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Nº6 - ANO X - FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 1993 - CURSO DE JORNALISMO DA UFSC TECNOLOGIA E ÉTICA: O IMPASSE DA IMPRENSA Saiba mais com nosso Caderno Especial OS BALÕES SOBEM E DANIELE CAl. DOIS REGISTROS OS ENTREVISTADOS . Bill Johnson e Dimenstein abrem o jogo Páginas 4 e 5 e contracapa FIDEL VIRA DOUTOR Na página 3 Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

FLORIANÓPOLIS, AGOSTO CURSO JORNALISMO …hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993ago.pdf · Nº6-ANOX-FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 1993 CURSO DE JORNALISMO DA UFSC TECNOLOGIA

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Nº6 - ANO X - FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 1993 - CURSO DE JORNALISMO DA UFSC

TECNOLOGIA E ÉTICA:O IMPASSE

DA IMPRENSASaiba mais com nosso Caderno Especial

OS BALÕES SOBEM EDANIELE CAl.

DOIS REGISTROS

OS ENTREVISTADOS .

Bill Johnson e Dimenstein abrem o jogoPáginas 4 e 5 e contracapa

FIDELVIRADOUTORNa página 3

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 2: FLORIANÓPOLIS, AGOSTO CURSO JORNALISMO …hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1993ago.pdf · Nº6-ANOX-FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 1993 CURSO DE JORNALISMO DA UFSC TECNOLOGIA

ERON�6

ANOXAGOSTO 93CURSO de

JORNALISMOCCE-COM

MelhorPeça GráficaI, II, III, I'j, V

Set UniversitárioMllio8B

Eetembro B9, 90 e 91Outubro92

Jornal-Laboratório do Cursode Jornalismo da UniversidadeFederal de Santa Catarina edi­tado pelo Laboratório de Info­grafiaApoio: Ivana Back, RosemaryMageda,u51 Sílvio PereiraArte: Zé da Silva Jr.Colaboração: César Va/enre,Moacir Pereira, Mário Moro­na, Aurea Moraes, Carlos Al­ves Müller, Francisco Karam,Emídio Luisi; Jaca Rodrigues.Copy-write: LuizSCOIIO, Ricar­do Barre/oDiagramação: Suyanne Queve­do, Lara de Lima, Ana PaulaPinho, André Barbosa, SheilaZrerea», Giancarlo Proença,Andrea Luswarghl; Sílvio Pe­reira, Luc/ane Lemos, Luiz F.Pereira, Janaína Toscan, JaimeMoraes, Michelson BorgesDireção de redação: professorRicardo Barre/o (MTb.!708/RS)Edição: Alexandre Gonçalves,Sílvio Pereira, Vic/or CarlsonJaimeMoraes, Joséda Stlva Jd­mor, Ana Paula Pinho, Dióge­nes Bo/elho, Diógenes FischerSchwalb, Ivana Cristina Back,Janaína Toscan, Luiz Carlos I

Fest/, Maurício deLimo Olivei-Ira, Melre Bertolll; Shetla De­relli, SílvIo Pereira, SuyanneOuevedoEditoração eletrônica: Vic/orCarlson (sénior), SílvIo PereiraFotografia: MaurícIo Oliveira,Ana Carine, Jaime Moraes,Diógenes Botelho, CristianeMiranda.

Laboratório Fotográfico: AnaCarin� JaimeMoraesSecretaria Gráfica: AlexandreGonçalves, Sílvio PereiraTextos: Adriana Martorano,Alessandro do Silva, ClaudineNunes, Diógenes Botelho, Fa­biano Melato, Ivana Back, Ja/�me Moraes, Janatna Toséan,Luiz F. Pereira, Mariano Se­nna, MaurícIo OliveIra, MelreBertolfl; SílvIo do CostaPereiraAcabamento e impressão: ANotíciaRedação: Curso de Jornalismo(VFSC-CCE-COM), Trinda­de, CEp 88049-9()(}, Florianó­polis/SCTelefones: (0482) 31-9215 e

31-9290Telex e telefax: (0482) 34-4069Distribuição gratuita:Circulação dirigida.

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Luiz Humberto dácurso de extensão

em fotografia

Cara nova. Velha garra

D epois de longa au­

sência involuntária, o Zero vol­

ta com 'novo projeto gráfico,uma segunda cor e com a es­

tréia de seu mascote, um papa­gaio pirata que só enxerga como olho esquerdo. Parece nada,num pais tumultuadopormas­sacres de presos, crianças e ín­

dios, assolado pela fome ou porum novo imposto polêmico, o

IPMF. Ou até ameaças de gol­pe, que não nos assustam. Vive­mos e amamos uma proílSSlioque con rive diariamente com a

violência, mas isso' não deve fa­zer-nosperder a capacidade daindignação com o que se passaem nossopais e fora dele. Comodetalha o textinho da página 4,em 92 cerca de mil jornalistasforam processados e atualmen­te 113 estãopresospor questõesrelativas à liberdade de im­

prensa. Só na América Latina,nos últimos dez anos, 560 jor­nalistas foram mortos em inci­dentes de trabalho. Também se

matam jornalistas.O Zero faz o que pode pa­

ra tentar relatar isso. Mas, noprimeiro semestre, à exceçãodo número de março, foi força­do a não sair devido a um longo

processo de licitação, que exi­

giu a abertura de quatro dispu­tas de preços, entremarço e ju­lho. O excesso de zelo com a

lisura se deve às exigências donovogoverno federal sobre lici­

tações. Assim, caro leitor, fica­mos ausentes todo este tempomas estamos comprovadamen­te limpos. Isso não significame­nos jornais. Apesar dos prejuí­zos ao ensino, pesquisa e exten­

são, nossas oito edições vão ser

forjadas todas até dezembro.Atépor isso, fica um aviso: nes­Úl semana eSÚlrá circulando o

próximo número, o sétimo doano 10. E outrosmais vibrantesvirão.

Por enquanto, faça uma

leitura atenta, pois breve você

poderá estar sendo entreviste­do por nossos alunos para uma

pesquisa que pretende avaliaro novo projeto e a essência do

jornal, além de traçar umperfilde nosso leitor. Contamos comsuas respostas, até por csrts.Pra quem gosta de jornalismo,esÚl edição está farta. Desde o

caderno especial sobre o 4: En­contro Internacional de Jorna­lismo, passando pelas entrevis­tas de Gilberto Dimenstein e o

professor Bill Johnson, o car­

dápio promete. Saboreie e

mande sua opinião. O-Editor

FM volta a falar da UFSC

O programa Universida­de Aberta voltou a ser

apresentado no dia 23de agosto, às 7h50min, pela Rá­dio Barriga Verde-FM. Feitopor estudantes de jornalismo,o programa segue os mesmos

moldes do que era apresentadona extinta rádio União-FM e

contará com atrações interna­cionais. Em sua primeira ediçãofoi apresentada uma entrevistacom o cantor e compositor Cae­tano Veloso.O Universidade Aberta foi aoar pela primeira vez em 1991.A idéia de ter um espaço paraos estudantes praticarem tudo

aquilo que aprendem nas aulasera antiga. Além disso havia a

necessidade de se criar um ca­

nal de comunicação entre os

alunos e a Universidade. Massegundo a professora e coorde­nadora do programa, Vaiei Zu­culoto, foi a radionovela queproporcionou a chance de o

Universidade Aberta ir ao ar

em uma rádio da capital.O programa, que só saiu

do ar porque a Umão fechou,era produzido por alunos inte­ressados em aprender um pou­co mais sobre radiojornalismo.Dos seis que faziam o progra­ma, apenas dois recebiam salá­rio. Vaiei diz que isso gerouproblemas porque o número depessoas trabalhando no progra­ma nunca era fixo. Muitos lar­

garam o programa para traba­lhar em outras áreas, que fos­sem remuneradas. Mas para es­

ta seguaa fase do Universidade

Primeiroprogramaestreou dia 23 eteve entrevistacom Caetano Velosodireto de Portllga!Aberta Valei já tomou provi­dências para que o programatenha um caráter profissional.

A primeira medida toma­da foi solicitar ao chefe de de­partamento de comunicaçãoseis bolsas de trabalho para o

programa. Depois, a coordena­dora realizou uma série de tes­tes para escolher a equipe deprodução. Seis alunos foram se­

lecionados para trabalhar, de­pois de mostrarem conheci­mentos de reportagem em rá­dio, edição e domínio de textos.Todos vão trabalhar 25 horas

por semana, ganhando um salá­rio mínimo.

Em ,termos de conteúdo e

formato, o Universidade Aber­ta será semelhante ao de sua

versão original transmitido pelarádio União FM. O programatern dez minutos e é divididoem três blocos. Na primeiraparte, traz boletins dos repór­teres relatando as notícias docampus. No segundo bloco vemo Papo Cabeça com uma entre­vista de alguma personalidade,de dentro ou fora, da Univer­sidade. Na última parte, o pro­grama dá as dicas com a agendacultural. "

o Papo Cabeça contarácom a ajuda de um correspon­dente internacional, o profes­sor Eduardo Meditsch que foium dos coordenadores do pro­grama em 1991 e agora está em

Lisboa fazendo doutorado em

. radio-jornalismo. Mesmo dis-tante, Eduardo não deixa detrabalhar pelo programa. A en­

trevista com o cantor CaetanoVeloso, que foi apresentada dia23 de agosto no primeiro pro­grama foi enviado por ele, dire­to de Portugal. Eduardo já se

comprometeu em ser corres­

pondente internacional do Uni­versidadeAberta e enviar, sem­pre que tiver oportunidade, en­trevistas para o programa.

Atlântída FM .:... Além defazer Universidade Aberta, a

equipe de produção do progra­ma vai ter mais trabalho. E quea rádio Atlântida FM, atravésdo apresentador Marcelo Bola,também procurou a professoraValei Zuculoto e demonstrouinteresse em trabalhar com es­

tudantes de jornalismo. A rádioquer que a equipe produza umasérie sobre os cursos da UFSC.

Estes programas ainda não têmformato definido, mas devemir ao ar a partir de setembro."::;..:rão programinhas com uma

linguagem jovem e que servirãopara orientar os jovens que vão

prestar vestibular em 94", con­ta Valci.

o fotógrafo Luiz HumbertoPereira esteve em Florianópolisentre 16 e.20 de agosto ministran­do o curso de extensão Fotografia:o registro do óbvio ou a desco­berta do sensível? Promovido peloLaboratório de Fotografia e Au­diovisual do Departamento de Co­municação o curso foi dirigido a

jornalistas, arquitetos, fotógrafose estudantes de comunicação e ar­

quitetura.

o curso tratou de assuntos

que vão desde o ensino da fotogra­fia, os gêneros fotográficos e foto­jornalísticos, a existência do au­

�or, até questões como a verdade,Imparcialidade e visão crítica no

uso editorial da fotografia. Proje­tando cerca de mil fotografias LuizHumberto fez um passeio pela his­tória da foto e dos maiores fotó­

grafos deste século. Deu tambémuma panorâmica sobre as revistasilustradas de todo o mundo e doBrasil e o uso da fotografia nas

revistas brasileiras como Realida­de, Veia e Isto É.

LuizHumberto é professor ti­tular de Fotografia na Universi­dade de Brasília, da qual foi umdos fundadores nos anos 60. Já foifotógrafo da Editora Abril (revis­tas Veja, Realidade, Quatro Ro­das), e da revista Isto E, além deeditor de Fotografia e diretor dearte do Jornal de Brasília. Parti­cipou de diversas exposições foto­gráficas coletivas e individuais no

país e no exterior.

Sílvio PereiraAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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OConselho Universitário daUniversidade Federal deSanta Catarina aprovou,

dia 29 de julho, a concessão do títulode "Doutor Honoris Causa" ao pre­sidente Fidel Castro. O título é uma

homenagem ao povo cubano pelotrabalho desenvolvido nas áreas de

saúde, eduéação, ciência e tecnolo­

gia. Várias entidades, como a An­

des, Associação Nacional dos Do­

centes de Ensino Superior, enviarammanifestações elogiando a iniciativada universidade.

A idéia de homenagear Fidelpartiu de conversas entre professo­res do Centro de Filosofia e CiênciasHumanas e do Centro de Educação.Três professores da UFSC estiveramem Cuba, no início do ano, para o

Congresso Pedagogia 93, e voltaramimpressionados com os avanços do

país na área social. A proposta ini­

cial, foi aprovada em assembléia ga­ral do CFH e levada ao CUn pelodiretor do Centro Luís FernandoScheibe.

Após duas horas e meia de dis­

cussão, o Conselho decidiu, por 31votos contra 6, conceder o título ao

presidente cubano. A vice-reitoraNilcéia Pelandré, que presidiu a ses­

são destacou que esta foi uma "deci­são histórica'" para a UFSC. Já o

ex-reitor professor Bruno Schlem­

per, acha que a justificativa do títulonão está de acordo com o estatuto

da UFSC. Segundo o artigo 66 do

regimento da UFSC, o título é con­

cedido "a profissionais de alto méri­to e personalidades eminentes"."Neste caso, a homenagem é feitaao povo cubano, e não atribui ne­nhum mérito particular a Fidel", res­salta Schlemper.

O fato repercutiu em diversos

setores, inclusive no governo. A An­des aprovou no 26� Congresso Nacio­nal dos Docentes, realízado no iníciode julho, uma moção de apoio à

Falsificação é

apresentada comoO Catharinenselegítimo. Agoraé com a Polícia

OCatharinense que reapa­receu no começo desteano na seção de Obras

Raras da Biblioteca Universitáriaé falso. Esta é uma das conclusõesda comissão de sindicância que in­

vestigou o roubo do jornal, no rela­tório final entregue à Procurado­ria-Geral da UFSC em meados de

julho.

Segundo o Procurador-GeralJosé Márcio Marques Vieira, umperito será contratado para com­

provar a falsidade do jornal. Se nãohouver alguém capacitado na pró­pria Universidade, a UFSC recor­

rerá à Polícia Técnica ou à USP,que fez trabalhos semelhantes no

caso PC Farias.

São muitas as evidências de

que o exemplar é falso. O papeltem textura diferente e estámelhorconservado que os jornais da épo­ca. O verdadeiro O Catharinense,de 1831, não tinha os indícios de

fotomontagem (recorte de textos)que aparecem na cópia, nem a assi­natura no topo da capa - a mesma

encontrada num panfleto alusivo à

comemoração dos 87 anos de fun­

dação do próprio O Catharinense.Além disso, o original tinha as bor-

das bem mais prejudicadas peloscupins.

"No lugar de sempre" - Ocaso O Catharinense começou em

outubro do ano passado, quandoo Zero denunciou o desapareci­mento do único exemplar conhe­cido de primeira edição do jornal,o primeiro de Santa Catarina. Na

ocasião, o funcionário da Biblio­teca Universitária Valadares Alvesde Oliveira disse que o roubo teriaacontecido três anos antes. A faltado jornal não foi notada porqueos interessados só o viam em mi­crofilme.

Os depoimentos dos envolvi­dos começariam a ser ouvidos pelacomissão de inquérito administra­tivo quando o falso O Catharinense

apareceu. Ele foi encontrado no

dia 4 de janeiro - depois de uma

semana de feriado na UFSC -,pela diretora da Biblioteca Univer­sitária, Maria Ghizoni, e outras

duas funcionárias, a assistente de

direção Beatriz Siedler e a chefeda seção de Coleções Especiais, Ie­da Maria de Souza. Logo que as

funcionárias abriram um pacotecom vários jornais antigos, perce-

Decisão do CUn provoca polêmica na UFSC

UFSC pela "atitude inédita". A em­

baixada de Cuba e o Ministério dasRelações Exteriores também envia­ram manifestações favoráveis ao rei­tor Diomário Queirós. "Devemos

prestigiar valores universais, comoa liderança de Fidel e 11 resistênciae autonomia do povo cubano, apesardas pressões de uma potência como

os EUA", diz Diomário.

