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Piscicultura 1
NDICE
1 INTRODUO .................................................................................................................. 6
2 CARACTERSTICAS GERAIS DOS PEIXES............................................................... 7
2.1 ANATOMIA DOS PEIXES ................................................................................................. 7 2.1.1 Morfologia externa ........................................................................................................ 8 2.1.2 Morfologia interna ........................................................................................................ 9
2.2 CADEIA ALIMENTAR DOS PEIXES ............................................................................. 14 2.2.1 Planctvoros ou planctfagos ...................................................................................... 15 2.2.2 Herbvoros .................................................................................................................... 15 2.2.3 Carnvoros .................................................................................................................... 16 2.2.4 Onvoros ....................................................................................................................... 16 2.2.5 Detritvoros .................................................................................................................. 16 2.2.6 Ilifagos ....................................................................................................................... 17
2.3 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 17 2.3.1 Descrio do problema ................................................................................................ 17 2.3.2 Questionamento ........................................................................................................... 18
2.4 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 19
3 AMBIENTE AQUTICO - PROPRIEDADES FSICO-QUIMICAS DA GUA .... 20
3.1 TEMPERATURA .............................................................................................................. 20 3.2 TRANSPARNCIA .......................................................................................................... 22 3.3 CARACTERSTICAS QUMICAS ................................................................................... 23 3.4 POTENCIAL HIDROGENINICO (PH) .......................................................................... 23 3.5 OXIGNIO DISSOLVIDO (O2D) ..................................................................................... 25
3.5.1 Difuso direta .............................................................................................................. 25 3.5.2 Processo de fotossntese ............................................................................................... 25
3.6 DIXIDO DE CARBONO (CO2) ...................................................................................... 25 3.7 ALCALINIDADE ............................................................................................................. 26 3.8 SLIDOS SUSPENSOS .................................................................................................... 26 3.9 NITROGNIO ................................................................................................................... 27 3.10 CARACTERSTICAS BIOLGICAS .............................................................................. 27 3.11 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 28
3.11.1 Descrio do problema .............................................................................................. 28 3.11.2 Questionamento ......................................................................................................... 29
3.12 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 29
4 SISTEMAS DE PRODUO ......................................................................................... 30
4.1 CLASSIFICAO DA CRIAO QUANTO A SUA FINALIDADE ............................ 30 4.1.1 Cria ou produo de alevinos ...................................................................................... 30 4.1.2 Recria, engorda ou produo de pescado ................................................................... 30 4.1.3 Explorao mista de cria e recria................................................................................ 30 4.1.4 Outros tipos de explorao .......................................................................................... 30
4.2 CLASSIFICAO DA PISCICULTURA QUANTO AO SISTEMA DE CRIAO ...... 30 4.2.1 Piscicultura extensiva .................................................................................................. 30 4.2.2 Piscicultura semi-intensiva ......................................................................................... 31 4.2.3 Piscicultura intensiva .................................................................................................. 31
4.3 QUANTIDADE DE GUA X SISTEMA DE PRODUO ............................................ 31 4.3.1 Semi-intensivo .............................................................................................................. 31 4.3.2 Intensivo ....................................................................................................................... 31
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Piscicultura 2
4.4 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 32 4.4.1 Descrio do problema ................................................................................................ 32 4.4.2 Questionamento ........................................................................................................... 32
4.5 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 32
5 CONSTRUO DE VIVEIROS .................................................................................... 33
5.1 FATORES DETERMINANTES PARA LOCALIZAO DE VIVEIROS ...................... 33 5.1.1 Escolha do local ........................................................................................................... 33 5.1.2 gua ............................................................................................................................. 33 5.1.3 Medidas de vazo ......................................................................................................... 34 5.1.4 Solos e seleo de equipamentos - granulometria ...................................................... 35 5.1.5 Permeabilidade ............................................................................................................ 35 5.1.6 Topografia .................................................................................................................... 36
5.2 TIPOS DE VIVEIROS ....................................................................................................... 36 5.3 PARA CONSTRUO DE VIVEIROS ........................................................................... 37
5.3.1 Recomendaes para tamanhos e profundidade de viveiros ...................................... 37 5.4 TIPOS DE VIVEIROS ....................................................................................................... 38
5.4.1 Viveiros de terra (escavados) ....................................................................................... 38 5.4.2 Viveiros de alvenaria ................................................................................................... 38 5.4.3 Outros ........................................................................................................................... 38
5.5 FORMA E DIMENSES DE VIVEIROS ......................................................................... 39 5.6 OUTRAS CARACTERSTICAS IMPORTANTES NA CONSTRUO DE VIVEIROS
39 5.6.1 Sada de gua e Canal de Desge............................................................................. 39 5.6.2 Estruturas .................................................................................................................... 39
5.7 PLANEJAMENTO DE UMA CRIAO ......................................................................... 42 5.7.1 Cronograma de produo e utilizao dos tanques .................................................... 43
5.8 PROJETO PADRO PARA A PISCICULTURA EM VIVEIROS DE TERRA (PARA 15.000 M
2 - L,5HA) ....................................................................................................................................... 44
5.8.1 Engorda........................................................................................................................ 45 5.9 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 47
5.9.1 Descrio do problema ................................................................................................ 47 5.9.2 Questionamento ........................................................................................................... 48
5.10 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 49
6 CALAGEM E ADUBAO DE VIVEIROS ................................................................ 50
6.1 PREPARO DOS VIVEIROS ............................................................................................. 50 6.2 ESVAZIAMENTO ............................................................................................................ 50 6.3 DESINFECO ................................................................................................................ 50
6.3.1 Desinfeco com cal virgem (CaO) ou cal hidratada (Ca(OH)2) .............................. 50 6.3.2 Desinfeco de reas escuras e com cheiro de enxofre .............................................. 50
6.4 APLICAO DE CALCRIO ......................................................................................... 50 6.5 OXIDAO DA MATRIA ORGNICA ....................................................................... 51 6.6 FERTILIZAO ............................................................................................................... 52
6.6.1 Fertilizantes qumicos (N - P K) ............................................................................... 52 6.6.2 Fertilizao antes do povoamento ............................................................................... 53 6.6.3 Fertilizao aps o povoamento .................................................................................. 53 6.6.4 Recomendaes ............................................................................................................ 54
6.1 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 54 6.1.1 Descrio do problema ................................................................................................ 54 6.1.2 Questionamento ........................................................................................................... 54
6.2 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 54
7 ESPCIES CULTIVADAS NO BRASIL ...................................................................... 55
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Piscicultura 3
7.1 NATIVAS .......................................................................................................................... 55 7.1.1 Pacu (Piaractus mesopotamicus) ................................................................................ 55 7.1.2 Piau, Piauu, Piapara (Leporinus sp) ......................................................................... 55 7.1.3 Curimat ou curimba (Prochilodus scrofa) ................................................................ 56 7.1.4 Matrinch, Piraputanga (Brycon sp) .......................................................................... 56 7.1.5 Pintado, Surubim (Pseudoplatystoma coruscan) ........................................................ 57 7.1.6 Jundi (Rhamdia quelen) ............................................................................................ 57 7.1.7 Trara (Hoplias malabaricus) ...................................................................................... 58
7.2 EXTICAS ........................................................................................................................ 59 7.2.1 Carpa cabea grande (Aristichthys nobilis) ................................................................ 59 7.2.2 Carpa capim (Ctenopharyngodon idella) .................................................................... 59 7.2.3 Carpa prateada (Hypophthalmichthys molitrix) ......................................................... 60 7.2.4 Tilpia (Oreochromis niloticus) .................................................................................. 61
7.3 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 61 7.3.1 Descrio do problema ................................................................................................ 61 7.3.2 Questionamento ........................................................................................................... 62
7.4 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 62
8 REPRODUO NATURAL E ARTIFICIAL DOS PEIXES ...................................... 63
8.1 REPRODUO COMO UM EVENTO CCLICO ........................................................... 64 8.1.1 O ciclo anual ................................................................................................................ 64
8.2 MECANISMOS ENDCRINOS DA REPRODUO .................................................... 64 8.3 REPRODUO NATURAL............................................................................................. 65
8.3.1 Obtendo reprodutores .................................................................................................. 65 8.3.2 Induo da ovulao e/ ou desova .............................................................................. 65 8.3.3 Induo da desova sem tratamento hormonal ............................................................ 65 8.3.4 Induo da desova em superfcie artificial tipo kakabans ......................................... 66 8.3.5 Viveiros de desova com as caractersticas acima citadas ........................................... 66
8.4 REPRODUO INDUZIDA ............................................................................................ 66 8.5 ORIGEM E CUIDADOS COM O PLANTEL DE REPRODUTORES ............................. 67 8.6 IDADE PARA REPRODUO ........................................................................................ 68 8.7 POCA DE REPRODUO ............................................................................................ 68 8.8 SELEO E TRANSPORTE E ACONDICIONAMENTO DE REPRODUTORES ........ 69
