OS LEGADOS DE LORIEN
A VINGANÇA DOS SETEA VINGANÇA DOS SETEA VINGANÇA DOS SETEA VINGANÇA DOS SETE
(PITTACUS LORE)(PITTACUS LORE)(PITTACUS LORE)(PITTACUS LORE)
TRADUÇÃO: JOHN DC – 2014 REVISÃO: ALLIE FREITAG TÍTULO ORIGINAL:THE REVENGE OF SEVEN PITTACUS LORE – PITTACUS LORE – 2014
OS LEGADOS DE LORIEN
O PESADELO ACABOU.QUANDO ABRO MEUS OLHOS, NÃO HÁ NADA ALÉM
da escuridão.
Estou em uma cama, é o que eu posso dizer por enquanto, e ela não
é minha. O colchão é enorme, de algum jeito contornado perfeitamente para
caber meu corpo, e por um momento eu me pergunto se meus amigos me
mudaram para uma das camas gigantes do apartamento de Nove. Eu estico
minhas pernas e braços até onde consigo, e mesmo assim não consigo
alcançar as bordas. O lençol que está sobre mim é mais escorregadio do
que macio, quase como se fosse de plástico, e está muito quente. Não
apenas morno, eu percebo, mas também há uma vibração estável
massageiam meus músculos doloridos.
Por quanto tempo eu dormi, e onde será que eu estou?
Eu tento me lembrar de o que aconteceu comigo, mas tudo o que
eu posso pensar é sobre minha última visão. Eu senti como se estivesse
naquele pesadelo por dias. E ainda posso sentir o cheiro fedorento de
borracha queimada em Washington DC. Nuvens de poluição pairavam sob a
cidade, uma lembrança da batalha que ocorreu lá. Ou da batalha que ainda
irá ocorrer lá, se minha visão se tornar realidade.
As visões. Elas são partes de algum Legado novo? Nenhum dos
outros têm legados que os deixam assustados pela manhã. Elas são
profecias? Ameaças enviadas por Setrákus Rá, como os sonhos que John e
Oito costumavam ter? São elas avisos?
O que quer que sejam eu queria que elas parassem de acontecer.
Eu respiro fundo algumas vezes para limpar o cheiro de Washington
das minhas narinas, embora eu saiba que tudo isso é da minha cabeça. Pior
que sentir o cheiro é que eu posso me lembrar de cada pequeno detalhe,
desde o olhar aterrorizado do John quando ele me viu no palco junto com
Setrákus Rá, condenando Seis à morte. Ele estava preso na visão também,
como eu. Eu estava impotente lá em cima, presta entre Setrákus Rá, quase
apontado como governante da Terra, e...
Cinco. Ele está trabalhando para os Mogadorianos! Eu tenho que
alertar os outros. Eu me sento e minha cabeça gira – muito rápido – gotas
de ferrugem flutuam através da minha visão. Eu as pisco para longe, meus
olhos sentindo-se pegajosos, minha boca seca e minha garganta inflamada.
Esse definitivamente não é o apartamento de Nove.
Meus movimentos devem ativar algum sensor próximo, porque as
luzes do quarto lentamente se tornam mais fortes. Elas veem gradualmente,
o quarto eventualmente está banhado com um brilho vermelho pálido. Eu
olho em volta para encontrar a fonte da luz e descubro que elas vêm de
veias que estão pulsando dentro das paredes. Um arrepio passa por mim
por quão preciso a sala parece, quão severa, sem decoração alguma. O calor
do lençol aumenta, quase como se ele quisesse que eu voltasse para baixo
dele. Eu o tiro de perto.
Esse lugar pertence aos Mogadorianos.
Eu rastejo através da cama de mamutes – é maior do que um SUV,
suficiente para que um Mogadoriano de cinco metros possa relaxar
tranquilamente – até meu pé descalço pisar no chão de metal. Estou
vestindo um vestido longo e cinza, bordado com videiras pretas espinhosas.
Eu arrepio, pensando neles colocando isso em mim e me deixando aqui para
descansar. Eles poderiam ter me matado, mas ao invés disso eles me
colocaram em pijamas? Na minha visão, eu estava sentada ao lado de
Setrákus Ra. Ele me chamou de sua herdeira. O que isso quer dizer? É por
isso que ainda estou viva?
Isso não importa. O fato é simples: fui capturada. Eu sei disso. Agora
o que eu fazer?
Eu imagino que os Mogadorianos devem ter me levado para uma de
suas bases. Com exceção de que esse quarto não se parece com as horríveis
celas nanicas que Nove e Seis descreveram quando eles foram capturados.
Não, isso deve ser uma ideia dos Mogadorianos de hospitalidade. Eles estão
cuidando de mim.
Setrákus Ra queria que me tratassem mais como uma hóspede do
que como uma prisioneira. Porque, um dia, ele me quer liderando ao seu
lado. Por que, eu ainda não entendo, mas agora é a única coisa que me
mantém viva.
Ah não. Se eu estou aqui, o que aconteceu com os outros em
Chicago?
