CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
MARIA DOS SANTOS DE SOUSA
SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS: OS SIGNIFICADOS ATRIBUÌDOS À VELHICE POR IDOSOS PARTICIPANTES DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS DO CRAS MONDUBIM
FORTALEZA-CE 2014
MARIA DOS SANTOS DE SOUSA
SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS: OS SIGNIFICADOS ATRIBUÌDOS À VELHICE POR IDOSOS PARTICIPANTES DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS DO CRAS MONDUBIM
Monografia submetida à aprovação do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense – FaC, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Ms. Fernanda Vieira Crisóstomo da Costa.
FORTALEZA-CE 2014
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
S725s Sousa, Maria dos Santos de
Serviço de convivência para idosos: os significados
atribuídos à velhice por idosos participantes do serviço de
convivência e fortalecimento de vínculos do CRAS Mondubim /
Maria dos Santos de Sousa. – Fortaleza; 2014.
64f. Orientador: Profª. Ms. Fernanda Vieira Crisóstomo da Costa.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.
1. Velhice - envelhecimento. 2.Vínculos sociais. 3. Grupo de
convivência. I. Costa, Fernanda Vieira Crisóstomo da. II. Título
CDU 364(813.1)
MARIA DOS SANTOS DE SOUSA
SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS: OS SIGNIFICADOS ATRIBUÌDOS À VELHICE POR IDOSOS PARTICIPANTES DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS DO CRAS MONDUBIM
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos (as) professores (as). Data de Aprovação: ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Ms. Fernanda Vieira Crisóstomo da Costa
(Orientadora)
Prof.ª Ms. Maria Elia dos Santos Vieira
Prof. Ms. Carlos Frederico Pedrosa da Costa
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por me conceder sabedoria para enfrentar as
dificuldades, renovando minha esperança quando pensava que já a tinha
perdido, por me dar discernimento para superar os obstáculos, só tenho a
agradecer por fazer parte da minha vida.
Ao meu esposo, Ismael dos Santos, por me apoiar e estar presente nessa
minha caminhada acadêmica e na construção deste trabalho. Sou grata
também a minha mãe e irmãos pela compreensão e carinho que me fortaleceu
para construir e concluir este trabalho.
À minha querida e estimada orientadora Fernanda Vieira que incentivou a
construção deste trabalho, pela sua dedicação e presteza, tornando esse
processo de construção de TCC sereno e instigante.
À banca examinadora pela disposição de estar participando desse processo
final, e com suas considerações contribuir para o aperfeiçoamento deste
trabalho.
Às minhas companheiras de estudo acadêmico, Alaíce Lemos, Jucilene
Magalhães, Luana Silva e Tamara Víctor. Por todos os momentos de angustia
que passamos juntas e pela amizade que se fortaleceu, pela ajuda mútua e o
apoio de todas para chegarmos nessa etapa final.
À SETRA por proporcionar a oportunidade aos alunos pesquisadores de
adentrar aos equipamentos para realizar a tão instigante pesquisa de campo.
A todos do CRAS Mondubim, por ter contribuído para a construção deste
trabalho, em especial aos idosos do grupo de convivência por me confiar suas
histórias de vida e pela calorosa recepção e despedida.
Ao corpo docente do curso de Serviço Social da FAC por fazer parte dessa
conquista acreditando na capacidade de fortalecimento da categoria, pela
dedicação aos ensinamentos e por nos tornar pesquisadores que se inicia com
a jornada da pesquisa para o TCC.
“Mesmo na velhice darão frutos, permanecerão viçosos e verdejantes.”
(Salmos 92:14)
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo principal compreender o significado que os
idosos participantes de um grupo de convivência atribuem à velhice. Trata-se
de um estudo de natura qualitativa. Além da pesquisa de campo utilizei a
pesquisa bibliográfica como técnica de coleta de dados. Outros instrumentos
metodológicos utilizados foram a entrevista semiestruturada, a observação
simples e o diário de campo. A pesquisa teve como objetivos específicos
avaliar junto aos idosos qual a compreensão dos mesmos sobre a fase da vida
que estão vivenciando; conhecer o perfil dos idosos participantes buscando
identificar os impactos que o grupo de convivência tem trazido para sua
compreensão sobre a vivência da velhice. Participaram deste estudo 07 idosos
voluntários do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos- SCFV
Idoso. Os dados provenientes da entrevista semiestruturada demonstraram que
a velhice pode ter significados diversos e a inserção do idoso em grupo de
convivência traz impactos considerados positivos para suas vidas.
Palavras – Chave: Velhice e envelhecimento. Vínculos sociais. Grupo de
convivência.
ABSTRACT
This study aimed to understand the meaning the elderly participants of a
support group attach to old age. This is a qualitative nature study . In the field
research used the literature as data collection technique . Other methodological
tools used were semi-structured interview , simple observation and the field
diary . The research was to assess specific objectives with the elderly which the
understanding of each other on the stage of life they are experiencing ; know
the profile of elderly participants seeking to identify the impacts that the living
group has brought to their understanding of the experience of old age. The
study included 07 elderly volunteers of Living Services and Strengthening
Vínculos- scFv Elderly. Data from semi-structured interviews showed that old
age can have different meanings and the inclusion of the elderly in social
groups brings positive impacts considered for their life.
KeyWords : Old age and aging. Social Bonds. Supportgroup .
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CF – Constituição Federal
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
PNI – Política Nacional do Idoso
PSB – Proteção Social Básica
PSE – Proteção Social Especializada
SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
SETRA – Secretaria Municipal de trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9
2 A VELHICE NA CONTEMPORANEIDADE .................................................. 12
2.1 Breve Contextualização do Fenômeno Velhice e Envelhecimento. ..... 12
2.2 Dimensão Sociocultural do Envelhecimento ......................................... 14
2.3 Políticas Públicas Voltadas para Idosos no Contexto Contemporâneo.
................................................................................................................... 18
3 PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................... 23
3.1 Histórico do CRAS Mondubim e o Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos para Idosos. .............................................. 23
3.2 Metodologia da Pesquisa ........................................................................ 25
3.3 Chegando ao Campo de Pesquisa .......................................................... 27
3.3.1 Descrição do Campo de Pesquisa .......................................................... 28
3.3.2 Familiarizando-se com os idosos do CRAS..............................................32
4 OS SIGNIFICADOS DA VELHICE PARA OS IDOSOS PARTICIPANTES DO
SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS .......... 35
4.1 Os Interlocutores da Pesquisa: uma Apresentação. ............................. 36
4.2 Uma Prévia da História de Vida dos Participantes da Pesquisa .......... 39
4.3 Compreensão e Análise dos Dados Obtidos. ........................................ 45
4.4 Tempo de Participação no Grupo de Convivência e os Impactos na
Significação na Velhice. .......................................................................... 47
4.5 Significados sobre Velhice, segundo Relatos dos Participantes. ....... 49
4.6 Relatos sobre Conhecimento do Estatuto do Idoso e as Críticas
Apresentadas pelos Idosos..................................................................... 52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 55
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 59
APÊNDICES .................................................................................................... 62
9
1 INTRODUÇÃO
O aumento populacional de idosos tem despertado a atenção de
estudiosos de diversas áreas do conhecimento, por ser um fenômeno mundial
que vem trazendo mudanças em âmbitos, como o social, cultural e econômico
(TORRES, 2008). Este panorama tem gerado questões a serem debatidas,
referentes à qualidade de vida e programas e aos projetos voltados para esse
público, instigando pesquisadores a compreender como os idosos estão
vivenciando a velhice e os significados atribuídos a ela na atualidade.
Este trabalho teve como objeto de estudo os idosos do Centro de
Referencia de Assistência Social – CRAS, situado no bairro Mondubim, e visou
conhecer como esses idosos enfrentam as dificuldades e limitações próprias da
idade, buscando compreender suas subjetividades, anseios e temores nessa
fase da vida. Principalmente, busquei compreender como eles se reconhecem
no processo e/ou gostam de ser reconhecidos, se como velhos, idosos, terceira
idade ou “melhor idade”. Especificamente, quis conhecer o perfil dos idosos
participantes do grupo de convivência; avaliar junto aos idosos os impactos que
o grupo de convivência tem trazido para sua compreensão sobre a vivência da
velhice.
O interesse por essa temática se deu por meio de minha experiência
como profissional de enfermagem que desenvolve atividades laborais no
âmbito da geriatria. Outro fator que contribuiu para minha aproximação com o
tema foi o envolvimento acadêmico com a disciplina de gerontologia, o qual me
incentivou a buscar conhecimentos para além do processo saúde e doença
com relação ao idoso, mas também compreender as subjetividades, sonhos e
tristezas do velho no contexto sociocultural ocidental. Por fim, outro fator
determinante foi minha aproximação enquanto Assistente Social em formação
como estagiária (de fevereiro a dezembro de 2013) no CRAS Mondubim, no
qual tive a oportunidade de estar acompanhando e desenvolvendo atividades e
debates com o grupo de idosos lá atendidos e conhecendo a Política de
Assistência Social e sua rede socioassistencial de proteção.
Autores como Simone de Beauvoir (1990); Mercadante (2002);
Mascaro (2004); Política Pública para idosos: Pereira (2000), Sposati (2007),
Torres (2008) e na categoria Fortalecimentos de vínculos sociais será
10
destacado Néri (2007), Bauman (2003), Elias (2001), Estatuto do idoso (2003)
me auxiliaram a refletir sobre a categoria Velhice e envelhecimento através de
suas leituras.
Foram utilizados como métodos de pesquisa técnicas de observação
simples e entrevistas semiestruturadas, as quais tiveram o intuito de permitir
aprofundamento nas questões relacionadas à velhice, além de gerar a
flexibilização e possibilidade de adequação do entrevistado. Ademais, tive
subsídio de pesquisa documental e bibliográfica.
A pesquisa de campo ocorreu no período de maio a junho de 2014,
com a frequência de visita ao campo de quatro dias por semana eram
dedicados ao grupo de idosos que se reúnem três dias na semana no período
da tarde e um dia que era voltado para minha familiarização com os
profissionais do equipamento). Foi critério utilizado para selecionar os idosos
participantes: a assiduidade dos idosos dividida em amostras das três etapas
de convivência em grupo comunitário (os que participavam há mais de cinco
anos, os que frequentavam há três anos e os que estavam há um ano) e seu
reflexo no significado à velhice.
O trabalho foi dividido em três partes. O primeiro capítulo aborda a
temática da velhice e envelhecimento na contemporaneidade, desenvolvendo
tópicos como o fenômeno mundial da velhice, as dimensões socioculturais que
envolvem o processo do envelhecimento e sua atribuição no significado da
velhice para o idoso, bem como as políticas públicas voltadas para esse
público. Utilizei, para tanto, o referencial teórico de Simone de Beauvoir (1990),
Mercadante (2002), Pereira (2000) e Mascaro (2004).
Estes autores abordam a temática da velhice e o processo do
envelhecimento buscando contemplar a dinâmica do contexto contemporâneo,
pois o idoso é referenciado pela sua capacidade física, motora e intelectual,
sendo comparado a todo instante com a pessoa jovem que usufrui de força
física, saúde e ocupação no mercado de trabalho. Discuti também as
possibilidades de acesso aos serviços e equipamentos no intuito de garantir o
direito da cidadania do idoso, tendo o reflexo na subjetividade de como estão
vivenciando a velhice.
No segundo capítulo, apresentei o percurso metodológico, iniciando
pelo histórico da instituição. Em seguida, apresentei a metodologia utilizada na
11
pesquisa e descrevi os métodos e as técnicas para o desenvolvimento do
trabalho empírico, além de apresentar o campo de incursão deste estudo e
seus interlocutores.
No terceiro capítulo, foi apresentado o perfil dos protagonistas
participantes do grupo de convivência, as falas dos participantes e os
significados diversos que se atribui à velhice através da reflexão subsidiada
pela bibliografia de Mascaro (2000), Simone de Beauvoir (1990) e Sposati
(2007), os quais me serviram de suporte para analisar e refletir acerca dos
dados obtidos em campo. Este suporte teórico contribuiu para analisar a
realidade de vida dos idosos para além da aparência buscando a essência de
cada indivíduo para compreender sua visão de mundo e os significados que
eles atribuem à velhice. Por fim, realizei, nesse capítulo, uma reflexão sobre o
significado do envelhecimento para os interlocutores da pesquisa, além de
ponderar sobre o papel da instituição na vida dos idosos participantes da
pesquisa.
12
2 A VELHICE NA CONTEMPORANEIDADE
“É preciso erguer o povo à altura da cultura e não rebaixar a cultura ao nível do povo”. Simone de Beauvoir.
Este capítulo se propõe a estudar diferentes abordagens atribuídas
ao processo de velhice e envelhecimento. São apresentadas as dimensões
demográficas e projeções para um futuro breve, também é exposta a dimensão
sociocultural que os idosos estão inseridos. Também elaboro uma reflexão
sobre os avanços e desafios das políticas públicas voltadas para os idosos.
2.1 Breve Contextualização do Fenômeno Velhice e Envelhecimento.
Existem vários critérios para definir o que caracteriza um ser como
idoso. O mais comum baseia-se no limite etário. Segundo a Política Nacional
do Idoso (PNI, 1994), o Estatuto do Idoso (2003) e a Organização Mundial de
Saúde (OMS, 2003), são considerados idosos os homens e mulheres com 60
anos ou mais. O crescimento dessa população, segundo Camarano (2004),
tem sido constatado e discutido por diversos autores e estudiosos de áreas,
sendo algumas delas a Sociologia, Psicologia, bem como o Serviço Social.
A velhice também conhecida como terceira idade e melhor idade é
uma etapa do ciclo natural da vida. Segundo Schneider (2008), ela se
caracteriza, além da idade cronológica (que se refere ao número de anos
decorridos desde o nascimento), pela idade biológica referida e pelas
modificações corporais e mentais. A pele fica mais fina, friável e menos
elástica, a visão e audição diminuem e aprendizagem e memória diminuem
naturalmente com a idade, por exemplo.
Especialistas referenciam três grupos de idosos no processo do
envelhecimento. Schneider (2008) explica que idosos jovens, de 65 a 74 anos,
costumam estar mais ativos, cheios de vida e vigor; já os idosos velhos, de 75
a 84 anos, se apresentam menos ativos e dispostos, e os mais velhos, de 85
anos ou mais, apresentam maior tendência para fraquezas e enfermidades e
limitação para algumas atividades da vida diária. O autor ressalta que o
13
envelhecimento é uma experiência individual e não algo determinado pela
idade cronológica.