Um dos principais motivos quelevou a .universidade a conceder otítulo é o avanço que o país tem con­

seguido nas 'questões sociais. Em Cu­

ba, 98% das crianças entre 6 e 14anos vão à escola e 98% tambémcontinuam seus estudos após se for­mar no sexto e nono ano. Médicose enfermeiras são mantidos pelo go­verne para prestar assistência gra­tuita nas escolas.

Ao sair de qualquer curso denível superior, o estudante cubano

tem seu emprego praticamente ga­rantido. A faculdade de Medicina écursada em hospitais, e está na esferado Ministério da Saúde, e não no

da Educação. O curso de Agronomiafica em fazendas-escola, onde os alu­nos estudam e trabalham mantidos

pelo governo.Na área da saúde o desenvol­

vimento também é visível: a taxa de,nortalidade infantil de Cuba é de10,7 a cada mil nascimentos. Nos

países escandinavos, onde o proble­ma tem os índices mais baixos domundo, morrem sete emmil criançasque nascem. No Brasil, o índice jáchega a 60/1000. Toda a populaçãocubana dispõe de atendimento hos­

pitalar completo e gratuito. Existeum médico para cada 274 habitantese um dentista para cada 524.

O destaque no tratamento dedoenças de pele levou a Cuba milha­res de crianças vítimas do acidente

beram a ponta do Catharinense. Ojornal estava dentro de um saco

plástico, o que chamou a atençãopor se tratar de um procedimentoincomum - e inadequado - paraobras raras.

A diretora da Biblioteca só re­solveu procurar o jornal - que jáhavia sido exaustivamente procu­rado - porque o reitor AntônioDiomário de Queiróz contou quehaviam dito a ele que O Cathari­nense estaria "no lugar de sem-

pre". _

A informação foi dada ao rei­tor pelo jornalista Laudelino Sar­

dá, ex-editor de Opinião do DiárioCatarinense, num encontro queDiomário de Oueiróz não lembracomo aconteceu nem quanto tem­

po durou. Sardá é marido de Nar­cisa de Fátima Amboni, a respon­sável pelo setor de Obras Raras na

época do desaparecimento do jor­nal, que foi acusada por ValadaresAlves de Oliveira de ocultar o rou­bo. Quando Sardá conversou com

o reitor, Narcisa já não trabalhavana Biblioteca havia quase doisanos.

Mauricio Oliveira

nuclear de Chernobil. Reconhecidos

m�ndialmente, os médicos cubanossão os que mais avançaram na buscada cura de problemas como o vitili­

go. Em ciência e tecnologia, se so­

bressai a biotecnologia. O país se

destaca na produção de vacinas, re­médios e insumos para agriculturae pecuária.

O título concedido a Fidel étambém um ato de solidariedade ao

povo que há mais de trinta anos vivesob o bloqueio econômico impostopelos Estados Unidos. A lei Torri­

celli, aprovada recentemente pelosenado americano, veta a entradanos EUA, por seis meses, de todonavio que aportar em Cuba. E ainda

proíbe todas as subsidiárias de pro­dutos americanos de negociar com

o país. As importações ficaram redu­zidas a 25% com o boicote." A ho­

menagem não é um apoio a todasas atitudes do governo cubano, masao seu esforço por dar prioridade às

questões sociais mesmo com o blo­

queio", adverte Scheibe.

Fidel não veio a Santa Catarinapor motivos de segurança e proble­mas internos em Cuba, quando este­ve no Brasil participando da 3� Con­ferência Ibero-Americana de Chefesde Estado e de Governo. A UFSC

espera uma próxima viagem do pre­sidente à América do Sul para reali­zar a entrega do título. Se isso nãoacontecer até o início do ano quevem, o ministro cubano da EducaçãoSuperior virá representar seu presi­dente.

A universidade já concedeu o

título de Doutor Honoris Causa a

figuras importantes como o ex-presi­dente Juscelino Kubitschek, DomHélder Câmara, e post-mortem ao

deputado Ulysses Guimarães, em

março.

Janaína Toscan

Tá querendo me enganar?

Fidel Castro vira doutorTítulo homenageiapovo cubanopelos avanços nas questões sociais

AGOSTO 93 - ZERO

Cubarecebeapoiodeprna/istasO EncontroIbero-americano deJornalistas, ocorrido em

Salvador, entre 8 e 10 dejulho de 1993, aprovouMoção de Apoio a Cuba,solicitando aos

participantes da IIIConferência de CúpulaIbero-americana (Tambémem Salvador, de 14 a 16 dejulho), uma posição a favorda imediata suspensão dobloqueio econômiconorte-americano imposto aCuba há 34 anos. Osjornalistas, querepresentaram 9 países(Argentina, México, Cuba,República Dominicana,Equador, Chile, Uruguai,Espanha e Brasil), tambémdenunciaram aos chefes deEstado "a agressãocomunicativa que se fazcontra a ilha caribenha a

partir de 23 emissoras derádio e TV instaladas em

Miami, que transmitem,exclusivamente,programação hostil aCuba",

3Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZERO - AGOSTO 93

Américamatamaisde500prna/ístas

Na guerra da ex-Iugosláviamorreram 38 jornalistas emapenas 12 meses e durantetodo o ano de 1992 foramassassinados 62 em todo omundo. A denúncia foi feita,

no início de agosto, porJaime Reixach I Riba,

presidente na Espanha daorganização Repórteres

Sem Fronteiras.Reixach participou do

seminário Liberdade deExpressão e Direitos

Humanos, organizado pelaUniversidade de Cantábria,na Espanha. Na ocasião

ele denunciou a

manipulação que se exercesobre a imprensa nas

repúblicas daex-Iugoslávia. Na Sérvia ena Croácia a imprensa vemsendo usada "como armade guerra e para incitar o

ódio racial".De acordo com Reixachdurante o ano de 1992cerca de mil jornalistasforam processados e

atualmente 123 seencontram na prisão pbrmotivos relacionados à

liberdade de imprensa. Sóna América Latina, nosúltimos dez anos, 560jornalistas morreram

enquanto realizavam seu

trabalho. Reixach citou o

caso do fotógrafo espanholJuantxu Rodriguezassassinado pelos

fuzileiros navaisamericanos durante a

invasão do Panamá, em1989.

4

Nos Elf/;1� poucagente Ierarnats,jcam apenas nostelejornais. Issoé uma tristeza

o professor de Comunicação, William

Johnson, da Universidade de Wisconsin,(EUA) esteve em Florianópolis entre os dias26 de maio e 30 de junho. Ele ministrouo curso de telejornalismo aos profissionaisdas quatro geradoras de televisão de Santa

Catarina, aos estudantes e professores docurso de Jornalismo da UFSC. Alternandoaulas práticas e teóricas, ele abordou temas

como o uso da câmara, iluminação, edição,som e entrevistas.

Bill, como gosta de ser chamado, pas­sou por quase todas as etapas de produçãoaudiovisual em jornalismo. Aos 54 anos, éformado em Comunicação pela Universida­de deMinnesota, com mestrado em Ciênciaem Televisãopelo Brooklyn College deNovaIorque. A carreira começou, porém, aos 20anos, como locutor na rádio estudantil daUniversidade de Minnesota. Logo depoisatuou como jornalista em rádios de váriascidades.

Quase sempre ligado a emissoras de te­levisão vinculadas a estudantes, foi cinegrs­fista, repórter, diretor de notícias e produ­tor.

Participou ainda, em1960 de um corpode paz, organização de voluntários que ins­talou televisões educativas em escolasprimá­rias na Colômbia. Fez free-lancer Eara as

redes locais, em produtora independente e

chegou a fundar uma casa cultural ao nortede Nova Iorque. Desde 1980 trabalha como

professor, primeiro em Illinois e depois em

Wisconsin. "Dando aula nesse Universidade

pude, finalmente, morar comminha esposa,depois de sete anos em cidades diferentes".

Nessa entrevista ao Zero, em portu­nhol, Bill conta um pouco sobre telejome­Iismo, escolas de comunicação e o papel daimagem na TV. Calmo, ele fala com cuida­

do, buscando na memória as palavras quefazem sentido em português.

Bill Johnson pretende voltar à Florianópolis

Creio que estou tentando passara.teoria da comunicação, comofunciona. Como funciona? Fun­ciona como uma transação, por­que o comunicador está traba­lhando para comunicar, tem al­

go em mente. O telespectadortambém tem motivos para se co­

municar. Ele quer aprender al­go, busca informações, tenta de-

codificar as imagens. A respon­sabilidade do comunicador é

passar a mensagem de uma ma­

neira que se entenda bem e

quando as imagens são bem utili­

zadas, a comunicação é mais

completa. Est o u buscandotransmitir como utilizar os sím­bolos: palavras, sons e imagens,de forma natural.

Americano ensina a fazer TVBill deu aulas de teleiornalismo a estudantes e profissionais r

Zero- Bill, você já passou

por vários países da Amé­rica Latina como Equador,

Peru, Colômbia e México. Quaisas principais diferenças que vocêviu entre o telejomalismofeito na

América Latina e nos EstadosUnidos?

Bill Johnson - Creio que uma

das principais diferenças é queuma reportagem nos EstadosUnidos não tem muito sentidosem imagem. O repórter escrevepensando nas imagens e quesons vai usar. Aqui se pode en­

tender perfeitamente a matériasem olhar para ela. Parece quese escreve uma reportagem so­

mente para se ouvir as palavras.Quando cheguei ao Brasil fuipercebendo que o telejornalis­mo é passado principalmentepor palavras. Não quero dizer

que isso é bom ou ruim. É ape­nas uma característica. Cada

país tem a sua própria cultura,a sua maneira de trabalhar.Acontece que nos EUA temosa tradição do cinema, por isso,creio que estamos mais acostu­

mados a contar histórias porimagens.

Zero - E qual é a forma de se

trabalhar na Europa?Bill - Na verdade não tenhomuita experiência na Europa.Tenho visto algumas matérias daInglaterra, Grã-Bretanha, e me

parece que a forma de trabalharse parece com a do meu país.Os programas da Rússia não uti­lizam muito bem a imagem, nãopensam que ela é parte da comu­nicação, apenas que acompanhaa notícia em vez de ser a notícia.

Zero - Como você direcionou o

curso, com essas diferenças?Bill- Tenho que pensar: o quevou passar aos brasileiros? Te­nho outra experiência muito di­ferente e também existe a dife­

rença de pensamento do repór­ter daqui e dos Estados Unidos.

Zero - Que outras diferenças'existem noformato dos telejornaisdo Brasil e dos Estados Unidos?Bill - São muito parecidos. O,programa de Boris Casoy, falode Boris porque este é o progra­ma que tenho disponível em mi­nha casa, ele é parecido. Claroque tem mais comentário, análi­ses, com uma perspectiva. Boristem uma perspectiva, é único.As diferenças são de estilo mais

que tudo. Os jornais nacionaisdo Estados Unidos tem um apre­sentador ou dois. Os jornais lo­cais utilizam dois, três, ou qua­tro apresentadores, dois delessão âncoras. Na realidade nãosou esperto nessas coisas. Possodizer apenas as impressões quetenho.Zero - O professor de ética, Phi­lip Meyer, de Carolina do Norte,afirmou em entrevista à revista

Comunicação, que os noticiários

televisivos, em geral, são entrete-e nimento. Você concorda com ele?� ,

I Bill- Sim, tem razão. As vezes

� sim, mas deve haver um equilí­.� brio entre entretenimento e no­

� tícia. Um jornal (impresso) tem� seu entretenimento também,

não? Um jornal diário não é to­do notícia séria, mas claro quetem que haver um equilíbrio.

Zero - Qual a maior preocupa­ção hoje em dia na televisão: oconteúdo ou a forma de apresen­tar esse conteúdo?Bill - Para mim, na realidade,uma preocupação é a mistura deficção com realidade. As vezes

não se nota a diferença, esse éo problema. A questão não é o

estilo, é a mistura com ficção.Isso pode passar uma idéia falsaao telespectador, pode confun­di-lo. Ele não vai saber o queé um e o que é outro.Zero - Ojornalismo investigativotem espaço nos telejornais?Bill - Em alguns programas,nos jornais de vez em quando.Já o programa Sixty Minutes é

investigativo. Ele passa uma vez

por semana e a idéia é investigaros interesses públicos: se os inte­resses privados de uma compa­nhia estão ganhando através dosinteresses públicos, então se in­

vestiga. Isso é importante, é umadas funções dos meios, tanto te­levisão, como jornal, revista ou

outro meio de comunicação demassa.

Zero - O telejornal é o principalmeio de comunicação nos EstadosUnidos?Bill- Sim, muita gente não lêperiódicos. Isso é uma tristezaporque há coisas que um tele-

')o

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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jornal não pode fazer. Certos ti­

pos de idéias são melhores em

jornais porque eles têm mais es­

paço e podem utilizar diferentessímbolos para comunicar idéiasabstratas cC?mo, por exemplo,economia. As vezes a televisãonão é suficiente.Zero - No Brasil existe uma polê­mica sobre a obrigatoriedtuJe do

diploma para exercer a profissão,atualmente ele é obrigatório. O

que você pensa sobre essa polê­mica,já que nos EUA a profissãonão e regulamentada?Bill - Bem, claro que é impor­tante que uma pessoa esteja bempreparada para entrar na profis­são e se não tem diploma, nemexperiência, não vai conseguirtrabalho, é muito difícil. Paranós não é necessário conseguirdiploma por uma questão de tra­dição dos EUA. Na Constitui­ção temos a P emenda que diz"não se pode colocar nenhumabarreira do Estado frente a liber­dade de comunicar o que qui­ser". Então, se uma política na­

cional licenciar os comunicado­res, isso será uma barreira. Masclaro, tanto como professor, co­mo pessoa com experiência no

mundo da comunicação comer­

cial e universitária, penso queuma pessoa sem boa formaçãonão vai conseguir comunicar efe­tivamente. Mas ... não sei, se deveser obrigatório eu estou mais ou

Let um jornalista.

começaganhandomenos de 05118mIlÉpouco) tem queamar aprofissão

menos contra porque é uma bar­reira à liberdade de expressão.Zero - Por que você resolveu ser

professor?Bill - Para mim é interessanteporque depois de trabalhar emvários ramos da televisão e tam­bém com estudantes - a mimencanta preparar os estudantese tenho interesse em teoria da

comunicação - então no am­

biente universitário pude traba­lhar com todas as especialida­des. Isto para mim é o mais inte­ressante em televisão. Existemtantas coisas para produzir umprograma que essas partes deciência, arte, me fascinam.Zero - Como está estruturado o

ensino de comunicação na Uni­versidade de Wisconsin?BiU - Nós temos um Departa­mento de Comunicação e dentrodele várias especialidades: rádioe televisão é uma, jornalismoimpresso é outra. Em rádio e tv,alguns projetos são produzidosdurante a aula e depois os alunosconseguem créditos para traba­lhar no canal 6. Esse canal, quefunciona em tv a cabo, é trans­mitido a todas as casas da cida­de, além dos dormitórios daUniversidade. São produzidosvários tipos de programas, entreeles o noticiário, três vezes por

semana. Assim quando os estu­

dantes saem da Universidadetêm umamostra do seu trabalho.Mais ou menos 30% conseguemarranjar emprego logo que se

formam. Há também os está­

gios, os melhores alunos conse­

guem estágios.Zero - Quanto ganha um jorna­lista em início de carreira?Bill - Menos que os outros.

