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CRISTIANE MARIA PIRES MARTINS
ARQUEOLOGIA DO BAIXO TAPAJS: OCUPAO HUMANA NA
PERIFERIA DO DOMNIO TAPAJNICO
DISSERTAO DE MESTRADO
Belm, Par
2012
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CRISTIANE MARIA PIRES MARTINS
ARQUEOLOGIA DO BAIXO TAPAJS: OCUPAO HUMANA NA
PERIFERIA DO DOMNIO TAPAJNICO
Dissertao de Mestrado
Dissertao apresentada como requisitoparcial para obteno do ttulo de Mestreem Antropologia pelo Programa de Ps-Graduao em Antropologia daUniversidade Federal do Par.
Orientadora: Prof Dra. Denise Pahl Schaan
Belm, Par2012
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Martins, CristianeArqueologia do baixo Tapajs: Ocupao humana na periferia dodomnio Tapajnico/Cristiane Martins. 208 f.Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal do Par.
Programa de Ps-Graduao em Antropologia. Belm, 2012.rea de concentrao: ArqueologiaOrientador: Denise Pahl Schaan.
1. Arqueologia Amaznica 2. Baixo Rio Tapajs 3. Cultura Material 4.Mudanas Culturais
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Cristiane Maria Pires Martins
ARQUEOLOGIA DO BAIXO TAPAJS:
OCUPAO HUMANA NA PERIFERIA DO DOMNIO TAPAJNICO
Belm, __ de outubro de 2012
Banca examinadora:
__________________________________________________________Prof. Dr. Eduardo Ges Neves- Examinador externo
Universidade de So Paulo/Museu de Arqueologia e Etnologia (USP/MAE)
__________________________________________________________Prof. Dr. Fernando Marques- Examinador interno
Museu Paraense Emlio Goeldi/ Programa de Ps-Graduao em Antropologia
(UFPA/PPGA)
__________________________________________________________Profa. Dra. Denise Pahl Schaan- Orientadora
Universidade Federal do Par/ Programa de Ps-Graduao em Antropologia (UFPA/PPGA)
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minha famlia, por tudo.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel
Superior (CAPES), pela concesso da bolsa de estudo durante o curso de mestrado.
Ao Programa de Ps-Graduao em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal do
Par (UFPA), por ter oportunizado a formao acadmica de alunos da regio amaznica nos
quatro campos de atuao da Antropologia.
Agradecimentos especiais dedico minha orientadora, a professora Dra. Denise Pahl
Schaan, que tem investido h alguns anos na minha formao acadmica atravs de auxlios
os mais diversos: financiamento de pesquisas de campo e de laboratrio, orientaes
metodolgicas, discusses de resultados, incansveis correes textuais, e um enorme
interesse em sempre aprimorar minha dissertao. Sua atuao na Arqueologia Amaznica,
seja no ensino ou na pesquisa, vem possibilitando para inmeros de ns alunos (especialmente
os nortistas), a iniciao na Arqueologia, bem como agregando teoria e conhecimento
cientfico queles profissionais com extensa experincia de campo. Obrigada!
Aos professores do PPGA, que contriburam em demasia para a formao
interdisciplinar dos alunos do programa. Aos colegas de curso, em especial a Ney Gomes,
Rhuan Lopes, Daiana Alves e Edyr Jnior, que dividiram mais diretamente as dores e delcias
de ser um mestrando (a).
Aos membros da banca de Qualificao, os professores Dr. Eduardo G. Neves e a Dra.
Mrcia Bezerra, pelas sugestes e indicaes valiosas para os encaminhamentos da pesquisa.
A todos os que participaram de diferentes etapas do processo de elaborao da
dissertao: Heitor Vtor, Thalita Trindade, Lela Mesquita, Tallyta Suenny, Silvinho Costa,
Anna Barbara, Vera Portal, Diego Barros, Raquel Ramos, Mrcio Amaral, Caio e Gizelle
Morais, os quais dividiram incontveis horas em laboratrio e contriburam com valiosas
trocas de ideias; aos scios/diretores da Inside Consultoria Cientfica, Wagner Veiga e Andr
dos Santos, pela ajuda em campo, por terem disponibilizado o espao fsico fundamental
ltima etapa de anlises da cermica, e, especialmente, pela amizade.
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Aos que estiveram presentes nas trs etapas de escavaes no stio arqueolgico
Serraria Trombetas, entre os anos de 2009 e 2011, especialmente os co-trabalhadores da
comunidade Campo Verde (Km 30).
E por fim, minha famlia Alba, Bele, Douglas e Caito, sempre pacientes apesar de
dezenas de momentos de ausncia, e torcendo muito pela concluso de mais uma etapa da
minha vida profissional.
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RESUMO
Essa pesquisa investiga um stio arqueolgico localizado em rea que seria o limite sulda disperso da Tradio Inciso-Ponteada no baixo curso do rio Tapajs, e discute os
resultados dessa pesquisa luz dos demais dados e hipteses que vm sendo formulados sobre
a ocupao indgena pr-colonial da regio. Investigaes arqueolgicas realizadas na regio
nos ltimos anos vm revelando que a rea de disperso de stios arqueolgicos ligados a essa
tradio cermica maior do que se supunha anteriormente. As caractersticas estilsticas da
cultura material e o modo de ocupao das paisagens parecem indicar contatos culturais entre
habitantes do baixo rio Tapajs e os povos que habitavam as bacias dos rios Nhamund eTrombetas ao final do primeiro milnio da Era Crist. Sendo assim, esta pesquisa compreende
dois exerccios: (1) o primeiro de escala local, com foco no stio arqueolgico Serraria
Trombetas, e no estudo detalhado do espao intra-stio, entendido como um microcosmo de
uma histria regional; e (2) o segundo de escala regional, de comparao dos resultados locais
com a cronologia e as caractersticas dos demais stios arqueolgico da regio. Atravs da
caracterizao estilstica da cermica, do estudo do material ltico, da distribuio espacial dos
vestgios no stio e em nvel regional, alm do exame da cronologia regional, buscou-seinvestigar a diversidade cultural dos grupos pr-coloniais no segundo milnio da Era Crist.
PALAVRAS-CHAVE: Arqueologia amaznica; Baixo Tapajs; Cultura material; Tradio
Inciso-Ponteada; Contextos regionais.
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ABSTRACT
This research investigates a archaeological site located on a supposed south boundaryof the Incised and Punctate Tradition area of influence, in the lower Tapajs River, and
debates the results of the investigation in the light of the data and hypotheses on the pre-
colonial occupation of the region. Archaeological investigations in the region in the last
couple of years have revealed that the area of dispersal of this tradition is larger than
previously expected. Material culture styles and the ways the landscape was occupied seem to
indicate cultural contact between the inhabitants of the lower Tapajs River and the peoples
who lived on the Nhamund and Trombetas rivers basins by the end of the first millennium.So being, this research focus was twofold: (1) a local scale, with reference to Serraria
Trombetas site and a detailed study of the in-site space as a micro cosmos of a regional
history; and (2) a regional scale, comparing local results with the chronology and the
characteristics of other sites in the region. Cultural diversity among the pre-colonial
indigenous groups in the region was studied through ceramic styles, lithic objects, spatial
distribution of vestiges in the local and regional levels, and the absolute chronology.
KEYWORDS: Amazonian Archaeology; Lower Tapajs River; Material Culture; Incised
and Punctate Tradition; Regional Context.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Exemplares de cermica Konduri, rios Nhamund e Trombetas (Retirado de Hilbert
e Hilbert 1980) .......................................................................................................................... 17Figura 2 - Cermica encontrada na regio de Oriximin (Retirado de Hilbert e Hilbert 1980).................................................................................................................................................. 18
Figura 3 - Stios arqueolgicos registrados no diagnstico da BR-163 (Retirado de Schaan eLima 2011) ............................................................................................................................... 28Figura 4 - Stios arqueolgicos registrados em Santarm e Belterra (Retirado de Schaan eLima 2011) ............................................................................................................................... 29Figura 5 - Mapa de localizao de stios arqueolgicos registrados em rotas transversais entreos rios Amazonas e Tapajs (Fonte: Duarte Filho 2010) ......................................................... 34Figura 6 - Variabilidade de stios e ocorrncias arqueolgicas na rodovia BR-230 ................ 46Figura 7 - Mapa de tipos de stios arqueolgicos em relao geomorfologia (Elaborado por
D. Schaan) ................................................................................................................................ 49Figura 8 - Stios Serra Anapuru e Serra do Bibo, em topos de serra ...................................... 50Figura 9 - Stio Castanha e stio Floresta Verde, em terra firme .............................................. 50Figura 10 - Stio sobre river bluff: vista do rio Tapajs a partir do stio 9 BEC ................. 50Figura 11 - Stio Nossa Senhora de Lourdes, cavidade com gravura rupestre ......................... 51Figura 12 - Stio Santo Antnio, localizado no igarap de mesmo nome, e cermica na SerraAnapuru .................................................................................................................................... 51Figura 13 - Artefatos lticos nos stios Floresta verde e Paran-Miri ....................................... 51Figura 14 - Artefatos lticos dos stios Piquizeiro e Trs Coraes ......................................... 52Figura 15 - Lticos da Ocorrncia Bom Sossego ...................................................................... 52Figura 16 - Stios arqueolgicos em relao aos cursos d'gua (Elaborado por D. Schaan) .... 54
Figura 17 - Planta da distribuio de terra preta e localizao das escavaes ........................ 57Figura 18 - Perfis de unidade escavada na rea perifrica do stio (paredes N e L da unidadeN700 L360) .............................................................................................................................. 58Figura 19 - esquerda, a Serraria 3T Trombetas, e direita, vista da rea alterada por estradade acesso ................................................................................................................................... 59Figura 20 - Plantao de coqueiros e, direita, vista do stio a partir da rea com declive, aleste ........................................................................................................................................... 59Figura 21 - Perfis de unidade escavada na poro norte do stio (N641 L361, paredes N e L)61Figura 22 - Perfil O da unidade N640 L441 ............................................................................. 63Figura 23 - Perfis das paredes S e O, unidade N601 L341 ....................................................... 64Figura 24 - Perfil S e O de unidade escavada na poro sul do stio (N540 L340).................. 66Figura 25 - Croqui da rea 1 com a localizao das vasilhas enterradas.................................. 67Figura 26 - Perfil S da rea 1 ................................................................................................... 68Figura 27 - Esc. N561 L369, vasilha de cermica abaixo da camada de TPA ......................... 69Figura 28 - Coroas de dente ...................................................................................................... 70Figura 29 - Vasilha 2, rea 1 ................................................................................................... 71Figura 30 - Vasilha 2 ................................................................................................................ 72Figura 31 - Coroas de dentes encontradas na Vasilha 2 ........................................................... 73Figura 32 - Vasilha 3, rea 1 ................................................................................................... 74Figura 33 - Vasilha 3 ................................................................................................................ 75Figura 34- Lmina de machado associada cermica ............................................................. 76
Figura 35 - Vasilha 4, rea 1 ................................................................................................... 76Figura 36 - Vasilha 4 ................................................................................................................ 77Figura 37 - Vasilha 5, rea 2 ................................................................................................... 79
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Figura 38 - Vasilha 5 na rea 2 ................................................................................................ 79Figura 39 - Vasilha 5 ................................................................................................................ 80Figura 40 - Perfis das paredes N e L da unidade N560 L350 onde foi coletada a vasilha 5 .... 81Figura 41 - Escavao aos 41cm de profundidade ................................................................... 83
Figura 42 - Feio 3 na rea 3 ................................................................................................. 83Figura 43 - Croqui da Feio 3 com desenhos dos planos de 1 a 7 .......................................... 84Figura 44 - Uso do antiplstico com relao espessura da parede do vasilhame. RT=rochatriturada; AR=areia; MC=mica; CX=cauixi; CM=caco modo. ............................................... 91Figura 45 - Uso dos antiplsticos com relao queima ......................................................... 91Figura 46 - Tipos de antiplsticos usados em fragmentos simples e decorados....................... 92Figura 47 - Fragmentos cermicos com incises retilneas e geomtricas ............................... 94Figura 48 - Fragmento cermico com ponteados na parede do recipiente ............................... 94Figura 49 - Filetes aplicados e paralelos .................................................................................. 95Figura 50 - Apliques circulares agrupados, denominados de "botes" .................................... 95Figura 51 - Exemplares de bordas entalhadas .......................................................................... 96
Figura 52 - Fragmentos com a decorao excisa ...................................................................... 96Figura 53 - Aplique vazado ...................................................................................................... 97Figura 54 - Fragmento de borda com filetes ungulados ........................................................... 97Figura 55 - Relao entre decorao plstica e antiplsticos minerais e orgnicos ................. 98Figura 56 - Fragmentos cermicos com filetes ponteados, incises e pequenos apliquescirculares com ponteados e/ou entalhes.................................................................................... 98Figura 57 - Fragmentos cermicos com filetes ponteados e incises geomtricas .................. 99Figura 58 - Fragmentos cermicos com filetes ponteados ..................................................... 100Figura 59 - Filetes entalhados e ponteados em forma de cruz................................................ 101Figura 60 - Fragmentos com decorao pintada e plstica ..................................................... 102Figura 61 Cermica com pintura em motivos geomtricos (espiral, crculos concntricos),em reas, faixas e linhas paralelas .......................................................................................... 103Figura 62 - Fragmentos de placa ............................................................................................ 105Figura 63 - Exemplar de assador ............................................................................................ 105Figura 64 - Artefatos cilndricos sem funo identificada ..................................................... 106Figura 65 - Exemplares de tortuais de fuso ............................................................................ 106Figura 66 - Fragmento de fuso em forma de disco ................................................................. 107Figura 67 - Fragmento de crivo .............................................................................................. 107Figura 68 - Apliques zoomorfos com representao de duas e trs cabeas de aves ............. 108Figura 69 - Aplique zoomorfo bicfalo .................................................................................. 109Figura 70 - Apliques zoomorfos ............................................................................................. 109
Figura 71 - Apliques zoomorfos ............................................................................................. 110Figura 72 - Fragmento de vaso antropomorfo ........................................................................ 110Figura 73 - Exemplar de bilha com borda de forma triangular .............................................. 111Figura 74 - Bordas de bilhas decoradas com filete, aplique circular e pintura vermelha ....... 111Figura 75 - Vasilhame semiinteiro ......................................................................................... 112Figura 76 - Formas de base e uso de antiplsticos ................................................................. 116Figura 77 - Formas de recipientes cermicos reconstitudos .................................................. 117Figura 78 - Forma 1 ................................................................................................................ 118Figura 79 - Forma 2 ................................................................................................................ 119Figura 80 - Forma 3 ................................................................................................................ 120Figura 81 - Forma 4 ................................................................................................................ 121
Figura 82 - Forma 5 ................................................................................................................ 122Figura 83 - Forma 6 ................................................................................................................ 123Figura 84 - Forma 7 ................................................................................................................ 124
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Figura 85 - Forma 8 ................................................................................................................ 125Figura 86 - Forma 9 ................................................................................................................ 126Figura 87 - Forma 10 .............................................................................................................. 127Figura 88 - Forma 11 .............................................................................................................. 128
Figura 89 - Forma 12 .............................................................................................................. 128Figura 90 - Relao entre formas reconstitudas e antiplsticos ............................................ 130Figura 91 - Exemplares de lticos lascados e lminas de machado polidas ........................... 131Figura 92 - Tipos de artefatos lticos analisados .................................................................... 132Figura 93 - Lmina de machado inteira .................................................................................. 134Figura 94 - Lminas inteiras ................................................................................................... 135Figura 95 - Fragmentos proximais de lminas ....................................................................... 136Figura 96 - Fragmentos de lminas de machados lticos ........................................................ 136Figura 97 - Reciclagem da matria-prima. Fragmentos de lmina de machado .................... 137Figura 98 - Fragmentos distais de lmina de machado .......................................................... 137Figura 99 - Provveis fragmentos proximais de lminas de machado simples ...................... 138
Figura 100 - Pr-forma de lmina de machado ...................................................................... 143Figura 101 - Ncleos de percusso unipolar (peas C, D e E) ............................................... 144Figura 102 - Artefatos polidos de funo desconhecida ........................................................ 145Figura 103 - Fragmentos de lmina polida e possvel pr-forma de artefato semelhante ...... 146Figura 104 - Bloco elipsoidal com um sulco polido na face plana inclinada ......................... 147Figura 105 - Hematita com estrias de raspagem..................................................................... 147Figura 106 - Conjunto de adornos .......................................................................................... 148Figura 107 - Adorno e pr-forma de morfologia semelhante, respectivamente peas A e B . 148Figura 108 - Provvel suporte em seixo ................................................................................. 150Figura 109 Exemplares de possveis picoteadores. direita, foco nas marcas de desgaste151Figura 110 - Seixos sem estria ................................................................................................ 152Figura 111 - Estrias na face plana .......................................................................................... 152Figura 112 - Ambas as faces com estrias ............................................................................... 153Figura 113 Seixos lascados por percusso bipolar sobre bigorna ....................................... 153Figura 114 Quantidade de cermica por nveis escavados na rea 1 ................................. 157Figura 115 Quantidade de cermica por nveis escavados na rea 2 ................................. 158Figura 116 Quantidade de cermica por nveis escavados na rea 1 ................................. 159Figura 117 Formas de vasilhas encontradas nas reas escavadas no stio........................... 160Figura 118 - rea 1, Plano 1 .................................................................................................. 187Figura 119 - rea 1, Plano 2 .................................................................................................. 188Figura 120 - rea 1, Plano 3 .................................................................................................. 189
Figura 121 - rea 1, Plano 4 .................................................................................................. 190Figura 122 - rea 1, Plano 5 .................................................................................................. 191Figura 123 - rea 1, Plano 6 .................................................................................................. 192Figura 124 - rea 1, Plano 7 .................................................................................................. 193
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SUMRIO
INTRODUO .......................................................................................................................... 1
CAPTULO 1 ............................................................................................................................. 6
A OCUPAO INDGENA PR-COLONIAL NAS FONTES ETNO-HISTRICAS E
ARQUEOLGICAS .................................................................................................................. 6
1.1. Informaes etno-histricas ............................................................................................. 6
1.2. Informaes arqueolgicas ............................................................................................ 11
CAPTULO 2 ........................................................................................................................... 42
O STIO SERRARIA TROMBETAS ...................................................................................... 42
2.1. rea da pesquisa ............................................................................................................ 42
2.2. Stios arqueolgicos localizados entre Itaituba e Rurpolis .......................................... 45
2.3. Anlise intra-stio: o stio Serraria Trombetas ............................................................... 53
2.3.1. Descrio das escavaes ....................................................................................... 60
CAPTULO 3 ........................................................................................................................... 86
A CULTURA MATERIAL DO STIO SERRARIA TROMBETAS ...................................... 86
3.1. Metodologia de anlise cermica .................................................................................. 86
3.1.1. Anlise quantitativa: atributos tecnolgicos e estilsticos ...................................... 89
3.1.2. Anlise qualitativa ................................................................................................ 104
3.1.3. Atributos morfolgicos ......................................................................................... 112
3.2. Anlise do material ltico ............................................................................................. 131
3.2.1. Metodologia de anlise do material ltico ............................................................ 133
3.2.2. Lminas de machado inteiras ............................................................................... 133
3.2.3 Lminas de machado fragmentadas, reaproveitadas e recicladas ......................... 135
3.2.4. Pr-forma de lmina de machado ......................................................................... 143
3.2.5. Ncleos ................................................................................................................. 143
3.2.6. Polidores manuais ou pr-formas de adornos ....................................................... 145
3.2.7. Provveis picaretas ............................................................................................... 145
3.2.8. Bloco com sulco polido ........................................................................................ 146
3.2.9. Hematina-Corante ................................................................................................. 147
3.2.10. Pingentes e/ou adornos corporais ....................................................................... 148
3.2.11. Suporte em seixo ................................................................................................ 150
3.2.12. Picoteadores ........................................................................................................ 150
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3.2.13. Seixos ................................................................................................................. 151
CAPTULO 4 ......................................................................................................................... 155
RESULTADOS E DISCUSSES .......................................................................................... 155
4.1. Anlise da ocupao do stio Serraria Trombetas ....................................................... 155
4.2. Ocupao na periferia do domnio tapajnico (380-180 a.C. a AD 1300-1370) ......... 163
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................. 172
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................... 176
ANEXOS ................................................................................................................................ 184
ANEXO I ................................................................................................................................ 185
ANEXO II .............................................................................................................................. 187
ANEXO III ............................................................................................................................. 194
ANEXO IV ............................................................................................................................. 205
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INTRODUO
Esse projeto de pesquisa foi concebido a partir de minha participao em prospeces
e escavaes de stios arqueolgicos ao longo das rodovias BR-163 e BR-230 como parte das
atividades de salvamento arqueolgico do Programa de Identificao e Salvamento do
Patrimnio Arqueolgico na BR-163 (Guarant do Norte/ Entroncamento BR-230) e BR-230
(Miritituba/Rurpolis) (Schaan 2009), bem como a partir da experincia adquirida quando da
elaborao da monografia final do Curso de Especializao em Arqueologia da Universidade
Federal do Par, que realizou a caracterizao estilstica do material cermico do stio
arqueolgico Alvorada, localizado no municpio de Itaituba (Martins 2010).
O Programa de Arqueologia foi executado pelo Ncleo de Pesquisa e Ensino de
Arqueologia (UFPA), iniciando-se em 2008, sob a coordenao de Denise P. Schaan(PPGA/UFPA), com financiamento do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes (DNIT). A rea da pesquisa compreendeu duas rodovias: a Cuiab-Santarm
(BR-163) no trecho entre Guarant do Norte/MT at o entroncamento com a BR-230/PA
(localidade Campo Verde ou Km30), totalizando 750,5km, e a rodovia BR-230, trecho entre
Miritituba (municpio de Itaituba) e Rurpolis, com 146,4km (Schaan 2009).
No trecho da rodovia BR-230, rea foco desta pesquisa acadmica, foram
identificados 26 stios arqueolgicos e quatro reas com ocorrncia pontual de vestgios
arqueolgicos. As caractersticas estilsticas da cermica encontrada em vrios destes stios
nos permitem caracterizar esta regio como de periferia do domnio cultural dos Tapaj, cujo
principal stio estaria localizado na atual cidade de Santarm (Nimuendaju 1949).
Tais caractersticas estilsticas correspondem Tradio Inciso-Ponteada, definida
inicialmente por Betty Meggers e Clifford Evans na dcada de 1960 (Meggers e Evans 1961)
e posteriormente correlacionado por Peter Hilbert a stios encontrados nos rios Nhamund e
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Trombetas, afluentes da margem esquerda do rio Amazonas, onde identificou a fase Konduri
(Hilbert 1955; Hilbert e Hilbert 1980).
Estilos decorativos e atributos tecnolgicos foram utilizados por Meggers e Evans(1961) para propor um modelo de ocupao e definir reas culturais na Amaznia, o que
culminou na identificao de quatro grandes horizontes culturais: Hachurado-Zonado, Borda
Incisa, Policromo e Inciso-Ponteado, que posteriormente foram referidos como Tradies.
Partindo da premissa de origens exgenas das cermicas ricamente elaboradas encontradas na
regio amaznica, Meggers estabeleceu que movimentos de difuso cultural advindos dos
Andes, Amrica Central e as Guianas introduziram cermicas com decoraes diversificadas.
No que se refere cermica da Tradio Inciso-Ponteada, encontrada em stios do baixoAmazonas, a distribuio do estilo inclua a bacia do Orinoco e do Amazonas, alm de
ocorrncias nas Guianas (Meggers e Evans 1961: 381). As caractersticas decorativas dessa
cermica so incisos e ponteados principalmente em faixas ao redor de vasilhas, linhas
paralelas e geomtricas, e adornos e apliques de formatos antropomorfos e zoomorfos.
Localmente essa cermica recebia o antiplstico predominante de cauixi, um espongirio
fluvial.
No baixo Amazonas, as primeiras ocupaes indgenas, segundo dataes
radiocarbnicas obtidas atravs de escavaes em Monte Alegre (Caverna da Pedra Pintada)
e Santarm (Sambaqui da Taperinha) por Anna Roosevelt (1987, 1991, 1992, et al. 1996,
1999), indicam uma seqncia de ocupao a partir do perodo Paleondio (11.200 AP),
passando pelo Arcaico (entre 8.000 AP e 7.000 AP) e Formativo (entre 4.000 AP e 3.000 AP)
at as chefias regionais (entre 1.000 AP e 500AP).
Estudos recentes realizados em uma rea de, aproximadamente, 120 km ao sul deSantarm, na comunidade do Parau, na margem esquerda do rio Tapajs (Gomes 2002,
2005, 2008, 2009, 2010), vm confirmando a presena de grupos indgenas do perodo
formativo e sugerindo uma sequncia regional de ocupao de grupos anteriores e
contemporneos aos Tapaj na margem esquerda do rio homnimo. Os grupos investigados
por Gomes ocuparam a regio de forma descontnua, inicialmente por volta de 3.800-3.600
AP, e posteriormente entre 1.320-910 AP. Estes ltimos teriam interagido com grupos que
produziram as cermicas das fases Santarm e Konduri. Gomes (2008) sugere que esta noseria uma rea de domnio territorial do cacicado tapajnico, j que a pequena ocorrncia de
cermica da fase Santarm se restringiu aos nveis superiores. O perodo situado entre esses
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dois momentos de ocupao identificados ainda constitui um hiato a ser esclarecido por
futuras pesquisas.
Em Itaituba, dataes radiocarbnicas obtidas em material orgnico coletado em trsstios ao longo da BR-230 situam a ocupao entre AD 1.040 e 1.460, provvel perodo de
maior disperso da Tradio Inciso-Ponteada. Esse quadro, assim como no caso do Parau,
sugere uma situao de contato entre essas populaes e aquelas da foz do rio.
Tais contatos regionais de ocupao nos foram sugeridos a partir do material cermico
dos stios da regio do baixo Tapajs, das caractersticas de implantao dos stios na
paisagem, das caractersticas dos assentamentos com terra preta arqueolgica (doravante
TPA) associada s reas de terra firme e de vrzea do rio Tapajs, de indcios de reas de
espaos habitacionais, e prticas ritualsticas e funerrias indicadas por urnas funerrias
escavadas em alguns stios desta regio (Schaan e Martins 2009; Schaan et al.2010; Martins
et al.2010).
Schaan (2012) aponta para estratgias de manejo da paisagem como possveis
indicadores ambientais de conexes regionais entre os grupos pr-coloniais que ocuparam as
regies do planalto de Belterra, as reas de vrzea do Tapajs, assim como as reas ao longodos rios Nhamund e Trombetas (Schaan 2006, 2011, 2012). Entre tais estratgias estariam o
uso de lagos que se situam entre a vrzea e a terra firme, j que os stios possuem um padro
de assentamento marcado pela implantao em reas elevadas (serras e plats), reas
ribeirinhas e de terra firme, com presena tanto de assentamentos permanentes como reas de
atividades relacionadas pesca e captao de recursos diversos.
Os stios com TPA e cermica da Tradio Inciso-Ponteada na regio esto
relacionados a um perodo de aumento populacional a partir de 1.000 AD, marcando a
presena de grande diversidade de organizaes sociais que incluem sociedades regionais
possivelmente centralizadas (Barreto 2008; Neves 2008; Schaan 2004; Roosevelt 1999).
Apoiando-se em tal hiptese, e a partir de um extenso levantamento bibliogrfico, que
incluiu as fontes etno-histricas e pesquisas arqueolgicas anteriores, alm dos resultados de
pesquisas recentes na regio do baixo curso do rio Tapajs (Schaan 2009; Martins 2010;
Duarte Filho 2010; Stenborg et al. 2012), despertou-nos o interesse por investigar aarqueologia da regio do baixo rio Tapajs, com nfase na organizao social de grupos
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indgenas pr-coloniais aparentemente perifricos ao domnio tapajnico, os quais, pelas
caractersticas da cultura material, sugerem similaridades estilsticas com a cermica
encontrada no baixo Amazonas, atribudas s fases arqueolgicas Konduri e Santarm.
Dados preliminares indicam que a regio assinalada por Nimuendaju como de
disperso da cermica tapajnica so maiores do que ele pensava (Schaan 2012) extrapolando
o seu limite sul. O presente estudo teve como um de seus objetivos rever esses limites.
Para tanto, esta pesquisa centra-se, inicialmente, no estudo do stio Serraria
Trombetas, que est localizado na margem direita da rodovia BR-230 (sentido
Miritituba/Rurpolis), a, aproximadamente, 18 km da margem direita do rio Tapajs. Trata-se
de um stio com TPA, localizado em rea de terra firme, com grande quantidade e
diversidade de cermica que se correlaciona com a cermica da Tradio Inciso-Ponteada.
Sendo assim, a pesquisa compreende dois exerccios: 1) o primeiro, de escala local,
com foco no stio arqueolgico Serraria Trombetas e seu espao intra-stio e 2) o segundo, de
escala regional, contextualizando o stio Serraria Trombetas no conjunto dos demais stios j
identificados na regio, tendo em vista os debates acadmicos sobre desenvolvimento cultural
na regio. Utilizando como metodologia a contextualizao das fontes etno-histricas, dacaracterizao estilstica da cermica e do material ltico encontrado em reas de atividades
(entre elas um contexto de enterramento), da distribuio dos assentamentos indgenas pr-
coloniais na regio e a cronologia de ocupaes, objetiva-se contribuir com o estudo de um
espao habitacional em contexto de terra firme como forma de somar ao conhecimento
arqueolgico j produzido sobre os grupos pr-coloniais produtores da cermica da Tradio
Inciso-Ponteada na regio do baixo curso dos rios Amazonas e Tapajs.
Os dados indicam a existncia de contatos culturais na regio do baixo Amazonas e
baixo Tapajs no perodo pr-colonial. Os resultados obtidos com esta pesquisa indicam que
grupos sociais interagiram no passado compartilhando redes de comunicao, ideias e
cosmologias. Essa ilao foi formulada a partir do estudo da cultura material, a qual
entendida como indicador de vnculos sociais que transpunham fronteiras geogrficas, bem
como veculo de identidade cultural e agente ativo de pertencimento social. So apresentadas
similaridades e distines entre grupos que ocuparam a regio de estudo a partir da
comparao das caractersticas de implantao dos stios arqueolgicos na paisagem e da
cultura material.
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A dissertao est estruturada em quatro captulos. O captulo 1 apresenta ao leitor as
informaes disponveis na literatura sobre a ocupao indgena pr-colonial da regio a
partir das fontes etno-histricas e de pesquisas arqueolgicas que vm sendo realizadas na
rea. Objetiva-se com este levantamento confrontar o contexto arqueolgico investigado com
as informaes geradas sobre a sequncia de ocupao do baixo rio Tapajs, incluindo o
contexto cultural e a cronologia de ocupao da regio.
O captulo 2 tem como foco o stio Serraria Trombetas visto a partir dos contextos
locais e regionais. Inicialmente descrito o projeto de investigao na BR-230 e os demais
stios estudados e a pesquisa realizada no stio Serraria Trombetas articulando a distribuio
dos stios na paisagem, a cultura material e a dataes obtidas. Apresento o stio SerrariaTrombetas, suas reas de atividades identificadas e os vestgios arqueolgicos distribudos no
espao intra-stio.
O captulo 3 trata especificamente da cultura material recolhida durante as escavaes.
apresentada a metodologia de anlise utilizada e os resultados quantitativos e qualitativos
alcanados.
No captulo 4 so discutidos os resultados da pesquisa. Primeiramente, analiso oespao intra-stio atravs do estudo da cultura material no contexto espacial e temporal. Esses
dados so confrontados com o contexto regional das pesquisas no baixo curso dos rios
Tapajs e Amazonas a fim de contribuir para o conhecimento sobre a ocupao indgena pr-
colonial da regio.
E, por fim, nas consideraes finais, discuto sobre as contribuies dos estudos de
escala local nas pesquisas arqueolgicas, bem como sobre as possibilidades das anlises da
cultura material nas investigaes de interaes culturais.
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CAPTULO 1
A OCUPAO INDGENA PR-COLONIAL NAS FONTES ETNO-
HISTRICAS E ARQUEOLGICAS
1.1. Informaes etno-histricas
A documentao etno-histrica produzida por cronistas e viajantes europeus
(especificamente os portugueses e espanhis) que percorreram diversos territrios da Amrica
Latina desde o sculo XVI, comumente tem sido utilizada nas investigaes antropolgicas,
historiogrficas e arqueolgicas para tratar do passado indgena. No caso da arqueologia,
ainda que essas narrativas descrevam um panorama especfico, o do perodo do contato e os
sculos posteriores de domnio poltico e econmico, alguns dados so extrapolados para
sculos anteriores conquista, objetivando uma ponte entre o passado pr-colonial, edesenvolvimento cultural vivenciado pela colnia (Navarrete 2000, 2004, 2006a, 2006b).
De fato, no se pode negar que essas informaes serviram de arcabouo a vrios
modelos de ocupao indgena formulados por antroplogos e arquelogos para a regio
amaznica. Temas caros arqueologia como mobilidade indgena, redes de troca, comrcio e
intercmbio de bens de prestgio, rotas de circulao e complexidade cultural, foram
fundamentados pelas informaes etno-histricas e confrontados com pesquisas
arqueolgicas.
Tendo sido o rio Amazonas uma das principais vias iniciais de explorao territorial,
muitos relatos abarcam os grupos encontrados no seu curso e afluentes, como o rio Tapajs.
Na regio do seu baixo curso, que ser o foco dessa dissertao, cronistas e viajantes
indicaram a presena de grande densidade populacional e um complexo sistema poltico
regional, informaes essas que, quando confrontadas com os vestgios arqueolgicos, podem
esclarecer sobre diversas questes de complexidade cultural debatidas por arquelogos.
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Especificamente sobre a regio do baixo curso dos rios Tapajs e Amazonas, h vasta
literatura produzida por cronistas e viajantes desde o sculo XVI ao XVII, que tambm fazem
referncias aos temas apresentados anteriormente, como: comrcio, densidade populacional,
aldeias sedentrias, ocupao de diferentes ambientes de vrzea e terra firme e prticas de
guerras. Descreveram seus contatos com os grupos indgenas da regio abordando temas
como festas, ritos, aspectos do cotidiano, estruturas de aldeias, rituais morturios, fontes de
alimentao, relaes familiares, rede s de trocas comerciais, religio e guerras (Carvajal 1941
[1542]; Teixeira 1639; Acua 1994 [1641]; Heriarte 1962; Bettendorf 1698; Ursua e Aguirre
apudPorro 1995).
Com o intuito de investigar a expressiva densidade populacional indgena ecomplexidade desses grupos poca do contato com os europeus (sugeridas pelas fontes etno-
histricas), as informaes etno-histricas aqui selecionadas foram as que mencionam
articulaes comerciais, polticas e ideolgicas praticadas por grupos indgenas pela regio do
baixo Amazonas e baixo Tapajs, e que sero confrontadas com os resultados arqueolgicos
desta pesquisa para testar ahiptese de interaes culturais na regio de estudo.
A crnica do padre Gaspar de Carvajal (1941 [1542]), indica que durante a expedio
do espanhol Francisco de Orellana, que no sculo XVI percorreu o rio Amazonas at sua foz,
os ndios arredios que habitavam a confluncia deste curso dgua com a foz do Tapajs, os
atacaram atirando flechas envenenadas, obrigando os viajantes a seguirem viagem pela
margem oposta do Amazonas, menos povoada (Carvajal 1941 [1542]).
Em 1561, duas dcadas depois, a segunda incurso espanhola no rio Amazonas de
Pero de Ursua e Aguirre resultou em quatro crnicas complementares (Altamirano, Monguia,
Vsquez e Ziga), relatando a existncia de um grupo populoso de ndios um pouco abaixodo estreito de bidos, denominados de Arauquinas. Segundo eles, alguns desses grupos
praticavam a antropofagia em casas e lugares prprios para a idolatria de seus mortos (Ursua e
Aguirre apudPorro 1995).
A partir do XVII, diversas incurses pelos rios da regio foram realizadas pela coroa
portuguesa, a fim de expandir suas frentes de explorao econmica para alm do esturio
amaznico, onde eram observadas algumas relaes de troca entre estrangeiros e as
populaes indgenas (Reis 1993; 2003). Pedro Teixeira chefiou a primeira dessas incurses
entre 1637 e 1639, onde manteve contato com os denominados Tapuvas, assentados na
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confluncia do rio Amazonas com o Tapajs, e provavelmente na altura de Alter do Cho,
estariam aldeados esses grupos (Berredo 1718). Pedro Teixeira, alguns anos depois, realizou
uma segunda expedio pelo rio Amazonas em direo ao Peru, e no seu retorno descreveu os
Tapuvas como ndios guerreiros que usavam flechas envenenadas, eram antropfagos e
costumavam ter escravos oriundos de grupos vizinhos, com os quais tambm mantinham
comrcio a longas distncias (Teixeira 1639).
As crnicas de Cristbal de Acua (1641) e de Maurcio de Heriarte (1962),
originadas das participaes de ambos nas expedies de Pedro Teixeira1, tambm
apresentam informaes sobre o modo de vida indgena. Segundo o relato de Acua, a
habilidade e o uso de flechas envenenadas mortais, faziam dos numerosos ndios Tapajoses,guerreiros temidos, inclusive pelos portugueses. A comercializao das buraquitas (os
muiraquits), bens de alto valor, com outras naes do entorno tambm aparece nos relatos do
viajante (Acua 1994 [1641]).
Segundo Acua, os portugueses teriam atacado os ndios Tapaj no ano de 1639, sob o
comando de Bento Maciel, em busca de escravos (Acua 1994 [1641]). Em 1661, iniciou-se a
catequizao dos indgenas, com Antnio Vieira enviando o padre Joo Felipe Bettendorf
com a incumbncia de fundar uma misso religiosa na aldeia dos Tapaj. Durante sua estada
no Tapajs, Bettendorf (1698) se deparou com a existncia de estratos sociais, ao observar
alguns aspectos da organizao social indgena. Relatou que os Tapaj mantinham casas
escondidas na mata e nestes locais cultuavam seus mortos guardando os restos mumificados
daqueles que possuram maior prestgio social dentro do grupo, os quais eram reverenciados
em celebraes ritualsticas e mantidos como orculos. Os portugueses reprimiram
violentamente estas prticas com a destruio das mmias cultuadas, justificando que tais
cerimnias eram demonacas (Bettendorf 1698).
A hierarquia social entre os Tapaj tambm citada por Heriarte (1962), que destaca a
existncia de um centro poltico com sede na confluncia dos rios Amazonas e Tapajs, onde
hoje est a cidade de Santarm. Segundo Heriarte (1962), aldeias menores no entorno seriam
subordinadas a este centro administrativo. Relata ainda a prtica de cremar os mortos e
consumir cinzas dissolvidas em bebidas durante rituais.
