Geografias
de Género
Enquadramento teórico
Contextualização
Centralidade masculina na geografia
Omissões significativas do papel das mulheres
Formas “masculinas” de pensar e produzir saber
Contextualização
Discriminação institucional
Linguagem sexista
Objeto de estudo – atividades associadas a homens
o Economia produtiva vs. reprodução social
Epistemologia masculina
Universalismo
Ponto de vista isento sem ser afetado por aspetos como
classe, raça ou etina, nacionalidade, convicções
políticas, género, sexualidade, etc.
Perceção de que estes aspetos do/a investigador/a
podem e devem ser ignorados
Omnisciência e infabilidade
Fortalece a posição de poder do investigador e o seu
papel de autoridade
Epistemologia masculina
Compartimentação
• Fronteiras rígidas e fixas para compreender os
fenómenos (ex: natureza e cultura, masculino e
feminino, plantas e animais, etc.)
• Análise científica de causa e efeito
Epistemologia masculina
Objetividade
Estratégia masculina de representação do
mundo
O/A observador/a deve ser objetivo e excluir
qualquer “contaminação” da investigação pelos
seus pensamentos e sentimentos, adotar a
terceira pessoa no relato, sem autorreferências
e utilizar uma escrita isenta
A investigação não deve ser “influenciada” por
aspetos pessoais ou sociais do/a investigador/a
Epistemologia feminista
A abordagem feminista privilegia a diferença e a
compreensão relacional dos fenómenosO que define os objetos de estudo são as inter-
relações no contexto social (ex: divisões laborais em
função do género) e não as suas supostas
caraterísticas intrínsecas (ex: biologia)
Contributo feminista: o
universalismo, compartimentação e objetividade
são tradicionalmente associadas com
caraterísticas masculinas, enquanto os seus
opostos: particularismo, relacionalidade e
subjetividade são associadas a caraterísticas
femininas
Epistemologia feminista
Uma área importante das geografias de género
tem sido dedicada a identificar as formas e meios
pelas quais a epistemologia foi associada ao
género, assim como a analisar as repercussões
em termos da marginalização das mulheres na
academia e na sociedade.
Gender, Place and Culture
A Journal of Feminist Geography
http://www.tandf.co.uk/journals/cgpc
Abordagens teóricasPreocupações
metodológicasExemplos de temas de investigação
Mulheres na
Geografia
“Contar” mulheres
Geografia das mulheres
Empirismo feminista
Mapear os padrões
espaciais das atividades das
mulheres
Questionar a investigação
positivista
Mulheres na cidade
Mulheres e trabalho
Mulheres e desenvolvimento
Feminismo
socialista
Feminismo socialista
Marxismo, género e
desenvolvimento
Materialismo histórico
Combinação da teoria com a
praxis
Relações entre o patriarcado e o
capitalismo
Estruturas sociais e espaciais de casa e
do trabalho
Papéis de género em países em
desenvolvimento
Feminismo do
Terceiro Mundo
/ Políticas da
diferença
Pós-estruturalismo
Pós-colonialismo
Análise do discurso
Investigação participativa
Histórias de vida
Questionar as formas de conhecimento
essencialistas e eurocêntricas
Planeamento, género e
desenvolvimento
Diferenças ao longo do curso de vida
Feminismo e
geografia
cultural
Teoria Queer
Pós-modernismo
Posicionalidade e
reflexividade
Narrativas
Etnografia
Conhecimento situado
Sexualidade e espaço
O corpo e as políticas de identidade
Espaços imaginários e simbólicos
Adaptado de: Johnston, et al. 1994; Jones, Nast, and Roberts 1997; WGSG 1997
“O empirismo feminista questiona a capacidade da ciência em avaliar adequadamente
a experiência da mulher dentro do paradigma dominante da ciência empírica. Este
paradigma dominante foi identificado como enraizado na cultura androcêntrica e
é, desta forma, influenciado pela experiência masculina. O empirismo feminista
identifica os problemas e questões da ciência, como reflexos de uma perspetiva do
gênero masculino para a exclusão de uma perspetiva do gênero feminino: o empirismo
feminista expôs "uma ciência distorcida pelo viés masculino em termos de
problemáticas, teorias, conceitos, métodos de inquérito, observações, e interpretações
de resultados de pesquisa" (Harding, 1989, p.21). Consequentemente, a teoria feminista
move-se em direção a esforços que desenvolvam epistemologias do ponto-de-vista
feminista. As teorias do ponto-de-vista feminista veem elas mesmas como provedoras
de "entendimentos menos racionalizados, menos perversos, menos defensivos, menos
distorcidos, menos falsos e mais completos dos mundos natural e social"
(Harding, 1989, p.24).”