Cerca ,de 15 a 18 mil dólares porano. E pouco, tem que amar a '

profissão. Algum dia pode subir,mas a princípio não ganha muito(risos). Isso é uma tristeza ...Zero - Os professores precisamter experiência profissional?Bill - Depende da disciplinaque ensine. No meu caso, tenho,mas há outros professores muitobons que não têm muita expe­riência. A maioria tem três, qua­tro, cinco, dez anos. Bem ... a

Universidade tem duas obriga­ções: preparar os estudantesprofissionais, ok. Mas tambémtem a obrigação de preparar osestudantes para uma profissãoque vai durar a vida toda. Entãoé preciso a teoria, porque as coi­sas que estou ensinando, com câ­meras e tudo isso, em cinco anos

não vãomais servir por causa da

tecnologia e também porque a

profissão está caminhando. Eela necessita de professores para

A teoria no ensinodo jornaltsmo énecessária. Não hánadamaispráticoque uma boa teoria

vigiar toda a carreira e ver quais .

são as indicações, para aonde vaia profissão em cinco, vinte, trin­ta anos, o futuro. Quem podeanalisar o que está se passandono mundo? Professores que te­

nham experiência em análise. Àsvezes, se a pessoa só tem a expe­riência profissional, o seu pontode vista é estreito, fechado, elanão tem experiência de analisartoda a carreira. E os acadêmicosfazem isso. Não há nadamais prá­tico que uma boa teoria.

Zero - A tendência é a especia­lização ou saber um pouco de tu­do?Bil - Ná Universidade? Saberum pouco de tudo. Eu sou um

exemplo disso, tenho experiência como repórter, cinegrafista,assim eu trabalho. Talvez sejaesse o motivo de eu ser professorem vez de repórter profissional.Tenho interesse no processo e

em preparar especialistas, Eu

posso dar um pouco de minha

experiência e também dar umaidéia do quadro inteiro.Zero - O que tem mais peso no

currículo?Bill - Depende do graduado,o geral é mais importante. Comsua experiência, o aluno se espe­cializa mais. Como o médico:tem a formação geral e poucoa pouco, com mais conhecimen­to se especializa.Zero - Que conselhos você dáao profissional que está iniciandono jornalismo televisivo?Bil - Tenho sempre que dizer

que o mais importante é mantero equilíbrio: equilíbrio entre en­

tretenimento e jornalismo sério,entre imagem, som, narração.

Entrevista e textos:Claudine Nunes

Alunos que fizeram curso na UFSC são candidatos a intercâmbio

Alunos podem ir aos EUABill Johnson veio ao Brasil peloprograma Academic Specialistdo United States InformationService (USIS). Esse programaé,,:oltado apenas a cursos espe­CI!I�OS de curta duração, de no

mmmo duas e no máximo seissemanas. O USIS possui, ain­da, outros programas, como o

da Comissão Fulbright, quetrouxe ao Curso de Jornalismoo 'professor Jeffrey Hoff. Esseintercâmbio exige período depermanência maior, no míni­mo três meses.

Bill está estudando a pos­sibilidade de intercâmbio entreprofessores e alunos da UFSCcom os da Universidade deWisconsin. "Seria interessantecerca de oito a dez alunos brasi­leiros passarem um mês e pou-

co nos EUA estudando e co­

nhecendo os meios de comuni­cação de lá. Assim como estu­dantes americanos virem, porum período equivalente, e visi­tar as televisões daqui, comoGlobo, Manchete, SBT".

Esse intercâmbio não se

encaixa aos oferecidos peloUSIS por causa da curta dura­ção: "não poderia ser pelo Full­bright nem pelo AcademicSpecialist. Temos que ver queempresas aqui ou nos EUA po­dem se interessar em financiarum projeto desses".

Condições existem. Billafirma que o laboratório docurso possui estrutura suficien­te para produzir documentá­rios. "Em 1984 eu e meus alu­nos fizemos um documentário

no México. Foi um projeto au­

to-financiado. Cada aluno pa­gou US$ 1500 e ficamos lá cin­co semanas. Penso em produziralgo parecido aqui".

O professoiparece anima­do com a idéia. Ele disse queessa é uma boa oportunidadepara a UFSC ampliar progra­mas acadêmicos em outros paí­ses. Para eles também "às ve­

zes os estudantes americanospensam que metade do mundoestá nos EUA. Quero mostrar­lhes que há outras formas deprodução em outros lugares".

Pela segunda vez na capi-.tal, o professor gostou da comi­da. e das praias e garante queval voltar, "quem sabe paramorar".

AGOSTO 93 - ZERO

JornalistaselegemnovopresidenteO jornalista Sérgio Murillode Andrade é o novo

presidente do Sindicato dosJornalistas Profissionais deSanta Catarina. As eleiçõesforam nos dias 11 e 12 deagosto e a chapa única,composta por 27integrantes, obteve 248votos dos 267 eleitores.Sérgio Murillo, formadopela UFSC em 1983, étambém vice-presidente daFederação Nacional dosJornalistas para a regiãosul, um dos coordenadoresdo Fórum Nacional pelaDemocratização daComunicação e assessordo vice-prefeito deFlorianópolis, AfrânioBoppré. Representa o

Sindicato, ainda, junto ao

Colegiado do Curso deJornalismo d? UFSC. Osprofessores Aurea MoraisValei Zuculoto e Maria JoséBaldessar integram a

chapa. A posse estámarcada para 25 desetembro.

5Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Não se tem notícia deloucura idêntica em' todo o

mundo. Quem viajou em ci­ma da "raposa", uma réplicade lata de cerveja, foj ominei­ro Lincoln Freire. "E maravi­lhoso, mas dá uma vertigemincrível", conta Lincoln.,quechegou ao luxo de levar umacadeira de praia para aumen­

tar o conforto, embora tenhaficado o tempo todo em pé.Mesmo amarrado ao balão,ele pôde circular pelos dozemetros de diâmetro que tinhaà disposição. A sensação, dis­se, é bem próxima à de andarnas nuvens.

Festa nos céus de TorresBalõesfazem a alegria dosmoradores daprata gaúcha nomaior.festival doAmérica Lanna

ZERO - AGOSTO 93

Sobem juntos, ficam ao sabor do vento e acabam pousando nos lugaresmais insólitos

Os balonistasperseguem a "repose" namodalidade inventada no Brasil e inovada em Torres

osmeninos que joga­

vam bola ao lado daigreja não podiam

conter a excitação: um enor­

me balão havia pousado bemno meio do campinho, numespetáculo digno de aberturade Copa do Mundo. Coisasdesse tIpO têm acontecido no

balneáno gaúcho de Torres,na divisa com Santa Catarina,que há cinco anos promoveo maior festival de balonismoda América Latina.

Os balões são pouco diri­

�íveis e.ficando praticamentea mercê do vento, acabammuitas vezes descendo em lu­

gares insólitos. Em Torres,eles já caíram nomar, ficaramenroscados em fios e árvorese destruíram canteiros. Masisso não é problema: "o pes­soal daqui torce pro balãopassar bem perto da casa",diz o dentista Manoel NoraNeto. "Se levar a chaminé,melhor ainda: é assunto pro

Às seis hol'llS damanhi O§ bllJonisÚlSjá estavam napista do aeroporto, prontospara sobrevoarem as beias paisagens de Torres

ano todo".Mas quem pensa que a

vida de balonista é um mar

de rosas dos ventos está enga­nado. As seis horas da ma­

nhã, as equipes já estão a ca­

minho do aeroporto, a doisquilômetros do centro da ci­dade. Nas pick-ups, o balãode nylon, dobrado, cabe na

cesta dos passageiros. A cida­de é então acordada pela tra­dicional "alvorada festiva":buzinas, gritos e o inconfun­dível ruído do lança-chamas,que mais tarde irá abastecero balão com ar quente duran­te o vôo.

Mal de Cl,tagas - Já no

gramado do aeroporto, a pri­meira coisa a fazer é conferiro boletim da meteorologia.Na véspera do festival, umaquar�a:feira, foi divulgada a

previsao para todo o fim-de­semana, que acabou se confir­mando: céu claro e vento fra­co, condições ideais para o

balonismo.

Só na tarde do último diado festival, domingo, 2 demaio, o tempo ficou nublado,impedindo a realização da"prova da chave". A chavede um Logus zero quilômetroseria colocada no alto de um

mastro de treze metros de al­tura e o balonista que, largan­do de um ponto de três quilô­metros de distância, conse­

guisse pegá-la numa únicatentativa, levaria o carro. Noano passado, apesar da difi­culdade, esta prova foi cum­prida e o vencedor ganhou umVerona.

Outra modalidade é o

"fly-in", a mais tradicionaldos campeonatos de balão.Como na prova da chave, osbalonistas largam há três qui­lômetros de distância do alvo,estendido no gramado do ae­

roporto, onde devem soltar a"marca" - uma faixa verme­lha de um metro e meio amar­rada a um peso de 80 gramas.Alguns quase acertaram na

mosca, mas houve quem te­nha passado distante três qui­lômetros do alvo.

Andando nas nuvens -

A modalidade de "caça à ra­

posa", uma invenção brasilei­ra, já era interessante e ficouainda mais. Como o nome su­

gere, um balão sai na frentee os outros o perseguem.Quem entregar primeiro a

"marca" ao balonista da "ra­posa" vence a competição.Desta vez, a prova teve uma

inovação: a "marca" teria queser entregue ao balonista queestava em cima do balão.

Festa Iluminada - Alémda lata de cerveja -que tinhaa bem-humorada afteração"conteúdo 3.00.0.0001" -,havia um outro balão de for­mato diferente do tradicionalentre os dezessete participan­tes brasileiros e os dois convi­dados especiais da Argentina:"Yan", um palhaço de trintametros de altura, o maior ba­lão do festival, construído pe­lo próprio balonista especial­mente para fazer o seu vôoinaugural em Torres.

Mesmo sendo feito "emcasa" como Yan, um balãonão sai por menos de US$ 20mil.

Cada equipe te!TI quatrocomponentes mscntos, em­

bora o staff seja geralmentemaior. Na cesta, só embar­cam piloto e navegador. Osoutros acompanham por ter­ra, com a missão de trazer obalão de volta na pick-up.

A agitação trazida pelofestival de balonismo propor­ciona a promoção de eventosparalelos. Este ano, houvetorneio de pesca, provas desupercross e S:lOWS de música,com destaque para o reggaede Jimmy Cliff e do conjuntomineiro Skank. No aeropor­to, enquanto os balões eram

enchidos, aviões faziam acro­

bacias, disputando o espaçocom asas-deltas e ultraleves.

Mas quando os balõessubiam, o céu era só deles.Os coadjuvantes se contenta­vam, então, com o chão: eraa vez da capoeira, da ginásticaaeróbica, das danças gauches­cas. A noite, havia o show debalões iluminados. O espetá­culo fascina: os lança-chamas,acionados na completa escuri­dão, fazem lembrar balões deSão João gigantes.

Mauricio Oliveira

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Tecnologia inovamasmídia impressa tem

I

seu espaço garantidoFoipreciso que um senhor

grisalho, com cara deamericano e jeitão de

caipira subisse no palco do 4?Encontro Internacional de Jor­nalismo da IBM para que algu­ma coisa interessante fosse ditaa uma platéia de cerca de 400

coleguinhas de todo o Brasil:"Os jornais não estão morren­

do", ele afirmou, para presu­mível desgosto de muito jorna­lista que vive apregoando o

contrário, com mórbido pra­zer. Parece que virou moda jor­nalista em fim de carreira ou

boboca recém formado defen­der a tese de que as novas tecno­

logias vão sepultar os jornais."Quem vai querer comprar um

jornal, se bastará acionar umtecla do computador pessoal(estes McLuhan de pouca leitu­ra preferem a expressão "Aces­

sar") para receber em casa, na

tela, todas as notícias importan­tes?"

O caipira americano - na

verdade Uzal Martz Jr., secre­tário e chairman Internacionalde Newspaper Association ofAmerica, uma espécie de ANJ

americana, já não tem tempode discordar das previsões som­brias dos velhos homens de im­

prensa. Ele tem mais o que fa­zer. Por exemplo: construir no­vas maneiras de fazer com quea informação chegue aos leito­res. Presidente da PootsvilleRepublican e editor-chefe do

jornal desta empresa, Uzal im­

plantou um sistema de forneci­mento de notícias pelo telefoneque está virando mania na im­

prensa americana. E que fiquebem claro: a informação por te­lefone não substitui o jornal.

Pelo contrário, o complementae só existe como conseqüênciadele. Parte das notícias publi­cadas no Pootsville Republicantem o desenho de um pequenotelefone, seguido da proposta:"mais informações sobre esse

assunto podem ser obtidas atra­vés do número tal". O serviçoinclui um cardápio variado daschamadas notícias sérias ao

material de serviço (horários defilmes, cardápios de restauran­

tes, preços de liquidações etc.)..Como diria aquela mala quenamora a Marinara, simplesi-

Opúblicose acostumou.'

in/,ormação dequalidade sóno jornal

Uza/ Jr.: te/e-notícias

nho, mas bonitinho. E eficien­te a se considerar as milharesd; ligações diárias que o jornalrecebe. Não é nada de extraor­

dinário diante do mundo quea tecnologia está impondo, masé uma prova de que jornal im­pressa e modernidade (perdão)são compatíveis. Uzal Jr.concorda que a tecnologia vaimudar os jornais mas não tem

medo. E para quem baba dian­te de um terminal de compu­

.

tador, para quem macaqueiadiante de um software e ficamolhadinho quando encara

uma fibra ótica, ele desafia: En­ganam-se os que pensam queas indústrias de telecomunica­ções, os conglomerados da ele­trônica e as sofisticadas redesde televisão vão substituir os

jornais. O que o público vai exi­

gir cada vez mais é a informa­ção de qualidade e o públicose acostumou a saber que infor­mação de qualidade é uma es­

pecialidade dos jornais.

Mario Marona

Editor de Política de O Globo Professordo Curso de Jornalismo da UFSC

El País defende diplomaO jornal El País une-se à

Universidade Autônomade Madrid para criar um

Curso de Jornalismo em nível depós-graduação, exige, naturalmen­te, curso superior para os candida­tos à escola, exige grande conheci­mento da língua espanhola, enfim,demonstra todos os cuidados dequem quermanter um curso univer­sitário sério. Aí, no Brasil, o press­release que apresenta o diretor daescola, Jesus de La Serna e sua con­

ferência no encontro da IBM, afir­ma que tudo isso seria uma demons-

,

tração de que "não é imprescindívelcursar uma faculdade de Jornalismopara o desempenho da profissão".

O que cansa nesses seminários,congressos, conclaves e convesco-'

tes, é que os ouvintes não queremnem desejam ouvir o que os convi­dados têm a dizer. Os convidadosestão ali, parece, apenas para reafir­mar os pontos de vista que a maltalocal deseja, a todo custo, compro­var.

Pensou-se que uma palestra dodiretor da escola de jornalismo doEl País jogaria uma pá-de-cal sobreaqueles que ainda teimam, no Bra­sil, em achar que jornalista precisater curso superior, precisa ter umaboa cultura geral, precisa saber es­crever e, principalmente, que o jor­nalismo pode ser ensinado e atéaprendido na escola.

