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brasiluma Estratgia inovadoraalavanCada pEla rEnda
ORGANIZAO INTERNACIONAL DE TRABALHOINSTITUTO INTERNACIONAL DE ESTUDOS DO TRABALHO
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O Instituto Internacional de Estudos do Trabalho (IILS) foi criado em 1960 comoentidade autnoma da Organizao Internacional do Trabalho (OIT). Seu mandato promover a poltica de investigao e debate pblico sobre questes de interesse para aOIT e seus membros: governos, empresrios e trabalhadores.
Copyright Organizao Internacional do Trabalho (Instituto Internacional de Estudosdo Trabalho) de 2010.
Pequenos excertos desta publicao podem ser reproduzidos sem a autorizao, desdeque a fonte seja citada. Para se obter os direitos de reproduo ou de traduo, as solici-taes devem ser enviadas ao Departamento de Publicaes do Instituto Internacionalde Estudos do Trabalho, PO Box 6, CH-1211 Genebra 22 (Sua).
ISBN: 978-92-9014-964-4 (impresso)ISBN: 978-92-9014-965-1 (web pdf)
Primeira edio 2010Escritrio da Organizao Internacional do TrabalhoCH-1211 Genebra 22 (Sua)
www.oit.org
Brasil: Uma estratgia inovadora alavancada pela renda/Escritrio da Organizao
Internacional do Trabalho, Instituto Internacional de Estudos do Trabalho. Genebra:
OIT, 2011.
ISBN: 978-92-9014-964-4 (impresso)
ISBN: 978-92-9014-965-1 (web pdf)
A responsabilidade por opinies expressas em artigos, estudos e outras contribuiesrecai exclusivamente sobre seus autores, e sua publicao no significa que o InstitutoInternacional de Estudos do Trabalho endossa.Esta publicao est disponvel mediante solicitao ao Departamento de PublicaesIILS, PO Box 6, CH-1211 Genebra 22 (Sua).
Diagramao na Sua ALIImpresso na Sua SRO
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prEfCio
A Declarao da OIT sobre Justia Social para uma Globalizao Justa preva possibilidade de apoio aos Membros no reforo da capacidade de pesquisa,conhecimento emprico e compreenso de como os objetivos estratgicosde emprego, proteo social, dilogo social e direitos no trabalho intera-gem uns com os outros e contribuem para o progresso social, a formaode empresas sustentveis, o desenvolvimento sustentvel e a erradicao da
pobreza na economia global.
Em conformidade com este plano de ao, o Conselho de Administrao,em sua 304a Sesso, colocou em prtica um plano para reforar a base deconhecimento da OIT por meio de uma srie de estudos em pases piloto,conduzidos sob a gide do Instituto Internacional de Estudos do Trabalho.O objetivo destes estudos (i) documentar exemplos nos quais as polti-cas econmicas e sociais contriburam de forma exitosa para a atenuao
do impacto da crise financeira mundial; (ii) extrair lies sobre polticaspblicas que possam ser teis para outros pases; e (iii) analisar os desafiosespecficos de cada pas no contexto da crise e adiante.
Este relatrio sobre o Brasil foi preparado por Janine Berg (Escritrio daOIT no Brasil), Byung-jin Ha, Naren Prasad e Steven Tobin (InstitutoInternacional de Estudos do Trabalho), com contribuies de DanielaPrates, da Universidade de Campinas. O estudo foi coordenado por
Steven Tobin, sob a superviso do Diretor do Instituto, Raymond Torres.Gostaramos de agradecer a Dra. Las Abramo, Diretora do Escritrio daOrganizao Internacional do Trabalho no Brasil, e ao Instituto de PesquisaEconmica Aplicada (IPEA), pelas suas contribuies e apoio ao projeto.Uma verso preliminar do resumo executivo do relatrio sobre o Brasil foiapresentada em um seminrio organizado pelo Escritrio da OIT no Brasil,em 3 de setembro de 2010. O relatrio final leva em considerao muitosdos comentrios recebidos de autoridades nacionais, parceiros sociais e de
outras partes interessadas durante o seminrio.
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ndiCE
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Precio V
ndice VI
Lista de abreviaes X
Resumo executivo e recomendaes 1
C 1 : deee ecc e ec e 13Introduo 13
A. Trajetria macroeconmica e mecanismos de transmisso da crise 14
B. Desempenho do mercado de trabalho 18
C. Concluses 28
Reerncias 29
C 2 : a e b ce 31Introduo 31
A. Por que esta crise oi dierente 32
B. Polticas monetria, crditcia e cambial 36
C. Pacote de estmulo iscal 42
D. Dilogo social para apoiar a resposta crise 55
E. Consideraes sobre polticas pblicas 57
Reerncias 58
C 3 : me ee ee e ee-ce 59Introduo 59
A. Apoio a atividades intensivas em emprego 60
B. Medidas para estimular a criao de empregos 65
C. Consideraes sobre polticas pblicas 73
Reerncias 74
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C 4 : E e e e e c 75Introduo 75
A. A proteo social no Brasil 77
B. A resposta crise e o impacto das polticas na recuperao 82
C. Consideraes sobre polticas pblicas 94Reerncias 95
C 5 : le e e e 101Introduo 101
A. Lies aprendidas 102
B. Desaios uturos e reas para apereioamentos 108
C. Concluses e perspectivas uturas 122
Reerncias 123
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lista dE grfiCos
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Grico 1.1 Crescimento do PIB, taxa trimestral real, 20072010 (variao percentual
em relao ao mesmo perodo do ano anterior) 16
Grico 1.2 Evoluo do PIB pela tica da demanda e da oerta, T2 2008T2 2010 17
Grico 1.3 Variaes percentuais no PIB real e no desemprego total entre o segundo trimestre de 2008
e o segundo trimestre de 2010 19
Grico 1.4. Variao percentual no nvel de emprego do pico (pr-crise) ao vale (ps-crise), por pas 20
Grico 1.5 Emprego em reas urbanas do Brasil, 20082010 (srie sem ajuste sazonal, 000s) 21Grico 1.6 Taxa de desemprego mensal e variao taxa de participao rente aos anos anteriores, 20082010 22
Grico 1.7 Nveis de emprego por idade, 20082010 (milhares) 24
Grico 1.8 Emprego inormal como uma parcela do emprego total, 20082010 (percentuais) 25
Grico 1.9 Evoluo do valor mdio dos salrios nominal e real, 20082010 (R$ por ms) 26
Grico 1.10 Desigualdade no Brasil, 19902009 (medida pelo ndice de Gini) 26
Grico 2.1 Dvida externa pblica e reservas internacionais, 19972010 (US$ milhes) 32
Grico 2.2 Supervit primrio como percentual do PIB, 19982010 (luxos acumulados em 12 meses) 33
Grico 2.3 Estmulo iscal nos pases do G20 como percentual do PIB 42Grico 3.1 Crescimento do crdito domstico, 2009 (percentuais) 61
Grico 3.2 Variao percentual no emprego ormal por tamanho do estabelecimento, 2009 62
Grico 3.3 Produo industrial, variao percentual rente ao mesmo ms do ano anterior, T4 2008T2 2010 64
Grico 3.4 Variao percentual nos desembolsos do PAC para cada setor, 2009 65
Grico 3.5 Variao percentual no emprego ormal por setor, 20082010
(em relao ao mesmo ms no ano anterior) 67
Grico 3.6 Empregos em servios na seis maiores reas metropolitanas, 20092010 67
Grico 4.1 Gastos sociais, Brasil e outros pases selecionados, 2008 (percentual do PIB) 78Grico 4.2 Gastos em seguridade social por regio, 19951998 e 20002008 (percentual do PIB) 79
Grico 4.3 Cobertura de aposentadorias em determinados pases e regies (percentual da ora de trabalho) 80
Grico 4.4 Beneicirios de seguro-desemprego, 20082009 (milhares) 85
Grico 4.5 Valor real do salrio mnimo, 20012010 (R$, evereiro de 2010) 92
Grico 5.1 Impacto dos gastos em polticas ativas de mercado de trabalho 110
Grico 5.2 Desempregados recebendo seguro-desemprego em pases selecionados,
ano mais recente com dados disponveis (percentual do total de desempregados) 111
Grico 5.3 Encaminhamento de beneicirios de seguro-desemprego a um curso de ormao,Brasil, 2009 (percentuais) 114
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iX
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Grico 5.4 Resultados internacionais da PISA em leitura, matemtica e cincia. 2009 115
Grico 5.5 Taxas de pobreza em pases selecionados, ltimo ano com dados disponveis,
20042008 (percentual da populao) 117 / 118
Grico 5.6 Desigualdade de renda no G20 e pases selecionados da Amrica Latina, 2007 (ndice de Gini) 119
Grico 5.7 Emprego inormal, 20012006 120
lista dE tabElas
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Tabela 2.1 Componentes do pacote de estmulo fscal 43
Tabela 2.2 Investimentos planejados em inraestrutura: o PAC 45
Tabela 2.3 Redues de impostos includas no pacote de estmulo 47
Tabela 3.1 Opinio sobre o potencial das seguintes medidas para evitar demisses,586 indstrias do Estado de So Paulo, evereiro-maro de 2008 71
Tabela 4.1. Distribuio regional de amlias benefcirias do Bolsa Famlia e de pobres, Fevereiro de 2009 89
Tabela 4.2 Trabalhadores recebendo o salrio mnimo, por categoria ocupacional e sexo, 2008 (percentuais) 91
lista dE quadros
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Quadro 1.1 Canais de transmisso da crise no Brasil 14
Quadro 4.1 O sistema de aposentadorias do Brasil 81
Quadro 4.2 O programa de seguro-desemprego no Brasil, 2010 84
Quadro 5.1 Maximizando os benecios microeconmicos da poltica macroeconmica 103
Quadro 5.2. Apoio direto ao emprego 105
Quadro 5.3 Medidas de proteo social bem elaboradas 105
Quadro 5.4 Um resumo das polticas de emprego no Brasil 109Quadro 5.5 O programa de compartilhamento de emprego da Alemanha 116
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lista dE abrEviaEs
BB Banco do Brasil
BCB Banco Central do Brasil
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
BPC Benecio de Prestao Continuada
CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
TCR Transerncia Condicional de Renda
CDES Conselho de Desenvolvimento Econmico e SocialCEF Caixa Econmica Federal
CMN Conselho Monetrio Nacional
CODEFAT Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador
Cofns Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social
Copom Comit de Poltica Monetria
CRB Commodity Research Bureau (Escritrio de Pesquisas sobre Commodities)
DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos
FAT Fundo de Amparo ao TrabalhadorFGC Fundo Garantidor de Crdito
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Servio
FIDC Fundos de Investimentos em Direitos Creditrios
FMI Fundo Monetrio Internacional
FPM Fundo de Participao dos Municpios
IBGE Instituto Brasileiro de Geografa e Estatstica
IFS International Financial Statistics (Estatsticas Financeiras Internacionais,
base de dados do FMI)IILS International Institute or Labour Studies (Instituto Internacional de Estudos do Trabalho)
INPC ndice Nacional de Preos ao Consumidor
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IOF Imposto Sobre Operaes Financeiras
IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
IRPF Imposto de Renda da Pessoa Fsica
MPS Ministrio da Previdncia Social
MTE Ministrio do Trabalho e Emprego
PAC Programa de Acelerao do CrescimentoPIB Produto Interno Bruto
PLANFOR Plano Nacional de Formao e Qualifcao
PME Pesquisa Mensal de Emprego
PMEs Pequenas e Mdias Empresas
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
PNQ Plano Nacional de Qualifcao Profssional
PROGER Programa de Gerao de Emprego e Renda Rural
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura FamiliarRAIS Relao Anual de Inormaes Sociais
RDB Recibo de Depsito Bancrio
RET Regime Especial de Tributao
RGPS Regime Geral de Previdncia Social
RPC Regime de Previdncia Complementar
RPPS Regimes Prprios de Previdncia Social
Selic Sistema Especial de Liquidao e Custdia de Ttulos Pblicos
SINE Sistema Nacional de EmpregoSPETR Servio Pblico de Emprego, Trabalho e Renda
TJLP Taxa de Juros de Longo Prazo
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rEsumo EXECutivo E rEComEndaEs
O crescimento econmico com equidade possvel o caso do Brasil demonstra que por intermdio da adoo de polticas bemdesenhadas e sucientmente integradas possvel lograr tal resultado
Costuma-se argumentar que as polticas para promover a incluso sociale a equidade afetam o crescimento econmico, o que sugere a inevitabi-
lidade de um trade-oentre os objetivos econmicos e sociais. O caso doBrasil, no entanto, demonstra que no h necessariamente um trade-o,desde que polticas certas sejam implementadas.
Esta reviso mostra concretamente como a estratgia de crescimentocom equidade foi construda e implementada no Brasil. Analisa, tam-bm, a forma pela qual a estratgia ajudou o Brasil a superar a criseeconmica e financeira mundial que eclodiu na sequncia do colapso
do banco de investimento Lehman Brothers, em 2008. Finalmente, areviso identifica os principais desafios pendentes e indica respostas depolticas possveis.
Inicialmente, o impacto da crise no Brasil oi signicativo
O Brasil no ficou imune aos impactos da crise e foi atingido principalmen-te por trs mecanismos de transmisso: (i) a queda do valor das exporta-
es devido ao colapso da demanda externa e diminuio dos preos dascommodities; (ii) a forte contrao do crdito e da liquidez nas economiasavanadas e no mercado financeiro internacional, que resultou na retraodas linhas de crdito externas (inclusive as destinadas ao comrcio) e nasada de investimentos estrangeiros de portflio; (iii) a acentuada reduoda oferta domstica de crdito. A economia, que vinha crescendo em umritmo anual de 7% no terceiro trimestre de 2008, contraiu-se dramatica-mente para uma taxa anualizada de 2% no primeiro trimestre de 2009. A
produo industrial foi a que mais sofreu, com impactos particularmente
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agudos nos setores mais dependentes do crdito, como os bens de consumo
durveis. De fato, a produo do setor industrial recuou cerca de 20% noltimo trimestre de 2008 e no primeiro trimestre de 2009. O mercado detrabalho tambm foi afetado de forma significativa:
Emnovembroedezembrode2008,cercade700.000empregosformais
foram perdidos as perdas foram 3,6 vezes maiores do que nos mesmosmeses do ano anterior.
EntreasseismaioresregiesmetropolitanasdoBrasil,594.000postosde
trabalho (ou 2,8% do total) foram perdidos entre dezembro de 2008 eabril de 2009. Consequentemente, a taxa de desemprego aumentou para9,0% em maro de 2009 (0,4 ponto percentual acima do nvel em marode 2008).
Oimpactosobreosetorindustrialfoiparticularmenteagudo:entreos
meses de novembro de 2009 e maro de 2010, meio milho de empregosformais na indstria foram perdidos.
mas a recuperao iniciou-se logo aps o incio da crise
No entanto, a recesso econmica durou apenas dois trimestres a econo-mia cresceu 4,2% no quarto trimestre de 2009 e dever crescer 7,3% em2010, ritmo que ultrapassa, inclusive, os nveis pr-crise. Diferentementede outros pases, a recuperao do mercado de trabalho no Brasil teve in-cio antes do que a prpria recuperao do PIB, o que ajudou a estimular a
demanda agregada e a reduzir a maioria das perdas sofridas em decorrnciada crise:
Oempregovoltouacrescerjemfevereirode2009e,aofinaldoano,
o Brasil havia criado um milho de novos postos formais de trabalho.O emprego segue crescendo num ritmo acelerado em 2010, com 2,2milhes (6,7%) de empregos formais criados nos dez primeiros mesesdo ano (em comparao, durante a crise anterior, em 1999, houve uma
perda lquida de quase 200 mil empregos formais).
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Ataxadedesempregonasseismaioresregiesmetropolitanascomeou
a recuar em abril de 2009 e continuou diminuindo fortemente ao longode 2009, atingindo 6,8% em dezembro. Embora a taxa de desempregotenha subido no incio de 2010, uma vez que mais pessoas entraram nomercado de trabalho em busca de emprego j em setembro de 2010 ataxa havia cado para 6,2% bem abaixo do nvel pr-crise, de 7,6% emsetembro de 2008.
Odesempenhomaisfracodaindstriadetransformaofoiemparte
compensado pelo crescimento mais robusto do emprego no setor de ser-
vios, onde o mercado de trabalho praticamente no sentiu o impactoda crise e o emprego sustentou sua trajetria expansiva, quase sem inter-rupo, durante todo o perodo.
Alm disso, o Brasil tambm conseguiu evitar o crescimento do empregoinformal medido por meio do nmero de trabalhadores sem contrato detrabalho. Durante um perodo de crise, os trabalhadores muitas vezes recor-
rem a esse tipo de ocupao para compensar a perda de renda. A experinciamostra que, em geral, difcil reverter essas tendncias aps um perodoprolongado. Todavia, no Brasil, o aumento na taxa de emprego informaldurou pouco tempo e, rapidamente, a informalidade no emprego retomoua tendncia descendente apresentada no perodo pr-crise. Por exemplo,nas seis principais regies metropolitanas, o nmero de empregados semcontrato de trabalho diminuiu em cerca de 280 mil (ou 6,5%) entre agostode 2008 e agosto de 2010.
... devido, em primeiro lugar, as slidas condies iniciais combinadacom uma rpida resposta centrada no emprego...
O ritmo da recuperao e o sucesso em mitigar os efeitos da crise se devema uma srie de fatores:
1.A experincia durante o perodo pr-crise e as condies iniciais: Aps a crise
de 1999, o Brasil fortaleceu seus fundamentos macroeconmicos e conti-
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nuou a aprimorar o seu sistema de proteo social. Em particular, o Brasil
introduziu um novo regime macroeconmico orientado para a reduo davulnerabilidade externa e para a obteno de supervits fiscais. O governotambm estabeleceu em cooperao com atores sociais aumentos reaisno salrio mnimo e racionalizou a prestao de assistncia social. Comoresultado, aps o efeito-contgio da crise, o Governo foi capaz de responderrapidamente por meio da adoo de uma srie de medidas anticclicas e deaperfeioamentos no regime de proteo social existente, iniciativas queforam viabilizadas pela situao fiscal mais robusta.
2.As origens da crise: A crise financeira afetou significativamente o mercadode crdito domstico. O governo reagiu de forma decisiva para restauraros fluxos de crdito no sistema bancrio, seja para as famlias, seja para asempresas. Entre as medidas adotadas, pode-se citar: (i) a reduo da metada taxa de juros em 5 pontos percentuais entre janeiro e setembro de 2009(de 13,75% em janeiro de 2009 para 8,75% em setembro de 2009); (ii)introduo de linhas de crdito para setores-chave da economia, incluindo
pequenas e mdias empresas (PMEs), e aumento da concesso de crditopelas trs instituies financeiras pblicas; e (iii) uma srie de iniciativas doBanco Central para atenuar a volatilidade cambial e assegurar a liquidez emdlares (US$) para empresas, bancos e exportadores.
3. Estmulo da demanda interna em setores intensivos em emprego: O gover-no tambm adotou uma srie de medidas para estimular setores gerado-res de empregos: (i) expanso do Programa de Acelerao do Crescimento
(PAC), sendo a maior parte dos recursos direcionada aos investimentos eminfraestrutura que impulsionaram a criao de empregos. Este programarepresentou mais de 40% do pacote de estmulo; (ii) a criao do programahabitacionalMinha Casa, Minha Vida, que teve como objetivo construir1 milho de novas casas em 2009 e 2010 para estimular o crescimento eo emprego no setor de construo civil, que foi fortemente afetado pelacrise; (iii) reduo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobreautomveis e outros produtos (alguns dos quais se destinavam a promover
o consumo ecolgico).
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4. Estmulo demanda e proteo s amlias mais vulnerveis por meio de
apereioamentos na rede de proteo social: embora relativamente pequenasem comparao com outras medidas, o Brasil introduziu mudanas em duasreas-chave de proteo social, a saber, o programa Bolsa Famlia e o sistemade seguro-desemprego: (i) o Ministrio do Trabalho e Emprego prolongoua durao dos benefcios do seguro-desemprego por dois meses para traba-lhadores cujos setores de atividade econmica foram gravemente afetadospela recesso (como, por exemplo, os setores de minerao e siderurgia);(ii) o governo reiterou seu compromisso com o Bolsa Famlia, aumentan-
do os valores dos benefcios e ampliando o sua cobertura. O custo dessasduas medidas foi de apenas 0,026% do PIB. Ainda assim, a extenso dacobertura do Bolsa Famlia permitiu que 1,3 milho de famlias adicionaisrecebessem os benefcios do programa; e estima-se que 310.000 trabalha-dores puderam receber um apoio adicional na forma de seguro-desemprego.Ademais, embora no seja considerado como parte do pacote de estmulo,o governo manteve os aumentos previstos do salrio mnimo em fevereirode 2009 e janeiro de 2010. Mais de 20% da populao foi beneficiada, uma
vez que o salrio mnimo serve como referncia para o clculo de uma sriede benefcios sociais.
5. Garantir que a oerta responda demanda de incentivos: O Governo asse-gurou que a economia poderia responder s medidas de estmulo e as polti-cas sociais. Em primeiro lugar, o investimento das empresas foi apoiado peladisponibilidade de crdito dos trs bancos pblicos, que entrou em cenanum momento em que os bancos privados estavam receosos em empres-
tar. As polticas de crdito no s facilitaram os investimentos das grandesindstrias, mas tambm das PMEs, devido as linhas de crdito especiais queforam desenvolvidas para este segmento de negcio. Em segundo lugar, umambiente de negcios estvel foi estabelecido atravs de um dilogo socialque deu prioridade a consulta com as empresas e aos dirigentes sindicais naelaborao de polticas, especialmente em matria de reduo de impostos.Terceiro, os mercados de produtos foram os mais sensveis aos novos incen-tivos atravs da reduo de impostos e ao aumento do rendimento dispon-
vel, que permitiu que famlias de baixa e mdia renda pudessem aumentar
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seu poder de compra, ajudando as economias dos pequenos municpios
rurais. Finalmente, no incio da crise, a taxa de cmbio era competitiva, oque ajudou a impulsionar o consumo de bens e servios produzidos inter-namente.
em segundo lugar, uma coerncia entre as polticas laborais e sociais, por umlado, e as polticas macroeconmicas de outro
Um dos ingredientes para o sucesso do Brasil, e um exemplo de como os
pases podem melhorar a concepo das polticas, foi o reconhecimento dainter-relao entre emprego e polticas sociais, por um lado e as polticasmacroeconmicas e o crescimento econmico, por outro. Na verdade, aspolticas bem desenvolvidas podem ter importantes efeitos que se reforammutuamente - como o caso do Brasil, demonstra:
Polticas macroeconmicas com multiplicadores de emprego: A reduo doimposto sobre a produo industrial (IPI) sobre veculos automveis,
devido aos importantes efeitos para frente e para atrs, deu um impor-tante impulso criao e manuteno de emprego. Estima-se que 25milhes de empregos - diretos e indiretos - so dependentes da produode automveis e estima-se que a reduo do IPI pode ter contribudopara a manuteno de 50.000 a 60.000 empregos na economia brasileira.Alm disso, o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) estimaque cada R $ 1,00 gasto em automveis tem um efeito multiplicador deR $ 3,76 no produto. Da mesma forma, um apoio considervel foi dada
ao setor da agricultura, que em 2009 respondia por cerca de 16% da forade trabalho do pas.
Polticas sociais bem concebidas: Uma estimativa preliminar do IPEA mos-tra que o aumento das despesas com as transferncias de renda social - oBolsa Famlia, o Beneficio de Prestao Continuada (BPC) e o RegimeGeral de Previdncia Social (RGPS) - proporcionou importantes efeitosmultiplicadores. Por exemplo, estima-se que o BPC tem um efeito multi-plicador de 2,2 sobre a renda familiar e de 1,4 no PIB. De fato, estima-se
que o reforo das transferncias sociais conduziu a uma injeo de US$30 bilhes na economia e criou (ou salvou) potencialmente 1,3 milhode empregos. Essas medidas no s ajudaram a mitigar o impacto da
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crise sobre os segmentos mais vulnerveis, mas tambm contriburam
para o crescimento da demanda domstica na medida em que acelerou odinamismo das economias locais e seus setores intensivos em emprego.
A principal lio da experincia do Brasil a de que as medidas de proteosocial e as polticas macroeconmicas, se bem desenhadas, podem contribuirpara o crescimento econmico, a criao de emprego e a equidade. Almdisso, para que os programas sejam eficazes, no precisam ser custosos.
No uturo, entretanto, as polticas de emprego poderiam ser ortalecidas...
Mesmo no Brasil, onde a recuperao econmica est em curso, existemreas que podem ser aperfeioadas e uma srie de desafios persistem. Umadas lacunas na resposta crise ocorreu nas polticas de emprego. Dada aimportncia de garantir que os indivduos que perderam o emprego man-tenham contato com o mercado de trabalho e atualizem suas habilidades,mais ateno e recursos poderiam ter sido dedicados intermediao da
mo de obra e formao profissional duas reas que no receberamrecursos adicionais. De forma similar, a prorrogao temporria do seguro-desemprego poderia ter sido mais generalizada, incluindo trabalhadores deoutras reas afetadas pela crise. Alguma ateno deveria ser dada a vriasoutras reas que ainda necessitam de reformas:
Reormulao do seguro-desemprego: necessrio melhorar a cobertura doprograma para que mais trabalhadores tenham proteo contra a perda
do emprego menos de 7% dos desempregados brasileiros receberambenefcios durante a crise; segmentos importantes da fora de trabalho,tais como os trabalhadores domsticos, praticamente no tiveram cober-tura.
Regimes de manuteno do emprego: Como a crise teve uma curta durao,muitas empresas poderiam ter se beneficiado de regimes de manutenode emprego, sobretudo porque as demisses tm um efeito negativo naprodutividade e na moral do trabalhador. Em alguns casos, o dilogo
social foi utilizado para diminuir o nmero de demisses; por exem-plo, com desligamentos temporrios durante as quais os trabalhadoresrealizam cursos de capacitao e recebem seguro-desemprego, ou com
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brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
frias coletivas. Entretanto, na maioria dos casos as indstrias reagiram
s incertezas geradas pela crise demitindo uma expressiva parcela de suafora de trabalho. Nesses casos, polticas como o trabalho compartilhado(work-sharing) quando os empregados aceitam reduzir a carga horria,em alguns casos com compensao do governo pela reduo do salrio poderiam ter sido efetivas em diminuir o nmero de demisses e o pactoeconmico e social do desemprego. Neste aspecto, levando-se em contaa relao custo-benefcio, o programa Kurzarbeit, da Alemanha, pode serconsiderado como um modelo potencial para arranjos de curto prazo no
mercado de trabalho.Maior integrao: De forma mais geral, o Brasil precisa fortalecer outras
polticas de emprego, como a intermediao nesse mercado e a formaoprofissional, e melhorar a integrao desses programas com o sistema deseguro-desemprego. O Brasil possui uma srie de polticas de emprego,algumas vigentes h dcadas, que podem ser aperfeioadas.
De importncia, o Modelo de Vnculos Econmicos Globais (GEL), desen-
volvido no Instituto Internacional de Estudos do Trabalho, demonstra queos investimentos na rea das polticas do mercado de trabalho, tais comoseguro-desemprego, manuteno do emprego, intermediao de mo deobra ou servios pblicos de emprego, tm efeitos positivos e importan-tes no produto, no emprego e nos salrios. Embora esses investimentosexijam gastos no curto prazo, o modelo demonstra que, se essas polticasforem bem desenhadas, os nveis de dvida pblica se recuperam aos valoressimilares ao cenrio de referncia no mdio prazo. Com efeito, ao longo
do tempo, a situao fiscal melhora, devido evoluo do emprego e dossalrios atravs da arrecadao de impostos e menos gastos em benefciostais como seguro-desemprego.
... e a eccia do Servio Pblico de Emprego, Trabalho e Renda aumentou
Para que as polticas e programas voltados para o mercado de trabalhosejam eficazes, importante ter um Servio Pblico de Emprego, Trabalho e
Renda (SPETR) que funcione bem. Uma avaliao recente do SPETR bra-
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sileiro, entretanto, revelou algumas deficincias importantes. Em primeiro
lugar, apenas um pequeno nmero de indivduos que procuram empregoso encaminhados para a intermediao da mo de obra em 2009, apenas2,1% dos trabalhadores desempregados receberam apoio do SINE (SistemaNacional de Emprego) durante a procura por emprego. Em segundo lugar,mesmo para aqueles indivduos que so encaminhados, as taxas de colo-cao pelo SINE so baixas - em torno de 18% dos quase seis milhes detrabalhadores registrados para o perodo 2007-2009.
complementada por melhoriascontnuas para integrar os objetivos econmicos e sociais...
Nas duas ltimas dcadas, o Brasil apresentou um progresso substancialna reduo da pobreza e da desigualdade de renda graas, entre outrosfatores, existncia de um sistema robusto de proteo social. No entanto, apobreza e a desigualdade permanecem elevadas em comparao aos padresinternacionais. A criao de mais empregos formais deve contribuir para a
ampliao da cobertura da proteo social e, assim, para a reduo da desi-gualdade de renda e a pobreza. Melhorar a efetividade e a implementaodas polticas de emprego tambm deve ajudar neste sentido. Entretanto, necessrio avanar na formulao de medidas de proteo social que inclu-am objetivos relacionados ao mercado de trabalho.
Por exemplo, enquanto certamente louvvel que mais de 12 milhes defamlias tenham acesso ao Bolsa Famlia, o fato de que um quarto da popu-
lao seja elegvel para o programa um motivo de preocupao. E, emboraos benefcios sociais e econmicos do programa estejam bem definidos ebem documentados neste relatrio, iniciativas futuras deveriam conside-rar melhores formas de integrar os beneficirios em empregos produtivos,de qualidade e decentes. Maiores investimentos em habilidades bsicas etreinamento vocacional, na intermediao da mo de obra, e maior dispo-nibilidade de creches e servios de assistncia infantil poderiam melhorar oacesso dos trabalhadores e trabalhadoras s novas oportunidades existentes
na fase atual de dinamismo da economia brasileira.
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... enquanto continuar a melhorar o investimento produtivo,o sistema scal e da gesto dos fuxos de capitais
O desafio para o Brasil garantir que a recuperao seja sustentvel e que astaxas de crescimento econmico permanecem fortes a mdio e longo prazo.Embora o Brasil tenha muitos setores de ponta - a exemplo da aeronutica,biotecnologia, indstria automobilstica precisa aumentar as suas taxasde investimento e melhorar a sua infra-estrutura fsica e social, a fim desustentar e desenvolver setores de ponta e afastar-se de sua dependnciadas exportaes de commoditiespara o crescimento econmico. Polticas de
expanso do investimento global, o redesenho do sistema fiscal e asseguraruma taxa de cmbio competitiva seriam benficas para melhorar a compe-titividade do pas e suas perspectivas de desenvolvimento no futuro.
Aumentar a taxa de investimento: Embora o Governo tenha aumentadoseus nveis de investimento nos ltimos anos, os nveis ainda so baixos- aproximadamente 17% do PIB comparativamente desfavorvel como perodo da industrializao por substituio de importaes, alm de
situar-se bem abaixo do nveis dos pases emergentes da sia. Alm disso,o investimento em pesquisa e desenvolvimento apenas 0,5% do PIB.
Reormulao do sistema tributrio: As receitas fiscais no Brasil, cerca de35% do PIB, so comparveis as de alguns pases da OCDE, e bem acimada mdia para a Amrica Latina. Embora isso seja benfico, na medida emque significa que o governo possui recursos para financiar suas despesas,o desenho do sistema tributrio regressivo, sendo que muitos impostosso cobrados sobre a produo e o consumo. Isso problemtico porque
impede o crescimento da demanda interna e acentua o j elevado nvelde desigualdade que existe no pas.
Garantir uma taxa de cmbio competitiva: Antes do colapso do LehmanBrothers, o Real (R$) tinha se tornado excessivamente apreciado, mascom a fuga de capitais no incio da crise, a moeda se desvalorizou emquase 40%. O cenrio positivo de crescimento para o Brasil, juntamentecom a permenncia de uma das taxas de juros mais elevadas do mundo,renovou o fluxo de capitais para o pas, em particular da carteira de
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investimentos de curto prazo. Apesar da alquota de imposto de 2% sobre
entradas de capital, estipulada em outubro de 2009, o Real continouapreciado ao longo de 2009 e 2010, retornando ao seu patamar pr-crise.Trata-se de uma questo problemtica, j que uma moeda sobre-apreciadacompromete a competitividade do pas, prejudicando a indstria nacionale, portanto, a criao de emprego. Mais controles de capital podem sernecessrios ao pas. O Brasil, na condio de membro do G-20, poderiadesempenhar um papel proeminente na defesa da regulao dos fluxosinternacionais de capitais, em benefcio no s da economia brasileira,
mas tambm da economia mundial.
..O dilogo social oi um ator decisivo na recuperao exitosada crise e um ator decisivo para o uturo.
Alguns elementos fundamentais do sucesso brasileiro no contexto da crise,tais como o aumento do salrio mnimo e a prorrogao do seguro-desem-prego, se devem ao dilogo social, o que reafirma a idia de que esse dilogo
pode desempenhar um papel fundamental no alcance dos objetivos sociaise trabalhistas, que se reforam mutuamente. O dilogo social tambm podecontribuir para o aperfeioamento das polticas pblicas e para a construode um consenso em torno de programas de reforma, como evidenciado peloConselho de Desenvolvimento Econmico e Social (CDES).
Em resumo, o Brasil realizou progressos notveis na ltima dcada espe-cialmente no contexto da crise financeira e econmica iniciada em 2008.
Porm, nos prximos anos, o pas pode avanar na direo de um cresci-mento econmico mais inclusivo e igualitrio.
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Captulo 1
dEsEmpEnho EConmiCo E do mErCado dE trabalho
introduo
No fim de 2010, a crise financeira e econmica global que teve incio hmais de dois anos no mercado norte-americano de hipotecas subprime continuava a perturbar os mercados ao redor do mundo. No auge da crise,
em 2009, o PIB mundial recuou quase 3% e dezenas de milhes de empre-gos foram perdidos, ameaando o progresso social e econmico em vriasreas. Contudo, nem todos os pases foram afetados da mesma maneira oucom a mesma intensidade. A economia mundial voltou a registrar taxaspositivas de crescimento no segundo semestre de 2009, mas o ritmo darecuperao, especialmente em relao ao mercado de trabalho, tem variadoconsideravelmente.
O Brasil, apesar de no ter ficado imune aos efeitos da crise, apresentouum bom desempenho em comparao a vrios pases mesmo na AmericaLatina em termos da atividade econmica e do mercado de trabalho. Oobjetivo deste captulo analisar a trajetria econmica, social e do mercadode trabalho no Brasil no perodo anterior e posterior crise, que atingiucom fora a economia brasileira no ltimo trimestre de 2008.
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Captulo 1 Desempenho econmico e do mercado de trabalho
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a trajEtria maCroEConmiCa E mECanismos
dE transmisso da CrisE
O Brasil no cou imune crise a demanda externa recuoue o crdito domstico soreu orte contrao...
Dado que a ecloso da crise financeira e econmica teve origem com a falnciado Banco Lehman Brothers e a quase falncia de outras instituies financei-ras em pases desenvolvidos, notadamente nos Estados Unidos, a difuso da
crise para as economias emergentes e em desenvolvimento foi inicialmentepequena. No entanto, a crise logo se espraiou por meio de canais financeiros,comerciais e de investimentos, levando a uma depreciao significativa da con-fiana geral no sistema global embora em graus variados (Quadro 1.1).1
q 1.1 C e ce b
Os pases latino-americanos foram afetados de diversas formas pela crise. O nvel de inte-grao destes pases com os Estados Unidos, onde a crise se originou, teve um papel-chave.Pases, como o Mxico, foram atingidos primeiramente, em razo de sua estreita relaocomercial com os Estados Unidos, bem como em conseqncia do declnio de remessasrealizadas por trabalhadores migrantes provenientes do Mxico, que foram afetados coma perda de empregos nos Estados Unidos.
O Brasil foi atingido, sobretudo, mediante trs canais. Em primeiro lugar, o colapso nademanda externa e a queda dos preos das commodities levaram a uma reduo signifi-cativa no valor das exportaes. Em segundo lugar, a contrao do crdito global resultou
na retrao das linhas de crdito externas (inclusive as destinadas ao comrcio exterior)e na sada de investimentos estrangeiros de portflio. Em terceiro lugar, a queda acentu-ada da oferta interna de crdito em decorrncia da situao de elevada averso ao riscoe preferncia pela liquidez no sistema bancrio que se seguiu divulgao dos prejuzosfinanceiros de aproximadamente 220 empresas brasileiras nos mercados de derivativos decmbio provocados pela desvalorizao abrupta do Real.
De fato, entre agosto e dezembro de 2008, o real desvalorizou cerca de 48 por cento emrelao ao dlar. Contudo, com a rpida recuperao da economia brasileira e as taxas de
juros extraordinariamente baixas nas economias avanadas, o real se apreciou em relao ao
dlar ao longo de 2009 e, desde ento, tem permanecido estvel em nveis pr-crise (graas imposio de taxas sobre a entrada de investimentos estrangeiros de portflio).
Fontes: Escritrio da OIT no Brasil; Nissanke (2009); Prates and Cintra (2010).
1 IILS (2009)
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O Brasil, como a maioria dos pases, experimentou um declnio significa-
tivo no produto interno, mas que teve curta durao (de apenas dois tri-mestres, na comparao com o trimestre anterior). Como mostra o Grfico1.1, no final de 2007, o PIB j havia comeado a desacelerar nas economiasavanadas, passando a ser negativo no final de 2008 e atingindo seu valormais baixo no primeiro trimestre de 2009, quando o PIB caiu mais de4,5% em relao ao mesmo trimestre do ano anterior. A desacelerao daatividade econmica, no entanto, foi relativamente tardia no Brasil e naAmerica Latina (e em outras economias emergentes), onde o crescimento
do PIB manteve-se em trajetria ascendente at o ltimo trimestre de 2008.No entanto, no Brasil o impacto relativo no PIB foi bastante severo, como crescimento recuando de uma taxa anual de quase 7% para cerca de -2%em apenas dois trimestres (tambm na comparao com o mesmo perododo ano anterior).
...mas a queda na produo oi comparativamente pequena e de curta durao.
No quarto trimestre de 2009, o crescimento do PIB j havia retornado aopatamar de 4,4% no Brasil, aumentando para quase 9% no primeiro tri-mestre de 2010. Para 2010, espera-se que o crescimento do PIB atinja 7,5%ao ano, superando os nveis pr-crise.2 Em termos comparativos, a queda foimais severa tanto na America Latina como nas economias avanadas:
ArecessonaAmricaLatinafoimaisprofunda,comavariaodoPIB
recuando para cerca de -3,0% entre o primeiro e o terceiro trimestres
de 2009. A recuperao foi tambm um pouco mais modesta, com umcrescimento do PIB de 1,2% ao final de 2009;
Aseconomiasavanadaspermaneceramemrecessodurantetodooano
de 2009, atingindo taxas de crescimento positiva apenas nos trs primei-ros meses de 2010 embora em um ritmo moderado.
Nas economias emergentes, embora a taxa de crescimento tenha comea-
do a desacelerar no inicio do primeiro trimestre de 2008, ela permaneceupositiva ao longo do perodo de crise e j havia comeado a acelerar noincio de 2009.
2 IMF (2010a)
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gc 1.1 Cece pib, x e e, 20072010( ece e e e e e)
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T22009
T32009
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T12010
T22010
T32010
Economias avanadas
Economias emergentesAmrica Latina
Mundo
Brasil
Fonte: FMI (2010a).
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No entanto, a produo industrial oi atingida ortemente
compensada por ganhos contnuos no setor de servios.No Brasil, entre os diferentes componentes do PIB, as importaes, expor-taes e os investimentos foram os que experimentaram uma queda maisacentuada cerca de 15% no primeiro trimestre de 2009 frente ao mesmoperodo do ano anterior (Grfico 1.2, grfico A). O consumo privado epblico que representa mais de 80% do PIB se manteve relativamenteestvel durante o perodo de crise. Em termos do desempenho setorial,as restries no crdito interno atingiram em primeiro lugar e de forma
mais grave a produo industrial, com impactos especialmente significativosnos setores dependentes de crdito, como bens de consumo durveis. Nacomparao com o ano anterior, a produo industrial recuou moderada-mente no ltimo trimestre de 2008 (3%), mas a intensidade da queda seintensificou e a produo caiu mais de 10% nos trs primeiros trimestresde 2009 (Grfico 1.2, grfico B). A atividade agrcola e pecuria tambmse retraiu numa intensidade semelhante, porm o declnio foi mais gradual.Em contrapartida, o setor de servios que representa em torno de 59% do
PIB manteve seu ritmo de expanso durante o perodo de crise.
Os investimentos e a atividade comercial se recuperaram fortemen-te em 2010: investimentos e importaes cresceram mais de 25 e 40%,
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T22008
T32008
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T22009
T32009
T42009
T12010
T22010
T32010
Investimento
Importao
Consumo do governo
Exportao
Agricultura e pecuria Indstria Servios
Consumo Privado
Fonte: Banco Central do Brasil, Sistema Gerenciador de Sries Temporais (SGS).Os dados so ajustados de forma sazonal.
17
respectivamente, no primeiro trimestre do ano, aproximando ou supe-
rando os nveis pr-crise. Com a recuperao da demanda externa edomstica (notadamente desta ltima), o setor industrial voltou a cres-cer no final de 2009, atingindo um crescimento de mais de 5% no pri-meiro trimestre de 2010 frente ao mesmo trimestre do ano anterior.
gc 1.2 E pib e c e e e, t2 2008t2 2010pe a. pib e c e(1995=100)
pe b: pib e c e ( ece e e e ee e)
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b dEsEmpEnho do mErCado dE trabalho
O impacto sobre o emprego variou signicativamentepara uma mesma queda na produo...
O impacto da crise financeira e econmica mundial sobre o emprego variousignificativamente tanto nas economias avanadas como nas emergentes(Grfico 1.3). Entre as economias avanadas do G20 e da Unio Europia,as de melhor desempenho (em relao mediana) foram Austrlia, Canad
e Coria do Sul.3 As economias atingidas que sofreram maior queda no PIBforam Irlanda, Japo e Luxemburgo, com a Irlanda e Espanha sofrendo asconseqncias mais graves em termos de perdas de emprego.4 Entre os pa-ses emergentes do G20 e da Unio Europia, Argentina, Brasil, Indonsia eTurquia tm se sado relativamente bem em termos de queda no emprego eno PIB (a China teve um desempenho excepcional em relao ao PIB). Emcontraste, Estnia, Letnia e Litunia foram os mais afetados em termos decrescimento do PIB e de perdas de emprego.
... mas na srie com ajuste sazonal,o Brasil registrou a menor reduo de postos de trabalho...
Na Amrica Latina, o impacto da crise sobre o emprego tambm variouconsideravelmente, com o Equador, Jamaica e a Repblica Bolivariana daVenezuela incorrendo em perdas de emprego de 5% ou mais (Grfico 1.4).Em outros pases, como Argentina, Brasil e Colmbia, essas perdas foram
menos graves, de 2% ou menos, na srie com ajuste sazonal. De fato, dentreos pases com informaes disponveis, o Brasil registrou a menor perdapercentual de emprego (0.7%).5
3 Altas ou baixas variaes da taxa de crescimento ou perdas de emprego foram analisadas a partir dasmudanas nas medianas. Tambm importante salientar que os pases em destaque so comparados apenascom outros pases do mesmo grupo.4 Durante o ano de 2010, pases como a Grcia, Irlanda, Portugal e Espanha tambm esto enfrentandouma srie de desafios fiscais, como as presses para controlar o aumento dos gastos do governo.5 Os dados do Brasil referem-se s seis maiores reas metropolitanas (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife,Rio de Janeiro, Salvador e So Paulo), que respondem por cerca de 25% da fora de trabalho do pas.
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EU27
Dinamarca
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Austrlia
Blgica
China
Eslovquia
Itlia
Canad
Portugal
Espanha
Frana
Japo
Sucia
Finlndia
Alemanha
Holanda
Estados Unidos
frica do Sul
Repblica da Coria
Irlanda
Letnia
Reino Unido
ustria
m: -3.4%
m:-0.9%
EstniaLitunia
Eslovnia
Hungria
Romnia
Rep. ChecaMxico
Rssia
Chipre
MaltaPolnia
Argentina
Turquia
BrasilIndonsia
pe b. pe eeee g20 e u E
m: -2.8%
m:-0.5%
19
gc 1.3 ve ece pib e e eee ee e eee 2008 e e ee e 2010pe a. pe g20 e u E
Nota: A distino entre economias avanadas e emergentes do G20 baseada no clculo do PIB per capitamediano no perodo. A comparao entre pases no mesmo grupo feita em relao mediana do grupo.Fontes: Estimativas do IILS baseadas em dados da OCDE (2009); base de dados Eurostat; OIT, base de dadosLaborsta; e FMI, base de dados IFS.
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-2
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-4
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-7Brasil Argentina Colmbia Chile Mxico Peru Trinidade
& TobagoEcuador Jama ica Venezuela
-0.7-1.2
-1.5
-2.2
-2.7 -3.0
-4.5
-5.1-5.4
-6.4
grfico 1.4 v ece e e ee c (-ce) e (-ce),
Nota: Os dados da Argentina, Brasil, Equador e Peru referem-se a perdas de emprego em reas urbanas oumetropolitanas como uma parcela dos empregos nestas reas. Os dados so ajustados de forma sazonal.Fonte: Estimativas do IILS originadas na base de dados Laborstat da OIT.
Captulo 1 Desempenho econmico e do mercado de trabalho
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... com o emprego atingindo nveis pr-crise j no nal de 2009.
Para dimensionar as perdas de emprego no Brasil, existem basicamente duas
fontes de informao que monitoram a evoluo do mercado de trabalho:a primeira o levantamento domiciliar das reas urbanas realizado peloInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), e a segunda o bancode dados compilado pelo Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), quedocumenta informaes mensais sobre a criao e eliminao de postos detrabalho formais (CAGED). Em termos de perdas de emprego em sriessem ajuste sazonal as duas pesquisas revelam que:
Duranteosmesesdenovembroedezembrode2008,aproximadamente700.000 empregos formais foram perdidos, segundo dados do CAGED.Embora no final do ano as perdas de emprego so geralmente maioresdevido ao fim do perodo de colheita, as perdas de 2008 durante estesmeses foram 3,6 vezes superiores s registradas no mesmo perodo do anoanterior.
EntreasseisregiesmetropolitanasdoBrasilpesquisadaspelaPesquisa
Mensal de Emprego (PME), 594.000 postos de trabalho (ou 2,8% do
total de empregos) foram perdidos entre dezembro de 2008 e abril de2009 (Grfico 1.5).
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grfico 1.5 Ee e e b, 20082010(e e e z, 000)
Nota: Os dados se referem s seis principais reas metropolitanas.Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
22 500
22 000
21 500
21 000
20 500
20 000
19 500JanFeb
Mar
Abr
MayJunJul
AugSepOct
Nov
Dec JanFev
Mar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
Dez JanFevmar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
2008 20102009
Pico Pr-crise atingido
21
Embora a reduo de postos de trabalho tenha sido significativa, o emprego
voltou a crescer rapidamente nas seis regies metropolitanas (ver Grfico1.5) a partir da segunda metade de 2009, superando o pico pr-crise emnovembro de 2009. Em janeiro de 2010, houve uma queda marginal tpica dessa poca do ano mas desde ento o nmero de empregos reto-mou sua trajetria expansiva. Com efeito, a partir de novembro de 2010,o emprego atingiu um patamar 3,9% superior ao do seu pico no perodopr-crise (em outubro de 2008), com mais de 1,5 milho de novos postosde trabalho (quase 7%) criados entre fevereiro de 2009 e novembro de 2010
em reas urbanas. De acordo com dados do CAGED, a variao lquida depostos de trabalho tambm se tornou positiva em fevereiro de 2009, comtrs milhes de empregos criados em todo o pas at novembro de 2010.
A taxa de desemprego tambm caiu, na medida em que mais trabalhadoresreentraram na ora de trabalho luz das melhores perspectivas...
Tendncias semelhantes so evidenciadas em relao taxa de desempre-
go, que comeou a aumentar no final de 2008. Nas seis principais regies
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grfico 1.6 tx e eee e e x e c ee ee, 20082010
Nota: Os dados se referem s seis principais reas metropolitanas.Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
10
8
6
4
2
0
0.8
0.6
0.4
0.2
0
-0.2
-0.4
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-0.8
-1.0
-1.2
Mar
Abr
MayJunJul
AugSepOct
Nov
Dec JanFev
Mar
Abr
MaiJunJul
Ago Set
Out
Nov
Dez JanFevmar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
2008 20102009
25 anos de idade ou mais (eixo esquerdo, ponto percentual)
Idade entre 15 a 24 anos (eixo direito, percentuais)
Captulo 1 Desempenho econmico e do mercado de trabalho
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metropolitanas, essa taxa aumentou de 6,8% em dezembro de 2008 (o nvel
mais baixo anterior crise) para 9,0% em maro de 2009 (Grfico 1.6). Noentanto, a taxa de desemprego diminuiu constantemente ao longo de 2009,atingindo o nvel pr-crise (de 6,8%) em dezembro de 2009. Parte destaqueda ocorreu em razo da diminuio das taxas de participao. No inciode 2010, no entanto, embora o emprego continuasse expandindo, a taxade desemprego comeou a subir marginalmente na medida em que maispessoas entraram no mercado de trabalho procura de emprego. Assim, ataxa subiu at alcanar 7,4% em maio de 2010 ainda bem abaixo do pico
de 9% registrado durante a crise. Em novembro de 2010, a taxa havia cadopara 6,7%, percentual inferior ao nvel mais baixo anterior crise.
No que diz respeito ao impacto setorial sobre o emprego, os efeitos so emgrande medida semelhantes aos observados no caso do PIB. As perdas noemprego se concentraram predominantemente no setor industrial: nas seisreas metropolitanas, cerca de 117.000 postos de trabalho industriais forameliminados apenas entre janeiro e fevereiro de 2009. No setor de servios, o
nvel de emprego ficou relativamente inalterado e continuou a crescer de
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fato, o desempenho mais fraco na indstria foi em parte compensado pelo
crescimento mais forte do emprego nos servios (ver tambm Captulo 3).
E como a populao masculina predomina no mercado de trabalho do setorsecundrio da economia, especialmente na indstria, o nvel de empregopara este grupo caiu abruptamente em janeiro e fevereiro de 2009. Comoo emprego industrial permaneceu deprimido na primeira metade de 2009,o emprego nesse grupo seguiu o mesmo caminho. Ambos comearam ase recuperar lentamente no segundo semestre de 2009 e, apesar de perdas
sazonais de postos de trabalho em dezembro de 2009, o emprego entre oshomens continuou a crescer ao longo de 2010, alcanando os nveis pr-criseno segundo trimestre. O emprego entre as mulheres comeou a cair maiscedo provavelmente devido ao fato de que, no Brasil, elas esto sobre-representadas em empregos precrios. No entanto, o nvel de emprego serecuperou rapidamente para as mulheres j no segundo trimestre de 2009o crescimento do trabalho entre as mulheres foi positivo, atingindo nveispr-crise em agosto daquele ano seis meses antes do que para os homens.
... mas os jovens continuam a ter diculdades.
Nas principais reas metropolitanas, adultos (25 ou mais anos de idade) ejovens (entre 15 e 24 anos de idade) experimentaram perdas de empregosao final de 2008 e incio de 2009, mas a magnitude da reduo foi particu-larmente acentuada entre os jovens. Com efeito, o emprego entre os jovensrecuou 300.000, cifra que representa metade da perda total de empregos
neste perodo. Embora o emprego entre adultos tenha se recuperado entreo segundo semestre de 2009 e o primeiro semestre de 2010, o emprego paratrabalhadores de 15 a 24 anos voltou a cair no incio de 2010 e ainda noretornou aos patamares pr-crise (ver Grfico 1.7). Em agosto de 2010, ataxa de desemprego entre os jovens no Brasil (16,3%) era 3,5 vezes maiorque taxa de desemprego entre os adultos de 25 a 54 anos. As evidnciasempricas das crises financeiras passadas sugerem que a taxa de desempre-go entre jovens tende a subir significativamente e permanecer elevada por
alguns anos aps uma crise.6 Por exemplo, entre os pases onde as taxas dedesemprego entre os jovens retornaram para nveis pr-crise, o tempo mdiopara essa recuperao foi de 11 anos.7 Em outro grupo de pases em que um
6 Ha et al (2010).7 Ver IILS (2010).
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grfico 1.7 ne e ee e, 20082010(e)
Nota: Os dados se referem s seis principais reas metropolitanas.Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
3 800
3 700
3 600
3 500
3 400
3 300
19 000
18 500
18 000
17 500
17 000
16 500JanFeb
Mar
Abr
MayJunJul
AugSepOct
Nov
Dec JanFev
Mar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
Dez JanFevmar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
2008 20102009
25 anos ou mais ( eixo direito)15 a 24 anos (eixo esquerdo)
Captulo 1 Desempenho econmico e do mercado de trabalho
brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
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patamar mais elevado, mas inferior ao vigente antes da crise, foi atingido,esse tempo mdio foi de 17 anos.
Apesar de um aumento modesto durante a crise,o emprego inormal continuou em declnio
Na maioria dos pases em desenvolvimento, o emprego informal tem uma
participao relevante no mercado de trabalho.8 No Brasil, o empregoinformal abrange (i) os trabalhadores assalariados sem carteira de trabalhoassinada e (ii) os trabalhadores autnomos (que no contribuem para aprevidncia social).9 Contudo, a participao dos trabalhadores informais aqueles sem carteira de trabalho assinada e os trabalhadores autnomos tem diminudo nos ltimos anos, tendncia que teve continuidade apso efeito-contgio da crise, principalmente no primeiro semestre de 2009,
8 O emprego informal definido pela OIT como englobando aqueles trabalhadores que no so reconheci-dos nos termos da lei, ou que esto empregados informalmente tanto em empresas informais como formaise que, portanto, no recebem proteo legal ou social e no tm condies de garantir o cumprimento dosseus contratos. Ver OIT (2002).9 Os empregados no Brasil devem possuir uma carteira de trabalho assinada, que garante aos trabalhadoresacesso a protees trabalhistas formais. Para os objetivos da anlise da Figura 1.8, entretanto, o empregoautnomo tratado como informal dado que apenas cerca de 15% dos trabalhadores autnomos contri-buem para a previdncia social.
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grfico 1.8 Ee c ce ee , 20082010(ece)
Nota: Os dados se referem s seis principais reas metropolitanas.Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
20.5
20.0
19.5
19.0
18.5
18.0
17.5
17.0JanFev
Mar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
Dez JanFev
Mar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
Dez JanFev
Mar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
2008 20102009
Assalariados sem registroConta prpria
25
como mostra o Grfico 1.8. Nos dois grupos de trabalhadores, essa partici-pao aumentou no segundo semestre de 2009, mas desde ento retomousua trajetria descendente.
e os salrios reais tem crescido, apoiadosem parte pelo aumento no salrio mnimo...
A existncia de um salrio mnimo teve implicaes importantes para oBrasil no perodo de crise. Em particular, o salrio mnimo tem um impactosignificativo no caso dos trabalhadores assalariados, especialmente os maisvulnerveis, com limitado poder de negociao. Ademais, o salrio mnimopode ser uma ferramenta til para impulsionar a demanda domstica naeconomia brasileira (ver Captulos 3 e 4). Isso ocorre porque esse salriodefine o nvel de remunerao do emprego assalariado formal nos setoresprivado e pblico, mas tambm influencia o rendimento dos trabalhadores
informais, pois as negociaes freqentemente o utilizam como refern-cia. Alm disso, o salrio mnimo no Brasil tambm serve como refernciapara uma srie de polticas de seguridade social, incluindo aposentadoriase seguro-desemprego (ver Captulo 4).
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grfico 1.9 E e e, 20082010(r$ )
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
1 600
1 500
1 400
1 300
1 200
1 100
1 000JanFeb
Mar
Abr
MayJunJul
AugSepOct
Nov
Dec JanFev
Mar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
Dez JanFev
Mar
Abr
MaiJunJul
AgoSet
Out
Nov
2008 20102009
Salrios ReaisSalrios Nominais
1990 1995 2001 2005 2009
0.62
0.60
0.58
0.56
0.54
0.52
0.50
12% nominalaumento do
salrio mnimo
9.7% nominalaumento do
salrio mnimo
grfico1.10dee b, 19902009(e e ce e g)
Fonte: Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA).
Captulo 1 Desempenho econmico e do mercado de trabalho
brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
26
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27
Antes da crise, em 2006, uma deciso foi tomada pelo governo brasileiro
em consulta com parceiros sociais que especificou as datas e a frmulapara o aumento real do salrio mnimo de abril de 2007 a 2011. Como ilus-tra o Grfico 1.9, esse mtodo tem contribudo para sustentar o crescimentogeral dos salrios no Brasil: a mdia dos salrios nominais e reais subiuao longo de 2009 e incio de 2010. importante ressaltar que durante acrise os aumentos programados foram mantidos, com o primeiro aumentonominal em fevereiro de 2009, de 12% (6% em termos reais), elevandoo salrio mnimo para R$465 (US$234) por ms. Em janeiro de 2010, o
salrio mnimo foi elevado em 9,7% (5,7% em termos reais), para R$510(US$283) por ms.
...que tem acompanhado as melhorias na distribuio de renda.
Ao mesmo tempo, a desigualdade de renda medida pelo ndice de Gini continuou a cair (Grfico 1.10). De fato, a desigualdade de renda temregistrado uma tendncia descendente desde 1990, com um declnio espe-
cialmente maior na ltima dcada: entre 2001 e 2009, o Gini recuou de0.60 para 0.54. Em comparao, o ndice caiu apenas marginalmente nadcada anterior. Mais importante ainda, a desigualdade de renda sustentousua trajetria descendente durante a crise.
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Captulo 1 Desempenho econmico e do mercado de trabalho
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C ConClusEs
Com o aprofundamento da crise financeira e econmica global no segundosemestre de 2008, a maioria dos pases ou regies incluindo o Brasil e aAmrica Latina foram atingidos pelos seus efeitos. No entanto, as primei-ras indicaes so de que o Brasil respondeu relativamente bem ao choqueadverso da contrao da liquidez internacional e da recesso mundial. Oimpacto sobre o crescimento e o emprego, embora substancial, foi relati-
vamente baixo e breve.
A partir do primeiro trimestre de 2010, o crescimento econmico retornoua nveis pr-crise. A expanso do emprego liderou a recuperao, com onmero de postos de trabalho nas seis regies metropolitanas ultrapassandoo pico pr-crise j em novembro de 2009. A taxa de desemprego subiu noincio de 2010, principalmente devido entrada de mais trabalhadores nomercado de trabalho em busca de emprego, mas desde ento as taxas recu-
aram para patamares inferiores aos vigentes antes do contgio da crise.
O desempenho bem sucedido da atividade econmica e do mercado detrabalho tem sido acompanhado por melhorias gerais nas condies sociais.Pobreza e desigualdade de renda embora ainda altas seguiram em quedano perodo de crise. Alm disso, os salrios reais continuaram a crescer ea taxa de informalidade a cair. Grande parte do sucesso conseqncia deprogramas j existentes, mas tambm dos esforos do governo para atenuar
os efeitos da crise. O Captulo 2 apresenta uma breve descrio e avaliaoglobal da resposta do Brasil crise financeira e econmica mundial, e oscaptulos subseqentes examinam o papel do conjunto de instrumentos depoltica, incluindo as polticas de emprego e sociais, para atenuar o impactoda crise, bem como os principais determinantes do seu sucesso.
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rEfErnCias
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Captulo 1 Desempenho econmico e do mercado de trabalho
brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
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31
Captulo 2
a rEsposta do brasil CrisE
introduo
O Brasil foi severamente afetado pela crise financeira e econmica mundial apartir de setembro de 2008, quando ela assumiu dimenses sistmicas (apsa falncia do banco Lehman Brothers), mas o seu impacto adverso sobre a
produo e o emprego domsticos foi de curta durao, como destacado noCaptulo 1. O Brasil revelou uma capacidade indita de resistncia crise,em contraste com as experincias passadas. Ademais, a resposta brasileiradocumentada neste captulo mostra como diferentes polticas pblicas, taiscomo as polticas monetria, creditcia, cambial, fiscal, trabalhista e social,podem se complementar e reforar umas s outras, caso sejam formuladase adotadas efetivamente. Embora o pacote de estmulo fiscal de 1,2% doPIB esteja entre os mais baixos entre os pases do G20, ele foi eficaz porque
foi executado paralelamente com uma expanso significativa do crdito,canalizada por meio do sistema bancrio pblico do pas, e com um rela-xamento da poltica monetria. Estas medidas foram complementadas porisenes fiscais para apoiar a atividade empresarial e melhorias em progra-mas de seguridade social, o que, juntamente com o crescimento dos salrios,impulsionou a demanda interna.
Este captulo apresenta de forma detalhada as diversas polticas implemen-
tadas. Inicia-se (seo A) com uma breve discusso sobre as diferenas entreesta crise e as crises passadas. A seo B traa um panorama das polticasmonetria, creditcia e cambial, enquanto a Seo C examina o pacote deestmulos fiscais introduzido no incio de 2009, incluindo uma compara-o com outros pases do G20. Assim, poder-se- analisar detalhadamentecomo polticas pblicas bem elaboradas e direcionadas ao emprego, em con-junto com medidas de proteo social, podem apresentar benefcios que sereforam mutuamente, ao mesmo tempo em que estimulam o desempenho
empresarial e o crescimento (objetivo dos Captulos 3 e 4, respectivamen-te). Alm disso, a seo D documentar o papel do dilogo social comomecanismo de apoio para responder crise. A ltima seo decida-se sconcluses, com uma srie de consideraes sobre as polticas pblicas.
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grfico 2.1 d exe c e ee ec, 19972010(us$ e)
Fonte: Banco Central do Brasil, Sistema Gerenciador de Sries Temporais (SGS).
270 000
220 000
170 000
120 000
70 000
20 000
-30 000
-80 000
-130 000T4
1997T4
1998T4
1999T4
2000T4
2001T4
2002T4
2003T4
2004T4
2005T4
2006T4
2007T4
2008T4
2009T1
2010
RI-DEP
Reservas Internacionais (RI)
Dvida Externa Pblica (DEP)
Captulo 2 A resposta do Brasil crise32
brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
a por quE Esta CrisE foi difErEntE
O impacto da crise financeira internacional e a resposta brasileira repre-sentam em diversos aspectos um rompimento com o passado. Se o choqueexterno tivesse ocorrido entre 1994-2002, o efeito negativo na produoe no emprego teria sido muito mais forte. O aumento da capacidade deresistncia da economia brasileira s turbulncias externas decorreu, emparte, da melhora nos fundamentos macroeconmicos, particularmente,
da reduo da vulnerabilidade externa do setor pblico associada tanto aoaumento das reservas internacionais, como queda da dvida externa pbli-ca, que tornaram o governo brasileiro credor em moeda estrangeira a partirde janeiro de 2006. Depois desta data, os nveis de endividamento manti-veram-se estveis, mas como a acumulao de reservas acelerou, a posiocredora continuou aumentando at o incio da crise (Grfico 2.1).
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grfico 2.2 se c ece pib, 19982010(x c e 12 ee)
Fonte: Banco Central do Brasil, Sistema Gerenciador de Sries Temporais (SGS).
5
4
3
2
1
0
-1
-2
T11998
T31998
T11999
T31999
T12000
T32000
T12001
T32001
T12002
T32002
T12003
T32003
T12004
T32004
T12005
T32005
T12006
T32006
T12007
T32007
T12008
T32008
T12009
T32009
T12010
33
Uma segunda condio favorvel foi o supervit primrio significativo nascontas fiscais do pas. Conforme mostra o Grfico 2.2, o oramento prim-rio registra supervit desde 1999 (entre 3 e 4% do PIB at 2008), quandoo governo comeou a perseguir uma meta especfica para este indicador. Ameta aumentou sucessivamente entre 1999 e 2007 (3,1% em 1999, 3,4%em 2000 e 2001, 3,88% em 2002 e 4,25% de 2003 a 2007). Em 2008 foi
reduzida para 3,8% em funo do lanamento do Programa de Aceleraodo Crescimento (PAC). Em 2009, em resposta ao estmulo fiscal e quedanas receitas fiscais devido ao menor nvel de atividade, o governo reduziu ameta de supervit primrio do setor pblico para 2,5%. Para 2010, a metafoi fixada em 3,3%.
Em contraste, durante a crise anterior (a crise cambial de 1998/1999),a situao macroeconmica do Brasil era frgil, interna e externamente.
Em 1998 o Governo era devedor em moeda estrangeira e tinha um dficitprimrio interno de cerca de 1% do PIB. Assim, quando ocorreram os ata-
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Captulo 2 A resposta do Brasil crise34
brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
ques especulativos contra a moeda brasileira no segundo semestre de 1998
(que resultou na desvalorizao cambial de janeiro de 1999), o Governorecorreu a um emprstimo do FMI. O emprstimo, contudo, exigia comocontrapartida a adoo de polticas monetrias e fiscais pr-cclicas (ouseja, restritivas) que reforaram, em vez de atenuarem, o impacto negativoda crise cambial.
Durante a recente crise, no entanto, Governo brasileiro foi capaz de lidarcom o efeito-contgio, sem a necessidade de recorrer aos emprstimos do
FMI e, assim, de se submeter s condicionalidades subjacentes. Como resul-tado, o Governo teve um maior grau de liberdade para adotar polticasanticclicas, destinadas a mitigar os impactos negativos da crise, ao invs deinstituir polticas de austeridade, ou seja, pr-cclicas. A melhora das con-dies macroeconmicas no apenas conteve o impacto do choque externo,mas tambm abriu espao para a implementao de polticas de estimulo atividade econmica.
Alm disso, no momento de contgio da crise recente, o Brasil possua umarede de seguridade social muito mais desenvolvida. Novos programas deassistncia social e uma expanso, ao longo da ltima dcada, dos progra-mas j existentes de aposentadoria e assistncia (discutidos no Captulo 4)aumentaram a capacidade de resistncia das famlias crise e permitiramque o Governo a um pequeno custo adicional expandisse os benefciossociais, o que se revelou um instrumento poltico eficaz para impulsionar oconsumo e a demanda agregada na economia.
O Governo tinha condies de financiar gastos adicionais com proteosocial e outras medidas do pacote de estmulo fiscal exatamente devido asua melhor posio fiscal, em grande medida resultado do esforo em alcan-ar um supervit primrio aps a crise cambial de 1999. Aps essa crise,o governo adotou um novo regime macroeconmico, ancorado em trspilares: a poltica de cmbio flutuante com intervenes (dirty loat), a pol-tica monetria de metas de inflao e a perseguio de metas de supervit
primrio nas contas fiscais. Esse novo regime, ao lado do forte crescimentoeconmico mundial entre 2003 e 2007 (caracterizado pela abundncia de
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liquidez internacional e pelas condies comerciais favorveis), contribuiu
para a melhora da situao macroeconmica do Brasil. Assim, os fluxosde capitais e o supervit da balana comercial (resultado, sobretudo, docrescimento do comrcio com a China e dos altos preos das commodities)possibilitaram a reduo da dvida pblica externa e o acmulo de reservasinternacionais, aumentando a capacidade do pas de resistir e responder achoques externos.
O maior grau de liberdade na gesto das polticas macroeconmicas tam-
bm est relacionado a duas outras dimenses da crise recente: primeiro, aorigem da crise atual, nos Estados Unidos; segundo, a adoo de polticasanticclicas pelos governos das economias avanadas. Nas crises anteriores,um dos objetivos da adoo de polticas pr-cclicas pelos pases em desen-volvimento era a recuperao da credibilidade dos investidores estrangeiros,uma condio considerada necessria para a retomada dos fluxos de capitaisexternos.10 Devido natureza sistmica da crise atual, os governos de pasesemergentes estavam cientes de que as polticas pr-cclicas no seriam efica-
zes em atrair esses fluxos, devido ao virtual colapso do mercado financeirointernacional. E, uma vez que as economias avanadas, epicentro da crise,haviam adotado polticas anticclicas, estas ganharam maior aceitao entrea ortodoxia econmica. Desta forma, embora sujeito a um choque externo,que tambm afetou as demais economias emergentes, o Brasil foi capaz deadotar uma postura mais proativa.
10 Ocampo (2000).
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Captulo 2 A resposta do Brasil crise36
brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
b poltiCas monEtria, CrditCia E Cambial
No caso da economia brasileira, o efeito-contgio da crise a partir de setem-bro de 2008 foi especialmente intenso no mercado de crdito domstico,que sofreu uma forte contrao. Dada a incerteza em relao ao impactoda crise nas condies financeiras dos devedores e das instituies finan-ceiras de menor porte, os bancos cortaram o crdito no somente para ascorporaes e famlias, mas tambm no mercado interbancrio. O Governorespondeu com uma srie de iniciativas para restaurar a liquidez na eco-
nomia, incluindo instrumentos de poltica monetria, creditcia e cambial.O Banco Central do Brasil (BCB) adotou, prontamente, medidas pararesolver a situao de empoamento de liquidez nesse mercado (decorrentedas incertezas relacionadas aos prejuzos financeiros de vrias empresas emoperaes com derivativos cambiais aps a desvalorizao do real do Real- R$), dentre outras:
Em24desetembrode2008,oBCBdecidiuprorrogaroprazodeimple-
mentao do aumento do percentual de depsito compulsrio das empre-sas de leasing. De acordo com o cronograma estabelecido pelo BCB emjaneiro de 2008, esse percentual passaria de 15 para 20% em novembroe para 25% em janeiro de 2009. Estas mudanas foram adiadas parajaneiro e maro de 2009, respectivamente. Em 12 de outubro de 2008, oBCB tambm estabeleceu que as empresas de leasing poderiam deduzirdo recolhimento compulsrio os valores referentes aquisio de moedaestrangeira do BCB, que seriam formalizadas por meio de um compro-
misso de revenda pela instituio financeira e de recompra pelo BancoCentral.
Desetembroadezembrode2008,oBCBreduziuopercentualdereco-lhimento compulsrio sobre depsitos vista e a prazo e das exigibilidadesadicionais incidentes sobre os depsitos vista, a prazo e de poupana. Asregras referentes a essas exigibilidades tambm se alteraram: aps 1o dedezembro de 2008, os recolhimentos no poderiam mais ser realizadosem dinheiro, mas sim em ttulos pblicos federais indexados taxa de
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juros. Com esta mudana, o BCB tentou garantir que a demanda por
esses ttulos no fosse afetada pela reduo do percentual de recolhimentoincidente sobre os depsitos a prazo.11 As reservas compulsrias foramreduzidas em R$99,8 bilhes (US$54,2 bilhes) e a disponibilidade deliquidez para instituies de menor porte elevada em R$41,8 bilhes(US$22,7 bilhes) no ltimo trimestre de 2008. Ao relaxar as exignciasrelacionadas aos recolhimentos compulsrios, o BCB ampliou o volumede recursos disponveis para emprstimos por parte das instituies finan-ceiras.
Em2outubrode2008,comofimdeestimularascomprasdecarteiras
de crdito de bancos de pequeno e mdio porte por bancos de grandeporte, o BCB autorizou os bancos a deduzirem 40% do compulsrio dedepsitos a prazo para compras de carteiras de crdito de instituiesfinanceiras (com valor lquido de at R$2.5 bilhes, ou US$1.4 bilhes).Em 13 de outubro de 2008, o BCB mais uma vez mudou as regras parao recolhimento de compulsrio dos depsitos a prazo, aumentando opercentual de recursos que os bancos poderiam deduzir para a compra de
carteiras de crdito de outros bancos de 40 para 70%. O BCB tambmampliou o leque de ativos elegveis que os bancos poderiam comprarcom depsitos compulsrios, autorizando a aquisio de ttulos de car-teiras de fundos de investimento, direitos creditrios de companhiasde leasing, instrumentos de renda fixa emitidos por entidades privadasno-financeiras, ativos que compem os Fundos de Investimento emDireitos Creditrios (FIDC) ou cotas de FIDC organizadas pelo FundoGarantidor de Crdito (FGC), a instituio nacional de garantia de
depsitos bancrios.12
OGovernocriouumanovalinhadeassistncialiquidezpormeioda
qual o BCB pode adquirir carteiras de crdito de instituies financeiras.O objetivo era ampliar a capacidade do BCB de ajudar instituies finan-ceiras brasileiras que enfrentaram escassez de liquidez, principalmentebancos de pequeno e mdio porte, mediante a janela de redesconto.A gama de ativos aceitos como garantia no redesconto tambm foiampliada.
11 O BCB comeou a aumentar o depsito compulsrio novamente em 26 de fevereiro de 2010. Em junhode 2010, o processo ainda no havia terminado.12 Inicialmente, esta medida expiraria em 30 de junho de 2010. Naquele ms, o BCB prorrogou o seu tr-mino para 31 de dezembro de 2010.
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Captulo 2 A resposta do Brasil crise38
brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
Em28deoutubrode2008,oBancodoBrasil(BB)eaCaixaEconmica
Federal (CEF), bancos controlados pelo Governo Federal, foram auto-rizados a adquirir, direta ou indiretamente, participao societria eminstituies financeiras publicas e privadas no Brasil, incluindo empresasseguradoras, instituies de seguridade social, empresas de capitalizao,com ou sem a aquisio de controle acionrio.
Emmarode2009,oGovernoinstituiuoRecibodeDepsitoBancrio
(RDB), com a garantia especial do FGC. Por meio desta medida, o segurosobre depsitos a prazo passou de R$60.000 (US$30.000) para R$20
milhes (US$10 milhes). Esta medida foi adotada para estimular osemprstimos no interbancrio ou a compra de carteiras de crdito pelosgrandes bancos, que no tinham reagido at ento, a despeito das diversasmedidas adotadas pelo BCB. Dada a preferncia dos bancos privados porliquidez e a possibilidade de investimentos em ttulos pblicos lquidos,rentveis e de risco muito baixo, os bancos simplesmente no expandiramo crdito interbancrio.13 Na realidade, apenas os bancos estatais (BB eCEF) adquiriram um volume significativo de carteiras de crdito. Com
o RDB, a liquidez no mercado interbancrio comeou a fluir novamente.Esta ltima medida foi, portanto, eficaz.
1 a poltiCa monEtria
A reduo da taxa de juros no Brasil comeou com atraso. Na reunio de
novembro de 2008 do Comit de Poltica Monetria (Copom), a meta dataxa de juros bsica, conhecida como Selic14, foi mantida sob o argumentode que os riscos inflacionrios decorrentes da desvalorizao do Real erammuito elevados. Somente em janeiro, quando a ameaa de recesso se sobre-ps a esses riscos, uma srie de cortes foi iniciada, o que reduziu essa metaem 5 pontos percentuais, de 13.75% em dezembro de 2008 para 8.75% emsetembro de 2009. A rigidez do BCB na conduo da poltica monetriadurante o ltimo trimestre de 2008 contrastou fortemente com as aes de
13 Embora no tenha ocorrido nenhuma aquisio importante, fuses foram anunciadas no setor bancriodurante o quarto trimestre de 2008: uma fuso entre os bancos privados Ita e Unibanco, que resultou naemergncia do maior banco no Brasil; e outra entre o Banco do Brasil (estatal) e a Nossa Caixa (estadual).O BB tambm adquiriu participao acionria (49,9%) no Banco Votorantim (privado).14 Sistema Especial de Liquidao e Custdia de Ttulos Pblicos.
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seus colegas nas principais economias avanadas e emergentes. Ao todo, cinco
cortes foram feitos: em 21 de janeiro de 2009, de 13.75 para 12.75%; em 11de maro de 2009, para 11.25%; em 29 de abril de 2009, para 10.25%; em10 de junho de 2009, para 9.25%; e em 23 de julho de 2009, para 8.75%.15Este foi o menor nvel nos ltimos 20 anos (equivalente a uma taxa real anualde menos de 5%), levando em conta a inflao projetada de 4.0%. Contudo,a taxa permanece num patamar muito superior ao vigente nos demais pases,inclusive emergentes (tanto em termos nominal como real).
2 poltiCa dE Crdito E finanCEira
Alm das medidas de poltica monetria, o Governo brasileiro decidiuutilizar os trs principais bancos pblicos federais Banco Nacional deDesenvolvimento Econmico e Social (BNDES), CEF e BB para expan-dir o crdito e, assim, desempenhar um papel anticclico em um contexto
de contrao do volume de crdito pelos bancos privados.
Alm da medida mencionada acima (autorizao para o BB e CEF adqui-rirem participao acionria em instituies financeiras privadas e pbicasno Brasil), em 6 de novembro de 2008 o Ministrio da Fazenda anun-ciou uma srie de novas iniciativas que conjuntamente forneceram R$19bilhes (US$10 bilhes) em linhas de crdito para vrios setores por meiodo BNDES e BB. Em agosto de 2009, o Governo realizou uma contri-
buio adicional de R$500 milhes (US$250 milhes) em fundos de avaldestes dois bancos, que garantem emprstimos a pequenas e mdias empre-sas. Ademais, os bancos estatais estabeleceram novas linhas de crdito paraalguns setores, como detalhado abaixo.
A ao anticclica dos bancos estatais foi extremamente importante para amanuteno da oferta de crdito para empresas e famlias no contexto deelevada preferncia pela liquidez dos bancos privados e, assim, para evitar a
15 Entre abril e julho de 2010, o Copom elevou novamente a meta da taxa de juros, de 8,75% ao ano para10,75% ao ano, patamar vigente at o fechamento desse relatrio, em dezembro de 2010.
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Captulo 2 A resposta do Brasil crise40
brasil : uma Estratgia inovadora alavanCada pEla rEnda
queda brusca da atividade econmica (ver tambm o Captulo 3). Outras
medidas de poltica creditcia incluram o corte na taxa de juros de longoprazo (TJLP) utilizada em emprstimos do BNDES de 6,25 para 6,0%, onvel mais baixo da histria, reduzindo desta forma o custo dos emprsti-mos de longo prazo dessa instituio financeira de fomento.
3 poltiCa Cambial
Devido aos problemas de liquidez