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RESUMO 1
Valor nutritivo de variedades de cana-de-açúcar em função da adubação nitrogenada 2
3
Objetivou-se avaliar o valor nutritivo de variedades de cana-de-açúcar em função da adubação 4
nitrogenada. As variedades estudadas foram RB 863129, RB 867515 e RB 92579, e as doses 5
nitrogenadas 0, 60, 80, 120 e 140 kg N ha-1
. O experimento foi dividido em duas etapas, 6
sendo que na primeira etapa avaliou-se a produtividade e qualidade nutricional de três 7
variedades de cana-de-açúcar (Ano I - cana-planta), e na segunda, (Anos II e III) avaliou-se a 8
influência da adubação nitrogenada na qualidade nutricional da primeira e segunda soca das 9
mesmas variedades. Para a análise de produtividade e os demais parâmetros foram feitas três 10
coletas de material vegetal, uma a cada final de ano experimental. Determinou-se os teores de 11
matéria seca (MS), e, com base na MS, proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro 12
(FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS). 13
Na cana-planta foram determinados o teor de Brix e a relação FDN/Brix. Para a cana-planta, a 14
produtividade (t ha-1
) e os teores de MS e PB, foram superiores (P<0.05) para a variedade RB 15
863129. Não houve diferença (P<0,05) entre as variedades para os teores de FDN e FDA e 16
para a DIVMS. As três variedades avaliadas apresentaram composição química razoável para 17
nutrição de ruminantes e digestibilidade in vitro maior que 60%. Na primeira e segunda 18
soqueira houve diferença (P<0,05) entre variedades e doses de adubação para os parâmetros 19
avaliados, com exceção do teor de MS e digestibilidade in vitro, que foram influenciados 20
(P<0,05) pelas variedades, doses de N e anos de corte. A variedade RB 92579 apresentou nas 21
duas soqueiras a melhor produtividade (131 t ha-1
de colmos), aliada aos melhores parâmetros 22
nutricionais (FDA 26%, FDN 41%, PB 2,4% e DIVMS 69,4%). A produtividade da cana-de-23
açúcar, assim com a sua qualidade nutricional, pode ser influenciada de acordo com o ano de 24
2
corte e o manejo estabelecido em relação à adubação nitrogenada, além disso, as respostas 25
observadas foram influenciadas pelas variedades na maioria dos parâmetros avaliados. 26
27
Palavras-chave: digestibilidade in vitro, nutrição animal, Saccharum officinarum 28
29
INTRODUÇÃO 30
Na produção de ruminantes a pasto, o grande problema enfrentado pelos pecuaristas 31
diz respeito à estacionalidade da produção de forragem, a qual é responsável por causar 32
oscilações da produção animal, uma vez que aproximadamente 80% da matéria seca das 33
forragens produzidas nas pastagens durante o ano estão disponíveis na estação chuvosa, 34
tornando-se a estação seca um período crítico, no qual a produção de forragens é insuficiente 35
(Bonomo et al., 2009). Diante dessa situação, a busca por fontes alternativas de alimento, 36
visando suprir a deficiência de volumosos na época da seca, bem como o atendimento às 37
exigências nutricionais dos animais, faz-se necessários. 38
A cana-de-açúcar, como alimento alternativo, destaca-se por vários aspectos como a 39
elevada produção de matéria seca (MS) por hectare, facilidade de cultivo, rusticidade e, 40
principalmente, a elevada digestibilidade de matéria seca, mesmo quando a cultura atinge a 41
maturidade, o que lhe confere vantagem como forragem, visto que as forrageiras tropicais 42
perdem em quantidade e qualidade durante a estação seca do ano, época em que a cana-de-43
açúcar apresenta máximo conteúdo de energia em forma de sacarose (Abranches e Bolonhezi, 44
2011). Diversos estudos conduzidos foram realizados visando à utilização da cana-de-açúcar 45
na alimentação animal, porém, o valor nutritivo tem sido ainda, objeto de muitas indagações, 46
principalmente quanto à definição de variedades com características mais adequadas à 47
produção de forragem e quanto ao manejo (Siqueira et al., 2012). O conceito fundamentado 48
3
por Boin et al. (1987) de que as melhores variedades de cana-de-açúcar forrageira são as que 49
apresentam elevada proporção de folhas e colmos em relação a massa verde total não tem hoje 50
mais sustentação, devendo ser considerado, também, a produtividade de massa verde e o valor 51
nutritivo, quanto ao teor de açúcares e a fração de fibra em detergente neutro (FDN), uma vez 52
que, esta última, influencia diretamente no consumo e na digestibilidade de matéria seca 53
(Berchielli et al., 2011, e assim sendo, diferenças em termos de qualidade nutritiva entre as 54
variedades podem existir (Anon, 2007). 55
De acordo com Scarpari & Beauclair (2009), as variedades de cana-de-açúcar 56
apresentam curvas de maturação diferentes, sendo distintos, nessa curva, os percentuais de 57
sacarose e o florescimento. Variações nos teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente 58
neutro (FDA), fibra em detergente ácido (FDA) e na digestibilidade da matéria seca (DMS) 59
foram observadas por Carvalho et al. (2010). 60
Além da variedade, outro fator que pode influenciar na qualidade nutritiva da cana-61
de-açúcar para a alimentação animal seria o manejo da adubação nitrogenada, porém 62
pesquisas nesse sentido ainda são escassas. Entre os nutrientes essenciais para as plantas, o 63
nitrogênio (N) é um dos mais exigidos em quantidade pela cana-de-açúcar, a qual apresenta 64
metabolismo do tipo C4, com elevada taxa fotossintética, sendo necessário um aporte 65
adequado de N para que os processos fisiológicos e as reações bioquímicas responsáveis pela 66
fotossíntese se processem satisfatoriamente (Muchovej e Newman, 2004). Assim, a grande 67
demanda da cana-de-açúcar por este nutriente faz com que a participação do mesmo no 68
processo produtivo seja parte substancial em relação ao custo total de implantação e 69
manutenção dos canaviais (Rakkiyappan et al., 2007). Entretanto, considerando a exigência 70
da cultura por N, a dinâmica deste no solo e ainda, os processos bioquímicos que envolvem a 71
assimilação de N, os aspectos relacionados à utilização da adubação nitrogenada, 72
4
principalmente quanto a seus possíveis efeitos na qualidade nutricional da cana-de-açúcar 73
ainda precisam ser melhor esclarecidos, pois os trabalhos encontrados na literatura são em sua 74
maioria com outras forrageiras tropicais. No trabalho de Waramit et al., (2012), onde avaliou-75
se a influência de 3 doses de N (0, 65 e 140 kg N ha-1
) no valor nutritivo de quatro gramíneas 76
forrageira Indiangrass (Sorghastrum mutans L. Nash), big bluestem (Andropogon gerardii 77
Vitman), Eastern gamagrass (Tripsacum dactyloides L.), and switchgrass (Panicum virgatum 78
L.), observaram que a adubação nitrogenada aumentou (P<0,05) os valores da disgetibilidade 79
in vitro da matéria seca (DIVMS) e da proteína bruta nas quatro espécies de gramíneas 80
avaliadas, e obteve-se melhor valor de FDN (52%) com adubação intermediária de 65 kg N 81
ha-1
. 82
Além do possível efeito na qualidade nutricional da cana-de-açúcar, o manejo 83
adequado da adubação nitrogenada pode contribuir grandemente para a sustentabilidade dos 84
agroecossistemas. Neste contexto, objetivou-se avaliar o valor nutritivo de variedades de 85
cana-de-açúcar em função da adubação nitrogenada. 86
87
MATERIAL E MÉTODOS 88
Descrição da área experimental 89
O experimento foi realizado em área cedida pela Fazenda Várzea, no município de 90
Brejo, Região do Baixo Parnaíba Maranhense, situada a 03°44’33” W de latitude, 91
43°21'21”W de longitude. O solo foi classificado como Latossolo Amarelo (Manual de 92
Classificação de Solos da Embrapa, 1997), e apresentou as seguintes características: pH 5,12 93
em água, 2.2 cmolc dm-3
Ca, 2.5 cmolc dm-3
Mg, 0.02 cmolc dm-3
Na, 0.11 cmolc dm-3
K; 0.6 94
cmolc dm-3
Al, 9.4 cmolc dm-3
H+Al e 2.5 mg kg-1
P. 95
96
5
Instalação do experimento 97
O experimento foi implantado no ano de 2009, com preparo convencional do solo, e o 98
plantio foi realizado em sulcos de 30 cm de profundidade e espaçamento de 1,00 m entre as 99
linhas. As mudas com idade entre 10 e 12 meses foram distribuídas no fundo dos sulcos, 100
cruzando se pés e pontas. Depois as mudas foram picadas, manualmente, em toletes com três 101
a quatro gemas, com auxílio de uma faca; após acondicionamento dos toletes, os sulcos foram 102
cobertos com aproximadamente 10 cm de solo destorroado. A adubação de plantio foi 103
realizada de acordo com as recomendações de análise de solo, com 120 kg ha-1
de P2O5 e 100 104
kg ha-1
de K2O. O experimento teve duração de três anos (Ano I -Cana planta, Ano II- 105
primeira soca e Ano III- segunda soca). Os dados de temperaturas e precipitações foram 106
obtidos pelo Programa de Monitoramento Climático em Tempo Real da Região Nordeste 107
(PROCLIMA) no site do CPTEC INPE (Figuras 1, 2 e 3). 108
O experimento foi dividido em duas etapas: a) na primeira etapa, que constitiu no 109
primeiro ano experimental (Ano I), avaliou-se a produtividade e a qualidade nutricional de 110
três variedades de cana-de-açúcar (cana-planta); b) e na segunda etapa, que consistiu no 111
segundo e tereceiro ano (Ano II e Ano III), avaliou-se a influência da adubação nitrogenada 112
na qualidade nutricional mesmas variedades avaliadas no primeiro ano, porém observando-se 113
a primeira e segunda soca, sendo estas a RB 863129, RB 867515 e RB 92579. 114
Para o ano I, adotou-se o delineamento em blocos ao acaso com três tratamentos 115
(variedades de cana-de-açúcar), e três repetições (parcelas experimentais), onde cada parcela 116
experimental possuía uma área de 900 m2, totalizando 8.100 m
2 de área. 117
Para as avaliações do Ano II e III, as parcelas do Ano I foram divididas em sub-118
parcelas para a aplicação das diferentes doses de N, adotando-se, também, o delineamento em 119
blocos ao acaso, com esquema fatorial 5x3x2 com cinco doses de adubação nitrogenada (0; 120
6
60; 80; 120; 1e 40 kg N ha-1
), três variedades de cana-de-açúcar (RB867515, RB 863129 e 121
RB 92579) e 2 períodos (1° e 2° socas), em parcelas subdivididas, com três repetições. 122
