Aula 4 A Teoria Psicanalítica e
a Psicodinâmica do Trabalho
Prof. Felipe Saraiva Nunes de Pinho
felipepinho.com
Sigmund Freud e a Psicanálise
Sigismund Schlomo Freud nasceu em Freiberg, em 6 de maio de 1856 e morreu em Londres em 23 de setembro de 1939, aos 83 anos vítima de um câncer de mandíbula.
prof. Felipe Pinho
A Psicanálise
• Conjunto de conhecimentos que tem como objetivo encontrar as leis gerais sobre a estruturação e funcionamento do psiquismo (psicodinâmica) e dos processos inconscientes, buscando compreender de que forma esses processos podem influenciar a conduta normal ou patológica dos indivíduos;
• Para Freud nossas ações e escolhas são o resultado de vivências esquecidas e armazenadas numa área sem acesso ao consciente, que ele denominou de inconsciente;
• A herança mais fundamental deixada pelos estudos de Freud, chamada por ele de terceira ferida narcísica da humanidade, é o abalo às crenças sobre o sujeito racional. A crença no ser humano como um ser racional dominou todo o pensamento científico/filosófico do mundo ocidental.
prof. Felipe Pinho
As duas naturezas humanas
Homem
AnimalID
SocialEGO
prof. Felipe Pinho
Níveis de Consciência
Consciente
-inclui tudo aquilo de que estamos cientes em um determinado momento;-É formado pelas percepções momentâneas (internas e externas);
Pré-consciente - memórias que podem se tornar conscientes;- depósito de lembranças acessíveis
Inconsciente - elementos instintivos e material reprimido;- não temos acesso direto ao inconsciente.
prof. Felipe Pinho
O ID, o EGO e o SUPEREGO
prof. Felipe Pinho
A Estrutura da Personalidade
Id
- fonte da energia psíquica – Libido;- é uma estrutura biológica (instintos) e hereditária;- É formado em parte por conteúdos biológicos e em parte por conteúdos recalcados;- opera pelo princípio do prazer;- É amoral (desconhece o bem e o mal)- é totalmente inconsciente
Ego
- estrutura que tem como objetivo promover o contato e a troca entre o sujeito e a realidade objetiva;- opera pelo princípio da realidade;-controla todas as funções cognitivas: perceber, pensar, planejar, decidir;- responsável pelos mecanismos de defesa psíquicos;- é o que nós reconhecemos como nossa personalidade- tem como função inibir os impulsos do Id
Superego
- é o representante interno das normas e valores sociais;- é a lei internalizada (autopunição e autocontrole) pelo sujeito a partir de sua relação com o pai e a mãe (complexo de Édipo);- Representa também um ideal de perfeição para o Ego
O funcionamento fundamental do psiquismo
• A idéia principal de Freud gira entorno da tese de que o psiquismo humano busca, de todas as formas, aliviar ou reduzir a tensão psíquica;
• Para Freud, a tensão psíquica, que é fruto de uma excitação interna, gera um estado de desprazer, e o alívio da tensão gera prazer;
• O nosso aparelho psíquico nunca consegue descarregar completamente a tensão, por isso está sempre sob tensão;
• Resumindo: “desprazer significa manutenção ou aumento da tensão, e prazer, supressão da tensão (Nasio, 1995).
prof. Felipe Pinho
A divisão do aparelho Psíquico
prof. Felipe Pinho
• O aparelho psíquico foi divido, por Freud, em dois sistemas:
Sistema inconsciente: busca o prazer absoluto através da descarga completa da tensão. Nesse sistema a busca pelo prazer é soberana, por isso ele é regido pelo Princípio do Prazer. Ele funciona através de mecanismo de condensação e deslocamento;
Sistema pré-consciente/consciente: busca o prazer parcial ou moderado, pois não pode realizar o prazer absoluto, uma vez que sofre o controle das normas culturais. Ele é por isso controlado pelo Princípio da Realidade, e utiliza mecanismos sublimatórios para descarregar a tensão psíquica.
O Recalcamento
prof. Felipe Pinho
• Imagine uma experiência dolorida, que toda vez que é lembrada, gera sofrimento. O nosso psiquismos busca evitar esse sofrimento, por isso recalca, ou seja, mantêm dentro do sistema inconsciente, todas as lembranças que poderia gerar sofrimento se chegassem ao sistema pré-consciente/consciente;
• O recalcamento é visto como uma barreira, situada entre os sistemas inconsciente/pré-consciente-consciente que impede a livre passagem dos conteúdos do inconsciente para a consciência;
• O processo de recalcamento é um mecanismo de defesa do EGO.