8.8.1 Tamanho dos reprodutores.......................................................................................... 69 8.9 RECONHECIMENTO DO SEXO E SELEO ............................................................... 70 8.10 TRANSPORTE E ACONDICIONAMENTO ................................................................... 71 8.11 INDUO HORMONAL ATRAVS DA HIPOFISAO............................................. 72 8.12 OUTROS HORMNIOS .................................................................................................. 72 8.13 PREPARAO E INJEO DA DOSE HORMONAL ................................................... 72 8.14 HORAS-GRAU ................................................................................................................. 73 8.15 EXTRUSO E FECUNDAO ....................................................................................... 73
8.15.1 Material necessrio .................................................................................................... 73 8.16 COLETA E PRESERVAO DE GLNDULAS PITUITRIAS .................................. 75 8.17 VANTAGENS E DESVANTAGENS DE UMA DESOVA INDUZIDA .......................... 75
8.17.1 Vantagens .................................................................................................................. 75 8.17.2 Desvantagens ............................................................................................................. 75
8.18 OVOS DE PEIXES FERTILIZADOS ............................................................................... 76 8.19 FERTILIZAO ARTIFICIAL DOS OVOS DE PEIXES ............................................... 76 8.20 FERTILIZAO DOS OVOS PEGAJOSOS .................................................................... 76 8.21 FERTILIZAO DE OVOS NO PEGAJOSOS ............................................................. 77 8.22 DESENVOLVIMENTO DE OVOS E LARVAS E INCUBAO ................................... 77 8.23 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 79
8.23.1 Questionamento ......................................................................................................... 79 8.24 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 80
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Piscicultura 4
9 CULTIVO, NUTRIO E MANEJO ALIMENTAR .................................................. 81
9.1 CONSRCIO PEIXES/SUNO ......................................................................................... 82 9.2 CONSRCIO PEIXES/AVES........................................................................................... 82 9.3 POLICUTIVO PARA CLIMA TEMPERADO ................................................................. 83
9.3.1 Espcies propostas ....................................................................................................... 83 9.3.2 Proporo das espcies ................................................................................................ 84 9.3.3 Cronograma do cultivo ................................................................................................ 86
9.4 MANEJO ALIMENTAR DOS PEIXES EM POLICULTIVO .......................................... 87 9.4.1 Alimentos ..................................................................................................................... 87 9.4.2 Freqncia de alimentao ......................................................................................... 88 9.4.3 Manejo alimentar ........................................................................................................ 88 9.4.4 Resultado Esperados .................................................................................................... 88
9.5 NUTRIO DE PEIXES .................................................................................................. 90 9.5.1 Exigncias nutricionais dos peixes ............................................................................. 90 9.5.2 Exigncia protica ....................................................................................................... 90 9.5.3 Exigncia energtica ................................................................................................... 92 9.5.4 Exigncias vitamnico-minerais .................................................................................. 94 9.5.5 Qualidade dos ingredientes empregados para alimentao dos peixes...................... 96 9.5.6 Qualidade das raes ................................................................................................... 97
9.6 ATIVIDADE ..................................................................................................................... 98 9.6.1 Descrio do problema ................................................................................................ 98 9.6.2 Questionamento ........................................................................................................... 98
9.7 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 99
10 DOENAS COMUNS NA PISCICULTURA .............................................................. 100
10.1 ICTIOFTIRASE ............................................................................................................. 100 10.1.1 Tratamento ............................................................................................................... 100
10.2 VERME DE BRNQUIAS (COSTIA)............................................................................ 100 10.2.1 Tratamento ............................................................................................................... 100
10.3 SAPROLEGNOSE .......................................................................................................... 100 10.3.1 Tratamento ............................................................................................................... 100
10.4 ARGULOSE .................................................................................................................... 101 10.4.1 Tratamento ............................................................................................................... 101
10.5 ATIVIDADE ................................................................................................................... 101 10.5.1 Descrio do problema ............................................................................................ 101 10.5.2 Questionamento ....................................................................................................... 101
10.6 LEITURA COMPLEMENTAR ....................................................................................... 102 11 PROCESSAMENTO DE PESCADO E COMERCIALIZAO ................................... 103
11.1 EVISCERAO E FILETAGEM ................................................................................... 103 11.1.1 Retirada das escamas ............................................................................................... 103 11.1.2 Retirada da cabea ................................................................................................... 103 11.1.3 Eviscerao .............................................................................................................. 103 11.1.4 Fileteamento ............................................................................................................ 104
11.2 MTODOS SIMPLES DE CONSERVAO DO PESCADO ....................................... 104 11.2.1 Resfriamento ............................................................................................................ 104 11.2.2 Qualidade do gelo .................................................................................................... 105 11.2.3 Tipo do gelo .............................................................................................................. 105 11.2.4 Quantidade de gelo .................................................................................................. 105 11.2.5 Empilhamento .......................................................................................................... 105 11.2.6 Armazenagem .......................................................................................................... 105 11.2.7 Congelamento .......................................................................................................... 106 11.2.8 Salga ......................................................................................................................... 106 11.2.9 Diferentes mtodos de salga .................................................................................... 107
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Piscicultura 5
11.2.10 Secagem natural .................................................................................................... 108 11.2.11 Secagem artificial .................................................................................................. 109
11.3 ATIVIDADE ................................................................................................................... 109 11.3.1 Questionamento ....................................................................................................... 109
11.4 LEITURA COMPLEMENTAR ....................................................................................... 109
12 LEGISLAO AMBIENTAL ...................................................................................... 110
12.1 INTRODUO ............................................................................................................... 110 12.2 LEGISLAO FEDERAL .............................................................................................. 111 12.3 LEGISLAO AMBIENTAL ........................................................................................ 111
12.3.1 Licenciamento ambiental ........................................................................................ 112 12.4 LEGISLAO BSICA SOBRE PESCA E MEIO AMBIENTE ................................... 114 12.5 LEITURA COMPLEMENTAR ....................................................................................... 115
13 LITERATURA CONSULTADA .................................................................................. 117
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Piscicultura 6
1 INTRODUO
A piscicultura um tipo de explorao animal que vem se tornando cada vez mais
importante como fonte de protena para o consumo humano, principalmente pela reduo
dos estoques pesqueiros que, em 1991 (produo de 16.574.497 ton.), aumentou sua
produo em 8,3% em relao a 1990 e, 100% nos ltimos oito anos. Outros fatores que
esto favorecendo o desenvolvimento atual da piscicultura so as modificaes drsticas do
hbitat, tais como poluio, desmatamento e represamentos. A mudana no hbito
alimentar das pessoas, o aparecimento de novos produtos mais prticos para o consumo e a
utilizao para lazer e esporte, tambm favoreceram o desenvolvimento da atividade.
A exploso demogrfica e a conseqente necessidade de se produzir alimentos de
alta qualidade, em especial aqueles oriundos da explorao animal, se constitui no fator
bsico do extraordinrio desenvolvimento verificado na criao de peixes nos ltimos anos.
O Brasil desponta como uma potncia de primeiro mundo em criao de peixes
devido ao seu extenso territrio, com diferentes tipos de clima, bem como suas bacias
hidrogrficas e represas, as quais acumulam grande quantidade de guas interiores,
havendo assim, em sua ictiofauna, uma grande diversificao de espcies apresentando
grande possibilidade de utilizao na produo de pescado.
O desenvolvimento da piscicultura com espcies autctocnes tem sido uma
preocupao constante nos pases tropicais. Por isso, pesquisadores tm-se preocupado em
identificar espcies que disponham de condies que possibilitem sua explorao em
cultivos semi-intensivo e intensivo. A crescente demanda de protena de origem animal
obriga-nos a buscar o aprimoramento das tcnicas de produo de alimento, visando
explorao econmica e racional das espcies.
Dentro da realidade brasileira, a piscicultura sem dvida reconhecida como uma
atividade capaz de produzir protena de origem animal de alto valor biolgico, rica em
vitaminas e minerais, a um custo relativamente inferior as demais criaes, devido
pequena utilizao de insumos e a possibilidade do aproveitamento de resduos
agropecurios no utilizados para o consumo humano.
O objetivo deste manual dar uma informao bsica para quem pretende iniciar na
atividade de criao de peixes. Esta atividade uma alternativa para o produtor diversificar
o potencial de sua propriedade, produzindo uma fonte de protena animal a baixo custo e,
conseqentemente, aumentar a renda da famlia rural.
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Piscicultura 7
2 CARACTERSTICAS GERAIS DOS PEIXES
Estes animais pertencem classe dos OSTEICHTHYES (peixes sseos), ao Filo
CHORDATA e ao SUBFILO VERTEBRATA.
2.1 ANATOMIA DOS PEIXES
Corpo achatado lateralmente e dividido em cabea, tronco e calda
Nadadeiras pares e impares
Boca de localizao terminal
Corpo revestido por escamas ganide, ciclide e ctenide
Algumas espcies no apresentam escamas, tendo o corpo revestido por pele
Apresentam grande quantidade de glndulas mucides
Aparelho digestivo completo
Dentes Homodontes, Polifiodontes e Acrodontes
Terminao anal separada da urogenital
Abertura urogenital independente da anal
Ausncia de vlvula espiral
Aparelho respiratrio do tipo branquial e pulmonar
Quatro pares de arcos branquiais de localizao lateral nas paredes farngeas
Brnquias protegidas por um par de placas sseas (oprculos)
Sistema esqueltico de natureza ssea
Vrtebras do tipo anficlicas
Sistema circulatrio do tipo fechado simples e venoso
Nadadeira caudal homocerca e dificerca
Corao com um sinus, uma aurcula, um ventrculo e um bulbo
Sangue: hemcias elpticas e nucleadas
Sistema nervoso com 10 pares de nervos cranianos
Sistema sensorial bem diferenciado com linhas laterais, rgos visuais, olfativos, tteis e eltricos
Presena de cavidade peritonial e pericrdica
Presena de bexiga natatria com funo hidrosttica, auditiva, respiratria e de emisso de rudos
Sistema reprodutor desenvolvido e duplo
So diicos e raramente apresentam dimorfismo sexual
Geralmente ovparos com fecundao externa, raramente ovovivparos ou vivparos
Sistema excretor formado por dois rins (mesonfrons)
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Piscicultura 8
2.1.1 Morfologia externa
Apresentam corpo de forma fusiforme, achatada transversalmente e fusiforme nas extremidades
O corpo dividido em trs pores: cabea, tronco (sem limites ntidos) e cauda
A boca de localizao terminal com aspecto de uma fenda transversal.
As duas fossas nasais no tm comunicao com a boca e esto localizadas diante dos olhos
Duas narinas dispostas uma de cada lado da cabea
Dois oprculos laminados recobrindo as brnquias e dispostos atrs dos olhos com a borda posterior livre
Nos bordos da boca podem se observar duas pequenas barbas com funo ttil
O tronco limita-se anteriormente com a cabea pela borda posterior dos oprculos e com a cauda na altura das aberturas urogenital e anal
No tronco encontra-se duas nadadeiras torcicas, duas plvicas ventrais e a dorsal formada por uma nica pea
Na cauda existem duas nadadeiras impares: a caudal e anal, esta ltima disposta atrs do nus
A nadadeira caudal do tipo homocerca por apresentar dois lobos iguais separados pela terminao da coluna vertebral
Corpo apresenta-se revestido externamente por um dos trs tipos de escamas: ganides, ciclides ou ctenides
Duas linhas laterais percorrem longitudinalmente o tronco e cauda ao longo da poro mdia do corpo, formando os rgos sensoriais.
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Piscicultura 9
Figura 1: Anatomia externa de peixes telesteos.
Fonte: LOPES, P.
2.1.2 Morfologia interna
2.1.2.1 Sistema Tegumentar
A pele constituda por duas partes: a epiderme e a derme
Epiderme
Constituda por numerosas camadas de clulas epiteliais de revestimento. Possui
uma camada basal geradora chamada de Camada de Malpighi, responsvel pela elaborao
das clulas da epiderme. Nesta camada so encontradas as glndulas de muco elaboradas
nas camadas mais profundas (Camada de Malpighi), rompendo-se na superfcie corprea e
eliminado uma substncia mucilaginosa responsvel pela lubrificao corprea (diminuindo
o atrito na gua e permitindo um maior deslizamento).
Os pigmentos existentes logo abaixo da epiderme so responsveis pela colorao
dos peixes. O tipo de pigmento varia em natureza e aspecto.
Derme
Constituda por um tecido conjuntivo de preenchimento formado por clulas, fibras
conjuntivas, vasos sanguneos e nervos. Entre e derme a epiderme existe uma condensao
de tecido conjuntivo, que forma a membrana basal.
Os cromatforos so clulas especiais localizadas na camada mais externa da
derme e esto relacionados com a absoro de luz. No interior dos cromatforos so
encontrados grnulos de melanina. As cores so fornecidas por pigmentos como: lipforos
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Piscicultura 10
ou xantforos (pigmento amarelo) e leucforos ou iridicitos (pigmento branco, prateado ou
metlico).
As escamas recobrem o corpo dos peixes e so de natureza drmica, apresentando-
se de dois tipos:
Escamas ganides - desenvolvem-se inteiramente na derme possuindo forma rmbica (pontuda) e articuladas uma nas outras. So de ocorrncia em peixes
antigos sendo raros nos peixes atuais.
Escamas ciclides - so as mais comuns e predominantes nos peixes atuais. De origem drmica, recobrem integralmente o corpo dos telesteos. Apresentam borda
livre e arredondada. Possui uma camada de dentina e no ocorre em tecido sseo.
2.1.2.2 Sistema Muscular
Constitudo por musculatura esqueltica estriada com forma de W aberto para trs. Esta musculatura se estende pelo corpo e cauda. dividida por segmentos com bandas
de tecido conjuntivo. Os msculos da cabea e nadadeiras so menores e rudimentares.
2.1.2.3 Sistema Esqueltico
ossificado e dividido em trs pores: axial, zonal e apendicular.
Esqueleto Axial
Constitudo por cabea, coluna vertebral, costelas e esterno.
Esqueleto zonal
Constitudo pelas costelas ou por ossos isolados depositados nos septos
intermusculares.
Esqueleto apendicular
constitudo pelas nadadeiras pares torcicas e plvicas com tamanhos, forma e
localizao variveis. As nadadeiras impares, dorsal, ventral e caudal tambm so
amplamente variveis. As nadadeiras caudais possuem dois tipos morfolgicos
fundamentais: homocerca e dificerca.
As nadadeiras homocercas caracterizam-se por apresentar dois lobos, um superior e
outro inferior, simtricos entre eles esta a terminao da coluna vertebral.
As nadadeiras dificercas apresentam um s lobo com a coluna vertebral no seu
interior ou dois simtricos externos, com a terminao da coluna vertebral.
2.1.2.4 Sistema Digestrio
Constitudo pela boca (com dentes e glndulas anexas), faringe, esfago, estmago,
intestino delgado e nus.
Boca
Situada na extremidade anterior da cabea, do tipo terminal. Apresenta dentes do
tipo acrodonte, homodonte e polifodonte. Os dentes participam do mecanismo de apreenso
dos alimentos. A lngua de forma alongada, pouco mvel e localizada no assoalho da
boca. Esta participa tambm da apreenso dos alimentos empurrando-os para o interior da
faringe.
Faringe
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Piscicultura 11
a continuao direta da boca. No apresenta limites precisos constituindo uma
ampla bolsa em cujas paredes laterais se encontram as brnquias.
Esfago
Apresenta a forma de um tubo curto que se abre diretamente no estmago.
Estmago
uma dilatao do tubo digestivo com aspecto de uma bolsa. Esta bolsa fornece um
esboo de uma pequena e grande curvatura.
Intestino
um tubo relativamente longo com vrias alas terminando no nus, na confluncia
do corpo com a cauda. Entre o estmago e o intestino, existe uma vlvula denominada
pilrica, responsvel pela regulagem da passagem dos alimentos. Entre o estmago e o
intestino ocorre numerosos cecos pilricos.
2.1.2.5 Sistema Respiratrio
completo do tipo braquial, constitudo por quatro pares de brnquias pectinada
(filamentosas). As brnquias situam-se bilateralmente nas paredes laterais da faringe. So
sustentadas pelos 30 ao 60 par de arcos viscerais. As brnquias protegidas por uma lmina
ssea denominada oprculo. Os oprculos so constitudos por um conjunto de ossos.
O processo respiratrio ocorre quando a gua atravs de uma corrente contnua
entra pela boca, banha as brnquias, enquanto a tampa opercular se mantm colada ao
tronco. Em seguida a boca se fecha, abrindo as fendas operculares, propiciando a passagem
de gua para o meio exterior. A permanncia da gua no interior da faringe e em contato
com as brnquias possibilita as trocas gasosas entre o oxignio dissolvido na gua e o gs
carbnico (hematose).
Estrutura branquial
De aspecto pectinado com duas fileiras de brnquias em cada arco branquial. O
corpo da brnquia constitudo de uma estrutura esqueltica (raios branquiais) de natureza
ssea ou cartilaginosa. Interiormente as brnquias so percorridas por uma abundante rede
capilar responsvel pelo processo de hematose. Os capilares penetram nas brnquias atravs
de dois ramos aferentes procedentes do tronco principal da artria aorta ventral que
transporta o sangue venoso do corpo para as brnquias. Aps as trocas gasosas, o sangue
sai das brnquias atravs de dois ramos eferentes que lanam o sangue arterial no interior
do corpo da artria aorta dorsal no sentido ventro-dorsal.
Bexiga natatria
um saco grande de paredes finas, ligadas faringe por um ducto pneumtico.
Preenchida pelos gases (N, O, CO2) Localiza-se na poro dorsal da cavidade do corpo.
Seu revestimento interno pode ser liso, alveolado ou septado, mas sempre simulando
aspecto de um pulmo. O canal de comunicao entre s bexiga natatria e o esfago ou
faringe denomina-se Ducto Pneumtico.
Funes da bexiga natatria:
Hidrosttica:
Sua funo de regular a descida ou ascenso dos peixes em relao superfcie da
gua. Para tanto os peixes absorvem gases existentes no interior da bexiga atravs da
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Piscicultura 12
corrente sangunea com eliminao conseqente pelas brnquias. Desta forma os peixes
conseguem atingir grandes profundidades, assim como no mecanismo inverso, onde ocorre
a subida em direo a superfcie.
Acstica:
Alguns peixes possuem divertculos oriundos da bexiga natatria em direo ao
interior da cabea at atingir o ouvido interno. A, ocorre uma srie de 3 a 4 pequenos ossos
denominados ossculos de Weber. Estes, por sua vez, procedem de vrtebras modificadas,
que se ligam ao nervo auditivo. Atravs de mecanismos complexos, onde o nervo auditivo
estimulado, observa-se a propagao para os ossculos de Weber e da para a bexiga
natatria, permitindo a variao de presso gasosa no seu interior. A vibrao destes
ossculos aumenta a capacidade auditiva destes peixes.