Ao contrário das expectativas,Jesus da La Serna, ombudsman deEl País, patrono fundador e diretorda escola, começou deixando bemclaro que não admitia que o [orna-

lismo fosse exercido por pessoassem curso superior. Mostrou quesua escola acredita que é possíveltransmitir o conhecimento do jorna­lismo através do ensino prático e

teórico. E concluiu demostrandoque ensinar jornalismo é muito ca­

ro.

Talvez aíesteja a razão de tanta

gente indiganar-se com os cursos dejornalismo: é caro ensinar jornalis­mo,

Escolasparticulares e empresasjornalísticas, no Brasil, adorariampoder dormir sem ter que ouvir a

palestra de Jesus de La Serna. OEl País gastou milhões de dólarespara equipar a escola e investe mi­lhares de dólares por ano para man­

tê-la. Sem contar seuspróprios equi­pamentos, redações e pessoal que,em parte do curso, os alunos utili­zam. Isto porque o jornal sente-seresponsável pela melhor formaçãodos profissionais do jornalismo es­

panhol.

Jornalespanhol tem

� .

sua propriaescola dejornalismo

Horror dos horrores, uma em­

presa privada usar parte de seus lu­cros nestas obras cujo retorno finan­ceiro é praticamente nenhum. Pavo­rosa perspectiva.assumir compro­missos sociais, responsabilizar-se ,_

também pela melhoria de alguma '5coisa além de suas próprias contas'�bancárias. Talvez vários dos donos :2e diretores de empresas jornalísticas �que estavam presentes não estives- Uisem tremendo só por causa do frio �do ar-condicionado. u,

La Serna explicou que a maio- La Serna: defesa da prática

ria das escolas de jornalismo espa­nholas é excessivamente teórica e

ministra um número muito grandede disciplinas que a gente aqui cha­maria "do tronco comum". Algunsmestres em ,ciência da informaçãoou comunicação, depois de anos e

anos de estudos, quando colocadosdiante de uma pauta de um acidenterodoviário comum, corriqueiro, en­tram em choque, bloqueiam-se a talponto que não conseguem produziruma única linha.

A escola do El País procuraconsertar isso, fazendo com que to­da a teoria - sim, porque é neces­

sário teorizar - nasça da prática.

"Não se dizem as coisas antes, masdurante a prática", afirma. Os pro­fessores das disciplinas técnicas ou

práticas, não são meros executoresde tarefaspráticas. Sãoprofissionaiscapazes de realizar a tarefa e, ao

acompanhar os alunos que tambéma realizam, extrair daí a reflexão ne­cessária para que aquilo se trans­

forme em conhecimento e deixe deser apenas repetição mecânica.

Palestra animadora, inspirado-Jra, para quem pense honestamentesobre o ensino do jornalismo. Pales­trinha chinfrim para quem aindaacredita que basta um ego enfladoe meia dúzia de chavões para fazerum jornalista.

César Valente

Professor do Curso de Jornalismo da UFSC

ENCONTROINTERNHIONAlDE JORNALISMO

4" INTERNATIONAL CONFERENCE OF JOURNALISM

4' ENCUENTRO INTERNACIONAL DE PERIODISMO

AGOSTO 93 - ZERO

Dos limites éticos àmultimídia, dojornalismolatino-americano ao

europeu, o 4�EncontroInternacional deJornalismo trouxeuma amostra do queacontece na Imprensamundial. O evento,realizado a cada doisanos e_:pI:_omovidopela IBM] reuniucerca de '100jornalistas e

professores decomumcaç_ao noMaksoud Plaza, emSão Paulo, entre 16 e18 de julho.Jornalísmo popular,a Imprensa na

próxima década e os50 anos defotojornalismo foramalguns dos temastratados. Dezjornalistas e um

especialista em lei deimprensa foram osconferencistas doencontro. O ZeroEspe_ciflJ traz artigose O'plDlOes sobre as

prmcipais discussões.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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��fNCONTIOINHlWIONAlOf JOlNAliSMO

IBM

4'" INTERNATIONAL CONFERENCE OF JOURNALISM4' ENCUENTRO I!'ITERNACIONAL OE PERIODISMO

Jorge LanatàDiretor do Página 11

Jim Squires,Ex-diretor do Chicago Tribune

Imprensa corre atrásde lucro e esqueceinteresses coletivosO maior emais contundente libelo

jáproduzIdo contra opoder daimprensa norte-americana vem com a

assinatura do jornalista Jim Squires,editor do Chicago Tribune, 'de 1981 e

1989, período em que oJornalconquistouseteprêmios Pulitzer, depois de atuarcomo editor do Orlando Sentinel.Sua experiênciaprofissional inclui acobertura de 12 Convenções Nacionais,três eleiçõespresidenciais e atuação naCflsa Branca em trêsgovernos dtYerentes.Eprofessor da Universidade de Harvarde trabalhou comoporta-vozdaRossPerotna última disputa preSIdencial.Publicou o livro Readall/about it, semtradução no BrasIl, com 244páginas,onde decreta a morte do jornalismopelopoder econômico dos conglomerados d.,acomunicação.Num dos capilulos dispara:"Iromcamente, o declínio dos valoresjornalísticos ocorre justamente quando a

moderna tecnologia de comunicação -

a rransmissâo instantânea de fotografiasdigitalizadas, via satélite e cabo -

criaram condiçõespara que se fizesse omelhorjornalismo. Não tem precedente

na América a capac/dade demídia, hoje,deatingirdiretamentea vIda daspessoas".Jim Squires salienta que a imprensa foicriadapara atuar em defesa do interessecoletivo. Foi e continua sendo umainstituiçãoparaproteger a sociedade e a

Justiça. Ou deveria sê�/o.Atualmente, controladaporgrandesempresas, instituiçõesfinanceiras e

fundosdepensão, a imprensadosEstadosUntdos visa mais o lucro do que oaprimoramento da república e o bem dacomun/aade.Cuoupesquisas ind/cando que nosúltimos anos a imprensa vem perdendoprestígio e credibiltdade equeapenas19%dapopulação acha que ela cumpre suamissão.- Esta é a grande mudança dos últimos30anos. A imprensafoisalva, masmudouraa/caônerue suas relações com opovoe ogoverno - prosseguiu. A cada quatroanos a PreSIdência da República é

comprada e vendidapela imprensa comoum novo produto. Não há relatosjornalístICOS sobre os candidatos, masmensagenspubltáiárias caríssimas. Cadacand/daro paga 1(}(}mIlhões de dólaressendo que 80% dessa despesa destina-seà comerciais e compra de tempo na TV.

'

O jornalista Jim Squires acha que odinheiro afetou dramaacamerue aimprensa, o esporte e apolítICa,desvirtuando-os totalmente.Deu um exemplo: "Quando os líderesmundiais queremfozer um encontro

primeiro buscam acordos com a CNNououtra rede de TVpara transmissão dasnegociações.Condenou a violência na TVe o excesso

de exposição das crianças, revelando queas amencanas aedtcam 30 horasporsemana à televisão e assistem 32mIlcomerciaispor ano.Indagado sobre limlies étICOS disse: "Emprimeiro lugar, não dápara serjornaltstapolítko, ter atuaçãopolítlco-partidária e

cobrir apolillca':ConSIderamuito válido o trabalhoprofissionaljunto apolíticos, porqueaprimora os jornaltstas no retorno às

redações. Elespassam a compreendermelhor osfatos e decisâes depolillcos egovernantes.

Moacir Pereira

Professor do CUISO de .kJmalismo da UFSC

John Morris,Ex-editor de fotografia doN. Y. T. eLife

Pamela Wallin,Âncora do telejornalPrime Time News

'Bernard Guetta,Ex-correspondente do Le Monde

Stephen Lynes,Editor de Notícias do DailyMirror

Mitos, comunicação e poderEstesforam os temas d/scundos no 4:'Encontro Internacionalde Jornalismo em SP

AeXIbição de algumasfotos jor­nalísticas dealtonível-quemnão lembra do soldado foto­

grafado nomomento em que eramor­talmenteferido durantea Guerra CivilEspanhola ou da menina vietnamitacorrendo desesperada depois de ann­

gidapor um bombardeio com napalm- e algumas reflexões sobre o papele as perspectivas do fotojornalismonum mando de paradigmas em crisee em ebulição tecnológica era o queosparticipantes do 4,0 Encontro espe­ravamdeJohnMorris. Aoinvésdisso,depois de 50 anos de fotografia queInc/uíram os cargos de edtior de Life,The New York Times e do agênciaMagnum, ,

elepreferiu recorrer a Ed­ward Bellamy, um socialista utópiconorte-americano do século passadocomo basepara um discurso sobre aética e em oposição à Guerra do Gol.foe da ex-Iugoslávia.

Com sua voz cansada, Morrispa­recia Dom Quixote, um cavaleiro detristefigura que, tomadopor confusasIdéias a respeito do mando que o cer­

ca, já não consegue sequer empregaras ar/nas que outrora dominou contraos elementos de uma realtdade que lhe

aparece de maneira fantástica. No es­

sencial, não estava mtero distante dadInâmica mas igualmente quixotescafigura desempenhadaporJim Squires,que deixou o cargo de edtior-chefe e

vice-presiaente do Chicago Tnbunedenunciando que o jornaltsmo norte­

americano passa por uma distorçãoprofunda em decorrência da rransfar­maçâo da imprensa num negócio co­

mo qualquer outro. Squires certamen­te não percebeu que foi ainda mais

longuelos caminhos de La Manchaao se/tornar assessor do cana/daro In­

dependente àpreSIdência dos EstadosUmdos com umaplataforma ana-essa­bltshmen/, Ross Perot, assumindo as­

SIm, o papel de Sancho Pança de umQuixotepós-moderno.

No outro extremo, Uzal MartzJr., presidenre do Pottsvtlle Republl�

A célebre foto de Robert Cappa, feila durante a Guerra Civil Espanholacan, umpequenomasmiara bem suce­

dido jornal do Interior dos EstadosUmdosgraças ao uso Intens{'vo de no­vas tecnologias, era a exuôeranre ima­gem do empreendedordisposto a rem­ventar os jornaIs - e afirmando queisso não é difíctZ Sua crença inque- .

brantávelna técnica, tipica do pensa­mento moderno, va/heu-Iheporpartede um ouvinte uma comparação mal­dosa com o personagem de Flaubert

que reinventou a ciência. Com sua

aposta no advento de "Jornais Intell�

gentes que utiltzem 'cérebros'tecnoló­gicos para suplementar a Intekgênciahumana", Martz não estava muito

longe da espetacular apresentação do

gerente do Centro de PesquISas daIBM, JeanPaulJacob, sobre o impac­to da informáticasobrea comunicaçãoe a cultura, algo capaz depermliirquese recrie a Mona Lisa, por exemplo.

A meio caminho e cada um a sua

maneira e conforme seus propâsiros,William Tonet relatou suasperipécias

como repórter na Guerra CiVIlAngo­Ipna: Jorge Lanasa apresentou o Pági­na i2, que renovou a imprensa argen­hna/ Bernard Guetta analISou o quedificultao surgImento de uma Impren­sa capaz de atender à demanda resut­tante do processo comuntiário euro­

peu/ Pamela Wallin defendeua viabill�dade do telejornaliSmo canadense.frente àpressão da esperacuiariraçaada InformatIzação e da multiplicaçãodos canais através das novas tecnolo­gias,' Stephen Lynas eXIbiu o que vem

.fazendo no DailyMirrorpara refuve­nescer o jornaltsmopopular,' Jesus deIa Serna expós o projeto do curso demestrado em jomaltsmo desenvolvidopelo Grupo espanholPrisa, que edtiao jornal EI País,' Enquanto o advo­gado Edward Delaney sustentou quea tecnologia acabou com a censura nomundo, pregou a busca da verdadecomo a melhor forma depreservar aliberdade e a ética, sem a necess/daaede lei ou códigos. Em comum, eles

tInham a Ideológica negação da Ideo­

lopa e um pragmatismo sem nostal­gia, poucopreocupados com amística

fé na tecnologia.Époucoprovávelque os organi­

zadores do 4� Encontro tivessem este

objetivo ao convidar os paiesrrarues,mas seu alInhamento nos três blocosacima amarrou as conferências nos II�mues de um triângulo que encerra co­

municação ea existêncIahumananesrefinalde séculomarcadopf'la crise dosparadigmas totallzantes esraôe/eadossobre as bases do Iluminismo. A ética,amística tecnológica e opragmatISmoque faz o possívelpara se despir dequalquer engajamento ontológico sâoos vértices deste triângulo que baltzao jornalISmo conremporâneo. Tam­bémpor ISSO - além do conteúdo es-'

pecífico das conferênCIas - o evento

promovidopela IBMfoi Interessante.

Cll.t1os AhteJIMüllerEdítor do Jomalda ANI

,�,"',....'

Edward Delaney,Especialista em Lei de Imprensa

Censura e

violência na•

imprensedosEUA

Temaspolêmicosda atual con­

juntura brasileira, como vio­lência nos meios de comuni-

cação, direito à informação e prin­cípios éticos da atividade jornalís­tica, predominaram nas palestrase debates do 4? Encontro Interna­cional de Jornalismo.

Dois conferencistas america­nos dedicaram-se mais demorada­mente sobre estes temas: o advo­gadoEdwardDelaney, especialistaem Lei de Imprensa, com larga ex­

periência internacional, e o jorna­lista Jim Squires, ex-editor do Chi­cago Tribune, que acaba de publi­car um polêmico livro questionen­do o poder da imprensa nos Esta­dos Unidos.

A primeira observação de De­laney focalizou a estrutura proces­sual e legal norte-americana, dife­rente da brasileira. Lá os crimesde imprensa são julgados porjúrispopulares, com uma tradição desentenças duras. Os jornais e jorna­listas conseguem se livrar demultasepenaspesadas nos tribunais supe­riores, sendo que 2/3 das sentençassão por eles anuladas.

A liberdade de imprensa nos

Estados Unidos é protegida pelaPrimeira Emenda, eliminando a hi­pótese da censura prévia, mas ad­mitindo com rigor a responsabili­dade posterior pelos abusos prati­cados .

Este princípio enquadra-senuma teoria que Deleney clsssiti­cou de "tuncionsl". E uma liber­.dsde essencial à vida política. Sóa imprensa tem o deverde fiscalizar

, o governo, denunciar, relatar, con­tentar. Mais: "Somente os jorna­listas podem evitar que o governomints aopovo e controle a impren­sa. E da natureza da atividade".

Lembrou que há um grandedebate na sociedade sobre a violên-,cia nos meios eletrônicos, conside­rando salutar a decisão das empre­sas e dosprogramasmais fortes pa­ra que os pais possam orientar seus

William Tonet,Repórter angolano independente

filhos. "E uma forma de impedirpropostas de aplicação da censu­

ra".Edward Delaney identifica

duas ameaças à liberdade de im­

prensa: "1 - A crença equivocadados jornalistas de que suas obriga­ções estão ligadas a partidos, ideo­logias, culturas e religiões". Os jor­nalistas americanos não participamde nenhuma causa, o que deu ao

editor do Washington Post até o

direito de nãõ votar. "2 - A buscade prestígio e popularidade, ou se­

ia, o risco depublicar fatospra ficarbem com os eleitores. Este não éo trabalho profissional. O deverdojornalista é ser justo, preciso, ver­dadeiro e honesto".

O advogado admitiu e existên­cia de censura e manipulação daimprensa pelos Estados Unidos naGuerra do golfo, esclarecendo quehouve um acordo entre o Governoe a Imprensa visando a não votaçãode alvos estratégicos. Não criticouesta negociação.

Outra tese apresentada no en­contro focalizou o processo de mu­dança na União Soviética, susten­tando que tudo começou pela TV.Acha que há sempre uma carga deinformação, que muda consciên­cias e altera o comportamentopolí­tico dos telespectadores, em pro­gramas de entretenimento.

Sobre violência na TV: "Nãopodemos filtrar a divulgação deatos de violência. Esta ,é a realida­de. Filtrar a reportagem sobre vio­lência significa filtrar a verdade",

Indagado sobre processos em

que juízes e ministros condenemJornalistas em represália por de­núncias do Poder sentenciou: "Asdecisões corporativas são semprelamentáveis. Os jornalistas não po­dem ficar com medo de ninguéme de nenhum Poder. O que elestem que fazer é dispararmais tintana Justiça".

Ofereceu a receita para os no­

vas repórteres: "Eles devem ter

alma, coração, sentimentos. E, so­bretudo, o dever de informar, nãode convencer. A sua missão é rela­tar os fatos aos leitores. Publiquema verdade. Nenhumaprofissão temo dever de ser objetivo, senão a

dos jornalistas".

MoacirPereira

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iii

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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LSD completa 50 anos

Hofmanndescobriu a drogapor scsso

A imagem real

Ing/eses _/àzenzfoSrapara

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prTnzeTra-

vzagenz de áczdo

Landres é hoje a capitalmundial do LSD. Osnúmeros da alfândega

britânica mostram que as

apreensões da droga no paísaumentaram de 40 mil dosesem 1988 para 152 mil em 1992.O LSD só perde para a maco­

nha, o que mostra que a "on­da" neo-hippie não trouxe devolta só as calças boca-de-si­no. Além de potente, o LSDé uma ótima alternativa paraos tempos de recessão. En­

quanto um baseado (cigarrode maconha) custa US$ 10 e

um tablete de Ecstasy varia deUS$ 23 a US$ 38, o LSD apa­rece ao módico preço de US$6.

Os 50 anos da primeira"viagem" de LSD mereceram

até comemoração. Fraser

Clarke, editor da revista un­

derground "Evolucion" e

adepto fervoroso do LSD or­

ganizou uma festa no HydePark, em Londres. Só que en­

quanto a galera viajava no

"abstrato" a polícia apareceucom seus palpáveis cacetetes

prometendo uma passagem sóde ida para o "xadrez".

Enquando alguns "via­

jam", outros pesquisam. Odoutor Stanislau Grof, médicopsiquiatra, estuda há décadasa possível utilização do LSD

para a exploração do incons­ciente humano. Ele defende o

uso da droga por pessoas trei­nadas e "habilitadas". Este es­tudo, de acordo com o Dr.

Grof, vem colaborar com o

avanço científico na área doestudo da mente humana.Suas "cobaias" já chegaram a

relatar em suas "viagens" al-

guns contatos intra-uterinos,Com o avanço da pesquisa o·

Dr. Grot está prestes a derru­bar a afirmação de Freud de

que não é possível o processode memorização durante a fa­se de gestação. E ele tem a

licença para usar o LSD em

suas pesquisas por tempo in­determinado.

Hõje, 50 anos após a pri­meira "viagem", o LSD (Die­talamina do ácido lisergico)volta a cena embalado pelo re­nascimento hippie mundial. O"ácido" foi descoberto poracaso em 1938 pelo químicosuíço Albert Hofmann quepesquisava um novo remédiopara o tratamento de dores decabeça. Mostrando-se ineficazno combate a doença sua fór­mula ficou esquecida até 16 deabril de 1943, quando Hof­mann retomou a experiênciae ingeriu acidentalmente uma

pequena quantidade de LSD.

O quê inicialmente seriaum inofensivo analgésico mos­trou as suas primeiras caracte­rísticas, que foram relatadaspor Hofmann em seu diário:"Sexta-feira passada tive queinterromper o meu trabalho e

ir para casa no meio da tarde.Deitei-me e mergulhei numaagradável embriaguez carac­

terizada por extrema ativida­de da imaginação. Comecei aperceber uma torrente de ima­gens fantásticas de extrema

plasticidade e nitidez acompa­nhada de um caledoscópicojogo de cores".

Diógenes Botelho

lERO - AGOSTO 93

Um micropontoderrubaquatro cabeças

A alucinação

Florianópolis ganha novo alternativo, 'N ós vamos virar Floripa

de cabeça para baixo".Esta foi a primeira de­

claração de Emerson Gasperin, um

dos editores do jornal Futio-Indispen­sável, que foi lançado no dia 23 dejulho, durante uma grande festa, no

bar Kasbah, em Florianópolis. Este éo segundo número do jornal, que seus

editores, Frank Maia, e Emerson Gas­perin, resolveram batizar de númerol.

O Futio, impresso em papel off­set e formato tablete, é um projetode conclusão do Curso de Jornalismoda UFSC e é editado pela FutiografxlCV Editora. "O Futio é um jornal oseguinte: até a galera tá achando queelevai ser um jornal de som, mas nãoé. E um jornal de cultura de Floripa,cultura que não tem no jornal. Tu nãolê matéria sobre o Dazaranha, ou oRock Garagem no jornal. O Futio écultura com "C" mimisculo.a culturada rua, coisa que os suplementos dosjornais daqui não estão acostumadosa fazer matérias", explica Emerson.

Enquanto a festa rolava, uma

multidão ia se formando na porta dobar: todo mundo queria entrar de gra-

ça. Quando descobriram que a entra­da era apenas cem mil cruzeiros, o barficou lotado. A multidão vibrou com

os shows das bandas Coronel Johnsone Dazaranha. "Essa festa é bem dife­rente de tudo o que eu já tinha partici­pado. Antes de chegar aqui, eu achavaque já tinha visto de tudo na vida",confessa Luis Paulo, 15 anos, estudan­te.

O Coronel Johnson é uma bandade Blues e Black Music, está entrandoagora no mercado. Faz covers de Jim­mi Hendrix e Muddy Waters, entreoutros. "O nosso futuro é promissor:nós queremos backing vocals, naipede metais e teclado. Por enquanto a

gente tá rolando um blues mais bási­co", diz Ulisses o guitarrista e estu­dante de Jornalismo. O Dazaranha jãestá se tornando bastante conhecidona Ilha. Eles fazem um som tipica­mente nativo e muito original. "O Da­zaranha é nota onze, é som de primei­ro mundo. Muito criativo", elogiaMarta Moritz, fotógrafa. "O sucessodo Futio já era esperado, mas arra­

sou", emenda."O Futio está trazendo nesta edi­

ção a matéria central sobre. o Dazara-

nha, a banda que está tocando aquihoje, e promete arrasar", diz FrankMaia, editor do jornal. "O Futio tratade curiosidades curiosas. Este númerotá trazendo o centenáro da calcinha,na coluna 'Bottom de Marketing' temo Rodela Cabeleireiro. Tem uma pági­na inteira de um quadrinista daqui deFlorianópolis, que é o Zé Dassilva.

O Futio tá aqui para prestigíar o quenão se fala na 'grande imprensa. Nóstrazemos duas páginas sobre o DorsalAtlântica (Banda trash-metal cario­ca), que veio pra cá e foi simplesmenteignorado pelos jornais, mas o Futioteve lá e cobriu o show. A gente viuque tem público para esse pessoal.Muita gente consome esse tipo de coi­sa, por isso o Futio é comercial e é'underground' ".

O-Futio tem a tiragem de três milexemplares e a sua distribuição é gra­tuita. Pode ser encontrado nas bancasde jornais da cidade, e em algumaslojas de discos.

Adriana Martorano

JornalismoemmesadebarEntre um gole e outro muita gente se

engasgou com a última edição do jornalde barDe Olho na Ilha. Tratando deassuntos polêmicos, ele vem se firmandono mercado e já ocupa as mesas dosI_llelhores. bares de Florianópolis. O jornale um projeto de conclusão da alunaAlessandra Meinicke e conta com a

colaboração de sete alunos do Curso deJornalismo da UFSC. "Eu achei melhor nãoesperar o término do curso para arranjarum emprego. Criei o meu próprio negócioe estou batalhando por um espaço"O jornal trata de assuntos variados. Acoluna de som comenta os últimoslançamentos e dá cobertura para a músicada cidade. O grupo local Dazaranhainaugurou o espaço. O folclore também tem

espaço e Franklin Cascaes foi um dosdestaques da última edição. Para osnaturalistas está garantido o espaçoecolégico por onde já passaram os botose o ecotunsmo. A cultura fica por contade vídeos e cinema. As opções de lazer nãoescapam da Agenda. Os assuntos polêmicosna coluna Na Mira. O terceiro numero sai.no final de agosto.

Fanzinede luxoda Ilha

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11Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Show multimídia mostraa informática sem limites

lERO - AGOSTO 93

fNCONTROINTflUCIOUlOf JOlNAliSMO

4'· INTERNATIONAL CONFERENCE OF JOURNALISM4' ENCUENTRO INTERNACIONAL DE P�RIODISMO

Moacir Pereira e eu,sorridentes, lado a

lado, imortalizadosno show multimídia da IBM.Tá certo, mostraram fotos dequase todos os participantes,mas a nossa foto estava lá, bemno meio, grande, enquanto ao

redor dezenas de fotinhos se

revezavam como um caleidos­cópio da bajulaçáo. Ficamosquase dez segundos ali, nomeio do telão, sorrindo paraas 400 pessoas que certamentese indagavam, "que rapazessimpâticos são aqueles?".

Claro que foi o encerra­

mento, com chave de ouro, doencontro da IBM. Jean PaulJacob, gerente de pesquisas doCentro de Pesquisas da IBM

l

. t,{,LIndústria de .

computadores.dobra a capacicfflde deprocessamento a cadaJ8meses

em Almadén, na Califórnia(EUA), um brasileiro cheio depiadinhas, emendando uma ti­radinha espirituosa atrás de ca­da frase, tratou de mostrar asnovidades de sua empresa.Usando seu talento de anima­dor de auditório montou um

show onde, basicamente, dissepara onde vemos e quais sãoos limites ainda existentes.

A roupagem digamos des­contraída, pode ter ajudadoum pouco aos mais distraídos,mas atrapalhou quem gostariade saber mais: o tempo ficoucurto com tanta piada. E o

ponto mais baixo da apresen­tação foi, justamente, aqueleanunciado como a grande atra­ção: o showmultimídia.

Colagem sem graça­Desde o início do encontro,Jean Paul e seus auxiliares cir­culavam com uma pequena câ­mara fotográfica, registrandoposes dos participantes. A câ­mara não usa filme, usa um dis­quete, parecido com os disque­tes de 3 polegadas de compu­tador, só que com a metadedo tamanho. As fotos são bati­dasnormalmente, com flash ounão (a câmara é realmentemuito pequena, cabe dentro da

mão). E quando o disquete ficacheio é só colocar outro e con­

tinuar a fotografar.Este material é passado

para um computador (olha o

comercial um PS/2 IBM, lógi­co) e as fotos são manipuladascomo qualquerarquivo. No ca­

so, foram colocadas - como

faríamos com slides - juntocom uma trilha sonora paramostrar um jornalmultimídia.

Abre-se na tela o que JeanPaul jura que seria a primeirapágina de um jornal. A genteacredita. Ele aperta com o de­do emcede uma das"matérias"e isto inicia o que seria uma

"reportegem ", com as fotos,sons, etc. Tudo sem usar vídeo­tape, compact-disc ou qual­quer outra forma de armazena­mento além do disco-rígido docomputador (normalmente co­

nhecido por winchester).Tudo muito interessante,

não fosse o enorme amadoris­mo dos funcionários e funcio­nárias da IBM-Brasil quemon­taram o showzinho. Parecia fil­me caseiro. Sabe aqueles donatal, do aniversário de trêsanos do caçula? Pois é, serviupara mostrar que não adiantater recurso tecnológico se nãose sabe como fazer as coisasficarem bonitas, atraentes.Faltou arte.

Não que esteja reclaman­do, afinal, se tivesse sido mon­tado com mais talento talvezMoacir Pereira e eu não tivés­semos ficado tanto tempo, tãograndes e salientes, diante detodo aquele pessoal importan­te.

Além das perfumarias -

Fora a pirotecnia, que no fun­do, no fundo nãopassa da novaforma daquelas cobras que os

camelôs de antigamente sem­

pre traziam e a que de vez em

quando se referiam enquantolam passando sua mensagemcomercial à platéia atenta, a

palestra do pesquisador daIBM teve seus momentos deinformação e de novidades.

O principal foi a informa­ção de que a indústria de infor­mática vai continuar dobrandoa capacidade de processamen­to a cada dezoito meses. Istoé uma coisa fantástica e sem

paralelo em nenhum outro ra­

mo industrial. A cada ano e

meio o seu computador de últi­ma geração é superado poruma máquina capaz de proces­sar informações com o dobroda velocidade.

Claro que há limites. Pa­rece impossível criar circuitosmenores que os atuais. Parece,mas não é. Há tecnologia,usando reios-x e máquinasporenquanto muito caras (tão ca­

ras que a IBM precisou asso­

cier-se à Hitachi para poderconstruir uma), que rompemessa barreira microscópica. Eoutros limites, por enquanto,não são visíveis.

Também vai continuar a

tendência de barateamentotanto das máquinas quanto dasrmezenegem de dados.

A partir daí, tudo é possí­vel. As tendências indicam a

superação, em breve, do tecla­do. Considerada uma peçaanacrônica, quemais atrapalhadC} que �juda, as pesquisas es­

tao muito preocupadas na sua

eliminação. Não foi por acasoque o PS/2 que Jean Paul usouem sua apresentação não tinhateclado. Tinha uma tela sensí­vel, que obedecia ao toque deseus dedos. Assim como hojeé comum usarmos o mouse pa­ra movermos um cursor até de­terminado ponto na tela e de­pois acionarmos a. tecla domousepara acionar um coman­

do, todo esse trabalho serásimplificado. Simplesmenteacionamos o comando com o

dedo na tela.

A voz também está sendoestudada como forma de co­

mandar a máquina. Esbarraem dificuldades enormes nãosó para o reconhecimento dos

J.P'}.: piadas em excesso

sons, mas tambémpara o reco­nhecimento das entonações e

dos sentidos. Em todas as lín­guas há váriaspalavras com so­

noridade semelhante e senti­dos diversos. Isto sem falar dasdiferentes contextualizaçõesque alteram eiademeis o signi­ficado de sons e palavras.

Mas a IBMespere, dentrode algum tempo, poder unir atecnologia do telefone celularao computador e criar umamá­quina portátil de grande versa­

tilidade: uma mistura de blocode notas, banco de dados, tele­fone, fax, vídeo-tape, centralde jogos, processador de tex­

tos, o que seja.

músicas, gravar e reproduzirsons. Basta adicionar uma pla­ca cujo preço é inferior a 100dólares e que permite conec­

tá-lo com qualquer sistema desom, amplificadores, caixas desom, microfones, etc. E possí­vel também, com outra placa,captar imagens da TV, gravarem VT imagens geradas pelocomputador. Com ummodem,que pode ser externo ou inter­no, épossível usar a linha tele­fônica, fazer computadoresconversarem entre si e acessar

bancos de dados de qualquerlugar. Ou comunicar-se com

máquinas de fax ou telex. Tam­bém não está fora do alcanceinstalar um equipamento leitorde CD-ROM (Compact Disc- Read Only Memory), quearmazena muita informação(uma enciclopédia, por exem­plo, que além do texto temsons e imagens em movimentoem vários dos seus verbetes) -,Isto amplia fantasticamente a

capacidade de receber infor­mações.

pu seja, isto não é o futu­ro. E tecnologia existente ho­je. E o que se está prevendo,para os próximos anos, é aper-

I� feiçoar esta tendência itrever­� sivel de interação entre os vá­� rios meios. A tal multimídia.

