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7/25/2019 Co Los Senses http://slidepdf.com/reader/full/co-los-senses 1/14 INTRODUÇÃO A CIDADE DE COLOSSAS Colossas era uma cidade da Frígia, região da Ásia Menor (atual Turquia). Encontrava-se na parte superior do vale do rio Lico, a uns 120 quilômetros de Éfeso. O vale do Lico tem cerca de 9 quilômetros de largura no ponto máximo e 36 de comprimento. Em Colossas o vale tem apenas 3 quilômetros de largura. Colossas situava-se perto das cidades de Laodicéia e Hierápolis. Ela estava construída sobre duas colinas, na margem esquerda do rio. Pouco se sabe de sua história. O historiador Heródoto afirma que na antiguidade foi uma cidade importante. Mas na época de Paulo era uma cidade pequena, menor que Laodicéia e Hierápolis. O que se sabe é que Colossas era um centro de indústria de lã preta, chama da de “lã colossense”, e de tinturas. A cidade estava unida a Éfeso pela principal estrada comercial da Ásia, de modo que entre essas duas cidades havia comunicação intensa.

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INTRODUÇÃO

A CIDADE DE COLOSSAS

Colossas era uma cidade da Frígia, região da Ásia Menor

(atual Turquia). Encontrava-se na parte superior do vale do rio

Lico, a uns 120 quilômetros de Éfeso. O vale do Lico tem cerca de

9 quilômetros de largura no ponto máximo e 36 de

comprimento. Em Colossas o vale tem apenas 3 quilômetros de

largura. Colossas situava-se perto das cidades de Laodicéia eHierápolis. Ela estava construída sobre duas colinas, na margem

esquerda do rio. Pouco se sabe de sua história. O historiador

Heródoto afirma que na antiguidade foi uma cidade importante.

Mas na época de Paulo era uma cidade pequena, menor que

Laodicéia e Hierápolis. O que se sabe é que Colossas era um

centro de indústria de lã preta, chamada de “lã colossense”, e de

tinturas. A cidade estava unida a Éfeso pela principal estradacomercial da Ásia, de modo que entre essas duas cidades havia

comunicação intensa.

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ALGUNS ASPECTOS SOBRE ESSA CIDADE

- Vivia pelas glórias do passado

- Era sempre abalada por tragéias naturais

- Perdeu sua importância devido o crescimento de outras cidades

- Existia ali uma grande colônia romana

- Era uma cidade muito idólatra

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COMEÇANDO A ENTENDER

A carta aos Colossenses, da mesma forma que Efésios,

Filipenses e Filemon, é um texto nascido na prisão. Não sabemos

exatamente quando foi escrita, mas tudo leva a crer que tenha

surgido nos anos 56-57, tempo em que Paulo deve ter estado

preso na cidade de Éfeso. Outros estudiosos afirmam que teria

sido escrita um pouco mais tarde, em Cesaréia (58-60), onde

Paulo esteve preso (At 24-26); outros ainda sugerem que a carta

teria sido escrita em Roma (61-63), quando Paulo esteve

novamente preso. A hipótese de Roma parece ser a mais difícilde ser defendida, e uma das razões é a distância entre essa

cidade e Colossas.

Da mesma forma como são discutíveis a data e o local

dessa carta, assim também é discutível a autoria. Foi Paulo

mesmo quem a escreveu? Os estudiosos não chegaram a um

consenso. E os motivos são vários. Entre eles está a questão dovocabulário, pois ela tem muitas palavras e expressões que não

se encontram em outros textos que todos reconhecem ser da

autoria de Paulo. O próprio estilo de Colossenses é diferente das

autênticas cartas paulinas. Além disso, temas muito

desenvolvidos nos outros escritos de Paulo – como a fé, a justiça,

a salvação, a lei etc.  –  não têm nessa carta grande

desenvolvimento. O modo como a igreja é apresentada revelaformas institucionais próprias de alguns anos depois, quando

apareceram as assim chamadas cartas pastorais (Timóteo e Tito).

