As transformações sociais ocorridas nas últimas décadas,
desencadearam também profundas mudanças e redefinição
do papel da mulher na sociedade moderna.
BREVE HISTÓRICO
No que se refere especificamente à história de lutas e
conquistas, em nível mundial, Santos (2002) destaca as
seguintes datas:
8 de março – Dia Internacional da Mulher: É uma das datas
mais importantes, pois neste dia, no ano de 1857, as
operárias da fábrica têxtil Cotton, em Nova Iorque, nos
Estados Unidos, fizeram uma greve, em protesto contra uma
jornada diária de 16 horas e baixos salários. Como resposta à
manifestação, os patrões mandaram incendiar o prédio e 129
mulheres morreram queimadas.
19 de abril – Dia do Índio: As mulheres indígenas são ainda
mais vítimas da discriminação e sofrem preconceito de gênero
e raça, bem como opressão. A data foi escolhida em 1940,
durante o 1º Congresso Indigenista Interamericano, na cidade
de Patzcuaro, no México. O Brasil adotou a data em 1943.
25 de abril – Dia Latino-Americano da Mulher Negra: Assim
como as índias, as negras também enfrentam discriminação
de gênero, raça e opressão. As comemorações pelo Dia
Latino-americano da Mulher Negra podem incorporar também
o 21 de março, Dia Internacional contra a Discriminação
Racial, instituído pela ONU, em razão do massacre de 70
jovens negros em Sharpeville, na África do Sul (1960).
27 de abril – Dia da Empregada Doméstica: As empregadas
domésticas enfrentam o preconceito de gênero e o social.
Faz-se necessário reconhecer o trabalho dessas mulheres,
que não é valorizado por ser realizado dentro de casa.
28 de maio – Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher:
As questões relacionadas à saúde das mulheres foram
discutidas por especialistas do mundo inteiro em 1987, na
Costa Rica, durante o V Encontro Internacional Mulher e
Saúde. Após esse evento, foi decidido que o dia 28 de março
marcaria a urgência de ações em favor da saúde feminina.
05 de junho – Dia Mundial da Ecologia e do Meio Ambiente:
Este dia também pode ser comemorado sob uma perspectiva
feminina, haja vista que são as mulheres que mais preservam
o meio ambiente, ao praticar formas menos ofensivas de
manipulação da terra, como a agricultura familiar, por
exemplo.
15 de outubro – Dia Internacional da Trabalhadora Rural: Não
se pode perder a oportunidade de celebrar as conquistas já
obtidas e nem de cobrar mais ações promotoras da igualdade
de gênero no campo. Nesse dia, deve-se destacar a
importância das mulheres rurais na agricultura, na segurança
alimentar e no desenvolvimento da zona rural.
25 de novembro – Dia Mundial de Combate à Violência Contra
a Mulher: Em 25 de novembro de 1960, duas irmãs foram
brutalmente assassinadas na República Dominicana, durante
o regime do ditador Trujillo. Desde 1981, o dia é usado, em
vários países, como alerta para a necessidade de combater a
violência contra as mulheres. Para marcar a data, é
importante promover discussões sobre o tema.
01 de dezembro – Dia Mundial de Combate à Aids: As
estatísticas mostram que as mulheres são as maiores vítimas
da AIDS. A cada ano, vinte mil pessoas são contaminadas no
Brasil. Em 1987, a relação era de 16 homens com a doença
para cada mulher. Já em 2002, a proporção é de 2 para 1. E
neste contexto, a importância dada à saúde da mulher vem
crescendo nos últimos anos, com o surgimento de redes
governamentais e não-governamentais específicas que
trabalham para melhorar a qualidade do atendimento
prestado.
10 de dezembro – Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Somente a partir de 1948, os homens e as mulheres passaram
a ser considerados como titulares de direitos individuais e
sociais. A Declaração provocou reação imediata por parte de
grupos de mulheres e uma verdadeira luta foi empreendida.
As primeiras datam já no início da década de 50, mas os
avanços mais significativos só viriam a partir da década de
70, com a realização dos ciclos de conferências mundiais
sobre os direitos das mulheres.
A MULHER NA MODERNIDADE
Na sociedade moderna, a mulher está cada vez mais
conquistando seu espaço no ambiente profissional e
participando das mudanças ocorridas na contemporaneidade.
Aos poucos as habilidades e características femininas
começam a ser valorizadas pela sociedade, deixando a
mulher, aos poucos de ser uma mera coadjuvante em
determinados segmentos sociais e profissionais,
possibilitando cada vez mais o seu acesso às posições
estratégicas em suas profissões.
Em relação ao trabalho, tais mudanças são ainda mais
visíveis. Isto porque com o processo de reestruturação
produtiva e com o crescente número de mulheres no mercado
de trabalho, a mão-de-obra feminina tem sido cada vez mais
aceita e solicitada. Contudo, este contingente feminino ainda
tem sido sujeito a algumas limitações, ou tem sofrido
dificuldades quanto ao seu acesso a cargos que exigem maior
qualificação ou que oferecem maiores possibilidades de
ascensão na carreira, especialmente no que se refere a
dinâmica de conciliação das demandas familiar e profissional.
Ao longo das últimas décadas do século XX, as conquistas
sociais femininas e no mercado de trabalho foram muitas, no
entanto ainda está aquém do ideal. As mulheres têm hoje
maior participação, não só no mercado de trabalho, como
também nas esferas política e econômica e elas já estão mais
à vontade e escolhem de forma mais livre com quem e como
querem estabelecer suas relações conjugais.
Na realidade, as mulheres foram da esfera doméstica à
ocupação de diferentes funções na sociedade moderna, mas
estas conquistas sociais têm sido alcançadas e assimiladas de
forma diferente pelas mulheres. O alcance e assimilação das
conquistas sociais femininas variam de acordo com a classe
social, o grau de escolaridade e a possibilidade real para
superar as desigualdades de oportunidades entre homens e
mulheres que ainda existem e persistem na sociedade atual,
tanto na família como nas mais diferentes esferas sociais.
Outro ponto importante a salientar é que as mulheres ainda
ocupam menos cargos de poder e prestígio e continuam a ser
vistas como as principais responsáveis pela casa e pela
família.
Na sociedade atual a mulher vem aprendendo a lidar com os
problemas e aos poucos vem aprendendo e sabendo discernir
as dificuldades encontradas na dupla e algumas, na tripla
jornada de trabalho, no lar e fora dele. As mulheres vêm ao
longo dos anos participando para a construção de uma
sociedade mais justa, de um mundo melhor e mais
equilibrado, no qual se desenha um novo papel para a mulher
moderna.
A MULHER NA AMAZÔNIA
No contexto da sociedade amazonense, mais especificamente
na sociedade manauara, são escassas, para não dizer quase
inexistentes, as publicações e registros históricos acerca do
papel da mulher na sociedade local. No entanto, tem-se
conhecimento que a mulher manauara vai ocupando cada vez
mais os espaços nas fábricas do Pólo Industrial de Manaus,
nas universidades, no judiciário, bem como em todos os
setores da economia local, contribuindo de forma significativa
para o desenvolvimento da sociedade manauara como um
todo.
Em novembro de 1994, foi realizado o I Encontro Amazônico
Sobre Mulher e Relações de Gênero, objetivando reunir
pesquisadores da Região Norte (Amazonas, Pará, Maranhão,
Acre, Amapá, Rondônia e Roraima) e, conjuntamente, discutir
os assuntos que estavam sendo estudados no meio acadêmico
em torno da questão da mulher. Já em abril de 1996, ocorreu
o II Encontro Amazônico sobre Mulher e Relações de Gênero,
organizado mais uma vez pelo Grupo de Estudos e Pesquisas
Eneida de Morais (GEPEM) e Rede Regional Norte-Nordeste de
Núcleos e Pesquisas sobre Mulher e Relações de Gênero
(REDOR). A proposta em discussão que tinha como título
“Mulher e Modernidade na Amazônia” foi apontar os dilemas
da modernidade em cujo contexto emergiram as questões da
desigualdade de gênero, embutidas nas denúncias dos
movimentos feministas organizados nas lutas pela conquista
da cidadania da mulher.
Passando por questões que obliteravam a visibilidade do
sujeito político mulher na construção da sociedade,
utilizando-se das teorias explicativas das Ciências Sociais.
Por meio destas teorias, denunciou-se o processo de
desigualdade e opressão que subordinava as mulheres a
estereótipos desvalorizadores e de justificação das
desigualdades sociais sofridas milenarmente. De um tempo
de exclusão, em que as explicações sobre as diferenças de
gênero para definir as hierarquias sociais e históricas
determinando comportamentos e práticas sexistas, saltou-se
para um tempo de denúncias a essa exclusão e à perspectiva
de dar visibilidade ao sujeito, que é a mulher.
A história da mulher no contexto da modernidade na
Amazônia pode ser contada de várias formas, evidenciando-se
através destas, os traços de exploração, de violência e
espoliação, de conquistas e de dominação sócio-político-
econômico e cultural. Neste contexto, entrelaçam-se sucessos
de fatos e conquistas nas linhas escritas pela historiografia
regional. E neste cenário, as mulheres estão circunscritas em
uma hierarquia de gênero, de classe e de etnia. Logo, faz-se
necessário conhecer o “outro lado” da história oficial, que
aponta para as rupturas com o essencialismo de figuras
masculinas, brancas e burguesas, evidenciando-se, com isso,
múltiplas dimensões da realidade amazônica, onde convivem
homens e mulheres constituindo, através de suas
experiências e práticas, um cotidiano rico e diferenciado,
marcando, com isso, a diversidade e deixando de estimular a
complementaridade.