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Plano de Aula7: TEORIA E PRÁTICA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA TemaTipos de argumento: seleção e combinação (continuação)Objetivos- Reconhecer estrutura e aspectos persuasivos dos argumentos de oposição, de causa e efeito e de analogia.- Compreender que a quebra de expectativas como estratégia discursiva do argumento de oposição, apoiada no uso dos operadores argumentativos de concessão e adversidade.- Identificar o uso da jurisprudência como importante fonte argumentativa.Estrutura do Conteúdo1. Relação entre fontes do Direito e tipos de argumento2. Argumento de oposição.2.1. Estrutura, características e informações linguísticas relevantes;3. Argumento de causa e efeito3.1. Estrutura, características e informações linguísticas relevantes;4. Argumento de senso comum4.1. Estrutura, características e informações linguísticas relevantes.Aplicação Prática TeóricaArgumento de oposição

O ARGUMENTO DE OPOSIÇÃO serve ao profissional do Direito como uma estratégia discursiva eficiente para a redação de uma boa fundamentação. Compõe-se da introdução de uma perspectiva oposta ao ponto de vista defendido pelo argumentador, admitindo-o como uma possibilidade de conclusão, para depois apresentar, como argumento decisivo, a perspectiva contrária.

Apoiada no uso dos conectores argumentativos concessivos e adversativos, essa estratégia permite antecipar as possíveis manobras discursivas que formarão a argumentação da outra parte durante a busca de solução jurisdicional para o conflito, enfraquecendo, assim, os fundamentos mais fortes da parte oposta.

Para ficar clara essa estrutura, desenvolvemos adiante esses parágrafos. Compreenda que as estruturas sugeridas não são, de forma alguma, instrumentos que impedem a liberdade redacional do argumentador; ao contrário, a partir delas novas informações podem ser acrescidas sem descaracterizar a estratégia.

Argumento de oposição concessivaEmbora haja quem argumente ser impossível pensar a afetividade como valor jurídico, pois

não existe lei que obrigue alguém a ser pai, nem garanta reaproximações indesejadas, a Justiça pode, sim, fazer valer o direito de um filho em relação aos cuidados paternais, por meio de uma reparação afetiva. Essa reparação André Júlio deve a Alexandre, por sua luta inglória desde quase os sete anos de idade, a fim de reaver o afeto do pai. Falta de carinho, de atenção e de presença não se quantifica, mas pode ser compensada para amenizar o sofrimento de Alexandre, por ter tido um pai ausente.

Também podemos redigir o argumento desta maneira:

Argumento de oposição restritivaHá quem argumente ser impossível pensar a afetividade como valor jurídico, ou seja, que não

existe lei que obrigue alguém a ser pai, nem garanta reaproximações indesejadas, mas a Justiça pode, sim, fazer valer o direito de um filho em relação aos cuidados paternais, por meio de uma reparação afetiva. Essa reparação André Júlio deve a Alexandre, por sua luta inglória desde quase os sete anos de idade, a fim de reaver o afeto do pai. Falta de carinho, de atenção e de presença não se quantifica, mas pode ser compensada para amenizar o sofrimento de Alexandre, por ter tido um pai ausente.

Argumento decausa e efeitoAlém do argumento de oposição, outro que também se mostra de grande eficiência na prática argumentativa é o ARGUMENTO DE CAUSA E EFEITO, que estabelece uma relação de

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causalidade, ou seja, são apresentadas as causas e as consequências jurídicas de um ato praticado.

Argumento de analogiaCom relação ao ARGUMENTO DE ANALOGIA, a obra principal adotada para esta

disciplinaLições de Gramática aplicadas ao Texto Jurídico menciona que é importante discutir se é possível usar a jurisprudência com fonte. Antes de enfrentar qualquer questão, tomemos como conceito de jurisprudência, em sentido estrito, o conjunto de decisões uniformes, sobre uma determinada questão jurídica, prolatadas pelos órgãos do Poder Judiciário.

O próprio conceito atribuído à fonte aqui discutida sugere que sua autoridade advém do órgão que a profere (jurisdição). Isso é inegável. O que se questiona é que, independentemente da autoridade que a reveste, o que faculta verdadeiramente seu uso e a torna eficiente é a proximidade do caso analisado com os outros cujas decisões são tomadas como referência.

