AS TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM NA ENVOLTÓRIA DOS EDIFÍCIOS RELIGIOSOS DA ÁREA CENTRAL DA CIDADE DE SÃO
PAULO: O CASO DO BAIRRO DA SÉ
GONÇALVES, DANIELA LEITE (1); MORAES, SANDRA REGINA CASAGRANDE DE (2)
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Departam. de Construção Civil
Rua Pedro Vicente, 625 - Canindé - São Paulo - SP - Brasil - CEP: 01109-010 [email protected]
2. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Departam. de Construção Civil
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RESUMO
A pesquisa trata de estudar os edifícios religiosos no bairro da Sé, localizado na região central da cidade de São Paulo e suas atuais situações dentro do contexto urbano. O surgimento do bairro da Sé data de 25 de janeiro de 1554, no Pátio do Colégio, local da primeira fortificação de São Paulo, visto como o ponto mais nobre da cidade por ser o centro da vida do novo burgo que aflorava. A história desse bairro vai de encontro com a história de São Paulo, de tal modo que não se pode introduzir uma sem confrontá-la com a outra, afinal, até 1800, as duas histórias se resumiam a uma única. A partir de 1870, eclode a riqueza cafeeira e a capital passa a vivenciar o maior fenômeno agrícola do século, o que transformou a vida paulistana e fez com que surgissem novas concepções urbanísticas. As transformações intensificam-se a partir da metade do século 19, quando foram realizadas diversas melhorias urbanas. É nessa época que o Largo da Sé, cuja tradição estava ligada às manifestações religiosas, depara-se com a necessidade de se adequar aos novos tempos através de sucessivas reformas. Com essa febre de urbanização foi se destruindo a memória da cidade. Os edifícios religiosos que sempre foram aspectos importantes dessa memória e, em sua maioria, mesmo que não destruídos, foram ofuscados e sufocados pelo crescimento desordenado, tendo sua essência e atenção desvalorizada. A partir do final dos anos de 1960 e durante os anos de 1970 coincidindo com uma época de intenso crescimento econômico e fortes investimentos públicos em infraestrutura (metro, marginais, viadutos e pontes), que gerou para a cidade de São Paulo o início do aparecimento de novas centralidades - onde foram localizados os investimentos imobiliários de edifícios de alto padrão destinados à escritórios e sedes de grandes empresas nacionais e estrangeiras - a região central enfrentou mudanças como a estagnação, depreciação e desvalorização. Seus edifícios inclusive os religiosos (estudados) passaram a não mais apresentar valor representativo para o seu entorno, ficando as sombras do novo contexto da cidade originado pelas intervenções urbanas de reabilitação, revalorização, revitalização e requalificação. Portanto, a proposta do resgate das informações dos edifícios religiosos juntamente com a análise espaço-temporal do crescimento urbano em torno dos mesmos se torna importante para concluir em que momento o papel da edificação religiosa do bairro da Sé, não se faz mais presente na história do crescimento do bairro.
Palavras-chave: Edifícios Religiosos; Paisagem Urbana; Bairro de Sé.
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Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Introdução
O surgimento do bairro da Sé data de 25 de janeiro de 1554, e segundo o historiador Afonso
d’Escragnole Taunay, foi no ano de 1807 que o engenheiro militar Rufino Felizardo e Costa
levantou uma planta da cidade de São Paulo, em cumprimento à ordem do sargento-mor
engenheiro João da Costa Ferreira. No entanto, o DPH – PMSP1 salienta que o primeiro
registro é atribuído à 1810 por ser, muito provavelmente, o ano de conclusão da peça gráfica,
ou, até mesmo, uma datação aproximada feita em época posterior (Figura 1).
Figura 1 - Planta da Região Central São Paulo – 1810. Fonte: Arquivo Histórico Municipal. Disponível
em: <www.arquiamigos.org.br>, acesso 12 fev.2016.
Na época em que foi levantada esta planta, a área urbanizada concentrava-se, na realidade,
no alto da colina histórica, conhecida sob o nome indígena de Inhapuambuçu2. A população
das freguesias da Sé e Santa Efigênia formavam o centro urbano, mesmo longe de atingir
10.000 habitantes (DPH - PMSP, 2008). As ruas existentes são identificadas como seriamente
estreitas e tortuosas.
Os reduzidos limites da área urbanizada da cidade: ao norte, se estendia pouco além do
Jardim Botânico (atual Jardim da Luz); ao sul, não ultrapassava muito abaixo do Cemitério dos
Aflitos; a leste, havia por limite o Rio Tamanduateí e sua várzea, e a oeste, quase não
chegava a alcançar o Largo do Arouche e a Igreja da Consolação.
1 Dados extraídos do Informativo do Arquivo Histórico Municipal do Departamento do Patrimônio Histórico da
Secretaria da Cultura de Prefeitura Municipal da Cidade de São Paulo. Ano 4, N.20. set/out de 2008.
2 Inhapuambuçu: lugar que se vê longe.
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O registro gráfico posterior datado de 1842, não revelou alterações, mas sim, algumas
atualizações, como a que ocorre no Largo da Sé, o prolongamento da Rua da Esperança até
esse logradouro, obra realizada em 1825, e no Pátio de São Francisco, o alargamento do
logradouro com a incorporação do quintal dos franciscanos, ocorrida em 1829.
