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Análise da Implantação dos Conjuntos Habitacionais Pelo BNH em Londrina-PR
Juliana Bello Mussi Alencar1 Resumo
Este artigo analisa a produção de conjuntos habitacionais em Londrina-PR pelo Banco Nacional da Habitação (BNH) a partir da década de 1970 e os efeitos causados
ao município devido às diretrizes da implantação da maioria dos conjuntos habitacionais. Após grande investimento de recursos para habitação popular, através do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), foram construídas mais de 27.000 unidades
entre 1970 e 1990, onde esta implantação ocorreu principalmente nas margens da malha urbana do município de Londrina. Para realizar esta análise, foram feitos
estudos através de bibliografias adequadas, como teses, livros e artigos relevantes, sobre os aspectos locais e nacionais da implantação dos conjuntos habitacionais pelo BNH e a atuação nos dias atuais dos planos de Habitação.
Palavras-chave: Política Habitacional. Conjuntos Habitacionais. Banco Nacional da
Habitação. 1 Introdução
A produção de conjuntos habitacionais em Londrina-PR entre as décadas de 1970 e 1980,
analisada sobre o aspecto da atuação do Banco Nacional de Habitação (BNH). Londrina situada
no Norte do Paraná, fundada em 1931, passou por grande crescimento populacional na década
de 1970, decorrente da imigração da população rural para as zonas urbanas, este inchaço
populacional causou déficit habitacional e de infraestrutura urbana, sobretudo para a faixa de
população com baixa renda. Neste mesmo período o município de Londrina se integrou ao
Sistema Financeiro de Habitação (SFH), com grande produção de conjuntos habitaciona is,
localizados principalmente nos arredores da cidade. Esta fragmentação do espaço urbano
obteve como consequência o isolamento dos habitantes destes conjuntos, principalmente no
que se refere à infraestrutura, como linha de ônibus, escolas, postos de saúde, asfalto; e somente
após alguns anos foi implementada parte da infraestrutura necessária, pelos órgãos municipa is.
Após a extinção do BNH em 1983, Londrina manteve as construções dos conjuntos
habitacionais com verbas anteriormente aprovadas até 1991, mas com a diminuição do ritmo
de construções populares até o lançamento do PHN, em 2004, as COHAB com subsídios
governamentais retomaram a produção de moradias populares. No entanto com o lançamento
do PAC em 2007 é que realmente houve uma alavancagem na produção habitacional, com os
1 Arquiteta e Urbanista. Mestre em Metodologia do Projeto pela Universidade Estadual de Londrina-UEL. Docente
do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Pitágoras de Londrina.
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Programas de Habitação de Interesse Social (PHIS). Para tanto os municípios, por meio de um
Conselho gestor, deveriam elaborar um Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS),
ligado ao Plano Diretor de cada município, determinando as diretrizes de localização das Zonas
Especiais de Habitação de Interesse Social (ZEIS).
Em Londrina o PLHIS foi elaborado e entregue a Caixa Econômica, que
encaminhou ao Ministério das Cidades, somente em 2010 e o controverso Programa
Minha Casa Minha Vida (PMCMV), o qual tem incorrido em alguns erros semelhantes
aos cometidos pelo BNH, como segregação espacial e baixa qualidade dos materia is
empregados, no entanto, atualmente erros cometidos pela iniciativa privada com
subsídios do governo, porém sem a fiscalização dos mesmos.
Com objetivo de obter resultados para analisar a implantação dos conjuntos
habitacionais realizados pelo BNH em comparação ao que se tem visto implantado pelas
políticas habitacionais atualmente, foram elencados textos de teses, artigos e livros, assim como
manuais técnicos governamentais, para que, diante da compreensão dos fatos obtidos através
da revisão bibliográfica, houvesse subsídios para elaborar uma conclusão a
respeito da hipótese principal do estudo: Qual a consequência desta implantação dos
conjuntos habitacionais pelo BNH para cidade de Londrina nos dias de hoje?
