇÃO

PERNAMBUCANA

A crise no preço do açúcar na

Europa provoca uma drástica

redução dos lucros holandeses

que, descontentes com o alto

gasto da administração de

Nassau, resolve mudar o

governador- geral. Com isto,

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maior rigidez na cobrança de

impostos foi implementada,

causando insatisfação entre os

grandes fazendeiros.

Além do mais, a Restauração

Portuguesa, em 1640, com a

chegada de D. João IV ao Trono

português, pôs fim à União

Ibérica. Este fato dá maior força

ao movimento restaurador que

começa a se organizar para

tomar de volta a região de

Pernambuco. As diferenças

religiosas fez com que os

colonos portugueses

chamassem este conflito de

Guerra da Liberdade Divina.

Diversas batalhas se sucederam

até a retomada portuguesa, em

1645. Pesou a favor dos

portugueses, dois fatores: a

aliança feita com os índios; e o

modelo colonizador holandês

não ter deslocado para cá

grandes contingentes

populacionais, além disso, o alto

custo da manutenção da guerra

atentando contra os

decrescentes lucros do açúcar

motivara a Cia de Comércio a

ordenar a retirada holandesa.

Contudo, mesmo expulsos, os

holandeses marcariam por vez o

comércio do açúcar ao se

transferirem para as Antilhas e

inaugurarem a concorrência do

açúcar, apresentando ao

mercado europeu um produto

de melhor qualidade do que os

portugueses.