1. INTRODUÇÃO
O freio labial normal em um adulto tem aspecto de prega fina, triangular,
com sua base voltada para cima, inserido entre os incisivos centrais, e
aproximadamente a 4mm acima da coroa clínica.
Os freios labiais possuem função de limitar os movimentos dos lábios,
promovendo estabilização da linha média e impedindo exposição excessiva da
gengiva.
Como toda estrutura do corpo, os freios podem sofrer alterações,
apresentando características como a inserção na margem da gengiva ou papila,
podendo causar alguns problemas como o diastema, dificuldades na dicção,
higienização, entre outros.
Para correção da anormalidade dos freios existe a técnica cirúrgica chamada
frenectomia/frenotomia, podendo ser associada ao enxerto gengival livre nos casos
que apresentarem necessidades, evitando a reinserção do frênulo e outros
problemas consequentes desta anormalidade.
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2. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
O freio labial é uma prega em forma de triângulo, fina, com sua base voltada
para apical, em lâmina de faca, e sua origem é relativamente profunda no interior
dos lábios, estendendo-se para trás e para cima, se inserindo na porção mediana da
vertente vestibular do processo alveolar e terminando em um ponto a
aproximadamente 4mm acima da coroa clínica, devendo-se inserir, em condições de
normalidade, no limite mucogengival, ou seja, na depressão em forma de “V” que
separa a gengiva inserida da mucosa alveolar (LASCALA e LASCALA JUNIOR,
1997). O freio labial inferior normalmente apresenta-se menor em relação ao
superior.
O freio labial, também conhecido como frênulo, tem a capacidade de se
adaptar aos movimentos dos lábios sem que altere a sua forma de maneira
significativa. A sua função é limitar esses movimentos, promovendo a estabilização
da linha média, e não permitindo grande exposição da mucosa gengival.
Segundo GOLDMAN, et al.(1983), a característica histológica do freio é a
seguinte: composta por três planos, epitélio estratificado pavimentoso orto ou
paraqueratinizado, tecido conjuntivo denso e frouxo, e submucosa contendo vasos
linfáticos e glândulas mucosas. PINTO e GREGORI (1975) relatam que as fibras
conjuntivas estão dispostas em tramas regulares, arranjadas em forma de cordões
dispostos ântero-posteriormente. Anteriormente elas se unem frouxamente com as
fibras da submucosa do lábio, e, em sua inserção alveolar, anastomosam-se com as
fibras da camada externa do mucoperiósteo e do tecido conjuntivo que recobrem a
sutura mediana maxilar.
A inserção anormal do freio pode ocasionar vários problemas como o
diastema entre os incisivos, limitar a movimentação dos lábios, dificultar a
escovação adequada dos dentes, dificulta também a dicção, permite o acúmulo de
restos alimentares e consequentemente pode levar a gengivite, favorecer a recessão
gengival, podendo também dificultar a adaptação de próteses. Elas podem ocorrer
de várias formas, planas e extensas, estreitas e compridas, e todas as variações
intermediárias.
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Os freios na linha média superior têm a tendência de ser mais inclinados,
compridos e estreitos e os freios na linha média inferior têm a tendência de ser mais
amplos e planos. (SCHLUGER, 1981)
A estrutura do frênulo anormal é a mesma dos tecidos de outras áreas,
possui forma triangular e é composto por um feixe de tecido fibroso. Ele difere no
aspecto de apresentar alta inserção.
Para a correção da inserção anormal do freio existe a
frenectomia/frenotomia labial, que se resume na remoção cirúrgica do mesmo. A
técnica cirúrgica consiste em anestesia local infiltrativa. O freio labial pode ser
retraído prendendo-o por meio de uma pinça hemostática, e, nos casos de freios
amplos, a retração do lábio é suficiente. A incisão começa do ápice com uma lâmina
de bisturi nº 15, e é feita para aliviar cada lado individualmente, a sua base é
prolongada para permitir uma adequada conicidade do retalho, e então o freio é
excisado. É feita a sutura, e após ela coloca-se o cimento cirúrgico. (BIMSTEIN, et
al. 2003)
Depois de realizada a frenectomia, pode ser que o paciente apresente uma
estética insatisfatória, e uma mobilidade na gengiva marginal, devido à pouca
quantidade de gengiva queratinizada inserida remanescente, o que irá possibilitar o
acúmulo de placa bacteriana, e também a reinserção das fibras do freio (TAYLOR,
1939)
Para melhor prognóstico em relação a estas possibilidades existem técnicas
que possibilitam melhores resultados, como a frenectomia/frenotomia associada ao
enxerto gengival livre. Esta técnica irá manter a inserção do freio distante da gengiva
marginal, promovendo aumento da gengiva queratinizada, boa estética, sem que
provoque prejuízos à área doadora (FREEDMAN, et al. 1982).
O enxerto gengival livre pode ser utilizado para aumentar a faixa de gengiva
inserida, aumento de rebordo, aprofundamento do vestíbulo, recobrimento radicular,
e evitar a recorrência da inserção prejudicial do freio.
Na frenectomia/frenotomia associada ao enxerto, procede-se da mesma
maneira com a frenectomia/frenotomia relatada anteriormente e se faz a remoção de
um enxerto palatino ou gengival, e reposicionando-o no local onde o freio foi
excisado.
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3. DESENVOLVIMENTO
Paciente C.M.P, sexo feminino, 39 anos, saúde sistêmica normal, procurou
atendimento no Estágio Supervisionado da Faculdade de Odontologia da
Universidade de Itaúna com queixa principal “quero que avalie meus dentes”.
