DISCIPLINA TEOLÓGICADISCIPLINA TEOLÓGICADISCIPLINA TEOLÓGICA
REALIZAÇÃO:
Igreja Renovação em Cristo
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Igreja Renovação em Cristo
EclesiologiaEclesiologiaEclesiologia
ITER – Instituto Teológico Renovação Eclesiologia - A Doutrina da Igreja 1
INSTITUTO TEOLÓGICO RENOVAÇÃO - ITER
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Sobre o livro Didático
Categoria – Teologia Sistemática Execução - 2017 1ª Edição Título Original: Eclesiologia - A Doutrina da Igreja
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Índice Catálogo Sistemático
1- Referência – Teologia Sistemática
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INTRODUÇÃO
Uma área da teologia cristã frequentemente desprezada ou tomada por certa é a
doutrina da Igreja (Eclesiologia). Tal descuido deve-se, em parte, à suposição comum
de que algumas áreas do estudo teológico são mais essenciais para a salvação e a
vida cristã, como por exemplo, as doutrinas de Cristo e da salvação. A Igreja é
assunto que muitos cristãos consideram conhecido. Afinal de contas, tem sido parte
regular de sua vida. Que proveito haveria no estudo extensivo de algo tão comum e
rotineiro na experiência da maioria dos crentes? A resposta, logicamente, é: bastante.
As Escrituras, juntamente com a história do desenvolvimento e expansão do
Cristianismo, oferecem uma riqueza de introspecções à natureza e propósito da
Igreja. Adquirir melhor conhecimento teológico sobre a Igreja não é somente um
exercício acadêmico digno de nossa atenção. Torna-se essencial para obtermos uma
perspectiva correta da teologia que deve ser aplicada à vida diária.
A Igreja foi projetada e criada por Deus. É a sua maneira de prover alimento espiritual
para o crente e oferecer uma comunidade de fé através da qual o Evangelho é
proclamado e a sua vontade progride a cada geração. Logo, a doutrina da Igreja trata
de questões de importância fundamental para o nosso comportamento cristão
individual e a correta compreensão corpórea da vida e ministério cristãos.
Vemos o uso da palavra “igreja” por toda a parte, mas seu significado é
frequentemente muito diferente. Algumas pessoas usam “igreja” para descrever um
belo edifício no centro de uma praça proeminente. Outros a usam para descrever uma
organização religiosa mundial. As definições confusas de igreja, em nosso tempo,
muitas vezes vedam o significado original desta palavra quando aplicada, no Novo
Testamento, ao povo de Deus. Alguma vez você já se questionou ou então foi
questionado por alguém sobre: Qual é a origem da igreja? Por que e para que nós
precisamos dela? De que maneira a igreja pode vir a se tornar uma bênção em
nossas vidas? As respostas a estas e outras perguntas, poderão ser encontradas no
conteúdo desta apostila. Bom estudo!
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ECLESIOLOGIA – A DOUTRINA DA IGREJA
I. DEFINIÇÕES E CONCEITOS
1. ETIMOLOGIA
Eclesiologia. Do grego ekklesia (assembleia; congregação) + (logos = revelação;
palavra; discurso; doutrina; raciocínio). Podemos definir Eclesiologia como uma
reflexão científica sobre toda a realidade da Igreja à luz de quanto Deus nos revelou
para alcançar um conhecimento orgânico e proveitoso para a Igreja.
2. DEFINIÇÃO DE IGREJA
A igreja é um aspecto da doutrina cristã sobre o qual praticamente todos, crentes e
descrentes, têm uma opinião. Em parte, é porque, sendo uma instituição da
sociedade, a igreja pode ser observada e estudada pelos métodos da ciência social.
Isso, porém, nos apresenta um dilema. Podemos ser tentados a definir igreja pelo que
é empiricamente. Tal abordagem, no entanto, poderia confundir o real com o ideal e,
assim, por mais interessante que seja, deve ser evitada. Entende-se por igreja a
totalidade dos salvos em Cristo, dos que estão compromissados com a Obra do
Senhor, dos separados (santos) pela aceitação de Jesus como Senhor e Salvador. A
igreja é aqui na terra o corpo místico de Cristo. Nesta acepção, é chamada igreja
invisível, a que tem vida interior, espiritual. Cristo é a cabeça desse corpo. Dá-se o
nome de Igreja Local ao grupo de pessoas chamadas de membros - unidas na
mesma fé em Cristo Jesus, que se reúnem regularmente em determinado lugar, sob a
coordenação e direção de um chefe espiritual. Neste caso, chama-se igreja visível, ou
seja, a igreja institucional, organizada, formal, terrena.
3. O INÍCIO DE TUDO
Para entendermos a origem da igreja, é necessário que façamos uma “viagem no
tempo”. A Igreja, como Família de Deus, começou no Jardim do Éden. Ali Deus
manifestou Seu propósito de reunir uma família, um povo só Seu. Desde o princípio,
esteve no coração de Deus o desejo de que o Seu povo estivesse reunido em um
ambiente onde pudesse prestar a Ele louvores e uma adoração coletiva. O desejo de
Deus sempre foi o de “habitar” no meio de Seu povo: “E me farão um santuário, e
habitarei no meio deles... E habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei o seu
Deus, e saberão que eu sou o SENHOR seu Deus, que os tenho tirado da terra do
Egito, para habitar no meio deles. Eu sou o SENHOR seu Deus.” (Ex 25.8; 29.45-46)
Nos dias de Moisés, durante a peregrinação no deserto, foi construído então o
“Tabernáculo de Israel” ou “Tabernáculo de Moisés”. Uma tenda portátil que podia ser
transportada de um lugar para outro durante as peregrinações no deserto. Esse
tabernáculo foi totalmente planejado e arquitetado por Deus e também serviu como
tipologia do que haveria de ser a vida, o ministério e a obra redentora de Jesus.
O próprio autor da epístola aos Hebreus declarou o seguinte sobre o Tabernáculo de
Israel e seus utensílios: “Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais,
como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque
foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou.” (Hb 8.5).
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Poderíamos passar meses – ou até mesmo anos – estudando os diversos detalhes do
Tabernáculo de Israel que, ainda assim, não conseguiríamos entender por completo
toda a sua engenhosidade, complexidade, magnitude e excelência. O Tabernáculo foi
tido como sendo a “Casa de Deus” em Israel, durante 400 anos. Durante a maior
parte do tempo, ficou em Siló. Com o passar dos anos e devido a inúmeros fatores
históricos, o Tabernáculo de Israel (primeiro espaço construído para o culto ao Deus
vivo) foi substituído por outras construções descritas a seguir:
TEMPLO DE SALOMÃO - Sua glória foi de pouca duração. Foi saqueado cinco anos
depois da morte de Salomão e destruído pelos babilônios 340 anos mais tarde, em
586 a.C.
TEMPLO DE ZOROBABEL - Também foi chamado de “Segundo Templo”.
Construído depois da volta do cativeiro, permaneceu durante 500 anos.
TEMPLO DE HERODES - Foi nesse templo que o Senhor Jesus entrou. Era uma
ampliação do templo de Zorobabel. Construído por Herodes, o Grande, era um
edifício realmente magnífico de mármore e ouro, cercado por pátios e pórticos. Foi
destruído pelos romanos no ano 70 d.C.
Ainda assim, o modelo de igreja que conhecemos hoje não veio dos templos antigos;
e sim de outra organização formada durante o tempo em que o povo de Israel, ficou
cativo na Babilônia. Essa organização recebeu o nome hebraico kahal, que significa
“reunidos juntos”. A kahal foi considerada como sendo a Igreja do Antigo Testamento.
A tradução da palavra kahal para o grego (idioma do NT) é sinagoge (synagôgé). Em
português essa palavra foi traduzida como “sinagoga”. Vejamos um pouco mais sobre
ela para que nós possamos entender em que aspecto ela se assemelha à igreja dos
dias atuais:
4. A SINAGOGA E SUA ESTRUTURA
Como vimos anteriormente, após a posse da terra prometida (Canaã), o Tabernáculo
de Israel foi substituído pelo Templo construído por Salomão. Por causa da idolatria
do povo de Israel (cf. Ez 8.1-18), o Templo foi destruído e povo levado cativo para a
Babilônia. Lá, um grupo formado por
dez pessoas, fundou a primeira
sinagoga, que era um local onde o
povo de Israel estudava a Palavra,
orava e cantava hinos espirituais
(salmos). O objetivo da sinagoga era
instruir os filhos de Israel nas coisas
de Deus, para que não se
esquecessem Dele e assim fossem
absorvidos pelas religiões do lugar
para onde tinham sido levados. Muitos
anos depois, o povo de Israel retornou da Babilônia e reconstruiu o Templo que havia
sido destruído por Nabucodonosor. Mesmo com a reconstrução do Templo a
sinagoga permaneceu em atividade.
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Sinagoga
1. Entrada, virada para Jerusalém.
2. Arca, contendo rolos das Escrituras.
3. Púlpito.
4. Banco dos Anciãos.
5. Galeria das mulheres e crianças.
6. Pátio.
Nos dias de Cristo, a sinagoga tinha um papel muito importante para a comunidade
judaica, já que ela era o centro de educação religiosa e de orientação espiritual do
povo. Quando Jesus iniciou o seu ministério, a sinagoga representava uma grande
força em sua terra, que não poderia ser ignorada. Depois do templo de Jerusalém, era
a instituição religiosa mais importante. Apesar de amar e zelar pela casa do Pai, o
templo, o Senhor Jesus identificou-se mais com a sinagoga. A grande vantagem da
sinagoga era que ela se achava mais acessível ao povo em geral. Por causa disso, foi
nos cultos da sinagoga que a igreja cristã iniciante causou maiores impactos. Em
algumas sinagogas realizavam-se reuniões onde “fervilhavam” intrigas políticas e
ideias de revolta contra o governo romano. Mas outras eram bem tradicionais,
acomodadas, que evitavam entrar em controvérsias. Embora não se possa afirmar
que houvesse duas sinagogas exatamente iguais, algumas características básicas
eram comuns à maioria. Todas elas eram semelhantes no aspecto de possuir as
quatro peças de mobiliário, as quais eram:
ARCA. Era chamada o sacrário de Torá e sua função era conter os rolos das
Escrituras.
BEMA. Era uma espécie de plataforma de onde se liam as Escrituras.
BANCOS. Assentos que ficavam encostados a duas ou três paredes. No centro, às
vezes, colocavam-se esteiras e em alguns casos cadeiras.
