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Leonardo Aquino Luiza Cavalcante
Aqui,
futurooBem-vindos à era do Ipad, o “centro multimídia móvel” que promete, em
pouco tempo, transformar o universo das comunicações no planeta
Avanços tecnológicos quase sempre ge-
ram febres de consumo imediatas. Mas
às vezes, elas são precedidas de uma
onda global de desconfiança. Veja só o exemplo
do iPad. Apresentado em janeiro de 2010, o novo
produto da Apple só não foi chamado de santo.
A principal dúvida era se um dispositivo peque-
no demais para competir com netbooks e grande
demais para entrar no mercado de smartphones
realmente emplacaria. Passada a avalanche de
chacotas e críticas, o iPad deu sua resposta. Ven-
deu 1 milhão de unidades nos 28 dias seguintes
ao lançamento nos Estados Unidos, em 3 de abril.
E em 80 dias, chegou à marca de 3 milhões de
compradores, o que o leva a ser o gadget de ade-
são mais rápida no mercado. Nem o iPhone, hoje
um habitué dos viciados em tecnologia, vendeu
tão rápido. No Brasil, o produto foi lançado no iní-
cio de dezembro e promete ser uma das vedetes
do Natal de 2010. Mas por aqui já teve gente que
nem esperou o lançamento nacional e já agregou
à vida o aparelho que obriga o mundo a se rea-
daptar: o mercado editorial, a educação e a indús-
tria do entretenimento.
Para entender o iPad, é necessário fugir de com-
parações com aparelhos já existentes. Ele não
chegou para substituir o seu netbook e nem o seu
smartphone, e sim ocupar uma lacuna entre os
dois. É o que se convencionou chamar de tablet,
que poderia ser traduzido como “prancheta” em
português. Tablets são computadores ultraportá-
teis com tela sensível ao toque, que dispensam
a necessidade de mouse ou teclado. Se antes
esses dispositivos tinham como público-alvo os
profissionais do engravatado mundo corporativo,
o iPad parece direcionar seu foco para os usuá-
rios básicos de informática. Quem usa o compu-
tador para ler e-mails, navegar na web, participar
de redes sociais, ver vídeos e escutar música, não
precisa mais passar horas sentado ou carregan-
do no colo um notebook de mais de 2 quilos. Um
iPad resolve tudo isso de forma mais rápida, ainda
que seja menor e mais leve que uma revista: 1,27
centímetro de espessura e 680 gramas de peso.
Além do mais, pode acessar a internet por Wi-Fi e
3G, sem nenhuma necessidade de cabos. »»»
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“O iPad é um centro multimídia móvel”, define o
argentino Roberto Igarza, doutor em Comunica-
ção da Universidad Austral (Buenos Aires) e pes-
quisador de novas formas de consumo cultural.
Igarza usa o novo tablet como um exemplo de
uma metáfora que costuma fazer: a Apple é uma
espécie de “alta costura” da tecnologia. “Mais do
que tudo, Steve Jobs lança conceitos. Nem todas
as pessoas terão um iPad, mas ele já dita ten-
dências do mercado e virou objeto de desejo. E
o conceito trazido pelo iPad nos fez descobrir a
mobilidade associada a uma tela sensível ao to-
que e colorida, com uma disposição ergonômica
extraordinária frente ao que víamos até três anos
atrás”, explica.
O médico Carlos Eduardo Barretto foi um dos
primeiros paraenses que se deixou seduzir por
este novo conceito. Pediu a um amigo que via-
jou para os Estados Unidos que lhe trouxesse um
iPad. Aficionado por tecnologia e fanático dos pro-
dutos da Apple, ele acompanhou a transmissão
pela internet da apresentação oficial do produto
em janeiro. E descreve a primeira impressão de
uma forma bastante romântica. “Na mesma hora
que vi o iPad, me apaixonei. Você aperta o botão
de liga/desliga e lá está a web, o e-mail, o Twitter e
mais milhares de aplicações exclusivas ou iPhone
compatíveis, bem no seu colo. Além disso, toda a
capacidade de exibir vídeos em alta definição, ou-
vir as músicas do iPod. Tudo isso sem precisar es-
perar um longo boot de um sistema operacional.
É o sonho da internet portátil e descomplicada”,
opina. Os jogos já disponíveis para iPad seduzem
os dois filhos do médico, a quem ele permite que
se divirtam um pouco. “Desde que seja sob minha
estreita supervisão e literalmente em estado de
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stress elevado. E eles ainda querem mais”, brinca.
A praticidade foi o que levou Larissa Rama-
lheiro, estudante de administração de empresas
e gerente de uma loja em Belém, a comprar um
iPad em setembro deste ano em uma viagem a
Buenos Aires. “Como viajo com bastante frequên-
cia e estar conectada à internet sempre, vi no iPad
a facilidade de acesso sem ter que andar com um
notebook mais pesado e com carregador. Dentro
da bolsa ele fica super discreto”, explica. Larissa
usa o iPad para trabalho, entretenimento e lazer
e, apesar de já ter boas expectativas sobre o pro-
duto antes de comprá-lo, ainda teve as expecta-
tivas superadas. “Por mais que eu soubesse das
versões de jornais e revistas, pensei que usaria
pouco esta função. Mas atualmente utilizo mais
do que pensava. Não dá mais pra viajar sem o
iPad!”, brinca.
Na capital paraense, pouca gente pode avaliar
tanto o sucesso do iPad nesses primeiros meses
após o lançamento como Raul Parizotto. Dono de
uma loja de acessórios para dispositivos da Apple,
ele oferece também um serviço de personaliza-
ção para os clientes de Belém instalando aplicati-
vos e arquivos multimídia.