Minhas mãos começam a tremer e eu afasto as lembranças de
Washington, eu afasto a preocupação com os meus amigos, eu afasto tudo.
Eu preciso ser uma lousa em branco, como eu fui quando lutamos pela
primeira vez com Setrákus Rá no Novo México, como quando eu era nas
sessões de treinamento com os outros. É mais fácil para eu ser corajosa
quando eu não penso nisso. Se eu agir com o instinto, eu consigo fazer isso.
Corra, eu imagino Crayton dizendo. Corra até eles ficarem cansados
de te caçar.
Eu preciso de alguma coisa pra lutar com eles. Eu olho ao redor da
sala por alguma coisa que eu possa usar como arma. Perto da cama tem um
criado-mudo de metal, o único móvel da sala. Os Mogs deixaram um copo
com água para eu beber, mas eu não sou besta o bastante para tomar,
mesmo estando morta de sede. Perto do copo, ah um livro dicionarizado,
com uma capa feita de pele de cobra oleosa. A tinta na capa parece
chamuscada, as palavras com recuos nas bordas, como se elas fossem
impressas com tinta feita de ácido.
O título diz O Grande Livro do Progresso Mogadoriano,
surpreendentemente escrito em inglês. Em baixo dele há várias caixinhas
angulares que eu presumo ser Mogadorianas também. Então eu pego o livro
e o abro. Cada pagina está divida ao meio, com uma coluna escrita em
Inglês e outra em Mogadoriano. Eu me pergunto se era pra eu ler isto.
Eu fecho o livro. A coisa mais importante é que ele é pesado e eu
posso segurá-lo. Eu não vou transformar Mogs em cinzas com isso, mas é
melhor do que nada. Eu me levanto da cama e ando até o que me parece
ser a porta. É um painel retangular cortado na parede, mas não há
fechaduras ou botões.
Eu ando na ponta dos pés até ela, me perguntando como eu vou
abri-la, e então há um chiado mecânico saindo de dentro da parede. Deve
ser mais um sensor de movimentos igual os das luzes, porque a porta se
abre pra cima assim que eu me aproximo, desaparecendo dentro do teto.
Eu não me paro de perguntar por que é que eu estou viva.
Segurando o livro Mogadoriano, eu entro em um corredor que é tão frio e
metálico como o quarto que eu estava.
— Ah – uma voz feminina diz. — Você acordou.
Ao invés de guardas, uma mulher Mogadoriana que está em um
banco fora do meu quarto, obviamente esperando por mim. Eu não tenho
certeza se já havia visto uma mulher mogadoriana antes, mas ela parece
surpreendentemente não ameaçadora em um vestido longo que vai até o
chão, como um dos vestidos que as irmãs vestiriam lá em Santa Teresa. Sua
cabeça é raspada, exceto por duas longas tranças pretas na parte de trás do
seu crânio, e o resto do seu couro cabeludo está coberto com uma
tatuagem elaborada. Ao invés de ser nojenta e ameaçadora, como os Mogs
que eu vi antes, essa daqui parece quase elegante.
Eu paro em frente a ela, incerta do que fazer.
A Mog lança um olhar para o livro em minhas mãos e sorri.
— E já esta pronta pra começar seus estudos, eu vejo – ela diz, se
levantando. Ela é alta, delgada e vagamente parece uma cobra. Em pé na
minha frente, ela faz uma reverência exagerada. — Senhorita Ella, eu devo
ser sua instrutora enquanto—
Assim que sua cabeça se abaixa o suficiente, eu soco o livro no rosto
dela o mais forte que posso.
Ela não percebe meu movimento, o que eu acho estranho porque
todos os Mogs que eu encontrei estavam prontos para lutar. Essa aqui solta
um gemido e então cai no chão e o tecido do seu vestido faz um barulho,
como se tivesse rasgado.
Eu não paro para ver se eu a nocauteei ou se ela está puxando uma
espada de algum compartimento escondido naquele vestido. Eu corro,
escolhendo uma direção aleatória e corro o mais rápido que posso corredor
abaixo. O chão de metal machuca meu pé descalço e meus músculos
começam a doer, mas eu ignoro. Eu tenho que sair daqui.
É muito ruim essas bases Mogadorianas não terem nem uma
sinalização de saída. Eu viro por uma curva, e depois por outra, correndo
pelos corredores que são muito parecidos. Eu continuo esperando que
sirenes comecem a tocar para avisar que eu escapei, mas o barulho nunca
começa. Não há nenhum som de passos pesados de Mogadorianos atrás de
mim, também.
Só quando eu estou ficando sem fôlego e penso em diminuir o
ritmo, uma porta se abre a minha direita, e dois Mogadorianos saem dela.
Eles se parecem mais com os que eu estou acostumada – corpulentos,
vestidos com suas capas pretas, olhos redondos olhando para mim. Eu me
atiro por trás deles, embora nenhum dos dois faça alguma tentativa de me
agarrar. De fato, eu acho que ouvi um deles gargalhar.
O que é que está acontecendo aqui?
