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Nº6 - ANO X - FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 1993 - CURSO DE JORNALISMO DA UFSC
TECNOLOGIA E ÉTICA:O IMPASSE
DA IMPRENSASaiba mais com nosso Caderno Especial
OS BALÕES SOBEM EDANIELE CAl.
DOIS REGISTROS
OS ENTREVISTADOS .
Bill Johnson e Dimenstein abrem o jogoPáginas 4 e 5 e contracapa
FIDELVIRADOUTORNa página 3
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ERON�6
ANOXAGOSTO 93CURSO de
JORNALISMOCCE-COM
MelhorPeça GráficaI, II, III, I'j, V
Set UniversitárioMllio8B
Eetembro B9, 90 e 91Outubro92
Jornal-Laboratório do Cursode Jornalismo da UniversidadeFederal de Santa Catarina editado pelo Laboratório de InfografiaApoio: Ivana Back, RosemaryMageda,u51 Sílvio PereiraArte: Zé da Silva Jr.Colaboração: César Va/enre,Moacir Pereira, Mário Morona, Aurea Moraes, Carlos Alves Müller, Francisco Karam,Emídio Luisi; Jaca Rodrigues.Copy-write: LuizSCOIIO, Ricardo Barre/oDiagramação: Suyanne Quevedo, Lara de Lima, Ana PaulaPinho, André Barbosa, SheilaZrerea», Giancarlo Proença,Andrea Luswarghl; Sílvio Pereira, Luc/ane Lemos, Luiz F.Pereira, Janaína Toscan, JaimeMoraes, Michelson BorgesDireção de redação: professorRicardo Barre/o (MTb.!708/RS)Edição: Alexandre Gonçalves,Sílvio Pereira, Vic/or CarlsonJaimeMoraes, Joséda Stlva Jdmor, Ana Paula Pinho, Diógenes Bo/elho, Diógenes FischerSchwalb, Ivana Cristina Back,Janaína Toscan, Luiz Carlos I
Fest/, Maurício deLimo Olivei-Ira, Melre Bertolll; Shetla Derelli, SílvIo Pereira, SuyanneOuevedoEditoração eletrônica: Vic/orCarlson (sénior), SílvIo PereiraFotografia: MaurícIo Oliveira,Ana Carine, Jaime Moraes,Diógenes Botelho, CristianeMiranda.
Laboratório Fotográfico: AnaCarin� JaimeMoraesSecretaria Gráfica: AlexandreGonçalves, Sílvio PereiraTextos: Adriana Martorano,Alessandro do Silva, ClaudineNunes, Diógenes Botelho, Fabiano Melato, Ivana Back, Ja/�me Moraes, Janatna Toséan,Luiz F. Pereira, Mariano Senna, MaurícIo OliveIra, MelreBertolfl; SílvIo do CostaPereiraAcabamento e impressão: ANotíciaRedação: Curso de Jornalismo(VFSC-CCE-COM), Trindade, CEp 88049-9()(}, Florianópolis/SCTelefones: (0482) 31-9215 e
31-9290Telex e telefax: (0482) 34-4069Distribuição gratuita:Circulação dirigida.
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Luiz Humberto dácurso de extensão
em fotografia
Cara nova. Velha garra
D epois de longa au
sência involuntária, o Zero vol
ta com 'novo projeto gráfico,uma segunda cor e com a es
tréia de seu mascote, um papagaio pirata que só enxerga como olho esquerdo. Parece nada,num pais tumultuadopormassacres de presos, crianças e ín
dios, assolado pela fome ou porum novo imposto polêmico, o
IPMF. Ou até ameaças de golpe, que não nos assustam. Vivemos e amamos uma proílSSlioque con rive diariamente com a
violência, mas isso' não deve fazer-nosperder a capacidade daindignação com o que se passaem nossopais e fora dele. Comodetalha o textinho da página 4,em 92 cerca de mil jornalistasforam processados e atualmente 113 estãopresospor questõesrelativas à liberdade de im
prensa. Só na América Latina,nos últimos dez anos, 560 jornalistas foram mortos em incidentes de trabalho. Também se
matam jornalistas.O Zero faz o que pode pa
ra tentar relatar isso. Mas, noprimeiro semestre, à exceçãodo número de março, foi forçado a não sair devido a um longo
processo de licitação, que exi
giu a abertura de quatro disputas de preços, entremarço e julho. O excesso de zelo com a
lisura se deve às exigências donovogoverno federal sobre lici
tações. Assim, caro leitor, ficamos ausentes todo este tempomas estamos comprovadamente limpos. Isso não significamenos jornais. Apesar dos prejuízos ao ensino, pesquisa e exten
são, nossas oito edições vão ser
forjadas todas até dezembro.Atépor isso, fica um aviso: nesÚl semana eSÚlrá circulando o
próximo número, o sétimo doano 10. E outrosmais vibrantesvirão.
Por enquanto, faça uma
leitura atenta, pois breve você
poderá estar sendo entrevistedo por nossos alunos para uma
pesquisa que pretende avaliaro novo projeto e a essência do
jornal, além de traçar umperfilde nosso leitor. Contamos comsuas respostas, até por csrts.Pra quem gosta de jornalismo,esÚl edição está farta. Desde o
caderno especial sobre o 4: Encontro Internacional de Jornalismo, passando pelas entrevistas de Gilberto Dimenstein e o
professor Bill Johnson, o car
dápio promete. Saboreie e
mande sua opinião. O-Editor
FM volta a falar da UFSC
O programa Universidade Aberta voltou a ser
apresentado no dia 23de agosto, às 7h50min, pela Rádio Barriga Verde-FM. Feitopor estudantes de jornalismo,o programa segue os mesmos
moldes do que era apresentadona extinta rádio União-FM e
contará com atrações internacionais. Em sua primeira ediçãofoi apresentada uma entrevistacom o cantor e compositor Caetano Veloso.O Universidade Aberta foi aoar pela primeira vez em 1991.A idéia de ter um espaço paraos estudantes praticarem tudo
aquilo que aprendem nas aulasera antiga. Além disso havia a
necessidade de se criar um ca
nal de comunicação entre os
alunos e a Universidade. Massegundo a professora e coordenadora do programa, Vaiei Zuculoto, foi a radionovela queproporcionou a chance de o
Universidade Aberta ir ao ar
em uma rádio da capital.O programa, que só saiu
do ar porque a Umão fechou,era produzido por alunos interessados em aprender um pouco mais sobre radiojornalismo.Dos seis que faziam o programa, apenas dois recebiam salário. Vaiei diz que isso gerouproblemas porque o número depessoas trabalhando no programa nunca era fixo. Muitos lar
garam o programa para trabalhar em outras áreas, que fossem remuneradas. Mas para es
ta seguaa fase do Universidade
Primeiroprogramaestreou dia 23 eteve entrevistacom Caetano Velosodireto de Portllga!Aberta Valei já tomou providências para que o programatenha um caráter profissional.
A primeira medida tomada foi solicitar ao chefe de departamento de comunicaçãoseis bolsas de trabalho para o
programa. Depois, a coordenadora realizou uma série de testes para escolher a equipe deprodução. Seis alunos foram se
lecionados para trabalhar, depois de mostrarem conhecimentos de reportagem em rádio, edição e domínio de textos.Todos vão trabalhar 25 horas
por semana, ganhando um salário mínimo.
Em ,termos de conteúdo e
formato, o Universidade Aberta será semelhante ao de sua
versão original transmitido pelarádio União FM. O programatern dez minutos e é divididoem três blocos. Na primeiraparte, traz boletins dos repórteres relatando as notícias docampus. No segundo bloco vemo Papo Cabeça com uma entrevista de alguma personalidade,de dentro ou fora, da Universidade. Na última parte, o programa dá as dicas com a agendacultural. "
o Papo Cabeça contarácom a ajuda de um correspondente internacional, o professor Eduardo Meditsch que foium dos coordenadores do programa em 1991 e agora está em
Lisboa fazendo doutorado em
. radio-jornalismo. Mesmo dis-tante, Eduardo não deixa detrabalhar pelo programa. A en
trevista com o cantor CaetanoVeloso, que foi apresentada dia23 de agosto no primeiro programa foi enviado por ele, direto de Portugal. Eduardo já se
comprometeu em ser corres
pondente internacional do UniversidadeAberta e enviar, sempre que tiver oportunidade, entrevistas para o programa.
Atlântída FM .:... Além defazer Universidade Aberta, a
equipe de produção do programa vai ter mais trabalho. E quea rádio Atlântida FM, atravésdo apresentador Marcelo Bola,também procurou a professoraValei Zuculoto e demonstrouinteresse em trabalhar com es
tudantes de jornalismo. A rádioquer que a equipe produza umasérie sobre os cursos da UFSC.
Estes programas ainda não têmformato definido, mas devemir ao ar a partir de setembro."::;..:rão programinhas com uma
linguagem jovem e que servirãopara orientar os jovens que vão
prestar vestibular em 94", conta Valci.
o fotógrafo Luiz HumbertoPereira esteve em Florianópolisentre 16 e.20 de agosto ministrando o curso de extensão Fotografia:o registro do óbvio ou a descoberta do sensível? Promovido peloLaboratório de Fotografia e Audiovisual do Departamento de Comunicação o curso foi dirigido a
jornalistas, arquitetos, fotógrafose estudantes de comunicação e ar
quitetura.
o curso tratou de assuntos
que vão desde o ensino da fotografia, os gêneros fotográficos e fotojornalísticos, a existência do au
�or, até questões como a verdade,Imparcialidade e visão crítica no
uso editorial da fotografia. Projetando cerca de mil fotografias LuizHumberto fez um passeio pela história da foto e dos maiores fotó
grafos deste século. Deu tambémuma panorâmica sobre as revistasilustradas de todo o mundo e doBrasil e o uso da fotografia nas
revistas brasileiras como Realidade, Veia e Isto É.
LuizHumberto é professor titular de Fotografia na Universidade de Brasília, da qual foi umdos fundadores nos anos 60. Já foifotógrafo da Editora Abril (revistas Veja, Realidade, Quatro Rodas), e da revista Isto E, além deeditor de Fotografia e diretor dearte do Jornal de Brasília. Participou de diversas exposições fotográficas coletivas e individuais no
país e no exterior.
Sílvio PereiraAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
OConselho Universitário daUniversidade Federal deSanta Catarina aprovou,
dia 29 de julho, a concessão do títulode "Doutor Honoris Causa" ao presidente Fidel Castro. O título é uma
homenagem ao povo cubano pelotrabalho desenvolvido nas áreas de
saúde, eduéação, ciência e tecnolo
gia. Várias entidades, como a An
des, Associação Nacional dos Do
centes de Ensino Superior, enviarammanifestações elogiando a iniciativada universidade.
A idéia de homenagear Fidelpartiu de conversas entre professores do Centro de Filosofia e CiênciasHumanas e do Centro de Educação.Três professores da UFSC estiveramem Cuba, no início do ano, para o
Congresso Pedagogia 93, e voltaramimpressionados com os avanços do
país na área social. A proposta ini
cial, foi aprovada em assembléia garal do CFH e levada ao CUn pelodiretor do Centro Luís FernandoScheibe.
Após duas horas e meia de dis
cussão, o Conselho decidiu, por 31votos contra 6, conceder o título ao
presidente cubano. A vice-reitoraNilcéia Pelandré, que presidiu a ses
são destacou que esta foi uma "decisão histórica'" para a UFSC. Já o
ex-reitor professor Bruno Schlem
per, acha que a justificativa do títulonão está de acordo com o estatuto
da UFSC. Segundo o artigo 66 do
regimento da UFSC, o título é con
cedido "a profissionais de alto mérito e personalidades eminentes"."Neste caso, a homenagem é feitaao povo cubano, e não atribui nenhum mérito particular a Fidel", ressalta Schlemper.
O fato repercutiu em diversos
setores, inclusive no governo. A Andes aprovou no 26� Congresso Nacional dos Docentes, realízado no iníciode julho, uma moção de apoio à
Falsificação é
apresentada comoO Catharinenselegítimo. Agoraé com a Polícia
OCatharinense que reapareceu no começo desteano na seção de Obras
Raras da Biblioteca Universitáriaé falso. Esta é uma das conclusõesda comissão de sindicância que in
vestigou o roubo do jornal, no relatório final entregue à Procuradoria-Geral da UFSC em meados de
julho.
Segundo o Procurador-GeralJosé Márcio Marques Vieira, umperito será contratado para com
provar a falsidade do jornal. Se nãohouver alguém capacitado na própria Universidade, a UFSC recor
rerá à Polícia Técnica ou à USP,que fez trabalhos semelhantes no
caso PC Farias.
São muitas as evidências de
que o exemplar é falso. O papeltem textura diferente e estámelhorconservado que os jornais da época. O verdadeiro O Catharinense,de 1831, não tinha os indícios de
fotomontagem (recorte de textos)que aparecem na cópia, nem a assinatura no topo da capa - a mesma
encontrada num panfleto alusivo à
comemoração dos 87 anos de fun
dação do próprio O Catharinense.Além disso, o original tinha as bor-
das bem mais prejudicadas peloscupins.
"No lugar de sempre" - Ocaso O Catharinense começou em
outubro do ano passado, quandoo Zero denunciou o desaparecimento do único exemplar conhecido de primeira edição do jornal,o primeiro de Santa Catarina. Na
ocasião, o funcionário da Biblioteca Universitária Valadares Alvesde Oliveira disse que o roubo teriaacontecido três anos antes. A faltado jornal não foi notada porqueos interessados só o viam em microfilme.
Os depoimentos dos envolvidos começariam a ser ouvidos pelacomissão de inquérito administrativo quando o falso O Catharinense
apareceu. Ele foi encontrado no
dia 4 de janeiro - depois de uma
semana de feriado na UFSC -,pela diretora da Biblioteca Universitária, Maria Ghizoni, e outras
duas funcionárias, a assistente de
direção Beatriz Siedler e a chefeda seção de Coleções Especiais, Ieda Maria de Souza. Logo que as
funcionárias abriram um pacotecom vários jornais antigos, perce-
Decisão do CUn provoca polêmica na UFSC
UFSC pela "atitude inédita". A em
baixada de Cuba e o Ministério dasRelações Exteriores também enviaram manifestações favoráveis ao reitor Diomário Queirós. "Devemos
prestigiar valores universais, comoa liderança de Fidel e 11 resistênciae autonomia do povo cubano, apesardas pressões de uma potência como
os EUA", diz Diomário.
Um dos principais motivos quelevou a .universidade a conceder otítulo é o avanço que o país tem con
seguido nas 'questões sociais. Em Cu
ba, 98% das crianças entre 6 e 14anos vão à escola e 98% tambémcontinuam seus estudos após se formar no sexto e nono ano. Médicose enfermeiras são mantidos pelo governe para prestar assistência gratuita nas escolas.
