1
O FUNDAMENTO TRÁGICO DA MORAL EM
NIETZSCHE
MARCOS GOULART SANTOS
São Paulo - 2006
2MARCOS GOULART SANTOS
O FUNDAMENTO TRÁGICO DA MORAL EM
NIETZSCHE
São Paulo - 2006
Projeto de pesquisa como parte integrante ao processo seletivo do Mestrado em Filosofia
“O Fundamento trágico da moral em Nietzsche”.
Marcos Goulart Santos
Prof.: Dr. Alcino Eduardo Bonella
20/01/03 a 02/08/04.
Tema: Ética.
Delimitação do Tema: Nesta pesquisa buscaremos expor e compreender os aspectos que
constituem a moral em Nietzsche, ou seja, como é constituída.
Formulação do Problema: Nietzsche, ao pregar o aniquilamento da consciência moral vigente
e de toda compaixão humana, * concebe o homem como um ser que cria valores. Como um
destruidor de crenças, mitos, do cristianismo, da massificação das artes e dos valores morais,
torna-se uma voz quase solitária na defesa do restabelecimento de uma ordem original das coisas.
Vamos buscar os pilares principais em que o autor se pauta, e como ele constrói seus conceitos.
Nietzsche foi o mais radical adversário do rebaixamento do homem promovido pela
sociedade de massas surgidas com a revolução industrial, esta é uma critica as doutrinas
igualitárias que impossibilitam que se pense a diferença entre os valores dos senhores e dos
escravos, que ele chama de a moral de rebanho. Por isto buscaremos demonstrar o caminho pelo
qual o pensamento formula suas polêmicas teorias, como por exemplo:
"Mostro-vos o super-homem. O homem é algo que deve ser sobrepujado. Que tendes feito para
sobrepujá-lo ? "Todos os seres até hoje criaram alguma coisa superior a si mesmos; e vós
quereis ser o refluxo deste grande fluxo e até mesmo retroceder às bestas, em vez de superar o
homem?"1, esta passagem refere-se ao conceito nietzschiano de Übermensch2.
1 Friedrich Nietzsche, "Prólogo de Zarathustra" Assim falou Zarathustra (1883)2 (o Sobre Humano) ou Superhomem - aquele que tem o domínio sobre suas paixões, superou a agitação sem rumo da vida comum e deu ao seu próprio caráter um estilo criativo e individual.
3
Em 25 de Agosto de 2000 comemorou-se o centenário de morte de Nietzsche. Passado
mais de um século de sua morte o filósofo-poeta como é chamado ainda permanece desconhecido
e vitimado pelo preconceito.
“Todavia, que ninguém se iluda: querendo conhecer Nietzsche verdadeiramente não perca
tempo, comigo e com outros – vá diretamente a Nietzsche, meu caro leitor. Sairá, como os
demais, com uma imagem de Nietzsche. mas essa valerá mais do que tudo que se poderá escrever
dele e de seu pensamento.3”
Nascido em 15 de outubro de 1844, o pequeno Friedrich custa a falar. As vésperas de
completar quatro anos de idade, seu pai morre. Este acontecimento influencia de forma profunda
toda sua vida. Friedrich Nietzsche não descartará nunca a lembrança paterna.
“O que o pai contribuiu com um manto de silêncio cabe ao filho dizer. Muitas vezes, vi crescer o
filho no mistério paterno.”, “Quando se corta a fronde de uma árvore, esta murcha e perde as
folhas, e os pássaros abandonam seus galhos. Nossa família fora despojada de sua fronde, todas
as alegrias desapareceram de nossos corações e fomos invadidos por uma tristeza profunda.”
Isto ele escreve aos quartoze anos de idade. Ao longo de toda sua vida, Nietzsche sentirá o chão
tremer debaixo de seus pés, será perseguido por visões de desabamento.
O homem que sem medo das palavras indagou "Onde está Deus", ele gritava. "Eu devo
dizer-lhes. Nós o matamos -- vocês e eu. Todos somos assassinos... Deus está morto. Deus
continua morto. E nós o matamos..."4, nascera com inclinações sacerdotais. “Quando somos
capazes de nos dominar”, ensina à irmãzinha, “dominamos também o mundo interior.” Era
orgulhoso, acreditava que os Nietzsche pertenciam a uma nobre linhagem. Nietzsche não era um
ser de felicidade, preocupava-o o desconhecido futuro, e essa preocupação mergulhava-o nas
3 Florestan Fernandes.4 Friedrich Nietzche, Gaia Ciência (1882), parte 125
4
meditações a que era naturalmente propenso. Aos doze anos, declara, “vi a Deus em sua
onipotência”. Nietzsche tinha sido arrancado ao quatro anos de uma vida protegida e lançado
numa vida abandonada, de uma espécie de Paraíso numa espécie de Inferno. Não podia duvidar
nem de um, nem do outro; nem de Deus, amor e luz, nem do Diabo e de seu brilho sombrio.
