DRENAGEM URBANA NA ZONA LESTE DE TERESINA – PI:
UM ESTUDO DE CASO EM UM EIXO VIÁRIO INTERTERMINAL DO INTHEGRA
- SISTEMA INTEGRADO DE TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO POR ÔNIBUS
Jéssica da Silva Machado1
RESUMO A ocorrência de alagamentos nas vias urbanas gera dificuldade na mobilidade urbana, sendo um
problema cada vez mais frequente no ambiente urbano. Para entender esse fenômeno, esse estudo de
caso procurou responder a seguinte pergunta: a que se relaciona a ocorrência de constantes alagamentos
no sistema viário em que atua o Inthegra - Sistema Integrado de Transporte Público Coletivo por Ônibus
- no município de Teresina (PI) em momentos de intensa precipitação pluvial? Com o propósito de trazer
respostas a esse problema, procurou-se identificar e mapear os pontos críticos de alagamentos de duas
vias escolhidas como objeto de estudo – Avenida Presidente Kennedy e Avenida João XXIII –
localizadas na região leste da cidade de Teresina-PI, que em períodos chuvosos sempre causam
transtornos à população. Dessa maneira, esta pesquisa se justifica em razão da necessidade de se
aprimorar os conhecimentos sobre sistemas de drenagem pluvial urbana, dando ênfase na drenagem do
sistema viário, pois, quando mal projetados, esses sistemas permitem a formação de alagamentos no
ambiente urbano. Quanto aos aspectos metodológicos esta pesquisa classifica-se como bibliográfica,
qualitativa, descritiva, na qual trouxe várias considerações sobre Urbanização, Uso e Ocupação do Solo,
Drenagem Urbana. Utilizou-se como subsídio teórico: Tucci (2016); Rufino e Barros Filho (2017);
Souza, Moraes e Borja (2013); Tominaga (2013); Silveira, Carvalho e Pessoa (2016). Como resultados,
pode-se constar que o sistema de drenagem existente das vias realmente é ineficiente e que o uso e
ocupação do solo na área em estudo ocorreu de forma irregular.
Palavras-chave: Alagamentos. Drenagem Viária. Sistema Inthegra. Sistemas de Drenagem.
ABSTRACT The occurrence of flooding on urban roads causes difficulty in urban mobility, being an increasingly
frequent problem in the urban environment. To understand these phenomenon, this case study sought to
answer the following question: what is related to the occurrence of constant flooding in the road system
where the Inthegra - Integrated Public Bus Transportation System - operates in the municipality of
Teresina (PI) at times of intense rainfall? In order to provide answers to this problem, you can identify
and map the critical points of two-way floods selected as the object of study - Avenue President Kennedy
and Avenue João XXIII - located in the eastern region of the city of Teresina-PI, rainy weather always
cause inconvenience to the population. Thus, this research justifies the need to improve rainfall urban
drainage systems, emphasizing the drainage of the road system, because, when poorly designed, allowed
the formation of flooding in the urban environment. Regarding the methodological aspects this research
is classified as bibliographic, qualitative, descriptive, which brought several considerations on
Urbanization, Land Use and Occupation, Urban Drainage. It was used as theoretical support: Tucci
(2016); Rufino and Barros Filho (2017); Souza, Moraes and Borja (2013); Tominaga (2013); Silveira,
Carvalho and Pessoa (2016). As a result, it can be seen that the existing drainage system of the roads is
really inefficient and that land use and occupation in the study area occurred irregularly.
Keywords: Floods. Road drainage. Inthegra system. Drainage systems.
1 Engenheira Civil pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU em Teresina-PI, email:
2
INTRODUÇÃO
A ineficiência dos sistemas de drenagem no ambiente urbano é um problema cada vez
mais frequente nas cidades que tiveram seu crescimento sem o devido planejamento urbano.
Para tanto, considera-se drenagem e manejo de águas pluviais, de acordo com o art. 3º da Lei
Federal nº 11.445/2007, “o conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais
de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e
disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.” (BRASIL, 2007).
Uma forma comum de perceber problemas de drenagem urbana é quando o escoamento
superficial gerado pelas precipitações pluviométricas (águas pluviais) atinge o sistema viário
das cidades, ocasionando o alagamento das vias, o que gera transtornos à população e
preocupação para os gestores, pois afeta os principais meios de transportes nas regiões atingidas
por esses alagamentos. Por conseguinte, em muitas cidades, a ocorrência de alagamentos nas
vias urbanas gera dificuldade na mobilidade urbana, pois afeta um dos principais tipos de
transporte coletivo público: os ônibus.
Nessas circunstâncias, algumas regiões do município de Teresina, em períodos mais
chuvosos, vêm sofrendo com constantes alagamentos em decorrência do aumento do volume
de precipitação nas vias urbanas e sua dificuldade de escoamento. Quando esses alagamentos
ocorrem em vias de fluxo intenso de veículo ocasionam diversos transtornos à população, como
acidentes, congestionamentos no trânsito, doenças infecciosas de veiculação hídrica, inclusive,
perdas materiais e humanas. Assim, constitui-se como problema deste estudo a seguinte
pergunta: a que se relaciona a ocorrência de constantes e recorrentes alagamentos no sistema
viário em que atua o Inthegra - Sistema Integrado de Transporte Público Coletivo por Ônibus -
no município de Teresina (PI) em momentos de intensa precipitação pluvial?
Com base no exposto, supõe-se que esses alagamentos ocorrem em virtude de alguns
fatores, como: o sistema de drenagem existente nas vias é ineficiente pelo fato de, atualmente,
estar subdimensionado e operando em situações preocupantes, ainda que para chuvas de
pequena intensidade e curto tempo de duração; o uso e ocupação do solo na área em estudo
ocorreram de forma irregular ocasionando um aumento da superfície impermeável do solo, o
que provoca o aumento no volume e na velocidade do escoamento superficial das águas
pluviais; Sendo assim, a análise do sistema de drenagem pluvial urbana é relevante, tendo em
vista sua importância técnica, social e econômica.
O presente artigo tem como objetivo geral: mapear os pontos críticos de alagamentos
no sistema viário em que funciona o Inthegra – Sistema Integrado de Transporte Público
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Coletivo por Ônibus, entre as vias Avenida Presidente Kennedy e Avenida João XXIII,
localizadas na região leste do município de Teresina – PI. Os objetivos específicos desse estudo
são: verificar como ocorreu o processo de uso e ocupação do solo na região; descrever as
estruturas do sistema de drenagem existente; e, avaliar a eficiência do sistema de drenagem de
uma forma geral.
Quanto aos aspectos metodológicos, do ponto de vista dos procedimentos técnicos, a
pesquisa apresenta características de pesquisa bibliográfica, apresentando várias considerações
sobre Urbanização, Uso e Ocupação do Solo, Drenagem Urbana. Pela forma como foi abordado
o problema do presente estudo, trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual realizou-se uma
análise superficial das estruturas através do estudo da legislação municipal e de arquivos
institucionais dos órgãos responsáveis pelos sistemas de drenagem existente na região, devido
à ausência de um arquivo sistematizado e georreferenciado de informações sobre o sistema de
drenagem urbana por parte do município de Teresina-PI. Com relação aos objetivos da
pesquisa, esta assume o perfil de pesquisa descritiva, através do mapeamento dos pontos críticos
de alagamentos e da descrição dos sistemas de drenagem existentes em partes do sistema viário
da cidade de Teresina– PI.
Para dialogar com esse fenômeno, foram constituídos como subsídio teórico: Tucci
(2016), que trata sobre o impacto da urbanização na drenagem urbana, além do que, em outras
obras, classifica os sistemas de drenagem existentes; Santos, Rufino e Barros Filho (2017), que
discorre sobre alguns impactos ambientais negativos gerados pela ocupação irregular do solo
urbano; Souza, Moraes e Borja (2013) que ressalta a importância dos sistemas de drenagem
serem integrados entre si, e de serem tratados como um dos componentes do espaço urbano;
Tominaga (2013) que aborda uma visão sustentável dos sistemas de drenagem ao retratar a
importância de técnicas compensatórias na drenagem urbana; Silveira, Carvalho e Pessoa
(2016), que analisaram como ocorreu a ocupação da região em estudo, segundo as leis de uso
e ocupação do solo do município de Teresina; entre outros autores.
Esta pesquisa se justifica em razão da necessidade de aprimorar os conhecimentos sobre
sistemas de drenagem pluvial urbana, dando ênfase na drenagem do sistema viário, que por
motivos já expostos, se forem mal projetados permitem a formação de alagamentos no ambiente
urbano. Assim, espera-se que esta pesquisa contribua tanto no âmbito social quanto científico
para o avanço na concepção de projetos de drenagem eficientes.
Deste modo, este trabalho é constituído por meio de quatro seções organizadas de
maneira a compor a apresentação do material pesquisado e dos levantamentos técnicos feitos
nos sistemas de drenagem na região estudada. Inicialmente, discorre-se sobre a influência da
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urbanização e do uso e ocupação do solo na ocorrência de alagamentos no ambiente urbano. Na
sequência, desenvolve-se uma abordagem sobre drenagem urbana, com enfoque em seus
principais sistemas. Em seguida, disserta-se, de forma resumida, sobre as características sócio-
geográficas do município de Teresina-PI, dando ênfase ao sistema Inthegra de transporte
coletivo, com a finalidade de descrever os sistemas de drenagem existentes e mapear os pontos
críticos de alagamento nas vias escolhidas para esse estudo. Para tanto, as informações
necessárias foram organizadas por meio de tabelas, quadros e figuras. Por fim, apresentam-se
as considerações com os resultados da pesquisa.
1 URBANIZAÇÃO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
O crescimento acelerado e desordenado das cidades brasileiras a partir da segunda
metade do século XX ocasionou diversos problemas para a população, como os alagamentos
nas regiões urbanas, decorrentes de seu processo de urbanização. A ocorrência de alagamentos
no ambiente urbano geralmente acontece porque as águas pluviais recaem sobre áreas muito
impermeáveis, o que aumenta em volume e velocidade o escoamento superficial, reduzindo a
infiltração e a evapotranspiração (TUCCI, 2016).
Em estudos sobre a correlação da urbanização no lote, área impermeável e aumento do
volume de escoamento superficial, Tucci (2000) comprovou que o escoamento superficial é
diretamente proporcional à área impermeável do lote. Nesse contexto, fica claro que a
impermeabilização excessiva do solo e sua ocupação desordenada é fator causador de alterações
no volume do escoamento superficial das águas pluviais. De acordo com Pinto e Pinheiro
(2006), o principal motivo de enchentes e alagamentos é a ocupação desordenada do solo, não
apenas dentro do território municipal, como também a montante em toda área de contribuição
da bacia.
Conforme explicado acima, a urbanização causa impactos sobre o escoamento de águas
pluviais. Sendo assim, torna-se necessária a regulamentação da drenagem urbana nas cidades
em que apresentam problemas de drenagem pluvial, através de leis, como o Plano Diretor de
Drenagem Urbana dos municípios e Leis de Uso e Ocupação do Solo, por exemplo, com o
objetivo de controlar esses impactos. Essas regulamentações devem atuar, principalmente,
sobre novas construções e loteamentos, sendo realizada com indicadores mensuráveis e padrões
estabelecidos para a cidade definidos em instrumento legal (TUCCI, 2016).
Para Santos, Rufino e Barros Filho (2017, p.944) os impactos ambientais negativos
gerados pela ocupação do solo urbano sem o adequado planejamento são:
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i) a sobrecarga no sistema de drenagem urbana por meio do aumento da
impermeabilização do solo e da diminuição da infiltração;
ii) a perda da cobertura vegetal por pavimentos impermeáveis, diminuindo
a infiltração da água no solo e aumentando a sua quantidade e a sua velocidade
de escoamento;
iii) a escassez e a diminuição da qualidade dos recursos hídricos;
iv) o acúmulo de resíduos sólidos nos elementos do sistema de drenagem
(canais, bueiros, bocas de lobo, etc.), obstruindo-os e, com isso, ocasionando
seus transbordamentos em períodos de chuva;
v) o aumento da densidade urbana em determinadas zonas, principalmente
as consideradas de baixo valor especulativo imobiliário da cidade.
No contexto da cidade de Teresina-PI, fica claro que o processo de urbanização e
ocupação do solo aconteceu de forma inadequada, tendo em vista o acontecimento de cheias
catastróficas, inundações e alagamentos que essa cidade sofre, ano após ano, em períodos de
intensa precipitação pluvial.
2 DRENAGEM URBANA
Várias cidades no Brasil e no mundo passam por problemas de drenagem urbana, e
estudiosos do assunto afirmam que isso acontece pela falta de integração dos sistemas de
drenagem. As falhas ou ineficiências que os sistemas de drenagem pluvial apresentam são em
decorrência do tratamento que sempre tiveram, ou seja, apenas como um acessório do sistema
viário, cuja gestão está ligada aos órgãos municipais de obras, porém, sem a devida análise da
contribuição da bacia hidrográfica (SOUZA; MORAES; BORJA, 2013).
Apesar de ser muito importante, a integração dos sistemas de drenagem entre si, é
necessário também que eles sejam integrados com as diversas infraestruturas urbanas
existentes. De acordo com Canholi (2014), durante o processo de planejamento urbano deve ser
inserido o planejamento de drenagem, e este deve ser articulado com os demais planos,
principalmente os de saneamento básico (água, esgoto e lixo), do uso do solo e de transportes.
Para Souza, Moraes e Borja (2013, p.163) “em uma visão moderna, o sistema de drenagem
deve ser tratado como um dos componentes do espaço urbano, sendo impossível dissociá-lo da
infraestrutura das cidades”.
Até pouco tempo atrás, adotava-se uma visão higienista na drenagem de águas pluviais,
pois a maior preocupação dos projetistas era implantar obras de canalização que afastasse
rapidamente os deflúvios para jusante. No entanto, segundo Pinto e Pinheiro (2006, p.9) “um
sistema de drenagem eficiente é o que drena os escoamentos sem produzir impactos nem no
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local nem a jusante”. A partir desse entendimento, surgiu então uma abordagem mais
conservacionista que procura reter os escoamentos mais próximos de suas origens e garantir
uma visão sustentável dos sistemas de drenagem, conforme explica Tominaga (2013, p.24):
As técnicas clássicas de drenagem apresentam a função única de controlar as
cheias e afastar as águas rapidamente, as estruturas proporcionam,
invariavelmente, baixo valor social e ecológico. Já a visão sustentável dos
sistemas de drenagem conta com estruturas que combinam usos múltiplos
como: lazer, manutenção da diversidade biológica, sem perder a função do
controle de cheias e contribuem ainda para a melhoria da qualidade da água.
No século XXI, os alagamentos são um dos grandes problemas de drenagem urbana que
exigem soluções mais modernas e sustentáveis de prevenção, tendo em vista os inúmeros danos
que causam no ambiente urbano. O termo alagamento pode ser entendido como “o acúmulo
momentâneo de águas em uma dada área por problemas no sistema de drenagem, podendo ter
ou não relação com processos de natureza fluvial” (MIN. DAS CIDADES/IPT, 2007, p.93).
A maior parte das ocorrências de alagamentos é ocasionado pelas chuvas e acontece,
principalmente, pela incapacidade da bacia hidrográfica receber o volume de água precipitado
devido à impermeabilização sofrida pela urbanização.
De acordo com Freitas (2014), num estudo comparativo entre eventos (hidrológicos,
climatológicos, meteorológicos, geofísicos ou geológicos) causadores de desastres naturais,
contatou-se que os eventos hidrológicos (alagamentos, enchentes, inundações graduais e
bruscas) representam 32,7% dos eventos que ocorrem no Brasil, além do que apresentam a
maior média de morbidade e exposição para a população. No contexto da cidade de Teresina-
PI, a ocorrência de inúmeros alagamentos afeta negativamente grande parte da população e tem
sido motivo de preocupação, pois gera prejuízos econômicos e sociais para os habitantes da
região. Desse modo, deve-se repensar a forma como os sistemas de drenagem dessa região são
concebidos.
Um sistema de drenagem é a infraestrutura que existe em uma cidade responsável pela
coleta, transporte e destinação final das águas superficiais, o qual faz parte ainda a hidrografia
e os talvegues. Pode ser entendido também como um conjunto de medidas que tem por objetivo
reduzir impactos e riscos causados a população pela ocorrência de alagamentos, inundações ou
enchentes, de forma que desenvolvimento urbano aconteça de forma harmônica, articulada e
ambientalmente sustentável, de acordo com Pinto e Pinheiro (2006). Com esse entendimento,
7
os sistemas de drenagem podem ser divididos em: macrodrenagem, microdrenagem e drenagem
na fonte (TUCCI, 2003).
2.1 SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA
2.1.1 Macrodrenagem
A macrodrenagem abrange os sistemas coletores de diferentes sistemas de
microdrenagem, devendo compreender áreas de pelo menos 2 km² ou 200ha e suportar
precipitações superiores as da microdrenagem (TUCCI, 2003). Esse sistema é constituído por
obras de intervenções em fundo de vale, canais abertos e fechados (naturais ou construídos) de
dimensões maiores que os condutos da microdrenagem, reservatórios de detenção e contenção
para amortecimento de cheias, além de galerias de grandes dimensões (TOMINAGA, 2013).
Essas medidas estruturais de controle pós-impacto nos sistemas de macrodrenagem das
cidades exigem do poder público grande dispêndio financeiro. Quando há necessidade dessas
intervenções, elas devem planejadas em conjunto com a infraestrutura de saneamento básico,
como o esgotamento sanitário e resíduos sólidos, através da gestão integradas das águas
urbanas. Além disso, existem medidas não-estruturais, como o Plano de Bacias hidrográficas,
geralmente inclusas no Plano de Drenagem Urbana das cidades, que preveem a regulamentação
sobre o uso da água, o aumento de vazão e a qualidade da água, também podendo atuar na área
externa às cidades, e reduzir impactos à jusante, de acordo com Tucci (2016). Todas essas
medidas influenciam no planejamento urbano das cidades brasileiras, sendo previstas na Lei
Federal nº 11.445/2007.
2.1.2 Microdrenagem
“A microdrenagem é definida pelo sistema de condutos pluviais ou canais a nível de
loteamento ou de rede primária urbana. Este tipo de sistema de drenagem é projetado para
atender à drenagem de precipitações com risco moderado” (TUCCI, 2003, p.50). Os principais
elementos do sistema de microdrenagem estão relacionados no quadro 1.
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Quadro 1 – Principais elementos do Sistema de Microdrenagem
Terminologia Descrição
Galeria
Canalizações utilizadas para a condução das águas pluviais que adentram o sistema
por meio das bocas-de-lobo e das ligações privadas.
Poços de Visita
Dispositivos localizados em pontos estratégicos do sistema de galerias para
permitirem a inspeção e limpeza. Estes dispositivos devem ser posicionados, em
média a cada 100 m, ao longo do sistema, para facilitar a inspeção e limpeza, ou em
pontos onde ocorre mudança de direção, declividade e/ou diâmetro das galerias.
Trecho Porção da galeria situada entre dois poços de visita.
Bocas-de-lobo
Dispositivos localizados nas sarjetas, em pontos estrategicamente localizados para a
captação de águas pluviais. Podem ser do tipo: com grade de entrada, com grade
lateral, com grade e entrada lateral e de fenda longitudinal.
Condutos de Ligação Canalizações que conduzem as águas pluviais captadas nas bocas-de-lobo para as
caixas de ligação ou poços de visita a jusante.
Caixas de Ligação ou
de Passagem
Caixas de concreto ou alvenaria, sem tampão externo ou visitável ao nível da rua.
Meios-Fios
Estruturas dispostas entre o passeio e a via de rodagem, paralelas ao eixo da rua e
cuja face superior posiciona-se no mesmo nível do passeio.
Sarjetas
Canais situados junto ao meio-fio e ao longo da via, que recebem as águas do
escoamento superficial e as conduz para os locais de captação (bocas-de-lobo).
Sarjetões
Calhas localizadas nos cruzamentos de vias, que conduzem o fluxo das águas na
travessia de ruas transversais ou desviam o fluxo de um lado para outro da rua. Os
sarjetões podem ser formados pela própria pavimentação ou de concreto.
Estruturas de
Dissipação de Energia
Hidráulica
Devem ser utilizadas nas saídas das galerias em cursos d’água para evitar a erosão
causada pela concentração do escoamento pluvial
Condutos Forçados Elementos que conduzem as águas pluviais sob pressão diferente da atmosférica.
Estações de
Bombeamento
Equipamentos utilizados para conduzir as águas pluviais em locais onde o
escoamento por gravidade não é possível.
Fonte: Bidone e Tucci (1995) e FCTH (1999) apud Tominaga (2013).
2.1.3 Drenagem na fonte
Segundo Tucci (2003, p. 50), “a drenagem na fonte é definida pelo escoamento que
ocorre no lote, condomínio ou empreendimento individualizado, estacionamentos, parques e
passeios”. No entanto, Pompeo (2000, p.16) ressalta algumas dificuldades para o uso desse
sistema, como:
O emprego deste tipo de técnica é delicado já que pressupõe instalações em
todas as propriedades individuais e manutenção permanente pelo próprio
9
morador. Em decorrência disto, é necessário o comprometimento responsável
dos cidadãos. O outro aspecto a considerar é que, mesmo com este tipo de
medida, para não resultar no agravamento dos problemas, a rede de galerias,
por sua vez, deverá possuir capacidade e estar preparada para atuar
independentemente, ainda que em situações emergenciais (POMPEO, 2000,
p.16).
O ideal é que as soluções para problemas de drenagem sejam analisadas, tanto do ponto
de vista hidrológico como do meio urbano. Dessa maneira, as técnicas de controle na fonte
trazem sustentabilidade para o sistema de drenagem, sendo baseadas na retenção e infiltração
das águas das chuvas, colaboram para a diminuição do volume escoado, reduzindo a
probabilidade de inundações a jusante no sistema de drenagem. Essas técnicas, por apresentar
essas características, também são chamadas de medidas compensatórias e em outros países são
denominadas de BMP (Best Management Practices) ou LID (Low Impact Development)
(TOMINAGA, 2013).
As técnicas de controle na fonte podem ser não estruturais ou estruturais. As medidas
não estruturais têm enfoque em regulamentações voltadas, principalmente, para o
gerenciamento do uso do solo e o manejo sustentável das águas pluviais. As medidas estruturais
são obras de pequeno e médio porte que sejam pontuais ou até mesmo que possam controlar o
escoamento de grandes áreas, no caso as bacias de detenção, retenção e infiltração. São
exemplos de técnicas estruturais de controle na fonte: Trincheiras de infiltração e detenção,
Poços de infiltração, Valas vegetadas, Pavimentos porosos ou permeáveis, Telhados
armazenadores (telhado verde), Jardins de chuva (biorretenção), Microrreservatórios ou
cisternas (TOMINAGA, 2013). Algumas características dessas técnicas estão representadas no
quadro 2.
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Quadro 2 – Medidas de Controle na Fonte e suas características
Medidas de Controle
na Fonte
Características
Trincheiras de
Infiltração e
Detenção
- Estruturas lineares que podem ser implantadas na superfície ou em pequenas
profundidades, contribuindo para a infiltração e armazenamento temporário dos
deflúvios de áreas impermeáveis adjacentes;
- Locais de implantação: canteiros centrais, passeios, ao longo do sistema viário,
estacionamentos, jardins, terrenos esportivos e áreas verdes;
Poços de Infiltração
- Apresentam uma configuração pontual diferindo da estrutura linear de uma
trincheira;
- Drenam pequenas áreas, que podem variar de metros quadrados até milhares de
metros quadrados, além do que podem ter a função de recargar aquíferos;
- Ocupam pequenos espaços, o que favorece a integração com o meio ambiente urbano;
Valas Vegetadas
- São depressões escavadas no solo que contribuem para a infiltração e armazenamento
temporário dos deflúvios, além de favorecer a retenção de poluentes de áreas
impermeáveis adjacentes;
- Locais propícios para a implantação: projetos de estacionamentos, em paralelo às
ruas e estradas, conjuntos habitacionais;
- Permitem a inclusão de áreas verdes no ambiente de implantação, o que melhora o
aspecto paisagístico local;
- Se superada sua capacidade de infiltração, podem funcionar como reservatório de
detenção;
Pavimentos Porosos
ou
Permeáveis
- Controlam os deflúvios superficiais através da retenção e infiltração, além de
apresentar alta capacidade para eliminação de poluentes solúveis e particulados;
- Locais de implantação: são indicados para áreas de tráfego leve, como
estacionamentos e condomínios residenciais.
Telhados
Armazenadores
- Controlam os picos de cheia, diminuindo o volume superficial escoado, pois essas
estruturas têm capacidade de reter temporariamente os deflúvios, que logo após o
evento de precipitação são despejados de forma lenta no sistema de drenagem;
- Podem ser implantados com cobertura vegetal, também conhecidos como telhados
verdes, o que favorece o isolamento da edificação e gera melhora no aspecto estético
da paisagem urbana;
Jardins de Chuva
- São estruturas de biorretenção, pois funcionam como filtros para limpeza do
escoamento das águas pluviais através da atividade biológica das plantas e
microrganismos;
- Controlam os picos de cheia, diminuindo o volume superficial escoado, através do
armazenamento temporário desses deflúvios;
- Locais de implantação: locais adjacentes a estacionamentos, vias públicas, áreas
residenciais ou comerciais, em geral, áreas densamente urbanizadas e pequenas (áreas
de contribuição de até 2ha);
Microrreservatórios
ou Cisternas
- São reservatórios de pequena dimensão para armazenamento temporário das águas
pluviais, que contribuem no amortecimento dos picos de cheia;
- O volume de água armazenado pode ser utilizado com outra finalidade, como
irrigação de jardins e lavagens de superfícies, por exemplo.
- Locais de implantação: lote próprio;
Fonte: Elaborado pela autora (2019) com base em Tominaga (2013).
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3 METODOLOGIA
3.1 Caracterização da área em estudo
A cidade de Teresina localiza-se no Centro-Norte do Estado do Piauí e, sendo a capital
do estado, situa-se a 366 km do litoral (PMT, 2019), conforme é possível observar na figura 1.
A divisão administrativa dessa cidade é feita por 4 zonas urbanas (Centro-Norte, Leste, Sudeste
e Sul), de acordo com a figura 2. A localização geográfica de Teresina está nas seguintes
coordenadas: 5° 5' 21'' Latitude Sul da Linha do Equador e 42° 48' 42'' Longitude Oeste do
meridiano de Greenwich, sendo que a altitude média do município fica entre 100 e 150m e a
altitude média da zona urbana é 72m.
Figura 1 – Localização Geográfica de Figura 2 – Divisão Administrativa de
Teresina - PI Teresina - PI
Fonte: Lima; Lopes; Façanha (2017). Fonte: SEMPLAN (2018) apud Pessoa (2019).
Com relação à hidrografia, a cidade de Teresina é atravessada em sua área urbana pelos
rios Parnaíba e Poti, que possuem inúmeros pequenos afluentes (descaracterizados e escondidos
pela ocupação urbana). Estes rios são responsáveis por realizar a macrodrenagem natural na
área urbana dessa cidade através de três macro-bacias (rio Parnaíba, rio Poti margem direita e
rio Poti margem esquerda) e 70 sub-bacias, onde 31 dessas sub-bacias são consideradas
propensas à inundação. Na área rural foram identificadas 4 bacias hidrográficas de maior
extensão, conforme dados do Plano Diretor de Drenagem Urbana - PDDrU de Teresina-PI.
As avenidas em estudo - Avenida Presidente Kennedy e Avenida João XXIII - estão
situadas na zona leste da capital, conforme apresentado na figura 3.
12
Figura 3 – Imagem de Satélite da Localização das Avenidas em Estudo
LEGENDAS:
Av. João XXIII
(trecho compreendido entre a ponte
Juscelino Kubitschek e a praça São
Cristóvão).
Av. Presidente Kennedy
(trecho compreendido entre a praça
São Cristóvão e o Terminal de
Integração do Zoobotânico).
Fonte: Google Earth (2019), adaptado pela autora.
As sub-bacias PD07, PD12 e PD14 abrangem a região em estudo, conforme retratadas
na figura 4.
Figura 4 – Sub-bacias e talvegues na região em estudo
Fonte: Agenda2030 (2019), adaptado pela autora.
A sub-bacia PD 07 localiza-se na porção nordeste da cidade de Teresina e está inserida
em uma região de gradiente topográfico bastante íngreme, com cotas que variam dos 181 m,
junto à cabeceira, aos 54 m, na foz. É uma região com boa densidade de córregos e com relevo
PD14 PD12
PD07
13
bastante acidentado. Para uma ocupação ordenada da região, em geral, são necessários
investimentos em terraplenagem e drenagem pluvial de grande monta. A área de drenagem
dessa sub-bacia abrange 5.910,71ha com um perímetro de 37.202,50m, apresentando 10,7% de
sua área urbanizada (PDDrU, 2010).
A sub-bacia PD12 localiza-se na porção central da cidade de Teresina, totalmente
inserida no perímetro urbano municipal, em uma região de gradiente topográfico bastante suave
com cotas que variam dos 125 m, junto à cabeceira, aos 53 m, na foz. Essa sub-bacia tem uma
forma aproximadamente retangular, com uma área de drenagem de 538,13 ha e perímetro de
13.537,80 m. A sub-bacia PD 12 é atravessada por importantes avenidas da cidade e encontra-
se bastante urbanizada, com cerca de 60,7 % de sua área totalmente urbanizada (PDDrU, 2010).
A sub-bacia PD14 localiza-se na porção central da cidade de Teresina, totalmente
localizada no perímetro urbano da municipal, junto a um segmento praticamente retilíneo do
rio Poti. Está sub-bacia localiza-se em uma região de gradiente topográfico bastante suave, com
cotas que variam dos 121 m, junto à cabeceira, aos 53 m, na foz. Está sub-bacia tem uma forma
triangular alongada, com uma área de drenagem de 425,02 há e perímetro de 9.828,34 m,
apresenta 72,5% de sua área completamente urbanizada (PDDrU, 2010).
Com relação aos aspectos históricos-sociais, esse município apresenta uma história
peculiar, pois foi a primeira capital brasileira planejada e seu nome foi dado em homenagem à
imperatriz Teresa Cristina Maria de Bourbon, que intermediou junto ao imperador Dom Pedro
II para que houvesse a mudança da capital do Piauí para Teresina. Essa capital apresenta
destaque no setor de prestação de serviços, principalmente na área da saúde, pois atrai milhares
de pessoas que buscam atendimento médico avançado e na área da educação, com uma rede de
ensino avançada (PMT, 2019).
Entre os anos de 1980 e 2010 a população urbana de Teresina apresentou um
crescimento demográfico significativo de aproximadamente 428.515 habitantes (55,82%),
confirmando a evolução do processo de urbanização na capital (SEMPLAN, 2019), conforme
observa-se na figura 5.
14
Figura 5 – Evolução demográfica da cidade de Teresina-PI
Fonte: SEMPLAN (2019).
A área territorial de Teresina é equivalente a 1.391,981 Km², apresentando densidade
demográfica de 584,94 hab/km². Além disso, apenas 5.8% dos domicílios urbanos localizados
em vias públicas possuem urbanização adequada, isto é, com a presença de bueiro, calçada,
pavimentação e meio-fio (IBGE, 2010).
De acordo com a classificação de Köppen, o clima de Teresina é Aw’, caracterizando-
se por ser tropical megatérmico e de baixa amplitude térmica (SILVEIRA, 2007). Conforme
tabela 1, observa-se que os meses de janeiro, fevereiro, março e abril apresentam as maiores
precipitações pluviométricas e estima-se a temperatura média anual em torno de 27,7ºC. O
estudo da geografia correlaciona essas características de temperaturas e de regime
pluviométrico à baixa latitude da cidade, além de outros fatores como massas de ar, por
exemplo.
Tabela 1 – Indicadores médios de temperaturas (máximas e mínimas) e precipitação da cidade
de Teresina – PI observados ao longo de 30 anos
Mês Mínima (°C) Máxima (°C) Precipitação (mm)
Janeiro 23° 32° 178
Fevereiro 22° 32° 268
Março 22° 32° 298
Abril 23° 32° 272
Maio 22° 32° 113
Junho 21° 32° 24
Julho 20° 33° 11
Agosto 21° 35° 8
Setembro 22° 36° 9
Outubro 23° 36° 20
Novembro 23° 35° 73
Dezembro 23° 34° 118
Fonte: Climatempo (2019).
15
De acordo com pesquisas feitas por Silveira, Carvalho e Pessoa (2016), segundo as leis
de uso e ocupação do solo do município de Teresina, a região Leste da cidade de Teresina - PI
(que abrange as vias em estudo) foi classificada como zona residencial, apesar de ter sido
considerada área inundável conforme Legislação Urbana de 1978. A legislação de 1988 propôs
a criação de zonas de preservação ambiental para estas áreas, no entanto, os parques não foram
construídos e a população continuou a ocupação da região.
A urbanização dessa região, portanto, aconteceu de forma não sustentável, com elevada
impermeabilização do solo e modificação da drenagem natural através do aterramento de áreas
e a ocupação com edifícios residenciais, comerciais e shoppings. Ressalta-se, assim, a
importância de soluções que respeitem a topografia e a drenagem natural da região, de forma
que se preserve o ambiente natural e reduza os impactos ambientais, segundo Silveira, Carvalho
e Pessoa (2016).
Portanto, devido a ocupação irregular da região em estudo, a ocorrência de alagamentos
é algo frequente logo após a incidência de chuvas, gerando dificuldade na mobilidade urbana
pelo grande volume de águas pluviais que atinge o sistema viário da cidade e prejudica a
circulação do principal meio transporte coletivo da cidade, os ônibus.
3.2 Descrição do Sistema Inthegra
O Inthegra é o sistema de integração de transporte público por ônibus na cidade de
Teresina-PI cuja origem se deu no Plano Diretor de Transportes e Mobilidade Urbana de 2008
dessa cidade. Nesse sistema a construção de estações de embarque/desembarque em nível é
feita ao longo do canteiro central das vias e o deslocamento dos ônibus acontece em corredores
exclusivos, o que permite maior velocidade operacional.
Esse sistema tem como objetivo concentrar demandas distribuídas pelos
diversos bairros periféricos em um local, redistribuindo-a, em seguida, em um
número menor de linhas com maior demanda, o que permite maximizar
ganhos de escala, constituir linhas com maior frequência, utilizar veículos de
maior capacidade e implantar o uso racional de corredores viários, com a
possibilidade de utilizar veículos com maior capacidade no futuro
(TERESINA, p.17, 2008).
O sistema Inthegra é constituído por paradas de ônibus dos bairros, linhas
alimentadoras, terminais de integração, linhas interterminais, estações de
embarque/desembarque e linhas troncais. De acordo com o Plano Diretor De Ordenamento
16
Territorial de Teresina – PDOT (2019), com a construção do anel viário do Sistema Integra,
através de 08 terminais de integração (dos quais 6 já estão em amplo funcionamento e os outros
2 estão em fase de construção) pretende-se: estimular a moradia e o trabalho; incentivar a
construção; e aperfeiçoar as infraestruturas existentes.
Desse modo, através da utilização do citado sistema de transporte, esperam-se os
seguintes resultados: um maior adensamento populacional; gerar demanda para o transporte
público; aproveitar a rede já existente de equipamentos comunitários e de infraestrutura (água,
esgoto, telefonia e principalmente de transporte); além do que, reduzir os custos para a cidade
e maximizar recursos (PDOT, 2019). A figura 6 mostra a representação do anel viário e dos
terminais de integração do Sistema Integra em Teresina-PI.
Figura 6 – Anel viário e terminais de integração do Sistema Integra em Teresina-PI
Fonte: PDOT (2019).
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Apesar do sistema Inthegra ter sido implantado há pouco tempo na cidade de Teresina, em
períodos chuvosos já apresenta pontos de alagamentos em alguns trechos interterminais do
sistema viário, conforme se pode observar na figura 7.
17
Figura 7 - Alagamento em terminal de integração do Sistema Inthegra na Avenida Presidente
Kennedy
Fonte: Rodrigues (2018).
Na Avenida João XXIII os pontos mais críticos de alagamentos situam-se no trecho
entre a saída da Ponte Juscelino Kubitschek até o cruzamento com a Avenida Nossa Senhora
de Fátima, o que dá aproximadamente 300m, mas que causam grandes transtornos à população.
Na Avenida Presidente Kennedy esses pontos críticos localizam-se desde a Praça São Cristóvão
e continuam até após o cruzamento com a Avenida Senador Área Leão, abrangendo um trecho
de cerca de 700 m. Na figura 8 está uma representação de tais trechos.
Figura 8 – Pontos críticos de alagamento na região em estudo
LEGENDAS:
Trechos que apresentam
pontos de alagamento nas
vias em estudo.
Outras vias na região em
estudo que apresentam
pontos de alagamento.
Fonte: Agenda2030 (2019), adaptado pela autora.
18
O sistema viário em estudo tem 6,7 km extensão e, conforme apresentado acima, cerca
de 1km desse trecho apresenta pontos de alagamentos. Isso equivale a dizer que
aproximadamente 15% da extensão das vias em estudo ficam comprometidas em momentos de
chuva por problemas de drenagem urbana.
4.1 Análise dos sistemas de drenagem em Teresina (PI)
Durante a elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana – PDDrU (2010) do
município de Teresina foi realizado o levantamento da extensão em metros dos sistemas de
drenagem disponível de aproximadamente 46.324,58 m ou 46,32 km para um sistema que
abrange 2.599,97 Km de logradouros. Através de tal instrumento legal, constatou-se que as
redes e galerias do sistema de drenagem do município foram construídas à medida que surgia
necessidade, sem padronização e planejamento prévio, além do que, o município não possuía
um arquivo sistematizado e georreferenciado de informações sobre o seu sistema de drenagem
urbana, com a localização das redes coletoras e número de bueiros.
Somente no ano de 2018, como uma das diretrizes do PDDrU (2010), é que a prefeitura
da cidade começou a fazer um levantamento das redes de drenagem existente e representa-las
em pranchas arquitetônicas. Através do estudo feito para elaborar o PDDrU, também se
concluiu que houve ocupação irregular de muitas áreas de condições naturais de alagamento,
como as áreas sujeitas a enchentes ribeirinhas na beira dos rios Parnaíba e Poti, pela construção
de moradias irregulares, o que acentuou os problemas de drenagem, além de gerar danos e
perdas patrimoniais bem como custos para realocação e reparação dos locais (PDDrU, 2010).
Outro fator preocupante é a condução das águas servidas provenientes de pias e tanques
residenciais diretamente nas sarjetas através de derivações da rede domiciliar (tanto no centro
como na periferia da cidade) em grande parte da capital, pois apenas 31% dos domicílios da
área urbana possuem esgoto tratado, segundo a SEMPLAN (2019). Existem ainda canais
abertos que são submetidos a lançamentos de esgotos clandestinos, gerando insalubridade para
a população residente nesses locais devido ao mau cheiro e a possibilidade da transmissão de
doenças (PDDrU, 2010).
No que diz respeito à responsabilidade dos munícipes, a destinação incorreta de resíduos
sólidos pela população em época de chuvas reduz a capacidade de escoamento na rede de
drenagem pluvial devido ao entupimento das estruturas, além do que degrada a qualidade de
água escoada. Como a limpeza e desobstrução de galerias de águas pluviais no município só
ocorre de maneira pontual, devido à ausência de um cronograma, evidencia-se ainda mais os
19
problemas dessa natureza, segundo dados que constam no Plano Municipal de Saneamento
Básico – PMSB (2014) de Teresina-PI.
Além disso, sabe-se que a presença de conexões cruzadas entre esgoto e água pluvial
ainda é algo muito comum nas cidades brasileiras e na cidade de Teresina não é diferente.
Quando chove nessa cidade, há transbordamento dos poços de visita, o que gera o espalhamento
de contaminantes e mau cheiro, que perdura por alguns dias mesmo após o encerramento das
chuvas. Essa falta de infraestrutura adequada para suprir a demanda da rede pluvial é
ocasionada pela falta de reforma, de redimensionamento ou pela adução indesejada de águas
pluviais à rede de esgoto (PMSB, 2014).
Percebe-se, pelos problemas expostos acima, que a drenagem urbana em Teresina foi
deixada em segundo plano durante seu crescimento urbano, apesar do que é exigido pela
legislação, através da Lei Federal nº 11.445/2007 (por exemplo), que apresenta as diretrizes
para o saneamento básico a nível nacional. De acordo com art. 2º dessa lei, os serviços públicos
devem ser prestados baseando-se no princípio fundamental da “disponibilidade, em todas as
áreas urbanas, de serviços de drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização
preventiva das respectivas redes, adequados à saúde pública e à segurança da vida e do
patrimônio público e privado.” (BRASIL, 2007).
