EXTRAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA LIGNINA DE
PINUS ELLIOTTII NA REMOÇÃO DE ÍONS Zn2+
J. Bortoluz1; L. R. Bonetto1; M. Giovanela1
1-Área do Conhecimento de Ciências Exatas e Engenharias – Universidade de Caxias do Sul
Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 – CEP 95070-560 – Caxias do Sul - RS – Brasil
Telefone: (54) 3218-2100 – Email: [email protected]
RESUMO: A lignina tem se tornado objeto de grande interesse, uma vez que sua superfície
apresenta vários grupos funcionais que influenciam a reatividade e as propriedades de adsorção
desse material. Nesse contexto, o presente trabalho teve por objetivo extrair a lignina presente
na serragem de Pinus elliottii, para posterior aplicação na remoção de íons Zn2+ de soluções
aquosas por meio da adsorção. O material obtido foi caracterizado e utilizado para avaliar a
influência de parâmetros experimentais, equilíbrio e cinética do processo de adsorção. Em
relação ao equilíbrio de adsorção, verificou-se que a isoterma de Freundlich foi a que melhor se
ajustou aos resultados experimentais, apresentando constante de Freundlich (KF) igual a
0,249 mg g-1 (mg L-1)-1/n. No que se refere à cinética, o modelo de pseudossegunda ordem foi o
que melhor descreveu o processo. Por fim, a lignina de Pinus elliottii mostrou ser uma
alternativa promissora na remoção de íons Zn2+.
PALAVRAS-CHAVE: Adsorção. Lignina. Zinco. Equilíbrio. Cinética.
ABSTRACT: Lignin has become an object of great interest, since its surface has several
functional groups that influence the reactivity and the adsorption properties of this material. In
this context, the present work aimed to extract the lignin present in the sawdust of Pinus elliottii,
for later application in the removal of Zn2+ ions from aqueous solutions by means of adsorption.
The material obtained was characterized and used to evaluate the influence of experimental
parameters, equilibrium and kinetics of the adsorption process. In relation to the adsorption
equilibrium, the Freundlich isotherm was the best fit for the experimental results, with a
Freundlich constant (KF) equal to 0.249 mg g-1 (mg L-1)-1/n. Regarding kinetics, the
pseudosecond order model was the one that best described the process. Finally, the lignin of
Pinus elliottii showed to be a promising alternative in the removal of Zn2+ ions.
KEYWORDS: Adsorption. Lignin. Zinc. Equilibrium. Kinetics.
1. INTRODUÇÃO
As atividades industriais galvânicas têm
contribuído acentuadamente com a poluição de rios
e lagoas, visto que seus processos de
eletrodeposição de metais geram efluentes
contendo íons metálicos (Pereira, 2008). De acordo
com Guo et al. (2008), as principais técnicas
disponíveis para remover esses íons da água
incluem a precipitação química, a filtração com
membranas, a troca iônica e a adsorção com carvão
ativado. No entanto, esses métodos apresentam
algumas limitações, como custo operacional
elevado e dificuldades em atender os rigorosos
padrões exigidos pelos órgãos ambientais (Pereira,
2008). Assim, a busca por técnicas que sejam
economicamente viáveis, e ao mesmo tempo
ambientalmente corretas, tem se intensificado nos
últimos anos (Rodrigues et al., 2013).
Nesse contexto, a adsorção pode ser uma
técnica bastante promissora quando executada com
adsorventes oriundos de fontes renováveis.
Materiais como casca de arroz e lignina têm sido
frequentemente utilizados para essa finalidade
(Guo et al., 2008; Mimura et al., 2010).
A lignina, por sua vez, se constitui em uma
alternativa atraente em relação a sua aplicação
como biossorvente, uma vez que em sua superfície
estão presentes diversos grupos funcionais
carboxílicos e fenólicos, que possuem grande
afinidade por íons metálicos (Guo, et al., 2008;
Suhas; Carrott, 2007). Ela é o segundo polímero
mais abundante na natureza, representando cerca
de 20-35% da constituição da madeira. Além disso,
é um material perfeitamente biodegradável e pode
ser obtida por meio de resíduos industriais, tanto
de base florestal como moveleiros (Suhas; Carrott,
2007).
Em estudos realizados por Brand et al.
(2002) e Pereira (2008), verificou-se que a
indústria moveleira no Brasil gera cerca de 22,5
milhões de toneladas de resíduos ao ano, os quais
não representam apenas um problema econômico
pelo seu desperdício, mas também um sério
problema ambiental. A queima para a eliminação
dos rejeitos e a disposição dos mesmos em aterros
tem sido muito comum entre as indústrias desse
segmento. A fim de amenizar os danos causados ao
meio ambiente perante essas práticas e dar um
destino mais nobre para esses resíduos, percebeu-
se a possibilidade de extrair a lignina presente na
serragem da indústria moveleira e utilizá-la como
biossorvente na remoção de íons metálicos
presentes em efluentes industriais galvânicos.
Desse modo, contribui-se simultaneamente para a
minimização de dois problemas ambientais.
Dentro desse contexto, o presente trabalho
tem por objetivo avaliar o potencial de amostras de
lignina, provenientes de serragem de Pinus elliottii,
como biossorvente para a remoção de íons Zn2+ de
soluções aquosas, visando à remediação de
efluentes da indústria galvânica.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Materiais A serragem de Pinus elliottii foi coletada na
Madeireira Madarco S/A Indústria e Comércio,
localizada no município de Caxias do Sul (RS). O
material é gerado como subproduto no processo de
fabricação de estrados para camas, a partir de
madeira sem qualquer tipo de tratamento anterior.
A solução sintética de íons Zn2+ foi
preparada a partir de uma solução padrão de Zn2+
(1000 mg L-1) da MERCK e água deionizada.
2.2. Extração da lignina de Pinus elliottii A extração da lignina de Pinus elliottii foi
realizada pelo método Klason (norma TAPPI
T204cm-97) e ocorreu em duas etapas: (a)
remoção dos extrativos da madeira, e (b) obtenção
de lignina insolúvel em ácido sulfúrico.
Para a remoção dos extrativos da madeira, a
serragem foi submetida a três extrações
consecutivas: uma com a mistura de
etanol/benzeno (1:2, v/v), uma com etanol e uma
com água destilada. O tempo de extração para cada
solvente foi de 4 h e começou a ser contado após o
primeiro ciclo de extração. Para isso, o material foi
previamente acondicionado em um cartucho de
celulose e, em seguida, em um Soxhlet munido de
um condensador. Essas extrações foram realizadas
a quente, com o auxílio de uma manta de
aquecimento. Para evitar a perda dos solventes por
evaporação, o sistema foi conectado a um banho de
água termostatizado a 15 °C, que manteve o
sistema refrigerado durante todo o procedimento
experimental.
A lignina insolúvel em ácido, também
chamada de lignina Klason, foi obtida por meio da
despolimerização da celulose e da hemicelulose
utilizando uma solução de ácido sulfúrico 72% v/v.
Essa etapa foi realizada sob a agitação de uma
mistura contendo 1,0 g de madeira livre de
extrativos e 15 mL de ácido sulfúrico 72% v/v, por
um período de 2 h. Em seguida, a mistura foi
transferida para outro balão contendo 500 mL de
água deionizada do tipo 1 e permaneceu sob
refluxo por mais 4 h.
Ao término desse procedimento, a mistura
foi filtrada a vácuo e lavada com água deionizada
do tipo 1, até pH próximo da neutralidade. A
lignina foi então seca em uma estufa a 75 °C
durante 4 h, e triturada em um almofariz com o
auxílio de pistilo de porcelana, visando à
homogeneização do material.
2.3. Caracterização da lignina de Pinus
elliottii A identificação dos principais grupos
funcionais presentes na lignina de Pinus elliottii foi
realizada por espectroscopia no infravermelho com
Transformada de Fourier (FT-IR).
Além disso, fez-se o ensaio para
determinação do pH no ponto de carga zero que foi
realizado pelo método de equilíbrio em sistema de
batelada adaptado de Smičiklas et al. (2000) e
serve para averiguar a faixa de pH onde a adsorção
será favorecida. Cerca de 0,1 g de lignina de Pinus
elliottii medido em uma balança foi adicionado à
Erlenmeyers de capacidade de 100 mL, contendo
50 mL de solução de KCl 0,1 mol L-1. Os valores
de pH foram ajustados entre 2,0 e 12,0 por meio da
adição de soluções de KOH ou de HNO3
0,10 mol L-1. As suspensões permaneceram sob
agitação constante a uma velocidade de 150 rpm
em uma incubadora shaker refrigerada de bancada
de 22 provas, da marca Nova Técnica e modelo
NT-715, durante 24 h, à temperatura controlada de
25 °C. Ao término desse procedimento, as
amostras foram filtradas e mediu-se o pH do
líquido sobrenadante. Os valores de pH inicial e
pH final foram medidos em um pHmetro
DIGIMED DM-20. O pHPCZ foi obtido através do
cálculo da média aritmética dos pontos que se
apresentaram constantes para o pH final.