Ademais, os limites abrangidos foram um pouco alargados: ao norte, estenderam-se para
além do Convento da Luz; ao sul, até o Córrego Lava-pés, que interceptava o caminho de
Santos; a leste, levados adiante da igreja do Brás e, a oeste, avançaram até o começo da
íngreme subida da estrada de Sorocaba, pouco antes do sítio onde mais tarde seria
construído o Cemitério Municipal (atual Cemitério da Consolação).
Segundo o DPH – PMSP, 2008, o mapa datado de 1855, destacou a execução do primeiro
anel perimetral da cidade. As primeiras ruas a serem abertas foram as Ruas Formosa (1855) e
Municipal (1849-1857) (atual General Carneiro), que pode, na verdade, ser considerada uma
via radial do futuro anel. Depois essa estrutura viária teve prosseguimento com o primeiro
trecho da Rua 25 de Março (1858), com o segundo trecho dessa via (1869) e com a Rua
Riachuelo (prolongamento da antiga Rua da Casa Santa até o Largo do Bexiga, datado de
1867-1868). Completou-se apenas no tempo do presidente João Teodoro, com as Ruas do
Hospício (1873) e do Conde d’Eu (1875). Ainda segundo o mesmo autor, o objetivo que se
desejava alcançar com esse anel viário era a interligação das várias saídas da cidade. Essa
solução melhoraria a circulação de mercadorias na Capital, pois, de ora em diante, os carros
de boi e as tropas de mulas não mais atravessariam as estreitas e tortuosas ruas centrais.
O documento cartográfico de 1868 é o primeiro a trazer o percurso da linha férrea inglesa,
inaugurada um ano antes e cujas consequências que se perpetuariam eram ainda
inimagináveis.
Apesar dos principais edifícios continuarem sendo igrejas e conventos, apareceu neste
momento assinalado também sedes de jornais, tipografias, boticas e colégios, o que
demonstra um processo de urbanização mais intenso.
Cresce o número de arruamentos abertos em chácaras situadas nas imediações da Capital,
indicando uma especulação fundiária que se tornaria visível a partir de meados de 1870
(planta datada de 1897). Na região da Luz, acrescentou-se a trama de várias ruas, entre elas,
a de João Teodoro, via que se encarregaria de estabelecer contato entre os bairros da Luz e
do Brás, até então localidades completamente isoladas uma da outra.
A nítida expansão física da capital é apontada como consequência da crise inflacionária que
despontou em 1875, uma vez que os empreendedores econômicos passaram a sentir-se
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motivados apenas em investimentos em bens de raiz. Portanto, em 1877 o patrimônio
edificado da cidade vinha sendo renovado, sobretudo em virtude da iniciativa privada.
Em planta de 1881, a aglomeração de edifícios continuava situada no alto da colina central,
onde havia o Triângulo – o atual “Centro Velho”, formado pelas Ruas 15 de Novembro, Direita
e São Bento, região considerada o centro comercial e financeiro da de um território
urbanizado em expansão contínua. As ruas localizadas nessa área ainda preservavam sua
tortuosidade e estreiteza, deficiências que só foram devidamente reparadas durante a gestão
dos primeiros prefeitos paulistanos, Antônio Prado e Raimundo Duprat (1899-1914), no início
do século XX.
O advento da ferrovia, entre 1867 e 1875, fez com que a expansão urbana se acelerasse de
forma brusca e desencadeasse posteriormente consideráveis efeitos, como a criação de
loteamentos de elite (Campos Elíseos, Avenida Paulista, Higienópolis) e de padrão médio,
que é o caso da Liberdade e Santa Cecília.
Entretanto, ao passo que a linha férrea se somava à presença das várzeas inundáveis do
Tamanduateí e do Tietê, contribuindo para uma desvalorização das direções Norte e Leste.
Isto fez com que se estabelece uma dicotomia, prevalecente até mesmo nos dias de hoje,
entre as faces valorizada (Oeste) e desprestigiadas (Norte, Leste, Sudeste) da área central.
Nesse momento, a cidade expande-se para o setor Noroeste na área que atualmente é
conhecida como Santa Efigênia, já bastante consolidada. É percebível no entanto, o início do
arruamento no setor Sudoeste, originando o bairro Bela Vista, e ainda a transposição do rio
Tamanduateí, pelas ruas do Brás e do Gasômetro, originando o arrumamento no bairro do
próprio Brás e do Pari. Na direção Oeste, destaca-se a Rua da Consolação já adensada,
assim como o bairro da República, e o desenvolvimento sucessivo no sentido do bairro de
Santa Cecília.
Mediante tal conjuntura, os bairros populares e/ou industriais, responsáveis por abrigar
cortiços e "vilas" especulativas, além de fábricas e armazéns, ocuparam espaços residuais ou
de várzea, que é o caso do Bexiga, Glicério, Cambuci, mas acompanharam notadamente o
cinturão ferroviário e industrial ao longo da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí: Lapa, Barra
Funda, Bom Retiro, Luz, Pari, Brás, Mooca.
Nesta época estava configurado o primeiro anel viário da cidade de São Paulo, gerado para
circunscrever o centro e interligar as diferentes estradas que partiam da capital: Rua Formosa
(1855), Rua do Seminário, Rua Alegre, Travessa dos Bondes, Rua do Senador Florêncio de
Abreu, Travessa 25 de Março, Rua 25 de Março (1858), Rua do Mercado (1869), Rua do
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Hospício (1873), Rua Conde d’Eu (1875), Rua Lavapés, Rua da Glória (estas duas últimas
vias eram trechos da antiga estrada de Santos), Travessa dos Estudantes, Largo da
Liberdade, Rua da Assembleia, Rua Riachuelo (prolongada entre 1867-1868), Largo do
Riachuelo e Largo da Memória. Grandes partes das precárias estradas permaneceram pouco
movimentadas até o advento do automóvel, devido ao fato que as mercadorias produzidas no
interior, ou trazidas do exterior, quando se finalizou a construção desse anel, já estavam
sendo constantemente transportadas pelas ferrovias recém-criadas.
Vale acrescentar que foi neste mesmo ano que, sendo Governador da Província, Florêncio de
Abreu demoliu a ala perpendicular do antigo conjunto do Colégio dos Jesuítas, e desta forma
originaram-se os jardins com aleias sombreadas. Foram instalados inclusive combustores de
gás para iluminação, sendo que oito deles perduraram até 1941, enfrentando a concorrência
da eletricidade.
Em mapa de 1890 existe um forte crescimento em direção ao setor Noroeste no bairro de
Campos Elíseos, além de que transpondo a Estrada de Ferro São Paulo Railway, situam-se
os bairros do Bom Retiro e da Luz, acompanhados do desenvolvimento crescente do bairro do
Brás e Pari, no sentido Leste. Há a intensificação do arruamento no sentido Sudoeste, em que
está localizado o bairro da Liberdade, bem como no setor Oeste o bairro de Santa Cecília
apresenta novo arruamento, acompanhando a Rua da Consolação.
Este momento da história foi marcado por uma atitude do poder público, que por sua vez
passou a fomentar uma alteração radical nos padrões de uso e ocupação da área sobre a
colina, que originalmente abrigava a cidade como um todo, visto que se urgia um núcleo
terciário capaz de comportar as funções institucionais, administrativas, comerciais e
financeiras do modelo agroexportador vigente. Para esse fim, as políticas sanitaristas e de
remodelação edilícia, intensificadas a partir do ano de 1890, buscavam primordialmente retirar
da área central usos e habitantes indesejáveis - fazendo-se referências deste modo aos
cortiços, casebres, operários e prostituição, em uma postura disciplinadora e segregadora em
relação às moradias populares, visando a atração de usos institucionais e comerciais
“nobres”.
Enquanto isso eram oferecidos incentivos fiscais a quem construísse nas ruas da região
central, como a Sé, seguindo os novos padrões arquitetônicos. Ao passo que o bairro antigo
se transformava, acredita-se que a cidade que surgiu entre os anos de 1890 e 1920 perdera o
contato com o passado.
Na opinião do urbanista Ulhoa Cinta a velha cidade, representa pelo bairro da
Sé, estava rigorosamente certa para o local e para o tempo. As ruas não
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precisavam ser mais largas porque diminuto e Iento era o tráfego. Os muares
entravam no centro. Por isso havia postura municipal tornando obrigatórias
argolas à altura de côvado, nas ruas, e entre elas principalmente a Direita,
para poderem ser amarrados os cavalos e burros de carga. (FERREIRA,
1971, p. 143).
A otimização do tráfego, em particular nas ruas do Triângulo e imediações, foi permitida ao
passo que gradualmente essas foram alargadas e tinham seu traçado modificado conforme os
edifícios eram substituídos.
A área central denominada Triângulo encontra-se nesse momento completamente dominada
pelo comércio e serviços, enquanto adensava-se e era tomada por nova tipologia
arquitetônica: construções de três pavimentos que começavam a se alastrar pelo Centro
desde os anos 1880 – sedes de instituições bancárias, prédios com lojas no térreo,
apartamentos residenciais ou salas de escritórios nos andares superiores.
Ao mesmo tempo, os loteamentos particulares iam tomando o lugar das antigas chácaras.
Com suas ruas ortogonalmente dispostas, esses empreendimentos imobiliários passaram a
ser a forma característica de criação do espaço urbano paulistano. Dentre os imponentes
edifícios públicos que contribuíram para formar o maior acervo arquitetônico da região,
inclui-se a Catedral da Sé (1922).
Procurou-se estabelecer certa coerência nas relações de escalas entre edifícios, elaborado
tratamento de fachadas e dimensionamento dos espaços públicos, a fim de consolidar a partir
disso o modelo de ocupação dominante até então na capital do café – proposta essa que se
depararia com alguns empecilhos adiante.
