CONVIVENDO E APRENDENDO COM O SURDOCEGO
Organização e texto: Shirley Alves Godoy
ilustração: Andréia Souza
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
SHIRLEY ALVES GODOY
CONVIVENDO E APRENDENDO COM O SURDOCEGO
LONDRINA
AGOSTO DE 2011
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SHIRLEY ALVES GODOY
CONVIVENDO E APRENDENDO COM O SURDOCEGO
Produção didático-pedagógica apresentada
como um dos requisitos propostos pela
Secretaria de Educação do Estado do
Paraná em parceria com a Secretaria de
Tecnologia e Desenvolvimento no
Programa de Desenvolvimento Educacional
2010, para Intervenção Pedagógica na
Escola. Orientadora: Professora Drª Célia
Regina Vitaliano.
LONDRINA
AGOSTO DE 2011
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
PRÉ-PROJETO – PROFESSOR PDE – TURMA 2010
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
1) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professora PDE: Shirley Alves Godoy
Área PDE: Educação Especial
NRE: Londrina
Professora Orientadora IES: Célia Regina Vitaliano
IES vinculada: Universidade Estadual de Londrina
Escola de Implementação: Col. Estadual Hugo Simas – Ens. Fund. e Médio
Público objeto da intervenção: Professora guia-intérprete, aluna surdocega, alunos,
professores do estabelecimento de ensino.
2) TEMA DE ESTUDO DA PROFESSORA PDE
Rede de Apoio à Inclusão de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais
3) PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Unidade didática
4) TÍTULO
Convivendo e aprendendo com o surdocego
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AGRADECIMENTOS
A Deus primeiramente por me permitir estar vivenciando esta experiência.
À Professora Doutora Célia Regina Vitaliano a qual sabiamente tem me
orientado em todas as produções científicas do PDE 2010-2011, contribuindo
significativamente para meu aprimoramento teórico e profissional.
À Andréia Souza, querida amiga que trabalhou proficuamente para que as
ilustrações contidas neste manual tornassem a obra mais acessível.
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DEDICATÓRIA
À querida Bruna, carinhosamente chamada de “Dú” por aqueles que a
amam. A pessoa mais doce, mais pura e boa que me fez olhar com carinho e respeito pela
surdocegueira.
À professora Rozi Terra Fabri pela sua generosidade, paciência e
principalmente pelo seu exemplo de profissional da educação, permitiu que eu a
acompanhasse em seu maravilhoso trabalho.
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Sumário
01 - Apresentação 09
02 - Justificativa 10
03 - Objetivo geral 10
04 - Objetivos específicos 10
05 - Surdocegueira 11
06 - Classificação de Surdocegueira 11
07 - Surdocegueira Congênita 11
08 - Características 11
09 - Surdocegueira adquirida 12
10 - Características 12
11 - Pessoa com surdocegueira 12
12 - Formas de comunicação 13
13 - Pessoas que antes eram surdas 13
14 - Libras 13
15 - Língua de sinais em campo visual reduzido 14
16 - Língua de sinais tátil 15
17 - Alfabeto manual tátil – dactilologia 16
18 - Pessoas que eram cegas 17
19 - Sistema Braille 17
20 - Braille tátil (1) 18
21 - Braille tátil (2) 19
22 - Pessoas que antes eram ouvintes evidentes 20
23 - Tadoma 20
24 -Escrita na palma da mão 21
25 - Pessoas que apresentam resíduo auditivo 22
26 - Língua oral ampliada 22
27 - Língua oral ampliada com aparelho Loops 23
28 - Orientação e mobilidade 24
29 - Para andar 25
30 - Para trocar de lado 26
31 - Em passagem estreita 27
32 - Para subir e descer escadas 28
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33 - Ao usar o elevador 29
34 - Passagem por portas 30
35 - Ao sentar 31
36 - Diante de assentos perfilados 32
37 - Familiarização com ambiente 33
38 - Autoproteger 34
39 - Ao ausentar 35
40 - Ao entrar no carro 36
41 - Ao usar o ônibus 37
42 - Ao usar a escada rolante 38
43 - Utilizar objetos para locomover 39
44 - Situações que devem ser evitadas 40
45 -Atividades da vida autônoma 41
46 -No restaurante 41
47 - Na refeição 42
48 - Vestuários 43
49 - No banheiro ( uso do vaso sanitário) 44
50 - No banheiro ( uso da pia) 45
51 - Reconhecendo pessoas 46
52 - Orientações para lidar com o aluno surdocego 47
53 - Escola –equipamentos 47
54 - Escola inclusão 48
55 - Instrutor Mediador 49
56 - Postura do professor regente 50
57- Materiais adaptados 51
58 - Aspectos importantes de acessibilidade 52
59 - Definição de acessibilidade 52
60 - Piso tátil 52
61 - Considerações finais 53
62 - Referências 53
63 - Glossário 55
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APRESENTAÇÃO
O presente texto tem como objetivos: 1) Elaborar um manual para orientação da
comunidade em geral visando o atendimento de pessoas com surdocegueira, tanto no contexto
escolar, como também em seu cotidiano social. 2) Oferecer informações básicas, práticas e
simples de maneira a contribuir para a inclusão social da pessoa com surdocegueira em seu
meio. 3) Auxiliar a comunidade em geral a estabelecer contato com as pessoas com
surdocegueira, interagir e aprender com elas.
Todos nós somos diferentes, únicos e, nisso, consiste um dos aspectos de beleza da
natureza humana. Em meio aos desequilíbrios causados por diversos fatores e buscando formas
de superá-los, os seres humanos construíram e constroem a história da humanidade.
Dificuldades específicas, soluções diferentes sempre geram a riqueza da diversidade.
De maneira geral, pelo próprio instinto de sempre manter o equilíbrio em qualquer situação, o
ser humano adapta-se rapidamente à zona de conforto, rejeitando os fatores que vierem
ameaçar esta condição.
Portanto, a humanidade deve muito aos indivíduos deficientes que, buscando superar
suas próprias dificuldades e limitações, contribuíram para dinamizar a história, transformando
conceitos, enriquecendo o conhecimento e desenvolvendo o potencial humano de superação,
enfim, sendo seres resilientes, reagindo de forma positiva diante das condições adversas da
vida.
Os indivíduos com surdocegueira bem como aqueles que se propuseram a respeitar e
entender suas necessidades são parte desta história, assim como todos aqueles que nos dias de
hoje têm a oportunidade de usufruir dos conhecimentos pertinentes a esta área.
Ao relacionar-se com uma pessoa surdocega, é necessário agir reconhecendo a
deficiência como uma característica pessoal muito importante; desta forma, situações que
possam resultar embaraços serão mais facilmente solucionadas, pois respeito, sinceridade e
delicadeza para com nossos semelhantes nunca falham.
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JUSTIFICATIVA
A organização deste texto surgiu da necessidade de produzir um manual ilustrado,
com as principais noções funcionais acerca das habilidades de orientação e locomoção de uma
aluna surdocega pré-linguística que apresenta cegueira e baixo resíduo auditivo em situação de
inclusão na rede regular de ensino.
Em se tratando de alunos com surdocegueira, quando os sentidos da audição e da visão
se encontram gravemente comprometidos, as dificuldades relacionadas à aprendizagem e à
adaptação ao meio ambiente se multiplicam, principalmente devido à necessidade de
estabelecer comunicação com seus semelhantes, o que exigem outras formas mais adequadas
de enfrentamento.
Nas ilustrações buscou-se o apelo visual e a utilização de uma linguagem simplificada,
possibilitando torná-lo acessível a um maior número de pessoas. Por isso, destina-se este
manual à comunidade em geral e aos profissionais da educação que atuam com alunos
surdocegos, favorecendo o manejo e o atendimento deste público.
OBJETIVO GERAL
- Elaborar um manual para orientação da comunidade em geral visando atendimento
de pessoas com surdocegueira, tanto no contexto escolar, como também em seu cotidiano
social.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Oferecer informações básicas, práticas e simples de maneira a contribuir para a
inclusão social da pessoa com surdocegueira em seu meio.
- Auxiliar a comunidade em geral a estabelecer contato com pessoas com
surdocegueira interagindo e aprendendo com ela.
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Iniciamos este material com explicações a respeito da surdocegueira com base nos
textos do Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial,
principalmente os folhetos da “Série Surdocegueira e deficiência Múltipla Sensorial”, ano
2005.
SURDOCEGUEIRA
A definição da Surdocegueira é bastante discutida pelos profissionais da educação,
como também pelos órgãos que definem as políticas de atendimento. Dentre as definições
aceitas pelos especialistas encontra-se que:
É uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais
concomitantemente em diferentes graus, levando a pessoa surdocega a
desenvolver diferentes formas de comunicação para entender e interagir com
as pessoas e o meio ambiente, proporcionando-lhes o acesso a informações,
uma vida social com qualidade, orientação, mobilidade, educação e trabalho
(GRUPO BRASIL, 2003).
CLASSIFICAÇÃO DE SURDOCEGUEIRA
SURDOCEGUEIRA PRÉ-LINGUÍSTICA OU CONGÊNITA
Surdocegueira pré-linguística ou congênita é aquela que ocorre antes do nascimento
ou é adquirida em tenra idade, antes da aquisição de uma língua, seja ela oral (Língua
Portuguesa) ou visual espacial (Língua Brasileira de Sinais/LIBRAS). A criança surdocega
congênita não adquire uma imagem real do mundo em que vive, não aprende com as pessoas
com quem convive, pois não sabe o que tem. o que passa e nem sequer tem consciência de que
faz parte do mundo. Vive num eterno caos. Sem intervenção, seu mundo se resume ao seu
próprio corpo, nada existe fora de si mesmo, não há razão para explorar e comunicar-se.
CARACTERÍSTICAS
Movimentos estereotipados principalmente das mãos e dedos.
Apresentam balanceio corporal.
Isolamento.
Desinteresse pelas pessoas, objetos e pelo ambiente.
Não percebe pessoas e objetos ao seu redor.
Apresenta comportamento de auto e hetero agressão como defesa tátil.
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Dificuldades de locomoção.
Distúrbios alimentares.
Utiliza os outros sentidos: tato, olfato e paladar (leva objetos aos olhos ou à boca).
Não percebe e nem diferencia sons.
SURDOCEGUEIRA PÓS-LINGUÍSTICA OU ADQUIRIDA
Indivíduos que apresentam uma deficiência sensorial primária (auditiva ou visual) e no
decorrer de sua existência adquirem a outra, após a aquisição de uma língua (Língua
Portuguesa ou Língua de Sinais), como também ocorre à aquisição da surdocegueira sem outros
antecedentes.
CARACTERÍSTICAS
Apresenta dificuldade em participar de conversação ou jogos em grupos.
Dificuldade na locomoção (tropeça, esbarra nos móveis e pessoas).
Não percebe pessoas e objetos ao seu redor.
Tem dificuldade em ver e se movimentar no escuro.
Não percebe pessoas e meios de transportes que se aproximam pelos lados.
Derruba objetos de mesas e não percebe quando caem.
As luzes intensas atrapalham.
PESSOA COM SURDOCEGUEIRA
A criança surdocega não é uma criança surda que não pode ver e nem um cego
que não pode ouvir. Não se trata de simples somatória de surdez e cegueira,
nem é só um problema de comunicação e percepção, ainda que englobe todos
esses fatores e alguns mais (McInnes& Treffy, 1991). Segundo Telford &
Sawrey (1976), quando a visão e audição estão gravemente comprometidas, os
problemas relacionados à aprendizagem dos comportamentos socialmente
aceitos e a adaptação ao meio se multiplicam. (MEC/SEESP, 2006, p.11).
Portanto, é aquela que por ter ausência de percepção de formas ou imagens e de sons
necessita para seu desenvolvimento/aprendizagem de recursos e estratégias que lhe possibilite a
interação com o meio através dos outros sentidos (tato, olfato, paladar, proprioceptivo e
cinestésico), para a apropriação de conceitos e significados do mundo que a cerca, utilizando o
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Sistema Braille como principal meio de leitura e escrita necessitando de várias formas de
comunicação.
Formas de comunicação:
Apresentaremos a seguir alguns exemplos de formas de comunicação utilizadas pelas
pessoas com surdocegueira.
Pessoas que antes eram surdas:
Se a pessoa antes de adquirir a surdocegueira foi surda as formas de comunicação são.
Libras
É uma língua de modalidade viso-espacial, com uma estrutura linguística distinta da
língua portuguesa, é a primeira língua das pessoas surdas. Cada país apresenta a sua língua de
sinais. No Brasil denominamos de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
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Atribui-se às línguas de Sinais o status de língua porque elas são compostas de níveis
lingüísticos: fonológico, morfológico, sintático e semântico.
O que diferencia as línguas de Sinais das demais é a sua modalidade visual-espacial.
A pessoa com surdocegueira que antes era surda e apresenta baixa visão ou campo
visual restrito necessita de algumas adaptações mais específicas.
A seguir exemplificaremos essas formas de comunicação.
Língua de Sinais em Campo Visual Reduzido
Este sistema de comunicação não-alfabético possibilita que a pessoa surdocega com
perda de visão periférica advinda principalmente da Síndrome de Usher interaja com os demais
por meio de sinais. Sendo, no entanto, necessária uma adaptação ao campo visual do
surdocego.
A comunicação ocorre utilizando-se um quadrante (região compreendida entre a
cabeça até a altura do quadril), restringindo o campo visual-espacial perceptível pelo surdocego
na realização da recepção do sinal.
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Língua de sinais tátil
A língua de sinais tradicionalmente usada pelas pessoas surdas, ao ser utilizada pelas
pessoas surdocegas, é adaptada ao tato. Essa adaptação consiste na realização dos sinais em
uma ou ambas as mãos da pessoa surdocega, segundo opção dela. Geralmente, a posição,
orientação e configuração das mãos para realização dos sinais permanecem as mesmas,
mudando apenas o espaço de sinalização e a forma de recepção.
O objetivo da utilização dos sinais adaptados é o de viabilizar a compreensão de toda
informação pela pessoa surdocega.
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Alfabeto manual tátil- dactilologia
Este sistema de comunicação alfabético utilizado pelas pessoas surdas é adaptado para
as pessoas com surdocegueira.
Consiste em realizar o alfabeto manual (dactilologia) na palma da mão da pessoa com
surdocegueira. A realização das letras sobre a palma da mão da pessoa surdocega para que ela
perceba através do tato o sinal e o seu significado correspondente, estabelecendo assim a
comunicação com as demais pessoas.
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Pessoas que antes eram cegas:
Se a pessoa antes de adquirir a surdocegueira foi cega as formas de comunicação são.
Sistema Braille
Sistema Braille consiste em um sistema de leitura e escrita tátil que consta de seis
pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. Os seis pontos formam a “cela
Braille”. Para facilitar a sua identificação os pontos são numerados de cima para baixo, coluna
da esquerda, os pontos são 1,2 e 3 e de cima para baixo coluna da direita os pontos são 4,5 e
6.
A diferente disposição desses seis pontos permite a formação de sessenta e quatro
combinações ou símbolos Braille, sendo vinte e seis utilizadas para as letras do alfabeto, dez
para os sinais de pontuação de uso internacional e os vinte e seis sinais restantes são destinados
para as necessidades de cada língua, podendo ser as letras acentuadas e os sinais de abreviatura.
Há o sinal de número que acompanha as dez primeiras letras do alfabeto e a cela
vazia que indica o espaço.
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A pessoa com surdocegueira que antes era cega e adquiriu a surdez necessita de
algumas adaptações do Sistema Braille.
Existem duas adaptações do Sistema Braille utilizadas pelas pessoas com
surdocegueira, a seguir exemplificaremos essas formas de comunicação,
Braille tátil (1)
É um sistema de comunicação alfabético. Consiste em utilizar o Sistema Braille, usado
pelas pessoas cegas para a leitura e escrita, adaptando-o nos dedos indicador e médio de uma
das mãos da pessoa surdocega.
A pessoa com surdocegueira levanta os dois dedos supracitados e abaixa os outros de
uma de suas mãos formando com os dedos uma cela Braille e as falanges representam o espaço
destinado a marcação dos pontos, por sua vez o guia-intérprete através de toques nas falanges
vai transmitindo a mensagem para a pessoa surdocega como se estivesse escrevendo em
Braille.
19
Desta forma a pessoa surdocega poderá se comunicar com as pessoas que dominam o
Sistema Braille marcando nos dedos cada letra que compõe uma palavra. Por exemplo: a letra
“a”representada pelo ponto número 1, é realizado a marcação deste ponto na primeira falange
do dedo indicador, a letra “b” representada pelos pontos 1 e 2 a marcação se dará na primeira e
na segunda falange do dedo indicador e assim por diante.
Braille tátil (2)
A segunda maneira consiste em utilizar o Sistema Braille, adaptando-o nos dedos
indicador, anular e médio de ambas as mãos da pessoa surdocega, posicionando os dedos na
mesma posição da teclas da máquina de datilografia Braille, no qual o dedo indicador esquerdo
corresponde ao ponto um, o dedo médio o ponto dois, o dedo anular o ponto três e o mesmo
com a outra mão, para o dedo indicador o ponto quatro, o dedo médio, o ponto cinco e o anular
o ponto seis.
O guia-intérprete1 através de toques nos dedos vai transmitindo a mensagem para a
pessoa surdocega como se estivesse acionando as teclas da máquina de datilografia Braille e
assim escrevendo a informação.
1 O guia-intérprete é o profissional que possui conhecimento e domínio das diversas formas de
comunicação utilizadas pelas pessoas com surdocegueira adquirida.
20
Pessoas que antes eram ouvintes e videntes:
Se a pessoa antes de adquirir a surdocegueira foi ouvinte e vidente, foi alfabetizada e
conhece o som dos fonemas e o desenho dos grafemas, existem algumas formas de
comunicação como.
Tadoma
É um dos recursos utilizados por pessoas surdocegas pós-linguísticas, que adquiriram
a surdocegueira após terem sido alfabetizadas, e seus guias-intérpretes para se comunicar. Ao
recorrer ao Tadoma, à pessoa surdocega coloca sua mão no rosto do locutor de tal forma que o
polegar toque suavemente o lábio inferior e os outros dedos pressionando levemente a
bochecha, a mandíbula e as cordas vocais. Este procedimento possibilita o acesso da pessoa
surdocega à produção da fala interpretando a emissão dos sons através do movimento dos
lábios e da vibração das cordas vocais de seus interlocutores.
O método Tadoma foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1926,
quando Sophia Alcorn conseguiu comunicar-se com os surdocegos Tad e Oma, nomes que
deram origem à palavra Tadoma.
21
Escrita na palma da mão
Este sistema alfabético consiste em escrever com letras maiúsculas (em caixa alta) na
palma da mão da pessoa com surdocegueira que foi alfabetizada, utilizando o dedo indicador
do interlocutor como ferramenta de escrita.
Pode-se fazer uso também de traços, setas para indicar a direção. Com relação ao
número além da escrita podem-se utilizar leves pancadas para indicar quantidades.
Escreva só na área da mão, uma letra por vez, não tente juntar as letras. Um sinal que
poderá ser utilizado para escrever um número após uma palavra pode ser um ponto, isto é, faça
um ponto com o indicador na base da palma da mão, isso indicará a pessoa surdocega que dali
em diante vira um número.
Outra maneira é utilizar um dedo da pessoa surdocega como lápis para o registro da
mensagem na palma de sua mão para que ela perceba por meio do tato o registro de cada letra.
22
Pessoas que apresentam resíduo auditivo:
Se a pessoa com surdocegueira possui resíduo auditivo funcional, pode-se utilizar as
seguintes formas de comunicação .
Língua oral ampliada
A língua oral amplificada ou fala ampliada consiste na recepção da mensagem expressa
pelo interlocutor por meio da língua oral, mediante o uso, por parte da pessoa com
surdocegueira, de aparelho de amplificação sonora (AASI) / aparelho auditivo.
No caso do uso do AASI, é fundamental que a guia - intérprete ou instrutora mediadora
se coloque a uma distância adequada, de acordo com a perda auditiva da pessoa surdocega, e do
lado em que apresente melhores condições de percepção do som (resíduo auditivo).
Assim o professor de apoio (Instrutor Mediador/Guia-Intérprete) faz a fala ampliada
como recurso de comunicação da aluna no âmbito escolar, principalmente na sala de aula,
transmitindo os conteúdos referentes à disciplina abordada em tempo real.
23
Língua oral ampliada com aparelho Loops
A língua oral amplificada ou fala ampliada ocorre também quando a pessoa surdocega faz
uso de aparelho de amplificação sonora com fones e microfone (Loops), neste caso o guia-
intérprete se posiciona bem próximo do melhor ouvido da pessoa surdocega e repete a
mensagem expressa pelo interlocutor por meio da língua oral no microfone do aparelho.
Em sala de aula o Loops pode ser utilizado pelo guia-intérprete ou instrutor mediador
para fazer a leitura dos livros, principalmente quando há textos muito longos.
24
Orientação e mobilidade
Agora passaremos a apresentar orientações específicas referentes à orientação e
mobilidade, conhecimento fundamental para o desenvolvimento da autonomia da pessoa com
surdocegueira e, consequentemente sua independência e inclusão no ambiente escolar e social.
A orientação e mobilidade está presente em nosso cotidiano desde quando nascemos,
nossos primeiros movimentos em relação ao ambiente, nossa mãe nos carregando no colo. Os
diferentes lugares em nossa casa e a associação que fazendo através dos sentidos.
Assim, entendemos que aos poucos associamos o que escutamos e o que vemos, junto
com os outros sentidos como o olfato (cheiro gostoso das comidas, perfume dos ambientes da
casa), tato (o toque das pessoas, a consistência das coisas), cinestesia (percepção do nosso
movimento), vestibular (nosso equilíbrio) e propriocepção (perceber a posição das várias partes
do corpo, sem precisar olhar para ele) e ir formando as próprias referências de cada ambiente.
De acordo com o MEC o conceito de orientação e mobilidade consiste em:
podemos dizer que a expressão orientação e mobilidade significa mover-se de
forma orientada, com sentido, direção e utilizando-se de várias referências
como pontos cardeais, lojas comerciais, guia para consulta de mapas,
informações com pessoas, leitura de informações de placas com símbolos ou
escrita para chegarmos ao local desejado (Seesp-Mec Fasciculo VII.P.7).
Sendo assim, a orientação e mobilidade se aplica:
a toda e qualquer pessoa que necessita chegar a algum local e que, para isso,
dispõe de todas essas referências para cumprir sua rota. Orientação e
mobilidade fazem parte da nossa rotina. Quando estamos dentro de nossa casa
e nos deslocamos de um ambiente para outro, estamos nos movendo de forma
orientada, pois conhecemos o ambiente e sabemos as direções que devemos
seguir para chegar até lá e também porque temos nossa consciência corporal e
de como devemos nos mover para cumprir nossa meta. Se estivermos em
nosso bairro, em nossa cidade, e conhecemos várias rotas para chegar a
determinados lugares, nós as utilizamos quando necessitamos. Só vamos nos
sentir "desorientados e imobilizados" quando temos que nos deslocar a um
lugar e não conhecemos o caminho para chegar a ele. Nesse caso, teremos que
usar todas as indicações e referências acima citadas para nos orientar e
seguirmos o caminho certo ( Seesp-Mec Fasciculo VII.P.7)
25
Para Andar
Ao auxiliar uma pessoa surdocega a andar, se ela aceitar deixe-a que segure pelo
cotovelo, mão ou ombro dependendo de sua altura. O guia-intérprete deverá deixar o braço
sempre abaixado, principalmente em caso de pessoa surdocega com resíduo auditivo, dessa
maneira ela procurará inclinar o seu corpo para melhor ouvi-lo, com esta postura o corpo da
pessoa surdocega não irá roçar o braço do guia.
Deve manter-se próximo dela para que ela perceba sua presença e interprete os
movimentos do seu corpo, garantindo que saiba desviar de obstáculos ou de outras pessoas em
seu caminho. Enquanto andar com ela, é conveniente dizer-lhe onde se encontram e o que
acontece em seu redor. Se enxergar algo que pareça interessante e que ela possa tocar, não
deixe de lhe mostrar.
É importante ser objetivo, mencionar as direções para ela - direita, esquerda, para
frente, para trás, para cima e para baixo. Utilizar sinais simples para avisar da presença de
obstáculos.
26
Para trocar de lado
Sendo necessário trocar de lado, o guia vidente - pessoa que conduz e mostra o
caminho - deverá avisar a pessoa surdocega da necessidade da mudança de lado e esperar que
se posicione um passo atrás e com a mão livre segure o braço do guia. Posteriormente solta a
primeira mão, só então, tateando as costas do guia a pessoa com surdocegueira deverá
encontrar o braço livre do outro lado, então fará a troca de posição retomando a posição básica
no sentido inverso.
27
Em passagem estreita
Diante de uma passagem estreita, onde só é possível passar uma pessoa de cada vez, a
guia-intérprete deverá colocar seu braço para trás dobrando-o nas costas, sinalizando para que a
pessoa surdocega possa perceber a mudança e assim segui-la, posicionando atrás de seu corpo
como se fosse uma fila.
Ultrapassado o obstáculo, a guia-intérprete volta seu braço à posição anterior
informando a pessoa surdocega para que volte e reassuma a posição anterior de andar ao seu
lado.
28
Para subir ou descer escadas
O guia-intérprete diante do primeiro degrau faz uma breve parada alinhando seu
corpo, ao mesmo tempo indica a pessoa surdocega que ação deverá ser realizada – subir ou
descer – através de um gesto corporal previamente estabelecido com ela, podendo ser um leve
movimento de braço indicando para cima ou para baixo. Para subir ou descer escadas a pessoa
surdocega deverá permanecer um degrau atrás do guia. Desta forma ela terá condições
favoráveis de interpretação de pistas cinestésicas do corpo do guia quando sobe ou desce os
degraus.
Nos patamares uma breve parada é suficiente para que a pessoa surdocega perceba o
descanso e no último degrau indique que os degraus acabaram sinalizando que acabou. A
utilização do corrimão é muito importante para que a pessoa surdocega tenha segurança, a
preferência de uso é dela, coloque uma de suas mãos no corrimão e a outra deve estar no
cotovelo do guia, ande lentamente, levante ou abaixe seu braço reforçando desta forma à
direção dos degraus.
29
Ao usar o elevador
A guia-intérprete sinaliza ao surdocego sobre a necessidade de utilizar o elevador. Com
auxílio da guia-intérprete a pessoa com surdocegueira rastreia a área e com a sua mão sobre a
dela busca o botão para chamar o elevador, encontrando-o a guia-intérperte retira
delicadamente a mão e orienta para que aperte o botão. Ambos se posicionam na entrada – a
guia-intérperte sempre na frente – esperam o elevador chegar. Certificando-se que a porta
abriu, estando o elevador e a porta no mesmo nível, entram com segurança.
Dentro utiliza-se o painel contendo os números dos andares – escritos inclusive no
Sistema Braille – orienta-se a pessoa surdocega a apertar o número do andar que deseja ir. Ao
chegar ao destino desejado espera-se o elevador parar e abrir a porta, certificando que o nível
da porta e do elevador ser o mesmo, a guia-intérperte sai e auxilia o surdocego a sair logo atrás
com segurança.
30
Passagem por portas
Necessitando passar por uma porta, ao se aproximar dela o guia-intérprete dá uma
pista verbal ou cinestésica para que a pessoa com surdocegueira possa assumir a postura de
passagem estreita, posicionando imediatamente atrás dele.
Por sua vez, o guia-intérprete puxa ou empurra a porta abrindo-a favorecendo a sua
passagem e da pessoa surdocega que elevará seu braço livre e com a palma da mão para frente
buscará tocar na porta localizando o trinco.
Ambos transpassam a porta em posição de passagem estreita, o guia-intérprete faz
uma breve pausa para que a pessoa surdocega possa encontrar o trinco e posteriormente fechar
a porta atrás de si. Finalizando a ação ambos retornam a posição inicial de andar um ao lado do
outro e continuam o caminho.
31
Ao sentar
Inicialmente deve-se perguntar se a pessoa surdocega deseja sentar. Havendo resposta
afirmativa, indica-se um assento para que ela possa sentar, conduzindo-a próximo a um móvel,
verbalizando a posição e características do mesmo.
A guia-intérprete então coloca sua mão no encosto da cadeira ou poltrona e conduz a
mão da pessoa surdocega em cima da sua. Quando percebe que ela sente-se segura, retira
vagarosamente sua mão para que a mão da pessoa surdocega toque no encosto da cadeira.
Ela fará com as mãos uma breve pesquisa do móvel e após o reconhecimento da
forma do assento, de suas características e das condições de uso poderá sentar-se sem
problema. No momento de levantar, o guia estabelece um contato ou a pessoa surdocega
solicita sinalizando ou dando uma pista verbal.
32
Diante de assentos perfilados
Em um auditório, teatro ou outro lugar onde os assentos estão perfilados, isto é em
fila, a guia-intérprete conduz sua acompanhante surdocega, informando através de pistas oral
ou cinestésica a posição e o início dos assentos. Por ser uma passagem estreita, ela orienta a
pessoa surdocega alinhando-a a andar na lateral ao seu lado. A guia-intérprete sempre na frente.
Uma vez encontrado o assento livre, indica-se a pessoa com surdocegueira para que
ela possa fazer o reconhecimento do local e sentar-se.
Para sair é usada a mesma técnica com o guia-interprete na frente.
33
Familiarização com o Ambiente
A guia-intérprete deverá apenas conduzir a pessoa surdocega pelo recinto,
confirmando as informações, ajudando a identificar os ambientes pelo nome e localização (Ex.
a porta do banheiro está à sua frente). Evite as mudanças constantes de móveis e quando o
fizer comunique à pessoa surdocega para que esta faça outro reconhecimento do local.
É importante que o surdocego tenha contato com uma grande variedade de objetos,
pois ajuda no conhecimento das formas. Não impeça que ele faça as coisas sozinho, sua
limitação já o impede de participar de muitas situações. A familiarização ajuda a desenvolver
habilidades, como a coordenação motora, propiciando à pessoa uma busca positiva pela
independência. Não deixe nada no caminho por onde uma pessoa surdocega costuma andar.
34
Autoproteger
Sem o guia-intérprete, a pessoa surdocega coloca o seu braço à frente de seu corpo, na
altura da cintura, com cautela e a certa distância do corpo antecipa as pontas dos pés enquanto
caminha.
Desta forma ela estará protegida e poderá deslocar-se com cautela detectando mesas,
móveis e objetos que possam atingir a linha média de seu corpo como os órgãos genitais e a
cintura.
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Ao ausentar-se
Informe o surdocego sempre que você sair do ambiente em que vocês se encontram,
mesmo que seja por um curto espaço de tempo. Assegure-se que ele ficará confortável e em
segurança. Se não estiver com sua bengala, vai precisar de algo para se apoiar durante a sua
ausência. Coloque a mão dele no objeto que lhe servirá de apoio.
Nunca o deixe sozinho num ambiente que não lhe seja familiar, se você necessitar
afastar, comunique-o, com isso você evitará a desagradável situação de deixá-lo falando
sozinho.
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Ao entrar no carro
Quando for sair de carro com uma pessoa surdocega, primeiro abra a porta, coloque
sua mão na porta aberta e conduza a mão da pessoa surdocega em cima da sua, faça-a tocar a
porta aberta com a mão, tateando-a de cima para baixo, pois assim ela pode ter uma noção do
tamanho da porta para não bater a cabeça. Avise-a se houver banco dianteiro, para ter
preferência do uso.
Depois de acomodada verifique se está tudo correto, coloque o cinto de segurança, só
então, feche a porta do carro tendo cautela para não lhe prender os dedos. Com a falta da visão
este cuidado é muito importante.
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Ao usar o ônibus
Na utilização do coletivo público a pessoa surdocega deverá estar acompanhada do
guia, a pessoa ou profissional que a acompanha deverá informar sobre os degraus do coletivo
em primeiro lugar, posteriormente deverá dar o braço para que a surdocega possa segurar em
seu cotovelo, deverá colocar a outra mão na alça externa vertical do veículo, estando prontas, a
guia sobe o primeiro degrau do ônibus faz uma pausa para que a pessoa surdocega possa
acompanhá-la, posteriormente ambas continuam até entrar no coletivo.
Uma vez dentro do ônibus, procure o assento reservado à pessoa com deficiência,
estando este espaço ocupado por pessoa nessas condições, solicite gentilmente a cedência de
um lugar ocupado por algum usuário do coletivo, posteriormente avise a pessoa surdocega da
sua preferência ao assento.
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Ao usar a escada rolante
A guia-intérprete informa à surdocega a necessidade de utilizar a escada rolante,
deslocando-se em direção ao início da escada.
A guia-intérprete coloca sua mão no corrimão da escada rolante e conduz a mão da
pessoa surdocega em cima da sua. Sentindo a velocidade dos degraus e estando a pessoa
surdocega segura e tranqüila, a guia-intérprete retira delicadamente sua mão para que a mão da
pessoa surdocega toque no corrimão percebendo melhor a sua velocidade. A guia-intérprete se
posiciona próximo ao primeiro degrau sinalizando para a pessoa surdocega o momento em que
ambos irão subir o degrau.
A guia-intérprete dá o sinal e sobe no primeiro degrau, auxiliando para que a pessoa
surdocega logo em seguida faça o mesmo, antes do término da escada rolante, a guia-intérprete
sinaliza avisando a pessoa surdocega que ambos deverão saltar, devendo então retirar a mão do
corrimão. Para descer o procedimento a ser realizado é o mesmo.
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Utilizar objetos para locomover
Quando a criança é surdocega, podem ser usados vários objetos além dos
convencionais (guias, bengalas, tecnologias), na forma de brinquedos que são usados na frente
do corpo. Exemplos: banquinhos, raquetes, bengalinhas de plástico, bastão com patinho,
carrinhos de empurrar e outros.
Já com o jovem e adulto podem ser usados carrinhos de supermercado, vassoura, etc.
para vivências de locomoção.
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Situações que devem ser evitadas
Portas entreabertas, gavetas mal fechadas, objetos espalhados no chão, pisos molhados
e escorregadios constituem uma fonte de perigo, pois poderá ocasionar um acidente e machucar
a pessoa surdocega. Mantenha as portas totalmente abertas ou fechadas e retire do caminho por
onde transita uma pessoa surdocega todo objeto que possa estar fora do lugar, assim ela poderá
utilizar sua bengala tateando o percurso livre de obstáculos.
Para as sugestões de orientação e mobilidade da pessoa com surdocegueira, nos
baseamos no material do Ministério de Educação Especial/MEC. “Caminhando Juntos:
Manual das Habilidades Básicas de Orientações e Mobilidade” de 2004 destinado ao público
da área visual, porém realizamos algumas adaptações que foram necessárias para melhor
compreensão da aluna que foi o modelo de nosso estudo.
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Atividades da vida autônoma
As atividades de vida autônoma referem-se a um conjunto de atividades que visam o
desenvolvimento pessoal e social no cotidiano do individuo, tendo em vista a independência, a
autonomia e a convivência social do surdocego.
West (1989, p.121) observa:
As habilidades da vida diária são tão importantes para os alunos surdocegos
em sua preparação para o futuro e para seu desenvolvimento intelectual e sua
interação social e participação em sua comunidade. A habilidade para realizar
atividades de vida diária tão independente favorecendo a sua auto-estima e os
seus sentimentos que são importantes para seu desenvolvimento psicológico.
Segundo Frederico ( 2006 ,p55)
Estas observações também são aplicadas para os indivíduos com múltiplas
deficiências. Os programas de atividades de vida autônoma e social devem ser
desenvolvidos por meio de um conhecimento técnico cientifico, de tempo,
compreensão, imaginação, senso comum, flexibilidade, tolerância, coerência,
conhecimento sobre personalidade, conhecimento das dificuldades e das
necessidades do surdocego, além de levar em conta as expectativas e os
interesses do indivíduo.
São muito importantes as atividades da vida autônoma e social, elas têm o objetivo de
proporcionar, ao indivíduo, condições para que, dentro de suas potencialidades, possa formar
hábitos de auto-suficiência que lhe permitam participar ativamente do meio em que vive.
Frederico ( 2006 ,p55) salienta que:
O programa de atividades de vida autônoma deve ser iniciado o mais cedo
possível, com intervenção apropriada e orientação à família, quando muitas
alterações podem ser compensadas ou superadas. As atividades de vida
autônoma e social devem ser desenvolvidas a partir do nível de experiência
perceptiva , dos significados e do nível conceitual do individuo.
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No restaurante
Em um restaurante, se você for o garçom, solicite auxílio do guia- intérprete para
abordar a pessoa surdocega. Se não tiver o cardápio adaptado para o Sistema Braille, informe-o
oralmente se ela tiver resíduo auditivo, tendo o cuidado de falar numa tonalidade mais alta de
maneira clara e pausada. Pergunte o que deseja beber ou comer normalmente, pondo a mão em
seu ombro para que esta saiba que está sendo consultada.
Mencione a disposição do prato e dos talheres na mesa para que esta possa se
localizar.
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Na refeição
A pessoa surdocega quando bem orientada é independente nas refeições. Ela necessita
que você descreva os alimentos servidos e faça o prato para ela. Pergunte o que deseja comer e
avise a disposição dos alimentos, seu prato é imaginado como se fosse um relógio (12h, 3h, 6h
e 9h). Evite enchê-lo, isso complica a localização dos alimentos. Corte a carne em pedaços
pequenos e legumes.
Com relação aos líquidos, não encha muito o copo ou xícara, e deixe ao alcance de sua
mão.
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Vestuários
Muitas vezes, a pessoa surdocega e o seu guia-intérprete não percebem que seus
sapatos estão desalinhados, trocados, o zíper da calça aberto, roupas com rasgos ou até com
manchas principalmente após comer. Avise o guia-intérprete quanto a qualquer incorreção em
seu vestuário. Ele encontrará a melhor maneira de lhe informá-la. Evitando que esses incidentes
provoquem comentários sobre a pessoa surdocega.
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No banheiro (uso do vaso sanitário)
Necessitando a pessoa surdocega de fazer uso do banheiro, a guia-intérprete deverá
orientá-la a utilizar o banheiro adaptado encontrado principalmente em ambientes públicos, as
barras na parede serão de grande auxílio para a localização do vaso sanitário, o suporte do
papel higiênico e o cesto de lixo.
Primeiramente a guia-intérprete deverá auxiliar a pessoa surdocega fazer o
reconhecimento do local, estando à pessoa surdocega segura do ambiente, a guia-intérprete se
retira e espera do lado de fora encostando a porta atrás de si.
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No banheiro (uso da pia)
Após a utilização do vaso sanitário, a guia-intérprete orienta a pessoa surdocega fazer
uso da pia para efetuar a higiene das mãos, indicando a cuba da pia, a torneira e o sabonete.
Terminando a ação de lavar as mãos, a guia-interprete encaminha a pessoa surdocega
até o suporte de toalha, auxiliando a pessoa surdocega a fazer uso dela e enxugar as mãos. Ao
terminar, ambas se retiram do banheiro.
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Reconhecer pessoas
Ao encontrar de uma pessoa surdocega conhecida acompanhada de seu guia-intérprete,
solicite que o guia mencione sua presença, aproxime-se e identifique-se pelo seu nome se ela
tiver resíduo auditivo ou, faça um contato físico: toque ligeiramente seu braço ou seu ombro,
caso você tenha estabelecido com ela o seu sinal, utilize-o.
Para que ela perceba que você esta dirigindo a ela, sem charadas, de maneira
respeitosa, pois lembrar-se de todas as pessoas que conhece é difícil sem o auxílio da visão.
Avise-a, também, quando necessitar ausentar.
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Orientações para lidar com o aluno surdocego
A seguir apresentaremos algumas orientações destinadas aos profissionais da
Educação para lidar com o aluno surdocego na escola e na sala de aula.
Escola - equipamentos
A escola deve ser equipada com máquinas de datilografia Braille e livros transcritos
para o Sistema Braille, sorobans, materiais adaptados em relevo, laptop e outros equipamentos
necessários para a apropriação do conhecimento. Caso não tenha os equipamentos adequados,
fazer solicitação aos órgãos públicos como as Secretaria Estadual ou Municipal de Educação ou
a Assistência Social do Município.
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Escola – inclusão
Faça divulgações em sua escola sobre as melhores maneiras de ajudar uma aluna
surdocega. Oportunize situações à colega surdocega para que ela possa conhecer todos de sua
turma, participando das mesmas atividades que você e para não ficar isolada dos demais.
Seja você um agente de inclusão sendo amigo(a) de uma pessoa surdocega, certamente
você terá muito que aprender com ela.
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Instrutor-mediador
O aluno surdocego necessitará de apoio pedagógico na sala de aula. Dar explicações
verbais sobre o conteúdo abordado e ler para ele tudo o que for escrito na lousa faz parte da
função do professor instrutor-mediador.
Instrutor-mediador:
Um profissional que não pode substituir o professor e nem ser substituído por
outros profissionais, pois ele tem conhecimento de um sistema alternativo de
comunicação e formas individuais de comunicação com o aluno que abrangem
a recepção e a expressão oferece informações conceituais e adicionais sobre o
que ocorre ao redor do aluno para sua total compreensão. Sua função é de
estar sempre com o aluno em todos os lugares que ele freqüenta e se
necessário preparar e adaptar materiais para que ele possa entender e participar
das atividades, principalmente as escolares (MAIA, 2008, p. 42).
O aluno surdocego não é tão rápido para escrever, podendo ter dificuldades em
acompanhar a turma; ajude-o com o conteúdo ditando os textos.
No caso de trabalhos ou pesquisas em livros impressos, o aluno surdocego pode
trabalhar em grupo, com alunos de visão normal. Ele necessita das seguintes adaptações:
Posicionar o aluno em frente ao professor de forma que ele possa ouvi-lo
melhor.
Dispor o mobiliário da sala de aula para ajudar no seu deslocamento, evitando
acidentes e facilitando sua locomoção.
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Postura do professor regente
Na sala de aula a aluna com surdocegueira deve sentar-se em frente à lousa. Sempre
que a professora estiver que explicar um conteúdo de uma disciplina para a turma deverá se
posicionar diante da aluna surdocega, em alguns momentos de explicação individual às vezes é
necessário abaixar para ficar mais próximo da aluna. Utilizar voz pausada, clara em um tom
mais alto.
Em situação de visita, em que o visitante deseje passar uma informação, solicitar que a
pessoa se posicione em frente da aluna surdocega e utilize uma fala clara em uma tonalidade
mais alta e pausada.
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Materiais adaptados
Em sala de aula a aluna surdocega deverá ter a sua disposição materiais adaptados em
alto relevo, com texturas diferenciadas. Reglete e punção disponíveis, pranchas e presilhas que
evitam que o papel deslize da carteira, lupa, Loop, laptop, Display Braille e outros
equipamentos de informática, material esportivo adaptado como bola de guizo e jogos de
tabuleiros, material didático de ampliado ou transcrito para o Sistema Braille, livro falado, e
outros.
O professor não é obrigado a exigir registros escritos, a manifestação oral é
reconhecida como conhecimento.
O professor deve estimular o desenvolvimento de uma consciência visual, para que o
aluno saiba interpretar formas de objetos através de uma imagem mental, estabelecendo a
relação entre o tridimensional e o simbólico.
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Aspectos importantes de acessibilidade
A seguir apresentaremos alguns aspectos importantes de acessibilidade para pessoas
surdocegas.
Definição de acessibilidade
Segundo o Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004,
acessibilidade está relacionada em fornecer condição para utilização, com
segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e
equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos
dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa
portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. No mesmo documento,
barreiras são definidas como qualquer entrave ou obstáculo que limite ou
impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a
possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação.
Piso tátil
O piso tátil é de uso exclusivo da pessoa cega e da pessoa surdocega acompanhada de
seu guia-intérprete. Não permita que outras pessoas façam mal uso dele. Necessitando de
auxílio para que esse direito seja respeitado, procure as autoridades responsáveis - guarda de
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trânsito, guarda municipal ou o Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas Deficientes - e
faça a sua reclamação.
Outros exemplos de inadequações de acessibilidade:
Objetos fixados na parede em posição baixa podem acarretar acidentes.
Carros ou motos estacionados em calçadas obstruindo o caminho onde a pessoa
surdocega poderá passar.
Evitar portões abertos, principalmente àqueles que abrem para fora obstruindo a
calçada por onde transitam pedestres.
Evitar utilizar a vaga do deficiente em estacionamentos público ou em frente as
escolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Avaliamos que este material didático não contempla todas as necessidades que a
pessoa surdocega pode apresentar. No entanto, visamos contribuir com as orientações básicas
para profissionais do contexto escolar, social e familiar.
Consideramos que estas orientações poderão facilitar o convívio das pessoas com
surdocegueira e favorecer seu desenvolvimento e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BRASIL Ministério de Educação Especial. Projeto Escola Viva; Garantindo o acesso e a
permanência de todos os alunos na escola - Alunos com necessidades educacionais especiais -
Brasília: MEC, SEESP, 2000.
______ Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Educação Infantil Saberes e
Práticas da Inclusão: dificuldade de comunicação e sinalização: surdocegueira/múltipla
deficiência sensorial 4ª Ed. Brasília: MEC/SEESP, 2006.
______Ministério de Educação Especial. Caminhando Juntos: Manual das Habilidades
Básicas de Orientações e Mobilidade – Brasília: MEC, SEESP, 2004.
______Ministério de Educação Especial. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão
Escolar Orientação e Mobilidade, Adequação Postural e Acessibilidade Espacial
55
FREDERICO, C. E. O domínio de atividades da vida autônoma e social referentes à
alimentação de crianças surdocegas com fissura lábio palatal. Dissertação de Mestrado.
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Curso de Pós Graduação de Distúrbios do
Desenvolvimento. São Paulo, 2006.
GRUPO BRASIL. Surdocegueira. Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e Múltiplo Deficiente
Sensorial. Folheto Informativo. São Paulo, 2003. 28
MAIA. S. R. A Educação do Surdocego – Diretrizes Básicas para pessoas não especializadas.
Dissertação de Mestrado. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Curso de Pós Graduação de
Distúrbios do Desenvolvimento. São Paulo, 2004.
______...et all. Estratégias de ensino para favorecer a aprendizagem de pessoas com
Surdocegueira e Deficiência Múltipla Sensorial: um guia para instrutores mediadores. São
Paulo: Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e o Múltiplo Deficiente Sensorial/Canadian
International Development Agency-CiDA, 2008.
______Projeto Pontes e Travessias: Formação de Guia-Intérprete. Centro de Recursos nas
áreas da Surdocegueira e Deficiência Múltipla Sensorial – Programa da Ahimsa -Associação
Educacional para a Múltipla Deficiência. Projeto assistido pelo Programa Hilton Perkins da
Escola Perkins para cegos, Watertown, Mass.U.S.A. O Programa Hilton Perkins é
subvencionado por uma doação da Fundação Conrad N. Hilton, de Reno, Nevada- U.S.A.
Projeto Ahimsa/Hilton Perkins, 2009.
SERPA. X. Manual para pais e professores “Ensino a criança surdocega”. Sense
Internacional Latinoamérica. 2002. Tradução Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao
Múltiplo Deficiente Sensorial, 2003.
SIERRA,M.A.B. AVD, AVAS, AVA, Atividades Cotidianas: Com a Palavra Vigotski e Heller. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2303:8.pdf?PHPSESSID-
2010012008183564. Acessado em 24/07/2011.
WEST, L. Functional Curriculum for transition. A Resource Guide. University of Missouri.
Columbia. 1989.
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GLOSSÁRIO
Alfabeto Braille: Apresentação gráfica dos 64 símbolos do Sistema Braille, distribuídos em
7 linhas ou séries, organizados pela ordem dos pontos:1, 2 e 3 à direita e 4, 5 e 6 à esquerda.
Ava: Atividade da vida autonoma
Cela Braille: Espaço retangular onde se produz um símbolo Braille. A cela é composta por 6
pontos, dispostos em duas colunas de 3 pontos.
Grafia Braille: Representação específica de acordo com uma área de conhecimento. Grafia
Matemática; Grafia Musical; Grafia de uma determinada língua, entre outros.
Guia-intérprete: É o profissional que possui conhecimento e domínio das diversas formas de
comunicação utilizadas pelas pessoas com surdocegueira adquirida. Sua função basicamente
consiste em realizar a transmissão da mensagem contextualizando-a e guiar o surdocego pós-
línguistico ou adquirido.
Instrutor Mediador: É o profissional que fornece intervenção para uma pessoa surdocega e
deficiente múltipla sensorial. Ele faz a mediação entre a pessoa que é surdocega e o seu
ambiente para capacitá-la a se comunicar com o mesmo efetivamente e receber informações
não distorcidas do mundo a seu redor
Libras: reconhecida pela Lei 10.436/2002, é entendida como a forma de comunicação e
expressão em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical
própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de
comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Máquina de escrever Braille: é um equipamento mecânico ou elétrico com um grupo de três
teclas paralelas de cada lado para representar a cela Braille, uma barra de espaço no centro
e um dispositivo para ajustar a folha de papel.
Orientação e mobilidade: significa mover-se de forma orientada, com sentido, direção e
utilizando-se de várias referências como pontos cardeais, lojas comerciais, guia para consulta
de mapas, informações com pessoas, leitura de informações de placas com símbolos ou escrita
para chegarmos ao local desejado.
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Punção: é uma haste de madeira ou de plástico com ponta de metal, em diversos formatos,
usado para a perfuração dos pontos nas celas Braille.
Recursos didáticos: São todos os recursos físicos, utilizados, com maior ou menor freqüência,
em todas as disciplinas, áreas de estudo ou atividades, constituindo-se num meio para
mediar, incentivar ou possibilitar o processo ensino e aprendizagem.
Reglete: é uma régua de plástico ou de metal, constituída por um conjunto de celas vazadas,
dispostas horizontalmente em linhas paralelas, ajustada a uma base retangular compacta.
Sistema Braille: Consiste num sistema de leitura e escrita alto relevo, com base em 64
combinações resultantes da combinação de seis pontos, dispostos em duas colunas de 3 pontos.
É também denominado de Código Braille.
Soroban: Instrumento utilizado para trabalhar cálculos e operações matemáticas. Espécie de
ábaco que contém cinco contas em cada eixo e borracha compressora para deixar as contas
fixas.