Esquema do Funcionamento do Psiquismo
Sexualidade e Libido
• A Libido é o impulso vital que busca a preservação da espécie humana e a auto-preservação do próprio indivíduo;
• A Libido pode ser compreendida como a uma fonte original da nossa energia psíquica e mobiliza o organismo na perseguição de seus objetivos;
• Ela é de natureza sexual, pois busca o prazer;
• Ela está voltada para a obtenção do prazer e a diminuição do estado de tensão;
prof. Felipe Pinho
A descoberta do Inconsciente
• Freud inicialmente utilizou a hipnose para comprovar que muitos sintomas não tinham causa física (Charcot);
• Observou que durante a hipnose os pacientes relatavam ou reviviam traumas da infância;
• A partir da hipnose Freud concluiu que muitos dos comportamentos tinham causas inconscientes;
• No decorrer do desenvolvimento da Psicanálise (método para se estudar a dinâmica da psique) substitui a hipnose pelo método catártico ou de associação livre que privilegiava o insight (cura pela fala);
• Análise dos sonhos, dos atos falhos, chistes e sintomas somáticos são maneiras de se chegar ao inconsciente.
prof. Felipe Pinho
Desenvolvimento Psicossexual
• As fases do desenvolvimento da infância correspondem a mudanças sucessivas no investimento da energia sexual (libido) que tem origem em determinadas regiões do corpo ou zonas erógenas: boca, ânus e órgãos genitais;
• Estágios evolutivos: Fase Oral (nascimento até 2 ano); Fase Anal (2 a 3 anos); Fase Fálica (3 a 5 anos – complexo de Édipo e desenvolvimento do Superego); Período de Latência (infância - puberdade); Fase Genital (puberdade - adulto);
• O desenvolvimento normal depende da resolução dessas 5 fases.
prof. Felipe Pinho
Transtornos de Personalidade
• Neuroses: não há perda da personalidade nem do contato com a realidade - Ansiedade: intensa angustia sem
causa aparente; - Fobias: medos irracionais e
desproporcionais; - obsessiva-compulsiva: obsessão
são idéias persistentes; compulsão são comportamentos incontroláveis e persistentes. prof. Felipe Pinho
Psicoses
• Há uma perda substancial da personalidade e do contato com a realidade; Esquizofrenia: apatia generalizada e
perda do contato com a realidade; Maníaco-depressiva: alteração
profunda do humor ora com energia excessiva ora com depressão profunda;
Paranóia: delírios e ilusões de perseguição ou de grandeza.
prof. Felipe Pinho
Psicopatias
• Distúrbios de personalidade sem perda do contato com a realidade: Há um desprezo pelos outros e pelas
normas socais; Dificuldade de envolvimento emocional e
de se colocar no lugar do outro.
prof. Felipe Pinho
A PSICODINÂMICA DO TRABALHO
Christophe Dejours
• Psiquiatra e psicanalista francês nascido em 1949.
• Para Dejours o mais importante é compreender como, apesar dos constrangimentos no trabalho, os sujeitos ainda conseguem preservar o equilíbrio psíquico e a saúde mental.
prof. Felipe Pinho
Frases de Dejours
• “Bem-estar psíquico, em nosso entender, é, simplesmente, a liberdade que é deixada ao desejo de cada um na organização de sua vida”.
• “O sofrimento psíquico, longe de ser um epifenômeno, é o próprio instrumento para obtenção do trabalho”.
prof. Felipe Pinho
A organização: lugar de sofrimento psíquico
• A organização do trabalho (tarefa) constrange os desejos e as necessidades dos indivíduos, gerando frustrações e conflitos;
• A padronização, ao mesmo tempo em que facilita o controle sobre os indivíduos, prejudica o seu desenvolvimento psicológico e sua consciência crítica;
• Os conflitos entre indivíduo e trabalho (empresa) podem gerar uma falsa consciência do real.
prof. Felipe Pinho
A organização: lugar de sofrimento psíquico
• A tarefa (trabalho racionalmente organizado) muitas vezes anula a subjetividade do trabalhador, tornando-o apenas um apêndice da máquina;
• A perda da liberdade de controlar os seus próprios movimentos e suas idéias acaba comprometendo a saúde física e psíquica do trabalhador;
• O trabalho sem significado e sem sentido não promove a sublimação, a descarga da tensão psíquica, ao contrário, torna-se mais uma fonte de tensão constrangedora.
prof. Felipe Pinho
A organização: lugar de sofrimento psíquico
• Precisamos compreender as estratégias defensivas utilizadas pelos trabalhadores para preservar o equilíbrio psíquico;
• Essas estratégias defensivas refletem a luta do sujeito para manter sua sanidade;
• O sofrimento no trabalho pode ser compreendido a partir de duas dimensões: a sincrônica e a diacrônica;
• É o conflito entre um projeto de vida e uma organização que os ignora. O trabalhador não pode realizar nenhuma mudança em sua tarefa a fim de torná-la mais agradável fisicamente e psicologicamente.