Ao sair de qualquer curso denível superior, o estudante cubano
tem seu emprego praticamente garantido. A faculdade de Medicina écursada em hospitais, e está na esferado Ministério da Saúde, e não no
da Educação. O curso de Agronomiafica em fazendas-escola, onde os alunos estudam e trabalham mantidos
pelo governo.Na área da saúde o desenvol
vimento também é visível: a taxa de,nortalidade infantil de Cuba é de10,7 a cada mil nascimentos. Nos
países escandinavos, onde o problema tem os índices mais baixos domundo, morrem sete emmil criançasque nascem. No Brasil, o índice jáchega a 60/1000. Toda a populaçãocubana dispõe de atendimento hos
pitalar completo e gratuito. Existeum médico para cada 274 habitantese um dentista para cada 524.
O destaque no tratamento dedoenças de pele levou a Cuba milhares de crianças vítimas do acidente
beram a ponta do Catharinense. Ojornal estava dentro de um saco
plástico, o que chamou a atençãopor se tratar de um procedimentoincomum - e inadequado - paraobras raras.
A diretora da Biblioteca só resolveu procurar o jornal - que jáhavia sido exaustivamente procurado - porque o reitor AntônioDiomário de Queiróz contou quehaviam dito a ele que O Catharinense estaria "no lugar de sem-
pre". _
A informação foi dada ao reitor pelo jornalista Laudelino Sar
dá, ex-editor de Opinião do DiárioCatarinense, num encontro queDiomário de Oueiróz não lembracomo aconteceu nem quanto tem
po durou. Sardá é marido de Narcisa de Fátima Amboni, a responsável pelo setor de Obras Raras na
época do desaparecimento do jornal, que foi acusada por ValadaresAlves de Oliveira de ocultar o roubo. Quando Sardá conversou com
o reitor, Narcisa já não trabalhavana Biblioteca havia quase doisanos.
Mauricio Oliveira
nuclear de Chernobil. Reconhecidos
m�ndialmente, os médicos cubanossão os que mais avançaram na buscada cura de problemas como o vitili
go. Em ciência e tecnologia, se so
bressai a biotecnologia. O país se
destaca na produção de vacinas, remédios e insumos para agriculturae pecuária.
O título concedido a Fidel étambém um ato de solidariedade ao
povo que há mais de trinta anos vivesob o bloqueio econômico impostopelos Estados Unidos. A lei Torri
celli, aprovada recentemente pelosenado americano, veta a entradanos EUA, por seis meses, de todonavio que aportar em Cuba. E ainda
proíbe todas as subsidiárias de produtos americanos de negociar com
o país. As importações ficaram reduzidas a 25% com o boicote." A ho
menagem não é um apoio a todasas atitudes do governo cubano, masao seu esforço por dar prioridade às
questões sociais mesmo com o blo
queio", adverte Scheibe.
Fidel não veio a Santa Catarinapor motivos de segurança e problemas internos em Cuba, quando esteve no Brasil participando da 3� Conferência Ibero-Americana de Chefesde Estado e de Governo. A UFSC
espera uma próxima viagem do presidente à América do Sul para realizar a entrega do título. Se isso nãoacontecer até o início do ano quevem, o ministro cubano da EducaçãoSuperior virá representar seu presidente.
A universidade já concedeu o
título de Doutor Honoris Causa a
figuras importantes como o ex-presidente Juscelino Kubitschek, DomHélder Câmara, e post-mortem ao
deputado Ulysses Guimarães, em
março.
Janaína Toscan
Tá querendo me enganar?
Fidel Castro vira doutorTítulo homenageiapovo cubanopelos avanços nas questões sociais
AGOSTO 93 - ZERO
Cubarecebeapoiodeprna/istasO EncontroIbero-americano deJornalistas, ocorrido em
Salvador, entre 8 e 10 dejulho de 1993, aprovouMoção de Apoio a Cuba,solicitando aos
participantes da IIIConferência de CúpulaIbero-americana (Tambémem Salvador, de 14 a 16 dejulho), uma posição a favorda imediata suspensão dobloqueio econômiconorte-americano imposto aCuba há 34 anos. Osjornalistas, querepresentaram 9 países(Argentina, México, Cuba,República Dominicana,Equador, Chile, Uruguai,Espanha e Brasil), tambémdenunciaram aos chefes deEstado "a agressãocomunicativa que se fazcontra a ilha caribenha a
partir de 23 emissoras derádio e TV instaladas em
Miami, que transmitem,exclusivamente,programação hostil aCuba",
3Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZERO - AGOSTO 93
Américamatamaisde500prna/ístas
Na guerra da ex-Iugosláviamorreram 38 jornalistas emapenas 12 meses e durantetodo o ano de 1992 foramassassinados 62 em todo omundo. A denúncia foi feita,
no início de agosto, porJaime Reixach I Riba,
presidente na Espanha daorganização Repórteres
Sem Fronteiras.Reixach participou do
seminário Liberdade deExpressão e Direitos
Humanos, organizado pelaUniversidade de Cantábria,na Espanha. Na ocasião
ele denunciou a
manipulação que se exercesobre a imprensa nas
repúblicas daex-Iugoslávia. Na Sérvia ena Croácia a imprensa vemsendo usada "como armade guerra e para incitar o
ódio racial".De acordo com Reixachdurante o ano de 1992cerca de mil jornalistasforam processados e
atualmente 123 seencontram na prisão pbrmotivos relacionados à
liberdade de imprensa. Sóna América Latina, nosúltimos dez anos, 560jornalistas morreram
enquanto realizavam seu
trabalho. Reixach citou o
caso do fotógrafo espanholJuantxu Rodriguezassassinado pelos
fuzileiros navaisamericanos durante a
invasão do Panamá, em1989.
4
Nos Elf/;1� poucagente Ierarnats,jcam apenas nostelejornais. Issoé uma tristeza
o professor de Comunicação, William
Johnson, da Universidade de Wisconsin,(EUA) esteve em Florianópolis entre os dias26 de maio e 30 de junho. Ele ministrouo curso de telejornalismo aos profissionaisdas quatro geradoras de televisão de Santa
Catarina, aos estudantes e professores docurso de Jornalismo da UFSC. Alternandoaulas práticas e teóricas, ele abordou temas
como o uso da câmara, iluminação, edição,som e entrevistas.
Bill, como gosta de ser chamado, passou por quase todas as etapas de produçãoaudiovisual em jornalismo. Aos 54 anos, éformado em Comunicação pela Universidade deMinnesota, com mestrado em Ciênciaem Televisãopelo Brooklyn College deNovaIorque. A carreira começou, porém, aos 20anos, como locutor na rádio estudantil daUniversidade de Minnesota. Logo depoisatuou como jornalista em rádios de váriascidades.
Quase sempre ligado a emissoras de televisão vinculadas a estudantes, foi cinegrsfista, repórter, diretor de notícias e produtor.
Participou ainda, em1960 de um corpode paz, organização de voluntários que instalou televisões educativas em escolasprimárias na Colômbia. Fez free-lancer Eara as
redes locais, em produtora independente e
chegou a fundar uma casa cultural ao nortede Nova Iorque. Desde 1980 trabalha como
professor, primeiro em Illinois e depois em
Wisconsin. "Dando aula nesse Universidade
pude, finalmente, morar comminha esposa,depois de sete anos em cidades diferentes".
Nessa entrevista ao Zero, em portunhol, Bill conta um pouco sobre telejomeIismo, escolas de comunicação e o papel daimagem na TV. Calmo, ele fala com cuida
do, buscando na memória as palavras quefazem sentido em português.
Bill Johnson pretende voltar à Florianópolis
Creio que estou tentando passara.teoria da comunicação, comofunciona. Como funciona? Funciona como uma transação, porque o comunicador está trabalhando para comunicar, tem al
go em mente. O telespectadortambém tem motivos para se co
municar. Ele quer aprender algo, busca informações, tenta de-
codificar as imagens. A responsabilidade do comunicador é
passar a mensagem de uma ma
neira que se entenda bem e
quando as imagens são bem utili
zadas, a comunicação é mais
completa. Est o u buscandotransmitir como utilizar os símbolos: palavras, sons e imagens,de forma natural.
Americano ensina a fazer TVBill deu aulas de teleiornalismo a estudantes e profissionais r
Zero- Bill, você já passou
por vários países da América Latina como Equador,
Peru, Colômbia e México. Quaisas principais diferenças que vocêviu entre o telejomalismofeito na
América Latina e nos EstadosUnidos?
Bill Johnson - Creio que uma
das principais diferenças é queuma reportagem nos EstadosUnidos não tem muito sentidosem imagem. O repórter escrevepensando nas imagens e quesons vai usar. Aqui se pode en
tender perfeitamente a matériasem olhar para ela. Parece quese escreve uma reportagem so
mente para se ouvir as palavras.Quando cheguei ao Brasil fuipercebendo que o telejornalismo é passado principalmentepor palavras. Não quero dizer
que isso é bom ou ruim. É apenas uma característica. Cada
país tem a sua própria cultura,a sua maneira de trabalhar.Acontece que nos EUA temosa tradição do cinema, por isso,creio que estamos mais acostu
mados a contar histórias porimagens.
Zero - E qual é a forma de se
trabalhar na Europa?Bill - Na verdade não tenhomuita experiência na Europa.Tenho visto algumas matérias daInglaterra, Grã-Bretanha, e me
parece que a forma de trabalharse parece com a do meu país.Os programas da Rússia não utilizam muito bem a imagem, nãopensam que ela é parte da comunicação, apenas que acompanhaa notícia em vez de ser a notícia.
Zero - Como você direcionou o
curso, com essas diferenças?Bill- Tenho que pensar: o quevou passar aos brasileiros? Tenho outra experiência muito diferente e também existe a dife
rença de pensamento do repórter daqui e dos Estados Unidos.
Zero - Que outras diferenças'existem noformato dos telejornaisdo Brasil e dos Estados Unidos?Bill - São muito parecidos. O,programa de Boris Casoy, falode Boris porque este é o programa que tenho disponível em minha casa, ele é parecido. Claroque tem mais comentário, análises, com uma perspectiva. Boristem uma perspectiva, é único.As diferenças são de estilo mais
que tudo. Os jornais nacionaisdo Estados Unidos tem um apresentador ou dois. Os jornais locais utilizam dois, três, ou quatro apresentadores, dois delessão âncoras. Na realidade nãosou esperto nessas coisas. Possodizer apenas as impressões quetenho.Zero - O professor de ética, Philip Meyer, de Carolina do Norte,afirmou em entrevista à revista
Comunicação, que os noticiários
televisivos, em geral, são entrete-e nimento. Você concorda com ele?� ,
I Bill- Sim, tem razão. As vezes
� sim, mas deve haver um equilí.� brio entre entretenimento e no
� tícia. Um jornal (impresso) tem� seu entretenimento também,
não? Um jornal diário não é todo notícia séria, mas claro quetem que haver um equilíbrio.
Zero - Qual a maior preocupação hoje em dia na televisão: oconteúdo ou a forma de apresentar esse conteúdo?Bill - Para mim, na realidade,uma preocupação é a mistura deficção com realidade. As vezes
não se nota a diferença, esse éo problema. A questão não é o
estilo, é a mistura com ficção.Isso pode passar uma idéia falsaao telespectador, pode confundi-lo. Ele não vai saber o queé um e o que é outro.Zero - Ojornalismo investigativotem espaço nos telejornais?Bill - Em alguns programas,nos jornais de vez em quando.Já o programa Sixty Minutes é
investigativo. Ele passa uma vez
por semana e a idéia é investigaros interesses públicos: se os interesses privados de uma companhia estão ganhando através dosinteresses públicos, então se in
vestiga. Isso é importante, é umadas funções dos meios, tanto televisão, como jornal, revista ou
outro meio de comunicação demassa.
Zero - O telejornal é o principalmeio de comunicação nos EstadosUnidos?Bill- Sim, muita gente não lêperiódicos. Isso é uma tristezaporque há coisas que um tele-
')o
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
jornal não pode fazer. Certos ti
pos de idéias são melhores em
jornais porque eles têm mais es
paço e podem utilizar diferentessímbolos para comunicar idéiasabstratas cC?mo, por exemplo,economia. As vezes a televisãonão é suficiente.Zero - No Brasil existe uma polêmica sobre a obrigatoriedtuJe do
diploma para exercer a profissão,atualmente ele é obrigatório. O
que você pensa sobre essa polêmica,já que nos EUA a profissãonão e regulamentada?Bill - Bem, claro que é importante que uma pessoa esteja bempreparada para entrar na profissão e se não tem diploma, nemexperiência, não vai conseguirtrabalho, é muito difícil. Paranós não é necessário conseguirdiploma por uma questão de tradição dos EUA. Na Constituição temos a P emenda que diz"não se pode colocar nenhumabarreira do Estado frente a liberdade de comunicar o que quiser". Então, se uma política na
cional licenciar os comunicadores, isso será uma barreira. Masclaro, tanto como professor, como pessoa com experiência no
mundo da comunicação comer
cial e universitária, penso queuma pessoa sem boa formaçãonão vai conseguir comunicar efetivamente. Mas ... não sei, se deveser obrigatório eu estou mais ou
Let um jornalista.
começaganhandomenos de 05118mIlÉpouco) tem queamar aprofissão
menos contra porque é uma barreira à liberdade de expressão.Zero - Por que você resolveu ser
professor?Bill - Para mim é interessanteporque depois de trabalhar emvários ramos da televisão e também com estudantes - a mimencanta preparar os estudantese tenho interesse em teoria da
comunicação - então no am
biente universitário pude trabalhar com todas as especialidades. Isto para mim é o mais interessante em televisão. Existemtantas coisas para produzir umprograma que essas partes deciência, arte, me fascinam.Zero - Como está estruturado o
ensino de comunicação na Universidade de Wisconsin?BiU - Nós temos um Departamento de Comunicação e dentrodele várias especialidades: rádioe televisão é uma, jornalismoimpresso é outra. Em rádio e tv,alguns projetos são produzidosdurante a aula e depois os alunosconseguem créditos para trabalhar no canal 6. Esse canal, quefunciona em tv a cabo, é transmitido a todas as casas da cidade, além dos dormitórios daUniversidade. São produzidosvários tipos de programas, entreeles o noticiário, três vezes por
semana. Assim quando os estu
dantes saem da Universidadetêm umamostra do seu trabalho.Mais ou menos 30% conseguemarranjar emprego logo que se
formam. Há também os está
gios, os melhores alunos conse
guem estágios.Zero - Quanto ganha um jornalista em início de carreira?Bill - Menos que os outros.