Emisso de rudos
Algumas bexigas possuem diversas cmaras separadas umas das outras por septos.
Desta forma conseguem produzir rudos pela contrao rpida de sua musculatura, forando
a passagem dos gases pelas diversas cmaras, pondo em vibrao os septos existentes.
Respiratria
Sua funo uma das mais importantes, exclusiva dos peixes fisstomos
(pulmonados). Devido permeabilidade do ducto pneumtico ocorre a passagem do ar do
ambiente, fornecendo um tipo de respirao semelhante a dos tetraplides. Este fenmeno
ocorre com o Pirambia (peixe da Amaznia) que chega a superfcie da gua, provocando
uma longa respirao de ar, mergulhando em seguida. No perodo de seca, estes animais
podem permanecer durante longo tempo no lodo. Para tal constroem uma cpsula de
gelatina que envolve seu organismo e retirando o oxignio diretamente da atmosfera. Esse
processo estende-se at o retorno do perodo das chuvas.
2.1.2.6 Sistema Circulatrio
constitudo pelo sistema sanguneo (sangue, corao, artrias, veias e capilares) e
pelo sistema linftico (linfa, vasos linfticos e gnglios linfticos).
Corao
constitudo por um tubo musculoso envolvido por uma camada pericrdica. O
corao localiza-se abaixo da bolsa farngea ou regio branquial. Possui trs camadas de
tecidos, endocrdio, miocrdio e epicrdio.
Principais artrias
1 artria aorta ventral (canaliza o sangue do corpo para o corao)
2 artrias aortas dorsais (transporta o sangue do corao para as brnquias e destas para todo o corpo).
2.1.2.7 Sistema Nervoso
Apresenta duas substncias nervosas concntricas, a branca externa e a cinzenta
interna. A massa branca representa os tratos nervosos constitudo por conjunto de axnios
orientados craniocaudalmente e ricos em mielina. A massa cinzenta indicativa de
estruturas celulares nervosas e de axnios sem mielina envolvente. Envolvendo o conjunto
do sistema nervoso central (crebro, cerebelo e bulbo) ocorre uma estrutura espessa, mais
ou menos rgida, denominada meninge responsvel pela proteo das estruturas nervosas.
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Piscicultura 13
2.1.2.8 Sistema Sensorial
Compreende um conjunto de estruturas especializadas para as sensibilidades:
gustativas, olfativas, auditivas, tctil-dolorosa-trmica, e pressorreceptoras.
Sensibilidade gustativa
muito rudimentar devido ao tipo de deglutio ser muito rpida
Existem clulas epiteliais especializadas entre as criptas da lngua
Terminaes nervosas sensitivas do glossofarngeo esto presentes na faringe, tambm, relacionadas com a degustao.
Sensibilidade olfativa
Muito desenvolvida nos peixes
Atravs dos dois sacos olfativos o cheiro captado do meio, estes sacos esto protegidos pelos ossos do crnio
Recebem estmulos qumicos
No possui ligaes com a boca, apenas um poro aberto na superfcie do corpo junto aos cantos da boca
A gua a cada instante mudada permitindo o animal sensibilidade odorfera de certas molculas
Das clulas epiteliais partem filamentos nervosos para o interior do crnio, formando o nervo olfativo e este atinge os lobos olfativos
Sensibilidade auditiva
Apresentam canais semicirculares cujas paredes so revestidas por clulas sensitivas relacionadas com o mecanismo de equilbrio
No interior dos canais semicirculares aparecem dois pequenos grnulos, os otlitos, constitudos por carbonato de clcio em suspenso na endolinfa
Os otlitos participam no mecanismo reflexo de equilbrio do ser
Sensibilidade visual
pouco desenvolvida
Possuem dois globos oculares bem diferenciados
O globo ocular apresenta a forma de um esferide com ntido achatamento antero-posterior
Este formato de olho condiciona, desta maneira, a formao da imagem atrs da retina o que possibilita viso a longa distncia em detrimento de objetos colocados
prximos dos olhos
No apresentam glndulas lacrimais
Esclertica - camada mais externa, parenta em seu interior placas cartilaginosas destinadas a dar maior proteo ao globo ocular, principalmente nas grandes
profundidades onde a presso muito grande
Coride - a segunda capa formada pela camada vascular, responsvel pela alimentao sangunea das estruturas do olho
Sensibilidade ttil
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Piscicultura 14
Muito desenvolvida e especializada
Ocorrem terminaes sensitivas em todo corpo do animal localizadas nas pores superficiais da camada drmica, com funo de percepo dos diferentes tipos de
estmulos
Linha lateral - formada por dois canculos situados logo abaixo da epiderme e abertos na superfcie corprea por inmeros poros que permitem a passagem e
circulao de gua do meio ambiente. As paredes internas destes canculos possuem
clulas especiais Neuromastos - que atuam como estruturas pressorreceptoras (presso da gua). Na cabea a linha lateral encontra-se modificada (ampola de
lorenzini) no sentido de responder aos estmulos das variaes trmicas da gua.
2.1.2.9 Sistema Excretor
Apresenta-se disposto bilateralmente ao longo do tronco, diante da coluna vertebral
Os rins em nmero de dois so do tipo mesonefros. Possuem colorao vermelha vinho;
De cada rim parte um canal excretor que se estende at o orifcio urogenital
2.1.2.10 Sistema Reprodutor
Apresentam sexos separados
Apresentam gnadas pares situadas no interior da cavidade celomtica
Os machos apresentam dois testculos. Destes partem dois canais deferentes que se abrem no interior do poro genital, comum ao aparelho urinrio
As fmeas apresentam dois ovrios. Destes partem dois ovidutos que por sua vez, tambm se abrem no poro genital.
2.2 CADEIA ALIMENTAR DOS PEIXES
Todas as larvas de peixe, qualquer que seja a espcie, aps a absoro do saco
vitelino, alimentam-se do plncton, sendo que algumas espcies do preferncia ao fito e
outras ao zooplncton. A tilpia, peixe de regime alimentar preferencialmente planctfagos,
aps a absoro das reservas contidas no saco vitelino, passa a alimentar-se de algas,
enquanto que a trara e o dourado, espcies carnvoras, preferem o zooplncton.
A alimentao dos peixes pelo plncton pode-se dar direta ou indiretamente. Alguns
deles podem ingerir diretamente os organismos planctnicos, entretanto, para muitos outros
o fitoplncton constitui apenas um elo inicial da cadeia alimentar, pois que ele serve de
alimento a protozorios e estes a rotferos, microcrustceos, larvas de insetos, vermes e
outros animais que por sua vez constituem o alimento dos peixes. Mesmo os peixes
carnvoros, comem outros peixes que se alimentam dos organismos planctnicos. Atingida
a fase de alevino o regime alimentar do peixe defini-se, porm, existem certas espcies que
permanecem fitoplanctfagas durante toda a vida.
De acordo com a diversidade dos alimentos, os peixes so divididos em:
eurifgicos, quando consomem vrios itens alimentares; estenofgicos, quando consomem
pouca diversidade de itens; e monofgicos quando existe o domnio de um item.
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Piscicultura 15
De acordo com a natureza do alimento, as espcies so classificadas em: herbvoras,
carnvoras, onvoras e detrifagas (incluindo plncton), mas tambm so reconhecidas as
espcies ilifagas e algumas que poderiam ser chamadas de especialistas, embora todas as
outras citadas tambm sejam especialidades.
2.2.1 Planctvoros ou planctfagos
So assim denominados os peixes que se alimentam predominantemente de
plncton.
Classificam-se em:
Seletores: selecionam suas presas individualmente;
Filtradores passivos: abrem boca e nadam, deixando que os rastros concentrem as partculas;
Filtradores ativos ou bombeadores: o peixe fica parado ou ligeiramente em movimento fazendo bombear gua com movimentos ativos da cavidade boca-branquial.
2.2.1.1 Tilpia
Durante seu primeiro estgio de crescimento, que vai do nascimento at atingir
3,5cm de comprimento, a Tilapia rendalli alimenta-se exclusivamente de microorganismos
pertencentes ao fitoplncton e neste estgio, mesmo que haja na gua onde elas se
encontram abundncia de organismos animais, estes no so encontrados em seu estmago.
No segundo estgio de crescimento, de 3,5 at 10 cm de comprimento, d-se uma transio
alimentar de algas para vegetais superiores e finalmente no terceiro estgio, de 10 cm em
diante, a alimentao feita exclusivamente na base de vegetais superiores. Entretanto,
outras espcies do gnero Tilapia, como T. galillaea e T. esculenta, so exclusivamente
fitoplanctfagas, alimentado-se de algas durante toda sua vida.