Isso implica dizer que, em última instância, o que faz do uso da jurisprudênciauma estratégia interessante para a argumentação é o raciocínio de que casos semelhantes devem receber tratamentos análogos por parte do Judiciário, para que não sejam observadas injustiças ou discrepâncias. É a semelhança entre o caso concreto analisado e o processo já transitado em julgado que autoriza o uso da jurisprudência.

Tanto é assim que se ambos os conflitos versarem sobre direito possessório, por exemplo, mas as circunstâncias em que cada um deles ocorreu não forem as mesmas, a simples proximidade temática não autoriza o uso da jurisprudência pela autoridade de que é revestida. Por essa razão, preferimos elencar as decisões judiciais reiteradas como motivadoras de argumentos por analogia.

Uma observação se faz necessária, neste ponto: para o acadêmico de Direito importa, muitas vezes, mais o domínio das estratégias argumentativas e dos tipos de argumento, do ponto de vista prático, que a própria classificação desses elementos, pois esta é uma preocupação prioritariamente didática.

CASO CONCRETO Cliente baleado diz que vigia disparou após discussão em porta giratóriaO cabeleireiro João Adriano Santos, de 29 anos, foi baleado por um vigia de uma agência

bancária em São Mateus, na Zona Leste de São Paulo, após ser parado na porta giratória e discutir com o funcionário. O tiro atingiu João nas costas, mas não causou ferimentos graves. Ele está consciente e foi liberado após receber tratamento no Hospital São Mateus.

A Polícia Militar foi acionada pouco depois das 14h para ir até o banco, na Avenida MateoBei. O vigia, de 37 anos, está detido. João Adriano relatou que havia ido ao banco pagar uma conta e foi parado na entrada. O segurança teria pedido que ele retirasse todos os objetos de metal do bolso, mas João disse que não carregava nenhum objeto desse tipo. Houve uma discussão e João conta ter sido insultado pelo vigia.

Após entrar, João Adriano ficou ao lado do segurança, esperando que o amigo que o acompanhava passasse pela porta giratória. Nesse momento, afirma ter levado uma rasteira e, em seguida, o tiro. Ele foi levado para o hospital e, às 19h, estava no 49º Distrito Policial, em São Mateus, prestando depoimento. Acho que todas as portas giratórias de banco tinham que ser retiradas porque não há funcionários preparados para trabalhar com elas, afirmou. A agência bancária foi fechada logo após o incidente.

O Banco disse estar acompanhando a recuperação do cliente e lamentou o ocorrido. Em nota oficial, a instituição afirmou que "colabora com as investigações sobre o incidente até o total esclarecimento dos fatos".

(Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/03/cliente-baleado-diz-que-vigia-disparou-apos-discussao-em-porta-giratoria.html>. Acesso em: 12 fev. 2012.

QUESTÃO DISCURSIVA

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Leia o caso concreto indicado para esta aula e recorra, se desejar, às fontes indicadas. Redija um texto argumentativo que contenha, além dos argumentos já trabalhados este semestre, três parágrafos: um argumento de oposição, um argumento de causa e efeito e um argumento de analogia. O caso concreto desta aula tem repercussão civil e criminal. Escolha apenas uma dessas linhas para teu texto.

Se julgar adequado, recorra às polifonias adiante:Lesão corporalArt. 129 do CP: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:Pena - detenção, de três meses a um ano.Lesão corporal de natureza grave§ 1º Se resulta:I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;II - perigo de vida;III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;IV - aceleração de parto:Pena - reclusão, de um a cinco anos.§ 2° Se resulta:I - Incapacidade permanente para o trabalho;II - enfermidade incurável;III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;IV - deformidade permanente;V - aborto:Pena - reclusão, de dois a oito anos.Lesão corporal seguida de morte§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Art. 14 do CP: Diz-se o crime:II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena de tentativaParágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

Homicídio simplesArt. 121 do CP: Matar alguém:Pena - reclusão, de seis a vinte anos.Homicídio qualificado§ 2° Se o homicídio é cometido:I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;II - por motivo fútil;III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Art. 6º do CDC: São direitos básicos do consumidor:

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I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

Art. 14 do CDC: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.Considerações AdicionaisEsquema de orientação do texto