Cerca ,de 15 a 18 mil dólares porano. E pouco, tem que amar a '
profissão. Algum dia pode subir,mas a princípio não ganha muito(risos). Isso é uma tristeza ...Zero - Os professores precisamter experiência profissional?Bill - Depende da disciplinaque ensine. No meu caso, tenho,mas há outros professores muitobons que não têm muita experiência. A maioria tem três, quatro, cinco, dez anos. Bem ... a
Universidade tem duas obrigações: preparar os estudantesprofissionais, ok. Mas tambémtem a obrigação de preparar osestudantes para uma profissãoque vai durar a vida toda. Entãoé preciso a teoria, porque as coisas que estou ensinando, com câmeras e tudo isso, em cinco anos
não vãomais servir por causa da
tecnologia e também porque a
profissão está caminhando. Eela necessita de professores para
A teoria no ensinodo jornaltsmo énecessária. Não hánadamaispráticoque uma boa teoria
vigiar toda a carreira e ver quais .
são as indicações, para aonde vaia profissão em cinco, vinte, trinta anos, o futuro. Quem podeanalisar o que está se passandono mundo? Professores que te
nham experiência em análise. Àsvezes, se a pessoa só tem a experiência profissional, o seu pontode vista é estreito, fechado, elanão tem experiência de analisartoda a carreira. E os acadêmicosfazem isso. Não há nadamais prático que uma boa teoria.
Zero - A tendência é a especialização ou saber um pouco de tudo?Bil - Ná Universidade? Saberum pouco de tudo. Eu sou um
exemplo disso, tenho experiência como repórter, cinegrafista,assim eu trabalho. Talvez sejaesse o motivo de eu ser professorem vez de repórter profissional.Tenho interesse no processo e
em preparar especialistas, Eu
posso dar um pouco de minha
experiência e também dar umaidéia do quadro inteiro.Zero - O que tem mais peso no
currículo?Bill - Depende do graduado,o geral é mais importante. Comsua experiência, o aluno se especializa mais. Como o médico:tem a formação geral e poucoa pouco, com mais conhecimento se especializa.Zero - Que conselhos você dáao profissional que está iniciandono jornalismo televisivo?Bil - Tenho sempre que dizer
que o mais importante é mantero equilíbrio: equilíbrio entre en
tretenimento e jornalismo sério,entre imagem, som, narração.
Entrevista e textos:Claudine Nunes
Alunos que fizeram curso na UFSC são candidatos a intercâmbio
Alunos podem ir aos EUABill Johnson veio ao Brasil peloprograma Academic Specialistdo United States InformationService (USIS). Esse programaé,,:oltado apenas a cursos espeCI!I�OS de curta duração, de no
mmmo duas e no máximo seissemanas. O USIS possui, ainda, outros programas, como o
da Comissão Fulbright, quetrouxe ao Curso de Jornalismoo 'professor Jeffrey Hoff. Esseintercâmbio exige período depermanência maior, no mínimo três meses.
Bill está estudando a possibilidade de intercâmbio entreprofessores e alunos da UFSCcom os da Universidade deWisconsin. "Seria interessantecerca de oito a dez alunos brasileiros passarem um mês e pou-
co nos EUA estudando e co
nhecendo os meios de comunicação de lá. Assim como estudantes americanos virem, porum período equivalente, e visitar as televisões daqui, comoGlobo, Manchete, SBT".
Esse intercâmbio não se
encaixa aos oferecidos peloUSIS por causa da curta duração: "não poderia ser pelo Fullbright nem pelo AcademicSpecialist. Temos que ver queempresas aqui ou nos EUA podem se interessar em financiarum projeto desses".
Condições existem. Billafirma que o laboratório docurso possui estrutura suficiente para produzir documentários. "Em 1984 eu e meus alunos fizemos um documentário
no México. Foi um projeto au
to-financiado. Cada aluno pagou US$ 1500 e ficamos lá cinco semanas. Penso em produziralgo parecido aqui".
O professoiparece animado com a idéia. Ele disse queessa é uma boa oportunidadepara a UFSC ampliar programas acadêmicos em outros países. Para eles também "às ve
zes os estudantes americanospensam que metade do mundoestá nos EUA. Quero mostrarlhes que há outras formas deprodução em outros lugares".
Pela segunda vez na capi-.tal, o professor gostou da comida. e das praias e garante queval voltar, "quem sabe paramorar".
AGOSTO 93 - ZERO
JornalistaselegemnovopresidenteO jornalista Sérgio Murillode Andrade é o novo
presidente do Sindicato dosJornalistas Profissionais deSanta Catarina. As eleiçõesforam nos dias 11 e 12 deagosto e a chapa única,composta por 27integrantes, obteve 248votos dos 267 eleitores.Sérgio Murillo, formadopela UFSC em 1983, étambém vice-presidente daFederação Nacional dosJornalistas para a regiãosul, um dos coordenadoresdo Fórum Nacional pelaDemocratização daComunicação e assessordo vice-prefeito deFlorianópolis, AfrânioBoppré. Representa o
Sindicato, ainda, junto ao
Colegiado do Curso deJornalismo d? UFSC. Osprofessores Aurea MoraisValei Zuculoto e Maria JoséBaldessar integram a
chapa. A posse estámarcada para 25 desetembro.
5Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Não se tem notícia deloucura idêntica em' todo o
mundo. Quem viajou em cima da "raposa", uma réplicade lata de cerveja, foj omineiro Lincoln Freire. "E maravilhoso, mas dá uma vertigemincrível", conta Lincoln.,quechegou ao luxo de levar umacadeira de praia para aumen
tar o conforto, embora tenhaficado o tempo todo em pé.Mesmo amarrado ao balão,ele pôde circular pelos dozemetros de diâmetro que tinhaà disposição. A sensação, disse, é bem próxima à de andarnas nuvens.
Festa nos céus de TorresBalõesfazem a alegria dosmoradores daprata gaúcha nomaior.festival doAmérica Lanna
ZERO - AGOSTO 93
Sobem juntos, ficam ao sabor do vento e acabam pousando nos lugaresmais insólitos
Os balonistasperseguem a "repose" namodalidade inventada no Brasil e inovada em Torres
osmeninos que joga
vam bola ao lado daigreja não podiam
conter a excitação: um enor
me balão havia pousado bemno meio do campinho, numespetáculo digno de aberturade Copa do Mundo. Coisasdesse tIpO têm acontecido no
balneáno gaúcho de Torres,na divisa com Santa Catarina,que há cinco anos promoveo maior festival de balonismoda América Latina.
Os balões são pouco diri
�íveis e.ficando praticamentea mercê do vento, acabammuitas vezes descendo em lu
gares insólitos. Em Torres,eles já caíram nomar, ficaramenroscados em fios e árvorese destruíram canteiros. Masisso não é problema: "o pessoal daqui torce pro balãopassar bem perto da casa",diz o dentista Manoel NoraNeto. "Se levar a chaminé,melhor ainda: é assunto pro
Às seis hol'llS damanhi O§ bllJonisÚlSjá estavam napista do aeroporto, prontospara sobrevoarem as beias paisagens de Torres
ano todo".Mas quem pensa que a
vida de balonista é um mar
de rosas dos ventos está enganado. As seis horas da ma
nhã, as equipes já estão a ca
minho do aeroporto, a doisquilômetros do centro da cidade. Nas pick-ups, o balãode nylon, dobrado, cabe na
cesta dos passageiros. A cidade é então acordada pela tradicional "alvorada festiva":buzinas, gritos e o inconfundível ruído do lança-chamas,que mais tarde irá abastecero balão com ar quente durante o vôo.
Mal de Cl,tagas - Já no
gramado do aeroporto, a primeira coisa a fazer é conferiro boletim da meteorologia.Na véspera do festival, umaquar�a:feira, foi divulgada a
previsao para todo o fim-desemana, que acabou se confirmando: céu claro e vento fraco, condições ideais para o
balonismo.
Só na tarde do último diado festival, domingo, 2 demaio, o tempo ficou nublado,impedindo a realização da"prova da chave". A chavede um Logus zero quilômetroseria colocada no alto de um
mastro de treze metros de altura e o balonista que, largando de um ponto de três quilômetros de distância, conse
guisse pegá-la numa únicatentativa, levaria o carro. Noano passado, apesar da dificuldade, esta prova foi cumprida e o vencedor ganhou umVerona.
Outra modalidade é o
"fly-in", a mais tradicionaldos campeonatos de balão.Como na prova da chave, osbalonistas largam há três quilômetros de distância do alvo,estendido no gramado do ae
roporto, onde devem soltar a"marca" - uma faixa vermelha de um metro e meio amarrada a um peso de 80 gramas.Alguns quase acertaram na
mosca, mas houve quem tenha passado distante três quilômetros do alvo.
Andando nas nuvens -
A modalidade de "caça à ra
posa", uma invenção brasileira, já era interessante e ficouainda mais. Como o nome su
gere, um balão sai na frentee os outros o perseguem.Quem entregar primeiro a
"marca" ao balonista da "raposa" vence a competição.Desta vez, a prova teve uma
inovação: a "marca" teria queser entregue ao balonista queestava em cima do balão.
Festa Iluminada - Alémda lata de cerveja -que tinhaa bem-humorada afteração"conteúdo 3.00.0.0001" -,havia um outro balão de formato diferente do tradicionalentre os dezessete participantes brasileiros e os dois convidados especiais da Argentina:"Yan", um palhaço de trintametros de altura, o maior balão do festival, construído pelo próprio balonista especialmente para fazer o seu vôoinaugural em Torres.
Mesmo sendo feito "emcasa" como Yan, um balãonão sai por menos de US$ 20mil.
Cada equipe te!TI quatrocomponentes mscntos, em
bora o staff seja geralmentemaior. Na cesta, só embarcam piloto e navegador. Osoutros acompanham por terra, com a missão de trazer obalão de volta na pick-up.
A agitação trazida pelofestival de balonismo proporciona a promoção de eventosparalelos. Este ano, houvetorneio de pesca, provas desupercross e S:lOWS de música,com destaque para o reggaede Jimmy Cliff e do conjuntomineiro Skank. No aeroporto, enquanto os balões eram
enchidos, aviões faziam acro
bacias, disputando o espaçocom asas-deltas e ultraleves.
Mas quando os balõessubiam, o céu era só deles.Os coadjuvantes se contentavam, então, com o chão: eraa vez da capoeira, da ginásticaaeróbica, das danças gauchescas. A noite, havia o show debalões iluminados. O espetáculo fascina: os lança-chamas,acionados na completa escuridão, fazem lembrar balões deSão João gigantes.
Mauricio Oliveira
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Tecnologia inovamasmídia impressa tem
I
seu espaço garantidoFoipreciso que um senhor
grisalho, com cara deamericano e jeitão de
caipira subisse no palco do 4?Encontro Internacional de Jornalismo da IBM para que alguma coisa interessante fosse ditaa uma platéia de cerca de 400
coleguinhas de todo o Brasil:"Os jornais não estão morren
do", ele afirmou, para presumível desgosto de muito jornalista que vive apregoando o
contrário, com mórbido prazer. Parece que virou moda jornalista em fim de carreira ou
boboca recém formado defender a tese de que as novas tecno
logias vão sepultar os jornais."Quem vai querer comprar um
jornal, se bastará acionar umtecla do computador pessoal(estes McLuhan de pouca leitura preferem a expressão "Aces
sar") para receber em casa, na
tela, todas as notícias importantes?"
O caipira americano - na
verdade Uzal Martz Jr., secretário e chairman Internacionalde Newspaper Association ofAmerica, uma espécie de ANJ
americana, já não tem tempode discordar das previsões sombrias dos velhos homens de im
prensa. Ele tem mais o que fazer. Por exemplo: construir novas maneiras de fazer com quea informação chegue aos leitores. Presidente da PootsvilleRepublican e editor-chefe do
jornal desta empresa, Uzal im
plantou um sistema de fornecimento de notícias pelo telefoneque está virando mania na im
prensa americana. E que fiquebem claro: a informação por telefone não substitui o jornal.
Pelo contrário, o complementae só existe como conseqüênciadele. Parte das notícias publicadas no Pootsville Republicantem o desenho de um pequenotelefone, seguido da proposta:"mais informações sobre esse
assunto podem ser obtidas através do número tal". O serviçoinclui um cardápio variado daschamadas notícias sérias ao
material de serviço (horários defilmes, cardápios de restauran
tes, preços de liquidações etc.)..Como diria aquela mala quenamora a Marinara, simplesi-
Opúblicose acostumou.'
in/,ormação dequalidade sóno jornal
Uza/ Jr.: te/e-notícias
nho, mas bonitinho. E eficiente a se considerar as milharesd; ligações diárias que o jornalrecebe. Não é nada de extraor
dinário diante do mundo quea tecnologia está impondo, masé uma prova de que jornal impressa e modernidade (perdão)são compatíveis. Uzal Jr.concorda que a tecnologia vaimudar os jornais mas não tem
medo. E para quem baba diante de um terminal de compu
.
tador, para quem macaqueiadiante de um software e ficamolhadinho quando encara
uma fibra ótica, ele desafia: Enganam-se os que pensam queas indústrias de telecomunicações, os conglomerados da eletrônica e as sofisticadas redesde televisão vão substituir os
jornais. O que o público vai exi
gir cada vez mais é a informação de qualidade e o públicose acostumou a saber que informação de qualidade é uma es
pecialidade dos jornais.
Mario Marona
Editor de Política de O Globo Professordo Curso de Jornalismo da UFSC
El País defende diplomaO jornal El País une-se à
Universidade Autônomade Madrid para criar um
Curso de Jornalismo em nível depós-graduação, exige, naturalmente, curso superior para os candidatos à escola, exige grande conhecimento da língua espanhola, enfim,demonstra todos os cuidados dequem quermanter um curso universitário sério. Aí, no Brasil, o pressrelease que apresenta o diretor daescola, Jesus de La Serna e sua con
ferência no encontro da IBM, afirma que tudo isso seria uma demons-
,
tração de que "não é imprescindívelcursar uma faculdade de Jornalismopara o desempenho da profissão".
O que cansa nesses seminários,congressos, conclaves e convesco-'
tes, é que os ouvintes não queremnem desejam ouvir o que os convidados têm a dizer. Os convidadosestão ali, parece, apenas para reafirmar os pontos de vista que a maltalocal deseja, a todo custo, comprovar.
Pensou-se que uma palestra dodiretor da escola de jornalismo doEl País jogaria uma pá-de-cal sobreaqueles que ainda teimam, no Brasil, em achar que jornalista precisater curso superior, precisa ter umaboa cultura geral, precisa saber escrever e, principalmente, que o jornalismo pode ser ensinado e atéaprendido na escola.
Ao contrário das expectativas,Jesus da La Serna, ombudsman deEl País, patrono fundador e diretorda escola, começou deixando bemclaro que não admitia que o [orna-
lismo fosse exercido por pessoassem curso superior. Mostrou quesua escola acredita que é possíveltransmitir o conhecimento do jornalismo através do ensino prático e
teórico. E concluiu demostrandoque ensinar jornalismo é muito ca
ro.
