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DIREITOS TRABALHISTAS: LEGISLAÇÃO, JUSTIÇA DO TRABALHO E
TRABALHADORES NO RIO GRANDE DO SUL (1958- 1964)
Campinas
2015
Alisson Droppa
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ALISSON DROPPA
DIREITOS TRABALHISTAS: LEGISLAÇÃO, JUSTIÇA DO TRABALHO E
TRABALHADORES NO RIO GRANDE DO SUL (1958- 1964)
ORIENTADOR: Prof. Dr. Fernando Teixeira da Silva
Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, para obtenção do
título de Doutor em História Social do Trabalho.
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À
VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA
PELO ALUNO ALISSON DROPPA, E
ORIENTADA PELO PROF. Dr. Fernando
Teixeira da Silva E APROVADA NO DIA
26/02/2015.
Campinas
2015
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós Graduação em História Social
iv
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RESUMO
A presente tese analisa a luta dos trabalhadores gaúchos no período 1958 a 1964
no âmbito da Justiça do Trabalho. O objetivo principal foi compreender o
funcionamento do poder normativo da instituição por meio das ações ajuizadas
pelos sindicatos patronais e dos trabalhadores da cidade de Porto Alegre/RS.
Metodologicamente, foi selecionado um conjunto de dissídios coletivos que tratam
de questões ligadas ao aumento da remuneração dos trabalhadores, dos
benefícios sociais, das melhorias das condições de trabalho, do vínculo de
trabalho e da representação sindical. Foram investigadas 419 reclamatórias
coletivas, 5123 processos individuais, acórdãos do Tribunal Superior do Trabalho,
do Supremo Tribunal Federal, textos doutrinários de periódicos nacionais e
internacionais. Foram feitas ainda consultas e fichamentos de projetos de lei que
tramitaram no Congresso nacional, além de algumas entrevistas com magistrados
e advogados. A investigação permitiu compreender a dinâmica coletiva dos
encaminhamentos dos sindicatos à Justiça do Trabalho, além das múltiplas
variáveis acionadas pelos trabalhadores e empregadores com o intuito de terem
suas teses reconhecidas, principalmente em relação aos reajustes salariais.
viii
ix
ABSTRACT
In this thesis I analyze the struggle of workers in Rio Grande do Sul State, Brazil, in
the ambit of Brazilian Labour Law, in the period between 1958 and 1964. The
purpose is to understand the working of normative power of the Law institution,
through the analysis of lawsuits filed by employers‘ associations and trade unions
in Porto Alegre City. A set of collective bargaining documents was selected, related
to increase of workers‘ salaries, social benefits, improvement of working
conditions, work contracts and union representation. A total of 419 collective
claims, 5123 individual lawsuits, judgments of Superior Labour Court and doctrinal
texts from Brazilian and international journals were analyzed. I also made consults
and reports of Bills discussed by the National Congress and listened to magistrates
and lawyers, conducting interviews with them. The investigation has allowed to
understand the collective dynamics of Unions when forwarding demands to Labour
Law. There are also many variables actioned by both workers and employers
aiming to achieve recognition to their point of view, especially when the subject is
wage increase.
x
xi
RESUMEN
La presente tesis analiza la lucha de los trabajadores gauchos en el periodo de
1958 a 1964, en el ámbito de la Justicia del Trabajo. El objetivo principal fue
comprender el funcionamiento del poder normativo de la Institución por medio de
las acciones ajuiciadas por los sindicatos patronales y de los trabajadores de la
ciudad de Porto Alegre/RS. Metodológicamente, fue seleccionado un conjunto de
negociaciones colectivas, que tratan de cuestiones conectadas al aumento de la
remuneración de los trabajadores, de los beneficios sociales, de las mejorías de
las condiciones de trabajo, del vínculo de trabajo y de la representación sindical.
Fueron investigadas 419 reclamaciones colectivas, 5123 procesos individuales,
juicios del Tribunal Superior del Trabajo, del Supremo Tribunal Federal, textos
doctrinarios de periódicos nacionales e internacionales. Todavía fueron hechas
consultas y libro informe de proyectos de ley que tramitaron en el Congreso
Nacional, además de algunas entrevistas con magistrados y abogados. La
investigación permitió comprender la dinámica colectiva de los encaminamientos
de los sindicatos a la Justicia del Trabajo, además de las múltiples variables
anexadas por los trabajadores y empleadores con el intuito de que tengan sus
tesis reconocidas, principalmente en relación a los reajustes salariales.
xii
xiii
Sumário
RESUMO ............................................................................................................................ vii
ABSTRACT......................................................................................................................... ix
RESUMEN .......................................................................................................................... xi
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................ xvii
Lista de ilustrações ............................................................................................................ xxi
Lista de Tabelas .............................................................................................................. xxiii
Lista de gráficos .............................................................................................................. xxvii
Introdução ............................................................................................................................ 1
Capítulo 1 - A Justiça do Trabalho de 1958 a 1964: a consolidação do poder
judiciário do trabalho e do entendimento sobre o poder normativo .......................... 25
1.1. As alterações no funcionamento da Justiça do Trabalho ......................... 29
1.2 A Instauração do Processo Coletivo ........................................................ 47
1.3 Os dissídios coletivos em Porto Alegre .................................................... 49
1.4 As controvérsias nos Tribunais: as disputas em torno da lei e da
consolidação da Justiça do Trabalho ............................................................ 53
Capítulo 2 - Tempos de mudanças: a lei de greve e os projetos de
regulamentação do direito paredista ............................................................................ 67
2.1 ―A greve no pós-1930‖ ............................................................................ 73
2.2 O Decreto-lei no 9.070: as implicações na mobilização dos trabalhadores . 77
2.3 A busca pelo direito: os sindicatos e a Justiça do Trabalho ...................... 99
Capítulo 3 - Justiça do Trabalho entre a greve, o julgar e o conciliar: as
conquistas dos trabalhadores em tempos de greve .................................................. 113
3.1 Sindicatos, reivindicações e conquistas: o mesmo cenário, conquistas
desiguais ................................................................................................... 125
xiv
3.2 Conquistas diferentes em cenários políticos semelhantes: a experiência da
luta nos Tribunais. ..................................................................................... 141
3.3 Os sindicatos com menor poder de barganha: diferenças no julgamento nos
tribunais. ................................................................................................... 147
3.4 A variável sobre o tempo e os cálculos em relação a espera pelas decisões
judiciais ..................................................................................................... 149
3.5 A aprovação do 13º Salário: uma batalha em diversos fronts .................. 151
Capítulo 4 - Do coletivo ao individual: direitos sonegados X direitos conquistados163
4.1 - O cenário judicial: a política, os empregadores e os trabalhadores ....... 165
4.2 As mobilizações da classe trabalhadora ................................................ 167
4.3 As Juntas de Conciliação e Julgamento: as unidades da Justiça do Trabalho
são criadas pelo interior do Rio Grande do Sul ............................................ 171
4.5 O direito individual do trabalho: os projetos de lei, as discussões jurídicas e
a Justiça do Trabalho ................................................................................. 183
4.7 Os casos individuais envolvendo direito de greve .................................. 195
4.8 Os trabalhadores e as peculiaridades do sistema: celetista X estatutário 197
4.9 Os avanços e as dificuldades na aplicação do direito do trabalho: a saga de
―colocar na junta‖ ....................................................................................... 203
5. Considerações finais ................................................................................................ 211
Apêndice 1 - Quadro comparativo das propostas de lei de greve encaminhadas
pelo Legislativo ............................................................................................................. 231
APÊNDICE 2 - Projetos de lei sobre greve encaminhados ao Congresso Nacional
no período de 1946 a 1963. ......................................................................................... 239
APÊNDICE 3 -Dissídios coletivos consultados.......................................................... 243
xv
Dedico esse trabalho a minha companheira, Cintia Nasi,
sempre presente!
xvi
xvii
AGRADECIMENTOS
Após a conclusão da tese, certamente o momento dos agradecimentos
é o mais difícil, sobretudo para não cair nas armadilhas da memória. Nesse
sentido, optei em começar agradecendo as instituições que possibilitaram a
realização do presente estudo: a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
e seus institutos: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH, ao Centro de
Pesquisa em História Social da Cultura – CECULT, ao Centro de Estudos
Sindicais de Economia do Trabalho – CESIT, ao Instituto de Educação, ao
Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq, a Fundação de Amparo a Pesquisa do
Estado de São Paulo – FAPESP, ao Supremo Tribunal Federal- STF, ao Tribunal
Superior do Trabalho – TST, ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região e à
Fundação Escola da Magistratura do Trabalho do Rio Grande do Sul – FEMARGS.
Sem essas instituições não teria sido possível a pesquisa e a redação do presente
trabalho.
Ao IFCH agradeço por me proporcionar ter cursado o Programa de
Doutoramento em História Social da Cultura, além de permitir participar do
cotidiano das grandes discussões envolvendo o tema da história social em
diversas disciplinas oferecidas durante o período do curso. Em especial, agradeço
aos professores Michael Hall, Sidney Chalhoub, Silvia Lara, Claudio Batalha,
Fernando Teixeira da Silva pelas experiências compartilhadas durante a execução
dos créditos acadêmicos e a secretária Camila Magalhães pela constante apoio.
Meu muito obrigado ao CECULT pela acolhida e pela disponibilidade
nas empreitadas em defesa dos documentos da Justiça do Trabalho. Com
agradecimento especial aos professores Sidney Chalhoub e Silvia Lara, que
estiveram à frente da coordenação nesse período, e a mais que secretária, Flávia
Renata Peral, que, além de auxiliar na burocracia acadêmica, sempre soube me
acudir nos momentos de maiores dificuldades.
xviii
Agradeço também ao CESIT pelas múltiplas oportunidades em discutir
as questões relacionadas ao mundo do trabalho no Brasil Contemporâneo, as
dificuldades e os avanços que tivemos nos últimos anos. Especialmente ao Dari
Krein e à Susete, recentemente aposentada, mas sempre uma referência.
Não poderia deixar de mencionar o STF e ao TST que por meio dos
setores de pesquisa, gestão documental e da biblioteca prestaram de forma
atenciosa auxilio na disponibilização das informações. Em especial aos servidores
Ana Barreto, Leonardo e, mais recentemente, Luiz Fernando, por facilitarem o
acesso às informações como vocês fizeram.
Ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região e ao seu Memorial é
necessário agradecer por estarem sempre abertos à disponibilizar as informações
e documentação. Em especial aos amigos Antonio Ransolin, Katia Kanapp, Paulo
Roberto Rodrigues Guadagnin, Walter Oliveira e, no final da trajetória da tese, ao
Fernando Estanislau Bressani Allgayer. As desembargadoras Maria Guilhermina
Miranda, Denise Barros, Magda Biavaschi e a juíza Anita Job Lübbe, pela
oportunidade do convívio.
A FEMARGS agradeço por disponibilizar o acervo Dr. João Pereira
Leite, além de importantes subsídios, e permitiu o acesso às anotações pessoais
desse importante magistrado do trabalho gaúcho. Gostaria de agradecer em
particular ao Vinicius Pereira Leite e à doutora Guilhermina pelo acesso e pelas
conversas sobre o acervo.
Ao CNPq e à FAPESP sou grato pelo incentivo e financiamento da
pesquisa. Os recursos disponibilizados possibilitaram a realização da pesquisa e a
troca de experiências com pesquisadores de outras regiões brasileiras e, inclusive,
outros países.
Agradeço à Larissa Correa e ao Samuel de Souza que realizaram as
primeiras leituras do projeto que deu origem ao presente trabalho. Aos colegas do
Programa de Pós-Graduação pelos debates sobre os mais variados temas que
subsidiaram além das análises a minha própria trajetória como historiador. Um
destaque especial aos que cursaram os seminários, as linhas de pesquisa e aos
xix
amigos conquistados Alessandra Pedro, Fernando Medeiros, Rodrigo Camargo de
Godoi, Thiago Araújo, Cristina Ferreira, Rafael Pereira, Vinicius Possebon Anaissi,
Crislayne Alfagali, Carlos Alberto Oliveira, Raquel G. A. Gomes, Pâmela Almeida,
Joana Carolina Schossler, David Lacerda, Glaucia Fraccaro e Laura Fraccaro.
Aos amigos de moradia em Barão Geraldo: Ricardo, Anselmo, Thiago
Oliveira e Raul. A república Del Rey pela acolhida nos primeiros dias de
Campinas, em especial ao amigo João Vinicius. As dificuldades da distância foram
amenizadas pela companhia de vocês.
Aos companheiros do projeto temático ―Contradições do Trabalho no
Brasil Atual: formalização, precariedade, terceirização e regulação‖, em especial
aos amigos Marcia Leite, Carlos Salas, Magda Biavaschi e aos demais
coordenadores dos eixos: Jose Dari Krein, Jacob Carlos Lima e Angela Maria
Carneiro Araújo.
Ao meu professor, orientador e companheiro Fernando Teixeira da Silva
agradeço pela orientação, pelo tempo desprendido nas discussões sobre a Justiça
do Trabalho, pelas cobranças e pelas direções apontadas. As instituições
financiadoras são de grande importância para a jornada do desenvolvimento da
pesquisa científica, mas orientadores como o professor Fernando deveriam ser
outro requisito para qualquer tese de doutoramento. Muito obrigado de coração!
Gostaria também de agradecer aos amigos que conquistei em Porto
Alegre, aos companheiros do Gt Mundos do Trabalho, da ANPUH e do arquivo
público do Rio Grande do Sul. Em especial a amiga Clarice Speranza pelo
incentivo e pelos constantes debates em torno da Justiça do Trabalho.
Sou grato a parceira e amiga Magda Barros Biavaschi pelas constantes
empreitadas no mundo do trabalho, as pesquisas e as discussões acadêmicas.
Que continuemos plantando a esperança da preservação das fontes judiciais para
que possamos colher as histórias.
Agradeço aos amigos historiadores do mundo do trabalho Marcio Both
da Silva e Frederico Bartz pela leitura atenta e criteriosa da tese. Os
apontamentos e sugestões foram muito importantes para a redação final da tese.
xx
Aos recentes amigos e de longa data, ao pessoal da UFCSPA, da
UFRGS, da UFSM, da UFPel, da PUC/RS, da UNISINOS e da UNIJUÍ. Aos
compadres Marcio e Sandra pelo carinho e espero que possamos conviver mais,
mesmo que a distancia às vezes impeça.
A minha mãe Edna, meu falecido pai Darci Paulo Droppa e ao meu
irmão Anderson que mesmo com as dificuldades impostas pela vida são de
extrema importância na constituição desse historiador que escreve essas linhas.
Ao sogro, Luiz Nasi, à sogra Gladis Maria Nasi e a minha cunhada Lara Nasi, pelo
apoio e incentivo nesses momentos duros. À minha esposa Cintia Nasi, que
sempre me acompanhou nas batalhas ganhas e perdidas da guerra da vida. –
Negra, vencemos mais essa!
Aos leitores que criaram novos problemas e interpretações em relação
à tese. Enfim, esperando não ter esquecido ninguém – muito obrigado!
xxi
Lista de ilustrações
Figura 1 - Concentração do movimento grevista na rua da Praia. Porto Alegre,
1917 ................................................................................................................................ 71
Figura 2 - Capa da Constituição de 1937 dos Estados Unidos do Brasil - Fonte:
Disponível em: . Acesso em: 23
out. 2012. ....................................................................................................................... 76
Figura 3 - Retrato de Pedro Pomar ........................................................................... 105
Figura 4 - Aos bancários e ao povo em geral: Fonte: Jornal Correio do Povo de 19
de outubro de 1958, p. 21. Disponível no Museu Hipólito José da Costa. ........... 121
Figura 5 - Inicial do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre. Fonte: Dissídio
Coletivo nº335/1964- Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre. Disponível no
Memorial da Justiça do Trabalho no Rio Grande do Sul. ....................................... 127
Figura 6 - Considerado Desastroso para o país um 13º mês de salário. Fonte:
Jornal O Globo de 26 de abril de 1962. Disponível em:
http://acervo.oglobo.globo.com/registro?evento=pw .............................................. 154
Figura 7 – Mapa da localização das Juntas de Conciliação e Julgamento no Rio
Grande do Sul de 1941 a 1957. ................................................................................ 172
Figura 8 - Mapa da Localização das Juntas de Conciliação e Julgamento no Rio
Grande do Sul entre 1958 e 1964. ............................................................................ 173
Figura 9 - Governador Leonel Brizola assinando a encampação do sistema
elétrico. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/fotosantigasrs. ................ 198
Figura 10- Juíza Maria Guilhermina Miranda visitando fábrica de carvão em São
Jerônimo/RS. Acervo Memorial/TRT4 ............................................................................ 205
xxii
xxiii
Lista de Tabelas
Tabela nº1 - Juízes togados no TRT4 no período de 1941 a 1964 ............................27
Tabela 2 - Resolução dos processos com decisão da Justiça do Trabalho ....56
Tabela 3 - Dissídios coletivos de sindicatos de Porto Alegre entre 1958 a 1964 ..60
Tabela 4 - Recursos encaminhados ao TST 1957 a 1964 ............................................97
Tabela nº5 - Reajustes salariais no período entre 1949 e 1959 ...............................122
Tabela nº6 - Reajustes salariais no período 1958 a 1964 envolvendo sindicatos
de Porto Alegre/RS ...............................................................................................................132
xxiv
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Lista de Quadros
Quadro 1 - Projetos envolvendo modificações na legislação do trabalho ou na
Justiça do Trabalho encaminhados ao Congresso Nacional no período de 1946 a
1964. ...........................................................................................................................................31
Quadro 2 - Tipos de greve de acordo com a doutrina brasileira .................................91
Quadro 3 - Comparativo das propostas de lei de greve encaminhadas pelo
Legislativo ...............................................................................................................................238
Quadro 4 – Dissídios coletivos pesquisados ..................................................................252
Quadro 5 – Dissídios individuais pesquisados ..............................................................253
xxvi
xxvii
Lista de gráficos
Gráfico 1 -Dissídios Coletivos encaminhados ao TST entre 1946 e 1970............48
Gráfico 2 - Reajuste salarial das categorias profissionais em relação ao objeto do
pedido para Justiça do Trabalho (mediana em %).................................................57
Gráfico 3 - Tempo de Tramitação do Processo Coletivo na Justiça do Trabalho
(em dias).................................................................................................................61
Gráfico 4 - Greves no período de 1945 a 1965..................................................99
Gráfico 5 - Recursos ajuizados no TST — 1945-1964.......................................101
Gráfico 6 - Número de greves de 1964 a 1979...................................................102
Gráfico 7 - Encaminhamentos a Justiça do Trabalho: sindicatos com menor
número de conquistas 1958-1964 ................................................................... 119
Gráfico 8 - Crescimento no número de processos encaminhados à Justiça
do Trabalho no período 1958 a 1964 ............................................................. 131
Gráfico 9 - Reajustes salariais no período 1958 a 1964 envolvendo
sindicatos de Porto Alegre/RS ........................................................................ 134
Gráfico 10 - Ajuizamentos de processos individuais 1966 a 1970 ............ 170
Gráfico 11 - JCJs em funcionamento no TRT4 1941 a 1965.................... 1742
Gráfico 12 - Total de reclamatórias encaminhadas às JCJ de Porto Alegre
no Período 1941 a 1964................................................................................. 1753
Gráfico 13 - Crescimento da população em geral, PEA e ajuizamento de
processos no âmbito do TRT4 1950 a 1970. ............................................... 1764
Gráfico 14 - Processos Ajuizados entre 1941 e 1974. ................................ 177
Gráfico 15 - Processos individuais ajuizados ............................................... 180
Gráfico 16 - Formas de encaminhamentos das reclamatórias 1958 - 1964
............................................................................................................................ 204
Gráfico 17 - Processos Julgados pela Justiça do Trabalho ao longo do
período 1941 a 1964 ........................................................................................ 207
xxviii
1
Introdução
Os historiadores, já há algum tempo vêm se preocupando em
estudar a Justiça, seja como instituição ou em relação a sua apropriação
por parte dos trabalhadores. O objeto da presente tese é analisar a luta dos
trabalhadores no âmbito da Justiça do Trabalho e as formas como
sindicatos dos empregados e dos patrões acessavam a instituição entre
1958 a 1964, considerado um dos períodos de maior mobilização política
da classe trabalha na história recente brasileira. Para isso, foram
investigadas 419 reclamatórias coletivas, 5123 processos individuais, do
TST, do STF, textos doutrinários de periódicos nacionais e internacionais .
Ainda foram consultados os arquivos dos projetos de lei que tramitaram no
Congresso nacional no período foco da pesquisa, além da realização de
entrevistas com magistrados e advogados.
Do ponto de vista historiográfico, a pesquisa investigou as ações
ajuizadas na Justiça do Trabalho pelos sindicatos e diretamente pelos
trabalhadores como uma ferramenta alternativa de luta por direitos1,
privilegiando a relação estabelecida entre a legislação, o poder normativo e
o direito real nas relações de trabalho. A presente investigação busca
observar especificamente a dimensão relativa ao funcionamento da Justiça
do Trabalho, no âmbito do TRT4, no período de 1958 a 1964.
1 O fato dos trabalhadores terem superado, em grande parte, as dificuldades impostas pelo Estado em relação a luta por direitos vem sendo objeto de diversas investigações: COSTA, Helio. Em Busca da Memória: comissão de fábrica, partido
e sindicalismo no pós-guerra. São Paulo, Scritta, 1995.; SILVA, Fernando Teixeira. A carga e a culpa. Operários das docas de Santos: direito, cultura e solidariedade – 1937-1968. São Paulo, Hucitec/Prefeitura de Santos, 1995.; SOUZA, Samuel. “Coagidos ou Subornados”: trabalhadores, sindicatos, Estado e Leis do Trabalho nos anos 1930 (Tese de Doutoramento em História) IFCH/UNICAMP, 2007.
2
A perspectiva segundo a qual os trabalhadores teriam aprendido
a se utilizar dos meios legais como forma de ampliação de direitos vem
sendo criticada por uma interpretação que revaloriza o conceito de
populismo,2 interessada na manutenção das concepções amplamente
criticadas no final da década de 1980 e 1990 da manipulação dos
trabalhadores pelo regime varguista. Porém não é objetivo da presente tese
estabelecer um diálogo entre as diversas correntes acadêmicas em torno
da questão. A preocupação maior aqui é compreender se foi possível aos
trabalhadores a ampliação de direitos no âmbito da Justiça do Trabalho em
uma conjuntura política até certo ponto favorável à classe trabalhadora.
O interesse em pesquisar a Justiça do Trabalho tem se ampliado
nos últimos anos, o que permitiu ultrapassar o limite das análises que a
qualificavam apenas como um aparelho ideológico do Estado, 3
caracterizando-a como algo muito mais complexo: uma arena de disputas,
com avanços e recuos em relação à efetivação dos direitos sociais4. Mas
ainda conhecemos muito pouco sobre sua estrutura e funcionamento.
A instituição sofreu alterações que delinearam a sua estrutura, o
que permite afirmar que, do ponto de vista histórico, não se pode conceber
a instituição de forma unívoca. De um órgão ligado ao Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio, passou à condição de Justiça Especial,
2 DEMIER, Felipe Abranches. Populismo e historiografia na atualidade: lutas operárias, cidadania e nostalgia do varguismo. In.: A miséria da historiografia: uma
crítica ao revisionismo contemporâneo. Demian Bezerra de Mello. Org. Rio de Janeiro, Consequência, 2014.
3 Adalberto Paranhos, por exemplo, compreendeu que a legislação trabalhista tinha o objetivo de neutralizar as lutas sociais e as reivindicações dos trabalhadores. O roubo da fala: origem da ideologia do trabalhismo no Brasil. São Paulo: Boitempo, 1999, p.15-23.
4 SOUZA, Samuel. Op. Cit. e SILVA, Fernando Teixeira da. The Brazilian and Italian Labor Courts: Comparative Notes. International Review of Social History , 55 (2010), pp. 381–412.
3
integrada ao Poder Judiciário.5 Do mesmo modo, o próprio Direito do
Trabalho não foi amalgamado com a publicação da Consolidação das Leis
do Trabalho – CLT –, em 1943, uma vez que leis subsequentes editaram
novas normas trabalhistas, com direitos de suma importância para a classe
trabalhadora.6 Ou seja, o trabalhador passou a contar com mais direitos
efetivamente regulamentados, o que não quer dizer que estes, na prática,
passaram a ser cumpridos in totum, embora coubesse à Justiça do
Trabalho arbitrar os casos em que tais direitos fossem sonegados e mesmo
criar novos direitos por meio do exercício do poder normativo.
De acordo com Vilhena, a sentença normativa e o poder judiciário
trabalhista elaboravam a norma jurídica que teria aplicação incialmente
restrita as categorias profissionais litigantes. O poder normati vo seria
exercido por meio da sentença normativa da Justiça do Trabalho e teria
como principal característica a possibilidade de ultrapassar a legislação
ordinária.7
5Houve conflitos de interesse em relação à incorporação da Justiça do Trabalho ao poder Judiciário, havendo formulações que afirmavam que os Juízes do Trabalho não tinham os mesmos direitos que os magistrados da Justiça comum. Segundo Ives Gandra da Silva Martins Filho, foi necessário que os ministros da Justiça do Trabalho recorressem ao STF para dirimir a questão, tendo a Suprema Corte reconhecido os direitos e as garantias outorgados aos magistrados brasileiros e aos juízes togados da Justiça do Trabalho. Consultar: MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Breve história do trabalho. In: FERRARI, Irany; NASCIMENTO, Amauri Mascaro; MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. História do trabalho, do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 2005.
6 Como exemplo, cito a regulamentação dos reajustes do salário mínimo (Decreto nº 30.342/1951). A literatura em relação à elaboração dos direitos sociais muitas vezes exclui a regulamentação das leis incorporadas pela CLT em 1943. Luiz Werneck Viana afirma que, após 1943, não teria havido acréscimo de direitos sociais, o que considero um equívoco, pois vários artigos da CLT foram regulamentados depois daquela data, e as decisões normativas da Justiça do Trabalho, reinterpretando e reformulando a ―letra da lei‖, acabaram por criar novos direitos sociais. VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e Sindicato no Brasil. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1976.
7 Ver: VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Da sentença normativa: à luz da emenda
constitucional 45/04. LTr: São Paulo, 2006.
4
A criação da Justiça do Trabalho remete aos debates em torno do
período pós-1930, que, seguindo a trilha de uma historiografia
relativamente recente, saiu da lógica ―repressão -propaganda‖. Para Ângela
de Castro Gomes, o ponto central do período é a formação do discurso
trabalhista e da identificação entre o projeto político desenvolvido no
Estado Novo e o discurso que o movimento operário produzia sobre a
própria classe trabalhadora.8 O trabalhismo surge como um ―pacto‖
relacionado com a identidade histórica construída pelos trabalhadores,
levando em consideração as lutas sociais travadas na Primeira República.9
Fernando Teixeira da Silva e Hélio da Costa entendem que os
trabalhadores reinterpretaram o trabalhismo, não o assimilando em todos
os aspectos, mas utilizando-se dos espaços institucionais criados por ele
como uma forma de reformular a própria luta por direitos:
Há evidências a demonstrar que a legislação sindical e trabalhista, logo nos primeiros anos de sua implantação, favoreceu a mobilização e organização de parte significativa do movimento operário, particularmente entre o proletar iado das grandes indústrias, de que, em razão de sua frágil posição no mercado de trabalho, sempre se defrontava com a forte resistência patronal em reconhecer seus direitos e
suas organizações como interlocutores válidos.10
Uma das controvérsias na historiografia diz respeito aos objetivos
da implantação da Justiça do Trabalho e ao seu efetivo funcionamento.
8 GOMES, Angela de Castro. A invenção do Trabalhismo. 3ed. Rio de Janeiro: editora FGV, 2005.
9 Para uma análise em torno do conceito de populismo e a efetiva organização e luta da classe trabalhadora, com foco em 1945 a 1964 consultar: FERREIRA, Jorge (Org.). O populismo e sua história – debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
10 SILVA, Fernando Teixeira da e COSTA, Hélio da. Trabalhadores urbanos e populismo: um balanço dos estudos recentes. IN: FERREIRA, Jorge. Op. Cit., 2001, p.231.
5
Kazumi Munakata,11 por exemplo, entende que o objetivo central da
instituição foi o de transformar uma questão política de correlação de
forças entre o trabalhador e o patrão numa questão jurídica e técnica, com
regras e normas só acessíveis a especialistas. Tal assertiva é, em parte,
corroborada por Adalberto Paranhos, para quem a Justiça fora pensada
para suprimir o poder da classe trabalhadora, enganando-a e roubando sua
fala.12 Essa tese é radicalmente contestada por Magda Barros Biavaschi 13,
segundo a qual Paranhos teria observado o período pós-1930 apenas do
ponto de vista do controle político da classe trabalhadora, em que o Estado
visava conceder direitos para subordiná-la.14 Nas palavras da autora,
Trata-se de um exemplo de uma leitura dos sentidos da produção normativa dirigida ao trabalho que desconsidera não apenas a tensão que subjaz ao processo de positivação do Direito, olhando-o apenas a partir do arranjo das elites, com vistas à dominação dos ―de baixo‖, mas sobretudo, a circunstância de que se está diante de um ramo do Direito profundamente social, cujas normas, institucionalizadas pelo Estado, contemplam direitos reivindicados no curso da história, na busca de compensar as desigualdades afirmadas pelo processo de acumulação capitalista. 15
11 MUNAKATA, Kazumi. A legislação trabalhista no Brasil. São Paulo: Brasiliense,
1981.
12 PARANHOS, Adalberto. O roubo da fala: origem da ideologia do trabalhismo no Brasil. São Paulo: Boitempo, 1999
13 BIAVASCHI, Magda Barros. O Direito do Trabalho no Brasil 1930-1942: a
construção do sujeito de direito trabalhista. São Paulo: LTr, 2007.
14 A tese de doutoramento de Samuel Souza: “Coagidos ou Subornados”: trabalhadores, sindicatos, Estado e Leis do Trabalho nos anos 1930 (Tese de Doutoramento em História) IFCH/UNICAMP, 2007, se aproxima das conclusões de Barros, por entender que a elaboração da legislação trabalhista fazia parte de uma relação muito mais ampla do que apenas uma outorga de direitos pelo Estado. Segundo o autor, os sindicatos não estavam tão atrelados ao Estado, os trabalhadores mantinham estratégias relativamente autônomas de organização e mobilização e a criação de leis se dava em um campo de disputas.
15 BIAVASCHI, 2008, p.223.
http://www.boitempo.com/livro_completo.php?isbn=978-85-85934-32-3
6
Há ainda a tese de que a legislação trabalhista brasileira foi mera
cópia da Carta Del Lavoro16, de modo que o Direito do Trabalho teria
caráter expressamente fascista, o que vem sendo contrariado por alguns
autores, segundo os quais o ―modelo brasileiro‖ era tributár io também de
outras realidades internacionais e da experiência de judicialização das
relações de trabalho ao longo dos anos 1920 e 1930.17
Outros autores, como John French, buscaram demonstraram que
a legislação trabalhista fora criada para não funcionar, mas, com a
mobilização dos trabalhadores, passou a ter efetividade.18 Conforme Maria
Célia Paoli,19 o aparato legal teria contribuído para a formação de uma
―consciência jurídica de classe‖, em que os trabalhadores depositavam
alguma confiança no ordenamento jurídico do Estado e produziram uma
nova experiência, de forma que não seria possível pensar a classe
trabalhadora brasileira sem pensar a estrutura de direitos,
institucionalmente criado.
Recentes pesquisas20, como a presente tese, que tomam como
objeto os direitos, as leis e a Justiça vêm aprofundando essas
16 ROMITA, Arion Sayão. O fascismo no Direto do Trabalho: influência da Carta
Del Lavoro sobre a legislação a trabalhista brasileira. São Paulo: LTr, 2001.
17 Poderíamos citar e SOUZA, Samuel. Op. Cit., 2007 e Fernando Teixeira da Silva. The Brazilian and Italian Labor Courts : Comparative Notes. International
Review of Social History, 55 (2010), pp. 381–412.
18 French, John. Drowning in laws: labor law and Brasilian polítical culture. Chapel Hill and London: The University of North Caroline Press, 2004.
19 Paoli, Maria Célia Paoli. Labor, law and state in Brazil: 1930-1950. Tese de
Ph.D., Birkbeck College, University of London, 1988, pp. 437-440.
20 As pesquisadoras Regina L. Moraes e Elina Pessanha afirmam que no Brasil não existe uma tradição de estudos sobre o Judiciário, com exceção daqueles produzidos por pesquisadores da área do Direito. Ver: MOREL, Regina L.; PESSANHA, Elina G. da Fonte. Magistrados do Trabalho no Brasil: entre a tradição e a mudança. Estudos Históricos, n. 37, p. 29-53, jan./jun. 2006.
7
interpretações, utilizando primordialmente como fonte de pesquisa os
documentos produzidos pela própria Justiça do Trabalho. Nesta
perspectiva, Fernando Teixeira da Silva21 analisa a importância dos
processos trabalhistas como fonte para a história trabalho e das
instituições relacionadas aos trabalhadores, na medida em que as
reclamatórias trabalhistas contêm, além de informações sobre as lutas
coletivas e individuais, aspectos importantes da própria Justiça do
Trabalho.
Silvia Hunold Lara22 afirmou que os historiadores perceberam que
as relações existentes entre patrões e empregados não podiam ser
resumidas unicamente pela repressão, e que o Direito não era apenas uma
expressão política e ideológica da hegemonia das ―elites‖ . As relações
entre patrões e empregados também eram pautadas por direitos e deveres,
formando a base da legislação social. Segundo ela:
Havia, sem dúvida, a CLT – mas havia bem mais que isso. Muitos historiadores passaram a investigar os domínios da lei e da aplicação dos direitos trabalhistas desde pelo menos os anos 1920 e, sobretudo, a partir dos anos 1930, examinando as mediações legais, institucionais e jurídicas que delimitavam os enfrentamentos entre trabalhadores, patrões e autoridades públicas.23
21 SILVA, Fernando Teixeira da. Nem crematório de fontes nem museu de curiosidades: por que preservar os documentos da Justiça do Trabalho. In: BIAVASCHI, Magda Barros; MIRANDA, Maria Guilhermina (Org.). Memória e preservação de documentos: direito do cidadão. São Paulo: LTr, 2007.
22 LARA, Silvia Hunold. Trabalho, Direito e Justiça no Brasil. In: SCHIMIDT, Benito B. (Org.). Trabalho, Justiça e direitos no Brasil: pesquisa histórica e preservação
das fontes. Porto Alegre: OIKOS, 2010.
23 LARA, Silvia Hunold. Op. Cit. 2010, p. 111.
8
O que os recentes trabalhos24 demonstram é que as
investigações sobre a luta dos trabalhadores por direitos e a consti tuição
do aparato jurídico trabalhista brasileiro é um campo fértil de estudos. Além
de questões relacionadas à luta dos trabalhadores, é possível investigar a
conquista de direitos e sua efetivação. O ponto central da tese reside
exatamente em analisar a convergência dessas possibilidades no âmbito da
Justiça do Trabalho. Em outras palavras, entender como o poder normativo
funcionou no período de 1958 a 1964 em Porto Alegre é entender também
como a classe trabalhadora buscou seus direitos pela via judiciária.
Nesse sentido, é importante pensar na própria concepção de
Estado, matéria ainda polêmica no âmbito da produção acadêmica. A
presente tese não tem a intensão de discutir os diversos entendimentos em
torno dessa questão, mas parte das considerações empreendidas por
Poulantzas no final da década de 1970, após seu rompimento com o
estruturalismo althusseriano, ao adotar o que autor chamou de abordagem
―relacional do poder e do Estado‖.25
24 MENDES, Alexandre Marques. Classe trabalhadora e Justiça do Trabalho: experiência, atitudes e expressões do operário do calçado (Franca-SP, 1968-1988). Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Estadual Paulista, Araraquara-SP, 2005. SOUZA, Samuel Fernando de. Na esteira do conflito: trabalhadores e trabalho na produção de calçados em Franca de 1970 a 1980 .
Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2003. VARUSSA, Rinaldo J. Trabalho e legislação: experiências de trabalhadores na Justiça do Trabalho - Jundiaí – SP, décadas de 40 a 60. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002. PACHECO, Jairo Queiroz. Guerra na Fábrica: cotidiano operário fabril durante a segunda guerra – o caso de Juiz de Fora-MG. Dissertação (Mestrado em Sociologia), Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. PRIORI, Ângelo. O protesto do trabalho: história das lutas
sociais dos trabalhadores rurais do Paraná: 1954-1964. Maringá: EDUEM, 1996. CORRÊA, Larissa. Trabalhadores têxteis e metalúrgicos a caminho da Justiça do Trabalho: leis, direitos na cidade de São Paulo, 1953 a 1964. Dissertação
(mestrado em história). Campinas: UNICAMP, 2007.
25 POULANTZAS, N. O Estado, O Poder, O Socialismo . Rio de Janeiro: Graal, 1980, p.32.
9
Para Poulantzas26, o Estado deve ser concebido como uma
condensação material de forças, uma relação, um sistema aberto de
escolhas não determinadas, única e exclusivamente por uma classe, mas
pelas relações estabelecidas no âmbito dos ―aparelhos‖27, como empresas
e fábricas. Nesse aspecto, as relações sociais estão inter -relacionadas e as
interações das próprias classes sociais são materializadas em instituições
como a família, a escola, o sindicato, nas ações judiciais e na Justiça do
Trabalho. O que se aproxima da concepção thompsoniana no aspecto de as
classes sociais existiriam somente no âmbito das lutas e das interações
sociais.28
Para Thompson,29 a lei não pode ser compreendida apenas como
a ilustração dos interesses da classe dominante, ela possui certa
autonomia, até mesmo para pode ser legitimada frente à sociedade, sendo
necessário demonstrar certa efetividade em relação a todas as classes.
Nesse sentido, o direito é considerado uma arena de disputas e traz
possibilidades reais de vitórias para os trabalhadores.30
26 POULANTZAS, N. Op. Cit.
27 Para uma visão critica dessa concepção consultar: ESTADO, CLASSES E ESTRATÉGIAS: ARAÚJO, Angela Maria Carneiro; TAPIA, Jorge Ruben Bitón. ESTADO, CLASSES E ESTRATÉGIAS: notas sobre um debate. Crítica e Sociedade: revista de cultura política . v.1, n.1, jan./jun. 2011.
28 THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos . Antonio L.
Negro e Sérgio Silva (orgs). Campinas: Editora da Unicamp, 2001.
29 THOMPSON, E. P.. Senhores e caçadores. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
30 Sobre a questão do domínio da lei em Thompson consultar: FORTES, Alexandre. O direito na obra de E.P. Thompson. História Social, Campinas, nº2, 1995, pp.94.
10
Em outras palavras, o Estado e suas instituições, no caso a
Justiça do Trabalho, é compreendida a partir das interações entre aqueles
que se relacionam no seu âmbito, trazendo suas experiências e suas
estratégias em um jogo de poderes que levam a avanços e recuos na
formulação de direitos. Nesse sentido, a criação dos direitos trabalhistas
não pode ser localizada apenas no momento histórico em que o Estado os
reconheceu na cristalização das leis e na CLT em 1943.
A luta por direitos é muito mais ampla do que a lei e está
articulada com a luta cotidiana empreendida pelos trabalhadores com os
patrões, na burocracia sindical e também na estrutura do Estado. Ela pode
ser encontrada nos diferentes momentos históricos, o que torna essencial a
realização de estudos empíricos que busquem investigar parte do
ordenamento jurídico brasileiro31, com o intuito de perceber a experiência
da classe trabalhadora no âmbito da norma jurídica.32
Adentrando na concepção da lei, a pesquisa se valeu
principalmente da recente produção intelectual da história do trabalho,
baseada especialmente nos escritos de E.P. Thompson. Esse autor
certamente ampliou o interesse dos historiadores pelo campo jurídico.33
31 Observação essa já realizada por Sidney Chalhoub e Fernando Teixeira da Silva no artigo Sujeitos no imaginário acadêmico: escravos e trabalhadores na historiografia brasileira desde os anos 1980, Cadernos do AEL, Campinas, Unicamp, V.14, nº26 pp. 13-45.
32 Nos últimos anos afloraram na historiografia brasileira uma diversidade de pesquisas envolvendo a experiência em relação a utilização do Estado como meio de luta por direitos, focalizando determinadas categorias profissionais. Consultar: SPERANZA, Clarice Gontarski. Cavando direitos: as leis trabalhistas e os conflitos entre trabalhadores e patrões nas minas do Rio Grande do Sul nos anos 40 e 50. Tese (doutorado em história) — Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2012 e CORRÊA, Larissa Rosa. A tessitura dos direitos: patrões e empregados na Justiça do Trabalho. 1. ed. São
Paulo: LTr, 2011.
33 Ver, por exemplo, Prefácio do livro: Direitos e Justiça no Brasil. Campinas:
Unicamp, 2006.
11
A lei, para Thompson, não pode ser entendida apenas como um
reflexo dos interesses da classe dominante, no caso dos patrões, pois ela
possui uma ideologia e uma lógica elaborada pela própria retórica de
justiça que impõem certa autonomia frente à dominação de classe. Nesse
aspecto, a lei pode ser utilizada pelos dois lados, pelos trabalhadores e
pelos empregadores, não devendo descartar a obtenção parcial de direitos,
pois elas podem contribuir para uma nova interpretação da lei em outro
momento.
Talvez a grande diferença do foco analítico do espectro legal
trabalhado por Thompson em relação ao arcabouço jurídico investigado
pela presente tese esteja no fato de que os instrumentos legais tenham
permitido favorecer a parte mais fraca da relação capital -trabalho.
Afirmação que não pode ser tomada por absoluta verdade, pois existem
exemplos, como no caso do decreto-lei nº9070 de 1946 criado para impedir
os movimentos grevistas, mas posteriormente reinterpretado pelos
sindicatos e pela própria justiça como um instrumento de respaldo jurídico
dos movimentos paredistas.
12
Mesmo assim, ao focalizar as relações da classe trabalhadora
com a lei, comparando a legislação trabalhista e a lei comum (penal e civil),
a primeira adquire uma nova feição. Em grande parte das ações judiciais as
acusações são efetivadas pelos trabalhadores, ou seja, os ―réus‖ são os
patrões que infringiram a lei e os empregados os ―acusadores‖. Essa é uma
das diferenças mais importantes em relação à estrutura trabalhista.34
Quanto à delimitação do estudo, optou-se pelo recorte
cronológico dos anos de 1958 a 1964. Segundo Fernando Teixeira da Silva
esses anos que antecedem a quebra constitucional em 1964 consolidaram
a Justiça do Trabalho como ―referência fundamental nas relações e
conflitos entre capital e trabalho‖, em especial nos meses que antecederam
o golpe por cumprir
(...) papel estratégico nas políticas e projetos que tentavam domar o avanço do processo inflacionário, controlar um movimento grevista sem paralelos no período republicano e estancar uma bem articulada luta dos trabalhadores rurais
por ampliação de direitos‖. 35
34 Investigar a reação dos patrões a serem acionados pelos trabalhadores na Justiça do Trabalho extrapola os limites da presente tese, mas é um tema que merece ser melhor pesquisado, tendo em vista a relação entre a classe patronal, os empregados e a própria Justiça do Trabalho. Nesse sentido, há uma diferença entre sonegar direitos em uma arena privada, longe dos ―olhos da sociedade‖, e ser acusado formalmente de se evadir as normas legais, o que poderá ser objeto de futuros estudos. Sobre a teoria do desvio social, consultar: BECKER, Howard S. Falando Sobre a Sociedade. In: Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais, São Paulo: HUCITEC, 1993; BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade. 15ª Petrópolis: Vozes, 1998. 247p. MONSMA, Karl. Teorias Interacionistas e Fenomenológicas da violência com aplicações à pesquisa histórica. Métis: história & cultura. V.6,n.11, p.11-22, jan./jun.2007.
35 SILVA, Fernando Teixeira. Poder, normas e justiça: os trabalhadores e o
Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (1963-1964). Tese de Livre Docência. IFCH/UNICAMP, Campinas, 2013. p.2.
13
O foco da presente tese é a luta no âmbito da Justiça do
Trabalho, ou seja, um recorte no conjunto do espectro social, envolvendo a
luta por direitos dos trabalhadores. A tese analisou as formas como eram
encaminhadas as ações ajuizadas na Justiça do Trabalho, o que evidencia
a diversidade na compreensão das leis e das próprias decisões judiciais.
Tal análise permitiu compreender a existência de certos avanços e recuos,
a depender das categorias profissionais envolvidas e da reivindicação,
concretização e ampliação dos direitos sociais. Essas diferenças
demonstram a complexidade das interações sociais entre os diversos
atores envolvidos nas disputas por maiores ganhos econômicos ou mesmo
de importância e visibilidade perante a sociedade.
Nesse sentido, os sindicatos dos trabalhadores e empregadores
buscavam através de diferentes ferramentas (disputas cotidianas, greves,
dissídios, publicações doutrinárias, estratégias jurídicas, etc) ver seus
pleitos vitoriosos. A Justiça do Trabalho, que somente em 1946 passou a
integrar o poder judiciário, procurava se legitimar como instituição jurídica
responsável pela ―paz social‖, tendo em vista que a mediação dos conflitos
de trabalho, coletivos ou individuais, acaba por ter impacto direto na
percepção de sua importância ou não para o mundo do Direito e para a
sociedade como um todo.
14
O principal produto desse jogo de forças entre sindicatos e justiça
pode ser interpretado como o resultado do processo judicial . Mesmo os
dispositivos legais sendo os mesmos para todos os envolvidos, as
sentenças interpretavam as demandas de maneira diversa. Algumas vezes
benéficas aos patrões, aos trabalhadores e em outros casos servindo como
elemento para a própria Justiça do Trabalho buscar uma espécie de
―soberania‖ institucional,36 ao julgar os processos com o intuito de
demonstrar sua legitimidade na resolução dos conflitos de trabalho.
Assim, ao investigar as decisões dos dissídios coletivos
envolvendo os sindicatos de Porto Alegre no período entre 1958 e 1964 , foi
possível perceber a existência de sindicatos com maior poder de pressão
sobre os empregadores e também nas diversas instâncias judiciais. Estes
tiveram aumentos salariais acima da media/mediana das demais
categorias, o que não pode ser explicado por meio de uma única resposta,
conforme se verá com maior cuidado no terceiro capítulo.
36 Partes consideráveis da doutrina e das decisões judiciais traziam como referência a importância da manutenção da soberania da Justiça do Trabalho, no sentido de fortalecê-la frente à sociedade, mas possivelmente dentro da estrutura do poder judiciário, pois havia sido incorporada recentemente nesse poder. Sobre a questão consultar também: SILVA, Fernando Teixeira. Poder, normas e justiça: os trabalhadores e o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (1963-1964). Tese de Livre Docência. IFCH/UNICAMP, Campinas, 2013, em especial o quarto capítulo que trata sobre os julgamentos envolvendo greves e a soberania da justiça.
15
A diferença em relação à forma com que a Justiça do Trabalho
interpretava a lei oferecendo maiores benefícios para algumas categorias
em detrimento de outras levou a pesquisa a classificar os sindicatos em
dois grupos distintos: os sindicatos com maior e menor poder de barganha,
os primeiros sendo aqueles que tiveram conquistas abaixo da
média/mediana no período focalizado pelo estudo, e os demais com
reajustes salariais dentro ou mesmo acima da média/mediana.37
Essa divisão poderia ser interpretada como simplista, por apenas
levar em consideração os ganhos materiais dos trabalhadores. Mas, torna -
se muito mais complexa quando questionados os reais motivos que
proporcionaram essas diferenciações entre pedidos judiciais semelhantes,
sendo necessário observar detalhadamente as relações sociais
estabelecidas pelos agentes.
37 SILVA, Fernando Teixeira, 2013, Op. Cit.
16
Inicialmente, especulou-se que os sindicatos conseguiriam
maiores conquistas somente através da mobilização grevista. No entanto,
ao confrontar detalhadamente os resultados dos processos, verificou-se
que essa não poderia ser a única explicação, pois muitas categorias
consideradas fortes, por diversas vezes, não faziam greves, como foi o
caso dos metalúrgicos do Rio Grande do Sul , enquanto as mais frágeis,
como na situação dos trabalhadores da construção civil, conseguiam
reajustes salariais acima da média em determinados anos, sem
necessariamente paralisarem suas atividades. 38 O que é contraditório aos
olhos do leitor, mas ao analisar o conjunto de dissídios coletivos ajuizados
pelos sindicatos de Porto Alegre mostrou que apesar da poder de barganha
não poder ser avaliado somente pela paralisação das atividades pelos
trabalhadores, conseguir manter o nível de reposição da inflação e mesmo
reajustes reais em um espaço de tempo de seis ou sete anos dependia de
uma tradição de luta e da capacidade sindical de demonstrar poder.
Além disso, a utilização somente da estratégia paredista, apesar
de muitas vezes resultar em conquistas para a classe, poderia implicar
aumento do tempo do julgamento dos processos, morosidade que acabava
corroendo os ganhos em tempo de inflação elevada.39 Ou seja, somente a
variável greve não demonstra, isoladamente, a importância da força pol ítica
das categorias profissionais na Justiça do Trabalho.
38 Situação semelhante com outras categorias foi encontrado por Fernando Teixeira da Silva. Ver: SILVA, Fernando Teixeira. Entre o Acordo e o Acórdão. In: GOMES, Angela de Castro; SILVA, Fernando Teixeira da. A Justiça do Trabalho e sua História. Ed. UNICAMP, Campinas, 2013.
39 Em parte o problema da demora nos julgamentos dos dissídios coletivos foi resolvido pelos sindicatos com a utilização dos mecanismos legais previstos no Decreto-lei nº9070/1946 que garantia o pagamento imediato dos aumentos julgados pela Justiça do Trabalho, mesmo que ocorressem recurso. Como se verá em detalhes no segundo capítulo.
17
A explicação para a diferenciação do maior poder de barganha de
determinados sindicatos pode estar articulada com o conceito de capital
social,40 tomado aqui não como uma amarra teórica, mas como um
elemento que pode contribuir para a explicação em torno das estratégias de
conquista de direito pelos trabalhadores. Segundo Bourdieu, ele pode ser
designado como um conjunto de recursos manifestos ou potenciais que
estão ―ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos
institucionalizadas de interconhecimento e de inter-reconhecimento‖41; em
outras palavras, um conjunto de elementos inter-relacionados entre si
através de ―propriedades comuns‖,42 unidas por ―ligações permanentes e
úteis‖.
Como se verá em detalhes no terceiro capítulo, as categorias
profissionais mais fortes não utilizam apenas das greves como meio de
luta, mas muitos outros elementos: estratégias jurídicas, publicações de
artigos na imprensa, articulações com a Justiça do Trabalho43 e manobras
dentro da própria classe, com a expectativa de que os trabalhadores
demonstrassem poder de mobilização durante as campanhas por direitos.
40 Pierre Bourdieu. O Capital Social: notas provisórias. In. Escritos de educação.
Org. Maria Alice Nogueira; Afrânio Catani. 9.ed. Petrópolis: Vozes, 2007.pp.67.
41 Idem.
42 Idem.
43 Larissa Correa analisa as pressões em torno das decisões do Tribunal do Trabalho da 2ª Região durante as greves de 1953 a 1964. Consultar: CORRÊA, Larissa. R. . A tessitura dos Direitos: patrões e empregados na Justiça do Trabalho. 1. ed. São Paulo: LTr, 2011.
18
Apenas um desses elementos, isoladamente, não pode ser
apontado como fator responsável pela força da categoria profissional diante
dos empregadores e da justiça. O sucesso da luta por direitos dependia de
todos os subsídios disponíveis e desenvolvidos para concretizar o avanço
por direitos, pois mesmo após conquistar decisões favoráveis na Justiça do
Trabalho era necessário forçar os patrões a cumprir essas decisões. A
estratégia de contratar um advogado reconhecido pelos tribunais como
competente, por exemplo, é uma forma de captar o capital social para sua
rede de relações, o que era utilizado também pelos patrões para que a lei
fosse interpretada a seu favor.
A pesquisa limitou-se em estudar o período entre 1958 a 1964,
com o objetivo de observar as reivindicações dos trabalhadores, patrões e
o funcionamento da Justiça do Trabalho em uma das ocasiões de maior
mobilização política da classe trabalhadora. A redemocratização na metade
da década de 1940, a primeira sucessão presidencial pelo voto depois de
muitos anos e a própria eleição do presidente Getúlio Vargas influenciaram
a cultura da mobilização da classe trabalhadora, interessada na garantia de
seus direitos.44
44 LAMARÃO, Sérgio Tadeu Niemeyer. A campanha eleitoral de 1950 - Vargas volta ao poder. In: Raul Mendes Silva; Paulo Brandi Cachapuz; Sergio Tadeu de Niemeyer Lamarão. (Org.). Getúlio Vargas e seu tempo. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2004.
19
Os anos 1950 até o golpe militar de 1964 foram um dos períodos
mais intensos da história política brasileira, quando ampliaram-se as greves
e a participação dos trabalhadores em diversas arenas, como o poder
judiciário. A vitória de Vargas, agora por meio de eleições dire tas,
fortaleceu o trabalhismo45 implantado nos anos 1930 e consolidado na
década de 1940, o que pode demonstrar a possibilidade de metamorfose do
sistema, sua capacidade de adaptar-se a conjunturas políticas diversas
daquelas do Estado Novo.46 A mobilização dos trabalhadores e a
permanência da legislação trabalhista e da Justiça do Trabalho ao longo
dos anos são um forte indício da comprovação dessa hipótese.
45GOMES, Angela de Castro. A invenção do Trabalhismo. 3ed. Rio de Janeiro:
editora FGV, 2005. Também consultar: SILVA, Fernando Teixeira da; COSTA, Hélio da. Trabalhadores urbanos e populismo: um balanço dos estudos recentes. IN: FERREIRA, Jorge. O populismo e sua história : debate e crítica. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
46 NEGRO, Antonio Luigi; SILVA, Fernando Teixeira da. Trabalhadores, sindicatos e política (1945-1964). In: O Brasil republicano: o tempo da experiência
democrática – da democracia de 1945 ao golpe civil militar de 1964. Org. Jorge Ferreira; Lucilia de Almeida Neves Delgado. 3ªed. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 2010, p.47-96.
20
A organização da classe trabalhadora em torno da luta pela
reposição salarial, pela melhoria nas condições de trabalho e pela
ampliação de direitos, ao lado da ampliação das demandas na Justiça do
Trabalho,47 permite afirmar que o sistema tinha certa eficácia e que os
trabalhadores queriam vê-lo funcionar.48 O resultado será a inauguração de
um período ainda mais singular, com muitas greves, com conquistas, mas
também com muita repressão policial e derrotas nos Tribunais.49
Seria muito arriscado afirmar que o funcionamento da estrutura
sindical, a legislação social e as decisões da Justiça do Trabalho teriam
sido os responsáveis pelo acirramento dos ânimos da burguesia nacional,
com medo de ter suas supostas prerrogativas atingidas por decisões
judiciais que beneficiassem a classe trabalhadora. Mas o fato de o regime
civil-militar ter implantado as tabelas de aumento salarial, que, na prática,
limitavam o poder normativo da Justiça do Trabalho e a alteração da lei de
greve, como se verá no primeiro capítulo, é um indício muito contundente
nessa direção.
As reivindicações da classe trabalhadora gaúcha no período de
1958 a 1964 não existiam apenas por um atrelamento ao governo estadual,
vazias de conteúdo de classe. Os trabalhadores também articularam outros
temas que lhes eram essenciais, como a melhoria de suas condições de
vida, aumento salarial e ampliação de direitos.
47 CORRÊA, L. R. A tessitura dos direitos: patrões e empregados na Justiça do
Trabalho. 1. ed. São Paulo: LTr, 2011. v. 1. 231p .
48 Ao contrário do que apontado por John French, a Justiça do Trabalho e o direito do trabalho eram possibilidades concretas de direito dos trabalhadores e não apenas uma estrutura para ―para inglês ver‖. FRENCH, John D. Afogados em leis:
a CLT e a cultura política dos trabalhadores brasileiros. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2001.
49 Sobre as crises institucionais de 1954 a 1964, consultar: DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. Brasil: 1954 - Prenúncios de 1964. Várias histórias. vol.21 no.34 Belo Horizonte, Jul. 2005.
21
Durante todo o percurso metodológico, esteve presente a não
existência de uma unidade especifica em torno da própria classe
trabalhadora, empresarial, mas também da Justiça do Trabalho, ou seja,
existem importantes diferenças entre os próprios agrupamentos sociais e
nas instituições, o que ultrapassa os limites da presente tese.50 Ao
pesquisar as reclamatórias envolvendo as diversas categorias profissionais
de Porto Alegre, ficou presente a existência de diferentes formas de
compreender a luta por direitos, perante o poder judiciário ou em outras
esferas como no chão de fábrica, nas assembleias sindicais e mesmo nas
greves.
Mesmo que a legislação social e a Justiça do Trabalho em suas
abordagens oficiosas tragam um discurso unificador, centrado
principalmente na CLT de 1943, ao observar na prática dos embates
jurídicos (as reclamatórias, as sentenças, os acórdãos e nos textos
doutrinários produzidos por advogados, procuradores, juízes e ministros ),
evidencia-se a existência de um campo de luta, repleto de avanços e
recuos para todos os lados.
50 As classes sociais e as instituições, assim como a classe trabalhado ra, precisam ser analisadas através da sua diversidade, das divisões e dos conflitos que ocorrem em seus interiores, segundo Claudio H.M. Batalha, Fernando Teixeira da Silva e Alexandre Fortes essa nova tendência tem ampliado o ―leque temático‖ da história do trabalho. Cláudio M. Batalha, Fernando T. da Silva e Alexandre Fortes (orgs.),Culturas de classe. Campinas, Unicamp, 2004, p.13. Nesse sentido, a
complexidade das posições de cada agrupamento social pode explicar em parte as decisões tomadas em cada interação social, não há como afirmar que no caso das ações judiciais a classe trabalhadora foi cooptada pelo Estado e sim que determinadas categorias dentro de sua própria lógica buscou aproveitar e utilizar as ferramentas de luta a seu alcance.
22
A presente tese optou por utilizar gama variada de fontes de
pesquisa e foi beneficiada pela disponibilização de informações
principalmente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região por meio de
seu Memorial e pela Coordenadoria de Gestão Documental do TST. Foi
possível a realização de entrevistas que colaboraram também para a
realização das análises desenvolvidas ao longo dos capítulos.
Além disso, diversas fontes foram coletadas na biblioteca da
faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, no Instituto Brasil Geografia e Estatística,
Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, Fundação
Escola da Magistratura do Trabalho do Eixo Grande do Sul, Associação dos
Juízes Classistas do Rio Grande do Sul e Museu Hipólito José da Costa.
Desta forma, realizou-se a pesquisa em 419 Dissídios coletivos envolvendo
sindicatos de Porto Alegre/RS no período 1958 a 1964, que permitiram
analisar a luta dos trabalhadores em suas diversas estratégias na obtenção
e efetivação de seus direitos. Na base de dados do Supremo Tribunal
Federal-STF avaliaram-se 233 acórdãos envolvendo principalmente
questões relativas ao direito de greve. Também foram estudados 5401
processos individuais ajuizados por trabalhadores perante a primeira Junta
de Conciliação e Julgamento-JCJ de Porto Alegre, possibilitando analisar
as principais motivações que levavam trabalhadores e patrões a recorrerem
aos tribunais.
Consultaram-se diversos periódicos nacionais e internacionais
sobre legislação e decisões judiciais com o intuito principal de verificar os
aspectos doutrinários envolvendo os temas no período enfocado pela tese.
Por fim, as informações foram organizadas em bancos de dados individuais
de cada uma das fontes no formato Microsoft Excel, permitindo o
cruzamento e a tabulação dos diversos conteúdos analisados no decorrer
dos capítulos.
23
A tese está dividida em quatro capítulos: no primeiro são
apresentadas as discussões jurídicas em torno da organização e ampliação
da Justiça do Trabalho na década de 1950 e as tentativas de
regulamentação do trâmite jurídico dos processos de cunho coletivo através
do poder normativo. Em seguida, é abordado especificamente o direito de
greve, com o objetivo de compreender o processo histórico de formulação e
consolidação da lei de greve vigente no período constitucional de 1946 a
1964.
O terceiro capítulo analisa as diferenças nos processos coletivos
encaminhados à Justiça do Trabalho, comparando os sindicatos
considerados ―mais fortes‖, com aqueles que preferiam negociar apenas
acordos judiciais. A intenção é ―esmiuçar‖ a diversidade das formas de
compreensão dos ritos judiciais, inclusive em relação à greve.
A quarta e última parte é dedicada ao resultado real do poder
normativo, com o intuito de verificar se as reivindicações dos
trabalhadores, presentes nos dissídios coletivos, foram asseguradas na
prática durante o período de maior mobilização da classe trabalhadora. A
análise esteve voltada para os dissídios individuais, para verificar quais as
demandas dos trabalhadores que recorriam aos tribunais. A questão que
permeia a leitura da tese é se teria havido ampliação efetiva de direitos dos
trabalhadores no período 1958 a 1964?
24
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Capítulo 1 - A Justiça do Trabalho de 1958 a
1964: a consolidação do poder judiciário do
trabalho e do entendimento sobre o poder
normativo
Desta já vimos como, na sua função essencial, que é dirimir os conflitos coletivos do trabalho [a Justiça do Trabalho], é indispensavelmente normativa e regulamentadora. Toda a controvérsia girará apenas em torno do problema da maior ou menor extensão do poder normativo das suas sentenças coletivas: se a empresa em conflito unicamente; se a categoria em crise; se as categorias conexas. De uma forma ou de outra, o caráter normativo da decisão é indiscutível: deriva da própria natureza do conflito.
VIANNA, Oliveira. Problemas de Direito Corporativo . Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1938, p.144.
A legislação trabalhista e a Justiça do Trabalho têm sido
revisitadas pela historiografia do trabalho nos últimos anos, o que tem
alterado a percepção de um Estado absoluto que teria regulamentado o
trabalho e submetido completamente os trabalhadores a uma estrutura
cerceadora, entre 1930 e 1945. O foco passou a ser as relações entre os
sindicatos, Estado, trabalhadores e patrões, em uma arena de disputas,
envolvendo a mobilização nos locais de trabalho, mas também nas ruas e
nos tribunais.51
Neste capítulo, analiso o poder normativo da Justiça do Trabalho,
sua aplicação e tentativas de modifica-lo ao longo do período de 1946 a
1964. A competência normativa da instituição pode ser resumida como o
51 Ver: SOUZA, Samuel. “Coagidos ou Subornados”: trabalhadores, sindicatos,
Estado e Leis do Trabalho nos anos 1930 (Tese de Doutoramento em História) IFCH/UNICAMP, 2007.
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poder de elaborar ―normas gerais e abstratas‖ no âmbito do direito coletivo
do trabalho, aplicado exclusivamente ao caso concreto, às categorias
profissionais e econômicas em litígio, conforme garantia a Constituição de
1946.
No final da década de 1950, segundo Paulo Emílio Ribeiro de
Vilhena, que defendeu tese de doutorado em direito no ano de 1961 sobre
a importância do poder normativo, foram ―pacificados, doutrinariamente e
jurisprudencialmente‖, os seus significados e limites. Segundo o autor, o
poder normativo é exercido por meio da sentença normativa que ultrapassa
a legislação ordinária e passa a ser propriamente a fonte de direito,
irradiando ―efeitos jurídicos e abstratos para o futuro‖.52 Entretanto, sua
aplicação é restrita especificamente às categorias profissionais envolvidas
no dissídio coletivo examinado pela Justiça do Trabalho.53
Na prática, porém, os efeitos da sentença normativa poderiam
extrapolar as restrições impostas a um grupo específico de trabalhadores,
pois uma determinada categoria profissional que tivesse um direito
respaldado por uma decisão normativa poderia servir de ― inspiração‖ a
outros sindicatos para reivindicar o mesmo ―beneficio‖. Essa realidade, que
foge dos livros doutrinários do período, seria uma consequência direta da
decisão normativa. O resultado do processo coletivo, além de influenciar as
reivindicações dos trabalhadores, também teria reflexos na própria
ampliação das reclamatórias trabalhistas, como se verá no terceiro capítulo
e ainda na legislação ordinária, com a aprovação de novos dispositivos
legais via Congresso nacional. Esse é o caso do 13º salário, conforme
veremos em detalhes mais adiante.
52 VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Da sentença normativa: à luz da emenda constitucional 45/04. LTr: São Paulo, 2006, p.17.
53Idem. Para justificar a ―pacificação ‖ do tema, o autor utiliza como referencia juristas e doutrinadores com publicações no período entre 1953 e 1960, entre eles: Moraes Filho, Süssekind, Maranhão, Viana, Cesarino Júnior e Russomano.
27
O período também é determinante para a ampliação e
consolidação da Justiça do Trabalho, com aumento considerável do número
de Juntas de Conciliação e Julgamento (JCJ), como se verá no terceiro
capítulo, além de importantes modificações no âmbito da segunda
instância, os Tribunais Regionais do Trabalho (TRT).54 Entre as principais
modificações na estrutura organizacional, as alterações previstas na lei nº
3.500 de 1958 possibilitaram o acréscimo no número de desembargadores
e a maior interiorização do Tribunal do Trabalho da 4ª Região. A tabela 1
mostra a composição do TRT4 antes e depois da lei de 1958:
Tabela nº1 - Juízes togados no TRT4 no período de 1941 a 1964
Período Juízes togados no Tribunal
Juízes classistas no Tribunal
1941-1957 6 2
1958-1964 16 2
Fonte: Dissídios Coletivos de 1941 a 1964. Memorial da Justiça do Trabalho no Rio Grande do Sul.
Ao analisar a composição do TRT4 após a lei nº 3.500 e a
situação anterior, percebe-se que a legislação consolidou a participação de
juízes convocados no Tribunal. Referendou-se a presença de juízes como
Bruno Sanvicente, Mozart V. Russomano e Carlos Barata Silva, os quais,
havia algum tempo, participavam dos julgamentos da segunda instância
decisória na condição de convocados. O que também chama atenção é a
ampliação da desproporção entre o número de juízes togados e classista, o
que em tese pode indicar uma modificação na forma de compreender o
funcionamento da Justiça do Trabalho. Criada para ser uma instituição
paritária, estaria buscando uma maior proximidade com outros ramos do
54 O Projeto de Lei PL 2347/1957 é um exemplo das proposições que visavam ampliar a estrutura da Justiça do Trabalho e originou a lei nº3.500 de 1958. Consultar: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=20254
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poder judiciário. Ainda cabe destacar que não foi alterado o número de
juízes classista, ou seja, aqueles que representavam os sindicatos
patronais e dos empregados.
Em relação à coletividade, a interiorização - com o aumento no
número de JCJs - permitiu ao presidente do Tribunal encaminhar aos juízes
das novas unidades judiciárias a instrução do processo. Isso quer dizer
que, apesar de os dissídios coletivos continuarem sendo julgados pelos
desembargadores em Porto Alegre, as reuniões com as partes envolvidas
nos processos poderiam ocorrer em suas cidades, e os encaminhamentos
judiciais, em tese, poderiam ser realizados por magistrados com maior
conhecimento da realidade vivida por aqueles trabalhadores e empresários.
O que pode ter facilitado o acesso à Justiça.
29
1.1. As alterações no funcionamento da Justiça do Trabalho
Ao pesquisar o sistema de tramitação dos projetos de lei
encaminhados ao Congresso Nacional entre 1946 e 1964, é possível
perceber a existência de um intenso debate entre os parlamentares em
relação a alterações no Direito e na Justiça do Trabalho. Foram
encontradas 204 propostas de criação de novas leis envolvendo o tema do
judiciário trabalhista. Dentre essas, 20 tratavam explicitamente da
ampliação do número de Juntas de Conciliação e Julgamento e Tribunais
Regionais e seu funcionamento, de alterações na CLT e no poder
normativo e da lei de greve55.
O grande número de proposições legislativas abarcando a Justiça
do Trabalho fortalece a hipótese de que a instituição vinha tendo um papel
decisivo nas negociações envolvendo a classe trabalhadora e que os
diversos setores da sociedade brasileira representados no Congresso
Nacional viam como uma necessidade interferir na sua organização,
especialmente nos períodos mais próximos ao golpe de 1964, quando a
instituição se consolidou como ―referência fundamental nas relações e nos
conflitos entre o capital e o trabalho‖.56
Dos projetos de lei que tramitaram no Congresso Nacional no
período entre a Constituição de 1946 e o golpe de 1964, alguns chamam a
atenção por tratarem diretamente da organização do poder judiciário do
trabalho. O primeiro57 foi encaminhado em 31 de julho de 1947 e visava
regulamentar a organização dos Tribunais Regionais e do Tribunal Superior
55 Os demais projetos tratavam basicamente de ajustes orçamentários e de regulamentação da carreira dos juízes e servidores da instituição.
56 SILVA, Fernando Teixeira da. Entre o acordo e o acórdão: a Justiça do Trabalho paulista na antevéspera do golpe de 1964. In . A Justiça do Trabalho e sua história. Org. GOMES, Angela de Castro; SILVA, Fernando Teixeira da. Ed.
Unicamp, Campinas, 2013.
57 Projeto de lei nº 519 de 1947, disponível em www.camara.gov.br.
30
do Trabalho, dividindo-os em instituições de primeira e segunda categoria58:
a primeira (estado do Rio de Janeiro) e a segunda região (estados de São
Paulo e Paraná) foram classificadas como de pr imeira categoria e eram
compostos por sete magistrados togados, mais quatro juízes 59
representantes dos sindicatos patronais e empregados. 60
Das 20 proposições legislativas apresentadas no quadro nº1, a
seguir, o arquivamento foi o destino de 17, e apenas t rês tornaram-se leis.
O primeiro projeto apresentado após a Constituição de 194661 visava
regulamentar o funcionamento da estrutura institucional, com os seguintes
títulos: dos tribunais e juízes, dos advogados e solicitadores, dos serviços
auxiliares da justiça, do cartório do juízo de direito, dos funcionários da
justiça e das disposições gerais e transitórias. Foi proposto de maneira
colegiada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos
Deputados, tendo tramitação entre 1947 e 1965, mas não chegou a ser
58 De acordo com o Decreto-lei nº9797 de 9 de setembro de 1946. Disponível em: www.camara.leg.br. Acesso em 26 de setembro de 2013.
59 Os juízes representantes dos sindicatos patronais e empregadores eram chamados de juízes classistas. Escolhidos por meio de eleições sindicais integravam as JCJs, que eram compostas por dois classistas e um juiz togado. Os Tribunais Regionais e o TST também eram compostos por classistas e togados até a aprovação da Emenda constitucional 24, em 1999, que extinguiu a representação sindical na Justiça do Trabalho. Ver: VIEIRA, Pedro Benjamin; TOURON, Ramon Castro. Importância da representação paritária na Justiça do Trabalho. São Paulo: LTr, 1993 e PRUNES, José Luiz Ferreira. A representação classista na Justiça do Trabalho. 2.ed. Curitiba: JURUÁ, 1995.
60 Diário do Congresso Nacional. Ano II, 01 de agosto de 1947 p.4602-4206. Os magistrados de segundo grau, assim como os Ministros do TST, eram nomeados diretamente pelo presidente da República, com indicações de juízes togados ou sindicatos.
61 Projeto de lei nº 519/1947 – Diário Oficial da Câmara. 1 agos. 1947, p. 2206 a 2210. Disponível em http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD01AGO1947.pdf#page=6. Acesso em 1 fev. 2013.
http://www.camara.leg.br/http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD01AGO1947.pdf#page=6
31
debatido nas comissões nem no plenário, sendo arquivado em 27 de
novembro de 1965.
Quadro 1 - Projetos envolvendo modificações na legislação do trabalho ou na Justiça do Trabalho encaminhados ao Congresso Nacional no período de 1946 a 1964.
Projeto de Lei
Autor Data Tema
519/1947 Comissão de Constituição e
Justiça
31/07/1947 Organiza a Justiça do Trabalho.
1471/1949
Comissão Mista de Leis
Complementares
1949 Dispõe sobre os dissídios coletivos de trabalho,
regulando o artigo 123, parágrafo segundo, e o artigo 158 da Constituição Federal.
3570/1953
Aarão Steinbruch - PTB/RJ.
09/09/1953 Estende à Justiça do Trabalho a ação rescisória.
3637/1953
Nelson Omegna - PTB/SP
22/09/1953 Altera a redação do artigo 878 da CLT, que dispõe sobre a
execução das decisões proferidas pela Justiça do
Trabalho.
3960/1953
Poder Executivo.
10/12/1953 Altera dispositivos da CLT na parte relativa à Justiça do
Trabalho.
523/1955 Armando Correa - PSD/PA.
09/08/1955 Institui a lei orgânica da Justiça do Trabalho.
905/1956 Machado Sobrinho - PTB/MG
29/12/1956 Condena ao pagamento dos juros legais e honorários de advogado a empresa que causar a ruptura do contrato de trabalho por dolo ou culpa e estabelece e cria, na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária trabalhista e a função de advogado de ofício, nas condições que determina.
3212/1957
Carlos Lacerda - UDN/DF
12/09/1957 Estende aos empregados de pessoas e de instituições sem fins econômicos, comparadas às empresas mencionadas no
http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=214556http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=214556http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=217505http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=217505http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=178277http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=184261http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=210654http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=210654
32
parágrafo primeiro do artigo segundo da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovado pelo decreto-lei 5452, de 1º de março de 1943, o direito de sindicalização e os efeitos de sentenças normativas da Justiça do Trabalho e da outras providências. Explicação: equipara entidades a empregador.
693/1959 Adylio Martins Vianna - PTB/RS.
31/07/1959 Dá nova redação ao artigo 894 da Consolidação das Leis do
Trabalho.
746/1959 Oscar Correa - UDN/MG.
07/08/1959 Transfere da instância administrativa e da Justiça comum para a Justiça do
Trabalho do julgamento das controvérsias referentes à
previdência social.
2133/1960
Jose Talarico - PTB/GB.
04/08/1960 Dá nova redação ao artigo 841 da CLT., permitindo a
imposição de embargos às decisões do TST.
3146/1961
Vasconcelos Torres - PSD/RJ.
11/07/1961
Altera o artigo 663 do decreto-lei 5452 de 1943 da CLT.
3170/1961
Vasconcelos Torres - PSD/RJ.
11/07/1961 Regula a recondução dos vogais da Justiça do Trabalho.
3269/1961
Bocayuva Cunha - PTB/RJ.
14/08/1961 Reconhece à Justiça do Trabalho competência para
fixar salário profissional mínimo.
3317/1961
Miguel Bahury - PSD/MA.
21/08/1961 Acrescenta dois parágrafos ao artigo 645 do decreto-lei 5452,
de 1º de maio de 1943 (Consolidação das Leis do
Trabalho).
3473/1961
Jose Raimundo - PTB/MG.
18/10/1961
Altera os artigos 670 e 693 do decreto-lei 5452, de 1º de maio de 1943 (CLT), dispondo sobre a composição dos Tribunais Regionais.
4536/1962
Aurelio Viana - PSB/AL
12/07/1962 Modific