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F e, em caso de 123
diferença significativa, procedeu-se a comparação das médias pelo teste de Tukey a 5% de 124
probabilidade, utilizando o aplicativo computacional InfoStat® (Infostat, 2004). 125
126
Análises 127
Para a análise de produtividade e valor nutritivo foram realizadas três coletas de cana-de-128
açúcar, uma a cada final de ano experimental. Realizou-se a análise da produtividade de 129
colmos em uma área de 3 m2 em cada parcela, sendo após a avaliação do peso fresco, 130
coletadas três plantas de cada parcela aleatoriamente, cada planta foi separada em colmo e 131
ponta + folhas, sendo identificadas e pré-secas em estufa de circulação forçada de ar a 60°C, 132
por 72 horas ou até atingirem peso constante, sendo posteriormente moídas em moinho tipo 133
Willey a partículas de 1,0 mm para determinação dos teores de matéria seca (MS) e, com base 134
na MS, proteína bruta (PB), segundo metodologias descritas por Silva e Queiroz (2002). A 135
fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram analisadas pelo 136
método de Van Soest, descrito e simplificado por Souza et al. (1999). 137
A digestibilidade in vitro foi realizada segundo a metodologia descrita por Tilley e 138
Terry (1963), e para tal coletou-se líquido ruminal de três vacas da raça Holandesa, com peso 139
médio de 600 kg , canuladas no rúmen. O inóculo ruminal foi coletado com auxílio de 140
garrafas térmicas previamente aquecidas a 39ºC e levados, imediatamente, ao laboratório, 141
onde foram homogeneizados e filtrados em duas camadas de gaze, sendo mantido em banho-142
maria a 39ºC sob saturação de CO2, até serem adicionadas às demais soluções para 143
7
reprodução das condições dos compartimentos rúmen-retículo. Foi utilizada a fórmula (MS 144
incubada /MS) x 100 para obtenção dos resultados. 145
O teor de Brix (%) da cana-de-açúcar foi mensurado com o auxílio de um refratômetro 146
de campo conforme metodologia do Consecana (2006). onde foram retiradas três plantas por 147
parcela, aleatoriamente, sendo coletadas amostras do caldo do colmo. As gotas de caldos 148
foram extraídas do 4° internódio a partir da base da planta solo e da ponta do último 149
internódio da bainha. 150
151
RESULTADOS 152
Produtividade e Valor Nutritivo da Cana-planta – Ano I 153
Para o Ano I, observou-se que a produtividade da variedade RB 863129 foi maior em 154
23% (P<0.05) comparada com as variedades RB 867515 e RB 92579 (Tabela 1). 155
Tabela 1. Produtividade e valor nutritivo de variedades de cana-de-açúcar 156
157
Não houve diferença (P<0,05) do teor de fibra em detergente neutro (FDN) e em 158
detergente ácido (FDA) entre as variedades estudadas, com valor semelhante ao observado 159
por Oliveira et al (2012), os quais obtiveram FDN variando de 35 a 63% e FDA de 21 a 36%. 160
O teor de PB foi superior (p<0,05) para a variedade RB 863129, sendo 53% em média 161
maior que as demais variedades. Não houve diferença entre as variedades (P<0,05) para a 162
digestibilidade in vitro da MS. As três variedades avaliadas apresentaram digestibilidade 163
maior que 60%. 164
Tratamento Produtividade
(t ha-1
)
MS
(%)
FDN
(%)
FDA
(%)
PB
(%)
DIVMS
(%)
Brix
(%)
FDN/Brix
(%)
RB863129 144a 19,2a 54,8 36,0 3,38a 64,7a 18a 3,04a
RB 867515 112b 19,4a 61,8 37,5 1,70b 63,7a 17a 3,63a
RB 92579 111b 18,6b 55,1 32,5 1,89b 69,5a 17a 3,24a
CV (%) 18 8,3 7,6 3,5 4,8 8,0 2,1 12,3
Médias seguidas de letras minúsculas diferentes nas colunas diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05).
8
165
Produtividade de Colmos – Ano II e III 166
Houve interação (P<0,05) entre variedades e doses de adubação nitrogenada para a 167
produtividade de colmos na primeira e segunda soca (Tabela 2). 168
Tabela 2. Produtividade (t ha-1
) de colmos de primeira e segunda soca de variedades de cana-169
de-açúcar em função de doses de adubação nitrogenada 170
Colmo t ha-1
1° Soca Dose (N ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 867515 65,7 Bbα 82,4 ABbα 80,8ABbα 96,2 Abα 62,5 Bbα
RB 863129 58,8 Cbα 69,2 BCbα 86,5ABbα 86,2 ABbα 94,4 Aaα
RB 92579 110,6 Baα 116,5 ABaα 134,3 Aaα 135,6 Aaα 109,3 Baα
2° Soca Dose (N ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 867515 65,7 Babα 82,4 ABaα 80,7 ABbα 96,1 Aaα 68,1 Bbα
RB 863129 40,8 Cbβ 77,6 Baα 106,0 Aaα 95,0 Baα 105,9 Aaα
RB 92579 76,0 Caβ 75,4 Caβ 81,3 BCabβ 102,5 Baβ 128,8 Aaβ Médias seguidas de letra maiúscula nas linhas, minúscula nas colunas e gregas nas tabelas, não diferem entre si 171 pelo teste de Tukey a 5% de significância. CV (%) = 16,65 172 173
Os maiores valores (p<0,05) de produtividade foram observados com a variedade RB 174
92579 e as doses de 80 e 140 kg N ha-1
, para a primeira e segunda soca, respectivamente. 175
Para todas as variedades observou-se o incremento nos valores de produtividade com o 176
aumento da dose de N, porém para as variedades RB 867515 e RB 92579 na primeira soca e 177
para a variedades RB 867515 e RB 863129 na segunda soca esse incremento só ocorreu até a 178
dose de 120 kg N ha-1
, tendo um decréscimo na produtividade na dose de 140 kg N ha-1
. 179
Para a segunda soca foi observada uma maior variação nos valores de produtividade 180
(de 40,87 a 128,80), com maior produtividade observada para a variedade RB 92579 com a 181
dose de 140 kg N ha-1
. A menor produtividade para a primeira soca observou-se para a 182
variedade RB 863129 com o tratamento controle, sendo este em média 40% inferior aos 183
demais tratamentos. 184
9
A variedade RB 92579 além da maior produção de colmos, também foi a que obteve 185
melhor eficiência agronômica com a dose de 140 kg N ha-1
, sendo 59% superior ao controle 186
(sem aplicação de N). A resposta da soqueira também foi positiva para os demais tratamentos, 187
com aplicação de 60, 80 e 120 kg N ha-1
. 188
Em relação à variedade RB 863129 que foi a que obteve maior produtividade de 189
colmos na cana planta, na segunda soca sua produtividade média foi inferior à observada para 190
a variedade RB 92579. Os tratamentos que obtiveram maiores produtividade foram com 80 e 191
140 kg N ha-1
(P<0.05), ambos com uma média de 106 t ha-1
de colmo, esta produtividade foi 192
em média 38% superior à obtida no tratamento controle. 193
De maneira geral, os resultados mais baixos em produtividade de colmos da segunda 194
soca foram obtidos variedade RB867515, não sendo observado efeito interativo entre os anos 195
experimentais para nenhuma das doses avaliadas. Para a variedade RB 863129 observou-se 196
efeito temporal na produtividade apenas com o tratamento controle, sendo que na primeira 197
soqueira a produtividade de colmos foi 30% superior à segunda soqueira com este tratamento. 198
Já para a variedade RB 92579 houve efeito temporal para todos os tratamentos, sendo os 199
valores de produtividade da primeira soqueira, para a maioria dos tratamentos, superiores a 200
segunda soqueira, com exceção da dose de 140 kg N ha-1
. A média geral para produtividade 201
de colmos da primeira soqueira foi superior à da segunda soqueira, um fato que pode explicar 202
este comportamento é o diâmetro dos colmos, que com o passar dos anos é gradualmente 203
reduzido, e desta maneira, podemos inferir que com o decréscimo no diâmetro dos colmos 204
decorrente dos sucessivos cortes, decresce também o número de perfilhos das touceiras com o 205
passar do tempo e, consequentemente, decresce a produtividade dos cortes da cana soca. 206
207
Teor de Matéria Seca nos Colmos – 1ª e 2ª Socas 208
10
O teor de matéria seca (MS) para a primeira e segunda socas variaram de 20,1 a 25,6% 209
os quais estão dentro do esperado para a cana-de-açúcar com idade de rebrota de 10 meses. 210
Não houve interação entre as diferentes doses de nitrogênio, variedades e os anos 211
experimentais (Tabela 5). 212
Tabela 5. Teor de MS de colmos de primeira e segunda soqueira de três variedades de cana-213
de-açúcar em função de doses crescentes de adubação nitrogenada. 214
Matéria seca
1° Soca Dose de N (kg ha-1)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 8675515 24,1Aaα 25,1Aaα 25,1Aaα 25,1Aaα 25,0Aaα
RB 863129 25,0Aaα 25,6Aaα 25,6Aaα 25,3Aaα 25,6Aaα
RB 92579 25,0Aaα 25,6Aaα 25,5Aaα 25,0Aaα 25,9Aaα
2° Soca
Dose de N (kg ha-1)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 8675515 24,5Aaα 24,2Aaα 24,3Aaα 25,6Aaα 24,6Aaα
RB 863129 24,2Aaα 24,4Aaα 25,0Aaα 25,1Aaα 25,0Aaα
RB 92579 20,6Aaα 24,6Aaα 24,1Aaα 25,3Aaα 25,0Aaα Médias seguidas de letra, maiúscula nas linhas, minúscula nas colunas e gregas nas tabelas para a mesma 215 variedade, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância. CV (%) = 6,18 216 217 Proteína Bruta- 1° e 2° Socas 218
Tabela 6. Teores de PB no colmo da primeira e segunda soqueiras de três variedades de cana-219
de-açúcar com cinco tratamentos com adubação nitrogenada. 220
Proteína Bruta
1° Soca Dose de N (kg ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 8675515 1,14Aaα 1,51Aaα 1,20Aaα 2,20Aaα 1,38Aaα
RB 863129 1,23BCaα 1,02Caα 1,39BCaα 2,49Aaα 2,19ABaα
RB 925795 1,37Baα 1,81ABaα 1,75ABaα 2,52Aaα 1,64ABaα
2° Soca Dose de N (kg ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 8675515 1,54Aaα 1,56Aaα 2,34Aaα 2,19Aaα 2,05Aaα
RB 863129 1,94Aaα 1,83Aaα 1,70Aaα 1,95Aaα 2,04Aaα
RB 925795 2,09Aaα 1,74Aaα 2,00Aaα 1,75Aaα 2,39Aaα Médias seguidas de letra maiúscula nas linhas, minúscula nas colunas e gregas nas tabelas, não diferem entre si 221 pelo teste de Tukey a 5% de significância. CV (%) = 10,19 222 223
Em relação aos teores de PB no colmo da 1° soca de cana-de-açúcar, houve diferença 224
significativa entre as doses para as variedades RB 863129 e RB 92579, enquanto na 2° soca 225
11
não foi observado diferenças entre variedades e doses nitrogenadas. Na variedade RB 863129 226
os melhores teores de PB foram observados nas doses de 120 e 140 kg N ha-1
, com teores de 227
2,49 e 2,19% de PB, respectivamente. Na variedade RB 92579 o melhor valor encontrado pra 228
PB foi com a dose de 120 kg N ha-1
, diferenciando estatisticamente do tratamento controle 229
(Tabela 6). 230
231
Fibra em Detergente Neutro - 1° e 2° Socas 232