Talvez aíesteja a razão de tanta
gente indiganar-se com os cursos dejornalismo: é caro ensinar jornalismo,
Escolasparticulares e empresasjornalísticas, no Brasil, adorariampoder dormir sem ter que ouvir a
palestra de Jesus de La Serna. OEl País gastou milhões de dólarespara equipar a escola e investe milhares de dólares por ano para man
tê-la. Sem contar seuspróprios equipamentos, redações e pessoal que,em parte do curso, os alunos utilizam. Isto porque o jornal sente-seresponsável pela melhor formaçãodos profissionais do jornalismo es
panhol.
Jornalespanhol tem
� .
sua propriaescola dejornalismo
Horror dos horrores, uma em
presa privada usar parte de seus lucros nestas obras cujo retorno financeiro é praticamente nenhum. Pavorosa perspectiva.assumir compromissos sociais, responsabilizar-se ,_
também pela melhoria de alguma '5coisa além de suas próprias contas'�bancárias. Talvez vários dos donos :2e diretores de empresas jornalísticas �que estavam presentes não estives- Uisem tremendo só por causa do frio �do ar-condicionado. u,
La Serna explicou que a maio- La Serna: defesa da prática
ria das escolas de jornalismo espanholas é excessivamente teórica e
ministra um número muito grandede disciplinas que a gente aqui chamaria "do tronco comum". Algunsmestres em ,ciência da informaçãoou comunicação, depois de anos e
anos de estudos, quando colocadosdiante de uma pauta de um acidenterodoviário comum, corriqueiro, entram em choque, bloqueiam-se a talponto que não conseguem produziruma única linha.
A escola do El País procuraconsertar isso, fazendo com que toda a teoria - sim, porque é neces
sário teorizar - nasça da prática.
"Não se dizem as coisas antes, masdurante a prática", afirma. Os professores das disciplinas técnicas ou
práticas, não são meros executoresde tarefaspráticas. Sãoprofissionaiscapazes de realizar a tarefa e, ao
acompanhar os alunos que tambéma realizam, extrair daí a reflexão necessária para que aquilo se trans
forme em conhecimento e deixe deser apenas repetição mecânica.
Palestra animadora, inspirado-Jra, para quem pense honestamentesobre o ensino do jornalismo. Palestrinha chinfrim para quem aindaacredita que basta um ego enfladoe meia dúzia de chavões para fazerum jornalista.
César Valente
Professor do Curso de Jornalismo da UFSC
ENCONTROINTERNHIONAlDE JORNALISMO
4" INTERNATIONAL CONFERENCE OF JOURNALISM
4' ENCUENTRO INTERNACIONAL DE PERIODISMO
AGOSTO 93 - ZERO
Dos limites éticos àmultimídia, dojornalismolatino-americano ao
europeu, o 4�EncontroInternacional deJornalismo trouxeuma amostra do queacontece na Imprensamundial. O evento,realizado a cada doisanos e_:pI:_omovidopela IBM] reuniucerca de '100jornalistas e
professores decomumcaç_ao noMaksoud Plaza, emSão Paulo, entre 16 e18 de julho.Jornalísmo popular,a Imprensa na
próxima década e os50 anos defotojornalismo foramalguns dos temastratados. Dezjornalistas e um
especialista em lei deimprensa foram osconferencistas doencontro. O ZeroEspe_ciflJ traz artigose O'plDlOes sobre as
prmcipais discussões.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
��fNCONTIOINHlWIONAlOf JOlNAliSMO
IBM
4'" INTERNATIONAL CONFERENCE OF JOURNALISM4' ENCUENTRO I!'ITERNACIONAL OE PERIODISMO
Jorge LanatàDiretor do Página 11
Jim Squires,Ex-diretor do Chicago Tribune
Imprensa corre atrásde lucro e esqueceinteresses coletivosO maior emais contundente libelo
jáproduzIdo contra opoder daimprensa norte-americana vem com a
assinatura do jornalista Jim Squires,editor do Chicago Tribune, 'de 1981 e
1989, período em que oJornalconquistouseteprêmios Pulitzer, depois de atuarcomo editor do Orlando Sentinel.Sua experiênciaprofissional inclui acobertura de 12 Convenções Nacionais,três eleiçõespresidenciais e atuação naCflsa Branca em trêsgovernos dtYerentes.Eprofessor da Universidade de Harvarde trabalhou comoporta-vozdaRossPerotna última disputa preSIdencial.Publicou o livro Readall/about it, semtradução no BrasIl, com 244páginas,onde decreta a morte do jornalismopelopoder econômico dos conglomerados d.,acomunicação.Num dos capilulos dispara:"Iromcamente, o declínio dos valoresjornalísticos ocorre justamente quando a
moderna tecnologia de comunicação -
a rransmissâo instantânea de fotografiasdigitalizadas, via satélite e cabo -
criaram condiçõespara que se fizesse omelhorjornalismo. Não tem precedente
na América a capac/dade demídia, hoje,deatingirdiretamentea vIda daspessoas".Jim Squires salienta que a imprensa foicriadapara atuar em defesa do interessecoletivo. Foi e continua sendo umainstituiçãoparaproteger a sociedade e a
Justiça. Ou deveria sê�/o.Atualmente, controladaporgrandesempresas, instituiçõesfinanceiras e
fundosdepensão, a imprensadosEstadosUntdos visa mais o lucro do que oaprimoramento da república e o bem dacomun/aade.Cuoupesquisas ind/cando que nosúltimos anos a imprensa vem perdendoprestígio e credibiltdade equeapenas19%dapopulação acha que ela cumpre suamissão.- Esta é a grande mudança dos últimos30anos. A imprensafoisalva, masmudouraa/caônerue suas relações com opovoe ogoverno - prosseguiu. A cada quatroanos a PreSIdência da República é
comprada e vendidapela imprensa comoum novo produto. Não há relatosjornalístICOS sobre os candidatos, masmensagenspubltáiárias caríssimas. Cadacand/daro paga 1(}(}mIlhões de dólaressendo que 80% dessa despesa destina-seà comerciais e compra de tempo na TV.
'
O jornalista Jim Squires acha que odinheiro afetou dramaacamerue aimprensa, o esporte e apolítICa,desvirtuando-os totalmente.Deu um exemplo: "Quando os líderesmundiais queremfozer um encontro
primeiro buscam acordos com a CNNououtra rede de TVpara transmissão dasnegociações.Condenou a violência na TVe o excesso
de exposição das crianças, revelando queas amencanas aedtcam 30 horasporsemana à televisão e assistem 32mIlcomerciaispor ano.Indagado sobre limlies étICOS disse: "Emprimeiro lugar, não dápara serjornaltstapolítko, ter atuaçãopolítlco-partidária e
cobrir apolillca':ConSIderamuito válido o trabalhoprofissionaljunto apolíticos, porqueaprimora os jornaltstas no retorno às
redações. Elespassam a compreendermelhor osfatos e decisâes depolillcos egovernantes.
Moacir Pereira
Professor do CUISO de .kJmalismo da UFSC
John Morris,Ex-editor de fotografia doN. Y. T. eLife
Pamela Wallin,Âncora do telejornalPrime Time News
'Bernard Guetta,Ex-correspondente do Le Monde
Stephen Lynes,Editor de Notícias do DailyMirror
Mitos, comunicação e poderEstesforam os temas d/scundos no 4:'Encontro Internacionalde Jornalismo em SP
AeXIbição de algumasfotos jornalísticas dealtonível-quemnão lembra do soldado foto
grafado nomomento em que eramortalmenteferido durantea Guerra CivilEspanhola ou da menina vietnamitacorrendo desesperada depois de ann
gidapor um bombardeio com napalm- e algumas reflexões sobre o papele as perspectivas do fotojornalismonum mando de paradigmas em crisee em ebulição tecnológica era o queosparticipantes do 4,0 Encontro esperavamdeJohnMorris. Aoinvésdisso,depois de 50 anos de fotografia queInc/uíram os cargos de edtior de Life,The New York Times e do agênciaMagnum, ,
elepreferiu recorrer a Edward Bellamy, um socialista utópiconorte-americano do século passadocomo basepara um discurso sobre aética e em oposição à Guerra do Gol.foe da ex-Iugoslávia.
Com sua voz cansada, Morrisparecia Dom Quixote, um cavaleiro detristefigura que, tomadopor confusasIdéias a respeito do mando que o cer
ca, já não consegue sequer empregaras ar/nas que outrora dominou contraos elementos de uma realtdade que lhe
aparece de maneira fantástica. No es
sencial, não estava mtero distante dadInâmica mas igualmente quixotescafigura desempenhadaporJim Squires,que deixou o cargo de edtior-chefe e
vice-presiaente do Chicago Tnbunedenunciando que o jornaltsmo norte
americano passa por uma distorçãoprofunda em decorrência da rransfarmaçâo da imprensa num negócio co
mo qualquer outro. Squires certamente não percebeu que foi ainda mais
longuelos caminhos de La Manchaao se/tornar assessor do cana/daro In
dependente àpreSIdência dos EstadosUmdos com umaplataforma ana-essabltshmen/, Ross Perot, assumindo as
SIm, o papel de Sancho Pança de umQuixotepós-moderno.
No outro extremo, Uzal MartzJr., presidenre do Pottsvtlle Republl�
A célebre foto de Robert Cappa, feila durante a Guerra Civil Espanholacan, umpequenomasmiara bem suce
dido jornal do Interior dos EstadosUmdosgraças ao uso Intens{'vo de novas tecnologias, era a exuôeranre imagem do empreendedordisposto a remventar os jornaIs - e afirmando queisso não é difíctZ Sua crença inque- .
brantávelna técnica, tipica do pensamento moderno, va/heu-Iheporpartede um ouvinte uma comparação maldosa com o personagem de Flaubert
que reinventou a ciência. Com sua
aposta no advento de "Jornais Intell�
gentes que utiltzem 'cérebros'tecnológicos para suplementar a Intekgênciahumana", Martz não estava muito
longe da espetacular apresentação do
gerente do Centro de PesquISas daIBM, JeanPaulJacob, sobre o impacto da informáticasobrea comunicaçãoe a cultura, algo capaz depermliirquese recrie a Mona Lisa, por exemplo.
A meio caminho e cada um a sua
maneira e conforme seus propâsiros,William Tonet relatou suasperipécias
como repórter na Guerra CiVIlAngoIpna: Jorge Lanasa apresentou o Página i2, que renovou a imprensa argenhna/ Bernard Guetta analISou o quedificultao surgImento de uma Imprensa capaz de atender à demanda resuttante do processo comuntiário euro
peu/ Pamela Wallin defendeua viabill�dade do telejornaliSmo canadense.frente àpressão da esperacuiariraçaada InformatIzação e da multiplicaçãodos canais através das novas tecnologias,' Stephen Lynas eXIbiu o que vem
.fazendo no DailyMirrorpara refuvenescer o jornaltsmopopular,' Jesus deIa Serna expós o projeto do curso demestrado em jomaltsmo desenvolvidopelo Grupo espanholPrisa, que edtiao jornal EI País,' Enquanto o advogado Edward Delaney sustentou quea tecnologia acabou com a censura nomundo, pregou a busca da verdadecomo a melhor forma depreservar aliberdade e a ética, sem a necess/daaede lei ou códigos. Em comum, eles
tInham a Ideológica negação da Ideo
lopa e um pragmatismo sem nostalgia, poucopreocupados com amística
fé na tecnologia.Époucoprovávelque os organi
zadores do 4� Encontro tivessem este
objetivo ao convidar os paiesrrarues,mas seu alInhamento nos três blocosacima amarrou as conferências nos II�mues de um triângulo que encerra co
municação ea existêncIahumananesrefinalde séculomarcadopf'la crise dosparadigmas totallzantes esraôe/eadossobre as bases do Iluminismo. A ética,amística tecnológica e opragmatISmoque faz o possívelpara se despir dequalquer engajamento ontológico sâoos vértices deste triângulo que baltzao jornalISmo conremporâneo. Tambémpor ISSO - além do conteúdo es-'
pecífico das conferênCIas - o evento
promovidopela IBMfoi Interessante.
Cll.t1os AhteJIMüllerEdítor do Jomalda ANI
,�,"',....'
Edward Delaney,Especialista em Lei de Imprensa
Censura e
violência na•
imprensedosEUA
Temaspolêmicosda atual con
juntura brasileira, como violência nos meios de comuni-
cação, direito à informação e princípios éticos da atividade jornalística, predominaram nas palestrase debates do 4? Encontro Internacional de Jornalismo.
Dois conferencistas americanos dedicaram-se mais demoradamente sobre estes temas: o advogadoEdwardDelaney, especialistaem Lei de Imprensa, com larga ex
periência internacional, e o jornalista Jim Squires, ex-editor do Chicago Tribune, que acaba de publicar um polêmico livro questionendo o poder da imprensa nos Estados Unidos.
A primeira observação de Delaney focalizou a estrutura processual e legal norte-americana, diferente da brasileira. Lá os crimesde imprensa são julgados porjúrispopulares, com uma tradição desentenças duras. Os jornais e jornalistas conseguem se livrar demultasepenaspesadas nos tribunais superiores, sendo que 2/3 das sentençassão por eles anuladas.
A liberdade de imprensa nos
Estados Unidos é protegida pelaPrimeira Emenda, eliminando a hipótese da censura prévia, mas admitindo com rigor a responsabilidade posterior pelos abusos praticados .
Este princípio enquadra-senuma teoria que Deleney clsssiticou de "tuncionsl". E uma liber.dsde essencial à vida política. Sóa imprensa tem o deverde fiscalizar
, o governo, denunciar, relatar, contentar. Mais: "Somente os jornalistas podem evitar que o governomints aopovo e controle a imprensa. E da natureza da atividade".
Lembrou que há um grandedebate na sociedade sobre a violên-,cia nos meios eletrônicos, considerando salutar a decisão das empresas e dosprogramasmais fortes para que os pais possam orientar seus
William Tonet,Repórter angolano independente
filhos. "E uma forma de impedirpropostas de aplicação da censu
ra".Edward Delaney identifica
duas ameaças à liberdade de im
prensa: "1 - A crença equivocadados jornalistas de que suas obrigações estão ligadas a partidos, ideologias, culturas e religiões". Os jornalistas americanos não participamde nenhuma causa, o que deu ao
editor do Washington Post até o
direito de nãõ votar. "2 - A buscade prestígio e popularidade, ou se
ia, o risco depublicar fatospra ficarbem com os eleitores. Este não éo trabalho profissional. O deverdojornalista é ser justo, preciso, verdadeiro e honesto".
O advogado admitiu e existência de censura e manipulação daimprensa pelos Estados Unidos naGuerra do golfo, esclarecendo quehouve um acordo entre o Governoe a Imprensa visando a não votaçãode alvos estratégicos. Não criticouesta negociação.
Outra tese apresentada no encontro focalizou o processo de mudança na União Soviética, sustentando que tudo começou pela TV.Acha que há sempre uma carga deinformação, que muda consciências e altera o comportamentopolítico dos telespectadores, em programas de entretenimento.
Sobre violência na TV: "Nãopodemos filtrar a divulgação deatos de violência. Esta ,é a realidade. Filtrar a reportagem sobre violência significa filtrar a verdade",
Indagado sobre processos em
que juízes e ministros condenemJornalistas em represália por denúncias do Poder sentenciou: "Asdecisões corporativas são semprelamentáveis. Os jornalistas não podem ficar com medo de ninguéme de nenhum Poder. O que elestem que fazer é dispararmais tintana Justiça".
Ofereceu a receita para os no
vas repórteres: "Eles devem ter
alma, coração, sentimentos. E, sobretudo, o dever de informar, nãode convencer. A sua missão é relatar os fatos aos leitores. Publiquema verdade. Nenhumaprofissão temo dever de ser objetivo, senão a
dos jornalistas".
MoacirPereira
I "in'S...J
.Q:gEw
iii
�
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
LSD completa 50 anos
Hofmanndescobriu a drogapor scsso
A imagem real
Ing/eses _/àzenzfoSrapara
conzenzorar darada
. .
prTnzeTra-
vzagenz de áczdo
Landres é hoje a capitalmundial do LSD. Osnúmeros da alfândega
britânica mostram que as
apreensões da droga no paísaumentaram de 40 mil dosesem 1988 para 152 mil em 1992.O LSD só perde para a maco
nha, o que mostra que a "onda" neo-hippie não trouxe devolta só as calças boca-de-sino. Além de potente, o LSDé uma ótima alternativa paraos tempos de recessão. En
quanto um baseado (cigarrode maconha) custa US$ 10 e
um tablete de Ecstasy varia deUS$ 23 a US$ 38, o LSD aparece ao módico preço de US$6.
Os 50 anos da primeira"viagem" de LSD mereceram
até comemoração. Fraser
Clarke, editor da revista un
derground "Evolucion" e
adepto fervoroso do LSD or
ganizou uma festa no HydePark, em Londres. Só que en
quanto a galera viajava no
"abstrato" a polícia apareceucom seus palpáveis cacetetes
prometendo uma passagem sóde ida para o "xadrez".
Enquando alguns "via
jam", outros pesquisam. Odoutor Stanislau Grof, médicopsiquiatra, estuda há décadasa possível utilização do LSD
para a exploração do inconsciente humano. Ele defende o
uso da droga por pessoas treinadas e "habilitadas". Este estudo, de acordo com o Dr.
Grof, vem colaborar com o
avanço científico na área doestudo da mente humana.Suas "cobaias" já chegaram a
relatar em suas "viagens" al-
guns contatos intra-uterinos,Com o avanço da pesquisa o·
Dr. Grot está prestes a derrubar a afirmação de Freud de
que não é possível o processode memorização durante a fase de gestação. E ele tem a
licença para usar o LSD em
suas pesquisas por tempo indeterminado.
Hõje, 50 anos após a primeira "viagem", o LSD (Dietalamina do ácido lisergico)volta a cena embalado pelo renascimento hippie mundial. O"ácido" foi descoberto poracaso em 1938 pelo químicosuíço Albert Hofmann quepesquisava um novo remédiopara o tratamento de dores decabeça. Mostrando-se ineficazno combate a doença sua fórmula ficou esquecida até 16 deabril de 1943, quando Hofmann retomou a experiênciae ingeriu acidentalmente uma
pequena quantidade de LSD.
O quê inicialmente seriaum inofensivo analgésico mostrou as suas primeiras características, que foram relatadaspor Hofmann em seu diário:"Sexta-feira passada tive queinterromper o meu trabalho e
ir para casa no meio da tarde.Deitei-me e mergulhei numaagradável embriaguez carac
terizada por extrema atividade da imaginação. Comecei aperceber uma torrente de imagens fantásticas de extrema
plasticidade e nitidez acompanhada de um caledoscópicojogo de cores".
Diógenes Botelho
lERO - AGOSTO 93
Um micropontoderrubaquatro cabeças
A alucinação
Florianópolis ganha novo alternativo, 'N ós vamos virar Floripa
de cabeça para baixo".Esta foi a primeira de
claração de Emerson Gasperin, um
dos editores do jornal Futio-Indispensável, que foi lançado no dia 23 dejulho, durante uma grande festa, no
bar Kasbah, em Florianópolis. Este éo segundo número do jornal, que seus
editores, Frank Maia, e Emerson Gasperin, resolveram batizar de númerol.
O Futio, impresso em papel offset e formato tablete, é um projetode conclusão do Curso de Jornalismoda UFSC e é editado pela FutiografxlCV Editora. "O Futio é um jornal oseguinte: até a galera tá achando queelevai ser um jornal de som, mas nãoé. E um jornal de cultura de Floripa,cultura que não tem no jornal. Tu nãolê matéria sobre o Dazaranha, ou oRock Garagem no jornal. O Futio écultura com "C" mimisculo.a culturada rua, coisa que os suplementos dosjornais daqui não estão acostumadosa fazer matérias", explica Emerson.
Enquanto a festa rolava, uma
multidão ia se formando na porta dobar: todo mundo queria entrar de gra-
ça. Quando descobriram que a entrada era apenas cem mil cruzeiros, o barficou lotado. A multidão vibrou com
os shows das bandas Coronel Johnsone Dazaranha. "Essa festa é bem diferente de tudo o que eu já tinha participado. Antes de chegar aqui, eu achavaque já tinha visto de tudo na vida",confessa Luis Paulo, 15 anos, estudante.
O Coronel Johnson é uma bandade Blues e Black Music, está entrandoagora no mercado. Faz covers de Jimmi Hendrix e Muddy Waters, entreoutros. "O nosso futuro é promissor:nós queremos backing vocals, naipede metais e teclado. Por enquanto a
gente tá rolando um blues mais básico", diz Ulisses o guitarrista e estudante de Jornalismo. O Dazaranha jãestá se tornando bastante conhecidona Ilha. Eles fazem um som tipicamente nativo e muito original. "O Dazaranha é nota onze, é som de primeiro mundo. Muito criativo", elogiaMarta Moritz, fotógrafa. "O sucessodo Futio já era esperado, mas arra
sou", emenda."O Futio está trazendo nesta edi
ção a matéria central sobre. o Dazara-
nha, a banda que está tocando aquihoje, e promete arrasar", diz FrankMaia, editor do jornal. "O Futio tratade curiosidades curiosas. Este númerotá trazendo o centenáro da calcinha,na coluna 'Bottom de Marketing' temo Rodela Cabeleireiro. Tem uma página inteira de um quadrinista daqui deFlorianópolis, que é o Zé Dassilva.
O Futio tá aqui para prestigíar o quenão se fala na 'grande imprensa. Nóstrazemos duas páginas sobre o DorsalAtlântica (Banda trash-metal carioca), que veio pra cá e foi simplesmenteignorado pelos jornais, mas o Futioteve lá e cobriu o show. A gente viuque tem público para esse pessoal.Muita gente consome esse tipo de coisa, por isso o Futio é comercial e é'underground' ".
O-Futio tem a tiragem de três milexemplares e a sua distribuição é gratuita. Pode ser encontrado nas bancasde jornais da cidade, e em algumaslojas de discos.
Adriana Martorano
JornalismoemmesadebarEntre um gole e outro muita gente se
engasgou com a última edição do jornalde barDe Olho na Ilha. Tratando deassuntos polêmicos, ele vem se firmandono mercado e já ocupa as mesas dosI_llelhores. bares de Florianópolis. O jornale um projeto de conclusão da alunaAlessandra Meinicke e conta com a
colaboração de sete alunos do Curso deJornalismo da UFSC. "Eu achei melhor nãoesperar o término do curso para arranjarum emprego. Criei o meu próprio negócioe estou batalhando por um espaço"O jornal trata de assuntos variados. Acoluna de som comenta os últimoslançamentos e dá cobertura para a músicada cidade. O grupo local Dazaranhainaugurou o espaço. O folclore também tem
espaço e Franklin Cascaes foi um dosdestaques da última edição. Para osnaturalistas está garantido o espaçoecolégico por onde já passaram os botose o ecotunsmo. A cultura fica por contade vídeos e cinema. As opções de lazer nãoescapam da Agenda. Os assuntos polêmicosna coluna Na Mira. O terceiro numero sai.no final de agosto.
Fanzinede luxoda Ilha
-
11Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Show multimídia mostraa informática sem limites
lERO - AGOSTO 93
fNCONTROINTflUCIOUlOf JOlNAliSMO
4'· INTERNATIONAL CONFERENCE OF JOURNALISM4' ENCUENTRO INTERNACIONAL DE P�RIODISMO
Moacir Pereira e eu,sorridentes, lado a
lado, imortalizadosno show multimídia da IBM.Tá certo, mostraram fotos dequase todos os participantes,mas a nossa foto estava lá, bemno meio, grande, enquanto ao
redor dezenas de fotinhos se
revezavam como um caleidoscópio da bajulaçáo. Ficamosquase dez segundos ali, nomeio do telão, sorrindo paraas 400 pessoas que certamentese indagavam, "que rapazessimpâticos são aqueles?".
Claro que foi o encerra
mento, com chave de ouro, doencontro da IBM. Jean PaulJacob, gerente de pesquisas doCentro de Pesquisas da IBM
l
. t,{,LIndústria de .
computadores.dobra a capacicfflde deprocessamento a cadaJ8meses
em Almadén, na Califórnia(EUA), um brasileiro cheio depiadinhas, emendando uma tiradinha espirituosa atrás de cada frase, tratou de mostrar asnovidades de sua empresa.Usando seu talento de animador de auditório montou um
show onde, basicamente, dissepara onde vemos e quais sãoos limites ainda existentes.
A roupagem digamos descontraída, pode ter ajudadoum pouco aos mais distraídos,mas atrapalhou quem gostariade saber mais: o tempo ficoucurto com tanta piada. E o
ponto mais baixo da apresentação foi, justamente, aqueleanunciado como a grande atração: o showmultimídia.
Colagem sem graçaDesde o início do encontro,Jean Paul e seus auxiliares circulavam com uma pequena câmara fotográfica, registrandoposes dos participantes. A câmara não usa filme, usa um disquete, parecido com os disquetes de 3 polegadas de computador, só que com a metadedo tamanho. As fotos são batidasnormalmente, com flash ounão (a câmara é realmentemuito pequena, cabe dentro da
mão). E quando o disquete ficacheio é só colocar outro e con
tinuar a fotografar.Este material é passado
para um computador (olha o
comercial um PS/2 IBM, lógico) e as fotos são manipuladascomo qualquerarquivo. No ca
so, foram colocadas - como
faríamos com slides - juntocom uma trilha sonora paramostrar um jornalmultimídia.
Abre-se na tela o que JeanPaul jura que seria a primeirapágina de um jornal. A genteacredita. Ele aperta com o dedo emcede uma das"matérias"e isto inicia o que seria uma
"reportegem ", com as fotos,sons, etc. Tudo sem usar vídeotape, compact-disc ou qualquer outra forma de armazenamento além do disco-rígido docomputador (normalmente co
nhecido por winchester).Tudo muito interessante,
não fosse o enorme amadorismo dos funcionários e funcionárias da IBM-Brasil quemontaram o showzinho. Parecia filme caseiro. Sabe aqueles donatal, do aniversário de trêsanos do caçula? Pois é, serviupara mostrar que não adiantater recurso tecnológico se nãose sabe como fazer as coisasficarem bonitas, atraentes.Faltou arte.
Não que esteja reclamando, afinal, se tivesse sido montado com mais talento talvezMoacir Pereira e eu não tivéssemos ficado tanto tempo, tãograndes e salientes, diante detodo aquele pessoal importante.
Além das perfumarias -
Fora a pirotecnia, que no fundo, no fundo nãopassa da novaforma daquelas cobras que os
camelôs de antigamente sem
pre traziam e a que de vez em
quando se referiam enquantolam passando sua mensagemcomercial à platéia atenta, a
palestra do pesquisador daIBM teve seus momentos deinformação e de novidades.
O principal foi a informação de que a indústria de informática vai continuar dobrandoa capacidade de processamento a cada dezoito meses. Istoé uma coisa fantástica e sem
paralelo em nenhum outro ra
mo industrial. A cada ano e
meio o seu computador de última geração é superado poruma máquina capaz de processar informações com o dobroda velocidade.
Claro que há limites. Parece impossível criar circuitosmenores que os atuais. Parece,mas não é. Há tecnologia,usando reios-x e máquinasporenquanto muito caras (tão ca
ras que a IBM precisou asso
cier-se à Hitachi para poderconstruir uma), que rompemessa barreira microscópica. Eoutros limites, por enquanto,não são visíveis.
Também vai continuar a
tendência de barateamentotanto das máquinas quanto dasrmezenegem de dados.
A partir daí, tudo é possível. As tendências indicam a
superação, em breve, do teclado. Considerada uma peçaanacrônica, quemais atrapalhadC} que �juda, as pesquisas es
tao muito preocupadas na sua
eliminação. Não foi por acasoque o PS/2 que Jean Paul usouem sua apresentação não tinhateclado. Tinha uma tela sensível, que obedecia ao toque deseus dedos. Assim como hojeé comum usarmos o mouse para movermos um cursor até determinado ponto na tela e depois acionarmos a. tecla domousepara acionar um coman
do, todo esse trabalho serásimplificado. Simplesmenteacionamos o comando com o
dedo na tela.
A voz também está sendoestudada como forma de co
mandar a máquina. Esbarraem dificuldades enormes nãosó para o reconhecimento dos
J.P'}.: piadas em excesso
sons, mas tambémpara o reconhecimento das entonações e
dos sentidos. Em todas as línguas há váriaspalavras com so
noridade semelhante e sentidos diversos. Isto sem falar dasdiferentes contextualizaçõesque alteram eiademeis o significado de sons e palavras.
Mas a IBMespere, dentrode algum tempo, poder unir atecnologia do telefone celularao computador e criar umamáquina portátil de grande versa
tilidade: uma mistura de blocode notas, banco de dados, telefone, fax, vídeo-tape, centralde jogos, processador de tex
tos, o que seja.
músicas, gravar e reproduzirsons. Basta adicionar uma placa cujo preço é inferior a 100dólares e que permite conec
tá-lo com qualquer sistema desom, amplificadores, caixas desom, microfones, etc. E possível também, com outra placa,captar imagens da TV, gravarem VT imagens geradas pelocomputador. Com ummodem,que pode ser externo ou interno, épossível usar a linha telefônica, fazer computadoresconversarem entre si e acessar
bancos de dados de qualquerlugar. Ou comunicar-se com
máquinas de fax ou telex. Também não está fora do alcanceinstalar um equipamento leitorde CD-ROM (Compact Disc- Read Only Memory), quearmazena muita informação(uma enciclopédia, por exemplo, que além do texto temsons e imagens em movimentoem vários dos seus verbetes) -,Isto amplia fantasticamente a
capacidade de receber informações.
pu seja, isto não é o futuro. E tecnologia existente hoje. E o que se está prevendo,para os próximos anos, é aper-
I� feiçoar esta tendência itrever� sivel de interação entre os vá� rios meios. A tal multimídia.
I" Que nada mais é do que juntar1!2 numa única coisa aquilo que.3 antes tínhamos guardados em
� vários armários, gavetas e praE teleiras: a máquina de escreuu
ver, o telefone, o videocsssete,a filmadora, o projetor de slides, a máquina fotográfica, o
álbum de fotografias, a discoteca, a agenda, o caderninhode telefones.
Enfim, já que tudo é possível, cada um agora terá quese virarpra descobrir que usos
deseja fazer de tais maquinetas. Acabou-se o tempo doscomputadores padronizadosprontos para levar. Cada pessoa terá um computador diferente do do seu vizinho. Ocomputador que me serve nãoservirá para o Scotto e o delecertamentenão atenderá àsnecessidades da Valci e assimpordiante.
O showdo Jean Paul, portanto, no fim das contas, nãotrouxe tantas novidades assim.Mas deixou claras algumas tendências. Todaspassampela va
lorização - por incrível quepareça - dos talentos humanos. O medíocre, usando as
novas tecnologias, produzirábobagens aos borbotões. Masaqueles que têm o que dizer,que usam aomáximo seus neu
rônios e processam adequa_damente as proteínas, esses,Deus meu, nãopodem mais sequeixar. Podem fazer chover.Mais do que nunca, o céu éo limite. Ou melhor, o únicolimite é a burrice humana.
Hoje, mesmo aqui em César ValenteFlorianópolis, qualquer com-putador pode ter som, tocar JornaiistaeprofessordeCulSOdeJomaismodaUFSÇ
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZERO - AGOSTO 93
.
Olhos azuis - A solução foiprocurar outras fontes. Nada me
lhor do que os próprios clientese funcionários da ECT. A estimativa feita por três atendentes de
agências diferentes coincidiu: emFlorianópolis, já há mais pessoasque vão aos Correios à procurados jogos de azar do que para en
viar correspondência. "Eu só ve
nho aqui para comprar a tele-sena" ,
diz o pedreiro João Moreira,que gastou CR$ 304 mil em oitocartelas. Na fila atrás dele, só a
quinta pessoa queria enviar umacarta.
Correio vira mercado persaJogos de azar. estão- invadindoas agências e enchendo o saco
de quemsóquermandar cartas
O slogan "confiança, a gente bota no Correio" é justo. Afinal, os .Correios
são constantemente apontadosnas pesquisas como a entidade em
que os brasileiros mais confiam,acima dos políticos, das forças armadas e até mesmo da Igreja Católica. Mas talvez esta posição es
teja ameaçada.Quem vai com freqüência às
agências dos Correios tem percebido a diferença. A idéia de transformá-Ias em "bancos de serviços" está transformando-as mes
mo em verdeiras feiras livres.Vende-se de tudo: tele-sena, papa-tudo, raspadinha, carnê dobaú da felicidade, cartão postal,ficha telefônica e até uma tal de"ciscadinha da galinha azul".
O pior, para quem vai mandar carta, é que só nas agênciasmaiores existem filas separadas.Nas outras, é preciso enfrentar ogrande movimento trazido pelavenda dessas loterias. A situaçãoé ainda mais grave nas agênciasfranqueadas. Propriedades de
empresários que recebem dosCorreios uma comissão sobre o
arrecadado, estas agências quasesempre mantêm várias atividadescomerciais paralelas: xerox, posta telefônico, banca de revista,chaveiro, vídeo-clube e por aíafora. Tanta diversificação seriabem-vinda se o atendimento cor
respondesse. Mas, salvo raras ex
ceções, não é isso que acontece.
Contratos obscuros - Os números dos negócios feitos entreos Correios e as empresas privadas são sempre envoltos em mistério.
Nos contratos nacionais,como os feitos com o SBT paraa tele-sena e com a Globo parao papa-tudo, eles não são divul
gados porque tratam-se de acer
tos individuais. Neste caso, o sigilo é até compreensível. Mas o re
ceio que os donos das agênciasfranqueadas têm de revelar de
quanto é a porcentagem que rece
bem, alegando não estarem auto
rizados pelos Correios, é injustificável: ela é igual para todos.
Os critérios usados pelosCorreios para a escolha dos pontos onde funcionarão agênciasfranqueadas são nebulosos. Nãohá licitação: os interessados fazem a proposta e os Correios aceitam ou não. Em muitos casos, como o da Copy Cópias, que ficana rua Deodoro, centro de Floria
nópolis, o caminho é inverso: osCorreios é que fizeram: a proposta, aprovada pelos proprietáriosdo estabelecimento, que antesera apenas um ponto de cópiasxerox.
Nebuloso e envolto em mistérios é também o gerente comerciai dos Correios em Santa Catarina, Antônio Carlos Kruel. Depois de procurado insistentemente pelo telefone durante três dias
seguidos (foram mais de dez ligações), ele abandonou uma de suas
intermináveis reuniões para informar que "só falava desses as
suntos pessoalmente", emboranão Quisesse marcar horário.
Eles tomaram dez salas para impor um novo conceito.
culpidos no estilo Bob-Cuspe.Apesar da aparência excêntri
ca, a vida dos anarco-punks é normal. "Inclusive tornamos banho",brinca o estudante de história Alexandre Benvenutti, acostumadocom reações que quase sempre demonstram medo ou desprezo. Entre os que invadiram o prédio, quase todos são de Florianópolis e têmfamília. Quem não estuda, trabalha. Ou faz as duas coisas, comoDavid de Souza, 24 anos, serventede pedreiro que está se preparandopara o vestibular.
David não pinta o cabelo, quemantém sempre curto, nem mudouomodo de se vestir desde que viroumilitante anarquista, há cincoanos. Esse tempo foi suficiente para que ele percebesse que a igualdade entre as pessoas é uma uto
pia. "Sei disso, mas sonhar nãocusta nada".
Mais jovem, Alexandre mostra-se menos cético. "Ainda háchances das pessoas acordarem",diz, com o entusiasmo que Davidatribui à sua idade, 19 anos. Esteentusiasmo contudo não impedeque Alexandre arremate com uma
frase carregada de melancolia."Temos que ter essa esperança para continuar vivendo".
Ataque Epilético - Os anar
co-punks produzem fanzines (informativos feitos artesanalmente),onde abordam temas polêmicos.Embora o movimento não determine a opinião sobre estes assun
tos, tornando-a uma escolha pessoal, as respostas quase semprecoincidem. David e Alexandre,por exemplo, são contra a pena demorte e a favor do aborto, "emrespeito ao direito de escolha damulher". São contra o separatismo, embora repudiem o naciona-
Uma boa saída para quemgosta de escrever cartas seriaguardar selos em casa e usar as
caixas de coleta. Mas esta não éuma prática comum. Embora as
caixas sejam esvaziadas diariamente, parece que elas não inspiram muita confiança: "só useiuma vez, há três anos atrás, e atéhoje a carta não chegou ao destino", conta Maria Luísa Vieira,enfermeira, a quinta pessoa da fila de João.
Bastam alguns minutos em
qualquer agência dos Correios
para encontrar clientes insatisfeitos cO,m a nova postura da empresa. "E um absurdo que uma entidade antes respeitável vire objetode enriquecimento de gente comoRoberto Marinho e Sílvio Santos", indigna-se o arquiteto JoãoAlberto Fratelli, apontando paraum cartaz de onde se sobressaemos olhos azuis de Xuxa, garotapropaganda do papa-tudo.
Maurício Oliveira
lismo - "somos mesmo é contraas fronteiras". São ateus, "massem materialismo exagerado", e
não usam drogas. "Nem refrigerante eu bebo", ressalta Alexandre. Fiéis à ideologia anarquista,anularam os seus votos na últimaeleição.
� Nem na música o movimentoN é rigoroso. Entre os anarco-punksI há quem goste desde Beethoven a
* Chitãozinho e Xororó, passando(5 por bossa nova e blues. Eles tam::i' bém fazem seu próprio som, com
� bandas como Chute no Saco, Pri� sioneiros da Consciência, Carne
Crua, Lixo Urbano, Coma Alcoólico e Ataque Epilético.
Policiais ou nazistas - EleniceGouvêa, 17 anos, uma das três mulheres do grupo, acha que há muitos outros prédios abandonados nacapital que poderiam virar centrosculturais alternativos. Essa prática,comum nos países mais liberais daEuropa, certamente causaria uma
tremenda confusão por aqui.
Talvez boas intenções nãobastassem para comover as autoridades. Uma semana depois da ocupação, os anarco-punks perceberam que estavam sendo vigiados."Tem um Opala que pára todo diana frente do prédio. Os caras ficamolhando por uns dez minutos e depois vão embora", conta um deles.Se esse carro for da polícia, menosmal para os anarco-punks. Talvezos Vigilantes sejam de grupos rivais, como os skinheads, os "cabeças-raspadas" adeptos do nazismo.
Maut1cio Oliveira
Chaveiro, fotocópias, consertos, raspadinhas e... correios
Anarco-puaksinvademprédioabandonado
J11,:acriar espaçoalternativo
..
Cabeças pintadas COOl sonhos e utopias"Nossa Pátria é o universo,nossa famI7ia é a humanidade,nosso Deus é a nossa consciência '0
A frase, pintada à mão na ca
miseta de um jovem de cabelo es
quisito, traduz a essência do anar
quismo: igualdade entre as pessoascom a abolição de qualquer formade governo. O cabelo, raspado deum lado, comprido e verde-limãodo outro, não deixa dúvida: ele éum anarco-punk.
Os integrantes do movimentoanarco-punk de Florianópolis invadiram um prédio da prefeitura,abandonado há mais de um ano de
pois de um incêndio. São quinzeJovens que pretendem criar no local um espaço alternativo para a
cultura, dividindo as dez salas queescaparam do fogo com outros grupos underground e de minoria.
Do prédio, que fica na cabeceira de ponte Hercí1io Luz, se temuma paisagem de cartão postal.Animados pelo belo visual, os jovens tratam de demonstrar queanarquia não é sinónimo de bagunça. Estão limpando a nova "sede",onde encontraram móveis de escritórios em bom estado e dezenasde livros didáticos novos, que pretendem doar a uma biblioteca. Oambiente, embora semidestruído,é acolhedor. Quase toda de madeira, a construção faz lembrar um
daqueles saloons dos filmes do ve
lho oeste.Sonhando acordado - Os
anarco-punks capricham no visual.As roupas, com detalhes em metale quase sempre pretas, chamam a
atenção. Mas o que atrai os olharesmais curiosos são mesmo os cabelos, coloridos, semi raspados ou es-
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Comércio da UFSC tem privilégiosAGOSTO 93 - ZERO
Todos lucram: unsnãopagam luze outros aluguel
Distantedez quilômetros
do centro de Florianópolis, a Universidade Fede
ral de Santa Catarina é um lugarperfeito para uma microempresa.Além de um público consumidorde aproximadamente 20 mil pessoas, os estabelecimentos comer
ciais da UFSC têm a vantagem de,não estarem à mercê do mercadoimobiliário do país, São bares, restaurantes, salões de beleza e livrarias que pagam apenas as suas con
tas de luz e água, Em troca do
aluguel, os comerciantes devem
seguir uma tabela. Os preços sãofixados pela Comissão de Fiscali
zação de Atividades Comerciaisda Pró-Reitoria de Assuntos daComunidade Universitária. A ca
da mês, membros dessa comissãofazem uma média dos preços praticados por estabelecimentos no
centro da cidade. Sobre essa média é confeccionada a tabela, cercade 20% mais barata, que vigorano comércio da UFSC.
Fotocopiadora do DCE é isenta de conta de luz assim como outros 53 pontos de xerox
em julho, ao diretório. Já o Cursode Jornalismo recebe a cota de seismil xerox por mês em troca da uti
lização da sala do seu Cento Acadêmico para este trabalho. "Esses
pontos são antigos, existem hámais de 10 anos. Teríamos muito
trabalho para removê-los de uma
vez", explica o presidente da Comissão de Fiscalização, Luiz Henrique Verani.
dos por dia. Hoje o gerente garante desconhecer o movimento dalivraria e o faturamento é de "caráter sigiloso". "Se a Feese quiserdivulgar esse número é outra coisa, mas eu não estou autorizadoa dar esta informação", diz. Procurado pelo Zero, o superintendente da Feese, Gilberto Klaumann, garantiu não saber o valordo faturamento da livraria. Segundo ele esses recursos, são usados
para manter a estrutura da Feese.
A Fundação e responsávelpelo gerenciamento de todos os
projetos do Centro Tecnológicoda UFSC. Empresas interessadasem desenvolver pesquisas junto àuniversidade usam a Feese como
uma conta corrente para repassarrecursos necessários para os trabalhos. Os mais de 500 projetos doCTC movimentam anualmentecerca de US$ 3 milhões. De 5%a 10% desse total é destinado àFeese para cobrir suas desoesas.
Para obter a concessão de um
ponto comercial na UFSC, uma
pessoa precisa enfrentar uma con
corrência pública que só acontece
quando há a necessidade da instituição. Fora isso, é possível apresentar uma proposta à PRAC paramontar seu negócio no campus.
Nesse caso será feito um estudo
para saber se a proposta atendeas carências da universidade. Acomissão de fiscalização pró-reitoria já recebeu propostas para a
instalação de lava-rápidos, carrinhos de cachorro quente, máquinade suco no RU e até um bar na
rampa da biblioteca. "Não podemos aceitar todas as propostas, para não transformar a universidadenuma grande feira-livre", diz LuizHenrique Silva,
Xerox privilegiados - Emdesafio a esse controle da PRAC,existem hoje na UFSC, 54 pontosde xerox que não enfrentaram,concorrência pública para obterem seus pontos. A concessão desses locais foi tratada diretamentecom os centros onde estão instalados. O xerox do Diretório Centraldos Estudantes, por exemplo, ficanuma área do Centro de Convivência que pertence ao DCE. Paga pela utilização desse espaço cin.co mil cópias, cerca de CR$ 10mil
tabelecidos. Sem preocupaçãocom aluguel, fica muito mais fácilum negócio dar certo. Um postodo correio como o do Convivência, equipado com fax, duas balanças de até dois quilos, máquinade franquia e telefone, precisa deum investimento de aproximadamente US$lO mil para ser monta
do. Em compensação com cincofuncionários trabalhando no horário comercial a agência fatura em
média US$ 8 mil por mês, Comopertence ao poder público, os funcionários da agência do Correionão se inibem em dizer quanto ganham ou qual o faturamento.
Professor daUFSC e ex-alunosão premiados
Mesmo assim é possível encontrar bares no centro de Floria
nópolis com preços equivalentesaos dos bares da universidade. Napastelaria Keko's localizada atrásda catedral, pode-se saborear umdelicioso pastel de queijo e presunto pelo mesmo preço do autêntico pastel de vento no bar do Básico.
A Federação dasIndústrias do Estado de
ISanta Catarina entregouno dia 12 de agosto, oprêmio Fiesc de
I Jornalismo Econômico,;Felipe Soares, darevista Expressão eex-aluno do Curso deJornalismo da UFSC,venceu na categoriaMídia Impressa. Felipelevou o prêmio com a
I reportagem "Despertarda Babitonga", feita em
parceria com VladimirBrandão (aluno do \
Curso de Jornalismo daUFSC), publicada em
junho do ano passado,A Fiesc tambémentregou uma mençãohonrosa a CarlosLocatelli, jornalista e
professor de Jornalismona UFSC, pela matéria"Largada Ecológica",realizada com a
colaboração de FelipeSoares e BelmiroSauthier, tambémpublicada na revistaExpressão, na edição demaio de 92.
As principais diferenças entreos xerox da UFSC e do resto dacidade são: não têm despesas deluz, sendo a conta do estabelecimento computada na conta docentro onde está instalado. Seus
empregados geralmente não têmcarteira assinada, suas instalaçõeselétricas não são adequadas, não,possuem equipamentos de segurança como extintores e os locaisde trabalho são altamente insalubres.
Há também estabelecimentosque não obedecem à tabela elaborada pela comissão da pró-reito-ria. O mesmo não acontec� c9m
os estabelecimentos privados. E o
caso da livraria do Convivência.Ê o caso do Ponto Natural
do Centro de convivência. Ele foidenunciado à pró-reitoria pelaprática de preços altos. A denúncia aconteceu em setembro do ano
passado� mas só em abril desse ano
que a PRAC tomou providênciase pediu a revogação da licença do
proprietário, Nilo Andrade, paraa exploração do ponto. Até julhoNilo não havia recebido a notificação para desocupar o lugar. "Oproprietário levou a questão paraa justiça e passou a negociar diretamente com o pró-reitor", justifica Luiz Henrique Silva, secretário da comissão da PRAC.
Administrada pela Fundação doEnsino de Engenharia do Estadode Santa Catarina (Feese) a livraria possui uma relação peculiarcom a universidade. Ao contráriodos outros estabelecimentos, elanão paga luz nem água, só um alu
guel, que no mês de julho foi de
aproximadamente CR$ 14,5. Dinheiro suficiente para comprartrês chicletes. "Essa quantia é a
mesma há mais de um ano", afirma o gerente da livraria Alcidesde Ataíde.
Mas as irregularidades nãoparam por aí. Há casos de funcionários da própria universidadeque são como donos desses pontos. Essa situação ilegal pode ser
flagrada na fotocopiadora do Barda Nina do Centro Tecnológico.Lá o proprietário João Silveira,além de administrar o estabelecimento com duas mquinas de xe
rox, ainda arranja tempo para ser
o chefe da segurança do H.U. nashoras vagas.
Negócio da China - Mas são
poucos os que se arriscam a perderseu ponto comercial, desafiandoos padrões de preço e serviços es-
Caráter sigiloso - Durante a
última greve da universidade, a livraria registrou um movimentomédio de 20 livros comercializa- Mariano Senna
os:
'$S<flQlcQlDl-o:5
�Fotocopiadora do bar da Nina, administrada por,um funcionário 13Convite ao pastel de vento e empanadas só de massa
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZERO - AGOSTO 93
New York·inspira obrade Scotto
o professor LUIS Scotto, doCurso de Jornalismo, lançadia 2 de setembro (quinta),a partir das 18h30min, na
Livraria Catarinense(Deodoro 22, centro de
Florianópolis), o romance I46th Street, o caminho i
americano. O livro integraa coleção Circo de Letras,da Brasiliense, e conta um
pouco da vida dosbrasileiros em New York,
onde o autor viveu de 1982a 85. A idéia de escrever
surgiu quando na 42thStreet com Avenida dasAméricas viu um sujeito,chorando junto a uma
pracinha com a estátua dobrasíleiro José Bonifácio.
"E um lugar cheio de!pobres e vaqabundos e
aquele cara me deu um
desânimo dos diabos..
Cinco minutos depoisdesisti do livro, mas levei
quase três anos paradesisitir de New York",
lembra. Anos depois, já em
Florianópolis, voltou a
pensar no livro quando viuna televisão manifestaçõesa favor do impeachment doentão presidente Collor. ATV também mostrava as
manifestações na 46thStreet.
publica no dia 14/07/1993 uma
reportagem sobre o assunto;"A morte é o limite" tenta
mostrar onde fica o ponto exa
to da dosagem de violência quea TV pode mostrar. E até quelimite a TV pode invadir a privacidade e "provocarmortes" ,
W
segundo alguns? A questão éa espinha dorsal de "O Poderda Imagem" (Peter Werner,EUA). Um jornalista divulgao envolvimento de um ban
queiro do Texas num rombofinanceiro. O banqueiro suicida-se quando se vê acuado e
é - inocente!
Lutaporpontos de audiênciaprovoca a baixaria exóticana televisão de Sílvio Santos
Daniele Lopes: suicídio para audiência de 3,2 milhões
trigas" , mata-se o ex-suicida ao
vivo para cinqüenta estadosamericanos - o poder da ima-·gem é gigantescamente superior a palavras impressas ou da
figura do Snoopy encarnado noBarão Vermelho, abatendoaviões durante a primeira guerra. Os picos de audiência daemissora do Cidadão Kane tu-,piniquim o fazem sorrir (o quenão é muito difícil para SilvioSantos).
"Somos todos imbecis",comenta dias depois um articulista da "Folha de São Paulo".
A espetacularização promovida pelo SBT provoca críticas
negativas em toda a mídia brasileira considerada (porquem?) "séria", enquanto o
comentário em todos os círculos nacionais é um sé ie se o
"Aqui Agora" não estivessecobrindo o suicídio, ele teriase concretizado? Uma amigada suicida revela que "foi amaconha que a matou";aliás, foiessa mesma garota que contatou a redação do telejornal para a cobertura do acontecimento. A revista semanal "Veja"
Entupida de tecnologiaemissora esquece ética
"Somos todos idiotas, assistimos a um telejornal idiota", na concepção do articulista da "Folha". Acrescentável:somos impotentes indignadoscom o óbvio. Entupimos nos
sas emissoras com o supra-sumo da tecnologia e esquecemos regras básicas de direitoà privacidade, caráter e ética
profissional. Se existisse deverdade, a personagem de
Faye Dunaway em "Rede de
Intrigas" (uma diretora de jornalismo desesperada por fatosincomuns propícios para levantar a moral de seu programa)mudaria de profissão. CharlesF. Kane trancafiaria-se em Xanadu. Ou ambas as histórias seriam reescritas a favor de um
sensacionalismo mais barato e
vulgar. Em matéria de espetáculo mórbido dirigido a milhares de pessoas, nenhum veículotelevisivo superou a "ousadia"do SBT nos últimos dois me
ses.
Só que isto é uma questãomenor para quem a comanda.O que atiça sua perspectiva éa reação do público-alvo de seu
produto. O espectador ingênuo citado pelo semiólogo italiano Umberto Eco consideranotícia dada como notícia es
quecida (entenda-se como es
pectador ingênuo aquele quenão contradiz informações, écarente de referenciais anteriores e cuja capacidade de reten
ção é quase nula). Amanhãtem mais circo. E às produtores empenham-se neste bombardeio dramático. Para o
"Aqui Agora" não há limite,nem censura, nem autocensura. As outras emissoras brasileiras pisam com cuidado o terreno da ética quando o assunto
é o que a TV pode mostrar semagredir seus telespectadores.O SBT flutua acima disso tudo.Seu negócio é audiência - e
espaço publicitário caro, dis
putado a tapa por "anuncian-.
tes imbecis destinados a um público imbecil".
Fabiano Melillo
, ,C idadão Kane" , a es-
tréia do americanoOrson Welles como diretor, étido como o melhor filme detodos os tempos pela críticamundial e pelo cachorrinhoSnoopy. Literalmente "bisbilhoteiro" , o beagle criado pelotambém americano CharlesSchultz freqüenta todos os diasas páginas de jornais do mundointeiro e, embora um simplespersonagem de quadrinhos,'tem seu império de fama, merchandising e dólares.
Mas um jornal não vendesó por causa de suas tiras diárias. Ele tem notícias e, a priori, é isso que o leitor procura.Novidades, fatos que quasesempre são considerados ver
dades irrefutáveis. O públicoquer o exótico, qualquer coisaque the roube a banalidade docotidiano. Charles Foster Kane sabia disso já em 1941 (anode lançamento de "Cidadão
Kane") e usava seu jornal, o
"Inquirer", como ponta para"catar dividendos e influênciacom o módico valor impressona primeira página.
Na década de 70, consa. gra-se outra mídia, mais espe,
tacular que a impressa: a televisão. "Rede de Intrigas" (Sidney Lumet, 1976, EUA) mos-tra seus bastidores. Neles,transforma-se em pouco tempoum apresentador suicida em
showman número um do país.Os dirigentes da estação de TVmanipulam dados e informa
ções em busca de maior au
diência. Cada novo ponto con
quistado significa milhares dedólares no setor comercial.Nessa guerra surda e calculistatodos os envolvidos parecemestar prestes a apertar o botãoda "Fat Boy".
É claro que o Brasil não
foge desse circuito. Na naçãotechnicolor Pal-M de dentes
cariados, a busca pormaior audiência (ou maior número de
jornais vendidos por dia) é notória. Vale tudo, principalmente a dramatização do diaa-dia ou a exacerbação do exótico. Em meados de julho, umagarota de 16 anos prostar-seem São Paulo, demarcandotempo e coragem para concre
tizar o suicídio. Eis que surgemcâmeras e microfones do
"Aqui Agora", telejornal doSBT que "mostra a vida como
a vida é", prontos para registrar mais um furo de reportagem. A garota joga-se edifícioabaixo e o jornalismo vibrantedo "Aqui Agora" nada deixa
escapar. Kane precisaria demuito mais para conseguir omesmo impacto no seu fictício
"Inquirer". Em "Rede de In-
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Monopólio da Globocriticado em vídeo
Pela primeira vez, alunos doCurso de Jornalismo da UFSC fizeram cobertura de um evento para uma rede nacional de televisão.As alunas da terceira fase MeireBertotti e Sheila Deretti, juntocom o cameraman Roger Gneccodo Laboratório de Vídeo cobriramoXI Festival de Dança de Joinvillepara o Jornal 6:30 da TV Educativa.
A oportunidade surgiu de umacordo feito entre o reitor Diomário Queiroz e o produtor Wagner Correia de Araújo da TVEdo Rio de Janeiro. O diretor doCentro de Comunicação e Expressão, Sérgio Mattos se encarregoude conseg�i.r pessoal e equipamento necessanos para a cobertura.
Foram seis dias de muito trabalho e correria, Além das reportagens feitas duran'te o dia e a noi-
Desdea segunda quin
zena do mês de junhoo documentário Brazil:
Beyond Citizen Kane, produzido pelo Channel 4 (Inglaterra, Ih40), e que traça um perfilsobre a rede Globo e o poderque ela exerce no Brasil, vemsendo exibido em inúmeros locais de Florianópolis, entre ou
tras cidades.O vídeo, produzido por Si
mon Hartog, levou oito anos
para ser feito. Foi finalizadoem fevereiro de 1992, mas sórecentemente pôde ser exibidona TV inglesa. Aqui no Brasil,o primeiro a exibi-lo foi o Museu da Imagem e do Som (MIS)de São Paulo. Omotivo destes15 meses de "geladeira" foramas ameaças da rede Globo em
processar os responsáveis pelasua produção.
Brazil: Beyond CitizenKane coloca todas as opiniõesna boca dos entrevistados. Chico Buarque é quem dispara a
frase que vai dar título ao vídeo: "Eu acho que ele (Roberto Marinho) é mais poderosoque o Cidadão Kane". Alémdas entrevistas, o vídeo utilizamuito os contrastes da vida brasileira,e deixa que.o te lespectador tire as suas próprias conclusões, como na seqüência na
qual mostra Xuxa cantando"todo mundo tá feliz, lá, lá,lá ... " entrecortada por imagens de crianças em favelas.
O documentário cita quatro momentos políticos importantes na história do País nos
quais houve manipulação de informações pela Rede Globo. Oprimeiro é o movimento dosmetalúrgicos em 79. ArmandoNogueira lembra que a Globoproibia o uso de som local, paraevitar que as lideranças fossemouvidas. O segundo exemplo éa eleição de Brizola para governador do Rio, onde a Globomanipulou as pesquisas pré-eleitorais. Depois veio o movimento "Diretas Já", onde a
Globo comentou o comício daPraça da Sé como se fosse ape-
nas mais um evento do aniversário de São Paulo. E por último o compacto com os "melhores momentos" do último debate à eleição presidencial de89, peça extremamente importante na vitória de Collor.
O documentário terminade maneira punk, com baratasdevorando o símbolo da RedeGlobo, ao som de "a televisãome deixou burro, muito burrodemais ... ".
GeIadeira paulista - OMIS, cenário das duas primeiras apresentações do documentário em solo brasileiro, no dia27 de maio, foi também palcode um forte jogo de pressõespolíticas que tentaram impedir
próprio empresano RobertoMarinho. Fleury se defende,dizendo que a fita era pirata,e que "quem proibiu foi oMIS".
Mas o veto, denunciadopela imprensa, acabou se transformando na maior promoçãoque o documentário poderiater. Após o episódio, ele passou a ser exibido em sindicatos,bares, associações, universidades, em sessões geralmente se
guidas por debates sobre o mo
nopólio das comunicações no
Brasil.Os próximos meses pode
rão trazer algumas batalhas jurídicas em torno do documentário. O deputado federal Luiz
Chico: "acho que ele é mais poderoso que o Cidadão Kane"
a continuidade das exibições.Duas sessões foram canceladas, sob alegação de que a fitaestava danificada.
N a verdade as fitas -
aquela que ·seria exibida e as
duas cópias do acervo do MIS- foram confiscadas por ordem do secretário da Culturado Estado de São Paulo, Ricardo Ohtake. Segundo GeraldoAnhaia Mello, coordenador devídeo do MIS, a ordem partiudiretamente do governadorLuiz Antônio Fleury Filho, que"estava p. da vida, dando murros na mesa", e a pedido do
te, a equipe enviada pela UFSCteve que fazer também a edição.
Isto porque o horário de geraçãodo matenal, ficariamuito próximodo horário de transmissão do jornal. Apenas uma hora antes, Todotrabalho de edição foi feito durante as madrugadas numa das trêsilhas da RBS de Joinville. A geração das matérias, já editadas,acontecia todos os dias à tarde,também na RBS.