2.2.2 Herbvoros
So peixes que selecionam alimento vegetal vivo: vegetais superiores, macro e
microalgas bentnicas e fitoplncton. Embora o peixe que se alimenta de fitoplncton possa
ser denominado herbvoro, essa expresso mais apropriada para os que se alimentam
principalmente de vegetais multicelulares, devido s adaptaes anatmicas necessrias
para utilizar esses vegetais e s implicaes ecolgicas de tal atividade. Os mecanismos
digestivos usados para destruir a celulose da clula vegetal, os herbvoros marinhos so
classificados em quatro grupos:
Os que digerem o alimento em estmagos com alta acidez;
Os que trituram o alimento por meio de dentes faringeanos;
Os que trituram o alimento por meio de um estmago muscular;
Os que mantm microorganismos que fermentam o alimento em uma poro da parte posterior do intestino.
Na reviso sobre peixes herbvoros de gua doce, cita experimentos nos quais
peixes perdiam peso quando alimentados somente com plantas e que o recuperavam quando
a dieta era completamente com protena animal. Isso permite deduzir que, na natureza,
peixes herbvoros precisam complementar suas dietas com protena animal; comenta
tambm sobre a ao negativa dos taninos na digestibilidade das plantas. Observou que, no
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Piscicultura 16
Rio Negro (Amaznia), os peixes herbvoros preferem frutas e sementes, ingerindo poucas
folhas.
Hyporhamphus melanochir herbvoro de dia e carnvoro de noite.
2.2.3 Carnvoros
So peixes que selecionam alimento animal vivo, incluindo zooplncton. Quando o
alimento constitudo principalmente por peixe chamado de piscvoro ou ectifago;
quando os crustceos, carcinfago, quando por moluscos, malacfago, quando por
cefalpodos, teutfago, quando por insetos, insetvoro etc.
Nos rios e pequenos lagos, os insetos tm uma importante participao na dieta do
peixe, os quais, geralmente, esto presentes o ano inteiro, embora estejam mais disponveis
na poca das cheias. Os insetos adultos podem flutuar ou afundar, ao carem na gua ou ser
carregados pela chuva, podendo tambm ser capturados por peixes especializados quando
pousam perto da superfcie da gua. Entre as formas larvais, as de vida aqutica so mais
usadas como alimento, mas tambm so aproveitadas larvas terrestres.
O canibalismo tem importantes implicaes na auto-ecologia das espcies, porque
geralmente funciona como uma forma de autocontrole populacional, acentuando-se quando
as condies de alimentao so inadequadas ou por convenincia de adultos, como ocorre
em algumas espcies de Hoplias, Cichla, Salminus, etc. Atribui aos desenhos e ao colorido
de Cichla ocellaris, que aparecem em exemplares a partir de determinado tamanho, a
funo de alertar os exemplares maiores da prpria espcies para evitar o canibalismo.
2.2.4 Onvoros
So peixes que utilizam de alimento animal e vegetal vivo, em partes bastante
equilibradas. Quando h certo domnio de algum dos itens. Referem-se s espcies como:
onvoras com tendncia a carnvoras, ou onvoras com tendncia a herbvoras. Em relao
ecologia trfica, usa o termo onvoro para referir-se s espcies que se utiliza de alimentos
pertencentes a dois ou mais nveis trficos. O peixe carnvoro combina ingesto de
alimento animal, que de alto valor energtico, porm requer certo esforo para obt-lo,
com ingesto de alimento vegetal, que de baixo teor energtico, porm pode ser obtido
com menor esforo, com a condio de ter capacidade para digeri-lo, conforme observado
em Lagodon rhomboides.
2.2.5 Detritvoros
So peixes que se alimentam de matria orgnica de origem animal em putrefao
e/ou matria vegetal em fermentao. difcil reconhecer um detritvoro na natureza
atravs do exame de contedo estomacal, porque um animal j morto pode ter as mesmas
caractersticas de um animal morto pelo predador, assim como fica difcil reconhecer o
detrito vegetal do semi-digerido. Alguns detritvoros, talvez todos, tm suas dietas
complementadas com algas e bactrias, como Mugil cephalus, Tilapia mossambica e
Hutilus rutilus.
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Piscicultura 17
2.2.6 Ilifagos
So peixes que ingerem substrato formado por lodo ou areia, que por si s no
representa um tipo de alimento. O substrato ingerido porque nele so encontrados os
alimentos procurados (animal, vegetal ou detrito) sendo que esses peixes contam com um
aparelho digestivo adaptado para selecion-lo. Conseqentemente seria mais apropriado
denominar o hbito de ingerir substrato, junto com o tipo de alimento usado, como:
ilifago-detritvoro, para diferenci-lo do detritvoro que no ingere lodo etc. O estudo
alimentar de um ilifago deve incluir a correta separao do substrato inerte.
Os principais alimentos includos no lodo so:
Organismos microscpicos de superfcie;
Detrito planctnico sedimentado;
Detrito de macroflora;
Detrito de fauna nectnica e bentnica;
Matria coprognica;
Detrito orgnico;
Detrito inorgnico.
Ex.: Curimbat (Prochilodus scrofa)
O curimbat o peixe mais comum dos nossos rios, principalmente em So Paulo,
onde ocorre na proporo de 70% do total dos vrios peixes. uma espcie de dentio
atrofiada, que se alimenta de algas contidas no lodo. Estes peixes possuem um estmago
musculoso, semelhante moela das aves, adaptado, portanto, a digerir a carapaa silicosa
das diatomceas. Estas constituem seu principal alimento, o que foi constatado atravs de
estudos do contedo estomacal desses peixes.
Ex.: Saguir (curimatus sp)
Peixe destitudo de dentio, de tamanho pequeno e muito comum em nossas guas,
quer paradas, quer correntes. Alimenta-se o saguir da matria orgnica contida no lodo,
especialmente das algas.
Ex.: Cascudo (Plecostomus sp)
O regime alimentar dos cascudos muito especializado, pois os mesmos alimentam-
se exclusivamente de algas, dando preferncia aos locais pedregosos onde estas se
acumulam. Nunca se conseguiu criar uma s larva desse peixe com microcrustceos. A
preferncia dos cascudos pelas algas de tal ordem que quando presos em aqurios durante
algum tempo, aderem aos vidros, limpando-os das algas que a costumam acumular-se, da
serem chamados de "limpa-vidros".
2.3 ATIVIDADE
2.3.1 Descrio do problema
Um tanque de criao de peixes, apesar de total ou parcialmente controlado, constitui um sistema ecolgico complexo que deve ser conhecido e estudado, pois todos os
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Piscicultura 18
seus aspectos (qualidade da gua, temperatura, oxignio dissovido, etc.) sofrem ao do
meio ambiente. Assim, sendo um tanque de piscicultura um ecossitema, ainda que artificial,
deve-se conhecer os organismos que o compe bem como a cadeia alimentar em que eles
esto inseridos para saber as perdas de energia entre organismos produtores at os
decompositores. Texto intitulado Piscicultura, retirado do site http://www.criareplantar.com.br/aquicultura/piscicultura/zootecnia.php?tipoConteudo=text
o&idConteudo=283.
2.3.2 Questionamento
Sobre a criao de peixes em tanques e o ecossistema presente nestes, conceitue:
a) Aquicultura
b) Piscicultura
c) Plncton
d) Bentos
e) Macrfitas aquticas
Resposta:
a) Aqicultura o processo de produo em cativeiro de organismos com hbitat predominantemente aqutico, em qualquer estgio de desenvolvimento, ou
seja: ovos, larvas, ps-larvas, juvenis ou adultos.
b) A piscicultura um dos ramos da aqicultura, que se preocupa com o cultivo de peixes.
c) So organimos microscpicos que possuem pequena capacidade de movimentao e portanto flutuam livremente nas guas. Podem ser de origem
animal (zooplncton) ou vegeteal (fitoplmcton) e constituem a base da cadeia
alimentar. O zooplncton representado, no tocante a piscicultura, pelos
protozorios, rotferos e microcrustceos . J o fitoplncon composto por
organismos autotrficos (produtores) respresentados por alguns tipos de
bactrias e algas de diferentes classes.
d) Organismos que habitam o fundo (sendimento) dos tanques, representados, entre outros, por larvas de insetos, algas, moluscos, algumas bactrias e fugos.
De modo geral estes so os responsveis pela decomposio e reciclagem dos
nutrientes.
e) Vegetais superiores que permanecem ou no enraizados, no fundo dos tanques. Podem ou no estar totalmente submersas e algumas flutuam sobre a
superfcie da gua e permancem com as razes submersas. Geralmente esto
relacionadas com a presena de matria orgnica na gua.
Objetivo da atividade: Discutir alguns conceitos que sero abordados no decorrer
do contedo desta apostila.
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Piscicultura 19
2.4 LEITURA COMPLEMENTAR
BARCELLOS, J.G. Policultivo de Jundis, Tilpias e carpas Uma alternativa de produo para a piscicultura rio-grandense. Editora UPF. 2006, 127p.
MOREIRA, H.L.M. et al. Fundamentos da Moderna Aqicultura. Editora Ulbra-RS,
2001, 199 p.
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Piscicultura 20
3 AMBIENTE AQUTICO - PROPRIEDADES FSICO-QUIMICAS DA GUA
A gua o composto considerado como a essncia da Terra e domina por completo
a composio qumica de todos os organismos, alm de ser o meio onde vivem os peixes.
Sendo assim especificamente, as suas caractersticas regulam eficazmente o metabolismo
do ecossistema a variaes climticas e geogrficas. Essas variaes so decorrentes da
interao.