• As organizações muitas vezes aproveitam o sofrimento mental no trabalho como instrumento de exploração e rendimento (desempenho) no trabalho.
prof. Felipe Pinho
Sofrimento sincrônico e sofrimento diacrônico
• O Sofrimento Diacrônico é o sofrimento oriundo da história de vida do trabalhador, é o seu sofrimento singular, herdado dos seus conflitos e angústias infantis;
• O Sofrimento Sincrônico é o sofrimento atual, oriundo da sua relação com o trabalho e com o ambiente organizacional.
prof. Felipe Pinho
O Sofrimento no Trabalho
• O sofrimento criativo manifesta as soluções saudáveis elaboradas pelo sujeito;
• O sofrimento patogênico é conseqüência de estratégias desfavoráveis, e afeta toda a vida do sujeito (trabalho, família, social);
• As pressões que afetam o equilíbrio psíquico derivam da organização do trabalho (tarefa) e afetam tanto a saúde psíquica quanto a somática.
prof. Felipe Pinho
As estratégias defensivas
• Mascaram o sofrimento;• Defesas coletivas e ideologias defensivas
– comportamentos estereotipados e/ou alienados;
• Defesas individuais – as pressões geram doenças psíquicas e também são descarregadas no corpo, gerando as doenças psicossomáticas ou o estresse.
prof. Felipe Pinho
Os Efeitos do Estresse
Efeitos indiretos do estresse sobre o comportamento
Efeitos indiretos mediados pelo
comportamento
Efeitos fisiológicos
diretos
• menor adesão ao tratamento;
• atraso na busca de atendimento;
• menor probabilidade de
buscar atendimento;
• Sintomas ocultos.
• aumento do hábito de fumar,
beber e usar drogas;
• nutrição pior;• sono deficiente
• elevação da pressão arterial;
• elevação do colesterol;
• redução da imunidade;
• maior atividade hormonal:
prof. Felipe Pinho
Sofrimento no trabalho
• A organização do trabalho, em seu modelo repetitivo, simples e rotineiro, gera insatisfação e sofrimento no trabalhador, afetando a sua saúde física e psíquica;
• O trabalhador vivencia com angustia a discrepância que existe entre o trabalho prescrito (concepção) e o trabalho real (execução), impedindo que este conquiste e desenvolva a sua identidade no trabalho.prof. Felipe Pinho
Sofrimento patológico e organização científica do trabalho
• A aceleração do ritmo do trabalho procura ocupar todo o espaço da consciência do trabalhador, levando-o à fatiga e paralisando seu funcionamento psíquico.
• Isso gera alexitimia que está associada a doenças somáticas crônicas.
• Afeta as relações sociais e familiares.
prof. Felipe Pinho
Saúde no trabalho
• A relação entre o trabalhador e a organização do trabalho também pode ser favorável, contribuindo para a saúde psíquica e física do trabalhador;
• Isso ocorre quando as exigências intelectuais, motoras e psicossensoriais da tarefa estão de acordo com as necessidades do trabalhador;
• Nesse caso o trabalho é fonte de satisfação sublimatória, gerando prazer na execução da tarefa. O trabalhador pode usar a sua criatividade e a sua espontaneidade, desenvolvendo sua personalidade.
prof. Felipe Pinho
Alienação como fator de sofrimento
• A alienação pode ser compreendida, do ponto de vista psicológico, como a substituição da vontade do sujeito pela vontade do objeto (autoritarismo);
• A alienação gera fatiga, esgotamento, desmotivação;• A alienação é habitar o corpo do outro;• O trabalhador não se reconhece em seu trabalho, não há
identidade;• A organização é o lugar privilegiado do drama onde se
atualiza o conflito entre o trabalho e o poder;• É a partir do discurso, do estudo das falas dos
trabalhadores que o conflito pode ser revelado;• A organização do trabalho e os sistemas de qualidade
destroem as estratégias defensivas dos trabalhadores.
prof. Felipe Pinho
A sublimação e as saúde mental
• A sublimação é uma condição necessária para o equilíbrio psíquico.
• É o desvio da libido de seu objetivo sexual para objetivos culturais.
• O trabalho é uma das principais fontes de sublimação na modernidade.
• Se não houver condições de transformar o sofrimento em criatividade, na organização, os indivíduos vivenciarão o sofrimento patológico.
• O reconhecimento do outro (feedback) é importante para a sublimação e para a identidade.
prof. Felipe Pinho
A ressonância simbólica
• É o encontro ou a identificação entre o sofrimento psíquico e o teatro do trabalho, ou seja, a história afetiva do sujeito e seu passado são transferidos para as relações e para o ambiente de trabalho.
• “É a reconciliação entre o inconsciente e os objetivos da produção”.
• É quando o indivíduo encontra no trabalho as possibilidades de vivenciar as suas necessidades psíquicas inconscientes.
prof. Felipe Pinho
O espaço da palavra e o espaço Público
• Trabalho ideal x trabalho real• O espaço público possibilita o ver e o ser
visto, diminuindo as ocultações e os segredos, fontes de sofrimento.
• Restabelece a confiança e a solidariedade.• O espaço de encontro e de palavra
restabelece a criatividade, substituindo o sofrimento patológico.
• A saúde mental é uma responsabilidade organizacional.
prof. Felipe Pinho
O Papel da Administração e o Sofrimento Humano• “A Administração tem a responsabilidade
social de manter o espaço público para que funcionários, operários, gerentes e executivos possam se confrontar e, assim, garantir a própria saúde mental e física, bem como a segurança da organização e o equilíbrio da sociedade como um todo”.
prof. Felipe Pinho
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Maria A. F. Psicologia Aplicada à Administração. São Paulo: Saraiva, 2005.