Oposição Analogia Causa e efeito

Argumento de Oposição “E mbora se possa pensar que o segurança tenha agido sob forte emoção, após uma discussão acalorada, um vigia de uma agência bancária por sua obrigação profissional, deve portasse como qualquer pessoa de bem e responsável, evitando discussões ou situações adversas, que o leve a agir contra os valores sociais ou colocar em risco a vida das pessoas que circulem pelo local. Considerando queo fato de estar armado exige dele um autocontrole adequado a sua função. É certo que os frequentes assaltos às agênciasbancárias em todo país provoca um intensoestresse, porémo ato extremo de atirar em um cliente desarmado por mera discussão banal, não pode ser aceito como uma atitude cabível a esse conflito.”

Argumento Causa e Efeito O cabeleireiro João Adriano Santos, de 29 anos, depois de ter sido parado na porta giratória,

discutido com o funcionário em uma agência bancária, foi insultado, derrubado com uma rasteira e, em seguida, baleado pelo vigia.

Argumento de Analogia É fato que a sociedade brasileira está farta dasconstantes situações de violência cotidiana em

diversos setorese não aceita mais essa prática. Sobretudo vindo de quem deveria zelar pela segurança de todos. Em casos de discussões banais, por exemplo,no caso em que o Cliente baleado disse que o vigia disparou após discussão em porta giratória. Do mesmo modo, no caso em que o Homem que atirou em atendente por causa de refrigerante foi condenado por júri popular em Brasília.

CASO NA INTEGRA:JUSTIÇA »Estado de Minas Publicação: 08/11/2012 19:33Atualização:

Homem que atirou em atendente por causa de refrigerante vai à juri popular em BrasíliaO suspeito de atirar contra um funcionário dentro de quiosque em Samambaia vai à júri popular, nesta

sexta-feira, por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil.Para o Ministério Público, “o crime não se consumou por força de circunstâncias alheias à vontade do réu, pois, por erro de pontaria, não conseguiu atingir a vítima em região de letalidade imediata, o que possibilitou que ela fosse socorrida e recebesse adequado atendimento médico”. O homem, que está preso, negou ter sido o autor dos disparos.O suspeito de atirar contra um funcionário dentro de quiosque em Samambaia vai à júri popular, nesta sexta-feira, por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil.

A tese que você

defende

A tese oposta a sua

O que causou o dano/conflito

Qual o efeito resultante, a consequência.

Utilizar comparação com casos

semelhantes ao que você defende

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Para o Ministério Público, “o crime não se consumou por força de circunstâncias alheias à vontade do réu, pois, por erro de pontaria, não conseguiu atingir a vítima em região de letalidade imediata, o que possibilitou que ela fosse socorrida e recebesse adequado atendimento médico”. O homem, que está preso, negou ter sido o autor dos disparos.

O crimeDe acordo com testemunhas, o suspeito chegou ao quiosque por volta das 13h do dia 16 de maio de 2010, e pediu um refrigerante. Ao segurar a garrafa, o líquido congelou. O cliente pediu que o produto fosse trocado. O funcionário atendeu ao pedido e entregou outra garrafa ao rapaz. A segunda garrafa congelou do mesmo modo e o balconista orientou o cliente que não pegasse no meio da garrafa, pois isso faria com que todas congelassem. Diante da advertência, o acusado teria jogado uma nota de R$50 no balcão e saído. Cerca de vinte minutos depois, teria voltado pedindo o troco e disparado vários tiros contra a vítima.

De acordo com testemunhas, o suspeito chegou ao quiosque por volta das 13h do dia 16 de maio de 2010, e pediu um refrigerante. Ao segurar a garrafa, o líquido congelou. O cliente pediu que o produto fosse trocado. O funcionário atendeu ao pedido e entregou outra garrafa ao rapaz. A segunda garrafa congelou do mesmo modo e o balconista orientou o cliente que não pegasse no meio da garrafa, pois isso faria com que todas congelassem. Diante da advertência, o acusado teria jogado uma nota de R$50 no balcão e saído. Cerca de vinte minutos depois, teria voltado pedindo o troco e disparado vários tiros contra a vítima.