2.4. Avaliação da influência de parâmetros
experimentais do processo de adsorção Os ensaios de adsorção foram realizados
utilizando os mesmos equipamentos (incubadora
shaker, balança analítica e pHmetro) empregados
na determinação do pHPCZ. O tempo de contato foi
escolhido após a realização de um primeiro ensaio
preliminar, no qual foi verificado que o sistema
contendo íons Zn2+ e a lignina de Pinus elliottii
entra em equilíbrio em 240 min, sendo este o
tempo utilizado para os demais ensaios. As
concentrações das soluções de íons Zn2+ foram
determinadas por espectrometria de absorção
atômica com chama.
Para os ensaios que avaliaram a influência
da quantidade de massa da lignina de Pinus
elliottii, foram utilizados Erlenmeyers contendo
50 mL de solução de Zn2+ a 100 mg L-1, cada qual
com uma massa diferente de lignina. Utilizaram-se
50, 75, 100, 125, 150, 175, 200, 225 e 250 mg de
material adsorvente e o sistema foi submetido à
agitação mecânica de 150 rpm, em pH ~ 4,75 e a
25 °C, durante 4 h.
O ensaio que determinou a melhor
velocidade de agitação para o processo de adsorção
utilizou a massa previamente otimizada. Para isso,
fez-se o uso de Erlenmeyers contendo 50 mL de
solução de Zn2+ 100 mg L-1 com pH ~ 4,75, à
temperatura de 25 °C e durante 4 h. Foram testadas
as velocidades de 90, 120, 150, 180, 210 e 240
rpm.
Para verificar a influência do pH inicial do
meio no processo de adsorção, o pH de cada
solução foi ajustado previamente à realização dos
ensaios, utilizando soluções de HNO3 e KOH
(ambas com concentração igual a 0,10 mol L-1), em
valores que compreenderam uma faixa entre 2,0 e
9,0. Nesse ensaio foram utilizados os parâmetros
previamente otimizados (massa de lignina e
velocidade de agitação), 50 mL de solução de Zn2+
com concentração igual a 100 mg L-1, durante 4 h.
A avaliação da influência dos parâmetros
experimentais no processo de adsorção foi
verificada por meio da capacidade de adsorção dos
íons Zn2+ pela lignina de Pinus elliottii (qt, mg g-1)
(Equação 1) e o percentual de remoção (% R) de
íons Zn2+ em meio aquoso, após determinado
tempo de processo (Equação 2) (Todorciuc et al.,
2015).
qt =
(C0 - Ct)
m ∙ V (1)
R = (C0 - Ct)
C0 ∙ 100% (2)
onde C0 e Ct são as concentrações de íons Zn2+
inicial e no tempo t, respectivamente (mg L-1); m é
a massa de adsorvente utilizada (g), e V é o
volume de solução aquosa utilizado (L).
2.5. Equilíbrio do processo de adsorção O ensaio de equilíbrio do processo de
adsorção foi realizado com 50 mL de soluções de
Zn2+ nas concentrações de 10, 20, 50, 100, 150 e
200 mg L-1, utilizando os parâmetros previamente
otimizados de massa de lignina, velocidade de
agitação e pH inicial do meio.
O equilíbrio do processo de adsorção foi
avaliado através dos modelos das isotermas de
Freundlich e de Langmuir. O modelo de isoterma
de adsorção que melhor descreve o processo foi
selecionado por meio de método de regressão
linear, realizado com o software OriginPro. Para a
escolha do modelo que melhor se ajusta aos dados
experimentais, foi analisado o valor de R2.
2.6. Cinética do processo de adsorção O ensaio para o estudo da cinética do
processo de adsorção foi realizado utilizando os
parâmetros previamente otimizados de massa de
lignina, velocidade de agitação e pH inicial. Neste
ensaio as amostras foram coletadas em tempos que
variaram entre 5 min e 240 min. Para o ajuste dos
dados experimentais da cinética foram utilizados
os modelos reacionais pseudoprimeira ordem e
pseudossegunda ordem. De maneira análoga à
análise do equilíbrio, o modelo de cinética de
adsorção que melhor descreve o processo foi
selecionado por meio de método de regressão
linear, realizado com o software OriginPro. Para a
escolha do modelo que melhor se ajusta aos dados
experimentais foi analisado o valor de R2.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Caracterização da lignina de Pinus
elliottii A Figura 1 mostra o espectro de
infravermelho da lignina de Pinus elliottii.