LÂMPADAS DO MENORÁ. As luzes eram um adereço importante na sinagoga, não
apenas por razões de ordem prática, mas também como um símbolo da presença de
Deus. A maior parte dos interesses das sinagogas era administrada por uma
comissão de dez anciãos. A liderança principal era exercida por dois homens, os
quais eram:
CHEFE DA SINAGOGA. Esse cargo é mencionado no Novo Testamento e designa
um supervisor geral. Quando Jesus ia de um lugar para outro, era convidado para
pregar nas sinagogas (isso acontecia porque Jesus era considerado como sendo uma
pessoa ilustre): “Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galileia, e a sua
fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por
todos era louvado.” (Lc 4.14-15).
HAZZAN. Era um funcionário da sinagoga, e para isso recebia salário. Era um
assistente encarregado de retirar do baú os rolos que deveriam ser lidos, e guardá-los
após a leitura. Na ocasião que Jesus leu o livro de Isaías, assim que terminou a
leitura, devolveu-o ao assistente: “E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro,
assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.” (Lc 4.20) Quando o
Senhor Jesus iniciou o Seu ministério, havia entre os judeus diversos grupos, todos
com objetivos próprios. Mas nenhum deles admitia abrir espaço para Ele exercitar ali
sua liderança. Fortemente resistentes a mudanças, sentiam-se ameaçados por um
forasteiro que afirmava possuir um reino, e ter vindo de Deus.
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II. A EDIFICAÇÃO DA IGREJA
Para os judeus, o grande problema de Jesus era Ele ser diferente. Se Ele estivesse
“dentro dos padrões”, poderia ser aceito por eles. Como podia ter sido enviado por
Deus, se não se identificava com as causas que lutavam? Eles haviam pagado um
preço muito elevado para conseguir a posição que agora detinham, e não iriam abrir
mão dela para seguir Jesus e a doutrina inovadora que pregava. Foi quando o Senhor
Jesus, em uma conversa informal que estava tendo com os Seus discípulos, fez uma
declaração que mudou radicalmente todo conceito de “congregação” que havia na
mente daqueles homens. Durante sua conversa com os discípulos, o Senhor Jesus se
dirigiu a Pedro e disse:
“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16.18).
Na afirmação acima, o Senhor Jesus disse que edificaria a Sua própria congregação
a qual chamou de “igreja”, do grego ekklesía que significa “reunião”, “assembleia” ou
“congregação”. O termo aplica-se a todo o corpo de cristãos em uma cidade (At
11.22; 13.1); a uma congregação (1Co 14.19,35; Rm 16.5) e a todo o corpo de
crentes (Ef 5.32).
A palavra, oriunda da filosofia grega, surgiu por volta do ano 800 antes de Cristo para
designar os cidadãos atenienses que, “chamados para fora” de suas casas, se
reuniam em praça pública para tratar dos interesses da cidade. Foi aí que surgiu o
conceito de democracia. O significado da palavra ekklesía em si, não era
desconhecido dos judeus, pois, uma expressão semelhante (congregação) já era
utilizada por eles desde o Antigo Testamento:
“Então falou Moisés ao SENHOR, dizendo: O SENHOR, Deus dos espíritos de toda a carne, ponha um
homem sobre esta congregação, que saia diante deles, e que entre diante deles, e que os faça sair, e
que os faça entrar; para que a congregação do SENHOR não seja como ovelhas que não têm pastor”
(Nm 27.15-17).
Jesus se utiliza desta expressão grega para, em uma linguagem mais
contemporânea, dizer aos discípulos que Ele também teria a sua “ekklesía”, ou seja,
os seus “chamados para fora” (do mundo). Este conceito tem a ver com a santificação
dos filhos de Deus – tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. A idéia
do “chamar para fora” tem início com Abraão, quando este foi “chamado para fora da
terra de seus pais” (que era Ur dos caldeus), a fim de ser levado para a terra que
Deus daria aos seus descendentes:
VALE A PENA SABER: No Antigo Testamento a palavra hebraica koheleth (derivado de kahal, “reunir-se”), literalmente significa “aquele que reúne uma assembleia e lhe dirige a palavra”. Este termo é geralmente traduzido por “pregador” ou “mestre”. A palavra correspondente no grego da Septuaginta é ekklesiastes, e dela deriva o título do livro “Eclesiastes” em português. A obra inteira, portanto, é uma série de ensinos por um orador público bem conhecido.
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“Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra
que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu
serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em
ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.1-3).
Abraão fora chamado para fora de um contexto de vida, que não era de acordo com
os padrões de Deus, para ir a uma terra e iniciar uma linhagem da qual seria
levantada uma nação que deveria viver segundo os padrões de Deus. Uma análise
teológica mostra que Deus chama Seu povo, que é especial, para fora de um contexto
que é adverso à Sua santidade, para ser um povo santo, e que para isto precisa estar
separado do mundo, o contexto contrário à vontade de Deus (cf. Lv 11.44-45).
Se você foi chamado, então, foi chamado para fora. Se Deus o chamou, Ele o fez
para que você viva, em espírito, fora do sistema mundano.
Também seguindo a mesma linha de pensamento a palavra “edificarei”, do grego
oikodomésô, proferida por Jesus quer dizer “fundar uma família, uma sociedade
unida, um povo”. A Igreja do Senhor Jesus seria uma “casa de família espiritual”.
A diferença em relação às congregações anteriores dos judeus é que a Igreja deixaria
de ser apenas um grupo organizado de pessoas, mas uma própria família – a Família
de Cristo. O Seu povo seria escolhido por Ele mesmo, chamado por Seu nome e
autoridade. A Igreja é um organismo vivo! Representa um Corpo, uma Família, um
Rebanho. O escritor aos Hebreus referiu-se a igreja da seguinte forma:
“Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente
conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” (Hb 3.6).
No Antigo Testamento a Igreja era identificada como sendo apenas a nação de Israel.
Ali estava o povo de Deus congregado. Assim era conhecida a Congregação de
Israel, ou Igreja de Israel. Com a vinda de Jesus, a identificação do povo de Deus
passou a ser essencialmente espiritual e não racial. Os israelitas eram o Povo de
Deus, mas qualquer um, de qualquer nação, podia, pela fé no Filho de Deus e
observância nas Suas leis, agregar-se a essa nova comunidade e identificar-se como
Servo de Deus. Foi pensando nisso que o apóstolo Paulo escreveu aos coríntios e
depois também aos efésios:
“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer
servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1Co 12.13).
“Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de
Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal
pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual
também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito” (Ef 2.19-22).
O que ocorreu em Pentecostes foi a inauguração de uma nova fase da Igreja, ou seja,
a sua internacionalização. A Igreja passou a abranger uma multidão de povos,
nações, tribos e línguas. A vinda de Jesus quebrou o muro que Israel havia levantado
com os outros povos.
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III. A NATUREZA DA IGREJA
A natureza da Igreja
Que é a igreja? A questão pode ser solucionada considerando:
1. As palavras que descrevem essa instituição;
2. As palavras que descrevem os cristãos;
3. As ilustrações que descrevem a Igreja.
1. Palavras que descrevem a Igreja.
A palavra grega no Novo Testamento para igreja é ekklesia, que significa “uma
assembleia de chamados para fora”. O termo aplica-se a:
1) Todo o corpo de cristãos em uma cidade (At 11.22; 13.1)
2) Uma congregação (1Co 14.19,35; Rm 16.5)
3) Todo o corpo de crentes na terra (Ef 5.32)
2. Palavras que descrevem os cristãos.
a) Irmãos. A igreja é uma fraternidade ou comunhão espiritual, no qual foram
abolidas todas as divisões que separam a humanidade.
- “não há grego nem judeu”. A mais profunda de todas as divisões baseadas na
história religiosa é vencida;
- “não há grego nem bárbaro”. A mais profunda de todas as divisões culturais é
vencida;
- “não há servo ou livre”. A mais profunda de todas as divisões sociais e econômicas é
vencida;
- “não há macho nem fêmea”. A mais profunda de todas as divisões humanas é
vencida. (Cl 3.11; Gl 3.28).
b) Crentes. Os cristãos são chamados “crentes” porque sua doutrina característica é
a fé no Senhor Jesus.
“Jesus projetou, claramente, a existência duma sociedade de seus seguidores que daria aos
homens seu Evangelho e ministraria à humanidade no seu Espírito, e que trabalharia pelo
aumento do Reino de Deus como Ele o fez. Ele não modelou nenhuma organização e nenhum
plano de governo para essa sociedade. Ele fez algo mais grandioso que lhe dar organização —
ele lhe concedeu vida. Jesus formou essa sociedade de seus seguidores chamando-os a unirem-
se a ele, comunicando-lhes, durante o tempo em que esteve no mundo, tanto quanto fosse
possível, de sua própria vida, de seu Espírito e de seu propósito. Ele prometeu continuar até ao
fim do mundo concedendo sua vida à sua sociedade, à sua Igreja. Podemos dizer que seu dom à
igreja foi ele mesmo”. Robert Hastings Nichols.
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c) Santos. São chamados “santos” (literalmente “consagrados ou piedosos”) porque
estão separados do mundo e dedicados a Deus.
d) Os eleitos. Refere-se a eles como “eleitos”, ou os “escolhidos”, porque Deus os
escolheu para um ministério importante e um destino glorioso.
e) Discípulos. São “discípulos” (literalmente “aprendizes”), porque estão sob
preparação espiritual com instrutores inspirados por Cristo.
f) Cristãos. São “cristãos” porque sua religião gira em torno da Pessoa de Cristo.
g) Os do Caminho. Nos dias primitivos muitas vezes eram conhecidos como “os do
Caminho” (Versão Brasileira) (At 9.2) porque viviam de acordo com uma maneira
especial de viver.
3. Ilustrações da igreja.
(a) O corpo de Cristo. O Senhor Jesus Cristo deixou este mundo há mais de vinte
séculos; entretanto, Ele ainda está no mundo. Com isso queremos dizer que sua
presença se faz sentir por meio da Igreja, a qual é seu corpo. Assim como Ele viveu
sua vida natural na terra, em um corpo humano individual, assim também Ele vive sua
vida mística em um corpo tomado da raça humana em geral. Na conclusão dos
Evangelhos não foi escrito: “Fim”, mas, “Continua”, porque a vida de Cristo continua a
ter expressão por meio de seus discípulos como se evidencia no livro de Atos dos
Apóstolos e pela subsequente história da Igreja. “Assim como o Pai me
enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20.21). “Quem vos recebe, a mim me recebe”
(Mt 10.40). Antes de partir da terra, Cristo prometeu assumir esse novo corpo.
Entretanto, usou outra ilustração: “Eu sou a videira, vós as varas” (Jo 15.5). A videira
está incompleta sem as varas e as varas nada são à parte da vida que flui da videira.
Se Cristo há de ser conhecido pelo mundo, terá que ser mediante aqueles que tomam
o seu nome e participam de sua vida. Na medida em que a Igreja tem-se mantido em
contato com Cristo, sua Cabeça, assim tem participado de sua vida e experiências.
Assim como Cristo foi ungido no Jordão, assim também a Igreja foi ungida em
Pentecostes. Jesus andou pregando o Evangelho aos pobres, curando
os quebrantados de coração, e pregando libertação aos cativos; e a verdadeira Igreja
sempre tem seguido suas pisadas. “Qual ele é, somos nós também neste mundo”
(1Jo 4.17). Assim como Cristo foi denunciado como uma ameaça política e,
finalmente, crucificado, assim também sua Igreja, em muitos casos, tem sido
crucificada (figurativamente falando) por governantes perseguidores. Mas tal qual o
seu Senhor, ela ressuscitou!
A vida de Cristo dentro dela a torna indestrutível. Este pensamento da identificação
da igreja com Cristo certamente estava na mente de Paulo quando falou: “na minha
carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo corpo, que é a igreja” (Co 1.24). O
uso dessa ilustração faz lembrar que a Igreja é um organismo e não meramente uma
organização (ver caps. V e VI deste estudo). Uma organização é um grupo de
indivíduos voluntariamente associados com um propósito especial, tal como uma
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organização fraternal ou um sindicato. Um organismo é qualquer coisa viva, que se
desenvolve pela vida inerente. Usado figuradamente, significa a soma total das partes
entrelaçadas, na qual a relação mútua entre elas implica uma relação do conjunto.
Desse modo, um automóvel poderia ser considerado uma “organização” de certas
peças mecânicas; o corpo humano é um organismo porque é composto de muitos
membros e órgãos animados por uma vida comum. O corpo humano é um, embora
seja composto de milhões de células vivas. Da mesma maneira o Corpo de Cristo é
um, embora composto de almas nascidas de novo. Assim como o corpo humano é
vivificado pela alma, da mesma maneira o corpo de Cristo é vivificado pelo Espírito
Santo. “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo” (1Co 12.13).
Os fatos supracitados indicam uma característica única da religião de Cristo. Assim
escreve W. H. Dunphy: “Ele — e unicamente ele — dos fundadores de religião,
produziu um organismo permanente, uma união permanente de mentes e
almas, concentradas em torno de sua Pessoa”. Os cristãos não são meramente
seguidores de Cristo, senão membros de Cristo e membros uns dos outros. Buda
reuniu sua sociedade de “esclarecidos”, mas a relação entre eles não passa de
relação externa, de mestre para com o aluno. O que os une é sua doutrina, e não a
sua vida. O mesmo pode dizer-se de Zoroastro, de Sócrates, de Maomé, e dos outros
religiosos da raça. Mas Cristo não somente é Mestre, ele é a vida dos cristãos. O que
ele fundou não foi uma sociedade que estudasse e propagasse suas ideias, mas um
organismo que vive por sua vida, um corpo habitado e guiado por seu Espírito.
(b) O templo de Deus. (1Pe 2.5,6.) Um templo é um lugar em que Deus, que habita
em toda parte, se localiza a si mesmo em determinado lugar, onde seu povo o possa
achar “em casa” (1Rs 8.27). Assim como Deus morou no Tabernáculo e no templo,
assim também vive, por seu Espírito, na Igreja (Ef 2.21,22; 1Co 3.16,17). Neste
templo espiritual, os cristãos, como sacerdotes, oferecem sacrifícios espirituais,
sacrifícios de oração, louvor e boas obras.
(c) A noiva de Cristo. Essa é uma ilustração usada tanto no Antigo como no NT para
descrever a união e comunhão de Deus com seu povo (2Co 11.2; Ef 5.25-27; Ap 19.7;
21.2; 22.17.) Mas devemos lembrar que é somente uma ilustração, e não se deve
forçar sua interpretação. O propósito dum símbolo é apenas iluminar um determinado
lado da verdade e não o de prover o fundamento para uma doutrina.
IV. A FUNDAÇÃO DA IGREJA
1. Considerada profeticamente.
Israel é descrito como uma igreja no sentido de ser uma nação chamada dentre as
outras nações a ser um povo de servos de Deus. (At 7.38.) Quando o Antigo
Testamento foi traduzido para o grego, a palavra “congregação” (de Israel) foi
traduzida ekklesia ou “igreja”. Israel, pois, era a congregação ou a igreja de Yavé.
Depois de a igreja judaica o ter rejeitado, Cristo predisse a fundação duma nova
congregação ou igreja, uma instituição divina que continuaria sua obra na terra (Mt
16.18). Essa é a Igreja de Cristo, que veio a ter existência no dia de Pentecoste.
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2. Jesus - O Fundador da Igreja.
A Igreja começou quando dois discípulos de João Batista ouviram-no dizer: “Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). João fala de Jesus que por
ali passava, e logo os dois discípulos dele uniram-se a Jesus (Jo 1.37).
Como já foi mencionado, já havia a “igreja” judaica ou congregação, por todo o tempo
no AT. Porém, o termo “igreja” só é encontrado, pela primeira vez nos lábios do
Senhor, em Mt 16.18, e em Mt 18.17. São essas as únicas ocasiões que este termo é
mencionado nos Evangelhos.
Conclui-se então, que foi intenção de Jesus fundar um organismo de caráter
permanente. A promessa feita em vida por Jesus: “Mas aquele Consolador, o Espírito
Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará
lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.26) cumpriu-se em Pentecostes. O que
aconteceu depois daquele dia? Eles jamais seriam os mesmos (At 1.5). Pedro cheio
de poder anunciou a Palavra e três mil pessoas se converteram. Era a Igreja que
nascia reunindo-se no templo e de casa em casa, como podemos ver em At 5.42.
3. Considerada Historicamente.
A Igreja de Cristo veio a existir, como Igreja, no dia de Pentecoste, quando foi
consagrada pela unção do Espírito. Assim como o Tabernáculo foi construído e
depois consagrado pela descida da glória divina (Ex 40.34), assim os primeiros
membros da Igreja foram congregados no cenáculo e consagrados como Igreja pela
descida do Espírito Santo. É muito provável que os cristãos primitivos vissem nesse
evento o retorno da essência da shekinah (a habitação da glória kavod manifesta no
Tabernáculo e no templo) que, havia muito, partira do templo, e cuja ausência era
lamentada por alguns dos rabinos. Davi juntou os materiais para a construção do
templo, mas a construção foi feita por seu sucessor, Salomão. Da mesma maneira,
Jesus, durante seu ministério terreno, havia juntado os materiais da sua Igreja, por
assim dizer, mas o edifício foi erigido pelo Espírito Santo. Realmente, essa obra foi
feita pelo Espírito, operando mediante os apóstolos que lançaram os fundamentos e
edificaram a Igreja por sua pregação, ensino e organização. Portanto, a Igreja é
descrita como sendo “edificados sobre o fundamento dos apóstolos...” (Ef 2.20).
4. Os membros da Igreja.
O Novo Testamento estabelece as seguintes condições para os membros da igreja:
Fé implícita no Evangelho e confiança sincera e de coração em Cristo como o
único e divino Salvador (At 16.31);
Submeter-se ao batismo nas águas como testemunho simbólico da fé em
Cristo; e
Confessar verbalmente essa fé (Rm 10.9,10).
No princípio, praticamente todos os membros da Igreja eram verdadeiramente
regenerados. “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam
de salvar” (At 2.47). Entrar na Igreja não era uma questão de unir-se a uma
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organização, mas de tornar-se membro de Cristo, assim como o ramo é enxertado na
árvore. No transcurso do tempo, entretanto, conforme a Igreja aumentou em número e
em popularidade, o batismo nas águas e a catequese tomaram o lugar da conversão.
O resultado foi um influxo na Igreja de grande número de pessoas que não
eram cristãs de coração. E desde então, essa tem sido a condição da cristandade.
Assim como nos tempos do Antigo Testamento havia um Israel dentro de um Israel,
israelitas de verdade, bem como israelitas nominais, assim também no transcurso da
história da Igreja vemos uma igreja, dentro da Igreja, cristãos verdadeiros no meio de
cristãos apenas de nome. Portanto, devemos distinguir entre a Igreja invisível,
composta dos verdadeiros cristãos de todas as denominações, e a igreja visível,
constituída de todos os que professam ser cristãos — a primeira, composta daqueles
cujos nomes estão escritos no céu; a segunda, compreendendo aqueles cujos nomes
estão registrados no rol de membros das igrejas. Nota-se a distinção em Mateus
13, onde o Senhor fala dos “mistérios do reino dos céus” — expressão essa que
corresponde à designação geral “cristandade”.
As parábolas nesse capítulo esboçam a história espiritual da cristandade entre o
primeiro e o segundo advento de Cristo, e nelas aprendemos que haverá uma mistura
de bons e maus na Igreja, até a vinda do Senhor, quando a Igreja será purificada e se
fará separação entre o genuíno e o falso. (Mt 13.36-43, 47-49.) O apóstolo Paulo
expressa a mesma verdade quando compara a Igreja a uma casa na qual há muitos
vasos, uns para honra e outros para desonra. (2Tm 2.19-21).
É a Igreja sinônimo do Reino de Deus? Que a Igreja seja uma fase do Reino entende-
se pelo ensino de Mt 16.18, 19, pelas parábolas em Mt 13, e pela descrição de Paulo
da obra cristã como sendo parte do Reino de Deus (Cl 4.11). Sendo “o Reino dos
céus” uma expressão extensa, podemos descrever a Igreja como uma parte do Reino.
William Evans assim escreveu: “A Igreja pode ser considerada como uma parte do
Reino de Deus, assim como o Estado de Illinois é parte dos Estados Unidos”. A Igreja
prega a mensagem que trata do novo nascimento do homem, pelo qual se obtém
entrada no Reino de Deus (Jo 3.3-5; 1Pe 1.23).
V. A IGREJA LOCAL E A IGREJA UNIVERSAL
No Novo Testamento a palavra “igreja” pode ser aplicada a um grupo de cristãos de
qualquer tamanho, desde um pequeno grupo que se reúne sempre em uma
residência até o grupo de todos os cristãos na Igreja universal.
a. A igreja local. Frequentemente, a palavra “igreja” é usada para descrever uma
congregação local ou assembleia de santos. Igrejas locais são o resultado da
pregação do Evangelho. Quando as pessoas obedecem à Palavra e se tornam
cristãos, elas começam a se reunir com outros irmãos na fé. É a chamada “igreja
militante”. São vários membros participantes de um só corpo: o Corpo de Cristo.
