UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA O PAPEL DO ESTADO LAICO E O COMBATE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA. Por: Marcia Regina Guedes de Jesus Orientador Professor:Dr.Vilson Sergio de Carvalho Rio de Janeiro 2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU O PAPEL DO ESTADO LAICO E O COMBATE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.
Marcia Regina Guedes de Jesus
Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Ensino Religioso. Orientador:Professor Dr.Vilson Sergio de Carvalho.
Rio de Janeiro 2013
AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela força,paz, equi- líbrio, inteligência, paciência e saúde, e a meus filhos: Márcio de Jesus Monteiro e Car- los de Jesus Monteiro pelo carinho e afeto.
DEDICATÓRIA Ao meu pai, Manoel de Jesus(In me- moriam), que teria orgulho de mim se ain- da vivesse entre nós.
EPÍGRAFE Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas;pelo contrário em qualquer nação,aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável. Atos 10,34-35
RESUMO
Devido ao crescimento da diversidade religiosa no país e as constantes denúncias de atos de intolerância religiosa aos adeptos das religiões afro-brasileiras, principalmente, o tema deste trabalho tem por objetivo estudar as ações impetradas pelo Estado Laico para proteger a população de atos de “intolerância religiosa”, para isso farei um relato dessas denúncias e da necessidade do conhecimento de teologias, daquelas que se dizem “perseguidas” e seus “perseguidores” e pensar em ações e sugestões que possam estabelecer um convívio pacífico entre todas as religiões, papel cujo principal responsável é o Estado como promotor e articulador destas ações em todo território nacional, tendo como base a legislação em vigor e a neutralidade entre todas.
METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como objeto de estudo a intolerância religiosa e o papel do
Estado em proteger o cidadão de qualquer forma de discriminação, utilizando-
se do levantamento de dados do referencial teórico-bibliográfico que envolve o
tema, entre os autores que foram selecionados de livros,jornais , revistas e
sites da web. O objetivo da pesquisa bibliográfica é de recuperar o
conhecimento científico acumulado sobre o tema de estudo. De acordo com
HORN(2001,p.10)”O investigador irá levantar o conhecimento disponível na
área,identificando as teorias produzidas, analisando e avaliando sua
contribuição para auxiliar a compreender ou explicar o problema:objeto de
investigação”Esta modalidade de pesquisa é muito comum na área de ciências
humanas e sociais, devido a natureza do estatuto epistemológico que
compõem esta área.Seu objetivo é buscar compreender as principais
contribuições teóricas existentes sobre um determinado tema-problema ou
recorte,considerando-se a produção já existente.Os principais autores e
teóricos que foram pesquisados e que embasam o conteúdo desta
pesquisa,foram:José J.Queiroz(org)(2012),Vagner Gonçalves da
Silva(org)(2007),Rafael Soares de Oliveira(org)(2003)e Cláudio de Oliveira
Ribeiro e Daniel Santos Souza(2012).As informações bibliográficas permitirão a
confirmação das informações,aprofundamento do estudo, a avaliação da
profundidade das informações e a seleção de ideias que sustentam a
argumentação da pesquisa com base nos levantamentos do referencial
bibliográfico estudado e a execução da pesquisa propriamente dita.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................01 CAPÍTULO I: O Processo de formação religiosa no Brasil
1.1- Principais doutrinas religiosas existentes e os novos movimentos religiosos que cresceram desde a década de 60 no país, a convivência entre as duas maiores religiões e os novos movimentos religiosos..................................................................03
1.2- As variadas formas de práticas da espiritualidade brasileira.......07 CAPÍTULO II: As possibilidades de convivência entre a diversidade brasileira. 2.1- O processo de convivência entre os cidadãos de várias religiões
e as denúncias de intolerância religiosa no país........................11
2.2- A necessidade do diálogo inter-religioso e do conhecimento das teologias que formam o universo plural do país........................ 20
CAPÍTULO III:Brasil um Estado Laico.
3.1 Legislações pertinentes ao combate contra a intolerância religio- sa e a tentativa em integrar a diversidade religiosa brasileira a- través das legislações e discussões sobre o tema................... 25
3.2 Ações referendadas pelo Estado para coibir as práticas que lê- vem adeptos de religiões que provocam e discriminam princi- palmente as religiões afro-brasileiras, dentre outras e a neu- tralidade do Estado em administrar estas ações...................... 30
Conclusão...............................................................................................37 Bibliografia..............................................................................................39 Anexos....................................................................................................41
1 INTRODUÇÃO
O tema deste estudo é Intolerância Religiosa e o Papel do Estado Laico
para proteger os cidadãos através de ações concretas que visem o
estabelecimento da ordem e o bem-estar do bem comum.
Sendo o Brasil um Estado laico é necessário o combate a intolerância
religiosa com ações que integrem as várias crenças e o pluralismo de ideias
dos cidadãos(questão central deste trabalho).
O governo federal tem criado ao longo das últimas décadas leis que
coíbam as atitudes de intolerância religiosa por opção sexual entre outras, mas
os últimos dados estatísticos revelam índices alarmantes do aumento das
denúncias principalmente de evangélicos contra adeptos de religiões de
matrizes africanas e ciganos.
Tem se desenvolvido na esfera federal , principalmente, legislações e
projetos que informem aos líderes religiosos a importância da união entre
todos, por ser nosso país plural, cultural e social, iniciando-se a partir de sua
colonização.Muitos estudiosos tem o “racismo” como causa principal de
intolerância principalmente entre jovens.
Muitas religiões neopentencostais(principalmente) são acusadas de
colaborar com a intolerância religiosa em suas “falas” nos templos religiosos
sob suas direções.Acusadas de deflagar como “religião oficial” as
suas(neopentencostais) contra principalmente,as religiões de matrizes
africanas, manipulando seus adeptos contra essas e todas as “outras” que
julgam inferiores ou que contradizem a “palavra de Deus”, segundo eles. Os
neopentencostais acusam os líderes religiosos destas religiões de idolatria.
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Apesar da separação entre Estado e Igreja após a proclamação da
República em 1889 e a liberdade religiosa pela Constituição de 1988, o Estado,
nos últimos anos , tem estado presente na vida pública, nos símbolos
religiosos, no Ensino Religioso nas salas de aula das escolas públicas,
colocando em “xeque” a laicidade do Estado frente aos atos de intolerância
religiosa.
Mediante o crescimento da pluralidade de religiões no Brasil e no
mundo, e da necessidade do Estado garantir e proteger a liberdade religiosa de
seus cidadãos, e de seus direitos, favorecendo o estabelecimento de suas
práticas religiosas coibindo abusos e intolerância religiosa por parte de pessoas
ou grupos contrários, esse trabalho pretende estudar como a intolerância
religiosa fere os princípios constitucionais que são devidos aos cidadãos, e o
papel do Estado laico em protegê-los garantindo a liberdade de crença sem
favorecer nenhuma religião.
O objetivo geral desta pesquisa é analisar o fenômeno religioso
“intolerância religiosa“ e seus efeitos diante da diversidade religiosa do Estado
laico.
O presente estudo foi elaborado em três capítulos:No primeiro
pretendeu-se traçar o atual quadro religioso em nosso país e a convivência
entre todos e as duas maiores doutrinas em número de adeptos, no segundo
além do processo de convivência, a importância do diálogo inter-religioso e o
conhecimento das teologias na tentativa de aproximar os crentes, e por fim no
terceiro capítulo, a laicidade do Estado brasileiro e as ações que realiza para
proteger os cidadãos da perseguição religiosa de alguns grupos religiosos.
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CAPÍTULO I
O PROCESSO DE FORMAÇÃO RELIGIOSA NO BRASIL
1.1- O capítulo abordará as principais doutrinas religiosas existentes e os
novos movimentos religiosos que cresceram desde a década de 60 no
país, a convivência entre as duas maiores religiões e os novos
movimentos religiosos.
O Brasil é um país que através da Constituição Federal de 1988 auto-
denomina-se laico mantendo neutralidade e imparcialidade entre a população e
a diversidade religiosa cultural e social de que é composto.
Desde o rompimento do Estado e da Igreja com a proclamação da
República muitas leis foram criadas, modificadas e adaptadas para
preservarem esta neutralidade e garantir a convivência pacífica entre todos.
A Constituição também garante tratamento igualitário entre todos os
brasileiros independente de suas convicções religiosas.Mas será que na prática
este direito está sendo realmente respeitado?
Mas antes de iniciar nosso debate discurssivo sobre a temática deste
trabalho será elaborada uma pequena linha de tempo demonstrando quais são
as principais religiões predominantes no país e os novos movimentos religiosos
que surgiram principalmente a partir da década de 60 e os impactos no campo
religioso brasileiro da atualidade.