4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 400
48
51
54
57
60
63
461
568
108411
36
1383
1213
1268
1460
1504
1607
1035
867
2845
2930
T (%
)
(cm-1
)
3420
Figura 1. Espectro de infravermelho da lignina de
Pinus elliottii
O espectro de infravermelho indicou a
presença de diversos grupos funcionais que já eram
esperados para a estrutura da lignina, bem como
–OH, –CH, C=C e –C-OH. Na literatura foram
observados espectros semelhantes ao da lignina
desse trabalho, como o de lignina de bagaço de
cana-de-açúcar modificada (Li; Ge, 2011).
O ensaio para determinação do pH no ponto
de carga zero se encontra na Figura 2. Para a
lignina de Pinus elliottii, o pHPCZ encontrado foi
igual a 4,23. Desse modo, para valores maiores que
o pHPCZ, a lignina encontra-se carregada
negativamente, favorecendo a adsorção de espécies
carregadas positivamente (cátions). Para valores
menores que 4,23, ocorre o processo inverso, ou
seja, as espécies que possuem cargas negativas
(ânions) são adsorvidas preferencialmente, devido
à carga líquida sobre o adsorvente ser positiva.
Dessa forma, para espécies como os íons Zn2+, a
adsorção será favorecida em valores de pH
superiores a 4,23.
2 4 6 8 10 12
1
2
3
4
5
6
7
pH fi
nal
pH inicial
4,23
Figura 2. Determinação do pHPCZ da lignina de
Pinus elliottii
3.2. Avaliação da influência de parâmetros
experimentais do processo de adsorção A Figura 3 mostra a relação da quantidade
de massa de lignina de Pinus elliottii com a
eficiência de remoção.
25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275
8
12
16
20
24
28
32
Massa de lignina de Pinus elliottii (mg)
% R
emoç
ão
5
6
7
8
9
10
11
12
qt (
mg
g-1)
Figura 3. Efeito da quantidade de massa de lignina
de Pinus elliottii
Através da Figura 3 é possível observar que
o percentual de remoção de íons Zn2+ apresenta um
comportamento crescente, a medida em que se
aumenta a massa de lignina. Isso ocorre, pois
quanto maior a quantidade de adsorvente, maior é
a disponibilidade de sítios ativos para que ocorra a
interação adsorvente-adsorvato (Todorciuc et al.,
2015).
Por outro lado, os valores de qt apresentam
um comportamento oposto ao percentual de
remoção. Esse decréscimo demostra que há uma
perda de rendimento, ou seja, quando se tem uma
maior quantidade de adsorvente disponível, menor
será o aproveitamento do mesmo, visto que haverá
menos íons Zn2+ adsorvidos por grama de lignina.
A quantidade de massa de lignina mais
apropriada para a avalição do processo de adsorção
foi determinada como sendo 225 mg, visto que,
comparado aos demais, este valor apresentou uma
melhor remoção (~28%) de íons Zn2+. Massas
superiores foram desconsideradas, uma vez que a
curva tende a um comportamento constante em
termos de remoção. Nesse sentido, quantidades
maiores de lignina implicariam em uma maior
geração de resíduos, além de não proporcionarem
ganhos expressivos em termos de remoção.
A Figura 4 descreve a influência da
velocidade de agitação do sistema para o processo
de adsorção de íons Zn2+.
80 100 120 140 160 180 200 220 240 260
6,0
6,5
7,0
7,5
8,0
8,5
9,0
qt (
mg
g-1
)
Velocidade de Agitação (rpm)
Figura 4. Influência da velocidade de agitação
Neste ensaio, pôde ser constatado que a
quantidade de íons Zn2+ adsorvida por massa de
adsorvente (qt) é máxima quando a velocidade de
agitação do sistema é igual a 210 rpm. Para valores
superiores, os valores de qt começam a diminuir,
indicando que o aumento da velocidade de
agitação nessa faixa é desfavorável à interação
adsorvente-adsorvato, uma vez que nessa
velocidade ocorre o arraste dos íons pelo fluido
antes que eles possam interagir com a lignina
(Suzuki, 1990).
Portanto, optou-se por manter a velocidade
de agitação em 210 rpm para a realização dos
demais ensaios de adsorção.
A influência do pH do meio no processo de
adsorção está descrita na Figura 5.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
qt (
mg
g-1
)
pH
Figura 5. Efeito do pH inicial do meio
Através da Figura 5, é possível observar
que há um aumento nos valores de qt à medida que
o pH inicial do meio aumenta. Esse aumento pode
ser explicado por meio da análise do pHPCZ, que
indica que a interação eletrostática entre o
adsorvente e o adsorvato será mais intensa em
valores superiores à 4,23.
Além disso, verifica-se que os valores de qt
tendem a ser maiores para valores de pH
compreendidos entre 8,0 e 9,0. Contudo, de acordo
com Pereira (2008), existe uma faixa de pH
específica, normalmente mais próxima da
alcalinidade, em que íons metálicos precipitam
como hidróxido na superfície do adsorvente. No
caso dos íons Zn2+, há a possibilidade de
precipitação como Zn(OH)2 próximo a pH = 7,0.
Desse modo, o pH = 6,0 mostrou-se como o valor
mais adequado para a avaliação do processo em
questão, visto que garante a remoção dos íons Zn2+
por adsorção, além de evitar a precipitação dos
mesmos na superfície da lignina sob a forma de
hidróxido.
3.3. Equilíbrio do processo de adsorção A isoterma de Langmuir (Figura 6) foi
obtida a partir de um gráfico que relaciona Ce/qe
em função de Ce.
0 20 40 60 80 100 120 140 160
6
8
10
12
14
16
Ce/
qe
(g L
-1)
Ce (mg L-1)
Figura 6. Isoterma de Langmuir para a adsorção
de íons Zn2+ pela lignina de Pinus elliottii
Através dos coeficientes angular e linear e
da equação da reta, todos obtidos por meio de
regressão linear, determinou-se os valores de KL,
qm e R2, respectivamente. O parâmetro RL foi
estimado a fim de verificar se o processo de
adsorção de íons Zn2+ pela lignina de Pinus elliottii
é favorável ou não. Todas essas informações
encontram-se sumarizadas na Tabela 1.
Tabela 1. Parâmetros da isoterma de Langmuir
Parâmetro Valor
qm (mg g-1) 18,05
KL (L mg-1) 0,00807
RL15 0,892
RL20 0,861
RL50 0,713
RL100 0,553
RL150 0,452
RL200 0,383
R2 0,8169
A isoterma de Freundlich (Figura 7) foi
obtida a partir de um gráfico que relaciona log qe
em função de log Ce.
0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
log
qe
log Ce
Figura 7. Isoterma de Freundlich para a adsorção
de íons Zn2+ pela lignina de Pinus elliottii
Os valores de KF e n foram encontrados
através dos coeficientes linear e angular da
equação, obtidos por regressão linear. Esses
valores, bem como o valor de R2, estão
apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. Isoterma de Freundlich
Parâmetro Valor
KF (mg g-1 (mg L-1) -1/n) 0,249
n 1,33
R2 0,9624
Através dos resultados obtidos, verificou-se
que a isoterma de Freundlich é o modelo que
melhor se ajusta para o conjunto de dados, visto
que o valor de R2 foi de 0,9624. Ainda que essa
isoterma tenha sido a que melhor descreveu o
processo em questão, a mesma apresentou um R2
relativamente baixo e que possivelmente esteja
relacionado a erros experimentais. Em um estudo
envolvendo a remoção de íons Cu2+ por amostras
de lignina Kraft, Brdar et al. (2012) verificaram, de
maneira análoga aos resultados desse trabalho, que
o modelo de Freundlich foi também mais
apropriado que o de Langmuir para descrever e
equilíbrio do processo de adsorção.
A isoterma de Freundlich considera que a
adsorção ocorre em superfície heterogênea e como
o valor encontrado para o parâmetro n foi maior do
que 1, existem evidências de que o processo em
questão seja físico, e consequentemente, reversível.
3.4. Cinética do processo de adsorção Os resultados para o modelo cinético de
pseudoprimeira ordem (Figura 8) foram obtidos
através de um gráfico que relaciona ln (qe - qt) em
função de t.
0 50 100 150 200 250
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
ln (q
e-qt
)
Tempo (min)
Figura 8. Modelo cinético de pseudoprimeira
ordem para a adsorção de íons Zn2+ pela lignina de
Pinus elliottii
Os parâmetros qe,calc (calculado) e k1 foram
determinados a partir dos coeficientes linear e
angular das equações formadas pela regressão de
ln (qe - qt) em função de t, respectivamente. Esses
dados, além dos valores de qe,exp (experimental) e
R2, estão sumarizados na Tabela 3.