I" Que nada mais é do que juntar1!2 numa única coisa aquilo que.3 antes tínhamos guardados em

� vários armários, gavetas e pra­E teleiras: a máquina de escre­uu

ver, o telefone, o videocsssete,a filmadora, o projetor de sli­des, a máquina fotográfica, o

álbum de fotografias, a disco­teca, a agenda, o caderninhode telefones.

Enfim, já que tudo é pos­sível, cada um agora terá quese virarpra descobrir que usos

deseja fazer de tais maquine­tas. Acabou-se o tempo doscomputadores padronizadosprontos para levar. Cada pes­soa terá um computador dife­rente do do seu vizinho. Ocomputador que me serve nãoservirá para o Scotto e o delecertamentenão atenderá àsne­cessidades da Valci e assimpordiante.

O showdo Jean Paul, por­tanto, no fim das contas, nãotrouxe tantas novidades assim.Mas deixou claras algumas ten­dências. Todaspassampela va­

lorização - por incrível quepareça - dos talentos huma­nos. O medíocre, usando as

novas tecnologias, produzirábobagens aos borbotões. Masaqueles que têm o que dizer,que usam aomáximo seus neu­

rônios e processam adequa_da­mente as proteínas, esses,Deus meu, nãopodem mais sequeixar. Podem fazer chover.Mais do que nunca, o céu éo limite. Ou melhor, o únicolimite é a burrice humana.

Hoje, mesmo aqui em César ValenteFlorianópolis, qualquer com-putador pode ter som, tocar JornaiistaeprofessordeCulSOdeJomaismodaUFSÇ

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZERO - AGOSTO 93

.

Olhos azuis - A solução foiprocurar outras fontes. Nada me­

lhor do que os próprios clientese funcionários da ECT. A estima­tiva feita por três atendentes de

agências diferentes coincidiu: emFlorianópolis, já há mais pessoasque vão aos Correios à procurados jogos de azar do que para en­

viar correspondência. "Eu só ve­

nho aqui para comprar a tele-se­na" ,

diz o pedreiro João Moreira,que gastou CR$ 304 mil em oitocartelas. Na fila atrás dele, só a

quinta pessoa queria enviar umacarta.

Correio vira mercado persaJogos de azar. estão- invadindoas agências e enchendo o saco

de quemsóquermandar cartas

O slogan "confiança, a gen­te bota no Correio" é jus­to. Afinal, os .Correios

são constantemente apontadosnas pesquisas como a entidade em

que os brasileiros mais confiam,acima dos políticos, das forças ar­madas e até mesmo da Igreja Ca­tólica. Mas talvez esta posição es­

teja ameaçada.Quem vai com freqüência às

agências dos Correios tem perce­bido a diferença. A idéia de trans­formá-Ias em "bancos de servi­ços" está transformando-as mes­

mo em verdeiras feiras livres.Vende-se de tudo: tele-sena, pa­pa-tudo, raspadinha, carnê dobaú da felicidade, cartão postal,ficha telefônica e até uma tal de"ciscadinha da galinha azul".

O pior, para quem vai man­dar carta, é que só nas agênciasmaiores existem filas separadas.Nas outras, é preciso enfrentar ogrande movimento trazido pelavenda dessas loterias. A situaçãoé ainda mais grave nas agênciasfranqueadas. Propriedades de

empresários que recebem dosCorreios uma comissão sobre o

arrecadado, estas agências quasesempre mantêm várias atividadescomerciais paralelas: xerox, pos­ta telefônico, banca de revista,chaveiro, vídeo-clube e por aíafora. Tanta diversificação seriabem-vinda se o atendimento cor­

respondesse. Mas, salvo raras ex­

ceções, não é isso que acontece.

Contratos obscuros - Os nú­meros dos negócios feitos entreos Correios e as empresas priva­das são sempre envoltos em mis­tério.

Nos contratos nacionais,como os feitos com o SBT paraa tele-sena e com a Globo parao papa-tudo, eles não são divul­

gados porque tratam-se de acer­

tos individuais. Neste caso, o sigi­lo é até compreensível. Mas o re­

ceio que os donos das agênciasfranqueadas têm de revelar de

quanto é a porcentagem que rece­

bem, alegando não estarem auto­

rizados pelos Correios, é injustifi­cável: ela é igual para todos.

Os critérios usados pelosCorreios para a escolha dos pon­tos onde funcionarão agênciasfranqueadas são nebulosos. Nãohá licitação: os interessados fa­zem a proposta e os Correios acei­tam ou não. Em muitos casos, co­mo o da Copy Cópias, que ficana rua Deodoro, centro de Floria­

nópolis, o caminho é inverso: osCorreios é que fizeram: a propos­ta, aprovada pelos proprietáriosdo estabelecimento, que antesera apenas um ponto de cópiasxerox.

Nebuloso e envolto em mis­térios é também o gerente comer­ciai dos Correios em Santa Cata­rina, Antônio Carlos Kruel. De­pois de procurado insistentemen­te pelo telefone durante três dias

seguidos (foram mais de dez liga­ções), ele abandonou uma de suas

intermináveis reuniões para in­formar que "só falava desses as­

suntos pessoalmente", emboranão Quisesse marcar horário.

Eles tomaram dez salas para impor um novo conceito.

culpidos no estilo Bob-Cuspe.Apesar da aparência excêntri­

ca, a vida dos anarco-punks é nor­mal. "Inclusive tornamos banho",brinca o estudante de história Ale­xandre Benvenutti, acostumadocom reações que quase sempre de­monstram medo ou desprezo. En­tre os que invadiram o prédio, qua­se todos são de Florianópolis e têmfamília. Quem não estuda, traba­lha. Ou faz as duas coisas, comoDavid de Souza, 24 anos, serventede pedreiro que está se preparandopara o vestibular.

David não pinta o cabelo, quemantém sempre curto, nem mudouomodo de se vestir desde que viroumilitante anarquista, há cincoanos. Esse tempo foi suficiente pa­ra que ele percebesse que a igual­dade entre as pessoas é uma uto­

pia. "Sei disso, mas sonhar nãocusta nada".

Mais jovem, Alexandre mos­tra-se menos cético. "Ainda háchances das pessoas acordarem",diz, com o entusiasmo que Davidatribui à sua idade, 19 anos. Esteentusiasmo contudo não impedeque Alexandre arremate com uma

frase carregada de melancolia."Temos que ter essa esperança pa­ra continuar vivendo".

Ataque Epilético - Os anar­

co-punks produzem fanzines (in­formativos feitos artesanalmente),onde abordam temas polêmicos.Embora o movimento não deter­mine a opinião sobre estes assun­

tos, tornando-a uma escolha pes­soal, as respostas quase semprecoincidem. David e Alexandre,por exemplo, são contra a pena demorte e a favor do aborto, "emrespeito ao direito de escolha damulher". São contra o separatis­mo, embora repudiem o naciona-

Uma boa saída para quemgosta de escrever cartas seriaguardar selos em casa e usar as

caixas de coleta. Mas esta não éuma prática comum. Embora as

caixas sejam esvaziadas diaria­mente, parece que elas não inspi­ram muita confiança: "só useiuma vez, há três anos atrás, e atéhoje a carta não chegou ao desti­no", conta Maria Luísa Vieira,enfermeira, a quinta pessoa da fi­la de João.

Bastam alguns minutos em

qualquer agência dos Correios

para encontrar clientes insatisfei­tos cO,m a nova postura da empre­sa. "E um absurdo que uma enti­dade antes respeitável vire objetode enriquecimento de gente comoRoberto Marinho e Sílvio San­tos", indigna-se o arquiteto JoãoAlberto Fratelli, apontando paraum cartaz de onde se sobressaemos olhos azuis de Xuxa, garota­propaganda do papa-tudo.

Maurício Oliveira

lismo - "somos mesmo é contraas fronteiras". São ateus, "massem materialismo exagerado", e

não usam drogas. "Nem refrige­rante eu bebo", ressalta Alexan­dre. Fiéis à ideologia anarquista,anularam os seus votos na últimaeleição.

� Nem na música o movimentoN é rigoroso. Entre os anarco-punksI há quem goste desde Beethoven a

* Chitãozinho e Xororó, passando(5 por bossa nova e blues. Eles tam­::i' bém fazem seu próprio som, com

� bandas como Chute no Saco, Pri­� sioneiros da Consciência, Carne

Crua, Lixo Urbano, Coma Alcoó­lico e Ataque Epilético.

Policiais ou nazistas - EleniceGouvêa, 17 anos, uma das três mu­lheres do grupo, acha que há mui­tos outros prédios abandonados nacapital que poderiam virar centrosculturais alternativos. Essa prática,comum nos países mais liberais daEuropa, certamente causaria uma

tremenda confusão por aqui.

Talvez boas intenções nãobastassem para comover as autori­dades. Uma semana depois da ocu­pação, os anarco-punks percebe­ram que estavam sendo vigiados."Tem um Opala que pára todo diana frente do prédio. Os caras ficamolhando por uns dez minutos e de­pois vão embora", conta um deles.Se esse carro for da polícia, menosmal para os anarco-punks. Talvezos Vigilantes sejam de grupos ri­vais, como os skinheads, os "cabe­ças-raspadas" adeptos do nazismo.

Maut1cio Oliveira

Chaveiro, fotocópias, consertos, raspadinhas e... correios

Anarco-puaksinvademprédioabandonado

J11,:acriar espaçoalternativo

..

Cabeças pintadas COOl sonhos e utopias"Nossa Pátria é o universo,nossa famI7ia é a humanidade,nosso Deus é a nossa consciência '0

A frase, pintada à mão na ca­

miseta de um jovem de cabelo es­

quisito, traduz a essência do anar­

quismo: igualdade entre as pessoascom a abolição de qualquer formade governo. O cabelo, raspado deum lado, comprido e verde-limãodo outro, não deixa dúvida: ele éum anarco-punk.

Os integrantes do movimentoanarco-punk de Florianópolis inva­diram um prédio da prefeitura,abandonado há mais de um ano de­

pois de um incêndio. São quinzeJovens que pretendem criar no lo­cal um espaço alternativo para a

cultura, dividindo as dez salas queescaparam do fogo com outros gru­pos underground e de minoria.

Do prédio, que fica na cabe­ceira de ponte Hercí1io Luz, se temuma paisagem de cartão postal.Animados pelo belo visual, os jo­vens tratam de demonstrar queanarquia não é sinónimo de bagun­ça. Estão limpando a nova "sede",onde encontraram móveis de escri­tórios em bom estado e dezenasde livros didáticos novos, que pre­tendem doar a uma biblioteca. Oambiente, embora semidestruído,é acolhedor. Quase toda de madei­ra, a construção faz lembrar um

daqueles saloons dos filmes do ve­

lho oeste.Sonhando acordado - Os

anarco-punks capricham no visual.As roupas, com detalhes em metale quase sempre pretas, chamam a

atenção. Mas o que atrai os olharesmais curiosos são mesmo os cabe­los, coloridos, semi raspados ou es-

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Comércio da UFSC tem privilégiosAGOSTO 93 - ZERO

Todos lucram: unsnãopagam luze outros aluguel

Distantedez quilômetros

do centro de Florianópo­lis, a Universidade Fede­

ral de Santa Catarina é um lugarperfeito para uma microempresa.Além de um público consumidorde aproximadamente 20 mil pes­soas, os estabelecimentos comer­

ciais da UFSC têm a vantagem de,não estarem à mercê do mercadoimobiliário do país, São bares, res­taurantes, salões de beleza e livra­rias que pagam apenas as suas con­

tas de luz e água, Em troca do

aluguel, os comerciantes devem

seguir uma tabela. Os preços sãofixados pela Comissão de Fiscali­

zação de Atividades Comerciaisda Pró-Reitoria de Assuntos daComunidade Universitária. A ca­

da mês, membros dessa comissãofazem uma média dos preços prati­cados por estabelecimentos no

centro da cidade. Sobre essa mé­dia é confeccionada a tabela, cercade 20% mais barata, que vigorano comércio da UFSC.

Fotocopiadora do DCE é isenta de conta de luz assim como outros 53 pontos de xerox

em julho, ao diretório. Já o Cursode Jornalismo recebe a cota de seismil xerox por mês em troca da uti­

lização da sala do seu Cento Aca­dêmico para este trabalho. "Esses

pontos são antigos, existem hámais de 10 anos. Teríamos muito

trabalho para removê-los de uma

vez", explica o presidente da Co­missão de Fiscalização, Luiz Hen­rique Verani.

dos por dia. Hoje o gerente garan­te desconhecer o movimento dalivraria e o faturamento é de "ca­ráter sigiloso". "Se a Feese quiserdivulgar esse número é outra coi­sa, mas eu não estou autorizadoa dar esta informação", diz. Pro­curado pelo Zero, o superinten­dente da Feese, Gilberto Klau­mann, garantiu não saber o valordo faturamento da livraria. Segun­do ele esses recursos, são usados

para manter a estrutura da Feese.

A Fundação e responsávelpelo gerenciamento de todos os

projetos do Centro Tecnológicoda UFSC. Empresas interessadasem desenvolver pesquisas junto àuniversidade usam a Feese como

uma conta corrente para repassarrecursos necessários para os traba­lhos. Os mais de 500 projetos doCTC movimentam anualmentecerca de US$ 3 milhões. De 5%a 10% desse total é destinado àFeese para cobrir suas desoesas.

Para obter a concessão de um

ponto comercial na UFSC, uma

pessoa precisa enfrentar uma con­

corrência pública que só acontece

quando há a necessidade da insti­tuição. Fora isso, é possível apre­sentar uma proposta à PRAC paramontar seu negócio no campus.

Nesse caso será feito um estudo

para saber se a proposta atendeas carências da universidade. Acomissão de fiscalização pró-rei­toria já recebeu propostas para a

instalação de lava-rápidos, carri­nhos de cachorro quente, máquinade suco no RU e até um bar na

rampa da biblioteca. "Não pode­mos aceitar todas as propostas, pa­ra não transformar a universidadenuma grande feira-livre", diz LuizHenrique Silva,

Xerox privilegiados - Emdesafio a esse controle da PRAC,existem hoje na UFSC, 54 pontosde xerox que não enfrentaram,concorrência pública para obte­rem seus pontos. A concessão des­ses locais foi tratada diretamentecom os centros onde estão instala­dos. O xerox do Diretório Centraldos Estudantes, por exemplo, ficanuma área do Centro de Convi­vência que pertence ao DCE. Pa­ga pela utilização desse espaço cin­.co mil cópias, cerca de CR$ 10mil

tabelecidos. Sem preocupaçãocom aluguel, fica muito mais fácilum negócio dar certo. Um postodo correio como o do Convivên­cia, equipado com fax, duas balan­ças de até dois quilos, máquinade franquia e telefone, precisa deum investimento de aproximada­mente US$lO mil para ser monta­

do. Em compensação com cincofuncionários trabalhando no horá­rio comercial a agência fatura em

média US$ 8 mil por mês, Comopertence ao poder público, os fun­cionários da agência do Correionão se inibem em dizer quanto ga­nham ou qual o faturamento.