1Heriarte acompanhou as expedies desde o seu princpio; J Acua, embarcou em Quito, quando do retornoda expedio. Apesar de Heriarte ter acompanhado todo o trajeto, foi o segundo quem publicou suas crnicasprimeiro, em 1641, seguido por Heriarte em 1662.
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Outros grupos indgenas tambm so citados como ocupantes do rio Trombetas (os
Cunuris ou Conduris, entre outros), e que mantinham contatos com os Tapaj e possuam
organizao social similar, porm com seu prprio governo, cerimnias e dolos.
Realizavam extenso comrcio de louas finas e de buraquitas (os muirakits) que eram
muito valorizadas na regio. Com relao a sua organizao social, o domnio Tapajnico era
constitudo de diversos ranchos compostos de 20 a 30 famlias, os quais eram administrados
por chefes locais subordinados a um chefe regional. Tal descrio sugere uma estratificao
social que respondia pelo domnio expansionista dos Tapaj. H referncia a outros grupos
indgenas no rio Tapajs, a exemplo dos ndios Marautus, Caguanas e Orurucuzos, porm
com informaes lacnicas (Heriarte 1962).
O sculo XVIII foi marcado pela acentuao do processo de explorao extrativista e
da escravizao indgena na regio do baixo Amazonas (esta ltima j presente desde os
primeiros contatos com a colnia portuguesa). Em 1759, com a expulso dos jesutas pelo
Marqus de Pombal (ressaltando que desde 1668 diversas misses se faziam presentes no rio
Tapajs), as antigas misses se tornaram vilas e lugares, a exemplo da Vila de Santarm,
criada em 1754. Nessa poca, esses locais ganharam destaque como plos de povoamento,
desenvolvimento agrcola e comercial da administrao pombalina e extrativismo (Menndez
1981-82: 307-8).
As diversas incurses que foram realizadas nos sculos XVIII e XIX ao rio Tapajs
foram consequncia do crescente interesse econmico no mapeamento dos recursos naturais
da regio (Barbosa Rodrigues 1875; Florence ed. 1977; Bates ed.1979), da necessidade de
delimitar os limites administrativos do estado do Par (Coudreau 1977), alm de interesses de
cunho cientfico (Condamine 1743).
Charles-Marie de La Condamine, cientista e explorador francs, percorreu o rio
Amazonas partindo do Peru, com interesse nas caractersticas geogrficas da regio, na fauna
e flora, nas antigas lendas indgenas do rio, como tambm nos muiraquits produzidos pelos
ndios Tapaj. A interligao entre os rios Amazonas e Orinoco pelo canal do Cassiquiare
registrada por ele na ocasio da viagem. (Condamine 1743).
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Hrcules Florence, que percorreu a regio entre os anos de 1825 a 1829 como membro
integrante da expedio Langsdorff2, chefiada por Georg Heinrich von Langsdorff, informou
que a regio dos ndios Munduruc se concentrava na margem esquerda do rio Tapajs e em
seu interior, mencionando o stio de Uxituba, a frente da cidade de Itaituba, como um local
onde habitavam portugueses e indgenas (Florence 1977).
No ano de 1852 o naturalista Henry Bates percorreu o rio Tapajs at as corredeiras do
rio Cupari onde registrou a grande presena de ndios Munduruc nessa regio os quais so
descritos como extremamente arredios e empreendedores de guerras constantes com outros
grupos vizinhos, sendo que um dos seus primeiros ataques fora contra os povoados
portugueses na segunda metade do sculo XVIII (Bates 1979).
Na segunda metade do sculo XIX, a ocupao Munduruc no rio Tapajs era intensa
e seu centro mais povoado era o alto Tapajs, no rio Cururu, conforme Bates (1979) e Joo
Barbosa Rodrigues (1875). Bates informa ainda que a aldeia dos Munduruc no rio Cupari era
constituda por dezenas de casas dispostas ao longo de um barranco na margem do rio numa
faixa de nove a dez quilmetros, assentadas nas encostas de morros e prximas a faixas de
praias (1979).
J no final do sculo XIX, entre os anos de 1895 e 1896, Henry Coudreau percorreu o
rio Tapajs a servio do governador do estado do Par, Lauro Sodr, com o intuito de melhor
definir os limites administrativos entre este estado e Mato Grosso. Nesta ocasio, Coudreau
registrou aspectos da biodiversidade encontrada bem como de seus habitantes ribeirinhos,
como os ndios Maw, Parintintin, Munduruc. Menciona a presena de ndios Maw na
margem esquerda do rio ocupando reas interioranas, somente alcanadas por dois a trs dias
de incurso terra adentro alm dos rios Arapiuns e Tapacur-Mirim, Traco, Arixi, e igarapda Montanha (Coudreau 1977).
Como se pode notar, as informaes etno-histricas sobre a regio dos baixos cursos
dos rios Amazonas e Tapajs apontam aspectos do cotidiano indgena que estiveram presentes
na grande maioria da documentao etno-histrica e que so questes de grande interesse para
o entendimento da organizao social indgena da regio, tais como:
2A expedio percorreu, em geral por rios, as provncias do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de So Paulo, doMato Grosso, do Amazonas e do Par. No caminho, os cerca de 40 integrantes estiveram expostos a um territriodesconhecido que lhes rendeu srios contratempos. Aime Adrien Taunay (o segundo desenhista da expedio),por exemplo, morreu afogado e o prprio Langsdorff contraiu uma doena desconhecida que o fez enlouquecer.
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1. A existncia de trocas comerciais de diferentes grupos ocupando tanto as reas de
vrzea, como do interior (terra firme);
2. Grupos menores vinculados a uma chefia central, sediada na atual cidade deSantarm, e que caracterizaram o domnio regional dos ndios Tapaj;
3. Outras chefias contemporneas aos Tapaj nos rios Nhamund e Trombetas, como
os Konduri que possuam seus prprios sistemas polticos, ideolgicos e
simblicos (com deuses prprios), tambm com distribuio regional;
4. Aldeias autnomas nos rios mais afastados e no submetidas aos Tapaj e
Konduri, as quais motivavam as guerras por dominao territorial e;
5. Grande densidade populacional no baixo Amazonas poca do contato;
Como no poderia ser diferente, as pesquisas arqueolgicas desenvolvidas nessa
regio nos ltimos anos ocupam-se em testar essas informaes luz dos dados contextuais e
vestgios encontrados em dezenas de stios arqueolgicos registrados na rea.
1.2. Informaes arqueolgicas
Joo Barbosa Rodrigues (1875) foi responsvel pelas primeiras informaes
arqueolgicas sobre a regio, percorrendo o rio Tapajs com o intuito de realizar um
inventrio da flora, inicialmente focado nas palmeiras, interesse esse que se estendeu aos mais
diversos tipos de plantas, como as de efeito curativo indicadas pelas informaes indgenas.
Expandiu sua pesquisa ao fazer coletas arqueolgicas que lhe motivaram a projetar a
expanso do domnio Tapajnico at a cachoeira do Borur, localizada prximo a Itaituba.
Em 1870, o gelogo Frederick Hartt (1885), realizou escavaes no sambaqui da
Taperinha, localizado no paranamirim do Ayay, afluente da margem direita do rio
Amazonas, 40km a leste de Santarm, resultando na coleta de fragmentos de ossos, carves e
cermica, a maioria sem decorao, e poucos fragmentos com incises, alm de identificar
stios com terra preta, qual inicialmente atribuiu uma origem natural. Contudo, em uma
segunda investigao no sambaqui, um ano depois, encontrou artefatos cermicos naquele
solo escuro, o que lhe fez perceber que era decorrente de uma ocupao indgena (Hartt
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1885). O gelogo registra a ocorrncia de terra preta em outros stios situados em reas
elevadas e serras circunvizinhas a Taperinha.
Ao investigar a cultura material da regio do planalto pontuou a presena de artefatosornamentados, rodelas de fuso e estatuetas de forma humana. A cermica desta rea, segundo
o gelogo, era composta por material decorado com impresso de dedos, no ornamentadas,
ou (...) lastrada com barro branco e pintada (...), alm dos fragmentos de apliques
modelados em forma de animais, e fragmentos de cabeas, ps, e braos de dolos,
semelhantes aos encontrados no Maraj (1885:13). Esta caracterizao cermica foi estendida
para as demais localidades investigadas por ele, tais como Itaituba, Diamantina, Panema e
Ipaupixuna, que foram consideradas como ocupadas por grupos Tapajnicos.
Diversas urnas funerrias foram localizadas por Hartt em Itaituba, na localidade
denominada Cafezal, na margem esquerda do rio Tapajs (...) atraz de uma grande ilha
arborizada, umas cinco ou seis milhas abaixo da villa de Itaituba (1885:15). Nesta
localidade, a qual denominou de Estao Funerria de Cafezal, registrou um padro de
sepultamento apresentando diversas urnas cermicas.
Apesar de naturezas investigativas dspares, Barbosa Rodrigues (1875) e Hartt (1885),evidenciam que a rea de abrangncia da foz do rio Tapajs at a Cachoeira do Borur, a
40km acima de Itaituba, esteve sob a ocupao dos ndios que habitavam a foz do rio, os
Tapaj. Tais correlaes foram baseadas na presena de solos frteis (terra preta), cermica
com pintura vermelha e modelados semelhantes aos encontrados na cidade de Santarm e no
sambaqui da Taperinha.
Entre os anos de 1923 e 1926, a servio do Museu de Gotemburgo, o etnlogo Curt
Nimuendaju tambm se props a investigar a regio do baixo Amazonas. Tendo identificado
diversos stios com cermica tpica da fase Santarm nos arredores da sede da cidade
homnima e em serras ao sul, o etnlogo sugeriu uma extensa rea de influncia do domnio
dos Tapaj (Nimuendaju 1949, 2004).
O etnlogo localizou 65 stios com terra preta em Santarm, Alter do Cho e
Samama, em Arapixuna, no Lago Grande de Vila Franca, e margem direita do rio
Amazonas, entre a boca deste lago e a do Arapixuna (Nimuendaju 2004). Com relao aolimite sul do domnio Tapajnico, encontrava-se segundo ele a, aproximadamente, 50km, na
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localidade de Aramana, onde Nimuendaju encontrou stios de ocupaes interioranas
afastados dos rios principais e em reas elevadas, o que deveria ter impulsionado aqueles
grupos indgenas a manejarem a terra para produo de poos cavados para reteno de gua,
como os que ele encontrou. Sobre estes poos, Nimuendaju (1949) informou que era uma
forma de suprir a necessidade de gua, sendo que at o momento de sua visita, estes poos
ainda eram utilizados pelos atuais ocupantes da referida regio, com algumas mudanas.
Observou que os moradores do planalto construram caminhos de terra que
interligavam diversas faixas de terra preta, estas mediam alguns metros de dimetro e, de
acordo com Nimuendaju, delimitavam antigas casas. Relacionando o tamanho e espessura das
camadas de terras pretas, cita a aldeia de Santarm como tendo a maior e mais profundacamada de ocupao indgena com, aproximadamente, 1,5m de profundidade e grande
quantidade de artefatos expostos em superfcie e em barrancos.
Mencionando as fontes etno-histricas dos sculos XVI e XVII, o etnlogo informa
que eram ndios numerosos, guerreiros que utilizam flechas envenenadas e guardavam as
cabeas dos seus inimigos como trofus, possuindo diversos escravos obtidos de outras
aldeias circunvizinhas (Nimuendaju 1949).
Ao analisar e relacionar os stios registrados, as coletas de vestgios arqueolgicos e o
estudo das fontes etno-histricas sobre os Tapaj, Nimuendaju inferiu que sua origem
remonta a parte meridional da Amrica central, uma vez que o estilo da cermica encontrada
no baixo curso do rio Amazonas se assemelha em grande medida, tais como os vasos trpodes,
as formas de rs subindo pela parte superior dos vasos, o motivo mo no rosto, entre outros.
Em decorrncia de suas pesquisas, um mapa de distribuio de grupos indgenas brasileiros
foi publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica em 1987 e mostra alocalizao e mobilidade de grupos indgenas, onde os Tapaj figuram distribudos na regio
da foz do rio Tapajs (IBGE 1987).
Em artigo de Per Stenbog (2009), o autor revisita os registros escritos deixados por
Curt Nimuendaju que descrevem seus trabalhos de levantamentos arqueolgicos realizados na
regio de Santarm e Amap. Stenborg destaca que os trabalhos de Nimuendaju, apesar de
no se limitarem aos remanescentes arqueolgicos se assemelham aos de vrios pesquisadores
do comeo do sculo XX, e podem ser descritos como uma Abordagem Histrica Direta e
Horizontal, com nfase em cronologias pouco recuadas para os vestgios arqueolgicos.
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Nimuendaju, comparando os registros escritos sobre os grupos indgenas historicamente
conhecidos da poca do contato europeu e a distribuio geogrfica dos traos estilsticos da
cultura material encontrada nos assentamentos descritos pelos primeiros exploradores, criou
um modelo regional de distribuio da cermica com traos particulares, que foi atribuda
apenas queles ndios registrados pelos primeiros exploradores da regio (Stenborg 2009).
Apesar disto, Stenborg (2009) destaca que o trabalho de Nimuendaju apresenta
resultados extremamente importantes para os estudos recentes, alm de apontar questes-
chave para futuras pesquisas na regio do baixo Amazonas.
Nas dcadas posteriores (de 1940 e 1970) s pesquisas de Nimuendaju, a nfase dos
estudos sobre a ocupao humana do baixo Amazonas esteve voltada para a caracterizao da
cultura material, com nfases nas colees museolgicas reunidas no sculo XIX. Os
trabalhos de Helen Constance Palmatary (1939, 1960), Frederico Barata (1950, 1951, 1953a,
1953b e 1954), e Conceio Gentil Corra (1965) objetivaram caracterizar o estilo da
cermica da fase Santarm, e suas inferncias estiveram pautadas no difusionismo que
explicava as migraes de alguns grupos de acordo com a distribuio geogrfica dos estilos
cermicos. Para Palmatary (1939, 1960), a cermica Santarm poderia ter se difundido por
rotas que interligavam a foz do Tapajs ao Caribe, via rio Orinoco.
Apesar das escavaes e coletas de Frederico Barata em Santarm, no bairro Aldeia,
no terem resultado em estudos que indicassem modelos e teorias sobre a origem e disperso
da cermica Santarm, realizaram descries minuciosas dos atributos estilsticos da cermica
e das representaes zoomorfas e antropomorfas. Identificou artefatos indgenas (cachimbos
de barro) produzidos aps o contato com os colonizadores portugueses, com traos estilsticos
que diferiam daqueles da fase Santarm (Barata 1953). Os estudos de Corra se ocuparam deinvestigar as estatuetas antropomorfas e zoomorfas, sobre as quais realiza uma descrio
tipolgica. Suas anlises tambm apontam para a possibilidade de migraes pelo rio
Amazonas que poderiam responder pela expanso desse tipo cermico (Corra 1965).
J as pesquisas do PRONAPABA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueolgicas na
Bacia Amaznica) oportunizaram alguns levantamentos arqueolgicos pelo rio Tapajs, bem
como no baixo Amazonas. Entre 1971 e 1973, Ulpiano Meneses realizou prospeces em
Prainha e Santarm localizando um total de 25 stios arqueolgicos, situados prximos a
lagoas, ocupando reas limtrofes entre a vrzea e terra firme, e ainda com presena de
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Nas descries dos stios localizados, pode-se notar nos dois trechos investigados que
o trecho da foz do rio Tapajs at as proximidades de Itaituba havia uma maior diversidade de
vestgios arqueolgicos, onde foram encontrados artefatos que segundo Perota eram tpicos da
fase Santarm (nos stios Castanheiro e Santarenzinho, ambos na margem direita do rio
Tapajs).
Apesar de Perota (1982) ter destacado a ausncia de vestgios com decorao mais
elaborada no nos stios registrados acima de Itaituba (aps o trecho encachoeirado do rio),
existem informaes de stios arqueolgicos com enterramentos secundrios no alto Tapajs,
similares aos encontrados no entorno de Itaituba. Em 1957, as escavaes organizadas pelo
Frei Protssio Frikel, localizadas no alto Tapajs, em sua margem esquerda, a 120 km acimada foz do rio Curur, poca da misso franciscana So Francisco do Curur, resultaram na
coleta de urnas funerrias que posteriormente foram estudadas por Peter Hilbert (Hilbert
1958). Na rea da misso (situada em regio ocupada pelos Munduruc civilizados) foram
encontradas sete urnas as quais estavam depositadas em uma camada de TPA de
aproximadamente 50cm e que continham ossos longos ou esfarelados, sem associao de
oferendas. Ocorreram ainda fragmentos cermicos de caractersticas similares s urnas, alm
de fragmentos de cuscuzeiros, e raros fragmentos com pintura vermelha e pintura branca e
vermelha sobre fundo branco (Hilbert 1958).
Hilbert atribuiu aos Munduruc (grupo Tupi) a cermica dessa regio e que classificou
como aquela tipicamente Tupi-Guarani do sul do Brasil, do Paraguai, Bolvia e Argentina, por
apresentar decoraes plsticas (corrugado, ungulado, acanalado e escovado) e antiplstico
rocha triturada em abundncia. Porm, as urnas funerrias foram atribudas a ocupaes
indgenas anteriores e culturalmente diferentes dos Munduruc histricos, uma vez que estes
no conheciam a prtica de enterramento secundrio e utilizavam o caraip como antiplstico,
tal como o faziam os Munduruc do rio Curur (1958).
Peter Hilbert realizou outras pesquisas nos rios Nhamund e Trombetas entre as
dcadas de 1950 e 1980 descrevendo os stios arqueolgicos de outros grupos que habitaram a
regio do baixo curso do rio Amazonas, como os Konduri e Poc, e encontrando cermica
semelhante quela do baixo curso do rio Tapajs. A caracterizao da cultura material
realizada por Hilbert de especial interesse para este estudo por se tratar de cermica comtraos estilsticos similares distribudos nessa regio e que serviro de parmetro para a
anlise dos contatos culturais indgenas pr-coloniais.
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As pesquisas de Hilbert (1955) no municpio de Oriximin, e Hilbert e Hilbert (1980)
na rea de interflvio entre os rios Nhamund e Trombetas objetivaram estabelecer as
diferenas estilsticas entre a cultura material dessa regio e a do domnio Tapajnico, e
identificaram dois tipos de cermica, uma atribuda aos grupos Konduri (j mencionados nos
relatos etno-histricos) e grupos Poc, variao estilstica definida por Hilbert e Hilbert
(1980) e inserida dentro da Tradio Borda Incisa.
Figura 1 - Exemplares de cermica Konduri, rios Nhamund e Trombetas. Fonte: Hilbert e Hilbert 1980
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Figura 2 - Cermica encontrada na regio de Oriximin. Fonte: Hilbert e Hilbert 1980
As diferenas entre as cermicas Konduri e Poc foram estabelecidas com base em
caractersticas tecnolgicas relacionadas ao tipo de antiplsticos, tcnicas decorativas e
formas das peas, e em dataes obtidas para quatro stios da rea de interflvio dos rios
Nhamund e Trombetas (Hilbert e Hilbert 1980). De acordo com Hilbert (1955), os traos
caractersticos da cermica Konduri (fase da Tradio Inciso-Ponteada) so: o uso abundantedo antiplstico cauixi, ocorrendo de forma isolada ou combinada com outros aditivos minerais
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e orgnicos, cor da argila variando entre amarelo, vermelho, cinza e marrom, vasilhas
globulares, tigelas, pratos e assadores, trpodes decoradas ou no, pintura vermelha ou
vermelha e amarela, alas e adornos em forma de cabeas zoomorfas e antropomorfa
posicionadas voltadas para o interior do vaso ou em direo borda, e decorao plstica
representada por incises, ponteados, filetes aplicados com incises e ponteados, alm de
pequenos apliques circulares e aglomerados sobre os quais h um ponteado, inciso ou
crculos, seja para fixar os apliques pea ou ornar os apliques, que foram denominados de
botes.
A cermica Poc foi caracterizada pela presena dos antiplsticos cauixi e/ou caraip,
tigelas simples e carenadas fundas e rasas, vasos com gargalos, assadores, engobo vermelho epintura vermelha sobre engobo branco, decoraes plsticas como ponteados, incises
retilneas e curvilneas, acanalado, escovado, raspado, marcado-com-corda, impresso-em-
ziguezague, ungulado e serrungulado, alm de adornos biomorfos, e apndices em forma de
botes (Hilbert op. cit.).
J a fase Santarm, segundo Hilbert, caracterizada pelo uso moderado do cauixi,
presena de caritides e pintura fixa, bordas ocas e incises retilneas e curvilneas em menor
quantidade em relao cermica Konduri.
Os stios nos quais ocorria a presena de cermica Konduri nos nveis arqueolgicos
superiores foram datados entre AD 400 e1.000. J a cermica Poc representaria ocupaes
mais antigas, do perodo entre 65 a.C. e AD 205. Outras duas dataes, de 1330 e 1000 a.C.,
no foram aceitas pelos pesquisadores para a fase Poc (Hilbert e Hilbert 1980).
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Quadro 1 - Principais caractersticas das cermicas Konduri, Poc e Santarm definidas pelas pesquisas Hilbert (1980)
Tipo cermico Atributos tecnolgicos Atributos decorativos
Konduri Uso abundante do antiplsticocauixi, sendo utilizado deforma isolada e/ou combinadacom outros aditivos mineraise orgnicos.
Cor da argila variando entreamarelo, vermelho, cinza emarrom
Pintura vermelha ou vermelha e amarela, alas eadornos em forma de cabeas zoomorfas eantropomorfas posicionadas voltadas para o interiordo vaso ou em direo borda, e decorao plsticacom incises, ponteados, filetes aplicados comincises e ponteados, alm de pequenos apliquesaglomerados de formato circular sobre os quais hum ponteado, inciso ou crculos, seja para fixar osapliques pea ou ornar estes, que foramdenominados de botes
Vpd
Poc Presena dos antiplsticoscauixi, caraip e umaassociao dos dois
Engobo vermelho e vermelho sobre branco,decoraes plsticas como ponteados, incisesretilneas e curvilneas, acanalado, escovado,raspado, marcado-com-corda, impresso-em-ziguezague, ungulado e serrungulado, alm deadornos biomorfos, e apndices em forma de botes
Ttig
Santarm Uso moderado do cauixi Pintura fixa, bordas ocas e incises retilneas ecurvilneas em menor quantidade em relao
cermica Konduri
Pe
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Com relao cultura material encontrada na regio, Roosevelt (1999) afirma que os
objetos eram elaboradamente decorados. Identificou muitos pratos decorados que seriam
utilizados para alimentao e em rituais, que parecem ter sido amplamente disponveis entre
os grupos que os produziram. Fragmentos de tais peas foram encontrados em grande nmero
nas escavaes realizadas. A cermica apresentava motivos decorativos com fino acabamento
em pintura vermelha e engobo branco, sobre o qual eram desenhadas formas geomtricas
elaboradas, alm de decorao plstica representada por incises, ponteados, e apndices
modelados. A iconografia do material cermico tambm era bastante elaborada, com
representaes zoomorfas e antropomorfas, muitas vezes combinadas em peas com
provveis representaes de seres mitolgicos. A tecnologia de manufatura consistia no uso
intenso do cauixi associado a caco modo. Instrumentos musicais, chocalhos, estatuetas e
outros objetos rituais finamente confeccionados tambm foram coletados. Instrumentos de
pedra como machados, enxs, cinzis e furadores, tambm foram encontrados.
Apoiando-se em relatos etno-histricos como os de Heriarte (1962) sobre rituais
coletivos regados a bebidas muito apreciadas pelos grupos indgenas, a arqueloga afirma que
o milho deve ter tido apenas papel ritual para a comunidade, sendo consumido na forma de
bebidas servidas em cerimnias comunitrias (Roosevelt 1999) no sendo, portanto,
importante como fonte de protena.
Ainda no incio da dcada de 1990, outras dataes foram obtidas para um stio
arqueolgico no municpio de Itaituba, sudoeste paraense. Material orgnico associado a duas
urnas produziu a data de 5.000 AP, apontando para ocupaes anteriores s ocupaes
Tapajnicas (Lisboa e Coirolo 1995). Nas escavaes do stio PA-IT-28: Piririma, localizado
no igarap do Rato, a 2.000m de sua confluncia com o rio Tapajs, a equipe encontrou uma
grande diversidade de vestgios arqueolgicos bem conservados distribudos em uma extensa
faixa de TPA. Entre os vestgios, Lisboa e Coirolo encontraram vasilhas de diferentes formas
e funes, lminas de machado, amoladores, entre outros materiais lticos, e raros materiais de
madeira em bom estado de conservao, como propulsores, borduna e lana, e fragmentos de
peas antropomorfas, tambm confeccionadas em madeira.
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(...) material cermico (panelas, vasos de diversos tamanhos eformas e urnas); material ltico, onde ressaltava lminas de machadoem diabsio e basalto, amoladores e machados manuais em basalto,um projtil de forma cnica em rocha gnea e, mos-de-pilo em
diabsio e rocha gnea; material lenhoso (madeira), como armas(propulsores, borduna e lana) todos em perfeito estado deconservao, assim como peas antropomorfas quebradas, com umadepresso ventral e, restos de pigmentos de pintura. (Lisboa eCoirolo 1995: 9).
Os pesquisadores realizaram a identificao das madeiras com as quais foram
confeccionadas as armas, e indicaram as espcies massaranduba e pau-ferro (como indicado
pelos autores, essas espcies apresentam grande durabilidade, o que pode justificar sua
conservao) (Lisboa e Coirolo 1995). Como resultados de suas pesquisas, destacam a prticade enterramentos secundrios na rea de Itaituba, onde ocorre grande quantidade de stios do
tipo TPA e variabilidade da cultura material.
Outros estudos foram realizados na primeira metade da dcada de 1990 analisando as
colees museolgicas, como os de Vera Guapindaia (1993), que examinou a coleo da
cermica da fase Santarm coletada por Frederico Barata. Nesta ocasio, a arqueloga
pretendeu caracterizar culturalmente os Tapaj atravs da caracterizao tecnolgica da
cermica aliada s informaes etno-histricas (Guapindaia 1993).
Em sua pesquisa, deu nfase tecnologia de produo da cermica. Identificou dois
grupos cermicos distintos, o primeiro indicando contato com europeus, dada a utilizao de
torno, cachimbos angulares e representao da fauna. O segundo grupo no possui influncia
europia, e foi dividido em dois subgrupos: a cermica tipicamente Santarm e a cermica
com influncia dos Tapaj, que apresentara diferenas de manufatura, acabamento e
decorao. O segundo subgrupo levou Guapindaia (1993) a inferir trs possibilidades:
1. Os artefatos pertenciam aos Tapaj, mas eram utilitrios;
2. Pertenciam a grupos que conviveram com os Tapaj;
3. Pertenciam a um grupo mais antigo.
Posteriormente, a coleo Tapajnica do Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade de So Paulo (MAE/USP) foi alvo de dois estudos. O primeiro, realizado em
1996 por Cristina Scatamacchia, Clia Demartini e Alejandra Bustamante, que investigou o
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aproveitamento cientfico das colees arqueolgicas, tomando como exemplo a coleo
Tapajnica (Scatamacchia et al.1996). E o segundo de Denise Gomes (2002), que investigou
a coleo Tapajnica do MAE e objetivou, alm da minuciosa anlise de diversos atributos da
cermica e sua descrio, inserir e contextualizar a cermica Santarm nos modelos
cronolgicos de ocupao da regio amaznica, apresentando, para isso, dataes relativas e a
contextualizao etno-histrica e arqueolgica desta regio com outras reas.
Nesta pesquisa, Gomes (2002), tal como Guapindaia (1993), identificou algumas
variaes estilsticas no conjunto da cermica da fase Santarm/Aldeia, e as atribuiu a outros
grupos contemporneos aos Tapaj, denominados pela autora de comunidades satlites
(Gomes 2002). Para a arqueloga, oselementos formais e decorativos da cermica da faseSantarm indica desenvolvimento local, tomando como base tradies anteriores como a
Barrancide e Polcroma. Sobre a tecnologia de produo cermica, identificou a
continuidade no uso de antiplstico cauixi junto com caco modo.
Gomes (2002) afirma que, apesar de a falta de dados contextuais, estratigrficos e de
dataes absolutas no invalidarem a construo de teorias somente a partir dos estudos de
colees de cermica arqueolgica, acredita na hiptese de fuso das tradies cermicas,
resultantes de chefias competitivas e expansionistas. Referindo-se aos cacicados na
Amaznia, afirma que dada a ausncia de informaes contextuais, os resultados obtidos
nessa analise material no confirmam a aplicao do conceito de cacicado em Santarm
(2002).
Durante sua pesquisa de doutorado, Gomes (2008) realizou prospeces e escavaes
arqueolgicas entre 2001 e 2003 na comunidade Parau, localizada na margem esquerda do
rio Tapajs, a, aproximadamente, 120 km ao sul de Santarm, culminando no registro de 10stios arqueolgicos. Esta pesquisa objetivou a coleta de dados contextuais para testar os
limites territoriais do domnio tapajnico.
Gomes sugeriu a existncia de grupos horticultores anteriores aos Tapaj habitando a
foz do rio homnimo, os quais produziram uma cermica pertencente Tradio Borda
Incisa, atestando ocupaes mais antigas naquela regio, datadas entre 3800-3.600 AP
(Gomes 2005, 2008, 2009). Esses grupos foram caracterizados como produtores de cermica
menos elaborada em relao cermica da fase Santarm, e com uma considervel
mobilidade territorial, dados os depsitos arqueolgicos pouco profundos. A subsistncia
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consistia em atividades extrativistas, caa e pesca alm do cultivo de mandioca (Gomes 2005,
2008, 2009).
Nos contextos de ocupao mais recentes (1.320-910 AP), a pesquisadora identificoustios maiores e com cultura material mais diversificada, em que a cermica apresentava
traos estilsticos da Tradio Inciso-Ponteada. Sugeriu que a regio foi ocupada por grupos
horticultores anteriores aos Tapaj e que, em um perodo tardio, a partir do primeiro milnio
da era crist, mantiveram contatos regionais com estes indgenas e com os Konduri, sem
necessariamente terem sido dominados pelo cacicado tapajnico (Gomes 2008).
Gomes (2008) conclui que esta no seria uma rea de domnio territorial dos ndios
Tapaj, devido pequena ocorrncia de cermica do estilo Santarm nos nveis superiores. A
ocupao indgena da regio teria se dado de forma descontnua, iniciada por volta de 3.800-
3.600 AP, e ocupaes subseqentes entre 1.320-910 AP, que teriam interagido com
complexos mais tardios, como Santarm e Konduri (2005; 2008; 2010). Contudo, o perodo
situado entre esses dois momentos de ocupao identificados ainda constitui um hiato a ser
esclarecido com demais pesquisas no baixo Tapajs.
Diversas denncias foram enviadas ao IPHAN, entre os anos de 1998 e 2000,indicando a depredao do patrimnio arqueolgico na cidade de Santarm, tanto relativas ao
stio localizado no bairro Aldeia como em reas circunvizinhas, a exemplo da rodovia
interpraias que liga Alter do Cho a Ponta de Pedras, e na linha de transmisso Santarm/Vila
de Ponta de Pedras (Guapindaia 1999; Roosevelt 2000 apudSchaan 2006). Em conseqncia
do alto nmero de denncias sobre trfico e achados fortuitos de material arqueolgico, este
rgo realizou em 2006 um levantamento no centro urbano de Santarm, sob a coordenao
da arqueloga Denise Gomes, que delimitou o stio o qual foi denominado stio Aldeia. Apesquisadora indica que a rea do stio abrange os bairros Aldeia e Centro e se estende por
1,7km por 0,4km paralelos ao rio Tapajs. Estas dimenses foram tomadas a partir da
incidncia de material arqueolgico disperso por quintais de casas e terrenos vazios (Gomes
2006 apudSchaan 2006).
J no rio Tapajs, municpio de Aveiro, o arquelogo Paulo do Canto Lopes (MPEG)
realizou uma vistoria na rea do empreendimento do projeto Antares Minerao e Comrcio
Ltda., por solicitao do IPHAN, diagnosticando que nesta rea ocorria um stio arqueolgico
afetado pelas obras do projeto, como a abertura de estrada de terra que interliga a sede do
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projeto ao porto de escoamento, margem do rio Tapajs. Durante esta etapa, recomendou
um estudo intrusivo da rea por meio de prospeco e salvamento arqueolgico, haja vista ter
localizado material arqueolgico aflorado em superfcie em virtude das construes (Lopes
2004 apudSchaan 2006).
O arquelogo Marcos Magalhes do Museu Paraense Emlio Goeldi (MPEG), no ano
seguinte, iniciou o salvamento arqueolgico do stio PA-ST-43: Paran do Araupa e
delimitou sua extenso, que era de 40000m, com disperso de vestgios arqueolgicos a at
800m do rio Tapajs e 500m paralelamente a este. Na primeira etapa do salvamento
ocorreram sondagens ao longo das margens da estrada de acesso ao porto da minerao,
estando planejadas demais escavaes por todo o stio. Entretanto, o projeto no pde serconcludo em virtude do descumprimento de repasse do oramento por parte do contratante
para a concluso do projeto (Magalhes 2005).
O salvamento arqueolgico do stio Paran do Arauep teve continuao em 2010 pela
Inside Consultoria Cientfica, que por solicitao da Antares Minerao, realizou escavaes
sistemticas no stio. Tais atividades revelaram que sua rea central, indicada pela maior
espessura da camada de ocupao formada por TPA e maior ocorrncia de vestgios
arqueolgicos, ocorre assentada na rea mais elevada do terreno. Com relao cultura
material, foi coletada cermica da Tradio Inciso-Ponteada com presena de incises,
ponteados, filetes aplicados, modelados zoomorfos, cermica com pintura vermelha, e uso
abundante do cauixi. Foram coletados dois recipientes cermicos inteiros, sendo que um deles
estava emborcado, ou seja, depositado com a borda voltada para baixo (Schaan et al.2010).
Diagnsticos arqueolgicos no intrusivos foram realizados na regio do baixo curso
do rio Tapajs e expandiram o registro de stios identificando stios ribeirinhos de TPA e emreas afastadas do curso principal do Tapajs.
Seis stios arqueolgicos foram registrados na rea do Projeto Tocantinzinho
(empreendimento da Eldoraldo Gold) inserido em Itaituba (bacia do rio Jamanxim) (Schaan et
al. 2009). J na rea do Parque Nacional da Amaznia (PNA) situado nos municpios de
Itaituba e Aveiro, no Estado do Par, e Maus, no Estado do Amazonas foram identificadas
trs ocorrncias e 29 stios arqueolgicos na rea da Unidade de Conservao (UC), na sua
zona de amortecimento (ZA) e no entorno, em rea que corresponde ao municpio de Itaituba,
margem esquerda do rio Tapajs. Dentre os assentamentos localizados incidiram stios
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cermicos, lito-cermicos, com TPA e diversos polidores e afiadores s margens do rio
Tapajs, nos seus trechos encachoeirados e em alguns de seus afluentes como no igarap
Nambua (presena expressiva de polidores e afiadores), igarap Arixi, Traco (mencionados
por Henry Coudreau como reas de assentamentos indgenas), igarap Farturo e o igarap da
Montanha. Foi encontrado ainda material histrico tal como faianas (Oliveira et al.2010).
Atualmente, diversas atividades de levantamento e salvamento vm sendo realizadas
pelo Ncleo de Pesquisa e Ensino de Arqueologia (NPEA) da UFPA, em Santarm e no
planalto de Belterra, coordenadas pela arqueloga Denise Schaan (PPGA/UFPA). Nesta rea,
as pesquisas foram oportunizadas pelo convnio celebrado entre a UFPA e o DNIT
(Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), em virtude do asfaltamento dasrodovias BR-163 e BR-230 e seus licenciamentos ambientais. Inicialmente em 2006, realizou-
se o diagnstico arqueolgico da rodovia BR-163 no trecho compreendido entre
Santarm/Rurpolis resultando na localizao de 16 stios arqueolgicos e cinco ocorrncias
onde foi identificada cermica tpica da fase Santarm. Em seis dos stios localizados foram
encontrados poos cavados, como os documentados por Nimuendaj em 1949 tambm ao sul
de Santarm (Schaan 2005, 2009).
Com o andamento dessas pesquisas, outros stios foram identificados neste trecho em
virtude de novas vistorias e prospeces intrusivas na rea, e atualmente se tem registrados
113 stios arqueolgicos nessa regio (Schaan 2009; Schaan e Lima 2011).
Em livro publicado recentemente, Schaan (2012) sistematiza os dados obtidos nas
pesquisas recentes no planalto de Belterra articulando-as s informaes etno-histricas.
Aborda os traos estilsticos da cultura material e as estratgias de uso da paisagem para
exemplificar alguns indicadores de interaes culturais em escala regional no planalto deBelterra, pelas reas de vrzea do rio Tapajs, e ao longo dos rios Nhamund e Trombetas.
Tais indicadores na cultura material se referem presena de similaridades na produo de
artefatos cermicos e lticos.
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Figura 3 - Stios arqueolgicos registrados no diagnstico da BR-163. Fonte: Schaan e Lima 2011
No que se refere ocupao da paisagem, Schaan (2012) e Stenborg et al (2012)
sugerem que os stios possuem um padro de assentamento marcado pela implantao em
reas elevadas (serras e plats), reas ribeirinhas e de terra firme, com presena tanto de
assentamentos permanentes como reas de atividades relacionadas pesca e captao de
recursos diversos. Destaca ainda, o manejo de lagos situados entre a vrzea e a terra firme
como uma prtica regional comum no baixo Amazonas. Para a pesquisadora, o conjunto
dessas prticas reflete um contexto regional de ocupao que ser mais bem entendido com a
articulao de diferentes contextos em uma escala ampla.
Resultados de pesquisas de salvamento arqueolgico realizadas no stio Porto de
Santarm (Schaan 2010) e em Belterra (Schaan e Lima 2011, Stenborg et al. 2012), tm
fornecido informaes inditas sobre o manejo indgena da paisagem, bem como a
distribuio espacial de diferentes tipos de stios arqueolgicos com TPA, poos artificiais
(alguns anteriormente descobertos por Nimuendaju) e apontando para a presena de cermica
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A cultura material recuperada por estas intervenes constitui-se de cermica com
traos estilsticos da Tradio Inciso-Ponteada, estatuetas, tortuais de fuso com incises
geomtricas, e vasos de contornos complexos semelhantes aos encontrados em Santarm e
atribudos aos ndios Tapaj (Schaan e Lima 2011). Dada
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