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INTRODUÇÃO
O cérebro e toda a sua fascinante estrutura e complexa dinâmica de
funcionamento são, sem dúvida, uma área de extrema relevância
contextual na tentativa de perceber melhor o ser humano e todo o seu
comportamento, social, racional, irracional, verbal, motor, intelectual,
moral, religioso e emocional.
Neste sentido é importante perceber o funcionamento do cérebro e
a manifestação dessas funções, o comportamento humano. Vou tentar no
âmbito desta actividade reunir neste trabalho informações, opiniões e
ideias que considero importantes e procurarei torná-las inteligíveis e de
fácil consulta/leitura. O âmbito deste trabalho passa por alargar
conhecimentos e abordá-los de uma forma reflexiva tendo presente que a
leitura leva à incessante procura de uma maior compreensão e
alargamento de conhecimentos.
REVISÃO DA LITERATURA
O Sistema nervoso central e periférico (Figura I) é constituído por
unidades básicas denominados neurónios (Figura II). Uma das funções dos
neurónios consiste na transmissão dos impulsos nervosos. O influxo
nervoso passa das telodentrites de um neurónio às dendrites do seguinte,
processando-se, assim, a passagem das informações.
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Figura 1 – Representação do Sistema Nervoso FiguraII – Neurónio
Na Sociedade Moderna, dominada pelo Capitalismo, na utópica
procura da riqueza material, perdemo-nos na nossa própria riqueza, os
nossos cem mil milhões de neurónios. Esquecemo-nos de os treinar, de os
alimentar convenientemente e de os valorizar, assumindo muitas vezes
comportamentos destrutivos.
A comunicação nervosa é feita por contiguidade nas Sinapses com a
passagem de estímulos eléctricos por meio de substâncias químicas, os
neurotransmissores (serotonina, dopamina, acetilcolina, o glutamato e o
ácido gama-aminobutírico (GABA)). A comunicação estabelecida entre
neurónios é múltipla e característica de cada um, pelo que as imensas
possibilidades de relações tornam-nos únicos.
O cérebro e as drogas têm uma longa relação histórica. Como já
referi, muitas vezes assumimos comportamentos destrutivos e nocivos
para o nosso organismo em geral e para o nosso cérebro em particular. É
o caso do uso e abuso de drogas ou estupefacientes de origem variada.
Este flagelo assombra o ser humano e destrói vidas, famílias e sociedades.
Certas propriedades dos neurotransmissores são mimetizadas por muitas
drogas sintéticas, o ecstasy mimetiza alguns dos efeitos da serotonina em
algumas células alvo. A dopamina e o glutamato parecem estar
relacionados com o uso da cocaína.
É imperativo referir que grandes “mentes”, sobre a influência de
psicotrópicos, opiáceos e álcool atingiram níveis elevados de coerência e
virtude mental capaz de gerar, descobrir e constatar, com uma
clarividência quase divina, factos e princípios ocultos do olhar humano.
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As fases maníacas, as fases depressivas, a ludopatia, o alcoolismo e
o desejo sexual hiperactivo têm bases de manifestação neuroquímica e
biológica. A evolução das neurociências podem ajudar a perceber a
bioquímica cerebral e desenvolver terapêuticas passíveis de combater
certas dependências, álcool, cocaína, heroína entre outros.
A história tem-nos mostrado uma íntima relação entre o cérebro e a
mente.
As células têm a capacidade de se regenerar e multiplicar, porém as
células nervosas não têm a capacidade de se auto regenerar, pelo que
com a morte de um neurónio perde-se um número variado de
interligações que se manifestam em diversos comportamentos, emoções,
memórias, aprendizagens e sensações. O conceito de plasticidade neural
varia de pessoa para pessoa e depende das complexas e intensas relações
com o meio ambiente em que se insere. Poncin citado por Grandpierre
(1999) separa esta neuroplasticidade em duas formas:
- a plasticidade cerebral funcional, em que através de uma
reeducação activa, os neurónios em “repouso” tomam a seu encargo a
função perdida de neurónios mortos;
- a plasticidade cerebral estrutural, em que através de uma
reeducação activa, a perda de neurónios é compensada pela criação de
novas junções funcionais (novas dendrites).
Este tema desperta-me para o conceito de rede neural, onde se
estabelecem relações/ligações para uma determinada acção, raciocínio,
memorização ou comunicação. Imagine-se um conjunto de veados a
percorrer vastos campos de erva, cuja altura é de 2 metros, os veados ao
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percorrer sistematicamente os diversos caminhos que conduzem uma
operação mental de A para B, começam a ter o percurso facilitado e
decalcado, tornando essa relação mais rápida e eficaz. Neste sentido sou
da opinião que se poderá despertar emoções e cognições através de
novas relações neurais e recuperar assim algo considerado perdido e
irrecuperável, assim como a treinabilidade do raciocínio e da
memorização de acontecimentos, factos, objectos, afectos e relações.
Em minha opinião, a mente é a manifestação “superior” da
dinâmica química, orgânica, fisiológica e metabólica do cérebro. Não é
palpável mas tem uma base física e orgânica.
As “más” relações electroquímicas cerebrais representam algumas
das patologias mais incapacitantes sob o ponto de vista intelectual e
social. A doença de Alzheimer é uma doença do cérebro (morte das
células cerebrais e consequente atrofia do cérebro), progressiva,
irreversível e com causas e tratamento ainda desconhecidos. Começa por
atingir a memória e, progressivamente, as outras funções mentais,
acabando por determinar a completa ausência de autonomia dos doentes.
A epilepsia é uma doença que tem como ponto de partida uma
perturbação do funcionamento do cérebro, devido a uma descarga
anormal de um determinado número de neurónios cerebrais.
A depressão é uma doença mental que se caracteriza por tristeza
mais marcada ou prolongada, perda de interesse por actividades
habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço
fácil.
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A intercomunicação química e eléctrica, quando fora dos padrões
considerados normais, despoleta patologias variadas e passíveis de ser
catalogadas em doenças mentais e/ou nervosas. As doenças mentais são
distintas das nervosas, uma vez que se lhe não aponta lesão física.
No âmbito das patologias de origem mental e nervosa com ou sem
lesão física é importante conhecer as diferentes áreas que compõem o
cérebro e as suas funções e responsabilidades:
O córtex cerebral humano é atravessado por uma fissura
longitudinal, que divide o cérebro em duas metades quase simétricas,
denominadas hemisférios cerebrais. Cada hemisfério é responsável pelo
controlo sensorial e motor do lado oposto do corpo. Das investigações
levadas a cabo, parece ser possível concluir que os sistemas de
processamento da informação são distintos:
· O hemisfério esquerdo é especializado em simbologia e lógica e ocupa-se
do pensamento mais analítico, linear e verbal. Constrói frases e resolve
equações. Faculta ao homem a ciência e a tecnologia.
· O hemisfério direito é responsável pela organização das percepções
espaciais e encarrega-se do pensamento mais sintético, holístico
(encontra as razões num só passo, intuitivamente) e imagístico. Ouve
música e apercebe-se da tridimensionalidade dos objectos. É o
responsável pela imaginação e pela arte.
O córtex que cobre cada hemisfério apresenta quatro regiões ou
lobos cerebrais, separados por fissuras (FiguraIII):
1. O lobo occipital, responsável pela visão.
2. O lobo temporal, responsável pela audição.
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3. O lobo parietal, responsável pelas sensações do corpo.
4. O lobo frontal, responsável pelos movimentos.
A grandeza e a sumptuosidade da manifestação da mente está
implícita na simplicidade, “complexa”, de intercomunicação entre os
diferentes constituintes do cérebro.
Figura III – O cérebro
Importa referir que Paul Broca descobriu que uma lesão na parte da
frente do hemisfério esquerdo provocava uma afasia (Grandpeirre, 1999).
Wernicke encontrou no mesmo hemisfério esquerdo uma outra
forma de afasia. Deste modo, uma determinada região do hemisfério
esquerdo é o centro da palavra (Grandpeirre, 1999).
A revisão bibliográfica que Grandpierre fez nesta área permitiu-
lhe concluir que cada hemisfério tem o seu tipo de inteligência.
O estranho caso de Phineas Gage, amplamente tratado e
desenvolvido na literatura explícita mostra-nos que alterações morfo-
fisiológicas e estruturais no cérebro têm implicação directa na alteração
de comportamento e tomada de decisões, o que nos leva a crer que a
relação corpo/mente e mente/corpo é uma relação de inter-comunicação
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bidireccional.
CONCLUSÃO
O cérebro, uma janela para o futuro. A vida humana é pautada
pelo factor tempo, o que nos permite falar em passado presente e futuro.
As actividades da memória permitem-nos recordar, relembrar,
total ou parcialmente factos e acontecimentos e permite ajudar na
construção/perspectivação do amanhã. É evidente o papel preponderante
na formação, edificação e armazenamento de conhecimentos.
A memória é a maneira como fazemos o registo do passado, para
a sua posterior utilização no presente. Sem memória, não haveria nem
antes nem depois, mas apenas agora, não haveria a possibilidade de
reconhecer pessoas, nomes nem sequer utilizar conhecimentos já
adquiridos (Gleitman, 1999).
A memória é comummente referida como sendo de curto ou
longo prazo. Os fenómenos na origem da codificação/descodificação e
armazenamento de imagens sons e percepções são complexos e extensos
para desenvolver neste trabalho. Porém, os intervalos de retenção, a
memória implícita e explicita o traço mnésico e a recordação levam-me a
fazer a seguinte consideração e analogia: o nosso cérebro, representa o
sótão da nossa casa, onde armazenamos e codificamos as mais diversas
informações e conhecimentos para actual e/ou posterior utilização. Cabe-
nos a nós ter um sótão organizado ou desorganizado. Como é evidente o
nosso sentido de “style” varia de indivíduo para indivíduo, assim como as
heranças biológico-genéticas prévias implícitas na “grandeza” do nosso
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“sótão”. Quero com isto dizer que temos a possibilidade de arrumar os
nossos conhecimentos em gavetas organizadas e de fácil recurso ou
amontoar, entulhar essas informações, dificultando-lhes o acesso. Tal
como fazemos com a nossa roupa, se usarmos determinada peça poucas
vezes, esta vai ficando no fundo do “armário” e até nos esquecemos dela.
Porém certo dia, um certo acontecimento, cheiro ou sentimento faz-nos ir
aos confins do “armário” buscar a dita peça. Felizmente existem técnicas
auxiliares de memorização, armazenamento, retenção e recordação de
conhecimentos, assim como as auxiliares de limpeza que nos ajudam a
arrumar o “armário”, o “sótão”.
Segundo Grandpierre (1999) a memória e a inteligência são
interdependentes. A memória favorece a armazenagem de
conhecimentos graças aos mecanismos da abstracção, e a inteligência
permite a ligação entre esses conhecimentos. Sem a memória, sem os
conhecimentos, o cérebro trabalharia em falso.
Concluo que o coração é o motor do corpo, mas a mente é o
motor da vida. Todo e qualquer desvio ou perturbação mental e
intelectual têm uma relação directa na manifestação da qualidade de vida,
das nossas ambições, sonhos e desvarios.
Encaro o cérebro como um macro “chip”, homófono de “cheap”,
barato. É de facto uma dádiva adquirida biologicamente e gratuitamente,
mas que tanto nos esquecemos de cuidar, tratar, limpar e alimentar com
estímulos variados e as mais amplas fontes de saber, o verdadeiro
alimento da mente, o conhecimento.
A imaginação/invenção/desvario é o motor do futuro. Os
utensílios do presente foram o sonho do passado e representarão uma
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recordação no futuro. Mas o importante é não nos esquecermos de viver
o presente.
BIBLIOGRAFIA
Damásio, A. 2009. O Erro de Descartes. 25ª Edição. Publicações Europa- América
Gleitman, H. (1999). Psicologia. Edição da Fundação Calouste Gulbenkian
Grandpierre, D. (1999). Como ter uma boa memória. Edições Cetop.
http://amentehumana.no.sapo.pt/projecto/projecto.htm
http://www.min-saude.pt/portal
http://pt.wikipedia.org/