2 As Políticas Habitacionais Implantadas em Londrina a Partir de 1970
Discorrer sobre habitação em Londrina no Norte do Paraná, é avaliar vários
contextos que vão ao encontro ao cenário atual do município. Uma primeira análise
para entender melhor como procedeu esta urbanização fragmentada nos anos 1970 é
avaliar a criação dos vários conjuntos habitacionais patrocinados pelo Banco Nacional
da Habitação (BNH), instituído em 1964 pelo governo militar, onde somente em 1970
houve a integração do município de Londrina no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), no
entanto, mesmo com atraso no início da produção habitacional em relação ao cenário nacional,
houve grande produção de moradias de 1970 a 1990, com recursos governamentais e gestão
municipal com a Companhia de Habitação COHAB-LD e outros órgãos como a Caixa
Econômica Federal.
Londrina fundada em 1931, pela Companhia de Terras Norte do Paraná, de capital
privado inglês, com previsão inicial de 20.000 habitantes, até 1960 era predominantemente
rural. A partir desta data, houve crescente industrialização principalmente ligada ao setor
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alimentício, ocorrendo melhoria na infraestrutura urbana londrinense. Na década de 1970 a zona
rural e urbana sofrem transformações, devido à mudança da cultura do café, para as culturas
soja e trigo e por pastagens, o que acabou por expulsar a população rural para as cidades. A
população urbana que em 1960 era de 57,40%, saltou para 72,53% em 1970 (MARTINS, 2012).
Este inchaço urbano devido ao êxodo rural tem como consequência um déficit urbano no
município de Londrina. Esta população, que em sua grande maioria era de baixa renda, viu-se
relegada às ocupações irregulares e favelas, pois não tinha acesso aos programas oficiais de
moradia devido à condição de baixa renda. Para Maricato (2001) o pais viveu seu movimento
mais forte de produção imobiliária entre 1967 e 1982, atendendo aos interesses dos setores
imobiliários e de construção, sem transformar, entretanto, a situação fundiária, subsidiaram em
especial, a classe média, que deu sustentação ao regime. Segundo Martins (2007) a
população rural foi forçada a buscar novas formas de sobrevivência no meio urbano, agravando
a necessidade de uma estrutura na cidade.
Na realidade a implantação da política de habitação realizada pelo governo de regime
militar, em 1964, tinha o objetivo principal estimular o setor da construção civil, empregando
mão de obra sem qualificação profissional que contribuiria para a diminuição das pressões
contra o desemprego e assim como o controle a inflação, direta e indiretamente, a nova política
contemplava a necessidade de estimular um importante setor industrial, o da construção civil
(FINEP PROJETO 1985).
Em 1968 houve um concurso nacional para a elaboração do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano (PDDU) para Londrina, sendo a vencedora a empresa paulistana
ASPLAN- Assessoria de Planejamento, que apresentou as diretrizes de zoneamento,
planejamento e expansão urbana do PDDU, através do planejamento viária. Apesar do plano
não ter sido implantado na integra, as diretrizes de expansão urbana foram o que nortearam a
implantação da maioria dos conjuntos habitacionais, determinando o espraiamento centro-
bairro.
Segundo Casaril (2009), algumas das propostas apresentadas no PDDU promoveram um
macrozoneamento, estabelecendo zonas residenciais, industrias e comerciais. Para as zonas
residenciais o plano perpetuou a segregação sócio espacial, sustentando as áreas populares à
periferia, em contrapartida privilegia as áreas destinadas a média e alta classe social aos espaços
com melhor infraestrutura urbana.
Sob estes aspectos e diretrizes, a COHAB-LD, órgão municipal administrador dos
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recursos do BNH, recebeu uma enorme quantia de recursos destinados à construção e
financiamento de habitações, começando de maneira extensiva a construção dos conjuntos
habitacionais nos arredores da cidade. Segundo Oliveira (2012), na década de 1970, trinta e
dois conjuntos habitacionais foram implantados no Município de Londrina representando
34,7% do total implantado nas três últimas décadas. Inicialmente a Cohab-Ld, segundo Martins
(2007) teve como estratégia construir pequenos conjuntos habitacionais ocupando os vazios
urbanos da malha urbana, onde a implantação dos conjuntos no início da década de 1970, foram
o São Pedro com 210 unidades, o Jerumenha com 141 unidades, localizado na zona Sul e o
Charrua com 139 unidades, localizado na zona Noroeste. No entanto, no fim da década de 1970,
iniciou-se a construção dos maiores conjuntos, porem direcionados para as áreas periféricas da
cidade, sendo o primeiro deles o conjunto habitacional Milton Gavetti, com 740 unidades
(Figura 1).
Figura 1 - Conjuntos Habitacionais construídos pela
Cohab-Ld na cidade Londrina/PR: 1970-2000
Fonte: Ippul (2000); Martins (2007).
A produção de conjuntos habitacionais com recursos públicos do BNH foi concentrada
em áreas afastadas do centro da cidade, sem a menor infraestrutura básica como, por exemplo,
linha de ônibus que ligasse esses conjuntos ao centro da cidade. Este fato, além de ter causado
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isolamento aos moradores destes conjuntos, ocasionou ao município, vazios urbanos
valorizados pela especulação imobiliária. Esta valorização dos vazios urbanos entre os
conjuntos habitacionais e o centro da cidade ocorreu principalmente após o governo oferecer
infraestrutura, água, energia elétrica, linha de ônibus, asfalto. Esta prática não era exclusividade
de Londrina, como afirma Maricato (2002), “os conjuntos habitacionais de promoção pública
foram localizados em áreas desvalorizadas, em zonas rurais ou periféricas, alimentando a
manutenção de vazios e a expansão horizontal urbana. Desta forma a política pública preserva
as áreas mais valorizadas para o mercado privado e alimenta a especulação imobiliár ia. ”
Segundo Silva (2003 apud OLIVEIRA, 2012),“ é importante recordar que entre as décadas de
1970 e 1990, marcadas por administrações de caráter populista, ressaltando-se a gestão de
Antônio Casemiro Belinati, conhecida como o período em que mais se produziu moradias
através de conjuntos de habitação popular, onde foram adquiridos lotes em áreas longínquas,
distantes do centro principal, como estratégia do então prefeito para o posterior atendimento e
consequentemente, o ganho de votos.” A maior parte dos conjuntos habitacionais construídos
em Londrina está localizada na zona norte da cidade, área preferencial para instalação dos
conjuntos habitacionais nesta fase, por fatores políticos. Segundo Martins (2007), 52,9% na
zona norte, 6% no nordeste e 1,8% na região noroeste. Nas demais áreas estão distribuídas ao
sul 15,84%, sudeste 1,85%, leste 12,95% e oeste com 4,29%. Este conglomerado de conjuntos,
denominado Cinco Conjuntos, é uma das regiões mais populosas se comparada com outras
áreas da cidade de Londrina.
No entanto, no início da entrega destes conjuntos, não havia nenhuma ligação com o
centro da cidade, que está distante, cerca de 15 km, conforme Figura 2, tornando os conjuntos
isolados, quando aos poucos foram sendo dotados dos serviços de infraestrutura pública,
iniciou-se uma consolidação com pequenos comércios. Atualmente é considerada uma
importante conformação urbana atraindo novos investimentos como shoppings centers.
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Figura 2 - Vista parcial dos conjuntos Habitacionais da zona
Norte de Londrina/PR início da década 1980.
Fonte: COHAB-Ld apud Martins (2007).
Inicialmente estes conjuntos possuíam uma conformação urbana caracterizado
apenas pela presença das unidades residenciais, como cita Martins (2007) “em alguns conjuntos
habitacionais as unidades não possuíam divisão interna, ou seja, as paredes para a separação
dos quartos e alguns moradores utilizavam os próprios móveis para tanto, em muitos casos
causando desconforto térmico pela ausência de forro, piso em concreto liso aplicado
vermelhão.” (MARTINS 2007). Este fato demostra claramente a péssima qualidade das
unidades habitacionais destes conjuntos, onde era comum os imóveis passarem por reforma,
que eram construídas de forma lenta, devido ao baixo recurso financeiro das famílias.
Martins aponta também outros fatores negativos nas construções das unidades como,
problemas estruturais, rachaduras, afundamentos, baixa qualidade dos materiais de construção.
Um dos casos citados impressiona pela falta de planejamento na implantação de um dos
conjuntos habitacionais, demonstrando a falta de capacidade técnica na gestão dos recursos
destinados pelo BHN “o conjunto habitacional Jerumenha foi construído sobre um aterro
sanitário, que devido à lenta compactação do solo surgiram rachaduras em muitas casas a partir
do terceiro ano de construção, sendo que algumas casas tiveram que ser demolidas e
reconstruídas devido a grandes rachaduras e afundamento dos pisos e alicerces” (MARTINS,
2007). A dimensão das unidades dos conjuntos habitacionais apresentava em média 36 m2, no
entanto segundo Martins (2007) apesar das modificações e adaptações realizadas para atender
as reais necessidades dos usuários executadas pelos próprios, devido ao tamanho reduzido da
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habitação, os mesmos afirmavam estar satisfeitos por terem uma casa própria.
As Figuras 3 e 4 dos conjuntos habitacionais no início da entrega das unidades, onde é
possível observar as situações descritas acima, como falta de infraestrutura e isolamento dos
conjuntos. Segundo Martins (2007), em Londrina e em algumas cidades brasileiras, os
conjuntos habitacionais viraram sinônimo de casas mal construídas, falta de infraestrutura,
serviços, distância dos centros urbanos, a margem das rodovias, construídos em áreas
impróprias para moradia, onde o Estado não cumpre seu papel de principal provedor de
habitação, infraestrutura e serviços públicos as populações de menor poder aquisitivo, sendo a
ausência de ações efetivas, racionais e planejadas, o sintoma mais evidente dos processos de
exclusão existentes no Brasil.
Figura 3 - Vista parcial do conjunto habitaciona l
Milton Gavetti na cidade de Londrina: 1978.
Fonte: Acervo Cohab-Ld (1978 apud MARTINS (2007)
Figura 3 - Vista parcial da localização do conjunto habitaciona l
Jamilie Dequech- Londrina/PR
Fonte: Cohab-Ld (1992) apud Martins (2007).
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Apesar dos problemas citados, ainda assim, parte da população de baixa renda não
tinha acesso às moradias. Como cita Oliveira (2012) “os financiamentos inicialmente
dirigidos à população de baixa renda marcada pelo lançamento do Plano Nacional de
Habitação Popular (PLANHAP) em janeiro de 1973, foram dirigidos para famílias com
renda de três a cinco salários mínimos, segregando a população de baixa renda incapaz
de realizar financiamentos.”
A produção dos conjuntos habitacionais em Londrina manteve um ritmo acelerado
na produção até início dos anos 1990. Embora com a extinção do BNH em 1983, havia
projetos aprovados anteriormente com recursos garantidos para a execução, sendo na
década de 1980 construídos mais de 40 conjuntos habitacionais, somando mais de 11 mil
unidades.
De acordo com a Tabela 1, entre os períodos de 1969 a 2000, foram construídos
27.040 unidades distribuídas em oito mandatos de prefeitos, demonstrando que,
segundo Martins (2007), Londrina passou a ser alvo de investimentos na construção de
conjuntos habitacionais, sendo que teve um número maior de unidades construídas
que muitos estados da federação. Porém, este número elevado de construções de
unidades, não significou a construção de infraestrutura adequada na implantação dos
conjuntos habitacionais, os quais foram servidos pelo município tempos depois, após
reivindicações públicas e em épocas eleitorais.
Tabela 1 - Prefeitos de Londrina e número de unidades habitacionais populares implantadas na sede municipal, em respectivas gestões: 1969-2000.