Calor Especfico - quantidade de calor necessrio para elevar em um grau
centgrado, um grama de gua -por definio corresponde a uma caloria (1,0 cal), este valor
considerado alto; Calor de vaporizao - a gua possui um alto valor para esta
caracterstica, sendo que a 10 C de 540 cal/g.
Viscosidade - capacidade de oferecer resistncia ao movimento - com 30 C a gua
tem a metade da viscosidade que cinco graus centgrados. Portanto a viscosidade diminui
com a temperatura;
Densidade -a gua apresenta densidade varivel, de acordo com as condies do
meio, a maior densidade da gua atingida a zero grau centgrado
A gua, por suas peculiares caractersticas lquido-slidas, tornam-na um ambiente
estratificvel que influencia sobremaneira as dinmicas qumicas e biolgicas dos corpos
d'gua (no nosso caso viveiros). Entretanto comparando-a com o meio areo, apresenta-se
como um meio temperado, onde as flutuaes extremas de suas caractersticas e
temperatura se encontram mais amortizadas que no meio areo.
A seguir passaremos a tratar especificamente de cada um dos principais fatores
abiticos que geram efeito sobre a vida aqutica, bem como das principais interaes que
ocorrem entre eles, e tambm sobre a qualidade de gua para piscicultura.
3.1 TEMPERATURA
Atravs da conduo, a radiao incidente na gua transformada em energia
calorfica e nela se propaga, de molcula para molcula. Este processo de absoro de
energia trmica mais intenso quanto mais se aproxima da superfcie da gua,
principalmente at um metro de profundidade, dessa forma, na ausncia de fatores que
provoquem a movimentao (turbulncia) da gua (atravs do vento do funcionamento de
aeradores, infusores de ar, motores, etc) ocorre estratificao da coluna d'gua, tornando-a,
teoricamente, como mostra a Figura 2.
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Piscicultura 21
Figura 2: Esquema de estratificao trmica de um ambiente aqutico.
Fonte: MOREIRA et al. (2001).
Essas diferenas trmicas observadas nestas camadas fazem com que hajam
diferentes valores de densidade em cada uma delas, o que impede que ocorra a mistura
d'gua em toda a coluna, dessa forma, na ausncia de fatores que provoquem turbulncia na
gua, no haver distribuio uniforme de calor. Quando o ambiente aqutico apresenta-se
estratificado teoricamente, normalmente apresenta-se estratificado para quase todos os
outros fatores fsicos e qumicos, com efeitos sobre as condies biolgicas do ambiente,
devido grande inter-relao entre todos estes fatores. Este fenmeno muito mais
freqente e com maiores conseqncias em regies tropicais, devido s maiores
temperaturas observadas, pois os limites entre as camadas tornam-se, como j ditos
barreiras fsicas, o que pode influenciar na qualidade da gua nas diferentes camadas, um
exemplo quanto a distribuio espacial dos gases e nutrientes no ambiente aqutico.
Em um ambiente aqutico estratificado, a concentrao de gases e sais, como O2,
CO2, PO3 apresenta comportamento diferenciado em cada camada, e pode ser ilustrada na
Figura3.
Figura 3: Demonstrao exemplificando a estratificao dos gases e sais no meio aqutico.
Fonte: MOREIRA et al., 2001.
RADIAO
RADIAO
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Piscicultura 22
Este exemplo mostra que nesse tipo de ambiente, o extrato superior rico em O2,
favorecendo a permanncia de peixes. Entretanto, quanto a produtividade primria
(fitoplncton) no apresenta-se favorvel devido s baixas concentraes de CO2 e PO3,
trazendo conseqncias na produo de zooplncton na coluna de gua, devido a que seu
substrato (fitoplncton) encontra melhores condies no estrato inferior do viveiro, a qual
no possui concentrao satisfatria de O2, vital para a sobrevivncia.
De maneira geral a distribuio e disponibilidade de gases e sais na coluna d'gua
afeta diretamente a distribuio e a sobrevivncia dos organismos aquticos. Desta forma
valido pensar que a estratificao trmica em viveiros de piscicultura no uma
caracterstica desejvel, visto que suas implicaes biolgicas, principalmente quanto ao
aspecto da distribuio de O2 na coluna d'gua que em situaes de alta demanda biolgica,
pode tornar-se limitante para o bom desenvolvimento, ou at para a sobrevivncia dos
peixes. Da a importncia do uso, quando necessrio, de aeradores, que alm de atuarem
como oxigenadores, ainda desempenham papel importante na desestratificao dos
ambientes aquticos.
A temperatura interfere diretamente na solubilidade de gases, velocidade de reaes
qumicas, circulao de gua, metabolismo dos peixes, etc. A faixa ideal das espcies
tropicais est entre 20 a 30C, sendo o nvel timo para a maioria entre 25 e 28C.
Temperaturas inferiores a 20C normalmente afetam o metabolismo dos peixes tropicais,
acarretando diminuio de apetite e das taxas de crescimento. A temperatura letal muito
varivel entre espcies, sendo de 5C para as carpas, 10C para as tilpias e 15C para
tambaqui e pacu. O controle de temperatura pode ser feitos por meios artificiais com o uso
de aquecedores, mas invivel economicamente. A temperatura que convm considerar
no a da gua de alimentao do viveiro, mas sim a gua dos viveiros onde os peixes
vivem. Por isso, ao se construir um viveiro, deve-se escolher um local bem exposto ao sol e
ao vento, onde possa tirar o maior rendimento de ambos.
3.2 TRANSPARNCIA
A transparncia est relacionada com o material em suspenso, tanto mineral como
orgnico. Quanto mais plncton, menor a transparncia.
O disco de Secchi o equipamento usado para medir esse parmetro. Uma
transparncia ideal da gua de um viveiro medida pelo disco de Secchi est em torno de 30
e 40 cm, indicando uma boa produo biolgica nos viveiros. As guas de cor esverdeada
ou azulada so geralmente boas. As amareladas ou acastanhadas, provenientes de pntanos,
so cidas e imprprias para culturas de peixes.
A figura abaixo (Figura 4) ilustra a medio da transparncia atravs do uso do
disco de Secchi.
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Piscicultura 23
Figura 4: Disco de Secchi.
Fonte: SOSINSKI & CAMARGO (1996).
3.3 CARACTERSTICAS QUMICAS
Toda gua na natureza deriva da precipitao atmosfrica, produto da condensao
do vapor de gua no ar (chuva), e contm vrios compostos nitrogenados, sulfatos, cloretos,
etc., cuja quantidade varia no somente com o local, como com as estaes do ano.
Em todo o trajeto, a gua dissolve numerosas substncias do solo, que a tornam uma
soluo mais ou menos diluda de sais minerais e 12 compostos orgnicos. Alm dessas
substncias dissolvidas, a gua arrasta no seu caminho partculas no-solveis, colides e
partculas maiores, tornando-se uma suspenso mineral ou orgnica. A gua o solvente
universal encontrado na natureza. Ela dissolve os gases como O2, N2, CO2, CH4, H2S, entre
outros; os sais minerais e substncias orgnicas, etc. Todos esses gases so de fundamental
importncia para a piscicultura. O valor pisccola de uma gua depende essencialmente da
natureza do terreno com o qual a gua est em contato.
3.4 POTENCIAL HIDROGENINICO (pH)
O processo de dissociao da molcula de gua liberando ao meio certa quantidade
de ons H+ sem quebrar o equilbrio (H2O = H
+ + OH).
Quando a quantidade de ons H+ igual de ons OH- em uma soluo, ela dita
como neutra. J quando h uma vantagem para os ons H+ a soluo dita como cida, quando o contrario alcalina ou bsica. O pH, que definido como logaritmo negativo da
concentrao molar de ons hidrognio a medida que expressa a acidez ou alcalinidade de
uma soluo e, alm de ser influenciado pela quantidade de ons H+ e OH, ainda afetado
fortemente por sais, cidos e bases que ocorram no meio.
Os valores de pH variam de 1,0 a 14,0 sendo que abaixo de 4,0 fatal maioria dos
peixes, entre 5,0 e 6,0 causa queda no desenvolvimento, entre 6,5 a 9,5 permite um
desenvolvimento satisfatrio, entre 7,0 a 8,5 a faixa ideal ao desenvolvimento dos peixes
e, acima de 11,0 letal.
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Piscicultura 24
Em viveiros de piscicultura o pH influenciado pela concentrao de ons H+
originados da dissociao do cido carbnico (H2CO3 2 H + CO3-2), pelas reaes de
ons carbomato e bicarbonato (CO3-2 + H2O< >HCO3 + OH; H2O < > H2CO3+OH), pelo
processo de fotossntese da respirao (CO3-2+ H2O c/ luz < > s/ luz CH2O + O2), por
causas do manejo como adubao e calagem, ou mesmo pela poluio. Ainda importante
salientar que aliteraes no pH da gua podem causar mortalidade nos peixes. Essas
alteraes em diferentes propores, dependendo da capacidade de adaptao da espcie,
atravs da maior ou menor dificuldade de estabelecer o equilbrio osmtico em nvel de
brnquias, podem determinar grandes dificuldades respiratrias nas espcies ou indivduos
menos versteis ou resistentes, levando-os morte.