Excerto de: SOUZA, Mariane L., MARTINEZ, Jacqueline M. (2001), Teoria da comunicação feminista: uma
explicação semiótico-fenomenológica da teorização acadêmica feminista, in Revista Tesseract, edição n. 4 Maio
2001. [Disponível em http://www.antroposmoderno.com/textos/Teoriada.shtml]
O feminismo socialista nasce da teoria marxista. Faz uma crítica do capitalismo, mas
também do patriarcado e da ausência de uma perspetiva de género na obra de Marx.
As feministas socialistas acreditam que a sociedade burguesa deve ser reestruturada
para acabar com a escravidão doméstica das mulheres e levar a alguma fórmula de
coletivização do trabalho doméstico e do cuidado das crianças.
Esta teoria surge no momento de expansão da industrialização e da emergência do
movimento operário e caracteriza-se como um movimento social com foco nas
mulheres da classe trabalhadora e nas condições de trabalho, bem como na
incorporação de todas as mulheres no mercado de trabalho como uma forma de
tornarem-se independentes dos homens, mas também de lutarem pelo direito ao voto.
Reflete sobre a importância da classe socioeconómica na situação das mulheres. A
situação das mulheres proletárias tem pouco a ver com as mulheres da classe média.
http://es.wikipedia.org/wiki/Feminismo_socialista
O materialismo histórico é uma abordagem metodológica ao estudo da sociedade, da
economia e da história que foi pela primeira vez elaborada por Karl Marx e Friedrich
Engels (1818-1883), embora estes autores não tenham utilizado este termo para definir
as suas ideias.
O materialismo histórico na qualidade de sistema explanatório foi expandido e refinado
por milhares de estudos acadêmicos desde a morte de Marx.
De acordo com a tese do materialismo histórico defende-se que a evolução histórica,
desde as sociedades mais remotas até à atual, dá-se pelos confrontos entre diferentes
classes sociais decorrentes da "exploração do homem pelo homem". A teoria serve
também como forma essencial para explicar as relações entre sujeitos. Assim, como
exemplos apontados por Marx, temos durante o feudalismo os servos que teriam sido
oprimidos pelos senhores, enquanto no capitalismo seria a classe operária pela
burguesia.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo_hist%C3%B3rico
Feminismo do Terceiro Mundo
As feministas dos países desenvolvidos não raro aceitam acriticamente as distorções
do olhar primeiromundista sobre o outro. Essas distorções levam ocidentais, inclusive
muitas feministas, a verem outras culturas como totalidades estáticas e organicamente
coerentes. A consequência mais comum dessa postura é a de culpar o todo da cultura
por práticas consideradas indesejáveis. …. Outra variante desse raciocínio enxerga a
postura crítica e mudancista do feminismo do Terceiro Mundo como uma forma de
traição à integridade da "cultura". Em uma versão mais esquerdista dessa crítica, as
atividades de protesto feminista naqueles contextos são vistas como uma forma de
aburguesamento ocidentalizante. Relembrando Edward Said, Narayan mostra que por
trás dessas críticas está a noção imperialista de que o Ocidente é dinâmico e plural,
enquanto sociedades do "resto" do mundo estão aprisionadas por culturas tradicionais
imorredouras. De acordo com esse preconceito, o feminismo, por lutar pela mudança
dos hábitos e valores, só cabe no Ocidente.
Excerto de: FERES JR., João. Mana [online] (1999), Revisão do livro “NARAYAN, Uma. 1997. Dislocating
Cultures: Identities, Traditions, and Third World Feminism”, in Mana vol.5 n.2 Rio de Janeiro. [Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93131999000200013&script=sci_arttext]
Pós-estruturalismo refere-se a uma tendência à radicalização e à superação da
perspetiva estruturalista, observada entre os intelectuais franceses, tanto no campo
propriamente filosófico , como psicanalítico, político e sociológico, na
perspetiva neomarxista e na análise literária.
O movimento pós-estruturalista está intimamente ligado ao pós-modernismo - embora
os dois conceitos não sejam sinônimos.
O pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária,
liberando o texto para uma pluralidade de sentidos. A realidade é considerada como
uma construção social e subjetiva.
De modo geral, os pós-estruturalistas rejeitam definições que encerrem verdades
absolutas sobre o mundo, pois a verdade dependeria do contexto histórico de cada
indivíduo.
http://dicionario24.info/P%C3%B3s-estruturalismo
“A Teoria Pós-Colonial, (...) traduz a sua herança crítica do Orientalismo sob a forma
duma prática interdisciplinar, passando pela Filosofia, pela Historiografia, pelos Estudos
Literários, pela Sociologia, pela Antropologia e pelas Ciências Políticas. Os teóricos
pós-coloniais distinguem-se pela tentativa constante de repensar a estrutura
epistemológica das ciências humanas, estrutura essa que terá sido moldada de acordo
com padrões ocidentais que se tornaram globalmente hegemônicos devido ao facto
histórico do colonialismo. Consistindo numa resposta da periferia ao centro, a Teoria
Pós-Colonial procura dar voz à alteridade que a «vontade de saber» dominante tem
vindo a assimilar dentro de si mesma, criando assim paradoxalmente a exclusão dessa
mesma alteridade. Pela ênfase colocada na temática da alteridade, a Teoria Pós-
Colonial tende a transcender as consequências do colonialismo, servindo como frente
de combate a qualquer grupo que se sinta discriminado em relação à norma
prevalecente – seja esta étnica, social ou sexual -, e que procure implementar uma
política de identidade através da afirmação da diferença.”, p. 222.
