Corrente renascentista
Enquanto quis Fortuna que tivesseCamões
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
Vocabulário1. Fortuna - sorte, destino.6. Minha escritura - meus versos. Juízo isento - coração livre dos sofrimentos amorosos.7. Engenho - inspiração.9.-10. Sujeitos a diversas vonta des - sujeitos a diversos amo res (inconstância amorosa). Defeitos - meias verdades. Segundo o amor tiverdes - se gundo a vossa experiência amorosa.
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
Tema: O DESENGANO
Contradições do amor
O soneto é uma autobiografia literária em que está presente o fatalismo e a análise fatalista da sua vida.O poeta compôs versos amorosos enquanto o Destino lhe permitiu que mantivesse esperanças de vir a ser feliz. Mas o Amor, que não queria ver divulgados os seus enganos, secou-lhe a inspiração.
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
1ª estrofe – a fortuna ou sorte permitiram a alegria e a escrita sobre a temática do Amor
2ª estrofe – o Amor temeu que algo de negativo fosse registado e retira o engenho ao “eu”
3ª e 4ª estrofes – o apelo é endereçado a todas as vítimas do amor, para que ao ler versos tão diversos, entendam que estes terão tanto mais sentido quanto tiver sido o amor vivido/sentido pelos leitores.
Desenvolvimento do Tema:
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
Enquanto o destino (Fortuna) permitiu que alimentasse a esperança de alguma felicidade, o poeta dedicou-se a escrever os efeitos da mesma, naturalmente em versos amorosos. Porém, o Amor, temendo que seus enganos fossem divulgados, secou-lhe a inspiração. Assim, aqueles a quem o Amor sujeita às suas insconstâncias, mesmo que, em tais versos, leiam casos tão diferentes (quiçá contraditórios), deverão considerá-los verdades puras, e não o contrário, sendo que as compreenderão tanto melhor, quanto mais larga for a sua experiência amorosa.
Assunto
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
1ª parte, constituída pelas quadras. Esta 1.ª parte está, igualmente, subdividida: na primeira quadra, observamos o papel coadjuvante do destino (Fortuna) e, na segunda, confrontamo-nos com o carácter oponente do Amor (nome também atribuído a Cupido, filho de Vénus). Note-se que a transição da primeira para a segunda quadra é feita através do conector (conjunção) adversativo "porém", o que, desde logo, antecipa a adversidade nela contida.
2ª parte, constituída pelos tercetos, em que o poeta, apostrofando os que se sujeitam aos caprichos do Amor, adverte para a autenticidade de seus versos, cujo entendimento será tanto melhor quanto maior a experiência (porventura dolorosa) do mesmo amor.
Estrutura interna
Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co tormento,
para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos...
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos!
1º momento:Enquanto teve esperanças de ser feliz, sentiu necessidade de escrever, de revelar os efeitos do sentimento amoroso.
2º momento:É atribuído ao Amor o poder de, através do sofrimento, lhe diminuir, ou mesmo tirar, a capacidade poética.
O poeta dirige-se a todos os leitores que estejam envolvidos pelo Amor.
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
A estrutura interna bipartida também se faz notar ao nível da progressão das formas verbais: • nas quadras, o tempo dominante é o
pretérito perfeito do indicativo, que nos dá conta das posições assumidas por cada uma das entidades ("quis" (Fortuna); "fez" (o gosto de um suave pensamento); "escureceu-me" (Amor));
• nos tercetos, a par do presente do indicativo ("obriga"; "são") e do futuro imperfeito do conjuntivo ("lerdes"; "tiverdes"), sobressaem o imperativo ("sabei") e o futuro do indicativo ("tereis"), associados à apóstrofe utilizada ("Ó vós").
Amor
Esperança / Sorte (forças adjuvantes - Fortuna)
Dor / Sofrimento(forças contrárias -Cupido)
Contentamento(leva Camões a escrever sobre
os efeitos do Amor)
Tristeza(inspiração / engenho
ausentes)
Contradições do Amor (forças contrárias exercidas por Fortuna e
Cupido)
Puras verdades
Divisão em termos temáticos
1ª Parte – efeitos positivos do amor
3ª Parte – apelo e aviso a todos os amantes
Enquanto quis Fortuna que tivesse esperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desse minha escritura a algum juízo isento, escureceu-me o engenho co tormento, Para que seus enganos não dissesse. Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdes num breve livro casos tão diversos,
verdades puras são e não defeitos; E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos.
2ª Parte – efeitos negativos do amor
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
Uso das MaiúsculasFortuna: Deusa Fortuna e/ou sorte, destino (para salientar a sua importância)Os antigos costumavam chamar Fortuna ao acaso ou à circunstância, geralmente de resultados felizes. Mas a fortuna não era apenas o acaso impessoal, acaso pelo acaso. Representava também uma entidade mítica, portadora de vontade e caprichos. Aqui, os desígnios da Fortuna são de repente substituídos por desígnios vindos de outra entidade mítica, no caso, o Amor (Eros).
Amor: Cupido; a relevância do sentimento de que está possuído.E o Amor, diz Camões, temia a revelação de seus próprios caprichos. A terceira estrofe muda o registro do poema, pois introduz um vocativo (que como figura de linguagem, é chamado também apóstrofe ) em que o poeta chama a atenção de todos os amantes para a verdade daquilo que está dizendo. Contudo, diz ele , o entendimento de seus versos não será o mesmo para todos que o lerem, mas, ao contrário, cada leitor os entenderá segundo o tipo de amor a que está sujeito. Esta conclusão encerra uma certa sabedoria de linguagem, a de que na leitura de um poema, cada amante busca seu próprio retrato.
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
Nos versos 5 e 9, o poeta refere-se ao Amor como um conceito, um valor intemporal, universal, abstrato e absoluto. Por isso valeu-se da inicial maiúscula, da chamada maiúscula alegorizante. No verso 13, amor está grafado com minúscula por referir-se à experiência humana, à relação interpessoal, concreta, à relação amorosa vivida, não idealizada.
Enquanto quis Fortuna que tivesseesperança de algum contentamento, o gosto de um suave pensamento me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desseminha escritura a algum juízo isento,escureceu-me o engenho co tormento, para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades! Quando lerdesnum breve livro casos tão diversos,
verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos!
Recursos de estilo
Anástrofe: (vv. 1, 4, 5, 8, 11, 12); Apóstrofe: “Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos” Antítese: (estabelecida entre a atitude
adjuvante da Fortuna, na primeira quadra, e a de oponente, por parte do Amor, na segunda);
Hipérbato (vv. 5/6); Metonímia (v. 5 (Amor, o Cupido, tomado pelo
próprio sentimento do amor);
Interpolada
Emparelhada
Cruzada
Enquanto quis Fortuna que tivesse Aesperança de algum contentamento, B o gosto de um suave pensamento Bme fez que seus efeitos escrevesse. A
Porém, temendo Amor que aviso desseA
minha escritura a algum juízo isento, B
escureceu-me o engenho co tormento,B
Para que seus enganos não dissesse A Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
Ca diversas vontades! Quando lerdes
Dnum breve livro casos tão diversos,
E
verdades puras são e não defeitos; CE sabei que, segundo o amor tiverdes,
Dtereis o entendimento de meus versos. E
Em / quan / to / quis / for / tu / na / que / ti / ve // (sse)Es / pe / ran / ça / de al / gum / com / tem /ta / men // (to)
Os versos são decassílabos.
Disciplina: PortuguêsProf.ª: Helena Maria CoutinhoFim