Estudando o significado da religião para o brasileiro, partirei da ideia do
sagrado a partir do processo histórico-cultural que o compõe.
O cristianismo composto pelo catolicismo predominante desde o século
XVI e a convicta ideia dos jesuítas em “evangelizar” os índios e exterminar
4
radicalmente sua cultura e religião levaram os padres que aqui chegaram a
imbuírem-se em uma ação direta contra os nativos que aqui viviam suprimindo
suas crenças e culturas, substituindo-as pelo catolicismo, afim de concretizar
seus objetivos.Assim nascia o catolicismo brasileiro nas terras recém-
descobertas.
O Brasil é um país que possui um grande número de adeptos
católicos.Segundo o Censo 2010 este número está em torno de 64,6%.Houve
um declínio nas últimas décadas com o aumento dos adeptos das religiões
protestantes e de outras religiões.
Seu segundo maior opositor o protestantismo , que chegou as terras
recém-descobertas por volta do ano de 1532, hoje é o segundo maior
segmento religioso do Brasil.O número de seguidores aumentou em cerca de
61% entre 2000 e 2010( dados do último censo).
Entre as maiores denominações protestantes do Brasil estão os batistas,
os adventistas, os luteranos, os presbiterianos e metodistas. Entre
pentencostais e neopentencostais estão Assembléia de Deus,Congregação
Cristã no Brasil, Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja do Evangelho
Quadrangular.
Com o crescimento do protestantismo no Brasil a Igreja Católica iniciou
um movimento de “perseguição” ao protestantismo, procurando “demarcar” seu
território abalado pela diminuição dos crentes católicos para os evangélicos
que perseguem outras religiões como veremos adiante em nossa pesquisa
bibliográfica.
Atos como o famoso “chute na santa” desencadearam uma batalha
entre católicos e evangélicos durante as últimas décadas. Apesar da
“rivalidade” ambas as religiões continuaram crescendo junto com novos
movimentos religiosos, como afirma Eliane Moura Silva(2004):
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“Nos útimos 200 anos falou-se muito sobre a crise e a decadên-
cia das religiões formais.Um coro de filósofos, cientistas e
políticos apregoava, no alvorecer do século XX, que não have-
ria espaço para Deus no mundo do avanço científico que se
anunciava. As vozes variavam: ora afirmavam a morte de Deus
(Nietzsche)ora tratavam do colapso de uma insituição (como a
Igreja Católica).Porém para surpresa de muitos, os séculos XXe
XXI foram marcados por um considerável ressurgimento de
crenças e práticas religiosas em todo o mundo. Igrejas Católicas
e Protestantes, Ortodoxos nos países remanescentes da antiga
URSS, mesquitas na Indonésia, templos na índia, marcam este
florescimento das religiões(Silva,M.2004,p.7).
Houve um avanço muito grande entre as duas maiores religiões
ocidentais e o surgimento de outras como o Kardecismo nos séculos XX e XXI.
Apesar da revolução científica iniciada no século XIX e que se estendeu
pelo século XX, o homem não “esqueceu” sua busca pelo sagrado, pelo
transcedente, pelo mistério, pelo “inexplicável”, pelo “intrigante”, nas mais
variadas formas em que se organiza o fenômeno religioso.
A religião é um dos produtos da cultura herdada pela tradição de vários
povos e mais específicamente no Brasil, destacam-se o catolicismo e as
religiões protestantes, com a escravidão, chegaram ao Brasil as crenças dos
escravos traficados da África e dos imigrantes que para cá vieram fugindo da
primeira e segunda guerras mundiais resultando na pluralidade cultural e
religiosa existentes.
“Nos EUA, durante a segunda metade do século XIX, período de
Guerra, imigração,descoberta do ouro, da expansão para o Oes-
te, o surgimento de vários movimentos promoveu o que os histo-
riadores das religiões chamaram de “O Grande Despertar”.Gru –
pos se organizaram em torno de esperanças variadas,da Salva-
ção pela Santificação e Batismo no Espírito até a Iminiência do
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Apocalipse:Testemunhas de Jeová, Adventistas do Sétimo Dia,
Ciência Cristã etc.,surgiram nessa esteira de turbulenta religio-
sidade.No final do século XIX, sob o impacto da laicização da
sociedade, da redescoberta das religiões orientais, movimentos
espiritualistas floresceram:Teosofia, Espiritismo, Antroposofia.
Estima-se que na África, nos úlltimos cem anos, 10.000 novas
religiões apareceram(Silva,M.,2004,p.11).
Do sincretismo religioso, muitas religiões como a Umbanda e o
Candomblé foram surgindo e ganhando adeptos assim como outras
denominações religiosas originando a diversidade cultural religiosa encontrada
neste país.”A diversidade se faz riqueza e deve conduzir a compreensão,
respeito, admiração e atitudes pacificadoras”(Silva,M.2004).
Com os movimentos culturais da década de 60 e os movimentos contra
a ditadura militar liderados por opositores políticos, professores e jovens
universitários, iniciou-se uma “cultura” de luta pelos direitos civis, pelas
diferenças, e pela liberdade de opção religiosa, sexual, econômica e etc.
Segundo a definição de Geertz:
“Religião é um sistema de símbolos que atua para estabelecer
poderosas disposições e motivações nas pessoas através de
formulações de conceitos de uma ordem de existência geral e
vestindo essas concepções como tal aura de fatualidade que
as disposições e motivações realistas”(Queiroz,2012,p.121).
Seguindo as mudanças que aconteciam muitas religiões e novos
movimentos religiosos surgiram por conta das novas ideias surgidas e da
revolução nas ruas pedindo mais liberdade. Em todos os setores da sociedade
as pessoas clamavam por mudanças , incluindo a religião.(Talvez por sua
passividade frente aos acontecimentos e abusos do regime da época).
Nesse contexto surgiram novas religiões e espiritualidades que fugiam
ao dito sistema “oficial” religioso, contemplando o povo que clamava por mais
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liberdade de escolhas, somatizando a pluralidade de liberdade e de
espiritualidades no início do século XX.
1.2 – As variadas formas de práticas da espiritualidade brasileira.
Surgiram novos grupos no interior de grandes religiões cristãs tais como:
Adventistas, Mórmons,Testemunhas de Jeová, Ciência Cristã etc. Novas
Igrejas oriundas do Oriente:Soka Gakai, Igreja Messiânica, Mahikari , Seicho-
no-iê, PL etc Alguns grupos que se pautam em tradições antigas:Santo Daime,
Barquinha, Vale do Amanhecer, LBV, Fé Bahai, Brahma Kumaris, HK. Novas
Espirituallidades:Rosa Cruz, Wicca, Fraternidade Branca, terapias diversas etc.
Mas sem dúvida os NMR(Novos Movimentos Religiosos)(Queiroz,2012),
no início dos anos 90 marcam pela “nova” mentalidade
holística(mente/corpo/espírito) e muitos “migram” de religiões tradicionais para
os NMR que proporcionam o almejado equilíbrio entre corpo/espírito pelos
adeptos, e as novas ideias e novas práticas espirituais, litúrgicas, bem como a
respostas aos anseios de liberdade por que clamaram os novos grupos, como
afirma Eliane Moura Silva(2004):
“Muitos movimentos religiosos procuram repensar os papeis de
gênero,as opções sexuais, a participação política engajada, os
conflitos em nome da fé, as novas práticas espirituais, as litur-
gias alternativas e as revisões teológicas de acordo com as ne-
cessidades da modernidade, destacando-se aí o papel das mu-
lheres e das minorias dentro da sociedade e suas expressões
culturais. Trata-se portanto de privilegiar como objeto central
de pesquisas coerentes de pensamento, movimentos, tendên-
cias até então considerados marginais a cultura religiosa”oficial”
movimentos religiosos dos povos indígenas-latino-americanos e
africanos, religiões orientais; as centenas de igrejas evangélicas
pentencostais,neopentencostais e avivadas, o espiritualismo, a
constituição de identidades religiosas nacionais e supranacio-
nais, a “Nova Era”;as religiões afro-brasileiras como a Umbanda
e o Candomblé”(Silva,M.2004,p.6).
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A crença no sagrado passa a ser uma crença mais voltada para a
“energia” espiritual ou de “princípio da vida”.Acredita-se em um ser superior
que se encontra por toda parte, sem aquela visão tradicional e monopolista de
“Deus” apenas no interior das Igrejas. Valoriza-se a intuição e os sentimentos
em detrimento da razão e da “autoridade” tradicionais.Colin
Campbell(Queiroz,2012) no livro a “ética romântica e o espírito do consumismo
moderno” afirma que o Ocidente sofreu um processo de “orientalização” ou
seja influências orientais não apenas no campo de temperos, roupas, comidas
etc, mais em religiões, práticas terapêuticas e novas espiritualidades.Assim as
instituições religiosas tradicionais sentem-se ameaçadas pela liberdade que
todos esses movimentos religiosos tendem a incutir nos novos hábitos de vida
da sociedade onde o misticismo, o individiualismo e a procura pela elevação
espiritual autônoma fogem aos padrões religiosos tradicionais.
O misticismo é uma das novas práticas de espiritualidade do brasileiro e
do ocidente em geral que vem sofrendo influências cada vez maior do oriente e
de suas práticas religiosas.
Nesta situação o diálogo inter-religioso fica difícil pelo simples fato de
que as religiões tradicionais tendem a rejeitar as novas espiritualidades e as
religiões místicas,porque poderão perder adeptos, mas esse é sem dúvida o
novo panorama da religiosidade no Brasil.
Em contrapartida o brasileiro encontra nessas religiões e espiritualidades
as respostas que não conseguem nas instituições religiosas tradicionais, esta
insatisfação acaba gerando uma migração religiosa alterando os índices
percentuais da aceitação dessas religiões para um índice positivo cada vez
maior.Outros fatores importantes para aceitação dessas novas religiosidades
como afirma Juarez Queiroz são os seguintes: a mensagem que é transmitida
por esses NMR e o mensageiro que consegue atrair um número cada vez
maior de adeptos:
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“O principal instrumento utilizado pelos novos movimentos reli-
giosos é a mensagem (grifo do autor).Esta tem de ser apelativa,
incisiva, ou seja, deve levar as pessoas ao êxtase e tocar nos
pontos mais sensíveis de indivíduos ou grupos.Se a mensagem
é importante, não é menos importante o mensageiro (grifo do
autor). Daí que a escolha desses mensageiros tem de ser crite-
riosa:pessoas que tenham o dom da palavra e sejam carismáti-
cas”(Queiroz,J.2012,p.135).
O mundo está vivendo uma crise financeira e de valores e as religiões
precisam adaptar-se à essa nova realidade , as pessoas precisam que a
religião lhe forneça respostas rápidas e imediatas para suas angústias e
anseios e lhes dê motivos que as estimulem a ultrapassar essas dificuldades
,mas algumas religiões não se adaptaram a essas mudanças ainda tendem a
ser excludentes e fechadas, limitando-se apenas a praticar seus rituais com
palavras de fé e esperança e mensagens de caridade e adoração sem
preocupação com o crente, objetivando o crescimento da Igreja em número de
adeptos que possam oferecer dízimos ou ajuda financeira a instituição
religiosa.
Outro fator importante é a política que parece não interferir nos assuntos
religiosos, mas na prática, quando necessitam de votos percorrem as Igrejas
católicas, cristãs e a outras minorias religiosas para conseguirem um maior
número de eleitores e ao se elegerem não proporcionam a população aquilo
que prometeram. Desilude-se ainda mais os indivíduos e os mesmos acabam
procurando as novas religiões procurando nelas as respostas para suas
decepções e desilusões, como afirma Juarez Queiroz:
”É aqui que os Novos Movimentos Religiosos intervêm.Aparecem não
só como possibilidade de dar respostas as inquietações, como por vezes, se
assumem como a própria resposta”(Queiroz,2012).
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O Brasil é um país onde a pluralidade cultural e religiosa mais favorece a
expansão de novas religiões e espiritualidades por abraçar várias culturas e
permitir o “trânsito” religioso a luz de uma Constituição que protege os locais de
culto e a convivência entre todos, por isso até “exporta” novas religiões como a
Igreja Universal do Reino de Deus que atrelada ao uso de tecnologias de
comunicação expandiu-se para outros países a exemplo de Portugal, Uruguai e
Argentina, com um marketing de “novo” modelo de evangelização e
perseguição as religiões afro-brasileiras, principalmente, ganham novas
fronteiras nacionais e fora do Brasil. A IURD é exemplo dessas novas
religiosidades que cresceram prometendo uma “nova” vida e a resposta ao
desespero dos indivíduos desiludidos com políticos, com as dificuldades
financeiras, de saúde entre outras.
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CAPÍTULO II
AS POSSIBILIDADES DE CONVIVÊNCIA ENTRE A DIVERSIDADE
RELIGIOSA BRASILEIRA
2.1- O processo de convivência entre os cidadãos de várias religiões e as
denúncias de intolerância religiosa no país.
Em o “fator Deus” José Saramago(2001), hostilizado por tantos
episódios de violência de seres humanos contra seres humanos, remota-se a
intolerância como fator fundamental para tais atos, porém não se pode
esquecer que desde a antiguidade o homem condena a morte em nome de
Deus ou deuses àqueles que se rebelam contra suas leis e contrariam o
sistema.O filósofo Sócrates foi uma dessas vítimas, condenado a morte por
suicídio, acusado de pregar a rebelião entre os jovens e não adorar os
deuses.Na Idade Média, cruzados (movimento de inspiração cristã) partiram da
Europa Ocidental em direção a Terra Santa(nome pelo qual os cristãos
denominavam a Palestina) e a cidade de Jerusalém com o intuito de conquistá-
las, ocupá-las e mantê-las sob o domínio cristão dizimando a vida de vários
turcos muçulmanos que habitavam o território.Este movimento estendeu-se
entre os séculosXI e XIII.
A Santa Inquisição condenou a fogueira milhares de cientistas, filósofos,
mulheres, homens e crianças acusados de feitiçaria, e muitos outros episódios
históricos em nome de Deus. Parece que o comportamento violento persisti em
continuar a perseguir e aniquilar os que pensam, falam e agem diferentemente
daqueles lhes impõem ideias ou divergem de suas imposições.
Na atualidade não parece diferente, apesar do avanço da tecnologia e dos
meios de comunicação, alguns na humanidade ainda têm a firme ideia de
dominar e oprimir seus semelhantes, seja através da fé, da política, do trabalho
e etc.
Muitos adeptos de religiões consideradas não convencionais pelo
Estado local de uma nação,sofrem com perseguições e estigmas para
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continuarem professando a sua crença. Isso também em relação ao sistema
governamental imposto pelo governo local lutando por mais liberdade, para que
suas ideias sejam ouvidas e aceitas, mas aqueles que deveriam ouvi-los e
apóia-los, voltam-lhe as costas e fingem que tudo vai e está bem,ou resolvem
oprimilos utilizando de armamento pesado ou não,com o intuito de impedir a
democracia.
Muitas cenas de violência são denunciadas pelos meios de comunicação
contra a população que oprimida luta por mais direitos e liberdade, liberdade de
crença, de ideias, de participação e etc.A liberdade de crença é a de garantir e
vivenciar a crença que escolheram em toda a sua plenitude.
”Uma delas, a mais criminosa e a mais absurda, é aquela que, desde o
princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de
Deus”(Saramago, 2001).
Segundo Saramago na Índia, no Iraque, em Israel, no Afeganistão e em
muitos lugares, inclusive no Brasil, não se respeita a vida, fator fundamental
para a convivência de qualquer ser humano.
Alguns crentes de determinadas religiões não consideram e não
respeitam adeptos de religiões consideradas por eles excêntricas e exóticas,
fingindo ignorá-las e deixando um grande rastro de intolerância e desrespeito,
porque estes mesmos crentes consideram-se escolhidos de Deus para limpar a
Terra destas religiões.
Para os fundamentalistas o outro, o espaço do outro não existe, não é
reconhecido, o outro é apenas um competidor, um oponente que precisa ser
combatido e vencido, sejam quais forem as armas:ideológicas, físicas, verbais,
de fogo e etc
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“Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não e-
xistisse e eu respondo que precisamente por causa e em
nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo
principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e
cruel.”(Saramago,2001, p.2)
A palavra fundamentalismo foi usada inicialmente pelos cristãos
protestantes americanos que rejeitavam a modernização da sociedade da
época e prinicipalmente o que propunham os protestantes liberais, que
segundo eles, “distorciam a fé cristã” por não aceitarem a interpretação literal
das escrituras e a aceitação das doutrinas básicas pelos conservadores, bem
como as normas de comportamento tradicionais da religião.
Com o fundamentalismo vem a intolerância religiosa foi isso que
aconteceu com vários povos e nações a exemplo dos judeus forçados pela
inquisição espanhola a se converterem ao cristianismo e depois expulsos da
península. Durante a Idade Média a Igreja e o Estado fundiram-se numa
espécie de acordo entre as diferentes facções do
cristianismo(católicos,protestantes, anglicanos e etc) na perseguição aos
“dissidentes” motivados também pela disputa política.