O comportamento do pH no perodo de 24 horas de um dia, segue de maneira
diretamente proporcional o do O2D (oxignio dissolvido) e, inversamente o do CO2 (Figura
5). Portanto intensos "blooms" de algas, em viveiros com baixas taxas de renovao de
gua, dependendo da densidade de estocagem, podero apresentar altas taxas de
mortalidade de peixes, principalmente durante a noite e na madrugada devido s altas
concentraes de CO2 no meio oriundo do processo de respirao. Este gs quando esta
livre no meio aqutico, reage com a gua promovendo a liberao de ons CO2 + H2O < >
H2CO3 + H+ < > CO3-2 + H
+, consequentemente baixando o pH e, devido ao conjunto
destes processos, a concentrao de O2 poder chegar a zero.
Figura 5: Comportamento do pH, O2 dissolvido e CO2 livre para um ciclo dirio de 24
horas em um ambiente aqutico.
Fonte: MOREIRA et al. (2001).
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Piscicultura 25
3.5 OXIGNIO DISSOLVIDO (O2D)
O oxignio o gs mais importante para os peixes, por isso, em termos de
piscicultura a ele que devemos dar maior importncia. As fontes de O2 so: a atmosfera e
a fotossntese.
Sem o oxignio dissolvido na gua, os peixes de cultivo e todos os outros
organismos aquticos no podem sobreviver. Existem duas fontes naturais de obteno de
oxignio:
3.5.1 Difuso direta
Atravs do contato e penetrao direta do ar atmosfrico na gua. O O2 da atmosfera
entra na gua principalmente por mistura mecnica, provocada pela ao dos ventos, por
correntes naturais de massas hbridas e agitaes causadas pela topografia do terreno. A
concentrao do oxignio na gua varia com a sua temperatura (relao
concentrao/temperatura est intimamente ligada), bem como a solubilidade desse gs
depende ainda da presso atmosfrica. A solubilidade do oxignio na gua diminui
medida que a temperatura aumenta. Em temperatura alta, os peixes logo utilizam o O2D da
gua, podendo ocorrer mortalidade por asfixia. A solubilidade de O2D diminui com a
reduo da presso atmosfrica. A solubilidade do O2D na gua baixa com o aumento da
solubilidade.
3.5.2 Processo de fotossntese
A liberao de oxignio na gua, mediante processo fotossinttico pelo fitoplncton
(algas, em especial), a principal fonte de obteno do O2D em um sistema de cultivo de
peixes. Durante o processo fotossinttico pelos rgos clorofilados dos vegetais, o gs
carbnico (CO2) desdobrado sob a ao dos raios solares. Enquanto o carbono (C)
utilizado para a sntese de hidratos de carbono e carbonatos, o oxignio expelido,
contribuindo e muito para a oxigenao da gua. Sem a luz solar, importantssima para esse
processo, o oxignio expelido durante as horas do dia em que ela suficiente para essa
funo fisiolgica e at onde possa penetrar em quantidade suficiente. noite, h consumo
de O2D e no produo.
Em guas turvas e com baixa transparncia, a produo fotossinttica pode diminuir
ou at mesmo parar. Pode-se notar, portanto, que o processo fotossinttico dos organismos
clorofilados est limitado s camadas superficiais de gua, onde a maior parte da luz
absorvida.
3.6 DIXIDO DE CARBONO (CO2)
um gs que apresenta uma grande importncia no meio aqutico, como visto
anteriormente o (O2 dissolvido em pH). Esse gs pode causar problemas para a piscicultura,
no entanto, seus efeitos patognicos so geralmente causados pela asfixia que pode
provocar. Nem sempre o CO2 txico para os peixes; a maior parte das espcies podem
sobreviver por vrios dias em gua contendo mais que 60 mg/l, desde que esta gua
apresente um aporte substancial de O2 para o peixe e, como j foi visto, normalmente as
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Piscicultura 26
altas concentraes de CO2 na gua esto sempre acompanhadas de baixas concentraes
de O2, por terem estes comportamentos inversamente proporcionais.
Considerando-se os processos naturais no ambiente, particularmente altas
concentraes de CO2 ocorrem em viveiros aps grande mortalidade de fitoplncton, aps a
desestratificao trmica e quando o clima apresenta-se nublado.
de difcil constatao, tendo em vista que ele se transforma em carbonatos e
bicarbonatos, mas sabido que capaz de acidificar a gua quando esta apresenta baixa
alcalinidade. H estudos que indicam que em guas com concentraes de CO2 superiores a
20mg/litro, tem-se constatado a existncia de leses calcificadas, isto pode se agravar em
guas com baixas concentraes de magnsio (guas moles), nesta condio, 30 mg de CO2
na gua pode levar o pH da mesma a 4,8.
3.7 ALCALINIDADE
a capacidade da gua em neutralizar cidos. Refere-se concentrao total de sais
na gua, sendo expressa em miligrama por litro, em equivalente de carbonato de clcio
(CaCO3), bicarbonato (HCO3 ), carbonato (CO3), amnia (NH3), hidroxila (OH), fosfato
(PO4-2), slica (SiO4) e alguns cidos orgnicos podem reagir para neutralizar ons
hidrognio (H+). Para viveiros de piscicultura so desejveis valores de alcalinidade acima
de 20mg/l, sendo que valores entre 200-300mg/l so os mais indicados. Um resumo do
significado da alcalinidade no viveiro est descrito abaixo:
Zero: gua extremamente cida, deve-se corrigir com compostos calcrios;
5-20mg/l: Alcalinidade muita baixa, pH varia muito e a gua no muito produtiva;
25-100mg/l: O pH pode continuar variando mas a produtividade aumenta consideravelmente;
100-200mg/l: Nveis timos de produtividade.
3.8 SLIDOS SUSPENSOS
Os slidos suspensos correspondem a partculas de alimento no consumidos, fezes
ou matria inorgnica em suspenso na coluna d'gua. A gua suja prejudica o peixe de
duas formas:
Direta - pelos ferimentos ou acmulos nas brnquias, comprometendo a respirao dos animais;
Indireta - pela diminuio da penetrao de luz na gua, reduzindo a produtividade natural do viveiro.
Teores de 10 g/l so suportados por espcies tropicais, sendo o nvel ideal de 2 g/l.
O Filtro mecnico simples pode diminuir os mesmos, sendo que um filtro de 0,35 m de
camada filtrante (cascalho de 7 mm), 0,30m de altura, 1,20 m de comprimento e 0,90 m de
largura filtra um canal de alimentao com descarga de 36 l/s.
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Piscicultura 27
3.9 NITROGNIO
O nitrognio apresenta-se presente no meio aqutico de diferentes formas: N2 (no
utilizvel), como constituinte de compostos orgnicos dissolvidos (purinas, aminas,
aminocidos, protenas etc), na forma de compostos particulados (plncton e detritos), na
forma de nitratos e nitritos (NO3 e NO2, respectivamente) e na forma de nitrognio
amonical (NH3/NH4+).
De modo geral o ciclo do nitrognio est mais interligado s aes biolgicas. O
nitrognio origina-se de aportes fluviais e lenis freticos, da decomposio da matria
orgnica e da fixao biolgica. Os nitratos e o amnio so as principais formas
assimilveis pelos produtores, os nitritos ocorrem em baixas concentraes (predomina em
um meio anaerbio), pode tambm ser assimilvel e txico aos organismos aquticos em
elevadas concentraes. O nitrito aps absorvido pelos peixes, reage com a hemoglobina
para formar a meta-hemoglobina, esta no efetiva no transporte de O2. Portanto uma
continuada absoro do nitrito pode levar os peixes morte por hipxia e cianose. O nvel
de nitrito no meio no deve exceder a 0,15 mg/l.
3.10 CARACTERSTICAS BIOLGICAS
Um viveiro de criao de peixes, apesar de ser um ambiente total ou parcialmente
controlado, no deixa de constituir um sistema ecolgico que deve ser estudado, pois todas
as outras modalidades sofrem influncia das condies biolgicas do meio (Figura 6), alm
das condies citadas nos tpicos anteriores. de fundamental importncia o
monitoramento do plncton (Figura 7).
Plncton so todos os organismos aquticos incapazes de vencerem correntes. Sua locomoo por conta prpria muito pequena, algumas espcies locomovem-se na
vertical.
Classificao:
- Fitoplncton: frao vegetal composta de algas microscpicas, como, por exemplo,
as algas verdes, os dinoflagelados, etc.
- Zooplncton: frao animal composta por microcrustceos, coppodos, rotferos,
etc.
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Piscicultura 28
Figura 6: Distribuio dos organismos no meio aqutico.
Fonte: LOPES, P.
Figura 7: Exemplos de alguns organismos do fito e zooplnctons.
Fonte: LOPES, P.
3.11 ATIVIDADE
3.11.1 Descrio do problema
A gua um dos recursos mais importantes do planeta. Vrios autores tm discutido a respeito das limitaes desse recurso e traado estimativas preocupantes quanto
disponibilidade de gua para a populao crescente. Em regies que apresentam uma
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Piscicultura 29
abundncia da rede hdrica, como o Brasil, esperada uma maior dificuldade para
percepo da fragilidade e das limitaes desse recurso, porm, para os pases
desenvolvidos ou em desenvolvimento localizados em regies ridas ou semi-ridas, as
limitaes de gua no se tratam de uma previso alarmista, pois os recursos j se
encontram sob forte estresse. O desenvolvimento da piscicultura est possibilitando ampliar
a produo mundial de pescado, estabilizada a alguns anos pelos limites da produo
pesqueira. Por outro lado, de acordo com Bastian (1991), uma atividade causadora de
potencial degradao ambiental. No Brasil, j comeam a surgir alguns casos isolados para
os quais a implantao de unidades de piscicultura encontra dificuldades junto aos rgos
ambientais, inclusive com a proibio de sua instalao, devido qualidade do efluente
produzido pelo cultivo. Caracterizao e tratamento do efluente das estaes de piscicultura Revista UNIMAR 19(2):537-548, 1997 (http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewPDFInterstitial/453
8/3077).
