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AUTORIDADE CIENTÍFICA EM TEMPOS DE CRISE EPISTÊMICA: a circulação de teorias da conspiração nas
mídias sociais1 SCIENTIFIC AUTHORITY IN TIMES OF EPISTEMIC CRISIS:
the circulation of conspiracy theories in social media Thaiane Moreira de Oliveira2
Resumo: A proposta desta pesquisa é mapear a circulação de informação sobre teorias da
conspiração mais frequentes no Brasil, buscando identificar os atores, os discursos
e as interações desses temas no YouTube, considerada a plataforma de maior fonte
de informação pelos “teóricos da conspiração”. Considerando a ciência como um
campo de disputa, nos interessa entender quais são as disputas de poder pela
legitimidade da informação científica e nestes espaços digitais e o papel da
autoridade científica em tempos de crise epistemológica. Acreditamos que a
circulação desses temas não está limitada a um fenômeno apenas de produção de
narrativa para organização do excesso informacional, mas trata-se também de um
campo de disputa de poder que se reflete em outras esferas políticas e sociais. Os
resultados apontam que, ainda que se tenha desconfiança sobre a relação de ciência,
governo e indústria, a autoridade científica é um capital simbólico de extrema
importância para a circulação da informação de teorias da conspiração
relacionadas à ciência.
Palavras-Chave: Crise epistêmica. Autoridade científica. Teorias da conspiração.
Abstract: The purpose of this research is to map the circulation of information about conspiracy
theories most frequent in Brazil, seeking to identify the actors, speeches and
interactions of these themes in YouTube, considered the platform of greatest source
of information by "conspiracy theorists". Considering science as a field of contention,
we are interested in understanding the power struggles for the legitimacy of scientific
information and in these digital spaces and the role of scientific authority in times of
epistemological crisis. We believe that the circulation of these themes is not limited
to a phenomenon of narrative production only for the organization of informational
excess, but it is also a field of power dispute that is reflected in other political and
social spheres. The results point out that, although distrust of the relationship of
science, government and industry, scientific authority is a symbolic capital of extreme
importance for the circulation of information of conspiracy theories related to
science.
Keywords: Epistemic crisis. Scientific authority. Conspiracy theories
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho” Recepção, Circulação e Usos Sociais das Mídias” do XXVIII
Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14
de junho de 2019. 2 Professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. E-mail:
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1. Introdução
A ciência no Brasil vem enfrentando grandes dificuldades e desafios, não apenas pelos
recentes cortes de investimento, mas também diante de um fenômeno no qual a comunicação
tem um papel fundamental: a dificuldade de se aproximar da sociedade e enfrentar fenômenos
que têm ganhado visibilidade e que buscam deslegitimar as pesquisas que vêm sendo
desenvolvidas nas universidades e instituições de pesquisa. É neste sentido que movimentos
como antivacina, por exemplo, vem ganhando espaço nas redes sociais e diversos grupos
corroboram para que mitos em torno de campanhas de vacinação sejam propagados em
diversos canais, ganhando cada vez mais adesão da comunidade não-científica, colocando em
risco a saúde da população. Vimos recentemente um aumento de casos de sarampo no mundo,
ocasionado por esse fenômeno de propagação de notícias falsas sobre a vacinação
(MUNDASHAD, 2018). O Ministério da Saúde no Brasil vem monitorando o aumento dos
casos e os números são alarmantes: 677 casos nos seis primeiros meses de 2018 e mais de 2.000
sob investigação (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2018). Este crescimento também
é observado nos relatórios da Organização Mundial de Saúde que apontam para o aumento de
casos de sarampo, difteria, poliomielite e síndrome de rubéola congênita (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2018).
Este movimento antivacina não surgiu nas redes sociais, nasce dentro da própria
academia e foi creditado ao pesquisador Andrew Wakefield, que publicou na The Lancet
(Wakefield, et al., 1998)3 uma pesquisa que associava a ocorrência de autismo à vacinação. O
artigo sofreu duras críticas da comunidade acadêmica, sendo retratado na própria revista, e
após uma série de investigações descobriu que algumas crianças voluntárias do estudo haviam
sido indicadas por um escritório de advocacia que queria entrar com ações contra a indústria
farmacêutica. O que esta história nos conta é que as disputas sobre a informação científica não
se limitam apenas nas dificuldades dos cientistas com o público em geral, mas também há uma
série de outras disputas de poder quando a configuração da atividade acadêmica e a
legitimidade da produção científica estão relacionados a entrada de outros atores sobre a
produção de conhecimento.
Para além dos casos de saúde, outros movimentos também têm ganhado atenção nas
redes sociais, divulgando notícias carregadas de interesses e disputas de poder sobre a
3 Em 2010, o pesquisador teve sua licença cassada pelo Conselho Britânico de Medicina.
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informação e a veracidade das pesquisas científicas. Manipulação climática como arma,
terraplanismo, criacionismo são alguns exemplos de discursos que ecoam nas redes sociais em
que pressupostos científicos universais são colocados em descredibilidade. Estes discursos
sociais em torno da legitimidade científica têm como imbróglio uma dificuldade em se
comunicar a ciência para a população em geral e a distinção que tende a separar a academia de
outras esferas sociais. E diz respeito à própria mudança sobre o paradigma da comunicação, no
qual os espaços de circulação da informação são disputados por interesses diversos e composto
por diferentes conjuntos de atores em um momento, em que vivemos uma crise epistêmica
sobre todas as instituições consolidadas em torno da produção de verdade.