“Já recebi uns 500 clientes com iPad aqui. E a
segunda-feira é um dia de movimento espacial, já
que é o dia da semana em que as pessoas que
viajam a Miami costumam voltar para Belém”,
conta. Raul tem um grande acervo de programas,
músicas, filmes e episódios de seriados que ins-
tala no aparelho de acordo com o perfil do clien-
te. “Tenho aplicativos para médicos, advogados e
várias outras profissões. Eles são fundamentais, já
que, por si só e sem aplicativos, o iPad não te leva
a lugar nenhum”, explica.
Larissa, Carlos e Raul: investimento na novidade e satisfação com os resultados da aquisição
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O novo brinquedinho da Apple já nasceu em berço
esplêndido no que se refere a programas. Os cerca
de 150 mil aplicativos para iPhone disponíveis na loja
online da Apple são compatíveis com o novo produ-
to. Mas a produção direcionada para a tela de 9,7
polegadas do iPad deverá quebrar paradigmas em
alguns segmentos de mercado. O mercado editorial
deverá ser um dos mais impactados. Com as vanta-
gens multimídia do iPad sobre os outros leitores de
e-books, o conceito de livros eletrônicos deverá sofrer
transformações significativas. A Ediouro, por exem-
plo, já estuda a criação de uma espécie de “e-book
2.0”, que deve trazer além dos textos digitalizados,
vídeos e áudios.
No entanto, para que o iPad emplaque no segmen-
to de revistas e jornais, ainda é necessário rever al-
gumas distorções no que diz respeito a preços. Uma
edição de revista para o iPad custa hoje de 3 a 5 dóla-
res, não muito diferente do que se paga nas bancas,
mesmo sem custos de impressão e distribuição. E se
forem comparados os preços das assinaturas, a dis-
paridade é ainda maior. Por exemplo, assinar a revista
Time por um ano nos Estados Unidos custa 20 dóla-
res. Comprar os 52 exemplares semanais avulsos na
App Store da Apple sai por 254 dólares. A Apple já
está tentando negociar com as grandes publicações
americanas para criar parâmetros para as assinatu-
ras no iPad, mas ainda esbarra em desentendimen-
tos sobre política de publicidade e de preservação de
dados de clientes.
A educação também deverá sentir os impactos do
iPad. Já estão disponíveis dezenas de aplicativos que
ajudam a professores, pais e alunos. Ensinar às crian-
ças as cores, formas e primeiras palavras numa teli-
nha de alta resolução e sensível ao toque ganha uma
dimensão inimaginável pouco tempo atrás. A mate-
mática, tão odiada por adolescentes, pode se tornar
descomplicada e até atraente. E algumas necessi-
dades muito específicas, como autismo e problemas
no desenvolvimento da fala, ganham uma plataforma
interativa.
O iPad teve o lançamento homologado pela Agên-
cia Nacional de Telecomunicações no final de agosto
e chegou às lojas na primeira semana de dezembro.
No Brasil, ele terá uma peculiaridade: será vendido
também pelas operadoras de telefonia celular, que
vão oferecer os planos de acesso a internet 3G. Nos
outros países em que o iPad já pode ser encontrado,
ele é vendido em lojas de eletrônicos.
A “exclusividade” no modelo de negócios tem duas
opções de caminhos: os brasileiros poderão ficar re-
féns de um possível preço-padrão praticado pelas
operadoras ou a concorrência será estimulada por
promoções. Os preços oficiais estipulados pela Ap-
ple no Brasil vão de 1650 reais (na versão Wi-Fi com
16GB de memória) até 2600 reais (na versão Wi-Fi
+ 3G com 64GB). Mas especialistas acreditam que
o mercado dos tablets poderá oferecer opções mais
baratas em alguns anos, o que será fundamental para
a popularização desse tipo de dispositivo.
“É o que acontece com os principais lançamentos
da Apple. As indústrias concorrentes desenvolvem
produtos similares ou análogos que, por serem mais
baratos, têm chegada mais massiva. Talvez daqui a
dois ou cinco anos, poderemos analisar nas ruas os
resultados”, explica o argentino Roberto Igarza.
• Sistema operacional: desde o dia 22 de novembro, já
está disponível para o iPad o iOS 4.2, o elogiado sistema do
iPhone 4.
• Multitarefa: a atualização do sistema operacional possi-
bilitou corrigir uma das principais críticas ao iPad. Agora é
possível executar vários programas ao mesmo tempo sem
fechá-los.
• Rapidez: para tarefas básicas na internet, como acessar
e-mail e navegar, o iPad é rápido e prático.
• Sem câmeras: não há webcam nem câmera fotográfica. Assim não se
pode usar aplicativos como o Facetime, a ligação telefônica com vídeo do
iPhone 4.
• Bugs nos aplicativos: alguns programas travam bastante, como o VLC
Player (para exibição de vídeos) e o IM+ (que agrega redes sociais). Mas
os desenvolvedores dos aplicativos trabalham constantemente nas atualiza-
ções, que podem ser feitas via App Store.
• Dependência do iTunes: assim como todos os outros dispositivos da Ap-
ple, qualquer procedimento para subir arquivos no iPad passa pelo iTunes,
programa que deve estar instalado em outro computador. É um protocolo
complicado e entediante.
QUESTÕES TÉCNICAS
IMPACTOS
PRÓS CONTRAS