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Plano de Aula 8:Teoria e Prática da Argumentação JurídicaTemaCoesão e coerência no texto jurídico-argumentativo.Objetivos- Auxiliar o discente na redação do texto argumentativo, com a sugestão de expressões introdutórias de parágrafos.- Compreender os mecanismos discursivos e lingüísticos da coesão seqüencial entre parágrafos.Estrutura do Conteúdo1. Coesão referencial e interfrástica2. Coerência textual3. coesão e progressividade argumentativaAplicação Prática Teórica

Os elos coesivos entre parágrafos reforçam a tessitura do texto, permitindo uma maior eficiência discursiva por parte do argumentador. Eles podem ser utilizados de acordo com o objetivo de cada parágrafo elaborado, devendo-se levar em consideração algumas possibilidades interpretativas:

Por enumeraçãoRessalta(m)-se / Além desses fatores.../ É de verificar-se que.../ Registre-se, ainda, que.../ Assinale-se, ainda, que... / Convém ressaltar...Além desses fatores... / Soma(m)-se a esses aspectos o(s) fato(s)... / Mister se faz ressaltar que... / Registre-se, ainda, que... / É de ser relevado...

Por oposiçãoÉ bem verdade que.../ Não se pode olvidar que.../ Não há olvidar-se que.../ Bom é dizer que.../ Por outro lado.../ Ao contrário do que foi dito...Conectores de oposição: conjunções adversativas e concessivas.Verbos que indicam oposição (contrariar, impedir, obstar, vedar...)

Por causaComo se há verificar.../ Como se pode notar.../ É de verificar-se que... / Devido a... /Em virtude de... / Em face de...Substantivos: causa, motivo, razão, explicação, pretexto, base, fundamento, gênese, origem, o porquê.Verbos que indicam causa (determinar, permitir, causar, gerar...)Locuções prepositivas: em virtude de..., em razão de..., por causa de..., em vista de..., por motivo de...Conjunções: porque, pois, já que, uma vez que, porquanto, como.

Por consequênciaNeste sentido, deve-se dizer.../ Oportuno se torna dizer que.../ Cumpre-nos assinalar que.../ Diante do exposto... / Diante disso...Em face de tal situação... / Em virtude desses fatos... / Em face dessa questão... / Substantivos: efeito, produto, decorrência, fruto, reflexo, desfecho.Verbos que indicam consequência (ocasionar, gerar, provocar...). Locuções e conjunções: logo, então, portanto, por isso, por conseguinte, pois.

CASO CONCRETOMãe diz que não abandonou o menino que caiu

Moradora do Barramares, onde filho morreu em queda do 26º andar, achou que ele seria vigiado pelo irmão mais velho.O sono pesado de Fernando Moraes Júnior, de 3 anos, deu à mãe dele, Rosana Rosa Cavalcanti da Silva, a certeza de que poderia ir sem problemas até a farmácia de propriedade da família num pequeno shopping embaixo do apartamento onde mora, no 26º andar de um dos prédios do Condomínio Barramares, na Barra da Tijuca.

Segundo Rosana contou a parentes, mesmo assim pediu para o filho mais velho, de 8 anos, ficar em casa até que ela voltasse. Mas o menino recebeu um telefonema de um vizinho e saiu para

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jogar bola. Fernando acordou sozinho, abriu a porta do quarto e levou uma cadeira até a varanda – que estava com a porta de correr aberta. Fernando subiu na cadeira, apoiou-se no parapeito sem grade, desequilibrou-se e caiu de uma altura de pouco mais de 80 metros às 20h40min de 6 de maio de 1999. Ele morreu no local e foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo (RJ).

A mãe foi avisada e encaminhou-se para o local. Em estado de choque, sentou e chorou ao lado do corpo do filho por mais de duas horas. Segundo testemunhas, antes de cair no chão o corpo ainda bateu num coqueiro na frente do edifício, o que amorteceu a queda e evitou que ele tivesse muitas escoriações. O menino ainda teria respirado por alguns instantes, mas não resistiu. Policiais militares cobriram o corpo com um plástico preto.

- Não há dúvidas de que foi uma fatalidade. Ela sempre foi uma excelente mãe, cuidadosa, carinhosa com os filhos. Não foi negligência – afirmou Gisela Moraes Zepeta, irmã de Fernando Moraes, pai do menino.

A morte foi registrada na 16ª. DP (Barra) como fato a ser investigado. O perito Antônio Carlos Alcoforado disse que encontrou uma cadeira na sacada do apartamento no 26º andar. Segundo ele, o parapeito tinha 1.20 metros e só com a cadeira o menino poderia ter ultrapassado.