Como compreendê-los juntos, como reunir os contrastes? Como explicar a presença simultânea,
num mesmo universo, de Deus, de Jesus e do Diabo? Esse problema teológico precisava ser
resolvido. Nietzsche não abandonará esta dicotomia, viverá fascinado pelo Inferno, e a tragédia
de sua vida terá por origem esse fascínio exercido sobre ele, impresso nele desde a infância.
Descrever anteriormente, numa tentativa de buscar na tenra idade algo que possa explicar o
Nietzsche adulto, filósofo, filólogo, poeta é um exercício extremamente árduo e perigoso. Árduo
pela dificuldade de empreender psicologicamente a possibilidade de entender até que ponto o
meio justifica o eu; perigoso porque permite as mais variadas indagações a respeito de sua vida,
podendo ser tendenciosas e deturpar ainda mais o mistério e a penumbra que envolve este
filósofo. No entanto, é fundamental este exercício, que deve se dar de forma coerente, sem
induções, deduções, achismos. Para tal penso que é possível olhar para si mesmo, e se perguntar.
Minha infância tem influência sobre o eu de agora? Isto permitirá sendo a resposta positiva ou
contrária, narrar sobre Nietzsche eticamente.
Passemos ao Nietzsche adulto, ao escritor que afirma, Eu sou uma coisa; outra coisa é
minha obra, eu mesmo não sou ainda atual; alguns nascem póstumos.
Nietzsche adulto em sua obra está sempre a perguntar "que é a filosofia?" Mas, isso não indica
que Nietzsche seja um defensor da filosofia. O que se sobressai, com o pensamento de Nietzsche,
é sempre ter que dizer, sempre mais uma vez: o que é a filosofia? - O significado da filosofia,
que volta a ser posto em questão.
Abordar Nietzsche em nome e em defesa da filosofia aparece como necessária para
5
àqueles que estão sempre a perguntar “Para que Filosofia? Aparece, por exemplo, como
necessidade de ética ou moral; necessidade de um pensar essencial. Mas não parece que
Nietzsche defenda a filosofia como tal; ao contrário, trata da filosofia pondo-a sempre em
questão. No início do pensamento Nietzschiano, então ainda filólogo, trata da questão do trágico.
Logo em seguida, o trágico não é tratado, propriamente, como a questão da atividade de pensar,
ao menos como o faz em O nascimento da tragédia. Em ruptura com o trágico ele vem apenas a
expressar aquilo que já estava determinado como pensamento. Esta ruptura vem a significar
depois revigoramento do signo do trágico e crítica ao caráter moral da filosofia.
O que Nietzsche apresenta como autocrítica não parece significar correção de alguma coisa em
seu pensamento. É autocrítica apenas ao modo como conduz seu pensar que é sempre o mesmo,
seja quando ainda sob a influência de Kant e Schopenhauer, de Wagner, sob uma motivação
estritamente pessoal, cognominada por ele, às vezes, de pensar a marteladas, como é a marca de
seu segundo momento.
Em 1886, Nietzsche dá a entender, no entanto, que sua reflexão se mantém, desde o
começo, sob a exigência do trágico, exigência típica da própria atividade de viver. Nietzsche
impõe ao debate filosófico a exigência de exame da procedência genealógica do "verdadeiro", do
"simples", do "desinteresse". O aspecto imprescindível disto deriva do fato de a reflexão
filosófica ainda continuar sendo conservação de valor5 criado, de valor efetivado. Situação que
abrange as mais antigas formas, até a simples idéia de "bom gosto" com que a "razão" se fantasia
para se impor e dominar. Fazer o pensar recair sobre o ato de criar valor, nisto deveria consistir a
discussão filosófica. Significa dizer que, embora seja supremo e imprescindível o valor da
5 Nietzsche rejeita o pretenso caráter em si dos valores, o postulado metafísico da identidade entre valore e realidade: os valores são históricos, sociais, produzidos. Neste sentido, melhor do que caracteriza-la como uma filosofia dos valores, a perspectiva nietzschiana deve ser definida como uma filosofia da avaliação. A isto Nietzsche vem chamar de Transvaloração de Todos os Valores. O que significa de fato o projeto de transvaloração de todos os valores? Significa a mudança do princípio de avaliação e, por conseguinte, a vitória da vontade afirmativa de potência, da superabundância de vida, sobre os valores dominantes do niilismo.
6
"verdade" e do "desinteresse", isto não substitui a ação de criá-los no sentido de (poder criá-los).
A partir deste entendimento, "vontade de engano", "aparência", "egoísmo" e "cobiça", tudo isto
vale mais e é "mais fundamental à vida". Resulta que seria preciso tomar por objeto da discussão
a possibilidade de que o valor daquelas "primeiras coisas" venha a ser encontrado nas segundas.