Professor daUFSC e ex-alunosão premiados

Mesmo assim é possível en­contrar bares no centro de Floria­

nópolis com preços equivalentesaos dos bares da universidade. Napastelaria Keko's localizada atrásda catedral, pode-se saborear umdelicioso pastel de queijo e pre­sunto pelo mesmo preço do autên­tico pastel de vento no bar do Bá­sico.

A Federação dasIndústrias do Estado de

ISanta Catarina entregouno dia 12 de agosto, oprêmio Fiesc de

I Jornalismo Econômico,;Felipe Soares, darevista Expressão eex-aluno do Curso deJornalismo da UFSC,venceu na categoriaMídia Impressa. Felipelevou o prêmio com a

I reportagem "Despertarda Babitonga", feita em

parceria com VladimirBrandão (aluno do \

Curso de Jornalismo daUFSC), publicada em

junho do ano passado,A Fiesc tambémentregou uma mençãohonrosa a CarlosLocatelli, jornalista e

professor de Jornalismona UFSC, pela matéria"Largada Ecológica",realizada com a

colaboração de FelipeSoares e BelmiroSauthier, tambémpublicada na revistaExpressão, na edição demaio de 92.

As principais diferenças entreos xerox da UFSC e do resto dacidade são: não têm despesas deluz, sendo a conta do estabeleci­mento computada na conta docentro onde está instalado. Seus

empregados geralmente não têmcarteira assinada, suas instalaçõeselétricas não são adequadas, não,possuem equipamentos de segu­rança como extintores e os locaisde trabalho são altamente insalu­bres.

Há também estabelecimentosque não obedecem à tabela elabo­rada pela comissão da pró-reito-ria. O mesmo não acontec� c9m

os estabelecimentos privados. E o

caso da livraria do Convivência.Ê o caso do Ponto Natural

do Centro de convivência. Ele foidenunciado à pró-reitoria pelaprática de preços altos. A denún­cia aconteceu em setembro do ano

passado� mas só em abril desse ano

que a PRAC tomou providênciase pediu a revogação da licença do

proprietário, Nilo Andrade, paraa exploração do ponto. Até julhoNilo não havia recebido a notifi­cação para desocupar o lugar. "Oproprietário levou a questão paraa justiça e passou a negociar dire­tamente com o pró-reitor", justi­fica Luiz Henrique Silva, secretá­rio da comissão da PRAC.

Administrada pela Fundação doEnsino de Engenharia do Estadode Santa Catarina (Feese) a livra­ria possui uma relação peculiarcom a universidade. Ao contráriodos outros estabelecimentos, elanão paga luz nem água, só um alu­

guel, que no mês de julho foi de

aproximadamente CR$ 14,5. Di­nheiro suficiente para comprartrês chicletes. "Essa quantia é a

mesma há mais de um ano", afir­ma o gerente da livraria Alcidesde Ataíde.

Mas as irregularidades nãoparam por aí. Há casos de funcio­nários da própria universidadeque são como donos desses pon­tos. Essa situação ilegal pode ser

flagrada na fotocopiadora do Barda Nina do Centro Tecnológico.Lá o proprietário João Silveira,além de administrar o estabeleci­mento com duas mquinas de xe­

rox, ainda arranja tempo para ser

o chefe da segurança do H.U. nashoras vagas.

Negócio da China - Mas são

poucos os que se arriscam a perderseu ponto comercial, desafiandoos padrões de preço e serviços es-

Caráter sigiloso - Durante a

última greve da universidade, a li­vraria registrou um movimentomédio de 20 livros comercializa- Mariano Senna

os:

'$S<flQlcQlDl-o:5

�Fotocopiadora do bar da Nina, administrada por,um funcionário 13Convite ao pastel de vento e empanadas só de massa

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZERO - AGOSTO 93

New York·inspira obrade Scotto

o professor LUIS Scotto, doCurso de Jornalismo, lançadia 2 de setembro (quinta),a partir das 18h30min, na

Livraria Catarinense(Deodoro 22, centro de

Florianópolis), o romance I46th Street, o caminho i

americano. O livro integraa coleção Circo de Letras,da Brasiliense, e conta um

pouco da vida dosbrasileiros em New York,

onde o autor viveu de 1982a 85. A idéia de escrever

surgiu quando na 42thStreet com Avenida dasAméricas viu um sujeito,chorando junto a uma

pracinha com a estátua dobrasíleiro José Bonifácio.

"E um lugar cheio de!pobres e vaqabundos e

aquele cara me deu um

desânimo dos diabos..

Cinco minutos depoisdesisti do livro, mas levei

quase três anos paradesisitir de New York",

lembra. Anos depois, já em

Florianópolis, voltou a

pensar no livro quando viuna televisão manifestaçõesa favor do impeachment doentão presidente Collor. ATV também mostrava as

manifestações na 46thStreet.

publica no dia 14/07/1993 uma

reportagem sobre o assunto;"A morte é o limite" tenta

mostrar onde fica o ponto exa­

to da dosagem de violência quea TV pode mostrar. E até quelimite a TV pode invadir a pri­vacidade e "provocarmortes" ,

W

segundo alguns? A questão éa espinha dorsal de "O Poderda Imagem" (Peter Werner,EUA). Um jornalista divulgao envolvimento de um ban­

queiro do Texas num rombofinanceiro. O banqueiro suici­da-se quando se vê acuado e

é - inocente!

Lutaporpontos de audiênciaprovoca a baixaria exóticana televisão de Sílvio Santos

Daniele Lopes: suicídio para audiência de 3,2 milhões

trigas" , mata-se o ex-suicida ao

vivo para cinqüenta estadosamericanos - o poder da ima-·gem é gigantescamente supe­rior a palavras impressas ou da

figura do Snoopy encarnado noBarão Vermelho, abatendoaviões durante a primeira guer­ra. Os picos de audiência daemissora do Cidadão Kane tu-,piniquim o fazem sorrir (o quenão é muito difícil para SilvioSantos).

"Somos todos imbecis",comenta dias depois um articu­lista da "Folha de São Paulo".

A espetacularização promovi­da pelo SBT provoca críticas

negativas em toda a mídia bra­sileira considerada (porquem?) "séria", enquanto o

comentário em todos os círcu­los nacionais é um sé ie se o

"Aqui Agora" não estivessecobrindo o suicídio, ele teriase concretizado? Uma amigada suicida revela que "foi ama­conha que a matou";aliás, foiessa mesma garota que conta­tou a redação do telejornal pa­ra a cobertura do acontecimen­to. A revista semanal "Veja"

Entupida de tecnologiaemissora esquece ética

"Somos todos idiotas, as­sistimos a um telejornal idio­ta", na concepção do articulis­ta da "Folha". Acrescentável:somos impotentes indignadoscom o óbvio. Entupimos nos­

sas emissoras com o supra-su­mo da tecnologia e esquece­mos regras básicas de direitoà privacidade, caráter e ética

profissional. Se existisse deverdade, a personagem de

Faye Dunaway em "Rede de

Intrigas" (uma diretora de jor­nalismo desesperada por fatosincomuns propícios para levan­tar a moral de seu programa)mudaria de profissão. CharlesF. Kane trancafiaria-se em Xa­nadu. Ou ambas as histórias se­riam reescritas a favor de um

sensacionalismo mais barato e

vulgar. Em matéria de espetá­culo mórbido dirigido a milha­res de pessoas, nenhum veículotelevisivo superou a "ousadia"do SBT nos últimos dois me­

ses.

Só que isto é uma questãomenor para quem a comanda.O que atiça sua perspectiva éa reação do público-alvo de seu

produto. O espectador ingê­nuo citado pelo semiólogo ita­liano Umberto Eco consideranotícia dada como notícia es­

quecida (entenda-se como es­

pectador ingênuo aquele quenão contradiz informações, écarente de referenciais anterio­res e cuja capacidade de reten­

ção é quase nula). Amanhãtem mais circo. E às produto­res empenham-se neste bom­bardeio dramático. Para o

"Aqui Agora" não há limite,nem censura, nem autocensu­ra. As outras emissoras brasi­leiras pisam com cuidado o ter­reno da ética quando o assunto

é o que a TV pode mostrar semagredir seus telespectadores.O SBT flutua acima disso tudo.Seu negócio é audiência - e

espaço publicitário caro, dis­

putado a tapa por "anuncian-.

tes imbecis destinados a um pú­blico imbecil".

Fabiano Melillo

, ,C idadão Kane" , a es-

tréia do americanoOrson Welles como diretor, étido como o melhor filme detodos os tempos pela críticamundial e pelo cachorrinhoSnoopy. Literalmente "bisbi­lhoteiro" , o beagle criado pelotambém americano CharlesSchultz freqüenta todos os diasas páginas de jornais do mundointeiro e, embora um simplespersonagem de quadrinhos,'tem seu império de fama, mer­chandising e dólares.

Mas um jornal não vendesó por causa de suas tiras diá­rias. Ele tem notícias e, a prio­ri, é isso que o leitor procura.Novidades, fatos que quasesempre são considerados ver­

dades irrefutáveis. O públicoquer o exótico, qualquer coisaque the roube a banalidade docotidiano. Charles Foster Ka­ne sabia disso já em 1941 (anode lançamento de "Cidadão

Kane") e usava seu jornal, o

"Inquirer", como ponta para"catar dividendos e influênciacom o módico valor impressona primeira página.

Na década de 70, consa­. gra-se outra mídia, mais espe­,

tacular que a impressa: a tele­visão. "Rede de Intrigas" (Sid­ney Lumet, 1976, EUA) mos-tra seus bastidores. Neles,transforma-se em pouco tempoum apresentador suicida em

showman número um do país.Os dirigentes da estação de TVmanipulam dados e informa­

ções em busca de maior au­

diência. Cada novo ponto con­

quistado significa milhares dedólares no setor comercial.Nessa guerra surda e calculistatodos os envolvidos parecemestar prestes a apertar o botãoda "Fat Boy".

É claro que o Brasil não

foge desse circuito. Na naçãotechnicolor Pal-M de dentes

cariados, a busca pormaior au­diência (ou maior número de

jornais vendidos por dia) é no­tória. Vale tudo, principal­mente a dramatização do dia­a-dia ou a exacerbação do exó­tico. Em meados de julho, umagarota de 16 anos prostar-seem São Paulo, demarcandotempo e coragem para concre­

tizar o suicídio. Eis que surgemcâmeras e microfones do

"Aqui Agora", telejornal doSBT que "mostra a vida como

a vida é", prontos para regis­trar mais um furo de reporta­gem. A garota joga-se edifícioabaixo e o jornalismo vibrantedo "Aqui Agora" nada deixa

escapar. Kane precisaria demuito mais para conseguir omesmo impacto no seu fictício

"Inquirer". Em "Rede de In-

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Monopólio da Globocriticado em vídeo

Pela primeira vez, alunos doCurso de Jornalismo da UFSC fi­zeram cobertura de um evento pa­ra uma rede nacional de televisão.As alunas da terceira fase MeireBertotti e Sheila Deretti, juntocom o cameraman Roger Gneccodo Laboratório de Vídeo cobriramoXI Festival de Dança de Joinvillepara o Jornal 6:30 da TV Edu­cativa.

A oportunidade surgiu de umacordo feito entre o reitor Dio­mário Queiroz e o produtor Wag­ner Correia de Araújo da TVEdo Rio de Janeiro. O diretor doCentro de Comunicação e Expres­são, Sérgio Mattos se encarregoude conseg�i.r pessoal e equipamen­to necessanos para a cobertura.

Foram seis dias de muito tra­balho e correria, Além das repor­tagens feitas duran'te o dia e a noi-

Desdea segunda quin­

zena do mês de junhoo documentário Brazil:

Beyond Citizen Kane, produ­zido pelo Channel 4 (Inglater­ra, Ih40), e que traça um perfilsobre a rede Globo e o poderque ela exerce no Brasil, vemsendo exibido em inúmeros lo­cais de Florianópolis, entre ou­

tras cidades.O vídeo, produzido por Si­

mon Hartog, levou oito anos

para ser feito. Foi finalizadoem fevereiro de 1992, mas sórecentemente pôde ser exibidona TV inglesa. Aqui no Brasil,o primeiro a exibi-lo foi o Mu­seu da Imagem e do Som (MIS)de São Paulo. Omotivo destes15 meses de "geladeira" foramas ameaças da rede Globo em

processar os responsáveis pelasua produção.

Brazil: Beyond CitizenKane coloca todas as opiniõesna boca dos entrevistados. Chi­co Buarque é quem dispara a

frase que vai dar título ao ví­deo: "Eu acho que ele (Rober­to Marinho) é mais poderosoque o Cidadão Kane". Alémdas entrevistas, o vídeo utilizamuito os contrastes da vida bra­sileira,e deixa que.o te lespecta­dor tire as suas próprias conclu­sões, como na seqüência na

qual mostra Xuxa cantando"todo mundo tá feliz, lá, lá,lá ... " entrecortada por ima­gens de crianças em favelas.

O documentário cita qua­tro momentos políticos impor­tantes na história do País nos

quais houve manipulação de in­formações pela Rede Globo. Oprimeiro é o movimento dosmetalúrgicos em 79. ArmandoNogueira lembra que a Globoproibia o uso de som local, paraevitar que as lideranças fossemouvidas. O segundo exemplo éa eleição de Brizola para gover­nador do Rio, onde a Globomanipulou as pesquisas pré-e­leitorais. Depois veio o movi­mento "Diretas Já", onde a

Globo comentou o comício daPraça da Sé como se fosse ape-

nas mais um evento do aniver­sário de São Paulo. E por últi­mo o compacto com os "melho­res momentos" do último de­bate à eleição presidencial de89, peça extremamente impor­tante na vitória de Collor.

O documentário terminade maneira punk, com baratasdevorando o símbolo da RedeGlobo, ao som de "a televisãome deixou burro, muito burrodemais ... ".

GeIadeira paulista - OMIS, cenário das duas primei­ras apresentações do documen­tário em solo brasileiro, no dia27 de maio, foi também palcode um forte jogo de pressõespolíticas que tentaram impedir

próprio empresano RobertoMarinho. Fleury se defende,dizendo que a fita era pirata,e que "quem proibiu foi oMIS".

Mas o veto, denunciadopela imprensa, acabou se trans­formando na maior promoçãoque o documentário poderiater. Após o episódio, ele pas­sou a ser exibido em sindicatos,bares, associações, universida­des, em sessões geralmente se­

guidas por debates sobre o mo­

nopólio das comunicações no

Brasil.Os próximos meses pode­

rão trazer algumas batalhas ju­rídicas em torno do documen­tário. O deputado federal Luiz

Chico: "acho que ele é mais poderoso que o Cidadão Kane"

a continuidade das exibições.Duas sessões foram cancela­das, sob alegação de que a fitaestava danificada.

N a verdade as fitas -

aquela que ·seria exibida e as

duas cópias do acervo do MIS- foram confiscadas por or­dem do secretário da Culturado Estado de São Paulo, Ricar­do Ohtake. Segundo GeraldoAnhaia Mello, coordenador devídeo do MIS, a ordem partiudiretamente do governadorLuiz Antônio Fleury Filho, que"estava p. da vida, dando mur­ros na mesa", e a pedido do

te, a equipe enviada pela UFSCteve que fazer também a edição.

Isto porque o horário de geraçãodo matenal, ficariamuito próximodo horário de transmissão do jor­nal. Apenas uma hora antes, Todotrabalho de edição foi feito duran­te as madrugadas numa das trêsilhas da RBS de Joinville. A gera­ção das matérias, já editadas,acontecia todos os dias à tarde,também na RBS.