O delegado titular disse que vai esperar alguns dias até que a família esteja mais tranquila para tomar os depoimentos. Segundo ele, caso seja apurada negligência na atenção ao menor, o responsável poderá ser indiciado por homicídio culposo.

- Não podemos, porém falar de um caso assim porque a família já está sofrendo muito. Temos que esperar pelas provas técnicas – disse o delegado.

Segundo Gisela, Rosana contou que foi até a Farmácia Barramares 2000, que é administrada pelo marido, Fernando, pegar remédios e um panfleto para fazer no computador de casa. A mãe contou ainda que o menino estava cansado depois de brincar na creche que frequentava desde o início do ano, dentro do condomínio. Depois de tomar banho e jantar, ele dormia profundamente, segundo a mãe que aproveitou para descer. Segundo Gisela, Rosana teria demorado fora de casa cerca de cinco minutos até o momento do acidente.

Consulte também as fontes:Art. 133 do CP: Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos.§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.§ 2º - Se resulta a morte:Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

O instituto do perdão judicial somente pode alcançar o acusado que se mostrar suficientemente punido pelo sofrimento que o ato praticado causou na sua própria vida.Art. 121, § 5º do CP: Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Art. 107, IX do CP: Extingue-se a punibilidade: pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

QUESTÃO DISCURSIVASelecione algumas das expressões do quadro anterior e produza três parágrafos

argumentativos que defendam uma tese sobre a situação de conflito apresentada no caso concreto. O tipo de argumento é de sua livre escolha. Serão avaliadas, na correção, as escolhas que produzam melhor coesão entre os parágrafos.

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Plano de Aula9: TEORIA E PRÁTICA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA TemaOrganização da estrutura do texto jurídico argumentativo: seleção de argumentos e organização de ideiasObjetivos- Planejar textos argumentativos coesos e coerentes.- Redigir a fundamentação e a conclusão de um texto jurídico.- Desenvolver a habilidade persuasiva, mediante utilização das fontes do direito e em consonância com a teoria da argumentação jurídica.Estrutura do Conteúdo1. Planejamento de textos argumentativos.2. Fundamentação do texto argumentativo.2.1. Seleção dos argumentos adequados.2.2. Identificação das fontes mais eficientes.2.3. Produção persuasiva da linguagem.3. Conclusão do texto argumentativo.Aplicação Prática TeóricaCASO CONCRETO

Trata-se de indenização por danos morais de EVA TERESINHA SILVA DA ROSA em face de MANZOLI S.A INDÚSTRIA E COMÉRCIO. A violação da imagem ocorreu na loja Manlec n. 12, Rio Grande do Sul, no dia 16 de fevereiro do ano de 2011.

Alega a autora que esteve em uma das lojas da empresa requerida na ocasião em que comprou uma televisão marca Baysinic, além de outros objetos. No mesmo dia, foi filmada de forma imperceptível e depois sua imagem passou a aparecer diariamente, com destaque entre outras pessoas, na RBS, canal 12, em propaganda promocional da loja. Por um período de trinta dias, a gravação produzida era transmitida em sua velocidade normal e depois passou a ser apresentada com maior velocidade, o que tornou as cenas jocosas.

Tudo acontecendo muito rapidamente, fez com que os gestos e o caminhar das pessoas tornassem-se caricatos. Aduziu a requerente que, além da exploração clandestina de sua imagem, a demandante passou a enfrentar o ridículo da gozação de pessoas suas conhecidas e dos colegas da repartição pública onde trabalha.

Carlos Alberto Corrêa Machado, colega da autora no Hospital Santa Casa, ouviu de sua esposa que Eva estava aparecendo na televisão por diversas vezes, entre a novela das sete e a novela das oito e teve curiosidade, assistiu ao comercial umas duas ou três vezes, e, efetivamente, viu Eva carregando uma caixa de televisão.

O depoente só assistiu aos colegas brincarem com Eva dizendo que ela estava famosa. Jaqueline Camargo Domingues relatou que também foi colega da autora na Santa Casa e tem certeza que viu a propaganda no horário das novelas, e que não era reportagem jornalística, era propaganda mesmo.