Excertos de: ÁLVARES, Cláudia (2000), Teoria pós-colonial, Uma abordagem sintética, in Revista de
Comunicação e Linguagens - Tendências da Cultura Contemporânea, J. Bragança de Miranda e E. Prado Coelho
(org.), Lisboa: Relógio de Água.
A teoria Queer pretende articular reflexão teórica e intervenção política, emergindo na
sequência do debate entre abordagens essencialistas e construtivistas da identidade.
Com epicentro nos estudos literários e influenciada pelo construtivismo, pelo pós-
estruturalismo e pelo pós-modernismo, a abordagem surge na década de 1990,
salientando as relações fluidas, incoerentes e instáveis entre corpo, sexo, género e
desejo, questionando a existência de fronteiras estáveis entre «normalidade» e
«desvio» e a heteronormatividade. No seu âmbito, o que define a identidade não é uma
essência, mas um trabalho permanente de (re)construção discursiva através do qual se
constitui o/a próprio/a sujeito/a.
Foi influenciada pelo trabalho de Eva Kosofsky Sedgwick, Judith Butler, e Berlant
Lauren.
Excerto de: BRANDÃO, Ana Maria (2009), Queer, mas não muito: género, sexualidade e identidade nas
narrativas de vida de mulheres, in ex æquo, n.º 20, 2009, pp. 81-96. [Disponível em
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/10568/1/Queer%20mas%20n%C3%A3o%20muito.PDF]
Judith Butler
… Gender Trouble (1990) … ao concentrar-se na forma como a identidade de género é
construída no discurso e pelo discurso. O livro apresenta formulações teóricas em torno
da crítica foucauldiana do sujeito, de leituras das teorias estruturalistas, feministas e
psicanalíticas, e da teorização das performativas. O ponto de partida é um ponto de
ruptura: as feministas teriam erroneamente partido do princípio da existência de “um
sujeito” acriticamente designado por Mulher ou mulheres. Gender Trouble questiona
isto, propondo ao invés um sujeito-em-processo que é construído no discurso e pelos
actos que performa.
Butler defende que a identidade de género é uma sequência de actos, mas também
defende que não existe um performer ou actor pré-existente e que faz os actos. Por isso
estabelece uma distinção entre performance (que pressupõe a existência de um sujeito)
e performatividade (não pressupõe um sujeito, antes fá-lo).
Excerto de: VALE DE ALMEIDA, Miguel (2008), Do feminismo a Judith Butler, in Conferência Ciclo “Pensamento
Crítico Contemporâneo”, Le Monde Diplomatique / Fábrica Braço de Prata, 5 de Abril de 2008. [Disponível em
http://site.miguelvaledealmeida.net/wp-content/uploads/butler-pensamento-critico1.pdf]
Pós-modernismo é a condição sociocultural e estética que prevalece no capitalismo
contemporâneo após a queda do Muro de Berlim e a consequente crise das ideologias
que dominaram o século XX. O uso do termo tornou-se corrente embora haja
controvérsias quanto ao seu significado e a sua pertinência.
O crítico literário Frederic Jameson e o geógrafo David Harvey identificaram a pós-
modernidade como o "capitalismo tardio" ou a "acumulação flexível", um estágio de
capitalismo seguindo o capitalismo financeiro, caracterizado por trabalho altamente
móvel e capital. E o que Harvey chamou de "compressão do tempo e espaço".
A globalização alteraria as noções de tempo e de espaço, desalojaria o sistema social e
as estruturas fixas e possibilitaria o surgimento de uma pluralização dos centros de
exercício do poder.
Desde a década de 1980, desenvolve-se um processo de construção de uma cultura
em nível global. Não apenas a cultura de massa, já desenvolvida e consolidada desde
meados do século XX, mas um verdadeiro sistema-mundo cultural que acompanha o
sistema-mundo político-económico resultante da globalização.
http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3s-modernidade
Proposta de trabalho
Façam uma pesquisa em diferentes revistas:
Como caraterizam as revistas classificadas como “para mulheres” ?
E as revistas classificadas “para homens”?
Exemplos: http://www.maxima.xl.pt/ e http://www.menshealth.com.pt/
Podem procurar mais em http://www.jornaiserevistas.com/index.php
Analisando as imagens e os discursos:
De que forma são representadas as mulheres?
De que forma são representadas os homens?
Recurso adicional: http://www.cig.gov.pt/guiaoeducacao/3ciclo/3c_capk/