Na verdade, elas são "talvez até essencialmente iguais a essas coisas ruins e aparentemente
opostas". Enfim, diz Nietzsche: "Talvez! - Mas quem se mostra disposto a ocupar-se de tais
perigosos 'talvezes'? Para isto será preciso esperar o nascer de uma nova espécie de filósofos, que
tenham gosto e inclinação diversas, contrárias às daqueles que até agora existiram - precisam ser
filósofos do perigoso 'talvez' a todo custo."
No bojo de declarações como esta, o trágico figura como o conteúdo da relação entre vida
e pensamento. O sentido de trágico passa a ser uma espécie de transcendência em que todo valor
criado precisa ser pensado como sendo afirmação e vigor de sua origem, a própria aparência -
instintos, afetos, sentimentos. Sem tal entendimento, os conceitos e a cronologia das obras de
Nietzsche tomam uma posição secundária no entendimento e explicitação de sua filosofia.
A partir de Nietzsche percebe-se que o nível mais alto que a filosofia alcança é o de
questionar-se sobre o que ela pode ser. Este poder significa poder obter a verdade,
experimentando-se até que ponto ela obedece à vontade de verdade. É por isso que se pode
afirmar que desde que Nietzsche tomou consciência de sua condição fatal na filosofia..., pergunta
ele sempre de novo o que é a filosofia? Em que consiste sua essência? Qual é, propriamente, sua
tarefa? Esta, não existe senão como a atividade mesma de pensar, ou seja, a atividade de pensar
não pode ser algo que exista fora da ação e intimidade dos instintos. Justo por isso, não pode
cessar de ser a força e o que determina esses próprios instintos. Entretanto, instintos não se iguala
à pensar, pura e simplesmente. Tem-se, então, um problema. Como a questão desta diferença
tem sido discutida pela filosofia?
7
A separação criada pela filosofia entre o sensível e o supra-sensível consiste numa
formulação desta questão. A relação entre as duas toma por base a verdade e a necessidade desta
última é que a define, propriamente. A verdade é, então, cumplicidade fundamental entre estas
duas instâncias. Mas quando se indaga por que pode a verdade ser verdade, isto é, de onde ela
surge para, então, justificar o fim, percebe-se que o aspecto complexo disto vai incidir lá na
instância de poder dos "impulsos", criadores da relação entre o sensível e o supra-sensível. O
significado de questão em filosofia passa a residir, naquela instância de poder. Quer dizer: a
importância da verdade resulta secundária, pois consiste no valor de verdadeiro já criado e
efetivo. O sentido de importância, essência, necessidade, fim, razão, que a verdade adquire,
pertence à categoria de valor. Como não é possível que a força dos "impulsos" se reduza a
qualquer uma destas qualidades ou valores, a verdade tem posição secundária enquanto questão
filosófica. Ao querer que a verdade tome a posição de fundamento primeiro e sentido de
finalidade para todas as coisas, trata-se, então, de um problema moral. A filosofia torna-se radical
e incondicionalmente a própria moral.
Para Nietzsche, toda exigência de verdade tem se efetivado como princípio de causa final,
ou seja, enquanto condicionado à exigência de fim. Enquanto pensamento, isto se apresenta como
determinada interpretação do mundo em que este aparece como tendo uma finalidade. Esta
concepção da realidade dependerá sempre da existência de um supra-sensível e um sensível-
aparência, gerando a relação racionalizada de causa e efeito, de verdadeiro e falso, de bem e mal6,
etc. Nietzsche, no entanto, não crê que o mundo tenha uma finalidade. Por isso, esta pretensão de
um sentido verdadeiro do mundo se torna duplamente falsa. Por um lado, impede que o homem
assuma o desígnio trágico que é a existência sem um sentido verdadeiro. Por outro lado, torna vã
6 Nietzsche trata mais profundamente desta relação no livro Para Além de Bem e Mal: Prelúdio a uma filosofia do futuro.
8
e ilusória a busca de um fim verdadeiro através do conhecimento racional, justificado pela
relação entre o sensível e o supra-sensível. É preciso remarcar nisto que o teleológico7 se efetiva
como predominância de valor entre valores. Significa dizer que a consistência de fim é valor
conservado como algo efetivo. O atribuir desta atitude à moral advém do fato do significado de
fim se encontrar condicionado à conservação de seu valor pela ação.
O pensamento, caracteriza como verdade ("necessidade") para leis ("imprescindíveis") do
agir retamente. Caracteriza-se pois como base metafísica do fim a que se destina a vida prática.
Tem de se caracterizar sob o aspecto de princípio em si, Deus, sujeito, consciência etc. A
consistência do fundamento, no entanto, reside, como se vê, no valor que e como a vida prática -
os costumes - assegura, conserva. Fim é sempre realização, efetiva finalidade. Por mais que se
busque tornar radical a verdade para se alcançar determinado fim, não se conseguirá mais do que
apenas assegurá-lo, sempre. Nunca será a sua natureza, pois é apenas o método de como
conservá-lo - até mesmo quando da renovação e substituição do fim -, que está sendo debatido e
posto em discussão. Fiel a isto, o pensamento tende a definir caminhos, leis, normas para a vida
atingir seu destino, seu fim.
Se este é o papel que a moral desempenha, e se o teleológico consiste nisto, então a moral
se torna o modo mesmo de pensar. Neste sentido, a exigência moral de verdade é que constitui
também o que Nietzsche compreende por pensamento metafísico. Pois se identifica com o
teleológico. Nietzsche reconhece este poder de abrangência da moral.
Nietzsche critica a moral, mas querendo atingir, com isso, a filosofia. Se, num
determinado momento, define a filosofia como "a busca de tudo o que é estranho e problemático
no existir" (EH/EH, Prefácio, § 3) 8é compreensível que acrescente, imediatamente: "tudo aquilo
7 Filos. Diz-se de argumento, conhecimento ou explicação que relaciona um fato com sua causa final. 8 Ecce Hommo, Prefácio, § 3.
9
que foi, até agora, banido por meio da moral" (EH/EH, O nascimento da tragédia, § 3). Isto
ocorre não só porque a idéia de fundamento verdadeiro repele o trágico, mas também porque a
noção de fim verdadeiro torna a moral aparentemente necessária e muito abrangente.
Na tática utilizada por Nietzsche contra a moral, vemos sempre uma procura pelo
significado da filosofia, em vez de falar já em nome desta. Considera filosófico aquilo que
consegue acompanhar o jogo de força da vida sob a intenção de afirmá-la mediante o
pensamento. A filosofia teria se mostrado incapaz disso, embora aparentemente tenha
demonstrado o contrário. Para se manter nesse equívoco, teria ela investido num saber
estratégico, em armadilhas e espreitas contra a afirmação trágica. Zaratustra percebe estes dois
lados de se tratar o problema do sentido para o real. Ele diz: "É inquietante a existência humana e
ainda sempre sem qualquer sentido: um farsante pode torná-la uma fatalidade" (Za/ZA, Prefácio,
§ 7). Quer dizer que nem há possibilidade de um sentido essencial, nem do nada como sentido.
Por isso qualquer sentido pode ser, com direito, o sentido da realidade. Ao mesmo tempo
significa, por fim, que este direito é falso. Nunca pode existir enquanto a verdade, apesar dessa
condição de desequilíbrio próprio e inevitável da existência. Em conseqüência disso, ouvimos
depois do próprio Zaratustra o seguinte: "Pensai até o fim os vossos sentidos" (Za/ZA II Nas ilhas
bem-aventuradas). Nisso se percebe o caráter do pensar trágico. A filosofia terá de teorizar um
sentido para a vida a partir dessa falta de equilíbrio da existência; a partir dessa verdade que não é
verdade alguma nem poderá vir a ser depois.
No entanto, Nietzsche não põe a filosofia, com isso, no ceticismo ou no pessimismo.
Requisita para a filosofia uma exigência, na qual ela possa dar conta do caráter trágico do sentido
da existência. A gênese dos valores morais é revelada por Nietzsche como uma máscara em que a
filosofia se dissimula. Por isso, se queremos formular uma tese nietzschiana da moral devemos
começar dizendo que se trata, necessariamente, de um problema do pensar.
10
A moral impera e se moderniza. Mas, “O conhecimento pelo conhecimento” é a última
armadilha colocada pela moral, e assim que mais uma vez nos enredamos nela.
A discordância nietzschiana em relação ao pensamento moral, chega, finalmente, a um
grau de total intransigência. Deve se isto à perspectiva de superação da moral. Nietzsche assegura
distinção ao trágico em detrimento da pretensão de verdade própria do caráter moral do pensar.
Ele diz, nesse sentido, que "a vida não foi inventada pela moral: ela quer engano, ela vive de
engano..." (MAI/HHI Prefácio § 1).
Em que consiste este engano trágico próprio da vida? Enquanto "engano" trágico, a vida
é, para Nietzsche, vontade de potência. Vontade de potência é, em primeiro lugar, nada de
teleológico, nada de fim, causa primeira, nada de fundamento verdadeiro. Na verdade, vontade de
potência é apenas o modo como se comporta aquilo que não pode ter finalidade ou sentido. Só
que isto é já o próprio mundo. Entende-se vontade de potência no que se recorre à noção de força.
Neste sentido o mundo é força e vida é também força. Segundo Nietzsche só há força enquanto
vontade de potência, isto é, só se pode compreender por isto a já efetivação mesma de toda força.