Na Tabela 7 encontram-se os teores médios de fibra em detergente neutro (FDN) da 233
fração colmo das variedades de cana-de-açúcar estudadas. Considerando as respostas dos 234
tratamentos para cada variedade, e a interação entre variedades e tratamentos, constatou-se 235
diferença estatística para este parâmetro. 236
Tabela 7. Teores de FDN no colmo da primeira e segunda soqueiras de três variedades de 237
cana-de-açúcar com cinco tratamentos com adubação nitrogenada. 238
Médias seguidas de letra comum, maiúscula nas linhas, minúscula nas colunas e gregas nas tabelas, não diferem 239 entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância. CV (%) = 2,08 240
241
Os valores de FDN apresentaram uma grande variabildiade, obtendo-se uma diferença 242
de 20% entre o maior valor e (62,1%) e o menor valor (41,2%), ambos os valores observados 243
na variedade RB 92579 e na 2° soca. 244
Para todas as variedades, independente do ano experimental, o melhor teor de FDN 245
diferiu do tratamento controle (p<0,05), mostrando que adubação nitrogenada tem influência 246
Fibra em Detergente Neutro
1° Soca Dose de N (kg ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 867515 53,9Aaβ 50,4Cbα 53,2Aaα 47,6Bbβ 51,6Aaα
RB 863129 56,5Aaα 42,0Dcβ 45,6Cbα 57,5Aaα 50,9Baβ
RB 92579 56,9Aaα 54,0Aaα 55,6Aaα 55,7Aaα 41,2Bbβ
2° Soca Dose de N (kg ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 867515 58,2Aaα 51,0Aaα 41,3Bbβ 55,2Aaα 55,1Abα
RB 863129 56,6Aaα 45,8Cbα 42,3Dbα 50,9Bbβ 55,0Abα
RB 92579 56,1Baα 41,2Dcβ 46,1Caβ 56,3Baα 62,1Aaα
12
positiva na redução da fração FDN na cana-de-açúcar. Quanto à interação entre as diferentes 247
doses de nitrogênio e as variedades estudadas, foi observado que para todas as doses de N 248
houve diferença nos teores de FDN de acordo com a variedade utilizada, sendo que dentro de 249
cada dose a variação entre variedades foi em média 10,6%. Para a dose de 60 kg N ha-1
houve 250
diferença entre os anos para todas as variedades, enquanto que para o tratamento controle 251
observou-se diferença entre a 1a
e 2ª soca apenas na variedade RB 867515, com o teor de 252
FDN foi 4,3% maior para 2° soca em relação a 1°. Nesta variedade observaram-se também 253
diferenças nos teores de FDN entre anos com as doses de 80 e 120 kg N ha-1
, com uma 254
variação de 11,8 e 7,6% da primeira pra segunda soca, respectivamente. No entanto, com 255
comportamentos distintos, pois para a dose de 80 kg N ha-1
houve decréscimo no teor de FDN 256
da 1° soca para 2° soca, enquanto a dose de 120 kg N ha-1
apresentou um acréscimo. 257
Para a variedade RB 863129 observaram-se diferenças nos teores de FDN entre anos 258
com as doses de 120 e 140 kg N ha-1,
além da de 60 kg N ha-1
já comentado, e a variedade RB 259
92579 por sua vez, apresentou diferenças entre anos com as doses de 60, 80 e 140 kg N ha-1
, e 260
o melhor resultado de FDN em termos de qualidade nutricional foi verificada na primeira soca 261
com a aplicação de 140 kg N ha-1
. 262
263
Fibra em Detergente Ácido - 1° e 2° Socas 264
Os valores de fibra em detergente ácido (FDA) na primeira soca variaram de 26,4% a 265
31,8%, e na segunda soca de 20,8% a 32,7 % de FDA (Tabela 8). 266
Em relação aos teores de FDA no colmo da 1° soca de cana-de-açúcar, houve diferença 267
significativa entre as doses de adubação nitrogenada para as variedades RB 863129 e RB 268
92579, e com comportamentos distintos nos teores de FDA de cada tratamento estudado 269
13
dentro destas variedades. Enquanto na segunda soqueira, observa-se diferença para todas as 270
variedades. 271
Para a primeira soqueira observa-se para a variedade RB 863129 uma diferença de 272
3,6% entre o menor e o maior valor de FDA, enquanto na variedade RB 92579 essa diferença 273
foi de 5,3%. Em termos de qualidade nutricional a variedade RB 92579 com o tratamento 274
controle foi a que apresentou melhor resultado de FDA (26,4%) representado pelo menor 275
valor, diferenciando significativamente das doses de 80 e 120 kg N ha-1
. Na segunda soqueira 276
o melhor valor de FDA (20,8%) foi encontrado na variedade RB 863129, diferenciando 277
significativamente de todas as doses. 278
Tabela 8. Teores de FDA no colmo da primeira e segunda soqueiras de três variedades de 279
cana-de-açúcar com cinco tratamentos com adubação nitrogenada 280
Fibra em Detergente Ácido
1° Soca Dose de N (kg ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 867515 29,2Aaα 29,8Aaα 29,4Aaα 28,1Aaα 30,5Aaα
RB 863129 29,3ABaα 28,1Baα 31,7ABaα 31,4ABaα 31,8Aaα
RB 92579 26,4Baα 29,7ABaα 31,8Aaα 30,3Aaα 28,5ABaα
2° Soca Dose de N (kg ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 867515 31,9Aaα 31,8Aaα 25,5Bbβ 27,7Baα 32,7Aaα
RB 863129 26,2Bbα 29,7Aabα 20,8Ccβ 25,5Baβ 25,7Bbβ
RB 92579 27,6BCbα 28,0ABbα 30,9ABaα 24,5Caβ 31,2Aaα Médias seguidas de letra maiúscula nas linhas, minúscula nas colunas e gregas nas tabelas, não diferem entre si 281
pelo teste de Tukey a 5% de significância. CV (%) = 3,85 282
283
Digestibilidade in vitro - 1° e 2° socas 284
Os valores de DIVMS para a primeira soca variaram de 55 a 66%, os quais estão 285
dentro do esperado para a cana-de-açúcar com idade de rebrota de 10 a 12 meses (Oliveira et 286
al., 2001). Para a 2° soca os valores variaram de 63 a 79% ficando um pouco acima dos 287
relatados na literatura para este período. Não houve diferença estatística entre os tratamentos e 288
14
nem interação entre as diferentes doses de nitrogênio, variedades e os anos experimentais 289
(Tabela 9). 290
Tabela 9. Teores de digestibilidade no colmo da primeira e segunda soqueiras de três 291
variedades de cana-de-açúcar com cinco tratamentos com adubação nitrogenada 292
Digestibilidade
1° Soca Dose de N (kg ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 8675515 63,9Aaα 64,5Aaα 64,9Aaα 66,2Aaα 61,0Aaα
RB 863129 63,5Aaα 67,5Aaα 64,5Aaα 58,8Aaα 63,8Aaα
RB 92579 61,1Aaα 56,3Aaα 58,6Aaα 55,0Aaα 65,5Aaα
2° Soca Dose de N (kg ha-1
)
Variedade 0 60 80 120 140
RB 8675515 68,4Aaα 79,8Aaα 71,8Aaα 63,2Aaα 64,6Aaα
RB 863129 68,4Aaα 67,9Aaα 75,5Aaα 68,9Aaα 69,2Aaα
RB 92579 69,5Aaα 71,3Aaα 68,7Aaα 69,7Aaα 68,0Aaα Médias seguidas de letra maiúscula nas linhas, minúscula nas colunas e gregas nas tabelas, não diferem entre si 293 pelo teste de Tukey a 5% de significância, CV (%) = 10,19 294 295
DISCUSSÃO 296
Produtividade e Valor Nutritivo da Cana-planta – Ano I 297
Para a cana planta a média de produtividade das três variedades foi de 122,33 t ha-1
, 298
sendo este valor considerado acima da média nacional que é atualmente 74,1 ton ha-1
299
(CONAB, 2014). A elevada produtividade pode ser justificada pelas condições ambientais 300
durante o período experimental, as quais foram determinantes para a expressão da capacidade 301
de perfilhamento das variedades, sendo a média de temperatura durante o período 302
experimental de 29°C, e a média de precipitação de 153 mm nos primeiros 180 dias do ciclo 303
da cultura (Figura 1), período onde ocorre maior perfilhamento, e consequentemente, se tem 304
maior necessidade de disponibilidade hídrica e de temperaturas favoráveis. Segundo Inman-305
Bamber (2004) a deficiência hídrica na fase inicial de desenvolvimento vegetativo limita o 306
crescimento, desenvolvimento e a produtividade da cana-de-açúcar. 307
15
A variedade RB 863129 apresentou uma produtividade superior às médias regional e 308
nacional que são de 57 e 77 t ha-1
respectivamente (CONAB, 2011). Essa maior produtividade 309
da RB 863129 tem estreita relação com os dados de análise de crescimento que foram obtidos 310
para esta variedade neste ano experimental, como número de plantas (média de 14 plantas por 311
metro linear) e massa seca de colmos (2700 g planta-1
), parâmetros nos quais esta variedade 312
obteve os melhores resultados em relação às demais. 313
A média de FDN das três variedades na cana planta foi de 57%, ao contrário do que 314
ocorre em outras gramíneas tropicais, na cana-de-açúcar os teores de FDN são menores nos 315
colmos do que nas folhas. Este aspecto é importante, pois a FDN ou parede celular, representa 316
a fração química da forragem que guarda mais estreita relação com o consumo e desempenho 317
animal. A FDA é a fração menos digerível da parede celular das forrageiras, sendo constituída 318
na sua quase totalidade de lignina e celulose (Silva & Queiroz 2002). De acordo com Van 319
Soest (1994), quanto maior o teor de FDA menor será a digestibilidade, enquanto que a FDN 320
tem correlação negativa com o consumo das forrageiras, considerando teores acima de 40% 321
de FDA e 60% de FDN, como limitantes da digestibilidade e ao consumo, respectivamente. 322
Sendo assim, os valores obtidos para estas frações nesta pesquisa estão fora da faixa limitante 323
para a digestibilidade e o consumo de bovinos. 324
Variações no teor de PB entre variedade de cana-de-açúcar parece ser uma 325
característica intrínseca de cada variedade, principalmente por conta das diferentes relações 326
colmo/folha que são observadas entre variedades e, também, podem variar de acordo com a 327
idade de corte, sendo que há relatos de tendência de queda no teor de PB durante o ciclo da 328
cultura (Andrade et al., 2002). 329
A média para a digestibilidade in vitro deste estudo foi semelhante à obtida por Okano 330
et al. (2006) e Carvalho et al. (2010). A relação FDN/Brix apresentou uma média de 3,3, 331
16
pode-se aceitar este valor como adequado para esta relação entre as variedades analisadas, 332
para evitar que o maior teor de FDN de algumas variedades limite o consumo de cana-de-333
açúcar pelo animal, que é o componente que fornece a maior parte da energia digestível para o 334
animal. Deve-se ressaltar que uma variedade que apresente um teor de FDN menor permitirá 335
ao animal maior consumo de energia, comparada com outra de teor um pouco melhor de 336
açúcar, porém com teor de FDN mais alto. 337
338
Produtividade de Colmos – Ano II e III 339
A média da produção de colmos para a variedade RB 92579 foi semelhante ao máximo de 340
produtividade por área segundo dados do CONAB (2013) referentes à safra 2011/2012. Tal fato 341
justifica- se principalmente pela manutenção da palhada em solo, pela reposição de nutrientes, 342
através das adubações, e pela melhor distribuição de chuvas durante o ciclo vegetativo da cultura. 343
A temperatura média entre os meses de novembro/2010 a abril/2011, correspondentes aos 344
primeiros 180 dias do ciclo da cultura, oscilou entre 23 a 26ºC; e o balanço hídrico para a cultura 345
apresentou um curto e reduzido período de déficit hídrico (Figura 2). Sendo assim, as condições 346
ambientais que prevaleceram durante este ano experimental foram determinantes para a expressão 347
da capacidade de perfilhamento da variedade. A medida que a temperatura do ar se eleva em torno 348
de 30°C, há um aumento considerável de perfilhamento e crescimento em altura, favorecendo 349
maior propagação vegetativa da cana-de-açúcar (Bonnet et al. 2006). 350
351
352
353
354
355
356
17
A resposta da cana-soca à aplicação de fertilizante nitrogenado pode ser explicada por 357
vários fatores. Anjos (1995) sugere que a explicação está na diferença de vigor dos sistemas 358
radiculares da cana planta e das soqueiras, muito menos vigoroso neste último caso, o que os torna 359
menos aptos para absorver o N em profundidade. 360
A adubação nitrogenada com doses crescentes de até 180 kg N ha-1
resulta em 361
aumento linear na produtividade de colmos de segunda soca, e o efeito se estende para a 362
terceira soca (Vitti et al. 2007). Em estudo realizado por Uribe (2010), a maior produtividade de 363
colmos foi verificada quando se aplicou 140 kg N ha-1, confirmando os resultados obtidos neste 364
trabalho. 365
Esses resultados podem ser atribuídos ao efeito da mineralização do N da palhada 366
remanescente, acumulada dos anos anteriores, pois embora a palhada deixada sobre a 367
superfície do solo apresente baixo teor de nitrogênio (quando comparada à reserva do solo) as 368
colheitas sucessivas sem despalha a fogo devem contribuir, com o tempo, para um maior 369
acúmulo de N no solo. O efeito positivo da presença de palhada sobre a produtividade da cana-370
de-açúcar também foi relatado em outros trabalhos ( Oliveira et al., 1999). 371
A maior parte da literatura disponível com adubação nitrogenada em cana-planta ou 372
soqueiras avalia somente um ano agrícola, não levando em consideração a resposta à aplicação de 373
fertilizantes nos ciclos agrícolas subsequentes, por meio do efeito residual, uma vez que a cana-374
de-açúcar é uma cultura semi-perene, que utiliza as reservas do sistema radicular para a rebrota 375
(Vitti et al., 2007). 376
O rendimento de colmos da cana-de-açúcar pode estar relacionado às características 377
genéticas da variedade, com destaque para tolerância à seca e crescimento rápido com alta 378
produtividade (Schultz et al., 2010). Aliado a isso, tem-se o fato da cana-de-açúcar ser uma 379
excelente extratora de nitrogênio do solo devido ao longo ciclo e ao sistema radicular abundante. 380
Dados recentes de pesquisa mostram que existe uma gama enorme de variação na extração de N 381
18
pelas diversas variedades de cana-de-açúcar no Brasil, variando de 100 a 200 kg N ha-1 para a 382
produção de 100 t ha-1 de colmos. Do N extraído, 18 % a 64 % são exportados pelos colmos, 383
dependendo da variedade. No trabalho realizado por Paes (1997), testando três variedades de 384
cana-de-açúcar, combinadas com três doses de adubação nitrogenada 0, 50 e 100 kg ha-1 de N, 385
obteve resposta positiva para aumento de produtividade de colmos por hectare em duas das três 386
variedades estudadas, concluindo-se assim que existe diferença na eficiência de utilização do 387
nitrogênio entre as variedades de cana-de-açúcar. 388
389
Teor de Matéria Seca nos Colmos – 1ª e 2ª Socas 390
Os valores encontrados na literatura apresentam-se na faixa de 20,4 a 33,9% de MS. 391
Sallas et al., (1992), que avaliaram a variação de composição bromatológica de 20 variedades 392
de cana usadas na alimentação de ruminantes, observaram variações no teor de MS entre 20,1 393
e 27,8%. Orlando Filho et al. (1980) encontraram que a matéria seca acumulada na folha + 394
ponteiro para as variedades SP79-1011, RB72454, RB855113, RB867515, RB92579, 395
RB93509, Co997 e CB 4176r, foi superior à do colmo até os 180 e 300 DAP, 396
respectivamente, sendo esses períodos semelhantes aos observados neste estudo. 397
398
Proteína Bruta- 1° e 2° Socas 399
No trabalho de Oliveira et al (2012) avaliando a composição bromatológica e a 400
digestibilidade in vitro de 4 variedades, entre elas a RB 867515, encontraram teor de PB 401
variando de 2,39 a 2,52%. Não foi observado efeito do ano de corte nos teores de PB para as 402
variedades e doses nitrogenadas. No trabalho de Viana et al., (2011), foram observados efeito 403
linear para o teor de proteína bruta em resposta ao nitrogênio aplicado. Este aumento do teor 404
de proteína propiciado pela adubação nitrogenada é observado em vários trabalhos, no entanto 405
com outras gramíneas forrageiras (Puoli et al., 1991; Kering et al., 2011). 406
19
Normalmente as folhas da cana-de-açúcar têm conteúdo de nitrogênio cinco a seis 407
vezes superior aos colmos, provavelmente, devido a maior atividade enzimática presente nas 408
folhas, mas como colmos representam aproximadamente 80% da planta, o teor de proteína 409
bruta na planta inteira raramente ultrapassa 2% da MS. 410
411
Fibra em Detergente Neutro - 1° e 2° Socas 412
As variaçõe nos teores de FDN deste estudo estão de acordo com a encontrada por 413
Nussio et al. (2006), onde os autores observaram uma grande amplitude de variação para o 414
FDN de 37,9 a 63,9% em amostras de cana-de-açúcar. Essa diferença em unidades 415
percentuais é de grande importância, considerando-se a capacidade limitada de ingestão de 416
FDN pelos animais. 417
De maneira geral, observa-se que o teor de FDN da cana-de-açúcar é baixo quando 418
comparado a outras forrageiras tropicais com alto potencial de produção de matéria seca por 419
hectare. Esse fato é explicado principalmente pela idade do corte da planta, que ocorreu aos 420
10 meses, período em que a cana já chegou a sua maturidade e apresenta alto teor de sacarose. 421
Korndorfer et al. (2002), ao compararem o efeito da adubação nitrogenada em sete 422
variedades de cana-de-açúcar, observaram que os teores de fibras nas canas diminuíram com 423
o aumento do nitrogênio. De acordo com Toppa et al,. (2010) o N aumenta o comprimento 424
dos colmos da cana-de-açúcar, o que provoca redução na espessura da parede celular, 425
podendo levar à redução na porcentagem de fibras na planta. Em trabalhos com outras 426
forrageiras tem-se atribuído a redução dos teores de FDN à adubação nitrogenada (Costa et 427
al., 2006; Dupas et al., 2010). A FDN da cana-de-açúcar apresenta baixa digestibilidade, em 428
média 40% e, portanto, a redução em seus teores implica em melhor qualidade do volumoso 429
(Maeda et al., 2011). 430
20
431
Fibra em Detergente Ácido - 1° e 2° Socas 432
PATE et al. (2001), em estudo do valor nutricional de variedades comerciais de cana-433
de-açúcar, observaram uma ampla variação na porcentagem da FDA (28,3% a 41,5%), no 434
entanto com avaliação de 66 variedades. 435
Em termos gerais, não foi observada nesta pesquisa tendência clara na melhoria dos 436
teores de FDA com o aumento da dose de adubação nitrogenada. E as diferenças entre os 437
tratamentos quanto ao teor de FDA podem ser explicadas pela característica intrínseca de 438
estiolamento e distância internódios de cada variedade. 439
Com outras forrageiras tropicais se tem verificado ou não uma melhoria nestes teores 440
com o aumento da dose nitrogenada. No trabalho de Kering et al. (2011) foi avaliado a 441
qualidade nutricional do Cynodon dactylon adubado com 4 doses de adubação nitrogenada, 442
sendo verificado uma diminuição nos teores de FDA de 25% com a maior taxa de N. 443
Enquanto Dupas et al., (2010) avaliando a influência de 5 doses de N na qualidade nutricional 444
do capim-marandu (Brachiaria brizantha, cv. Marandu) , observaram que os teores de FDN 445
decresceram com as doses de nitrogênio, enquanto os de FDA não foram influenciados pela 446
adubação. 447
448
Digestibilidade in vitro - 1° e 2° socas 449
Apesar da semelhança estatística das médias, numericamente as diferenças entre as 450
variedades ocorrem, devido a fatores como acúmulo de açúcares na planta da cana e pelo 451
estágio de maturidade da planta no momento da colheita (Suzuki et al., 2010). O valor 452
elevado de DIVMS é uma característica da cana-de-açúcar, uma vez que essa forrageira 453
mantém a digestibilidade elevada, inclusive com ligeiro aumento no final do ciclo vegetativo 454
21
coincidindo com a maturação. Assim como no trabalho de Waramit et al (2012), nesta 455
pesquisa também não houve padrão consistente em resposta DIVMS devido à adubação 456
nitrogenada, sendo portanto dificil tirar conclusões sobre o efeito benéfico da adubação com 457
N na DIVMS. 458
Rodrigues et al. (1997), estudaram 11 variedades de cana-de-açúcar, também 459
observaram elevados coeficientes de digestibilidade, encontraram variações de 67,57 a 460
77,23% na DIVMS, no entanto na planta inteira. 461
462
CONCLUSÕES 463
A variedade de cana-de-açúcar RB 863129 apresenta a melhor produtividade e qualidade 464
nutritiva, quando cana-planta, com 144 t ha-1 de colmos, 54,80% de FDN, 36,0% de FDA, 3,38% 465
de PB e relação FDN/BRIX de 3,04. A variedade RB 92579 apresenta melhor produtividade, 466
aliada aos melhores parâmetros nutricionais, com médias de 131 t ha-1 de colmos, 26% de FDA, 467
41% de FDN e 2,44% de PB quando no 2º e 3º ano posteriores ao plantio, associada a doses de 468
adubação nitrogenada de 120 e 140 kg N ha-1. 469
A produtividade de cana-de-açúcar, assim com a sua qualidade nutricional pode sofrer 470
uma aumento considerável quando é feito o manejo adequado da adubação nitrogenada mas 471
soqueiras, além disso, as respostas observadas foram influenciadas pelas variedades na 472
maioria dos parâmetros avaliados. 473
474
475
476
477
478
22
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