O resultado da cobertura foiuma série de matérias que serãousadas também num especial so­'bre o Festival. Desta vez será nu­ma edição do programa Curto Cir­cuito que vai ao ar todas as sextas­feiras às oito e meia da noite pelaTV Educativa.

O produtor Wagner Correia

Gushiken (PT/SP), irá anexar

uma cópia do documentário,que apresentou na Câmara, co­mo prova auxiliar de uma re­

presentação junto à Procura­doria-geral da República, a

qual diz que o monopólio daRede Globo fere o parágrafo5� do artigo 230 da Constitui­ção. Para o deputado, a Globoestaria tentando comprar o do­cumentário do Channel4, e as­

sim, poder impedir a sua exibi­ção no Brasil e no mundo.

Sílvio Pereira eAlessandro da Silva

ficou satisfeito com õ trabalho daequipe. Tanto que prolongou a es­

tadia dos três até o encerramentodo Festival, pagando todas as des­pesas de hotel, alimentação e

transporte. A equipe também fi­cou satisfeita.

O que a UFSC espera com

este trabalho é a concessão de um

canalde televisão para a Univer­sidade. As chances se expandem,mostrando que Qj alunos do Cursode Jornalismo tem competência e

profissionalismo para produzirprogramas. O mesmo canal de TVestá sendo disputado pela Udesc,Universidade para a o Desenvol­vimento do Estado de Santa Cata­rina.

Meire Bertotti

AGOSTO 93 - ZERO

CanalZEBQTelejornais em se dão sono

Flazer televisão em Santa Catarina parece fácil. Pelo menos

é esta a conclusão quando se assiste aos telejornais das quatroemissoras locais. Programas que trazem de tudo: caras novas,

técnicas nem tanto. Assuntos requentados, apresentadores superes­timados. Um belo exercício para sentir o efeito destes ingredientessobre a cabeça d41 telespectador, é assitir a quatro telejornais dife­rentes, em horários variados,

Comece ligando a tevê às 7h30min, na RCE. Prepare-se:você vai perceber o quanto é possível aproveitar mal um horárioprivilegiado. O "Jornal da Manhã" - ou seria "Fala Santa Catarinal: Edição" - poderia ler outro nome, muito mais adequado. Quetal, "Como encher uma hora com entrevistas enfadonhas". Poisé bem isso, Além de dar sono em quem se submete à tortura,o telejornal estica ao máximo as poucas e invariavelmente obscurasvirtudes dos

tambf,'mobscuros entrevistados. A sensação é a de

que não há ningué mais importante ou assuntos mais relevantesnaspautas. Umap na,., .........

E por falar em pena, depois de ter a manhã trabalhando,você chega em casa ao meio-dia e liga no SCc. O nome é oportu­'lista: "TI O Estado", Claro, com a qualidade do TJ Brasil,do Casoy, a pretensão, imagine-se, tenha sido a de estabelecerum parãmetro com o TJ do Damiani. O apresentador já teveseu tempo de pioneiro. Foi marco na história da TV catarinense.Mas poderia ter se 'atualizado. Menos empostação na voz. Leitoresde notícias eram bons para o repórter Essa. Hoje, queremos ânco­ras. Da apresentadora, pouco se observa, Ou melhor, pouco desua "competência" pode ser visto. O que mais aparece na telasão as imensas golas das camisas, em modelitos de gosto duvidoso.Um detalhe: será que ela é jornalista? Tem registro profissional?Se não, está perdoada. Mas nunca livre da fiscalização da DRT.

Ufa!! Volte ao trabalho. Só ligue a TV em casa, no inícioda noite, para relaxar. Tente, então, assistir ao "Jornal BarrigaVerde 2� Edição". Procure manter a técnica da comparação. Co­mo? Eu explico: se há um TI Brasil e um TI O Estado, háigualmente um jornal Bandeirantes (com a brilhante Marília Ga­briela) e um jornal Bandeirantes local (com o Sílvio Loddi). Certo?Errado. Tanto neste último quanto no primeiro; o parâmetro éimpossível de ser estabelecido. Por quê? Pelo simples fato deque Gabriela não apenas lê e comenta notícias, mas lê e comentaboas notícias. Já Loddi apef}as lê, e lê péssimas notícias. Nãono conteúdo, mas na forma. E louvável o esforço do apresentador,que consegue dar destaque àquilo que não merece. O que, então,mereceria destaque? Bom, perguntem ao pauteiro. (Acho queele não saberá responder).

Já jantou, já leu seu livro, já conversou com todos em casae está pronto para dormir? Não, espere um pouco mais. Fiquede olho na programação da RBS. A qualquer momento podeentrar no ar o telejornal da emissora. Vamos chamá-lo de "Oúltimo a dar as primeiras" - de anteontem. Sim. O "Jornal daRBS" consegue o que nenhum outro faz: esquentar notícias dofundo da gaveta e fazê-las parecer extremamente factuais. Mais:Paulo Alceu veio para Florianopolis com o título de o mais novoãncora da TV estadual, E o manteve. Nada mais afunda um

telejornal quanto um âncora feito Alceu. Sem voz convincente,ele grita. Sem informações consistentes, ele dá lições de moral.Ora, âncora não é padre. Não é leitor de histórias infantis. Nãoé professor de Moral e Civismo. Ancora, senhores, é jornalistabem informado. E estamos conversados.

Áureo ""oraesJornalista e professor do Curso de Jornalismo da UFSC

.lornalísmo produz para TVE

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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o jornalista Gilberftll.Di-.

menstein, chefe da sucursal deBrasl1ia da Folha de S. Paulo,afirma que "BrasI1ia é uma fá­brica de boatos e mentiras",onde cada informação âeve serchecada várias vezes. E diffcilser repórter na capital porque"todos mentem o tempo todo,atépolíticos sérios e honestos".

Dimenstein é também co-

lunista e repórter da Folha. Al­gumas de suas reportagens in-

vestigativas se trímsformaramem livros, como "A guerra dos

meninos" e "Meninas da Noi­te ", que retratam a problemá­tica dosmenores no Brasil. Ga­nhador âos prêmios Esso de

Jornalismo de 88 e 89, este anoDimenstein foi indicado para o

Todos mentem, até

e�IQ)c

.�ÜOI

:to"Itamsr está a serviço da burrice...eu insulto mesmo"

ZERO AGOSTO 93

'

.....

...

Zero- Você é jornalista há

20 anos. Que transformaçõesocorreram n� imprensa?

Gilberto Dimenstein:A imprensa fi=cou mais investigativa, mais inde­

pendente. Até a eleição passada doCollor, apenas a Folha de S. Pauloera um jornal investigativo. Os ou­tros jornais todos estavam omissosou entraram naquele "oba-oba" da

campanha collorida. O que mostra­

va um nível de indigência muito

grande na imprensa brasileira. Seriainadmissível nos Estados Unidos

que você tivesse um candidato pre­ferencial à presidência da repúblicae ele não fosse investigado de caboa rabo. Se o Collor foi presidente,foi, entre outros motivos, porquea imprensa não soube cumprir o seu

papel. Acontece que dois anos de­

pois veio o impeachment e houve

quase uma recuperação dessa falhada imprensa brasileira. E aí a im­

prensa deu um grande salto investi­

gativo, e na próxima eleição presi­dencial dificilmente vai acontecer o

que aconteceu em 89. Dificilmenteum único jornal vai ser o campeãoda investigação, deixando os outros

jornais apenas como observadorespassivos. Eu acho que a principaltransformação da imprensa é a ge­neralização de forma acelerada da

independência não mais como um

fator ético, mas como fator técnico.

os políticos honestosO que é que eu quero dizer com

fator técnico: um jornal não é bomsó pelas fotos boas ou ruins que ele

apresenta, pela diagramação boa ouruim, pela notícia bem ou mal escri­tas, mas pela imagem de indepen­dêneia que ele passa ou não. Passaa ser a qualidade do produto, e nãomais uma discussão idealista, quevocê tem que ser independente, quea independência é fundamental pa­ra manter os princípios ... Não, a

discussão é outra: sem independên­cia sai um produto ruim e o leitornão compra. Assim como uma pes­soa não compra um requeijão quetenha um ponto preto dentro, vocênão compra um jornal que não sejaindependente. E isso que explica o

sucesso da Folha e de outros jor­nais, em lugares onde a imprensaainda é muito atrelada aos gover­nos, que são as imprensas regionais.Acho que a independência não che­

gou nesses lugares. A Folha, porexemplo, aqui em Santa Catarina,é o segundo jornal mais vendido ou

está muito próximo do segundomais vendido, competindo com o

jornallocal. Isso acontece em Brasí­

lia, isso acontece no Paraná, e vaicontaminando a forma de se fazer

jornal, vai dando uma tendência.Essa foi a grande modificação queeu vi.

Zero - Você chegou a exerceraativi·dtuIe de repórter, ou sempre foi arti«culista?

Dimenstein: Eu sempre fui repórter.Ser repórter sempre foi a essência

pra mim. Eu não consigo deixar deser repórter. Eu fazia outras coisas

porque, às vezes, dava mais dinhei­ro. Mas eu sempre fui repórter r Aminha coluna na Folha de SrPauloé uma coluna de repórter. É de al­

guém que vê e, a partir do que Vê,do que investiga, escreve.Zero - Você trabalhou em São Pauloe Brasilia. Qual a diferença?Dimenstein: A experiência marcan

te mesmo foi Brasília. Eu virei jor­nalista em Brasília. Em São Paulofoi apenas um "esquentar de moto­res". Em São Paulo foi onde eu tivea minha formação cultural, religio­sa, foi onde eu conheci os primeirospersonagens de quem comecei a ab­sorver a ética jornalística, a impor­tância da independência. Mas o

meu trabalho mesmo foi em Brasí­lia, que é uma cidade que, se vocêestá disposto a fazer reportagem,ela te dá muitas coisas. Porque Bra­sília tem um lado que é muito ofi­cial, que se você conseguir manterdistância, você gera produtos muitointeressantes. E eu senti que a re­

portagem em Brasília é muito mais

competitiva, inclusive devido ao ex­

Cesso de sucursais. Eu sentia queem São Paulo era mais burocráticoo trabalho. Só que Brasília era uma

prêmio Principe das Astúrias,condecoração concedida pelogoverno espanhol que já pre­miou personelidedes como

Mikhail Gorbscbov e NelsonMandela.

Formado em jomelismo e

sociologia, Dimenstein iniciouna pral'lá8ão há 20 anos, na re­rista Shalom. Depois foi para

cidade que, quando eu estava em

São Paulo, era muito mais burocra­tizada na parte da imprensa. E

quando eu fui pra lá presenciei essamudança da cidade. Na época tinhaaté a idéia de que Brasília era chapabranca, e até hoje alguns setores

ainda acham isso. Mas hoje não éo que acontece, hoje ela é uma im­

prensa de alto nível. Eu tenho a

chance de conversar com jornalistasestrangeiros do New York Times,do Washington Post, e eles elogiammuito a imprensa de Brasília pelovigor investigativo.Zero - Qual a sua opinião sobre o

diploma de jornalista?Dimenstein: Eu sou a favor da facul­dade e contra o diploma. Eu sou

a favor de que a faculdade seja tão

boa, tão boa, mas tão boa que as

pessoas que quiserem ser jornalis­tas, sintam-se forçadas a fazer facul­dade. Se a faculdade não conseguiuse justificar por isso, acho que elanão tem justificativa. Eu acho queexistem profissões diferentes. Você

"Collor foieleito presidente

porque a

imprensanão soubecumprir

o seu papel"não pode comparar a profissão demédico com a profisão de jornalis­ta, embora as duas sejam igualmen­te importantes. Você não podecomparar a profissão de engenheirocom a profissão de jornalista, e tam­bém não pode comparar a profissãode jornalista com a profissão depoeta, de cantor, de pintor. Vocênão pode limitar que as pessoas se

agreguem à profissão numa épocaem que cada vez está mais segmen­tada. Se um médico ou um advo­gado quisessem ser repórteres, seriauma grande conquista que a gentefaria, desde que melhorasse o níveldo jornal, e eu acho que pode me­

lhorar. O diploma cria uma reserva

de mercado que não colabora com

a atividade, pode até ajudar os jor­nalistas, mas não ajuda o jornal.Quando a faculdade' é realmenteboa, baseada em jornais laborató­rio, num bom currículo, acho queo mercado tende a absorver essas

pessoas. Se ela não for boa achoque acaba só justificando uma re­

serva de mercado.

Zero - Quanto à questão do ensinodo jornalismo, você é a favor de umaformação jomalistica diversifícada

o Globo, Última Hora, Visão,Correio Braziliense, Jornal doBrasil e Veja, até chegar à Fo­lha, em 1985.

Dimenstein foi o quintoconvidado doprojetoMemóriado Jornalismo e concedeu estaentrevista ao Zero, onde fala desua csrreirs, da política e daimprensa no País.

ou especializada?Dimenstein: Sou a favor de uma for­mação humamstica básica. A pes­soa quando vai sr jornalista tem queter a clareza do seu papel, sou a

favor de que a pessoa conheça filo­sofia, sociologia, história, portu­guês. Antes tem que ter uma boabase. A tendência é você ter uma,visão especializada também, mas

não se pode deixar de conhecer e

refletir sobre o mundo. Mas achoimportante que a pessoa conheçamedicina, informática ... Tem queir com o tempo se especializandocomo é a tendência mundial.

Zero - O Iãnio de Freitas escreveu

que a imprensa vive atualmente uma

crise ética ao desrespeitarpolíticos devalor com agressões e insultos. Elecita, por exemplo, opresidente ItamarFranco que tem 40 anos de �idapúbli­ca e nunca se envolveu em escãn­dolos. Você concorda?

Dimenstein: Eu acho que o presi­dente Itamar, até onde eu possover, é um político honrado. Mas éum irresponsável, né? Eu não achoisso um insulto. Acho que ele é um

irresponsável, uma pessoa sem qua­lificaçâo , e usa a mediocridade áserviço da burrice e a burrice a servi­ço da mediocridade. Eu insultomesmo, se isso for insulto, eu insul­to mesmo. Agora, eu concordo como.Jânío no sentido de que na parteética, moral, existe essa crise. Masé um absurdo ver que um presidenteque assumiu com todas as condiçõesde fazer uma grande presidência te­nha escolhido um ministério medío­cre, tomado posições medíocres, re­tardando numa solução nacional atroco de nada.

Zero - Será que o Brasil é viávelcom Itamar Franco na Presidência,Inocêncio de Oliveira na Câmara e

Antônio Carlos Magalhães como can­didato a lider da oposição?Dimenstein: Não, com esse pessoalnão. Mas o Brasil é viável. O Brasilé um país abençoado, não tem guer­ras internas, não tem guerras exter­nas, não tem conflitos regionais,não tem conflitos religiosos, temterra, tem água, tem sol, tem par­que industrial, tem avanço tecno­

lógice na área de telecomunicações.Eu acho que se o Brasil fosse uma

grande Santa Catariana eu seriauma pessoa feliz, sinceramente.Acho que aqui tem muitos proble­mas, mas para quem está acostu­mado a ver o Nordeste ... Eu achoque o projeto do Brasil deveria ser

uma grande Santa Catarina. SantaCatarina é um lugar viável. Certa­mente tem problemas, mas não temas disparidades que tem o resto dopaís.

Entrevista:Luiz Fernando Peniira,

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina