7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 1/12
ESTUDOS SURDOS ESTUDOS SURDOS
Tend Tend êências e Perspectivasncias e P
erspectivas
Janine Longaray de Farias
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 2/12
O que são Estudos Surdos?
“... se constituem enquanto um programa de pesquisa em educação,
onde as identidades, as línguas, os projetos educacionais, a história, aarte, as comunidades e as culturas
surdas são focalizadas e entendidas a
partir da diferença, a partir de seu reconhecimento político”.
Carlos Skliar
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 3/12
❶ A sociedade define as identidades consideradas “normais” e as “anormais”, acabando, geralmente, por oprimir umgrupo em benefício de outro, pelo uso arbitrário dos poderes
e saberes que nela se enfrentam.
❷Os surdos são um grupo que tem sido definidosocialmente, antes de qualquer outra definição possível,
como um grupo “deficiente”, “menor”, “inferior” - um grupo“desviado da norma”.
❸Existe um movimento de trabalhos que visam reconstituir aexperiência da surdez como um traço cultural, tendo a língua
de sinais como elemento significante para esta definição.Esses trabalhos têm contribuído para os chamados EstudosSurdos, graças aos pesquisadores surdos brasileiros queconseguiram legitimar a pespectiva dos próprios surdos...
precursores das lutas pelo reconhecimento da sua língua, dasua cultura e do seu povo.
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 4/12
Os Estudos Surdos objetivam desmistificar a interpretaçãoda surdez como deficiência e a visão da pessoa surda como
indivíduo deficiente, doente e sofredor.
Os surdos, como grupo organizado culturalmente, não sedefinem como “deficientes auditivos”.São pessoas surdas, e o mais importante não é frisar a
atenção sobre a falta/deficiência da audição - os surdos sedefinem de forma cultural e lingüística.
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 5/12
Historicamente se sabe que a tradição médico-terapêutica
influenciou a definição da surdez a partir do déficit auditivo e da
classificação da surdez (leve, profunda, congênita, pré-lingüística,
etc.), mas deixou de incluir a experiência da surdez e de
considerar os contextos psicossociais e culturais nos quais a
pessoa surda se desenvolve; é justamente destes aspectos, dentre
outros, que os Estudos Surdos passam a se ocupar.
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 6/12
“Surdo” é o termo com o qual as pessoas que não ouvem
referem-se a si mesmos e a seus pares.
Pessoa surda é aquela que vivencia um déficit de audição queo impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral/auditiva
usada pela comunidade majoritária e que constrói sua
identidade calcada principalmente nesta diferença,
utilizando-se de estratégias
cognitivas e de manifestações
comportamentais e culturais
diferentes da maioria das
pessoas que ouvem..
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 7/12
Expectativas sociais para com os surdos:Expectativas sociais para com os surdos:
❶Surdez como uma deficiência que futuramente há de ser abolida
através dos “consertos” neurocirúrgicos prometidos pelapesquisa médica, ou pela engenharia genética, ou pela prevenção
a doenças (principalmente as que surgem mais nas classes
desfavorecidas).
❷Surdez como um mal, um contágio, resultante das más
condições sanitárias da classe desfavorecida ou da falta de
cuidados familiares ou médicos, ou mesmo como uma fatalidade,
como “castigo, punição, ou situação a que se estaria exposto pela
purgação de culpas, da própria pessoa ou dos que a cercam”.
❸Surdez, como fruto uma falha, uma culpa, uma pobreza, uma
fatalidade, de forma pejorativa.
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 8/12
A história dos surdos, contada pelos não-surdos: A história dos surdos, contada pelos não-surdos:
Primeiramente os surdos foram “descobertos” pelos ouvintes, depois eles foram isolados
da sociedade para serem “educados” e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não
mais se pôde isolá-los, porque eles começaram a formar grupos que se fortaleciam, tentou-
se dispersá-los, para que não criassem guetos.
A história comum dos surdos: caridade, sacrifício e dedicação necessários para
vencer “grandes adversidades”.
Segundo Carlos Skliar, como formas de resistência ao poder do ouvintismo, os
surdos se serviram de expedientes tais como: “o surgimento de associações de
surdos enquanto territórios livres do controle ouvinte sobre a deficiência, os
matrimônios endogâmicos, a comunicação em língua de sinais nos banheiros das
instituições, o humor surdo, etc.”. Segundo ele, estes constituem apenas alguns
dos muitos exemplos que denotam uma outra interpretação sobre a ideologia
dominante.