A pressão expansionista, exacerbada pelo crescimento urbano acelerado e
pela industrialização, logo levaria à superação desse modelo. O centro
construído ao longo da República Velha Tornava-se insuficiente. No momento,
em que se esboçava certa integridade urbanística, obtida a grande custo em
torno de pontos como o vale do Anhangabaú, a Avenida São João, as praças
da Sé e do Patriarca, esta seria atropelada por um novo patamar de
intervenção (CAMPOS, 2003, p. 7).
Portanto, o centro gradualmente tornava-se insuficiente, questão que se afirmou no primeiro
pós-guerra, em meados do século XX, exacerbando deste modo a tendência de travessia do
Vale do Anhangabaú rumo ao Morro do Chá ou Centro Novo. Para tanto, como ressaltado
pelo autor, havia a necessidade de substituição do antigo Viaduto do Chá por uma estrutura
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que comportasse maior capacidade (CAMPOS, 2003), sendo assim concretizada apenas
entre 1936 e 1938 com a construção do novo viaduto no eixo da Praça do Patriarca.
Tal como consequência da pressão expansionista, também o padrão de edificação teve que
se adequar ao momento, à vista de que os prédios então vigentes variando entre três e sete
andares, e altura máxima de vinte à trinta metros, passaram a ser considerados insuficientes
no que dizia respeito ao aproveitamento imobiliário. Como resultado da aprovação do Padrão
Municipal de 19203 pela Câmara, surgiram os primeiros “arranha-céus, como o Sampaio
Moreira (1924) e o Martinelli (1928-1931).
A solução para o problema viário surgiu a partir de uma reestruturação do espaço, com a
proposta de Perímetro de Irradiação, em que sairiam do centro vias em contraposição ao
traçado xadrez americano, a fim de descentralizar a vida comercial e distribuir a circulação
pelas ruas secundárias. O modelo foi proposto inicialmente por Ulhoa Cintra, em 1924, sendo
incorporado no Plano de Avenidas.
Em um momento de remodelação dos espaços centrais, ligado às obras do metrô nos anos de
1970 e 1980, foram realizadas intervenções como a pedestrianização e reforma de espaços
públicos, além da nova Praça da Sé (1978) e o Novo Anhangabaú (1985-1992).
Edificações Religiosas
I. Catedral Metropolitana de São Paulo (Catedral da Sé)
Considerada um dos cinco maiores templos neogóticos do mundo e situada bem à frente do
Marco Zero da cidade de São Paulo, a catedral da Sé como é hoje teve sua construção
iniciada no ano de 1913. O projeto foi elaborado pelo professor de Arquitetura da Escola
Politécnica, o alemão Maximilian Emil Hehl, e sua inauguração ocorreu em 25 de janeiro de
1954, na comemoração do 4º Centenário da Cidade de São Paulo, ainda sem as duas torres
principais.
A primeira versão da igreja data de 1591, quando o cacique Tibiriçá escolheu o terreno onde
desejava instalar o primeiro templo da cidade, sendo a taipa de pilão o material escolhido para
concretizar esta construção: paredes feitas de barro e palha socados e estruturados em toras.
Somente em 1745, a "velha Sé", como era chamada, foi elevada à categoria de catedral.
3 Estabelecido pela Lei Municipal nº 2.332, de 9 de novembro de 1920, o Padrão Municipal para as construções
particulares no município que, dentre outros pontos, vinculou a altura dos edifícios simplesmente à largura da rua.
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Portanto, iniciou-se neste mesmo ano a edificação da segunda matriz da Sé, no mesmo local
da anterior.
Levantou-se a Igreja de São Pedro da Pedra, ao seu lado, em meados do século XIII.
Contudo, os dois templos foram demolidos em 1911 para dar espaço à ampliação da Praça da
Sé e, por fim, à versão vigente da catedral.
O monumento também teve a sua importância na vida política do país. Durante o despotismo
militar, D. Agnelo Rossi (1964-1970) encarregou-se do arcebispado, inaugurando a fase da
teologia da libertação e da opção preferencial pelos pobres. A figura do cardeal arcebispo D.
Paulo Evaristo Arns passou a se destacar a partir de 1970, quando se dedicou fortemente ao
combate à ditadura militar, denunciando os crimes, as torturas e cedendo a catedral para as
manifestações políticas e ecumênicas pelos desaparecidos políticos e pela anistia.
O templo foi submetido à três anos de reformas e foi reaberto em 2002, voltando a oferecer
missas diárias e também visitas monitoradas durante toda a semana.
Análise dos efeitos da urbanização sobre a edificação
No detalhe do mapa (Figura 2), vê-se, em destaque, o núcleo original desenvolvido ao redor
da Igreja da Sé, que configurava o ponto central da malha urbana e histórica da cidade, para
onde se dirigiam os principais acessos, em contraste à atual conjuntura.
Figura 2 - À esquerda, mapa de 1868 da cidade de São Paulo, com destaque para a Igreja da Sé, em contraste aos dias atuais (à direita). Fonte: DPH / <www.google.com.br/maps>, acesso 12 mar. 2016.