Com o intuito de solucionar esses problemas de drenagem no ambiente urbano de
Teresina, foram sancionadas algumas leis recentemente, como a Lei Municipal 4.724/2015,
conhecida como Lei de Drenagem. Essa lei é um instrumento de regulação preventiva para o
controle dos impactos de drenagem urbana de novos empreendimentos e inundações ribeirinhas
na drenagem pluvial pública, que prevê a utilização de técnicas de controle de drenagem na
fonte e a utilização de sistemas de macrodrenagem, como reservatórios de retenção e detenção,
de forma a mitigar os impactos da urbanização sobre o ciclo hidrológico.
Outro instrumento regulador que está sendo desenvolvido para solucionar os problemas
de drenagem urbana em Teresina é o Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT,
essencial na política de desenvolvimento e ordenamento territorial. O PDOT divide a cidade
em áreas (macrozonas) que apresentam semelhanças entre si, de modo que ao serem aplicadas
as normas gerais de uso e ocupação do solo reforcem as características da respectiva macrozona.
Esse plano prevê o manejo sustentável das águas pluviais urbanas de forma que as novas
construções urbanas auxiliem na absorção de água da chuva, permitindo a redução dos
alagamentos. Isso é possível graças a fixação de uma taxa mínima de permeabilidade do lote,
através de uma área preferencialmente vegetada, e uma taxa máxima de ocupação do lote, para
evitar uma impermeabilização excessiva da área. O PDOT irá estimular, ainda, os
20
empreendedores, através de reduções fiscais, de forma que eles possam melhorar as condições
de drenagem urbana do seu empreendimento através da utilização de técnicas de controle na
fonte.
Como forma de tentar solucionar os recorrentes alagamentos em partes da região em
estudo, a Prefeitura Municipal de Teresina - PI (PMT) iniciou a construção de uma obra
complexa na rede de drenagem da zona leste da cidade abrangendo a área da sub-bacia PD 12.
Desde o ano de 2012 está sendo construída uma rede de galerias de águas pluviais com extensão
de aproximadamente 7 km e investimento estimado em R$ 49,4 milhões (ver figura 9). No
entanto, somente 10% dessa obra foi concluída, pois foi necessária nova licitação para o
andamento da obra e a construtora vencedora estimou o prazo de 18 meses para conclusão da
mesma, conforme informações da PMT.
Figura 9 - Traçado do projeto básico existente para o sistema de galerias na sub-bacia
PD12
Fonte: PMT/SEMPLAN apud PDDrU (2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, discorreu-se sobre a eficiência dos sistemas de drenagem urbana de
importantes vias da cidade de Teresina – PI com enfoque nos impactos sobre o Sistema Inthegra
- sistema integrado de transporte público coletivo por ônibus dessa cidade. Dessa forma,
buscou-se saber a que se relaciona a ocorrência de constantes e recorrentes alagamentos no
sistema viário em que atua o sistema Inthegra em momentos de intensa precipitação pluvial.
21
Com o propósito de trazer respostas a esse problema, primeiramente procurou-se
identificar e mapear os pontos críticos de alagamentos de duas vias escolhidas como objeto de
estudo - Avenida Presidente Kennedy e Avenida João XXIII – localizadas na região leste da
cidade de Teresina-PI, que em períodos chuvosos sempre causam transtornos à população.
Dessa forma, foi verificado como aconteceu o processo de uso e ocupação do solo na região,
além disso foi feita uma busca sobre as estruturas do sistema de drenagem existente e uma
análise da eficiência das mesmas.
Assim, por meio dessa pesquisa, pode-se constatar que os sistemas de drenagem
existentes nas vias realmente são ineficientes e que o uso e ocupação do solo na área em estudo
ocorreu de forma irregular, gerando maior impermeabilização do solo e aumento das vazões de
escoamento na cidade, o que ocasiona os alagamentos frequentes. Com a finalidade de
solucionar os problemas de drenagem que a cidade enfrenta todos os anos, medidas foram
tomadas por parte da gestão municipal, como a criação da Lei de Drenagem, Plano Diretor de
Drenagem Urbana, Plano Diretor de Ordenamento Territorial, Plano Municipal de Saneamento
Básico e Leis de uso e ocupação do solo. No entanto, essas medidas só foram tomadas
recentemente, depois que a drenagem urbana já havia se tornado um grande problema para a
capital.
Dessa maneira, é primordial pensar a gestão das águas pluviais de forma integrada com
as diversas infraestruturas urbanas para que seja possível o desenvolvimento sustentável dessa
cidade. Além do que, é necessário um maior controle e fiscalização sobre o conjunto de bacias
hidrográficas sobre as quais a urbanização da cidade se desenvolve, pois, somente soluções de
microdrenagem e drenagem na fonte não suficientes, tendo em vista que soluções de
microdrenagem resolvem parcialmente os problemas de drenagem urbana e soluções de
drenagem na fonte dependem de regulamentação e incentivo aos proprietários dos lotes.
Ressalta-se, ainda, que este trabalho permitiu a aquisição de novos conhecimentos para
a autora, contribuindo de forma significativa para sua vida profissional, além do que, ampliou
seu interesse pela Engenharia Hidráulica. Assim, espera-se que essa pesquisa desperte, também,
o interesse de acadêmicos e profissionais da área de Engenharia Civil, no sentido de direcionar
esforços para buscar as soluções mais adequadas para os problemas de drenagem no ambiente
urbano. Para trabalhos futuros, sugere-se pesquisas na região em estudo, tais como: verificação
da adesão de novos empreendimentos às técnicas de controle na fonte e os impactos dessas
técnicas no ciclo hidrológico da cidade de Teresina - PI; dimensionamento de reservatórios de
detenção e outras estruturas de drenagem que retardem a entrada das águas pluviais no sistema
22
viário; implementação de um modelo para cidade de Teresina-PI de técnicas sustentáveis de
drenagem em passeios públicos.
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