No sentido de contrastar com a compreensão lógica e racional, esta efetivação terá de ser sempre
somente "engano", "erro", vontade de potência.
Com isso, vontade de potência tende a ser necessariamente outra coisa que fundamento
"verdadeiro". Nietzsche explica a vontade de potência enquanto certo tipo de "erro". Que aqui
quer dizer perspectiva, que, por sua vez, que exprime a dinâmica, ou seja, o jogo da realização da
realidade, que só pode se mostrar como movimento entre aparência e essência ou verdade ou
finalidade. Assim, como já está afirmado, pode se dar sob a condição de aparência e verdade, mas
que não é nem uma coisa nem outra; é, sempre, apenas poder para tal realização. Deste modo,
verdade e aparência, ou seja, supra-sensível e sensível, tornam-se apenas ilusão e fé. E é somente
sob essa diferenciação que vontade de potência, sob o signo de força, pode ser tomada por
11
fundamento.
O que, pois, a partir do fundamento da vontade de potência, pretende ser atividade de
pensar, em detrimento do pensamento moral? A resposta é: a repetição do igual, isto é da força
mesma. Pensar é vontade de potência enquanto "dionisíaco dizer-sim ao mundo, tal como ele
é...". Em lugar de escolha e exceção, acolher o devir sem restrição do desdobramento, sua falta de
lógica e o seu "eterno retorno absoluto". O pensar, para continuar consistindo no poder que
"suporta e ousa" e quer o expoente máximo de verdade, precisa não sucumbir ao valor efetivo
desta última. Como no caso da verdade, todo valor vale pelo exercício de ser criado, exercício de
intensificar-se do poder criar. Visto que a realidade é somente jogo de repetição da força limitada
que é a vontade de potência, pensar implica em acolher tudo o que vem-a-ser. Terá de ser, por
isso, uma superação trágica, visto ocorrer como afirmação incondicional de todo o vir-a-ser.
Não há sentido em se compreender isto como uma nova moral, como uma ética
dionisíaca. Se assim o fosse, teria de admitir o já utilizado sentido de moral da tradição, ora
criticado. Teria de tomar o sentido de moral pelo valor de "verdadeiro" assegurado como valor
efetivo. No caso de uma tal ética, o dionisíaco teria de ser sempre apenas valor de "verdadeiro",
por mais que fosse incondicional. E, no entanto, ele se destina, de fato, a ser sentido para o agir
humano. Não na fórmula da "consciência" mas na da solidão do criador. Trata-se da arte de criar
valor ou sentido como sendo a arte de pensar. E isto ocorre como exercício da vontade de
potência enquanto eterna repetição. Que significa isto? Terá de ser uma força própria, passível de
ser comparada a uma "roda que gira por si mesma". Terá de ser um poder, interpretado e
compreendido como o sentido, em função do qual "estrelas" e tudo o mais existe e age. Mas sua
identidade não é já "ambição", "cobiça" e divagação. Não pode ser o poder de "escapar" de
qualquer tipo de adversidade; não há qualquer "direito" e sentido em se "escapar de um jugo".
Terá de ser o poder de obedecer e ser fiel à adversidade, mas nunca na condição de
12
escravo. Não pode ser um poder de ser livre do domínio de qualquer ente possível; não há sentido
em se ser livre de algum ente ou fato, pois nada é em relação ao ser do criador de valor; a
existência de alguma coisa é já e somente a existência do criador; o criador e todas as coisas têm
seu ser no vir-a-ser. Tem de ser um poder em que a vontade é uma lei única que determina o que
seja bem e o que seja mal, isto é, todo valor; e tem de ser ainda o transgressor da lei e o juiz. Tem
de ser o poder de perceber a decadência enquanto a verdade da "consciência", mas não afirmá-la
como o óbvio nem o contrário disto. Tem de ser a atitude daquele que não separa entre
verdadeiro e falso nem elege um ou o outro como verdade e sentido e então por isso nunca terá
razão de afirmar que tudo é "falso". Tem de ser o poder de "desprezar" tudo o que já se tornou
valor, a fim de que a força de criar valor seja o único sentido existente e corrente; tem de ser o
"desprezo" sobretudo dos valores supremos, a saber, as virtudes (a simplicidade, a santidade, o
bem ou bondade, a compaixão e, a mais necessária de todas, a justiça); toda virtude tem de
consistir em "desprezar" todo valor, tal como instrui este demônio: "Esta vida, assim como tu a
vives agora e como a viveste, terás de vivê-la sempre ainda uma vez mais e inúmeras vezes; e não
haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de
indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e
seqüência... A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela,
poeirinha da poeira!'".
A crítica de Nietzsche à moral permite que passemos a ver como a história da filosofia
tem se identificado com necessidade, importância, e defesa da própria filosofia. Neste sentido, a
atividade de pensar tem se tornado, uma estratégia de avaliação e não criação de valor ou sentido,
conforme pretende Nietzsche. Nietzsche expressa é que ainda sem considerar o valor de
afirmações como 'existe em nós um imperativo categórico', sempre se pode perguntar: o que diz
uma tal afirmação sobre aquele que a faz?. A moral é uma "interpretação equivocada" dos afetos
13
porque implica-os num "fim". Toma-se por imprescindível uma relação estrutural de bem e mal
para compreendê-los. Mas tal compreensão ou interpretação é sempre já secundária em relação
àquela, relativa à força ou vontade de potência. Lá não é possível o sentido de "categórico".
O próprio Nietzsche confessa, mais tarde, que cultivou a defesa da necessidade da
filosofia, como o seu próprio pensar. Visava a uma "educação" sem precedentes; "um cultivo de
si, defesa de si até a dureza, um caminho à grandeza e a tarefas histórico-universais". Por isso,
Nietzsche não deixa de acrescentar que tudo isso era algo que nunca vai além do "humano,
demasiado humano"
A moral para Nietzsche é uma invenção dos fracos, que inverteram o sentido de bom e virtuoso
para favorecer o ascético, o que nega o corpo em favor da alma, e que portanto nega a vida.
Nietzsche é favorável aos homens guerreiros, fortes, que com apenas uma inflexão afastam de si
todas as culpas anteriores e toda a mesquinhez moral.
Nietzsche negava qualquer fundamentação metafísica da moral. A moral é uma criação humana,
imposta pelo "Dragão dos valores", aquele que diz "Tu deves" quando o indivíduo diz "Eu
quero". A questão da moral é melhor tratada nas três dissertações do polêmico livro "Genealogia
da Moral”9
Nietzsche defende que os homens não são em última instância responsáveis pelo que são e
conseqüentemente pelas suas ações. Portanto não deve sentir mal-estar pelo que fazem.
A moral pretende embutir nos homens este sentimento de mal-estar e culpa devido a ações
feitas contra esta moral com o objetivo da coibir estes atos ou pensamentos. Este é um dos
motivos pelos quais Nietzsche é contra a moral.
9 Genealogia da Moral, de Friedrich Nietzsche, tradução de Paulo César Souza. Companhia das Letras, 184 págs.,
14
Nietzsche constata que toda cultura de sua época - na verdade, da história ocidental - está
investida de uma determinada moralidade e de uma determinada concepção filosófica sobre a
realidade. Observa que ambas nos induzem a considerar a própria existência como uma
imperfeição, como algo de que devemos descartar.
A moralidade aparece a nós de uma forma tão impositiva que criticá-la parece desrespeito.
A moral, "Circe dos filósofos", não se apresenta apenas como incontestável. Ela seduz, ora
atemorizando (o desaparecimento de uma determinada moral leva à insegurança e à anarquia,
ameaçando a estabilidade do ser humano), ora prometendo (promessa de vida melhor, e até
mesmo, de uma vida perfeita). Sê moral serás melhor, serás feliz!
Segundo Nietzsche, uma combinação de promessa, ameaça, imposição e valorização da
moral nos tem impedido de formular as perguntas que realmente nos interessam. Além disso, a
ignorância a respeito da origem da moral torna ainda mais difícil formular certas questões.
Já que a moral não tem uma raiz transcendente e nossos juízos sobre o certo e errado
expressam necessidades da nossa vida pulsional e instintiva, Nietzsche reexamina nosso sistema
de juízos e categorias morais. Concluindo que os tipos de forças que estão cristalizadas nas
categorias morais, são aquelas que, ao invés de promover a afirmação da vida, sustentam sua
negação. Portanto, Nietzsche pretende a criação de uma nova tábua de valores morais, de
acordo com a nossa condição natural e finitude.
Nietzsche pretende a criação de uma nova tábua de valores morais, de acordo com a nossa
condição natural e finitude.
1) Não há nenhuma sociedade sem normas e mesmo um único indivíduo vivendo sozinho tem as
suas. É próprio do humano o processo de simbolização, é um dos fatores que o diferencia dos
outros animais.
15
2) Assim, a própria idéia de um grupo humano partindo do nada para construir valores não passa
de outra coisa que uma figura de expressão para tipificar um lugar dentro de um certo discurso
que almeja comunicar uma certa mensagem. Figuras como essas não são patrimônios exclusivos
de Nietzsche e as podemos encontrar nos discursos, por exemplo, de Platão (a polis ideal), de
Freud (a horda primeva), de Rosseau (o estado de natureza) etc. E essas figuras sempre se tornam
um problema quando depois começam a imaginá-las como algo mais além do que são.
3) A moral, segundo diversas correntes, mas especialmente quando observada
fenomenologicamente, aparece também como um certo tipo de discurso específico, não redutível
a outro. Evidentemente que as considerações de Nietzsche não são para se desprezar dentro da
filosofia, como também não são a de outros filósofos notáveis. Muito menos, também, é o
pensamento de Nietzsche algo para ser dogmatizado e levantado como norma única, feito isso é
melhor decretar a morte da filosofia (e viva a ideologia).
4) A moral sempre se apresenta ao exame fenomenológico dentro de um discurso contínuo
associado a uma tradição, a primeira vista estática, mas dinâmica, dentro de uma dialética
própria. É o que se vê no estudo da ética, da moral, do direito.
5) Enfim, a pergunta: com base no que foi colocado, parece uma falácia a tentativa de construção
de uma "nova moral" a partir do próprio indivíduo isolado, sem continuidade com uma tradição.
Filosofar "com o martelo" é muito mais fácil do que ajuntar depois os cacos.
Não é preciso muita imaginação para associar o quadro como mais uma repetição do
velho engano do "marco zero". Esse engano já aconteceu em outras áreas, em citações mais
16
simples com maiores chances de sucesso, como em Descartes e sua busca do ponto zero do
conhecimento via dúvida metódica. Na moral, com muitos mais agravantes.
O próprio Nietzsche devia estar ciente da dificuldade, já que não apontou receita para a
construção da "nova moral" apregoada. Ele não sabia a resposta, apenas manifestou o desgosto
pela situação presente e gritou o problema. Cabe então aos que defendem a mesma, se não
admitem o conceito como uma figura, mas como algo a ser concretizado, responderem à tarefa:
Como construir essa "nova moral" sem nos destruirmos uns aos outros?
"Com este livro começa a minha campanha contra a moral. ("Referiu-se anos mais tarde à
Aurora) Uma campanha ausente de instruções...
Nietzsche não fornece, e nem chega a cogitar, uma receita, até porque ele já se encontrava
de certa forma satisfeito (creio eu) com o resultado obtido.
Certas passagens de sua obra e correspondência atestam o quanto de alegria Nietzsche
encontrava no seu esforço intelectual, que lhe anunciava uma "nova saúde", isto é, uma libertação
da doença da moralidade e suas avaliações negativas sobre a existência humana.
E essa alegria apresentava um motivo: seu sofrimento pessoal finalmente encontrara
serventia; transmutara-se em uma interpretação de experiência humana capaz para conduzi-lo
além do niilismo - para a criação (retórica) de valores de aceitação plena das características da
existência humana.
A abordagem que estamos considerando parece que reforça a idéia acima, se não no todo,
pelo menos em parte, pois a filosofia deixa a preocupação pela verdade (nos moldes anteriores)
para se tornar uma forma sofisticada de terapia. O "abandono" da ética e moral resulta do
esfacelamento do direito e da política, considerados agora dentro de um quadro clínico de
patologia existencial a ser autoclinicada com a busca da transvaloração.
Claro que a coisa é mais complexa do que isso, mas quem quiser por a prova a agudeza
17
dessa forma de crítica que experimente ler as obras de Nietzsche como se escritas por outro e
direcionadas a crítica do próprio Nietzsche. É impressionante como as armas do discurso
nietzschiano podem ser contundentes contra a própria postura de Nietzsche. Isso parece que vem
corroborar a idéia de que não há base para aprovar ou reprovar o q ele diz. Você tem apenas a
opção de concordar com ele ou repudiá-lo. Mas, ao apelar para o logos como retórica (próprio do
sofista) em detrimento do logos como episteme (próprio da tradição platônica), não é
surpreendente que Nietzsche se torne vítima de algo do tipo. Afinal, não era isso que era
chamado de dáxa?
Por exemplo, em Assim falou Zaratustra, Nietzsche diz que "Deus é apenas uma suposição" a que
em determinado período histórico recorremos. Com o esgotamento dessa suposição, abre-se
enfim a possibilidade de construir um novo sistema de valores, afeito às realidades do ser
humano finito e não a projeções ideais. No prólogo desse mesmo livro, ele simplesmente
contrasta o que deve ser desprezado e o que deve ser exaltado na construção dos novos valores.
"Eu vos conclamo, irmãos, permanecei fiéis à terra e não acrediteis nos que vos falam de
esperanças ultraterrenas! Não passam de envenenadores, conscientes ou não..."
Fica nítido que esse método aforismático adotado por Nietzsche não nos deixa muitas
opções, e pelo contrário as restringe. Ou concordamos com ele ou não.
Apesar da problemática em função do método aforismático de Nietzsche, acho importante
ressaltar um tema examinado detalhadamente no livro "A genealogia da moral", que é a distinção
entre moral nobre e moral servil.
O escravo pensa as categorias da moralidade a partir de sua própria fraqueza e impotência.
Incapaz de aceitar sua condição real ou de lutar contra ela, ressente-se da força do tipo nobre, na
qual vê espelhada a sua impotência. Como, em razão de sua falta de confiança e fraqueza não
consegue confrontar diretamente o nobre e seus valores, reage desvalorizando as qualidades
18
deste, tratando-as como moralmente negativas.
Para Nietzsche, o código moral do tipo humano servil está na raiz de nossas concepções
presentes da moralidade graças ao sacerdote ( o "ideólogo" religioso).
O nobre então "proibido" pela moralidade escrava de expressar sua natureza afirmativa
volta suas forças contra si mesmo, tornando-se culpado, impotente e infeliz.
Na segunda dissertação da Genealogia, Nietzsche descreve como os resultados dessa
agressão moral aos instintos se combina com a domesticação das pulsões humanas imposta pela
vida em sociedade. Com o aparecimento da perspectiva servil, a "primeira interiorização do
homem", fruto da sociabilidade e gênese do sentido de obrigação e responsabilidade exigido
pelas necessidades de vida em grupo, torna-se ainda mais dolorosa. Agora, o ser humano passa a
considerar-se responsável por seu próprio sofrimento.
Nietzsche eu seu pensamento se baseava na interpretação de que um homem vive sob domínio da
moral e pode se tornar fraco e culpado de suas próprias ações por não cumprir seus princípios
morais. Por causa desta fora de pensar, Nietzsche critica a religião cristã que impõe idéias como
as do pecado, que, segundo ele seria uma forma de controlar e domesticar o homem e de torna-lo
fraco, dependente. Esta forma nietzscheana de pensar se definiu como um conceito de
transvaloração dos valores, criticando a moral tradicional e dividindo os conceitos moralistas em
duas vertentes:
A falsa moral, que Nietzsche acreditava que este tipo de valor era feito com o sentido de
controlar as pessoas. Fazendo as pessoas se sentirem culpadas e viverem com sentimento de que
realizaram algo que não deveriam, tornando-as fracas, escravas.
A moral dos senhores, trata-se de regras, valores essenciais para a convivência em meio social,
valores que darão chances e abrirão parta para as pessoas, fazendo assim com que elas não sintam
um sentimento de culpa, e sim um sentimento que as fará serem pessoas livres e fortes em relação
19
as suas criações valorativas e implicando em suas formas de agir e pensar. Um sujeito que segue
a falsa moral fica com muito ressentimento o que faz com se torne mais fraco, não conseguindo
esquecer seu não cumprimento de deveres. O contrário acontece com aqueles que seguem a moral
de senhores, pois estes conseguem esquecer com facilidade, isto é, assimilar suas experiências de
forma saudável e viver uma vida mais autêntica.
Em suma, pessoas que seguem uma falsa moral estão destinadas a uma mortificação, o que as
torna destrutivas, pois fazem com que seus instintos sejam demasiadamente domesticados,
tornando-os fracos.
A moral em Nietzsche foi escolhida com o intuito de apresentar que há reflexões e
questionamentos muito pertinentes na obra deste filósofo. Que ao questionar a moral cristã e a
fraqueza humana na sua, expõe no mais alto grau o que há de humano demasiado humano em
nós, o homem e objeto de si mesmo, o eterno retorno, tudo já foi, é, ou está sendo. Nietzsche
propõe um reencontro do homem com suas virtudes, exige da atitude filosófica maior coerência
ao tratar o objeto de reflexão, a transvaloração de todos os valores é aprofundar-se no que
chamamos, e por que chamamos algo, de moral e imoral se tudo é criação humana.
Como Nietzsche mesmo afirma, sua obre é para espírito livres, é um convite a liberdade de
pensar sem os entraves morais colocados pela meio que nos cerca, a moral sendo algo inventado
pelo homem como meio de convivência do grupo reflete em determinado momento a caráter
daqueles que dominam. E a alteração de valores morais sempre se dá forma conflitante. A esta
análise da construção moral que Nietzsche vai buscar junto ao nascimento da tragédia,
perfazendo um percurso até chegar no momento contemporâneo ao seu tempo.
Nietzsche parece estava certo em uma coisa: Valores são perspectivas que podem ser nobres ou
fracos. Portanto, o ser humano deve resolver que tipo moral ele pretende.
20
7 BIBLIOGRAFIA:
1. NIETZSCHE, F. Para Além do Bem e do Mal. Tradução de A. Marins. São Paulo: Ed. Martin
Claret, 2002.
2. A NIETZSCHE, F. O Anticristo. Tradução de P. Nassetti. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2002
3. NIETZSCHE, F. Ecce Homo. Tradução de P. Nassetti. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2002.
4. NIETZSCHE, F. Ecce Homo. Tradução de J. Marinho. Lisboa, Portugal, 1990.
5. MACHADO, Roberto. Nietzsche e a Verdade. 2ª Edição. Rio de Janeiro. Ed. Rocco 1984.
21