A Igreja “local” não é um edifício construído com blocos e cimento. Ela é um edifício
construído com “pedras vivas”:
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“Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular” (1Co 12.27).
“Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros
uns dos outros” (Rm 12.5).
“Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe 2.5).
Na qualidade de organização, uma Igreja local é um grupo de crentes batizados,
reunidos pelo Espírito Santo com o propósito de obedecer aos princípios e preceitos
da Palavra de Deus. Além de ser uma instituição jurídica perante a sociedade,
distingue-se pela sua idoneidade e comportamento revelados na vida e no cotidiano
de cada cristão.
b. Igreja universal. Algumas vezes a Bíblia usa a palavra “igreja” no sentido
universal, isto é, para falar de todo o povo que pertence a Cristo, não importa de onde
ele possa ser. É a chamada “Igreja triunfante”. É a Noiva do Cordeiro que é pura,
santa, imaculada e que será arrebatada ao céu. Quando o Senhor Jesus se referiu a
ela (cf. Mt 6.18), Ele não estava falando apenas de uma congregação local, nem
estava falando de uma organização ou instituição mundial. Ele estava falando de
pessoas, pedras vivas, construídas sobre Ele (Jesus Cristo), a fundação sólida. Foi
tendo isso em mente que o apóstolo Paulo escreveu:
“Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como
uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (2Co 11.2)
“... como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo... Para a
santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra” (Ef 5.23;26).
VI. A IGREJA COMO ORGANISMO E NÃO ORGANIZAÇÃO
Deve ficar claro em nossas mentes que a Bíblia sempre trata a Igreja como organismo
(corpo constituído por componentes vivos) e nunca como organização (estrutura
juridicamente registrada) que só veio a existir legalmente depois do segundo século.
Desta forma vemos que Igreja verdadeira não tem endereço nem construção imóvel,
mas são pessoas que juntas vivem uma realidade que não tem par neste mundo,
seguindo os padrões de santidade divinos, sendo assim um Corpo, o Corpo místico
de Cristo, do qual Ele é a cabeça – embora templo e registro possam ser necessários.
Muitas pessoas têm a noção errada de que a Igreja é uma organização ou instituição,
independente do povo que compõe a Igreja. Este não é o conceito bíblico de Igreja. O
Senhor Jesus não morreu para comprar terra e edifícios, nem para estabelecer
alguma instituição. Ele morreu para comprar as almas dos homens e mulheres que
estavam mortos no pecado, mas que agora têm salvação e esperança de vida eterna.
A Igreja é o Corpo místico de Cristo, do qual Ele é o cabeça vivo e os crentes
regenerados são os membros. Quando falamos de corpo, logo nos vem à mente uma
união de membros, formando um conjunto, que os gregos denominavam de soma; é,
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também, numa linguagem científica, um conjunto de células reprodutivas. Esse
conceito se aplica bem à Igreja na qualidade de corpo de Cristo, que cresce e se
reproduz dia-a-dia.
Muitas igrejas sugerem que a “igreja universal” é constituída de todas as
congregações locais do mundo. Isto não é um conceito bíblico. Uma igreja local
consiste de cristãos que se reúnem num corpo local. Eles podem ser identificados e
contados:
“As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áquila e Priscila, com a igreja
que está em sua casa” (1Co 16.19).
“Saudai aos irmãos que estão em Laodiceia e a Ninfa e à igreja que está em sua casa” (Cl 4.15).
A Igreja universal consiste de todos os discípulos de Cristo em todo o mundo.
Nenhum homem é capaz de identificar e contar todos os membros deste corpo
universal. Tentativas de contar todos os verdadeiros cristãos em uma nação ou no
mundo ilustram a ignorância e a vaidade dos homens.
Somente Deus pode contar e identificar seus primogênitos “arrolados nos céus”:
“À universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de
todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23).
O conceito de igreja não admite o isolamento. A igreja é o conjunto dos salvos. Não
um bando, mas uma família, um rebanho, com organização e liderança. São pessoas
reunidas para um determinado fim. Vemos aqui a ideia de uma missão. A Igreja não é
um clube social. É um exército com uma missão. Cada igreja “local” é uma agência de
salvação. Esta tem que ser a nossa finalidade, o nosso objetivo. A Igreja não é uma
casa de espetáculos, mas um “oásis” para os sedentos. A Igreja não é um auditório,
onde a maioria só assiste.
Cada um deve atuar na obra. Sem ação, a assembleia, a congregação, a reunião,
será inútil. O Senhor Jesus quer a expansão do seu Reino e com ele a salvação de
todos os homens. Daí a necessidade de evangelismo e do discipulado.
VII. PROPÓSITOS DA IGREJA
1. Evangelizar o mundo.
A obra da Igreja é pregar o Evangelho a toda criatura e explanar o plano da salvação
tal qual é ensinado nas Escrituras (Mt 28.19,20). A evangelização do mundo é o
propósito maior da Igreja. Uma vez que vemos que desde a antiguidade Deus sempre
quis reconciliar o homem para consigo, a Igreja é o instrumento mais poderoso para
efetuar esta missão, pois, individualmente, cada crente é um porta-voz de Cristo para
proclamar a salvação e o arrependimento de pecadores. A evangelização é um
poderoso indicador do comprometimento com o Evangelho, e a igreja local que
evangeliza é repleta da presença de Deus, de dons espirituais e de maravilhas.
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2. Adorar a Deus e, enquanto igreja “local”, prover meios de adoração.
Esta é uma das características maiores da Igreja do Senhor. Ela nasceu e vive para
adorar a Deus, pois o Pai procura aqueles que o adorem em Espírito e em verdade
(cf. Jo 4.19-24), ou seja, com sinceridade de coração. Isto mostra o dever de cada
cristão em adorar ao Senhor, não simplesmente por louvor, mas por vida,
consagração pessoal, santidade e amor ao próximo. E a Igreja “local” deve promover
entre os seus congregados meios pelos quais eles possam adorar a Deus, como o
louvor congregacional, consagrações, etc.. A busca pela presença de Deus deve
estar acima de todos os nossos interesses particulares. Observe atentamente o texto
abaixo:
“Ó Deus, tu és o meu Deus, de madrugada te buscarei; a minha alma tem sede de ti; a minha carne te
deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água; para ver a tua força e a tua glória,
como te vi no santuário. Porque a tua benignidade é melhor do que a vida, os meus lábios te louvarão”.
(Sl 63.1-3)
Devemos desejar que a presença de Deus flua intensamente em nós. Deve existir em
nós uma sede insaciável pela glória manifesta de Deus em nossas vidas. Uma das
orações feitas pelo profeta Isaías demonstra claramente o desejo que ele possuía: ver
a Deus em toda a Sua plenitude mais uma vez:
“Com minha alma te desejei de noite, e com o meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a
buscar-te...” (Is 26.9)
O salmista Davi foi ainda mais profundo ao demonstrar em palavras o quanto ele
desejava a presença de Deus em sua vida. Veja como era o desejo de um homem
segundo o coração de Deus:
“Assim como a corça brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A
minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?”
(Sl 42.1-2)
A corça, quando perseguido por um animal predador, busca as águas não tanto para
beber, mas para mergulhar nelas, para estar submerso. Por que? Porque a corça
sabe que o seu cheiro está atraindo o animal predador. E também sabe que, se ele
encontrar água e mergulhar nela, o cheiro se perderá, irá embora. Nenhum animal o
alcançará. Você e eu, quando perseguidos pelo inimigo, devemos fazer o quê? De
que necessitamos? Precisamos das águas do Espírito Santo para que possamos
mergulhar na presença do Deus Todo Poderoso onde nenhum demônio poderá nos
alcançar ou nos tocar. Precisamos junto com os nossos outros irmãos, criar uma
“atmosfera” de adoração para que Deus possa habitar.
Israel possuía um sistema de adoração divinamente estabelecido, pelo qual se
chegava a Deus em todas as necessidades e crises da vida. Assim também a Igreja
deve ser uma casa de oração para todos os povos, onde Deus é cultuado em
adoração, oração e testemunho.
3. Viver a mordomia cristã.
Isto nada mais é do que sujeitar-se ao senhorio de Cristo. O crente individualmente e
a Igreja como um todo deve entender e compreender que nada do que possui é seu
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exclusivamente, pois do Senhor é a terra, e a sua plenitude, e todos os que nela
habitam (cf. Salmo 24.1). Devemos viver profundamente esta verdade e procurando
aplicar nossas vidas, nossos talentos, nossas posses, tudo em favor da Obra e da
expansão do Reino de Deus na face da terra.
4. Buscar a presença de Deus.
Certa vez Moisés estava no monte Sinai conversando com Deus. Lá Deus lhe disse
que ele havia alcançado a graça e favor do Deus Todo-Poderoso. Moisés poderia
aproveitar a oportunidade e pedir qualquer coisa que quisesse, mas optou por buscar
a Face de Deus e não apenas as Suas mãos. Moisés, ao invés de buscar a bênção,
preferiu buscar o Abençoador:
“Então disse o SENHOR a Moisés: Farei também isto, que tens dito; porquanto achaste graça aos
meus olhos, e te conheço por nome. Então ele disse: Rogo-te que me mostres a tua glória. Porém ele
disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do SENHOR diante
de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me
compadecer. E disse mais: Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha
face, e viverá. Disse mais o SENHOR: Eis aqui um lugar junto a mim; aqui te porás sobre a penha. E
acontecerá que, quando a minha glória passar, pôr-te-ei numa fenda da penha, e te cobrirei com a
minha mão, até que eu haja passado. E, havendo eu tirado a minha mão, me verás pelas costas; mas
a minha face não se verá” (Ex 33.17-23).
Buscamos a face de Deus através da oração. A oração pode ser dividida em sete
estágios os quais são: confissão, súplica, adoração, intimidade, intercessão, gratidão
e louvor.
5. Estudo e ministração da Palavra.
Na sinagoga os judeus deixaram de estudar a Palavra de Deus (Torah) e passaram a
discutir apenas costumes e tradições (Mishiná e Talmude). Infelizmente muitas igrejas
estão no mesmo caminho. Precisamos voltar urgentemente à prática da exposição
bíblica da Palavra. E isso é muito diferente de apenas frequentarmos a Escola Bíblica
Dominical. Precisamos pregar a Palavra e não da Palavra. Caso contrário, muitos
cristãos se sentirão como o eunuco que foi à igreja e voltou de lá sem ter aprendido
nada:
“E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos
etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração,
regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e
ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês?
E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com
ele se assentasse” (At 8.27-30).
6. Cultivar a comunhão uns com os outros. Certa vez o Senhor Jesus fez uma
oração. E essa foi a única oração que Ele não obteve resposta. A oração feita por
Jesus foi a seguinte:
“E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim;
para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em
nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.20-21).
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O Senhor Jesus pediu ao Pai que nós fossemos um. A resposta a essa oração
depende de mim, depende de você, depende de todos nós. Precisamos viver em
unidade (o que é diferente de uniformidade).
Uniformidade é desejar que todos tenham a mesma aparência, se vistam iguais e
tenham atitudes iguais. A unidade na Igreja é composta por pessoas diferentes, com
estilos diferentes e até mesmo com alguns pensamentos diferentes, mas sempre com
o mesmo objetivo: exaltar e glorificar o nome de Deus juntamente com a Igreja e,
desenvolver junto com os demais irmãos, um trabalho conforme aquilo que o Espírito
Santo de Deus tem ministrado em seus corações. Nós devemos ser como uma
orquestra, onde cada instrumento musical, pode até tocar notas diferentes e, ainda
assim, produzir sons em harmonia com os outros instrumentos. Gostamos de ir a
concertos para sentir o prazer de ouvir os sons em harmonia – não os sons uniformes
– de uma orquestra. Nós logo nos cansaríamos da monotonia e iríamos embora se
todos os instrumentos no palco tocassem a mesma nota, tivessem o mesmo ritmo e
volume.
A maravilha de uma sinfonia é fruto de sua unidade na diversidade. Assim devemos
agir uns com os outros, pois, só assim, a pessoas crerão que “Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
O ideal de união para a igreja nunca chegará à completa satisfação na terra, em
função de posições teológicas diferenciadas entre grupos componentes da Igreja.
Estas diferenças surgem de início em decorrência da incapacidade humana de plena
compreensão da Bíblia em sua íntegra e da debilidade humana em compreender
plenamente a vontade do Deus infinito, revelado em Cristo Jesus.
Apressando para atingir o alvo de união, cabe à igreja local e aos indivíduos que a
compõem definir até que ponto pode haver sua cooperação e envolvimento com
outros de perspectivas divergentes.
Dentro da igreja local, há algo da mesma necessidade, porém espera-se que os
indivíduos de uma congregação poderiam mais facilmente cooperar entre si. A união
esperada não é que todos sejam igualmente amigos íntimos, mas que todos tenham
respeito cada um pelo outro e procurem atuar entre si em amor. Nestes parâmetros, é
possível viver em harmonia e união para em conjunto cumprirem com a missão da
Igreja.
7. Sustentar uma norma de conduta moral.
A Igreja é “a luz do mundo”, que afasta a ignorância moral; é o “sal da terra”, que a
preserva da corrupção moral. A Igreja deve ensinar aos homens como viver bem, e a
maneira de se preparar para a morte. Deve proclamar o plano de Deus para
regulamentar todas as esferas da vida e sua atividade. Contra as tendências para
a corrupção da sociedade, deve ela levantar a sua voz de admoestação.
Em todos os pontos de perigo deve colocar uma luz como sinal de perigo.
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VIII. AS ORDENANÇAS DA IGREJA: O BATISMO E A CEIA
Consideramos o batismo e a ceia como ordenanças determinadas e cumpridas por
Jesus Cristo (Mc 16.15-16; Mt 26.26-28; 28.16-20; Lc 22.7-23; 1Co 11.23-29). Ato
simbólico determinado por Jesus Cristo para ser cumprido pela sua Igreja até a Sua
volta, como testemunhas que somos das verdades centrais do Evangelho.
Recusamos o termo sacramento, pois contém em si a ideia católica romana de
conferir graça e produzir efeitos àqueles que são batizados ou participam da ceia. O
batismo não salva; não transforma um pecador em cristão; não apaga pecado. O
batismo e a ceia concretizam, representam uma ideia abstrata.
O batismo nas águas é o rito do ingresso na igreja cristã, e simboliza o começo da
vida espiritual. A Ceia do Senhor é o rito de comunhão e significa a continuação da
vida espiritual. O primeiro sugere a fé em Cristo; o segundo sugere a comunhão
com Cristo. O primeiro é administrado somente uma vez, porque pode haver apenas
um começo da vida espiritual; o segundo é administrado frequentemente, ensinando
que a vida espiritual deve ser alimentada.
O BATISMO
Sua origem e natureza - O batismo, do grego baptisma, consiste na imersão,
submersão e emersão do crente em água, após sua pública profissão de fé em Jesus
Cristo como Salvador único, suficiente e pessoal (At 2.41-42; 8.12,36-39; 10.47-48;
16.33; 18.8). A palavra grega é derivada de baptô (imergir) e possui a ideia, usada
entre os gregos, de tirar água imergindo uma vasilha em outra. O batismo é o
testemunho público de quem já se declarou crente por ter aceitado a Jesus Cristo
como seu único, suficiente e eterno Salvador. Marca uma vida regenerada e em início
de santificação. O primeiro batismo de que se tem noticia no Novo Testamento é o
praticado por João, o batista. Este batismo foi chamado de o batismo do
arrependimento pelo apóstolo Paulo. Por ele passaram todos os apóstolos de Jesus.
Ele mesmo foi batizado por João, mas o batismo de Jesus tem um desígnio
totalmente diferente do administrado por João aos pecadores confessos.
Finalmente temos o batismo administrado pela Igreja de Jesus, primeiramente pelos
apóstolos antes de sua morte, depois, pela Igreja organizada de Jerusalém. Seu
desígnio era totalmente diferente do administrado pela Igreja. Simbolizava que Jesus
iria morrer, iria ser sepultado e iria ressuscitar dentre os mortos. Era uma crença
“naquele que há de vir”, como dizia o próprio João. João podia administrá-lo porque
como ele confirmou, e não negou: “aquele que me mandou batizar”, referindo-se ao
próprio Deus, dera-lhe tal autoridade. Importante lembrar que João só batizava
pecadores confessos, ou seja, pessoas que estavam conscientes de que eram
pecadores. Grande número de pessoas participou desse batismo administrado por
João. Inclusive os doze apóstolos do Senhor Jesus. Este batismo terminou quando
João foi encerrado na prisão, coincidindo com o início do ministério de Jesus. Aquele
que havia de vir chegou, e por isso, não necessitavam mais ser batizados para aquele
fim. Quando Jesus iniciou seu ministério João foi preso, e da prisão foi decapitado.
ITER – Instituto Teológico Renovação Eclesiologia - A Doutrina da Igreja 20
Findou-se assim o batismo de João aos pecadores confessos. O desígnio do batismo
de Jesus também era diferente do administrado por João aos pecadores confessos e
dos administrados pela Igreja aos crentes arrependidos. Simbolizava que Ele daria
sua vida por nossos pecados, seria sepultado e depois ressuscitaria em Glória. Não
era uma crença, era o cumprimento da vontade do Pai, ou como o próprio Senhor
Jesus disse: “Para que se cumpra toda a justiça” (Mt 3.15). Nesta passagem vemos a
importância da pessoa que administra o batismo, pois, o Senhor Jesus podia ter
batizado a si próprio, mas não o fez. Andou mais de cem quilômetros e foi até onde
João estava batizando, e lá, recebeu o batismo da pessoa que o próprio Deus tinha
ordenado para o ato. O batismo administrado pela Igreja primitiva, e praticado por nós
hoje, simbolizava a morte e sepultamento do velho homem, a ressurreição para uma
nova vida em identificação com o Senhor Jesus Cristo, e também, prenúncio da
ressurreição dos remidos, (Rm 6.3-5; Gl 3.27; 1Pe 12.2).
A fórmula - “Batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt
28.19). Como vamos reconciliar isso com o mandamento de Pedro: “...cada um de
vós seja batizado em nome de Jesus Cristo”? (At 2.38). Essas últimas palavras
não representam uma fórmula batismal, porém uma simples declaração afirmando
que as pessoas que recebiam o batismo reconheciam Jesus como Senhor e Cristo.
Por exemplo, o Didaquê, um documento cristão escrito cerca do ano 100 A.D., fala do
batismo cristão celebrado em nome do Senhor Jesus, mas o mesmo documento,
quando descreve o rito detalhadamente, usa a fórmula trinitária. Quando Paulo fala
que Israel foi batizado no Mar Vermelho “em Moisés” (1Co 10.1,2), ele não se refere a
uma fórmula que se pronunciasse na ocasião; ele simplesmente quer dizer que, por
causa da passagem milagrosa através do Mar Vermelho, os israelitas aceitaram
Moisés como seu guia e mestre como enviado do céu. Da mesma maneira, ser
batizado em nome de Jesus significa encomendar-se inteira e eternamente a
ele como Salvador enviado do céu, e a aceitação de sua direção impõe a aceitação
da fórmula dada por Jesus no capítulo 28 de Mateus. A tradução literal de Atos 2.38
é: “seja batizado sobre o nome de Jesus Cristo”. Isso significa, segundo o dicionário
de Thayer, que os judeus haviam de “repousar sua esperança e confiança em sua
autoridade messiânica”. Note-se que fórmula trinitária é descrita duma experiência.
Aqueles que são batizados em nome do Triúno Deus, por esse meio
estão testificando que foram submergidos em comunhão espiritual com a Trindade.
Desse modo pode-se dizer acerca deles: “A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor
de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos” (2 Co 13.13).
O recipiente - Todo aquele que sinceramente se arrepende de seus pecados e
professa a fé no Senhor Jesus, torna-se elegível para o batismo. Na igreja apostólica
o rito era acompanhado das seguintes expressões exteriores:
1) Profissão de fé. (At 8.37)
2) Oração (At 22.16)
3) Voto de consagração (1Pe 3.21)
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Visto que as crianças não têm pecados de que se arrepender e não podem exercer a
fé, logicamente são isentos do batismo nas águas. Com isso não os estamos
impedindo que venham a Cristo (Mt 19.13,14), pois eles podem ser consagrados a
Jesus em culto público.
A eficácia - O batismo nas águas, em si não tem poder para salvar. As pessoas são
batizadas, não para serem salvas, mas porque já são salvas. Portanto, não podemos
dizer que o rito seja absolutamente essencial para a salvação. Mas podemos insistir
em que seja essencial para a integral obediência a Cristo. Como a eleição do
presidente da nação se completa pela sua posse do governo, assim a eleição do
convertido pela graça e pela glória de Deus se completa por sua pública admissão
como membro da igreja de Cristo.
O significado - O batismo sugere as seguintes ideias:
1) Salvação. O batismo nas águas é um drama sacro (se nos permitem falar assim),
representando os fundamentos do Evangelho. A descida do convertido às águas
retrata a morte de Cristo efetuada; a submersão do convertido fala da morte ratificada,
ou seja, o seu sepultamento; o levantamento do converso significa a conquista sobre
a morte, isto é a ressurreição de Cristo.
2) Experiência. O fato de que esses atos são efetuados com o próprio
convertido demonstra que ele se identificou espiritualmente com Cristo. A imersão
proclama a seguinte mensagem: “Cristo morreu pelo pecado para que este homem
morresse para o pecado”. O levantamento do convertido expressa a seguinte
mensagem: “Cristo ressuscitou dentre os mortos a fim de que este homem pudesse
viver uma nova vida de justiça”.
3) Regeneração. A experiência do novo nascimento tem sido descrita como uma,
“lavagem” (literalmente “banho”, Tito 3.5), porque por meio dela, os pecados e as
contaminações da vida de outrora foram lavados. Assim como o lavar com água limpa
o corpo, assim também Deus, em união com a morte de Cristo e pelo Espírito Santo,
purifica a alma. O batismo nas águas simboliza essa purificação: “Levanta-te, e lava
os teus pecados” (isto é, como sinal do que já se efetuou. Cf. At 22.16).
4) Testemunho. “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos
revestistes de Cristo” (Gl 3.27). O batismo nas águas significa que o convertido, pela
fé, “vestiu-se” do caráter de Cristo de modo que os homens podem ver a Cristo nele,
como se vê o uniforme no soldado. Pelo rito de batismo, o convertido, figurativamente
falando, publicamente veste o uniforme do Reino de Cristo.
A CEIA DO SENHOR
A ceia (do grego deípnon = festa; banquete) do Senhor é a segunda ordenança que
relembra o sacrifício do corpo e do sangue de Jesus Cristo. Os elementos da ceia são
o pão e o vinho que sugerem nutrição e o crescimento em Cristo. O crente se batiza
uma vez, mas participa da ceia repetidas vezes. A ceia do Senhor relembra a última
ceia de Jesus com os seus discípulos. Também faz relembrar que o Senhor voltará
(1Co 11.26). A ceia do Senhor é uma cerimônia da igreja reunida, comemorativa e
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proclamadora da morte do Senhor Jesus Cristo, simbolizada por meio dos elementos
utilizados: o pão e o vinho (Mt 26.26- 29; 1Co 10.16-21; 11.23-29). Nesse memorial o
pão representa o seu corpo partido por nós e o vinho simboliza o seu sangue
derramado no Calvário. A ceia do Senhor deve ser celebrada pela Igreja até a volta
de Cristo. Além das mensagens temporais sobre o passado, o presente e o futuro que
a ceia transmite, há também a mensagem da comunhão. A ceia é um ato de culto em
contexto social.
O Novo Testamento não apresenta a celebração da ceia em contexto individual, mas
coletivo no culto da Igreja. A celebração da ceia do Senhor é também um momento de
reflexão íntima para verificar se há alguma mágoa provocada por nossas atitudes, ou
de outros. É um momento em que devemos buscar e liberar o perdão. Na região de
Corinto acontecia anualmente a festa Ágape que consistia em cada membro da igreja
levar uma porção dobrada de comida e vinho para ser partilhada com pessoas
famintas numa ceia festiva. Essa festa se tornou em uma festa que simbolizava a
última ceia de Cristo. O problema é que haviam homens nessa igreja que acreditavam
que os famintos estavam nessa condição por serem pecadores e, por isso, não era
dignos de serem alimentados. Então esses homens avarentos comiam, em secreto
antes da ceia, as porções de comida e vinho a mais que seriam destinadas aos
famintos; eles se fartavam e se embebedavam com a comida a mais, simplesmente
para não deixar alimentar os pobres, que eles consideravam pecadores. Isso causou
muita dissensão entre os membros que queriam fazer caridade aos famintos e os que
acreditavam ser a fome um castigo aos pecadores. Estudando 1 e 2 Coríntios, cartas
escritas por Paulo para manutenção da fé, exortações diversas e correções de
doutrina, podemos entender mais claramente o significado da ceia do Senhor.
O Senhor Jesus nos ordena, em Sua palavra, partilhar o pão e nos dedicarmos ao
próximo em memória dEle. Se não houver esse amor, essa dedicação ao aflito, não
há ceia do Senhor, não há a memória do amor de Jesus. Por isso Paulo condena a
falta de amor na comemoração.
A ceia de Senhor. Pontos principais - Define-se a Ceia do Senhor ou Comunhão
como o rito distintivo da adoração cristã, instituído pelo Senhor Jesus na véspera de
sua morte expiatória. Consiste na participação solene do pão e vinho, os quais, sendo
apresentados ao Pai em memória do sacrifício inesgotável de Cristo, tornam-se um
meio de graça pelo qual somos incentivados a uma fé mais viva e fidelidade maior a
ele. Os seguintes são os pontos-chave dessa ordenança:
a) Comemoração. “Fazei isto em memória de mim”. Cada ano, no dia 4 de julho, o
povo norte-americano recorda de maneira especial o evento que o fez um povo livre.
Cada vez que um grupo de cristãos se congrega para celebrar a Ceia do Senhor,
está comemorando, de um modo especial, a morte expiatória de Cristo que os libertou
dos pecados. Por que recordar a sua morte mais do que qualquer outro evento de sua
vida? Porque a sua morte foi o evento culminante de seu ministério e porque somos
salvos, não meramente por sua vida e seus ensinos, embora sejam divinos, mas por
seu sacrifício expiatório.
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b) Instrução. A Ceia do Senhor é uma lição objetiva que expõe os dois fundamentos
do Evangelho:
1. A encarnação. Ao participar do pão, ouvimos o apóstolo João dizer: “E o Verbo se
fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Ouvimos o próprio Senhor declarar: “Porque
o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6.33).
2. A expiação. Mas as bênçãos incluídas na encarnação nos são concedidas
mediante a morte de Cristo. O pão e o vinho simbolizam dois resultados da morte: a
separação do corpo e da vida, e a separação da carne e do sangue. O simbolismo do
pão partido é que o Pão deve ser quebrantado na morte (Calvário) a fim de
ser distribuído entre os espiritualmente famintos; o vinho derramado nos diz que o
sangue de Cristo, o qual é sua vida, deve ser derramado na morte a fim de que seu
poder purificador e vivificante possa ser outorgado às almas necessitadas.
c) Inspiração. Os elementos, especialmente o vinho, nos lembram de que pela fé
podemos ser participantes da natureza de Cristo, isto é, ter "comunhão com ele". Ao
participar do pão e do vinho da Ceia, o ato nos recorda e nos assegura que, pela fé,
podemos verdadeiramente receber o Espírito de Cristo e ser o reflexo do seu caráter.
d) Segurança. “Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue” (1Co 11.25). Nos
tempos antigos a forma mais solene de aliança era o pacto de sangue, que era selado
ou firmado com sangue sacrificial. A aliança feita com Israel foi um pacto de sangue
(Ex 24.3-8). A nova aliança firmada por Jesus é um pacto de sangue a fim de perdoar
e salvar a todos os que vierem a Ele. O sangue de Cristo é a divina garantia de que
Ele é benévolo e misericordioso para aquele que se arrepende. A nossa parte nesse
contrato é crer na morte expiatória de Cristo. (Rm 3.25,26.) Depois, então poderemos
testificar que foram aspergidos com o sangue da nova aliança (1Pe 1.2).
e) Responsabilidade. Quem deve ser admitido ou excluído da Mesa do Senhor?
Paulo trata da questão dos que são dignos do sacramento em 1Co 11.20-34.
“Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber este cálice do Senhor
indignamente, será culpado (uma ofensa ou pecado contra) do corpo e do sangue do
Senhor”. Quer isso dizer que somente aqueles que são dignos podem chegar-se à
Mesa do Senhor? Então, todos nós estamos excluídos! Pois quem dentre os filhos
dos homens é digno da mínima das misericórdias de Deus? Não, o apóstolo não está
falando acerca da indignidade das pessoas, mas da indignidade das ações.
Sendo assim, por estranho que pareça, é possível a uma pessoa indigna participar
dignamente. E em certo sentido, somente aqueles que sinceramente sentem a sua
indignidade estão aptos para se aproximar da Mesa; os que se justificam a si mesmos
nunca serão dignos. Igualmente, nota-se que as pessoas mais profundamente
espirituais são as que mais sentem a sua indignidade. Paulo descreve-se a si mesmo
como o “principal dos pecadores” (1Tm 1.15). O apóstolo nos avisa contra os atos
indignos e a atitude indigna ao participar desse sacramento. Como pode alguém
participar indignamente? Praticando alguma coisa que nos impeça de
claramente apreciar o significado dos elementos, e de nos aproximarmos em atitude
solene, meditativa e reverente.
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IX. FORMAS DE GOVERNO DA IGREJA
É evidente que o propósito do Senhor era que houvesse uma sociedade de seus
seguidores que comunicasse seu Evangelho aos homens e o representasse no
mundo. Mas Ele não moldou nenhuma organização ou plano de governo; não
estabeleceu nenhuma regra detalhada de fé e prática. Entretanto, Ele ordenou os dois
singelos ritos de batismo e comunhão. Ao mesmo tempo, Ele não desprezou a
organização, pois sua promessa concernente ao Consolador vindouro deu a entender
que os apóstolos seriam guiados em toda a verdade concernente a esses assuntos. O
que Ele fez para a Igreja foi algo mais elevado do que organização: Ele lhe concedeu
sua própria vida, tornando-a organismo vivo. Assim como o corpo vivo se adapta ao
meio ambiente, semelhantemente, ao corpo vivo de Cristo foi dada liberdade para
selecionar suas próprias formas de organização, segundo suas necessidades e
circunstâncias. Naturalmente, a Igreja não era livre para seguir nenhuma
manifestação contrária aos ensinos de Cristo ou à doutrina apostólica.
Qualquer manifestação contrária aos princípios das Escrituras é corrupção. Durante
os dias que se seguiram ao Pentecostes, os crentes praticamente não tinham
nenhuma organização, e por algum tempo faziam os cultos em suas casas e
observavam horas de oração no templo (At 2.46.) Isso foi completado pelo ensino e
comunhão apostólicos. Ao crescer numericamente a igreja, a organização originou-se
das seguintes causas: primeira, oficiais da igreja foram escolhidos para resolver as
emergências que surgiam, como, por exemplo, em Atos 6.1-5; segunda, a possessão
de dons espirituais separava certos indivíduos para a obra do ministério.
As primeiras igrejas eram democráticas em seu governo, circunstância natural em
uma comunidade onde o dom do Espírito Santo estava disponível a todos, e onde
toda e qualquer pessoa podia ser dotada de dons para um ministério especial. É
verdade que os apóstolos e anciãos presidiam às reuniões de negócios e à seleção
dos oficiais; mas tudo se fez em cooperação com a igreja (At 6.3-6; 15.22; 1Co 16.3;
2Co 8.19; Fp 2.25.) Pelo que se lê em Atos 14.23 e Tito 1.5, poderá entender-se
que Paulo e Barnabé nomearam anciãos sem consultar a igreja; mas historiadores
eclesiásticos de responsabilidade afirmam que eles os “nomearam” da maneira usual,
pelo voto dos membros da igreja. Nos dias primitivos não havia nenhum governo
centralizado abrangendo toda a igreja. Cada igreja local era autônoma e administrava
seus próprios negócios com liberdade. Naturalmente os “Doze Apóstolos” eram muito
respeitados por causa de suas relações com Cristo, e exerciam autoridade (Atos 15).
Paulo exercia supervisão sobre as igrejas gentílicas; entretanto, essa autoridade era
puramente espiritual, e não uma autoridade oficial tal como se outorga numa
organização. Embora que cada igreja fosse independente da outra, quanto à
jurisdição, as igrejas do NT mantinham relações cooperativas umas com as outras.
(Rm 15.26,27; 2Co 8.19; Gl 2.10; Rm 15.1; 3Jo 8.) Nos séculos primitivos, as igrejas
locais, embora nunca lhes faltasse o sentimento de pertencerem a um só corpo, eram
comunidades independentes e com governo próprio, que mantinham relações umas
com as outras, não por uma organização política que as reunisse todas elas, mas por
uma comunhão fraternal mediante visitas de delegados, intercâmbio de cartas e
alguma assistência recíproca indefinida na escolha e consagração de pastores.
ITER – Instituto Teológico Renovação Eclesiologia - A Doutrina da Igreja 25
O GOVERNO DA IGREJA - A Igreja, mesmo sendo uma instituição Divina, precisa ter
seu governo humano. Com o decorrer da história, e o crescimento da Igreja, formas
de governo foram transparecendo no meio comunitário da Igreja.
A questão do governo da Igreja consiste, em última análise, em definir onde reside a
autoridade da Igreja e quem deve exercê-la. Na realidade, os defensores das várias
formas do governo da igreja sempre concordarão que Deus é (ou possui) a autoridade
final – a chamada Theokracia (governo de Deus).
Os pontos em que diferem estão em suas concepções de como ou por meio de quem
ele expressa ou exerce essa autoridade.
Em nossos dias, pelo menos três formas são encontradas. Todas as igrejas se
encaixam, mesmo que indiretamente, em uma destas formas ou sistemas de governo.
Governo episcopal. O sistema de governo Episcopal é identificado por um sistema
que limita as decisões aos bispos, os principais líderes. Os bispos não são os únicos
líderes encontrados na Igreja partidária ao sistema de governo episcopal, existem
também presbíteros e diáconos. Uma hierarquia (organograma) é formada
basicamente desta forma:
Governo presbiteriano. As igrejas que são governadas neste sistema de governo
têm suas grandes decisões tomadas por um conselho formado basicamente de
Pastores e Presbíteros. São eles quem escolhe os líderes de ministério
(departamento), professores da EBD, e todos os demais cargos da igreja. A
participação dos demais membros se restringe em escolher o conselho eclesiástico;
uma vez feito isto, todo poder de decisão passa para estes homens. A hierarquia
presbiteriana é formada por dois conselhos administrativos, o local e o conselho
superior, sendo este segundo o revisor responsável pelos conselhos inferiores. Num
organograma, podemos demonstrar desta forma:
ITER – Instituto Teológico Renovação Eclesiologia - A Doutrina da Igreja 26
Na realidade, no sistema presbiteriano, existem algumas vantagens, por exemplo, um
fator de grande importância, jamais poderá ser decidido em assembleia, por uma
criança ou por um novo e inexperiente convertido. Mesmo que os presbíteros sejam
os “representantes” da igreja nas decisões, uma vez que estes foram escolhidos pela
igreja, não parece justo que os membros sejam impedidos de votar em assembleias,
(com exceção na escolha de pastores). Esta forma de governar a igreja, é
fundamentada em textos bíblicos como At 15 e 1Tm 5.17. A Igreja Presbiteriana,
Igreja Reformada e algumas facções da Igreja Metodista, são as principais igrejas que
são governadas pelo sistema presbiteriano.
Governo congregacional. O sistema de governo congregacional, também conhecido
de sistema independente, dá total soberania à igreja local. O poder de decisão não
está centralizado em nenhuma pessoa ou líder, tampouco a conselhos. As igrejas
locais são completamente “desligadas” uma das outras, sendo as mesmas
independentes em suas decisões. Os congregacionais afirmam que cada igreja
prestará contas a Deus por suas atitudes, e isto, faz com que elas tenham liberdade
de interpretar a vontade de Deus livremente.
O sistema de governo congregacional se baseia na afirmação feita pelo Apóstolo
Pedro, que declara que todo crente é um sacerdote escolhido por Deus (1Pe 2.9); de
certa forma, isto dá poder igual a todos os membros da igreja. Os congregacionais
respeitam os líderes (pastores e diáconos ou presbíteros), mas pregam que a igreja
deve ser submissa, acima de qualquer coisa, a Jesus Cristo. São governadas assim,
as Igrejas Batistas em todo o mundo, a Igreja Congregacional, diversas tendências de
igrejas pentecostais, e todas as igrejas que terminam sua placa denominacional com
a palavra “independente”.
Um sistema de governo eclesiástico para hoje.
Tentativas de desenvolver para a Igreja uma estrutura de governo que esteja de
acordo com a autoridade da Bíblia encontram dificuldades em dois pontos. O primeiro
é a falta de material didático.
Não ha exposição prescritiva (ordenada) sobre como deve ser o governo da igreja.
Quando passamos a examinar as passagens descritivas, encontramos um segundo
problema. Há tantas variações nas descrições das igrejas do Novo Testamento, que
não conseguimos descobrir um padrão normativo.
Precisamos, portanto, buscar os princípios que encontramos no Novo Testamento,
tentando construir nosso sistema de governo de acordo com eles.
ITER – Instituto Teológico Renovação Eclesiologia - A Doutrina da Igreja 27
Um princípio evidente no Novo Testamento, especialmente em 1Coríntios, é o valor
da ordem. É desejável que certas pessoas sejam responsáveis por ministérios
específicos.
Outro princípio é o sacerdócio de todos os crentes. Cada pessoa é capaz de se
relacionar diretamente com Deus. Finalmente, a ideia de que cada pessoa é
importante para todo o corpo está implícita em todo o Novo Testamento e explícita em
passagens como Romanos 12 e 1Coríntios 12. No entender da maioria dos teólogos
estudiosos, a forma congregacional de governo da igreja é a que cumpre melhor (pelo
menos em tese) os princípios colocados. Ela leva em consideração o princípio do
sacerdócio e da competência espiritual de todos os crentes. Também leva em
consideração a promessa de que o Espírito habita em todos os crentes e os dirige. Ao
mesmo tempo, a necessidade de ordem dá a entender que, com certeza, é preciso
graus de governo representativo. Em algumas situações, é preciso escolher líderes
para que ajam em favor do grupo. Os escolhidos devem estar sempre conscientes de
que devem prestar contas às pessoas que representam e, as questões mais
importantes devem ser levadas aos membros como um todo para decisão.
X. A ADORAÇÃO DA IGREJA
Das epístolas de Paulo inferimos que havia duas classes de reuniões para adoração:
uma consistia em oração, louvor, e pregação; a outra era um culto de adoração,
conhecido como a “Festa de Amor” (Ágape em língua grega). O primeiro era
culto público; o segundo era um culto particular ao qual eram admitidos somente os
cristãos.
1. O culto público.
O culto público, segundo o historiador Robert Hastings Nichols, era “realizado pelo
povo conforme o Espírito movesse as pessoas”. Citamos um trecho dos escritos
desse historiador:
“Oravam a Deus e davam testemunhos e instruções espirituais. Cantavam os salmos e também os
hinos cristãos, os quais começaram a ser escritos no primeiro século. Eram lidas e explicadas as
Escrituras do Antigo Testamento, e havia leitura ou recitação decorada dos relatos das palavras e dos
atos de Jesus. Quando os apóstolos enviavam cartas às igrejas, a exemplo das Epístolas do Novo
Testamento, essas também eram lidas. Esse singelo culto podia ser interrompido a qualquer momento
pela manifestação do Espírito na forma de profecia, línguas e interpretações, ou por alguma iluminação
inspirada sobre as Escrituras. Essa característica da adoração primitiva é reconhecida por todos os
estudantes sérios da história da igreja, não importando sua filiação denominacional ou escola de
pensamento. Pela leitura de 1Co 14.24,25 sabemos que essa adoração inspirada pelo Espírito era um
meio poderoso de atrair e evangelizar os não-convertidos”.
2. O culto particular.
Lemos que os primeiros cristãos perseveraram no “partir do pão” (At 2.42).
Descrevem essas palavras uma refeição comum ou a celebração da Ceia do Senhor?
Talvez ambas. É possível que houvesse acontecido o seguinte: no princípio a
comunhão dos discípulos entre si era tão unida e vital que tomavam suas refeições
ITER – Instituto Teológico Renovação Eclesiologia - A Doutrina da Igreja 28
em comum. Ao sentarem-se à mesa para pedir a bênção de Deus sobre o alimento,
vinha-lhes à lembrança a última Páscoa de Cristo, e assim essa bênção sobre o
alimento espontaneamente se estendia em culto de adoração. Dessa forma, em
muitos casos, é difícil dizer se os discípulos faziam uma refeição comum ou
participavam da Comunhão. A vida e a adoração a Deus estavam intimamente
relacionadas naqueles dias. Porém muito cedo os dois atos, o partir do pão e a Ceia
do Senhor, foram distinguidos, de forma que o segundo se tomou a ordem do culto:
em determinado dia os cristãos reuniam-se para comer uma refeição sagrada de
comunhão, conhecida como a Festa de Amor, a qual era uma refeição alegre e
sagrada, simbolizando o amor fraternal. Todos traziam provisões e delas participavam
todos em comum. Em 1Co 11.21,22 Paulo censura o egoísmo daqueles que comiam
seus alimentos sem distribuí-los entre os pobres. Ao terminar a Festa de Amor,
celebrava-se a Ceia do Senhor. Na igreja de Corinto alguns se embriagavam durante
o Ágape e participavam do sacramento nessa condição indigna. Mais tarde, no
primeiro século, a Ceia do Senhor foi separada do Ágape e celebrada na manhã do
Dia do Senhor.
XI. O MINISTÉRIO DA IGREJA
No Novo Testamento são reconhecidas duas classes de ministério:
A) O ministério geral e profético geral, porque era exercido com relação às igrejas
de modo geral mais do que em relação a uma igreja particular, e profético, por ser
criado pela possessão de dons espirituais.
B) O ministério local e prático. Local porque era limitado a uma igreja, e prático,
porque tratava da administração da igreja.
A) O ministério geral e profético (Ef 4.7-16)
1. Apóstolos. Do grego apostolos ou “enviado”, “mensageiro”. Eram homens que
exerciam um poder administrativo sobre as igrejas (1Co 5.3-6; 2Co 10.8; Jo 20.22,23)
e cujo trabalho principal era estabelecer igrejas em campos novos (2Co 10.16.)
Eram administradores da igreja e organizadores missionários, chamados por Cristo e
cheios do Espírito. Os “doze” apóstolos de Jesus, e Paulo, eram apóstolos por
preeminência; entretanto, o título de apóstolo também foi outorgado a outros que se
ocupavam na obra missionária. “Apóstolo” significa simplesmente “missionário”. (At
14.14; Rm 16.7.) Tem havido apóstolos desde então? Sem dúvida. A obra de homens
tais como John Wesley, entre tantos no decorrer dos séculos de história, com toda
razão, pode ser considerada como apostólica.
2. Profetas. Eram os dotados do dom de expressão inspirada. Desde os primeiros
dias até ao fim do século constantemente apareceram, nas igrejas cristãs profetas e
profetizas. Enquanto o apóstolo e o evangelista levavam sua mensagem aos
incrédulos, o ministério do profeta era particularmente entre os cristãos. Os profetas
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viajavam de igreja em igreja, tanto como os evangelistas o fazem na atualidade; não
obstante, cada igreja tinha profetas que eram membros ativos dela.
3. Evangelistas. Proclamador das boas-novas ou o que leva o Evangelho da
salvação, aquele que anuncia o evangelho de Cristo. Trata-se de um carisma
específico, que capacita o crente a disseminar, de forma extraordinária, as boas
novas. A verdadeira marca de um evangelista são os dons de curar e operações de
milagres. Se estas marcas não estiverem presentes na vida do evangelista ele será
apenas um exortador ou pregador (At 8.4-8).
4. Pastores. De todos os ofícios do ministério cristão, o pastorado é o mais conhecido
em nossos dias. Não raro, o título é dado até mesmo aos ministros em diferentes
funções ministeriais. A função é tão honrosa, que o AT frequentemente atribui a Deus
o título de pastor de Israel (Jr 23.4; Sl 23.1; 80.1). O vocábulo originalmente aplicado
a um guardador de ovelhas, significa apascentador, guia, protetor (Is 40.11). Estas
definições correspondem às varias fases das atribuições e deveres do pastor. Como
no caso dos demais ministérios, encontramos em Jesus o grande exemplo de pastor.
5. Mestres. Eram os dotados de dons para a exposição da Palavra. Tal quais os
profetas, muitos deles viajavam de igreja em igreja.
B) O ministério local e prático.
O ministério local, que era nomeado pela igreja, com base de certas qualidades (1Tm
cap. 3), incluía os seguintes:
1. Presbíteros, ou anciãos. Aos quais foi dado o título de “bispo”, do grego
episkopos que significa “supervisor”, ou que serve de superintendente. Exerciam a
superintendência geral sobre a igreja local, especialmente em relação ao cuidado
pastoral e à disciplina. Seus deveres eram geralmente de natureza espiritual. Às
vezes se chamam “pastores”. (Ef 4.11, cf. At 20.28.) Durante o primeiro século cada
comunidade cristã era governada por um grupo de anciãos ou bispos, de modo que
não havia um obreiro só fazendo para a igreja o que um pastor faz no dia de hoje. No
princípio do terceiro século colocava-se um homem à frente de cada comunidade com
o título de pastor ou bispo.
2. Diáconos. Associados com os presbíteros havia um número de obreiros ajudantes
chamados diáconos (At 6.1-4; 1Tm 3.8-13; Fp 1.1) e diaconisas (Rm 16.1; Fp 4.3),
cujo trabalho parece, geralmente, ter sido o de visitar de casa em casa e exercer
um ministério prático entre os pobres e necessitados (1Tm 5.8-11). Os diáconos
também ajudavam os anciãos na celebração da Ceia do Senhor.
ITER – Instituto Teológico Renovação Eclesiologia - A Doutrina da Igreja 30
CONCLUSÃO
Como podemos servir ao Senhor sem participar da confusão das denominações?
Como podemos evitar as divisões que acontecem quando os homens são elevados a
posições de honra? Paulo falou do mesmo problema quando escreveu aos
coríntios: “Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de
Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo. Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo
crucificado em favor de vós ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?” (1
Co 1.12-13). Nomes humanos e destaque impróprio dado aos homens criam divisões.
Para evitar tais divisões, devemos seguir o único Salvador (At 4.12) e Mediador (1 Tm
2.5). Devemos estudar a mesma Palavra de Deus para que possamos falar e pensar
a mesma coisa (1Co 1.10). Seguir a Jesus exige esforço, mas certamente vale a pena
(Hb 11.6; Mt 7.13-14).
Tenhamos coragem para rejeitar tradições, práticas, nomes e doutrinas de homens
para honrar o nosso Criador e Salvador, pois Ele é o Senhor da Igreja.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALDAS, Carlos. Fundamentos da Teologia da Igreja Editora Mundo Cristão, 2007.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova,
1997.
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova,
1994.
GETZ, Gene. Igreja: Forma e Essência, O Corpo de Cristo pelo Ângulos das
Escrituras, da História e da Cultura. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
HORRELL, Scott. Ed. Ultrapassando Barreiras, volume 1. São Paulo: Edições Vida
Nova, 1998.
HORRELL, Scott. Ed. Ultrapassando Barreiras, volume 2. São Paulo: Edições Vida
Nova, 1998.
Keryx Seminário Teológico - www.keryxestudosbiblicos/seminario_teologico.html
ITER – Instituto Teológico Renovação Eclesiologia - A Doutrina da Igreja 31
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
15º MÓDULO BACHAREL: Agosto / Setembro 2017
DISCIPLINA: Eclesiologia
DOCENTE: Ap. Natanael Solís
NÚCLEO: El Shaddai - SP
DIA/AULA: Quarta-feira
DATA
AULA
PÁG.
CONTEÚDO
OBS.
16/08/17
1ª
3 - 6
* Apresentações
* Leitura do Plano de Ensino
Introdução
I. Definições e Conceitos
2ª
7 - 8
II. A Edificação da Igreja
23/08/17
3ª
9 - 11
III. A Natureza da Igreja
4ª
11 - 13
IV. A Fundação da Igreja
30/08/17
5ª
13 - 15
V. A Igreja Local e a Igreja Universal
VI. A Igreja como Órgão
6ª
15 - 23
VII. Propósito da Igreja
VIII. As Ordenanças da Igreja
06/09/17
7ª
24 - 28
IX. Formas de Governo da Igreja
X. A Adoração da Igreja
8ª
28 – 30
XI. O Ministério da Igreja
Conclusão
Avaliação e Entrega de Trabalho
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ITER - PLANO DE ENSINO - CURSO DE TEOLOGIA (BACHAREL)
DISCIPLINA: ECLESIOLOGIA DOCENTE: Ap. Natanael Solís CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA
EMENTA: A disciplina contém: Objetivos Gerais e Específicos, Conteúdo Programático, Metodologia, Sistema de Avaliação,
Cronograma de Desenvolvimento da Disciplina e Bibliografias Gerais, Especificas e Anexas ou Complementares.
DESCRIÇÃO: Um estudo sobre os fundamentos da ECLESIOLOGIA, a doutrina da IGREJA de Cristo. Uma reflexão à luz das Escrituras Sagradas.
PROPÓSITO
A disciplina ECLESIOLOGIA objetiva apresentar a origem da Igreja, sua natureza, seu papel fundamental em relação à
salvação do homem, seu relacionamento com o mundo, suas doutrinas e seu papel social.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Ao final do curso o aluno deverá ser capaz de: o Apresentar com clareza e coerência uma definição pessoal da Igreja de Cristo. o Compreender com clareza o conceito do que significa a Igreja. o Aplicar o conceito de Igreja em sua vida. Seu papel claro como “Noiva de Cristo”. o Expor em sala de aula as verdades bíblicas sobre Eclesiologia.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
INTRODUÇÃO
I. Definições e Conceitos II. A Edificação da Igreja III. A Natureza da Igreja IV. A Fundação da Igreja V. A Igreja Local e a Igreja Universal VI. A Igreja como Órgão e não como Organismo VII. Propósito da Igreja VIII. As Ordenanças da Igreja: o Batismo e a Ceia IX. Formas de Governo da Igreja X. A Adoração da Igreja XI. O Ministério da Igreja
CONCLUSÃO
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
HORRELL, Scott. Ed. Ultrapassando Barreiras, volume 1. São Paulo: Edições Vida Nova, 1998.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999. CALDAS, Carlos. Fundamentos da Teologia da Igreja Editora Mundo Cristão, 2007.
METODOLOGIA DE ENSINO As aulas serão ministradas obedecendo a seguinte metodologia:
o Expositivo-dialogais. o Leituras e análises de textos selecionados. o Audiovisuais (Slide/Multimídia/Vídeos). o Trabalhos escritos pesquisas/resenhas.
SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO:
A Avaliação será baseada nos seguintes critérios: Seminários\dinâmicas em grupos\pesquisas escritas\ participação\ trabalho em classe\aulas expositivas\vídeo aula e pesquisa de campo e Provas. AVALIAÇÃO E TRABALHOS:
o Elaboração de Trabalho estipulado pelo professor. Trabalho Individual ou em Grupo. o Siga as orientações da Metodologia Científica a serem adotadas no trabalho. Serão enviadas ao aluno via e-mail. o Avaliação e entrega de Trabalho previstas para quarta-feira 06/09/2017.