Fonte: Fresca (2005 apud MARTINS, 2012)
No âmbito nacional, após a extinção do BNH, a Caixa Econômica Federal assumiu os
financiamentos e direcionamento dos recursos, as Companhias Habitacionais (Cohab) que, em
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um formato de gestão descentralizado do governo, financiaram 113.389 casas populares no
Brasil, segundo Azevedo (2007 apud OLIVEIRA, 2012) durante o primeiro semestre de 1988,
porém este número caiu drasticamente para 30.646 unidades devido as mudanças da política
habitacional que criou medidas restritivas ao acesso a credito por parte das Cohabs, pois mesmo
a Caixa Econômica ser considerada uma instituição com caráter social, sua principal função era
de Agente financeiro com preocupações como retorno de capital e equilíbrio financeiro, ou seja,
tornando difícil neste contexto a dinamização de programas alternativos que exigissem elevados
subsídios.
Em 1998, Londrina aprova seu Plano Diretor e a Lei de Ocupação do Solo, o
primeiro realizado pela ASPLAN em 1968, onde para garantir a aplicabilidade desses
instrumentos, o município passou a ordenar a função social da cidade, através de
instrumentos previstos no Estatuto das Cidades, em destaque as Zonas Especiais de
Interesse Social (ZEIS) e a Regularização fundiária, com objetivo de impedir ocupações
irregulares e em áreas de preservação permanente, fato consequente da falta de
política habitacional para a população de baixa renda no município.
Segundo Cordeiro (2006 apud OLIVEIRA, 2012) no início de 2000 impulsionados pelo
Programa Habitar-Brasil, financiados com recursos do BID em parceria com o Orçamento
Geral da União, estabeleceram através dos Subprogramas de Desenvolvimento Instituciona l
(DI) que possibilitou o desenvolvimento do Plano Estratégico Municipal para Assentamentos
Subnormais (PEMAS), onde em sua fase final o Programa passou a ser alocado no orçamento
do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), como estratégia federal.
A partir da elaboração da Política Nacional de Habitação (PNH), implantado em 2004, a
estrutura da Secretaria Nacional de Habitação (SNH), através do Ministério das Cidades
organiza-se em dois subsistemas: o Sistema Nacional de habitação de Mercado (SNHM) e o
Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), onde os recursos do SNHIS são
geridos por um Conselho formado por representantes do governo, da sociedade civil e entidades
acadêmicas, sendo este Conselho responsável por elaborar o Plano Local de Habitação de
Interesse Social (PLHIS), segundo Maricato (2006) a importância do FNHIS é que através dele,
estados e municípios irão se incorporar ao referido sistema para ampliar esforços no sentido de
responder massivamente ao problema da questão habitacional.
Em Londrina a elaboração do PLHIS, foi executada em três etapas distintas: proposta
metodológica, diagnostico do Setor Habitacional e o Plano de Ação para o Setor Habitaciona l,
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porém, segundo Oliveira (2012) ocorreu vários problemas operacionais como desatualização
dos dados do IBGE, que datavam de 2000, inviabilizando um diagnóstico correto a respeito do
Setor habitacional, além da falta de diálogo entre os órgãos que tratavam as políticas setoriais,
urbana Instituto de Pesquisas Urbanas de Londrina (IPPUL) e habitacional Companhia de
Habitação (COHAB-LD) a respeito da criação das Zonas especiais de interesse Social (ZEIS)
um número extremamente reduzido de profissionais para operacionalizar os programas de
habitação para a população de baixa renda.
Dos recursos de credito e subsídios destinados à habitação de interesse social (HIS) o
Programa Minha Casa Minha vida (PMCMV), fomentando pelo Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e lançado pelo governo em 2008, tem sido mais beneficiado em detrimento
do PLHIS, segundo Neto, Moreira e Schussel, o PMCMV sofreu alavancagem significativa, o
qual voltado ao financiamento de moradia através do mercado imobiliário em parceria com o
setor público, tendo como meta a construção de dois milhões de moradias até 2014.
Com diferentes linhas de crédito, abrangendo diferentes faixas de rendas populaciona is
e recursos para infraestrutura através da Caixa Econômica Federal, o programa criado para
incentivar a construção civil em um momento de crise internacional o PMCMV, recebe críticas
de diferentes níveis, segundo Andrade (2011) o Sistema Nacional de Habitação de Interesse
Social (SNHIS) teve sua implantação comparado ao PMCMV em um tempo muito superior e
com menos recursos, sem se submeter aos mecanismos de planejamento, participação e controle
social como o SNHIS, no entanto para Bonduki (2009) o PMCMV como não este pactuado
como uma estratégia em longo prazo produz um impacto real no déficit habitacional, sendo a
principal novidade positiva. Através do PMCMV, o mercado imobiliário tem atuado de forma
análoga a produção dos conjuntos habitacionais da década de 1970, promovendo a localização
da implantação destes novos conjuntos em áreas afastadas dos centros urbanos,
mantendo o padrão periférico de segregação social, pois mesmo com uma legislação
proibindo a implantação de loteamentos com mais de 250 unidades, segundo Neto,
Moreira e Schussel a iniciativa privada tem sistematicamente construído conjuntos
habitacionais de forma fracionada, aprovando empreendimentos adjacentes de mesma
tipologia.
Esta falta de controle e planejamento destes empreendimentos ocorre principalmente pelo
fato de que a Caixa Econômica Federal aprova os recursos para estes loteamentos, somente em
uma avaliação financeira, sem levar em consideração a sua implantação e localização, “[...] o
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poder do mercado imobiliário na definição de políticas habitacionais extrapola o controle
público do Estado e dos Conselhos Setoriais. No PMCMV, observa-se o papel determinante
desempenhado pelas construtoras e incorporadoras alavancadas pela financeirização
imobiliária. Estes agentes estão definindo não apenas a localização e o público alvo, mas os
projetos, tipologias e qualidade das edificações. É o mercado interferindo e definindo a
demanda de interesse social, que não é de mercado”. (BUONFIGLIO ; BASTOS, 2011 apud
NETO; MOREIRA; SCHUSSEL, 2012).
O que ocorre em Londrina e no cenário nacional através do PMCMV é a construção
de unidades periféricas padronizadas e com baixa qualidade dos materiais de construção e de
execução da obra, pois para poder haver um lucro efetivo, as construtoras adotam a
padronização das unidades que para serem construídas em grande número, necessitam ser
implantadas em áreas maiores e com baixo custo, retratando o conhecido cenário dos conjuntos
habitacionais do BNH. “[...] a deficitária integração entre as políticas habitacionais e fundiár ias,
constitui um dos principais desafios dos gestores públicos, com riscos em incorrer em erros
semelhantes aos ocorridos no modelo BNH, como segregação sócio territorial e precariedade
urbana e ambiental, pois com o aumento no volume de obras e a precária regulação do
mercado de terras, tende a reduzir a produção habitacional, sobretudo para as populações mais
carentes”. (NETO, MOREIRA E SCHUSSEL) 2012. Analisando a Tabela 2, pode-se observar
que, a maior concentração da construção de conjuntos habitacionais ocorreu nas décadas de
1970, 1980 e início de 1990, sendo que, nas décadas seguintes houve uma queda significat iva
na construção de conjuntos habitacionais, porém em 2011, percebe-se uma retomada na
construção destas habitações populares, com a implantação de 2.217 unidades distribuídas em
8 conjuntos habitacionais, com o incentivo do PMCMV.
