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INTRODUÇÃO
A CIDADE DE COLOSSAS
Colossas era uma cidade da Frígia, região da Ásia Menor
(atual Turquia). Encontrava-se na parte superior do vale do rio
Lico, a uns 120 quilômetros de Éfeso. O vale do Lico tem cerca de
9 quilômetros de largura no ponto máximo e 36 de
comprimento. Em Colossas o vale tem apenas 3 quilômetros de
largura. Colossas situava-se perto das cidades de Laodicéia eHierápolis. Ela estava construída sobre duas colinas, na margem
esquerda do rio. Pouco se sabe de sua história. O historiador
Heródoto afirma que na antiguidade foi uma cidade importante.
Mas na época de Paulo era uma cidade pequena, menor que
Laodicéia e Hierápolis. O que se sabe é que Colossas era um
centro de indústria de lã preta, chamada de “lã colossense”, e de
tinturas. A cidade estava unida a Éfeso pela principal estradacomercial da Ásia, de modo que entre essas duas cidades havia
comunicação intensa.
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ALGUNS ASPECTOS SOBRE ESSA CIDADE
- Vivia pelas glórias do passado
- Era sempre abalada por tragéias naturais
- Perdeu sua importância devido o crescimento de outras cidades
- Existia ali uma grande colônia romana
- Era uma cidade muito idólatra
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COMEÇANDO A ENTENDER
A carta aos Colossenses, da mesma forma que Efésios,
Filipenses e Filemon, é um texto nascido na prisão. Não sabemos
exatamente quando foi escrita, mas tudo leva a crer que tenha
surgido nos anos 56-57, tempo em que Paulo deve ter estado
preso na cidade de Éfeso. Outros estudiosos afirmam que teria
sido escrita um pouco mais tarde, em Cesaréia (58-60), onde
Paulo esteve preso (At 24-26); outros ainda sugerem que a carta
teria sido escrita em Roma (61-63), quando Paulo esteve
novamente preso. A hipótese de Roma parece ser a mais difícilde ser defendida, e uma das razões é a distância entre essa
cidade e Colossas.
Da mesma forma como são discutíveis a data e o local
dessa carta, assim também é discutível a autoria. Foi Paulo
mesmo quem a escreveu? Os estudiosos não chegaram a um
consenso. E os motivos são vários. Entre eles está a questão dovocabulário, pois ela tem muitas palavras e expressões que não
se encontram em outros textos que todos reconhecem ser da
autoria de Paulo. O próprio estilo de Colossenses é diferente das
autênticas cartas paulinas. Além disso, temas muito
desenvolvidos nos outros escritos de Paulo – como a fé, a justiça,
a salvação, a lei etc. – não têm nessa carta grande
desenvolvimento. O modo como a igreja é apresentada revelaformas institucionais próprias de alguns anos depois, quando
apareceram as assim chamadas cartas pastorais (Timóteo e Tito).
A carta aos colossenses tem muita ligação com a carta aos
Efésios, outro texto sobre o qual os estudiosos discutem se é ou
não da autoria de Paulo. Há vários temas que se entrecruzam e
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se complementam, aumentando ainda mais as dificuldades dos
que se debatem em torno dessas questões.
O que dizer disso? Se for verdade que há resistências em
afirmar que a carta aos Colossenses seja de Paulo, é mais difícil
sustentar a hipótese que não seja dele. Tudo leva a crer que
Paulo ditou na cadeia essa carta e assinou (Cl 4.18) após ter
tomado conhecimento, por meio de Epafras fundador da
comunidade, das dificuldades pelas quais os colossenses
estavam passando em sua caminha de cristão. Trata-se,
portanto, de um texto ocasional como todas as cartas de Paulotendo como objetivo iluminar as questões próprias dessa
comunidade nesse momento.
Paulo não fundou a comunidade que recebeu o texto
conhecido como a carta aos Colossenses. Tudo indica que seu
fundador tenha sido Epafras, que Paulo chama de “querido
companheiro de serviço” (Cl 1.7) e “servo de Jesus Cristo” (Cl4.12). Diante dos conflitos surgidos na comunidade, Epafras deve
ter ido ao encontro de Paulo, buscando iluminação para a
questão. Por quê? Pela mesma razão que Onésimo, o escravo
fujão da casa do patrão Filemon, correu ao encontro de Paulo.
Ou seja: embora Paulo não tenha fundado as comunidades de
Colossas nem de Laodicéia (Cl 2.1), foi ele quem converteu
Filemon à fé em Jesus Cristo (Fm 19). Naquela região a pessoa dePaulo era tida em grande consideração.
Além do grupo que recebeu a carta aos Colossenses, nessa
cidade havia outros núcleos cristãos. Um deles era o que se
reunia na casa de Filemon, ao qual por essa época, Paulo envia
de volta o escravo Onésimo com um bilhete, a carta a Filemon. A
carta aos Colossenses dá a entender que Onésimo é o portador
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desse bilhete (Cl 4.9), ao passo que a carta aos Colossenses tem
como portador Tíquico, que Paulo chama de “o querido irmão,
ministro fiel e companheiro no Senhor” (Cl 4.7).
Outro núcleo cristão de Colossas parece ser a comunidade
que se reúne na casa de Ninfa (Cl 4.15). Não restam dúvidas de
que Paulo está na cadeia quando escreve a carta aos
Colossenses. Várias vezes ele confirma estar preso (Cl 4,3. 10.18).
Com ele está preso Aristarco (Cl 4.10). Um pouco antes ou
depois, ao escrever a Filemon, é a vez de Epafras fundador da
comunidade, estar preso com Paulo (Fm 23), ao passo queAristaco está solto. Isso demonstra que, por meio de suas cartas,
conhecemos apenas alguns aspectos da vida e dos problemas
que Paulo enfrentou ao longo de sua missão evangelizadora. As
pessoas que Paulo cita tanto em Colossenses quanto na carta a
Filemon (Timóteo, Epafras, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas)
confirmam que esses dois escritos nasceram em breve espaço de
tempo. A diferença de temas se deve às preocupações e conflitosde cada comunidade naquele exato momento de sua caminhada.
Obreiros mencionados por Paulo na carta (Cl 4.7-18)
Tíquico – Servo de todos, homem amável. (v.7)
Onésimo – Da escravidão para a liberdade. (v.8)
Aristarco – Amigo na triublação. (v.10)
Marcos – Obreiro da segunda oportunidade. (v.10)
Jesus justo – Bálsamos para seus companheiros. (v.11)
Epafras – Obreiro que orava e agia. (v.12,13)
Lucas – Obreiro que cuidava do corpo. (v.14)
Demas – Obreiro que desertou. (v.14)
Ninfa – Abre as portas para igreja. (v.15,16)
Arquipo – Obreiro que precisa de encorajamento. (v.17)
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Lições desses obreiros
Nenhum obreiro é completo em si mesmo.
Nenhum obreiro deve frustra-se porque não faz o que o
outro obreiro faz.
O obreiro precisa ser uma pessoa comunicativa.
Esquema de Carta
É difícil estabelecer uma divisão clara da carta aos
Colossenses, pois o próprio gênero literário “carta” não possui
um esquema rígido. Qualquer tentativa de esquematizar esse
texto é válida, porém não definitiva. Isso se deve ao fato de os
temas se entrecruzarem dentro do texto. O mais interessante é
notar que o primeiro hino (Cl 1.15-20) é o centro e o motor de
toda a carta. Tudo gira em volta dele, e toda reflexão parte dele
e a ele retorna. Neste estudo seguiremos a seguinte divisão:
Cl 1.1-2: Endereço e saudação inicial
Cl 1.3-8: Ação de graças
Cl 1.9-14: Pedido em forma de oração
Cl 1.15-20: Hino: Jesus Cristo, imagem do Deusinvisível
Cl 1.21-2,5: Jesus Cristo em nossa vida
Cl 2.6-3,4: Iluminando os conflitos
Cl 3.5-4,6: Exortação para um novo modo de ser e
para relações novas
Cl 4.7-18: Notícias e saudações finais
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UMA ENTREVISTA COM EPAFRAS
Antes de entrar no estudo da carta aos Colossenses, vamosdescobrir qual era o maior problema daquela comunidade. Assim
estaremos em condições de entender o sentido do escrito que
Paulo lhe enviou. Para isso, nada melhor do que conversar, em
forma de entrevista com Epafras.
• Epafras, você gostaria de se apresentar às pessoas que pretendem aprofundar a carta aos Colossenses?
Epafras: Pois não, com muito prazer. Eu me chamo Epafras. Sou
frígio, ou seja, habitante da Frígia, uma região da Ásia Menor.
Sou de Colossas, portanto, colossense. As cidades mais
importantes da Frígia são Laodicéia e Hierápolis. Toda a nossa
região é dominada pelos romanos. Já faz bastante tempo que
conheci Paulo e a proposta por ele anunciada, que ele chama de
“Palavra da Verdade” e “a graça de Deus” (Cl 1.5-6).
• Fale-nos um pouco de sua comunidade...
Epafras: Em Colossas há vários grupos ou núcleos cristãos. Aliás,
essa é uma estratégia missionária que aprendemos de Paulo. Ele
se preocupava em atingir as grandes cidades, fundando nelas
pequenas comunidades. Estas, por sua vez, deveriam levar a
mesma mensagem às cidades dos arredores, dando origem a
novas comunidades. Foi assim que a mensagem de Jesus chegou
à nossa pequena cidade de Colossas. No início houve muita
animação, provocando alegria nas pessoas e grande adesão (Cl
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1.6) Desde o início eu estive presente na caminhada da
comunidade (Cl 1.7). Mas em nossa cidade logo apareceram
outras comunidades, como a que se reúne na casa de Filemon
(Fm 2) e na de Ninfas (Cl 4.15). Aos poucos fomos criandocomunidades em outras cidades, como Laodicéia e Hierápolis.
• Por que você foi justamente à procura de Paulo? Não poderiater pedido a ajuda de Pedro ou de alguém ligado a ele?
Epafras: Claro que sim. Eu poderia ter procurado alguém ligado a
Tiago, a Pedro... Porém, apesar de nunca ter visitado nossas
comunidades nem as de Laodicéia (Cl 2.1), Paulo é muitoestimado por aqui. A maioria das comunidades que se
espalharam por essas regiões tem nele um ponto de referência
mais importante do que qualquer outro apóstolo. Como vocês
sabem nossas comunidades, que vocês chamam de comunidades
primitivas, não pensam nem agem todas uniformemente. Cada
apóstolo tem um jeito próprio de ser e de ver as coisas. Nós,
para qualquer efeito, nos consideramos parte das comunidades
paulinas...
• E qual seria a diferença entre as várias comunidades que osapóstolos fundaram?
Epafras: Veja bem: Aqueles que são considerados apóstolos
praticamente não têm morada fixa. Eles se deslocam de um ladopara outro. São missionários intinerantes. Por onde passam,
fundam novas comunidades ou confirmam a fé das que já
existem. É natural, portanto, que algumas comunidades estejam
mais ligadas a Pedro, outras a Tiago e outras ainda a Paulo... Nós
nos sentimos unidos a Paulo pelas razões que já tentei explicar.
Além disso, as comunidades que surgiram do esforço pastoral de
Paulo são heterogêneas. Nelas há uma mistura de raças, culturas
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etc. Sofremos um pouco por causa disso, mas a diversidade é
para nós fonte de enriquecimento mútuo. As comunidades
ligadas a Pedro ou a Tiago têm um perfi mais uniforme, pois são
substancialmente de origem judaica. Paulo tem um princípio quenos agrada muito: “Já não há grego nem judeu, circunciso ou
incircunciso, estrangeiro ou bárbaro, escravo ou livre, mas
apenas Cristo, que é tudo em todos” (Cl 3.11). Nós
experimentamos a alegria de viver essa comunhão de raças e
culturas, e devemos isso a Paulo.
• Esse princípio foi realmente levado a sério?Epafras: Ainda há muito para ser feito. Por exemplo, em relação
às classes sociais. Nós no momento vivemos a dura realidade da
escravidão. E nisso o imperialismo romano tem sua cota de
responsabilidade. Em nossas comunidades ainda há patrões e
escravos. Vigora também um tipo de mentalidade em que o
homem é visto como superior em relação à mulher. Imagine essadesigualdade levada para dentro de casa... Temos pela frente
grandes desafios... Não é de um momento para outro que
conseguiremos eliminar todas as desigualdades. Aliás, o sistema
social em que vivemos apoia e defende uma sociedade desigual.
Por isso temos de lutar contra tudo e contra todos... Na carta
que Paulo nos escreveu vocês vão encontrar preciosas indicações
a esse respeito...
• É verdade. Mas parece que na carta ele tem outras grandes e sérias preocupações...
Epafras: Claro. E foi justamente por causa disso que decidi ir ao
encontro dele, a fim de que nos ajudasse. Para que vocês
entendam melhor essa questão, vou contar um pouco mais a
respeito de nossa realidade e culturas. Nós, frígios, há tempo
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estamos acostumados a ver o mundo repleto de demônios,
exatamente como alguns de vocês ainda pensam hoje. Além de
demônios, nós imaginamos que o céu esteja cheio de tronos,
soberanias, principados e autoridades (Cl 1.16; 2.15). O espaçoentre a lua e a terra, para nós, está infestado de espíritos maus
que se encontram espalhados pelos ares. Há espíritos superiores
e espíritos inferiores. Os superiores recebem o nome de pleroma
– palavra que a na nossa língua signifca “plenitude”, e os
espíritos inferiores são chamados de kenoma, que sifnica
“nada”...
• Paulo, na carta que escreveu para vocês, utiliza a palavra“plenitude”...
Epafras: Ele emprega várias palavras e expressões muito
conhecidas por nós, mas lhes dá um sentido novo, como vocês
poderão notar ao estudar a carta. Por aí vocês podem perceber o
esforço que ele fez para falar a nosa linguagem, para inculturar a
mensagem. O que mais se ouvia em Colossas era justamente
essas palavras. Muita gente falava de pleroma sem saber
exatamente o que dizia... A Frígia é uma região vulcânica, com
frequentes terremotos. Os gases quentes que saem da terra
aquecem as águas de nossa região. Em Laodicéia e Hierápolis há
muitos poços de caldas... Todos esses fenômenos fazem o povo
acreditr que a nossa região é um campo de batalha entre osespírtitos dos ares e os espíritos dos infernos. Em outras
palavras, entre os espíritos bons e os maus.
Além disso, alguns filósofos da nossa região defendem a ideia
de que o mundo em que vivemos é essencialmente mau, oposto
a Deus, que é essencialmente bom. O mundo, portanto, não
pode ser obra dele...
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• Eu me recordo que, na carta, Paulo reage fortemente contraesse modo de pensar e de ver as coisas... Mas, continue...
Epafras: Se Deus não é o criador do mundo, que é mau, quem
então o teria criado? Nosso povo, instruídos pelos intelectuais,
acredita que este mundo mal tenha sido criado por poderes
secundários e intermediários entre Deus e o mundo. Esses seres
recebem o nome de eões ou demiurgos ou construtores de
mundos, que Paulo na carta chama de “elementos do mundo”
(2.8). Para muitos de nós, Deus não pode sujar as mãos com este
mundo mau. Tarefa de Deus é contemplar a si próprio, e essa é aunica ação digna dele.
• Mas de onde então vêm esses seres intermediários?
Epafras: Eles vêm de Deus, mas, à medida que se afastam dele
na hierarquia, vão decaindo em perfeição. E uma de suas obras é
justamente o nosso mundo, assaltado de todos os lados pelos
poderes das trevas (Cl 1.13).A alma humana é uma faísca de luzvinda do reino superior, onde está Deus, e perdida neste mundo
material.
• Se é assim, qual seria a missão de Jesus?
Epafras: Para libertar a alma das trevas, um dos melhores desses
eões, o Cristo superior, uniu-se ao homem Jesus no instante do
batismo no Jordão. Porém, antes que Jesus fosse cruficado, essa
potestade superior separou-se por completo do homem. Desse
modo, o Salvador não é Jesus, o crucificado, mas o Cristo que
retornou ao pleroma, ao mundo espiritual.
• Isso tudo é muito estranho...
Epafras: Para vocês pode parecer estranho, mas não para um
frígio. Essas idéias circulavam pelas comunidades de Colossas,
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Laodicéia e Hierápolis. As pessoas que chegassem a
compreender isso se chamavam “iluminadas” ou “gnósticas”.
Para chegar à iluminação elas deviam passar por um longo
processo de iniciação. A iniciação nessa doutrina vinhaacompanhada de rigorosas práticas ascéticas, da observância de
um calendário semanal, mensal e anual (Cl 2.16), do culto aos
anjos (Cl 2.18) da abstinência do vinho e da carne (tabus
alimentares), e da contiência em todos os sentidos (Cl 2.16.20-
23). Essa é uma herança de vários séculos, desde os antigos
filósofos gregos, que consideravam a matéria má. Na carta que
Paulo nos escreveu vocês poderão perceber como ele insiste no
fato de Deus ter criado tudo por meio de Jesus Cristo e para
Jesus Cristo...
• De fato, ele até compôs um hino (Cl 1.15-20) que resume muitobem o que você está dizendo...
Epafras: Sintetizando o que dissemos, podemos então chegar à
seguinte conclusão: Para muitas pessoas de nossas
comunidades, nós viemos de Deus, mas fomos precipitados na
matéria, que é má. Dentro de cada um de nós há uma faísca de
Deus e do mundo luminoso onde ele reside. Essa faísca luminosa
consituti nosso verdadeiro ser. Este nosso mundo é trevas, pura
alienação, e nosso corpo é uma pirsão. À medida que tomamos
consciência disso adquirimos conhecimento e nos colocamos nocaminho de volta à pátria celeste. Nossa redenção, portanto, não
é obra da graça de Deus, mas resultado do nosso esforço de nos
libertarmos da matéria má. E Somente quem possui a faísca
luminosa e se põe a caminho é que pode ser salvo. Ao longo da
carta que Paulo nos escreveu vocês encontrarão expressões
muito usadas na vida diária de nossas comunidades de Colossas,
Laodicéia e Hierápolis: “pleno conhecimento”, “sabedoria e
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discernimento” (Cl 1.9); “não pegue, não prove, não toque” (Cl
2.21); “severidade com o corpo é sinônimo de sabedoria” (Cl
2.23). Paulo chama a isso tudo de “filosofias enganosas e vãs” (Cl
2.8), mas para nossas comunidades isso tem grande influência,sobretudo por causa das escolas filosóficas presentes em nossa
região.
• Então foi por isso que você procurou Paulo?
Epafras: Como vocês podem ver o esforço de inculturação do
Evngelho em nossa realidade não se deu sem conflitos e
ambiguidades. Quando percebi que a pessoa de Jesus Cristo
acaba se confundindo com um ser qualquer, decidi procurar
Paulo a fim de que nos ajudasse a ver mais claramente nossa
caminha de cristãos. Encontrei-o na cadeia. Para mim foi uma
grande alegria poder reencontrar Paulo, mesmo que isso me
tenha custado a prisão (Fm 23). Sentimo-nos mais solidários e
fraternos. Ele me ajudou muito na busca do caminho certo. Creioque ajudará também os que buscam aprofundar a carta que ele
escreveu às nossas comunidades...
• Havia outros problemas nas comunidades de vocês?
Epafras: Claro que sim. Gostaria de acrescentar mais um. Na
nossa região havia muitos judeus. Eles formavam comunidades
consistentes em nossas cidades. Nosso relacionamento com elesnão foi pacífico, e as causas disso têm raízes políticas,
econômicas e religiosas. Eles, vivendo longe da própria terra,
procuraram inculturar a própria fé na realidade em que viviam.
Pelo fato de nós e eles termos as mesmas raízes na fé, queriam
que nos submetêssemos ao modo de viver próprio dele. Lendo a
carta vocês irão perceber que Paulo critica a preocupação deles
com a circuncisão (Cl 2.11) e o culto aos anjos (Cl 2.18). Para eles,
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os anjos funcionavam como seres interemediários entre Deus e a
humanidade exatamente como pensava os “iluminados” da
nossa região. Tanto os judeus quanto os “iluminados” defendiam
um modo de ser e de agir rigorosos, baseados em festas anuais,mensais e de dias especiais na semana (Cl 2.16), além de grandes
preocupações ascéticas. Na carta, Paulo inclusive cita uma de
suas expressões prediletas. “Não pegue, não prove, não toque”
(Cl 2.21).
• Epafras foi muito bom conversar com você. Assim ficamos
conhecendo melhor a realidade de vocês. E, conhecendo-amelhor, estamos em melhores condições para ler com proveito acarta. Você gostaria de acrescentar uma palavra final ?
Epafras: O grande desafio das nossas comunidades frígias é
reconstruir a esperança em Jesus Cristo. De fato, a rápida
assimilação de elementos culturais, sem submetê-los a um
confronto com a mensagem central da nossa fé, fez com que a
pessoa e a ação de Jesus Cristo se tornassem coisas sem
signifcado. Nossas comunidades caíram em certo fatalismo,
como se estivéssemos à mercê dos espíritos maus que estão
espalhados pelos ares... Na carta que recebemos de Paulo
sentimos renascer a esperança em Jesus Cristo, por meio do qual
“Deus pai nos arrancou do poder das trevas e nos transportou
para o Reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção, aremissão dos pecados” (Cl 1.13-14).