A carta aos colossenses tem muita ligação com a carta aos

Efésios, outro texto sobre o qual os estudiosos discutem se é ou

não da autoria de Paulo. Há vários temas que se entrecruzam e

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se complementam, aumentando ainda mais as dificuldades dos

que se debatem em torno dessas questões.

O que dizer disso? Se for verdade que há resistências em

afirmar que a carta aos Colossenses seja de Paulo, é mais difícil

sustentar a hipótese que não seja dele. Tudo leva a crer que

Paulo ditou na cadeia essa carta e assinou (Cl 4.18) após ter

tomado conhecimento, por meio de Epafras fundador da

comunidade, das dificuldades pelas quais os colossenses

estavam passando em sua caminha de cristão. Trata-se,

portanto, de um texto ocasional como todas as cartas de Paulotendo como objetivo iluminar as questões próprias dessa

comunidade nesse momento.

Paulo não fundou a comunidade que recebeu o texto

conhecido como a carta aos Colossenses. Tudo indica que seu

fundador tenha sido Epafras, que Paulo chama de “querido

companheiro de serviço” (Cl 1.7) e “servo de Jesus Cristo” (Cl4.12). Diante dos conflitos surgidos na comunidade, Epafras deve

ter ido ao encontro de Paulo, buscando iluminação para a

questão. Por quê? Pela mesma razão que Onésimo, o escravo

fujão da casa do patrão Filemon, correu ao encontro de Paulo.

Ou seja: embora Paulo não tenha fundado as comunidades de

Colossas nem de Laodicéia (Cl 2.1), foi ele quem converteu

Filemon à fé em Jesus Cristo (Fm 19). Naquela região a pessoa dePaulo era tida em grande consideração.

Além do grupo que recebeu a carta aos Colossenses, nessa

cidade havia outros núcleos cristãos. Um deles era o que se

reunia na casa de Filemon, ao qual por essa época, Paulo envia

de volta o escravo Onésimo com um bilhete, a carta a Filemon. A

carta aos Colossenses dá a entender que Onésimo é o portador

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desse bilhete (Cl 4.9), ao passo que a carta aos Colossenses tem

como portador Tíquico, que Paulo chama de “o querido irmão,

ministro fiel e companheiro no Senhor” (Cl 4.7). 

Outro núcleo cristão de Colossas parece ser a comunidade

que se reúne na casa de Ninfa (Cl 4.15). Não restam dúvidas de

que Paulo está na cadeia quando escreve a carta aos

Colossenses. Várias vezes ele confirma estar preso (Cl 4,3. 10.18).

Com ele está preso Aristarco (Cl 4.10). Um pouco antes ou

depois, ao escrever a Filemon, é a vez de Epafras fundador da

comunidade, estar preso com Paulo (Fm 23), ao passo queAristaco está solto. Isso demonstra que, por meio de suas cartas,

conhecemos apenas alguns aspectos da vida e dos problemas

que Paulo enfrentou ao longo de sua missão evangelizadora. As

pessoas que Paulo cita tanto em Colossenses quanto na carta a

Filemon (Timóteo, Epafras, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas)

confirmam que esses dois escritos nasceram em breve espaço de

tempo. A diferença de temas se deve às preocupações e conflitosde cada comunidade naquele exato momento de sua caminhada.

Obreiros mencionados por Paulo na carta (Cl 4.7-18)

Tíquico  – Servo de todos, homem amável. (v.7)

Onésimo  – Da escravidão para a liberdade. (v.8)

Aristarco  – Amigo na triublação. (v.10)

Marcos  – Obreiro da segunda oportunidade. (v.10)

Jesus justo  – Bálsamos para seus companheiros. (v.11)

Epafras  – Obreiro que orava e agia. (v.12,13)

Lucas  – Obreiro que cuidava do corpo. (v.14)

Demas  – Obreiro que desertou. (v.14)

Ninfa  – Abre as portas para igreja. (v.15,16)

Arquipo  – Obreiro que precisa de encorajamento. (v.17)

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  Lições desses obreiros

  Nenhum obreiro é completo em si mesmo.

