Ensino de Administração no Brasil, inovação ou não e Anísio Teixeira: em busca do
vazio1
Autores: Fernando Fantoni Bencke e Rosecler Maschio Gilioli
Resumo:
O presente trabalho propõe apresentar um “vazio” entre algumas teorias e estudos existentes,
tomando como objeto de estudo o ensino de Administração no Brasil. A escolha pelo tema
reflete a necessidade de repensarmos o processo de formação do administrador no Brasil
frente às exigências da sociedade e do mercado de trabalho. Chegamos a Anísio Teixeira,
como personagem capaz de estabelecer o vazio, pois seus projetos eram vistos como ousados,
inovadores, provocando fortes reações dos setores mais conservadores da sociedade brasileira.
A proposta contou com a aplicação de um delineamento de natureza qualitativa e uma
abordagem de caráter exploratória. A coleta de dados utilizada foi a estratégia de pesquisa
bibliográfica em que foram analisadas 06 (seis) obras de Anísio Teixeira e pesquisa
documental com base nas resoluções, legislações, pareces e diretrizes sobre o ensino de
administração no Brasil. O presente trabalho também se caracteriza como um ensaio teórico
tentando identificar a relação, o “vazio”, existente entre o ensino de administração no Brasil,
inovação e as contribuições de Anísio Teixeira.
Palavras Chaves: Ensino de Administração no Brasil, inovação e Anísio Teixeira
1 Introdução
O presente trabalho tem por objetivo estabelecer uma relação, “um vazio”, utilizando
como objeto de estudo o ensino de Administração no Brasil e as inovações propostas por
Anísio Teixeira à educação.
A seguir, apresentamos o esquema do presente trabalho:
Figura 01: proposta do vazio
Fonte: elaborado pelos autores (2013)
1 Trabalho apresentado como critério de avaliação da disciplina de Teorias Avançadas das Organizações,
ministrada pelo Prof. Dr. Eric Dorion, no programa de Doutorado em Administração UCS/PUC no semestre de
01/2003.
Assim, para estudar o ensino e Administração foram analisados pareceres, legislações
e resoluções dos órgãos competentes que regulamentavam a educação no Brasil num contexto
evolutivo que inicia em 1938. Também se fez necessário identificar as principais influências
da administração num contexto histórico, marcado especialmente pela Revolução Industrial,
Taylorismo, Fordismo, Toyotismo e a pela racionalidade capitalista de Weber. Identificamos
as correntes da educação realista e idealista que balizavam a discussão na época e chegamos
em Anísio Teixeira como um personagem capaz de estabelecer o “vazio” e trazer à tona a
inovação nos processos educacionais.
Buscamos identificar os conceitos de inovação apresentados pelos autores
(SCHUMPETER 1942, 1950 e 1985, DRUCKER 1986, HAMEL 2000, CHESBROUGH
2003 e CHRISTENSEN 2006) presentes ou não no processo de ensino de Administração no
Brasil, trazendo as contribuições de Anísio Teixeira à educação, fornecendo o suporte
necessário para uma educação adequada às exigências de formação cidadã e profissional e ao
desenvolvimento social e econômico no Brasil.
2 Influencias da Administração
A Revolução Industrial, marco de transformações econômicas, sociais e políticas,
iniciou na Inglaterra no século XVIII num período em que um conjunto de invenções e
inovações permitiu alcançar uma enorme aceleração da produção de bens e assegurar um
crescimento cada vez mais independente da agricultura. Caracterizou-se principalmente pela
transformação de uma economia agrária, cuja produção era predominantemente artesanal,
para uma economia industrial, com sistemas operacionais mecanizados, produção em larga
escala e generalização do uso da máquina para reduzir tempos e custos de produção.
O avanço tecnológico, a aplicação dos progressos científicos à produção, a descoberta
de novas formas de energia e a enorme ampliação de mercado simbolizaram o
desenvolvimento técnico-científico da época, gerando novas relações econômicas, políticas e
jurídicas. A revolução Industrial teve uma influência decisiva na base econômico-social, sem
a qual não se consolidaria a sociedade moderna enquanto capitalista. Nesse contexto, o ensino
da Administração surge dando suporte às racionalidades técnicas a fim de formar
profissionais para atuar nas grandes indústrias, atendendo as demandas criadas por elas
próprias. O conhecimento e as habilidades técnicas passam a ser estudadas e propostas na
formação e exigência de um novo perfil profissional.
O movimento da Administração Científica introduzido nos Estados Unidos por
Frederick Taylor defendia o aumento da produção e da eficiência industrial. Foi responsável
por uma verdadeira revolução do pensamento administrativo e industrial. Sua preocupação
centrava-se em eliminar o índice de desperdício e perdas “sofridas” pela indústria e elevar os
níveis de produtividade por meio da aplicação de métodos e técnicas da engenharia industrial.
Caracteriza-se pela preocupação em produzir mais e melhor, planejar o uso de tempo, dos
movimentos, dos comportamentos, melhorando cada vez mais as ferramentas e técnicas de
produção.
Henry Ford, fundador da Ford Motor, foi o grande precursor da divisão do trabalho no
inicio do século XX vigorando por quase todo o século. Introduziu o sistema de linha de
montagem na indústria automobilística promovendo a produção em massa. Na organização do
trabalho instituiu a produção de maior número de produtos acabados com maior garantia e
menos custo constituindo assim a denominada racionalização da produção. A linha de
montagem permitiu a produção em série, que por usa vez promoveu a padronização das
máquinas, instrumentos, matéria-prima, mão-de-obra, contribuiu a um custo cada vez menor
de produção, trazendo consigo uma série de benefícios ao mundo da administração.