O resultado da cobertura foiuma série de matérias que serãousadas também num especial so'bre o Festival. Desta vez será numa edição do programa Curto Circuito que vai ao ar todas as sextasfeiras às oito e meia da noite pelaTV Educativa.
O produtor Wagner Correia
Gushiken (PT/SP), irá anexar
uma cópia do documentário,que apresentou na Câmara, como prova auxiliar de uma re
presentação junto à Procuradoria-geral da República, a
qual diz que o monopólio daRede Globo fere o parágrafo5� do artigo 230 da Constituição. Para o deputado, a Globoestaria tentando comprar o documentário do Channel4, e as
sim, poder impedir a sua exibição no Brasil e no mundo.
Sílvio Pereira eAlessandro da Silva
ficou satisfeito com õ trabalho daequipe. Tanto que prolongou a es
tadia dos três até o encerramentodo Festival, pagando todas as despesas de hotel, alimentação e
transporte. A equipe também ficou satisfeita.
O que a UFSC espera com
este trabalho é a concessão de um
canalde televisão para a Universidade. As chances se expandem,mostrando que Qj alunos do Cursode Jornalismo tem competência e
profissionalismo para produzirprogramas. O mesmo canal de TVestá sendo disputado pela Udesc,Universidade para a o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina.
Meire Bertotti
AGOSTO 93 - ZERO
CanalZEBQTelejornais em se dão sono
Flazer televisão em Santa Catarina parece fácil. Pelo menos
é esta a conclusão quando se assiste aos telejornais das quatroemissoras locais. Programas que trazem de tudo: caras novas,
técnicas nem tanto. Assuntos requentados, apresentadores superestimados. Um belo exercício para sentir o efeito destes ingredientessobre a cabeça d41 telespectador, é assitir a quatro telejornais diferentes, em horários variados,
Comece ligando a tevê às 7h30min, na RCE. Prepare-se:você vai perceber o quanto é possível aproveitar mal um horárioprivilegiado. O "Jornal da Manhã" - ou seria "Fala Santa Catarinal: Edição" - poderia ler outro nome, muito mais adequado. Quetal, "Como encher uma hora com entrevistas enfadonhas". Poisé bem isso, Além de dar sono em quem se submete à tortura,o telejornal estica ao máximo as poucas e invariavelmente obscurasvirtudes dos
tambf,'mobscuros entrevistados. A sensação é a de
que não há ningué mais importante ou assuntos mais relevantesnaspautas. Umap na,., .........
E por falar em pena, depois de ter a manhã trabalhando,você chega em casa ao meio-dia e liga no SCc. O nome é oportu'lista: "TI O Estado", Claro, com a qualidade do TJ Brasil,do Casoy, a pretensão, imagine-se, tenha sido a de estabelecerum parãmetro com o TJ do Damiani. O apresentador já teveseu tempo de pioneiro. Foi marco na história da TV catarinense.Mas poderia ter se 'atualizado. Menos empostação na voz. Leitoresde notícias eram bons para o repórter Essa. Hoje, queremos âncoras. Da apresentadora, pouco se observa, Ou melhor, pouco desua "competência" pode ser visto. O que mais aparece na telasão as imensas golas das camisas, em modelitos de gosto duvidoso.Um detalhe: será que ela é jornalista? Tem registro profissional?Se não, está perdoada. Mas nunca livre da fiscalização da DRT.
Ufa!! Volte ao trabalho. Só ligue a TV em casa, no inícioda noite, para relaxar. Tente, então, assistir ao "Jornal BarrigaVerde 2� Edição". Procure manter a técnica da comparação. Como? Eu explico: se há um TI Brasil e um TI O Estado, háigualmente um jornal Bandeirantes (com a brilhante Marília Gabriela) e um jornal Bandeirantes local (com o Sílvio Loddi). Certo?Errado. Tanto neste último quanto no primeiro; o parâmetro éimpossível de ser estabelecido. Por quê? Pelo simples fato deque Gabriela não apenas lê e comenta notícias, mas lê e comentaboas notícias. Já Loddi apef}as lê, e lê péssimas notícias. Nãono conteúdo, mas na forma. E louvável o esforço do apresentador,que consegue dar destaque àquilo que não merece. O que, então,mereceria destaque? Bom, perguntem ao pauteiro. (Acho queele não saberá responder).
Já jantou, já leu seu livro, já conversou com todos em casae está pronto para dormir? Não, espere um pouco mais. Fiquede olho na programação da RBS. A qualquer momento podeentrar no ar o telejornal da emissora. Vamos chamá-lo de "Oúltimo a dar as primeiras" - de anteontem. Sim. O "Jornal daRBS" consegue o que nenhum outro faz: esquentar notícias dofundo da gaveta e fazê-las parecer extremamente factuais. Mais:Paulo Alceu veio para Florianopolis com o título de o mais novoãncora da TV estadual, E o manteve. Nada mais afunda um
telejornal quanto um âncora feito Alceu. Sem voz convincente,ele grita. Sem informações consistentes, ele dá lições de moral.Ora, âncora não é padre. Não é leitor de histórias infantis. Nãoé professor de Moral e Civismo. Ancora, senhores, é jornalistabem informado. E estamos conversados.
Áureo ""oraesJornalista e professor do Curso de Jornalismo da UFSC
.lornalísmo produz para TVE
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
o jornalista Gilberftll.Di-.
menstein, chefe da sucursal deBrasl1ia da Folha de S. Paulo,afirma que "BrasI1ia é uma fábrica de boatos e mentiras",onde cada informação âeve serchecada várias vezes. E diffcilser repórter na capital porque"todos mentem o tempo todo,atépolíticos sérios e honestos".
Dimenstein é também co-
lunista e repórter da Folha. Algumas de suas reportagens in-
vestigativas se trímsformaramem livros, como "A guerra dos
meninos" e "Meninas da Noite ", que retratam a problemática dosmenores no Brasil. Ganhador âos prêmios Esso de
Jornalismo de 88 e 89, este anoDimenstein foi indicado para o
Todos mentem, até
e�IQ)c
.�ÜOI
:to"Itamsr está a serviço da burrice...eu insulto mesmo"
ZERO AGOSTO 93
'
.....
...
Zero- Você é jornalista há
20 anos. Que transformaçõesocorreram n� imprensa?
Gilberto Dimenstein:A imprensa fi=cou mais investigativa, mais inde
pendente. Até a eleição passada doCollor, apenas a Folha de S. Pauloera um jornal investigativo. Os outros jornais todos estavam omissosou entraram naquele "oba-oba" da
campanha collorida. O que mostra
va um nível de indigência muito
grande na imprensa brasileira. Seriainadmissível nos Estados Unidos
que você tivesse um candidato preferencial à presidência da repúblicae ele não fosse investigado de caboa rabo. Se o Collor foi presidente,foi, entre outros motivos, porquea imprensa não soube cumprir o seu
papel. Acontece que dois anos de
pois veio o impeachment e houve
quase uma recuperação dessa falhada imprensa brasileira. E aí a im
prensa deu um grande salto investi
gativo, e na próxima eleição presidencial dificilmente vai acontecer o
que aconteceu em 89. Dificilmenteum único jornal vai ser o campeãoda investigação, deixando os outros
jornais apenas como observadorespassivos. Eu acho que a principaltransformação da imprensa é a generalização de forma acelerada da
independência não mais como um
fator ético, mas como fator técnico.
os políticos honestosO que é que eu quero dizer com
fator técnico: um jornal não é bomsó pelas fotos boas ou ruins que ele
apresenta, pela diagramação boa ouruim, pela notícia bem ou mal escritas, mas pela imagem de independêneia que ele passa ou não. Passaa ser a qualidade do produto, e nãomais uma discussão idealista, quevocê tem que ser independente, quea independência é fundamental para manter os princípios ... Não, a
discussão é outra: sem independência sai um produto ruim e o leitornão compra. Assim como uma pessoa não compra um requeijão quetenha um ponto preto dentro, vocênão compra um jornal que não sejaindependente. E isso que explica o
sucesso da Folha e de outros jornais, em lugares onde a imprensaainda é muito atrelada aos governos, que são as imprensas regionais.Acho que a independência não che
gou nesses lugares. A Folha, porexemplo, aqui em Santa Catarina,é o segundo jornal mais vendido ou
está muito próximo do segundomais vendido, competindo com o
jornallocal. Isso acontece em Brasí
lia, isso acontece no Paraná, e vaicontaminando a forma de se fazer
jornal, vai dando uma tendência.Essa foi a grande modificação queeu vi.
Zero - Você chegou a exerceraativi·dtuIe de repórter, ou sempre foi arti«culista?
Dimenstein: Eu sempre fui repórter.Ser repórter sempre foi a essência
pra mim. Eu não consigo deixar deser repórter. Eu fazia outras coisas
porque, às vezes, dava mais dinheiro. Mas eu sempre fui repórter r Aminha coluna na Folha de SrPauloé uma coluna de repórter. É de al
guém que vê e, a partir do que Vê,do que investiga, escreve.Zero - Você trabalhou em São Pauloe Brasilia. Qual a diferença?Dimenstein: A experiência marcan
te mesmo foi Brasília. Eu virei jornalista em Brasília. Em São Paulofoi apenas um "esquentar de motores". Em São Paulo foi onde eu tivea minha formação cultural, religiosa, foi onde eu conheci os primeirospersonagens de quem comecei a absorver a ética jornalística, a importância da independência. Mas o
meu trabalho mesmo foi em Brasília, que é uma cidade que, se vocêestá disposto a fazer reportagem,ela te dá muitas coisas. Porque Brasília tem um lado que é muito oficial, que se você conseguir manterdistância, você gera produtos muitointeressantes. E eu senti que a re
portagem em Brasília é muito mais
competitiva, inclusive devido ao ex
Cesso de sucursais. Eu sentia queem São Paulo era mais burocráticoo trabalho. Só que Brasília era uma
prêmio Principe das Astúrias,condecoração concedida pelogoverno espanhol que já premiou personelidedes como
Mikhail Gorbscbov e NelsonMandela.
Formado em jomelismo e
sociologia, Dimenstein iniciouna pral'lá8ão há 20 anos, na rerista Shalom. Depois foi para
cidade que, quando eu estava em
São Paulo, era muito mais burocratizada na parte da imprensa. E
quando eu fui pra lá presenciei essamudança da cidade. Na época tinhaaté a idéia de que Brasília era chapabranca, e até hoje alguns setores
ainda acham isso. Mas hoje não éo que acontece, hoje ela é uma im
prensa de alto nível. Eu tenho a
chance de conversar com jornalistasestrangeiros do New York Times,do Washington Post, e eles elogiammuito a imprensa de Brasília pelovigor investigativo.Zero - Qual a sua opinião sobre o
diploma de jornalista?Dimenstein: Eu sou a favor da faculdade e contra o diploma. Eu sou
a favor de que a faculdade seja tão
boa, tão boa, mas tão boa que as
pessoas que quiserem ser jornalistas, sintam-se forçadas a fazer faculdade. Se a faculdade não conseguiuse justificar por isso, acho que elanão tem justificativa. Eu acho queexistem profissões diferentes. Você
"Collor foieleito presidente
porque a
imprensanão soubecumprir
o seu papel"não pode comparar a profissão demédico com a profisão de jornalista, embora as duas sejam igualmente importantes. Você não podecomparar a profissão de engenheirocom a profissão de jornalista, e também não pode comparar a profissãode jornalista com a profissão depoeta, de cantor, de pintor. Vocênão pode limitar que as pessoas se
agreguem à profissão numa épocaem que cada vez está mais segmentada. Se um médico ou um advogado quisessem ser repórteres, seriauma grande conquista que a gentefaria, desde que melhorasse o níveldo jornal, e eu acho que pode me
lhorar. O diploma cria uma reserva
de mercado que não colabora com
a atividade, pode até ajudar os jornalistas, mas não ajuda o jornal.Quando a faculdade' é realmenteboa, baseada em jornais laboratório, num bom currículo, acho queo mercado tende a absorver essas
pessoas. Se ela não for boa achoque acaba só justificando uma re
serva de mercado.
Zero - Quanto à questão do ensinodo jornalismo, você é a favor de umaformação jomalistica diversifícada
o Globo, Última Hora, Visão,Correio Braziliense, Jornal doBrasil e Veja, até chegar à Folha, em 1985.
Dimenstein foi o quintoconvidado doprojetoMemóriado Jornalismo e concedeu estaentrevista ao Zero, onde fala desua csrreirs, da política e daimprensa no País.
ou especializada?Dimenstein: Sou a favor de uma formação humamstica básica. A pessoa quando vai sr jornalista tem queter a clareza do seu papel, sou a
favor de que a pessoa conheça filosofia, sociologia, história, português. Antes tem que ter uma boabase. A tendência é você ter uma,visão especializada também, mas
não se pode deixar de conhecer e
refletir sobre o mundo. Mas achoimportante que a pessoa conheçamedicina, informática ... Tem queir com o tempo se especializandocomo é a tendência mundial.
Zero - O Iãnio de Freitas escreveu
que a imprensa vive atualmente uma
crise ética ao desrespeitarpolíticos devalor com agressões e insultos. Elecita, por exemplo, opresidente ItamarFranco que tem 40 anos de �idapública e nunca se envolveu em escãndolos. Você concorda?
Dimenstein: Eu acho que o presidente Itamar, até onde eu possover, é um político honrado. Mas éum irresponsável, né? Eu não achoisso um insulto. Acho que ele é um
irresponsável, uma pessoa sem qualificaçâo , e usa a mediocridade áserviço da burrice e a burrice a serviço da mediocridade. Eu insultomesmo, se isso for insulto, eu insulto mesmo. Agora, eu concordo como.Jânío no sentido de que na parteética, moral, existe essa crise. Masé um absurdo ver que um presidenteque assumiu com todas as condiçõesde fazer uma grande presidência tenha escolhido um ministério medíocre, tomado posições medíocres, retardando numa solução nacional atroco de nada.
Zero - Será que o Brasil é viávelcom Itamar Franco na Presidência,Inocêncio de Oliveira na Câmara e
Antônio Carlos Magalhães como candidato a lider da oposição?Dimenstein: Não, com esse pessoalnão. Mas o Brasil é viável. O Brasilé um país abençoado, não tem guerras internas, não tem guerras externas, não tem conflitos regionais,não tem conflitos religiosos, temterra, tem água, tem sol, tem parque industrial, tem avanço tecno
lógice na área de telecomunicações.Eu acho que se o Brasil fosse uma
grande Santa Catariana eu seriauma pessoa feliz, sinceramente.Acho que aqui tem muitos problemas, mas para quem está acostumado a ver o Nordeste ... Eu achoque o projeto do Brasil deveria ser
uma grande Santa Catarina. SantaCatarina é um lugar viável. Certamente tem problemas, mas não temas disparidades que tem o resto dopaís.
Entrevista:Luiz Fernando Peniira,
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina