UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ACIDENTES DE CONSUMO
Por: Ana Paula dos Santos de Carvalho
Orientador
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A RESPONSABILIDADE NOS ACIDENTES DE CONSUMO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Defesa do Consumidor e
Responsabilidade Civil.
Por: Ana Paula dos Santos de Carvalho
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AGRADECIMENTOS
AGRADEÇO A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS
Ao meu marido, Itamar Ferreira de Carvalho, meu maior incentivador e
responsável por esse meu reencontro com o Direito. Grande incentivador e
empreendedor das minhas inúmeras batalhas com seu enorme
companheirismo e amor.
Pelos meus filhos Arthur e Camila, meus amores incondicionais, dignos, filhos
maravilhosos e que são, sem dúvida, a minha maior riqueza, meu maior
exemplo e meu melhor espelho, pois sem dúvida aprenderam a caminhar, me
ensinaram a dar valor à vida e a ser sempre fiel aos meus princípios. Sem eles,
nada seria;
Pelos professores, a todos, sem distinção, pela paciência budista, didática e
por renovarem minha crença na justiça;
Pelos amigos que ganhei neste curso, notadamente Marcus Fabiano,
Alexandre, Solange Cunha, Alexandra, Vanessa Rua, Claudia Pettersen e
Lowise, que estejamos sempre juntos;
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DEDICATÓRIA
Dedico esse meu prêmio, cheia de orgulho:
Ao meu esforço próprio, as súplicas incansáveis do meu marido para que eu voltasse a estudar, pois nunca duvidou da minha capacidade. Aos meus filhos, pela paciência e abnegação que tiveram quando eu não pude estar ao seu lado enquanto estudava. A FÉ que mantive incólume dentro do peito, pois venci essa batalha, mas ainda tenho uma guerra inteira para travar. E como fala um sábio professor que tive: “...é vida que segue...” e vamos à luta!!!
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RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços pelos acidentes de consumo nas mais diversas relações consumeristas a que se submete juntamente ao consumidor. Desse modo, torna-se necessário estabelecer a obrigação do fornecedor em responder pelos seus atos ou mesmo pelos de seus prepostos. Tal assunto é de suma importância para o estágio social atual, pois constantemente cresce o número de relações de consumo e, consequentemente, o de conflitos que envolvem o consumidor e o fornecedor, mostrando-se imprescindível uma pesquisa doutrinária e legal que colabore na solução destas relações conflituosas.
O Código de Defesa do Consumidor instituiu três regimes distintos de responsabilidade: sendo um para os vícios de qualidade por inadequação, um para os vícios de quantidade e um para os vícios de qualidade por insegurança.
Assim sendo, ouso dizer que o acidente de consumo deriva da inobservância da qualidade de segurança, que é mais que uma obrigação, é mesmo um dever do fabricante garantir a qualidade e segurança do produto. Desse modo, em ação de responsabilidade por acidente de consumo, ao consumidor incumbe o ônus de provar apenas o dano e o nexo de causalidade entre esse e o fato do produto, e ao fabricante a prova da inexistência de defeito no produto, ou culpa exclusiva do consumidor.
Chegamos a conclusão que a responsabilidade por danos depende de três pressupostos objetivos, ou seja, o defeito do produto, o evento danoso, e a relação de causalidade entre o fato e o dano.
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METODOLOGIA
Os métodos utilizados na elaboração deste estudo, incluem consultas à
sites jurídicos, aos diversos livros citados na bibliografia, códigos, artigos
jurídicos, jurisprudências e artigos de jornal. É importante atribuir os créditos à
Biblioteca Sérgio Cavallieri do Tribunal de Contas do Estado que cedeu o
material que foi objeto de observação e estudo.
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SUMÁRIO
Introdução.........................................................................................9
Capítulo I
1. Evolução histórica...........................................................................11
Capítulo II
2. Relação jurídica de consumo..........................................................15
Capítulo III
3. Responsabilidade Civil no Código de Defesa do Consumidor........23
Capítulo IV
4. Aspectos gerais do acidente de consumo.......................................25
4.1. Conceito de acidente de consumo...............................................25
4.2. Responsabilidade Civil por acidente de consumo........................26
4.3. Pressupostos da responsabilidade por acidente de consumo.....28
4.4. Responsabilidade pelo fato do produto........................................29
4.5. Responsabilidade pelo fato do serviço.........................................31
4.6. Causas de exclusão de responsabilidade....................................32
Considerações finais...........................................................................34
8
Conclusão...........................................................................................34
Anexos................................................................................................36
Referências Bibliográficas ............................................................. ... 40
Índice...................................................................................................42
Folha de Avaliação...............................................................................44
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INTRODUÇÃO
Atualmente as relações de consumo vêm se propagando de forma bastante
acelerada, e os consumidores, na grande maioria das vezes, não veem os
seus direitos respeitados pelos fornecedores, sofrendo, inclusive, em virtude
dos danos que experimentam em razão dos defeitos existentes nos produtos e
serviços que são colocados à sua disposição.
A responsabilidade civil talvez seja o instituto jurídico mais afeto ao senso de
justiça do ser humano, pois se prende ao dano provocado na seara alheia por
uma ação humana, de forma direta ou indireta. A convivência humana produz
necessariamente uma intenção de condutas e interesses nos indivíduos entre
si e em relação à sociedade, que por vezes se demonstra conflituosa,
implicando inevitavelmente a ocorrência de danos. O dano é fruto da
convivência e da interação humana.
Em razão disso, o presente trabalho realizará um estudo, no que se refere ao
direito consumerista, sobre a responsabilidade civil pelos acidentes de
consumo, assunto de incomensurável importância, dada a situação de
vulnerabilidade do consumidor nas relações de consumo. Este trabalho
procurará apontar as diretrizes e direitos oferecidos pelo Código de Proteção e
Defesa do Consumidor, analisando a responsabilidade civil do fornecedor de
produtos e serviços pelos danos que provocam, em razão da má qualidade de
produtos e serviços que lançam no mercado de consumo, sendo este o
objetivo do presente estudo.
O desenvolvimento será realizado com base em pesquisa bibliográfica, sempre
começando com um apanhado geral dos aspectos mais importantes tanto do
acidente de consumo como da responsabilidade civil, tendo em vista situar o
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leitor para o embate do tema principal, este, por sua vez, enfrentado com uma
análise legal, doutrinária e com citação de casos oportunos.
Nesse diapasão, num primeiro momento será realizado um roteiro histórico
sobre a responsabilidade civil, com ênfase na responsabilidade pelo acidente
de consumo. Em seguida trataremos de estabelecer os elementos necessários
para a configuração da relação jurídica de consumo, a fim de adentrarmos na
responsabilidade civil desenvolvida pelo Código de Proteção e Defesa do
Consumidor brasileiro.
O presente trabalho não terá o objetivo de se constituir na última palavra sobre
o assunto, mas, com certeza, dado a importância do tema e satisfeitos os
requisitos de estudo acima mencionados, espera-se a conclusão de um
trabalho sério que traga soluções satisfatórias aos campos acadêmico e
jurídico.
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Capítulo I
1 – Evolução histórica
A idéia de responsabilidade está profundamente ligada com o senso de justiça,
o qual de uma maneira ou de outra sempre esteve presente nas comunidades
humanas. Nos primórdios a idéia de responsabilidade era una, sempre ligada
ao dano, do qual até hoje é inseparável. Inicialmente, necessário se faz traçar
a evolução histórica da responsabilidade civil, partindo-se desde a simples
idéia de responsabilidade até se chegar ao instituto jurídico da
responsabilidade civil, em seu âmbito subjetivo e objetivo, a fim de se alcançar
a responsabilidade civil por acidente de consumo.
Em primórdios, a responsabilidade cingia-se ao agrupamento humano, a
coletividade agia como um todo, não se tendo fincado os ideais da
individualidade humana, construindo assim uma responsabilidade pela
reparação do dano também pertencente ao agrupamento. Afigura-se
claramente tal fato pelas pregadas punições aos povos e descendências, como
constante no Velho Testamento.