Observando a trajetória do Largo da Sé, é possível afirmar que o seu desenvolvimento
culminou na praça que se instalou como o principal recinto religioso, e pôde se fortalecer
através da construção de várias edificações em seu entorno. A praça da Sé é um reflexo de
um projeto paisagístico liderado por José Eduardo de Assis Lefèvre, professor da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). As obras do Metrô de São
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Paulo tiveram uma influência direta naquela região, pois houve a necessidade da demolição
de todo o quarteirão e a paisagística teve que ser repensada.
Inúmeras mudanças e transformações remodelaram o desenho da cidade, como novos
arruamentos que surgiram em torno da Praça da Sé, tais como a Rua Senador Feijó, Rua
Benjamin Constant, Rua Anita Garibaldi, Avenida Rangel Pestana (consequência do
Perímetro de Irradiação), também a Praça Doutor João Mendes e a importante Avenida Vinte
e Três de Maio, originalmente conhecida como Avenida Itororó e, depois, Avenida
Anhangabaú.
Em relação às edificações, o mapa de 1841 (anterior a construção da Igreja), apresenta
escassos loteamentos presentes no Largo da Sé, podendo-se constatar a drástica mudança
causada pelo acelerado processo de urbanização, que ocasionou um cenário de múltiplas
construções que hoje circundam a Catedral da Sé, com exceção da fachada frontal, voltada
para a praça.
II. Capela do Menino Jesus e Santa Luzia
A Capela é fruto de uma intenção de homenagem ao Menino Jesus e à Santa Luzia, e sua
localização corresponde à antiga chácara de propriedade da bisneta do Conde de Sarzedas,
Anna Maria de Almeida Lorena Machado, fundadora do edifício.
Consoante narrado por sua família, o naufrágio sofrido por Anna Maria durante uma viagem
de navio de retorno à Paris fez com que ela perdesse todos os seus pertences, incluindo uma
imagem do Menino Jesus de Praga, estimada por toda família. Ela sobreviveu e começou a
rezar veementemente pelo milagre de reaver a imagem. Ao amanhecer, enquanto aguardava
na praia, viu a imagem flutuando se aproximar. Neste momento, ela prometeu que ao
regressar ao Brasil construiria uma Capela em honra aos santos de sua devoção, o que de
fato foi concretizado em 13 de dezembro de 1901.
Deste modo, a Capela foi construída pelo Arquiteto Domingos Delpiano, e possui um enorme
valor em virtude de sua pintura mural estar totalmente preservada. Assim, a igreja possui um
estilo neogótico, típico das construções brasileiras erguidas no início do século XIX, onde há a
junção do estilo gótico medieval com estilos clássicos.
A Capela sempre foi mantida em íntegro estado de conservação por Anna Maria, que
patrocinava festas celebradas religiosamente nos dias 13 e 25 de dezembro. Contudo, após
sua morte, seus herdeiros começaram a enfrentar problemas financeiros, razão pela qual
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encarregaram à Cúria Metropolitana a tarefa de conservação da Capela. Essa situação
permaneceu até 1921, quando a incumbência passou a ser das religiosas Servas do
Santíssimo Sacramento e, posteriormente aos Padres Sacramentinos.
Efetivamente, assumiram as responsabilidades da Capela várias entidades, como os
Missionários de São Francisco de Salles, seguido pelo Colégio Pasteur. A Missão Católica
Espanhola instalou-se na Capela e ficou ali por seis anos, e depois disso ela ficou
praticamente abandonada.
Em 1970, a pedido de Dom Agnelo Rossi, assumiu a Capelania Dom Ernesto de Paula, que
conferiu uma nova vida à Capela: restaurou o salão paroquial; construiu a ante-sala da
sacristia; promoveu festas religiosas e a devoção do Menino Jesus e Santa Luzia, além de
recolher valiosas obras de arte e as encaminhar ao Museu de Arte Sacra.
Análise dos efeitos da urbanização sobre a edificação
É possível notar um considerável contraste entre o meio que abrange a edificação em questão
nas duas épocas comparadas (Figura 3) – anterior à construção e nos dias atuais –
devendo-se estas principalmente aos novos arruamentos, alargamentos de vias já existentes
e à inserção de copiosos edifícios comerciais e residenciais de grande porte a sua volta que,
por conseguinte, resultaram no ofuscamento do edifício de dimensões bastante inferiores.
Figura 3 - A esquerda, mapa de 1881 da região central em contraste com mapa dos dias atuais (direita). Fonte: PASSOS, 2009, p.29 /
<www.google.com.br/maps/place/Capela+do+Menino+Jesus+e+Santa+Luzia>, acesso 13 mar. 2016.
No mapa de 1881 constata-se que ao sul da Rua Tabatinguera a região ainda era brevemente
adensada e os arruamentos ainda não estabeleciam tantas conexões. Em contrapartida,
atualmente observa-se uma série de novas vias conectadas, a ligação da Rua Tabatinguera
com a movimentada Avenida do Estado, além dos diversos pontos de comércio e importantes
estabelecimentos como o banco, o sindicato e o tribunal que se consolidaram à sua volta.
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III. Igreja da Ordem Terceira do Carmo
Na segunda metade do século XVII, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo foi fundada por um
grupo de leigos, em sua maioria bandeirantes, como uma capela adjacente à Igreja de Nossa
Senhora do Carmo, que foi inaugurada em 1592 e demolida em 1928.