“Com a formação e consolidação dos Estados nacionais
Modernos, a intolerância veicula religião e política, iden-
tificando uma a outra. O herege religioso é visto como
um desafiante da ordem política monárquica: o dissiden-
te político é encarado como um desafiador do dogma re-
ligioso adotado pelo Estado-nação.”(Silva,A .2004,p.2)
O Estado unido a religião coibe qualquer manifestação de liberdade
mesmo o da escolha de crenças e a liberdade de expressão principalmente,
pois tendo o homem capacidade de exprimir-se logo pode provocar uma
revolução entre todos. A religião “estatal” ou “oficial” foi uma colaboradora de
tais atos.
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O filósofo John Locke na” Carta Acerca da Intolerância” descreve o
papel do Estado de cuidar das coisas materiais apenas, e não em cuidar dos
assuntos relativos ao desígnio divino, por isso não justificaria à conversão
obrigada a que foram submetidas milhares de pessoas a determinada religião,
julgada pelo Estado como a única a proporcionar salvação e tranqüilidade. E
mesmo aqueles que foram convertidos converteram-se apenas pelo medo e
não por convicção, fato que segundo Locke desagradaria a Deus.Locke conclui
que:
“Todo o poder do governo civil diz respeito apenas aos bens civis dos
homens que está confinado para cuidar das coisas deste mundo e
absolutamente nada tem a ver com o outro mundo “(Silva,A.2004,grifo
nosso).
Locke em sua “Carta Acerca da Intolerância” passa a questionar as
características da Igreja que deveria proporcionar aos cidadãos adeptos e não
adeptos cultos públicos em uma sociedade de homens livres.Nenhum indivíduo
deve ser desrespeitado por pertencer a uma religião diferente daquela da
maioria, mas na prática temos notícias de vários atos de intolerância religiosa
no Brasil e em outras partes do mundo.
Locke destaca que muitos cidadãos foram perseguidos, humilhados,
rechaçados e tiveram seus bens confiscados sob pretexto de professarem uma
fé não aceita pela maioria como foi o caso do catolicismo, do protestantismo e
do judaísmo em algumas partes do mundo.
Hoje as “táticas” de intolerância mudaram, são praticadas por grupos
que compõem o Estado que promovem um certo tipo de manipulação e
alienação da sociedade pelo simples argumento de manutenção da paz, como
é o caso dos EUA que veicula o terrorismo internacional a grupos
fundamentais, principalmente ligados ao islamismo. A sociedade americana
aceita tal argumento porque de certa forma o diferente lhe causa temor e
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aversão por não estarem dentro dos padrões comportamentais ditados pelo
Estado Americano, que se diz patriarca e protetor.
Locke destaca que o combate a intolerância depende de uma certa dose
de tolerância e intolerância, quando necessário.
Numa sociedade pluralista os indivíduos precisam definir suas escolhas,
sem que essas sejam manipuladas em nome do poder político ou do poder
econômico, precisam relativizar entre o que pode e não pode ser tolerado em
uma democracia e como conviver pacíficamente com aquilo ou aquele
considerado diferente pela tradição, como afirma Eliane Moura da Silva:
“É possível reconhecer o valor de cada ser humano e a
importância de garantir os direitos humanos para todos.
Isto inclui a liberdade individual.Valorizar os direitos de
outras pessoas e crenças variadas e diferentes é um
passo fundamental para apreciar a diversidade religiosa.”
(Silva,M.,2004,p.10)
No Brasil a disputa acirrada entre as variadas religiões e as religiões
pentencostais, mas específicamente as neopentencostais e afro-brasileiras tem
levado ao cenário da comunicação falada e escrita a denúncia de vários atos
praticados entre um e outros, mas sem dúvida os pastores e missionários da
Igreja Universal do Reino de Deus tem sido acusados de crimes de intolerância
religiosa contra os afro-brasileiros da Umbanda e Candomblé.No interior das
Igrejas neopentencostais são freqüentes as sessões de exorcismo ou
“descarrego” como eles afirmam, das entidades afro-brasileiras chamadas a
incorporar e em seguida, humilhadas e expulsas em sessões públicas
demonstrando a libertação do “fiel” e o poder de quem opera esses exorcismos
através da Igreja.
Sob um aparato comunicativo que envolve principalmente a TV os
símbolos e os elementos que compõem a teologia candomblencista,
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umbandista e espírita(principalmente), a teologia afro-brasileira através dessas
sessões são descaracterizadas e responsabilizadas pelos malefícios que
acometem as pessoas que sofrem de variados males. Muitos ex-adeptos
destas religiões são convidados para prestarem testemunho de péssimas
experiências que tiveram durante o tempo que pertenceram a estas
agremiações religiosas.Outro fator muito atacado pelos pentencostais e
sobretudo pela IURD é o fato de que em muitos rituais são realizados sacrifícos
de animais que contrariam as leis ambientais, elevando-as a condição de
magia-negra ou satanismo.
Analisando as práticas sincréticas que acontecem no interior da IURD o
autor Vagner Gonçalves da Silva(2007), considera a IURD e outras
neopentencostais, mas sobretudo a IURD como uma religião religiofágica (grifo
do autor), ou seja uma religião que combate suas oponentes: Umbanda,
Candomblé e Espiritismo Kardecista assimilando e incorporando para sua
doutrina práticas e elementos simbólicos de seus adversários no intuito de
combatê-las e converter seus adeptos:
“De minha parte, considero-a sem nenhuma conotação
pejorativa, uma igreja religiofágica;literalmente “comedo-
ra de religião”, ou, como diz R.de Almeida, uma igreja
que construiu seu repertório simbólico, suas crenças e ri-
tualística incorporando e ressematizando pedaços de
crenças de outras religiões, mesmo de seus adversários.”
(Silva, V.2007, p.33, grifo nosso).
Práticas na IURD são semelhantes a algumas realizadas em outras
religiões tais como: cultos pela prosperidade, pelo amor e casamento
aconselhando e induzindo os adeptos a levarem para casa objetos
consagrados para auxiliá-los em seus desejos, como fazem religiões tais como
o catolicismo com santinhos e pílulas de cura.O ponto alto das pregações da
IURD são as “sessões espirituais de descarrego” que acontecem
semanalmente em algumas igrejas neopentencostais e principalmente na
17
IURD, objetivando a “demonização” dos elementos sagrados do Candomblé da
Umbanda e do Espiritismo, principalmente.
Os pastores neopentencostais propõem uma espécie de evangelização
em massa e travam em nome de Jesus Cristo uma “guerra” declarada ao diabo
que segundo eles se materializa através dos orixás das religiões afro-
brasileiras, referindo-se aos crentes neopentencostais de “soldados de Jesus”.
“Com nomes bonitos e cheios de aparato, os Demônios
vem enganando as pessoas com doutrinas diabólicas.
Chamam-se orixás, guias, espíritos de crianças,médicos
famosos, poetas famosos, mas na verdade são anjos
decaídos”(Silva,V.2007,p.42)
Os cultos afro-brasileiros, históricamente, desde a metade do século
XIX,foram perseguidos, inicialmente pela Igreja Católica em especial o
Candomblé, especialistas sempre apontaram o racismo como causa principal
da perseguição aos adeptos.Com o início da modernidade e o avanço
tecnológico já no século XX, o pluralismo religioso começou a crescer, apesar
da influência católica sobre a máquina estatal, estabeleceu-se uma tolerância
as práticas do Candomblé, da Umbanda e do Espiritismo, que passaram a ser
perseguidos pelos neopentencostais que com o crescimento do número de
adeptos passou a exercer uma “pressão” a máquina estatal com o aumento de
seu poder político-religioso demográfico. A Igreja Universal do Reino de Deus
resolveu utilizar a estratégia de ataque aos cultos afro-brasileiros sobre o
pretexto de que a “melhor defesa contra o demônio é o ataque” e assim nas
última décadas se tem notícias de invasões a terreiros, vilipêndio das práticas
rituais afro-brasileiras, agressões verbais e físicas de ambos os lados, mas
com maior ofensiva da IURD, os pastores através de citações da Bíblia
justificam o ataque a religião, aos adeptos e aos homosexuais adeptos,
respaldando seus atos:
18
“Sua beligerância radica, portanto, igualmente em interesses
proselitistas, expansionistas e institucionais”(Silva,V.,2007)
As ações, sobretudo dos neopentencostais contra as minorias religiosas
são apoiadas pelo preconceito que estas religiões sofreram ao longo de
séculos e pelo aparato da comunicação de rádio e tv utilizados por
eles(neopentencostais).Por estarem em maior número e melhor organizados,
com um grande número de parlamentares evangélicos por todo país, defendem
veemente as verdades que acreditam serem apoiadas pela Bíblia contra
grupos religiosos, étnicos e homosexuais, chegando a manipular no
Congresso e no Senado através da “bancada evangélica” leis que inibam
práticas dos rituais afro-brasileiros como o sacrifício de animais e do atabaque
do tambor durante as madrugadas, principalmente em Salvador-BH.
As batalhas entre os dois lados tem sido veiculadas na TV por conta da
crescente intolerância entre ambos.Recentemente uma aluna de uma Escola
Estadual do Rio de Janeiro no município de São João de Meriti praticante de
candomblé disse sofrer discriminação por parte de três professoras evangélicas
que a obrigam a rezar e tentam convertê-la afirmando que o” ensino religioso
é confessional e de que a freqüência é obrigatória.”(globodigital2013). A
Escola justifica que não tem como oferecer outra atividade para alunos que não
querem assistir as aulas. A LDB 9394/96 cita que o ensino religioso é
facultativo para o aluno e que não pode haver proselitismo por parte das
escolas.
Segundo Vagner Gonçalves da Silva, os evangélicos redefiniram o
religioso no Brasil com um discurso que expressa uma “hegemonia cristã”
tolerando outras religiões, mas não aceitando-as, sejam elas afro-
brasileiras,orientais, ocidentais ligadas ao ocultismo, o espiritismo e etc, com
citações bíblicas que justifiquem o fundamentalismo que expressam.
19
“No livro” Os Profetas das Grandes Religiões” o pastor
Romildo Ribeiro Soares “condena” dezenove fundado-
res de “falsas doutrinas”,como Buda,Confúcio e Maomé.
Nessa mesma linha veja, entre outros, “Seitas e Here-
sias”, de Raimundo de Oliveira; “Respostas às Seitas:
Um manual Popular sobre as Interpretações
Equivocadas das Seitas”de Norman Geisler e Ron
Rhodes.(Silva,V.2007, p.204,grifo nosso).
Alguns casos ocorridos em Salvador(BH) denotam à violência em que
estão expostos crentes das religiões afro-brasileiras.Segundo Rafael Soares de
Oliveira(2003), são os seguintes:
1-7/11/2001-Divulgada pela internet carta-denúncia dirigida ao Sr.Edir
Macedo, em que se repudia a página<www.b ispomacedo.com.br>que veicula
acusações contra religiões afro-brasileiras, as quais ele chama de “mistura
diabólica”, ao dizer que no “Brasil, em seitas como
vodu,macumba,quimbanda,candomblé ou umbanda os demônios são
adorados.Assinam o documento integrantes do Ipáde(Grupo de Discussão).
2-28/10/2001-Jornal A Tarde:segundo participantes do Terreiro Vila São
Roque(Salvador), membros da Igreja Graça de Deus atiraram sal e enxofre
contra fiés reunidos em culto no dia 26/10/2001.Os representantes do Terreiro
buscaram denunciar o assunto junto aos órgãos públicos e à sociedade civil.O
presidente da Comissão Especial para Assuntos da Comunidade Afro-
Descendente da Assembléia Legislativa(Cecad) encaminhou denúncia ao
Ministério Público.
3-08/10/2001- Jornal A Tarde:artigo cita líderes religiosos que criticam as
restrições que têm sofrido a “demonização” das religiões afro-brasileiras, e dá
notícia de dossiê de denúncias enviado à Secretaria Nacional de Direitos
Humanos.
20
4-06/08/2001-Jornal O Dia: artigo reporta as acusações de “bruxaria e
demônios” reproduzidas em rituais da Igreja Universal do Reino de Deus.
5-01/2000-11/2001-Em janeiro de 2001 falece por problemas cardíacos
Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum, Itapoá, Salvador(BH).Em
fevereiro, em Itapoã, o Terreiro promove a passeata “Pela Tolerância”.No
mesmo mês Koinonia é instada a dar apoio jurídico em ação contra a Igreja
Universal do Reino de Deus por agressão e uso de imagem no Jornal
Universal,associando a imagem daquela mãe-de-santo a charlatanismo e
feitiçaria.Entre as alegações dos familiares está, inclusive, o agravamento da
saúde da líder do Terreiro,causada pela agressão religiosa sofrida.Com o apoio
de Kononia, está em curso uma ação indenizatória.
2.2-A necessidade do diálogo inter-religioso e do conhecimento das
teologias que formam o universo plural do país.
Não pretendo fazer uma exposição longa acerca das teologias de todas
as religiões, mas enfatizar aquelas que mais são discriminadas e mal
compreendidas e buscar nesta “fala” um caminho que possa ser traçado
juntamente com o diálogo inter-religioso cuja finalidade seja atingir a paz e a
convivência pacífica entre todos.
Segundo Rafael Soares de Oliveira(2003) o desrespeito e os atos de
intolerância de que são vítimas adeptos das religiões afro-brasileiras vem
também do comportamento não adequado de alguns crentes dessas religiões,
que segundo determinadas situações negam sua doutrina ou cometem atos
não condizentes com as mesmas.Um desses equívocos está no ato de
relacionarem Exu(no queto-K) ou Izila(no angola-A) com o Diabo dos cristãos.
Esta relação data do tempo em que a polícia corria e perseguia os adeptos do
candomblé que relacionavam ao Diabo.A Igreja Católica também utilizava-se
dos símbolos de Exu(K) ou Izila(A) relacionando-os ao mal para convertê-
21
los.Alguns terreiros utilizavam esta fama para ganhar dinheiro com quem os
procuravam para fazerem “maldades”.O autor garante que muitos sacerdotes
do candomblé tem mudado sua consciência em relação a esta prática
procurando resgatar valores positivos que envolvem a religião,principalmente
por causa da perseguição religiosas que tem sofrido.Outro ponto, é o fato de
que várias entidades religiosas candomblencistas tem se reunido através de
projetos que favoreçam o reconhecimento das denúncias de intolerância e a
forma de combatê-la como o “Projeto Egbé-Territórios Negros(desenvolvido por
Kononia-Presença Ecumênica e Serviços) nos terreiros da Bahia(região
metropolitana de Salvador).
Segundo a visão de Oliveira, o que se deve falar é da beleza e do
sentido da religião, ou seja quem é Exu(K) ou Izila(A) na teologia
candomblencista:”Não é o Diabo que as igrejas criaram.Esse Diabo só existe
lá.É o primeiro de todos os orixás.Todos precisam dele e ele não precisa de
ninguém.Ele tem pai e mãe, e é o senhor dos Caminhos”(Oliveira,2003).
Os ancestrais são um dos sustentáculos do axé, palavra que quer dizer
“força espiritual”, “paz”,em uma casa(terreiro), mesmo antes de se chegar a
Exu(K), que é o princípio de qualquer movimento, passa-se pelos ancestrais.
O culto aos santos católicos são remontados ao fato de que o colonizador
português encontrou na África, em Angola-Congo, um negro que acreditava em
um único Deus chamado Zambiapungo, que praticava o culto aos ancestrais
de sua família.Ele guardava os ossos desses mortos dentro da casa para fazer
pedidos.Mas os padres portugueses condenaram aquelas práticas dizendo que
eram erradas e de que somente deveriam adorar os ossos de São Francisco, a
língua de Santo Antonio ou o pedaço da unha de um santo, osso de “preto”,
não.Os padres também encontraram a cruz que os negros angolanos e
congolenses usavam para representar a linha da vida.Acima da linha
horizontal, vivemos nós; abaixo os mortos. A linha vertical seria o “elo” entre os
mortos e os vivos.
22
A reencarnação também era crença do negro, só que de forma diferente
do que pensa o homem. Segundo o negro, o homem como todas as coisas foi
criado e de que todas as coisas da natureza não foram criadas para o homem,
mas para conviver com o homem,assim se o negro morresse ele poderia
reencarnar como pedra,rio, animal, planta e etc. O Kardecismo vindo da
Europa,limitou a encarnação apenas ao homem.O negro não tinha essa ideia
cristã de que tudo foi feito para o homem.
Nas religiões afro-brasileiras as doações são feitas para as divindades
que aquele que pretende se iniciar realiza para elas.Sendo as divindades
associadas aos orixás ligados a natureza, as bênçãos voltam para os adeptos
através desse orixás:Oxum-riqueza e fertilidade;Ogum-abertura dos caminhos
e bons negócios; de Xangô-Justiça; de Obaluaiê-cura das doenças; de
Oxossi;fartura à mesa para que tragam para este mundo o axé.
De acordo com Silva(2007)exus e caboclos representam “categorias de
fronteiras” entre as principais divindades dos cultos afro-brasileiros e no
cristianismo.
“A partir do culto do caboclo, preto-velho e das entidades
situadas, segundo o quadro anexo,no pólo considerado
de “menos luz(esquerda)”, vigoraria o modelo da umban-
da,tendo como variante a quimbanda,que enfatiza o culto
às entidades “mais radicais” da esquerda,como exus e
pombagiras.Na umbanda as entidades foram agrupadas
em linhas ou falanges,o que permite que o seu sistema
englobe todo o continuum de deuses, inclusive os do
candomblé, porém modificando-os parcialmente,em ter-
mos de seus significados,formas de transe,culto etc.
( Silva,V.2007,p.231,grifo do autor)
Na Igreja Universal do Reino de Deus, faz-se referência a “Teologia da
Prosperidade” que “orienta” o fiel a sair da pobreza através da oferta em
dinheiro, obedecendo a lógica de que Deus retribui as bênçãos a medida que o
crente oferece o que possui, pois Deus recompensa aqueles que “desafiam-se
23
a si mesmos” em favor da causa divina, crendo e doando, condições máximas
para que o fiel torne-se apto a participar da herança divina que tem “direito
como filhos de Jesus Cristo”.É preciso cobrar de Deus, aquilo que ele mesmo
prometeu.”(Macedo,1996,p.173)
É notória a diferença entre a teologia das religiões afro-brasileiras e a
teologia cristã ou como qualquer outra religião não cristã, mas quanto as
ofertas ou doações elas tem quase sempre o mesmo discurso, de que para
ganhar o “Reino do Céu” ou receber bênçãos e graças é preciso doar.
Teologia Indígena Latino-Americana
“O povo indígena da América Central, da Amazônia, das serranias
andinas do Cone do Sul tem seu modo de entender a natureza, a história, a
divindade”(Ribeiro, 2012).
Diego Irrazaval, sacerdote católico-romano, atuou por quase três anos
em comunidades Aymaras no Peru, concluindo que cada povo da América
Central, da Amazônia, das serranias andinas, do Cone Sul tem seu modo de
entender a natureza, a história e a divindade. Os índios tem na mitologia a
presença de um ser superior que sustenta a realidade, observa a maldade e o
conflito e a situação em que se encontra o ser humano.
No IV Encontro de Teologias Índias na América Latina realizado no
Paraguai em 2002 os rituais e apresentações teatrais focaram as perspectivas
de futuro vislumbradas pelos índios frente a globalização neoliberal e o
enfrentamento das dificuldades que eles passavam.”O mito é uma palavra
carregada de sonhos e esperanças que orienta a caminhada de nossos povos
para a Terra sem mal, para a Terra florida”(Ribeiro, 2012).
Num país pluri-religioso como o nosso, é necessária a integração e a
abertura para o diálogo e o entendimento e a tolerância que cada religião
precisa possuir para entender aqueles que divergem de suas ideias e práticas
24
religiosas, isto só é possível se “todos” estiverem dispostos a ouvir e entender
o que a diversidade tem como entendimento Deus e a humanidade.Ribeiro
enumera três ações importantes, que o Estado deve possuir frente as várias
religiões:
1- A separação entre religião e Estado mediante isenção do Estado em relação
à religião e da religião em relação ao Estado.
2- A proteção estatal para o exercício comunitário da religião e para a liberdade
religiosa individual.
3- A vigência de uma ordem comum para todas as comunidades religiosas da
mesma forma.
“O Estado secular, neutro em termos religiosos, não pode
permitir que, em nome de uma religião, direitos humanos
e de cidadania sejam violados.Ele deve garantir a líber-
dade pessoal de ingressar em comunidade religiosa e
também de deixá-la.”(Ribeiro, 2012,p.54)
25
CAPÍTULO III
3.1- Legislações pertinentes ao combate contra a intolerância religiosa e a
tentativa em integrar a diversidade religiosa brasileira através das
legislações e discussões sobre o tema.
“O respeito a diferença é o primeiro passo para o
ecumenismo”(Oliveira,2003)
Muito se fala em ecumenismo e diálogo inter-religioso, mas a prática
difere-se da teoria. Pouco se vê para que o respeito e a tolerância entre todas
as religiões prevaleçam e de que princjpalmente o discurso hegemônico de que
somente as religiões cristãs estão “habilitadas” para salvar a maioria das
pessoas do inferno ou impedi-las de que sejam encaminhadas para tal.
As minorias religiosas e religiões afro-brasileiras segundo “esse
discurso”, representam a escolha errônea encaminhando aqueles que as
seguem para o caminho do inferno desviando-lhes do alcance da felicidade e
do reino divino,e de que somente a Bíblia é a única fonte de verdade e
salvação, utilizando-se desse livro sacro como fonte de autoridade divina e a
diabolização de cultos de outras religiões.No Brasil, as religiões afro-brasileiras
são as mais perseguidas.
As leis criadas ao longo de anos e modificadas de acordo com a
necessidade surgida em casos de intolerância, são motivo de várias
interpretações dúbias que dificultam a ação dessas autoridades, e por isso os
tribunais levam anos para definir setenças em relação a esses casos.Mas elas
existem e precisam ser amplamente divulgadas e postas em prática para que o
Estado seja imparcial e puna, se for o caso, aqueles que encorajam e praticam
atos de intolerância contra pessoas de religiões opostas e consideradas
desviadas do “caminho divino”.
26
Da Constituição Federal de 1988:
Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,à igualdade, á segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
VI.é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida na forma de lei, a proteção aos
locais de culto e as suas liturgias.
[...]
VIII.ninguém será privado por motivos de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
[...]
Artigo 150.Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado a União,aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
VI.instituir impostos sobre:
b)templos de qualquer culto;
[...]
Do Código Penal
Título V,Cap I,”Dos crimes contra o sentimento religioso”(Ultraje a culto e
impedimento ou pertubação de ato a ele relativo)
Art.208.Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função
religiosa;impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso;vilipendiar
públicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena-detenção de 1(um) mês a 1(um) ano ou multa.
Parágrafo único.Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um
terço,sem prejuízo da correspondente à violência.
Na Constituição em seu Art.5º. fala-se em liberdade de consciência e
liberdade de crença, ambas não são sinônimas, a liberdade de consciência
refere-se a admitir ou não uma crença como é o caso dos ateus e dos
27
agnósticos, ou de pessoas que adotam determinados valores espirituais ou
morais, mas não seguem uma religião.A liberdade de crença incide sobre o
direito de escolher uma religião ou de mudar de religião conforme o desejo do
cidadão.”Estado laico é estado leigo,secular(por oposição a eclesiástico).É
estado neutro[...]O modo de pensar laico está na raiz do princípio da tolerância,
base da liberdade de crença e da liberdade de opinião e
pensamento.”(Russar,2012)
No Estado laico as doutrinas e orientações dirigidas ao adeptos das
tradições religiosas, não são para o todo da sociedade, respeitando-se a
pluralidade religiosa, portanto fé e política não devem se misturar, pois a
política deve atender a todos os anseios do cidadão, independente de suas
preferências religiosas ou não.
A liberdade de religião no Estado brasileiro engloba três tipos de prática
a liberdade de crença, a liberdade de culto e a liberdade de organização
religiosa.
A liberdade de crença, como mencionado acima, incide em aderir ou de
mudar de religião, ou a não aderir a religião nenhuma.
A liberdade de culto engloba a prática de ritos, com cerimônias,
manifestações, reuniões, fidelidade aos atos, às tradições,conforme a doutrina
religiosa seguida pelo fiel.
A liberdade de organização religiosa refere-se à possibilidade de
estabelecimento e organização das igrejas e suas relações com o Estado.
A Constituição Federal em seu artigo 5º., inciso VII, assegura a
prestação religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva, nas
penitenciárias,casas de detenção,quartéis,hospitais , entre outras.A assistência
religiosa deverá ser exercida de modo que a religião do interno seja respeitada,
para tal um corpo de sacerdotes das várias religiões, bem como o conjunto dos
28
mais variados livros sagrados , sejam oferecidos aos internos de acordo com
suas preferências religiosas.
Lei número 8.081 de 21 de Setembro de 1990(Lei CAÓ)
Artigo 20º.Praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social
ou por publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceitos de
raça, cor, religião,etnia ou procedência nacional:
Parágrafo 1º.-Poderá o juiz determinar, ouvido o Ministério Público ou
pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:
I- O recolhimento imediato ou a busca e a apreensão dos
exemplares do material respectivo.
II- A cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou
televisadas.
Parágrafo 2º.-Constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado
da decisão, a destruição do material apreendido.
Artigo 2º.São renumerados os artigos 20 e 21 da Lei número 7.716, de
5 de janeiro de 1989, para artigos 21 e 22, respectivamente.
A Lei 7.716, de 05/01/1989, alterada pela Lei número 8.081 de 21
de setembro de 1990, criminaliza condutas que manifestam preconceito
de raça,cor etnia,religião ou procedência nacional,praticados pelos
meios de comunicação ou por publicação de qualquer matureza.
Lei número 12.288 de 20/07/2010-Institui o Estatuto da Igualdade
Racial, altera as Leis de 05/01/89,9.029 de 13/04/1995,7.347 de 24/07/85 e
10.778 de 24/11/2003.
[...]
Capítulo III
Do direito a liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício de
cultos religiosos.
Artigo 23-É inviolável a liberdade de consciência e de crença,sendo
assegurado o livre exercício de cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e suas liturgias.
29
Artigo 24- O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre
exercício dos cultos religiosos de matriz africana compreende:
I- A prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à
religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de
lugares reservados para estes fins.
II- A celebração de festividades e cerimônias de acordo com os
preceitos das respectivas religiões
III- a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições
beneficientes ligadas às respectivas religiões.
IV- A produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e
materiais religiosos adequados aos costumes e as práticas fundadas
na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por
legislação específica.
V- A produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício
e a difusão das religiões de matriz africana.
VI- A coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas
de natureza privada para a ,manutenção das atividades religiosas e
sociais das respectivas religiões.
VII- O acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para a divulgação
das respectivas religiões.
Artigo 25- É assegurada a assistência religiosa aos praticantes de
religiões de matriz africanas internados em hospitais ou em outras
instituições de internação coletiva, inclusive àqueles submetidos a pena
privativa de liberdade.
Artigo 26- O poder público adotará as medidas necessárias para o
combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e à
discriminação de seus seguidores, especialmente com objetivo de:
I- coibir a utilização dos meios de comunicação social para a
difusão de proposições, imagens ou abordagens que
exponham pessoa ou grupo ao ódio e ao desprezo por
motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas.
30
II- Inventar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros
bens de valor artístico e cultural, os monumentos,
mananciais,flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões
de matrizes africanas.
III- Assegurar a participação proporcional de representantes das
religiões de matrizes africanas, ao lado da representação das
demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras
instãncias de deliberação vinculadas ao poder público.
Ésta lei vem tentando eliminar e coibir atos de intolerância contra
religiões de matrizes africanas, diante do aumento das denúncias
apuradas pelo disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência em 2011 e 2012,segundo dados da própria secretaria.
3.2 Ações referendadas pelo Estado para coibir as práticas que levem
adeptos de religiões que provocam e discriminam principalmente as
religiões afro-brasileiras dentre outras e a neutralidade do Estado em
administrar estas ações.
“Educar também é a arte de moldar o caráter ou fazer a correção das
más tendências.Baseada nisso, tem-se a educação através do exemplo.Para
quem lidera um grupo, não existe melhor expressão de
educação.(Oliveira,2003)
Rafael Soares de Oliveira prega em seu “Candomblé:diálogos fraternos
contra a intolerância religiosa,” que o Candomblé é o princípio da hierarquia e
disciplina, porque preza pelo respeito aos mais velhos imputando-lhes o devido
respeito e valor na sociedade e na família, ocorre uma total “inversão de
valores” na nossa sociedade com a exagerada valorização ao jovem.
“Atualmente, na tentativa de compensar aquilo que se
pensava que era um sofrimento, deu-se aos filhos a
situação privilegiada de ser donos dos pais.O candom-
blé, com o que ele chama de hierarquia, de educação,
31
de princípio, da convicção de que a sabedoria está no
mais velho e de que, consequentemente, a ele se deve
dedicar todo o respeito, vem na contramão da moda de
“Culto aos jovens”, que aí está a proclamar que “o jovem
é que tem vez, e o velho não está com nada.”
(Oliveira, 2003, p.47)
Seguindo esta lógica, ele pontua que o candomblé trata diretamente com
a educação, pois zela pelo lado espiritual, ensina o cuidado com o corpo, e o
respeito aos mais velhos.A educação no candomblé tem o sentido de
alargamento dos horizontes das informações transmitidas aos filhos, aos
irmãos para trabalhar a conquista de direitos na sociedade. Bem recentemente,
após várias denúncias de intolerância religiosa, o governo federal, baseando-se
no Estatuto da Igualdade Racial, criou a Seppir(Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial), que tem recebido denúncias contra
quilombolas,indígenas e os que professam religiões de matriz
africana.Segundo o ouvidor, estas denúncias tem um fenômeno
“umbilicalmente” racista ligado ao preconceito racial.
Os cultos afro-brasileiros foram perseguidos e criminalizados durante
longo período da história brasileira.Inicialmente pelo catolicismo, que chegou a
criar em 1952 um Secretariado Especial da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil, com o objetivo de enfrentar o crescimento do número de fiéis da
Umbanda e demais “cultos mediúnicos”.Tal subdivisão foi denominada
“Secretariado Nacional de Defesa da Fé”, igrejas neopentencostais também
tem movido “ataques” sistemáticos de intolerância em cultos e programas
religiosos, alguns com agressões físicas contra praticantes dos cultos afro-
brasileiros”.Em abril de 2010, um caso similar de intolerância ocorreu no Rio de
Janeiro, José Ricardo Mitidieri, sargento do Exército brasileiro, que também é
pastor evangélico da Comunidade Cristã do Ministério da Salvação, apontou
uma arma de fogo de 9mm, na cabeça de um de seus soldados, Dhiego
Cardoso Fernandes dos Santos, adepto do candomblé.O objetivo de tal ato
seria “testar” a fé de Dhiego, que dizia ter o “corpo fechado”.O sargento, depois
32
do ocorrido, disse que “não teve o objetivo de constranger o soldado” e que
nunca teve qualquer preconceito com as demais religiões”.Mitidieri foi
condenado pelo Superior Tribunal Militar em decisão unânime ocorrida em 03
de novembro de 2011, a dois anos de prisão.(fonte wikipédia, enciclopédia
livre, intolerância religiosa aos cultos afro-brasileiros,janeiro 2013)
No ínicio de 2012, evangélicos protestaram contra a construção de uma
estátua de Yemanjá na Praia do Itararé, em São Vicente, no litoral de São
Paulo.
Izaías Lopes, representante da Associação de Pastores de São Vicente
no local, disse que o protesto respeita a liberdade religiosa dizendo” O culto
deve ser exercido em locais apropriados.A praia não é o local.Além de haver
um impacto ambiental devido às oferendas que serão deixadas na praia.”O
presidente do Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial, Valter
Guerreiro, porém, discorda e afirma que a ação é uma manifestação de
intolerância religiosa.(fonte:wilkipédia, enciclopédia livre, intolerância religiosa
aos cultos afro-brasileiros, janeiro de 2013).
A criação do Estatuto da Igualdade Racial, em 2010, pelo governo
federal, vem tentando “acalmar” os ânimos de todos, bem como minimizar atos
de intolerância, que tem sido cada vez mais constantes pelo país, se fossemos
enumerar todas estas denúncias chegaríamos a um total de 109 só em 2012,
em 2011 foram 15.
O Governo tem orientado a população a denunciar casos de intolerância
através do disque-denúncia ou disque 100, como denunciar:
A vítima ao denunciar um crime de intolerância, deve exigir a elaboração
de um Boletim de Ocorrência, seja feito Exame de Corpo de Delito, em caso de
agressão física. A denúncia é busca por justiça.Em casos de intolerância e
perseguição religiosa, são mais do que o direito do cidadão é também um
dever. Todos os tipos de Delegacia têm o dever de averiguar casos desse tipo.
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Em São Paulo, há uma Delegacia focada em Crimes de Ódio.Seu endereço e
telefone de contato são:DECRADI(Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de
Intolerância)Rua Brigadeiro Tobias,527-3º.andar Luz-SP-Tel(11)3311-
3556/3315-0151lramal 248.
O Governo Federal , cria o Comitê de Combate à Intolerância
Religiosa.A ministra Maria do Rosário, assinou portaria que prevê a criação do
Comitê, órgão, de caráter ecumênico, que tem como função receber denúncias
de intolerância religiosa e encaminhar soluções, além de promover políticas
públicas dé respeito a diversidade religiosa no país.
A solenidade de lançamento ocorreu no templo da Legião da Boa
Vontade, em Brasília e fez parte das atividades do Dia Nacional de Combate a
Intolerância Religiosa, comemorado oficialmente a partir de 21 de janeiro de
2013.O evento contou com a participação do ministro Gilberto Carvalho,
responsável pela Secretaria-Geral da Presidência da República e de
representates de católicos,evangélicos,espíritas, judeus, islâmicos,religiões de
matriz africana,wicca, entre outros.
A ministra afirmou o compromisso do Governo Federal em favorecer
políticas públicas que beneficiem a pluralidade religiosa no país e que se
consolide o respeito as pessoas e a fé que professam, bem como aqueles que
não tem religião e que também merecem respeito.
A constituição do comitê será da seguinte forma:15 membros, dos quais
cinco do governo e dez da sociedade civil, representada por líderes
religiosos.Será lançado edital para selecionar os membros da sociedade civil.O
governo tem a pretensão de estimular a criação de comitês estaduais mais
próximos das comunidades.Sabe-se que o Rio Grande do Sul, através do
governador Tarso Genro(PT)lançou em 28 de janeiro de 2013 o primeiro comitê
estadual.
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A ministra também afirmou que o governo reconhece que todas as
religiões no Brasil professam uma cultura de paz e tolerância.
Durante o evento, a assessora da Política de Diversidade Religiosa da
Secretaria, Marga Janete Stoher, advertiu os presentes para o crescimento das
denúncias de intolerância religiosa no Disque 100.Em 2011,foram registradas
15 ligações relatando atos de intolerância religiosa; em 2012, o número saltou
para 109, um aumento de mais de 600%(fonte, G1, Brasília, 22/01/2013).
Sobre o caráter das denúncias, Maria do Rosário citou as comunidades
mais vitimadas:violação dos direitos das religiões de matriz africana e
comunidades ciganas.
Os estados de onde partiram mais denúncias foram:São Paulo(19),Rio
de Janeiro(18) e Bahia(9)(grifo nosso).
Outra liderança que participou das discussões para a criação do comitê
foi a pastora da Assembléia de Deus, Waldicéia da Silva, presidente da Aliança
de Negras e Negros Evangélicos do Brasil, “diz que, no meio evangélico, tem
liderado em fóruns para discutir a questão “teológicamente”, alertando que a
intolerância religiosa é pecado.”
“Aquele que faz acepção de pessoas comete pecado, sendo arguido
pela Lei de Deus como transgressora”,citando passagem do livro de Tiago(2;9),
da Bíblia.”Nós temos como mestre Jesus Cristo, que não discriminou
ninguém”(G1,Brasília,22/01/2013).
Em São Paulo também foi realizado “Ato contra a intolerância religiosa
realizado no centro da capital paulista e cobrou respeito a afrodescendentes e
muçulmanos”(G1,SP,22/01/2013).
Um ato ecumênico foi realizado em 21 de janeiro de 2013, no
Anhangabaú, centro de São Paulo, onde o Prefeito Fernando Haddad e a
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Ministra da Secretaria de Políticas de Promoções da Igualdade Racial, Luiz
Barros e representantes de várias religiões, estiveram presentes.Haddad
comentou sobre a relação da igualdade religiosa e a criação da Secretaria de
Promoção da Igualdade Racial na cidade, comandada pelo vereador Netinho
de Paula(PC do B).
21 de janeiro decorre da Lei número 11.635, sancionada pelo ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2007, Dia nacional do combate a
intolerância religiosa em homenagem à Ialorixá baiana Gildásia dos Santos.
Hipertensa, Gildásia teve um infarto na data, em 2000, depois que sua imagem
foi utilizada no jornal evangélico Folha Universal acompanhada do título
“Macumbeiros Charlatães lesam o bolso e a vida dos clientes”.
O prefeito de São Paulo enfatizou que a cidade é a residência de muitos
povos e religiões e de que o sucesso desta convocação, com a presença de
várias lideranças religiosas, é uma forma de dizer que o povo paulista quer
viver em paz, e que a maioria, abraça a causa de convivência pacífica, de
resspeito e tolerância.
No Rio de Janeiro a Comissão de Combate a Intolerância
Religiosa(CCIR), com o patrocínio da Secretaria Estadual de Direitos
Humanos(SEASDH) e apoio do Centro de Articulação de Populações
Marginalizadas(CEAP) e Globo Rio,realizou, na tarde do dia 10 de janeiro, o
penúltimo seminário”Caminhos para a Liberdade Religiosa”, cujo tema
foi”Laicidade e Estado”.Desta vez,o local do encontro foi a Universidade
Unigranrio, da Lapa.No dia 21 de janeiro na Cinelândia aconteceu o “Cantando
A Gente se Entende”, promovido pelas entidades citadas acima e com a
participação de representantes das seguintes organizações
religiosas:candomblencistas,umbandistas, hare Krishnas,
protestantes,católicos, espíritas, budistas,wiccans, ciganos, seguidores do
Santo Daime, judeus, muçulmanos,ateus e agnósticos, foi realizado uma mesa
de debates com várias autoridades civis e religiosas que levantaram pautas
que fazem parte do livro”Caminhando A gente se Entende”.Ao fim artistas,
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como Arlindo Cruz e padre Omar se apresentaram no palco
principal.(G1,RJ,12/01/2013).
O delegado Henrique Pessoa em 10/01/2013, falou que as denúncias de
ofensas à religião tem crescido no Estado do Rio de Janeiro.”Nos anos
anteriores, tínhamos uma limitação do sistema, que não estava atualizado.Não
tínhamos como fazer o registro como intolerância religiosa, de acordo com a
Lei Caó.O sistema foi corrigido em novembro de 2008, mas ainda, sim a
maioria dos juízes, promotores e delegados trabalham com a ideia da injúria
qualificada por não ter o devido conhecimento.Eu acredito que temos uma boa
Constituição.A Lei Caó é muito eficiente, ou seja, o poder público é que precisa
fazer bom uso dos instrumentos que aí estão”.O delegado também afirmou que
a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro está inserida no processo de
conscientização, e alertou para o uso das religiões no Congresso
Nacional.”Existe um grupo que não prima pelo estado laico, mas, sim por um
estado teocrático”.(G1,RJ,12/01/2013).
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CONCLUSÃO
Conviver é possível?
Esta pergunta pode ser respondida afirmativamente mediante o diálogo
ininterrupto entre os vários líderes religiosos, mediados pelo Estado, mas ainda
há muito a se fazer, principalmente no que tange a coibir e punir as pessoas
que praticam atos de intolerância sejam quais forem, religiosos, étnicos,
sexuais etc.
A discriminação religiosa é fundada na perseguição as religiões afro-
brasileiras e outras religiões, caucadas no fundamentalismo que no Brasil, em
especial tem sido o fundamentalismo de algumas religiões “cristãs”.
Outra questão que se diz respeito é a questão da laicidade do país que
apesar de manter um discurso laico, permite na prática a interferência da
religião em muitos assuntos do Estado, como símbolos religiosos em
repartições públicas,feriados religiosos, ensino religioso nas escolas públicas,
onde a maioria dos professores pertencem a religiões cristãs, ceder os espaços
públicos para eventos religiosos e etc.
Na política muitos líderes religiosos são eleitos e quando deveriam
defender o interesse do povo, defendem apenas os interesses religiosos de
suas doutrinas, enriquecendo cada vez mais, transformando esses tempos
religiosos em mais do que igrejas, mas verdadeiros “currais” eleitorais e seus
integrantes em votos certeiros para que sejam eleitos.
É possível a convivência e a tolerância, mas o Estado precisa ser rígido
e utilizar as leis de forma igualitária a todos e deixar de caminhar na “contra-
mão” quando se tratar de assuntos em que a religião interfere no aparelho
estatal, pelo simples fato de que os cidadãos representam “votos” nas eleições.
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Não há dúvida de que muitos acontecimentos que envolvem intolerância
religiosa, também envolvem preconceito racial, principalmente quando se trata
de religiões como o candomblé e a umbanda, ou até mesmo religiões orientais
como o budismo, o islamismo etc
. Para se combater a intolerância religiosa é necessário uma”
reeducação” em que as pessoas aprendam a valorizar a cultura de todos os
povos e a respeitar as escolhas de cada cidadão, procurando em cada religião
os valores morais e éticos que moldem o cidadão solidário e que respeite as
escolhas dos outros, em todos os níveis da existência humana, pois quando
alguém tenta impingir sua fé ou ideologia, ao outro que considera” desviado “da
verdade, está impondo suas convicções, sem respeitar suas escolhas, então é
preciso aprender que somos seres livres, porque nascemos livres e esta
liberdade deve ser respeitada e protegida pelo Estado, como prioridade
máxima.
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