A noção de responsabilidade encontra-se presente desde os tempos mais
remotos. Conforme leciona Carlos Roberto Gonçalves[1], nos primórdios da
humanidade não havia regras nem limitações, bem como não se cogitava do
fator “culpa”. Era uma época em que a vingança privada dominava sobre o
Direito, imperando a conhecida Lei de Talião – do “olho por olho, dente por
dente” – como forma de responsabilização pelo dano causado.
Num estágio adiante – como pode ser encontrado no Código de Hamurabi, no
Código de Manu e na Lei das XII Tábuas –, onde ainda não se cogita sobre a
culpa, verifica-se que a vingança privada foi substituída pela composição
econômica e tarifada, onde o ofensor paga um determinado valor pelo dano
que provocou.
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Porém, foi com a evolução do Direito Romano que obtivemos subsídios para a
responsabilidade civil, pois passou a adotar a idéia de culpa como fundamento
da responsabilidade, estabelecendo a responsabilidade extracontratual, em
que o patrimônio do causador do dano deveria arcar com o prejuízo verificado
pelo lesado.
A partir da Revolução Industrial, com construções jurídicas como o Código
Napoleão, a responsabilidade civil desloca-se da idéia de pena para a idéia de
ressarcimento. O dano deve ser reparado. A volta ao status quo ante era a
essência e o fim da responsabilidade civil. A reparação do dano estava
condicionada à existência de uma conduta faltosa, de um ato realizado em
contrariedade ao direito. A Revolução Industrial trouxe consigo
desenvolvimento para sociedade, mas também trouxe diversos danos a
grande parte dessa mesma sociedade. Os produtos recém-criados e
produzidos foram inseridos no mercado de consumo sem grandes
preocupações, causando danos diversos aos seus utentes. Da mesma forma,
inúmeras pessoas sofreram danos na linha de produção da nova indústria. Os
danos afloravam-se, gerando o desejo de sua reparação pelas vítimas, mas ao
mesmo tempo, a fim de que progredisse o capitalismo necessário à
acumulação de capital, exigiu-se para a concretização do dever de reparar a
existência da culpa. Nos tempos modernos, tem-se que seria o Código Civil
Francês de 1804 a primeira codificação a recepcionar as idéias romanísticas, o
qual acrescentou, entretanto, contribuições que enriqueceram e consolidaram
para sempre a idéia de responsabilidade civil conhecida por nós e por todo o
mundo atual.
Com o progresso econômico e a multiplicação dos danos, a realidade tem
procurado fundamentar a responsabilidade não só na idéia de culpa, mas
também na idéia de reparação independentemente da existência de culpa.
Aquele que causara o risco deve responder pelo dano decorrente. Daí deflui a
responsabilidade objetiva, que prescinde da culpa e funda a obrigação da
reparação do dano na ocorrência deste e na ligação com a ação da qual
decorreu o risco.
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É o que acontece no direito brasileiro que, num primeiro momento (CC de
1916, art. 159) adotava a responsabilização com base na culpa (teoria
subjetiva), mas, hoje (CC de 2002, artigos 186 e 927), apesar de manter o
princípio da responsabilidade com base na idéia de culpa, adotou também a
teoria da responsabilidade objetiva, que independe de culpa para ser
evidenciada. Ainda, tem-se que, no CDC, tanto a responsabilidade pelo fato
como pelo vício do produto e do serviço são de natureza objetiva.
Dessa forma, em razão de vivermos em um mundo globalizado, onde se
verifica a cada dia significativos avanços nos campos da tecnologia, da
telecomunicação e da cibernética, passou-se a verificar uma ampliação do
mercado de consumo e, consequentemente, uma multiplicação das relações
contratuais e dos riscos enfrentados pelos consumidores, o que deu ensejo à
necessidade de desenvolver a idéia de responsabilidade civil por acidentes de
consumo, vislumbrando-se a situação de vulnerabilidade financeira, econômica
e técnica do consumidor.
Danos causados por defeitos em automóveis, medicamentos, produtos
alimentícios, serviços de transporte, fornecimento de energia elétrica, serviços
hospitalares, bancários, dentre vários outros, passaram a ser cada vez mais
frequentes nas sociedades pós-industriais.
Assim, em razão da massificação das relações de consumo e da multiplicação
dos danos existentes desde o início do século XX, houve um espaço propício
para a criação de um texto legal que protegesse e regulasse as relações de
consumo, pois, em virtude do seu caráter peculiar, a elas não poderiam ser
aplicados os princípios e normas reguladoras das relações civis de um modo
geral, ante a vulnerabilidade do consumidor.
A partir da segunda metade do século XX, quando se incrementou o processo
de integração entre os países europeus, os juristas se depararam com a
frequência de acidentes de consumo existentes no Mercado Comum Europeu,
e passaram a debater a responsabilidade civil dos fabricantes e dos produtores
pelos danos verificados aos consumidores em razão de produtos defeituosos.
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As discussões culminaram com a edição, na Comunidade Européia, da
Diretiva nº 85/374/CEE do Conselho da Comunidade, a qual, segundo João
Mota de Campos[2], orientou a reformulação do tratamento legislativo sobre a
matéria nos países integrantes da Comunidade Européia, estabelecendo
normas uniformes sobre a responsabilidade civil por danos causados por
produtos defeituosos.
No Brasil, fora editada a Lei n° 8.078/90, que instituiu o Código de Defesa do
Consumidor (CDC), o qual dedica uma seção especial para tratar da
responsabilidade civil por acidentes de consumo (artigos. 12 a 17), surgindo,
assim, conforme elucida Paulo de Tarso Vieira Sanseverino[3], um novo
microssistema de responsabilidade civil, insculpido dentro do CDC.
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Capítulo II
2 – Relação jurídica de consumo
De fundamental importância é estabelecer os parâmetros da relação jurídica
de consumo, pois é pressuposto de aplicação do Código de Proteção e Defesa
do Consumidor. Ou seja, pouco importa a espécie contratual entre as partes,
tendo em vista a legislação de defesa do consumidor se aplicar em razão da
existência da relação de consumo, e não graças ao tipo de negócio jurídico
celebrado.
A relação de consumo é aquela em que uma das partes adquire produtos ou
serviços tendo em vista sua utilização final enquanto a outra parte fornece tais
bens em caráter de habitualidade e profissionalismo. A parte que adquire os
bens é chamada de consumidor, enquanto a parte que fornece os bens é
denominada genericamente de fornecedor.
Quando um bem é utilizado dentro da cadeia produtiva não se trata de
utilização final, não havendo portanto relação de consumo. Neste caso o bem
atua como insumo, ou seja, componente da cadeia produtiva utilizado para dar
origem a um novo produto, este sim destinado a uma utilização final.
Conforme salienta José Geraldo Brito Filomeno, esta relação destina-se à
satisfação de uma necessidade privada do consumidor. O objeto da relação
de consumo são os bens de consumo. Bens de consumo são aqueles que não
se destinam a participar da elaboração de qualquer outro bem, estando pronto
para o consumo final. Portanto, aquele que adquire bens de capital, ou bens
de produção, não é parte de uma relação de consumo.
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Sabe-se que a relação jurídica implica no liame jurídico estabelecido entre
duas partes, a fim de se transmitir, provisória ou permanentemente, algum
bem.
Nas palavras do autor Roberto Senise Lisboa[4]:“... o Código estabeleceu
a teoria da relação jurídica como parâmetro para sua aplicação nas relações
sociais ou intersubjetivas. Portanto, o Código de Proteção e Defesa do
Consumidor regula a relação de consumo e não apenas o ‘contrato de
consumo’, o ‘ilícito no consumo’ ou o ‘ato de consumo’.
Dessa forma, trazendo para o campo consumerista, pode-se dizer que não
existe uma definição expressa da relação de consumo no Código de Defesa do
Consumidor. Entretanto, da análise do mencionado microssistema legal, é
possível constatar que o legislador se preocupou em delimitar a aplicação
desse microssistema jurídico ao vínculo no qual estejam presentes: os
elementos subjetivos fornecedor e consumidor, como partes de cada polo da
relação jurídica; e o elemento objetivo produto ou serviço, como objeto dessa
relação jurídica.
Ainda, segundo Senise Lisboa[5], deve-se acrescentar o consensualismo
responsável como também sendo um elemento subjetivo da relação jurídica de
consumo, mas somente quando se estiver diante de uma relação contratual de
consumo.
Necessário mostrar que uma das características fundamentais dessa relação
de consumo é a bipolaridade, isto é, a presença de duas partes que se
vinculam, quer voluntariamente ou não, conforme a norma jurídica, no caso o
Código de Defesa do Consumidor, determinar. Também, frise-se que cada
parte ou polo da relação jurídica de consumo pode ter um ou mais sujeitos de
direito, os quais buscam a satisfação de seus próprios interesses ou de
terceiros.
Vê-se que o próprio Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), tratou
de definir, em seus artigos 2º e 3º, os elementos necessários à configuração
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de uma relação jurídica de consumo, ao definir consumidor, fornecedor,
produto e serviço.
O Código fala que produto é qualquer bem móvel ou imóvel, material ou
imaterial. Acrescente-se também os produtos duráveis ou não-duráveis, pois o
legislador estabelece a distinção entre os mesmos para o fim de contagem do
prazo decadencial para reclamação pelo vício do produto. Nos termos do artigo
26 do CDC, caso o produto ou serviço apresentem algum vício aparente ou de
fácil constatação, o consumidor terá o prazo de 30 e de 90 dias,
respectivamente, para reclamar se o bem ou serviço forem não-durável ou
durável.
Necessário frisar que o rol de serviços estabelecidos no § 2.º do artigo 3.º do
CDC é meramente exemplificativo.
Quanto ao conceito de fornecedor estabelecido pelo CDC, vê-se que bastante
amplo o seu leque de abrangência, pois inclui toda pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados. Os fornecedores adentram no mercado ofertando seus
produtos e serviços em busca do lucro. O lucro é a mola propulsora da
atividade econômica no capitalismo. Portanto, ao inserir produtos e serviços
no mercado, estes se tornam a fonte dos lucros e benefícios do fornecedor.
Os produtos ou serviços podem causar danos àqueles que os adquirem, ou
seja, àqueles que geram o lucro do fornecedor. Se o fornecedor aufere os
benefícios com a circulação dos bens que negocia, por via lógica deve arcar
com os malefícios que este produto ou serviço gere.
Neste raciocínio, constrói-se a teoria do risco, segundo a qual aquele que
aufere benefícios com uma dada atividade também deve arcar com os riscos
desta, ou seja, com os malefícios que esta possa produzir na seara jurídica
alheia, mas precisamente com os danos que origine. A possibilidade dos
produtos e serviços causarem um dano a outrem é assumida tacitamente pelo
fornecedor ao inserir-se no mercado, é o risco admitido na procura do lucro.
Para que alguém se insira na atividade econômica, recolhendo benefícios, é
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necessário que responda por eventuais danos causados a terceiros. Cria-se
uma responsabilidade do fornecedor estritamente vinculada aos efeitos dos
produtos e serviços quando consumidos, sendo uma responsabilidade erga
omnes em relação aos consumidores, ou seja, voltada aos consumidores de
uma forma geral, independente de quem venha diretamente a ser atingido.
Apenas uma observação no que diz respeito aos fornecedores de serviços
públicos.
Sabe-se que o conceito de fornecedores de serviços públicos é composto tanto
das entidades da Administração Pública direta (União, Estados, Municípios,
Distrito Federal) como pelas da Administração Pública indireta (empresas
públicas, autarquias, concessionárias, permissionárias, sociedades de
economia mista e associações e fundações públicas). Algumas dessas
entidades – a exemplo da concessionária, da permissionária, e da sociedade
de economia mista – possuem natureza jurídica de direito privado.
Há determinados serviços públicos (Ex.: bancário, de fornecimento de água, de
energia) prestados por pessoas jurídicas de direito público ou privado, que são
perfeitamente enquadrados numa relação jurídica de consumo, aplicando-se o
Código de Defesa do Consumidor para a solução das demandas
consumeristas daí advindas.
Como exemplo, tem-se a Caixa Econômica Federal (pessoa jurídica de direito
público, por ser empresa pública) e Banco do Brasil (pessoa jurídica de direito
privado, por ser sociedade de economia mista), os quais são entidades da
Administração Pública indireta que exploram, mediante remuneração, as
atividades de natureza bancária, sendo aplicado o Código de Defesa do
Consumidor aos mesmos. Igualmente no caso do fornecimento de água e
energia, pois são prestados por concessionárias de serviços públicos mediante
remuneração.
Entretanto, no que diz respeito ao serviço de saúde, quando prestado por
entidades da Administração Pública direta, através de um sistema organizado
denominado de SUS, não se aplica o Código de Defesa do Consumidor, pois
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inexiste relação jurídica de consumo, na medida em que falta a caracterização
da “remuneração” para que haja a configuração do elemento objetivo “serviço”,
descrito no § 2.º do artigo 3.º do CDC.
Por fim, resta trazer à baila as principais discussões sobre quem realmente
deve ser considerado consumidor. Como visto, O CDC prescreve que
consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
Cláudia Lima Marques sintetiza duas correntes interpretativas do conceito de
consumidor: a corrente finalista e a corrente maximalista. A corrente
maximalista interpreta de maneira extensiva o conceito de consumidor,
entendendo-o como qualquer agente que adquire um produto ou serviço. A
corrente finalista, como o próprio nome diz, embasa o conceito de consumidor
na utilização final do produto ou do serviço, sendo o destinatário final do
produto o “destinatário fático”, o que se constitui uma interpretação restritiva do
conceito. A corrente finalista possui estrutura mais adequada ao pensamento
desenvolvido pela doutrina nacional. O conceito de consumidor dado pela
corrente finalista foi adotado pelo CDC em seu art. 2º.
As discussões pairam sobre a expressão “destinatário final”, fazendo-se
imprescindível mostrar, para fins didáticos, as duas grandes correntes
finalistas: a dos minimalistas e a dos maximalistas.
Os minimalistas, a exemplo de Arnaldo Rizzardo[6], entendem que os
produtos ou serviços destinam-se exclusivamente ao uso pessoal ou privado,
não admitindo a definição de consumidor vinculada a uma atividade
profissional.
Conforme entende José Geraldo Brito Filomeno[7], partidário da corrente
minimalista, não pode ser considerada consumidora a empresa que, por
exemplo, adquire uma copiadora para seu escritório, pois referido bem entrou
na cadeia produtiva e não tem a ver com o conceito de destinação final.
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Já os maximalistas, a exemplo de Senise Lisboa[8], entendem que os
produtos ou serviços destinam-se tanto ao uso pessoal ou privado como para o
uso profissional, desde que o produto ou serviço adquirido não seja recolocado
no mercado, ainda que mediante especificação ou transformação.
Assim, por exemplo, a pessoa jurídica que adquire um produto para a
instrumentação de sua atividade profissional, mas que não se confunde com a
própria atividade, deve ser considerada uma consumidora, uma vez que
utilizará o bem para fim próprio. Por exemplo: uma instituição de amparo à
crianças com câncer, ao comprar os remédios de que necessitam, é
consumidora.
Exemplo de transformação:
- Uma máquina adquirida pelo dono de uma padaria, para a produção do pão,
é bem de consumo, pois o que será recolocado do mercado não é a máquina,
mas a massa que é por ela transformada em pão;
- Já o material adquirido para transformação da qual resultará o pão (farinha,
fermento, açúcar, sal etc) é bem que será recolocado no mercado, não
podendo, neste caso, considerar o dono da padaria como sendo um
consumidor desses elementos.
Exemplo de especificação:
- A tinta que uma montadora adquire para pintar os veículos por ela
produzidos, é especificada nesses produtos e acaba sendo recolocada no
mercado de consumo, não havendo relação de consumo entre o fornecedor da
tinta e a montadora;
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- Agora, as canetas obtidas pela montadora não constituem no objeto de sua
atividade profissional, havendo, neste caso, uma relação de consumo entre a
montadora e o fabricante das canetas.
Entendo que a corrente maximalista se mostra mais coerente com o Código de
Proteção e Defesa do Consumidor brasileiro, pois este não estabelece
qualquer limitação ao termo “destinatário final”, nem muito menos adotou a
definição de consumidor como sendo tão-somente o não profissional.
Algumas legislações européias, inclusive a espanhola de 1984, diferentemente
do CDC brasileiro, entendem que consumidor é apenas o não profissional.
Veja-se algumas:
- A Lei consumerista de Portugal (Lei nº 24 de 31 de julho de 1996) estabelece
que consumidor é quem não adquire o serviço ou o bem para o uso
profissional;
- Na Suécia, conforme mostra Senise Lisboa[9], a Lei de 1973 limita o conceito
de consumidor à pessoa privada que compra mercadoria para uso exclusivo
privado, junto a uma comerciante, durante o exercício da atividade profissional
dele;
- Já na Espanha, a Lei nº 26 de 19 de julho de 1984 prescreve que não é
considerado consumidor aquele que integra o bem ou o serviço ao processo de
produção, transformação, comercialização ou prestação de serviços.
No Brasil, como salientado, não há distinção nem limitação, para o efeito de
determinação do alcance da expressão “destinatário final”, entre o consumidor
profissional e o não profissional, de maneira que a mencionada expressão
deve alcançar àquele que adquire ou utiliza produto ou serviço sem recolocá-
los no mercado de consumo.
Some-se a isso a figura do consumidor por equiparação, prevista no
parágrafo único do artigo 2.º c/c artigos 17 e 29, todos do Código de Proteção
e Defesa do Consumidor brasileiro.
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Aqui nenhuma consideração, pois os artigos supra citados são auto
explicativos ao preverem que consumidores não são apenas aqueles sujeitos
determinados que contratam diretamente com o fornecedor.
Portanto, para que ocorra um acidente de consumo, mostra-se necessário,
antes de tudo, que exista uma relação de consumo, sendo que não interessa o
fato de o consumidor ter contratado ou não diretamente com o fornecedor nos
casos de equiparação acima descritos.
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Capítulo III
3 – Responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor
Segundo Giovani Clark “já que as empresas ostentam as vantagens dos lucros
devem suportar os riscos pelos danos, sendo que os danos são previsíveis em
uma produção e consumo em massa”. Cria-se uma responsabilidade do
fornecedor estritamente vinculada aos efeitos dos produtos e serviços quando
consumidos, sendo uma responsabilidade “erga omnes” em relação aos
consumidores.
O Código de Defesa do Consumidor brasileiro sistematizou a responsabilidade
civil do fornecedor “lato sensu” em duas grandes categorias, as quais
apresentam regulamentação um pouco distinta uma da outra, quais sejam:
- A responsabilidade civil pelo fato do produto e do serviço, a qual tem como
fundamento a ofensa a um direito extrapatrimonial, estando prevista nos
artigos 12 a 17 do CDC;
- E a responsabilidade civil pelo vício do produto e do serviço, a qual tem como
fundamento a ofensa a um direito patrimonial, estando prevista nos artigos 18
a 25 do CDC.
Percebe-se que enquanto uma fala em “fato” a outra fala em “vício” do produto
e do serviço. Dessa maneira, mostra-se imprescindível estabelecer uma
diferenciação entre fato e vício.
Conforme se depreende da leitura dos dispositivos supra mencionados, o
Código fala em “fato” do produto e do serviço associando-o, sempre, a “danos”
causados aos consumidores por “defeitos” no produto ou serviço.
Dessa forma, sempre que o vício ou defeito ultrapassar a própria matéria do
objeto (produto ou serviço) e atingir o consumidor, isto é, provocando um dano
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extrapatrimonial ao consumidor, estaremos diante de um fato do produto ou
serviço. É o caso do acidente de consumo, o qual nos interessa no
desenvolvimento do presente estudo e será retomado mais adiante.
Entretanto, quando simplesmente o objeto (produto ou serviço) é atingido, quer
se tornando impróprio ao uso a que se destina, quer lhe diminuindo o valor em
razão do vício, estaremos diante de um simples vício do produto ou do serviço.
O fato do produto ou do serviço também é conhecido por vício extrínseco ou
exógeno, ao passo que o simples vício do produto ou do serviço é conhecido
como vício intrínseco, conforme mostra Senise Lisboa[10].
Em suma: no caso da responsabilidade pelo vício do produto ou do serviço,
fala-se em vício intrínseco, uma vez que o produto ou o serviço não se prestam
para as utilidades esperadas pelo consumidor, de maneira que este sofre um
prejuízo simplesmente patrimonial; já no caso da responsabilidade pelo fato do
produto ou do serviço, fala-se em vício exógeno ou extrínseco, pois ultrapassa
o dano causado ao objeto e provoca um acidente de consumo, causando,
portanto, um dano extrapatrimonial ao consumidor.
Interessa-nos, desse modo, a responsabilidade civil pelo fato do produto ou do
serviço, pois apenas aqui está o acidente de consumo.
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Capítulo IV
4 – Aspectos gerais do acidente de consumo
Visto que o Código de Defesa do Consumidor trata de duas espécies de
responsabilidade civil, sendo uma pelo vício e outra pelo fato do produto ou do
serviço, bem como que o acidente de consumo é guiado através das regras
consumeristas desta espécie de responsabilidade, faz-se necessário, agora,
aprofundar o presente estudo tratando de alguns aspectos gerais sobre os
acidentes de consumo.
4.1 – Conceito de acidente de consumo
Imperfeições são falhas na estrutura de um produto ou serviço que causem a
diminuição do valor do bem, em função de sua qualidade ou quantidade, ou
qualidades negativas que tornem o bem impróprio, inadequado ou danoso à
saúde ou segurança do consumidor, seja por razões intrínsecas, seja por
razões extrínsecas.
As imperfeições do produto ou serviço podem ser de duas ordens: defeitos ou
vícios. Enquanto os vícios de produtos e serviços produzem um dano que se
restringe ao aspecto econômico, os defeitos causam danos diretamente à
pessoa do consumidor, ocasionando os acidentes de consumo.
Do que fora até agora analisado, é possível dizer que acidente de consumo
não é nada mais nada menos que um defeito, isto é, um vício exógeno ou
extrínseco – do produto ou do serviço – que ultrapassa o dano causado ao
objeto e provoca um dano extrapatrimonial ao consumidor. Ou seja, o prejuízo
do consumidor não fica restrito ao vício verificado no objeto (dano patrimonial),
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mas engloba outros danos, como, por exemplo, tratamento médico e hospitalar
e até psíquico (dano extrapatrimonial), ocasionados pelo acidente de consumo.
Apenas a título de ilustração, bastante interessante o exemplo de acidente de
consumo citado por Rodrigo Azevedo Toscano de Brito, ao associar a
incorporação imobiliária a uma relação de consumo entre o incorporador
(fornecedor) e o adquirente da obra (consumidor), estabelecendo a
responsabilidade civil do incorporador tanto pelo fato como pelo vício do
produto ou serviço utilizado na solidificação da obra. O autor cita como
exemplo de acidente de consumo, no Brasil, relativo à incorporação imobiliária,
o caso do “Edifício Palace II”, que desabou no Rio de Janeiro em fevereiro de
1998.