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Tabela 2- Habitação Social de Londrina de 1969-2017
Fonte: Cohab-Ld apud Perfil do Município de Londrina-2018
De acordo com dados publicados pelo anuário Perfil do Município de Londrina (2012),
existem 46% dos terrenos urbanos destinados ao uso residencial com ocupação, ou seja, mais
da metade, ou 54% estão vazios. Este fato demonstra que de fato, a construção dos conjuntos
habitacionais na década de 1970 nas margens da malha urbana, originando imensos vazios
urbanos, causaram efeitos que perduram até os dias atuais, como a especulação imobiliária e a
deficiência de infraestrutura nos bairros mais afastados do centro da cidade. No entanto, mesmo
diante destes fatos, a atual política habitacional insiste em atuar da mesma forma, construindo
conjuntos habitacionais distantes do centro da cidade, sem infraestrutura, fazendo com que o
usuário se desloque quilômetros para ter acesso aos serviços básicos, como saúde e educação.
3 Conclusão
O que se pode concluir diante dos fatos e opiniões de diversos autores é que a política
habitacional desde a implantação dos conjuntos habitacionais pelo BNH através da COHAB-
Ld até a implantação do PAC, conferiu características elitistas e excludente em todos os
Programas e governos ao longo destas três décadas, relegando a população de baixa renda à
segregação às margens das cidades, sem infraestrutura e condições de habitabilidade, mesmo
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havendo neste período propostas de planos de habitação social. Com o PHN, e a implantação
do PLHIS, aventou-se uma modificação nos rumos que esta questão habitacional para
população de baixa renda estava tomando, principalmente pelo fato de ser elaborado de forma
coerente, respeitando o Plano diretor municipal e suas diretrizes, porém, diante dos fatos
apontados das recentes políticas habitacionais, principalmente referentes ao PMCMV, mostra
que novamente o interesse imobiliário e da iniciativa privada se sobrepõe aos interesses da
população, retomando o que foi visto no passado recente produzido pelo BNH, só que desta
vez, produzido pela por setores privados com anuência, subsídios e falta de controle dos
órgãos públicos municipais. No município de Londrina, além das dificuldades enfrentadas na
implantação do PLHIS o que se evidencia também, segundo Oliveira (2012) é o desinteresse
da população nas discussões sobre o PLHIS, demonstra a inexperiência do munic íp io
quanto à capacitação para a participação na Política Habitacional de Interesse Social. Esta
discussão é importante para esclarecer as diferenças que existem entre as políticas habitaciona is
que estão vigorando no momento, pois sem este tipo de esclarecimento à população, não há
cobrança aos órgãos públicos, no sentido de conter e regularizar efetivamente o impacto urbano
causado pelo PMCMV, semelhantes os ocasionados pelo BNH, tornando-o sujeito às regras do
PLHIS, fato que atualmente não ocorre. O que pode ser observado, diante dos fatos é que o
PMCMV pode apresentar resultados muito mais significantes para as construtoras e
empreiteiras do setor imobiliário, do que propriamente resolver o problema da questão
habitacional do país.
Referências
BONDUKI, N. Habitar São Paulo: reflexões sobre a gestão urbana. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.
CASARIL, C.C. A expansão físico-territorial da cidade de Londrina e seu processo de verticalização: 1950-2000. Londrina: UEL,
COLETANEA HABITARE. Procedimentos de gestão habitacional para população de baixa
renda. Porto Alegre-2006.
OLIVEIRA, M.N. Gestão da política habitacional: o processo de elaboração do plano local de habitação de interesse social do município de Londrina-PR, Dissertação (Mestrado em
Serviço Social) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012
MARICATO, E. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes, 2002.
MARTINS, V.H.T. Habitação, infraestrutura e serviços: conjuntos habitacionais e suas temporalidades em Londrina-PR, Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade
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Estadual de Londrina, Londrina, 2007.
NETO, P.N.; MOREIRA, T.A.; SCHUSSEL, Z.G.L. conceitos divergentes para politicas convergentes: descompassos entre a Política Nacional de Habitação e o Programa Minha a
Vida. Estudos Urbanos e Regionais, v.14, 2012.
PERFIL DO MUNICIPIO DE LONDRINA-2018 Secretaria Municipal de Planejamento Orçamento e Tecnologia –DP/GPI