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Aqui, o Futuro

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Reportagem sobre o iPad publicada na Revista Leal Moreira #27, em dezembro de 2010.

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Leonardo Aquino Luiza Cavalcante

Aqui,

futurooBem-vindos à era do Ipad, o “centro multimídia móvel” que promete, em

pouco tempo, transformar o universo das comunicações no planeta

Avanços tecnológicos quase sempre ge-

ram febres de consumo imediatas. Mas

às vezes, elas são precedidas de uma

onda global de desconfiança. Veja só o exemplo

do iPad. Apresentado em janeiro de 2010, o novo

produto da Apple só não foi chamado de santo.

A principal dúvida era se um dispositivo peque-

no demais para competir com netbooks e grande

demais para entrar no mercado de smartphones

realmente emplacaria. Passada a avalanche de

chacotas e críticas, o iPad deu sua resposta. Ven-

deu 1 milhão de unidades nos 28 dias seguintes

ao lançamento nos Estados Unidos, em 3 de abril.

E em 80 dias, chegou à marca de 3 milhões de

compradores, o que o leva a ser o gadget de ade-

são mais rápida no mercado. Nem o iPhone, hoje

um habitué dos viciados em tecnologia, vendeu

tão rápido. No Brasil, o produto foi lançado no iní-

cio de dezembro e promete ser uma das vedetes

do Natal de 2010. Mas por aqui já teve gente que

nem esperou o lançamento nacional e já agregou

à vida o aparelho que obriga o mundo a se rea-

daptar: o mercado editorial, a educação e a indús-

tria do entretenimento.

Para entender o iPad, é necessário fugir de com-

parações com aparelhos já existentes. Ele não

chegou para substituir o seu netbook e nem o seu

smartphone, e sim ocupar uma lacuna entre os

dois. É o que se convencionou chamar de tablet,

que poderia ser traduzido como “prancheta” em

português. Tablets são computadores ultraportá-

teis com tela sensível ao toque, que dispensam

a necessidade de mouse ou teclado. Se antes

esses dispositivos tinham como público-alvo os

profissionais do engravatado mundo corporativo,

o iPad parece direcionar seu foco para os usuá-

rios básicos de informática. Quem usa o compu-

tador para ler e-mails, navegar na web, participar

de redes sociais, ver vídeos e escutar música, não

precisa mais passar horas sentado ou carregan-

do no colo um notebook de mais de 2 quilos. Um

iPad resolve tudo isso de forma mais rápida, ainda

que seja menor e mais leve que uma revista: 1,27

centímetro de espessura e 680 gramas de peso.

Além do mais, pode acessar a internet por Wi-Fi e

3G, sem nenhuma necessidade de cabos. »»»

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“O iPad é um centro multimídia móvel”, define o

argentino Roberto Igarza, doutor em Comunica-

ção da Universidad Austral (Buenos Aires) e pes-

quisador de novas formas de consumo cultural.

Igarza usa o novo tablet como um exemplo de

uma metáfora que costuma fazer: a Apple é uma

espécie de “alta costura” da tecnologia. “Mais do

que tudo, Steve Jobs lança conceitos. Nem todas

as pessoas terão um iPad, mas ele já dita ten-

dências do mercado e virou objeto de desejo. E

o conceito trazido pelo iPad nos fez descobrir a

mobilidade associada a uma tela sensível ao to-

que e colorida, com uma disposição ergonômica

extraordinária frente ao que víamos até três anos

atrás”, explica.

O médico Carlos Eduardo Barretto foi um dos

primeiros paraenses que se deixou seduzir por

este novo conceito. Pediu a um amigo que via-

jou para os Estados Unidos que lhe trouxesse um

iPad. Aficionado por tecnologia e fanático dos pro-

dutos da Apple, ele acompanhou a transmissão

pela internet da apresentação oficial do produto

em janeiro. E descreve a primeira impressão de

uma forma bastante romântica. “Na mesma hora

que vi o iPad, me apaixonei. Você aperta o botão

de liga/desliga e lá está a web, o e-mail, o Twitter e

mais milhares de aplicações exclusivas ou iPhone

compatíveis, bem no seu colo. Além disso, toda a

capacidade de exibir vídeos em alta definição, ou-

vir as músicas do iPod. Tudo isso sem precisar es-

perar um longo boot de um sistema operacional.

É o sonho da internet portátil e descomplicada”,

opina. Os jogos já disponíveis para iPad seduzem

os dois filhos do médico, a quem ele permite que

se divirtam um pouco. “Desde que seja sob minha

estreita supervisão e literalmente em estado de

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stress elevado. E eles ainda querem mais”, brinca.

A praticidade foi o que levou Larissa Rama-

lheiro, estudante de administração de empresas

e gerente de uma loja em Belém, a comprar um

iPad em setembro deste ano em uma viagem a

Buenos Aires. “Como viajo com bastante frequên-

cia e estar conectada à internet sempre, vi no iPad

a facilidade de acesso sem ter que andar com um

notebook mais pesado e com carregador. Dentro

da bolsa ele fica super discreto”, explica. Larissa

usa o iPad para trabalho, entretenimento e lazer

e, apesar de já ter boas expectativas sobre o pro-

duto antes de comprá-lo, ainda teve as expecta-

tivas superadas. “Por mais que eu soubesse das

versões de jornais e revistas, pensei que usaria

pouco esta função. Mas atualmente utilizo mais

do que pensava. Não dá mais pra viajar sem o

iPad!”, brinca.