4.2 – Responsabilidade civil por acidente de consumo
A responsabilidade por acidente de consumo é tratada no Código de Defesa
do Consumidor brasileiro sob a rubrica “Da Responsabilidade pelo Fato do
Produto e do Serviço” (artigos 12 ao 17), nomenclatura esta criticada por
alguns, a exemplo de Guilherme Couto de Castro, sob o argumento de que o
designativo correto, já adotado de modo usual, é a referência aos acidentes de
consumo.
Vício de produto ou serviço é a imperfeição que repercute
essencialmente na qualidade ou quantidade do produto ou serviço fazendo
decair seu valor econômico, mas sem lesar a saúde ou segurança do
consumidor.
A garantia de adequação e qualidade do produto ou serviço é ad rem,
vinculando-se ao próprio bem, independentemente de quem o possua. Desta
forma, tanto o consumidor originário quanto o subsequente, no que se refere
ao vício de produto ou serviço e mesmo ao fato de produto ou serviço, estão
amparados no que tange aos eventuais danos que venham a sofrer. Não
27
obstante, a amplitude de proteção do consumidor no que se refere ao fato de
produto é maior do que no concernente ao vício do produto. São legitimados
ativos para a propositura da ação de reparação tanto o consumidor
propriamente dito quanto aqueles a ele equiparados. Entretanto, no que se
refere ao vício de produto ou serviço, ao contrário do fato de produto, o terceiro
lesado não possui legitimidade ativa para a ação. A legitimidade reconhecida
a estes em relação ao fato de produto ou serviço deve-se a maior gravidade
deste, justificando a inclusão do terceiro atingido por um dano como parte ativa
legítima, necessidade não reconhecida pelo legislador no vício do produto. A
caracterização da responsabilidade por fato de produto ou serviço varia de
acordo com a extensão do dano e sua repercussão sobre o patrimônio do
consumidor.
Devidamente estabelecidas as diferenças entre vício e fato do produto e do
serviço, bem como o nosso interesse apenas na responsabilidade pelo fato do
produto e do serviço, já que trata dos acidentes de consumo, resta tecer
alguns comentários à mesma.
Tem-se que a responsabilidade pelo fato de consumo é aquela que advém de
um acidente de consumo, de um evento que causa ao menos dano moral ao
consumidor. Aqui, conforme demonstrado, o produto ou serviço apresenta um
vício exógeno, isto é, que extrapola a substância do bem e ofende a vida, a
saúde, a higidez física e psíquica, ou mesmo a segurança do consumidor.
Assim, para efeito de indenização, o fato do produto ou do serviço deve ser
considerado como o acidente de consumo, por defeito do produto ou do
serviço, que causa dano ao consumidor, sendo equiparados a este, conforme
já demonstrado: a coletividade de pessoas que haja intervindo nas relações de
consumo; as vítimas do evento; e todos aqueles que estejam expostos às
práticas comerciais abusivas e as relativas à oferta e publicidade.
De mais a mais, para um produto ou serviço ser considerado defeituoso,
necessário que não ofereça a segurança que deles se espera, não sendo
28
considerados defeituosos pelo simples fato de outro produto de melhor
qualidade, ou serviço de melhor técnica, ser inserido no mercado de consumo.
4.3 – Pressupostos da responsabilidade por acidente de consumo
Antes de qualquer coisa, mostra-se imprescindível estabelecerem-se os
pressupostos da responsabilidade civil pelo fato de consumo.
Frise-se que, após a vigência do Código de Defesa do Consumidor, a doutrina
nacional enumerou três pressupostos para a responsabilidade pelo fato de
consumo, sendo: o defeito do produto ou do serviço; o dano extrapatrimonial; e
o nexo de causalidade entre o defeito e o dano.
O defeito diz respeito à deficiência apresentada pelo produto ou serviço, que
se tornam perigosos quando não oferecem a segurança que deles
razoavelmente se espera. O dano é o prejuízo causado pelo defeito do produto
ou do serviço, abrangendo tanto o dano patrimonial como o extrapatrimonial. E
o nexo de causalidade é a relação de causa e efeito que se estabelece entre o
defeito do produto ou do serviço e o dano.
O dano ao consumidor origina-se de um defeito ou vício de produto ou serviço.
Os defeitos são inevitáveis em uma produção em série, incluindo-se como um
dos riscos a que o fornecedor está submetido quando se lança no mercado.
Entretanto, compete ao consumidor tão somente comprovar o dano que sofreu,
não sendo ônus seu provar o defeito que originou o dano. A prova do defeito é
essencialmente técnica, o que geraria, na maioria das vezes, extrema
dificuldade para o consumidor prová-la. Além disso, em várias ocasiões, seria
necessário a análise do sistema produtivo do fornecedor, podendo este
originar obstáculos para tal. Em essência, o defeito é um risco a que o
fornecedor está submetido, situação dentro da esfera de sua atividade, e não
da do consumidor, devendo aquele provar que o defeito inexistiu e a este que
sofreu um dano.
29
Dessa forma, apenas sendo evidenciados os pressupostos acima
mencionados é que será possível reconhecer a existência de um acidente de
consumo e, consequentemente, o nascimento da obrigação de indenizar,
desde, é claro, que a pretensão à reparação pelos danos causados pelo fato
do produto ou do serviço seja manejada, nos termos do artigo 27 do CDC, no
prazo de 05 (cinco) anos, contados a partir do conhecimento, pelo consumidor
prejudicado, do dano e de sua autoria.
Assim, cabe ao consumidor provar o dano e o nexo de causalidade
entre este e o produto ou serviço utilizado, podendo o nexo de causalidade ser
invertido. A inversão do nexo de causalidade é prevista no art. 6º, inciso VIII,
da Lei nº 8.078/90, ocorrendo quando for constatada pelo juiz a presença de
alegação verossímil ou quando o consumidor se apresentar como
hipossuficiente. Portanto a responsabilidade do fornecedor é objetiva,
somente sendo descaracterizada em hipóteses taxativamente determinadas
pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor.
4.4 – Responsabilidade pelo fato do produto
A responsabilidade civil por fato do produto consiste no acidente de consumo,
onde o dano atinge não somente o patrimônio do consumidor, mas também
valores maiores, como segurança e saúde. No fato do produto, ou de serviço,
o bem, devido a um defeito juridicamente relevante, provoca um dano ao
consumidor, atingindo-lhe a própria pessoa.
James Marins, em definição clara, enuncia o fato de produto como “a
manifestação danosa dos defeitos juridicamente relevantes, que podem
ser de criação, produção, ou informação (defeito), atingindo (nexo causal)
a incolumidade patrimonial, física ou psíquica do consumidor (dano),
ensejando a responsabilização delitual, extracontratual do fornecedor,
independentemente da apuração de culpa (responsabilidade objetiva)”. A
30
responsabilidade por fato de produto ou serviço é um tipo de responsabilidade
objetiva, caracterizando-se pelo bem jurídico atingido, que é a saúde ou
segurança humana. O produto ou serviço provoca um dano ao consumidor
em razão do defeito nele existente, originando a responsabilidade do
fornecedor de repará-lo, independentemente de culpa ou impossibilidade de
impedir que o dano viesse a ocorrer.
Analisando os artigos do CDC que tratam da responsabilidade pelo acidente
de consumo, percebe-se que vigora a responsabilidade objetiva do fornecedor,
sendo que a sistemática desenvolvida pelo legislador diferencia o tratamento
conferido ao fornecedor de produtos e ao fornecedor de serviços.
É que, conforme se observa no artigo 12, ao tratar da responsabilidade pelo
fato do produto, o CDC especifica as espécies de fornecedores direta e
solidariamente responsáveis (fabricante, produtor, construtor e importador),
não fazendo menção ao comerciante.
Então, apesar de o comerciante, nos termos do artigo 3.º, ser considerado
espécie de fornecedor pelo Código de Defesa do Consumidor, não será
responsável solidário pelo fato do produto, pois, de acordo com o artigo 13,
será apenas responsabilizado subsidiariamente, porém ainda objetivamente,
quando: o fabricante, o produtor, o construtor e o importador não forem
identificados; o produto for fornecido sem identificação clara e precisa destes.
Neste caso, a responsabilidade advém da não observância do princípio da
boa-fé objetiva, pois o fornecedor deveria prestar as informações necessárias
sobre a origem do produto, mas não o fez; ou quando o comerciante não
conservar adequadamente os produtos perecíveis.
No que pese a responsabilidade do comerciante (fornecedor imediato) ser
subsidiária e sucessiva à do fabricante, do produtor, do construtor, nacional ou
estrangeiro, e do importador (fornecedores mediatos), o CDC admite, conforme
previsto na compreensão do art. 7º c/c parágrafo único do artigo 13 a
responsabilidade solidária entre os mesmos quando ambos participarem na
31
formação do evento danoso, e o que efetivar o pagamento ao consumidor
prejudicado exercerá o direito de regresso contra os demais responsáveis.
4.5 – Responsabilidade pelo fato do serviço
Já no caso da responsabilidade pelo fato do serviço, conforme se verifica da
leitura do artigo 14, o Código faz alusão genérica ao fornecedor, de maneira
que, em regra, todos, inclusive o comerciante, responderão objetiva e
solidariamente pelos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços.
Excepcionalmente, no que tange à responsabilização dos profissionais liberais
pelo defeito na prestação do serviço, nos termos do § 4º do artigo 14 do CDC,
tem-se que a responsabilidade será subjetiva. Ou seja, ao consumidor caberá
provar – além do defeito do produto ou do serviço; do dano extrapatrimonial; e
do nexo de causalidade entre o defeito e o dano – a culpa do profissional
liberal.
E isso por se partir do pressuposto de que os contratos de prestação de
serviços firmados com os profissionais liberais são de meio e não de resultado.
Agora, ressalte-se que alguns profissionais liberais, por assumirem verdadeiros
contratos de resultado com seus clientes – a exemplo dos cirurgiões plásticos
– devem responder objetivamente pelos danos ocasionados aos consumidores
de seus serviços defeituosos.
4.6 – Causas de exclusão de responsabilidade
As excludentes de responsabilidade possuem a função de melhor distribuir os
riscos do inter-relacionamento humano, seja em questões contratuais, seja
32
extra contratuais. Essas cláusulas visam propiciar um equilíbrio de interesses
entre lesado e o produtor. As causas excludentes de responsabilidade também
são denominadas de meios de defesa, isso por se tratar de matéria
frequentemente arguida como defesa pelo fornecedor (agente causador do
dano) nas ações de indenização propostas pele consumidor lesado.
O princípio que rege a legislação do consumo é o da máxima reparação dos
danos causados ao consumidor. Nestes termos, o norte interpretativo é
concentrar a responsabilidade pelos danos causados por produtos e serviços
sobre o fornecedor, já que este assumiu de desenvolver a atividade com o
intuito de auferir proveitos. Assim, a responsabilidade do fornecedor somente
deve ser afastada em circunstâncias restritas, de modo que as excludentes de
responsabilidade somente atuarão quando expressas no CDC ou disserem
respeito as causas que desconstituam o nexo de causalidade.
O Código de Defesa do Consumidor destaca, nos termos dos seus parágrafos
terceiros dos artigos 12 e 14, as seguintes causas de exclusão de
responsabilidade do fornecedor: a não-colocação do produto no mercado
de consumo; a inexistência do defeito; e a culpa exclusiva do
consumidor; e o fato de terceiro. As causas gerais de exclusão de
responsabilidade previstas pelo Direito Civil sofreram alterações em relação ao
direito do Consumidor, sendo restringidas a hipóteses mais delimitadas e
banhadas da especialização que o objeto exige. Insta salientar que a causa de
exclusão de responsabilidade não se confunde com ausência de culpa. A
responsabilidade do fornecedor independe da culpa. Despreza-se a conduta
do fornecedor perante o defeito, se foi ele diligente ou não, quiçá imprudente,
não importa sequer averiguar.
Embora o caso fortuito e a força maior sejam causas tradicionais de exclusão
da responsabilidade civil, não foram expressamente previstas pelo Código de
Defesa do Consumidor brasileiro como eximentes da responsabilidade do
fornecedor por acidentes de consumo.
33
Bastante discutido pela doutrina se o fornecedor pode eximir-se da
responsabilidade civil, pelo fato do produto ou do serviço, alegando o caso
fortuito ou a força maior. É decorrência da teoria do risco que aquele que se
submete a uma atividade em busca de benefícios também deve arcar com os
riscos dela provenientes. Dentro destes riscos que o fornecedor deve suportar,
em razão de sua própria atividade, incluem-se vários que seriam classificados
como caso fortuito ou força maior, e, ocorrendo dentro de uma relação de
direito comum, não gerariam o dever de reparar, mas não tem o efeito de
excluir a responsabilidade do fornecedor na relação de consumo, o que se
deve até mesmo pela própria vulnerabilidade do consumidor na relação.
A interpretação apenas literal dos dispositivos do CDC conduziria à conclusão
de que a defesa do fornecedor foi restringida às causas de exclusão de
responsabilidade ali descritas. Autores como Carlos Roberto Gonçalvez e José
Reinaldo de Lima Lopes, consideram que a força maior e o caso fortuito não
são excludentes de responsabilidade dos fornecedores, em razão de não
constarem expressamente como tal no CDC. Porém, essa conclusão fugiria
ao juízo da razoabilidade, a exemplo de Paulo de Tarso Vieira
Sanseverino[11] (2007. p, 312), que enquadra o caso fortuito e a força maior
como também sendo causas de exclusão da responsabilidade civil do
fornecedor e James Marins, que afirma que tanto o caso fortuito quanto a
força maior somente atuam como eximentes se ocorrerem após a colocação
do produto no mercado.
34
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O direito do consumidor tem por uma das finalidades principais atingir o
equilíbrio da relação de consumo a partir da proteção do consumidor, parte
vulnerável da relação, sem, no entanto, assumir perante ele uma postura
paternalista. A relação de consumo é a mais proeminente e vultuosa relação
jurídica da atualidade; a própria sistemática do sistema capitalista impede que
qualquer pessoa esteja alheia ao consumo. Por tudo o que foi analisado e
discutido quando do desenvolvimento do presente estudo, detecta-se a
importância do tema, na medida em que é imprescindível mostrar à sociedade
as implicações legais dos acidentes de consumo, conscientizando-a de que
possui o amparo legal para diminuir os danos causados pelo desleixo dos
fornecedores, pois só assim serão reduzidos os riscos e danos provocados por
práticas inadequadas de fornecimento de produtos e serviços.
Diante da vulnerabilidade do consumidor em face do fornecedor, observa-se a
imprescindibilidade em utilizar os dispositivos do Código de Proteção e Defesa
do Consumidor, que nasceu justamente para ordenar um equilíbrio nas
relações de consumo e nas próprias normas legais, já que o Código Civil
simplesmente tratava consumidor e fornecedor em pé de igualdade, o que se
mostrava inoportuno e foi devidamente regulado pela mencionada legislação
consumerista.
Outro ponto que merece destaque é quanto ao fato de o Código consumerista
relativizar o conceito de consumidor e permitir que não apenas os
consumidores diretamente ligados à relação consumerista sejam indenizados
pelos danos praticados pelo fornecedor, expandindo tal benefício aos
consumidores por equiparação, de maneira que se uma pessoa não participar
35
da relação contratual consumerista e mesmo assim vier a se tornar vítima do
acidente, por dano ocasionado por defeitos no produto ou serviço do
fornecedor, também será devidamente indenizada como se consumidora
fosse.
Interessante ressaltar a forma como a responsabilidade pelo fato do produto
ou do serviço é tratada, pois só veio facilitar a vida do consumidor quando este
procura um responsável pelo dano sofrido, na medida em que, conforme visto,
caso não seja encontrado o verdadeiro fornecedor responsável pelo dano, há
um leque enorme de fornecedores que podem vir a ser acionados, pois a
responsabilidade civil, na maioria das vezes, é objetiva e solidária.
Enfim, o tema é palpitante e oportuno, e interessa a todas as autoridades, as
quais devem desenvolver esforços para conscientizar a população sobre o
assunto.
É necessário que se reduzam os números de acidentes de consumo, já que
inadmissível a exposição de seres humanos às falhas verificadas, cada vez
com mais frequência, no processo produtivo e na prestação de serviços.
Assim, imprescindível que os órgãos competentes tomem suas devidas
providências, a fim de que os consumidores se sintam mais seguros e
devidamente orientados a respeito de como agir diante das ilicitudes
encontradas. O crescimento do consumo em massa a cada dia extrapola as
barreiras do controlável, mas, mesmo assim, existe uma legislação
consumerista sólida, atualizada e pertinente para a coibição das ações
desenfreadas daqueles que praticam atos danosos ao mercado de consumo.
36
ANEXOS
Notícias
Acidente de consumo
09/11/2010
Previsto pelo Código de Defesa do Consumidor(CDC), o que se convencionou chamar de "acidente de consumo" nada mais é do que um defeito existente em um produto e/ou serviço prestado que, além de provocar seu mau funcionamento, gera dano físico ao usuário ou a terceiros mesmo quando utilizado ou manuseado corretamente.
O CDC instituiu três regimes distintos de responsabilidade: um para os vícios de qualidade por inadequação, um para os vícios de quantidade e um para os vícios de qualidade por insegurança.
Os acidentes referentes aos vícios de qualidade por insegurança, são os que mais afetam o consumidor brasileiro, não raras vezes, causando lesões permanentes.
O prejuízo do consumidor não se restringe somente ao defeito do produto ou do serviço, mas engloba outros danos, como tratamento médico e medicamentos.
Nesses e em outros casos de acidente de consumo, o consumidor tem direito à indenização de todos os danos materiais e morais.
Exemplos de acidentes de consumo: ingestão de alimento que causa intoxicação ou contaminação, sabonetes que causam alergia, xampus ou tinturas que provocam queda de cabelo, estouro de panela de pressão, veículos (peças que comprometem a segurança: cinto, airbag, freios, pneus, aquecimento, incêndios, explosões, vazamentos), queda em supermercados, em lojas, em hospitais, no transporte coletivo.
Acesse o link abaixo para relatar seu caso:
http://www.inmetro.gov.br/consumidor/acidente_consumo.asp
37
Legislação direta
Lei nº 8.078 de 11 de Setembro de 1990
Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. TJ-RJ - APELACAO APL 00694207520098190001 RJ 0069420-75.2009.8.19.0001 (TJ-RJ) Data de publicação: 21/03/2014
Ementa: APELAÇÃO CIVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. FATO DO PRODUTO. QUEIMADURAS NAS
AXILAS APÓS UTILIZAÇÃO DE CREME DEPILATÓRIO. RISCO NÃO PREVISTO. ARTIGO 12 DO CDC
. ACIDENTE DE CONSUMO. Demanda que atrairia a competência das câmaras especializadas em
matéria consumerista, na forma da Resolução TJ/OE/RJ nº 34/2013 e da Lei nº 6.375/12, contudo, existe
prevenção desta Câmara para o conhecimento e julgamento do presente inconformismo, assim como
dos demais recursos referentes ao feito, por força do julgamento do AI nº 0038314-64.2010.8.19.0000. Aplicação do artigo 12 do CDC , responde o fabricante, independente da existência de culpa pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
fórmulas, manipulação, apresentação, bem como pelas informações inadequadas ou insuficientes sobre sua utilização e riscos. Extrai-se, ainda, do § 1º do artigo 12 do CDC , que o produto é defeituoso quando
não oferece a segurança que dele legitimamente se espera. O defeito ao qual se refere o CDC não
significa apenas estar o produto viciado ou em más condições de uso. De acordo com a legislação
consumerista, o defeito também se caracteriza quando o produto frustra as expectativas legítimas do
consumidor ou quando não atende à segurança que dele se espera. Não havendo provas da alegação
de uso inadequado, o que, decerto, não teria o condão de romper o nexo de causalidade, diante,
sobretudo, da inexistência de informações sobre a possibilidade do dano sofrido. Com efeito, o defeito do
produto é causa idônea e adequada ao dano sofrido pela consumidora, sendo a queimadura em sua
axila dele decorrente. Nenhuma das excludentes de responsabilidade socorrem o fabricante, não tendo
os danos decorridos da conduta da consumidora, pelo que correta a decisão proferida. Ré que deixou de
comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da consumidora, conforme
lhe competia fazer, nos termos do art. 333 , II , do C.P.C. Prova pericial conclusiva. Indenização arbitrada
em observância aos postulados da razoabilidade e da proporcionalidade. Correta incidência de juros
moratórios e correção monetária, diante da observância dos enunciados 362 e 54 do STJ e 97 desta
corte. Inexistência de litigância de má-fé. NEGATIVA DE PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS, nos
termos do artigo 557 , caput, do Código de Processo Civil ....
TJ-DF - APELAÇÃO CÍVEL NO JUIZADO ESPECIAL ACJ 687787720058070001 DF 0068778-77.2005.807.0001 (TJ-DF)
Data de publicação: 06/10/2006
Ementa: CIVIL. PROCESSO CIVIL. CDC . ACIDENTE DE CONSUMO. AQUISIÇÃO DE PASSAGENS
PARA VIAGEM AO EXTERIOR DESACOMPANHADA DE BILHETE DE RETORNO. AUSÊNCIA DE
INFORMAÇÃO. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. DECADÊNCIA INOCORRENTE. SENTENÇA CASSADA.
MÉRITO. PROVA CONTRÁRIA À VERSÃO DA AUTORA. INEXISTÊNCIA DE FATO ATRIBUÍVEL À RÉ.
DESACOLHIMENTO DO PEDIDO. 1- O DIREITO DO CONSUMIDOR EM OBTER O RESSARCIMENTO
PELOS DANOS MATERIAIS E MORAIS, ORIUNDOS DA AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO, QUANTO À
OBRIGATORIEDADE DE ADQUIRIR PASSAGENS CONJUGADAS DE IDA E VOLTA COMO
REQUISITO PARA O INGRESSO NO SOLO NORTE-AMERICANO, NÃO CONSISTE EM RECLAMAÇÃO
CONTRA VÍCIO APARENTE OU DE FÁCIL CONSTATAÇÃO NO FORNECIMENTO DO SERVIÇO (ART. 26 DO CDC ). AO CONTRÁRIO, O DESIDERATO SE VINCULA À RESSARCIMENTO POR FATO DO
SERVIÇO. PRECEDENTE. 2- A REGRA APLICÁVEL AO CASO É A DO ARTIGO 27 DO CDC ,
38
SEGUNDO A QUAL "PRESCREVE EM CINCO ANOS A PRETENSÃO À REPARAÇÃO PELOS DANOS
CAUSADOS POR FATO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO". 3- EXAME MERITÓRIO POSSIBILITADO
PELO DISPOSTO NO § 3º DO ARTIGO 515 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL . 4- NÃO ESTANDO
SUFICIENTEMENTE COMPROVADO NOS AUTOS QUE A VIAGEM DEIXOU DE OCORRER POR
CULPA DA EMPRESA DE TRANSPORTE, MAS SIM POR CONVENIÊNCIA DA CONSUMIDORA,
TANTO QUE ADQUIRIRA OUTRAS PASSAGENS, ANTES MESMO DA DATA PREVISTA PARA O
EMBARQUE, INEXISTE O DEVER INDENIZATÓRIO VINDICADO. 5- RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO, APENAS PARA AFASTAR A ALEGADA DECADÊNCIA. NO MÉRITO,
JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO INDENIZATÓRIO.
TJ-DF - APELAÇÃO CÍVEL NO JUIZADO ESPECIAL ACJ 20050110687783 DF (TJ-DF)
Data de publicação: 06/10/2006
Ementa: CIVIL. PROCESSO CIVIL. CDC . ACIDENTE DE CONSUMO. AQUISIÇÃO DE PASSAGENS
PARA VIAGEM AO EXTERIOR DESACOMPANHADA DE BILHETE DE RETORNO. AUSÊNCIA DE
INFORMAÇÃO. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. DECADÊNCIA INOCORRENTE. SENTENÇA CASSADA.
MÉRITO. PROVA CONTRÁRIA À VERSÃO DA AUTORA. INEXISTÊNCIA DE FATO ATRIBUÍVEL À RÉ.
DESACOLHIMENTO DO PEDIDO. 1- O DIREITO DO CONSUMIDOR EM OBTER O RESSARCIMENTO
PELOS DANOS MATERIAIS E MORAIS, ORIUNDOS DA AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO, QUANTO À
OBRIGATORIEDADE DE ADQUIRIR PASSAGENS CONJUGADAS DE IDA E VOLTA COMO
REQUISITO PARA O INGRESSO NO SOLO NORTE-AMERICANO, NÃO CONSISTE EM RECLAMAÇÃO
CONTRA VÍCIO APARENTE OU DE FÁCIL CONSTATAÇÃO NO FORNECIMENTO DO SERVIÇO (ART. 26 DO CDC ). AO CONTRÁRIO, O DESIDERATO SE VINCULA À RESSARCIMENTO POR FATO DO
SERVIÇO. PRECEDENTE. 2- A REGRA APLICÁVEL AO CASO É A DO ARTIGO 27 DO CDC ,
SEGUNDO A QUAL "PRESCREVE EM CINCO ANOS A PRETENSÃO À REPARAÇÃO PELOS DANOS
CAUSADOS POR FATO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO". 3- EXAME MERITÓRIO POSSIBILITADO
PELO DISPOSTO NO § 3º DO ARTIGO 515 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL . 4- NÃO ESTANDO
SUFICIENTEMENTE COMPROVADO NOS AUTOS QUE A VIAGEM DEIXOU DE OCORRER POR
CULPA DA EMPRESA DE TRANSPORTE, MAS SIM POR CONVENIÊNCIA DA CONSUMIDORA,
TANTO QUE ADQUIRIRA OUTRAS PASSAGENS, ANTES MESMO DA DATA PREVISTA PARA O
EMBARQUE, INEXISTE O DEVER INDENIZATÓRIO VINDICADO. 5- RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO, APENAS PARA AFASTAR A ALEGADA DECADÊNCIA. NO MÉRITO,
JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO INDENIZATÓRIO
TJ-BA - Apelação APL 00132807420108050001 BA 0013280-74.2010.8.05.0001 (TJ-BA)
Data de publicação: 02/10/2013
Ementa: DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PRAZO
PRESCRICIONAL CABÍVEL. CONTROVÉRSIA ACERCA DA NATUREZA DA ANOMALIA DO SERVIÇO. FATO OU VÍCIO. SUPOSTOS DANOS EXTRÍNSECOS AO BEM DE CONSUMO. HIPÓTESE FÁTICA
RELACIONADA A ACIDENTE DE CONSUMO. INCIDÊNCIA DO ART. 27 DO CDC . APLICABILIDADE
DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. CAUSA INTERRUPTIVA. CITAÇÃO EM AÇÃO PROPOSTA EM
JUÍZO INCOMPETENTE. ART. 219 , § 1º DO CPC . INTERRUPÇÃO DO LUSTRO PRESCRICIONAL.
RECURSO PROVIDO. SENTENÇA ANULADA. 1. Segundo a Súmula n.º 297 do STJ: "O Código de
Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras". 2. Na hipótese dos autos, a controvérsia
circunda o prazo prescricional aplicável à pretensão deduzida em juízo, diante da natureza jurídica da anomalia de serviço imputada à Apelada (fato ou vício), a atrair a incidência do art. 27 do CDC (acidente
de consumo) ou art. 206 , § 3º , V do CC/02 , nas demais situações. 3. A teor da causa de pedir da
39
exordial, a Apelante visa à responsabilização do Banco, diante do pagamento de faturas através do seu
serviço de caixa bancário, cujos valores, supostamente, não foram repassados aos seus respectivos
cedentes, do que teria resultado, em tese, a negativação do nome da consumidora no SERASA por
terceiros, cobranças indevidas de seus credores, além dos juros decorrentes do pagamento não detectado. 4. A pretensão autoral guarda identidade, pois, com a hipótese de acidente de consumo,
porquanto o suposto defeito na transação bancária se consubstancia, teoricamente, em falha da
segurança que se espera da utilização do serviço de pagamento direto no caixa, do que advieram os
alegados danos patrimoniais à consumidora, com repercussões que transcendem o objeto daquela
relação consumerista travada com o Apelado (prejuízos extrínsecos). 5. Incide, no particular, a prescrição quinquenal prevista no art. 27 do CDC , haja vista prescrever, em cinco anos, a reparação por fato do
serviço, contada a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Precedentes do STJ. 6. Consoante
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, interrompe-se o curso da prescrição com a citação do
Réu, ainda que ordenada por juízo incompetente em ação posteriormente extinta, cujo prazo é retomado
a partir do último ato do processo que a interrompeu. Inteligência do art. 202 , § único c/c art. 219 , § 1º
do CPC . 7. In casu, tendo a interrupção da prescrição retroagido à data da propositura da queixa
atermada no Juizado (01.09.2005), com o curso retomado com a prolação da sentença extintiva em
06.04.2009, não houve o decurso do lustro prescricional até a distribuição desta demanda em
10.02.2010. 8. Esclareça-se, por fim, o impedimento de esta Instância Recursal se valer da teoria da
causa madura e, com arrimo no art. 515 , § 3º do CPC , passar ao conhecimento da pretensão autoral,
haja vista ter sido a sentença objurgada prolatada antes da instrução processual, em processo que se
discute matéria eminentemente fática. 9. RECURSO PROVIDO....
40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Referências:
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FILOMENO, José Geraldo Brito. Dos direitos do consumidor, em Código
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aspectos materiais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
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Defesa do Consumidor e a defesa do fornecedor. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
41
BIBLIOGRAFIA CITADA
Notas:
[1] GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 22. (pág. 11)
[2] CAMPOS, João Mota de. Direito comunitário. Lisboa: Calouste Gulbenkian,
1990. v. 2, pp. 262 e ss. (pág. 14)
[3] SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no Código
de Defesa do Consumidor e a defesa do fornecedor. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2007. (pág. 14)
[4,5] LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de
consumo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, 114 (pág. 16).
[6] RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002.
Rio de Janeiro: Forense, 2005, pp. 408/09. (pág.19)
[7] FILOMENO, José Geraldo Brito. Dos direitos do consumidor, em Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor, 6. ed., Rio de Janeiro, Editora Forense
Universitária, 1999, p. 32. (pág. 19)
[8,9,10] LISBOA, Roberto Senise. Op. cit. pp. 157/67. (nota 4) (pág. 20,21-24)
[11] SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Op. cit., p. 312. (nota 3) (pág. 33)
Constituição da República Federativa do Brasil. Serie Legislação Brasileira,
Editora Saraiva, 1988.
Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor.
Internet : link http://www.âmbito jurídico.com.br
42
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA 11
CAPÍTULO II
2. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO 15
CAPÍTULO III
3. RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR . 23
CAPÍTULO IV
4. ASPECTOS GERAIS DO ACIDENTE DE CONSUMO 25
4.1. CONCEITO DE ACIDENTE DE CONSUMO 25
4.2. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ACIDENTE DE CONSUMO
26
4.3. PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE POR ACIDENTE DE CONSUMO 28
4.4. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO 29
4.5. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO 31
4.6. CAUSAS DE EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE 32
CONSIDERAÇÕES FINAIS 34
CONCLUSÃO 34
ANEXOS 36
43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40 BIBLIOGRAFIA CITADA 41 ÍNDICE 42 FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO