Download pdf - Decifra-me ou tedevoro

Transcript
  • TAGS: Jose Serra

    27 Outubro 2011 | 07h 38

    "Decifra-me ou te devoro". Esse era o desafio da Esfinge de Tebas. Ela eliminavaaqueles que se mostrassem incapazes de responder a um enigma: "Que criaturatem quatro ps de manh, dois ao meio-dia e trs tarde?". Todos os queensaiaram a resposta haviam sido estrangulados. dipo acertou: " o ser humano!Engatinha quando beb, anda sobre dois ps quando adulto e recorre a umabengala na velhice". A Grcia traz hoje um novo enigma. Existe uma Esfinge deTebas simblica a assombrar a Unio Europeia (UE). Quem der a resposta erradaser estrangulado, como no mito.

    "O fracasso da Grcia seria o fracasso de toda a Europa. No possvel deix-lacair". So palavras de Nicolas Sarkozy, presidente da Frana. A quebra de um pasque representa menos de 3% da economia europeia pode empurrar a Eurolndiapara uma depresso profunda e, mais do que isso, desorganiz-la. Como possvel?

    A Grcia abusou do gasto pblico desde que aderiu ao euro. Seu dficit fiscal em2009 superava os 15% do PIB; o dficit primrio, 10%! A dvida pblica grega, queem 2009 chegava a 130% do PIB, cresceu ainda mais em decorrncia da crise,estimada em 150% neste ano e 170% em 2012.

    Pior, em vista de aumentos salariais alm da produtividade e de inflao acima damdia europeia, o pas perdeu 27% de competitividade em relao regio sem ter,em razo da moeda comum, taxa de cmbio nominal para ajustar: seu dficitexterno em conta corrente superou os 8% do PIB.

    Mas os gregos no carregam toda a culpa. No fim de 2009 o pas pediu ajuda aoFundo Monetrio Internacional (FMI). O spread dos seus ttulos em relao aosalemes era s de 2%. Naquele momento, a UE e o Banco Central Europeu (BCE)foram contra a ajuda do FMI. Por qu? Razes corporativas do BCE, falta dedescortino e excesso de oba-oba dos lderes europeus. Seis meses de discussesestreis, com a economia grega rolando num tobog, at que a necessidade doacordo se imps, s que em muito piores condies.

    Quando o FMI fez o emprstimo, o spread j era de 9% e a deteriorao daeconomia, galopante: o PIB, que j cara 2% em 2009, declinou 4,5% em 2010 e

    Decifra-me ou te devoro

    Jos Serra

    ex-prefeito e ex-governador de So Paulo

    EconomiaIndstria quer voltar aexportar

    Lava JatoPedro Corra podefazer delao

    Rio 2016Natao tenta vagapara Olimpada

    Zona do euroResgate grego refletevontade alem

    Festa das Cerejeiras segue atdomingo no Parque do Carmo

    The Economist: Educaoadequada em pases pobres virafoco

    Voc concorda com a reduoda velocidade nas Marginais deSP? Opine

    Entenda as ligaes dosenvolvidos na Lava Jato

    ANUNCIE AQUI

    Caixa apertadoEstados tentam usar R$ 21 bi para folha depagamentos e outros gastos de custeio

    +RECOMENDADAS

    +OPINIO

    +MAIS LIDAS

    +LTIMAS

    ESTADO PME - LINKS PATROCINADOS

    AGORA NA CAPA

    0

    19

    3

    0

    ClassificadosANUNCIE

    ASSINE OESTADO

    SP 1328

    BuscarBuscar

    OpinioPOLTICA + ECONOMIA + INTERNACIONAL + ESPORTES + SO PAULO + CULTURA + MAIS + SERVIOS + OUA ASRDIOS

    converted by Web2PDFConvert.com

  • em 2011, mais 4%. Comps-se o crculo vicioso: enfraquecimento do setor privado,aumento do desemprego, queda da receita tributria, presso sobre o dficit...Como nas tragdias gregas, depois da excitao da vitria, que traz consigo airresponsabilidade, aconteceu a reverso do destino.

    Reestruturar a dvida grega no bastaria, dado o tamanho do dficit fiscal. Datambm a imposio de um brutal ajuste, procura de um supervit primrio de6% do PIB. Assim, em dois anos o governo grego deveria reduzir seus gastosprimrios em cerca de 16% do PIB! Isso com atividade econmica em queda. Maisainda, sem uma taxa de cmbio para desvalorizar, o enfrentamento dodesequilbrio externo exigiria tambm uma inflao menor do que a mdiaeuropeia, fortes reduo de custos e aumentos da produtividade.

    Parte da reestruturao da dvida grega j se fez, mas o desconto do valor presentedos ttulos em mos privadas tem de passar dos 20% de hoje para mais de 60%. Oprecedente, os impasses e a sensao de que se trata de um buraco sem fundo jcontaminaram as expectativas em relao a outros pases, como Espanha e Itlia,que detm perto de um tero do PIB da unio monetria. E boa parte dos crditos Grcia e a esses pases tem origem em bancos de pases da UE. A reestruturaoabre o precedente para as demais economias em dificuldades, representando umcaso exemplar de risco moral (moral hazard), alm de ser financeiramenteinvivel no caso das economias grandes.

    A Argentina, em situao parecida com a da Grcia, no incio da dcada passadadeclarou o default, desvalorizou sua moeda, recuperou o nvel de emprego e obtevemelhora nas suas contas correntes com o exterior custa de cortes definanciamento externo privado e da instabilidade de preos. Para a Grcia essecaminho implicaria o abandono da moeda nica e a hiperinflao a curto prazo,sem que dispusesse do boom de preos de commodities que tanto beneficiou aArgentina ps-calote. Deixaria escombros terrveis para a UE, que teria deconvencer o mundo de que no haveria efeito domin.

    Mas por que a UE no foi capaz de corrigir desequilbrios localizados que, aosubsistirem, trazem perigo para todo o sistema? O problema a rigidez provocadapela deciso poltica de criar uma moeda nica no incio dos anos 1990, forando ocaminho para a criao do que Churchill chamou de Estados Unidos da Europa. Anobre razo poltica chocou-se com a racionalidade econmica e a criao do euroresultou no maior erro de poltica econmica da segunda metade do sculo 20.

    Moeda nica exige uma economia nacional, com plena mobilidade de mo de obrae de capitais, o que no existe na Europa, onde tampouco h poltica comum deprevidncia e benefcios sociais. Unio monetria exige unio fiscal, mas ooramento da UE de 1% do PIB, quando no Brasil ou nos EUA a Unio (governofederal) detm mais de 20% do PIB - instrumento poderoso de compensaeseconmicas e sociais.

    fcil tambm compreender que, no existindo um Tesouro Nacional Europeu,nem um BCE que seja emprestador de ltima instncia, a elasticidade dainsegurana de credores dos governos e do setor privado da UE seja altssimadiante de situaes de maior incerteza.

    A Unio Europeia, que engatinhou durante tanto tempo, de forma promissora, jest de bengala. O abandono do euro pioraria as condies econmicas de todos erepresentaria um retrocesso poltico de consequncias incalculveis, numa regioque fez duas guerras mundiais no ltimo sculo. Mas manter euro, e fazer aeconomia navegar de forma mais segura, exige saltos polticos bem maiores do queparecem exequveis a curto e mdio prazos. Eis um impasse que, moda dosenigmas de Tebas, pode devorar a Europa.

    converted by Web2PDFConvert.com

  • Grupo EstadoCdigo de ticaPoltica AnticorrupoCurso de JornalismoDemonstraes FinanceirasEdio DigitalFale conoscoPortal de FornecedoresPortal do Assinante

    BroadcastBroadcast PolticoCannesAplicativosiLocalTermo de usoTrabalhe conoscoMapa do site

    OpinioltimasPolticaEconomiaEsportesInternacionalBrasilSo PauloCulturaVida & Estilo

    AlisCasaCinciaEducaoSadeSustentabilidadeViagemBlogsColunas

    AeroportosFotosHorscopoInfogrficosLoteriasPreviso do TempoSo Paulo ReclamaTrnsitoTV EstadoTpicos

    GRUPO ESTADO | COPYRIGHT 2007-2015 | TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

    TAGS: Jose Serra

    ASSINE O ESTADO ANUNCIE NO ESTADO CLASSIFICADOS

    Webmail

    converted by Web2PDFConvert.com


Recommended