O crescimento da população idosa, segundo Schneider (2008), vem
ocorrendo aceleradamente nos países em desenvolvimento, o que advém do
aumento da expectativa de vida e da redução das taxas de fecundidade. De
acordo com a Organização das Nações Unidas - ONU (2013), o mundo está
em transição demográfica, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais deve
quase triplicar entre 2007 e 2050 chegando a alcançar dois bilhões.
No Brasil, o número de idosos também está se expandindo. De
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2000), há
estimativas de que em 2025 o país terá cerca de 34 milhões de pessoas acima
de 60 anos, o que o levará a sexta maior população de idosos no mundo.
Atualmente, a expectativa de vida já supera os 75 anos. Ainda segundo o IBGE
(2010), no Sudeste a quantidade de idosos chega a 46,25% da população e no
Nordeste 26,50%. Se somarmos essas duas porcentagens, as duas regiões
terão um pouco mais de 70% dos idosos brasileiros, sendo 44,5% do sexo
masculino e 55,5% do sexo feminino.
Veras (2003) caracteriza essa predominância feminina no grupo
social dos idosos como “processo de feminização da velhice”. Para ele,
algumas hipóteses explicam a longevidade feminina, como a pouca exposição
a risco de acidentes de trabalho ou de trânsito, menores índices de homicídios
e suicídios, os quais são conjuntamente quatro vezes mais frequentes para
homens do que para mulheres nas áreas urbanas. Ademais, as doenças
cardiovasculares acometem mais os homens, assim como as mortes por
neoplasias, devido ao consumo de tabaco e álcool ser diferenciado entre
homens e mulheres. Ademais, a busca por serviços de saúde é
predominantemente feminina e acentua a detecção precoce de doenças
crônicas, contribuindo para um prognóstico melhor e aumentando a expectativa
de vida das mulheres.
Além dos avanços da medicina e da ampliação do acesso aos
serviços de saúde e saneamento básico, Almeida (2003) destaca a
contribuição da alteração dos hábitos alimentares e de higiene, do mesmo
modo a prática de atividade física como fatores que contribuem decisivamente
para a longevidade crescente.
14
Outro destaque no contexto da velhice se dá,segundo Veras (2003),
pela tendência das idosas viverem sozinhas quando viúvas. Nos Estados
Unidos, 80% das mulheres viúvas moram sozinhas; na Suíça 40% e na
Alemanha, 37% de idosas contra 6% comparado aos homens viúvos que
moram sozinhos. Nos países periféricos, o número de idosas que moram
sozinhas é menor que nos países desenvolvidos, mas supera o quantitativo
entre os homens. O autor ressalta que quanto mais filhos a mulher tiver, as
chances de ela viver com um deles na terceira idade são maiores.
No Brasil, a predominância de idosos do sexo feminino, segundo
Almeida (2003), concentra-se nas regiões Sul e Sudeste. Segundo o estudioso,
apesar de apresentarem um baixo nível de escolaridade e encontrar-se fora do
mercado formal de trabalho, essas idosas, em sua maioria, sustentam e
chefiam suas famílias. Ainda segundo Almeida (2003), essa realidade está
inserida no contexto socioeconômico do desemprego estrutural e dos baixos
salários, em que as famílias tendem a se agrupar, cabendo aos idosos assumir
a responsabilidade de chefiar a família.
Essa realidade também foi percebida em meu campo de pesquisa
com os idosos do CRAS Mondubim, no qual pude observar relatos de idosas
que afirmaram que seus filhos, mesmo após o casamento, não saem de casa e
continuam a morar com elas, que assumem a responsabilidade de chefiar e
sustentar essa família. Sendo que a situação socioeconômica desses idosos é
de um a dois salários mínimos e aqueles que dependem do benefício da
assistência social de um salário mínimo sem direito a décimo terceiro. E que
todos os entrevistados moram com filhos e netos dentro de sua residência.
2.2 Dimensão Sociocultural do Envelhecimento
Cada sociedade desenvolve suas regras e adaptações no
acompanhamento das mudanças no processo histórico, e a velhice, que é
inerente ao homem, tem seu significado específico a partir do contexto
sociocultural na qual está inserida. Assim, cada meio social atribui a essa
categoria valores que irão definir seu papel e espaço no meio interacional.
Em algumas sociedades, como a oriental, a exemplo da China, o
idoso é considerado ancião da sabedoria e, segundo Beauvoir (1990), o
15
conhecimento adquirido ao longo da vida é passado de geração a geração, e
todos devem obediência aos mais velhos. A cultura estimulada nesse país é de
valorização da pessoa idosa pelo seu teor de conhecimento, e não pelo seu
grau de força produtiva.
Segundo Schneider (2008), a velhice começou a ser tratada como
etapa da vida caracterizada pela decadência física e ausência de papéis
sociais, de acordo com o autor já citado, a força produtiva voltada ao mercado
de trabalho e ao consumo, leva o novo a ganhar destaque, e o velho é
colocado como ultrapassado.
Um exemplo que o autor traz é a lógica do celular, a qual em poucos
anos eles modificaram várias vezes, para as pessoas se sentirem “antenadas,
jovens e bem sucedidas” (SCHNEIDER, 2008). E o medo que surge com a
transformação da juventude para a velhice assemelha-se, à luz desse autor,
com o medo de ser exposto como ultrapassado, ou sentir-se ridicularizado ao
usar um aparelho de alguns anos atrás.
A partir dessas relações voltadas à valorização do novo, Bauman
(2003) traz a reflexão sobre essa temática quando aborda que a lógica
societária é voltada para o consumo, e essa linha de pensamento permeia nas
relações pessoais, causando instabilidade entre elas, de modo que as pessoas
estão dando significado ao consumo como mérito, o que reflete nas atitudes de
colocar o velho como desvalorizado.
Outro aspecto relevante, destacado na visão de Shcneider (2008), é
o processo da aposentadoria, em que há um rompimento significante das
relações sociais, a diminuição da renda e a falta de atividades alternativas fora
do ambiente de trabalho, o que leva a pessoa lembrar-se da chegada da
velhice.
Segundo Alvarenga (2008, p. 797) “o sujeito que se aposenta passa
por um empobrecimento de suas redes sociais e de atividades diárias”. E que a
reação da pessoa frente à aposentadoria está ligada à sua história de vida e
suas relações sociais. É nesse momento que suas atividades diárias de
trabalho cessam, causando o afastamento do ciclo de amizade, e essa pessoa
terá que reorganizar seu tempo para desfrutar de novas experiências no
convívio familiar, sendo moldado, mediante essas experiências, significados
referentes à velhice.
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Beauvoir (1990) trata da dificuldade do velho se reconhecer como
tal, pois a desvalorização da imagem do velho está associada ao ultrapassado
e que a sociedade designa o papel e o lugar do idoso. Shcneider (2008) aponta
que ainda é comum à maioria das pessoas velhas resistirem a ser chamadas
de velhos, devido ao contexto sociocultural em que estão inseridas, preferindo
a palavra idoso, devido à aceitabilidade social ser menos impactante quanto à
referência de velho.
Mercadante (2006) também trabalha essa ótica das resistências dos
idosos em se reconhecerem nesse processo devido a uma sociedade na qual o
jovem é culturalmente mais valorizado, em virtude de sua condição de estar
economicamente ativo e às qualidades de força, memória, beleza, potência e
produtividade atribuídas aos jovens, em oposição aos velhos.
E esse receio do envelhecimento biológico, de acordo com Mascaro
(2004), está associado às perdas e limitações naturais desse processo da
longevidade como também a aceitação da proximidade com a morte, gerando
assim sentimentos que causam angústia e desperta o desejo de adiar a
velhice. Além disso, segundo a autora, o mundo atual nunca cuidou tanto do
corpo e da aparência física como nos dias atuais a fim de permanecer ou
passar uma imagem de pessoa mais jovem que a idade representa.
Diante do contexto da valorização do novo e da dificuldade de
aceitação do velho, Mascaro (2004) diz que a palavra “velho” nos leva a pensar
em algo antigo, desgastado e que por esse motivo foi substituído por idoso, e a
palavra velhice, por terceira idade, no intuito de amenizar o peso sociocultural
sobre essas expressões, pois os mais jovens tendem a manter o afastamento e
o isolamento das pessoas idosas em razão da questão cultural de aceitação e
convivência com os mais velhos.
O processo das fragilizações e esfriamento das relações sociais leva
os idosos ao afastamento do círculo de amizades e das pessoas a quem eram
afeiçoados. Segundo Elias (2001), esse afastamento que vai ocorrendo entre
os seres humanos em geral e causa o isolamento tácito dos velhos com o
restante das pessoas. Beauvoir (1990) ressalta que o idoso nesse processo de
rejeição é condenado à solidão, e uma das maneiras de resgatá-lo é passar a
ver os velhos como pessoas, e não como seres condenados ao sofrimento e à
morte.
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Elias (2001) associa os velhos da contemporaneidade como
moribundos que as pessoas tendem a isolar e remover da vida social pública. E
os anos de declínio da vida do idoso se tornam “penosos” não só para os que
sofrem, mas também para os que são deixados sozinhos devido ao contexto
social e familiar a que estão expostos, que o velho para a sociedade não serve
como força produtiva; e para a família o idoso pode atrapalhar na dinâmica
desta de não ter um membro da família ou mesmo um(a) cuidador(a) para fazer
companhia e mesmo auxiliar esse idoso nos seus afazeres, como também nos
cuidados pessoais.
Na visão de Elias (2001), os velhos podem até tornar-se menos
sociáveis e seus sentimentos menos calorosos, mas não se extingue a sua
necessidade em relação ao outro. Entretanto, o velho e a velhice remetem à
finitude e à incapacidade de dar apoio, afeição nos momentos que os velhos
mais precisam, quando mais dependem de outros homens, se dá pelo fato de
verem na morte do outro a sua própria morte.
O autor já citado reforça que o problema social das relações com os
mais velhos está exatamente no sentimento constrangedor, medo e embaraços
em relação a tudo que lembre a finitude da vida biológica. E os seres humanos
tendem a afastar os velhos, separar os que estão envelhecendo das outras
pessoas. Além disso, é evitado entre as famílias falar sobre a finitude da vida,
pois os adultos parecem não reconhecer o processo natural vital. O autor
afirma que as crianças devem ouvir desde cedo sobre o assunto e não serem
privadas das relações de amizade com pessoas que se encontram próximas do
fim da vida para sentirem as emoções provocadas pela perda causada pela
morte. No intuito de superar tal ocultamento da morte partindo de novas
gerações.
O isolamento e abandono dos idosos em nossa sociedade não
podem ser explicados unicamente a partir da ideia de que os idosos são
improdutivos economicamente. Elias (2001) instiga a se considerar os aspectos
emocionais que envolvem as pessoas a isolar os velhos. É preciso
compreender o que esse mesmo autor chama de autoimagem, o modo como
as pessoas se veem, percebem-se em uma sociedade industrializada e urbana
que não inclui a ideia do envelhecimento e da morte.
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A questão cultural da valorização do novo e o desprezo pelo o que é
velho refletem nas relações sociais, e os idosos tornaram-se vítimas desse
sistema produtivo econômico que internaliza na subjetividade humana a
necessidade de estar sempre consumindo bens novos e manter sua aparência
física o mais jovial possível para passar a imagem de pessoa saudável, forte e
cheio de vida, pois o contrário é associado aos velhos que estão perto da
finitude da vida.
2.3 Políticas Públicas Voltadas para Idosos no Contexto Contemporâneo.
O estudo sobre o envelhecimento somente entrou na agenda de
pesquisa, segundo Camarano (2002), em 1988, durante o VI Encontro Nacional
de Estudos Populacionais, e essa temática provocou preocupações em
diversos segmentos profissionais nos últimos anos, levando à criação de
programas e projetos destinados aos idosos devido ao aumento da visibilidade
que floresceu no Brasil.
Com a conquista da Constituição Federal cidadã brasileira (CF,
1988), a seguridade social que envolve previdência social, assistência social e
a saúde, contempladas na lei ganharam espaço para integrar a cidadania da
população. E a partir de então continuaram os avanços para a melhoria da
assistência, sendo assim criada, em 1993, a Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), Lei nº 8.742/93, que garante como direito o acesso a serviços,
programas e projetos socioassistenciais.
O Benefício de Prestação Continuada (BPC) está incluído na LOAS
como direito de transferência de renda de um salário mínimo mensal para
idosos com 65 anos ou mais e deficientes, comprovadamente carentes para
prover sua subsistência. Essa iniciativa vem como estratégia de minimizar as
desigualdades e necessidades particulares dos idosos brasileiros frente às
limitações de cada etapa da velhice.
Outro avanço foi a elaboração da Política Nacional do Idoso (PNI),
Lei nº 8.842/94, essa política reconhece e torna mais forte os direitos da
pessoa idosa e define princípios e diretrizes para promover a autonomia,
integração e participação dentro da sociedade, engajando a intersetorialidade
do poder público e suas repartições em conjunto com a sociedade civil.
19
Essa lei trata da proteção social (saúde, moradia, transporte e renda
mínima) e inclusão social que se trata da inserção social dos idosos pela
participação em atividades educativas, socioculturais, organizativas,
desportivas e ação comunitária, além de abordar o trabalho e renda. A
Organização das Nações Unidas (ONU) 2013 ressalta que para o
desenvolvimento do envelhecimento ativo por meio das políticas sociais
depende de uma diversidade de determinantes que rodeiam as pessoas,
famílias e sociedades, como saúde física, mental, material e social para o
aumento da qualidade de vida.
Desse modo, o Estatuto do Idoso, aprovado em 1° de outubro de
2003 pela Lei Federal nº 10.741, assegura direitos fundamentais, como direito
à vida, à liberdade, ao respeito e à dignidade, alimentação, saúde, educação,
lazer, cultura, esporte, previdência social, assistência social e habitação,
trazendo também medidas de proteção que são políticas de atendimento ao
idoso, acesso à justiça e punições de crimes cometidos contra o idoso.
Seguido os direitos colocados pela PNI, lei aprovada em 04 de
janeiro de 1994, a Lei nº 8.842, que instituiu Política Nacional do Idoso (PNI),
sendo a primeira lei brasileira a assegurar os direitos dos idosos destaca os
direito já citados, acrescida do direito à cidadania,do respeito à diversidade
etária, da não criminação e direito à informação sobre o envelhecimento.
Segundo Bruno (2003), mesmo com o aparato de legislações brasileiras
voltadas aos idosos, ainda há um grande distanciamento da realidade destes,
pois o contexto sociocultural no qual estão inseridos ainda é um permanente
desafio a ser enfrentado.
Os valores que uma sociedade tem da velhice, na visão de Bruno
(2003), é que vão direcionar as ações que possibilitam ou não a proteção e a
inclusão social de seus idosos, como também o estabelecimento de relações
entre os vários grupos etários. O que leva à reflexão dos avanços
conquistados, e os desafios para criação de estratégias que superem as
dificuldades decorrentes do aumento da população idosa e garantam o acesso
a direitos sociais.
Na visão de Pereira (2005), o surgimento de novas necessidades
decorrentes do fenômeno do envelhecimento está para além da dimensão
biológica, psicológica, econômica e social, mas também para a cidadania das
20
pessoas idosas. Ainda segundo a autora, as políticas e serviços, as instituições
e seus agentes de proteção social convencional não mais respondem
adequadamente às novas necessidades, portanto carece de revisão dos
compromissos com o bem-estar dessa população. Torres (2008) considera que
construir estratégias para preservar a qualidade de vida e a saúde desses
idosos é um dos grandes desafios enfrentados cotidianamente pelos
profissionais da área do envelhecimento, como também pelos gestores das
políticas públicas.
Mercadante (2006) ressalta que o envelhecimento populacional é o
resultado do sucesso obtido pelas políticas econômicas e sociais, que geraram
melhorias nas condições de vida, especialmente em relação à saúde no âmbito
da tecnologia para diagnósticos e tratamentos, medicamentos mais acessíveis,
ampliação no acesso à assistência médica, como também o acesso a
informações e orientações no âmbito da saúde, o acesso ao esporte, à cultura
e ao lazer e outros.
Contudo, o fenômeno do envelhecimento traz à tona necessidades
que vão além da dimensão biológica. De acordo com Pereira (2000), as
dimensões psicológica, econômica, social e cultural necessitam de
planejamentos e definições de políticas mais condizentes com a realidade, pois
as políticas públicas se tornam limitadas frente ao aumento populacional
contínuo de idosos, tornando-se necessárias a criação e a expansão de
programas e projetos que deem respostas às demandas desse público. Como
cita Mascaro (2004), diante do aumento populacional o grande desafio é
garantir o acesso dos idosos principalmente na área da saúde e previdência
social, pois há uma grande demanda e poucos recursos.
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), na perspectiva de
tentar dar respostas às demandas sociais colocadas por vários segmentos da
sociedade, engajado a Política Nacional de Assistência Social (PNAS),
desenvolveu eixos voltados para a Proteção Social Básica (PSB) e Proteção
Social Especial (PSE), de maneira que a Proteção Social Básica é
desenvolvida pelos equipamentos denominados Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS), especial que atende casos de violação de direitos
sociais.
21
Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(2009), está inserido na Proteção Social Básica o Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos para idosos, o qual garante o direito à convivência
comunitária e familiar, bem como fortalecer esses vínculos mediante encontros,
debates, oficinas e orientações sobre direitos sociais.
De acordo com Berzins1 (2003), as políticas e programas oficiais têm
o desafio de contemplar as necessidades dos idosos para promover uma
melhor qualidade de vida.
O desafio é e será incluir na agenda de desenvolvimento socioeconômico dos países políticas para promover o envelhecimento ativo, possibilitando qualidade aos anos adicionados à vida. Criar condições para fortalecer as políticas e programas para promoção de uma sociedade inclusiva e coesa para todas as idades (BERZINS. 2003, p. 20).
Segundo essa mesma autora, o envelhecimento não é problema, e,
sim, vitória, o maior problema será se os países não elaborarem e executarem
políticas e programas que promovam o envelhecimento digno e sustentável
para um futuro breve atuando em um coletivo, mas sem esquecer-se de
reconhecer a importância das experiências individuais, e que os idosos possam
ser cada vez mais incluídos tanto na agenda socioeconômica como na
dinâmica sociocultural, para amenizar o estranhamento e distanciamento da
população jovem com os mais velhos.
Trabalhando na perspectiva também do fortalecimento dos laços
sociais iniciando pelos mais próximos que convivem com idosos, até expandir
para o convívio comunitário e societário e que as diferenças socioeconômica e
sociocultural sejam superadas - e todos os indivíduos tanto jovens como idosos
possam ter respostas mais assertivas quanto ao futuro que se aproxima.
Enquanto que a convivência familiar, segundo o MDS (2012), é o
espaço para afetividade e fortalecimento dos laços entre os membros que a
compõem, a convivência social e comunitária abrange as relações mais amplas
como os de amigos, com a vizinhança e até mesmo com o espaço territorial em
que vive, ou seja, a própria comunidade. A partir da participação que o idoso
1Assistente Social, mestre em gerontologia (PUC-SP), Doutora em Saúde Pública pela
Universidade de São Paulo. Assistente Técnica da área temática Saúde do Idoso da Prefeitura Municipal de São Paulo (2003).
22
desempenha nesses espaços pode influenciar na sua subjetividade, na
concepção de velhice e na significação que ele dará a fase da vida também
conhecida como terceira idade.
O suporte social na vida do idoso, de acordo com Neri (2005),
incluindo o círculo amplo de amigos, os vizinhos, o apoio da comunidade
possibilita à pessoa que está na fase da velhice enfrentar, sem muitos
prejuízos, as situações adversas, como doenças ou perda de parentes,
trazendo a reflexão sobre a relevância da inserção social do idoso para o
fortalecimento da autoestima e autoconfiança.
Apesar dos avanços nas políticas públicas voltadas aos idosos,
como a Política Nacional do Idoso, Estatuto do Idoso, direitos do idoso na
Constituição Federal, os conselhos representativos para proteção e prevenção
das violações dos direitos como também garantir a cidadania, em seu conceito
mais amplo, ainda há desafios a serem enfrentados e vencidos como acesso
aos bens e serviços com qualidade e ampliação das políticas públicas já
existentes e a criação de outras para atender todos os idosos em suas
diferentes necessidades, promovendo a educação para a cidadania em
qualquer etapa da vida do ser humano, no intuito de refazer o cenário social
com a prática de atitudes. Como já afirmava Bruno (2003), faz-se necessário
que o cultivo de uma cultura da tolerância e do respeito às diferenças seja
fundamental e que o ser humano seja prioridade absoluta, independente de
sua faixa etária, na elaboração e efetivação das políticas públicas buscando
garantir a inclusão social de todos.
Essa realidade da intolerância e desrespeito com o diferente ainda é
percebível quando dialogando com idosos do CRAS que relatam se sentirem
rejeitados, como se sua presença incomodasse em alguns ambientes como
nos caixas dos supermercados devido à prioridade em qualquer fila, nos ônibus
coletivo devido os assentos preferenciais. E para superar essa questão é
necessário trabalhar na conjuntura do investimento para área da assistência
social, cultural, educação escolar de qualidade no intuito dar novos horizontes
na cultura dos brasileiros, pois através do acesso e aquisição do conhecimento
a construção de uma sociedade da tolerância e que luta pelos direitos de
cidadãos pode ser possível.
23
3 PERCURSO METODOLÓGICO
“Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia.”
2 Coríntios 4:16
Neste capítulo, discorro sobre o histórico do equipamento CRAS
Mondubim o Serviço de Convivência e apresento as ferramentas
metodológicas utilizadas na pesquisa, além de apresentar o campo de
pesquisa e minha inserção.
3.1 Histórico do CRAS Mondubim e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos.
O Centro de Referência de Assistência Social do bairro Mondubim
foi fundado no ano de 2005 na conjuntura da Lei Orgânica de Assistência
Social – LOAS a Política Nacional de Assistência Social- PNAS e Sistema
Único de Assistência Social- SUAS. O CRAS, segundo o MDS (2010), é uma
unidade pública estatal localizada nas áreas de vulnerabilidade social, dentre
elas, segundo a Norma Operacional Básica do SUAS, questões relacionadas à
precariedade de infraestrutura, presença de crianças e adolescentes, idosos e
pessoas com deficiência em famílias com renda até meio salário mínimo,
responsáveis analfabetos ou com baixa escolaridade e mulheres chefes de
família sem cônjuge, famílias com responsáveis desempregados, famílias em
situação de trabalho infantil ou com presença de criança e adolescentes em
idade escolar fora da escola.
O CRAS desempenha o trabalho social por meio do serviço de
Proteção e Atendimento Integral a Famílias (PAIF) é um trabalho de caráter
continuado que visa à prevenção das violações dos direitos e trabalha no
fortalecimento dos vínculos familiares como também promove o acesso e
usufruto aos bens e serviços através de encaminhamentos à rede de proteção
socioassistencial.
24
O CRAS Mondubim está localizado na Rua Waldir Diogo, nº 840,
bairro Mondubim. Horário de funcionamento ao público de segunda a quinta–
feira, de 08h às 17h, e sexta-feira para organização interna. Está inserido na
Proteção Social Básica e vinculado a uma secretaria administrativa atualmente
reconhecida como Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (SETRA), a qual coordena as políticas de trabalho,
assistência social, segurança alimentar e nutricional, tendo como uns dos
objetivos a redução dos riscos sociais e ampliação de inclusão socioprodutiva,
a qual também desenvolve a gestão de 24 CRAS2e 6 unidades de proteção
Especial3. O acesso é por procura espontânea, busca ativa, encaminhamentos
da rede socioassistencial e encaminhamentos das demais políticas públicas.
No CRAS Mondubim, é ofertado, além do serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família (PAIF), também o Cadastro Único que é um
instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda. Esses
dados são repassados de forma informatizada para o Governo Federal,
especificamente para a coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS), para que possam ser elaboradas e implementadas
políticas públicas específicas para redução das vulnerabilidades sociais.
No CRAS Mondubim, também é desenvolvido o Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos que, segundo a Tipificação Nacional
de Serviços Socioassistenciais (2009). É o serviço realizado em grupos de
acordo com seu ciclo de vida, a fim de completar o trabalho social com famílias
e de ampliar trocas culturais e de vivências como também fortalecer vínculos
familiares e incentivar a socialização e a convivência comunitária.
Assim, os grupos são organizados da seguinte maneira: o de criança
com idade de 6 a 10 anos e de 11 a 14 anos, o de adolescentes com idades de
15 a 17 anos e o de idosos com 60 anos ou mais. Os encontros acontecem três
2 CRAS Barra do Ceará, CRAS Pirambu, CRAS Lagamar, CRAS Mucuripe, CRAS Praia do Futuro, CRAS Serviluz, CRAS Bela Vista, CRAS Quintino Cunha, CRAS Couto Fernandes, CRAS Serrinha, CRAS Vila União, CRAS Aracapé, CRAS Bom Jardim, CRAS Canindezinho, CRAS Conj. Esperança, CRAS Genibaú, CRAS Granja Portugal, CRAS Mondubim, CRAS Castelão, CRAS Dendê, CRAS Jardim das Oliveiras, CRAS João Paulo II, CRAS Palmeiras, CRAS Messejana. 3 4 Centros de Referência Especializados da Assistência Social – CREAS. 1 Centro de atendimento à população de rua, 1 espaço de acolhimento noturno para população em situação de rua e 1 casa de passagem.
25
vezes por semana e trabalham temáticas como saúde, meio ambiente, cultura,
esporte, lazer, ludicidade e brincadeiras.
O Serviço de Convivência para Idosos no CRAS Mondubim é a
oportunidade que muitos idosos encontram para se socializar e atribuir
significados à sua velhice a partir da convivência com velhos amigos e
conquistar novas amizades, o que pode proporcionar um sentimento de
extensão da família, sentindo-se autores de suas histórias e sujeitos de valor
na sua comunidade.
3.2 Metodologia da Pesquisa
Segundo Demo (2009), metodologia é uma disciplina instrumental a
serviço da pesquisa que visa conhecer caminhos do processo científico, bem
como problematizar criticamente, indagando os limites da ciência, tanto para a
capacidade de conhecer, como para a capacidade de intervir na realidade, pois
acredita que tudo no âmbito da ciência é discutível, sobretudo nas ciências
sociais.
Uma vez que o objetivo desta pesquisa é saber os significados que
os idosos do CRAS Mondubim atribuem à velhice (uma dimensão subjetiva), os
procedimentos metodológicos utilizados foram essencialmente marcados por
uma abordagem qualitativa. Sobre esse método, Bastos (2000) diz que ele é
utilizado em público menor e permite um maior aprofundamento e uma maior
abrangência na compreensão das relações interpessoais. A maior contribuição
dessa abordagem se dá na compreensão da subjetividade de cada indivíduo,
levando em consideração que os sentimentos e suas expressões são de valor
imensurável.
Luiz de Oliveira (2002), por sua vez, afirma que a abordagem
qualitativa possui a facilidade de poder descrever a complexidade dos
processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, e permite a
interpretação das particularidades dos componentes ou atitudes dos indivíduos.
Assim é possível compreender a dinâmica da realidade vivida pelo grupo em
suas relações pessoais devido a ser um universo pequeno que propicia como
cada indivíduo vivencia sua subjetividade. Uma vez que a subjetividade é algo
imensurável e a abordagem qualitativa vai dar ao pesquisador condições para
26
compreensão e análise dos significados que o idoso atribui à velhice devido o
contexto o qual está inserido tendo que considerar sua história de vida,
condições de acesso a bens e serviços como também sua relação familiar para
começar conhecer um pouco esse idoso na aproximação com o diálogo que se
torna fundamental no processo do conhecimento.
No segundo momento da pesquisa, foi desenvolvido o trabalho de
campo, assim o pesquisador põe-se em contato direto com o objeto de estudo
e coleta os dados no local. Partindo da realidade dos sujeitos presentes no
campo, foi utilizada como instrumento a entrevista semiestruturada, que
possibilita maior flexibilização nas perguntas, levando em consideração que
não tem um caráter de interrogatório, mas sim de uma conversa que flui
naturalmente guiada por um roteiro. Para Bastos (2000), na pesquisa de campo
podem ser utilizados instrumentos como questionários, entrevistas e
observação.
Esse tipo de entrevista favoreceu para que o roteiro não fosse um
questionário fechado, pois correria o risco de perder a essência das pessoas
em sua resposta, pois as emoções afloradas, o tom e as tremeluzas da voz
(hora mais agressiva e hora mais calma), as expressões do olhar e o
movimento do corpo ao se expressar são riquezas de detalhes que o
pesquisador social não pode deixar de dar o valor devido, contando também
que o pesquisador entra em contato com as emoções do participante da
pesquisa, causando algum impacto em suas emoções também, assim como
ser humano que se dispõe a ouvir e sentir as angústias e alegrias do próximo.
Segundo Gil (2002), a pesquisa de campo dá a oportunidade de o
pesquisador observar as atividades do grupo estudado e obter informações
sobre o objeto partindo da realidade dos membros envolvidos. Assim o
pesquisador deve estar atento às atitudes, ações, valores e visão de mundo
dos participantes para dar significado ao objeto estudado.
Outra ferramenta utilizada foi o subsídio da pesquisa bibliográfica.
Para Bastos (2000), este método visa à análise de material já publicado em
forma de livros, revistas, publicações avulsas, imprensa escrita e até
disponibilizada na internet. Esse apoio da pesquisa bibliográfica permaneceu
durante todo o processo da elaboração da pesquisa, sendo priorizadas as
27
categorias Velhice e envelhecimento, Assistência Social e Fortalecimento de
vínculos sociais.
O universo de idosos participantes do grupo foi de 20 membros.
Entretanto, foi necessário aplicar critérios para selecionar uma amostra de
menor tamanho. Assim, foi estabelecida como método de escolha para a
seleção dos interlocutores a assiduidade dos participantes. Logo, foram
selecionados os que participavam do grupo desde sua fundação: os que
frequentavam a instituição há 5 anos e os que participavam há 3 anos e
quisessem de livre espontânea vontade participar da pesquisa.
Para obter as informações necessárias sobre assiduidade e tempo
de participação no grupo, foi pesquisada a lista de frequência dos últimos três
meses e a ficha de inscrição para conseguir os possíveis voluntários da
pesquisa. Depois de selecionados os nomes, foi feito o convite individualmente,
além de ter sido explicado sobre a natureza da pesquisa, só então o convidado
aceitava ou não dar sua contribuição para a pesquisa.
Desse modo, concluo os recursos metodológicos que serviram para
guiar e trilhar o melhor caminho para a pesquisa e para a pesquisadora no
intuito de impetrar um trabalho de qualidade na tentativa de passar todos os
momentos dessa caminhada. E no próximo tópico apresentarei minha chegada
ao campo e os voluntários da pesquisa.
3.3 Chegando ao Campo de Pesquisa
Quando ainda no estágio obrigatório, no período de fevereiro a
dezembro de 2013, interessei-me por estudar sobre a terceira idade devido ao
grupo de idosos do CRAS que chamou minha atenção por serem tão alegres e
espontâneos, quando dançavam estilo forró pé de serra, o qual arrastava todos
para o meio do salão. Daí vi a possibilidade de voltar ao equipamento como
pesquisadora.
No mês de fevereiro de 2014, iniciei as idas, depois do horário das
aulas, por volta de 11:30 da manhã, até a Secretaria Municipal de Trabalho,
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (SETRA), chegando à instituição
me deparei com as portas fechadas e um aviso em papel sulfite colado na
porta dizendo que a secretaria havia mudado de endereço, então anotei o novo
28
endereço e voltei à parada de ônibus, para pegar o transporte até o novo
endereço.
Chegando ao local, percebi a nova fachada da secretaria procurei a
entrada da recepção, pois parecia um prédio sem portas, e a que havia estava
fechada. O sol já estava tão quente que, quando eu olhava para cima nas
paredes, buscando alguma orientação de entrada, a luz refletia nos meus
olhos, deixando-os sombreados. Perguntei a um senhor que estava encostado
em um dos carros naquele local, e o mesmo apontou em que local era a
entrada, agradeci e segui o caminho indicado entrando por um portão estreito.
Seguindo em frente e dobrando à direita, enfim cheguei à recepção.
Era um espaço pequeno, com um balcão em modelo quadrado e algumas
cadeiras acolchoadas encostadas na parede, e havia uma janela de vidro ao
lado do balcão com o nome protocolo. Perguntei informações sobre a
autorização para ir ao CRAS, para realizar pesquisa de campo para
monografia, fui orientada sobre documentação e procedimentos.
Ainda no mês de fevereiro de 2014, pedi o ofício na faculdade
pedindo autorização para realizar a pesquisa no CRAS, mas ainda não havia
concluído as correções apontadas pela orientadora para finalizar o projeto. E
no mês de maio conclui as alterações e no final do mesmo mês já estava com
o ofício e o projeto para ser entregues na SETRA .
No dia 28 do mês de maio, saí da faculdade após a aula e segui até
a SETRA. Lá dei entrada no protocolo e entreguei as documentações exigidas.
Agradeci e segui para casa aguardando o retorno da autorização que veio no
dia 3 de junho de 2014. A corrida contra o tempo me angustiava, visto que o
semestre se encerraria naquele mês devido ao grande evento da copa do
mundo de 20014 que alguns jogos seriam em Fortaleza.
Apesar do esforço, não foi possível concluir a monografia naquele
semestre, mas não parei com a pesquisa. Ainda no mês de julho, nas férias,
estava fazendo as análises das entrevistas e, no mês de agosto de 2014. foram
retomadas as orientações e as aulas de TCC na faculdade. Assim, foi um dos
meus desafios para realizar essa pesquisa.
3.3.1 Descrição do Campo de Pesquisa
29
Em junho, no final do mês, fui ao CRAS no período da tarde para me
apresentar à coordenadora do equipamento, sentia-me um pouco nervosa e
insegura para iniciar essa nova missão de pesquisadora, e não mais estagiária.
Cheguei à recepção, apresentei-me e pedi para falar com a coordenadora,
percebi que ela era nova funcionária no equipamento, ela pediu para eu segui-
la e fomos até a sala do Serviço Social.
Chegando lá, a porta estava encostada, e a recepcionista bateu na
porta, uma voz lá de dentro disse para eu entrar, a moça apoiou uma mão no
trinco da porta e a outra mão um pouco abaixo e encostou o quadril de lado
apoiando a porta e a empurrou, percebi que a porta estava um pouco
emperrada devido ao estalo que fez ao abrir. Entrei na sala e me apresentei à
nova coordenadora, e ela também se apresentou e pegou na minha mão fria
que não escondia meu nervosismo.
Na sala, havia um ar condicionado que deixava minhas mãos e pés
mais frios do que já estavam, uma janela de vidro no fundo da sala e sua
cortina de cor esverdeada dava um toque de beleza no ambiente, combinando
com a cor clara das paredes e dos birôs cor cinza, os dois armários de arquivo
e uma estante de madeira no fundo da sala também cor cinza e cadeiras
acolchoadas de cor preta, e havia duas cadeiras de plástico cor branca à frente
de um dos birôs próximos à porta. Ela me contou sobre a mudança dos
funcionários, pois a prefeitura estava lotando os aprovados na seleção pública
em todos os equipamentos. Deixou-me à vontade para eu ir me apresentar à
educadora social e aos outros profissionais como também ao grupo de idosos.
Saí da sala do serviço social, segui até o salão no qual estavam a
educadora social, o arte-educador e a pedagoga, ao entrar no salão pelo
portão lateral estreito que dá acesso ao espaço das salas de atendimento, vi
que faltavam algumas lâmpadas e as que existiam estavam com pouca
claridade, tornando o ambiente um pouco escuro, quase cinzento, e uma
sensação de abafado naquele espaço, pois não havia ventilação natural
mesmo com um portão na entrada da frente e outro na outra lateral que dá
acesso ao espaço dos cadastradores e também para a cozinha. Daí colocaram
um ventilador tripé grande, preto, que joga um vento forte, para amenizar o
calor daquele ambiente. Olhei os cartazes que decoravam o salão com
temática de festa junina, era uma obra de arte.
30
Apresentei-me para a educadora social e pedi para que ela me
ajudasse a identificar quais dos idosos eram assíduos e qual o tempo de
permanência deles no grupo em anos, daí fomos até uma sala. Essa era mais
ampla, com uma janela de vidro e suas cortinas esverdeadas e um ar-
condicionado logo abaixo da janela, e as paredes eram de cor clara – o que
combinava com as duas estantes cor cinza que guardavam uma pilha de
papeis para o trabalho dos cadastradores. Havia também três computadores,
uma mesa redonda na qual duas profissionais estavam preenchendo algumas
fichas e organizando papeis e percebi a porta de um banheiro na parede lateral
de frente para os computadores.
A educadora social me convidou para sentar ao lado dela no último
computador encostado na parede perto da janela para olharmos as frequências
dos últimos seis meses, e então pudemos listar os nomes dos idosos mais
assíduos, depois fomos olhar as fichas de inscrição para selecionar os que se
encaixariam na pesquisa. Terminada a pesquisa das informações fui olhar a
estrutura física do local ao chegar é um espaço amplo para espera e
organização dos atendimentos que a visão do centro dar para o salão no qual
os grupos de convivência realizam as atividades, o que facilita o público da
recepção visualizar as atividades, ouvir as músicas, temáticas debatidas e até
se envolver com a dança.
Do lado esquerdo do salão, há uma sala de coordenação, uma do
Serviço Social, uma sala de pouco espaço físico para apoio pedagógico que é
guarda material para o desenvolvimento das atividades e atendimento com a
pedagoga, e ao lado dessa sala há o banheiro feminino. Esse lado no qual
ficam as salas de atendimento ao público dá acesso ao salão.
E do outro lado existe um espaço amplo no sentido vertical onde fica
uma mesa muito comprida para os cadastradores atenderem ao público, ao
lado desse espaço possui o banheiro masculino, ao lado o almoxarifado e a
cozinha ampla que possui um balcão voltado para o público, pode-se observar
a senhora que é responsável pelo preparo da alimentação se locomover de um
lado para o outro, essa estrutura da cozinha facilita a distribuição do lanche dos
grupos, pois os mesmos se deslocam do salão para o balcão da cozinha. O
cheiro que sai da cozinha é de comida caseira destacada pelo alho e cebola
31
refogada com margarina, quem está por perto sente a sensação de fome e
deixa muita gente salivando e desejando degustar um pouco daquela refeição.
Esse espaço onde ficam os cadastradores também se destaca pelo
frescor que vem dos fundos, pois é uma área ampla a céu aberto, mas é
murado. Esse espaço dos fundos também é utilizado para atividades ao ar
livre, pois além de ventilado é decorado com jarros de palmeiras e flores, o piso
é estruturado com pequenas pedras amarelas, e as paredes destacam cor
clara tornando o ambiente harmonioso.
Depois de todo o processo da coleta de informações e
apresentações e convites me despedi dos profissionais e dos idosos e segui
até o banheiro feminino das usuárias que fica depois do portãozinho lateral que
dá acesso ao espaço das salas de atendimento. Chegando lá, a porta já estava
toda aberta, vi que havia três divisórias com porta de alumínio e duas pias
pequenas com suas torneiras de plástico, o odor de urina estava forte, as pias
estavam um pouco amareladas e percebi que um dos banheiros estava com a
porta trancada.
Então me agachei e curvei a cabeça para olhar por baixo da porta,
não vi ninguém apenas uma cadeira quebrada no chão, então por curiosidade
entrei em um dos boxes ao lado, subi no vaso sanitário e apoiei as mãos na
parede desse box que estava trancado, e olhei por cima da parede o lado de
dentro daquele banheiro, e observei que estava com uma cadeira quebrada em
cima do vaso, outra no chão em frente ao vaso e alguns cabos de vassouras,
parecidos que foram jogados por cima da porta e a descarga estava faltando o
cordão de puxar e a tampa da mesma estava fora do local. Desci e fui lavar as
mãos, mas não havia sabão no momento, nem papel toalha para enxugar as
mãos, nem papel higiênico para os usuários daquele ambiente utilizar.
Depois desse momento, fui para casa. No dia seguinte, eu estava lá
no CRAS novamente e, para não interromper o horário do encontro do grupo,
que começava às 14 horas, eu chegava ao campo às 13 horas, e ia abordando
àquele possível voluntário para a pesquisa que chegava antes do horário, e
combinava com o próximo entrevistado para o encontro seguinte do grupo,
então marcávamos meia hora antes do grupo começar.
32
3.3.2 Familiarizando-se com os Idosos do CRAS
Os idosos me recebiam com muita alegria, pois já me conheciam
desde o período de estágio, mas minha aproximação com eles foi aos poucos,
pois no período de estágio eu ainda era uma estranha para eles, e minha
aproximação com os idosos do CRAS se deu sutilmente, comecei observando
a dinâmica do grupo no desenvolver das atividades, as músicas preferidas, os
ensaios teatrais, as datas comemorativas que eles faziam questão de festejar,
a educadora social me convidava para ajudá-la a desenvolver alguma temática
específica para eles como os tipos de violências contra o idoso e a rede de
proteção.
No término do encontro, os idosos recebiam o jantar, e eu me
aproximava deles para conversar individualmente, para iniciar alguma conversa
perguntava se a comida estava boa, naquele momento eu também estava
comendo o jantar, daí indicava algumas sugestões para melhorar a comida e
conseguíamos conversar alguns minutos.
E assim, eles, aos poucos, começaram a ter afeição comigo, um
sentimento de amizade estava brotando, e aos poucos eu conversava
individualmente com um e outro, levava músicas que eles gostam para os
encontros seguintes, elaborava dinâmicas de grupo para introduzir a temática
que seria trabalhada naquele encontro, então a relação de confiança e amizade
ia se firmando.
A partir do oitavo encontro com o qual eu estava envolvida no grupo,
ainda no período de estágio, algumas idosas contavam comigo para desabafar
suas angústias emocionais, e as decepções amorosas que estavam
enfrentando, eu as ouvia prontamente, e a partir dessa relação de confiança e
amizade fui aceita no grupo, o qual já me recebia com abraços e muito carinho.
Como Assistente Social em formação pude aprimorar a escuta, de
se doar para compreender o indivíduo para além do imediato de poder sentar
conversar e juntos tentar abrir caminhos que de melhor maneira resolvesse a
situação exposta. O profissional Assistente Social tem esse grande desafio de
lidar com diversas situações por muitas vezes constrangedora e acima de tudo
saber lidar com suas emoções por ser humano que sente a fragilidade do seu
próximo.
33
Até o momento anterior ao estágio da faculdade, eu não tinha
presenciado ou participado de grupo de convivência para idosos que
desenvolvessem atividades culturais, dança, debates, pois o que eu vivenciava
era um contexto em que os idosos estavam internados em ambiente hospitalar,
de modo que se encontravam em um momento de fragilidade emocional
perceptível, estavam passando pelo tratamento de suas doenças crônicas,
(como infarto agudo do miocárdio, arritmias cardíacas, neoplasias, alguns se
recuperando da cetoacidose diabética, AVC por pico hipertensivo e algumas
síndromes) e pelo processo de afastamento dos familiares, pois não é
permitido acompanhante dentro da unidade de terapia intensiva, passando a
conviver diariamente com pessoas estranhas a eles por um período de tempo
que chega a ser indeterminado.
Quando retornei ao CRAS como pesquisadora, fui recebida com
muitos abraços pelos idosos e depois da minha apresentação como
pesquisadora discretamente abordava um dos possíveis voluntários da
pesquisa, fazia o convite e explicava a natureza deste. Tive que reavaliar um
dos critérios, pois um dos tais era idosos participantes no período de um ano, e
não tinha nenhum naquele momento, então o menor tempo de participação que
consegui foi idoso com três anos participantes do grupo.
Como pesquisadora me deparei com situações que me
sensibilizaram, tendo que lidar com minhas emoções quando diante de
histórias e experiências de vida tão marcantes, ouvi e senti cada entalo na voz,
o olhar que parecia estar voltado ao infinito do mar, a gargalhada, a respiração
ora suave, ora mais ofegante, sentimentos que vieram à tona e me fizeram
entender a preciosidade de realizar uma pesquisa em campo, de maneira que
entramos em contato com a realidade dos sujeitos. Apesar de a bibliografia nos
mostrar um pouco da realidade do objeto estudado, o contado pessoal é muito
rico e gratificante.
No mês de junho de 2014, quando entrevistava uma das voluntárias
ela abriu seu coração e relatou suas dificuldades cotidianas, narrando que
naquele dia havia tomado uma xícara de café de manhã cedo e tinha apenas
um pouco de feijão para o almoço e havia deixado para o filho, que é alcoolista,
e sua neta adulta almoçar, dirigiu-se para a casa de uma conhecida para
almoçar, mas chegando lá as portas estavam fechadas, e ela foi para a parada
34
de ônibus para chegar a tempo no CRAS, além disso, ainda não havia sequer
se alimentado.
Prontamente me ofereci a ir buscar um copo de salada que é
oferecida aos idosos antes de iniciar o grupo, ela comia rapidamente aquela
refeição que, na minha percepção era seu lanche, mas para ela era seu
almoço. Silenciei enquanto ela se alimentava, mas me senti tomada por
sentimento de piedade e meus olhos lacrimejavam diante de uma realidade tão
difícil posta diante de mim, pedi licença e fui tomar um copo d’água, respirei
fundo e voltei para o meu assento.
Na finalização da nossa conversa, essa idosa ficou muito agradecida
por ter conversado comigo e disse que Deus é quem ia me recompensar por
ter feito ela se sentir especial naquela tarde. E o que fiz foi apenas escutar sua
história de vida, seus sofrimentos e alguns momentos de alegria, uma conversa
que apesar de ser guiada por um roteiro de entrevista da a liberdade de se
ouvir uma resposta para além da pergunta formulada, trazendo resultados
subjetivos como esse.
Outra experiência marcante foi quando uma das idosas me puxou
pelo braço e falou em voz baixa para eu convidar ela a participar da pesquisa
discretamente, olhei para a lista dos possíveis voluntários, e o nome dela
constava lá, então combinei com ela para o encontro seguinte do grupo.
Chegou o dia marcado, às 13 horas, eu estava lá, e a idosa pouco tempo
depois já estava à minha procura. Convidei-a para irmos aos fundos da
instituição, por ser ventilado, para começarmos a entrevista, ela precisava
desabafar com alguém sobre suas angústia por ter perdido seu esposo há 3
anos atrás e estava tentando dar novo sentido à sua vida, adaptando-se a viver
sem seu companheiro por perto.
O relato dessa idosa me comovia, por alguns minutos houve silêncio
entre nós, sua respiração ficava ofegante, o queixo parecia rígido e os olhos se
umedeciam. Seguimos com o roteiro da entrevista, e ela se mostrava até o
momento abatida; enquanto falávamos em amizades e o que ela gostava no
grupo percebi que seu semblante já ganhava um tom de alegria. No final da
entrevista nos sentíamos próximas, e ela agradeceu gentilmente por eu ter lhe
ouvido já se sentia com mais energia para continuar sua jornada de vida.
35
É a partir desses contatos de sentir a dor do outro que percebemos
que o idoso dá significado à sua velhice a partir de suas vivências e
experiências de vida, o contexto no qual ele está inserido. E daí se pode
compreender as reações e o ponto de visão de mundo de cada indivíduo para
fazermos uma reflexão crítica acerca do objeto estudado e não julgar pela
realidade aparente.
A partir dessa rica experiência em campo ganhei conhecimentos e
habilidades de lidar com minhas emoções, pois estar de frente com a realidade
desses idosos que por vezes se mostra difícil devido várias privações como
econômica, alimentação e mesmos outros espaços de lazer me trouxe a
conscientização de ser uma profissão árdua, mas que vale a pena se dedicar
em prol de causas que geram resultados positivos que atinge tanto o individual
como o coletivo, exemplo das lutas na garantia de colocar em prática os
direitos conquistados para o segmento idosos.
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4 OS SIGNIFICADOS DA VELHICE PARA OS IDOSOS PARTICIPANTES DO
SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS
“Os que se amam profundamente,
jamais envelhecem; podem morrer
de velhos, mas morrem jovens.”
(Martinho Lutero)
Neste capítulo irei apresentar meus interlocutores traçando um breve
relato de suas características e histórias de vida. Serão utilizados nomes
fictícios escolhidos pelos próprios entrevistados sendo uma maneira de dar
oportunidade de eles fantasiarem suas identificações, para preservar a
identidade dos voluntários. Apresentarei os impactos que um grupo de
convivência pode proporcionar ao idoso e os vários significados atribuídos a
essa fase da velhice. A pesquisa se deu por meio de entrevista
semiestruturada, organizada em três blocos, sendo o primeiro sobre
identificação pessoal, o segundo sobre vínculos sociais e o terceiro, velhice.
4.1 Os Interlocutores da Pesquisa: uma Apresentação.
Sra. Maria Dolores,
75 anos, alta, porte físico robusto, morena, cabelos grisalhos
cacheados na altura dos ombros, olhos escuros um pouco apertados, sua face
mostra poucas rugas e tem uma aparência alegre. Em seus olhos há um brilho
e o sorriso é facilmente estampando em seus lábios finos. Casada e mãe de 7
filhos, mora com o esposo, uma filha e um neto de 8 anos. É aposentada como
trabalhadora rural, estudou até a 4º série, pois havia dificuldades em conciliar o
trabalho no campo e os estudos.
Diz não lembrar como veio participar do grupo, pois já faz 8 anos
que ela participa, e relata das atividades do grupo que mais gosta é do forró e
dos passeios, e que os amigos do grupo são muito importantes para ela.
Quando indagada sobre sua visão da velhice ela responde de maneira serena
que uma pessoa velha é uma pessoa vivida. Apesar de sua aparência ser de
uma pessoa de personalidade forte devido ao seu tipo físico, mostrou ser uma
pessoa cheia de mansidão e muito acolhedora.
37
Sra. Isaura Garcia
82 anos, branca, estatura baixa, cabelos curtos e grisalhos cor de
nuvem e tão finos que se misturam com o soprar do vento, sua pele fina
enrugada e ressecada, olhos apertados que expressam alegria, muito
comunicativa e suas gargalhadas são contagiantes, viúva, mãe de 8 filhos,
trabalhou alguns anos como costureira, estudou até a 4º série, pois na cidade
em que ela morava não havia outras séries. É pensionista, mora com filhos,
netos e bisnetos em um total de 13 pessoas em sua residência.
Além disso relata que foi convidada por um grupo de senhoras para
participar do grupo, ela gostou e permanece até os dias atuais, totalizando uns
9 anos. Diz que as atividades que mais gosta no grupo são as esportivas, pois
as deixam mais ativa fisicamente, e diz que os amigos do grupo são muito
importantes para ela. Quando indagada sobre velhice, ela diz que velho é a
aquela pessoa velhinha que fica somente deitada e doente. A sua voz de
tonalidade forte e seus movimentos bruscos não condiz com a sua aparência
de ser uma pessoa frágil que se locomove com um pouco de dificuldade,
quando fala dos netos se mostra aborrecida devido à desobediência destes.
Sr. Xavier
79 anos, moreno, de estatura mediana, suas costas se mostram um
pouco curvada para frente, sempre está usando um chapéu, o pouco do cabelo
que aparece fora do chapéu é ralo e grisalho. Seu rosto comprido e olhos
pequenos mostram alegria, não mostra sorriso com facilidade, mas é
comunicativo. Casado, pai de 3 filhos, mora com a esposa. Trabalhou como
servente na construção civil, nesse período foi acometido por tuberculose, o
que o levou a uma cirurgia para retirada de um pulmão e por consequência sua
aposentadoria por invalidez, depois abriu uma pequena venda em sua
residência para continuar trabalhando. Estudou até a 4ª série, porque era difícil
conciliar o trabalho no campo com os estudos.
O idoso foi participar do grupo mediante o convite de um amigo que
já frequentava, disse que o grupo era muito bom e divertido, por curiosidade ele
foi, gostou e já faz 8 anos que participa. Diz que gosta muito do forró pé de
serra e de ver os amigos. Quando indagado sobre velhice, responde que esse
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negócio de ser velho não existe mais, que é coisa de antigamente. Apesar da
impressão de ser uma pessoa forte e cheio de energia se sente limitado
fisicamente devido às dores nas articulações. Algumas vezes ficou cabisbaixo
quando relatava sobre sua saúde.
Sra. Lucilene
77 anos, branca, de estatura mediana, cabelos curtos e pintados
levemente de preto. Ela tem uma aparência alegre e sorri com facilidade.
Casada e mãe de 5 filhos, mora com o esposo, uma filha e uma neta. Estudou
até a 5º série. E hoje é aposentada pelo Benefício de Prestação Continuada
(BPC).
Relata que começou a participar do grupo por meio do convite de
uma amiga que já frequentava. Depois dessa visita, ela gostou, e já faz 5 anos
que participa. Diz gostar das atividades e a que mais gosta é de dançar. Afirma
também que os amigos do grupo são muito importantes e os consideram sua
segunda família. Quando indagada sobre velhice, ela relata que é mais
adequado falar como a fase da melhor idade. Mostra-se uma pessoa cheia de
vida, alegre, comunicativa e muito vaidosa. Aparenta ser uma pessoa mais
jovem do que sua idade mostra.
Sra. Virgínia
81 anos, morena, de estatura baixa, cabelos curtos tingidos de preto,
viúva, mãe de 6 filhos e hoje mora com um deles. É pensionista e estudou até
a 4ª série. Apesar de sua idade, ela se mostra muito ativa e alegre, sua
aparência física contradiz sua idade, pois sua pele quase não tem rugas e sua
expressão corporal ao se comunicar mostra muita energia, uma linguagem
clara e um tom de voz firme.
Relata que foi convidada por quatro senhoras para participar do
grupo de idosos, pois havia muitas atividades para eles. Depois dessa visita,
permanece até os dias atuais, completando 8 anos, diz que gosta das
atividades e que depois que começou a frequentar o grupo aprendeu
artesanato e hoje trabalha como artesã. Quando indagada sobre velhice, diz
ser a melhor fase da vida e se considera pessoa idosa.
Sra. Ester
82 anos, morena, de estatura mediana, cabelos brancos curtos,
viúva, mãe de 12 filhos e hoje mora com um filho e uma neta. É aposentada
39
pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC) e nunca frequentou a escola.
Diz ter aprendido assinar o nome com a ajuda da irmã mais nova. Suas costas
já curvadas, sua voz rouca e pouca arrastada e um andar lento lhe faziam
parecer cansada. Mas apesar de sua condição física ela mostra ser cheia de
energia. Quando fala do seu dia a dia se posiciona com o peito erguido e
movimentos firmes nas mãos, e o tom de voz se torna mais forte, mostra ser
muito decidida e segura com suas opiniões.
Relata que foi participar do grupo por meio da indicação de uma
conhecida, pois no CRAS ia ser bom para ela devido às atividades para os
idosos. Depois que visitou a primeira vez, gostou, e já faz 3 anos que participa,
diz gostar das atividades, e a que mais gosta é de cantar. Também diz que
seus amigos do grupo são muito importantes para ela. Quando indagada sobre
velhice ela diz que é coisa ruim, mas gosta de se referir como a fase da melhor
idade.
Sra. Laura
75 anos, branca, de estatura baixa, cabelos brancos e curtos, viúva,
mãe de 4 filhos e hoje mora com um filho, a nora e os netos, estudou até a 4ª
série e trabalhou como operária e está aposentada. Mostra-se recatada, seu
semblante parece abatido, sua fala de tonalidade baixa, mostra pouca
expressão corporal. Passa a impressão de ser uma pessoa mais idosa que sua
idade mostra.
Relata que veio participar do grupo de convivência através de
algumas amigas que moram próximos a ela, foi visitar, gostou, e já faz 3 anos
que participa. Diz gostar das atividades e mais ainda do forró pé de serra.
Quando indagada sobre velhice diz ser a fase da terceira idade e que é boa,
mas por outro lado associa ser a fase da perda das pessoas queridas, como
esposo e amigos.
4.2 Uma Prévia da História de Vida dos Participantes da Pesquisa
Sra. Maria Dolores
75 anos, relata um pouco da sua história de vida, segundo ela
nasceu e cresceu no sertão do Ceará, e quando jovem veio para a capital para
trabalhar, pois a seca no sertão fazia com que os mais novos viessem procurar
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trabalho para sobreviver e ajudar os pais que ficavam na seca com privação de
alimento, água e passavam por muitas dificuldades, quando o inverno chegava
era tempo de voltar para casa para ajudar na agricultura juntamente com toda a
família. Casou e teve seus filhos em sua cidade natal. Novamente, em outro
período de seca que assolava sua família, seu esposo, então, veio para capital
para trabalhar e depois trouxe sua família, de modo que permaneceram
morando na capital até os dias atuais. Relata que sua relação com sua família
é harmoniosa, pois seus filhos gostam dela, demonstram respeito com pais e
são filhos obedientes.
Quando era pequena morava no sertão, e não dava pra estudar direito porque ficava mudando de escola, porque acabava aquela que tinha e procurava outra, e com quinze anos não fui mais pra escola. Tive que trabalhar em casa de família para ajudar em casa no tempo da seca, [ ficou pensativa, e pausou a voz] mas depois que começou o inverno voltei pra casa de novo. E conheci meu marido a gente casou tive meus filho aí o inverno tava muito fraco, a gente tava passando necessidade [nesse momento sua voz parece ter um entalo e seus olhos se umedecem], aí meu marido veio procurar emprego por aqui e depois mandou mim buscar com os mínimo ai a gente ficou morando por aqui (MARIA DOLORES) 4
Percebe-se, diante do exposto, que as dificuldades vividas por essa
senhora ainda a comovem profundamente. Quando falava das dificuldades que
passava devido à seca no sertão, seus olhos se umedeciam, e sua fala ficava
mais pausada, estava entalada em sua própria fala. A seca no sertão foi um
condicionante para essa família buscar melhores condições de vida na capital.