  Nenhum obreiro deve frustra-se porque não faz o que o

outro obreiro faz.

  O obreiro precisa ser uma pessoa comunicativa.

Esquema de Carta

É difícil estabelecer uma divisão clara da carta aos

Colossenses, pois o próprio gênero literário “carta” não possui

um esquema rígido. Qualquer tentativa de esquematizar esse

texto é válida, porém não definitiva. Isso se deve ao fato de os

temas se entrecruzarem dentro do texto. O mais interessante é

notar que o primeiro hino (Cl 1.15-20) é o centro e o motor de

toda a carta. Tudo gira em volta dele, e toda reflexão parte dele

e a ele retorna. Neste estudo seguiremos a seguinte divisão:

Cl 1.1-2: Endereço e saudação inicial

Cl 1.3-8: Ação de graças

Cl 1.9-14: Pedido em forma de oração

Cl 1.15-20: Hino: Jesus Cristo, imagem do Deusinvisível

Cl 1.21-2,5: Jesus Cristo em nossa vida

Cl 2.6-3,4: Iluminando os conflitos

Cl 3.5-4,6: Exortação para um novo modo de ser e

para relações novas

Cl 4.7-18: Notícias e saudações finais

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UMA ENTREVISTA COM EPAFRAS

Antes de entrar no estudo da carta aos Colossenses, vamosdescobrir qual era o maior problema daquela comunidade. Assim

estaremos em condições de entender o sentido do escrito que

Paulo lhe enviou. Para isso, nada melhor do que conversar, em

forma de entrevista com Epafras.

•  Epafras, você gostaria de se apresentar às pessoas que pretendem aprofundar a carta aos Colossenses?

Epafras: Pois não, com muito prazer. Eu me chamo Epafras. Sou

frígio, ou seja, habitante da Frígia, uma região da Ásia Menor.

Sou de Colossas, portanto, colossense. As cidades mais

importantes da Frígia são Laodicéia e Hierápolis. Toda a nossa

região é dominada pelos romanos. Já faz bastante tempo que

conheci Paulo e a proposta por ele anunciada, que ele chama de

“Palavra da Verdade” e “a graça de Deus” (Cl 1.5-6).

• Fale-nos um pouco de sua comunidade...

Epafras: Em Colossas há vários grupos ou núcleos cristãos. Aliás,

essa é uma estratégia missionária que aprendemos de Paulo. Ele

se preocupava em atingir as grandes cidades, fundando nelas

pequenas comunidades. Estas, por sua vez, deveriam levar a

mesma mensagem às cidades dos arredores, dando origem a

novas comunidades. Foi assim que a mensagem de Jesus chegou

à nossa pequena cidade de Colossas. No início houve muita

animação, provocando alegria nas pessoas e grande adesão (Cl

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1.6) Desde o início eu estive presente na caminhada da

comunidade (Cl 1.7). Mas em nossa cidade logo apareceram

outras comunidades, como a que se reúne na casa de Filemon

(Fm 2) e na de Ninfas (Cl 4.15). Aos poucos fomos criandocomunidades em outras cidades, como Laodicéia e Hierápolis.

• Por que você foi justamente à procura de Paulo? Não poderiater pedido a ajuda de Pedro ou de alguém ligado a ele?