Na capital paraense, pouca gente pode avaliar

tanto o sucesso do iPad nesses primeiros meses

após o lançamento como Raul Parizotto. Dono de

uma loja de acessórios para dispositivos da Apple,

ele oferece também um serviço de personaliza-

ção para os clientes de Belém instalando aplicati-

vos e arquivos multimídia.

“Já recebi uns 500 clientes com iPad aqui. E a

segunda-feira é um dia de movimento espacial, já

que é o dia da semana em que as pessoas que

viajam a Miami costumam voltar para Belém”,

conta. Raul tem um grande acervo de programas,

músicas, filmes e episódios de seriados que ins-

tala no aparelho de acordo com o perfil do clien-

te. “Tenho aplicativos para médicos, advogados e

várias outras profissões. Eles são fundamentais, já

que, por si só e sem aplicativos, o iPad não te leva

a lugar nenhum”, explica.

Larissa, Carlos e Raul: investimento na novidade e satisfação com os resultados da aquisição

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O novo brinquedinho da Apple já nasceu em berço

esplêndido no que se refere a programas. Os cerca

de 150 mil aplicativos para iPhone disponíveis na loja

online da Apple são compatíveis com o novo produ-

to. Mas a produção direcionada para a tela de 9,7

polegadas do iPad deverá quebrar paradigmas em

alguns segmentos de mercado. O mercado editorial

deverá ser um dos mais impactados. Com as vanta-

gens multimídia do iPad sobre os outros leitores de

e-books, o conceito de livros eletrônicos deverá sofrer

transformações significativas. A Ediouro, por exem-

plo, já estuda a criação de uma espécie de “e-book

2.0”, que deve trazer além dos textos digitalizados,

vídeos e áudios.

No entanto, para que o iPad emplaque no segmen-

to de revistas e jornais, ainda é necessário rever al-

gumas distorções no que diz respeito a preços. Uma

edição de revista para o iPad custa hoje de 3 a 5 dóla-

res, não muito diferente do que se paga nas bancas,

mesmo sem custos de impressão e distribuição. E se

forem comparados os preços das assinaturas, a dis-

paridade é ainda maior. Por exemplo, assinar a revista

Time por um ano nos Estados Unidos custa 20 dóla-

res. Comprar os 52 exemplares semanais avulsos na

App Store da Apple sai por 254 dólares. A Apple já

está tentando negociar com as grandes publicações

americanas para criar parâmetros para as assinatu-

ras no iPad, mas ainda esbarra em desentendimen-

tos sobre política de publicidade e de preservação de

dados de clientes.

A educação também deverá sentir os impactos do

iPad. Já estão disponíveis dezenas de aplicativos que

ajudam a professores, pais e alunos. Ensinar às crian-

ças as cores, formas e primeiras palavras numa teli-

nha de alta resolução e sensível ao toque ganha uma

dimensão inimaginável pouco tempo atrás. A mate-

mática, tão odiada por adolescentes, pode se tornar

descomplicada e até atraente. E algumas necessi-

dades muito específicas, como autismo e problemas

no desenvolvimento da fala, ganham uma plataforma

interativa.

O iPad teve o lançamento homologado pela Agên-

cia Nacional de Telecomunicações no final de agosto

e chegou às lojas na primeira semana de dezembro.

No Brasil, ele terá uma peculiaridade: será vendido

também pelas operadoras de telefonia celular, que

vão oferecer os planos de acesso a internet 3G. Nos

outros países em que o iPad já pode ser encontrado,

ele é vendido em lojas de eletrônicos.

A “exclusividade” no modelo de negócios tem duas

opções de caminhos: os brasileiros poderão ficar re-

féns de um possível preço-padrão praticado pelas

operadoras ou a concorrência será estimulada por

promoções. Os preços oficiais estipulados pela Ap-

ple no Brasil vão de 1650 reais (na versão Wi-Fi com

16GB de memória) até 2600 reais (na versão Wi-Fi

+ 3G com 64GB). Mas especialistas acreditam que

o mercado dos tablets poderá oferecer opções mais

baratas em alguns anos, o que será fundamental para

a popularização desse tipo de dispositivo.

“É o que acontece com os principais lançamentos

da Apple. As indústrias concorrentes desenvolvem

produtos similares ou análogos que, por serem mais

baratos, têm chegada mais massiva. Talvez daqui a

dois ou cinco anos, poderemos analisar nas ruas os

resultados”, explica o argentino Roberto Igarza.

• Sistema operacional: desde o dia 22 de novembro, já

está disponível para o iPad o iOS 4.2, o elogiado sistema do

iPhone 4.

• Multitarefa: a atualização do sistema operacional possi-

bilitou corrigir uma das principais críticas ao iPad. Agora é

possível executar vários programas ao mesmo tempo sem

fechá-los.

• Rapidez: para tarefas básicas na internet, como acessar

e-mail e navegar, o iPad é rápido e prático.

• Sem câmeras: não há webcam nem câmera fotográfica. Assim não se

pode usar aplicativos como o Facetime, a ligação telefônica com vídeo do

iPhone 4.

• Bugs nos aplicativos: alguns programas travam bastante, como o VLC

Player (para exibição de vídeos) e o IM+ (que agrega redes sociais). Mas

os desenvolvedores dos aplicativos trabalham constantemente nas atualiza-

ções, que podem ser feitas via App Store.

• Dependência do iTunes: assim como todos os outros dispositivos da Ap-

ple, qualquer procedimento para subir arquivos no iPad passa pelo iTunes,

programa que deve estar instalado em outro computador. É um protocolo

complicado e entediante.

QUESTÕES TÉCNICAS

IMPACTOS

PRÓS CONTRAS