A edificação atual também é conhecida como Capela dos Terceiros do Carmo e foi erguida
entre 1747 e 1758 em taipa de pilão. Entre os anos 1772 e 1802, passou por um processo de
ampliação da construção e ainda obteve uma nova fachada principal efetuada por Joaquim
Pinto de Oliveira, escravo do mestre-de-obras Bento de Oliveira Lima, responsável por outras
obras da arquitetura religiosa da São Paulo colonial. Apenas em 1929 o templo foi de fato
parcialmente reconstruído, passando por uma ampla reforma.
A instituição é responsável por conter um significativo conjunto da arte colonial paulista, do
qual são evidenciadas as pinturas dos tetos da capela-mor e do coro, de autoria do mestre
ituano Frei Jesuíno do Monte Carmelo, além do altar rococó e painéis do demolido
Recolhimento de Santa Teresa.
Análise dos efeitos da urbanização sobre a edificação
Pode-se inferir que entre os anos 1841 e 2016 (Figura 4) a conjuntura do meio que contorna a
edificação religiosa passou por diversas modificações quanto ao seu delineado. Destaca-se a
Avenida Rangel Pestana, onde está localizada a Igreja em questão, via essa consequência de
mudanças no traçado feitas no Plano de Avenidas e, posteriormente implantada.
Figura 1- Mapas da região central com destaque para a edificação analisada, 1841 e 2016. Fonte: DPH. Disponível em: <www.arquiamigos.org.br>, acesso 20 mar.2016 /
<www.google.com.br/maps/place/Igreja+Ordem+Terceira+do+Carmo>, acesso 21 mar.2016.
Contudo, dentre as demais edificações analisadas, pode-se induzir que a Igreja em questão
não foi totalmente sufocada pelo crescimento urbano no local, pois ela conserva à sua direita
uma parte da Praça Clóvis Beviláqua, que certamente com o passar do tempo se tornou mais
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povoada e consolidada, mas que reserva um espaço agradável e harmonioso em meio ao
ritmo acelerado que prevalece na região.
IV. Paróquia Nossa Senhora da Paz
A construção da Igreja Nossa Senhora da Paz despontou da proposição de estruturar na
capital paulista uma paróquia nacional e um centro de atividades que reunisse a grande e
diversificada comunidade italiana de São Paulo. Estiveram à frente deste projeto os padres da
Congregação dos Missionários de São Carlos (scalabrinianos), liderados na época pelo Padre
Francisco Milini. Através do apoio de um grupo de senhoras italianas, que formaram a
Associação Nossa Senhora da Paz, e igualmente com a participação dos moradores do
bairro, foi possível a formulação de um ambicioso projeto social e pastoral, aprovado pelo
Arcebispo de São Paulo em 1938.
Em 1940, concretizou-se o levantamento da Paróquia em uma localidade que concentrava
uma população operária de origem imigrante.
Atualmente, a Igreja é uma referência importante como arte sacra devido a sua arquitetura
arrojada por Pettini, os belíssimos afrescos de Fúlvio Pennacchi, e as esculturas de Galileo
Emendabili. Ademais, construiu-se também uma creche, posteriormente uma escola, além de
espaços para outros eventos.
Nas imediações da Igreja da Paz, o bairro conhecido hoje pelo nome de Glicério, conheceu
uma grande transformação, devido ao enorme fluxo migratório. Houve desde o início uma
participação expressiva da população local, de origem migrante, italianos, japoneses,
coreanos, portugueses e outras nacionalidades, além de uma presença crescente de
migrantes nacionais vindos de diferentes regiões do país. Ao passo em que a cidade de São
Paulo se desenvolvia de forma admirável, também recebia um enorme fluxo de migrantes
internos, que se instalavam nas suas periferias, mas também nos antigos bairros operários do
centro da capital.
Análise dos efeitos da urbanização sobre a edificação
A Figura 5 demonstra as intervenções ocorridas na malha urbana desde a fundação da
paróquia até os dias atuais, onde é possível perceber que a maior delas é a implantação do
viaduto Leste-Oeste realizada entre os anos de 1968 e 1971, e que provocou na região uma
visível degradação.
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Figura 5- Mapas da localização da Paróquia Nossa Senhora da Paz, 1842 e 2016. Fonte: Arquivo Histórico Municipal /
<www.google.com.br/maps/place/Paróquia+Nossa+Senhora+da+Paz>, acesso 23 abr.2016
V. Paróquia São Francisco de Assis
Em 1640, uma disputa entre colonos e religiosos ocasionou a expulsão dos jesuítas e, neste
mesmo ano, chegava a São Paulo uma caravana de sete religiosos franciscanos,
instalando-se numa casa em frente à Ermida de Santo Antônio, na atual Praça do Patriarca. O
início da construção do convento ocorreu dois anos depois, no dia 24 de dezembro 1642,
quando os frades receberam um terreno, doado pela Câmara.
Foi no dia da comemoração da festa das Chagas de São Francisco que o Convento de São
Francisco e de São Domingos (seu primeiro nome de batismo) foi inaugurado, em 17 de
setembro de 1647, e sendo considerado o maior já construído em São Paulo. Ocupava todo o
espaço que atualmente é da Faculdade de Direito. O terreno do Convento tinha três fontes de
água pura, mas sofria com as enchentes do ribeirão Anhangabaú.
Até meados do século XVII, o frontispício das igrejas da Província era construído em estilo
jesuítico, com torre baixa. Contudo, adotou-se o barroco. Em 1884, a fachada da Igreja foi
modificada e aberta à entrada central como hoje é utilizada.
Após declarar sua independência, o Brasil criou dois cursos jurídicos sendo que um deles foi
sediado no Convento São Francisco na cidade de São Paulo. Entretanto, com apenas três
meses de existência do curso de Direito, o seu diretor, José Arouche Toledo Rondon sugeriu
ao governo Imperial a requisição de todo o Convento, ocasionando uma disputa judicial entre
Faculdade e a Província Franciscana, na qual os religiosos venceram a causa em 1933.
A estrutura atual do Convento São Francisco, na parte dos fundos da secular igreja, foi
construída em 1941 pelo guardião Frei Damaso Venker.
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Análise dos efeitos da urbanização sobre a edificação
O Convento de São Francisco, posicionado adjacente à Igreja, fez parte do complexo até
1827, quando em sua posição foi erguida a Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo (Figura 6). Em 1930, o edifício foi demolido, tendo sido concluída sua nova construção
em 1934. As duas edificações não possuem qualquer recuo lateral entre si, ficando, deste
modo, as três fachadas – a da Faculdade e as das duas igrejas – vinculadas.
Além disso, notou-se uma intensificação no número de construções ao redor da edificação,
juntamente aos novos arruamentos que contribuíram para a composição do traçado urbano
observado atualmente. Em comparação ao mapa de 1847, destaca-se o surgimento da Rua
São Francisco, Rua Riachuelo e a movimentada Avenida Vinte e Três de Maio.
Figura 6 - Mapa da cidade de São Paulo em 1847, em destaque o Convento de São Francisco e mesma localidade nos dias atuais. Fonte: DPH. Disponível em:<www.arquiamigos.org.br>, acesso 26 abr.2016 /
<www.google.com.br/maps/place/Paróquia+São+Francisco+de+Assis>, acesso 26 abr.2016.
VI. Igreja Chagas do Seráfico Pai São Francisco
Trata-se de uma igreja colonial, inaugurada pela Venerável Ordem Terceira de São Francisco
da Penitência em 1787.
Entre 1642 e 1647, os frades franciscanos instalados na vila de São Paulo do Piratininga
construíram um convento e igreja. Em 1676, frei João de São Francisco, comissário dos
terceiros, iniciou a construção da capela da Ordem Terceira, que durou décadas, até ser
ampliada e se tornar uma igreja independente. Essa primeira capela foi terminada em 1736 e
era ligada à igreja conventual por um arco. A capela de planta octogonal foi transformada em
transepto da nova igreja, que passou a ter planta em forma de cruz com a fachada principal
alinhada com a da igreja conventual.
Optou-se pela taipa de pilão com embasamento de pedra como técnica construtiva. O seu
interior encontra-se bem conservado, com vários retábulos laterais em talhas de estilo rococó.
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A cúpula octogonal ostenta pinturas do final do século XVIII e, em outras dependências,
trabalhos do mesmo período.
Análise dos efeitos da urbanização sobre a edificação
Conforme analisado nas referências iconográficas, a Igreja do Seráfico Pai São Francisco
notadamente não apresenta qualquer recuo lateral às construções adjacentes a ela. À sua
esquerda, isso deve-se ao fato de que quando a edificação se encontrava na fase final de
obras, tomou-se a decisão que sua fachada seria um prolongamento da igreja conventual.
Entretanto, se observado em relação ao lado esquerdo, nota-se nitidamente os efeitos de um
crescimento acelerado e desordenado, uma vez que o prédio de funções residencial e
comercial está contíguo a ela, de modo a gerar uma situação desconfortável tanto para os
residentes quanto para o público religioso, já que as duas construções passam a impressão
de terem sido sufocadas. No limite posterior da Igreja com outras construções, do mesmo
modo percebe-se escassos espaços intermediando essa divisão.
A Figura 7 representa a implantação da igreja no mapa da cidade de 1810 e de 2016, sendo
que a principal intervenção viária em seu entorno foi a implantação da avenida Vinte e Três de
Maio.
Figura 7- Mapas da localização da Igreja Chagas do Seráfico Pai São Francisco, 1810 e 2016. Fonte: <www.google.com.br/maps/search/igreja+das+chagas+do+seráfico+pai+são+francisco>,
acesso 25 abr. 2016.
VII. Igreja Nossa Senhora da Boa Morte
Em 1810, foi construída em taipa de pilão e adobe (tijolos de terra batida). Devido ao seu teto
que ameaçava ruir, o madeiramento tomado por cupins, entre outros problemas, a Igreja que
estava bastante degradada teve de ser fechada em 2005.
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Sua restauração que se iniciou logo no ano seguinte foi marcada por uma obra cheia de
minúcias, que duraria três anos e envolveria 60 profissionais. Reaberta em julho de 2009, a
igreja – tombada pelos órgãos estadual e municipal de proteção ao patrimônio – foi assumida
pelos religiosos da Aliança da Misericórdia, associação com trabalhos sociais voltados à
população carente.
Em São Paulo, as construções dessa época não eram carregadas de luxo, como se
observava no deslumbrante barroco mineiro, principalmente pelo fato que a cidade estava
localizada longe das minas de ouro. Contudo, as igrejas paulistanas mesclavam diferentes
escolas arquitetônicas e não possuíam um único estilo.
De acordo com a tradição religiosa, era recomendável pedir a Nossa Senhora da Boa Morte,
como o próprio nome sugere uma “boa morte”. Portanto, acredita-se que ao longo do século
XIX, a Igreja tenha sido parada obrigatória de escravos condenados à forca, visto que a
execução costumava ocorrer próximo de onde hoje é a Praça da Liberdade, no centro.
O templo era igualmente conhecido como “Igreja das boas notícias”. Isto é devido a sua
localidade à entrada daqueles que vinham do Ipiranga em direção à cidade, cujos sinos
repicavam para anunciar novidades – bem como a chegada de forasteiros, uma vez que sua
posição geográfica privilegiada permitia avistar antes os que chegavam da Serra do Mar.
Análise dos efeitos da urbanização sobre a edificação
Conforme observado no mapa de 1847 (Figura 8), cujos lotes e construções estão delineados,
apenas quatro décadas depois da construção da edificação religiosa a mesma já se
encontrava adjacente à uma construção em sua lateral. Não se sabe ao certo qual das duas
construções teria sido a primeira a ser erigida, contudo pode-se afirmar que a falta de um
recuo lateral mostra-se como consequência de um crescimento vertiginoso escasso de
planejamento, bem como de leis que o exigissem efetivamente naquela época.
É possível reparar que os recuos em relação à rua também são praticamente nulos, uma vez
que a construção está situada na extremidade de um quarteirão de formato irregular.
Nota-se que com o passar do tempo houve um notório incremento de vias, bem como
algumas tiveram seus nomes modificados, e as regiões à leste, norte e sul que até 1847
permaneciam pouco consolidadas, progressivamente foram se solidificando.
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Figura 8- Imediações à Igreja Nossa Senhora da Boa Morte em 1847 e atualmente. Fonte: DPH. Disponível em: <www.arquiamigos.org.br>. Acesso em 25 abr.2016 /
<www.google.com.br/maps/place/Igreja+Nossa+Senhora+da+Boa+Morte>, acesso 25 abr. 2016
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises espaço-temporais tiveram por objetivo primordial expor as consequências do
crescimento desordenado da cidade de São Paulo, com/sem planejamento, que se
evidenciaram claramente a partir da década de 1940.
Com a febre de urbanização foi se destruindo a “memória” da cidade, e os edifícios religiosos
que sempre foram aspectos importantes dessa memória passaram a não mais apresentar
valor representativo para o seu entorno, ficando as “sombras” do novo contexto da cidade
originado pelas intervenções urbanas de ‘reabilitação’, ‘revalorização’, ‘revitalização’ e
‘requalificação’.
Referências
DPH. Informativo Histórico Municipal do Departamento do Patrimônio Histórico da
Secretaria da Cultura da Prefeitura Municipal da Cidade de São Paulo. Disponível em:
http://www.arquiamigos.org.br/info/info20/index.html. Acesso em 06 de junho de 2016.
FERREIRA, B. O Antigo e nobre bairro da Sé. São Paulo: Prefeitura Municipal / Série
História dos bairros de São Paulo, volume X, 1971.
PASSOS, M.L.P.; EMÍDIO, T. Desenhando São Paulo: mapas e literatura: 1877-1954.
Editora Senac São Paulo: Imprensa Oficial, 2009.
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Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
PMSP. Histórico Demográfico do Município de São Paulo: 1872-2010. Prefeitura
Municipal de são Paulo. Disponível em:
<http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico>. Acesso em 25 de mar. 2016.
SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. Acervo Fotográfico do Arquivo Histórico de
São Paulo. Disponível em:
<http://www.acervosdacidade.prefeitura.sp.gov.br/PORTALACERVOS/ > Acesso em 03 de
jun. 2016.
www.google.com.br/maps/place/Igreja+Ordem+Terceira+do+Carmo+(Nossa+Senhora+do+
Carmo, acesso 12 abr. 2016.
www.google.com.br/maps/place/Capela+do+Menino+Jesus+e+Santa+Luzia/, acesso 09 mar.
2016.
www.google.com.br/maps/place/Catedral+Metropolitana+de+S%C3%A3o+Paulo/, acesso 12
mar. 2016.
www.google.com.br/maps/place/Par%C3%B3quia+S%C3%A3o+Francisco+de+Assis/,
acesso 27 fev. 2016.
www.google.com.br/maps/place/Igreja+Nossa+Senhora+da+Boa+Morte/, acesso 22 jan.
2016.
www.saopaulo.com.br/largo-sao-francisco, acesso 19 mai. 2016.