Eu posso sentir os dois soldados Mogs me vendo fugir, então eu me
atiro no primeiro corredor que eu consigo. Eu não tenho certeza se eu estou
andando em círculos ou coisa assim. Não há luz do sol ou qualquer tipo de
barulho, nada para indicar que eu possa estar chegando perto de uma saída.
Parece que os Mogs não se importam com nada do que eu tente, como se
soubessem que não tem jeito de eu escapar daqui.
Eu paro para recuperar o fôlego, cautelosamente avançando para
baixo nesse último corredor estéril. Ainda estou segurando o livro – minha
única arma – já estou começando a ficar com cãibra. Eu balanço minha mão
para ela ir embora.
Em cima, um arco enorme se abre com um chiado eletrônico; é
diferente das outras portas, maior, e há pequenas luzes piscantes muito
estranhas do outro lado.
Não são luzes piscantes. São estrelas.
Enquanto eu passo pelo arco para entrar na sala, o teto de metal se
muda para uma abobada de vidro, a sala é bem grande, quase como um
planetário. Com exceção que é real. Há vários consoles de computadores
presos ao chão – talvez seja algum tipo de sala de controle – mas eu os
ignoro, atraída pela visão confusa que se vê através do vidro.
Escuridão. Estrelas.
A Terra.
Agora eu entendo porque os Mogadorianos não estavam me
caçando. Eles sabem que não há como eu fugir daqui.
Estou no espaço.
Eu me aproximo do vidro, pressionando minhas mãos contra ele. Eu
posso sentir o vazio do lado de fora, o infinito, o gelo, o espaço sem ar
entre eu e aquela orbe azul flutuante distante.
— Glorioso, não acha?
Sua potente voz é despejada como um balde de água fria sobre
mim. Eu me viro e me pressiono contra o vidro, sentindo que o veneno atrás
de mim é mais preferível a encará-lo.
Setrákus Rá está atrás de um dos consoles de controle, me
observando, um sorriso em seu rosto. A primeira coisa que percebo é que
ele não é tão grande como era na batalha que lutamos contra ele na base
de Dulce. Ainda sim, Setrákus Rá é alto e ameaçador, seu largo corpo
vestido com um uniforme preto, cravejado e decorado com uma variedade
de medalhas Mogadorianas. Três pingentes lóricos, os que ele roubou dos
Gardes mortos, estão pendurados em volta de seu pescoço, brilhando.
— Eu vejo que você já pegou meu livro – ele diz, gesticulando para o
quadrado livro. Eu não havia percebido que ainda o segurava. — Embora
não da maneira que eu gostaria que segurasse. Felizmente, sua instrutora
não teve ferimentos graves...
De repente, em minhas mãos, o livro começa a brilhar em vermelho,
como os detritos que eu peguei em Dulce. Eu não sei exatamente como
estou fazendo isso, ou o que estou fazendo.
— Ah – Setrákus Rá diz, me observando e erguendo as sobrancelhas.
— Muito bom.
— Vai pro inferno! – eu grito, arremessando o livro brilhante contra
ele.
Antes mesmo de chegar perto da metade do caminho até ele,
Setrákus Rá levanta uma de suas mãos enormes e o livro para no meio do
caminho. Eu observo enquanto o brilho que eu criei desaparece.
— Agora, agora – ele se queixa. — Chega disso.
— O que você quer de mim? – eu berro, lágrimas de frustração
saindo dos meus olhos.
— Você já sabe isso – ele responde. — Eu te mostrei o que vai
acontecer. Assim como mostrei uma vez para Pittacus Lore.
Setrákus Rá aperta alguns botões no painel de controle, e a nave
começa a se mover. Gradualmente, a Terra, parecendo ao mesmo tempo,
longe e perto, como se eu pudesse agarrá-la com minhas mãos, começa a
se mover diante meus olhos. Não estamos indo em direção a ela, estamos
indo na direção oposta.
— Você está abordo da Anubis – Setrákus Rá diz, com um tom de
orgulho na sua grave voz. — A nave capitã da frota Mogadoriana.
Quando a nave completa sua manobra, eu suspiro. Eu pressiono
minhas mãos contra o vidro para me apoiar, meus joelhos estão fracos.
Do lado de fora, em órbita ao redor da Terra, está a tropa
Mogadoriana. Centenas de naves – muitas delas longas e prateadas, do
tamanho de aviões, como a Garde havia descrito elas das batalhas
anteriores. Mas junto a elas, há pelo menos vinte naves enormes, que fazem
as outras parecerem anãs – com iminentes canhões ameaçadores,
projetando suas armações em vários ângulos, tendo como objetivo o planeta
abaixo.
— Não – eu sussurro. — Isso não pode estar acontecendo.
Setrákus Rá anda em minha direção, e eu estou muito chocada com
a visão que mal consigo me mexer. Gentilmente, ele coloca sua mão em
meus ombros. Eu posso sentir o frio dos seus dedos pálidos.
— A hora finalmente chegou – ele diz, observando a frota comigo. —
A Grande Expansão em fim chegou à Terra. Vamos celebrar o progresso
Mogadoriano juntos, minha neta.