PRINCIPAIS ATUALIZAÇÕES JURISPRUDENCIAIS, DOUTRINÁRIAS E LEGISLATIVAS
MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL - NATHALIA MASSON 8ª edição (2020)
Manual de
DIREITO
CONSTITUCIONAL
PRINCIPAIS ATUALIZAÇÕES DA 7ª PARA A 8ª EDIÇÃO
Estimado leitor,
Este arquivo é uma diretriz indicativa das principais modificações que estruturei no nosso Manual de Direito Constitucional para a 8ª edição (lançada em janeiro de 2020).
Não é um documento exaustivo: existem alterações que aqui não foram citadas. Procurei sinalizar as mais notáveis e valorosas para seu estudo; aquelas que realmente impactaram na obra (ou na interpretação até então predominante sobre certo assunto).
Algumas reiterações na jurisprudência do STF também foram mencionadas, em razão da importância do tópico e do meu desejo de lhe revelar que nossa Corte Suprema seguiu pacífica relativamente àquela temática.
Me preocupei em indicar, ainda, ações cujo julgamento encontra-se suspenso: certamente no transcorrer deste ano o STF decidirá em definitivo algumas delas, promovendo viradas paradigmáticas que vão transfigurar entendimentos que considerávamos sólidos. Preocupe-se em acompanhá-las.
Em suma, caríssimo leitor: utilize este material para atualizar sua edição anterior do nosso Manual. Esteja certo que em todos os próximos anos faremos esse mesmo trabalho, na tentativa de lhe manter informado das novidades fundamentais! Afinal, o desígnio central que orientou a produção deste documento foi o de abrir um novo canal de comunicação entre nós, reforçando nossa ligação mais elementar: a de estudar e pensar um Direito Constitucional vivo e dinâmico!
Despeço-me desejando-lhe um ano de 2020 marcado pela dedicação, pelo esforço e pela vontade de realizar seus sonhos!
Um abraço amigo,
Nathalia Masson
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1ª ATUALIZAÇÃO: QUESTÕES NOVAS
- Em todos os capítulos foram inseridas questões (objetivas e discursivas) do ano de 2019
com o gabarito devidamente comentado.
2ª ATUALIZAÇÃO: ESQUEMAS
- Os seguintes capítulos foram complementados com novos esquemas/tabelas:
Cap. 01 (“Teoria da Constituição”)
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Cap. 07 (“Direito de Nacionalidade”)
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Cap. 08 (“Direitos Políticos”)
Cap. 14 (“Poder Executivo”)
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Cap. 19 (“Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”)
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Cap. 20 (“Ordem Econômica”)
3ª ATUALIZAÇÃO: PRINCIPAIS INOVAÇÕES JURISPRUDENCIAIS
- Muitas foram as decisões proferidas por nossa Corte Suprema no ano de 2019. Neste
item do arquivo listaremos, dentre as que foram inseridas na 8ª edição do Manual, as
que reputamos mais relevantes.
Cap. 1: (“Teoria da Constituição”):
(1) Foi inserido o tema “Constitucionalismo”. Segue abaixo uma síntese do que foi colocado
na obra:
(A) Noções Introdutórias:
De início, é crucial que você recorde que a Constituição possui uma importância
central para a proteção dos direitos e das garantias individuais e é o documento jurídico
mais adequado para estruturar e organizar o sistema de poder de um Estado. No entanto,
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saiba que essa leitura de que “Constituição” e “Estado” são ideias que caminham juntas é
recente e tem sua raiz histórica nas revoluções americana e francesa da era moderna (final
do século XVIII).
Por esta razão, o termo “Constitucionalismo” com frequência aparece relacionado
às ideias de limitação do poder estatal (antiabsolutismo) e aos processos revolucionários
liberais norte-americano (1787) e francês (1791), muito embora os primeiros movimentos
de organização da sociedade com mecanismos de limitação do poder político possuam
raízes mais antigas, lá na Antiguidade e na Idade Média.
(B) Constitucionalismo Antigo:
- Povo Hebreu: organizados politicamente em um regime teocrático, no qual os detentores
do poder eram limitados por dogmas religiosos (“leis divinas”).
- Grécia: Ampla participação dos governados no processo político-decisório (democracia
direta).
- Roma: Valorização do indivíduo; desenvolvimento do direito privado contratual; embrião
da separação de poderes.
(C) Constitucionalismo Medieval:
- Simbolizado pela Magna Carta, celebrada pelo Rei João Sem Terra e a nobreza, em 1215,
cujo intuito era limitar o poder monárquico.
(D) Constitucionalismo Moderno (Liberal-burguês):
- Seu marco central são as revoluções liberais do final do século XVIII (EUA, 1776, e França,
1789). Promulgação das primeiras constituições escritas, com limitação dos governantes e
afirmação de direitos políticos e individuais dos cidadãos.
Cap. 5: (“Direitos e garantias individuais”):
1) Foram inseridos comentários específicos para os incisos do art. 5° que ainda não estavam
comentados. Segue abaixo uma síntese do que foi colocado na obra:
- Direito à propriedade intelectual (XXVII e XXVIII): enquanto estiver vivo, o indivíduo autor
controla a utilização, a publicação e a reprodução de suas obras, sendo esse direito
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transmissível aos seus herdeiros pelo tempo determinado por lei (e não eternamente, pois,
a partir de um determinado momento, a obra cairá em domínio público).
- Direito à propriedade industrial: o inciso XXIX assegura a chamada propriedade industrial
na condição de um direito individual.
- Direito à herança e sucessão (XXX e XXXI): o direito de herança é constitucionalmente
assegurado na condição de direito individual fundamental. Destarte, se algum estrangeiro
falecer deixando bens situados no Brasil, esta sucessão de bens (recebimento da herança)
será regulada pela lei brasileira de forma a beneficiar o cônjuge ou seus filhos brasileiros, a
não ser que a lei do país do falecido seja ainda mais favorável a estes.
- Defesa do consumidor (XXXII): o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor.
- Direito genérico à informação (XXXIII): Todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
- Direito de petição e direito à obtenção de certidões (XXXV): são a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal.
- Inafastabilidade do judiciário (XXXV): como podemos extrair do princípio da
inafastabilidade (por alguns intitulado de ‘universalidade de jurisdição’), nenhuma lesão ou
ameaça de lesão a direito deixará de ser apreciada pelo Poder Judiciário. Não sendo um
princípio absoluto, a doutrina aponta algumas exceções à regra geral da inafastabilidade da
jurisdição. São casos nos quais o acionamento do Poder Judiciário somente se dará após o
prévio esgotamento da via administrativa. Em outras palavras: em determinados casos, a
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lesão ou ameaça de lesão a direito somente poderá ser levada ao conhecimento do Poder
Judiciário após o sujeito já ter tentado resolver a questão na via administrativa.
- Limitação a retroatividade da lei: o texto constitucional garante expressamente (art. 5º,
XXXVI, CF/88) a estabilidade das relações jurídicas ao amparar o “direito adquirido”, o “ato
jurídico perfeito” e a “coisa julgada”. Este inciso resguarda a segurança jurídica, ao
determinar que certos atos, quando consolidados, se tornam definitivos e impassíveis de
nova discussão.
- Juiz natural: os incisos XXXVII e LIII traduzem princípios absolutamente vinculados- o da
vedação de tribunais de exceção e o do juiz natural. O intuito do estabelecimento dessas
garantias é o de impedir que o órgão julgador seja estabelecido após a ocorrência do fato,
de maneira arbitrária, propiciando perseguições políticas nada condizentes com um Estado
democrático. A figura do promotor natural também é derivada da garantia constitucional
de que ninguém será processado, nem sentenciado, senão pela autoridade competente
(art. 5º, LIII, CF/88).
- Tribunal do Júri (XXXVIII): o júri terá competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida. Você sabe o que é um crime doloso? É aquele no qual o agente (indivíduo que
pratica o crime) prevê o resultado lesivo de sua conduta e, ainda assim, pratica a ação,
produzindo o resultado. Porque ele deseja o resultado. Age com dolo, isto é, com vontade
de que o resultado seja efetivado, se concretize. O crime doloso contra a vida somente não
será de competência do Tribunal do Júri se a Constituição Federal tiver determinado outro
foro para o caso.
- Legalidade penal e irretroatividade da lei penal: o art. 5º, XXXIX, prevê a regra do nullum
crimen nulla poena sine praevia lege, consagrando, a um só tempo, dois princípios centrais
do Direito Penal:
(i) o princípio da legalidade (ou reserva legal), vez que não há crime sem lei que o defina,
nem pena sem cominação legal; bem como,
(ii) o princípio da anterioridade, visto que não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal.
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- Práticas discriminatórias e crimes inafiançáveis (XLI): sendo um dos objetivos da República
Federativa do Brasil, posto no art. 3°, IV, o de promover o bem de todos, sem preconceito
de origem, sexo, cor, raça e quaisquer outras formas de discriminação, é natural que
tenhamos a previsão do inciso XLI, no sentido de determinar que a lei punirá qualquer
discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
- Já os incisos XLII a XLIV enunciam os crimes que, em razão de sua gravidade, não admitem
fiança (são os inafiançáveis), isto é, não admitem o pagamento em dinheiro para que seja
determinada a soltura do indivíduo preso. Costumamos usar uma frase para memorizar os
crimes inafiançáveis: Ra Ação He TTT (Racismos, Ação, Hediondos, Tráfico, Tortura,
Terrorismo).
- No inciso XLIII, temos a informação de que os crimes de tráfico, tortura e terrorismo (TTT),
assim como os hediondos, além de serem inafiançáveis, são também insuscetíveis de graça
e anistia.
- Intranscendência da pena: o inciso XLV traz o princípio da intranscendência (ou
personalização) da pena, assegurando que ninguém sofrerá os efeitos da condenação de
outrem.
É este dispositivo que garante que ninguém cumprirá a pena no lugar de outra pessoa.
- Individualização da pena (XLVI): individualizar a pena significa impor uma sanção
condizente com a gravidade do fato e as características pessoais do infrator. Quanto mais
censurável for a conduta, mais gravosa será a pena imposta. Acaso o crime seja menos
grave, a pena poderá ser mais branda.
- Vedação de penas (XLVII): tendo o valor da dignidade da pessoa humana como norte,
nossa Constituição veda a aplicação de certas penas, a saber:
(a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
(b) de caráter perpétuo;
(c) de trabalhos forçados;
(d) de banimento;
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(e) cruéis.
- Direitos assegurados aos presos (XLVIII, XLIX, LXI a LXV): ninguém poderá ser preso ou
mantido preso se a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. Também a
eventual prisão ilegal deverá ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciária. E se
alguém for erroneamente preso ou ficar preso por mais tempo do que o permitido em lei,
o Estado estará obrigado a indenizar o sujeito por esse cárcere indevido. Ademais, o
indivíduo preso é privado da sua liberdade de locomoção, mas não de sua dignidade, sendo
merecedor de absoluto respeito quanto à sua integridade física e moral.
- Extradição (brasileiro nato e naturalizado - LI): nenhum brasileiro será extraditado, salvo
o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da
lei.
- Extradição (estrangeiro - LII): não será concedida extradição de estrangeiro por crime
político ou de opinião.
- Juiz natural (LIII): ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente
- Devido processo legal (LIV): uma das mais amplas e relevantes garantias que temos no art.
5° é a do princípio do devido processo legal (due process of law), que traduz-se na ideia de
que um conjunto de garantais processuais, formais e materiais, deverão ser observadas
para que esta norma constitucional seja satisfeita.
- Contraditório e ampla defesa (LV): como consequência direta do princípio do devido
processo legal, temos a previsão de duas importantíssimas garantias constitucionais: o
contraditório e a ampla defesa. Ampla defesa significa o direito de apresentar no curso do
processo todos os meios lícitos que permitam ao sujeito provar seu ponto de vista. Por seu
turno, o contraditório representa o direito constitucional que o sujeito possui de
contradizer tudo aquilo que for apresentado no processo pela parte adversa.
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- Provas ilícitas (LVI): como derivação do princípio do “Devido processo legal”, estudado no
inciso LIV, temos a inadmissibilidade das provas ilícitas, que serão completamente
rechaçadas nos processos judiciais e também nos administrativos.
- Princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade (LVII): eis o princípio da
presunção de inocência, cuja finalidade central é a de tutelar a liberdade do indivíduo.
Destarte, só depois que a sentença condenatória transita em julgado, isto é, se torna
definitiva e não mais admite recurso, é que o sujeito poderá ser considerado culpado. Antes
disso, presume-se, é inocente e como tal deverá ser tratado. O sujeito pode ser preso antes
da condenação definitiva (em flagrante, preventivamente, temporariamente), sem que isso
signifique que o consideremos já culpado. Às vezes a manutenção do indivíduo solto
compromete a própria efetividade do processo penal, pois ele intimida testemunhas,
destrói provas essenciais, ameaça fugir, etc.
- Identificação criminal (LVIII): aquele que estiver civilmente identificado (ou seja, que
portar consigo algum documento de identificação válido em todo o território nacional,
como a CNH, o passaporte, a carteira de identidade, etc.) não será submetido a identificação
criminal (não será levado à delegacia para o colhimento das suas impressões datiloscópicas,
para tirar foto de frente e de perfil...), salvo nas hipóteses previstas em lei.
- Ação penal privada subsidiária da pública (LIX): o art. 129, I é claro: é função institucional
do MP promover, privativamente, a ação penal pública. No entanto, se esta não for
apresentada pelo MP no prazo legal, oportuniza-se ao particular a ação penal privada
subsidiária da pública, ou seja, o próprio particular apresentará a ação penal perante o
Poder Judiciário em razão de o MP não ter agido dentro do prazo estabelecido em lei.
- Publicidade dos atos processuais (LX) a regra é a publicidade dos atos processuais. No
entanto, e muito excepcionalmente, tal publicidade poderá ser restringida, nos casos em
que a defesa da intimidade ou do interesse social exigirem.
- Prisão civil por dívida (LXII): não cabe prisão civil por dívida. No entanto, essa proibição
pode ser relativizada caso haja alguma lei que estabeleça a prisão por inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. Acaso haja lei
prevendo a prisão nestes casos, estará restringindo a proibição de prisão da norma
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constitucional. Saiba, todavia, que em 2008, o Supremo Tribunal Federal passou a entender
não ser mais possível no Brasil a prisão civil por dívida do depositário infiel, o que motivou
inclusive a edição da súmula vinculante 25, cujo teor é o seguinte: “É ilícita a prisão civil de
depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.
- Habeas corpus (todos os ‘remédios’ foram devidamente estudados no cap. 09, referente
às ‘Ações Constitucionais’) - Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder.
- Mandado de segurança (todos os ‘remédios’ foram devidamente estudados no cap. 09,
referente às ‘Ações Constitucionais’) - Conceder-se-á mandado de segurança para proteger
direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
- Mandado de segurança coletivo (todos os ‘remédios’ foram devidamente estudados no
cap. 09, referente às ‘Ações Constitucionais’) - O mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados.
- Mandado de injunção (todos os ‘remédios’ foram devidamente estudados no cap. 09,
referente às ‘Ações Constitucionais’) - Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
- Habeas data (todos os ‘remédios’ foram devidamente estudados no cap. 09, referente às
‘Ações Constitucionais’) - Conceder-se-á habeas data:
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a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo.
- Ação popular (todos os ‘remédios’ foram devidamente estudados no cap. 09, referente às
‘Ações Constitucionais’) - Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
- Assistência jurídica estatal (LXXIV): tal previsão constitucional tem por intuito garantir o
acesso à Justiça. Fique atento ao fato de que a assistência jurídica integral e gratuita não é
devida a qualquer pessoa, mas, tão somente, aos que comprovarem insuficiência de
recursos.
- Erro judiciário (LXXV): o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o
que ficar preso além do tempo fixado na sentença.
- Gratuidade (LXXVI): a gratuidade mencionada no texto constitucional abrange o registro
civil de nascimento e a certidão de óbito, estando assegurada aos reconhecidamente
pobres.
- Isenção de custas e despesas judiciais (LXXVII): são gratuitas as ações de habeas corpus e
habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.
2) Novas decisões:
4.5. Aplicação do princípio da isonomia nos critérios de admissão em concurso público
(v) Outra decisão importante sobre o tema foi proferida pelo STJ. Em março de 2019,
decidiu o Tribunal Superior que é constitucional a remarcação de curso de formação para
candidata que esteja lactante à época de sua realização, independentemente da previsão
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expressa em edital do concurso público.1
(C) Controvérsias em torno da incidência da liberdade religiosa
(iv) Sacrifício de animais em cultos de religiões de matriz africana
Em março de 2019, por maioria, o Plenário do STF considerou constitucional lei estadual
de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual
de animais em cultos de religiões de matriz africana. Como sabemos, a religião desempenha
papel importante em vários aspectos da vida da comunidade, e essa centralidade está
consagrada no art. 5º, VI, da Constituição. É, pois, dever do Estado Brasileiro proteger as
manifestações das culturas populares indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
participantes do processo civilizatório nacional (art. 215, § 1º, da CF/88). Por isso, nossa
Corte Suprema entendeu não ter havido (por parte da lei) violação aos princípios da
laicidade e da igualdade. A proteção legal às religiões de matriz africana não representa um
privilégio, mas sim um mecanismo de assegurar a liberdade religiosa, mantida a laicidade
do Estado.
Como em seu art. 3º nossa Constituição promete uma sociedade livre de preconceitos,
entre os quais o religioso, a cultura afro-brasileira tem merecido maior atenção do Estado,
por conta de sua estigmatização (fruto de preconceito estrutural). A proibição do sacrifício
negaria a própria essência da pluralidade cultural, com a consequente imposição de
determinada visão de mundo.
Cap. 6: (“Direitos Sociais”):
(ii) Direitos referentes ao salário haurido pelo trabalhador:
(B) Piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho (art. 7º, V):
– Sobre este inciso, vale lembrar da existência da LC federal nº 103/2000, mediante
a qual a União, valendo-se da autorização expressa constante do art. 22, I e
parágrafo único, da Carta Maior, delegou aos Estados e ao Distrito Federal a
competência para instituir piso salarial para os empregados que não tenham esse
1 RMS 52.622-MG, 1ª Turma, STJ, Rel. Min. Gurgel de Faria.
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mínimo definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho;
– A 1ª Turma do STF decidiu, em fevereiro de 20192, que é permitido fixar o piso
salarial em múltiplos do salário mínimo (por exemplo: determinar que o piso da
categoria ‘x’ é de 5 salários mínimos), desde que o reajuste do piso não esteja
vinculado automaticamente ao reajuste do salário mínimo. Em outras palavras:
quando da contratação, há a definição de que o sujeito ganhará o piso da categoria,
que corresponde a ‘x’ vezes o valor do salário mínimo vigente naquele momento;
no entanto, as correções posteriores à contratação vão observar os acordos
coletivos da categoria respectiva, não havendo um reajuste automático do valor
em razão da alteração do valor do salário mínimo (justamente o que evita que ele
seja usado como fator de indexação). Nesse mesmo sentido, veja o que diz a OJ 71
do TST: “A estipulação do salário profissional em múltiplos do salário mínimo não
afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, só incorrendo em
vulneração do referido preceito constitucional a fixação de correção automática do
salário pelo reajuste do salário mínimo.” Assim, nas hipóteses em que o salário
mínimo seja utilizado como parâmetro para a fixação de salário-base, e não como
fator de indexação para futuros reajustes, não haverá afronta ao art. 7º, IV, da
CF/88 nem à SV 4.
(iii) Direitos referentes à proteção do trabalhador:
(D) Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos (art. 7º, XXXIII).
* Note, caro leitor, que nossa Constituição só proíbe de forma expressa o
trabalho insalubre a menores de dezoito, não disciplinando a (im) possibilidade
de tais atividades serem desempenhadas por empregadas grávidas ou lactantes
(que estão amamentando). A CLT, por outro lado, regulamentou o assunto: em
2016, por meio da Lei nº 13.287 (que inseriu o art. 394-A no documento)
23. RE 1.077.813 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio.
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proibiu-se que a empregada gestante ou lactante exercesse trabalho insalubre.
Um ano depois, no entanto, com a edição da Lei nº 13.467/2017 (“Reforma
Trabalhista), o art. 394-A teve sua redação modificada, para permitir
expressamente que empregadas grávidas ou lactantes pudessem trabalhar em
atividades insalubres, desde que cumpridos alguns requisitos e precauções. Foi
ajuizada uma ADI (5938/DF) para impugnar referido dispositivo, ao argumento
de que essa permissão para o exercício de trabalho insalubre seria
inconstitucional por afrontar a proteção que nosso texto constitucional deseja
ofertar à maternidade, à gestação, à saúde, à mulher, ao nascituro, aos recém-
nascidos, ao trabalho e ao meio ambiente do trabalho equilibrado. O STF, em
maio de 2019, julgou a ação direta procedente e declarou a
inconstitucionalidade da expressão “quando apresentar atestado de saúde,
emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o afastamento”,
contida nos incisos II e III do art. 394-A da CLT. Em conclusão: o STF entendeu
que o trabalho de gestantes e de lactantes em atividades insalubres viola a
Constituição Federal. Afinal, o art. 6º da CF/88 enuncia importantes direitos,
entre eles a proteção à maternidade, a proteção do mercado de trabalho da
mulher e redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança. E a proteção para que as gestantes e as lactantes
não sejam expostas a atividades insalubres caracteriza-se como importante
direito social instrumental que protege não apenas a mulher como também a
criança (art. 227 da CF/88).
(vii) Direito coletivos dos trabalhadores:
(A) Com exceção dos incisos V, VII e VIII todos os demais do art. 8º, CF/88 são direitos
coletivos dos trabalhadores e referem-se à sindicalização. Deste modo, segundo a doutrina3
“os trabalhadores têm direitos de se organizarem em sindicatos representativos de
categorias, cumprindo estas entidades a defesa dos direitos individuais ou coletivos dos
trabalhadores integrantes da categoria respectiva”. Vejamos os incisos referentes à
3. CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito Constitucional. 6ª ed. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 766.
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sindicalização:
– a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato,
ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a
interferência e a intervenção na organização sindical (art. 8º, I);
– é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau,
representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial,
que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo
ser inferior à área de um Município (art. 8º, II);
* Sobre o art. 8°, II, CF/88, vale destacar que a 1ª Turma do STF (em fevereiro de 2019)
confirmou o princípio da unicidade sindical no julgamento do RE 740.434, ao informar
que a legitimidade dos sindicatos para a representação de determinada categoria
depende do devido registro no Ministério do Trabalho (afinal, este é o órgão responsável
em cuidar para que não exista mais de um sindicato, da mesma categoria profissional ou
econômica, na mesma base territorial). Não é outro o teor do enunciado 677 da súmula
do STF: “Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho
proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela observância do princípio da
unicidade”.
8. JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE
(6) Em setembro de 2016, um pedido de vista do saudoso Ministro Teori Zavascki suspendeu
o julgamento conjunto de dois importantes Recursos Extraordinários (REs), o 566.471 e o
657.718:
- O RE 566.4714 trata do fornecimento de remédios de alto custo não disponíveis na
lista do Sistema Único de Saúde (SUS) e segue pendente de análise. Isso significa que nessa
pauta referente à judicialização da saúde, a Corte ainda terá que decidir sobre o
fornecimento de produtos não incorporados ao SUS. Aguardemos.
- Já o RE 657.7185 foi julgado em maio de 2019. Versava sobre a controvérsia acerca da
obrigatoriedade, ou não, de o Estado, ante o direito à saúde constitucionalmente garantido,
fornecer medicamento não registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.
4. Rel. Min. Marco Aurélio, reconhecida a repercussão geral em 03.12.2007.
5. Rel. Min. Marco Aurélio, reconhecida a repercussão geral em 17.11.2011.
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No cap. 21 desta obra, sobre Ordem Social, comentei com detalhamento a decisão. Mas já
coloco aqui os pontos centrais que você tem que conhecer sobre o que foi decidido. De
acordo com o STF:
(a) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
(b) A ausência de registro na Anvisa impede, como regra geral, o fornecimento de
medicamento por decisão judicial.
(c) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao
previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos:
(i) – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil, salvo no caso
de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras;
(ii) – a existência de registro do medicamento em renomadas agências de
regulação no exterior;
(iii) – a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
(d) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa
deverão ser necessariamente propostas em face da União.
Cap. 7: (“Direito de Nacionalidade”):
4. EXTRADIÇÃO
(E) Não se concederá a extradição quando (art. 82, Lei de Migração):
(i) o indivíduo cuja extradição é solicitada à República Federativa do Brasil for brasileiro nato
(tal vedação consta do art. 5º, LI, CF/88);
(ii) o fato que motivar o pedido extradicional não for considerado crime no Brasil ou no
Estado requerente;
– a dupla tipicidade é um requisito, o que significa que a possibilidade hipotética de
o processo penal ser instaurado em qualquer dos dois países (Estado estrangeiro e
República Federativa do Brasil), em razão de os fatos atribuídos ao extraditando
revestirem-se de tipicidade penal e serem igualmente puníveis em ambos, deve
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estar presente. Sobre a dupla tipicidade, interessante destacar duas coisas: (i) se à
época dos fatos, a conduta, hoje considerada criminosa, fosse tipificada como
contravenção penal, o pedido atual extradicional não poderá ser deferido, haja
vista os axiomas brasileiros de que: (a) não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena se não há prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX, CF/88); e de que (b) a
lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XL, CF/88); (ii) na
aferição da dupla tipicidade, o que efetivamente importa é a identidade dos
elementos estruturantes do tipo penal e não o nomen iuris da infração, pouco
importando que seja distinta a designação formal atribuída pelos países ao fato
delituoso;
– Em agosto de 2019, na Ext. 1578-DF, o STF se valeu justamente da ausência deste
requisito (dupla tipicidade) para não conceder o pedido extradicional. No caso, não
havia lei no Brasil tipificando o fato como infração penal no momento em que o ato
foi praticado. No entanto, tempos depois, quando o pedido extradicional foi feito,
o fato já estava tipificado como crime em nossa legislação. Dito com outras
palavras, a Corte confirmou que não se pode conceder a extradição se o ato
praticado pelo extraditando não era punido como crime no Brasil na época em que
o fato aconteceu, mesmo que depois, quando o pedido de extradição for feito, já
haja lei tipificando o fato como crime. Afinal, permitir que o requisito da dupla
tipicidade seja comprovado após a prática do fato representa violação à regra
constitucional da irretroatividade da lei penal menos benéfica6.
– ou seja, exige-se a competência exclusiva do Estado requerente para o
processamento e julgamento do fato delituoso, e a consequente incompetência da
justiça brasileira para julgar o fato7;
6. Art. 5°, XXXIX, CF/88: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.
7. Alexandre de Moraes colaciona um excelente exemplo, a Extradição 695 (na obra: MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil
Interpretada e Legislação Constitucional. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 263) em que o requisito da competência exclusiva do
Estado requerente foi excepcionalmente afastado. No caso, nada obstante a coexistência de jurisdição com o Estado brasileiro, o
pedido extradicional foi julgado procedente haja vista a não instauração de inquérito policial ou instrução processual penal no
Brasil em função do mesmo fato delituoso em que se fundou o pedido extradicional. Ver Ext. 695: “Prevalece a jurisdição penal do
Estado requerente, se – não obstante o concurso de jurisdição com o Estado brasileiro – o extraditando não responde, no Brasil, a
inquérito policial ou a processo penal que aqui poderiam ter sido instaurados em função do mesmo fato delituoso em que se
fundou o pedido extradicional”.
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(iv) a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 anos;
(v) o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou
absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;
(vi) a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado
requerente;
(vii) o fato constituir crime político ou de opinião8;
(viii) o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de
exceção; ou
– Sobre este ponto, vale mencionar uma interessante decisão proferida pela
2ª Turma do STF, em agosto de 2019, na Ext. 1578-DF. Na ocasião, nossa Corte
firmou o entendimento de que não se pode conceder a extradição se o país
requerente estiver enfrentando um quadro de instabilidade política (confirmada
pelas demissões de juízes e pelas prisões de opositores do governo do Estado
requerente), pois, em tais circunstâncias, há, no mínimo, uma justificada dúvida
quanto às garantias de que o extraditando será efetivamente submetido a um
tribunal independente e imparcial, o que se imporia num quadro de normalidade
institucional. Isso porque, em um cenário como este, haveria o risco de o
extraditando ser submetido a um tribunal ou juízo de exceção (o que é vedado pela
Constituição, no art. 5°, XXXVII9 e pelo art. 82, VIII, da Lei nº 13.445/201710). Dito
de outra forma, o STF entendeu que não se pode autorizar a extradição de um
indivíduo quando houver o risco de que no país requerente ele não tenha um
julgamento justo, no qual o devido processo legal seja observado.
(ix) o extraditando for beneficiário de refúgio ou de asilo territorial.
Lembremos que, segundo o STF (Ext. 1578-DF, julgada em agosto de 2019), também
8. Não teremos impedimento para a extradição quando o fato constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o
crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal. 9. Art. 5°, XXXVII, CF/88: “Não haverá juízo ou tribunal de exceção”.
10. Art. 82. Não se concederá a extradição quando (..) VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante
tribunal ou juízo de exceção.
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não pode ser concedida a extradição se houver possibilidade real de o Estado requerente
impor ao extraditando a pena de prisão perpétua ou a pena de morte, punições
expressamente vedadas por nossa Constituição (art. 5º, XLVII: “Não haverá penas: a- de
morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b- de caráter
perpétuo).
Corroborando este entendimento, temos a previsão do art. 96, III da Lei de Migração
(Lei nº 13.445/2017)11, que estabelece que não será concedida a extradição se o Estado
requerente não assumir, formalmente, o compromisso de respeitar a pena extrema
admitida em nossa legislação, que é a de privação de liberdade por, no máximo, 30 anos.
Deve o Estado requerente, portanto, se comprometer com a comutação de eventual pena
corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade.
(J) Segundo o art. 87 da Lei de Migração: “O extraditando poderá entregar-se
voluntariamente ao Estado requerente, desde que o declare expressamente, esteja
assistido por advogado e seja advertido de que tem direito ao processo judicial de
extradição e à proteção que tal direito encerra, caso em que o pedido será decidido pelo
Supremo Tribunal Federal”. Com base nesse artigo, creio ser interessante comentar duas
decisões do STF:
(1) Na Ext 1512/DF, julgada em 24.10.201712, o STF entendeu que é possível deferir pedido
de extradição instrutória formulado por Governo estrangeiro ainda que o requerimento
tenha sido instruído de forma deficiente, desde que a defesa não tenha discutido essa falha
e o estrangeiro tiver demonstrada interesse em ser prontamente extraditado. A Corte
sublinhou, no entanto, que o STF não poderia conceder o pleito extradicional, acaso
existissem dúvidas quanto à legalidade, estivesse prescrita a pretensão ou houvesse outra
impossibilidade.
(2) Na Ext 1564, julgada em maio de 2019, a 1ª Turma do STF resolveu questão de ordem
no sentido de autorizar seus ministros a julgarem monocraticamente os pleitos
11. Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o compromisso de: (...) III - comutar
a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de 30
(trinta) anos;
12. Relatada pelo Min. Gilmar Mendes.
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extradicionais sempre que o próprio extraditando manifeste expressamente, de modo livre
e voluntário, com assistência técnico-jurídica de seu advogado, concordância com o pedido
de sua extradição, desde que não tenha cometido crime no território nacional e se
preenchidos os demais requisitos. Em outras palavras: se o extraditando concorda
expressamente com a extradição, teremos a adoção de um procedimento simplificado
(mais rápido) na Corte Suprema, originando a chamada “extradição simplificada” (ou
“entrega voluntária” ou, ainda, “extradição voluntária”). Mas, mesmo diante da declaração
expressa do extraditando confirmando sua concordância com a extradição, o Ministro do
STF ainda precisará promover o controle de legalidade do pedido verificando se foram
preenchidos os requisitos para a concessão da extradição. Até porque, o art. 90 da Lei de
Migração determina que “Nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento
do Supremo Tribunal Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da
decisão”.
Cap. 8: (“Direitos Políticos e Partidos Políticos”):
5.3. Suspensão de direitos políticos
(ii) Condenação criminal transitada em julgado
Terá igualmente suspensos seus direitos políticos aquele que for condenado
criminalmente, após o trânsito em julgado, quando não mais houver direito a utilização da
via recursal. A suspensão persistirá enquanto perdurarem os efeitos da sentença, isto é, até
que seja extinta a punibilidade em razão do cumprimento da pena. Nesse sentido é a
súmula nº 9 do Tribunal Superior Eleitoral13, que determina que a suspensão de direitos
políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado só cessa com o
cumprimento/extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação
dos danos.
Finalmente, merecem atenção quatro derradeiras informações:
(A) aos presos provisórios – aqueles que respondem presos ao processo – não se aplica
13. Súmula 09, TSE: “A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o
cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos.”
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referida suspensão;
(B) o dispositivo em estudo (art. 15, III, CF/88) alcança todo o tipo de infração penal, seja o
crime doloso, culposo ou uma contravenção penal, pois o intuito da Constituição foi separar
os cargos públicos aos insuspeitos;
(C) a suspensão de direitos políticos em estudo, aplica-se tanto aos condenados a penas
privativas de liberdade como também aos condenados a penas restritivas de direitos.14
(D) segundo o TSE (Resolução nº 22.193/2006) nada obstante tratar-se de sentença
absolutória imprópria, a decisão que impõe medida de segurança ostenta natureza
condenatória, atribuindo sanção penal, razão pela qual enseja suspensão de direitos
políticos nos termos do inciso em apreço.
Cap. 9: (“Ações Constitucionais”):
2. HABEAS CORPUS (ART. 5º, LXVIII E LXXVII, CF/88)
2.5. Pressuposto lógico e especificidades
Por fim, segundo entendimento do STF15 cabe habeas corpus mesmo nas hipóteses que
não envolvem risco imediato de prisão, como na análise da licitude de determinada prova
ou no pedido para que a defesa apresente por último as alegações finais, se houver a
possibilidade de condenação do paciente. Isso porque, neste caso, a discussão envolve
liberdade de ir e vir.
2.8. Sistema recursal
(iv) Situações especiais
– Da decisão monocrática proferida por membro de Tribunal em sede de liminar em
habeas corpus caberá agravo regimental.
Existe jurisprudência reiterada do Supremo Tribunal Federal16 e do Superior
14. STF. Plenário. RE 601.182/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 8/5/2019
(repercussão geral) (Info 939).
15. STF. 2ª Turma. HC 157627 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 27/8/2019
(Info 949).
16. STF – HC 157.604/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, julgado em 4/9/2018 e noticiado no Informativo 914; HC 129.802/CE,
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Tribunal de Justiça17, contudo, que não tem admitido este recurso para questionar
decisão proferida pelo relator que motivadamente deferir ou indeferir pedido
liminar em habeas corpus. Vale destacar também que a aplicação deste
entendimento jurisprudencial pode ser afastada no caso de configuração de
evidente constrangimento ilegal ou abuso de poder.
– Por sua vez, da decisão concessiva de habeas corpus proferida por turma recursal
dos juizados caberá recurso extraordinário ao STF, desde que verificada uma das
hipóteses admitidas pela Constituição (102, III, CF).
A respeito do cabimento de agravo regimental em face de decisão monocrática
proferida por membro de Tribunal
– Por fim, segundo entendimento do STF18, cabe sustentação oral no agravo
regimental interposto contra a decisão monocrática que negou seguimento ao
habeas corpus. Nessa hipótese, aplica-se, por analogia, a regra do § 3º do art. 937
do CPC/2015.
3. MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL (ART. 5º, LXIX, CF/88 E LEI Nº 12.016/200919)
3.8. Efeitos da decisão e recursos
Segundo o STF, o mandado de segurança deverá ter seu mérito apreciado
independentemente de superveniente trânsito em julgado da decisão questionada pelo
mandamus. Nesse sentido, se a impetração do mandado de segurança for anterior ao
trânsito em julgado da decisão questionada, mesmo que venha a acontecer,
posteriormente, o mérito do MS deverá ser julgado, não podendo ser invocado o seu não
cabimento ou a perda de objeto.
Rel. Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno, julgado em 18/12/2016; HC 118.459 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno,
julgado em 24/10/2013; (HC 97.009, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão: Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, julgado em
25/04/2013.
17. STJ – AgRg no HC 463.728/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª Turma, julgado em 02/10/2018; AgRg no HC 445.206/GO, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, julgado em 15/05/2018. 18. STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/4/2019 (Info 937).
19. Lembrando que a Lei nº 12.016/2009 teve seu art. 16 alterado em junho de 2018 pela Lei nº 13.676. Sua atual redação é a seguinte:
“Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator a instrução do processo, sendo assegurada a defesa oral na
sessão do julgamento do mérito ou do pedido liminar.”
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Por último, vale comentar um interessante julgado do ano de 2019, proferido pela 1ª
Turma do Supremo20, no qual foi decidido que o acórdão concessivo do MS que determina
o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político deve incluir também os
juros de mora e correção monetária. Nesse sentido, não é necessário o ajuizamento de ação
autônoma para o pagamento dos consectários legais inerentes à reparação econômica
devida a anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor
do disposto no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art.
6º, § 6º, da Lei 10.559/2002.21
Cap. 10: (“Organização Político-Administrativa do Estado”):
8.3. Técnicas de repartição
8.4. Competências da União
8.4.2. Legislativas privativas – art. 22, CF/88
Inciso I – Este inciso reúne os principais ramos do Direito e, no intuito de unificá-lo
nacionalmente, determina ser de competência da União legislar sobre direito civil,
comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho. Para memorizá-los, procure se lembrar do seguinte esquema:
(1.5) Na ADI 4.11122 o STF considerou inconstitucional lei estadual que estabelecia prazos
máximos em que as empresas de planos de saúde poderiam autorizar a realização de
exames médicos que necessitavam de análise e autorização prévia (por exemplo, a lei
determinava que se o paciente fosse idoso a autorização deveria ser dada em até 24 horas).
Segundo decisão do Supremo, a inconstitucionalidade deriva do fato de a norma tratar de
direito civil, comercial e política de seguros (temas de competência privativa da União,
conforme art. 22, I e VII, CF/88).
(1.6) Em maio de 2019, na ADI 5800/AM, o STF consignou a inconstitucionalidade de lei
estadual que criava hipóteses de isenção de pagamento de direitos autorais fora do rol
20. STF. 1ª Turma. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2019 (Info 940).
21. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio.
22. Relatada pelo Min. Roberto Barroso e noticiada no Informativo 754, STF.
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trazido pela Lei federal nº 9.610/1998. No caso concreto, uma lei do Estado do Amazonas
isentava entidades filantrópicas de recolher taxas de retribuição autoral arrecadadas pelo
ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), criando novas hipóteses de não
recolhimento de direitos autorais, não previstas na Lei federal. Nossa Corte Suprema
determinou que tal postura afrontava a competência privativa da União para legislar sobre
direito civil (direito de propriedade) e para estabelecer regras de intervenção no domínio
econômico (art. 22, I, da CF/88). Ademais, tal norma estadual acabava por retirar dos
autores das músicas o seu direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução das
obras ou do reconhecimento por sua criação, violando o art. 5º, XXII e XXVII, CF/88.
(1.7) Em março de 2019, o STF declarou a inconstitucionalidade de normas do Estado de
Santa Catarina que estabeleciam obrigações contratuais às seguradoras de veículos. A
questão foi analisada na ADI 4704, julgada procedente por unanimidade, pois o colegiado
entendeu que as normas invadiram a competência privativa da União para legislar sobre
direito civil, seguros, trânsito e transporte (artigo 22, incisos I, VII, IX da CF/88). Os artigos
da referida lei estadual que foram declarados inconstitucionais impunham uma série de
condutas às seguradoras, entre elas a de arcar com reparos de veículos sinistrados não só
em oficinas credenciadas ou referenciadas, mas em qualquer outra apontada pelo segurado
ou terceiro prejudicado. A lei exigia também que as seguradoras fornecessem ao cliente
certificado de garantia dos serviços prestados, além de instituir hipótese de “seguro
obrigatório”, ao determinar que as seguradoras não podem negar a contratação de seguro
para veículos recuperados que tenham sido considerados aptos à circulação por órgão de
trânsito responsável.
Em seu voto, o ministro Luiz Fux, relator da ação, destacou que a competência privativa
da União para legislar sobre direito civil, seguros, trânsito e transporte visa garantir uma
coordenação centralizada das políticas de seguro privado e de regulação das operações que
assegurem a estabilidade do mercado. Ele ressaltou que a competência legislativa
concorrente em produção e consumo e em responsabilidade por dano ao consumidor não
autoriza os estados-membros e o Distrito Federal a legislarem livremente sobre as
condições e as coberturas praticadas pelas seguradoras. Lembrou, ainda, que a legislação
sobre questões ligadas ao trânsito e sua segurança, como registro, desmonte e
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comercialização de veículos sinistrados, também é de competência privativa da União.
(1.8) Em outubro de 2019, na ADI 5792, nossa Corte Suprema considerou inconstitucional
uma lei do Distrito Federal que assegurava ao consumidor a tolerância de 30 minutos para
a saída do estacionamento após o pagamento da tarifa. Prevaleceu o entendimento do
ministro Alexandre de Moraes, relator da ação direta, no sentido de que leis estaduais e
distritais que tratem da regulamentação de estacionamentos são inconstitucionais, por
invasão da competência da União para legislar sobre Direito Civil (art. 22, I, da Constituição).
Segundo o relator, a lei distrital interferia direta e indevidamente na dinâmica econômica
da atividade empresarial estabelecida pelo proprietário do estacionamento e violava,
assim, o princípio da livre iniciativa.
(1.9) Em novembro de 2019, na ADI 5838, o STF declarou a inconstitucionalidade de lei do
Distrito Federal que obrigava os supermercados a doarem produtos próximos do
vencimento para instituições beneficentes. Segundo Gilmar Mendes, que relatou a ação, a
lei impunha restrição ao direito de propriedade, ou seja, versava sobre direito civil – que é
matéria de competência privativa da União (art. 22, I, CF/88). Argumentou-se, também, que
o princípio da livre inciativa estava sendo violado, pois a lei promovia uma indevida
ingerência na atividade privada.
(2) Por entender violada a competência da União para legislar sobre o tema direito do
trabalho, o STF fez os seguintes pronunciamentos:
(2.1) Em novembro de 2019, na ADI 6083, o STF considerou inconstitucional a lei estadual
que decretou feriado bancário na Quarta-feira de Cinzas. Afinal, decretar feriado civil para
bancários insere-se na competência privativa da União para legislar sobre direito do
trabalho (e também sobre o funcionamento das instituições financeiras; art. 48, inciso XIII).
Assim, aos Estados, foi delegada (pela Lei n° 9.039/1995) somente a competência para
decretação de feriados civis para comemoração de sua data magna, não cabendo aos
Estados estabelecer hipóteses não previstas na legislação federal.
Inciso IV – Com base neste inciso o STF declarou inconstitucionais algumas normas.
Vejamos:
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(1) O Supremo entendeu, em agosto de 2019, que é inconstitucional a lei municipal que
autoriza o Poder Executivo local a conceder a exploração do Serviço de Radiodifusão
Comunitária no âmbito do território do Município. Isso porque, nos termos do art. 22, IV da
CF/88, é atribuição privativa da União legislar sobre o tema “radiodifusão” (ADPF 235/TO,
Rel. Min. Luiz Fux). Assim, não compete ao Município editar uma lei determinando que o
Poder Executivo Municipal possa autorizar a exploração e funcionamento de rádios
comunitárias na cidade, pois isso viola a divisão de competências feitas pela Constituição
Federal (já que o art. 21, XII, “a”, CF/88 estabelece que a competência para conceder
autorização para tais serviços pertence à União, ao passo que o art. 22, IV, CF/88 concede
à União a competência privativa para legislar sobre o tema “radiodifusão”). Detalhe: repare
que a ação na qual o tema foi discutido no STF é uma ADPF, pois leis municipais não podem
ser objeto de ADI ajuizada perante a Corte Suprema (art. 102, I, ‘a’, CF/88).
(2) Também no mês de agosto de 2019, o STF declarou (na ADI 5610/BA) a
inconstitucionalidade de uma lei estadual que proibia as empresas concessionárias de
energia elétrica de cobrarem pela religação caso houvesse corte no fornecimento de
energia em razão de atraso no pagamento. Considerou nossa Corte Suprema que referida
lei estadual afrontava a competência privativa da União para legislar sobre energia,
desrespeitando, pois, o art. 22, IV e o art. 21, XII, “b”, ambos da CF/88. Assim, se uma
concessionária suspendeu o fornecimento do serviço de energia elétrica de um consumidor,
em virtude do seu inadimplemento, e, posteriormente, este quita os débitos e regulariza a
situação, pode a concessionária cobrar um valor pelo religamento do serviço, sendo
inconstitucional a lei estadual que proibir tal cobrança.
(1) O Supremo entendeu, em agosto de 2019, que é inconstitucional a lei municipal que
autoriza o Poder Executivo local a conceder a exploração do Serviço de Radiodifusão
Comunitária no âmbito do território do Município. Isso porque, nos termos do art. 22, IV da
CF/88, é atribuição privativa da União legislar sobre o tema “radiodifusão” (ADPF 235/TO,
Rel. Min. Luiz Fux). Assim, não compete ao Município editar uma lei determinando que o
Poder Executivo Municipal possa autorizar a exploração e funcionamento de rádios
comunitárias na cidade, pois isso viola a divisão de competências feitas pela Constituição
Federal (já que o art. 21, XII, “a”, CF/88 estabelece que a competência para conceder
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autorização para tais serviços pertence à União, ao passo que o art. 22, IV, CF/88 concede
à União a competência privativa para legislar sobre o tema “radiodifusão”). Detalhe: repare
que a ação na qual o tema foi discutido no STF é uma ADPF, pois leis municipais não podem
ser objeto de ADI ajuizada perante a Corte Suprema (art. 102, I, ‘a’, CF/88).
(2) Também no mês de agosto de 2019, o STF declarou (na ADI 5610/BA) a
inconstitucionalidade de uma lei estadual que proibia as empresas concessionárias de
energia elétrica de cobrarem pela religação caso houvesse corte no fornecimento de
energia em razão de atraso no pagamento. Considerou nossa Corte Suprema que referida
lei estadual afrontava a competência privativa da União para legislar sobre energia,
desrespeitando, pois, o art. 22, IV e o art. 21, XII, “b”, ambos da CF/88. Assim, se uma
concessionária suspendeu o fornecimento do serviço de energia elétrica de um consumidor,
em virtude do seu inadimplemento, e, posteriormente, este quita os débitos e regulariza a
situação, pode a concessionária cobrar um valor pelo religamento do serviço, sendo
inconstitucional a lei estadual que proibir tal cobrança.
(3) Também foi considerada inconstitucional a lei estadual que dispunha sobre a
possibilidade de acúmulo de franquia de minutos mensais ofertados pela operadora de
telefonia, determinando a transferência dos minutos não utilizados para os meses
subsequentes, em virtude da ofensa à competência da União para legislar sobre o tema
“telecomunicações” (ADI 4649-RJ, STF, Rel. Min. Dias Toffoli);
(4) Igualmente inconstitucionais são as leis estaduais que, ao obrigarem as concessionárias
dos serviços de telefonia fixa, energia elétrica, água e gás a instalar medidores de consumo,
intervêm na relação firmada entre a União e suas concessionárias, contrariando o inciso em
comento (ADI 3.558-RJ, STF, Rel. Min. Cármen Lúcia, noticiada no Informativo 619, STF);
(5) Viola, também, o texto constitucional a lei estadual que institui controle de
comercialização e de habilitação de aparelhos usados de telefonia móvel (ADI 3.846-PE, STF,
Rel. Min. Gilmar Mendes, noticiada no Informativo 610, STF).
(6) Em fevereiro de 2019, analisando uma lei do Estado da Bahia, o STF concluiu, na ADI
4606, que é inconstitucional a lei estadual que tratar da arrecadação das receitas oriundas
da exploração de recursos hídricos para geração de energia elétrica e de recursos minerais,
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inclusive petróleo e gás natural. Isso porque há uma inconstitucionalidade formal, vez que
compete à União legislar sobre o assunto, nos termos do art. 22, incisos IV e XII, CF/88. Em
contrapartida, a lei estadual pode dispor sobre a fiscalização e o controle dessas receitas,
tendo em vista que é de competência comum aos entes registrar, acompanhar e fiscalizar
as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
territórios (art. 23, XI, da CF/88).
Em outras palavras, apesar de o § 1º do art. 20 assegurar aos Estados, ao Distrito
Federal, aos Municípios e aos órgãos da administração direta da União participação no
resultado da exploração dos recursos hídricos e minerais e esses valores possuírem
natureza jurídica de “receita patrimonial originária” (cuja titularidade pertence a cada um
dos entes federados), as condições de recolhimento e repartição são definidas por
regramento da União, uma vez que ela é competente para definir as condições legislativas
gerais de exploração dos potenciais recursos hídricos e minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88).
De outro lado, é perfeitamente possível que uma lei estadual estipule regras para
fiscalização e controle desses recursos. Afinal, como citado acima, o art. 23, XI, CF/88
permite aos entes federados adotar providências administrativas para registrar,
acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos
hídricos e minerais em seus territórios, permitindo, com isso, que eles tenham controle
sobre as quotas-partes repassadas a título de compensação financeira pela União.
(7) Três decisões sobre este tema, proferidas recentemente pelo STF, merecem destaque.
Em todas elas, a Corte decidiu que o assunto central da norma era “direito do consumidor”
– matéria de competência legislativa concorrente –, e não “telecomunicações” – matéria
de competência legislativa privativa da União (art. 22, IV). Assim, nos três casos, a Corte
concluiu não ter havido vício formal, ou seja, considerou que as normas estaduais em
análise eram constitucionais. Vejamos:
(7.1) Em dezembro de 2018 (na ADI 5961/PR), o STF decidiu que é constitucional lei estadual
que veda o corte do fornecimento de água e luz pelas empresas concessionárias, em
determinados dias, por falta de pagamento. No caso concreto, foi declarada a
constitucionalidade de uma lei do Estado do Paraná que proíbe que as concessionárias de
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serviços públicos de água e luz cortem o fornecimento residencial de seus serviços por falta
de pagamento às sextas-feiras, sábados, domingos, feriados e no último dia útil anterior a
feriado. A lei também prevê que o consumidor que tiver suspenso o fornecimento nesses
dias tem o direito de acionar juridicamente a concessionária por perdas e danos, além de
ficar desobrigado de efetuar o pagamento da dívida que gerou a suspensão do serviço.
(7.2) Em fevereiro de 2019 (na ADI 5745) o STF decidiu que é constitucional lei estadual que
obriga as empresas prestadoras de serviços no Estado (por exemplo, empresas de telefonia,
de TV por assinatura, de energia elétrica etc.) a informarem previamente a seus clientes os
dados do empregado (nome e identidade) que realizará o serviço na residência do
consumidor. Afinal, na hipótese em estudo, o valor constitucional central que está sendo
tutelado pela lei estadual é a segurança dos consumidores, tentando impedir que eles sejam
vítimas de assaltantes que finjam ser funcionários das empresas prestadoras de serviço.
Não havendo interferência na atividade de telecomunicações propriamente dita, não há
que se falar em ofensa à competência privativa da União.
(7.3) Em abril de 2019 o STF decidiu que é constitucional lei estadual que obriga as empresas
de telefonia fixa e móvel a cancelarem a multa contratual de fidelidade quando o usuário
comprovar que perdeu o vínculo empregatício após a adesão do contrato (ADI 4908/RJ).
Afinal, entendeu o STF, referida lei trata do tema “direito do consumidor” – matéria de
competência legislativa concorrente (art. 24, V e VIII, CF/88) –, e não do tema
“telecomunicações” – matéria de competência legislativa privativa da União, prevista no
art. 22, IV. Não houve, pois, vício formal.
8.6. Competências dos Municípios
Inciso I – Neste inciso temos a informação de que os Municípios legislam sobre “assuntos
de interesse local”. Como a expressão é juridicamente indeterminada, as competências
municipais decorrentes desse inciso serão construídas casuisticamente, segundo
percepções doutrinárias e decisões do STF.
(4) Sobre o tempo máximo de espera em fila, é competência local fixar não só o limite
temporal razoável de aguardo em filas de bancos. Veja:
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(4.1) Em maio de 2019 o STF decidiu que é também competência municipal editar lei
determinando que que os supermercados ficam obrigados a colocar, à disposição dos
consumidores, funcionários em número suficiente nos caixas, de modo que a espera na fila
não seja superior a 15 minutos23. De acordo com o STF, esse tipo de lei municipal não está
obrigando a contratação de pessoal, e sim a colocação de trabalhadores em número
suficiente no setor de caixas para o atendimento aos consumidores dentro de um prazo
considerado razoável.
(4.2) Igualmente é de competência municipal a edição de lei que estipule tempo máximo
de espera na fila de cartórios, para obtenção de serviços notariais, pois o assunto não se
insere no tema ‘registros públicos’24 – afinal, se fosse referente à ‘registros públicos’, a
competência para legislar pertenceria à União (art. 22, XXV, CF/88).
(4.3) Em suma, Municípios brasileiros podem ter leis disciplinando tempo máximo de espera
(usualmente é de 15 minutos) para o atendimento do consumidor em bancos, loterias,
concessionárias de água, de energia elétrica, supermercados etc. Tais leis ficaram
informalmente conhecidas como “Lei das Filas” e, segundo o STF, elas são constitucionais
(pois trata-se de assunto de interesse local, sendo, portanto, de competência municipal,
consoante o art. 30, I, CF/88).
(5) Em contrapartida, o STF determinou que não compete aos Municípios:
(5.1) Editar leis que obriguem supermercados ou similares à prestação de serviços de
acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa
(art. 1º, IV e art. 170 da CF/88)25.
(5.2) Editar normas que impeçam a instalação de estabelecimentos comerciais de mesmo
ramo em determinada área, por ofensa à livre concorrência (súmula vinculante nº 49,
STF)26.
136. ARE 809489 AgR/SP, julgado em maio de 2019.
24. De acordo com o entendimento do STF, manifestado no RE 397.094-DF, STF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, noticiado no Informativo
438, STF. 25. STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017
(Info 871).
26. Conforme a súmula vinculante nº 49, STF, antiga súmula 646: “Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a
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(5.3) Também em homenagem aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, o
STF decidiu (em maio de 2019)27 que os Municípios não podem proibir o transporte de
passageiros mediante aplicativo (Uber e similares), de forma que eventual lei (municipal ou
distrital) que impeça essa atividade seja considerada inconstitucional. Além disso, como é
competência da União legislar sobre “trânsito e transporte” (art. 22, XI, CF/88), os
Municípios e o Distrito Federal, quando forem exercer sua competência na regulamentação
e fiscalização do transporte privado individual de passageiros, não podem contrariar os
parâmetros fixados pelo legislador federal. Todavia, enquanto os Municípios (e o DF) não
editarem a lei regulamentadora, o serviço está permitido, uma vez que ele independe de
autorização prévia e pode ser prestado regularmente ainda que não haja regulamentação
local.
Assim, restou fixada a seguinte tese (Tema nº 967; RE nº 1.054.110):
I - A proibição ou restrição da atividade de transporte privado individual por
motorista cadastrado em aplicativo é inconstitucional, por violação aos
princípios da livre iniciativa e da livre concorrência;
II - No exercício de sua competência para regulamentação e fiscalização do
transporte privado individual de passageiros, os Municípios e o Distrito Federal
não podem contrariar os parâmetros fixados pelo legislador federal (CF/1988,
art. 22, XI).
instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área”.
27. Na ADPF 449/DF e no RE 1054110/SP, julgados em 8 e 9/5/2019, e noticiados no Informativo 939.
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Cap. 12: (“Poder Legislativo”):
6.5. Imunidades dos demais membros do Poder Legislativo
6.5.1. Âmbito estadual e distrital
Era de se imaginar que, em algum momento, tal postura refletiria nas imunidades dos
Deputados Estaduais. Assim, se por anos e anos a jurisprudência da Corte assentou-se no
ideal de simetria, isto é, de paralelismo entre as prerrogativas válidas em âmbito federal e
estadual, em 2017 o Supremo começou a enfrentar, nas medidas cautelares em três ações
diretas (ADIs 5823, 5824 e 5825), um tema que parecia pacífico: a extensão aos Deputados
Estaduais das imunidades formais previstas no artigo 53, CF/88 para Deputados Federais
e Senadores. Em síntese, o STF discutirá a extensão da imunidade dos deputados estaduais
e a competência das respectivas assembleias legislativas para reverter prisões e medidas
cautelares determinadas pela Justiça contra esses parlamentares.
As ações foram ajuizadas pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) contra
dispositivos das Constituições dos Estados do Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e de Mato
Grosso que estenderam aos Deputados Estaduais as imunidades formais previstas no art.
53, CF/88 para parlamentares federais (referido dispositivo constitucional indica que os
membros do Congresso Nacional não poderão ser presos desde a expedição do diploma,
salvo em flagrante de crime inafiançável e, nesses casos, a prisão deve ser submetida, no
prazo de 24h, à casa respectiva; além disso, prevê a possibilidade de a Casa Legislativa sustar
o andamento de ação penal aberta contra parlamentar).
Quando da interrupção do julgamento, em 07.12.2017, cinco Ministros já tinham
votado pela concessão da liminar – Edson Fachin, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli (este
em menor extensão), e Cármen Lúcia –, para suspender as normas que permitem a
revogação de prisão de Deputados Estaduais. Quatro Ministros – Marco Aurélio28,
Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Celso de Mello – se manifestaram de forma
contrária, isto é, pelo indeferimento da medida cautelar nas ADIs. O julgamento foi
28. Em seu voto (que deve ficar vencido), o Min. Marco Aurélio resumiu nossa percepção sobre o tema: “A leitura da Constituição
Federal, sob os ângulos literal e sistemático, revela, a mais não poder, que os deputados estaduais têm jus às imunidades formal e
material e à inviolabilidade conferidas pelo Constituinte aos congressistas, no que estendidas, expressamente, ao legislador local”.
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suspenso para aguardar os votos dos ministros Ricardo Lewandowski e Luís Roberto
Barroso, ausentes justificadamente.
Enquanto este julgamento esteve paralisado, ainda que os Ministros que já votaram
pudessem alterar suas manifestações anteriores, parecia-nos que estávamos antevendo um
lastimoso resultado: pensávamos que por maioria apertada o STF restringiria as imunidades
estaduais, seguindo a tendência geral de interferência (ao nosso sentir, indevida) no
mandato dos parlamentares. Se isso tivesse acontecido, teríamos mais uma manifestação
da atual composição do STF que, data vênia, feriria a literalidade do dispositivo
constitucional parâmetro (in casu, o art. 27, § 1º: “Será de quatro anos o mandato dos
Deputados Estaduais, aplicando-sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema
eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença,
impedimentos e incorporação às Forças Armadas” – grifo nosso).
No entanto, em maio de 2019, o STF nos surpreendeu positivamente! Nossa Corte
negou, por seis votos a cinco, as medidas cautelares nas ADIs 5823, 5824 e 5825.
Prevaleceu, portanto, o entendimento do relator da ADI 5823, Ministro Marco Aurélio, de
que as regras da Constituição Federal relativas à imunidade dos Deputados Federais são
aplicáveis aos Deputados Estaduais. Votaram nesse sentido o Presidente do STF, Ministro
Dias Toffoli, e os Ministros Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e o
decano, Celso de Mello. Já os Ministros Edson Fachin (relator das ADIs 5824 e 5825), Luís
Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia concediam as liminares.
Note que a virada se deu com a alteração de posicionamento do Min. Dias Toffoli, que
retificou seu voto dado em 2017. “Meu voto restou isolado. Se dez ministros não
entenderam nesse sentido, curvo-me àquilo que está na Constituição Federal”, salientou.
Em conclusão: prevaleceu no STF o entendimento de que o parágrafo 1º do artigo 27
da CF/88 é claro ao estender aos Deputados Estaduais as regras da Constituição sobre
imunidades dos parlamentares federais. Veja o que disse a Corte Suprema no Informativo
939:
(..) O dispositivo [art. 27, § 1°] não abre campo a controvérsias semânticas em torno de
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quais imunidades são abrangidas pela norma extensora. A referência no plural, de cunho
genérico, evidencia haver-se conferido a parlamentares estaduais proteção sob os
campos material e formal. Se o constituinte quisesse estabelecer estatuto com menor
amplitude para os deputados estaduais, o teria feito expressamente, como fez, no inciso
VIII do art. 29, em relação aos vereadores.
Assim, a Assembleia Legislativa estadual tem competência para rejeitar a prisão
preventiva e as medidas cautelares impostas pelo Poder Judiciário contra Deputados
Estaduais, sendo constitucional eventual resolução editada pela Assembleia Legislativa que,
com base na imunidade parlamentar formal (art. 53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88), revoga
a prisão preventiva e as medidas cautelares penais que haviam sido impostas pelo Poder
Judiciário contra Deputado Estadual, determinando o pleno retorno do parlamentar ao seu
mandato. Afinal, entendeu o Supremo, o Poder Legislativo estadual tem a prerrogativa de
sustar decisões judiciais de natureza criminal, precárias e efêmeras, cujo teor resulte em
afastamento ou limitação da função parlamentar.
5.3.3. As Comissões Parlamentares de Inquérito na Constituição Federal de 198829
(B.2) Limites à atuação das CPIs:
(2) Os direitos fundamentais
(2.1) Direito ao silêncio
Enquanto o privilégio da não autoincriminação diante das Comissões Parlamentares é
tema já pacificado na doutrina, o mesmo ainda não se deu com a obrigatoriedade do
comparecimento do indiciado perante as comissões.
Há quem defenda que a presença do indiciado perante a comissão quando convocado
é obrigatória, sob pena, inclusive, de ser conduzido coercitivamente30.
Essa nunca nos pareceu ser a melhor posição, haja vista o disparate que seria mobilizar
a estrutura policial para conduzir forçadamente alguém que, uma vez apresentado à
comissão, pode, simplesmente, calar-se, recusando-se a responder aos questionamentos.
29. Insta informar que em 5 de dezembro de 2016 foi promulgada a Lei nº 13.367, que alterou a Lei nº 1.579, de 18 de março de 1952,
que dispõe sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito.
30. SALGADO, Plínio. Comissão Parlamentar de Inquérito: doutrina, jurisprudência e legislação. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 91-
92.
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O direito ao silêncio converte, portanto, a possibilidade de condução coercitiva do indiciado
num contrassenso, numa determinação ilógica.
Corroborando este nosso entendimento, frise-se que o Min. Gilmar Mendes, em
decisão liminar prolatada em 19.12.2017 (data da última sessão plenária daquele ano),
vedou o uso da condução coercitiva de investigados para interrogatório nas ADPFs 395 e
444, ao argumento de que a medida fere a Constituição. Em suas palavras:
Nossa Constituição enfatiza o direito à liberdade, no deliberado intuito de romper com
práticas autoritárias como as prisões para averiguação. Assim, salvo as exceções nela
incorporadas, exige-se a ordem judicial escrita e fundamentada para a prisão – art. 5º, LXI.
Logo, tendo em vista que a legislação consagra o direito de ausência ao interrogatório, a
condução coercitiva para tal ato viola os preceitos fundamentais previstos no art. 5º,
caput, LIV e LVII.
O posicionamento do Min. Gilmar foi confirmado pelo Plenário em junho de 2018,
quando a Corte, por maioria, julgou procedente o pedido formulado nas referidas arguições
de descumprimento de preceito fundamental (ADPFs 395 e 444) para declarar a não
recepção da expressão “para o interrogatório” constante do art. 260 do CPP, e a
incompatibilidade com a Constituição Federal da condução coercitiva de investigados ou de
réus para interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da responsabilidade civil
do Estado (ver Informativo 905).
Essa controvérsia, sobre o investigado estar ou não obrigado a comparecer perante a
CPI, ganhou destaque em maio de 2019, por ocasião da análise do HC 171.438/DF (Rel. Min.
Gilmar Mendes). Isso porque os Ministros Gilmar e Celso de Mello, entenderam que o
investigado pode se recusar a comparecer na sessão da CPI na qual será ouvido, não
podendo ser conduzido coercitivamente (seu comparecimento seria facultativo). No
entanto, outros dois Ministros, Edson Fachin e Cármen Lúcia, entenderam que o
comparecimento é obrigatório (passível de condução coercitiva em caso de recusa).
Como foram dados dois votos favoráveis à tese de que o paciente não estava obrigado
a comparecer à CPI e dois votos contrários, isto é, houve empate, prevaleceu a decisão
mais favorável ao paciente.
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Assim, a 2ª Turma do STF concedeu a ordem de habeas corpus para transformar a
compulsoriedade de comparecimento em facultatividade e deixar a cargo do paciente a
decisão de comparecer ou não à Câmara dos Deputados, perante a CPI, para ser ouvido na
condição de investigado.
Em conclusão, a 2ª Turma assegurou ao investigado:
(i) o direito de decidir se vai ou não comparecer perante a comissão;
(ii) caso queira comparecer ao ato, ele ainda possui:
(a) o direito ao silêncio, ou seja, a não responder perguntas a ele direcionadas;
(b) o direito à assistência por advogado durante o ato;
(c) o direito de não ser submetido ao compromisso de dizer a verdade ou de subscrever
termos com esse conteúdo; e d) o direito de não sofrer constrangimentos físicos ou morais
decorrentes do exercício dos direitos anteriores.
6.6.2. Foro especial para os congressistas
(A) Abrangência: da literalidade à restrição
Importante informar que antes da decisão da AP (QO) 937, as investigações contra
parlamentares federais só podiam ser desenvolvidas sob os cuidados da Corte, de forma
que era imprescindível, para a instauração do inquérito ou para o indiciamento do
congressista, a autorização do STF. Nesses termos, preceituava Alexandre de Moraes31 que
a imunidade parlamentar no aspecto formal não impede a instauração e não possibilita a
suspensão de inquérito policial contra congressista que está sujeito aos atos de
investigação criminal promovidos pela Polícia Judiciária, desde que essas medidas pré-
processuais de persecução penal sejam adotadas no âmbito de procedimento
investigatório em curso perante órgão judiciário competente, qual seja, o próprio Pretório
Excelso.
Perceba, caro leitor, que nesse cenário anterior a maio de 2018, se a autoridade policial
ou o membro do Ministério Público tivesse ciência de suposto ato criminoso que envolvesse
um congressista, a investigação não podia ser imediatamente iniciada. Pouco importava se
31. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 26ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 454.
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o eventual crime tinha ou não relação com a função: os indícios deveriam ser encaminhados
à Procuradoria-Geral da República a fim de que esta apresentasse ao STF, em requerimento
solicitador, a permissão para que a investigação criminal pudesse ser instaurada.
Autorização concedida, o inquérito criminal (e não inquérito policial) tramitava no STF, sob
a supervisão judicial de um Ministro (que se tornaria o futuro relator da ação penal),
responsável por autorizar as diligências indispensáveis.
Com a decisão proferida pelo STF na AP (QO) 937, isso se alterou. Para os crimes
cometidos antes da diplomação ou durante o mandato mas sem relação com ele, a
investigação poderá ser feita pela Polícia Civil ou Federal, ou pelo Ministério Público,
independentemente de prévia autorização do STF. Eventuais medidas cautelares deverão
ser requisitadas ao juiz de 1ª instância. Já para os crimes cometidos no curso do mandato e
que estejam conectados com o desempenho da função parlamentar, a regra segue sendo a
anterior: investigação só após a autorização dada pelo STF e sob a supervisão da Corte.
Frise-se, ainda, que nada obstante referida ação penal somente ter restringindo as
normas referentes ao foro dos congressistas, é certo que sua incidência já começou a se
alastrar para alcançar outras autoridades. Como citado no Capítulo 14 desta obra, sobre o
“Poder Executivo”, o impacto dessa nova percepção do STF já atingiu os Ministros de Estado
(ver INQ 4703 QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, de junho de 2018) e os Governadores (ver AP 866,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, STJ, em maio de 2018).
Finalizo este item citando uma interessante decisão32 do STF, de março de 2019, na
qual a Corte aplicou o entendimento acima apresentado (resultante da AP[QO] 937) em um
caso envolvendo um crime eleitoral cometido por um Deputado Federal reeleito no
transcorrer da sua campanha à reeleição.
O caso foi o seguinte: o Deputado Federal ‘A’, durante sua campanha à reeleição,
recebeu uma doação ilegal de uma empresa. Tais valores não foram contabilizados na
prestação de contas da campanha do parlamentar, o que configura o ‘caixa 2’ (delito
32. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).
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descrito no art. 350 do Código Eleitoral33). Tendo sido tal Deputado Federal ‘A’ reeleito para
um novo mandato (2019 a 2022), o STF seguiu sendo competente para julgar este crime
eleitoral, ainda que este crime tenha sido praticado durante o mandato anterior. Entenda
melhor o caso, no passo a passo que proponho abaixo:
(1) Já sabemos que o foro por prerrogativa de função aplica-se, tão somente, aos crimes
cometidos durante o exercício do mandato e relacionados às funções desempenhadas.
(2) Segundo o STF, receber doação ilegal destinada ao financiamento da campanha de
reeleição ao cargo de Deputado Federal é crime que se relaciona com a atividade
parlamentar.
(3) Assim, em razão da conexão entre o delito e o mandato parlamentar, a competência é
do STF.
(4) Mas note, caro leitor: a atual diplomação deve decorrer de reeleição sucessiva e
ininterrupta.
(5) Por isso, não é um problema o fato de o crime ter sido cometido no curso do mandato
anterior, sendo suficiente que o mandato atual seja decorrente de uma reeleição sucessiva
e ininterrupta.
(6) Vamos, agora, imaginar um cenário diferente: um Deputado Federal ‘B’, durante sua
campanha à reeleição, recebeu doação ilegal de uma empresa. Tais valores não foram
contabilizados na prestação de contas da campanha do parlamentar, o que configurou o
‘caixa 2’. Mas tal Deputado Federal não foi reeleito para um novo mandato. Daí, pergunta-
se: o STF seguiu sendo competente para julgar este crime eleitoral? Claro que não, pois ‘B’
não se reelegeu como Deputado Federal, razão pela qual ele deixou de ter foro por
prerrogativa de função. Portanto, neste caso, tal delito será de competência da Justiça
Eleitoral de 1ª instância.
33. Art. 350. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dêle devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais:
Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa, se o documento é público, e reclusão até três anos e
pagamento de 3 a 10 dias-multa se o documento é particular.
Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do cargo ou se
a falsificação ou alteração é de assentamentos de registro civil, a pena é agravada.
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10.4. Atribuições dos Tribunais de Contas e a prerrogativa para apresentação de projetos
de lei
(xii) Prerrogativa para apresentação de projetos de lei (art. 73, caput, associado ao art.
96, inciso II, ‘b’, ambos da CF/88):
Por fim, cumpre apresentar outra importante prerrogativa: os projetos de lei que
versam sobre a organização e o funcionamento do Tribunal de Contas (de todas as esferas
da federação) são de iniciativa reservada à própria Corte de Contas.
Podemos extrair tal atribuição da leitura conjunta de dois dispositivos constitucionais:
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no
Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional,
exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.
Art. 96. Compete privativamente: II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais
Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado
o disposto no art. 169: (b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus
serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do
subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver.
Esta prerrogativa para instaurar o processo legislativo conferida ao Tribunal de Contas
(iniciativa reservada) visa preservar sua autonomia funcional, administrativa e financeira,
permitindo que a Corte de Contas escolha os interesses que serão juridicamente tutelados.
Mas, segundo entendimento do STF34, mesmo que a iniciativa seja reservada, são
admitidas emendas aditivas aos projetos de lei apresentados pelo Tribunal de Contas, desde
que: (i) seja guardada a pertinência temática (isto é, não são aceitáveis emendas que
34. Ver ADI 5442-DF (MC) e ADI 5443-SC (MC), relatadas pelo Min. Marco Aurélio. Segundo informa o site do STF, em ‘Notícias”: “17
de março de 2016. Liminar em ADI suspende alterações na Lei Orgânica do TCE-SC. O Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu
medida cautelar nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 5442 e 5453, para suspender alterações promovidas na Lei
Orgânica do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina. Segundo o entendimento da Corte, ficou configurado vício de
iniciativa no projeto de lei que promoveu as alterações, o qual deveria ter sido proposto pelo próprio Tribunal de Contas do
estado, e não pelo Poder Legislativo. As ações questionaram a Lei Complementar 666/2015 do Estado de Santa Catarina, que
alterou dispositivos da Lei Orgânica do Tribunal de Contas estadual. Segundo o entendimento adotado pelo relator das ADIs,
ministro Marco Aurélio, apesar de o projeto original ter sido iniciado pelo Tribunal de Contas, o texto foi amplamente alterado pela
Assembleia Legislativa por meio de uma “emenda substitutiva global”. Com isso, foram incluídos 19 artigos versando sobre objetos
distintos daquele veiculado no único artigo constante no projeto original. “Não se tratou de simples emenda, mas de inclusão de
supressão na Lei Orgânica do Tribunal de Contas do estado, de preceitos relacionados a questões estranhas à contida na proposição
inicial, e aí deixou-se de observar a iniciativa”, afirmou o relator. O voto foi acompanhado por unanimidade”. (Grifos nossos).
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desfigurem a proposição inicial ou que nela insiram matéria diversa) e (ii) não importem
aumento de despesa, ressalvado o disposto nos parágrafos 3º e 4º do art. 166, CF/88,
conforme preconiza o art. 63, CF/88.
E tem mais: como essa iniciativa para deflagrar o processo legislativo que tenha por
objeto alterar a a organização ou o funcionamento existe para todas as Cortes de Contas,
inclusive as estaduais (art. 75 da CF/88), será considerada inconstitucional a lei estadual
que, sendo de iniciativa parlamentar, trate da organização ou do funcionamento do TCE.
Aliás, ainda que tal tentativa de alteração da estrutura do TCE se dê por meio da
apresentação de proposta de emenda à Constituição do Estado de iniciativa parlamentar,
teremos que opinar pela inconstitucionalidade.
Dito de outra forma: não importa se o parlamentar estadual apresenta um projeto de
lei ou uma proposta de emenda à Constituição estadual para modificar a estrutura ou a
organização do TCE. Em ambos os casos teremos inconstitucionalidade, pois o TCE tem
iniciativa reservada para propor alterações normativas que tratem da sua organização ou
funcionamento.
Um último detalhe, que pode causar alguma perplexidade, mas precisa ser recordado:
enquanto os Deputados estaduais não podem apresentar nem projetos de lei, nem
propostas de emenda à Constituição Estadual promovendo alguma modificação na
estrutura/funcionamento do TCE (pois isso feriria a CF/88), os parlamentares federais só
não podem apresentar projetos de lei promovendo alguma modificação na
estrutura/funcionamento do TCU, sendo possível que eles apresentem proposta de
emenda à Constituição Federal com este fim.
Para este cenário ficar menos turvo, veja a organização posta abaixo:
(i) É possível que um projeto de lei, de iniciativa parlamentar, trate dos temas enunciados
no art. 96, II, da CF/88?
(a) Em âmbito federal (projeto de iniciativa de Deputados Federais ou Senadores), não.
(b) Em âmbito estadual (projeto de iniciativa de Deputados Estaduais), não.
(ii) É possível que uma proposta de emenda constitucional, de iniciativa parlamentar, trate
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dos temas enunciados no art. 96, II, da CF/88?
(a) Em âmbito federal (proposta de emenda à Constituição Federal de iniciativa de
Deputados Federais ou Senadores), sim.
(b) Em âmbito estadual (proposta de emenda à Constituição Estadual de iniciativa de
Deputados Estaduais), não.
10.7. Tribunais de Contas dos Estados-membros, Distrito Federal e Municípios
Um último comentário sobre as Cortes de Contas estaduais: já sabemos que nossa
Constituição Federal é enfática ao prever no art. 75 que as normas constitucionais
referentes ao modelo federal de organização do Tribunal de Contas da União são de
observância compulsória para as Constituições dos Estados-membros. Deste modo,
concluímos que não pode o documento constitucional estadual tratar da organização ou
funcionamento do TCE de forma distinta do modelo federal.
Foi por essa razão, portanto, que o STF, na ADI 5323/RN, em abril de 2019, declarou a
inconstitucionalidade da parte final do § 3° do art. 53 da CE do Estado do Rio Grande do
Norte. Veja o teor do dispositivo (o trecho desarmônico com a CF/88 está grifado):
§ 3º As decisões do Tribunal de Contas, de que resulte imputação de débito ou multa,
têm eficácia de título executivo, devendo a Fazenda Pública Estadual ou Municipal, no
âmbito de suas competências, encaminhá-las para execução, e com o reconhecimento
da boa-fé, a liquidação tempestiva do débito ou multa atualizado monetariamente
sanará o processo, se não houver sido observada outra irregularidade na apreciação das
contas. (grifo nosso).
A primeira parte do dispositivo estadual (“As decisões do Tribunal de Contas, de que
resulte imputação de débito ou multa, têm eficácia de título executivo, devendo a Fazenda
Pública Estadual ou Municipal, no âmbito de suas competências, encaminhá-las para
execução...”) é compatível com o art. 71, § 3º, da CF/88, que assim determina “As decisões
do Tribunal de Contas, de que resulte imputação de débito ou multa, têm eficácia de título
executivo”. Por isso, é constitucional.
Mas a segunda parte (que grifamos), é inconstitucional, pois não há previsão similar no
texto da CF/88. Em outras palavras: acaso haja na Constituição Estadual dispositivo que
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determine que se o TCE reconhecer a boa-fé do infrator e este efetivar a liquidação
tempestiva do débito ou da multa, a Corte deverá considerar que o processo está saneado,
teremos que reconhecer essa regra como sendo inconstitucional, justamente por não haver
determinação semelhante na Constituição Federal.
Cap. 13: (“Processo Legislativo”):
(A) Fase introdutória
(A.2) Iniciativa privativa do Presidente da República
(vi) Criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o
disposto no art. 84, VI (art. 61, § 1º, II, “e”, CF/88)
– também em razão dessa alínea ‘e’, o STF considerou inconstitucional artigo de lei
do Estado de Santa Catarina que impunha obrigação à uma entidade vinculada ao
Poder Executivo (DETRAN/SC, autarquia estadual), gerando custos. Isso porque a
iniciativa na apresentação dessa lei foi parlamentar, violando justamente o art. 61,
§ 1º, II, “e”, da CF/88. Em outras palavras, segundo o STF, é inconstitucional uma
lei estadual, que seja de iniciativa parlamentar e que imponha ao DETRAN a
obrigação de publicar, no diário oficial e na internet, a relação de cada um dos
veículos sinistrados, seus respectivos dados, com destinação para os que sofreram
desmonte e/ou comercialização das peças e partes. Afinal, essa lei trata de
“atribuições” de órgãos/entidades da administração pública, matéria que é de
iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo.
Cap. 14: (“Poder Executivo”):
4. O PODER EXECUTIVO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988
(v) Em edições passadas deste Manual, sugerimos ao leitor que continuasse acompanhando
o caso, afinal, em junho de 2017 o partido Rede Sustentabilidade havia ajuizado na Corte a
ADI 5709, relatada pela Min. Rosa Weber, levando ao Plenário da Corte a discussão acerca
de nomeações de Ministros de Estado com o suposto intuito de conferir ao ocupante do
cargo foro especial por prerrogativa de função. O argumento central do partido era o desvio
de finalidade de referida nomeação. Como em março de 2019 a referida ADI foi julgada, já
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sabemos que a tese monocrática de Celso de Mello saiu intacta do banho cáustico que é a
análise colegiada. Afinal, o colegiado confirmou que não havia desvio de finalidade, pois a
nomeação dos Ministros de Estado se situa no campo de decisão do Presidente da
República. O Ministro Barroso acrescentou que a escolha de Ministro de Estado é decisão
política discricionária do Presidente da República, insuscetível de exame no mérito.
Segundo ele, concluir que dar foro privilegiado é desvio de finalidade ou obstrução de
justiça é entender que a jurisdição do STF não funciona.
(3) Nos termos do art. 20, da Lei nº 13.844, de 18 de junho de 2019, são Ministros de Estado:
(i) os titulares dos Ministérios;
(ii) o Chefe da Casa Civil da Presidência da República;
(iii) o Chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República;
(iv) o Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República;
(iv) o Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
(vi) o Advogado-Geral da União, até que seja aprovada emenda constitucional para incluí-
lo no rol das alíneas “c” e “d” do inciso I do caput do art. 102 da Constituição; e
(vii) o Presidente do Banco Central do Brasil, até que seja aprovada a autonomia da
entidade.
13. RESPONSABILIDADE DOS GOVERNADORES E DOS PREFEITOS
(ii) Prefeitos
Vou encerrar essa parte da matéria, sobre o foro especial dos Prefeitos, comentando
uma interessante decisão da 1ª Turma do STF, de maio de 2019, no RE 1.185.838/SP. Ela
trata da possibilidade de o foro especial ser prorrogado em razão de a autoridade ocupar
novamente o cargo.
Na ocasião, a Corte avaliava a situação envolvendo o atual Prefeito de um Município X,
que estava em seu segundo mandato, não consecutivo, como Prefeito daquele Município.
O fato supostamente criminoso houvera sido praticado no 1° mandato dele, cumprido entre
os anos de 2009 e 2011. O foro era o TJ do Estado, já que havia relação com a função. Pois
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bem. Nas eleições de 2012 ele não foi reeleito, mas em 2016 venceu novamente o pleito e
se tornou, de novo, Prefeito do Município X.
O TJ, por entender que era competente, deu andamento ao processo, mesmo após o
término do 1° mandato, e o intervalo (sem ele ocupar o cargo de Prefeito) entre o 1°
mandato e o 2°. Portanto, durante o 2° mandato, o TJ sequenciou o processo, ao argumento
de que era o foro competente pois o sujeito era Prefeito e o fato foi cometido durante a
função (no 1° mandato).
O STF, no entanto, discordou de tal postura, explicitando que na AP 937 (julgada em
maio de 2018), a Corte definiu que o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos
crimes cometidos durante o exercício do cargo e que estejam relacionados às funções
desempenhadas na atualidade.
Assim, nossa Corte Suprema determinou que o processo deveria ter sido enviado à
primeira instância no momento em que ele deixou de ser Prefeito (quando terminou o 1°
mandato). Afinal, não houve reeleição, pois quando o primeiro mandato dele terminou,
outro Prefeito assumiu o cargo. Ainda segundo o STF, o fato de o Prefeito voltar ao cargo
em um mandato futuro não prorroga o foro. “Não há nada relacionado ao exercício do atual
mandato”, observou o Min. Alexandre de Moraes.
Em outras palavras, e para concluirmos o que ficou firmado pelo STF, temos que:
(i) Se um Prefeito comete um crime no exercício do 1° mandato e, antes de o processo se
encerrar, ele é reeleito para um segundo mandato (consecutivo e ininterrupto), o Tribunal
de Justiça continuará sendo competente para julgá-lo. Veja que o foro especial será
prorrogado, pois houve a reeleição (tivemos uma continuidade no exercício do cargo).
(ii) De outro lado, se o sujeito não se reeleger para o cargo de Prefeito e, quatro anos mais
tarde, for eleito novamente Prefeito do mesmo Município (para um segundo mandato não
consecutivo), a competência para julgar o crime cometido durante o exercício do 1°
mandato será da 1ª instância. A prorrogação do foro por prerrogativa de função não
acontece, pois não houve reeleição.
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Cap. 15: (“Poder Judiciário”):
3. PRINCÍPIOS DE OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA NO ESTATUTO DA MAGISTRATURA
Consoante dispõe o caput do art. 93, CF/88, uma lei complementar, de iniciativa do
Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura. Atualmente, enquanto
aguardamos o STF apresentar referido projeto (que é de sua iniciativa privativa), a
regulamentação da magistratura nacional é feita pela LC nº 35/1979 (comumente
conhecida por “LOMAN - Lei Orgânica da Magistratura Nacional”). Sobre essa LC, aliás, veja
o que já disse o STF: “Até o advento da lei complementar prevista no artigo 93, caput, da
Constituição de 1988, o Estatuto da Magistratura será disciplinado pelo texto da Lei
Complementar n. 35/79, que foi recebida pela Constituição” (STF, Pleno. ADI nº 1.985/PE.
Rel.: Min. Eros Grau).
A Constituição de 1988, contudo, trouxe, no art. 93, alguns princípios que são de
observância obrigatória para a magistratura. Vejamos quais são eles:
(a) Inciso I: Ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de Juiz substituto, mediante
concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil
em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade
jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação.
- Lembre-se que, conforme preceitua o art. 59, da Resolução nº 75/2009, do Conselho
Nacional de Justiça, considera-se atividade jurídica aquela exercida com exclusividade por
bacharel em direito: o efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, mediante a
participação anual mínima em cinco atos privativos de advogado em causas ou questões
distintas; o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério superior, que
exija a utilização preponderante de conhecimento jurídico, independentemente de serem
privativos de bacharel em direito; o exercício da função de conciliador junto a tribunais
judiciais, juizados especiais, varas especiais etc., no mínimo dezesseis horas mensais e
durante um ano; e o exercício da atividade de mediação ou de arbitragem na composição
dos litígios. Os três anos serão aferidos quando da inscrição definitiva no concurso.
Ademais, tal Resolução prevê cinco etapas para integrar a magistratura: uma prova objetiva
(eliminatória e classificatória); duas provas escritas (eliminatórias e classificatórias); uma
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terceira etapa de análise de vida pregressa, investigação social, sanidade física e mental e
exame psicotécnico; uma prova oral, que constitui a quarta etapa (caráter eliminatório e
classificatório); e uma quinta e última etapa de avaliação de títulos, de caráter meramente
classificatório.
(b) Inciso II: Promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e
merecimento, atendidas as seguintes normas:
- É obrigatória a promoção do Juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas
em lista de merecimento (alínea “a”);
- A promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e
integrar o Juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver
com tais requisitos quem aceite o lugar vago (alínea “b”);
- Aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de
produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento em
cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento (alínea “c”);
- Na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o Juiz mais antigo pelo
voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e
assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação (alínea “d”);
- Não será promovido o Juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do
prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão (alínea
“e”).
(c) Inciso III: O acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e
merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância.
- A ideia é que ascendam ao segundo grau jurisdicional, conforme a estrutura organizacional
judiciária, Juízes que desempenhem labor condizente com esta alçada, assim como
magistrados que estejam “com mais tempo de casa”, mesclando, assim, a composição dos
tribunais.
(d) Inciso IV: Previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e promoção de
magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a participação
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em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de
magistrados.
- O intuito deste inciso é o de manter o Poder Judiciário sempre atualizado, ciente das
inúmeras mudanças pelas quais passa o Direito. Busca-se, ademais, uma formação
humanística aliada à noção gerencial tão necessária para os tempos atuais, de sobrecarga
de processos e demais afazeres.
(e) Inciso V: O subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e
cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e
os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e
estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo
a diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento,
nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais
Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, §4º, todos da
Constituição.
- Nos termos do art. 37, XI, o subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal
funciona como parâmetro para a remuneração no âmbito da Administração Pública.
Também no Poder Judiciário esse parâmetro se opera para a remuneração de seus
membros.
(f) Inciso VI: A aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão
o disposto no art. 40.
- De acordo com o art. 40, caput, CF, aos servidores titulares de cargos efetivos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é
assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante
contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto no aludido
artigo.
(g) Inciso VII: O Juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização do tribunal.
- O que se almeja aqui, estimado leitor, é a vinculação/afetação do magistrado à área na
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qual exerça sua atividade profissional, para que compreenda melhor as necessidades dos
jurisdicionados ao seu redor. A EC nº 45/2004, que promoveu uma série a Reforma do Poder
Judiciário, trouxe exceção a esta regra: quando houver autorização do tribunal a que está
vinculado o Juiz.
(h) Inciso VIII: O ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo
tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.
- O inciso VIII, na redação anterior à EC nº 45/2004, exigia o quórum de dois terços dos
membros do respectivo tribunal e nada falava acerca do CNJ (por óbvio, pois tal órgão
somente foi criado pela EC 45, que efetivou a reforma do Poder Judiciário). Tal preceito
representa uma exceção à garantia da inamovibilidade, que se estudará a seguir.
(i) Inciso VIII-A: A remoção a pedido ou a permuta de magistrados de comarca de igual
entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas alíneas “a”, “b”, “c” e “e” do inciso II,
do art. 93.
(j) Inciso IX: Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença,
em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos
nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação.
- É essencial notar que não existem exceções para a necessidade de fundamentação das
decisões exaradas por membros do corpo judiciário (as exceções somente dizem respeito à
publicidade dos julgamentos). As decisões mencionadas no inciso são aquelas que se
revestem de algum caráter substancial, que contenham alguma carga decisória. Não entram
nessa obrigatoriedade de fundamentação os meros despachos que visam dar andamento a
processos ou resolver questões burocráticas internas.
- Lembremos, ademais, do parágrafo 1° do art. 489, do Código de Processo Civil, que traz
hipóteses em que não se considerará fundamentada a decisão judicial: “§1º. Não se
considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
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acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos
indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar
motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os
argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo
julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento”.
- Quanto à publicidade, eis uma forma que a sociedade e as demais instituições republicanas
possuem para controlar/fiscalizar o Poder Judiciário. Em alguns casos, entretanto, é
imperioso que a publicidade seja restringida, por risco a alguma das partes envolvida na
demanda, por circunstância de elevado clamor social que pede dose maior de parcimônia
do corpo judicante, ou para preservar a dignidade dos atores do processo. Qualquer coisa
que fuja ao contexto acima mencionado ensejará nulidade.
(k) Inciso X: As decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública,
sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros.
- Com o modelo inaugurado em 1988 (e aperfeiçoado em 2004, com a edição da EC 45),
clama-se por um Judiciário cristalino, ciente de sua participação na estrutura de freios e
contrapesos, típica da democracia.
(l) Inciso XI: Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser
constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros,
para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência
do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra metade por
eleição pelo tribunal pleno.
- Antes da emenda constitucional nº 45/2004, não havia previsão acerca da forma de
provimento de cargos do órgão especial. Com a reforma, ficou estabelecido que metade se
provê por antiguidade, metade por merecimento. Frisamos, ademais, que o texto
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constitucional é claro em determinar que o órgão especial somente pode ser constituído
em tribunais grandes, isto é, com número superior a vinte e cinco julgadores.
(m) Inciso XII: A atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos
juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente
forense normal, Juízes em plantão permanente.
- Consagra-se, aqui, o chamado “princípio da ininterruptibilidade da jurisdição”. Este
dispositivo foi incluído pela EC nº 45/2004, acabando com as férias coletivas do Poder
Judiciário.
- A Resolução nº 244/2016 do Conselho Nacional de Justiça ajuda a disciplinar o recesso
forense (de vinte de dezembro a seis de janeiro), contudo. Os Tribunais de Justiça poderão
suspender o expediente forense neste período. Entretanto, casos urgentes (novos ou em
curso) devem ser atendidos, através do sistema de plantões.
- Ademais, em atenção ao art. 220 do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), nos
dias compreendidos entre vinte de dezembro e vinte de janeiro, será suspensa a contagem
dos prazos processuais em todos os órgãos do Poder Judiciário, período no qual não serão
realizadas audiências e sessões de julgamento (entre sete e vinte de janeiro, contudo, o
experiente forense será executado normalmente).
(n) Inciso XIII: O número de Juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva
demanda judicial e à respectiva população.
- Trata-se de dispositivo incluído pela EC nº 45/2004. O objetivo da previsão constitucional
é vincular o administrador público nas esferas em que o Poder Judiciário opera (federal,
distrital e estaduais) a prover cargos e servidores tantos quantos forem necessários para
que o sistema de justiça opere com mais celeridade.
(o) Inciso XIV: Os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração
e atos de mero expediente sem caráter decisório.
- Trata-se de dispositivo incluído pela EC nº 45/2004. Atos de mera movimentação
processual podem ser praticados por servidores, enquanto os atos de caráter decisório
devem ser praticados por magistrados.
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(p) Inciso XV: A distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição.
- Trata-se de dispositivo incluído pela EC nº 45/2004. A distribuição de processos é medida
que visa vincular internamente o Poder Judiciário onde houver mais de uma autoridade
constitucionalmente competente para apreciar a questão. Em casos tais, não é o Juiz quem
escolhe o processo, mas o processo que escolhe o Juiz (já que ele é distribuído
aleatoriamente).
5.3.2. Garantias de imparcialidade dos órgãos judiciários
(v) e exercer a advocacia no juízo ou Tribunal do qual se afastou, antes de decorridos
três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração, a chamada
quarentena de saída – hipótese acrescentada pela EC nº 45/2004 (art. 95, parágrafo único,
V, CF/88). Segundo Gilmar Mendes “tem-se aqui a aplicação da chamada “quarentena” no
âmbito do Poder Judiciário, com o objetivo de evitar situações geradoras de um estado de
suspeição quanto ao bom funcionamento do Judiciário”.35
Sobre este item a doutrina diverge sobre o alcance da expressão “juízo”. Enquanto
alguns36 opinam que disposições normativas proibitivas, em geral, devem ser interpretadas
restritivamente, de forma que o juiz só esteja impedido de atuar na vara (no juízo) de onde
se afastou, outros37 entendem que a disposição constitucional somente faz sentido se o
impedimento o afastar da advocacia na comarca da qual ele se aposentou ou exonerou-se.
Em sua obra, Alexandre de Moraes assim se manifestava:
Ora, se a finalidade da inovação constitucional foi impedir eventual tráfico de influência
ou exploração de prestígio, fortalecendo as normas de moralidade administrativa, a
expressão “no juízo do qual se afastou” deve ser interpretada, em relação aos juízes de 1º
grau aposentados ou exonerados, como “na Comarca da qual se afastou”, pois seria de
absoluta inutilidade proibir-se, por exemplo, o juiz aposentado da 3º Vara Cível da
Comarca de São Paulo de advogar somente nessa Vara, permitindo-lhe a advocacia em
35. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2009, p. 1.073.
36. BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Sinopses para Concursos: v. 17 – Direito Constitucional – Tomo
II. 1ª ed. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 548.
37. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 4ª ed. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 932; MORAES, Alexandre
de. Direito Constitucional. 26ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 515.
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todas as outras Varas da Comarca da Capital do Estado de São Paulo.38
Eis que o STF, em outubro de 2019, no julgamento da ADPF 310, decidiu, por
unanimidade, que é inconstitucional a ementa 18/2013 do Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil, que estendeu o impedimento para o exercício da advocacia a todo o
âmbito territorial alcançado pelas instâncias judiciais de que os magistrados tenham se
afastado e, ainda, a todos os integrantes de sociedades de advogados que possuam ou
venham a admitir magistrados aposentados em seu quadro profissional durante o período
de quarentena.
No caso, o STF se alinhou com a argumentação apresentada pela Procuradoria da
República, no sentido de que o art. 95, V da CF/88 se trata de uma norma que impõe, em
caráter personalíssimo, restrição ao livre exercício profissional (art. 5º, XIII), de modo que
ela deva, necessariamente, ser interpretada de forma estrita, pois, segundo regra geral de
hermenêutica, normas jurídicas limitadoras de direitos – ainda que de ordem constitucional
– devem interpretar-se restritivamente.
Assim, entendeu a nossa Corte Suprema que a proibição de advogar inscrita no art. 95,
V da CF/88 limita-se ao juízo ou tribunal do qual o magistrado se afastou, antes de
decorridos 3 anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. Se o
magistrado se afastou, por aposentadoria, compulsória ou voluntária, ou exoneração, do
juízo que ocupava, sem haver ascendido ao tribunal, a proibição de advogar por um triênio
só alcança o juízo; não o tribunal. Se, no entanto, o juiz ocupava um tribunal e dele se
afastou, o impedimento refere-se apenas a esta Corte, e não ao juízo do qual ascendeu a
ela. A proibição de advogar é uma restrição, mas a norma constitucional a limita ao juízo de
onde saiu o magistrado.
38. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 26ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 515.
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6. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
6.4. Controle judicial da atuação do CNJ
(iii) Ademais, em interpretação restritiva de suas competências, o STF consolidou o
entendimento de que sua competência para julgar ações que questionam atos do Conselho
Nacional de Justiça se limita às ações tipicamente constitucionais39: mandados de
segurança, mandados de injunção, habeas corpus e habeas data. Ressalte-se, inclusive, que
a Corte já determinou sua incompetência para processar ação civil pública40 e ação
popular41 contra referido Conselho.
(iv) Em março de 2019, no julgamento de dois Mandados de Segurança (35540/DF e
35521/DF), o STF confirmou que não é seu papel fazer a revisão do mérito das decisões do
CNJ. Deste modo, atos e procedimentos do CNJ estão sujeitos apenas ao controle de
legalidade por parte da Corte Suprema.
9. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (ARTS. 101 A 103, CF/88)
9.3.2. Inciso I – Competências originárias
(i) Em maio de 2018, no julgamento da AP (QP) 937, o STF promoveu uma virada
paradigmática na qual restringiu o alcance do foro por prerrogativa de função conferido
aos parlamentares federais. Nesta ocasião, restou estabelecida a seguinte tese: “O foro por
prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo
e relacionados às funções desempenhadas”.
O intuito da restrição foi o de assegurar que a prerrogativa de foro servisse ao seu papel
constitucional, que é o de garantir o livre exercício das funções, e não ao fim ilegítimo de
assegurar impunidade. Para tanto, disse o relator da ação penal, Min. Barroso, era
indispensável que sua aplicação passasse a depender da comprovação da relação de
causalidade entre o crime imputado e o exercício do cargo.
Assim, por meio da interpretação restritiva, o art. 102, I, ‘b’, deixou de abranger os
39. Nesse sentido: STF, AO 1.814-QO/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe de 03/12/2014; AO 1.706-AgR, Rel. Min. Celso
de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 18/02/2014; AO 1.692 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, DJE de 17-6-2015.
40. AgRg Pet. 3.986-TO, STF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski.
41. Pet. 3.674-DF/QO, STF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence.
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crimes cometidos antes da investidura no cargo e os que, cometidos após a investidura,
sejam estranhos ao exercício das funções. Nestes casos, o processamento do parlamentar
federal se dará na 1ª instância.
Alínea (c) Processar e julgar, originariamente, os Ministros de Estados e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, nas infrações penais comuns e nos
crimes de responsabilidade, exceto quando os crimes de responsabilidade por eles
(Ministros e Comandantes) praticados forem conexos com o do Presidente da República,
hipótese em que deverá ser observada a regra do art. 52, I e parágrafo único, CF/88, isto é,
a competência para o julgamento será do Senado Federal. Originariamente, a Corte
também julga os membros dos Tribunais Superiores, os Chefes de missão diplomática de
caráter permanente e os membros do Tribunal de Contas da União, por infrações penais
comuns e nos crimes de responsabilidade.
Um detalhe importante: em 12 de junho de 2018, no INQ 4703 (QO), a 1ª Turma do
STF, por 4x1, entendeu que os Ministros de Estado não têm direito a foro por prerrogativa
de função na Corte Suprema quando respondem a supostos crimes cometidos antes de
assumirem a função ou praticados durante o mandato mas sem relação com o cargo. Vale
destacar que a Turma estendeu para os Ministros de Estado o entendimento que o
Plenário da Corte fixou em maio de 2018, na questão de ordem da Ação Penal 937, na
qual foi fixada a seguinte tese: “O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos
crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas”.
(iv) Em março de 2019, no julgamento de dois Mandados de Segurança (35540/DF e
35521/DF), o STF confirmou que não é seu papel fazer a revisão do mérito das decisões do
CNJ. Deste modo, atos e procedimentos do CNJ estão sujeitos apenas ao controle de
legalidade por parte da Corte Suprema.
12. TRIBUNAIS E JUÍZES ELEITORAIS (ARTS. 118 A 121, CF/88)
Sobre as competências da Justiça Eleitoral, é sabido que o art. 121 determina que “Lei
complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de
direito e das juntas eleitorais”. Já que referida lei complementar não foi ainda editada, o
STF firmou entendimento no sentido de que os dispositivos do Código Eleitoral que tratam
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sobre a organização e competência da Justiça Eleitoral foram recepcionados com força de
lei complementar.
Nesse contexto, o STF proferiu uma interessante decisão, em março de 2019 (Inq 4435
AgR-quarto/DF), afirmando que se houver conexão entre crime de competência da Justiça
comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela
Justiça Eleitoral. Os fundamentos para tal conclusão podem ser extraídos do Código
Eleitoral (art. 35, II) e do CPP (art. 78, IV):
Art. 35. Compete aos juízes42:
II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada
a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais;
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas
as seguintes regras:
(...)
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.
Assim, se houver a presença de crime eleitoral em conexão com outros delitos (de
competência da Justiça Estadual ou Federal), a Justiça Eleitoral atrairá a competência para
si.
Cap. 16: (“Funções Essenciais à Justiça”):
2.10. Funções Institucionais do Ministério Público
Antes de encerrarmos esse tópico, vale lembrar que o Supremo Tribunal Federal tem
reconhecido a legitimidade do Ministério Público para as ações que visam a tutela dos
direitos individuais homogêneos disponíveis, desde que haja tenha reflexos em interesses
sociais relevantes. Colaciona-se, por oportuno, algumas ementas que confirmam essa
possibilidade:
Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA. DIREITOS
TRANSINDIVIDUAIS (DIFUSOS E COLETIVOS) E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
DISTINÇÕES. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ARTS. 127 E 129, III, DA CF. LESÃO
42. Isto é: juízes eleitorais.
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A DIREITOS INDIVIDUAIS DE DIMENSÃO AMPLIADA. COMPROMETIMENTO DE
INTERESSES SOCIAIS QUALIFICADOS. SEGURO DPVAT. AFIRMAÇÃO DA LEGITIMIDADE
ATIVA. 1. Os direitos difusos e coletivos são transindividuais, indivisíveis e sem titular
determinado, sendo, por isso mesmo, tutelados em juízo invariavelmente em regime de
substituição processual, por iniciativa dos órgãos e entidades indicados pelo sistema
normativo, entre os quais o Ministério Público, que tem, nessa legitimação ativa, uma de
suas relevantes funções institucionais (CF art. 129, III). 2. Já os direitos individuais
homogêneos pertencem à categoria dos direitos subjetivos, são divisíveis, tem titular
determinado ou determinável e em geral são de natureza disponível. Sua tutela
jurisdicional pode se dar (a) por iniciativa do próprio titular, em regime processual
comum, ou (b) pelo procedimento especial da ação civil coletiva, em regime de
substituição processual, por iniciativa de qualquer dos órgãos ou entidades para tanto
legitimados pelo sistema normativo. 3. Segundo o procedimento estabelecido nos
artigos 91 a 100 da Lei 8.078/90, aplicável subsidiariamente aos direitos individuais
homogêneos de um modo geral, a tutela coletiva desses direitos se dá em duas distintas
fases: uma, a da ação coletiva propriamente dita, destinada a obter sentença genérica a
respeito dos elementos que compõem o núcleo de homogeneidade dos direitos
tutelados (an debeatur, quid debeatur e quis debeat); e outra, caso procedente o pedido
na primeira fase, a da ação de cumprimento da sentença genérica, destinada (a) a
complementar a atividade cognitiva mediante juízo específico sobre as situações
individuais de cada um dos lesados (= a margem de heterogeneidade dos direitos
homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum debeatur), bem como (b) a
efetivar os correspondentes atos executórios. 4. O art. 127 da Constituição Federal
atribui ao Ministério Público, entre outras, a incumbência de defender “interesses
sociais”. Não se pode estabelecer sinonímia entre interesses sociais e interesses de
entidades públicas, já que em relação a estes há vedação expressa de patrocínio pelos
agentes ministeriais (CF, art. 129, IX). Também não se pode estabelecer sinonímia entre
interesse social e interesse coletivo de particulares, ainda que decorrentes de lesão
coletiva de direitos homogêneos. Direitos individuais disponíveis, ainda que
homogêneos, estão, em princípio, excluídos do âmbito da tutela pelo Ministério Público
(CF, art. 127). 5. No entanto, há certos interesses individuais que, quando visualizados
em seu conjunto, em forma coletiva e impessoal, têm a força de transcender a esfera de
interesses puramente particulares, passando a representar, mais que a soma de
interesses dos respectivos titulares, verdadeiros interesses da comunidade. Nessa
perspectiva, a lesão desses interesses individuais acaba não apenas atingindo a esfera
jurídica dos titulares do direito individualmente considerados, mas também
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comprometendo bens, institutos ou valores jurídicos superiores, cuja preservação é cara
a uma comunidade maior de pessoas. Em casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos
se reveste de interesse social qualificado, o que legitima a propositura da ação pelo
Ministério Público com base no art. 127 da Constituição Federal. Mesmo nessa hipótese,
todavia, a legitimação ativa do Ministério Público se limita à ação civil coletiva destinada
a obter sentença genérica sobre o núcleo de homogeneidade dos direitos individuais
homogêneos. 6. Cumpre ao Ministério Público, no exercício de suas funções
institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos individuais homogêneos
compromete também interesses sociais qualificados, sem prejuízo do posterior controle
jurisdicional a respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito, a palavra final sobre a adequada
legitimação para a causa, sendo que, por se tratar de matéria de ordem pública, dela
pode o juiz conhecer até mesmo de ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e §
4.º). 7. Considerada a natureza e a finalidade do seguro obrigatório DPVAT – Danos
Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Lei 6.194/74, alterada
pela Lei 8.441/92, Lei 11.482/07 e Lei 11.945/09) -, há interesse social qualificado na
tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos dos seus titulares, alegadamente
lesados de forma semelhante pela Seguradora no pagamento das correspondentes
indenizações. A hipótese guarda semelhança com outros direitos individuais
homogêneos em relação aos quais - e não obstante sua natureza de direitos divisíveis,
disponíveis e com titular determinado ou determinável -, o Supremo Tribunal Federal
considerou que sua tutela se revestia de interesse social qualificado, autorizando, por
isso mesmo, a iniciativa do Ministério Público de, com base no art. 127 da Constituição,
defendê-los em juízo mediante ação coletiva (RE 163.231/SP, AI 637.853 AgR/SP, AI
606.235 AgR/DF, RE 475.010 AgR/RS, RE 328.910 AgR/SP e RE 514.023 AgR/RJ). 8.
Recurso extraordinário a que se dá provimento (RE 631111, Relator(a): Min. Teori
ZavasckI, Tribunal Pleno, julgado em 07/08/2014).
Ementa: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DISPONÍVEIS.
LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PRECEDENTES. 1. O Ministério Público
possui legitimidade para propor ação civil coletiva em defesa de interesses individuais
homogêneos de relevante caráter social, ainda que o objeto da demanda seja referente
a direitos disponíveis (RE 500.879-AgR, rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe de
26-05-2011; RE 472.489-AgR, rel. Min. Celso De Mello, Segunda Turma, DJe de 29-08-
2008). 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE 401482 AgR, Relator(a): Min.
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Teori Zavascki, 2ª Turma, julgado em 04/06/2013).
Insta, ainda, destacar que o Superior Tribunal de Justiça, nas hipóteses em que não há
o relevante interesse social, não tem reconhecido legitimidade para o Ministério Público,
tendo afirmado a inadequação da sua atuação no caso. Nesse sentido, veja a ementa a
seguir transcrita:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
DEFESA DE INTERESSE INDIVIDUAL DISPONÍVEL. ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. 1. Por se tratar de interesse individual disponível e não caracterizada a relação
como consumerista, carece o Ministério Público de legitimidade para ajuizar ação civil
pública com o intuito de assegurar a aplicação do regime estatutário a inativos e
pensionistas originários do regime celetista. Precedentes. 2. Agravo regimental a que se
nega provimento. (AgRg no REsp 739.742/PB, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 06/02/2014, DJe 27/02/2014).
Nesse contexto, cumpre informar que o Ministério Público possui legitimidade
constitucional para ajuizar ação civil pública cujo objeto seja pretensão relacionada ao
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) porque esta demanda tutela direitos
individuais homogêneos, mas que apresenta relevante interesse social.
Quanto ao parágrafo único do art. 1º da Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP)43, que veda o
manejo da ACP para questões que envolvam FGTS, ele não constitui obstáculo para que o
MP apresente ACP discutindo FGTS em um contexto mais amplo, envolvendo interesses
sociais qualificados (mesmo que sua natureza seja de direitos individuais homogêneos). Isso
porque se o Ministério Público está propondo a ACP tratando sobre direitos individuais
homogêneos com relevante interesse social, a legitimidade do Parquet, neste cenário,
decorre diretamente do art. 127 da CF/88.
3.4. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal
Sobre as competências da Procuradoria Geral do Estado, é bom lembrar que essa
matéria é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo (Governador do Estado, nos
43. Art. 1º (...) Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários
podem ser individualmente determinados.
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termos do art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88, aplicado por simetria). Desta forma, é
inconstitucional emenda à Constituição Estadual, de iniciativa parlamentar, que trate do
assunto. Isso restou firmado pelo STF na ADI 5262 MC/RR, julgada em 27 e 28/3/2019 (Info
935)44.
Ainda no âmbito da jurisprudência constitucional, na percepção do STF ofende a Carta
Maior dispositivo de Constituição Estadual que confere prerrogativa de foro a Procuradores
do Estado e a Procuradores da Assembleia Legislativa. Segundo o STF determinou, no
julgamento da ADI 2553/MA45, em maio de 2019, a prerrogativa de foro é uma
excepcionalidade e a Constituição Federal já excepcionou, também nos estados, as
autoridades dos três Poderes com direito a essa prerrogativa. Por isso, é de se concluir que
a Constituição Federal não permitiu aos Estados estabelecer, livremente ou por simetria
com a União, prerrogativas de foro.
Por último, insta destacar que para a esfera municipal não há qualquer determinação
de estruturação de carreiras próprias de Procurador nos Municípios46, mas nada impede
que referidas entidades federadas criem cargos com essa finalidade. No entanto, cumpre
informar que tramita no Congresso Nacional uma PEC cujo intuito é o de
alterar a redação do art. 132 da Constituição Federal para estender aos Municípios a
obrigatoriedade de organizar carreira de procurador (para fins de representação judicial e
assessoria jurídica), com ingresso por concurso público, com a participação da OAB em
todas as suas fases, garantida a estabilidade dos procuradores após 3 anos de efetivo
exercício, mediante avaliação de desempenho. (PEC 17/2012).
44. Cuidado com um detalhe importante, que vimos no Cap. 13, sobre o Processo Legislativo: esse entendimento, de que emenda à
Constituição estadual que seja de iniciativa parlamentar não pode tratar dos temas descritos no art. 61, § 1° (que são de iniciativa
reservada para o chefe do Poder Executivo), não se aplica em âmbito federal, uma vez que não existe iniciativa privativa para a propositura
de emendas à Constituição Federal. Em outras palavras: é perfeitamente possível que uma emenda à Constituição Federal proposta por
parlamentares trate de matéria de iniciativa privativa do Presidente (isto é, descrita no art. 61, § 1º da CF/88). A proibição, portanto, só
vigora na esfera estadual.
45. Não custa lembrar que nessa mesma ADI que o STF reafirmou que também não há foro especial para defensores públicos e
delegados de polícia.
46. Ver RE 893.694, STF, julgado em outubro de 2016. Segundo o relator, Ministro Celso de Melo: “Cumpre destacar, por oportuno,
quanto ao tema da obrigatoriedade de os municípios instituírem órgãos de advocacia pública, ante a inquestionável procedência
de suas observações, a decisão proferida pelo eminente Ministro RICARDO LEWANDOWSKI (RE 690.765/MG), no sentido de que
‘não há na Constituição Federal previsão que os obrigue a essa instituição’” (grifo nosso).
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Aguardemos se tal proposição será, um dia, aprovada.
Uma coisa é certa: que em respeito ao pacto federativo, que assegura independência
administrativa aos entes da federação, os Municípios não podem ser obrigados pelas
Constituições estaduais a criar procuradorias ou organizá-las. Foi o que afirmou o STF em
outubro de 2019, no RE 1.156.016: “Não cabe à Carta Estadual restringir o poder de auto-
organização dos municípios de modo a agravar os parâmetros limitadores previstos na Lei
Maior”.
5.3. Arquitetura e organização da Defensoria Pública
Detalhe importante: os defensores públicos não são possuidores de foro especial por
prerrogativa de função. Em maio de 2019, no julgamento da ADI 2556/MA, o STF confirmou
esse entendimento, ao proferir decisão na qual considerou inconstitucional dispositivo da
Constituição Estadual que conferia foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça,
para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de
Polícia. A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as
autoridades federais, estaduais e municipais. Segundo o STF, não se pode permitir que os
Estados criem, livremente, novas hipóteses de foro por prerrogativa de função47.
Por fim, e para destacar a acentuada importância que a instituição possui, lembremos
que vem ganhando proeminência um entendimento gerado na própria Defensoria Pública,
segundo o qual a Instituição deveria atuar processualmente como “custos vulnerabilis”, o
que significa que ela poderia intervir em todo e qualquer processo em que estejam em
debate interesses de vulneráveis, havendo ou não advogado particular constituído. Nesses
casos, não estaria a Defensoria Pública atuando como representante da parte em juízo, mas
sim como entidade protetora dos interesses dos necessitados em geral.
Dois dispositivos legais dão suporte teórico/normativo para esse entendimento: o art.
81-A da Lei de Execução Penal (7.210/1984) e o art. 554, § 1° do CPC. Em ambos (que são
47. Repare, estimado leitor, que o STF passou a adotar uma compreensão contemporânea mais restritiva da prerrogativa de foro. Isso
se deu a partir do julgamento da questão de ordem na Ação Penal 937 (maio de 2018), no qual a Corte restringiu o foro de
Deputados Federais e Senadores – com o entendimento de que a prerrogativa de serem processados e julgados pelo STF se aplica
apenas a crimes cometidos no exercício do cargo e em razão das funções a ele relacionadas.
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meros exemplos e, por isso, não esgotam a participação da entidade nessa nova condição),
há previsão de intervenção da Defensoria Pública na condição de “custos vulnerabilis”.
Senão vejamos:
Art. 81-A. A Defensoria Pública velará pela regular execução da pena e da medida de
segurança, oficiando, no processo executivo e nos incidentes da execução, para a defesa
dos necessitados em todos os graus e instâncias, de forma individual e coletiva. (Incluído
pela Lei nº 12.313/2010).
Art. 554. (...) § 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande
número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados
no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do
Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da
Defensoria Pública.
Vale frisar que já temos decisão reconhecendo essa original atuação da Instituição. O
STJ, em setembro de 2019, admitiu a participação da Defensoria na condição de “custos
vulnerabilis” em hipótese na qual havia formação de precedentes em favor dos vulneráveis
e dos direitos humanos (STJ. 2ª Seção. EDcl no REsp 1.712.163-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro,
julgado em 25/09/2019).
Cap. 17: (“Controle de Constitucionalidade”):
6.3. Ação direta de inconstitucionalidade
(B) Objeto
(i) Atos que podem ser impugnados por ADI:
(2) leis complementares e leis ordinárias;
– Segundo o STF, o fato de uma lei possuir destinatários determináveis não lhe retira
o caráter abstrato e geral, o que significa que ela pode ser impugnada por meio de
ADI48.
(11) leis e outros atos normativos revogados.
Quanto a este último item (11), cumpre informar que tradicionalmente o Supremo
48. STF. 1ª Turma. RE 1186465 AgR/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 8/10/2019 (Info 955).
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Tribunal entendia que se a ação fosse proposta contra norma já revogada, ela não deveria
ser conhecida, por ausência de objeto; e se a revogação se desse no curso da ação, esta
ficaria prejudicada por perda superveniente do seu objeto.
Recentemente, no entanto, a Corte alterou esse entendimento, determinando algumas
exceções que merecem destaque:
(a) Primeiramente, a Corte definiu que revogações sucessivas dos atos normativos atacados
na ação indicavam fraude processual e afastavam, portanto, a hipótese de perda do objeto.
Tal fraude poderia ser assim exemplificada:
- imagine que a lei X esteja sendo impugnada no STF;
- no intuito de impedir que a Corte analise tal norma, é editada uma lei Z revogadora da lei
X;
- no entanto, a lei Z revogadora tem idêntico (ou muito semelhante) teor da lei X revogada,
que é o objeto da ação direta.
- Isso indica que a revogação foi ardilosa, com o intuito de impedir que o STF avalie a
constitucionalidade da lei X que estava sendo impugnada via ADI.
- Neste caso, a petição inicial da ADI será aditada, para adequar o objeto (que não será mais
a Lei X, mas sim a Lei Z). veja o que diz o STF:
ADI 3.306 DF, Rel. Min. Gilmar Mendes: Configurada a fraude processual com a revogação
dos atos normativos impugnados na ação direta, o curso procedimental e o julgamento
final da ação não ficam prejudicados.
Assim, quando a revogação do ato impugnado no curso do feito indicar fraude
processual, o julgamento não deverá ser interrompido, pois a jurisdição da Corte não
poderá ser subtraída49. Conforme se manifestou o STF:
Sucessivas leis distritais que tentaram revogar os atos normativos impugnados. (...)
Quadro fático que sugere a intenção de burlar a jurisdição constitucional da Corte.
Configurada a fraude processual com a revogação dos atos normativos impugnados na
49. ADI 3.232-TO, relatada pelo Min. Cezar Peluso e noticiada no Informativo 515, STF.
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ação direta, o curso procedimental e o julgamento final da ação não ficam prejudicados.50
(b) A segunda hipótese refere-se à possibilidade de a ação direta seguir quando ela tiver
como objeto uma lei temporária, em razão de a impugnação ter se dado em tempo
adequado e sua inclusão em pauta ter ocorrido antes do exaurimento da eficácia da lei.
Ademais, some-se a esses dois requisitos um terceiro: a necessidade de existência de uma
possibilidade factível de existirem efeitos que se projetam para o futuro. Segundo entendeu
a Corte51,
1. Singularidades do caso afastam, excepcionalmente, a aplicação da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal sobre a prejudicialidade da ação, visto que houve impugnação
em tempo adequado e a sua inclusão em pauta antes do exaurimento da eficácia da lei
temporária impugnada, existindo a possibilidade de haver efeitos em curso (art. 7º da Lei
nº 14.506/2009).
(c) Uma terceira hipótese a ser relembrada, é fruto do julgamento da ADI 2418/DF
(noticiada no Informativo 824, STF). Segundo o STF, também não será determinada a perda
do objeto da ADI se restar demonstrado que o conteúdo da norma impugnada foi repetido,
em sua essência, pelo diploma normativo revogador. Nesta hipótese, a revogação não foi
fraudulenta (não visou burlar a jurisdição da Corte), mas como não ocasionou mudança
significativa no conteúdo do diploma anterior, não há qualquer obstáculo para o
conhecimento da ação (ADI 2418/DF). No caso em análise, um dos dispositivos impugnados
pelo requerente na ADI 2418 – o parágrafo único do art. 741 do CPC/73 – havia sido
revogado pelo Código de Processo Civil de 2015 (Lei nº 13.105/2015). A matéria nele
disciplinada recebeu tratamento normativo muito semelhante, embora não igual, nos §§ 5º
a 8º do art. 535 e nos §§ 12 a 15, do art. 525 do novo CPC. Segundo informou o STF,
Apesar das alterações, não se configurou, no ponto, hipótese de prejuízo por perda de
objeto. Isso porque as previsões do CPC/15 cuidaram apenas de ‘adjetivar’ o instituto de
inexigibilidade por atentado às decisões deste Supremo Tribunal Federal, mas não lhe
comprometeram naquilo que ele tem de mais substancial, que é a capacidade de interferir
na coercitividade de títulos judiciais. Ora, e é exatamente este o aspecto que é objeto de
impugnação pelo requerente, para quem o instituto frustra a garantia constitucional da
50. ADI 3306-DF, relatada pelo Min. Gilmar Mendes.
51. ADI 4.426-CE, relatada pelo Min. Dias Toffoli.
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coisa julgada. Portanto, não havendo desatualização significativa no conteúdo do
instituto, entendo que não há obstáculo para o conhecimento da ação, conclusão que
não é estranha à jurisprudência deste Plenário (ver, por todas, a ADI 2501, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, DJe de 19/12/08).
Na ADI 250152, citada pelo Min. Teoria em seu voto, o STF entendeu que a modificação
do objeto da ação (o artigo 82 do ADCT da Constituição mineira, alterado pela Emenda
Constitucional Estadual 70/2005) não gerou alteração substancial da norma, por isso, a ação
não foi considerada prejudicada.
(d) Uma quarta situação, é a seguinte: o STF determinou que não haverá a perda do objeto
se for proposta uma ação direta contra medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a
MP for convertida em lei sem alteração do texto impugnado.
ADI 1055-DF, Rel. Min. Gilmar Mendes: O Plenário julgou procedente pedido formulado
em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 8.866/1994, resultante da
conversão da Medida Provisória 427/1994, reeditada pela Medida Provisória 449/1994.
A lei impugnada trata do depositário infiel de valor pertencente à Fazenda Pública.
De início, o Colegiado assinalou que, ainda que a ação tenha sido ajuizada,
originalmente, em face de medida provisória, não cabe falar em prejudicialidade do pedido.
Não há a convalidação de eventuais vícios existentes, razão pela qual permanece a
possibilidade do exercício do juízo de constitucionalidade. Na espécie, há continuidade
normativa entre o ato legislativo provisório e a lei que resulta de sua conversão.
Ademais, a medida provisória atacada foi posteriormente convertida em lei, ou seja,
recebeu a chancela do Poder Legislativo, titular do poder legiferante por excelência. Assim,
o reconhecimento da existência de inconstitucionalidade formal poderia ser interpretado
como ataque ao princípio da separação dos Poderes.
(e) Uma quinta questão envolvendo a revogação merece ser comentada. Em março de
2019, no julgamento conjunto de algumas ações diretas53, nossa Corte Suprema decidiu que
se for editada uma medida provisória com o intuito de revogar uma lei que está sendo
52. Julgada em 2008, comprovando que o entendimento da Corte nesse sentido é antigo. 53. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF.
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questionada em uma ADI, a ação direta poderá ser julgada enquanto a MP não for votada
(afinal, enquanto a MP não for votada, não haverá efetiva revogação, logo, não haverá
perda do objeto).
Em outras palavras:
- Imagine que tenha sido ajuizada uma ADI contra a lei X;
- Posteriormente, foi editada uma MP que pretende revogar essa lei X (afinal, a MP,
enquanto não é convertida em lei, não é capaz de revogar efetivamente uma lei; ela só
consegue, de início, suspender a norma);
- Assim, enquanto esta medida provisória não for aprovada, será possível julgar esta ADI
(porque a lei X segue em vigor).
- Portanto, se no dia do julgamento da ação direta a MP ainda não tiver sido votada, o STF
poderá apreciar livremente a ação, pois não terá havido perda do interesse de agir (perda
do objeto).
- Por outro lado, se no dia do julgamento, a MP houver sido convertida em lei, ela terá
revogado a lei X anterior, de forma que não haverá norma para o STF apreciar (a revogação
da lei X terá se efetivado e a ADI terá perdido seu objeto).
6.3.4. Procedimento
(iv) Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos
prazos em dobro54. Assim, não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de
constitucionalidade a norma que concede prazo em dobro à Fazenda Pública55.
(v) A Suprema Corte tem poderes para instruir plenamente a ação direta, o que a autoriza
a requisitar informações adicionais, designar peritos, ouvir pessoas ou até mesmo fixar data
para a realização de audiências públicas.
54. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC, Rel. para acórdão Min. Cármen Lúcia. Julgamento de
ambos em 06/02/2019 (Info 929).
55. Art. 183, CPC. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público
gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
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(vi) Por fim, segundo estudo feito pelo site Jota56, o STF demora, em média, sete anos para
decidir uma ação no controle concentrado de constitucionalidade. Isso deriva do fato de a
legislação pátria não ter estabelecido prazos para a Corte decidir as ações de
inconstitucionalidade. Em outros ordenamentos, tais prazos existem e são curtos (30 dias
na Áustria; 40 dias no Peru; 60 dias em Portugal; 130 dias na Colômbia).
6.6. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
6.6.4. Princípio da subsidiariedade: definição, a aplicação da fungibilidade e a definição
do objeto
(iii) nas controvérsias sobre direito pós-constitucional já revogado ou cujos efeitos já se
exauriram.
- Detalhe importante sobre este último item: em maio de 2019, na ADPF 449, o STF
confirmou a possibilidade de a arguição ter por objeto norma já revogada, desde que
persista a utilidade da prestação jurisdicional com o intuito de estabelecer, com caráter
erga omnes e vinculante, o regime aplicável às relações jurídicas estabelecidas durante a
vigência da norma impugnada. Segundo nossa Corte Suprema, essa é a solução mais
consentânea com o princípio da eficiência processual e o imperativo aproveitamento dos
atos já praticados de maneira socialmente proveitosa.
Cap. 18: (“Controle Concentrado de Constitucionalidade nos Estados”):
4.2. Constituição Estadual como parâmetro
Um outro detalhe relevante sobre esse RE que será interposto no STF refere-se à
questão do prazo em dobro previsto para a Fazenda Pública (União, Estados, Distrito
Federal, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público) no artigo
183 do CPC de 2015. Segundo o STF, em processo objetivo, não se contam em dobro os
prazos da Fazenda Pública. Deste modo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em
dobro no processo de controle concentrado de constitucionalidade, nem mesmo para a
interposição de recurso extraordinário. Tal entendimento foi confirmado pelo STF em
56. Disponível em: https://www.jota.info/stf/supra/supremo-governo-bolsonaro-e-oposicao-seis-meses-de-controle-abstrato-de-
constitucionalidade-24072019. Acesso em 22.12.2019.
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fevereiro de 2019. Na ocasião, de acordo com o Min. Barroso, a jurisprudência do STF sobre
a matéria é consolidada há muitos anos e tem precedentes de quase todos os ministros da
Corte e, a menos que haja mudança relevante na compreensão do direito ou na situação de
fato, não há razão para alterá-la. “Não me animo a multiplicar as hipóteses de prazo em
dobro”, afirmou.
Cap. 19: (“Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”):
5. FORÇAS ARMADAS
(iv) o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente
(ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c"57), será transferido para a
reserva (art. 142, § 3º, II, CF/88);
- Observação importante! Sobre este tema, lembremos da Emenda Constituição n° 101, de
3 de julho de 2019, que acrescentou o § 3º ao art. 42 da Constituição Federal para estender
aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (e não aos militares das Forças
Armadas, que possuem regramento próprio no art. 142 da CF/88) o direito à acumulação
de cargos públicos prevista no art. 37, inciso XVI, em todas as três alíneas.
- Muito cuidado com o seguinte:
(i) Aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos territórios, estão permitidas as
hipóteses de acumulação de cargos previstas nas três alíneas (‘a’, ‘b’ e ‘c’) do inciso XVI do
art. 37 da CF/88, em razão, da EC n° 101/2019.
(ii) Por outro lado, aos militares das Forças Armadas, segue valendo a previsão do art. 142,
§ 3°, II (com redação dada pela EC n° 77/2014), no sentido de que apenas é permitida a
acumulação de cargos descrita na alínea “c” do inciso XVI do art. 37 (“dois cargos ou
empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas”).
57. Art. 37, XVI, ‘c’, CF/88: “XVI - É vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de
horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde,
com profissões regulamentadas”.
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6. SEGURANÇA PÚBLICA
Os órgãos indicados pela Constituição como os encarregados pela segurança pública
são:
(i) polícia federal;
(ii) polícia rodoviária federal;
(iii) polícia ferroviária federal;
(iv) polícias civis;
(v) polícias militares e corpos de bombeiros militares;
(vi) polícias penais federal, estaduais e distrital.
6.1. Órgãos de segurança pública
(ii) Em dezembro de 2019 a EC 104 alterou o inciso XIV do art. 21, o § 4º do art. 32 e o art.
144 da Constituição Federal, para criar as polícias penais federal, estaduais e distrital.
Referidas Polícias Penais são agora responsáveis pela segurança dos estabelecimentos
prisionais, estando vinculadas ao órgão que administra o sistema penal da unidade
federativa que integram. Assim, em âmbito federal, a Polícia Penal Federal está vinculada
ao DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional); em âmbito estadual, referida polícia
estará vinculada à Secretaria de Administração Penitenciária, à Secretaria de Justiça ou à
Secretaria de Segurança Pública (a depender do órgão que for o responsável pela
administração do sistema penal naquela entidade federada).
De acordo com a jurisprudência firmada pelo STF58, o rol do art. 144 é taxativo e de
observância compulsória. Isso significa que é um dispositivo dirigido também à organização
dos Estados-membros, do que decorre não poderem estes, em suas constituições estaduais
ou leis, alterar ou acrescer o conteúdo substancial do referido artigo da Constituição
Federal.
É importante, ainda, destacar que o inciso VI do artigo 144 foi inserido pela Emenda
Constitucional nº 104, de 2019), de dezembro de 2019, que criou a polícia penal. Esta é um
58. Por todos os precedentes, ADI 3.469/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes.
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órgão de segurança pública, existente na esfera federal, estadual e distrital, responsável
pela segurança dos estabelecimentos penais (art. 144, § 5°-A: “Às polícias penais, vinculadas
ao órgão administrador do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a
segurança dos estabelecimentos penais”).
Cap. 20: (“Ordem Econômica”):
2. PRINCÍPIOS GERAIS DA ORDEM ECONÔMICA
Sobre a livre iniciativa, foi importante acompanhar o trâmite do Recurso Extraordinário
1054110, cuja repercussão geral foi reconhecida pelo STF em outubro de 201759. Referido
RE discutia o transporte individual remunerado de passageiros por motoristas particulares
cadastrados em aplicativos (Uber e Cabify, por exemplo), no intuito de definir se a proibição
nesses casos afrontava, ou não, o princípio da livre iniciativa.
Relator do recurso, o Ministro Barroso informou que a análise feita pelo STF consistiria,
exclusivamente, em definir se a proibição ao transporte individual remunerado de
passageiros ofendia ou não o princípio da livre iniciativa previsto no artigo 170, caput,
CF/88. O relator observou que o princípio assegura, como regra geral, que as pessoas sejam
livres para iniciar, organizar e gerir uma atividade econômica, todavia, não é absoluto.
Afinal, a ordem econômica constitucional é igualmente orientada pelos princípios da
proteção do consumidor e da livre concorrência, e esses princípios legitimam intervenções
estatais na economia para correção de falhas de mercado, seja para defender os direitos do
consumidor, seja para preservar condições de igualdade de concorrência.
Nas palavras do Ministro Barroso:
Sob a ótica desses princípios, o estabelecimento de restrições à atividade de motoristas
particulares cadastrados em aplicativos como Uber e Cabify poderia se justificar para afastar a
alegada concorrência desleal com taxistas, ou mesmo para imposição de padrão de segurança
ao serviço. O exame da constitucionalidade da proibição do serviço de transporte individual
remunerado de passageiros, a depender, portanto, da intensidade que se confira, de um lado,
ao princípio da livre iniciativa e, de outro lado, aos princípios de proteção ao consumidor e de
repressão à concorrência abusiva, evidenciam a relevância jurídica da controvérsia suscitada.
59. Até o fechamento da presente edição, a data do julgamento ainda não havia sido marcada.
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Em maio de 2019, o Plenário do STF fixou a tese de repercussão geral no Recurso
Extraordinário (RE) 1.054.11060, no qual julgou inconstitucional a proibição ou restrição,
por meio de lei municipal, do transporte individual de passageiro por motoristas
cadastrados em aplicativos. Eis a tese proposta pelo relator do RE, ministro Luís Roberto
Barroso (relator), e aprovada pelo Plenário:
1 – A proibição ou restrição da atividade de transporte privado individual por motorista
cadastrado em aplicativo é inconstitucional, por violação aos princípios da livre iniciativa e
da livre concorrência.
2 – No exercício de sua competência para a regulamentação e fiscalização do transporte
privado individual de passageiros, os municípios e o Distrito Federal não podem contrariar
os parâmetros fixados pelo legislador federal (Constituição Federal, artigo 22, inciso XI).
O fundamento da livre iniciativa foi, também, um dos motivos que levou o STF a
declarar, em novembro de 2019, a inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal que
obrigava os supermercados a doar produtos que estavam com data próxima do vencimento
a instituições beneficentes. Ademais, argumentaram os Ministros, a lei tratava de direito
civil (ao impor restrições ao direito de propriedade), que é matéria de competência
legislativa privativa da União.
(...)
Obs.: É importante destacar que no curso dos debates da conversão da súmula 646 no
enunciado 49 da súmula vinculante, os Ministros da nossa Corte Suprema enfatizaram que
ela não traz regra absoluta, podendo, portanto, ser relativizada em alguns casos, como, por
exemplo, nas situações em que motivos de segurança e de proteção à saúde e ao meio
ambiente exigirem. Temos dois precedentes do STF nesse sentido, ambos colocados abaixo,
que envolvem a possibilidade de o Município fixar distância mínima para a instalações de
novos postos de combustíveis, por motivo de segurança:
(...) o entendimento adotado na decisão impugnada não se constitui em ofensa à tese
firmada na Súmula Vinculante 49 (...). Deveras, o direito à livre concorrência contido no
60. O tema também foi objeto de julgamento na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 449.
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enunciado da Súmula Vinculante 49 não é absoluto, porquanto a própria jurisprudência
desta Corte que fundamentou a edição do referido verbete sumular trouxe
temperamentos a essa prerrogativa, por imperativos de segurança e de proteção à saúde
e ao meio ambiente. Daí a ausência da estrita aderência entre a decisão impugnada e o
paradigma sumular apontado, fator imprescindível para o conhecimento do pleito
reclamatório. Com efeito, a jurisprudência desta Corte, que se refletiu na edição da
Súmula Vinculante que se alega violada, entende legítima a imposição de restrições à
localização de determinados tipos de estabelecimentos comerciais, como postos de
combustíveis. [Rcl 32.229, rel. min. Luiz Fux, dec. monocrática, j. 17-10-2018, DJE 223 de
19-10-2018.]
As razões recursais não conseguem infirmar esses fundamentos. Conforme consignado,
a jurisprudência pacífica da Corte é no sentido de que lei municipal que fixa distância
mínima para a instalações de novos postos de combustíveis, por motivo de segurança,
não ofende os princípios constitucionais da livre iniciativa e da livre concorrência (RE
199101, Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, DJ 30/9/2005; RE 204.187,
Relatora Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJ 2/4/2004). Por esse motivo, não há
estrita aderência entre o ato impugnado e a SV 49. [Rcl 30.986 AgR, voto do rel. min.
Alexandre de Moraes, 1ª T, j. 21-9-2018, DJE 205 de 27-9-2018.].
Cap. 21: (“Ordem Social”):
7. DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO JOVEM E DO IDOSO
(A) Da Família
Outra importante manifestação da nossa Corte Suprema em defesa à saúde foi
prolatada em maio de 2016, quando o Plenário do STF, deferiu, por maioria de votos,
medida liminar na ADI 550161, suspendendo a eficácia da Lei 13.269/2016 e, por
consequência, desobrigando o Estado de fornecer a fosfoetanolamina sintética,
medicamento experimental conhecido como “pílula do câncer”.
Segundo entendeu o Tribunal Supremo, a lei, ao autorizar o uso da substância por
pacientes diagnosticados com neoplasia maligna, ofendeu: (i) o princípio da separação de
61. O Supremo Tribunal Federal ainda não julgou o mérito, vale dizer, ainda não temos decisão definitiva sobre a causa. Por enquanto,
a Corte, por maioria de votos, concedeu a medida liminar para suspender a eficácia da Lei nº 13.269/2016. Os autos estão, desde
04.12.2018, conclusos ao relator. Aguardemos a decisão definitiva nesta ação. Pensamos, todavia, que tal decisão refletirá a tese
que foi firmada, por maioria, em maio de 2019, no julgamento do RE 657. 718 (comentado no corpo do texto).
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Poderes – já que não cabe ao Congresso Nacional viabilizar, por ato abstrato e genérico, a
distribuição de qualquer medicamento, uma vez que a Anvisa, uma autarquia técnica
vinculada ao Ministério da Saúde, foi criada justamente com o dever de autorizar e
controlar a distribuição de substâncias químicas segundo protocolos cientificamente
validados); e (ii) o direito à saúde – vez que diante da ausência de testes da substância em
seres humanos e o desconhecimento acerca da eficácia do medicamento e dos efeitos
colaterais, sua liberação é incompatível com direitos constitucionais fundamentais como o
direito à saúde (artigos 6º e 196), o direito à vida (artigo 5º, caput), e o princípio da
dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III).
Argumentou nossa Corte, ainda, que a lei impugnada foi casuística ao dispensar o
registro do medicamento como requisito para sua comercialização (pois o registro é
condição para o monitoramento da segurança, eficácia e qualidade terapêutica do produto;
sem ele, há uma presunção de que o produto é inadequado à saúde humana), esvaziando,
por via transversa, o conteúdo do direito fundamental à saúde.
Em que pese o julgamento do mérito da ADI 5501 ainda não ter acontecido, em maio
de 2019, no julgamento do RE 657.718 o STF, por maioria, fixou uma tese importantíssima
sobre o tema. Segundo a Corte:
(1) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
(2) A ausência de registro na Anvisa impede, como regra geral, o fornecimento de
medicamento por decisão judicial.
(3) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao
previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos:
(i) – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil, salvo no caso
de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras;
(ii) – a existência de registro do medicamento em renomadas agências de
regulação no exterior;
(iii) – a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
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(4) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa
deverão ser necessariamente propostas em face da União.
Vejamos o que pode ser comentado acerca de cada um desses itens:
(1) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
- O medicamento é assim chamado quando ainda não há qualquer comprovação
científica de sua eficácia e da segurança do seu uso. É um fármaco que ainda está em fase
de pesquisas e testes. A fosfoetanolamina sintética (“pílula do câncer”) se enquadra nessa
descrição.
- De acordo com o que decidiu o STF, em nenhuma circunstância o Poder Judiciário
poderá prolatar decisão que obrigue o Estado a fornecer tais medicamentos.
(2) A ausência de registro na Anvisa impede, como regra geral, o fornecimento de
medicamento por decisão judicial.
- Registrar um medicamento na ANVISA é uma garantia de que estamos diante de um
remédio que foi testado e aprovado para determinada enfermidade. É, portanto, um
fármaco seguro e eficaz. Desta forma, registrar um medicamento perante a agência não é
cumprir um mero trâmite administrativo, mas sim, tutelar à saúde pública62. Por isso, o STF
decidiu que, via de regra, decisão judicial não poderá obrigar o Estado a fornecer
medicamentos que não estejam registrados na ANVISA. O item seguinte, no entanto,
explicita as situações excepcionais nas quais o provimento do medicamento não registrado
deverá ser realizado pelo Estado, por determinação judicial.
(3) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao
previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos:
(i) – a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil, salvo no caso
de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras (vale dizer, é
imperioso que o fabricante deste medicamento já tenha, pelo menos, solicitado
62. Vale destacar que a legislação brasileira reconhece a importância do processo referente ao registro quando, por exemplo, criminaliza
a distribuição de medicamentos sem registro na ANVISA (ver art. 273, § 1º-B, I do Código Penal).
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esse registro na ANVISA; todavia, se for um fármaco órfão – eficaz no
tratamento ou no diagnóstico de doenças raras ou ultrarraras, que afetam uma
parcela pequena da sociedade, não havendo, pois, significativo interesse
comercial dos laboratórios em registrar o medicamento – o STF decidiu que é
possível ao Judiciário concedê-los ao autor da ação ainda que não haja pedido
de registro do medicamento em nosso país.
(ii) – a existência de registro do medicamento em renomadas agências de
regulação no exterior (isto é, apesar de o remédio ainda não ter registro na
ANVISA, ele já está devidamente catalogado em alguma agência renomada
responsável por tal regulação no exterior, como por exemplo a FDA – Food and
Drug Administration – nos EUA ou a EMEA – European Medicine Agency –
responsável pela regulação dos medicamentos nos países que integram a União
Europeia. Esse requisito visa assegurar uma proteção à saúde da nossa
população, já que o fato de o fármaco estar registrado em uma agência
reguladora respeitada é uma garantia mínima de que o remédio foi analisado
com rigor e correção).
(iii) – a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil (ou seja,
não pode existir em nosso país um remédio já registrado na ANVISA para tratar
a doença).
- Assim, de modo excepcional, será possível determinar judicialmente a concessão de um
medicamento sem registro da ANVISA, quando houver inaceitável mora do órgão sanitário
em concluir a análise do pedido de cadastramento, desde que preenchidos os três citados
requisitos (que, lembremos, são cumulativos).
(4) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa
deverão ser necessariamente propostas em face da União.
- Uma coisa é sabida: a ANVISA, agência responsável pelo registro dos medicamentos, faz
parte da estrutura da Administração Pública Federal. Assim, a eventual mora na certificação
e no cadastramento do fármaco é conduta que não pode ser imputada aos Estados e
Municípios, entes federados que não possuem qualquer ingerência na atuação do órgão
PRINCIPAIS ATUALIZAÇÕES JURISPRUDENCIAIS, DOUTRINÁRIAS E LEGISLATIVAS
MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL - NATHALIA MASSON 8ª edição (2020)
(logo, não podem resolver o problema referente à lentidão do registro). Assim, caso o
sujeito busque no Poder Judiciário a obtenção de um remédio que ainda não está
catalogado pela ANVISA, em razão de inaceitável morosidade, a ação será ajuizada perante
a Justiça Federal (art. 109, I, CF/88), contra a União. Um alerta adicional: segundo foi
firmado pelo STF, a União deve, obrigatoriamente, estar no polo passivo da ação. No
entanto, o sujeito poderia colocar outras entidades no polo passivo (ou seja, é essencial que
a União figure no polo passivo da ação, mas não é imperioso que seja de forma exclusiva).
- Ainda sobre este tópico, vale recordar que os entes federados (União, Estados, DF e
Municípios), em razão da competência comum para cuidar da saúde (prevista
constitucionalmente no art. 23, II, CF/8863), são solidariamente responsáveis nas demandas
prestacionais nessa área. Isso significa que o sujeito que aciona o Judiciário no intuito de
fazer valer esse seu direito, pode ajuizar a ação contra um ente federado isoladamente
(contra a União, contra o Estado-membro/DF, ou somente contra o Município), ou contra
dois deles (por exemplo: a União e o Estado) ou, ainda, contra os entes das três esferas da
federação em litisconsórcio. Essa ampla liberdade que o autor da ação tem se deve ao fato
de que, em grande parte dos casos, não é fácil identificar qual é exatamente o ente federado
responsável pela implementação daquela específica prestação. Será, no entanto, dever da
autoridade judicial cuidar de: (i) direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição
de competências (imaginemos que o indivíduo tenha acionado no Judiciário os três entes
da federação, em busca da obtenção de um tratamento de saúde que é de competência da
União custear. Neste caso, deverá o magistrado conceder o direito apenas contra a União,
determinando que ela se responsabilize pelo referido tratamento); e (ii) determinar o
ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro (imaginemos que num pleito referente à
saúde o magistrado emita ordem liminar de cumprimento a todos os entes e que o Estado
a cumpra; posteriormente, no entanto, verifica-se que a atribuição é da União. Neste caso,
a União pode ser condenada a ressarcir o Estado).
63. Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) II - cuidar da saúde e assistência
pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência.