Ação Cultural ComunitáriaEdição 01 - Outubro 2012
Informativo
São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da manhã.Aqui estou, mais um dia.Sob o olhar sanguinário do vigia.Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira deu ma HK.Metralhadora alemã ou de Israel.Estraçalha ladrão que nem papel.Na muralha, em pé, mais um cidadão José.Servindo o Estado, um PM bom.Passa fome, metido a Charle Bronson.Ele sabe o que eu desejo.Sabe o que eu penso.O dia tá chuvoso. O clima tá tenso.Vários tentaram fugir, eu também quero.Mas de um a cem,a minha chance é zero.Será que Deus ouviu minha oração?Será que o juiz aceitou apelação?Mando um recado lá pro meu irmão:Se tiver usando droga, tá ruim na minha mão.Ele ainda tá com aquela mina.Pode crer, moleque é gente na.Tirei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá...Tanto faz, os dias são iguais.Acendo um cigarro, vejo o dia passar.Mato o tempo pra ele não me matar.
Diário de um detentoMano Brow - Racionais MCs
A Q u i l o m b o X i s - A ç ã o C u l t u r a l
Comunitária é uma organização política
que luta contra o racismo, o machismo,
contra a opressão de gênero, a homofobia
e a transfobia através de uma política
cultural viva, transformadora e critica.
Uma ação cultural contra a cultura de
mercado, a cultura fabricada.
Atuamos nacional e internacionalmente
ligando a luta dos oprimidos, criando
comunidades de luta, dialogando com
grupos coletivos e movimentos nacionais
e internacionais. Desenvolvemos dentro
do sistema prisional do Estado da Bahia o
Programa Cultura Intramuros que é uma
ação permanente de cultura que ocorre
desde 2005 e t em como e ixo , a
intersetorialidade entre Saúde, Cultura e
Justiça. O Cultura Intramuros, estimula a
participação de prisioneiros e prisioneiras
da Penitenciaria Lemos de Brito,
Conjunto Penal Feminino e Colônia Penal
Lafayete Coutinho, na construção de um
outro modelo de justiça que entenda a
cultura como elemento fundamental da
cidadania e estimule os fazeres culturais
no interior de uma instituição carcerária,
de privação de liberdade.
No último dia 27 de outubro, a Quilombo
Xis rea l izou o Circui to Cul tura l
Intramuros no Módulo I da Penitenciária
Lemos de Brito, fazendo alusão ao Dia
Nacional Pró-Saúde da População Negra,
intersetorializando a prática cultural e o
debate sobre saúde física e mental. A saúde
como uma construção politica.
Essa ação abre esse novo calendário que se
estenderá por seis meses num ciclo de
atividades culturais: Poesia, artes
plásticas, ciclo de debates e exibição de
lmes, etc. Tivemos como convidados
André Jacobina, historiador e Docente do
Curso de Medicina da UFBA, além do Mc
Xarope da Uclã Máa e como sempre, a
Banda Soul Negro que comanda o
Circuito Cultural Comunitário e o “baba”
ou pelada dos artistas, com os times da
casa. Para esse mês de novembro, as
ilustres presenças do poeta Ricardo Aleixo
de Belo Horizonte, do Cineasta Luiz
Carlos Alencar do Rio de
Janeiro, do Poeta Akins
Kintê de São Paulo e as
pratas da casa que são
artistas “residentes” que
fazem os mais belos traços,
Política cultural e construção de direitos
de prisioneiros e prisioneiras
Cultura Intramuros
Ação Cultural Comunitária Edição 1 - Outubro 2012
Cada detento uma mãe, uma crença.Cada crime uma sentença.Cada sentença um motivo, uma história de lágrima,sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio,sofrimento, desprezo, desilusão,ação do tempo.Misture bem essa química.Pronto: eis um novo detentoLamentos no corredor, na cela, no pátio.Ao redor do campo, em todos os cantos.Mas eu conheço o sistema, meu irmão,Aqui não tem santo.
Rátátátá... preciso evitarque um safado faça minha mãe chorar.Minha palavra de honra me protegepra viver no país das calças bege.Tic, tac, ainda é 9h40. O relógio da cadeia Anda em câmera lenta.Ratatatá, mais um metrô vai passar.Com gente de bem, apressada, católica.Lendo jornal, satisfeita, hipócrita.Com raiva por dentro, a caminho do centro.Olhando pra cá, curiosos, é lógico.Não, não é não, não é o zoológicoMinha vida não tem tanto valorQuanto seu celular, seu computador.Ratatatá, caviar e champanhe.Fleury foi almoçar, Que se foda a minha mãe!Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo...Quem mata mais ladrão Ganha medalha de prêmio!O ser humano é descartável no Brasil.Como modess usado ou bombril.Cadeia? Claro que o sistema não quis.Esconde o que a novela não diz.
Ratatatá! sangue jorra como água.Do ouvido, da boca e nariz.O Senhor é meu pastor...perdoe o que seu lho fez.Morreu de bruços no salmo 23,Sem padre, sem repórter.Sem arma, sem socorro.Vai pegar HIV na boca do cachorro.Cadáveres no poço, no pátio interno.Adolf Hitler sorri no inferno!O Robocop do governo é frio, Não sente pena.Só ódio e ri como a hiena.Rátátátá, Fleury e sua gangueVão nadar numa piscina de sangue.Mas quem vai acreditar no meu depoimento?
Dia 3 de outubro, diário de um detento."
Continuação...versos, movimentos de corpos e
mentes.
Para a Quilombo Xis, amparada na lei,
"todo cidadão é um agente cultural", os
presos só estão privados de liberdade
sendo garantido todo os outros direitos
assegurados na constituição: cultura,
educação, saúde, trabalho decente e
vida digna. Encerramos o mês de
outubro marcando nosso repúdio ao
massacre do Carandiru que completou
20 anos no dia 02. Lutamos para que a
cultura, a educação, a saúde, a justiça,
sejam asas dá tão esperada e necessária
liberdade.
Tels: 71 81328-8838 / [email protected]
http://quilombox.blogspot.com.br/
Hamilton BorgesLuís Paulo PintoAndreia Santos
Ricardo AndradeJamerson Silva
Dani Mascarenhas Jamile SalesAline Nzinga
Quilombdo Xis - Ação Cultural Comunitária Edição / Redação
Informativo
fotos e flashes...
Mas, longe de ser uma experiência apenas triste, que leva a reflexão, ela também é
renovada por esperança, pela atuação dos movimentos, nesse caso do Quilombo Xis.
Por que o movimento levou livros, revistas, justamente para ampliar e permitir que os
presos tenham contato com o mundo exterior, que possam pensar em algo além do dia a
dia que vivem. Os livros e revistas escolhidos revela uma direção, da formação política
crítica, da reflexão sobre a realidade. O movimento levou poesia, na fala de Hamilton,
poesia de crítica política, de indignação e de emoção.André Jacobina,
Historiador, Docente do Curso de Medicina da UFBA
1- Dra. Andreia Beatriz fala sobre saúde. 2- O time da banda Soul Negro enfrenta o time da casa numa partida emocionante. 3- Andé Jacobina, contextualiza história, racismo e saúde. 4-Biblioteca itinerante Quilombo Xis. 5- Dra. Andreia Beatriz, Haminton Borges e Luis Paulo. 6-Mc Xarope. 7- Show da Banda Soul Negro