Ao exame clínico foi detectada inflamação gengival, recessão gengival no
elemento 31 e presença de freio labial hipertrófico entre os incisivos inferiores. Após
anamnese, realizaram-se os procedimentos básicos para eliminação e controle dos
agentes causadores da doença periodontal. Frente ao caso clínico e às condições
da paciente, foi proposta uma frenotomia associada a um enxerto gengival livre
removido de uma área adjacente.
Na sessão seguinte realizou-se isolamento relativo e anestesia local
infiltrativa em ambos os lados do freio. Inicialmente foi feita raspagem e alisamento
radicular no dente 31 e, em seguida foram realizadas duas incisões paralelas, com a
lâmina de bisturi nº 15, uma em cada lado do freio, tais incisões começaram na
porção inferior da mucosa alveolar e convergiram em direção à perióstica do freio,
em seguida ele foi tensionado para dissecção das fibras e excisão do mesmo.
A área doadora eleita foi a própria gengiva do paciente, na região vestibular
dos dentes 4.1 e 4.2 (ao lado da incisão da frenotomia), pois apresentava gengiva
inserida suficiente para isso. O enxerto então foi removido, e no local da área
doadora foi colocado Fibrinol para uma boa hemostasia. A área receptora já estava
pronta, então o enxerto foi posicionado cobrindo a área cruenta e em suas bordas foi
colocado cianoacrilato. Em seguida suturou-se a margem apical em mucosa com fio
de nylon 4.0, e toda área cirúrgica foi recoberta com cimento cirúrgico (Pasta
Lysanda). A paciente retornou após sete dias para avaliação, a sutura foi removida e
foi colocado novo cimento cirúrgico.
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FOTOS DO CASO:
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FIGURA 1: Aspecto inicial. Recessão gengival associada a inflamação e inserção prejudicial do freio.
FIGURA 2 e 3: Medindo o comprimento da recessão.
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FIGURA 4: Sondagem após anestesia.
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FIGURAS 5: Incisão inicial.
FIGURA 7: Freio removido. Área cruenta preparada para receber o enxerto.
FUGURA 6: Fenestração
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FIGURA 8: Remoção do enxerto na região vestibular dos dentes 41 e 42
FIGURA 9: Acomodação do enxerto.
FIGURAS 10: Sutura.FIGURA 11: Fibrinol posicionado na área doadora.
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FIGURA 13: Cimento cirúrgico.
FIGURA 14: Resultado final.
4. CONCLUSÃO
A técnica apresentada, em associação com a raspagem e alisamento
radicular, solucionou o quadro inflamatório, além de eliminação da tensão do
periodonto marginal vinculada à presença do freio muito próximo à margem
gengival.
A remoção do enxerto livre na região adjacente proporcionou aumento da
faixa de gengiva queratinizada, e também um pós operatório menos traumático
evitando-se duas áreas cirúrgicas
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LASCALA, N. T.; LASCALA Junior, N. T. Aspectos cirúrgicos na prevenção
– frenectomia – bridectomia – ulectomia in LASCALA, N. T. Prevenção a clinica
odontológica. São Paulo: artes médicas Cap. 13 pág. 210-220, 1997.GOLDMAN, H.M.; COHEN, D.W. Periodontia. 6a ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan,
1983. 1094p.
PINTO, M.L.C.; GREGORI, C. Aspectos embriológicos, anatômico fisiológico e cirúrgico
relacionados com freio labial. Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent., São Paulo, v. 29, n.3, p.15-31. Maio/jun.,
1975.
TAYLOR, J.E. Clinical observations relating to the normal and abnormal frenum labii
supeioris. Am J Orthod, v.25, n.3, p.646-650, 1939.
FREEDMAN, A.L.; STEIN, M.D.; SCHENEIDER, D.B. A modified maxillary labial frenectomy.
Quintessence Int. v. 13, p. 675-678, 1982.
1. BIMSTEIN, E. et. al. Saúde e doenças periodontais e gengivais:
crianças, adolescentes e adultos jovens. São Paulo: Editora.
Santos. 2003
2. SCHULUGER, S.; YUODELIS, R.A.; PAGE, R.C. Periodontia.
Fenômenos Básicos, Tratamento e Inter-relações Oclusais e
Restauradoras. Rio de Janeiro, Ed. Interamericana, 1981.
3. RULI, L. P. et al. Frênulo labial superior e inferior: estudo clínico
quanto a morfologia e local de inserção e sua influência na
higiene bucal. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 11, n. 3, p. 195-205,
jul./set. 1997.
4. FILHO, G.R., BENATTI B.B., BITTENCOURT S., PERUZZO D.C.,
CASATI M.Z., NOCITI F.H. Frenectomia associada ao enxerto
gingival livre. RGO P. Alegre. 2005;53(2):85-164.
5. GUSMÃO, E.S., et. al. Inserção e morfologia dos freios labiais.
2009 Abr/Jun;8(2);133-139.
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6. BERCINI, F. et al. Frenectomia: Um caso clínico. Rev. Fac.
Odontol., v.37, n. 1, p. 15 – 17, jul.1996.
7. NEIVA, T.G.G. et al. Técnica de frenectomia associada a enxerto
de mucosa mastigatória: relato de caso clínico. Rev. Dental Press
Periodontia Implantol., Maringá, v. 2, n. 1, p. 31-36, jan./fev./mar.
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