O modelo de pseudossegunda ordem foi
analisado por meio da construção de um gráfico
(Figura 9) que relaciona t/qt em função do tempo.
De maneira análoga ao modelo de
pseudoprimeira ordem, os valores de qe,calc e k2
foram encontrados a partir dos coeficientes angular
e linear, respectivamente, obtidos através da
regressão linear de t/qt em função do tempo. Na
Tabela 3 estão apresentados estes parâmetros, bem
como os valores de qe,exp e R2.
0 50 100 150 200 250
0
5
10
15
20
25
30
35
40
t/qt
(min
g m
g-1)
Tempo (min)
Figura 9. Modelo cinético de pseudossegunda
ordem
Tabela 3. Parâmetros cinéticos para os modelos de
pseudoprimeira e pseudossegunda ordem
Parâmetro Pseudo1ª
ordem
Pseudo2ª
ordem
qe,exp 7,42 mg g-1 7,42 mg g-1
qe,calc 1,13 mg g-1 6,56 mg g-1
k 0,0029 min-1 0,033 g mg-1 min-1
R2 0,1203 0,9929
De acordo com a Figura 9 e a Tabela 3, é
possível afirmar que o conjunto de dados
experimentais se ajustou ao modelo cinético de
pseudossegunda ordem, uma vez que o valor de R2
foi de 0,9929 e não houve significativa
discrepância entre os valores dos parâmetros qe,exp
e qe,calc. Esse resultado se assemelha ao obtido em
um estudo realizado por Mohan et al. (2006), que
avaliaram a cinética do processo de adsorção de
íons Cu2+ e Cd2+ pela lignina Kraft, e comprovaram
que o mesmo também obedece ao modelo de
pseudossegunda ordem. Além disso, a constante
cinética do modelo de pseudossegunda ordem (k2),
assim como a constante cinética do modelo de
pseudoprimeira ordem (k1), apresentou um valor
pequeno, evidenciando que o processo em questão
não atinge o equilíbrio rapidamente.
4. CONCLUSÃO
O ensaio de FT-IR indicou que a lignina de
Pinus elliottii possui uma estrutura química
complexa e com diversos grupos funcionais.
Através da determinação do pHPCZ se verificou que
a adsorção será favorecida em pH superior a 4,23.
Com relação à otimização dos parâmetros
experimentais do processo de adsorção, os valores
obtidos para massa de adsorvente (225 mg),
velocidade de agitação do sistema (210 rpm) e pH
do meio (6,0), apresentaram-se como o melhor
ajuste encontrado para a análise do processo de
adsorção.
No que diz respeito à análise do equilíbrio
do processo de adsorção, verificou-se que a
isoterma de Freundlich foi a que melhor se ajustou
para o conjunto de dados experimentais obtidos
(R2 = 0,9624). A constante KF e o parâmetro n
resultaram em valores iguais a
0,249 (mg g-1 (mg L-1) -1/n) e 1,33, respectivamente.
O valor de n maior que 1 mostra que o processo de
adsorção é favorável.
Quanto ao estudo da cinética do processo de
adsorção, constatou-se que o modelo que melhor se
ajustou ao conjunto de dados experimentais foi o
modelo de pseudossegunda ordem (R2 = 0,9929).
O valor da constante k2 foi igual a 0,033 g mg-1
min-1, evidenciando que o processo de adsorção
não atinge o equilíbrio rapidamente.
Por fim, a lignina proveniente de resíduos de
madeira da espécie de Pinus elliottii mostrou ser
uma alternativa viável para a remoção de íons Zn2+
de soluções aquosas. Além disso, vale ressaltar que
a sua aplicabilidade como adsorvente minimiza a
quantidade de resíduos de madeira da indústria
moveleira descartados no meio ambiente, e
consequentemente, os impactos causados à
natureza.
5. REFERÊNCIAS
BRAND, M. A.; MUNIZ, G. I. B.; SILVA, D. A.;
KLOCK, U. Revista Floresta, v. 32, p.247-259,
2002.
BRDAR, M.; TAKAČI, A. A.; ŠĆIBAN, M. B.;
RAKIĆ, D. Z. Chemical Industry, v. 66, p.497-
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6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES, CNPq e
FAPERGS pelo apoio financeiro.