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 9/12
Visão dos surdos – Estudos SurdosVisão dos surdos – Estudos Surdos
"Nós surdos somos denominados párias da sociedade. O que nos levou aser classificados como isto, se estamos bem vestidos, comemos emrestaurantes de classe e transitamos em qualquer ambiente como qualquer grupo... simplesmente a chamada normalidade? Ser normal é tãoimportante, mas tão importante mesmo, que não se consegue entender atéque ponto vai seu significado, porém, ser normal segue uma norma.Mas ser normal para o surdo significaria ser surdo, ser autenticamenteMas ser normal para o surdo significaria ser surdo, ser autenticamente
surdo. Osurdo. O povo surdo tem a cultura surda, que é representada pelo seumundo visual. No entanto, a sociedade em geral não a conhece e por isso nada deve ser dito sobre ela. Para representação social
precisamos nos submeter à cultura do colonizador, neste caso acultura ouvinte, na forma de como ela é.
Segundo a sociedade colonizadora, nascemos num mundo que já existia
antes de deparar com a existência de povo surdo, e deste modo, devemosnos adaptar a este mundo e aprender com ele. Esse mundo colonizador sobreviverá com a nossa estadia, sendo só permitido ao povo surdo oesforço na tentativa de se igualar aos colonizadores, isto é, aos sujeitosouvintes, procurando agradar a sociedade usando as identidadesmascaradas."
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 10/12
O grupo das pessoas surdas pode ser considerado um grupo étnico?” O grupo das pessoas surdas pode ser considerado um grupo étnico?”
A etnia é definida, geralmente, através de duas dimensões principais: raça e
língua. No caso das pessoas surdas, a língua é uma importante categoria
definidora. “As pessoas surdas são vistas como um grupo físico diferente,
isto é, como se fosse uma raça diferente, ou seja, elas se tornam racializadas
através da língua – de sinais – diferente que utilizam.
A definição da identidade étnica é dependente de um processo em que entra
em conflito a forma como um grupo dominante define a etnia e a forma como
um grupo étnico se define a si próprio. (...) O local da etnia, diz Davis, é um
local contestado, numa luta para definir quem definirá a etnia do grupo, quem
a construirá”.
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 11/12
Caso esta “etnicidade” seja considerada, será possível construir uma
escola de surdos que possibilite trocas culturais e o fortalecimento do
discurso surdo, trocas que possibilitem às comunidades manifestarem
sua própria produção cultural e sua forma de ver o mundo. Haverá deHaverá de
surgir identidades comunitárias e culturais pensadas a partir dosurgir identidades comunitárias e culturais pensadas a partir do
que o grupo pensa sobre si mesmo.que o grupo pensa sobre si mesmo. Desta forma os surdos poderão
reconstruir seu próprio processo de educação, e terão vez no contextoescolar, afinal, é necessário dar vez às subjetividades silenciadas.
O que se busca revelar são os critérios pelos os seres sociais,
fazem as delimitações quanto àquilo que é aceitável ou não, produzindo
identidades aceitáveis e tendentes a excluir o que sai da norma.
O objetivo é romper com o habitual para dar visibilidade à produção
dos sentidos que vão surgindo na sociedade, fazendo com que nos
posicionemos e sejamos posicionados.
7/28/2019 Estudos surdos
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-surdos 12/12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEHARES, Luis Ernesto. Novas correntes na educação do surdo:dos enfoques clínicos aos culturais. Santa Maria, UFSM.
SÁ, Nídia Limeira. RANAURO, Hilma. O discurso bíblico sobre adeficiência. Rio de Janeiro: Editora Muiraquitã, 1999.
SÁ, Nídia Limeira. Cultura, poder e educação de surdos. SãoPaulo: Paulinas, 2006.
SKLIAR, Carlos. Um olhar sobre o nosso olhar acerca da surdez edas diferenças. In: ______. A surdez: um olhar sobre asdiferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998b.
WRIGLEY, Owen. The politics of deafness. Washington: GallaudetUniversity Press, 1996.