Constantemente associada à desinformação e ao excesso informacional (STEENSEN,
2019) e a uma agenda conservadora religiosa de direita (BENCKLER, et al, 2018), esta crise
epistêmica é o reflexo da passagem de um regime de verdade baseado na confiança nas
instituições para um outro regime regulado pela crença individual e pela experiência pessoal
(VAN ZOONEN, 2012), dando voz a movimentos conspiratórios em que a informação é um
campo de disputa sobre a produção de narrativa. Assim, esta pesquisa se desdobra em entender
como as teorias da conspiração relacionadas à ciência circulam nas redes sociais digitais e sua
relação com a autoridade científica. Quais são as disputas de narrativas nesses espaços e como
os atores se relacionam nos sites de redes sociais? Seria um fenômeno relacionado a uma
agenda conservadora de direita, com interesse em deslegitimar a ciência? Qual é o papel da
Comunicação da Ciência diante desta crise epistêmica? Para responder a essas perguntas, esta
pesquisa se baseia em uma abordagem de metodologia mista para a identificação dos modos
de consumo de informação dos sujeitos interessados em teorias da conspiração relacionadas à
ciência e identificação das relações interacionais sobre esses temas no YouTube, considerada
o principal canal de informação pelos adeptos dessas teorias. Acreditamos que esta pesquisa
possa nos fornecer subsídios para entender como as disputas políticas e ideológicas estão sendo
desdobradas nas redes sociais digitais sobre o assunto e como a comunicação da ciência pode
atuar diante da desinformação sobre o conhecimento científico em tempos de crise epistêmica.
O fenômeno das teorias da conspiração em tempos de crise epistêmica
Um dos maiores desafios nos ecossistemas informacionais contemporâneos é a
circulação da desinformação. Nos últimos anos, tem sido recorrente uma preocupação no
debate público e político sobre temas como “pós-verdade” e “notícias falsas” (VOSOUGHI et
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al., 2018), em que fatos alternativos e teorias da conspiração emergem como campo de de
disputa sobre a verdade.
As teorias da conspiração durante muito tempo foram entendidas como narrativas
irracionais produzidas por grupos sociais extremistas à margem da vida política e social
(WARNER, NEVILLE-SHEPARD, 2014). Seu fenômeno, contudo não é novo, e sua primeira
aparição remonta a Revolução Francesa, através da crença de que sociedades secretas estariam
envolvidas em conflitos para desestabilização de governos (AZARIAS, 2015). Já o termo foi
utilizado pela primeira vez na década de 1960, quando os veículos de comunicação dos Estados
Unidos se referiam pejorativamente às teorias que negavam a versão oficial do assassinato do
presidente John F. Kennedy (QUINAN, 2018).
Até causar impactos significativos na sociedade, as teorias da conspiração são tratadas
como conhecimento estigmatizado (BARKUN, 2017), sendo ignoradas por instituições das
quais foram consolidadas em torno da produção da verdade4. Ou seja, instituições que
compõem as “comunidades epistêmicas” - conjunto de indivíduos com conhecimento
socialmente legitimado que atuam junto a Estados que exercem algum tipo de influência na
esfera pública, como agências de governo, institutos de pesquisa, partidos políticos, sistemas
jurídicos, e demais grupos de interesse que atuam numa área específica. Instituições que, como
parte do projeto iluminista, estabeleciam sua distinção pela exclusão com as demais camadas
sociais a partir do domínio de um conhecimento especializado.
Dentre os sujeitos que compõem as comunidades epistêmicas, o grupo que se
consolidou como o de maior prestígio e credibilidade foi a ciência. Através do progresso
acelerado de desenvolvimento tecnológico e industrial, o conhecimento científico passou a
ocupar uma posição de destaque, no século XIX. Esta supervalorização da ciência e a crença
de que tudo poderia ser explicado através de métodos científicos, em detrimento a outros tipos
de saber, se consolidou com base em sistemas de validação sobre a produção de verdade, a
partir de instrumentos legitimados pela própria comunidade científica. Até então, a concepção
de que um determinado sistema de conhecimento era considerado científico, ou seja, dotado
de uma autoridade reconhecida, levou à instauração da ciência sob um status religioso,
propagado sobretudo pela corrente positivista na qual o conhecimento científico era a única
forma de conhecimento verdadeiro.
4 O próprio termo “teorias da conspiração” é depreciativo e insere-se como parte de uma disputa de poder
epistêmico da qual esta pesquisa se propõe a discutir.
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Já na contemporaneidade, as comunidades epistêmicas vivem sob um momento de
crise, inclusive a ciência. Segundo Luiz Signates (2012), a ciência no mundo contemporâneo
vive uma série de crises e questionamentos, decorrentes dos mais diferentes fatores, entre eles
a crise da verdade e a crise social da ciência. Segundo Signates, a crise da verdade é provocada
a partir de uma compreensão pós-moderna na qual o conhecimento científico é apenas uma das
muitas representações da realidade. Já a crise social da ciência é o entendimento “de que a
ciência não consegue atender a algumas das mais caras promessas da modernidade: a da justiça
social, a da construção ética e a da solidariedade, racionalmente fundamentadas” (SIGNATES,
2012, p. 140).
Além das crises mencionadas acima, podemos acrescentar ainda a crise da comunicação
da ciência. A comunicação científica tem suas raízes históricas no século XIX, quando a “crise
das disciplinas” (SIGNATES, 2012) tornou a ciência tão especializada, que era necessária uma
“tradução” para ser entendida por um público interessado. Já na década de 1950, a comunicação
da ciência foi protagonizada por governos para atrair a atenção de investidores em
determinados programas e incentivar a entrada de novos estudantes (WEINGART,
GUENTHER, 2016). Com o passar do tempo, a responsabilidade sobre comunicar a ciência
foi repassada para universidades e instituições de pesquisa. Atualmente, passa a ser entendida
como parte do trabalho do pesquisador (MARCINKOWSKI E KOHRING, 2014; OLIVEIRA,
2018), como um compromisso social, um dever democrático e uma estratégia de se sobressair
perante a acirrada competição científica em um mercado de atenção online protagonizado nos
sites de redes sociais e estimulado pela quantificação de suas performances através de
mensurações altmétricas5.
Se de um lado a ciência foi incapaz de cumprir as promessas da modernidade em
resolver as mazelas sociais, atualmente está sob um regime no qual o impacto social de sua
produção deve ser mensurado positivamente para obtenção de financiamentos para a realização
de sua pesquisa. De um modo geral, o impacto social da ciência pode ser medido através da
influência da produção científica em políticas públicas, mas também na presença de cientistas
em jornais e na circulação em sites de redes sociais. De um lado, essa dependência do
jornalismo tem um agravante na contemporaneidade, visto que este, enquanto instituição
5 Altmetria é o estudo de métricas consideradas alternativas às mais tradicionais como as baseadas em citações,
que buscam medir a circulação da produção científica na web.
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moderna consolidada em torno dos princípios anglo-americanos da verdade e da objetividade,
também sofre a mesma crise epistêmica que a ciência.
Sendo assim, os jornalistas científicos, como gatekeepers da informação científica,
teriam uma dupla perda da sua credibilidade na crise epistêmica. Com o predomínio de
plataformas de mídias sociais, a figura dos gatekeepers tradicionais foi superada, podendo o
próprio cientistas, produtor de conteúdo, desenvolver o seu trabalho de divulgação de sua
própria produção científica para atingir diretamente seu público – e alavancar as métricas de
sua performance online. Estudos anteriores (NEWMAN ET AL., 2017; RECUERO, 2011)
revelaram que as mídias sociais se tornaram uma importante fonte de notícias e informações
para o público, mais do que o jornalismo tradicional, que tem sido entendido como um dos
meios pouco confiáveis devido a um histórico de posicionamentos políticos que afastavam-se
do modelo ocidental anglo-americano de verdade, objetividade e imparcialidade.
Contudo, a promessa de uma divulgação ampla nos sites de redes sociais enfrenta
grandes desafios, com a entrada de diferentes atores no campo de disputa sobre a informação.
Além da diversidade de sujeitos nestes espaços digitais, há também o próprio algoritmo que,
numa lógica mercadológica, supostamente potencializa a chegada do conteúdo de acordo com
as preferências do consumidor, implicando na formação de câmaras de eco (COLLEONI, et al,
2018), nas quais as informações que circulam nestes espaços chegam de maneira imparcial ao
usuário.
Diante deste panorama em que as teorias da conspiração tomam uma relevante
proporção no debate público, a autoridade científica é substituída por outros saberes crescentes
e a disputa pela informação é travada por diferentes atores, nos interessa investigar como
circulam esses “fatos alternativos” e os modos de consumo dos adeptos destas teorias.
Metodologia e resultados
Entendendo o fenômeno das teorias da conspiração por sua capilaridade social e
possibilidade de abordagem multidisciplinar, optou-se pela utilização de métodos mistos para
a realização desta pesquisa. A investigação por métodos mistos é uma integração sistemática
de métodos qualitativos e quantitativos num único estudo, com o objetivo de obter uma visão
mais abrangente e uma compreensão mais profunda de um fenômeno. Pode-se manter suas
estruturas separadas para um desenvolvimento em etapas, com finalidade de integração dos
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dados para complementaridade ou coletados simultaneamente para fins de comparação por
triangulação (JOHNSON, ONWUEGBUZIE, 2004).
Como o objetivo do trabalho se propõe a realizar um mapeamento sobre a circulação
das teorias da conspiração relacionadas à ciência, esta pesquisa se desdobrou em três etapas,
as duas primeiras simultâneas, de abordagem qualitativa-quantitativa, e a terceira, baseada em
análise estrutural das redes sociais.
Primeira etapa - um percurso em busca dos sujeitos interessados em teorias da
conspiração
Quem são os sujeitos que estão produzindo e consumindo teorias da conspiração nas
redes sociais? Baseando-se no relatório do Instituto Reuters (2018) que indica que o Facebook
permanece sendo a principal rede de informações de notícias para os brasileiros, a pergunta
que deu início a esta pesquisa buscou ser respondida através da coleta de informações nesta
plataforma de rede social digital. Para isso, foi conduzido um mapeamento inicial em grupos
de Facebook, a partir de técnica de snowballing por recomendação algorítmica e recomendação
dos administradores. Foram identificados 15 grupos com mais de 300 membros, dos quais tive
aprovação para participar em apenas três: Teorias da Conspiração e origem estelar II6, Share
Your Teoria da Conspiração7 e Ufos e Teorias da Conspiração8. Nestes três grupos, o
engajamento é baixo - cerca de um a três posts por dia. No entanto, a participação nestes
espaços levou a dois grupos de Whatsapp, cuja participação dos membros integrantes é mais
ativa: Conspiração, a Origem, com 95 membros e Por Trás da Mídia Mundial, com 110
membros.
Optando por uma pesquisa aplicada de caráter qualitativo mediante observação
participante através do Whatsapp, ao entrar nos dois grupos, no dia 09 de fevereiro de 2019,
me apresentei como pesquisadora aos administradores e pedi autorização para divulgar a
pesquisa entre os membros. No primeiro grupo fui banida por um dos administradores, sem
qualquer comunicação prévia justificando a ação. No segundo grupo, Por trás da Mídia
Mundial, não tive autorização para divulgar a pesquisa, mas permaneci inserida dentre os
membros. Enquanto observava os comportamentos e posicionamentos políticos e ideológicos
6 https://www.facebook.com/groups/581140298712253/?ref=group_browse_new
7 https://www.facebook.com/groups/490295431480299/about/
8 https://www.facebook.com/groups/ufossantarosa/members/
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dos integrantes do grupo, entre os dias 10 e 13 de fevereiro, foi divulgado um questionário com
perguntas abertas e fechadas individualmente, como mensagem privada, para os membros dos
dois grupos. Este questionário tinha como principal objetivo entender os modos de consumo
dos sujeitos interessados em teorias da conspiração, buscando verificar quais canais e/ou
mídias eles mais confiavam. Foi recebido o retorno de 31 respondentes e cerca de 20 pessoas
responderam à mensagem propondo testes9 para verificar se eu era uma “pessoa real”, se
trabalhava para o governo, perguntando em quais teorias eu acreditava e com afirmações de
que a foto não “parecia comigo” ou que era falsa, quase como uma iniciação ao grupo, para
diferenciar os neófitos daqueles seletos que têm o conhecimento. Havia uma preocupação
também com a comercialização dos dados, seja sobre os fins da pesquisa, ou do próprio
“sistema de comercialização algorítmica”.
Em dez dias inserida no grupo, do dia 09 a 19 de fevereiro de 2019, foi possível observar
que vídeos e links alimentam o compartilhamento de pontos de vista como forma de comprovar
seus argumentos. Geralmente, os vídeos circulam tanto na própria plataforma, mas direcionam
também direcionam para plataformas externas ao Whatsapp, principalmente o YouTube. Dos
43 vídeos compartilhados no período, 06 eram encaminhamentos de Whatsapp e 36 links para
o YouTube e 01 vídeo para o Facebook. Notícias de jornais, como Uol, Veja e Jornal do Brasil,
e revistas especializadas em Ciência e Tecnologia, como Revista Galileu, tem um especial
destaque entre os links compartilhados no grupo e em nenhum momento o conteúdo dessas
matérias é questionado.
Destarte a afirmação generalista de um envolvimento da extrema-direita às teorias da
conspiração (Benkler, 2018), não há uma homogeneidade quanto ao espectro político dos
membros. A discussão político-partidária é frequentemente acionada no grupo. No entanto, em
conversas privadas, a discussão religiosa se sobrepõe à política. Evidentemente, é impossível
distinguir política da religião, quando a “nova direita” brasileira é constituída por uma bancada
religiosa (Romancini, 2018), entre outros conjuntos de atores. No entanto, foi possível observar
9 Vale ressaltar que esses testes também foram aplicados coletivamente. Na noite de 14 de fevereiro, a mensagem
privada com o link para o questionário foi compartilhada no grupo com desconfiança e pedindo explicações aos
administradores. Diante da repercussão e medo dos membros em relação ao fato de terem colaborado com a
pesquisa e quanto à minha presença no grupo, fiz uma breve apresentação dos objetivos da pesquisa. Após isso,
deu-se início a testes coletivos como perguntas sobre minha formação, minhas crenças e o que eu achava sobre
os conspiracionistas. Ao apresentar meus argumentos, informei que a partir daquele momento, finalizaria a
resposta ao questionário, visto que poderia influenciar nas próximas respostas. Ainda assim, foram recebidas mais
três respostas, que foram desconsideradas na análise.
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que ainda que Deus e versículos bíblicos sejam mais presentes do que posicionamentos a favor
ou contra representantes políticos em conversas privadas, coletivamente parece haver uma
predominância quanto à desconfiança sobre o presidente Jair Bolsonoro e seu papel atuante em
uma Nova Ordem Mundial10, teoria da conspiração mais recorrente na fala dos membros do
grupo, e suas derivações como Governo Oculto, Illuminati, Maçonaria e Protocolo Sionista. O
câncer do Bolsonaro - e não a facada11 -, a queima de arquivo - e não o acidente12 - de Ricardo
Boechat marcaram os posicionamentos políticos e suas desconfianças com o governo, e
buscam dar sentido para lidar com os acontecimentos sociais complexos. E apesar de pouca
unidade quanto ao espectro político, é praticamente unanimidade o compartilhamento
discursivo sobre a falta de crença às instituições políticas e seus governantes, fenômeno
decorrente da insatisfação pelo próprio regime democrático.
É importante ressaltar, no entanto, que apesar de uma frequência de troca de mensagens,
média de 70 mensagens diárias, gerando sempre muitas falas com vários pontos de vista
confluentes, mas pouco debate sobre os próprios argumentos, quando são levados a explicar
sua compreensão a respeito de suas convicções, os sujeitos pouco reagem com contra-
argumentos; ficam em silêncio até surgir um novo assunto que substitua o anterior. Tal
comportamento, vai ao encontro de pesquisa realizada por Fernbach (et al., 2013), na qual
demonstra que os extremistas, de quem os autores acreditam ter afinidade com os
conspiracionistas, tendem a moderar suas atitudes e relativizar pontos de vista quando
confrontados.
Ainda que haja desconfiança em torno da relação antiética de cientistas com a indústria
farmacêutica, a ciência, através da mídia tradicional, é constantemente acionada como discurso
de autoridade. Mesmo diante de uma forte desconfiança quanto à manipulação da mídia, é
comum encontrar no grupo compartilhamento de links de jornais ou revistas que divulgam
resultados de pesquisa. No entanto, a autoridade científica como forma dominante de capital
10
A Nova Ordem Mundial é a crença de que uma poderosa elite secreta de agenda globalista está conspirando
para eventualmente governar o mundo por meio de um governo mundial autoritário, e que representantes dos
Estados-Nações são fantoches para esse Governo Oculto. 11
Atentado ocorrido em 6 de setembro de 2018, quando ainda era candidato, o então presidente da República foi
alvo de um ataque durante um ato da campanha em Juiz de Fora (MG). Meses após o acontecimento, a facada
alimenta um conjunto de teorias tanto na direita, que acredita que Adélio Bispo não teria agido sozinho e seria
apenas uma peça de uma organização de esquerda para impedir a eleição do presidente, enquanto persistem
dúvidas na esquerda sobre se a facada foi mesmo verdadeira e que o atentado é uma grande farsa para encobrir
um câncer, e que teria culminado na própria vitória do candidato. 12
Em 11 de fevereiro de 2019, morreu o jornalista Ricardo Boechat em um acidente de helicóptero em São Paulo.
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simbólico em relação ao campo científico (Bourdieu, 1976) é direcionado à cientistas
midiatizados, e não pela qualidade da pesquisa em si. Diferentemente do observado por Pierre
Bourdieu na década de 1970, de que aquele que faz apelo a uma autoridade exterior ao campo
só pode atrair sobre si o descrédito, celebrização de cientistas midiáticos os tornaram grandes
influenciadores digitais, diante do imperativo da visibilidade.
Os regimes de visibilidade e popularidade através da mídia reforçam a reputação desses
sujeitos, mesmo que sua própria imagem seja marcada por controvérsias sobre a própria
competência científica. Há, portanto, uma dissociação entre a capacidade técnica e poder social
pela inserção midiática como processo de celebrização para o reconhecimento de uma figura
de autoridade. Esse é o caso do “Dr. Lair Ribeiro”, famoso entre os teóricos da conspiração,
uma mistura de cientista e coaching, cujos títulos “Aumente sua autoestima” e “O sucesso não
corre por acaso”, divide espaço com artigos de cardiologia publicados até a década de 1980,
“em revistas norte-americanas”, como o próprio se anuncia.
Os temas que surgiram no período de observação e que atravessam a esfera política e
também tecno-científica, foram: Vacinas, controle da mente através de novas tecnologias, uso
de agrotóxicos, sem alusão às teorias conspiratórias comuns que apontam seu uso como arma
química e Nova Ordem Mundial, e suas derivações como os Illuminati e Protocolo de Sião,
como uma teoria superior, a explicação superior que é a resposta de quase todos os
acontecimentos.
Segunda etapa - resultados do questionário: em busca de uma rede de confiança
Dos 31 respondentes do questionário, 74,2% (n=23) era do sexo masculino e 25,8%
(n=08) do sexo feminino. A média de idade é de 33 anos, sendo 16 a mínima e 56 a máxima.
58% (n=18) tem ensino superior completo (n=09) ou incompleto (n=09). A renda total familiar
de 74,2% (n=23) dos respondentes é de até 4 salários mínimos.
Dentre os canais que eles mais consomem informação sobre teorias da conspiração, o
YouTube foi citado por 71% dos respondentes (n=22), seguido de páginas do Facebook (n=19),
grupos do Facebook (n=15) e Whatsapp (n=15). Artigos científicos estão entre os cinco canais
de informação consultados pelos respondentes (n=14), ainda que não tenha sido perguntado
em quais locais eles buscam a informação científica [Fig. 01].
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FIGURA 01: Principais canais para informação com base nas respostas dos 31 respondentes. Fonte: autoria própria
Atribuindo pesos na escala de Likert de cinco níveis, com peso +-2 para valores de
maior intensidade e +-1 para valores de intensidade relativa, artigos científicos (32), seguidos
de revistas especializadas em Ciência e Tecnologia (23), YouTube (20) e jornais (15) são
considerados os espaços de maior confiança para os respondentes, enquanto que os sites
governamentais (2) e o Twitter (3) os de maior desconfiança [Fig. 02].
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FIGURA 02: medida de confiança sobre diferentes canais informada pelos respondentes. Fonte: autoria própria.
Indagados sobre os motivos que os fazem acreditar em teorias da conspiração, a
manipulação midiática e a manipulação do governo emergem como uma das causas que os
levam a crer que fatos alternativos podem refletir mais a realidade “oculta” do que as
informações transmitidas pela mídia tradicional.
“Não é que não acredito na grande mídia, mas sempre hà duas versões para os fatos,
sempre o verdadeiro e omitido pela mídia” (Respondente 02)
“Os governos manipulam os fatos. A história contada nos livros não condiz com o que
aconteceu. Fomos doutrinados desde a infância. Inclusive você. Pesquise e você achará a
verdade”. (Respondente 10).
Outros inimigos ocultos aparecem sob o nome de eles, ou a elite ou de forma genérica
como organizações com interesses comerciais, apontando para experiências anteriores que os
levaram a crer que a informação oficial não condiz com o que eles acreditam ser “verdade”,
termo que ressoou em muitas falas [Fig 03].
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FIGURA 03: Nuvem de palavra a partir das respostas ao questionário. Fonte: Autoria própria em WorldArt.
Estudos anteriores apontam que os sujeitos formam sua opinião a partir puramente de
emoções (SUNSTEIN, VERMEULE, 2009). Porém, pudemos observar que foi frequente
(n=06) afirmações de que buscam olhar duas ou mais versões sobre os fatos, que analisam
minuciosamente os acontecimentos, que buscam a fundo a informação que circula na internet,
característica de sujeitos letrados midiaticamente (LIVINGSTONE, 2011):
“Não acredito e nem desacredito em teorias da conspiração ou informações oficiais,
tudo pode ser conferido pela lógica e empatia. Toda mentira tem um fundo de verdade e toda
verdade pode ser manipulada” (respondente 25).
Além de respostas que afirmavam acreditar em tudo (n=09), as teorias da conspiração
que mais apareceram foram: Vida extraterrestre (n=07), Nova Ordem Mundial e o Governo
secreto (n=07), Illuminati (n=05), Terra Plana (n=03), Controle populacional (n=03) e vacina
(03).
Terceira etapa: a circulação de teorias da conspiração no YouTube
A partir das observações nas etapas anteriores, foi possível identificar a predominância
do YouTube como principal espaço de informação sobre as teorias da conspiração. Neste
sentido, a plataforma torna-se um objeto extremamente importante para uma investigação mais
profunda sobre a circulação das teorias da conspiração. A partir disso, foram separados os
temas frequentes tanto no questionário quanto no grupo de Whatsapp, como terraplanismo e a
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“verdade13” sobre as vacinas, além da Nova Ordem Mundial como explicação para quase todas
as outras teorias.
Para tanto, foi realizada uma coleta de dados sobre as redes de vídeos utilizando a
ferramenta YouTube Data Tools, a partir das seguintes palavras-chaves: “Nova Ordem
Mundial”, “Terra Plana”, e a junção Vacina e Verdade. Com profundidade 1, buscando 50
vídeos por sua relevância de cada um dos três termos da busca, foram coletados 5995 nós e
62064 arestas [FIG 04].
FIGURA 04: Grafos da junção dos três termos da busca. Fonte: autoria própria.
Pelo grau de entrada ponderado, ou seja, o grau de um determinado nó que se refere ao
número de conexões recebidas, o vídeo com maior centralidade local, é “Nova Ordem Mundial
está na Ásia?14”, do canal Verdade Oculta. A maioria dos vídeos com maior grau de entrada,
localizam-se no conjunto da rede sobre a Nova Ordem Mundial, refletindo o que vinha sido
observado nas etapas anteriores: os assuntos relacionados à Nova Ordem Mundial como uma
13
A busca inicial sobre vacina no YouTube resultou em muitos vídeos sem relação com as teorias da
conspiração. Já a junção com a palavra manipulação, termo mais frequente no questionário, resultou em vídeos
científicos sobre o manuseio da medicação. 14 https://youtu.be/dGkKyF3XjOk
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explicação de outras teorias, como uma teoria suprema que justifica as demais e, portanto,
altamente referenciada e citada.
Já na centralidade Betweenness, que mede a “influência que um determinado nó tem
no espalhamento de informação na rede” (NEWMANN, 2003), destacam-se os vídeos do
cluster sobre Nova Ordem Mundial: “Vacinas Esterilizantes de Bill Gates! Gripe Vírus para
Reduzir População!” do canal Firmeza da Verdade e o vídeo “Ezequiel 33: A Missão do
Verdadeiro Atalaia” - de cunho religioso com Rômulo Maraschin (do canal Firmeza da
Verdade) e André Bastos (do canal Verdade Absoluta). O terceiro vídeo de maior centralidade
Betweenness é “A verdade sobre a febre amarela e a vacina”, do Dr Lair Ribeiro. Atenta-se
para o uso conceito de verdade predominante nos três vídeos de maior influência para o
espalhamento da informação na rede, termo recorrente na fala dos membros do grupo de
Whatsapp.
Quanto ao grau de modularidade, métrica de rede que se refere ao algoritmo utilizado
para observar os conjuntos de um determinado grafo (RECUERO, 2014), é possível identificar
cinco clusters mais densos na rede, em que as disputas observadas no grupo do Whatsapp e no
questionário se tornam visíveis.
FIGURA 04: Grafo de modularidade. Fonte: Autoria própria.
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No cluster referente à busca sobre vacina e verdade (cluster azul, FIG 04), é possível
identificar um conjunto de atores, cuja autoridade científica se coloca como forma dominante
de capital simbólico em relação ao campo científico. Há um predomínio de afirmação sobre
essa autoridade a partir do uso do pronome de tratamento Dr(a). nos canais dos vídeos
relacionados a este cluster, onde Drauzio Varela e Lair Ribeiro, disputam a atenção de
influência na rede com Patrick Rocha, médico15 autor de livros de receita para emagrecimento.
Consulta, consultoria, conselho - e suas derivações referentes à reunir-se em conjunto com
outros membros para decisões cujo o povo não pode tomar16 - permeiam o discurso iluminista
nas falas dos atores desse cluster, relacionando as práticas de coaching e a divulgação da
ciência junto ao público.
Evidentemente, quando falamos em definição do que é ciência, é preciso levar em
consideração a própria hierarquização entre campos e a falta de reconhecimento das
Humanidades como campo científico pela própria área de Ciências Humanas. Como aponta
Bourdieu (1974), na luta em que cada um dos agentes deve engajar-se para definir o valor de
sua própria autoridade de produtor legítimo, está sempre em jogo o poder de impor uma
definição política sobre a ciência. Essa disputa entre a legitimação e legitimidade, autorização
e autoridade, se manifesta no grupamento dos “doutores” desse cluster. Ou seja, alguns atores
possuem autoridade na rede, detendo um poder de influência na rede social medida pelo grau
de entrada do nó, mas que não possui autorização para falar sobre determinado assunto
científico enquanto cientista. É o caso do Patrick Rocha, que se apresenta como médico e
presidente de uma associação, mas que não há registros de sua atuação na área de pesquisa, no
entanto, possui uma forte influência na rede para discussões sobre saúde e para a
comercialização de soluções mágicas para o emagrecimento, por exemplo.
Entre a promessa de soluções imediatas de coaching e a promessa de alcançar a graça
divina através de um sacrifício na religião, por exemplo, e a imposição das normas universais
da razão científica legitimada por mecanismos sociais de arbitração entre os pares na ciência,
reside um espaço de abstração teórica e interpretativa das Ciências Humanas (e da Matemática
pura). Um espaço que, como premissa, entende o conhecimento científico como uma produção
histórica, ou seja, ancorada em um tempo e contextualizada em um momento político e social
15
Não foi encontrado cadastro no Conselho Federal de Medicina. 16
Consultar deriva da palavra cônsul, representante que na Roma Antiga era escolhido em conjunto com outro
para presidir o Senado e aconselhar nas deliberações políticas (Boddington, 1959).
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específico, e, portanto, suscetível a disputas de poder na produção de narrativas para
interpretação de acontecimentos sociais. É neste sentido que vemos a formação de um cluster
(verde) em que estas disputas entre ciência, religião, política e humanidades se manifestam na
inter-relação dos fluxos informacionais, como no vídeo de Nando Moura, “Quem disse que a
Terra é Plana???17”. Nando Moura, que apresenta assuntos diversos como Filosofia, Teologia,
Música e Economia, sempre atravessado por um olhar político explicitamente indicado em sua
fala como de direita, é um dos cinco atores mais influentes nessa rede. Além dele, em seu canal
Mistérios do Mundo, Bruno Alves convoca sua audiência com palavras impositivas como
“Descontamine a sua mente, Liberte-se do Sistema e saia da Matrix”, prometendo “disseminar
a verdade doa a quem doer”, com conteúdos predominantemente sobre terraplanismo. Outros
atores teóricos da conspiração mais influentes nesse cluster são IN - Inteligência Natural, com
playlist sobre política e terraplanismo, que promete “um espaço sem manipulação ou mentiras”
em sua descrição, e o canal Sem hipocrisia, que promete “expor todas as mentiras”, misturando
história, religião e política ao acusar Cabo Dacciolo de esquerdista18, por exemplo, convocando
fatos históricos e passagens bíblicas para reforçar seu argumento. Junto a esses conspiracionais,
Nerdologia19 surge como uma voz dissonante ao propor uma divulgação e educação científica
não-formal como elementos centrais para combater as narrativas anti-científicas que circulam
as redes sociais como parte da esfera pública em disputa política entre diferentes atores sociais.
Essa dimensão política das teorias da conspiração também está presente no cluster de
maior diversidade e quantidade de nós (roxo). Neste grupamento, os vídeos abordam temas
como posicionamentos sobre como Jair Bolsonaro é manipulado pela Nova Ordem Mundial e
que Emmanuel Macron representa a figura do Anti-Cristo. Outros atores políticos também são
alvos de teorias da conspiração, como ataques à Jean Wyllys20 e e Malafaia21 que se misturam
com denúncias sobre George Soros22, Anitta23, Neymar24, Xuxa25, entre outros. Os canais Tio
Lu, Desperte - Thiago Lima e Verdade Oculta são os principais influenciadores da rede e
17
https://youtu.be/OCBaHE1D9rc 18
https://youtu.be/ojzvrmjOyZU 19
https://www.youtube.com/user/nerdologia 20
https://youtu.be/XQsRdRKr3qg 21
https://youtu.be/sp2upAh622g 22
https://youtu.be/OykcHPis1sA 23
https://youtu.be/_GhoaDkldUk 24
https://youtu.be/Ez9BvOt2whA 25
https://youtu.be/03KHCQZ6Faw
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produzem conteúdos sobre teorias da conspiração diversa, se tornando um importante cluster
para um mapeamento mais profundo.
Entre essa dimensão de envolvimento de figuras midiáticas e a relação política e
religiosa dos grupamentos descritos anteriormente, o canal Ciência da Verdade, produzido por
Afonso Emidio de Vasconcelos Lopes, doutor em Geofísica pela Universidade de São Paulo,
e que ecoa como um forte influenciador predominante da rede (cluster laranja), com um alto
grau de entrada e de saída, mostrando-se um ator ativo e com grande interação com todos os
outros grupamentos. Ao analisar seus vídeos de maior grau ponderado, nos deparamos com
diversas informações científicas apresentadas com argumentos bíblicos. Por exemplo, estudos
que apontam a relação de antibióticos e vacina, e a necessidade de proteger a flora intestinal
antes de tomar essas medicações, misturado com o argumento de que “eles”, sem explicar quem
eles seriam, querem acabar com a espécie humana, com os descendentes de Adão e não de Eva,
com quem teve relações sexuais com anjos gerando demônios26. E essa relação de autoridade
e autorização científica e a legitimação junto aos conspiracionaistas na sua rede social, que
propicia sua influência na rede e o coloca entre os dez canais de maior grau de centralidade
Betweeness, se tornando “ponte” (Recuero, 2014), com diversos outros atores. É uma das
principais pontes que ligam outros atores com o cluster (preto) que ocupa uma forte
centralidade da rede e é um importante articulador de teorias da conspiração nas dimensões
científicas, religiosas e políticas. Neste cluster é possível mapear um conjunto de temas que
ressoam entre os conspiracionistas, como: redução populacional, através da vacina, de
alimentos transgênicos27, de mosquitos transgênicos28, de agrotóxicos, e etc, denúncias sobre
a relação política da Nova Ordem Mundial no Brasil e no Mundo, denunciando Bolsonaro e o
vice-presidente Mourão29, provas de reptilianos e demônios30 e relações entre catástrofes
naturais, profecias de Enoque e o fim do mundo31.
Considerações finais
26
https://youtu.be/_FBI0a00vYw (Ver 8’50’’) 27
https://youtu.be/2zHkVO6lozM 28
https://youtu.be/o6MQ8QIsy6w 29
https://youtu.be/x8V6fan-k6o 30
https://youtu.be/GJ3F-3L7aT0 31
https://youtu.be/kmcdwe4zFCE
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O fenômeno das Teorias da Conspiração não é novo. Como contextualizado
anteriormente, inúmeros são os registros de Teorias da Conspiração desde a Revolução
Francesa, apontando-se para o crescimento do fenômeno a partir do século XX, quando
acontecimentos sociais complexos impeliram os sujeitos a criarem narrativas alternativas para
explicar importantes eventos da sociedade. No entanto, sob a égide da cruzada pela verdade e
combate à desinformação, há atualmente uma grande preocupação de que tais teorias podem
causar uma redução na própria participação do cidadão na esfera política e afetar negativamente
no comportamento em relação a ciência (JOLLEY, et al., 2018).
Essas teorias da conspiração prosperam em muitos campos sociais, sendo a política e a
ciência os assuntos mais recorrentes deste tipo de produção de narrativa. Tais argumentos,
elaboradamente construídos em torno de versões alternativas sobre a realidade, os teóricos da
conspiração contestam a autoridade epistêmica e resistem publicamente ao “regime da
verdade”. Em muitos casos, as crenças de conspiração não são simples de serem ignoradas,
mesmo que evidências contrárias sejam fornecidas por especialistas, já que os especialistas são
naturalmente percebidos como responsáveis por parte da conspiração (SHARP, 2008).
Todavia, o que foi observado nesta pesquisa, é que, apesar de contestar explicações científicas,
há constantemente um reforço da autoridade científica enquanto forma dominante de capital
simbólico em relação ao campo. Para comprovar pontos de vista que contestam a ciência,
pesquisas científicas são acionadas, sobretudo aquelas publicadas em canais tradicionais de
produção de informação midiática, como jornais e revistas especializadas em Ciência e
Tecnologia. Parece haver uma legitimação da mídia e da ciência como reforço de autoridade,
mesmo sendo entendidos como parte de uma grande conspiração mundial.
Diante do que fora discutido neste trabalho, e à frente de uma crise epistêmica que abala
as instituições consolidadas a partir dos princípios iluministas, torna-se necessário repensar
alguns preceitos da comunicação pública da ciência. A ciência – assim como outros atores da
comunidade epistêmica - enfrenta desafios sem precedentes e está passando por mudanças
profundas. Primeiro, a política exige cada vez mais que a ciência conserte um conjunto de
crises históricas e globais, e a ciência, por sua vez, se mostrou incapaz de realizá-la, sobretudo
em função da própria crise social da ciência e da crise da comunicação da ciência. Além disso,
essas mudanças aceleradas pelas atuais turbulências no financiamento público de pesquisa, nos
torna cada vez mais dependentes da atenção midiática, sendo constantemente medidos por
nossa performance na mídia e nas redes sociais digitais para obtenção de verba.
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Por sua vez, essa esfera de visibilidade pública (GOMES, 2006) na mídia e nos sites de
redes sociais são espaços de disputa, no qual a própria dinâmica da plataforma delineia
interações de homofilia através de câmeras de eco – não muito diferente das próprias bolhas
que os cientistas iluministas e positivistas construíram sobre si mesmos. Nesses espaços,
crescem fenômenos como terraplanismo, criacionismo e outros temas em que política, ciência
e religião se entrelaçam nos espaços digitais com outros movimentos que atacam a legitimidade
do fazer científico.
Tais teorias conspiratórias são menos preocupantes do que os próprios ataques que a
universidade vem sofrendo, reforçados pela própria mídia ao deslegitimar pesquisas científicas,
sobretudo nas áreas humanas e sociais. Matérias como a do dia 13 de junho de 2017, da Gazeta
do Povo em que Gabriel de Arruda Castro (2017) contabiliza as dez teses “incomuns bancada
com o dinheiro público”, todas das áreas de Humanas ou Sociais Aplicadas; ou o artigo de
opinião no mesmo jornal, publicado em 19 abril de 2018, assinado pelo professor Carlos
Adriano Ferraz (2018), em que conclama que o fim das Ciências Humanas pode ser a salvação
da humanidade. Sem ser exclusividade da Gazeta do Povo, outros jornais vêm publicado
constantemente matérias que mostram que a escolha da carreira acadêmica está fadada à
depressão (MORAES, 2017), suicídio (MORAES, 2016) e prostituição (Vespa, 2018) e que a
Universidade é um berço de prostituição e drogas, com produção científica de “baixíssimo
impacto internacional” (FERRAZ, 2019). Junto a isso, as editorias de ciência da imprensa
publicam erroneamente que banana cura câncer (CIENTISTAS, 2015), enquanto afirmam que
as universidades públicas brasileiras deveriam ser privatizadas (COSTA, 2016), indo ao
encontro do relatório do Banco Mundial de 2017, que apontava que a solução para a crise
financeira no Brasil estava nos cortes em ensino, pesquisa e saúde, através de programas de
ajuste fiscal. Esta tem sido a política dominante na atual gestão, em que a Universidade não é
para todos, segundo declaração do atual Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez (G1,
2019)
O ponto que se impõe, portanto, para nós cientistas sociais é que, se de um lado
dependemos da mídia para dialogar amplamente com a população e atuar frente a disputa sobre
a informação científica, visto que esta pesquisa mostrou que a autoridade científica ainda é um
capital simbólico importante para a sociedade, por outro lado, enfrentamos da própria mídia
ataques que nos colocam no mesmo patamar dos teóricos da conspiração. Denunciamos o uso
político da mídia como artifício de uma agenda neoliberal, mas dependemos dela para
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midiatizar a produção científica, sob a imposição da onda de metrificações para medição do
impacto social da ciência.
O que esta pesquisa mostra é que o impacto social da ciência não deve estar à deriva da
relação com a mídia ou de métricas de circulação em redes sociais. Medir o impacto social da
ciência, portanto, deve ser entendido através do desenvolvimento de mecanismos para se
estabelecer diálogos diretamente com aqueles que vem sendo afetados pelas disputas sobre a
informação. Sujeitos que, desperançosos de “tudo o que está por aí”, mergulham em pesquisas
complexas deixando rastros sociais de suas preferências enquanto navegam por canais que
propagam a desinformação científica. Por sua vez, estão sujeitos à invisibilização imposta pelas
próprias plataformas digitais para combater as teorias da conspiração, como fora anunciado em
25 de janeiro de 2019, em que será aprimorado um sistema de recomendação para impedir a
propagação dessas informações32.
Contudo, quando estamos falando de teorias da conspiração, estamos também falando
de uma relação complexa que persiste como meio popular de articular oposição às forças do
capitalismo global. Portanto, é um fenômeno que não deve ser estigmatizado ou menosprezado
pela academia. Pelo contrário, deve ser entendido como parte de um movimento do qual
também somos alvos. Quando, enquanto pesquisadores das ciências humanas e sociais,
entendemos o fenômeno das teorias da conspiração, devemos levar em consideração a relação
complexa entre ciência, política e religião, e um momento no qual o regime da verdade impõe
uma caça às bruxas a quem enfrenta hierarquias sociais estabelecidas. Assim como a facada do
Bolsonaro é suspeitada pela comunidade de teóricos da conspiração – e não apenas por eles -,
corremos o risco de não ter informação sobre importantes acontecimentos políticos e sociais,
sob a bandeira da perigosa cruzada da busca pela verdade, em que os teóricos da conspiração
podem ser todos nós.
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32
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