Epafras: Claro que sim. Eu poderia ter procurado alguém ligado a

Tiago, a Pedro... Porém, apesar de nunca ter visitado nossas

comunidades nem as de Laodicéia (Cl 2.1), Paulo é muitoestimado por aqui. A maioria das comunidades que se

espalharam por essas regiões tem nele um ponto de referência

mais importante do que qualquer outro apóstolo. Como vocês

sabem nossas comunidades, que vocês chamam de comunidades

primitivas, não pensam nem agem todas uniformemente. Cada

apóstolo tem um jeito próprio de ser e de ver as coisas. Nós,

para qualquer efeito, nos consideramos parte das comunidades

paulinas...

•  E qual seria a diferença entre as várias comunidades que osapóstolos fundaram?

Epafras: Veja bem: Aqueles que são considerados apóstolos

praticamente não têm morada fixa. Eles se deslocam de um ladopara outro. São missionários intinerantes.  Por onde passam,

fundam novas comunidades ou confirmam a fé das que já

existem. É natural, portanto, que algumas comunidades estejam

mais ligadas a Pedro, outras a Tiago e outras ainda a Paulo... Nós

nos sentimos unidos a Paulo pelas razões que já tentei explicar.

Além disso, as comunidades que surgiram do esforço pastoral de

Paulo são heterogêneas. Nelas há uma mistura de raças, culturas

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etc. Sofremos um pouco por causa disso, mas a diversidade é

para nós fonte de enriquecimento mútuo. As comunidades

ligadas a Pedro ou a Tiago têm um perfi mais uniforme, pois são

substancialmente de origem judaica. Paulo tem um princípio quenos agrada muito: “Já não há grego nem judeu, circunciso ou

incircunciso, estrangeiro ou bárbaro, escravo ou livre, mas

apenas Cristo, que é tudo em todos” (Cl 3.11). Nós

experimentamos a alegria de viver essa comunhão de raças e

culturas, e devemos isso a Paulo.

• Esse princípio foi realmente levado a sério?Epafras: Ainda há muito para ser feito. Por exemplo, em relação

às classes sociais. Nós no momento vivemos a dura realidade da

escravidão. E nisso o imperialismo romano tem sua cota de

responsabilidade. Em nossas comunidades ainda há patrões e

escravos. Vigora também um tipo de mentalidade em que o

homem é visto como superior em relação à mulher. Imagine essadesigualdade levada para dentro de casa... Temos pela frente

grandes desafios... Não é de um momento para outro que

conseguiremos eliminar todas as desigualdades. Aliás, o sistema

social em que vivemos apoia e defende uma sociedade desigual.

Por isso temos de lutar contra tudo e contra todos... Na carta

que Paulo nos escreveu vocês vão encontrar preciosas indicações

a esse respeito...

• É verdade. Mas parece que na carta ele tem outras grandes e sérias preocupações...

Epafras: Claro. E foi justamente por causa disso que decidi ir ao

encontro dele, a fim de que nos ajudasse. Para que vocês

entendam melhor essa questão, vou contar um pouco mais a

respeito de nossa realidade e culturas. Nós, frígios, há tempo

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estamos acostumados a ver o mundo repleto de demônios,

exatamente como alguns de vocês ainda pensam hoje. Além de

demônios, nós imaginamos que o céu esteja cheio de tronos,

soberanias, principados e autoridades (Cl 1.16; 2.15). O espaçoentre a lua e a terra, para nós, está infestado de espíritos maus

que se encontram espalhados pelos ares. Há espíritos superiores

e espíritos inferiores. Os superiores recebem o nome de pleroma 

 –  palavra que a na nossa língua signifca “plenitude”, e os

espíritos inferiores são chamados de kenoma,  que sifnica

“nada”... 

•  Paulo, na carta que escreveu para vocês, utiliza a palavra“plenitude”... 

Epafras: Ele emprega várias palavras e expressões muito

conhecidas por nós, mas lhes dá um sentido novo, como vocês

poderão notar ao estudar a carta. Por aí vocês podem perceber o

esforço que ele fez para falar a nosa linguagem, para inculturar a

mensagem. O que mais se ouvia em Colossas era justamente

essas palavras. Muita gente falava de  pleroma  sem saber

exatamente o que dizia... A Frígia é uma região vulcânica, com

frequentes terremotos. Os gases quentes que saem da terra

aquecem as águas de nossa região. Em Laodicéia e Hierápolis há

muitos poços de caldas... Todos esses fenômenos fazem o povo

acreditr que a nossa região é um campo de batalha entre osespírtitos dos ares e os espíritos dos infernos. Em outras

palavras, entre os espíritos bons e os maus.

Além disso, alguns filósofos da nossa região defendem a ideia

de que o mundo em que vivemos é essencialmente mau, oposto

a Deus, que é essencialmente bom. O mundo, portanto, não

pode ser obra dele...

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•  Eu me recordo que, na carta, Paulo reage fortemente contraesse modo de pensar e de ver as coisas... Mas, continue...

Epafras:  Se Deus não é o criador do mundo, que é mau, quem

então o teria criado? Nosso povo, instruídos pelos intelectuais,

acredita que este mundo mal tenha sido criado por poderes

secundários e intermediários entre Deus e o mundo. Esses seres

recebem o nome de eões  ou demiurgos ou construtores de

mundos, que Paulo na carta chama de “elementos do mundo”

(2.8). Para muitos de nós, Deus não pode sujar as mãos com este

mundo mau. Tarefa de Deus é contemplar a si próprio, e essa é aunica ação digna dele.

• Mas de onde então vêm esses seres intermediários?

Epafras: Eles vêm de Deus, mas, à medida que se afastam dele

na hierarquia, vão decaindo em perfeição. E uma de suas obras é

 justamente o nosso mundo, assaltado de todos os lados pelos

poderes das trevas (Cl 1.13).A alma humana é uma faísca de luzvinda do reino superior, onde está Deus, e perdida neste mundo

material.

• Se é assim, qual seria a missão de Jesus?

Epafras: Para libertar a alma das trevas, um dos melhores desses

eões, o Cristo superior, uniu-se ao homem Jesus no instante do

batismo no Jordão. Porém, antes que Jesus fosse cruficado, essa

potestade superior separou-se por completo do homem. Desse

modo, o Salvador não é Jesus, o crucificado, mas o Cristo que

retornou ao pleroma, ao mundo espiritual.

• Isso tudo é muito estranho...

Epafras:  Para vocês pode parecer estranho, mas não para um

frígio. Essas idéias circulavam pelas comunidades de Colossas,

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Laodicéia e Hierápolis. As pessoas que chegassem a

compreender isso se chamavam “iluminadas” ou “gnósticas”.

Para chegar à iluminação elas deviam passar por um longo

processo de iniciação. A iniciação nessa doutrina vinhaacompanhada de rigorosas práticas ascéticas, da observância de

um calendário semanal, mensal e anual (Cl 2.16), do culto aos

anjos (Cl 2.18) da abstinência do vinho e da carne (tabus

alimentares), e da contiência em todos os sentidos (Cl 2.16.20-

23). Essa é uma herança de vários séculos, desde os antigos

filósofos gregos, que consideravam a matéria má. Na carta que

Paulo nos escreveu vocês poderão perceber como ele insiste no

fato de Deus ter criado tudo por meio de Jesus Cristo e para

Jesus Cristo...

• De fato, ele até compôs um hino (Cl 1.15-20) que resume muitobem o que você está dizendo...

Epafras: Sintetizando o que dissemos, podemos então chegar à

seguinte conclusão: Para muitas pessoas de nossas

comunidades, nós viemos de Deus, mas fomos precipitados na

matéria, que é má. Dentro de cada um de nós há uma faísca de

Deus e do mundo luminoso onde ele reside. Essa faísca luminosa

consituti nosso verdadeiro ser. Este nosso mundo é trevas, pura

alienação, e nosso corpo é uma pirsão. À medida que tomamos

consciência disso adquirimos conhecimento e nos colocamos nocaminho de volta à pátria celeste. Nossa redenção, portanto, não

é obra da graça de Deus, mas resultado do nosso esforço de nos

libertarmos da matéria má. E Somente quem possui a faísca

luminosa e se põe a caminho é que pode ser salvo. Ao longo da

carta que Paulo nos escreveu vocês encontrarão expressões

muito usadas na vida diária de nossas comunidades de Colossas,

Laodicéia e Hierápolis: “pleno conhecimento”, “sabedoria e

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discernimento” (Cl 1.9); “não pegue, não prove, não toque” (Cl

2.21); “severidade com o corpo é sinônimo de sabedoria” (Cl

2.23). Paulo chama a isso tudo de “filosofias enganosas e vãs” (Cl

2.8), mas para nossas comunidades isso tem grande influência,sobretudo por causa das escolas filosóficas presentes em nossa

região.

• Então foi por isso que você procurou Paulo?

Epafras: Como vocês podem ver o esforço de inculturação do

Evngelho em nossa realidade não se deu sem conflitos e

ambiguidades. Quando percebi que a pessoa de Jesus Cristo

acaba se confundindo com um ser qualquer, decidi procurar

Paulo a fim de que nos ajudasse a ver mais claramente nossa

caminha de cristãos. Encontrei-o na cadeia. Para mim foi uma

grande alegria poder reencontrar Paulo, mesmo que isso me

tenha custado a prisão (Fm 23). Sentimo-nos mais solidários e

fraternos. Ele me ajudou muito na busca do caminho certo. Creioque ajudará também os que buscam aprofundar a carta que ele

escreveu às nossas comunidades...

• Havia outros problemas nas comunidades de vocês? 

Epafras: Claro que sim. Gostaria de acrescentar mais um. Na

nossa região havia muitos judeus. Eles formavam comunidades

consistentes em nossas cidades. Nosso relacionamento com elesnão foi pacífico, e as causas disso têm raízes políticas,

econômicas e religiosas. Eles, vivendo longe da própria terra,

procuraram inculturar a própria fé na realidade em que viviam.

Pelo fato de nós e eles termos as mesmas raízes na fé, queriam

que nos submetêssemos ao modo de viver próprio dele. Lendo a

carta vocês irão perceber que Paulo critica a preocupação deles

com a circuncisão (Cl 2.11) e o culto aos anjos (Cl 2.18). Para eles,

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os anjos funcionavam como seres interemediários entre Deus e a

humanidade exatamente como pensava os “iluminados” da

nossa região. Tanto os judeus quanto os “iluminados” defendiam

um modo de ser e de agir rigorosos, baseados em festas anuais,mensais e de dias especiais na semana (Cl 2.16), além de grandes

preocupações ascéticas. Na carta, Paulo inclusive cita uma de

suas expressões prediletas. “Não pegue, não prove, não toque”

(Cl 2.21).

•  Epafras foi muito bom conversar com você. Assim ficamos

conhecendo melhor a realidade de vocês. E, conhecendo-amelhor, estamos em melhores condições para ler com proveito acarta. Você gostaria de acrescentar uma palavra final ?

Epafras: O grande desafio das nossas comunidades frígias é

reconstruir a esperança em Jesus Cristo. De fato, a rápida

assimilação de elementos culturais, sem submetê-los a um

confronto com a mensagem central da nossa fé, fez com que a

pessoa e a ação de Jesus Cristo se tornassem coisas sem

signifcado. Nossas comunidades caíram em certo fatalismo,

como se estivéssemos à mercê dos espíritos maus que estão

espalhados pelos ares... Na carta que recebemos de Paulo

sentimos renascer a esperança em Jesus Cristo, por meio do qual

“Deus pai nos arrancou do poder das trevas e nos transportou

para o Reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção, aremissão dos pecados” (Cl 1.13-14).