Quanto ao seu relato sobre a dificuldade de estudar devido às escolas serem
fechadas, podem ser associados às dificuldades as quais a zona rural está
submetida, devido à estiagem de chuva e às necessidades de alimentação,
água e outros mantimentos para as famílias, como para o plantio. Essas
necessidades se afloram trazendo desafios para a continuidade da educação
nessas áreas, o que leva a população a buscar meios de sobrevivência em
outras localidades.
Sra. Isaura Garcia
82 anos, nasceu e cresceu no interior do Estado do Ceará,
trabalhava na agricultura e estudou até a última série que havia na escola de
4 Trecho de entrevista realizada em Junho 2014.
41
sua cidade, ainda jovem veio para a capital para trabalhar de doméstica,
casou-se e continuou morando em Fortaleza. Alguns anos depois, [relata ela
meio cabisbaixa e olhar desfocado voltado ao chão como se estivesse
relembrando seu passado] que seu esposo se tornou alcoólatra e veio a falecer
devido às complicações de saúde causadas pela bebida. Ficou com os filhos
ainda adolescentes e criou-os com o salário da pensão.
Nasci no interior trabalhava na roça e estudava, na época que eu estudava só tinha até o admissão que hoje é a quarta série e não tinha mais que isso não, só quem estudava mais era quem ia ser padre, doutor ou advogado, mas tinha que ir pro Rio de Janeiro pra estudar. [...] vim pra capital pra trabalhar e casei e algum anos depois meu marido 'não parava de beber meu marido era alcoólatra e morreu de beber, fiquei viúva já faz 30 anos e fiquei com meus filhos ainda rapazote, sou pensionista e com o meu salário criei meus filho depois eles arranjaram mulher e trouxe pra dento de casa, aí a família cresceu muito, pois tudim mora comigo. Eles trabalha e ajuda dento de casa (ISAURA GARCIA)5.
Sua história de desafios para criar os filhos sozinha a fez se sentir
mais forte para enfrentar as adversidades da vida, seu relato de convivência
com o marido [já falecido] alcoolizado ainda a faz se sentir triste. E mesmo na
fase da velhice ainda vê os filhos passando dificuldades financeiras tendo que
se agruparem em sua residência para juntos conseguirem manter
financeiramente suas famílias. Retrato esse de um sistema onde a organização
societária está em desequilíbrio, pois os que detêm de uma condição
privilegiada de manter um padrão de vida digno está entre as minorias.
Sr. Xavier
79 anos, nasceu e cresceu no interior do Ceará. Quando garoto seu
pai o levava para o roçado de manhã para trabalhar e a tarde ia para a escola.
Diz ter estudado pouco tempo, somente até a 4º série, mas que aprendeu a
assinar o próprio nome e ler algumas coisas. Quando rapaz veio para a capital
em busca de trabalho e ficou trabalhando na construção civil até que ficou
doente de tuberculose e precisou se afastar. Relata as dificuldades para
conseguir atendimento médico devido o regime de previdência, aposentaria e
pensões, pois somente tinha acesso a atendimento hospitalar quem era
5 Trecho de entrevista realizada em Junho 2014.
42
trabalhador contribuinte. E como ele era trabalhador “avulso” (que não tinha
carteira assinada), sua situação ficou delicada. Quando conseguiu atendimento
pela Santa Casa de Misericórdia seu estado de saúde estava delicado, sendo
necessário uma cirurgia para retirada total de um de seus pulmões. Nesse
momento ele relata sua história de vida com a cabeça apoiada em suas mãos
que estavam com dedos entrelaçados apoiando seu queixo, com o olhar ora
voltado ao chão, ora voltando seu olhar com olhos apertados para a
pesquisadora como, que segurava suas emoções.
Quando eu fiquei rapazote vim pra Fortaleza trabalhar na construção e fiquei doente, peguei aquela doença que não tinha cura a tal tuberculose e era muito difícil conseguir tratamento, pois só quem tinha direito naquela época era quem trabalhava de carteira assinada, e como eu trabalhava avulso penei muito até conseguir me consultar na Santa Casa e daí foi feito uma cirurgia e tiraram um pulmão todinho meu. Aí mim aposentaram por invalidez, depois disso abri uma merceariazinha e fiquei trabalhando com isso. Depois casei, e meu filho mais novo agora tem um mercantil que era a antiga mercearia (XAVIER)6.
É perceptível que os momentos que mais marcaram sua vida estão
atrelados ao trabalho e sua condição de saúde, mesmo depois de aposentado
continuou a trabalhar, é perceptível que o trabalho pode ser o sentido de
continuar sendo uma pessoa economicamente ativa, e que esse rompimento
pode trazer a sensação de pessoa inválida, porque, se não está inserida no
mercado produzindo, passa a imagem de inutilidade, e isso é construído
socialmente dentro de um modelo de sociedade. Segundo Beauvoir (1990), é
difícil para o indivíduo se afastar daquilo que um dia foi o ponto central de suas
preocupações, a exemplo da atividade exercida no trabalho e ao se deparar
sem a preocupação que lhe era de costume pode demonstrar o sentimento de
não ter mais nenhum propósito a produzir.
Sra. Lucilene
77 anos, nasceu e cresceu no Estado da Paraíba, quando jovem
namorou um rapaz o qual seu pai não aceitava devido à sua condição de
trabalho como sapateiro, então ela relata ter fugido de casa para casar, depois
de algum tempo seu esposo veio para o Estado do Ceará para trabalhar com
seus familiares em uma metalúrgica, e depois ela veio com os filhos, ele ficou
6 Trecho de entrevista realizada em Junho 2014.
43
nesse emprego até se aposentar. Ela relata ter sido convidada para trabalhar
no Estado de Goiás, com uma sobrinha de seu esposo, [nesse momento ela
enfatiza entusiasmada sua capacidade de trabalhar, enche o peito de ar e põe
o tórax para frente, com sua cabeça erguida e olhos bem abertos].
Tem uma sobrinha dele que se candidatou à deputada estadual em Goiás e me chamou pra trabalhar com ela, fiquei toda animada né, porque eu tenho muita coragem pra trabalhar. Ah! se eu arranjasse um trabalho pra mim eu vou na hora, mas meu véi não deixa não porque num tem quem faça as coisa de casa né, tem a minha filha que tá desempregada, mas ele, mulher, só come se for a minha comida, ele é muito dependente de mim. Agora eu não, eu resolvo
minhas coisas, eu é que tiro meu dinheiro e o dele. Tudo é comigo. (LUCILENE).7
A profissão pode caracterizar a posição social do indivíduo, fazendo
com que algumas profissões sejam mais aceitas socialmente do que outras, e
isso pode interferir nas relações familiares de aceitação ou não da inclusão de
mais membros. Outro destaque é o reconhecimento de ser uma pessoa cheia
de energia para trabalhar, de maneira que o trabalho lhe dá condições de
afirmação pessoal, de estar vigorosa e economicamente ativa, ao relatar sobre
sua capacidade de resolver situações do seu dia a dia, locomover-se sozinha,
e outras pessoas estarem em sua dependência de decisão, de companhia,
como também de seus cuidados, a faz sentir-se importante para sua família, e
é compreensível que sua autoestima seja elevada.
Sra. Ester
82 anos, nasceu e cresceu no sertão do Ceará, desde a infância
trabalhava na agricultura com sua família, e não teve oportunidade de
frequentar a escola. Conheceu seu esposo em sua cidade natal e pouco tempo
depois de casados tiveram que sair de sua cidade em busca de trabalho, pois a
seca já havia chegado, e os campos não tinha condições de plantio, assim sua
família vivia se mudando de localidade devido à falta de emprego para seu
esposo, até que chegaram à cidade de Fortaleza. Seu esposo ficou
trabalhando, seus filhos cresceram e não precisaram mais mudar de cidade.
aí a gente ficava se mudando de lugar em lugar, porque faltava serviço pra ele, aí tinha que se mudar pa outo lugar que tivesse trabai
7 Trecho de entrevista realizada em Junho 2014.
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pra ele, até que a gente veio pra Fortaleza e ele ficou trabaiando, aí a gente num precisou se mudar mais não (ESTER)8.
Essa realidade vivida por dona Ester é a de muitos cearenses que
buscava refugio das secas e sobrevivência para sua família na capital, pois os
investimentos na zona rural pelo poder público era escasso forçando as
famílias se redirecionar a outras alternativas como sair de sua terra natal em
busca de melhorias de vida em terras alheia.
Sra. Virgínia
81 anos, aos quinze anos de idade veio para capital, a pedido de
uma conhecida de sua mãe, para trabalhar de doméstica e aos dezessete anos
conheceu seu esposo na construção civil que tinha perto da casa onde ela
trabalhava, casaram e tiveram seis filhos. Ele diz que não amava o marido, pois
ele não era carinhoso. Ela fala que seus filhos já estão casados, e um deles
mora com ela, esse filho passa o dia trabalhando e chega à noite para dormir.
Ela passa o dia sozinha em casa e ocupa seu tempo fazendo boneca de pano,
[quando fala que faz boneca ela diz que agora é “bonequeira” e dá uma
gargalhada que estende o cabeça para trás], também faz ponto cruz, e crochê
em pano de prato, tudo isso aprendeu no grupo de convivência para idosos, e
hoje ela faz esses artesanatos e vende para ajudar no orçamento do mês.
Sra. Laura
75 anos, relata que muito jovem veio para a capital para trabalhar de
doméstica, depois foi trabalhar em uma fábrica, e lá conheceu seu esposo,
ficou trabalhando até se aposentar, casou e teve quatro filhos, hoje ela está
viúva e um filho,a família mora com ela.
Vim pra cidade grande pra trabalhar ainda jovem, aí comecei trabalhar em casa de família e depois fui pra fábrica, aí conheci meu marido, que já se foi, aí fiquei morando com meu filho mais novo que ainda tava solteiro, aí ele resolveu casar e trouxe a mulher pra morar com a gente, aí tiveram dois filho, e todos moram comigo, achei foi bom porque meus netinho trazem alegria né, interte a gente é bom demais (LAURA)9.
Quando fala que seu filho e família moram todos com ela, seu tom
de voz se torna forte, um pouco agressivo, e logo fala nos seus netos
8 Trecho de entrevista realizada em Junho 2014. 9 Trecho de entrevista realizada em Junho 2014.
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pequenos e um sorriso é ensaiado nos lábios. Durante toda a conversa ela se
mostra séria, olhar sempre voltado para baixo e mãos apoiadas no braço da
cadeira não se movem, mas suas pernas cruzadas balançam ritmadas e fala
de suas tristezas e perdas.
4.3 Compreensão e Análise dos Dados Obtidos.
Neste tópico serão apresentados os vínculos sociais dos idosos e a
percussão para a significação da velhice. Primeiramente, discorrer-se-á sobre a
convivência familiar, a partir da fala de cinco voluntários da pesquisa (dos sete
entrevistados), seguindo com os relatos sobre o círculo de amizades e a
importância destes para os idosos.
Dos 7 idosos participantes da pesquisa, 6 são do sexo feminino e 1
do masculino, com idades de 75 a 82 anos, sendo 5 viúvas, e o número de
filhos variam de 4 a 12. Dos idosos entrevistados, nenhum mora sozinho,
sendo que 6 moram com os filhos, ou seja, os filhos moram com sua mãe idosa
devido a dificuldades financeiras de prover moradia para a família e ficam
morando com os pais. Como revelam as falas reproduzidas a seguir: “Os sete
filhos já casaram e a menina separou e veio morar dentro de casa com o filho”
(MARIA DOLORES, 75 ANOS). “Quatro filhos moram comigo, as noras e os
netos e três bisneto são 13 pessoas no total lá em casa” (ISAURA GARCIA, 82
ANOS). “Minha filha nunca casou, teve uma filha e continuou morando comigo
(LUCILENE, 77 ANOS). “Meu filho se separou e veio morar comigo, ele passa
o dia trabalhando só chega de noite” (VIRGÍNIA, 81 ANOS). “Um dos meus
filhos mora comigo porque nenhuma muié quer ele, porque ele bebe muito
[alcoolista], e minha neta também mora comigo ela me leva pras consulta”
(ESTER, 82 ANOS). “Meu filho casou e trouxe a mulher pra morar lá em casa e
tão até hoje” (LAURA, 75 ANOS).
Devido ao contexto socioeconômico da flexibilização do trabalho, o
desemprego estrutural, dificuldades de conquistar a casa própria levam a
novos arranjos familiares, como afirma Collange (1994, p. 65): os novos
modelos de famílias são construídos de fenômenos sociais e econômicos. E
cada vez mais se percebe que a família nuclear de pai, mãe e filhos está
abrindo espaço para novos integrantes na família.
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Em relação à situação previdenciária desses idosos, três são
aposentados, 2 são pensionista, todos com 1 salário mínimo, e 2 recebem o
Benefício de Prestação Continuada, que está inserido na Lei Orgânica da
Assistência Social, para idosos com 65 anos ou mais que não têm como prover
seu mantimento. “O salário diminui quando a gente se aposenta, aí eu botei
uma bodeguinha pra ajudar no orçamento” (XAVIER, 79 ANOS). “Outra coisa
que tem aqui no bairro é aquelas piscina pros velho, mas tem que pagar, aí
num dá porque o salário num dá pra nada” (ESTER, 82 ANOS).
Os idosos chefiam suas famílias e têm seu salário como renda
principal, os idosos declaram que a ajuda dos outros membros da família é
principalmente para a alimentação. Segundo o gerontólogo Maia10 (2005, p.
65), esse cenário dos idosos assumirem a responsabilidade com muitos
membros da família é cada vez mais presente, e parte da aposentadoria se
destina para outros membros, sendo a maior parte para os filhos e netos e
pouco para uso próprio.
Apesar das dificuldades no orçamento que os idosos enfrentam,
mostram-se muito alegres quando falam em suas amizades, pude observar que
os setes participantes atribuem serem seus amigos os membros dos grupos
onde frequentam, seja o CRAS, a igreja, os vizinhos de muitos anos, e que são
muito importantes devido à convivência e a possibilidade de compartilharem os
momentos de alegria e de tristeza, também dividir as preocupações com os
amigos mais chegados e os conselhos mútuos faz esses laços de amizade se
fortalecerem mais ainda.
Meus amigo é daqui do grupo, meus vizinho, os lá da igreja, eu gosto
de todo mundo e eles são muito importante pra mim, porque quando
a gente tá passando por um problema a gente divide o peso com os
amigos, e isso é muito importante, ai de mim se eu não tivesse
amigo, Ave Maria (MARIA DOLORES, 75 ANOS).
Eu, graças a Deus, tenho muitos amigos, os daqui do grupo os da
igreja, os meus vizinhos também são meus amigos, e é importante a
gente ter amigo, como é que uma pessoa pode viver no mundo sem
amigo. Quando eu adoeço e fico uns dia sem vim, eu fico morrendo
de saudade daqui dos meus amigos (ISAURA GARCIA, 82 ANOS).
10 Mestre em políticas públicas pela Universidade Estadual do Ceará- UECE e especialista em gerontologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Lançou o livro com o título O idoso e a utilização dos recursos da aposentadoria na sua sobrevivência financeira.
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“Meus amigo é daqui do grupo, uns conhecido que gosta de mim,
meus vizim são muito amigo também” (ESTER, 82 ANOS). “Meus amigo é
daqui mesmo, é maravilhoso ter amigos, graças a ales eu sou uma nova
pessoa que conversa, que brinca, que acha graça né, meus amigo são tudo pra
mim, depois da minha família é claro” (VIRGÍNIA, 81 ANOS). “Meus amigos são
daqui mesmo, e alguns vizinho que eu considero amigo num é todos também
não, meus amigo são muito importante pra mim, aqui eu mim sinto viva”
(LAURA, 75 anos). “Essa percepção que os idosos têm de seus amigos e a
importância deles para sua vida os faz atribuírem que seus amigos
representam sua segunda família”.
De acordo com Bauman (2003, p. 48) é nos grupos, na comunidade,
na vizinhança e no meio familiar que as pessoas compartilham experiências de
vida e devido à reciprocidade nas relações sociais dos indivíduos se fortalece a
cumplicidade mútua, e a lealdade nessas relações desenvolve no indivíduo o
sentimento de pertencer àquele território ou grupo no qual são fortalecidas
essas redes de amizades. A fala de meus interlocutores ilustra bem o
pensamento desenvolvido por Bauman quando relatam que podem contar com
os amigos e que eles são sua segunda família e que gostam também dos seus
vizinhos, pois é uma convivência de longos anos.
4.4 Tempo de Participação no Grupo de Convivência e os Impactos na Significação na Velhice.
As idosas que estão há 3 anos participando do grupo de
convivência, apresentam um discurso de se sentirem bem consigo mesmas e
gostarem de participar do grupo de convivência, que estão percebendo
mudanças positivas em suas vidas, como melhora da autoestima e da
autonomia. Relatam estar superando os conflitos familiares com a ajuda dos
profissionais e dos amigos do grupo de convivência.
Minha nora diz que eu tô mais animada depois que eu tô no grupo, ela e meu filho diz pra eu não deixar de vim porque é muito bom pra mim, eu também acho, eu vi que eu tava muito isolada do mundo depois da perda do meu marido, aí eu comecei a vim pra cá e vi que eu tô mais animada, cuido mais da minha saúde, faço caminhada
48
com a minha vizinha. Acho bom, o pessoal daqui é muito animado, isso me faz bem a gente rir muito (LAURA, 75 ANOS).
Aqui no grupo acho bom. Tem o forró, elas chama a gente pra cantar, aí eu gosto. Aqui tenho muito amigo e amiga, aí a gente conversa muito né e faz bem pra gente. Converso com a Assistente Social sobre meu fii e ela vai lá em casa ajuda a gente, aqui é muito bom (ESTER, 82 ANOS)
A idosa que está há 5 anos participando do grupo de convivência
relata que o esposo já superou os ciúmes quando ela se arrumava para ir ao
grupo. Diz que hoje ela é uma nova pessoa que descobriu seu talento para a
música e para a dança, e se sente feliz consigo mesma. Afirma não perder
nenhum encontro do grupo e ressalta a importância dos amigos que conquistou
nesse espaço, considera-os sua família.
Eu tenho amigo aonde vou, tem meus amigo aqui do grupo, tenho lá na hidroginástica, tem meus familiar que mora perto de mim, agora meus vizinho é assim, bom dia e boa tarde e só, cada um no seu canto. Ter amigo é muito importante né, ninguém vivi no mundo sem ter amigo não, todo mundo tem que ter amigo, nem que seja pelo menos um, eu considero meus amigo daqui do grupo minha segunda família (LUCILENE, 77 ANOS).
Os idosos que estão de 8 a 9 anos participando do grupo de
convivência relatam estar vivendo a melhor fase da vida deles e atribuem a
mudança de atitude diante das dificuldades, à melhora da autoestima e da
autonomia à participação no grupo de convivência e o relacionamento familiar é
bom, ressaltando apenas um caso de conflito da idosa com os netos devido à
desobediência destes. Ressaltam seus talentos e gosto pela dança no forró, e
destacam a importância dos amigos e suas contribuições para dar um novo
sentido às suas vidas.
Eu percebo assim que fiquei mais alegre, depois que comecei a dançar aqui, até minha pressão melhorou. Eu gosto é do forró e dos passeio, quando tem que tá é difícil ter. E pra melhorar tem que colocar exercício [ela movimentou os braços para cima e pra baixo umas três vezes em movimento rápido, indicativo de atividade física] pra gente que não tem (MARIA DOLORES, 75 ANOS).
“Aqui eu me sinto mais confiante, mais comunicativo, porque aqui a
gente conversa com muita gente né, e antes de eu vim pra cá eu ficava só em
casa, agora eu tenho pra onde sair e aqui é bom (XAVIER, 79 ANOS)”.
49
“Eu gosto daqui, eu me sinto bem com as atividade de esporte, a
gente fica mais ligeira né, eu me sinto viva e cheia de energia” (ISAURA
GARCIA, 82 ANOS)
Eles percebem uma mudança de antes e depois do grupo. Sentiam-
se tímidos, com baixa estima. Uma das idosas até se comparou com uma
planta que estava viva, mas que não saía do lugar e disse que hoje se sente
renovada, livre para passear, namorar, dançar e viver. São relatos parecidos
desses idosos, onde a liberdade é a mais destacada, principalmente a
financeira de não depender dos filhos para se sustentar.
Antes eu ficava só dentro de casa, ia passear na casa dos meus filhos e só, eu era tão matuta, tinha vergonha até de falar, agora eu sou outra pessoa, aquela pessoa que eu era não existe mais, eu tô renovada, meus filhos se admira que agora eu ando pra todo canto, tenho um bucado de amigo, tiro um dia só pra passear, eles acham é bom que agora eu tô mais viva, porque antes eu parecia uma planta que vegetava, tá viva, mas é só ali, parada. Agora eu tô vivendo de verdade (VIRGÍNIA, 81 ANOS).
Todos os idosos vieram a participar do grupo de convivência através
do convite de um amigo, de conhecidos e de profissionais da instituição,
relatam gostar das atividades do grupo e todos dizem gostar do forró pé de
serra, e dão dicas para melhorar as atividades do grupo, algumas delas são
brincadeiras esportivas, passeios, exercício físico, teatro, pintura e artesanato,
formar o grupo dos idosos que sabem tocar instrumentos musicais para
tocarem nos encontros dos idosos.
4.5 Significados sobre Velhice, segundo Relatos dos Participantes.
No tópico relacionado à velhice, os entrevistados demonstraram
preferiram o uso da palavra "idoso". Apenas uma entrevistada optou pelo uso
da palavra "velha". Quatro participantes da pesquisa destacam estar vivendo a
melhor idade, dois disseram estar na terceira idade e uma relatou estar na
velhice, pois é a fase em que a pessoa é experiente na vida. Quatro
participantes definiram ser uma pessoa velha aquela a qual está incapaz de
cuidar de si, estando dependente fisicamente e que vive doente em cima da
cama ou vive dentro de uma rede.
50
Uma pessoa velha é ser uma pessoa vivida, e é a melhor fase da vida se não fosse as doença era melhor ainda. Eu sou uma velha, vou bem dizer que num sou, o povo é que inventa esse negoço de terceira idade e esses outro nome aí. O bom da velhice é que posso sair mais vezes, porque não tenho preocupação com filho pequeno, vou pra onde eu quero, tenho meu dinherim, aí é muito bom. O lado ruim é porque a gente adoece mais fácil (MARIA DOLORES, 75 ANOS).
As experiências de vida caracterizam a pessoa idosa como
detentora de conhecimentos e experiências (boas e ruins) para contar e
repassar ao longo da vida. Os idosos apontaram que o aspecto positivo desta
etapa é a independência de poder sair, passear sem preocupação com os
filhos, como também financeiramente poder arcar com suas despesas,
trazendo assim a autoconfiança e autoestima para poder desfrutar dessa
liberdade. Mas a fase da velhice é também vista como o período das doenças,
pois os idosos estão mais propícios a desenvolver enfermidades e declínios
nessa fase.
Velho é aquela pessoa que tá no fundo da rede bem velhinho, doentinho, deixa eu dizer, a melhor idade só é bom três dia que é quando eu vou pro banco recebo o dinheiro e dura três dia, [ela deu uma gargalhada], eu tô vivendo é a melhor idade [ela abriu os braços para a frente], pois é o tempo melhor que eu tô passando, eu faço tanta coisa, eu passeio, vou pra onde eu quero e sozinha, sem dar satisfação a ninguém, eu resolvo minhas coisas, danço [ela deu uma gargalhada que se inclinava para trás], faço tudo isso, daonde um velho aguenta fazer isso (ISAURA GARCIA, 82 ANOS).
Velhice é coisa ruim, é quando a pessoa num pode fazer mais nada,
até pra andar depende dos outo, eu gosto de dizer é melhor idade,
porque a gente se sente melhor, eu que faço tudo dento de casa,
ainda trabaio quando aparece um serviço aqui outo ali, eu lavo roupa
eu passo chega fica uma beleza a roupa que eu passo, só você
vendo. Eu acho bom ser idosa (ESTER, 82 ANOS).
O contexto sociocultural que presenciamos nos dias atuais do velho
não ter muita importância e o consumismo leva as pessoas a estar buscando
sempre pelo novo, pela inovação seguindo a lógica do mercado. Segundo
Schneider (2008), estamos vivendo na sociedade do consumo e apenas o novo
está sendo valorizado. Isso nos leva à reflexão de que na busca de estar
sempre acompanhando e consumindo bens materiais novos e valorizando
51
apenas o que é novo e deixando as coisas velhas, como bens materiais, de
lado ou mesmo descartando.
Esse comportamento afeta a subjetividade das pessoas levando a
internalização de um sentimento de estranheza quando se depara na
convivência ou mesmo dividir o mesmo espaço de uma loja, supermercado e
mesmo no ônibus coletivo com uma pessoa idosa. Segundo Almeida (2003, p.
37), a fase da velhice que é associada ao comprometimento das funções
cognitivas e o enfraquecimento da força física está sendo substituída, cada vez
mais, pela imagem do velho jovem, sendo velhos na idade, mas jovens de
coração e mente, pois os idosos estão desenvolvendo agilidade mental e
resistência física, o que é uma conquista a ser celebrada.
Para alguns idosos a fase da velhice é o tempo para ser feliz,
Beauvoir (1990, p. 65) diz: “se não foste feliz quando jovem, certamente que
tens agora tempo para o ser”, pois a juventude dos idosos era dedicada ao
trabalho e a família, e hoje eles desfrutam do tempo que tem sem mais o
compromisso de outrora e novos sentidos para as suas vidas vão brotando.
Ainda segundo a autora, as pessoas que relatam uma velhice beneficiada, são
aquelas que detêm diversos interesses e que se adaptam a diferentes
situações de forma mais simples do que as demais pessoas.
E para o idoso abdicar daquilo que foi ponto central em meio suas
preocupações como exemplo o trabalho, segundo Beauvoir (1990), quando
essa preocupação é cessada o idoso pode demonstrar não ter mais nenhum
propósito a produzir, e a partir dessa situação o idoso busca refazer e se
adequar à nova etapa da vida, daí novas amizades vão se construindo, e a
inserção dos mesmos em grupos de convivência pode trazer impactos positivos
na autoestima e na autonomia do idoso.
Os idosos participantes da pesquisa relatam que o grupo de
convivência tem trazido benefícios para a autoestima, novas amizades são
construídas e uma nova etapa é vivida. Por meio dos círculos de amizades que
se fortalecem, novos significados para sua vida vão surgindo e a superação de
um dia após o outro não se torna mais tão difícil, e sim traz o sentimento de ter
vivido mais um dia de vitória e conquista.
52
4.6 Relatos sobre Conhecimento do Estatuto do Idoso e as Críticas Apresentadas pelos Idosos.
Neste tópico, iniciarei com a temática indagada a eles: “se eles como
idosos se sentem respeitados”, apresentarei as falas de quatro entrevistados
para em seguida apresentar o que os idosos destacam sobre o estatuto e as
críticas apresentadas por eles e finalizo com a discussão teórica.
Todos se consideram respeitados, partindo do respeito dos filhos,
dos amigos e da vizinhança, e uma das idosas diz se sentir desrespeitada
apenas pelos netos. Percebe-se que respeito para os idosos está ligado à
obediência dos filhos, o carinho dos amigos e dos vizinhos, a ausência de
agressão física faz eles se sentirem respeitados, mas se sentem tristes quando
sobem no ônibus coletivo e o assento lhes é negado. Eles atribuem esse
desrespeito com a pessoa idosa apenas desrespeito de cumprimento dos
direitos.
“Sim, meus filhos me respeitam meus vizinhos também, e quando
saio pra resolver alguma coisa da tudo certo ninguém faz hora comigo não”
(MARIA DOLORES, 75 ANOS). “Pelos meus filhos sim, mas pelos meus netos
não, e também o povo da rua mim respeita aonde eu vou, todo mundo gosta de
mim porque eu sou assim divertida (ISAURA GARCIA, 82 ANOS).
Sim, meus filhos, minha mulher, todos me respeitam, o povo da rua tudim gosta de mim. Ah! Um dia eu peguei o ônibus e tinha um rapaz sentado naquelas cadeira amarela, aí eu perguntei se ele sabia lê, aí ele olhou praquela praca e disse: você tá me chamando de analfabeto? Aí eu disse: não porque você tá vendo isso aí [adesivo informativo da preferencial nos assentos] e fica sentado e eu aqui em pé, aí ele falou assim: eu ia lhe dar mais agora não dou mais, e não deu (XAVIER, 79 ANOS).
“Sou muito respeitada, meus filhos já são tudo dono do seu nariz,
mas me respeita muito, não me responde com grosseria, pede a benção, são
muito carinhosos comigo e com o pai também” (LUCILENE, 77 ANOS).
O respeito que os idosos consideram traduz a maneira como foram
educados, os costumes e a educação passados de pais para filhos, como o
filho pedir a benção aos pais, são vistos como boas maneiras; e a ausência
desse comportamento levam os filhos a serem rotulados de mal educados ou
mesmo desamorosos com os pais. E atribuem o respeito a eles pela vizinhança
53
aos laços de amizades e ao convívio de muitos anos no mesmo território, no
qual todos se conhecem e se cumprimentam ao cruzarem o mesmo caminho,
essas atitudes levam os idosos a se sentirem respeitados na família e na
comunidade.
E quando se trata de conhecimento do Estatuto do Idoso, todos os
participantes da pesquisa dizem conhecer um pouco e relatam o que
conhecem, eles destacam alguns direitos. Em primeiro lugar, destacam o
direito de andar no ônibus coletivo com o passe livre do idoso; em segundo,
destacam a prioridade nas filas; em terceiro, o assento preferencial nos ônibus
coletivo; em quarto, o direito da passagem intermunicipal e interestadual e a
meia passagem, quando não se conseguem as reservas, e por último a
preferencial no atendimento à saúde.
“Do Estatuto conheço só algumas coisa, como andar de ônibus com
a carterinha, viajar de graça ou então paga a metade, né (MARIA DOLORES,
75 ANOS). “Essa carterinha aí foi Deus que mandou pra nós, porque não tem
coisa melhor pro idoso do que isso não, sentado ou em pé, mas ele vai de
graça” (XAVIER,79 ANOS).
Eu conheço muita coisa do estatuto, mas é mesmo que não conhecer, porque não vale de nada. A tal da prioridade numa fila de banco todo mundo é idoso e tem que ficar na fila enorme, se vai pra uma UPA daquela, meu Deus do céu, é uma eternidade pra ser atendido e no ônibus a coisa funciona melhor, nem que vá sentado lá atrás, chego lá e digo se levante, meu fii, eu sou idosa, aí eu sento. [ela gesticula com as mãos no sentido para cima e para baixo em movimentos rápidos indicando para levantar] (ISAURA GARCIA, 82 ANOS)
Eles também fizeram críticas quando falavam do direito à gratuidade
no ônibus, criticaram o fato de que, muitas vezes, os assentos estão ocupados
por pessoas que não se adequam às prioridades, outras vezes todos os
assentos estão ocupados com as prioridades, sentem a resistência das outras
pessoas em cederem o assento que não está na preferencial. Outra crítica se
deu em relação à prioridade nas filas, pois essa fila é bem maior,
principalmente no início do mês quando vão ao banco receber o salário da
aposentadoria.
Quando indagados sobre os direitos do idoso, segundo o estatuto,
quanto ao fato de estes estarem sendo respeitado, responderam o seguinte:
54
Nem todos, pois alguns respeitam, mas muita gente não respeita. Eu sempre que subo no ônibus, alguém me dá a cadeira, graças a Deus, e outa coisa é que atendimento médico tá complicado, porque agora no posto é por área e cada uma tem o mês de marcar consulta, e se for alguma coisa mais séria vai pro UPA e passa de manhã até de tarde lá pra conseguir atendimento, é horrive um negoço desse, se você num tiver um dinheirinho pra pagar uma consulta naquelas clínica no centro, você pena nesses hospital, minha fia (MARIA DOLORES, 75 ANOS).
“Alguns sim, e outros não, como do ônibus funciona. Já prioridade
na saúde não funciona, fila de banco, piorou” (ISAURA GARCIA, 82 ANOS).
“Tão, assim, às vezes tem gente que senta na cadeira dos idoso e finge que tá
dormindo só pra não dá a cadeira, aí outra pessoa tem que se levantar pra dá a
cadeira” (LAURA, 75 ANOS). “Tá nada, imagine que se o estatuto fosse
cumprido do jeito que é pra ser o idoso tava vivendo aqui na terra como se
tivesse no céu (XAVIER, 79 ANOS).
Essas críticas devem ser ouvidas e trabalhadas para melhorar o
atendimento aos idosos, pois eles sentem o desconforto e o constrangimento
dessas situações, e eles são os mais indicados a apontar as melhorias. Daí a
gestão participativa entre os representantes do poder público e a população
alvo da intervenção ser mais adequada, pois conhecer de perto a realidade e
necessidades dos idosos é primordial para atuar de maneira ampla
considerando as particularidades, pois a participação do idoso na construção
dos seus direitos e na melhoria é essencial.
Segundo Sposati (2007, p. 439), o campo da política social ainda
enfrenta muitos desafios, principalmente no investimento econômico, pois
conquistar avanços na efetivação dos direitos sociais é uma tarefa árdua e
conflituosa, e que a responsabilidade governamental está se diluindo para as
organizações não governamentais, o que fragiliza ainda mais a efetivação dos
direitos sociais por falta de política pública governamental que atenda às
necessidades de cada segmento da sociedade.
A população idosa está sendo alvo de muitos estudiosos da área
social, como Psicólogos, Sociólogos e Assistentes Sociais devido ao
crescimento populacional na faixa etária dos 60 anos ou mais, em uma
sociedade que, culturalmente, valoriza o novo tanto em relação à idade das
pessoas como em relação aos bens materiais. Para Mercadante (2003, p. 77),
55
o quantitativo de idosos tende a aumentar trazendo assim preocupações no
campo social, previdenciário, na saúde sendo necessário que os gestores das
políticas públicas priorizem esse segmento para que os impactos futuros não
sejam tão negativos. A autora diz ainda que para que o idoso possa conquistar
um novo lugar e significado na sociedade e que a visibilidade para esse
segmento possa ser conquistada, é necessária uma ação política. Dessa
forma, garante-se o espaço social para o ser que envelhece, sensibilizando
também a sociedade para ter uma conduta junto ao idoso de respeito à sua
autonomia, bem como seja superada a visão de que o idoso precise de quem
fale e lute por ele. E que as melhorias sejam alcançadas para todos.
Os idosos entrevistados conhecem pouco sobre seus direitos
garantidos no Estatuto do Idoso, mas apontam as falhas ocorridas no
cumprimento deste e sugerem melhorias na saúde do idoso, mais atividades
esportivas e mais espaços públicos para atividades com idosos, pois um CRAS
para atender vários bairros se torna complicado devido à distância do acesso
às atividades desenvolvidas nesse espaço.
56
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa apresentada teve por objetivo conhecer e apreender os
significados atribuídos à velhice por idosos participantes do grupo de
convivência do CRAS, e qual os impactos desse grupo na vida dos idosos
participantes. Sendo uma instituição estatal que trabalha dentro da política
pública de Assistência Social.
Visto que o quantitativo de idosos brasileiros aumenta a cada ano,
devido à conjuntura de uma baixa taxa de fecundidade, o aumento do incentivo
em orientações a uma alimentação equilibrada, e os idosos na medida do
possível estão aderindo a novos hábitos alimentares, atividade física, acesso a
grupos de convivência e acesso a bens e serviços de saúde pública. Esses
fatores estão contribuindo para a longevidade da população.
O estudo bibliográfico trouxe questões ligadas ao envelhecimento
em diversos aspectos, como o biológico, o psicológico, o sociocultural, bem
como a sociedade está vivenciando o novo e o velho em questões materiais e
relações pessoais. E a conjuntura que a sociedade capitalista está vivenciando
da valorização do novo tanto para bens de consumo como para as pessoas
jovens, está afetando na subjetividade das pessoas causando estranheza em
conviver ou mesmo dividir os mesmos espaços com as pessoas velhas.
O campo de pesquisa do estudo foi o Centro de Referência de
Assistência Social – CRAS Mondubim, e a partir do que a pesquisa propôs foi
possível atender aos significados atribuídos à velhice pelos idosos participantes
do grupo de convivência dessa instituição. E que a velhice tem seus amplos
significados desde a melhor fase da vida como a fase negativa, segundo
relatos, devido a ser a fase das doenças e perdas das pessoas queridas, a
exemplo do companheiro e dos amigos.
A participação do idoso no grupo de convivência traz alguns
impactos observados na pesquisa, como ser o único espaço de convivência
social para o idoso que passa por diversas privações, pro exemplo, a financeira
e a alimentar. É nesse grupo de convivência que se constroem novas
amizades, e a importância dessas ganha o significado de segunda família para
alguns idosos.
57
Sendo um achado da pesquisa que alguns idosos, com o tempo de
convivência no grupo, despertam uma paixão mútua que os levam ao namoro;
e o grupo é o local oficial para os encontros, ali o casal dança, põe a conversa
em dia, é o momento de cultivar mais ainda aquele sentimento que nasceu de
uma amizade. Percebemos que a sexualidade do idoso não deixa de existir
devido à idade avançada, eles são capazes de amar e de se relacionar a
qualquer tempo da vida.
É possível perceber por meio de alguns depoimentos a satisfação de
poder participar de um grupo de convivência e como esse contribuiu de
maneira positiva para os idosos darem uma nova significação para a velhice,
pois algumas relataram que antes de participar do grupo viviam de maneira
monótona e se sentiam abatidas, depois de começar a participar do grupo de
convivência se sentem cheias de energia, alegres, comunicativas e fizeram
muitas amizades, levando-as a melhor fase da vida segundo relatos.
Como pesquisadora, senti as tristezas, mas também as alegrias
vividas pelos voluntários da pesquisa em estar compartilhando um pouco da
experiência de vida dos idosos, assim como um pouco da realidade de cada
um foi muito gratificante e enriquecedor, fazendo-me crescer pessoalmente
tornando meus sentidos mais sensíveis a olhar e compreender uma realidade
que se mostra imediata, a qual por trás existe uma conjuntura de fatos e
acontecimentos que só é possível conhecer com a escuta e o olhar sensível
para a compreensão da realidade vivida pelo idoso.
O estudo em questão consiste em uma pequena parte de um amplo
universo: os idosos e suas intersubjetividades. Espero que novas pesquisas
busquem analisar os significados de velhice para idosos não só para
participantes de grupo de convivência, como também em não participantes e
em população rural, visto que as privações e dificuldades para os idosos que
vivem nessas áreas podem ser mais acentuadas. E que através desses
estudos os idosos possam dar significações positivas a essa fase da vida.
Este estudo foi enriquecedor no âmbito pessoal e profissional, uma
vez que o conhecimento adquirido em uma perspectiva teórica e prática foi
estimulador no interesse de realizar futuras pesquisas ligadas ao tema idoso.
Pois essas pessoas ainda têm muito a dizer e se apresentam como seres
ativos mesmo com as dificuldades financeiras, patológicas, relações
58
interpessoais. É necessário um novo olhar da sociedade civil e do poder
público para com essas pessoas no intuito de avançar nas melhorias,
superando os desafios para que a velhice possa ser vista como uma dádiva, e
não como um estorvo.
59
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62
APÊNDICES
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
1 DADOS PESSOAIS
Nome: ______________________________________
Idade: _________ Sexo: ( ) Masc. ( ) Femin.
Estado civil: ( ) Viúvo(a) ( )Divorciado(a) ( )Casado(a) ( )Solteiro(a)
Escolaridade: __________________
Profissão: _____________________
Tem filhos: ( ) não ( ) sim quantos? ___________
O (A) Senhor (a) mora com quem? ___________________________________
Situação previdenciária ( ) BPC ( ) Aposentado(a) ( ) Pensão ( ) S/recurso.
2 VÍNCULOS SOCIAIS
Conte um pouco da sua história de vida.
Conte um pouco da sua relação com sua família.
Como o senhor(a) veio a participar do grupo de convivência?
O(A) senhor(a) percebe se teve alguma mudança na sua relação familiar
depois que começou a participar do grupo?
O que o(a) senhor(a) acha das atividades que o grupo oferece para os
idosos.
Atividades que gosta, e na sua opinião o que poderia ser melhorado.
O(A) senhor(a) participa de outras atividades fora do grupo?
No seu círculo de amizades. Quem faz parte e qual a importância deles.
3 VELHICE
Em sua opinião o que é ser velho ou ser idoso.
Levando em consideração sua experiência de vida o que o(a) senhor(a)
considera de positivo ou de negativo nesse momento que o(a) senhor(a) está
vivendo.
O(A) senhor(a) se considera respeitado (a)?
63
O(A) senhor(a) já sofreu preconceito por ser idoso, por alguém ou em algum
lugar? Se sim, conte uma situação que o (a) senhor (a) vivenciou.
O(A) senhor(a) conhece o Estatuto do Idoso?
O que o(a) senhor(a) conhece do Estatuto do idoso?
Na opinião do(a) senhor(a), esses direitos estão sendo cumpridos ou
respeitados?
64
APÊNDICE B – Termo de Consentimento
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o(a) senhor(a) para participar da pesquisa “Serviço de
Convivência para Idosos: Os significados atribuídos à velhice por idosos
participantes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do
CRAS Mondubim”, cujo objetivo é apreender os significados que os
participantes do SCFV atribuem à velhice. A pesquisa é de responsabilidade da
pesquisadora Maria dos Santos de Sousa e tem como orientadora a Ms.ª
Fernanda Vieira.
Sua participação é voluntária e dar-se-á por meio de entrevista
semiestruturada e o(a) senhor(a) tem a liberdade de desistir de sua
participação antes, durante e após a coleta de dados, independente do motivo
e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. Sua identidade será preservada, sendo
utilizado nome fictício. Os resultados da pesquisa serão analisados e
divulgados no Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia, salvaguardando
sua identidade.
Para qualquer outra informação o(a) senhor(a) poderá entrar em
contato com a pesquisadora pelo telefone (85) 3296-5807, pelo e-mail:
[email protected] ou pelo endereço Av. João Pessoa 3884, Damas.
Consentimento Livre e Esclarecido
Eu fui informado pelo pesquisador sobre a natureza dessa pesquisa
e entendi suas explicações. Por isso concordo em participar da mesma,
sabendo que não terei prejuízo algum e posso sair quando quiser. Tendo em
vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto
meu consentimento em participar da pesquisa.
____________________________________
Nome do Participante da Pesquisa
____________________________________
Assinatura do Participante da Pesquisa
____________________________________
Assinatura do Pesquisador
Data: ____/____/________