3.11.2 Questionamento
A partir da leitura do artigo citado acima, escreva um resumo (com no mximo duas
pginas) sobre o tratamento de efluentes de estaes de piscicultura.
Objetivo da atividade: Desenvolver a leitura e escrita tcnica dos alunos.
importante que esta atividade seja individual, de forma que todos treinem a escrita.
3.12 LEITURA COMPLEMENTAR
BOYD, C. Manejo do solo e da qualidade da gua em viveiros para aqicultura.
Departament of Fisheries and Allied Aquacultures. Editora Mogiana Alimentos S.A. 1997,
55p.
POLI, C.R. et al. Aqicultura: experincias brasileiras. Florionpolis: Editora
Multitarefa, 2003, 455 p.
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Piscicultura 30
4 SISTEMAS DE PRODUO
4.1 CLASSIFICAO DA CRIAO QUANTO A SUA FINALIDADE
4.1.1 Cria ou produo de alevinos
Explorao em que peixes so passados a terceiros para serem recriados ou usados
em povoamentos e repovoamentos de guas pblicas ou particulares. considerada a fase
mais lucrativa; entretanto, exige demanda favorvel por alevinos na regio, maior
dedicao por parte do produtor, maior ocupao de mo-de-obra especializada e
instalaes de equipamentos mais complexos.
4.1.2 Recria, engorda ou produo de pescado
Explora-se a capacidade de ganho de peso e crescimento dos animais, englobando a
fase de alevinagem at o abate. menos lucrativa que a fase de cria, entretanto,
caracteriza-se por exigir menor dedicao do piscicultor, necessitar de menor ocupao de
mo-de-obra, sendo essa menos qualificada, necessitar de instalaes e equipamentos
menos complexos, podendo ser realizada em represas rurais, arrozais inundados, represas
ou viveiros com ou sem integrao com outras exploraes agropecurias e por ser
dependente da oferta de alevinos, demanda e preo de pescado na regio.
4.1.3 Explorao mista de cria e recria
Produz alevinos para uso prprio ou para terceiros.
4.1.4 Outros tipos de explorao
Para fins de lazer (povoamento de represa e pesque-pague). Para fins sanitrios
(controlar a proliferao de insetos ou animais vetores de doenas).
4.2 CLASSIFICAO DA PISCICULTURA QUANTO AO SISTEMA DE
CRIAO
O peixe, ao contrrio dos outros animais terrestres, pode ser criado de vrias
maneiras diferentes, dependendo das condies da propriedade, tipo de alimento, espcie
considerada e aceitao de mercado. possvel dividir didaticamente o sistema de criao
em extensivo, semi-extensivo e intensivo.
4.2.1 Piscicultura extensiva
Explorao em que o homem interfere o mnimo possvel nos fatores de
produtividade (apenas realiza o povoamento inicial do corpo d'gua). Caracteriza-se pela
impossibilidade de esvaziamento total do criadouro, impossibilidade de despesca, ausncia
de controle da reproduo dos animais estocados, presena de peixes e aves predadoras,
ausncia de prticas de adubao, calagem e alimentao, alimentao apenas da
produtividade natural e, pela produtividade baixa, dificilmente ultrapassa 400 kg/ha/ano.
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Piscicultura 31
4.2.2 Piscicultura semi-intensiva
Sistema de explorao em que o homem interfere em alguns fatores de
produtividade. Caracteriza-se pela possibilidade de esvaziamento total do criadouro,
possibilidade de despesca, controle da reproduo dos animais estocados, ausncia ou
controle de predadores, presena de prtica de adubao, calagem e, opcionalmente, uma
alimentao artificial base de subprodutos regionais, manuteno de uma densidade
populacional correta durante o perodo de cultivo, produtividade que pode chegar a
10ton./ha/ano, sistema racional e econmico de produo recomendado para criao de
peixes tropicais e por abranger ainda consorciaes com sunos, aves, arroz, etc.
4.2.3 Piscicultura intensiva
Sistema de explorao em que os fatores de produo so controlados pelo homem.
Caracteriza-se por apresentar densidade populacional elevada de peixes por volume d'gua,
alimentao artificial exclusivamente base de raes balanceadas, necessidade de alto
fluxo de gua ou uma recirculao forada devido a alta densidade populacional,
produtividade elevada, podendo ultrapassar 90 kg/m3/ano, sistema racional de custo
elevado, com mo-de-obra especializada e alto nvel de mecanizao.
4.3 QUANTIDADE DE GUA X SISTEMA DE PRODUO
A quantidade mnima de gua que se deve dispor depende de vrios fatores. Deve
ser no mnimo suficiente para repor as perdas por evaporao e por infiltrao e, satisfazer,
em parte, as necessidades de oxignio dos peixes.
4.3.1 Semi-intensivo
A renovao de gua pode variar de 5 a 30% por dia;
A vazo pode variar de 10 a 50 litros/s/h (estimada no perodo seco);
O nvel de oxigenao deve ser maior ou igual a 5 mg/l;
A estocagem pode ser de 1 kg de peixe/m2. Quantidades maiores podem causar problemas na produo e sade dos peixes.
4.3.2 Intensivo
Renovao de gua varia entre 100 a 200% por dia (Ex.: truta);
Vazo de 200 a 500 l/s/ha;
Nvel de oxignio entre 5 e 10 mg/l (dependendo da espcie);
Densidade de 50 a 600/m3 permitida (Ex: tilpias em gaiola podem produzir de 50 a 300 kg/m
3/safra).
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Piscicultura 32
4.4 ATIVIDADE
4.4.1 Descrio do problema
Desde meados de 1970, estudos envolvendo estresse tm sido freqentemente realizados no campo da fisiologia de peixes. No ambiente, a resposta ao estresse pode ser
vista como a capacidade dos peixes mobilizarem as reservas de energia de forma a evitar ou
vencer imediatamente situaes de ameaa. Em piscicultura intensiva, a situao de
estresse est constantemente presente, e pode afetar o desempenho produtivo dos peixes,
prejudicando o estado de sade e aumentado a suscetibilidade a doenas. Texto retirado do artigo de reviso Estresse dos peixes em piscicultura intensiva (http://www.pisciculturapaulista.com.br/pdf/estresse_peixes.pdf).
4.4.2 Questionamento
A partir da leitura deste texto, responda as seguintes perguntas:
a) Quais os fatores que afetam a sobrevivncia dos peixes aps o estresse de captura, confinamento, pesagem, carregamento, transporte e descarregamento?
b) Cite prticas de manejo que auxiliam na preveno do estresse?
Resposta:
a) Espcie, qualidade da gua nos tanques de produo (temperatura, CO2, oxignio dissolvido, amnia), estado nutricional dos peixes, existncia de
alguma doena, estratgia de despesca e transporte e intensidade e durao do
estresse.
b) Dentre os fatores que auxiliam na preveno do estresse, destaca-se a depurao dos peixes, pois a produo de amnia e o consumo de oxignio
aumentam consideravelmente aps a alimentao. Recomenda-se um jejum de
48 horas antes do transporte, pois os peixes se recuperam mais rapidamente
do estresse. Alm disso, os peixes bem depurados entram nos tanques de
transporte com trato digestivo praticamente vazio, reduzindo impacto do
material fecal na gua de transporte. O uso de anestsicos, por exemplo,
tambm auxilia na diminuio do estresse, medida que reduzem a atividade
e o metabolismo dos peixes, reduzindo injrias fsicas, consumo de oxignio,
excreo de metablicos txicos e grande economia de oxignio. Porm o uso
deve ser moderado, pois algumas espcies so mais sensveis, podendo no
tolerar alguns anestsicos nas doses recomendadas.
Objetivo da atividade: Discutir prticas de manejo visando a reduo do estresse
em sistemas intensivos, bem como abordar os mecanismos de ao do estresse sobre a
produo.
4.5 LEITURA COMPLEMENTAR
POLI, C.R. et al. Aqicultura: experincias brasileiras. Florionpolis: Editora
Multitarefa, 2003, 455 p.
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Piscicultura 33
5 CONSTRUO DE VIVEIROS
5.1 FATORES DETERMINANTES PARA LOCALIZAO DE VIVEIROS
5.1.1 Escolha do local
A escolha do local para construo de viveiros para aqicultura deve satisfazer
algumas condies, a fim de otimizar a ocupao do terreno, minimizar custos de
implantao, e de que as futuras instalaes possam oferecer condies para um bom
manejo. Para isto devem ser analisados, prioritariamente, os seguintes itens: gua, solo e
relevo.
5.1.2 gua
A gua deve existir em qualidade e quantidade suficientes para viabilizar a
implantao de um projeto de piscicu