O modelo do Toyotismo caracteriza-se pela superação racional instrumental dos
modelos taylorista/fordista de produção, baseado na tentativa de recuperação do clico
produtivo e resgate do processo de dominação, objetivando novas formas de acumulação de
capital. O toyotismo tornou-se uma ideologia universal da produção sistêmica do capital,
baseado principalmente em princípios ideológicos, organizacionais legitimados sob os
modelos de administração. O papel do administrador, presente nas discussões motivadas pelo
ensino da administração atualmente surgiu, de certo modo, pelo modelo Toyotista de
produção. Nesse modelo, o administrador é responsável por orientar e coordenar um trabalho
de equipe em pleno processo de produção, possibilitando a substituição daqueles que viessem
a desempenhar insatisfatoriamente a sua atividade, diminuindo assim o “tempo morto”, tempo
desperdiçado causado pela troca de empregados.
O modelo Toytista de produção acaba por exigir um novo perfil de profissional, um
profissional polivalente para assumir qualquer posto de trabalho, preparado para produzir
sobre demandas (encomenda), flexível, capaz de adaptar-se imediatamente para a nova
produção no decorrer do dia, inserida numa rotina de trabalho desgastante de muitas horas de
trabalho para suprir a demanda exigida.
Weber (2007) reflete sobre a origem da classe burguesa ocidental e suas
peculiaridades ligadas a origem da organização capitalista do trabalho. O desenvolvimento
das possibilidades técnicas aparece, à primeira vista, como forte influência no capitalismo
moderno, cuja racionalidade é essencialmente dependente da calculabilidade dos fatores
técnicos mais importantes. O desenvolvimento da técnica recebeu estímulos importantes dos
interesses capitalistas quanto a suas aplicações econômicas práticas. Ou seja, a utilização da
técnica do conhecimento científico foi certamente incentivada pelas condições econômicas
favoráveis ao mundo ocidental.
As instituições de educação superior são mencionadas por Weber (2007) por se
destacar no Ocidente, pela sua busca racional sistêmica e especializada da ciência, por parte
de pessoal treinado e especializado se aproximando de seu papel dominante presente em nossa
cultura atual. O que tornou o Ocidente dependente, em relação a sua existência, de suas
condições econômicas, políticas e técnicas e de uma organização de funcionários
especialmente treinados. E ainda, “As funções mais importantes da vida diária da sociedade
são desempenhadas por funcionários públicos treinados técnica, comercial e acima de tudo
legalmente” (WEBER, 2007, p. 25).
2.1 O ensino de Administração no Brasil
Buscamos nos pareceres, legislações e resoluções dos órgãos competentes que
regulamentavam a educação no Brasil, dissertar acerca do ensino de Administração no Brasil,.
Apresentamos a seguir a figura 01 que representa a trajetória do ensino de Administração no
Brasil, uma linha do tempo, iniciando em 1938 com a criação do Departamento
Administrativo do Serviço Público – DASP e finalizando com a sua como última atualização
em 2005, com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Administração, Resolução
nº 4, de 13/07/2005, que retifica a Resolução nº 1/2004.
Figura 02 – Evolução do Ensino da Administração do Brasil
Fonte: Elaborado pelos autores
Surge pela iniciativa do governo o departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), e os primeiros intercâmbios de
aperfeiçoamento com o exterior, por intermédio dos técnicos de Administração - pioneiros da Administração como profissão no Brasil.
É criada a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA/USP.
É criada a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getúlio Vargas –
EBAPE/FGV, no Rio de Janeiro.
É criada a Escola Brasileira de Administração de Empresas de São Paulo EAESP, vinculada à
FGV, com a graduação da primeira turma em 1959, surgindo o primeiro currículo especializado
em Administração, com o objetivo de formar especialistas em técnicas modernas de
Administração.
A FGV passa a ministrar cursos de Pós-Graduação nas áreas de Economia,
Administração Pública e de Empresas.
Aprovação do Parecer nº 788, de 4 de junho de 1973, quando surge a primeira
habilitação em administração hospitalar no Brasil.
Resolução nº 2, de 4/10/1993, instituindo o currículo pleno dos cursos de graduação em
Administração, preconizando que as instituições poderiam criar habilitações específicas,
mediante intensificação de estudos correspondentes às matérias fixadas pela própria
Resolução, além de outras que viessem a ser indicadas para serem trabalhadas no
currículo pleno.
Em 9 de setembro de 2003, o Ministro da Educação homologa o Parecer CES/CNE nº 134, de 7/06/03,
que dispõe sobre as Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Administração (DCN).
A Resolução nº 1, de 02/02/04, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Administração, Bacharelado, e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial da União no dia 04/03/04
É regulamentada a profissão de Administrador, com a promulgação da Lei
nº 4.769, de 9 de setembro de 1965. O acesso ao mercado profissional
passou a ser privativo dos portadores de títulos expedidos pelo sistema
universitário.
O Ministério da Educação, por meio da Resolução nº 4, de 13/07/2005, revoga a Resolução nº 2/1993 e retifica a
Resolução nº 1/2004. O fim das habilitações em Administração.
O Parecer nº 307, de 08/07/1966, do Conselho Federal de
Educação, fixa o primeiro currículo mínimo do curso de
Administração no Brasil.
O surgimento da profissão e do ensino da administração no Brasil iniciou na década de
30, aproximadamente 50 anos após os Estados Unidos e teve como seu propulsor o Instituto
de Organização Racional do Trabalho – IDORT. Fundando em junho de 1931, por iniciativa
de Armando Sales de Oliveira, contratado pela Universidade de São Paulo, que veio a ser
posteriormente, o introdutor no Brasil, dos fundamentos da Racionalização e da Organização
do trabalho.
O ensino de administração tratava de formar, com base numa racionalidade técnica e
instrumental e a partir de um determinado sistema escolar, um administrador profissional,
apto a atender o processo de industrialização, que se desenvolveu de forma gradativa desde a
década de 30 e que ficou acentuado no momento da regulamentação da profissão ocorrida na
metade dos anos sessenta, através da Lei Nº 4.769, de 09 de setembro de 1965. Após esta lei,
o acesso ao mercado profissional, conforme a Lei mencionada, “seria privativo dos portadores
de títulos expedidos pelo sistema universitário”.