Jaqueline tem certeza porque chegava ao serviço e todos os dias “mexiam” com ela, chamando-a de garota propaganda da Manlec e até chegou a dizer que parecia uma louquinha correndo com aquela caixa. Na Santa Casa eram gerais as brincadeiras com ela, todos dizendo que a viram na televisão.

Consulte as Fontes:Art. 6º do CDC: São direitos básicos do consumidor:IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;Art. 5º, V da CRFB: é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;Art. 5º, X da CRFB: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;Art. 5º, XXVIII da CRFB: são assegurados, nos termos da lei:a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

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QUESTÃO DISCURSIVALeia o caso concreto e, com base em tudo o que aprendeu até agora, produza fundamentação

e conclusão para o caso concreto.Considerações AdicionaisEsquema de orientação do texto

Elementos estruturais da narrativa forense: a) O quê: o fato que se pretende contar;b) Quem: as partes envolvidas;c) Como: o modo como o fato aconteceud) Quando: o momento, a época, o tempo do fato;e) Onde: o registro espacial do fato;f) Porquê: o motivo ou causa do fato;g) Por isso: resultado ou consequência do fato.

Características que não devem ser esquecidas:a) Ordem cronológica com respostas às perguntas: o quê?,quem?, onde?, quando?, como?, por quê?b) Correta identificação do fato gerador;c) Verbos no passado;d) Destaque dos detalhes importantes;e) Uso de polifonia (provas);f) Foco narrativo em 3ª pessoa;g) O posicionamento por parte do relator (A tese deve ser clara, o ponto de vista bem

defendido).

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Plano de Aula10: TEORIA E PRÁTICA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICATemaTipos de argumento e persuasãoObjetivos- Identificar os diversos tipos de argumento já trabalhados em sala de aula.- Compreender o efeito persuasivo que cada argumento pode gerar no texto argumentativoEstrutura do Conteúdo1. Tipos de argumento2. A subjetividade no processo de convencimentoAplicação Prática TeóricaQUESTÃO DISCURSIVA

Leia o texto adiante, da autoria do Ministro Eros Grau, e identifique os tipos de argumento predominantes, se possível em cada parágrafo. Comente o efeito persuasivo alcançado pelo argumentador em cada trecho relevante.

Pequena nota sobre o direito a viverInventei uma história para celebrar a Vida. Ana, filha de família muito rica, apaixona-se por um

homem sem bens materiais, Antonio. Casa-se com separação de bens. Ana engravida de um anencéfalo e o casal decide tê-lo. Ana morre de parto, o filho sobrevive alguns minutos, herda a fortuna de Ana. Antonio herda todos os bens do filho que sobreviveu alguns minutos além do tempo de vida de Ana. Nenhuma palavra será suficiente para negar a existência jurídica do filho que só foi por alguns instantes além de Ana.Argumento de causa e efeito / Argumento de analogia

A história que inventei é válida no contexto do meu discurso jurídico. (porque) Não sou pároco, não tenho afirmação de espiritualidade a nestas linhas postular. (E também) Aqui anoto apenas o que me cabe como artesão da compreensão das leis. (além disso) Palavras bem arranjadas não bastam para ocultar, em quantos fazem praça do aborto de anencéfalos, inexorável desprezo pela vida de quem poderia escapar com resquícios de existência e produzindo consequências jurídicas marcantes do ventre que o abrigou. Argumento pró-tese (tese + porque + e também + além disso)

Matar ou deixar morrer o pequeno ser que foi parido não é diferente da interrupção da sua gestação. Mata-se durante a gestação, atualmente, com recursos tecnológicos aprimorados, bisturis eletrônicos dos quais os fetos procuram desesperadamente escapar no interior de úteros que os recusam. Mais “digna” seria a crueldade da sua execução imediatamente após o parto,mesmo porque deixaria de existir risco para as mães. Um breve homicídio e tudo acabado. Argumento de analogia / Argumento Ad absurdum

Vou, contudo, diretamente ao direito, nosso direito positivo. No Brasil o nascituro não apenas é protegido pela ordem jurídica, sua dignidade humana preexistindo ao fato do nascimento, mas é também titular de direitos adquiridos. Transcrevo a lei, artigo 2o do Código Civil: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. No intervalo entre a concepção e o nascimento dizia Pontes de Miranda “os direitos, que se constituíram, têm sujeito, apenas não se sabe qual seja”. Não há, pois, espaço para distinções, como assinalou o ministro aposentado do STF, José Néri da Silveira, em parecer sobre o tema: Argumento de autoridade

Em nosso ordenamento jurídico, não se concebe distinção também entre seres humanos em desenvolvimento na fase intrauterina, ainda que se comprovem anomalias ou malformações do feto; todos enquanto se desenvolvem no útero materno são protegidos, em sua vida e dignidade humana, pela Constituição e leis.Argumento de autoridade

Trata-se de seres humanos que podem receber doações [art. 542 do Código Civil], figurar em disposições testamentárias [art.1.799 do Código Civil] e mesmo ser adotados [art. 1.621 do Código Civil]. É inconcebível, como afirmou Teixeira de Freitas ainda no século XIX, um de nossos mais renomados civilistas, que haja ente com suscetibilidade de adquirir direitos sem que haja pessoa. E, digo eu mesmo agora, nele inspirado, que se a doação feita ao nascituro valerá desde que aceita pelo

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seu representante legal tal como afirma o artigo 542 do Código Civil – é forçoso concluir que os nascituros já existem e são pessoas, pois “o nada não se representa”. Argumento de autoridade

Queiram ou não os que fazem praça do aborto de anencéfalos, o fato é que a frustração da sua existência fora do útero materno, por ato do homem, é inadmissível [mais do que inadmissível, criminosa] no quadro do direito positivo brasileiro. É certo que, salvo os casos em que há, comprovadamente, morte intrauterina, o feto é um ser vivo. Argumento de oposição.

Tanto é assim que nenhum, entre a hierarquia dos juízes de nossa terra, nenhum deles em tese negaria aplicação do disposto no artigo 123 do Código Penal, que tipifica o crime de infanticídio, à mulher que matasse, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho anencéfalo, durante o parto ou logo após, sujeitando a pena de detenção, de dois a seis anos. Note-se bem que ao texto do tipo penal acrescentei unicamente o vocábulo anencéfalo! Argumento de autoridade

Ora, se o filho anencéfalo morto pela mãe sob a influência do estado puerperal é ser vivo, por que não o seria o feto anencéfalo que repito pode receber doações, figurar em disposições testamentárias e mesmo ser adotado? Argumento de analogia / Argumento a fortiori

Que lógica é esta que toma como ser, que considera ser alguém – e não res – o anencéfalo vítima de infanticídio, mas atribui ao feto que lhe corresponde o caráter de coisa ou algo assim?Argumento de analogia / Argumento Contrário sensu

De mais a mais, a certeza do diagnóstico médico da anencefalia não é absoluta, de modo que a prevenção do erro, mesmo culposo, não será sempre possível. O que dizer, então, do erro doloso?

A quantas não chegaria, então, em seu dinamismo – se admitido o aborto – o “moinho satânico” de que falava Karl Polanyi? A mim causa espanto a ideia de que se esteja a postular abortos, e com tanto de ênfase, sem interesse econômico determinado. O que me permite cogitar da eventualidade de, emborase aludindo à defesa de apregoados direitos da mulher, estar-se a pretender a migração, da prática do aborto, do universo da ilicitude penal, para o campo da exploração da atividade econômica. Em termos diretos e incisivos, para o mercado. Escrevi esta pequena nota para gritar, tão alto quanto possa, o direito de viver. Argumentode oposição

(http://www.febnet.org.br/reformadoronline/pagina/?id=254)

Considerações Adicionais

Esquema de orientação do textoNo tocante as técnicas de elaboração textual, deve se considerar algumas qualidades, características da boa escrita, como clareza, concisão, objetividade, precisão, leveza, elegância e correção. As principais são: a clareza, a objetividade e acuidade da informação.

Clareza: ocorre quando as ideias contidas no texto são facilmente compreendidas pelo leitor. A clareza é um reflexo direto da organização do pensamento de quem escreve.

Acuidade da informação: Na redação, é indispensável conhecer o tema sobre o qual vamos escrever. Na verdade, para escrever bem, é necessário conhecer o assunto, pesquisá-lo,elaborar um esquema a ser desenvolvido e, só então, redigir o texto. Sobretudo ao citar leis (GERMANO, 2006 ).