No currículo mínimo de 1966 a distribuição dos diversos grupos de matérias foi
realizada da seguinte forma: em primeiro lugar, as chamadas de cultura geral, objetivando o
conhecimento sistemático dos fatos e condições institucionais em que se insere o fenômeno
administrativo; em segundo, as chamadas de instrumentais, oferecendo modelos e técnicas, de
natureza conceitual e operacional, vinculadas ao processo administrativo; e por último, as de
formação profissional.
Assim, mediante exigências do mercado ofertaram-se currículos que facilitam a
absorção, por parte dos alunos, de matérias que dizem respeito à aplicabilidade no modelo de
trabalho, caracterizado pelos padrões de produção existentes.
O sentido do currículo ora mencionado é fortemente marcado pela combinação dos
estudos políticos e das tendências behavioristas (positivistas) do ensino americano de
administração. Tendência marcada pela influência do positivismo e predomínio de visões
tecnicistas que influenciaram e influenciam a prática pedagógica e a cultura escolar brasileira.
Conforme o Parecer nº 307/66, a característica regional e suas exigências devem ser
observadas pelo curso de administração no oferecimento de suas disciplinas e matérias com
vista atender as exigências e peculiaridade do mercado emergente. A autonomia das
instituições é legitimada pela legislação. Apesar do currículo mínimo ser uma fonte balizadora
de ensino, às escolas é atribuída a autonomia em repensar e completar com novas matérias,
com características especializadas, de acordo com as necessidades regionais onde se
encontram. É importante frisar que as características regionais mencionadas devem ser
levadas em consideração na construção de uma proposta de ensino autônomo.
A inclusão de disciplinas que habilitam o estudante do curso de administração em
especialidades distintas é discutida e aprovada pelo Parecer nº 788, de 4 de junho de 1973,
quando surge a primeira habilitação em administração hospitalar no Brasil.
A administração ganha mais força e importância no desenvolvimento do país, pela
inclusão da possibilidade de habilitações em diversas áreas do conhecimento. À administração
é atribuída à responsabilidade em formar profissionais para atuar em diversas áreas do
conhecimento, ou seja, a administração é passível de diálogo e interdisciplinaridade com
outras áreas específicas do conhecimento, desde que haja uma exigência ou demanda pela
capacitação de indivíduos para suprir tais necessidades. Ou ainda, o surgimento de novas
áreas pode vir a ocorrer por uma exigência do mundo da vida surgida no meio social.
Após vinte e sete anos da aprovação do primeiro currículo mínimo (08 de julho de
1966), em 05 de agosto de 1993, o Parecer 433/93 aprova o novo currículo mínimo do curso
de graduação em Administração.
O currículo mínimo chamado como matéria-prima, deve ser trabalhado, conforme o
Parecer 433/93, convenientemente pela escola, diante da liberdade criadora em torno das
matérias, a fim de promover as mais diversas explorações, combinando livremente os seus
elementos sob a forma de disciplinas. Cumpre à escola, no exercício de sua competência,
construir com esses elementos novos pontos de enfoque, ou até mesmo novas disciplinas.
Conforme o Parecer nº 776/97, a fixação dos currículos mínimos criou, por muitas
vezes, obstáculos para o ingresso no mercado de trabalho altamente competitivo, devido o
interesse de grupos corporativos, resultando no excesso de algumas disciplinas e a
prorrogação no prazo de término do curso. Ou seja, o interesse de uma classe da não formação
de administradores temendo um ambiente de mercado ainda mais competitivo interferiu nas
propostas pedagógicas das Instituições.
O perfil do futuro graduado passou a ser analisado por especialistas a fim de prepará-
lo cada vez mais ao mercado de trabalho. Um profissional capaz de enfrentar os desafios das
rápidas transformações da sociedade, apto às exigências mercadológicas e tendências
contemporâneas com uma etapa inicial à formação continuada. Assim, as Diretrizes
Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Administração, consubstanciando-se
pela LDB (lei 9394/96), procuram garantir uma organização curricular articulada com o
projeto político-pedagógico.
Alguns aspectos foram inseridos nas discussões sobre a nova proposta no que se refere
ao Projeto Pedagógico do Curso, sendo instituído pela resolução nº4, de 13 de julho de 2005,
pelo Conselho Nacional de Educação as Diretrizes Curriculares Nacionais de Curso de
Administração, abrangendo: “perfil do egresso, as competências e habilidades, os
componentes curriculares, o estágio curricular supervisionado, as atividades complementares,
o sistema de avaliação, a monografia, o projeto de iniciação científica ou projeto de atividade,
como trabalho de conclusão de curso TCC, componente opcional da Instituição”.
Cabe a cada Instituição de Ensino Superior definir claramente o perfil do egresso do
curso de administração, mediando o seu Projeto Pedagógico, identificando o “como fazer” e o
“por que”do curso proposto, e ainda, às IES cabem promover mudanças necessárias em seus
projetos pedagógicos, adequando-os às necessidades regionais e locais, bem como o perfil do
egresso que pretende formar e preparar para o mercado e para a sociedade. Ao administrador
não caberia apenas conhecer técnicas e princípios específicos, mas como também, um sujeito
ético preocupado com o desenvolvimento regional, pois o estudo e a preocupação sobre as
regionalidades são apontados como prioritárias na implantação e gestão de um curso.
A fim de consolidar o perfil desejado, o curso de administração deve desenvolver e
formar uma série de competências e habilidades, cabendo as IES escolher a melhor estratégia
de acordo com a realidade regional em que se encontra. Conforme as DCN’s o conjunto de
competências engloba: “competências intelectuais e técnicas, competências organizacionais
ou metódicas, competências comunicativas, competências sociais e competências
comportamentais”. O curso deve traduzir as competências e habilidades que demonstram um
conjunto de saberes e conhecimentos provenientes da formação geral e profissional. As
habilidades definidas devem propiciar a consolidação de competências específicas que
permitam a formação discente conforme proposta pelo Projeto Político Pedagógico.
O desenvolvimento de novas competências refere-se ao domínio de conhecimentos
considerados necessários ao profissional capaz de desempenhar adequadamente suas funções,
habilitando-a visualizar e resolver problemas de forma independente e flexível.
2.2 Inovação e tipos de inovação
Para Schumpeter (1942), a inovação tem origem com um impulso que é intrínseco ao
sistema capitalista que transforma a vida econômica e que gera o desenvolvimento. Para o
autor a inovação é o impulso principal que origina e mantêm o movimento do capitalismo
decorrente de bens de consumo, de novas formas de produção e transporte, de novos
mercados e das novas formas de organização que as empresas criam.
De acordo com Drucker (1986) a inovação para ser mais produtiva deve ser um
produto ou serviço diferenciado, proporcionando novas formas de satisfação ao consumidor,
ao invés de oferecer somente uma melhoria. Assim, a inovação proporciona a geração de
valor, diferentemente das invenções, as quais oferecem significado tecnológico. Para Drucker
(1986) a inovação não deve ser restrita somente a aspectos tecnológicos e econômicos,
devendo, então trazer também inovações sociais e mudança na forma como a empresa
gerencia seus recursos. Sendo que os processos de inovação em uma empresa precisam
proporcionar o abandono completo daquilo que é antigo.
Joseph Schumpeter influenciou as teorias da inovação, estabelecendo tipos de
inovação conforme sua natureza ou impacto: inovação radical e incremental.
Conforme Schumpeter (1985), a inovação radical representa uma mudança drástica na
maneira que o produto ou serviço é consumido. Geralmente, traz um novo paradigma ao
segmento de mercado, que modifica o modelo de negócios vigente. Inovações radicais são
raras e provocam uma mudança radical, uma mudança de paradigma tecnológico, mudança na
estrutura organizacional da empresa, na dinâmica organizacional da empresa. O surgimento
de uma inovação radical pode provocar uma mudança na liderança de um setor, destruindo
competências e fazendo surgir novos competidores. Assim, inovações radicais acabam
criando mudanças significativas em produtos, processos e serviços que mudam os mercados e
indústrias existentes ou criam outros absolutamente novos.
De acordo com Schumpeter (1985), a inovação incremental é aquela em que o novo
produto incorpora alguns novos elementos em relação ao anterior, sem que, no entanto, sejam
alteradas as funções básicas do produto. Um processo de melhoria contínua caracterizado por
uma busca de aperfeiçoamento constante e gradual. Por norma as empresas bem geridas são
excelentes no desenvolvimento das tecnologias incrementais. Estas melhoram o desempenho
dos seus produtos nas formas que realmente fazem a diferença junto dos seus clientes. A
confusão conceitual entre melhoria e inovação surge do fato de que muitas inovações
incrementais representam melhorias em processos, produtos e serviços. Entretanto, nem toda
a melhoria pode ser considerada uma inovação.
Chesbrough (2003) introduziu o conceito de modelo de inovação aberta contrapondo-
se com o que ele também caracterizou como modelo de inovação fechada. Ressalta que as
ideias valiosas emergem e podem ser comercializados a partir de dentro ou fora da empresa.
O autor diz que inovação aberta é um paradigma que assume que as empresas podem e devem
usar ideias externas assim como ideias internas e caminhos externos para o mercado, como as
empresas olham para avançar sua tecnologia.
Chesbrough (2007) destaca que as empresas devem ter modelos de negócios abertos,
ou seja, os motivadores para as empresas mudarem para o sistema de aberto de inovação são:
a criação de valor mais rapidamente; aproveitar as diferentes competências de outras
empresas; diminuir o tempo no processo de inovação e a empresa pode ter um custo menor de
desenvolvimento.
Christensen (2006) coloca que a inovação disruptiva descreve um processo pelo qual
um produto ou serviço começa por aplicações simples, na parte inferior de um mercado e,
progressivamente, se move para “acima do mercado”, acabando por deslocar ou eliminar
concorrentes estabelecidos. Este modelo de inovação permite que grande parte da população
que até então não tinha acesso passe a contar com o produto ou serviço, inacessível
anteriormente.
2.3 Um pouco sobre Anísio Teixeira
Desde seus primórdios, a educação sempre foi fator de discussão e de controversas.
Interesses políticos, religiosos e de poder conduziam a educação para caminhos incertos. De
um lado, os interesses particulares de alguns prevaleciam sobre a possibilidade da educação
tornar uma sociedade intelectual, justa e ética, capaz de promover um desenvolvimento social,
econômico e ambiental, ou seja, sustentável.
O filósofo Sócrates, conhecido como o pai da educação, deu origem a uma árvore
genealógica de pensadores que nos influencia até hoje. Defensor do diálogo como método de
educação, considerava muito importante o contato direto com o interlocutor. O papel do
educador é ajudar o discípulo a caminhar neste sentido, despertado a sua cooperação para que
ele consiga por só próprio, “iluminar” sua inteligência e sua consciência. De seu pensamento
surgiu duas vertentes da filosofia, tendências do pensamento ocidental: a idealista que partiu
de Platão ao distinguir o mundo concreto do mundo das ideias e, a realista, partindo de
Aristóteles que submeteu as ideias, às quais se chega pelo espírito ao mundo real.
O realismo admite a existência da realidade exterior (ou do mundo externo) como
sendo coisa distinta do pensamento ou das nossas representações, o que significa que, para o
realismo, o nosso conhecimento atinge a própria realidade e não apenas as representações
subjetivas - atinge o que é, e não o que pensamos que seja. Contrariamente ao realismo, o
idealismo afirma que o objeto de conhecimento é produto do espírito, o que significa que o
conhecimento é produto do sujeito e que as coisas não são mais do que conteúdos de
consciência.
Figura 03 – Autores do Idealismo e Realismo
Fonte: Elaborado pelos autores
O ensino de administração no Brasil surge num momento de discussão entre a corrente
realista e idealista, que pregavam diferentes formas de educar e que, consubstanciavam os
argumentos dos estudiosos na época e, consequentemente, as diretrizes educacionais
brasileiras.
Chegamos a Anísio Teixeira, como personagem capaz de estabelecermos o “vazio”,
pois seus projetos eram vistos como ousados, inovadores, provocando fortes reações dos
setores mais conservadores da sociedade brasileira, enfrentando oposições do autoritarismo no
poder, do liberalismo conservador, e reacionarismo de setores da Igreja Católica.
Deixou marcas nas instituições que fundou e dirigiu, entre elas, Universidade do
Distrito Federal – UDF, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP, Centro de
Pesquisas Educacionais – CBPE, pela Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal do
Ensino Superior – CAPES e sua participação na elaboração do projeto da Universidade de
Brasilia – UNB. Reforma universitária de 1968. Foi um dos pioneiros dos ideais do
movimento Escola Nova no Brasil.
As novas responsabilidades da escola eram educar em vez de instruir; formar homens
livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto em vez de transmitir um
passado claro; e ensinar a viver com mais inteligência, mais tolerância e mais felicidade. Para
isso, seria preciso reformar a escola, começando por dar a ela uma nova visão da psicologia
infantil.
Para o pensador, não se aprendem apenas ideias ou fatos, mas também atitudes, ideais
e senso crítico - desde que a escola disponha de condições para exercitá-los. Assim, uma
criança só pode praticar a bondade em uma escola onde haja condições reais para desenvolver
o sentimento. A nova psicologia da aprendizagem obriga a escola a se transformar num local
onde se vive e não em um centro preparatório para a vida. Como não aprendemos tudo o que
praticamos, e sim aquilo que nos dá satisfação, o interesse do aluno deve orientar o que ele vai
aprender. Portanto, é preciso que ele escolha suas atividades.
Anísio, em sua corrente idealista, pensava a educação gratuita, de qualidade, integral e
um direito de toda população, como um meio para acabar com as diferenças sociais
existentes. Analisava a importância da educação como um caminho de uma política de
desenvolvimento social, criticava os sistemas arcaicos de ensino, seus métodos obsoletos, as
falhas incorridas no ensino superior.
3 Procedimentos metodológicos
Nesta seção são indicados os métodos e as técnicas que orientaram o estudo. A
proposta contou com a aplicação de um delineamento de natureza qualitativa, que pretende
investigar um fenômeno, compreendê-lo em sua profundidade.
A fase qualitativa apresenta uma abordagem de caráter exploratório, pois, conforme
Gil (1995) tem como objetivo, desenvolver e modificar conceitos e ideias, para formular
problemas ou hipóteses pesquisáveis. As pesquisas exploratórias envolvem levantamento
bibliográfico e documental, entrevistas e estudos de caso. São desenvolvidas com o objetivo
de proporcionar uma visão geral de tipo aproximativo, sobre um fato. É realizada quando o
tema é pouco estudado e torna-se difícil formular hipóteses precisas.
Ainda, na fase qualitativa, especificamente, na coleta de dados, foi utilizada a
estratégia de pesquisa bibliográfica que, segundo Marconi & Lakatos (2006), abrange a
bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Neste contexto, foram
analisadas 06 (seis) obras de Anísio Teixeira disponíveis na biblioteca virtual, produção
científica do autor, site http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/delivro.htm. Também foi utilizada
a pesquisa documental com base nas resoluções, legislações, pareces e diretrizes sobre o
ensino de administração no Brasil.
De certo modo o presente trabalho caracteriza-se por um ensaio teórico tentando
identificar a relação, o “vazio” existente entre o ensino de administração no Brasil, inovação e
as contribuições de Anísio Teixeira. Meneghetti (2011) menciona que o ensaio teórico não
busca afirmações verdadeiras, mas convida o leitor a refletir e tirar suas conclusões.
Caracterizado por sua por sua natureza reflexiva e interpretativa, o ensaio teórico não é algo
simples de se fazer, pois exige do ensaísta maturidade para atender os quesitos específicos que
o qualificam. A subjetividade aparece como um elemento importante de mediação entre a
realidade e o processo de conhecimento. O ensaio exige originalidade e novidade diante de
algo ainda não visto ou publicado.
O ensaio teórico surge assim como uma forma de apresentar novas alternativas de
entender a realidade, mediante a construção de uma reflexão critica do até então exposto. Na
administração há um campo fértil para tal, pois apresenta elementos impregnados em sua
história e evolução que possibilitam e deixam lacunas a serem analisados sob um enfoque
diferente.
4. Apresentação do vazio
Desde o seu inicio o ensino da administração e, consequentemente, a formação de
profissionais em administração, voltava-se à formação de sujeitos desprovidos, até então, de
determinadas habilidades e competências para lidar com as novas atividades exigidas pelo
mercado de trabalho. Um tipo de racionalidade passa a ser predominante e exigida, a fim de
formar indivíduos aptos para atuar numa demanda caracterizada pelas necessidades industriais
e pelos modelos taylorista, fordista e toyotista de produção. As novas exigências passam a
requerer a formação de um novo perfil profissional para atuar num sistema de divisão e
organização do trabalho. Assim o modelo acadêmico e pedagógico de ensino se organizou
para atender as necessidades e demandas de um mundo do trabalho pautado por um sistema
de divisão e organização do trabalho em torno das profissões.
Teixeira (2005) alertava que as lacunas do ensino superior brasileiro somente vêm
acentuar-se depois da Primeira Guerra Mundial, quando o desenvolvimento econômico do
País passa a exigir a inclusão da ciência, com seus métodos de pesquisa, no ensino superior e
na universidade.
O primeiro currículo mínimo do curso de Administração estabelecido pelo Parecer n
307/66, em 08 de julho de 1966 pelo Conselho Federal de Educação, institucionaliza no Brasil
a profissão e a formação de técnico em Administração. As diretrizes se inspiraram na análise
das condições reais da administração do país, e nos postulados que emanam da lei e da
doutrina fixada na experiência nacional e internacional. Tal diretriz acaba por destacar
aspectos essenciais da experiência americana, pois além de servir de modelo, foi a principal
influência da evolução dos sistemas europeus. Ou seja, a influência americana foi
significativa nos reflexo brasileiro no que diz respeito a uma nova relação de trabalho e,
consequentemente, os modelos de ensino.
Teixeira (2005, p.184) afirmava que o “ensino superior era um ensino de informação
sobre a cultura estrangeira, por professores por vezes brilhantes, mas em geral repetidores
superficiais, que dispunham de um conhecimento que não haviam construído e de cuja
elaboração não tem vivência”. Dessas aulas-conferência passávamos ao autodidatismo, outra
forma de cultura pela informação, agravada pelo inevitável fragmentarismo das leituras,
naturalmente acidentais, do livro estrangeiro, que nos punha em contato com a cultura
europeia, estrangeira ao nosso meio e marcada pelo nacionalismo de cada uma de suas fontes.
Nesse sentido nos indagamos se o ensino de Administração no Brasil é um processo
inovador ou simplesmente uma cópia feita de processos educacionais americanos e europeus
desrespeitando as particularidades brasileiras. Teixeira (2005, p.191), alerta para uma nova
forma de pensar a educação, “só conseguiremos transmitir a cultura e o saber quando
transformamos as nossas instituições educacionais em instituições realmente embebidas no
solo brasileiro, na terra brasileira, a refletirem a peculiaridade brasileira e o modo de pensar
brasileiro”.
Entende-se, pois, que diante do que se espera e deseja de um egresso do curso de
administração, isto é, a formação do perfil do egresso, sob responsabilidade de cada
Instituição de Ensino Superior – IES, deve estar no âmbito do perfil brasileiro, refletindo as
características regionais.
Teixeira (1956) coloca que a escola brasileira deve ser formada por educadores e
professores brasileiros, em um ambiente de liberdade e responsabilidade, de experimentação e
verificação, de flexibilidade e descentralização, para que se crie a escola brasileira,
diversificada pelas regiões, ajustada às condições locais, viva, flexível e elástica, com a
unidade de se sentir brasileira na variedade e pluralidade de suas formas. Este problema deve
ser resolvido a partir do melhoramento e aperfeiçoamento das instituições escolares
brasileiras. Para que se encaminhe, entretanto, a sua solução gradual e progressiva, é
indispensável que se organize a liberdade de experimentar, tentar, ensaiar, verificar e
progredir, na escola brasileira.
Os estudos universitários dos métodos, problemas e técnicas de educação, como arte e
como ciência social, e a formação do magistério, pelos mais eficazes processos existentes,
seriam as duas grandes forças de direção do grande movimento de expansão escolar que,
assim, por certo, se haveria de deflagrar em todo o país (TEIXEIRA, 1956).
Devido à necessidade de formar profissionais com tal perfil, houve uma proliferação
das faculdades privadas e isoladas na criação de novos cursos. Pela tendência de
desenvolvimento das unidades produtivas e entre outros acontecimentos, os números de
cursos de administração apresentaram um crescimento de aproximadamente 530% referente à
década de setenta para sessenta, passando de 31 para 164 cursos.
No final dos anos sessenta, a evolução dos cursos de Administração ocorreria não mais
vinculada a instituições universitárias, mas às faculdades isoladas que proliferaram dentro do
processo de expansão privatizada na sociedade brasileira.
Teixeira (2005) alerta que a expansão do ensino não se dá pelo crescimento da escola
existente, mas pela criação de uma outra escola. A questão de números representada pela
privatização descontrolada do ensino superior brasileiro após a década de 1970.
A inovação incremental que, para Schumpeter (1985) é um processo de melhoria
contínua caracterizada por uma busca de aperfeiçoamento constante e gradual, associada à
redução de custos e melhorias dos produtos e serviços, uma otimização do negócio existente,
promovendo o reforço das competências já desenvolvidas é substituída por uma proliferação
de cursos de administração, de certa forma focada em aumentar o número de matriculados e
não necessariamente oferecer um ensino de acordo com as exigências da sociedade e do
mercado do trabalho atual. Ou seja, nem toda a melhoria pode ser considerada uma inovação.
Para Anísio (1969), a educação de tipo acadêmico e livresco não está sendo procurada
pela população brasileira, em virtude dos ensinamentos que ministra, mas pelas vantagens que
oferece e pela maior facilidade dos seus estudos. A escola se faz intrìnsecamente ineficiente,
se assim nos podemos pronunciar, pois, não é peixe nem carne, reduzindo-se a uma série de
estudos disparatados e inconseqüentes, se não fossem nocivos.
Aos futuros administradores e cursos de administração, cabia seguir e estudar matérias
que lhe garantissem uma formação especializada, técnica e instrumental, para atuar no
mercado brasileiro, que se encontrava em pleno desenvolvimento industrial. Tal separação do
conhecimento por matérias incluídas na concepção de um currículo mínimo prevalece
predominante até a década de noventa, embora, ainda presentes no currículo dos cursos de
administração atualmente.
Anísio (1969) alertava que a escola chamada tradicional, com a sua organização, ou
seu currículo, ou seus métodos, somente teria eficiência para o tipo muito especial de alunos,
a que sempre servira, isto é, aqueles muito capazes e que se destinassem a uma vida de
estudos literários ou científicos.
Conforme o Parecer nº 433/93, ao administrador cabia não apenas o conhecimento
específico exigido pelo mercado, mas também uma visão mais ampla como forma de
promotor e agente transformador diante do avanço do desenvolvimento tecnológico, técnico-
instrumental, da organização e controle do processo de trabalho e das ciências. Além disso,
algumas características intelectuais, mencionadas como indispensáveis, devem ser
incorporadas em um curso de Administração, a saber: comunicação interpessoal, ética
profissional, capacidade de adaptação, vida acadêmica ativa, motivação para atualização
contínua, competência e capacidade de integração.
A reformulação do currículo mínimo de 1993 apresenta em suas propostas,
preocupações na formação de um sujeito capaz de refletir sobre as relações sociais,
constituindo-se como um agente adaptável às mudanças e os avanços da ciência e da
tecnologia, mas ainda foca sua visão na divisão de conhecimento por matérias representadas
pelos currículos mínimos. Percebe-se nas propostas que existe uma evolução no sentido de
pensar e desejar um egresso com um perfil que exige dimensões de relação social, cultural e
econômica.
Sobre as novas Diretrizes Curriculares do Curso de Administração e ao ensino da
administração, se apresentou até o momento como uma forma pragmática de aparelho técnico
e tecnológico a serviço da produção. Uma proposta de formação de profissionais e cidadãos
que conquista cada vez mais espaço à medida que é reconhecida e valorizada por um tipo de
racionalidade caracterizada principalmente pelo repasse de informação, a fim de preparar
técnica e operacionalmente o profissional a inserir-se na cadeia de produção econômica
predominante. As discussões de formação de indivíduos inseridos numa sociedade, numa
cultura e dotado de uma personalidade, são realizadas com o objetivo de preparar
profissionais de administração, voltando-se a uma qualificação científica e técnica do
conhecimento, para atuar no universo da produção material, no âmbito da vida social com
consequências culturais. O domínio das habilidades técnicas, relacionadas ao seu campo de
atuação profissional, atinge uma posição exigida pela eficácia de sua prática produtiva,
tornando-se o alvo central das discussões e planejamentos administrativos.
Anísio (1969) menciona que a escola “acadêmica", isto é, verdadeiramente formadora
do espírito e da inteligência, passou a ser algo de vago, senão de misterioso, educando por
uma série de exercícios reputados de ginástica do espírito, capazes de produzir atletas - de
todos os pesos, digamos de passagem - do intelecto ou da sensibilidade. Mas, por isto mesmo
que buscava resultados tão indiretos e tão elusivos, não podia se ater a critérios severos de
eficiência.
E ainda, para Anísio (2005), o desenvolvimento do ensino superior passou a ser
medido pelo grau em que professores e alunos assim condiziam o seu trabalho e adotavam os
novos métodos do novo conhecimento. É essa transformação que vamos procurar caracterizar
no ensino superior brasileiro, distinguindo fundamentalmente o que é simples ampliação e
crescimento das condições anteriores, às vezes com grau de deteriorização dessas condições, e
o que é real renovação e recomeço do novo espírito, do novo método, do novo estilo do saber
e do novo modo de trabalhar no campo das ciências físicas e humanas.
Para Anísio Teixeira (2005), o caso do ensino superior no Brasil ilustra de modo
evidente o que chamaria a confusão de sentimento em que se perde o país com respeito à
cultura intelectual, objeto simultaneamente do mais extremo culto e do maior descaso, quando
se trata de criar as condições reais e concretas para o objetivo do culto se afirmar. Resulta daí
um conceito da cultura intelectual como milagre ou heroísmo, algo que lembraria o contraste
entre santidade e vida comum na cultura católica. A nação deveria tomar consciência da
necessidade da universidade brasileira como centro de elaboração da nova cultura nacional,
com real sensibilidade para o seu crescimento, as suas crises e seus problemas.
Anísio Teixeira (2005) propõe a criação de uma nova escola que chama de pós-
graduada, estudos avançados e de pesquisa, como uma alternativa ao ensino superior de
massa. A universidade somente será de pesquisa quando passar a reformular a cultura que vai
ensinar. Pode parecer excessivo dizer que a cultura humana tem de ser reelaborado para ser
ensinada. Isso, porém, é literalmente verdade. Se trata de uma cultura própria e já existente, a
transmissão é uma revisão e adaptação, pois toda cultura é ela própria um processo dinâmico.
Mas se desejo transmitir uma cultura nova, não a posso transmitir pondo o aprendiz em
contato com os “produtos” dessa cultura, mas tornando possível ela aprendê-la pelo processo
de sua formação, de modo que ele, de algum modo, a reinvente, inserindo-a, em seu modo de
pensar.
Para essa universidade de ciência e de pesquisa, a escola pós-graduada se impõe, pois
deixa a universidade de ser puramente de transmissora do saber existente para se fazer
criadora do novo saber e do novo conhecimento.
Ao nosso entender, a pesquisa pode assumir para Anísio Teixeira uma proposta de
inovação no processo de ensino em Administração. Para Schumpeter (1942) a inovação é
resultante do novo processo com destruição daquilo que está obsoleto. Conforme Schumpeter
(1985), a inovação radical traz novos princípios de engenharia ou científicos, abrindo novos
mercados e novas aplicações, criam grandes dificuldades para empresas existentes e podem
ser a base para a entrada de novas firmas no mercado.
E por fim, identificamos a expansão em termos de números instituições, vagas e
matriculas no curso de administração na modalidade ensino à distância. Neste contexto,
identificar o fato, de certo modo, como uma inovação disruptiva, pois levou o ensino de
administração a locais, regiões e estados até então desprovidos dessa formação. Conforme
Christensen (2006), a inovação disruptiva descreve um processo pelo qual um produto ou
serviço começa por aplicações simples, na parte inferior de um mercado e, progressivamente,
se move para “acima do mercado”, acabando por deslocar ou eliminar concorrentes
estabelecidos. Este modelo de inovação permite que grande parte da população que até então
não tinha acesso passe a contar com o produto ou serviço, inacessível anteriormente.
5. Considerações finais
Esta seção apresenta as conclusões sobre o ensino de Administração no Brasil. A
escolha pelo tema reflete a necessidade de se repensar o processo de formação do
administrador no Brasil frente às exigências da sociedade e do mercado de trabalho.
Chegou-se a Anísio Teixeira, pensador da corrente idealista, como personagem capaz
de estabelecer o “vazio”, pois seus projetos eram vistos como ousados, inovadores,
provocando fortes reações dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. Assim, o
presente trabalho tem por objetivo estabelecer uma relação entre o ensino de Administração
no Brasil e as inovações propostas por Anísio Teixeira à educação.
Contrariamente ao realismo, o idealismo afirma que o objeto de conhecimento é
produto do espírito, o que significa que o conhecimento é produto do sujeito e que as coisas
não são mais do que conteúdos de consciência. O idealismo não nega propriamente a
existência do mundo externo, mas reduz este às representações, ou seja, ao pensamento, às
ideias. Como tal, o nosso conhecimento atinge apenas as modificações subjetivas e não a
própria realidade - atinge o que pensamos e não o que é.
Anísio Teixeira, o inventor da escola pública no Brasil, propôs e executou medidas
para democratizar o ensino brasileiro e defendeu a experiência do aluno como base do
aprendizado. Para o pensador, não se aprendem apenas ideias ou fatos, mas também atitudes,
ideais e senso crítico - desde que a escola disponha de condições para exercitá-los. Assim,
uma criança só pode praticar a bondade em uma escola onde haja condições reais para
desenvolver o sentimento. A nova psicologia da aprendizagem obriga a escola a se
transformar num local onde se vive e não em um centro preparatório para a vida. Como não
aprendemos tudo o que praticamos, e sim aquilo que nos dá satisfação, o interesse do aluno
deve orientar o que ele vai aprender. Portanto, é preciso que ele escolha suas atividades.
Assim, Teixeira (1977) aborda que nas universidades é indispensável a liberdade de
pensar, não como simples diversão ou deleite individual, mas como condição para a
organização do pensamento teórico e especulativo, destinado a exercer influência sobre o
próprio contexto da vida social, isto é, as suas instituições, costumes e modos de
comportamento. O autor coloca que é indispensável a liberdade de organização, isto é, a de
poderem os homens organizar seus objetivos de vida de forma autônoma e pluralista, em
diversas áreas de ação, baseados no enriquecimento progressivo de sua inteligência, suas
ideias e seu saber, fora da área de compulsão necessariamente restrita do Estado, sujeitos tão
somente ao império da persuasão e da razão, que o novo conhecimento veio criar.
Teixeira (1977) acreditava que as modificações da sociedade brasileira precisavam
modificar o homem também e esse papel deveria ser da escola que daria a esse "novo
homem" uma visão democrática da vida. Costumava se referir ao novo estado das coisas que
deveria estar associado às transformações materiais, mudança da escola e consequentemente
do homem que dela participava.
A escola deveria ser o agente da contínua transformação e reconstrução social,
colaboradora da constante reflexão e revisão social frente à dinâmica e mobilidade de uma
sociedade democrática: "o conceito social de educação significa que, cuide a escola de
interesses vocacionais ou interesses especiais de qualquer sorte, ela não será educativa se não
utilizar esses interesses como meios para a participação em todos os interesses da sociedade
(TEIXEIRA, 2005).
Teixeira (1956) coloca que a escola brasileira deve ser formada em um ambiente de
liberdade e responsabilidade, de experimentação e verificação, de flexibilidade e
descentralização, para que se crie a escola brasileira, diversificada pelas regiões, ajustada às
condições locais, viva, flexível e elástica, com a unidade de se sentir brasileira na variedade e
pluralidade de suas formas. Este problema deve ser resolvido a partir do melhoramento e
aperfeiçoamento das instituições escolares brasileiras. Para que se encaminhe, entretanto, a
sua solução gradual e progressiva, é indispensável que se organize a liberdade de
experimentar, tentar, ensaiar, verificar e progredir, na escola brasileira.
Entende-se, pois, que pelas contribuições de Anísio Teixeira e pela análise do ensino
da administração no Brasil, em suas resoluções, pareceres e diretrizes, não identificamos
inovação conforme os conceitos propostos pelos autores estudados. (SCHUMPETER
1942,1950 e1985, DRUCKER 1986, HAMEL 2000, CHESBROUGH 2003 e
CHRISTENSEN 2006). Observa-se apenas, alguns indícios da inovação disruptiva fruto da
iniciativa de algumas instituições de ensinos superior privadas e da legitimação do estado em
oferecer o ensino para regiões e locais até então desprovidos e sem acesso ao ensino superior.
6. Referências
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HAMEL, G. Leading the Revolution. Harvard Business School Press, 2000.
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MARCONI, Marina; LAKATOS, Eva. Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de
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MENEGHETTI, F.K. O que é um Ensaio-Teórico? Revista de administração contemporânea,
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MENEGHETTI, F.K. Tréplica - O que é um Ensaio-Teórico? Tréplica à Professora Kazue
Saito Monteiro de Barros e ao Professor Carlos Osmar Bertero.Revista de administração
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SCHUMPETER, J.A. Capitalism, Socialism and Democracy, London: Allen & Unwin, 1942.
SCHUMPETER, J.A. Capitalism, Socialism, and Democracy, 3rd edition, Harper and Row,
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SCHUMPETER, J.A. Teoria do Desenvolvimento Econômico: Uma Investigação sobre
Lucro, Capital, Crédito, Juro e o Ciclo Econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
TEIXEIRA, Anísio. A educação e a crise brasileira. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1956.
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1969. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2005.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Coleção Obra-Prima de cada
autor. Martin Claret: São Paulo, 2007.
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