UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
E MEIO AMBIENTE URBANO
Roberta Moura Martins Oliveira
GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS:
O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DA REGIÃO METROPOLITANA
DE BELÉM - PA
BELÉM - PA
2012
Roberta Moura Martins Oliveira
GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS:
O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DA REGIÃO METROPOLITANA
DE BELÉM - PA
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientador: Profº. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello.
BELÉM - PA
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Suzana Cardoso / CRB2 1.142
628.44 O48 Oliveira, Roberta Moura Martins. Gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos : o programa
de coleta seletiva da região metropolitana de Belém - PA / Roberta Moura Martins Oliveira – Belém, 2012.
111 f. ; il. ; 21 x 30 cm. Dissertação (Mestrado)-Universidade da Amazônia, Programa de
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, 2012. Orientador: Prof. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello.
1. Resíduos sólidos urbanos. 2. Produção de lixo-Belém. 3. Coleta seletiva de lixo. I. Bello, Leonardo Augusto Lobato (orient.). II. Título.
Roberta Moura Martins Oliveira
GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS:
O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DA REGIÃO METROPOLITANA
DE BELÉM - PA
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientador: Profº. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello.
Banca Examinadora
_______________________________________
Profº. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello
Orientador - UNAMA
________________________________________
Profº. Dr. Marco Aurélio Lobo
Orientador - UNAMA
________________________________________
Profª. Dra. Janete G.C. de Oliveira
PPGEO/UFPA
Apresentado em: ____ / ____ / 2012.
Conceito: _____________________
BELÉM - PA
2012
Sei que as mães são sempre eternas...
À memória de minha mãe, Doralice Moura, de
quem estarei sempre próxima, aos meus
irmãos e familiares.
AGRADECIMENTOS
À coordenação, professores e secretaria do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia – UNAMA pelo apoio durante o
andamento do curso.
Ao querido orientador Prof° Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello pelo carinho, amizade e
principalmente por ter depositado sua confiança em mim desde o momento de minha
entrevista na admissão ao programa, bem como durante todo o processo de elaboração desta
pesquisa.
À Profª Dra. Rosália do Socorro da Silva Correa, pela paciência por me mostrar o caminho e
confiança no desenvolvimento de suas aulas, imprescindível para o desenvolvimento desta
pesquisa.
À Profª Drª Luciana Costa da Fonseca pelas orientações e discussões sobre o projeto
facilitando o seu desenvolvimento.
A Diretora de Licenciamento Ambiental de Atividades Poluidoras - DILAP/SEMA –
Francisca Lucia Porpino pelo carinho, amizade e oportunidade de trabalho na SEMA
possibilitando a realização desta pesquisa.
A artista plástica Sidvera Rezende pelo enorme carinho e afinidades de toda ordem que
desfrutamos como também pelas belíssimas ilustrações utilizadas nesta pesquisa.
A Assistente Social Elvira Pinheiro de Oliveira pelo seu empenho na obtenção dos
documentos para este trabalho junto a Prefeitura Municipal de Belém.
As amigas de corrida e muita reflexão Jaqueline Cunha e Leandra Miranda pelas prazerosas
corridas matutina no Parque do Sabiá, paciência, carinho e ajuda nas horas difíceis de
criatividade.
A querida amiga Sheilla Dourado pela amizade e conversas esclarecedoras.
A sincera amizade de Elizabeth Yamasaki e família, carinhosamente conhecida como “vovis”
que me acolheu nas horas mais difíceis em sua calorosa casa e pelas conversas maduras e
“cabeça” de sempre.
A Galvanda Queiroz Galvão por simbolizar a renovação de minha visão de mundo e por
conseguinte, ser a possibilidade de um novo perceber e significar a vida.
A Patrícia Daibes de Oliveira, por toda sua dedicação, companheirismo e contribuição com
tabelas, figuras e mapas usados neste trabalho.
A bióloga Suely Melo, por ter desenvolvido o melhor de um biólogo: a observação e com
isso, ter me possibilitado uma nova reinterpretação do que a vida reservou para eu ser.
Aos Colegas Ana Júlia Cunha Brito, Daniel Augusto Nunes da Cruz, Eden Fernando batista
Ferreira, Edila Araújo de Castro Silva, Elinalva Freitas Pantoja, Elizabeth Yamasaki,
Francimário Aroverde Gomes, Iranete Corpes de Oliveira, Jerônimo Cardoso Nunes, José
Clodoaldo Machado Lopes Fernandes, Leudes Sarges Filho, Marly Lobato Maciel, Raimundo
Farias de O. Junior, e Valéria Chicre Quemel Anadrade, companheiros dessa jornada.
Ao meu cunhado-pai e minha irmãe, Fábio Polaro e Ana Flávia Polaro que juntos sempre me
acompanharam, acreditaram e se dedicaram para que eu pudesse seguir os melhores caminhos
nessa vida.
Aos meus sobrinhos lindos, Fábio Martins Polaro e Alice Martins Polaro, pelo amor, carinho,
alegria e compreensão.
Ao meu pai, Luiz Fabiano, por ter me apresentado ao mundo e de todos os caminhos
possíveis, eu escolhi este.
A todos os meus amigos, que de perto ou de longe, fizeram-se presente colaborando,
incentivando e ajudando nos momentos bons e difíceis, em especial, Larissa Rodrigues da
Cunha, pelo apoio, amizade e cumplicidade, José Ribeiro, Fernando, Weverton, Thiago,
Ueslei Oliveira pela atenção e cordialidade.
A jornalista Maria Clara, por despertar uma enorme alegria em meu coração.
Ao biólogo Paulo Formagio, em nome de toda equipe de Furnas, pelo carinho, atenção,
colaboração e compreensão, que de longe ou perto, me ajudaram a mais esta conquista.
A todas as pessoas que direta e indiretamente colaboram para o desenvolvimento deste
estudo, os meus sinceros agradecimentos.
RESUMO
Neste estudo o objetivo geral foi investigar como se caracteriza e como funciona as relações
formadas para gestão e gerenciamento do programa de coleta seletiva de resíduos sólidos da
Região Metropolitana de Belém considerado este como estratégia de promoção à geração de
trabalho e renda, inclusão social e cidadania para as pessoas envolvidas na gestão integrada
dos resíduos sólidos. Para atingir esse propósito, mas sem esgotar o tema, que é complexo e
abrangente, foram delimitados os seguintes objetivos específicos: (1) Identificar e analisar o
arranjo institucional preparada para a gestão e gerenciamento do programa de coleta seletiva;
(2) Identificar os desafios e limitações encontrados no planejamento e gestão do programa de
coleta seletiva; e, por fim, (3) Caracterizar os impactos ambiental, social e econômico do
programa de coleta seletiva. A metodologia da pesquisa empregada está fundamentada em
uma abordagem qualitativa de natureza teórico-empírica, que utiliza como método de
pesquisa o estudo de caso. A coleta de dados ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica,
pesquisa documental e realização de entrevistas com os atores-chave envolvidos na gestão do
programa de coleta seletiva de Belém. O universo de atores entrevistados foi composto por
membros de órgãos governamentais representados pela Prefeitura Municipal de Belém, por
meio da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN e Ministério Público do Estado do
Pará e membros de órgãos não governamentais representados, neste caso, pela ONG “No
Olhar” e Associação de Catadores de Coleta Seletiva de Belém – ACCSB. A coleta de dados
ocorreu no período de janeiro a março de 2012. De acordo com os resultados obtidos,
verifica-se, que o programa de coleta seletiva de Belém apresenta fragilidade institucional
manifestada, sobretudo, pela descontinuidade de suas ações, e que, quando acontecem, são
pontuais e desconectadas as dimensões ambientais, socioeconômicas e políticas, além da
dificuldade em relação a fonte de recursos financeiros estáveis e seguros, os quais limitam e
comprometem sua efetividade e sustentabilidade ao longo da história.
Palavras-chaves: Gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos. Política pública.
Catadores. Programa de coleta seletiva.
ABSTRACT
In this study, the overall objective was to investigate how the relationships made for the
administration and management of Belém’s metropolitan area selective waste collection
program work as well as its features, which is considered a strategy to promote employment
and income generation, social inclusion and citizenship for the people involved in the
integrated management of solid waste. To achieve this purpose, but without any claim to
covering this issue exhaustively, which is complex and extensive, the following specific aims
were enclosed: (1) Identifying and analyzing the institutional arrangement prepared for the
management and administration of the selective waste collection program; (2) Identifying the
challenges and limitations encountered in the planning and management of the selective waste
collection program; and, at last, (3) Characterizing the environmental, social and economic
impacts of the selective waste collection program. The research methodology applied is based
on a theoretical-empirical qualitative approach that uses study cases as its research method.
The data was collected through bibliographic research, desk research and interviews with key
actors involved in the management of Belém’s selective waste collection program. The
universe of actors interviewed was composed by governmental members represented by
Belém City Hall, through the City Department of Sanitation - SESAN and the Office of the
State Public Prosecutor, and members of Non-Governmental Organizations, represented in
this case by the NGO "No Olhar" [“In The Gaze”] and by the Selective Waste Collectors’
Association of Belém - ACCSB. The data collection occurred from January to March, in
2012. According to the results obtained, it appears that the selective waste collection of Belém
has institutional weakness manifested mainly by the discontinuity of their actions, and that,
when they happen, they are isolated and disconnected from the environmental, socioeconomic
and political dimensions, besides the difficulty regarding the source of stable and secure
financial resources, which limit and undermine their effectiveness and sustainability
throughout history.
Keywords: Management and solid waste management. Public policy. Selective waste
collectors. Selective waste collection program.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Modelo tradicional de tratamento de resíduos sólidos 32
Figura 2 - Modelo de gestão de resíduos sólidos incluindo a reciclagem 33
Figura 3 - Modelo de gestão de resíduos sólidos adaptados as novas prioridades da
política ambiental
34
Figura 4 - Catador na prática da catação dentro da área do aterro do Aurá em 1996 54
Figura 5 - Catadoras da cooperativa de trabalho dos profissionais do Aurá 55
Figura 6 - Catadores (as) da ACCSB coletando material com carrinhos de metalon 56
Figura 7 - Equipe de educadores ambientais da SESAN/ PMB 57
Figura 8 - Equipe de educadores ambientais da SESAN/ PMB 58
Figura 9 - Localização do aterro do Aurá 59
Figura 10 - Localização do aterro do Aurá 60
Figura 11 - Aterro controlado do Aurá 60
Figura12 - Modelo de interpretação das informações obtidas 68
Figura 13 - Centro de triagem, Aurá 71
Figura 14 - Catadores (as) da COOTPA coletando material 72
Figura 15 - Jogo de coletor do Ponto de Entrega Voluntária – PEV´s instalado em
condomínio residencial
73
Figura 16 - Catadores realizando o trabalho de coleta porta-a-porta nas residências do
Umarizal
74
Figura 17 - Novo galpão em construção, localizado no Canal São Joaquim, Belém 76
Figura 18 - Associados da ACCSB 81
Figura 19 - Galpão cedido a ACCSB 82
Figura 20 - Galpão cedido a ACCSB 83
Figura 21 - Galpão de triagem da ACCSB 83
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Destino final dos resíduos sólidos, por unidades de destino dos Resíduos (%)
- Brasil - 1989/2008
39
Tabela 2 - Quantidade de resíduos produzido no Estado do Pará, em 2010 40
Tabela 3 - Responsabilidade sobre os resíduos sólidos conforme origem e classe 40
Tabela 4 - Preço aferido aos materiais coletados pela associação 83
Tabela 5 - Relatório de comercialização dos materiais coletados pela ACCSB 84
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico1 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo
coletado, segundo as grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e
municípios das capitais
41
Gráfico 2 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo
coletado, segundo as grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e
municípios das capitais
42
Gráfico 3 - Estimativa de volume de resíduos sólidos domésticos gerados por município
da RMB em 2010
51
Gráfico 4 - Estimativa da contribuição de cada município na geração dos resíduos
sólidos domésticos na RMB em 2010
51
Gráfico 5 - Demonstrativo por gênero da composição dos associados da ACCSB 80
Gráfico 6 - Demonstrativo da estimativa da faixa etária dos associados da ACCSB 81
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Princípios de sustentabilidade aplicados a gestão dos RSU 48
Quadro 2 - Instituições representantes participantes da pesquisa 66
Quadro 3 - Desafios e limitações enfrentadas pela associação 88
Quadro 4 - Comparação entre os princípios de sustentabilidade e a situação atual do
gerenciamento dos RSU, por meio do programa de coleta seletiva de Belém
91
Quadro 5 - Comparação entre os princípios de sustentabilidade e a situação atual do
gerenciamento dos RSU, por meio do programa de coleta seletiva de Belém (cont.)
92
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais
ACCSB Associação de Catadores da Coleta Seletiva de Belém
BNDS Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEE Comunidade Econômica Europeia
CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
COOTPA Cooperativa de Trabalhadores Profissionais do Aurá
CPTR Central de Processamento e Tratamento de Resíduos
DRES Departamento de Resíduos Sólidos
EIA Estudo de Impacto Ambiental
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPI Equipamento de Proteção Individual
GEE Gases do efeito estufa
GT Grupo de Trabalho
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBICT Banco de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
MPE Ministério Público Estadual
ONG Organização não Governamental
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PEV Posto de Entrega Voluntário
PGRS Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
PIB Produto Interno Bruto
PMB Prefeitura Municipal de Belém
PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
RMB Região Metropolitana de Belém
RSD Resíduos Sólidos Domiciliar
RSU Resíduos Sólidos Urbanos
SEDU Secretaria de Desenvolvimento Urbano
SEMA Secretaria de Estado de Meio Ambiente
SESAN Secretaria Municipal de Saneamento
SNVS Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
SINIR Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 17
2 GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS 25
2.1 CONCEITOS E PRINCÍPIOS 25
2.2 CONSUMO CONSCIENTE E A GERAÇÃO DE RESÍDUOS 29
2.3 DO MODELO TRADICIONAL AS NOVAS PRIORIDADES DA POLÍTICA
NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS – PNRS
31
2.4 A GESTÃO E GERENCIAMENTO DOS RSU NO MUNDO E NO BRASIL 37
3 GERENCIAMENTO DOS RSU EM BELÉM 50
3.1 PRODUÇÃO DE LIXO EM BELÉM 50
3.1.1 Resíduos sólidos domiciliares 52
3.1.1.1 Coleta regular 52
3.1.1.2 Coleta seletiva 53
3.1.2 Disposição final dos resíduos 58
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 61
4.1 METODOLOGIA DE PESQUISA 61
4.1.1 Natureza e método de investigação 61
4.1.2 Foco de análise 62
4.1.3 Definição da população e universo da pesquisa 63
4.1.4 Procedimentos para coleta dos dados 64
4.1.5 Análise das informações coletadas 66
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO - PROGRAMA DE COLETA SELETIVA 70
5.1 ORIGEM E INSTITUCIONALIZAÇÃO 70
5.2 PARTICIPAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS 77
5.2.1 A SESAN na gestão do programa 77
5.2.2 Ministério Público 78
5.2.3 Associação de catadores da coleta seletiva de Belém – ACCSB 80
5.2.4 ONG “No olhar” 85
5.3 DESAFIOS E LIMITAÇÕES DA GESTÃO INTEGRADA 86
5.4 AVALIAÇÃO DAS DIMENSÕES AMBIENTAIS, SOCIOECONÔMICAS E
POLÍTICAS
89
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 95
REFERÊNCIAS 98
Apêndice A - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da Secretaria
Municipal de Saneamento (SESAN), Departamento de Resíduos Sólidos (DRES) –
Sra. Elvira Pinheiro de Oliveira - Coordenadora do Programa de Coleta Seletiva
103
Apêndice B - Roteiro de Entrevista a ser aplicados aos Membros Fábia de Melo-
Fournier e Nilton Gurjão das Chagas da área de meio ambiente do Ministério Público
do Estado (MPE)
105
Apêndice C - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da ONG “No Olhar” –
Sr. Marcos Wilson – Representante Legal da ONG
107
Apêndice D - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da Associação de
Catadores da Coleta Seletiva de Belém (ACCSB) – Sra. Maria José de Moraes –
Representante Legal – Roselino Ribeiro (13 pessoas)
109
Apêndice E - Roteiro de Entrevista a serem aplicados aos membros representante dos
bairros partícipes do Programa, Bairros Umarizal e Marco (Rua Marquês)
111
17
1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 1980, período de intensa urbanização vivido no país, a
integração da questão dos resíduos sólidos1 ganha força nos debates sobre saneamento no
Brasil, devido ao agravamento dos problemas socioambientais urbanos decorrentes da
destinação inadequada de resíduos sólidos.
Em 1985 foi criado o programa PROSANEAR com uma abordagem integrada do
saneamento o qual tinha como objetivo financiar ações conjuntas em relação à água, esgoto,
drenagem urbana e aos resíduos sólidos. Para Serrano (2001) tratava-se de um marco
histórico, pois foi a primeira vez que os resíduos sólidos passaram a ser contemplados em
linhas de financiamento.
A partir de 1988, com a publicação da nova Constituição, o governo federal repassa a
competência aos municípios sobre a responsabilidade do gerenciamento dos resíduos sólidos.
Na década de 1990 a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro - Rio 92 e a publicação da Agenda
21 impulsionaram para dar maior visibilidade à questão ambiental e da reciclagem que aliados
a abertura de novos canais democráticos no processo de tomada de decisão no âmbito
municipal, colaboraram para reestruturação dos programas de resíduos sólidos na perspectiva
de uma gestão mais integrada e participativa.
No entanto, na prática se a competência foi descentralizada para os municípios o
mesmo não ocorreu com os recursos financeiros que segundo Serrano (2001) foram reduzidos
para programas de saneamento.
Esta situação somada ao crescente processo de urbanização representa enormes
desafios para os municípios uma vez que embora os recursos sofressem redução, aumentou
significativamente a necessidade de investimentos para a ampliação dos serviços de
gerenciamento dos resíduos sólidos, tais como: coleta, transportes e construção de novas
instalações de tratamento e destinação final.
De acordo com Lajopo (2003) enquanto a população mundial aumentou em 18% em
uma década, o lixo produzido cresceu 25%. No Brasil estima-se que 240 mil toneladas de lixo 1 Conforme a Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010 que estabelece a Política Nacional de Resíduos
Sólidos em seu Art. 3º, entende-se por resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.
18
domiciliar são geradas diariamente, perfazendo uma produção média maior do que
1kg/habitante/dia.
Assim, dada a complexidade da tarefa, novas prioridades foram incorporadas ao
sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos e, a partir da década de 1990, surgem às
primeiras iniciativas de programas de gestão compartilhada de coleta seletiva em cidades
como Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo. Este novo modelo rompe com uma visão
estritamente tecnicista para uma visão mais ampla da problemática dos resíduos sólidos o qual
passa a contemplar na implantação de seus programas parcerias entre governos municipais,
empresas privadas e cooperativas de catadores visando à geração de trabalho e renda, inclusão
social, cidadania, bem como o respeito ao meio ambiente.
De acordo com o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE) a coleta
seletiva em 2002, era adotada por somente 192 municípios, em 2004 por 237 e em 2006, 327.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada em 2008 este número sobe
para 994 sendo desenvolvidos, sobretudo nas regiões sul e sudeste. Em 2010, segundo o
CEMPRE, este numero cai para 443 municípios operando a coleta seletiva, cerca de 8%. E,
apesar do número de cidades serem crescente, na maior parte delas a coleta não cobre mais
que 10% da população local.
Na coleta seletiva tais materiais são separados na fonte geradora – residências,
empresas, escritórios, escolas, comércio, etc. – e são transportados e destinados a reciclagem.
De acordo com IBGE (2010) estes materiais representam cerca de 30% da composição dos
resíduos domestico, uma vez que em sua maioria é composto por matéria orgânica. A coleta
seletiva facilita e estimula a reciclagem porque os materiais coletados separadamente, por
serem limpos, têm maior potencial de aproveitamento e comercialização, sendo os catadores
os principais responsáveis pela separação da maior parte dos materiais recicláveis nos
municípios.
Para Zaneti e Sá, [2003] a separação dos materiais recicláveis cumpre um papel
estratégico na gestão integrada de resíduos sólidos sob vários aspectos: estimula o hábito da
separação do lixo na fonte geradora para o seu aproveitamento, promove a educação
ambiental voltada para a redução do consumo e do desperdício, gera trabalho e renda e
melhora a qualidade da matéria orgânica para a compostagem.
Segundo Waite (1995), entre as vantagens ambientais da coleta seletiva destacam-se: a
redução do uso de matéria-prima virgem e a economia dos recursos naturais renováveis e não
renováveis, e a redução da disposição de lixo nos aterros sanitários e dos impactos ambientais
decorrentes.
19
De acordo com Demajorovic (2006) programas de coleta seletiva com modelo de
gestão participativa propiciam benefícios socioambientais e financeiros ao valorizar o
trabalho do catador gerando trabalho e renda, promovendo o resgate a cidadania, bem como
ao desviar parcela de resíduos dos aterros sanitários para a reciclagem.
E ainda, segundo Singer (2002) contribui significativamente para a sustentabilidade
urbana, incorporando gradativamente um perfil de inclusão social e geração de renda para os
setores mais carentes e excluídos do acesso aos mercados formais de trabalho.
Mas para isto, os gestores públicos municipais, por meio dos programas de coleta
seletiva, têm a responsabilidade de promover uma gestão participativa que tenha como base:
fortalecer a articulação entre políticas setoriais e as ações voltadas à geração de trabalho,
promover a qualificação dos trabalhadores, estimular a construção de instrumentos legais que
contribuem para o fortalecimento e a sustentabilidade dos empreendimentos.
Corrobora com esta ideia, Silva e Guimarães (2010) ao afirmar que diversos
municípios têm construído políticas públicas municipais conciliando a necessidade de geração
de trabalho e renda para contingentes populacionais atendidos pela política pública de
assistência social e a instituições de coleta seletiva de materiais recicláveis a partir da
formação e apoio a associações e cooperativas de catadores organizados na forma de
empreendimentos econômicos solidário.
Diante deste cenário, a pesquisa em curso se justifica, num primeiro plano, pela
contemporaneidade da discussão. Desde a publicação da Lei 12.305/2010 – Política Nacional
de Resíduos Sólidos novas prioridades foram incorporadas ao sistema de gestão e
gerenciamento de resíduos sólidos incumbindo as administrações públicas municipais a
implementação de um conjunto de instrumentos e ações de gestão participativa com vistas à
gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.
Para a Política Nacional de Resíduos Sólidos, devem ser seguidos, basicamente os
seguintes instrumentos, entre outros: “a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e
outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos; o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de
outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis2”.
Sob tal premissa, os programas de coleta seletiva são concebidos. No entanto, Zaneti e
Sá [2003], identificam alguns pontos comuns em experiências brasileiras na gestão de
resíduos sólidos urbanos: as políticas públicas para o setor não adotam como ponto de partida 2 Art. 7º da Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010, o qual institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos.
20
um conhecimento objetivo da complexidade do sistema socioeconômico que gera os resíduos;
Não existe também, na ideologia da reciclabilidade, uma atitude crítica quanto aos valores e a
hierarquia de necessidades: 1º reduzir (consumo e obsolescência planejada); 2º reutilizar; 3º
reciclar (interesse das empresas - redução de custos de produção). Os projetos implantados
pelo poder público restringem-se aos aspectos técnicos do sistema de gestão, descuidando-se
da dimensão educativa/comunicativa que é o instrumento básico para priorizar o reduzir e o
reutilizar na hierarquia dos valores da gestão.
Tanto as unidades familiares, que geram lixo pelo consumo, quanto as empresas, que
geram lixo no processo de produção e colocação no mercado, não são atingidas por propostas
concretas de mudança dos hábitos de consumo e produção. Não existe, portanto, nas políticas
públicas para o setor, a intenção explícita de gerar novas formas organizativas capazes de dar
autonomia, consciência crítica e poder de modificar sua qualidade de vida, aos indivíduos e
grupos ligados aos serviços de catação, separação e comercialização do lixo urbano.
Outro ponto crítico a ser destacado é que as práticas de inserção desses segmentos
sociais no sistema de gestão gera conflitos de interesses (quanto ao acesso ao lixo de melhor
qualidade e ao controle dos preços) tanto entre catadores e os outros atores do sistema, tais
como escolas, poder público, empresas, quanto entre os próprios grupos de catadores, que
passam a concorrer entre si a partir de uma variedade de formas organizativas.
A pesquisa se justifica ainda diante da afirmação do CEMPRE, o qual reconhece
Belém como o único município do Estado do Pará a desenvolver um Programa de Coleta
seletiva. Programa este que para Leão (2006) ainda é incipiente na cidade. De acordo com
este autor o montante de lixo produzido pela Grande Belém, chegou a 1.800 toneladas/dia, o
que representa a produção de cerca de 684 gramas por habitante naquele ano.
Ademais, ao analisar os dados do novo ranking das cidades com mais de um milhão de
habitantes pelo percentual de ruas com acesso/cobertura de cada uma das características do
entorno dos domicílios, recentemente divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, realizada com base no Censo 2010, classifica Belém entre as piores em
sete indicadores analisados, entre eles: identificação das ruas com 35,5%; iluminação pública
93,7%; pavimentação 69,3%; calçada com 51,2%; arborização 22,4%; esgoto a céu aberto
revelando 44,5% dos domicílios e ainda Belém lidera o ranking negativo, no tocante ao lixo
acumulado nas ruas, indicando que na capital do Pará, 10,4% dos domicílios têm lixo
acumulado no entorno.
Diante do exposto, observa-se a importância de refletir sobre esse contexto e suas
implicações políticas e sociais no sentido da operacionalização dessas normas no
21
gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos.
Na perspectiva da compreensão desta temática, a presente pesquisa tem como objeto
de estudo a política de resíduos sólidos urbanos, por meio do programa de coleta seletiva,
considerado este, como alternativa para a geração de trabalho e renda e cidadania as pessoas
envolvidas no processo de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos na Região
Metropolitana de Belém (RMB), e busca enfatizar o aspecto socioambiental dessa política
pública marcada por articulações entre o Estado - na posição de direcionador (e/ou
redirecionador) dos rumos de ações de intervenção e/ou de investimentos, e catadores (as), na
condição de sujeitos de direitos relativos à sua emancipação pessoal e familiar.
Atualmente, a maioria dos centros urbanos encontra dificuldades em dispor
corretamente seu lixo no solo. Assim sendo é necessário que as medidas tomadas para seu
gerenciamento sejam muito bem analisadas e selecionadas, adotando-se técnicas diferenciadas
de manejo evitando elevados custos que possam inviabilizar sua execução.
A estratégia da Coleta Seletiva têm se mostrado como um instrumento de gestão
ambiental participativa visando à recuperação de material reciclável para fins de reciclagem,
bem como oportunidade de geração de trabalho e renda.
No entanto, no Brasil os programas de coleta seletiva são desenvolvidos na maioria
dos casos por iniciativas e ações pontuais e informais. Estas constatações sinalizam que a
sociedade contemporânea convive com um problema socioambiental na forma de manejar
adequadamente os resíduos sólidos urbanos.
Neste contexto, a política pública de resíduos sólidos, é abordada como portadora de
uma nova concepção de gestão e gerenciamento dos resíduos por voltar-se para as dimensões
política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do
desenvolvimento sustentável e ainda por sinalizar a adoção, por parte do governo, de uma
perspectiva de gestão participativa.
Entretanto, na prática, o que se evidencia no âmbito de atuação do Estado, no que diz
respeito às ações de intervenção junto à sociedade, são ações pautadas em relações de
dependência.
Desse modo, políticas públicas representam o Estado em ação ou mesmo uma das
formas de o Estado gerir a sociedade. Assim sendo, a forma ou o tipo de administração que
assume o Estado influenciará decisivamente nas características que identificam a gestão de
uma política pública.
O enfoque na política pública decorre do pressuposto de que o caráter “holístico” do
campo das políticas públicas permite que ela comporte “vários olhares” não se restringindo
22
apenas o da ciência política, uma vez que de acordo com Souza (2006 p.26) a gestão tem
significativa parcela de responsabilidade sobre o sucesso ou não de uma política pública e
sobre sua sustentabilidade ao longo da história.
Nos últimos anos, Kapron e Fialho (2003) afirmam que o processo de elaboração e
implantação de políticas públicas na perspectiva societal, tais como um programa de coleta
seletiva permite a ampliação dos espaços de interação entre Estado e a sociedade organizada,
através da construção de parcerias com instituições governamentais e entidades civis.
Para os autores o conceito de política utilizado aqui se refere institucionalmente ao
Estado, e está restrito à tomada de posição por parte do Estado diante de inúmeras variáveis,
sujeitos e realidades a serem mantidos ou modificados, com vistas a um determinado objetivo.
Esse conceito clássico de política, difundido por Aristóteles, politikós que se refere à
cidade (pólis) e ao público, mas enquanto modo de ação e de funcionamento do Estado, que
se estabelece através da relação de poder entre governantes e governados.
Assim, o tipo de administração que assume o Estado influenciará decisivamente nas
características que identificam a gestão de uma política pública.
Para Rodrik (2002) o Estado possui um papel enorme, mas entende que os arranjos
institucionais têm uma função importante, e descobrir o que funciona no plano local requer
experimentação.
Neste contexto, a análise do papel desempenhado por cada instituição representada
pelo Estado e Sociedade civil organizada identificando e caracterizando sua forma de
participação se faz fundamental para compreender o arranjo institucional criado para a gestão
e o gerenciamento do programa de coleta seletiva.
Com base nesta perspectiva, o objetivo central desta pesquisa é investigar como se
caracteriza e como funciona as relações formadas para gestão e gerenciamento do programa
de coleta seletiva da Região Metropolitana de Belém considerado este como estratégia de
promoção à geração de trabalho e renda, inclusão social e cidadania para as pessoas
envolvidas na gestão integrada dos resíduos sólidos.
Perceber e entender as inter-relações inerentes ao programa – quem são as pessoas que
os compõem, qual sua forma de interação, o que buscam para si – e entre eles e o programa e
a sociedade local e o ambiente urbano.
Para atingir esse propósito, mas sem pretensões de esgotar o tema, que é complexo e
abrangente, foram delimitados os seguintes objetivos específicos: (1) Identificar e analisar o
arranjo institucional preparada para a gestão e gerenciamento do programa de coleta seletiva;
(2) Identificar os desafios e limitações encontrados no planejamento e gestão do programa de
23
coleta seletiva; e, por fim, (3) Caracterizar os impactos ambiental, social e econômico do
programa de coleta seletiva.
Os resultados deste estudo podem apontar várias implicações de ordem teórico-
conceitual e empírica. Em termos teóricos, podem trazer novos elementos conceituais a
respeito da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos em face da realidade
histórica do Estado e da sociedade brasileira. Em termos empíricos, podem apontar para
elementos estruturantes da gestão de políticas públicas necessários para sua sustentação ao
longo da história, no sentido de sua efetividade.
No intuito de atender aos objetivos delineados, o presente estudo está organizado em
cinco partes. Além desta introdução, no segundo capítulo deste trabalho, busca-se
contextualizar e caracterizar a gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos, conceitos e
princípios, como forma de justificar a necessidade de se realizar pesquisas voltadas para
práticas e ações que visem o consumo consciente, a minimização dos resíduos e sua
disposição final ambientalmente adequada, a coleta seletiva e suas modalidades no processo
de gestão e gerenciamento dos resíduos.
Tendo em vista a contextualização supracitada, procura-se no terceiro capítulo
apresentar o estado da arte sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos em Belém. No
quarto capítulo são mostrados todo o procedimento metodológico adotado na condução da
pesquisa. Trata-se de uma abordagem qualitativa, de natureza teórico-empírica que utiliza
como método de pesquisa o estudo de caso. A coleta de dados é dividida em duas etapas: na
primeira etapa, realiza-se a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental; na segunda
realiza-se as entrevistas com os atores-chaves do programa de coleta seletiva. As entrevistas
foram realizadas com membros diretamente envolvidos no programa de coleta seletiva da
prefeitura municipal de Belém, com membros do Ministério Público Estadual, membros da
Organização não Governamental – ONG “No olhar”; membros da Associação de Catadores
da Coleta Seletiva de Belém – ACCSB. A coleta de dados ocorreu no período de janeiro a
março de 2012.
No quinto capítulo, são apresentados e discutidos os resultados da pesquisa.
Inicialmente realiza-se um resgate histórico da origem e institucionalização do programa de
coleta seletiva em Belém. A partir daí, busca-se identificar os principais atores-chave do
programa e as formas de incorporação deles ao programa. Os desafios e limitações gerais
imposto a gestão do programa são identificados e discutidos sob duas perspectivas: no âmbito
das características do próprio programa e no âmbito dos atores-chave envolvidos, em especial,
os catadores da ACCSB. Com base em toda a discussão realizada nos tópicos anteriores, faz-
24
se uma discussão dos principais resultados obtidos com o programa á luz das dimensões
ambientais, socioeconômico e político, tendo como orientador de análise as categorias
utilizadas por Milanez e Teixeira (2001) para os princípios de sustentabilidade urbana
aplicados na gestão dos resíduos sólidos urbanos.
Por último, no sexto capítulo, são apresentados as considerações finais, por meio das
quais os resultados obtidos, ou seja, o alcance e as limitações do presente estudo, são
apresentadas, bem como as sugestões para estudos futuros.
25
2 GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
Nesta seção se apresenta o marco teórico-conceitual da dissertação, visando,
sobretudo, esclarecer sobre a gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos. Para lograr êxito
neste intento, partir-se-á pelos conceitos e princípios de alguns termos-chave como resíduos
sólidos, coleta seletiva, gestão integrada e gerenciamento de resíduos sólidos, em seguida,
faz-se uma síntese da abordagem sobre consumo consciente e a geração de resíduos, após são
apresentados os modelos de gestão e gerenciamento e a seção encerra-se com o panorama da
gestão e o gerenciamento dos RSU no mundo e no Brasil.
2.1 CONCEITOS E PRINCÍPIOS
A partir da década de 1970, resíduos sólidos vem sendo definido por diversos autores.
Para Sewell (1978) o termo lixo é definido como “materiais indesejados pelo homem que não
podem fluir diretamente para os rios ou se elevar imediatamente para o ar”.
De acordo com Girord (1993) o artigo 1 da Lei Francesa nº 75.663 de 17 de julho de
1975, define resíduos sólidos como “todo resíduos de um processo de produção, de
transformação ou utilização, toda substância, matéria, produto, ou mais geralmente, todo bem
móvel abandonado ou que seu proprietário o destina ao abandono”
Para Moreira et al (1994) a Comunidade Econômica Européia (CEE), de acordo com
as diretrizes 75/442 e 78/319, define o lixo como “qualquer substância ou objeto cujo detentor
se desfaz segundo a legislação vigente”.
Mancini (1999) esclarece que o significado do conceito “resíduos sólidos”
corresponde ao que conhecemos popularmente por “lixo”.
Para Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1987) resíduos sólidos são:
resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Em 2010, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, os resíduos
sólidos são materiais, substâncias, objetos ou bens descartados resultantes de atividades
humanas em sociedade, aos quais a destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder.
Podem apresentar-se no estado sólido ou semissólido, gasoso (quando contidos em
recipientes) e líquido (quando apresentem particularidades que tornem inviável o seu
lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções
26
técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível).
Os resíduos sólidos podem ser classificados, quanto à origem em:
a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências
urbanas;
b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e
vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;
c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”;
d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços;
e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico;
f) resíduos industriais;
g) resíduos de serviços de saúde;
h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção civil;
i) resíduos agrossilvopastoris;
j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais
alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;
k) resíduos de mineração.
Reconhecida por ser uma excelente estratégia para desviar resíduos sólidos
domiciliares dos lixões ou de aterros sanitários para um processo de reutilização e/ou
reciclagem, a coleta seletiva impõe desafios.
Entende-se por coleta seletiva3 a coleta de resíduos sólidos previamente segregados
conforme sua constituição ou composição.
O conceito de coleta seletiva, surgiu em 1941, segundo Pieroni apud (MANCINI,
(1999) como sendo “uma separação prévia de materiais que poderiam ser reaproveitados”.
Para Amazonas (1990) coleta seletiva consiste na separação de papéis, metais,
plásticos e vidros na fonte geradora, é uma forma para a segregação dos materiais recicláveis.
Após a coleta tais materiais podem ser classificados por categorias e encaminhados as
indústrias recicladoras.
3 Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos em seu Art. 3º o qual
dispõe sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
27
Segundo Mancini (1999, p. 22) “a coleta seletiva dos resíduos sólidos recicláveis é a
coleta seletiva” embora existam várias definições sobre coleta seletiva, conforme cada autor.
Bringhenti (2004, p. 14) em sua tese de doutorado intitulada “Coleta Seletiva de
resíduos sólidos urbanos: aspectos operacionais e da participação da população” definiu a
Coleta Seletiva como:
A etapa de coleta de materiais recicláveis presentes nos resíduos sólidos urbanos, após sua separação na fonte geradora, seguindo de seu acondicionamento e apresentação para coleta em dias e horários pré-determinados, ou mediante entrega em Postos de Entrega Voluntária (PEV´s), Postos de trocas, a catadores autônomos, sucateiros ou a entidades beneficente.
A resolução CONAMA Nº 275 estabelece um padrão de cores de fácil visualização
para identificar os recipientes e transportadores utilizados na coleta seletiva, a saber: azul –
papel/papelão; vermelho – plástico; verde – vidro; amarelo – metal; marrom – resíduos
orgânicos, entre outros.
Na coleta seletiva tais materiais são separados na fonte geradora – residências,
empresas, escritórios, escolas, comércio, etc. – e são transportados e destinados a reciclagem.
O ideal é a separação prévia dos resíduos conforme sua origem e encaminhados as centrais de
triagem para que possam ser conduzidos as empresas recicladoras e, posteriormente
comercializados, retornando ao processo de fabricação do produto.
A PNRS (2010) define reciclagem por ser “o processo de transformação dos resíduos
sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas,
com vistas à transformação em insumos ou novos produtos”. (BRASIL. LEI 12.305/2010). E
por rejeitos:
os resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. (BRASIL. LEI 12.305/2010).
Por disposição final ambientalmente adequada, a referida política define como sendo
“a distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas
de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos
ambientais adverso”. (BRASIL. LEI 12.305/2010).
Por gestão integrada de resíduos sólidos segundo a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (2010) entende-se como sendo:
28
um conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. (BRASIL. LEI 12.305/2010).
Dentro deste contexto de análise, por Gerenciamento de resíduos sólidos: o conjunto
de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transborda,
tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com Plano Municipal de Gestão Integrada
de Resíduos Sólidos ou com Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
De acordo com a política, o Art. 14 da PNRS, estabelece que são planos de resíduos
sólidos:
I - o Plano Nacional de Resíduos Sólidos; II - os planos estaduais de resíduos sólidos; III - os planos microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas; IV - os planos intermunicipais de resíduos sólidos; V - os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos; e VI - os planos de gerenciamento de resíduos sólidos. (BRASIL. LEI 12.305/2010).
Ressalta-se que em quaisquer dos planos é assegurada ampla publicidade ao seu
conteúdo, bem como controle social em sua formulação, implementação e operacionalização,
incluindo a realização de audiências e consultas públicas.
Do ponto de vista político, os princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
descritos no art. 06, são apresentados abaixo:
I – a preservação e a precaução; II – o poluidor-pagador e o protetor-recebedor; III – a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública; IV – o desenvolvimento sustentável; V – a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta; VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade; VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;
29
IX - o respeito às diversidades locais e regionais; X - o direito da sociedade à informação e ao controle social; XI - a razoabilidade e a proporcionalidade. (BRASIL. LEI 12.305/2010).
A partir da apresentação dos princípios, tem-se a questão prática da avaliação e
medição da sustentabilidade nos programas/projeto e ações relacionados à gestão integrada
dos resíduos sólidos urbanos, como é o caso de programas de coleta seletiva. Este tema
emerge de pesquisas e estudos para definição de critérios.
2.2 CONSUMO CONSCIENTE E A GERAÇÃO DE RESÍDUOS
A crise ambiental que vem sendo vivenciada pelas sociedades humanas em todo o
planeta tem gerado sofrimento, dúvidas e insatisfações. Vivemos uma crise de valores. Os
modelos de felicidade, baseados na capacidade de adquirir bens materiais e na ideia de que os
recursos naturais durariam para sempre, se tornaram um sonho impossível para a maioria da
população. O resultado são sentimentos de frustração e baixa autoestima.
De acordo com Portilho (2004) em uma sociedade capitalista, praticamente, 80% dos
recursos naturais são consumidos por 20% da população e o sucesso é medido pela
quantidade de coisas que se pode ter.
A autora considera que a crise ambiental é uma construção social e que, ao longo do
tempo, houve transições no discurso utilizado para a problematização da questão, conforme
sistematizado a baixo:
a) Até a década de 1970 – os problemas ambientais eram decorrentes do crescimento
populacional;
b) A partir da década de 1970 – os problemas eram decorrentes do impacto da
produção;
c) A partir da década de 1990 – os problemas são decorrentes do impacto do consumo.
A matriz desse problema está no modelo de desenvolvimento adotado em quase todo
mundo ocidental, o qual exibe um padrão exagerado de consumo produzindo uma quantidade
tal de resíduos que a natureza jamais conseguirá absorver ou processar.
Corrobora com esta afirmação, a Organização Panamericana de Saúde (2005) ao
constatar que o modo de vida urbano produz uma diversidade cada vez maior de produtos e de
resíduos que exigem sistemas de coleta e tratamento diferenciados após o seu uso e uma
destinação ambientalmente segura.
30
Sob tais condições, a redução dos milhões de resíduos gerados vem sendo apontada
como um dos maiores desafios da atualidade, uma vez que a geração excessiva de resíduos
sólidos afeta a sustentabilidade urbana e que a sua redução depende de mudanças nos padrões
de produção e consumo da sociedade.
Para Dias (2002) se faz necessário buscar e atingir um novo estilo de vida, baseado
numa ética global, regida por valores humanitários harmonizadores. Para isto, deve-se
contribuir para melhorar o planejamento, o manejo e a geração de políticas publicas capazes
de tornar as cidades menos impactantes e mais agradáveis de viver, conciliando
desenvolvimento com conservação e uso sustentável e equitativo de recursos naturais, com a
decisiva participação das populações locais no processo de gestão.
Para o autor, cidades com manejo eficientes (resourceful city) enfatizam a necessidade
de se reduzir a produção de resíduos, a poluição e os riscos. Busca-se a eficiência no uso de
energia, dos materiais, dos alimentos e da água e promove-se a reciclagem, a reutilização e a
redução de consumo.
Segundo MANCE (2003) o consumo é o momento final do processo produtivo. É em
função do consumo que o processo de produção se organiza atuando na viabilização do lucro
e o acúmulo da mais-valia. O consumo como tal, pode ser analisado como consumo produtivo
(consumo de insumos, energia, etc) para realização de um bem ou serviço, e consumo final,
compreendido como acabamento do produto, fruição do bem ou serviço.
Mance (2003) assevera que o consumo pode ser classificado em quatro classes:
alienado, compulsório, para o bem viver e solidário.
O consumo alienado caracteriza o consumo praticado por influência das semioses
publicitárias. As propagandas movem as pessoas a comprar os produtos, gerando desejos e
fantasias, associando-as a outras coisas, situações ou identidades que as pessoas gostariam de
ter, usufruir ou ser (MANCE, 2003).
O consumo compulsório é aquele que se é obrigado a realizar para satisfazer as
necessidades biológicas, culturais e situacionais e que ocorre quando a pessoa tem pouco
recurso para atendê-lo ou não há alternativas para escolher. Neste caso, busca-se comprar
sempre o que for mais barato, sem preocupar com qualidade, o que interessa é maximizar a
quantidade de produtos com o mesmo dinheiro (MANCE, 2003).
O consumo para o bem viver ocorre quando as pessoas não se deixam levar pelas
armadilhas publicitárias e, optam por produtos e serviços que garantam o seu próprio bem
viver, permitindo sua singularidade como seres humanos (MANCE, 2003).
E por fim, o consumo consciente e solidário é aquele praticado em função não apenas
31
do próprio bem-viver pessoal, mas também do bem-viver coletivo, em favor dos trabalhadores
que produziram aquele bem ou serviço e da manutenção do equilíbrio dos ecossistemas
(MANCE, 2003).
Trata-se de um consumo que ao adquirir um produto ou serviço leva-se em
consideração aspectos solidários e ecológicos em toda a sua cadeia produtiva. Sob esta lógica,
cada ato de consumo passa a ser um gesto de dimensão planetária, que pode tornar o
consumidor um cúmplice de ações desumanas e ecologicamente prejudiciais, afinal, não se
trata somente de considerar o lixo final derivado do consumo – invólucro, embalagens, etc,
mas o impacto ambiental e social do próprio processo produtivo, que pode ser insustentável,
provocando fenômenos não apenas de esgotamento de recursos, como também alterações
prejudiciais aos ecossistemas locais e planetários.
Frente a esta situação, um gerenciamento integrado em todas as etapas de manejo dos
resíduos sólidos urbanos, pode render as comunidades, maior sustentabilidade ambiental e
equidade social.
Segundo Lima (2002), a reversão do atual padrão de desenvolvimento, em direção a
sustentabilidade ambiental, tem no manejo adequado dos resíduos sólidos, um de seus
maiores desafios, sendo que a adoção das práticas de gerenciamento integrado pelas
municipalidades poderia ser a base do processo de enfrentamento do problema.
2.3 DO MODELO TRADICIONAL AS NOVAS PRIORIDADES DA POLÍTICA
NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PNRS
Para Demajorovic (1995) o desenvolvimento da política de resíduos sólidos nos
últimos anos, nos países desenvolvidos, permite identificar três fases distintas.
A primeira fase, que prevaleceu até o início da década de 1970, é caracterizada pela
prioridade em garantir apenas a disposição de resíduos.
32
Figura1 - Modelo tradicional de tratamento de resíduos sólidos.
Fonte: Moore (1989 apud DEMAJOROVIC, 1995), modificado.
Neste modelo, observa-se que o crescimento rápido da exploração dos recursos
naturais e do consumo nos centros urbanos, apresentava, em contrapartida, um aumento
igualmente rápido do volume de resíduos a serem dispostos, um fato decorrente da ausência
de políticas para reduzir a quantidade de resíduos em qualquer das etapas do sistema
produtivo.
Em meados da década de 1970, pela primeira vez, a política de resíduos sólidos
estabelece as prioridades de sua gestão, na seguinte ordem:
Redução da produção de resíduos;
Reciclagem do material;
Incineração com reaproveitamento de energia, e;
Disposição em aterros controlados.
A partir da década 1980, os efeitos dessa política apresentavam-se: de um lado, a
redução da produção de resíduos continuava como retórica, de outro, a promoção da
recuperação e da reciclagem passou a ser prioridade nesta segunda fase (figura 2).
bens / serviços
resíduos
33
Figura 2 - Modelo de gestão de resíduos sólidos incluindo a reciclagem.
Fonte: Moore (1989 apud DEMAJOROVIC, 1995), modificado.
Nesta fase, por meio do incremento da lesgislação e incentivos econômicos estimulou-
se o uso de reciclaveis e ainda, o apoio da população, desenvolvendo-se um mercado rentável,
para os produtos recicláveis. Ademais, para garantia e reaproveitamento dos resíduos, são
estabelecidos novas relações entre consumidores finais e produtores e distribuidores e
consumidores.
Ao final da década de 80 surgiram as críticas ao incentivo apenas ao reaproveitamento
e reciclagem dos resíduos. Percebeu-se que nesse processo não existia vinculação entre
resíduos gerados e fonte geradora. Desta forma, não havia estímulo para redução de resíduos
desnecessário, desde o início do processo produtivo e fosse uma prioridade pela empresas.
A partir da década de 1990, inicia-se a terceira fase, marcada pelo estabelecimento de
novas prioridades do sistema de gestão dos resíduos sólidos.
Nesta fase, a prioridade passa a ser a redução do volume de resíduos já no início do
processo produtivo, continuando nas demais etapas da cadeia produtiva. Este modelo sugere
uma série de alterações no comportamento dos diversos atores envolvidos em todas as etapas
do processo, conforme figura 3.
bens / serviços
resíduos
34
Figura 3 - Modelo de gestão de resíduos sólidos adaptados as novas prioridades da política ambiental.
Fonte: Moore (1989 apud DEMAJOROVIC, 1995), modificado.
São diretrizes desta atual política de resíduos solidos as seguintes prioridades:
a) Evitar ou, quando não for possível, diminuir a produção de resíduos;
b) Reutilizar ou, quando não for posssível, reciclar resíduos;
c) Utilizar a energia presente nos resíduos;
d) Inertizar e dispor os resíduos.
Dentro deste contexto de análise, este sistema incorpora as dimensões de
sustentabilidade, uma vez que evita a produção de determinados resíduos, reaproveita parcela
deste e inertizar-se o restante. E ainda, gerencia a produção de resíduos em todas as fases do
sistema econômico e não apenas se concentra no tratamento e disposição final.
No Brasil somente a partir de 2010 com a publicação da Política Nacional de Resíduos
Sólidos é que se inova ao estabelecer uma nova ordem de prioridade para a gestão e
gerenciamento de resíduos sólidos, qual seja: não geração, redução, reutilização, reciclagem,
35
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
Permite-se ainda a utilização de tecnologias para a recuperação energética dos
resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e
ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos
aprovado pelo órgão ambiental.
Dentre as principais inovações, destaca-se:
a) Responsabilidade Compartilhada;
b) Logística Reversa;
c) Coleta Seletiva;
d) Acordos Setoriais;
e) Planos;
f) Catadores;
g) Resíduos Perigosos (Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos);
h) Áreas Contaminadas;
i) Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR)
A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos é o conjunto de
atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de
manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados,
bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental
decorrentes do ciclo de vida dos produtos.
Para fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, os fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes são responsáveis por:
a) Investir no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos
que possam, após o uso pelo consumidor, ser reutilizados, reciclados ou receberem outra
forma de destinação ambientalmente adequada e que a fabricação e uso gerem a menor
quantidade de resíduos sólidos possível.
b) Divulgar informações sobre as formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos
sólidos dos seus produtos.
c) Recolher os produtos e os resíduos após o uso, bem como dar a destinação final
ambientalmente adequada para os produtos sujeitos ao sistema de logística reversa.
36
d) Participar das ações previstas no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o município, no caso de
produtos ainda não inclusos no sistema de logística reversa.
A logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social
caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a
coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu
ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
No âmbito da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, o titular
dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos é obrigado a:
a) adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos sólidos reutilizáveis e
recicláveis oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;
b) articular com os agentes econômicos e sociais medidas para viabilizar o retorno ao
ciclo produtivo dos resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos dos serviços de
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;
c) realizar as atividades definidas por acordo setorial ou termo de compromisso;
d) implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos orgânicos;
d) estabelecer sistema de coleta seletiva;
e) dar disposição final ambientalmente adequada aos resíduos.
A coleta seletiva é a coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua
constituição ou composição.
Sempre que for estabelecido o sistema de coleta seletiva pelo Plano Municipal de
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e na aplicação do sistema de logística reversa, os
consumidores são obrigados a:
a) acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados;
b) disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para
coleta ou devolução.
O poder público municipal poderá instituir incentivos econômicos aos consumidores
que participam do sistema de coleta seletiva, na forma de lei municipal.
O acordo setorial é um ato de natureza contratual firmado entre o poder público e
37
fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto.
Para sua operacionalização a política prevê como instrumento o incentivo à criação e
ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de
materiais reutilizáveis e recicláveis, tendo como objetivo a integração dos catadores nas ações
que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Assim
sendo, têm–se o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem
econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania.
2.4 A GESTÃO E GERENCIAMENTO DOS RSU NO MUNDO E NO BRASIL
No mundo moderno a produção de resíduos sólidos vem aumentando numa escala
vertiginosa, exigindo soluções conjuntas entre poder publico e sociedade civil para a correta
gestão e gerenciamento desses resíduos.
Para o conjunto de ações voltadas a solucionar os problemas com os resíduos sólidos,
tais como normas, leis e procedimentos sob a premissa do desenvolvimento sustentável
defini-se de gestão integrada e por gerenciamento as etapas de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos.
Para Monteiro et al (2001) a visão moderna de gestão integrada de resíduos sólidos
consiste “no envolvimento de diferentes órgãos da administração pública e da sociedade civil
com o propósito de realizar a limpeza urbana, levando em consideração as características,
culturais e econômicas dos cidadãos e as peculiaridades demográficas, climáticas e
urbanísticas locais”.
Lima (2002) sugere que a gestão integrada de resíduos sólidos deva ser pautada por
quatro áreas pragmáticas, a saber: (1) minimização da geração de resíduos; (2) maximização
do reuso e da reciclagem; (3) promoção do tratamento e da disposição final dos resíduos
sólidos de forma ambientalmente correta; e, (4) maximização da cobertura dos serviços de
limpeza pública urbana.
Os serviços de limpeza pública urbana compreendem a coleta regular dos resíduos
sólidos urbanos, incluindo os resíduos domiciliar, de varrição e comercial, os quais são
atribuições, desde a Constituição de 1988, dos municípios brasileiros.
Monteiro et al (2001) consideram como parte integrante do serviço de limpeza urbana
de um município as etapas de geração, acondicionamento, coleta, transporte, transferência,
38
tratamento e disposição final dos resíduos sólidos, além da limpeza de logradouros públicos.
Assim sendo, define-se gerenciamento de resíduos sólidos como sendo o conjunto dessas
ações exercidas, direta ou indiretamente, de acordo com o plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos4.
Segundo o CEMPRE (2007) o plano de gerenciamento de resíduos sólidos é um
documento que apresenta a situação atual do sistema de limpeza urbana, com a pré-seleção
das alternativas mais viáveis, e o estabelecimento de ações integradas e diretrizes sob os
aspectos ambientais, econômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais e legais para
todas as fases de gestão dos resíduos sólidos, desde a sua geração até a destinação final.
Para Lima (2002) a combinação dessas ações deverá ser feita, no âmbito de cada
município, para encontrar seu próprio modelo de gerenciamento integrado, de acordo com as
condições territoriais, socioeconômicas locais, bem como a composição e a quantidade de
resíduos sólidos gerados.
Nos países desenvolvidos, já vem sendo incentivadas e empregadas estratégias como
“redução na fonte” por meio de processos tecnológicos e por meio da “análise do ciclo de
vida” dos produtos, bem como investimentos em reciclagem, reutilização, tratamento e
destinação final adequados dos resíduos.
Nesses países, a tendência é o tratamento de resíduos em incineradores modernos que
recuperam energia e só ocorre a disposição final dos resíduos em aterros sanitários quando os
mesmos não podem mais ser recuperados.
Ademais, tais países possuem uma política bem definida com determinação de cada
instituição responsável pelas ações no tocante a gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos.
Na Europa, há duas tendências fortes na gestão dos resíduos sólidos: (1) regularização
forte, fruto da organização dos agentes envolvidos e (2) responsabilização da industria pelos
resíduos gerados.
Em Berlim, na Alemanha, existem cerca de 3 mil aterros, entre os quais, cerca de 500
são para resíduos domésticos, e onde as águas são recirculadas. A produção média diária de
resíduos é de 1kg/pessoa/dia. A cidade possui um Fundo Monetário Mensal, onde os recursos
são gastos prioritariamente em ações de administração e programas de Educação Ambiental.
Na Holanda, há parcerias entre os setores público e privado. O primeiro disponibiliza a
infraestrutura e o segundo é responsável pela operacionalização do sistema, sendo controlado
e fiscalizado pelo Estado.
4 Art. 3º da Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos.
39
A cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos, é considerada a capital do lixo por
produzir em média 12 mil toneladas diárias de resíduos, perfazendo cerca de 2 a
3kg/habitante/dia. Os resíduos produzidos na cidade são levados ao aterro próximo da cidade
de Manhattan, considerado uma das maiores obras de engenharia do mundo, embora já esteja
com sua vida útil em fase de esgotamento. Aproximadamente 50% dos resíduos gerados vão
para os aterros, 20 % são incinerados e 25% são reciclados.
De modo geral, a maioria dos países o gerenciamento dos resíduos fica a cargo das
administrações municipais, como ocorre no Brasil, exceto no Japão, onde os governos Federal
e Estadual são responsáveis por analisar, regularizar e fiscalizar o gerenciamento dos
resíduos.
A forma como as questões sobre resíduos sólidos são tratadas no Brasil é reflexo do
descaso ocorrido no passado. Já nos Estados Unidos, onde o consumo é incentivado, os
esforços em busca da redução de resíduos é mais limitado. No entanto, os países europeus
analisados possuem legislação, fiscalização e controle mais aprimorados, adequando-os as
suas metas e cronogramas, os quais são constantemente ajustados, por meio de
acompanhamento e monitoramento periódico.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (ABRELPE), em 2010, o Brasil gerou cerca de 61 milhões de toneladas de resíduos
sólidos urbanos (RSU), o que representa cerca de 378 quilos/habitante/ano. Todavia, tais
resíduos nem sempre recebem o correto destino final. Segundo os resultados da Pesquisa
Nacional de Saneamento Básico de 2008 do IBGE apontam os “lixões” como o destino final
dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios brasileiros. A tabela 1 apresenta o cenário do
destino final dos resíduos sólidos no Brasil.
Tabela 1 - Destino final dos resíduos sólidos, por unidades de destino dos Resíduos (%) - Brasil - 1989/2008.
Aterro controlado1989 88,2 1,12000 72,3 17,32008 50,8 27,7
Destino final dos resíduos sólidos por unidades de destino dos resíduos (%)Ano Vazadouro a céu aberto Aterro Sanitário
9,622,322,5
Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2008.
Da mesma forma, a tabela 2 revela a quantidade de resíduos produzidos pelo estado do
Pará, no ano de 2010, segundo a (ABRELPE).
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Tabela 2 - Quantidade de resíduos produzido no Estado do Pará, em 2010.
PA 5.625 4.579 26,90% 0,881
Estado RSU gerado (t/dia)
RSU coletado (t/dia)
Destinação final adequada
Lixo coletado (kg/hab/dia)
Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE.
No Brasil, os problemas com destinação correta dos resíduos é recente e as situações
distinguem-se de município para município. Se tratando de um problema crescente, não se
torna vantajoso para administração pública a busca por soluções tardias. Entretanto,
nacionalmente, a partir de 1993, a Resolução CONAMA nº 5 de 1993, prevê a implantação do
gerenciamento dos resíduos sólidos obrigatório, o qual mantém o conceito técnico ou
definição técnica de resíduos sólidos previstos na NBR 10.004 da ABNT (1987).
De acordo com a PNRS (BRASIL. LEI 12.305/2010) a responsabilidade quanto ao
gerenciamento dos resíduos sólidos no país podem variar, de acordo com sua origem,
conforme a tabela 3:
Tabela 3 - Responsabilidade sobre os resíduos sólidos conforme origem e classe. Origem Classe Responsável
Domiciliar 1 Prefeitura
Comercial 1 Prefeitura
Industrial 1,2 Gerador do resíduo
Público 1 Prefeitura
Serviço de Saúde 1,2 Gerador do resíduoPortos, aeroportos, terminais ferroviários
1,2 Gerador do resíduo
Agrícola 1,2 Gerador do resíduo
Entulho 1 Gerador do resíduo Fonte: Ambiente Brasil (2010).
Um sistema de gestão e gerenciamento eficiente atua no objetivo de minimizar e
reduzir a geração do lixo na sua fonte. Como estratégia principal, propõe-se ao consumidor os
famosos 3 R´s – 1) reduzir o consumo de itens inúteis, descartáveis que despendam recursos
não renováveis; 2) reutilizar adquirindo produtos usados costumizando-os e 3) reciclar o que
for possível.
41
A partir da ECO 92 a política dos 3R´s foi oficializada e consagrada na Agenda 21
com objetivo de reduzir o impacto ambiental negativo das atividades humanas na busca do
gerenciamento integrado dos resíduos sólidos gerados desde a sua prevenção (redução na
fonte) passando pela reutilização (reuso) e reciclagem (3R´s).
No entanto, no Brasil, apesar da PNRS inovar ao estabelecer uma nova ordem de
prioridades na gestão e gerenciamento dos RSU, na prática os avanços ainda são limitados
em relação a ações voltadas para a minimização da geração dos resíduos, uma vez que a
preocupação maior das administrações municipais está relacionado a destinação final correta
dos resíduos e não na prevenção da poluição gerado por eles, os gráficos 1 e 2 apresentam os
dados nacional, e os dados na Região Norte, Estado do Pará, Região Metropolitana de Belém
e Belém, respectivamente:
Gráfico 1 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo coletado, segundo as grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e municípios das capitais.
Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – IBGE (2010), modificado.
42
Gráfico 2 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo coletado, segundo as grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e municípios das capitais.
Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – IBGE (2010), modificado.
Segundo o IBGE (2010) cerca de 62,6% dos domicílios urbanos brasileiros são
atendidos, ao mesmo tempo por rede de abastecimento de água, rede coletora de esgoto e
coleta de lixo direta, enquanto que 50,8% destina inadequadamente este material em
vazadouros a céu aberto.
A inoperância das administrações municipais, emaranhada por conflitos de interesse e
ou políticos, em melhorar a qualidade dos serviços públicos prestados e com isso, melhorar a
qualidade de vida da população, faz com que os órgãos públicos municipais deixem de buscar
investimentos federais, ou até mesmo, os percam para a implantação de aterros sanitários,
coleta seletiva e usinas de reciclagem, um dos grandes desafios, uma vez que no Brasil, os
serviços de limpeza urbana são de responsabilidade do município.
Na maioria das cidades brasileiras a coleta de lixo é realizada por empresa privada,
sob concessão, subcontratação ou permissão. Outro desafio no setor de limpeza urbana refere-
se a falta de especialista na temática dos agentes envolvidos tanto na prefeitura quanto nas
empresas privadas, os quais são essenciais para o bom funcionamento do sistema.
De acordo com Fritsch (2000) o Departamento de limpeza pública geralmente é
incumbido a uma Secretaria Municipal, o qual é responsável pelos serviços de limpeza de rua,
capina, limpeza de valetas, bocas de lobo, terrenos baldios, bem como pelo saneamento básico
e fiscalização das atividades que envolvem os resíduos sólidos, desde a coleta até a sua
disposição final.
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Esses serviços garantem a manutenção da limpeza das cidades, evitando riscos de
enchentes e minimizando riscos á saúde pública. Podem ainda gerar trabalho e renda e
cidadania as pessoas envolvidas. Por tudo isso, a gestão e o gerenciamento dos resíduos
sólidos urbanos, são tarefas complexas e abrangentes, refletindo na dificuldade da maioria dos
municípios brasileiros em operacionalizá-los, devido a carência de autonomia e recursos.
Neste sentido, a Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece no art. 18. que a
elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é condição para que
o Distrito Federal e os municípios tenham acesso aos recursos da União ou para serem
beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais. Assim, terão prioridades
os municípios que: I - optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos
resíduos sólidos; II - implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou
outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por
pessoas físicas de baixa renda. (BRASIL. LEI 12.305/2010).
O respectivo plano deverá ser elaborado com horizonte de atuação de 20 (vinte anos) e
revisões a cada 4 (quatro anos), sendo que, a administração municipal, tem até agosto de 2012
para elaborar seu plano, respeitando o conteúdo mínimo, que está sintetizado abaixo:
I - diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território, contendo a origem, o volume, a caracterização dos resíduos e as formas de destinação e disposição final adotadas; II - identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente adequada de rejeitos, observado o plano diretor e o zoneamento ambiental, se houver; III - identificação das possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos critérios de economia de escala, a proximidade dos locais estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais; IV - identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos ao plano de gerenciamento ou a sistema de logística reversa, observadas as disposições desta Lei e de seu regulamento, bem como as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS; V - procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotados nos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos; VI - indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos; VII - regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos sólidos, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS e demais disposições pertinentes da legislação federal e estadual; VIII - definição das responsabilidades quanto à sua implementação e operacionalização, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a cargo do poder público; IX - programas e ações de capacitação técnica voltados para sua implementação e operacionalização;
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X - programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos; XI - programas e ações para a participação dos grupos interessados, em especial das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se houver; XII - mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda, mediante a valorização dos resíduos sólidos; XIII - sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses serviços; XIV - metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada; XV - descrição das formas e dos limites da participação do poder público local na coleta seletiva e na logística reversa, e de outras ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; XVI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito local, da implementação e operacionalização dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos e dos sistemas de logística reversa; XVII - ações preventivas e corretivas a serem praticadas, incluindo programa de monitoramento; XVIII - identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos, incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas saneadoras; XIX - periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período de vigência do plano plurianual municipal. (BRASIL. LEI 12.305/2010).
Para isto, um dos instrumentos de incentivo para minimização dos resíduos, está no
processo de recuperação dos materiais recicláveis existentes nos resíduos sólidos urbanos
iniciado com a coleta seletiva.
Para Abreu (2001) a coleta seletiva facilita e estimula a reciclagem, uma vez que os
materiais separados são mais limpos e têm maior potencial de recuperação e, por conseguinte,
de comercialização. Podem ainda representar diversos ganhos para a sociedade na perspectiva
da sustentabilidade urbana quando contribui para geração de trabalho e renda, inclusão social
e cidadania aos catadores envolvidos.
Segundo pesquisa do IPEA (2010) diversos benefícios ambientais foram atribuídos a
reciclagem, entre eles os associados à redução do consumo de energia, uma vez que ao
diminuir a necessidade de intensivas energias para produção de matéria-prima virgem, pode
proporcionar substancial economia de energia para toda sociedade.
Além destes destaca-se os benéficos ligados a redução do consumo de água – ciclo
hidrológico, preservação da biodiversidade e de recursos não madeireiros. Neste caso,
especialmente na produção de aço e papel a partir de matérias-primas virgens que necessita de
intensiva e extensa utilização de áreas de florestas plantadas, diminuindo as áreas de florestas
nativas. A reciclagem possibilita menor área de florestas plantadas com espécies exóticas, o
45
que viabiliza a existência de florestas nativas e, com isso, maior proteção da biodiversidade,
assim como a exploração de recursos não madeireiros de maneira sustentável.
Ainda segundo a pesquisa os autores afirmam:
A interpretação dos benefícios ambientais gerados pela reciclagem é a de que, em termos ambientais, a reciclagem de uma tonelada de cada um dos materiais, ao evitar a produção de uma tonelada do material a partir de matérias-primas virgens, reduziria, pelo respectivo valor, os danos causados ao meio ambiente. Em outras palavras, ao reciclar, a sociedade se beneficiaria por ter um meio ambiente mais limpo, e o valor que se atribui ao bem-estar produzido por isso está refletido (CARLEAL; CRUZ, 2010, p. 20).
Contudo, poucos municípios dispõem de programas de coleta seletiva
institucionalizados em seus sistemas de limpeza pública, geralmente são implantados e
operacionalizados na forma de programa-piloto específico, articulado por organizações não
governamentais e/ou pelo poder publico local.
O ideal e legal é que os programas de coleta seletiva sejam parte integrante do Plano
de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos, no entanto, a coleta seletiva vem
sendo gradativamente implantada em diversos locais, tais como: condomínios, clubes,
escolas, empresas, entre outros.
Seguindo as orientações do CEMPRE (2007), um programa de Coleta Seletiva pode
ser sistematizado nas seguintes fases: (1) Diagnóstico; (2) Planejamento; (3) Implantação; (4)
Operação e Monitoramento; (5) Análise de benefícios.
No tocante a modalidade de coleta, o CEMPRE aponta para quatro tipos:
a) Coleta porta-a-porta – veículos coletores diferenciados percorrem os domicílios em
horários e dias específicos;
b) Posto de Entrega Voluntário (PEV) – Contêineres ou pequenos depósitos dispostos
em pontos fixos nos bairros, onde as pessoas depositam espontaneamente os recicláveis no
local apropriado;
c) Posto de Troca – consiste na troca de materiais recicláveis por bens ou benefícios; e,
d) Coleta com a participação dos catadores – consiste na utilização do trabalho dos
catadores organizados em cooperativas ou associação, bem como os catadores autônomos,
apoiados pelo poder público ou não, os quais recolhem os materiais recicláveis dispostos em
via pública, segregado ou não, oriundo de domicílios, ou estabelecimentos comerciais ou
empresas doadoras, utilizando-se de carrinhos de tração manual ou de transporte veicular.
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Esta modalidade pode ser subdividida em:
a) Coleta Seletiva feita com carrinhos de tração manual: consiste no trabalhador
autônomo atuando de forma isolada ou em pequenos grupos familiar e vende seu
produto a sucateiros diariamente; e,
b) Coleta Seletiva realizada por organização de trabalhadores da Reciclagem: consiste
em um grupo de trabalhadores da reciclagem organizados sob a forma de cooperativa
ou associação visando garantir melhores condições de trabalho e renda para todos.
Neste contexto, para Dias (2001) aos poucos as administrações municipais brasileiras
têm adotado o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos fomentando a inclusão social de
catadores, até mesmo de catadores presente nos lixões, e articulado um conjunto de ações
normativas e operacionais para coletar, separar, tratar e dispor os resíduos sólidos.
Quando isto acontece, geralmente, a prefeitura disponibiliza recursos logísticos
(galpão de triagem, equipamentos e material) necessários para operacionalização do sistema
de coleta, triagem, beneficiamento e comercialização dos materiais recicláveis promovendo,
assim, trabalho e renda aos catadores organizados.
Nas modalidades Posto de Entrega Voluntária e Posto de Trocas – periodicamente o
material recolhido é transportado para o galpão de triagem da cooperativa ou associação de
catadores organizados para posterior beneficiamento e comercialização.
Na modalidade de Coleta Seletiva por Organizações de Trabalhadores da Reciclagem
o material doado e coletado é transportado ao galpão de triagem, beneficiado e
comercializado pela própria cooperativa ou associação, sem interferência do Poder Público.
Desta forma, o CEMPRE em seu guia de gestão de resíduos sólidos sugere que para
planejar e estabelecer um programa de coleta seletiva se faz necessário analisar os vários
aspectos identificados no diagnóstico da situação atual com vistas a escolher, entre os vários
tipos de programas existentes, o que melhor se adapta ao município.
Dependendo da estratégia de programa a ser adotada, a população pode ser orientada
sob a forma de segregação a ser utilizada: segregar os resíduos na fonte, acondicionando-os
por cada tipologia específica (plástico, metal, vidro, papel, orgânico) ou por grupos de
materiais (materiais recicláveis e demais resíduos, incluindo o orgânico).
Para tanto, é importante que nos programas de coleta seletiva sejam considerados
ações e/ou projetos de Educação Ambiental, os quais devem privilegiar soluções voltadas à
conscientização e educação da comunidade estimulando a adoção de princípios e atitudes
47
visando à minimização da geração de resíduos na perspectiva da sustentabilidade urbana.
No tocante ao cenário de operacionalização dos Programas de Coleta Seletiva no
Brasil, embora, a questão ambiental esteja amplamente difundida pelos grandes meios de
comunicação, a maior parte das iniciativas e ações de Coleta Seletiva é informal.
No Estado do Pará, segundo pesquisa da CICLOSOFT, realizada em 2010 pelo
Compromisso Empresarial para a Reciclagem – CEMPRE apenas a cidade de Belém, dentre
os municípios da Região Metropolitana de Belém desenvolve o Programa.
O Governo Federal, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano – SEDU
contratou um estudo intitulado “Avaliação Técnico-Econômica e Social de Sistemas de Coleta
Seletiva de Resíduos Sólidos Urbanos existentes no Brasil”. (SEDU, 2002).
De acordo com o estudo, realizado em 2002, pelos pesquisadores da PUC-PR/ISAM
verificou-se que a maioria dos programas em execução tratava-se de experiências-piloto com
iniciativas pontuais organizadas pelo poder público, iniciativa privada, ONG´s, associação de
moradores, ou desenvolvidas em escolas, condomínios, bairros e empresas.
A pesquisa identificou que, na maior parte dos municípios os programas/projetos de
coleta seletiva existente, os dados referenciais e estatísticos encontram-se dispersos e não
sistematizados e ainda que o conceito de programa de coleta seletiva integrado ao sistema de
limpeza pública urbana, conforme estabelece a legislação vigente é incipiente e tais
programas/projetos atendem apenas parcialmente a população local.
Corrobora com esta informação, o CEMPRE (2010) ao afirmar que os
programas/projetos de coleta seletiva em exercício atendem menos de 10% do município.
Foi examinado no estudo da SEDU que o pessoal envolvido com a coleta seletiva
desconhece o custo unitário da tonelada dos materiais recicláveis de sua região devido ao
elevado custo de operação da coleta, ao mercado oscilante para comercialização dos materiais
recicláveis triados e à sua qualidade insatisfatória.
Constataram a falta de estudos mais detalhados sobre a caracterização dos resíduos
sólidos urbanos e, consequentemente, dos recicláveis.
Nos resultados do estudo foi observado ainda que a mão de obra informal dos
catadores seja a grande força motriz da coleta seletiva. Já a coleta seletiva por meio de PEV´s,
as quais depende da participação efetiva da população para a doação dos materiais recicláveis,
ainda está pouco difundida e consolidada no País.
A respectiva pesquisa identificou que os principais problemas relacionados à coleta
seletiva referem-se a: (1) depredação dos recipientes de coleta; (2) falta de veículo apropriado
para a coleta; (3) separação deficitária entre material passível de ser reciclável e demais
48
resíduo, inclusive o orgânico; (4) apresentação dos resíduos para a coleta em horários
inadequados; (5) custo elevado na operacionalização do programa.
O Guia do CEMPRE (2007) aponta alguns fatores que contribuem para o pequeno
índice de sucesso nos programas de coleta seletiva, entre eles: (1) alto custo da coleta seletiva
para as municipalidades; (2) falta de um sistema corretamente dimensionado em termos de
capacidade de armazenamento e processamento de resíduos nas unidades de triagem; (3)
existência de mercado para o material segregado; e, (4) a credibilidade que deve ser mantida
no sistema de coleta.
Zaneti e Sá [2003] ao analisarem o panorama da coleta seletiva no Brasil identificaram
que os programas/projetos implantados pelo poder público restringem-se aos aspectos
técnicos do sistema de gestão, descuindando-se das dimensões ambientais, sociais, políticas e
educacionais instrumentos básico na busca da sustentabilidade na gestão dos resíduos sólidos
urbanos.
Milanez e Teixeira (2001) propuseram um grupo de princípios de sustentabilidade
específico para a gestão dos resíduos sólidos urbanos, entre eles destaca-se, conforme quadro
1 abaixo:
Quadro1 - Princípios de sustentabilidade aplicados a gestão dos RSU.
VARIÁVEIS DE
ANÁLISE DESCRIÇÃO
Universalização dos
serviços
Todas as pessoas devem ser atendidas pelo sistema publico de gestão de
resíduos sólidos urbanos
Integração dos
aspectos econômicos,
ambientais e sociais na gestão
dos resíduos sólidos urbanos
aplicação das dimensões econômicas, ambientais e sociais no momento do
planejamento, tomada de decisão, intervenção e controle do sistema de gestão
Cooperação e
consórcio
soluções pautadas na gestão compartilhada, assim as administrações públicas
municipais devem procurar agir em parceria com outros municípios e principalmente
com as demais organizações da sociedade civil e a população em geral.
Adequação das
tecnologias à realidade local
Soluções tecnológicas, tanto em relação a equipamentos quanto a processos e
sistemas devem ser adequadas a realidade local considerando aspectos sociais,
educacionais, financeiros, entre outros.
Gestão Participativa pautada na transparência do processo de gestão, o qual deve ser aberto à
população e aos demais agentes sociais de forma participativa
Democratização da
Informação
Esclarecimento e orientação acerca das questões dos Resíduos sólidos
urbanos, incluindo as dimensões ambientais, de saúde humana, consumo e desperdício
Garantia de condições Trata-se da atenção especial a ser dada pelos dirigentes dos programas de
49
adequadas de trabalho gerenciamento de resíduos sólidos quanto às condições de trabalho oferecidas aos
trabalhadores, em geral, catadores, tais como: segurança, ergonomia e valorização do
trabalho.
Geração de Trabalho
e Renda
As atividades de recuperação de materiais dos RSU devem ser apoiadas pelo
poder público dando prioridades as iniciativas de cooperativismo ou associativismo e,
por conseguinte, promover a geração de trabalho e renda aos catadores envolvidos
Preservação dos
recursos naturais
deve-se buscar a redução da geração dos resíduos na fonte. O Poder público
através de programas deve priorizar a recuperação dos materiais ou energia presente
nos resíduos sólidos urbanos antes de sua disposição final
Previsão dos impactos
socioambientais
Em cada etapa do sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos, desde a
coleta até sua disposição final, deverão ser avaliados os impactos sociais e ambientais
gerados na população e meio ambientes local.
Recuperação de áreas
degradadas pela gestão
incorreta dos resíduos sólidos
urbanos
deve-se investir na correção das ações negativas geradas no sistema de gestão
a dos resíduos sólidos urbanos.
Poluidor-pagador
trata-se da co-responsabilidade pela gestão dos resíduos sólidos urbanos
sendo assumidos pelos seus geradores, inclusive a população, de forma a adquirir a
efetiva consciência ambiental na busca da sustentabilidade urbana
Fonte: Milanez; Teixeira (2001 apud BRINGHENTI, 2004).
50
3 GERENCIAMENTO DOS RSU EM BELÉM
3.1 PRODUÇÃO DE LIXO EM BELÉM
De acordo com o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos do Município de
Belém – PGRS (BELÉM. PM, 2011), a cidade produz aproximadamente 908 ton/dia de
resíduos sólidos, incluindo resíduos oriundos de coleta domiciliar, feiras e mercados,
comercio e resíduos hospitalares, o que representa uma produção de aproximadamente 651
gramas/habitante/dia. Estes resíduos são oriundos dos 08 distritos administrativos de Belém,
de acordo com a divisão política administrativa conforme lei nº 7.682/94.
Ainda segundo o PGRS (BELÉM. PM, 2011), deste 908 toneladas coletadas
diariamente em Belém, estima-se que entre 10 e 15%, são proveniente das feiras e mercados e
distritos administrativos, pois em muitos casos são coletados juntamente com resíduos
domiciliares na área a qual a feira esta instalada.
A média mensal de resíduos gerados nos domicílios de Belém é de aproximadamente
11.280,00 toneladas, que representam cerca de 42% de todo o lixo gerado na cidade de
Belém.
Segundo REVITA (2011), estima-se que em 2010 na Região Metropolitana de Belém
(RMB) foram produzidos cerca de 1.764 ton/dia de Resíduos Sólidos Domésticos. O gráfico 3
apresenta a média de resíduos sólidos domésticos gerados na RMB em 2010. Da mesma
forma, o gráfico 4 representa a contribuição em porcentagem de cada município da região
para a geração desses resíduos.
51
Gráfico 3 - Estimativa de volume de resíduos sólidos domésticos gerados por município da RMB em 2010.
Fonte: EIA/RIMA - Central de Processamento e Tratamento de Resíduos Classe II, Marituba - RMB/PA (CPTR) - AMPLA Projetos e Serviços em Meio Ambiente Ltda.
Gráfico 4 - Estimativa da contribuição de cada município na geração dos resíduos sólidos domésticos na RMB em 2010.
Fonte: EIA/RIMA - Central de Processamento e Tratamento de Resíduos Classe II, Marituba - RMB/PA (CPTR) - AMPLA Projetos e Serviços em Meio Ambiente Ltda.
52
3.1.1 Resíduos sólidos domiciliares
3.1.1.1 Coleta regular
Os serviços de Limpeza Urbana no município de Belém é administrado pela Prefeitura
Municipal de Belém através da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN que além
desta, tem como atividades a drenagem, pavimentação e educação ambiental, visando à
melhoria da qualidade de vida.
Desta forma, o sistema de limpeza urbana é de competência do Departamento de
Resíduos Sólidos situado junto a avenida Alcindo Cancela, 2631 – Cremação, cujas as
atribuições são as seguintes:
coleta seletiva de lixo;
coleta de entulho e de lixo domiciliar porta a porta;
limpeza mecanizada através de contêineres;
serviços de limpeza urbana, como limpeza, varrição manual e desobstrução de
vias;
abertura de valas;
capinação e raspagem de vias e logradouros;
limpeza de canal;
desobstrução do sistema de drenagem urbana;
acondicionamento e destino final dos resíduos das feiras livres;
aplicação do Código de Posturas do Município;
educação ambiental;
gerenciamento do Aterro Sanitário do Aurá e aterramento com entulho de áreas
de cota baixa.
De acordo com os dados do IBGE (2010) a coleta de lixo domiciliar é feita
regularmente pela SESAN, com cobertura de 97% dos domicílios. Os 3% restantes dizem
respeito, por exemplo, aos resíduos jogados em terrenos baldios e ao material lançado às
margens dos canais este último, aliás, é um dos principais problemas enfrentados pela
Secretaria, para manter a cidade limpa. Os próprios moradores dessas áreas despejam entulhos
(por exemplo, sofá velho e restos de construção) às margens dos canais, incentivando outras
pessoas a depositarem também o lixo domiciliar nesses locais, o que prejudica bastante a
limpeza da cidade.
53
Atualmente, segundo o PGRS (BELÉM. PM, 2011) o serviço de coleta de lixo
domiciliar obedece 108 roteiros, ocorrendo em dias alternados, nos períodos noturno e diurno,
sendo feita de porta em porta. O transporte do lixo é realizado através de duas empresas
contratadas/terceirizadas (Belém Ambiental e Terraplena), que contam com um total de 46
caminhões equipados com coletor-compactador.
A empresa Terraplena realiza a coleta dos resíduos domiciliares nas áreas centrais de
Belém denominada de lote 1. e no Distrito Administrativo de Mosqueiro. Já a Empresa Belém
Ambiental realiza a coleta dos resíduos domiciliares nos distritos administrativos de Icoaraci e
Outeiro, nos conjuntos habitacionais ao longo da Av. Julio Cezar e Rod. Augusto Montenegro
e seus entorno, denominada de lote 2.
A frequência da coleta foi planejada pela SESAN e DRES (departamento de resíduos
sólidos), tendo a seguinte configuração para os 108 roteiros de coleta:
23 roteiros pares - 2ª, 4ª e 6ª / diurno;
24 roteiros ímpares – 3ª, 5ª e sábados / diurno;
11 roteiros diários – diurno;
27 roteiros diários – noturno; e
23 roteiros com polinguindastes (containers de 7 m³).
Segundo informações da SESAN a varrição e a coleta do lixo, no centro comercial,
são feitas diariamente, no período noturno. O serviço é realizado à noite por causa do intenso
fluxo de pessoas e de veículos nessa área. A SESAN estima que de 20 a 22 toneladas de
resíduos sólidos são retiradas diariamente do centro comercial.
Na área comercial, o serviço de varrição só é realizado após o fechamento do centro
comercial de Belém, às 19h, os quais equipes de varrição e coleta de lixo e entulho começam
a limpeza das estreitas ruas do bairro da Campina e que segundo o Departamento de Resíduos
Sólidos (DRES) da Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN), o acúmulo de lixo ocorre
logo após a limpeza das respectivas vias.
3.1.1.2 Coleta seletiva
O projeto de coleta seletiva em Belém iniciou em 1996 a partir do Projeto de
Biorremediação do Aterro Sanitário do Aurá que objetivava a minimização dos impactos
ambientais negativos sobre o ecossistema, solo e recursos hídricos, bem como promover a
54
organização dos catadores que viviam totalmente excluídos da sociedade.
Mediante toda a desordem que se encontrava, foi desenvolvido o Projeto de
Desenvolvimento Humano da Comunidade do Aurá, que teve como meta erradicar a presença
de catadores na prática da catação de materiais reaproveitáveis sobre os resíduos na área do
aterro, a figura 4 representa a situação dos catadores á epoca.
Figura 4 - Catador na prática da catação dentro da área do aterro do Aurá em 1996.
Fonte: SESAN/PMB.
Em 1997, foram cadastrados 608 catadores que trabalhavam em condições sub-
humana sendo esta a única atividade que lhes da acesso a uma renda mínima para sobreviver
com sua família. Naquela época, os materiais mais utilizados eram água mineral, latinha, ferro
e um plástico conhecido como “Qboa”.
Nos anos de 1998 e 1999, por mudanças políticas não houve continuidade nas ações
desenvolvidas por este projeto, ficando o mesmo em stand by.
Somente a partir do ano 2001, foi criada a Cooperativa de Trabalhadores Profissionais
do Aura (COOTPA), com objetivo de organizar os trabalhadores autônomos que atuavam no
Complexo do Aurá, afim de promoverem melhoria na situação socioeconômica objetivando
também prestar serviços aos seus cooperados proporcionando-lhes um maior ganho financeiro
por meio da comercialização dos materiais recicláveis, bem como encaminhar os catadores
para empresas recicladoras que solicitam os serviços dos profissionais dos Aurá.
No entanto, dos 608 catadores cadastrados pela SESAN, apenas 18% estavam
55
vinculados a COOTPA, que por questão política da administração não conseguiu absolver a
mão de obra dos catadores, a figura 5 apresenta os catadores afiliados da COOTPA.
Figura 5 - Catadoras da Cooperativa de Trabalho dos Profissionais do Aurá.
Fonte: SESAN/PMB.
Em 2003, o programa de coleta seletiva da Prefeitura Municipal de Belém, através a
Secretaria Municipal de Saneamento, lança um projeto piloto abrangente aos bairros de
Campina, Umarizal, Nazaré e Reduto, com doação de contêineres e instalação de Pontos de
Entrega Voluntária - PEV’s em logradouros públicos com objetivo de recolher materiais
recicláveis a partir da separação e disposição final adequada dos mesmos pela população dos
vários logradouros desses bairros em Belém.
Entretanto, segundo a SESAN, a experiência não foi exitosa, porque os PEV’s foram
utilizados de maneira indevida, os resíduos não eram selecionados antes de sua disposição
final nos PEV’s, a população não se encontrava satisfatoriamente preparada nem estimulada
para realizar a separação adequada dos resíduos domésticos gerados, bem como para depositá-
los adequadamente nas diferentes tipologias de coletores conforme os tipos de materiais
gerados. Além disso, muitos equipamentos foram danificados e/ou extraviados (contêineres e
placas educativas), houve grande ocorrência de pontos críticos de resíduos nas proximidades
dos PEV’s.
De acordo com a SESAN os conjuntos de coletores, foram instalados em vias públicas
nos bairros sem qualquer fiscalização, nem orientação junto à população sobre as diferentes
56
tipologias conforme a Resolução CONAMA Nº 275 estabelece.
Foram encontrados nos jogos de Coletores de PEV´s resíduos de toda ordem, tais
como: lixo patológico, animais mortos, entulhos e demais resíduos diversos menos os
esperados materiais recicláveis capazes de favorecer os catadores recém saído do aterro uma
vez que o objetivo central do programa era a geração de trabalho e renda e inclusão social ao
catador.
Em 2006, foram retirados todos os jogos de PEV´s distribuídos pela cidade. A partir
daí, houve uma nova caracterização do projeto e os jogos de coletores de PEV`s foram
redirecionados para novas instituições parceiras, tais como: condomínios, escolas e demais
instituições que tivessem afinidade aos objetivos do programa. Neste período o grupo de
catadores que realizam coleta em Belém, foi excluído pela COOTPA que devido a má
administração foi extinguida, sendo necessário criar uma nova associação a Associação de
Catadores da Coleta Seletiva de Belém - ACCSB.
No ano de 2007, iniciou-se o programa de coleta seletiva na modalidade porta-a-porta
por meio dos “carrinhos de metalon” nos bairros do Umarizal e Nazaré, contando com o apoio
de diversos parceiros de instituições públicas e privadas, conforme a figura 6.
Figura 6 - Catadores (as) da ACCSB coletando material com carrinhos de metalon.
(a) (b)
Fonte: SESAN/PMB.
No entanto, segundo a SESAN, faltam equipamentos adequados necessário para o
beneficiamento dos materiais recolhidos de modo a dar rentabilidade e sustentabilidade para a
manutenção dos catadores envolvidos e suas famílias. Além disso, não há barracão de triagem
adequado para a expansão do projeto. Esta experiência com início em 2007, embora sua
descontinuidade nos anos de 2008 e 2009 por motivos políticos retornou a operar em 2010
57
sendo este o modelo atual de projeto desenvolvido na RMB, além das doações de materiais
recicláveis gerados em instituições públicas e privadas
Neste momento, está sendo construído um galpão de triagem, no canal São Joaquim
com financiamento da Caixa Econômica Federal e BNDS no âmbito do Programa de
Aceleração do Crescimento - PAC 2012.
Atualmente, o projeto é desenvolvido pela ACCSB por meio da coleta dos materiais
gerados e doados por empresas, condomínios, hospitais, exército e demais instituições
parceiras mediante assinatura do Termo de Compromisso entre a instituição doadora e a
Associação de Catadores de Coleta Seletiva de Belém.
O projeto se desenvolve sistematicamente, iniciando, por ações de Educação
Ambiental realizada pelos Educadores Ambientais da Prefeitura junto à população atendida.
Posteriormente, os educadores agendam o dia do “Lançamento da Coleta Seletiva” para neste
momento os catadores junto com os educadores se apresentarem e interagirem junto a
população local.
Figura 7 - Equipe de educadores ambientais da SESAN/ PMB.
Fonte: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.
58
Figura 8 - Equipe de educadores ambientais da SESAN/ PMB.
Fonte: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.
3.1.2 Disposição final dos resíduos
A área do Aterro Controlado do Aurá, arrendada pela Prefeitura Municipal de Belém,
localiza-se as margens do Rio Aurá, comunidade de Santana do Aurá, entre as coordenadas
UTM 790.450-W e 791.500- E; 9.844-500-N e 9.842.000-N, nos limites dos Municípios de
Belém e Ananindeua.
59
Figura 9 - Localização do aterro do Aurá.
Fonte: Google Earth, 2011.
Segundo PGRS (BELÉM. PM, 2011) estima-se que sejam depositados no Aterro
Sanitário do Aurá três milhões e duzentas mil toneladas de resíduos (PIRATOBA
MORALES, 2002), distribuídos em 10 Células. A taxa de recebimento diária de resíduos é da
ordem de 1.900 toneladas, sendo:
a) 1.300 ton/dia de resíduos domésticos;
b) 600 ton/dia de resíduos advindos da construção civil.
Ainda de acordo com o PGRS de Belém (2011) o Aterro Controlado do Aurá recebe,
além dos resíduos gerados em Belém, resíduos dos municípios de Ananindeua e Marituba,
distribuídos em 908 ton/dia provenientes de Belém e o restante, cerca de 392 ton/dia, dos
outros dois municípios.
60
Figura 10 - Localização do aterro do Aurá.
Fonte: Google Earth, 2011. Figura 11 - Aterro controlado do Aurá.
Fonte: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.
61
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 METODOLOGIA DE PESQUISA
Analisando o conjunto de informações citadas nos capítulos anteriores, as quais
fundamentaram a problemática a ser diagnosticada neste estudo, optou-se pela metodologia de
investigação qualitativa realizando os seguintes passos que conforme Deslandes e Minayo
(2011) pode ser dividido em três etapas: (1) fase exploratória; (2) trabalho de campo; (3)
análise e tratamento do material empírico e documental.
Seguindo as etapas sugeridas, inicia-se com uma explanação acerca da natureza da
abordagem empregada e do método de investigação adotado. A seguir, foca-se na análise
empreendida, o que envolve a escolha do objeto e da definição do problema da pesquisa. Na
sequencia, apresento os procedimentos utilizados para definição e seleção da amostra, dos
métodos de coleta de dados, e por fim, as técnicas aplicadas na análise das informações
obtidas.
4.1.1 Natureza e método de investigação
A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho está fundamentada em uma
abordagem qualitativa de natureza teórico-empírica. Para Deslandes e Minayo (2011, p. 21)
“a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, pois trabalha com o universo
dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”.
A autora afirma ainda que a pesquisa qualitativa preocupa-se com a compreensão
interpretativa da ação social. Desta forma, a abordagem qualitativa atua levando em conta a
compreensão, a inteligibilidade dos fenômenos sociais e o significado e a intencionalidade
que lhe atribuem os atores.
Deslandes e Gomes (2004) observam que a abordagem qualitativa ancora-se em
diferentes bases disciplinares, metodológicas e paradigmáticas, formando um conjunto de
atividades interpretativas que podem ser atravessadas por conflitos e tensões.
Neste contexto, a pesquisa qualitativa mostrou-se a mais apropriada ao tipo de
investigação utilizado neste trabalho, por entender que o mesmo pode viabilizar o
aprofundamento das questões na busca de compreender a complexidade que envolve a gestão
de uma política pública, seu contexto de atuação e a interação dos diferentes atores envolvidos
no seu processo de implantação.
62
O método de pesquisa adotado é o estudo de caso, classificado por Deslandes e
Minayo (2011) como um tipo de pesquisa exploratório e descritivo e visam a aumentar o
entendimento sobre fenômenos sociais complexos.
Para Stake (1994) o estudo de caso não representa uma escolha metodológica, mas a
seleção do objeto a ser estudado. O referido autor, afirma que se tratando de forma de
pesquisa, o estudo de caso, é definido pelo interesse em casos individuais e não pelos métodos
de investigação aplicados.
Alencar (2007, p. 59) assevera que o caso poder ser, entre outros, “um programa, um
projeto em que está envolvida uma pluralidade de atores sociais de distintas organizações,
desempenhando diferentes ações”.
De acordo com Minayo; Assis e Souza (2005) as questões principais para o desenho
do estudo de caso são: definição do foco de análise; determinação do problema; determinação
da unidade de análise e estabelecimento de critérios para a interpretação de dados.
Para autora os instrumentos mais usados nesse tipo de pesquisa são documentos
escritos e o material primário coletado em campo e aconselha a construir uma base de dados
ao longo da investigação formando uma cadeia de evidencias relevante. Estes cuidados seriam
para minimizar a pouca probabilidade de generalizações dos resultados, críticas mais
frequentes a este tipo de estudo.
Assim sendo, neste trabalho os instrumentos utilizados foi uma associação dos
documentos escritos comprobatórios disponibilizados pela base de dados da Prefeitura
Municipal de Belém através da Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN), Departamento
de Resíduos Sólidos (DRES) e da Associação de Catadores da Coleta Seletiva de Belém
(ACCSB), juntamente com a pesquisa de campo, por meio de entrevistas junto aos atores-
chave do Programa.
4.1.2 Foco de análise
Seguindo as orientações de Minayo; Assis e Souza (2005) o processo de pesquisa
inicia-se com a escolha do objeto de estudo e definição do problema da pesquisa. Flick (2009)
ressalta que a relevância do tema da pesquisa constitui um fator determinante na escolha do
objeto de estudo. Neste sentido, procurou-se focalizar o contexto da gestão e gerenciamento
dos resíduos sólidos urbanos como espaço onde se desenvolve a política pública em análise.
A escolha desse contexto ocorreu em função da importância socioeconômica e
ambiental que os resíduos sólidos assumem diante das históricas desigualdades de acesso aos
63
serviços públicos que marcam profundamente a sociedade no Brasil, bem como do grande
interesse da pesquisadora pela temática.
O foco na gestão da política pública refere-se à influência e ao impacto que ela pode
causar sobre os resultados. De acordo com Frey (2000) a análise de políticas públicas envolve
três dimensões (institucional, processual e material) os quais se entrelaçam entre si
influenciando na realidade política. Para o autor “há evidências que não deixam dúvidas de
que à interdependência entre os processos e os resultados das políticas”. (FREY, 2000 p. 219).
Do mesmo modo, pode-se dizer que a gestão da política tem responsabilidade sobre o
sucesso ou não de uma política pública e sobre seus respectivos desdobramentos.
Com intuito de atingir o objetivo geral desta pesquisa buscou-se primeiramente
identificar e analisar o arranjo institucional Estado-Sociedade preparado para a gestão do
programa de coleta seletiva, uma vez que tal informação permite conhecer o conjunto de
atores, instituições e parceiros envolvidos na gestão da política, compreendendo-a. Com a
análise do arranjo institucional juntamente com a identificação e analise dos desafios e
limitações encontrados a ser enfrentado no processo de implantação de políticas públicas,
(segundo objetivo proposto), mostrou-se essencial ao entendimento das principais
características do tipo de gestão adotado e seus respectivos resultados ambientais, sociais e
econômicos do programa de coleta seletiva - último objetivo que se pretende alcançar, a fim
de levantar elementos teóricos e empíricos que possam contribuir para o debate acerca das
possibilidades da gestão participativa empreendida, essenciais para sua efetivação e
sustentabilidade.
4.1.3 Definição da população e universo da pesquisa
Malhotra (2006, p.321-324) considera que a definição da população a ser estudada
refere-se “a coleção de elementos ou objetos que possuem a informação procurada pelo
pesquisador e sobre as quais devem ser feitas as inferências”.
Assim sendo, para este estudo estabeleceu-se para o universo inicial da pesquisa como
sendo o conjunto de atores-chaves diretamente envolvidos na gestão do programa de coleta
seletiva.
Com base nessas informações, foi definido que o universo inicial da pesquisa deveria
ser composto pelos seguintes grupos, a saber: (1) Membros das organizações governamentais:
Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN; Ministério Público Estadual – MPE; (2)
Membros das organizações não-governamentais (ONG “No olhar”); Associação de Catadores
64
de Coleta Seletiva de Belém – ACCSB.
A seleção dos membros da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN
entrevistados ocorreu por indicação da própria SESAN. Além do Secretário da SESAN em
exercício foram entrevistados mais dois membros da equipe, que segundo a SESAN, são
pessoas diretamente envolvidas na gestão do Programa. No tocante ao Ministério Público
Estadual foram entrevistados todos os membros promotores de justiça que compõem a
procuradoria de meio ambiente do Ministério Público o que compreendeu um universo de três
representantes. Em relação a Organização não-governamental (ONG “No Olhar”) foi
entrevistada a coordenadora de projetos da instituição. A referida ONG foi selecionada dentre
as demais devido ao seu reconhecido trabalho desenvolvido junto a população local no âmbito
da temática dos resíduos sólidos. Para a Associação de Catadores de Coleta Seletiva de Belém
– ACCSB, procedeu-se a entrevista com um representante de cada grupo distribuídos na
associação, que abrangeu um total de três grupos e por conseguinte, três entrevistas.
4.1.4 Procedimentos para coleta dos dados
A fase de coleta de dados foi dividida em duas etapas. Primeiramente, foi realizado o
levantamento dos dados secundários existente sobre o assunto. Nesta fase, as principais
técnicas de pesquisa utilizadas foram a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental.
Para Godoy (1995a) a pesquisa documental constitui-se como uma valiosa técnica de
pesquisa qualitativa que aplicada a outras técnicas de pesquisa as complementa-a.
Portanto, a pesquisa teve início com o levantamento da bibliografia pertinente ao
assunto (livros, artigos, dissertações e teses), seguido da seleção dos documentos a serem
analisados. Tal levantamento foi realizado em bases de dados eletrônicas disponibilizadas no
Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e no
Banco de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT), em base de dados oficiais, tais como, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA), Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE), Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), e em diversas publicações impressas sobre o assunto. A partir
daí, foi procedida uma leitura minuciosa e o fichamento de todo o material coletado a fim de
construir a discussão pretendida.
A pesquisa documental foi realizada em documentos oficiais, projetos e publicações
disponibilizados pela SESAN. Os principais documentos analisados foram: Editais, Termos
de Parceria, Atas de reuniões, Jornais, Relatórios de Projetos e demais publicações
65
disponibilizadas pela SESAN. Entretanto, apesar dos esforços empreendido em reunir tais
documentos para análise, faz-se necessário registrar a ausência de relatórios sistematizados,
bem como de um banco de dados digitalizado na SESAN.
Na segunda etapa, a fim de dar sustentação aos argumentos teóricos bem como
complementar as informações obtidas na fase anterior e coletar informações que não foram
possíveis obter pela revisão bibliográfica e pesquisa documental, devido a escassez de
publicações, fonte de dados secundários sobre o programa de coleta seletiva, procedeu-se, em
uma segunda etapa, uma investigação empírica junto às pessoas – chaves envolvidas com a
gestão do programa de coleta seletiva. Desse modo, combinando o uso das técnicas de
pesquisa documental e bibliográfica com a realização de entrevistas.
As entrevistas podem ser consideradas conversas com finalidade (MINAYO, 2004) e
se classificam de acordo com sua organização. Para Bodgam e Biklen (1994, p. 137) o
objetivo da entrevista é “de recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito,
permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os
sujeitos interpretam aspectos do mundo”.
Os autores afirmam ainda que a escolha do tipo de entrevista deva estar alinhada ao
objetivo do estudo podendo ser aplicada diferentes tipos de entrevistas em diferentes fases da
pesquisa.
Assim sendo, nesta pesquisa foram aplicadas entrevistas pessoalmente aos atores –
chaves envolvidos na gestão do Programa. Para isto, foram utilizadas entrevistas
semiestruturadas, com perguntas abertas, de modo a permitir que o entrevistado tenha a
possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender a indagação formulada.
(MINAYO; ASSIS; SOUZA, 2005).
Demo (2000) esclarece que a utilização de perguntas abertas é características da
pesquisa qualitativa, que busca o aprofundamento por familiaridade, convivência e
comunicação.
O trabalho de campo, as entrevistas, ocorreram no período de janeiro a março de 2012.
Neste período foram realizadas dez entrevistas: três com membros da SESAN; três com
membros do MPE; uma com membro da ONG “No Olhar” e três com membros da ACCSB,
selecionados por conveniência, de acordo com disponibilidade de responder à entrevista no
período de realização do trabalho de campo. Essas entrevistas foram realizadas pela
pesquisadora e gravadas com o consentimento dos entrevistados, conforme, Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, totalizando aproximadamente 267 minutos. Desse modo,
pode-se observar no Quadro 2, a relação das instituições entrevistadas envolvidas com o
66
Programa de Coleta Seletiva.
Quadro2 - Instituições representantes participantes da pesquisa. Categoria Instituição Representante
Poder Público
Secretaria Municipal de Saneamento - SESAN
Ministério Público Estadual - MPE
Sociedade Civil
Organização não governamental - “No Olhar”
ACCSB
Além disso, durante toda a condução da pesquisa ocorreu uma constante interação
entre pesquisador e entrevistado afim de esclarecer junto ao sujeito já entrevistado, questões
que surgiam, após cada análise parcial que se fazia, das informações coletadas.
Para Alencar (2007) esta interatividade própria da pesquisa qualitativa permite
inclusive que o planejamento de uma entrevista possa ser elaborado a partir de entrevistas
anteriormente realizada, como ocorreu durante a elaboração dos questionários a partir da
entrevista com a coordenação do programa na SESAN.
Após a posse de todo esse material, iniciou-se a fase de análise dos dados coletados.
4.1.5 Análise das informações coletadas
De acordo com Flick (2009, p.276) a análise dos dados constitui a “essência da
pesquisa qualitativa” e assevera que a circularidade representa um de seus pontos fortes, tendo
em vista que obriga o pesquisador a refletir constantemente sobre o processo de pesquisa e
sobre etapas específicas, á luz das outras etapas.
Nesta perspectiva, no presente estudo, foi adotado, o que Alencar (2007, p.50) afirmar
ser “Modelo interativo em pesquisa”. Tal modelo circular permite análise parciais realizadas
como parte integrante da coleta de dados. De modo que, essas análises fornecem novos
elementos para a continuidade da investigação, estabelecendo uma constante interação entre
pesquisador e objeto de pesquisa.
Assim sendo, de posse das informações originárias dos dois grupos que constituíram o
universo de investigação deste estudo, empregou-se, como instrumento metodológico de
análise, a análise de conteúdo, que segundo Cappelle; Melo e Gonçalves (2003) representa um
instrumento significativamente utilizado na análise de comunicações. Em outras palavras,
para Deslandes e Minayo (2011, p.84) através da análise de conteúdo, pode-se caminhar na
67
descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que
está sendo comunicado.
A análise de conteúdo, para Bardin (1979, p.42) é definida como:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
O princípio da análise de conteúdo consiste, de acordo com Laville e Dione (1999, p.
214), “em desmontar a estrutura e os elementos desse conteúdo, para esclarecer suas
diferenças características e extrair sua significação”. Para os mesmos autores, embora não
exista regras para a sequencia de procedimentos a serem utilizados, a análise de conteúdo,
constitui-se normalmente das seguintes etapas: (1) organização de toda documentação obtida
durante a coleta de dados; (2) estudo minucioso de seu conteúdo; (3) decomposição do
conteúdo em unidades analíticas, as quais foram agrupadas de acordo com sua significação
em relação ao material utilizado; (4) definição e classificação das categorias analíticas e (5)
análise e interpretação do corpus de dados estruturados nas fases anteriores.
Deslandes e Minayo (2011, p.91) afirma ainda que as obras que tratam da análise de
conteúdo compreendem três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos
resultados e interpretação.
A fase de pré-análise corresponde a organização do material coletado, com o propósito
de operacionalizar e sistematizar as ideias iniciais. É composta por atividades de leituras
exaustivas para compreender o conjunto do material selecionado que irão constituir o corpus,
”conjunto de documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos
analíticos” (BARDIN, 1979, p. 96), definição das hipóteses e objetivos, formulação de
indicadores para análise e preparação do material coletado. Na fase de exploração do material,
análise propriamente dita, os dados brutos são codificados e classificados em unidades de
análise que permitirão a efetivação da ultima etapa que se refere ao tratamento e interpretação
dos resultados, onde se busca ir além do conteúdo manifesto, apreendendo o conteúdo latente
da comunicação. Como etapa final, elaborou-se uma síntese interpretativa capaz de dialogar
temas com objetivos, questões e pressupostos da pesquisa.
A figura 12 representa a proposta de fluxograma de interpretação das informações
obtidas.
68
Figura12 - Modelo de interpretação das informações obtidas.
Entre os procedimentos metodológicos da análise de conteúdo utilizados a partir da
perspectiva qualitativa, este estudo utiliza a análise categorial, conhecida como a técnica mais
antiga e mais utilizada na prática. A categorização é considerada, para Bardin (1979, p.117)
como:
Uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo gênero (analogia), com critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidade de registro) sob um título genérico.
As análises das informações coletadas seguiram as orientações já expostas.
Primeiramente, as informações foram organizadas de acordo com a natureza de cada uma:
documentos analisados e entrevistas gravadas. Tais entrevistas foram cuidadosamente
transcritas e as gravações, conservadas para possível consulta. Todas as entrevistas foram
codificadas para preservar a confiabilidade dos dados. Posteriormente, os documentos foram
submetidos à leitura minuciosa e exaustiva passando à fase de codificação e classificação do
material em categorias analíticas.
Segundo Laville e Dione (1999), existem três modos de se definir as categorias, em
análise de conteúdo. O primeiro modo refere-se ao modo de grade aberto, em que as
categorias são definidas durante a análise, e não no início, a partir do conteúdo do material
coletado. O segundo modelo trata-se do modelo de grade fechada, em que as categorias são
definidas a priori em função do conhecimento teórico que se tem sobre a área em estudo e das
69
hipóteses do estudo, embora não sofra modificações ao longo da pesquisa. O terceiro tipo é o
modelo misto, em representa um hibrido do modelo aberto e fechado, e tem a flexibilidade, de
excluir, modificar ou agregar outras categorias no decorrer da investigação dos dados. Para os
autores, a escolha do modo mais apropriado é feita pelo pesquisador em função de suas
intenções, objetivos e conhecimento que este tem a cerca área de estudo. O modelo utilizado
no presente estudo refere-se ao modelo misto, em que algumas categorias, como as usadas
para atingir o terceiro objetivos, foram definidas com base no referencial teórico, como as
usadas para discutir o segundo objetivo, que foram acrescentadas e/ou modificadas, durante a
realização da pesquisa.
A fim de atingir o primeiro objetivo específico proposto por este estudo (identificar e
analisar o arranjo institucional preparado para a gestão do programa de coleta seletiva) utiliza-
se a categoria participação dos atores sociais, focada nos atores-chave e forma de participação
desses diferentes atores na gestão do programa. Para atender ao segundo objetivo específico
(identificar e analisar os desafios e as limitações encontrados a ser enfrentado no processo de
implantação do programa) inicialmente foi utilizado três categorias: possibilidades, desafios e
limitações. No entanto, no decorrer na pesquisa, foram utilizadas como categoria de análise
apenas duas: desafios e limitações, identificados no processo de implantação do programa.
Para alcançar o terceiro e ultimo objetivo (caracterizar as dimensões socioambientais e
econômicos constatados no processo de implantação do programa de coleta seletiva) utilizou-
se três categorias respectivamente, benefícios ambientais com a implantação do programa,
bem como os incentivos socioeconômico e político para as pessoas envolvidas na coleta
seletiva. Além desses, duas outras categorias mostraram-se essenciais e indispensáveis para
toda a discussão pretendida, origem e institucionalização. Assim, no próximo capitulo são
apresentados a análise e discussão dos resultados obtidos.
70
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO - PROGRAMA DE COLETA SELETIVA
Para analisar e discutir o programa de coleta seletiva é preciso entender a sua história,
já que as características da forma de gestão adotada começam a ser construídas na origem do
programa, que se encontra com a criação da Cooperativa de Trabalhado dos Profissionais do
Aura (COOTPA). Neste sentido, história e gestão imbricam-se e constroem-se mutuamente ao
longo do tempo, até se chegar a realidade que se busca compreender. Desse modo, para
entender o arranjo institucional, os desafios e limites imposto à gestão do programa e seus
impactos ambientais, socioeconômicos e políticos, faz-se necessário voltar as suas origens e
reconstituir a sua história.
5.1 ORIGEM E INSTITUCIONALIZAÇÃO
O projeto de coleta seletiva da RMB foi concebido como parte integrante do Projeto
de Biorremediação do Complexo do Aurá, em 1996, na administração do prefeito Edmilson
Rodrigues, que permaneceu no período de (1996-2004), em resposta a intervenção do
Ministério Público Estadual junto a Prefeitura Municipal de Belém, devido a presença de
pessoas inclusive crianças e adolescentes catando lixo, o qual conclama as entidades
envolvidas na questão a tomarem as providencias acordadas em um Termo de Compromisso,
para que, pelo menos, o problema fosse atenuado.
Vale lembrar que o país dos anos 90 era marcado por uma reestruturação do mercado
formal de trabalho, com aumento do desemprego, precarização do trabalho e
desassalariamento das ocupações. A pobreza absoluta atingia 43,4% da população brasileira e
a pobreza extrema 20,9% (IPEA, 2010).
Neste contexto, a proposta era instalar um Centro de Triagem e um Centro de
Compostagem como estratégia para minimizar o volume de resíduos depositados diariamente
no complexo do Aurá, a época ainda, lixão, e organizar os catadores e catadoras, que se
encontravam na prática da catação em cima do lixão, por meio da constituição de uma
cooperativa proporcionando-lhes um maior ganho financeiro através da comercialização dos
materiais e por meio do encaminhamento de catadores para empresas recicladoras que
solicitassem os serviços dos profissionais dos Aurá.
Contudo, segundo Lopes et al. (2004 apud PIRES, 2010) tais propostas não saíram do
papel e mesmo depois de construídos com recursos federais há mais de 10 anos não entraram
em operação, e atualmente, sob a administração do prefeito Duciomar Costa, período (2005-
71
2012), foram desintaladas e encontram-se totalmente sucateados sem qualquer chance de uso,
figura 13.
Figura 13 - Centro de triagem, Aurá.
Fonte: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.
Inicialmente, a administração municipal cadastrou 608 catadores que trabalhavam em
cima do lixão em condições insalubre, sem nenhuma proteção á saúde. A partir daí, foi
montado equipes de catadores autônomos, os quais cada uma equipe ficava responsável em
coletar um tipo de material. Com essa proposta, em 2001, foi criada a COOTPA, Cooperativa
de Trabalhado dos Profissionais do Aurá.
De acordo com Almeida (2008, p. 11 apud PIRES, 2010, p. 88) a COOTPA tinha por
objetivo proporcionar trabalho com segurança, “ao abrigo das intempéries e sem contato
direto com o lixo”. Para Lopes (2004, p. 9 apud PIRES, 2010, p. 88) a cooperativa foi
concebida pela SESAN, para ser “o principal instrumento de erradicação da catação em cima
do lixo, no Aurá”.
Entretanto, a falta de alocação de recursos na construção de infraestrutura (galpão) e
equipamentos adequados, a falta de capacitação para gestão e gerenciamento dos resíduos
sólidos aliado a diversas divergências políticas influenciaram a incipiente adesão dos
catadores autônomos a afiliação junto a cooperativa, apenas 39 catadores, ou seja,
aproximadamente 6,5% dos 608 catadores cadastrados pela SESAN.
Em meio a esta realidade, a partir de 2003, a prefeitura municipal de Belém, através da
72
SESAN, em parceria com a Caixa Econômica Federal, lança o Projeto Coleta Seletiva, um
projeto piloto abrangente aos bairros de Campina, Umarizal, Nazaré e Reduto, contemplando
a população com doação de contêineres e instalação de Pontos de Entregas Voluntárias -
PEV’s em logradouros públicos destes bairros, a figuras 14a apresenta os catadores
recolhendo os materiais com caminhões. A figura 14b mostra catadoras coletando material em
residências.
Figura 14 - Catadores (as) da COOTPA coletando material.
(a) (b)
Fonte: SESAN/PMB, 2003.
No entanto, os catadores que realizavam a coleta em Belém e que estavam na
COOTPA, foram excluídos. Para Pires (2010, p. 89) a cooperativa enfrentara diversos
obstáculos, entre eles: dissidências, conflitos internos e com a prefeitura que aliado a
expiração de um contrato de comodato de infraestrutura cedida pela SESAN/PMB e má
administração na cooperativa resultou na sua desestruturação e afastamento das atividades do
projeto junto a PMB.
Em 2005, com a mudança de administração municipal, nasce a ACCSB Associação de
Catadores da Coleta Seletiva de Belém, apoiada pela prefeitura municipal de Belém, com
intuito de coletar os resíduos gerados nos Pontos de Entrega Voluntária – PEV´s
reestruturados e redirecionados a instituições parceiras, tais como: condomínios, empresas,
órgãos públicos, escolas e demais instituições que tivessem afinidade aos objetivos do
programa, figura 15. Além disso, a ACCSB coleta materiais por demanda e também em
eventos.
73
Figura 15 - Jogo de coletor do Ponto de Entrega Voluntária - PEV´s instalado em condomínio residencial.
Fonte: SESAN/PMB.
Com a proposta de reaproveitamento de cerca de 80% dos resíduos sólidos produzidos
por Belém e os distritos de Icoaraci, Outeiro e Mosqueiro, aproximadamente 900 ton/dia, o
projeto de coleta seletiva começa em 2007, nos bairros do Umarizal, Campina, Batista
Campos e Nazaré. Para isto, de acordo com a SESAN, foi realizada a instalação gradativa de
um sistema de coleta seletiva na modalidade porta-a-porta, iniciando-se com a mobilização e
sensibilização da população para sua adesão.
Ressalta-se que tais bairros foram selecionados para iniciar o projeto devido serem os
bairros com maior registro de equipamentos urbanos distribuídos e instalados, distribuição
geográfica central e conectados.
Neste contexto, o projeto foi desenvolvido tendo como pressuposto principal a retirada
dos catadores de cima das células de resíduos sólidos, a inclusão social e a geração de
trabalho e renda. Assim, inicialmente seis duplas de catadores da ACCSB, cobriam diferentes
roteiros pré-estabelecidos dentro dos bairros, precedidos dos agentes de educação ambiental
da SESAN, que visitam as residências explicando e difundindo o funcionamento do sistema
de coleta seletiva no bairro e quais os materiais devem ser separados e doados para a coleta,
figura 16. A coleta ocorria a cada dois dias por bairro. Desta forma:
Como não existe essa cultura em Belém, vamos começar devagar. A ideia é fazer com que as pessoas separem apenas o lixo orgânico do inorgânico para posteriormente no galpão de triagem os catadores irão efetuar a separação do material por tipologias: papel, pet, latas, etc [...] (Entrevistado 01,
74
informação verbal, 2012)5 Figura 16 - Catadores realizando o trabalho de coleta porta-a-porta nas residências do Umarizal.
Fonte: SESAN/PMB.
No entanto, tal modelo, enfrentara dificuldades de operacionalização, por não existir
infraestrutura e equipamentos adequados necessário para o beneficiamento dos materiais
coletados, e por conseguinte, promover renda, inclusão social e cidadania aos catadores (as)
envolvidos e suas famílias, sua premissa principal. Esta experiência iniciada em 2007, foi
desarticulada nos anos de 2008 e 2009 para retornar em 2010 sendo este o modelo atual de
programa desenvolvido na RMB, porém em atendimento a demanda das instituições
parceiras.
Atualmente, o projeto é desenvolvido pela ACCSB por meio da coleta dos materiais
gerados e doados por empresas, condomínios, hospitais, exército e demais instituições
parceiras mediante assinatura do Termo de Compromisso entre a instituição doadora e a
Associação de Catadores de Coleta Seletiva de Belém.
No momento, são Parceiros do Projeto com a doação de materiais – Empresas e
Instituições Federais: Petrobrás plataforma em Macapá (1x/semana - Projeto ASAS/Brasil),
Banco Sulamérica, Natura, OI, Marinha, Condomínios, Conjuntos Residenciais, MP, Exército
5 Refere-se a fala de um entrevistado. O numero 01 foi a codificação utilizada para a entrevista com
membros da Prefeitura Municipal de Belém, através da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN.
75
(14 bis), Hospital Barros Barreto, HGB, Hospital do Coração, Porto Dias, Guadalupe e
Maradei.
A prefeitura disponibiliza para a ACCSB realizar a coleta a seguinte infraestrutura:
dois espaços, utilizados como galpão de triagem localizados na área da sede da
DRES/SESAN. Além disso, trabalham 39 agentes ambientais, os quais tem objetivo de
promover a educação ambiental junto a população, precedendo a coleta propriamente dita
pelos catadores. E ainda 16 técnicos de nível superior tais como: psicólogos, sociólogos,
pedagogo, assistente social, administrativo e as pessoas da fiscalização. Para o recolhimento
dos materiais gerados pelas instituições parceiras são disponibilizados 2 caminhões com
motorista, tendo também por demanda, outro caminhão terceirizado nos períodos de maior
volume de material.
Nesta atual administração municipal, está em construção um galpão com melhor
infraestrutura em parceria com a CAIXA/BNDES, figura 18. Tal galpão antes mesmo de sua
operacionalização já está gerando muitos conflitos, uma vez que esta administração entende
que o uso do galpão deverá ser feito por cinco outras organizações de catadores, todas de
Ananindeua, além da atual ACCSB, por meio da criação da Comissão de Associações e
Cooperativa de Belém – Rede Recicla Pará.
Ressalta-se, no entanto que das seis organizações de catadores existentes em Belém
Associação de Catadores da Coleta seletiva de Belém – ACCSB, Associação de Recicladores
de água de Lindóias – ARAL, Associação Cidadania para Todos – ACPT, Associação de
Trabalhadores de Materiais Recicláveis da Pedreira – ASTRAMARAPE, Cooperativa de
Catadores da Terra Firme – CONCAVES e a Cooperativa de Trabalhadores dos Profissionais
do Aurá – COOTPA, apenas a COOTPA e a ACCSB fizeram parte dessa história, e que a
criação desta rede de associações – Rede Recicla Pará, inaugura uma nova fase de conflitos,
uma vez que não há consenso entre as organizações sobre o uso do novo galpão. Além disso,
outros fatores influenciam para o insucesso desta experiência, como por exemplo, a mudança
de administração municipal, diferenciação de interesses entre a própria formalização das
referidas organizações, uma vez que a maioria das mesmas encontram-se em processo de
constituição jurídica, entre outros.
76
Figura 17 - Novo galpão em construção, localizado no Canal São Joaquim, Belém.
Foto: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.
Verifica-se, com isso, a fragilidade institucional sob o qual repousa o programa de
coleta seletiva de Belém, que enfrenta o desafio de institucionalizar-se como política de
Estado, bem como política de governo, uma vez que não é reconhecido como um programa e
sim como apenas um projeto piloto, conforme afirma um entrevistado:
Trata-se de um projeto ainda, não há um programa institucionalizado, assim até o momento trata-se de um projeto, o qual surge como uma semente para o futuro programa onde vai abranger todos os catadores e cobrir a cidade em geral devido as novas exigências da Lei 12305 PNRS, os quais todos os governos terão que se adequar, mas até hoje trabalha-se como um projeto [...]. (Entrevistado 01, informação verbal, 2012).
Ressalta-se, ainda a incipiente formalização e institucionalização do programa de
coleta seletiva de Belém, como estratégia de intervenção do estado para o gerenciamento dos
resíduos sólidos na RMB marcado por ações pontuais e descontinuas, dificultando sua
sustentabilidade ao longo do tempo.
A seguir, procura-se identificar e analisar o arranjo institucional montado para gerir o
programa.
77
5.2 PARTICIPAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS
Os atores sociais a que se refere este trabalho correspondem aos diferentes agentes
políticos que participam do processo de gestão do programa de coleta seletiva em discussão.
A identificação dos atores e das formas de incorporação desses representam elementos
importantes a serem considerados nas estratégias de formulação e gestão de políticas públicas.
São grupos sociais organizados, que atuam no jogo de poder para defender interesses, ponto
de vista ou modo de vida que lhes confere unidade e identidade política, social e cultural.
No caso em discussão, identifica-se 04 (quatro) atores que são caracterizados a seguir,
sendo 02 (dois) órgãos públicos, neste caso, a Secretaria Municipal de Saneamento –
SESAN/PMB e o Ministério Público Estadual - MPE; e, 02 (dois) sociedade civil organizada,
representados pela Associação de Catadores da Coleta Seletiva de Belém – ACCSB e ONG
“No olhar”.
5.2.1 A SESAN na gestão do programa
Incumbida desde a constituição federal de 1988 e ratificada pela Lei nº 12.305 de 2010
- PNRS, a administração municipal é a responsável pela gestão integrada dos resíduos sólidos
gerados em seu território.
Neste contexto, a prefeitura municipal de Belém, através da Secretaria Municipal de
Saneamento – SESAN, é o órgão gestor do programa de coleta seletiva que além desta, tem
como atividades a drenagem, pavimentação e educação ambiental no Município de Belém.
Sob a tutela da SESAN, a ACCSB desenvolve a coleta dos resíduos gerados e doados
pelas instituições parceiras, as quais não chegam a influenciam na tomada de decisão do
programa, conforme expõe o entrevistado:
Tais parceiros não chegam a influenciar na tomada de decisão do projeto, pois a parceria trata-se somente da doação dos materiais gerados, onde os mesmo checam apenas a capacidade de logística de coleta dos resíduos pela associação mediante assinatura do Termo de Compromisso. (Entrevistado 01, informação verbal, 2012).
Assim, para o mesmo entrevistado, a SESAN:
Exerce um papel crucial de organização e coordenação do programa, por intermediar as instituições parcerias junto a associação para acessar os
78
materiais recicláveis doados pelos órgãos públicos, por meio de editais e privados (Entrevistado 01, informação verbal, 2012).
Por meio da atuação da SESAN o programa tem conseguido ampliar o numero de
instituições parceiras e com isso o volume e a qualidade dos materiais coletados.
Neste sentido, a SESAN dialoga, busca apoio e parcerias, acompanha toda tramitação
de documentos referente ao programa e busca financiamentos. Apesar disso, a SESAN se
constitui como o único órgão responsável pela gestão do programa de coleta seletiva. Desta
forma, não participa do programa nenhuma outra organização da sociedade civil, por exemplo
organizações não governamentais reconhecidas, nem tampouco, recebe incentivos da
Incubadora de Empreendimentos Popular Solidário no âmbito da Economia Solidária, por
meio da Universidade Federal do Pará. Então, a SESAN funciona como a secretaria executiva
do programa, ao centralizar e coordenar as ações do programa.
Neste contexto, a implementação do programa pode ser vista como, centralizadora,
oposto ao que assevera os autores Frey (2000); Silva e Melo (2000) que se constitui como
uma soma de ações implementadas por uma “rede de atores”.
5.2.2 Ministério Público
O Ministério Público Estadual exerce um papel de destaque nesta arena de interesses.
Sua atuação vai desde ações de intervenção, em especial ao complexo do Aurá, seja por ação
civil pública ou criminal, até mesmo ações de articulador e mediador, como no caso da
criação do Grupo de Trabalho dos Resíduos Sólidos.
No primeiro caso, refere-se ao fato da área do Complexo do Aurá, atuar sem a licença
ambiental necessária. Conforme expõe o entrevistado:
Temos impetrada uma ação penal, e a parte criminal, o IBAMA autuou a Prefeitura, através do prefeito, por operar o Aterro do Aurá sem Licença Ambiental, e a parte criminal, enviada ao Procurador Geral de Justiça (Entrevistado 03, informação verbal, 2012)6.
“Vale ressaltar que esta situação vem desde a administração do Prefeito Almir
Gabriel.” (Entrevistado 04, informação verbal, 2012).
6 Refere-se a fala de um entrevistado. O numero 03 foi a codificação utilizada para a entrevista com
membros do Ministério Público Estadual - MPE.
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No caso do Grupo de Trabalho dos Resíduos Sólidos, o Ministério Público Estadual,
por meio dos Promotores de Justiça do Meio Ambiente, atuou como articulador reunindo com
mais de 20 representantes de entidades governamentais e não governamentais para definir o
Grupo de Trabalho (GT) como proposta para elaborar o Plano Municipal de Resíduos Sólidos
e dar suporte a gestão da política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém
(RMB).
o GT era em prol de reunir os diversos atores sociais para a Elaboração do PLANO MUNICIPAL DE RS, conforme preconiza a LEI n º 12. 305. (Entrevistado 04, informação verbal, 2012). a criação de um GT atende o que determina a recente Lei Federal nº12.305, de 02 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O prazo determinado pela lei estabelece “até agosto de 2012 para se ter estruturado um plano integrado de resíduos sólidos, tendo como atores principais governos e membros da sociedade civil”. (Entrevistado 05, informação verbal, 2012).
De acordo com o MPE o GT do Resíduos Sólidos foi criado a partir da experiência
exitosa do GT de Arborização, o qual reuniu vários atores sociais, entre eles: UFRA e
EMBRAPA tendo como resultado a aprovação de uma Lei Municipal no Tema. Contudo, no
caso do GT dos Resíduos Sólidos, o qual mexe com cerca de 70 % do orçamento da
Prefeitura, sendo o seu maior contrato, não houve consenso. A prefeitura apenas efetuou a
contratação de uma empresa para realizar o Plano, sem controle social, na estratégia “do faz
de conta”. Neste contexto, o GT não mais reuniu, estando, no momento, desarticulado.
Tendo em vista a dificuldade de gestão da atual administração municipal, o MPE vem
liderando as discussões no tocante a possibilidade de se fazer um Plano de caráter
Metropolitano, embora aponte elementos divergentes os quais não contribuem para uma boa
gestão dos RS em caráter de Consórcio para RMB, conforme afirma um entrevistado:
A Autonomia Municipal e as necessidades são diferentes para cada município dentro da RMB. Devido a diferença desproporcional de investimento de recursos, onde o município de Belém é significativamente maior, cerca de 70 a 80%, assim não quer que ninguém venha dar ordens, por outro lado, o outro lado da parceria, não vem fazer apenas papel de bobo, quer também, intervir nas decisões. (Entrevistado 04, informação verbal, 2012).
Para sua operacionalização apresenta como alternativa a disposição final adequada dos
resíduos sólidos urbanos, o projeto REVITA.
Trata-se do CPTR Marituba, ou seja, é uma Central de Processamento e Tratamento de
80
Resíduos Classe II. É um empreendimento particular constituído por um Aterro Sanitário e
instalações de apoio, para recebimento e destinação final de Resíduos Sólidos Urbanos. Tal
proposta atenderá a RMB e está em processo de Licenciamento Ambiental na Secretaria
Estadual de Meio Ambiente – SEMA.
5.2.3 Associação de catadores da coleta seletiva de Belém - ACCSB
Constituída juridicamente em 2008, a Associação de Catadores da Coleta Seletiva de
Belém – ACCSB tem por finalidade: planejar, instrumentar, executar, controlar e avaliar
programas voltados aos interesses dos associados referente a coleta seletiva.
De acordo com Pires (2010, p.93):
a associação foi constituída inicialmente da dissidência da COOTPA, para realizar a coleta seletiva de Belém, sob a tutela do Departamento de Resíduos Sólidos (DRES) através da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN/PMB.
Atualmente a ACCSB, conta com 56 catadores sendo 58% homens e 42% mulheres
com a faixa etária variando entre 19 a 63 anos e baixa escolaridade, conforme os dados dos
gráficos 5 e 6.
Gráfico 5 - Demonstrativo por gênero da composição dos associados da ACCSB.
Fonte: SESAN/PMB.
81
Gráfico 6 - Demonstrativo da estimativa da faixa etária dos associados da ACCSB.
Fonte: SESAN/PMB. Figura 18 - Associados da ACCSB.
Fonte: SESAN/PMB.
Hoje, os associados estão distribuídos em 03 grupos, sendo quatro catadores
autônomos que realizam coleta seletiva nas instituições parceiras. Os catadores saem
diariamente, para os roteiros levando o “carrinho de metalon” para coletar os materiais
doados. Em seguida, duas equipes retornam para o galpão de triagem, na sede da SESAN,
situado Av. Alcindo Cancela e a terceira equipe retorna para o galpão localizado na Tv. Padre
Eutiquio nº 2647, figuras 19a e 19b. Em cada galpão realiza-se a separação dos materiais
conforme sua tipologia para posterior comercialização.
82
Figura 19 - Galpão cedido a ACCSB.
(a) (b) Fonte: SESAN/PMB.
De acordo com um entrevistado, a associação arrecada, em média, 15 ton/semana, ou
60 ton/mês. Conforme expõem abaixo:
Nós arrecadamos por semana em média 15 toneladas ao todo, os três grupos e que qualquer material: PET, isopor, papel... é tudo vendido! [...] (entrevistado 07, 2012). Sobre o aproveitamento desse material coletado, em média são divididos em 50% aproveitáveis, e o restante 50 % de rejeito. Assim, segundo o entrevistado: No caso de condomínio o rejeito aumenta, porém em instituições públicas os materiais recicláveis vem em melhor condições podendo aferir maiores valores (Entrevistado 07, informação verbal, 2012).
Dos materiais coletados, segue abaixo a tabela atual dos preços comercializados pela
associação:
83
Tabela 4 - Preço aferido aos materiais coletados pela associação.
Tipologia de material Preço vendido pela ACCSB
(R$/kg)
PET 0,90
Papel branco 0,24
Papel misto 0,12
Qboa (colorido) 0,75
Qboa (branco) 0,80
Plástico duro 0,40
Papelão 0,10
Fonte: Dados da Pesquisa
Figura 20 - Galpão cedido a ACCSB. Figura 21 - Galpão de triagem da ACCSB.
Fonte: SESAN/PMB Fonte: SESAN/PMB
No tocante a remuneração dos associados, os lucros e sobras são divididos
igualitariamente para os membros de cada grupo. Desta forma, no momento, a retirada tem
sido, menos que o salário mínimo ao mês, saindo entre 100 a 120 reais por semana, o que tem
levado ao catador (a) a utilizar de novas estratégias para sobreviver, como aposentadoria.
Contudo, paradoxalmente, a diretoria da associação não tem acesso nem controle dos dados
de produção de todos os grupos, a não ser do seu próprio grupo, sendo realizado pela SESAN.
Fato também observado por Pires (2010 p. 95).
Neste sentido, em 2010, segundo dados da associação, foram coletados e
comercializados, os seguintes materiais, conforme tabela 5 abaixo:
84
Tabela 5 - Relatório de comercialização dos materiais coletados pela ACCSB.
Fonte: SESAN/PMB.
Em relação ao modelo de gestão da associação, pode-se afirmar que sob a tutela da
prefeitura, observa-se práticas assistencialistas ao invés de práticas autogestionárias, de
acordo com os princípios da Economia Solidária, das quais são capazes de promover a
inclusão social e o exercício da cidadania aos catadores, uma vez que a associação é formada
por grupos isolados, conforme relata um entrevistado: “Considero que hoje a associação
encontra-se fraca, sem administração, uma vez que os grupos estão divididos, não há união, e
aí perdemos a característica de associativismo”. (Entrevistado 07, informação verbal, 2012).
De modo que cada grupo é liderado por um representante, onde cada representante
compete entre si, por poder, equipamentos, incentivos sociais, maior volume de materiais, etc.
Tal situação, de acordo com o entrevistado, vem a prejudicar a aferição de maiores lucros para
associação, uma vez que o volume de resíduos se torna pequeno, as tarefas são sobrepostas,
encarecendo o material, e ainda na hora da venda, há muita confusão na divisão,
descaracterizando, com isso a associação.
Ademais, não há reuniões permanentes organizativas na associação, bem como não
participam das tomadas de decisão da associação nem dos projetos os demais associados. As
instituições parcerias também não participam da tomada de decisão, os quais apoiam apenas
com a doação de materiais recicláveis.
85
5.2.4 ONG “No olhar”
A Ong “No olhar” é uma instituição não governamental fundada em 2005, situada a
Rua Senador Manoel Barata, 718 sala 806 B, com objetivo de apoiar a educação inclusão a
cidadania, desenvolvimento sustentável e a conservação do meio ambiente.
Embora não seja uma instituição parceira ao programa de coleta seletiva desenvolvido
pela municipalidade, já mencionado anteriormente, sua adesão ao presente estudo, deve-se a
relevante atuação em projetos e ações relacionadas a coleta seletiva em Belém.
Atualmente, a ONG desenvolve o projeto de educação ambiental interdisciplinar em
escolas públicas estaduais e municipais, a exemplo da E.E Carlos Guimarães e comunidade do
entorno em parceria com a empresa TETRAPACK.
O projeto teve início com a instalação de 5 novos PEV´s no lado externo da escola
abrangendo e integrando a comunidade do entorno doados juntamente com as placas de
identificação e divulgação dos PEV´s, dos quais a escola se responsabiliza pela educação
ambiental dentro da escola e com a comunidade do entorno; a ONG “No olhar” pela
instalação dos PEV´s; a comunidade pela participação com a doação dos materiais recicláveis;
e os catadores autônomos não formal pela coleta e disposição final. De acordo com a
entrevistada:
Nós envolvemos um público em torno de 20 catadores autônomos; além de 5 a 6 jovens nos PEV´s, perfazendo mais ou menos 30 pessoas envolvidas diretamente e ainda a comunidade da “Marambaia” indiretamente. (Entrevistado 08, informação verbal, 2012).
Outra atividade desenvolvida pela ONG refere-se ao Ponto de Entrega Voluntária –
PEV´s localizado na Riachuelo, que a partir da realização de oficinas, há quatro anos, passou
a ser reconhecidamente pela população como um PEV, onde são arrecadados cerca de 3 ton/
semana de materiais recicláveis, conforme expõe a entrevistada:
Recebemos quase 3 toneladas por semana de coleta seletiva, num local difícil, e que a gente nunca teve apoio da prefeitura [...] é uma realidade, é fato, as pessoas contribuem, temos caso de gente que sai de ônibus para levar material, o exemplo realmente funciona. (Entrevistado 08, informação verbal, 2012).
Ademais, o relativo sucesso de adesão ao projeto de Ponto de Entrega Voluntária –
PEV´s da Riachuelo, como é popularmente conhecido, refere-se ao envolvimento diário da
86
população do bairro e comunidade do entorno os quais voluntariamente doam materiais
recicláveis para a organização.
A ONG se mantém financeiramente por meio de parcerias com empresas a exemplo da
empresa TETRAPACK, OI, Natura e demais instituições privadas, não possuindo, no
momento, recursos financeiros públicos (municipal, estadual e federal).
Em relação ao programa de coleta seletiva de Belém, para a entrevistada:
A prefeitura não desenvolve ações no sentido de resolver o desafio da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (entrevistada, 08, 2012). Ressalta ainda que, As ações do atual governo não avançam. Elas começaram a partir do bairro do Marco, nas redondezas da SESAN. Mas, sabe porque? Precisa de ações de correção anteriores para iniciação de um Programa. Exemplo disso, têm-se uma prensa doada pela TetraPack, o qual ainda não foi instalada devido a problemas administrativos-financeiro das cooperativas e associações [...]. (Entrevistado 08, informação verbal, 2012).
No tocante a situação das demais cooperativas e associações, exceto a ACCSB, as
instalações utilizadas como galpão de triagem, estão em desconformidade com as atuais
legislação ambiental vigente, como revela a entrevistada: “Teve até o fechamento via
Ministério Público Estadual de cooperativas, devido a insalubridade dos galpões de triagem
bem como os equipamentos de reciclagem”. (Entrevistado 08, informação verbal, 2012).
A ONG não participa do programa de coleta seletiva de Belém e não participa do GT
de discussão dos RSD que foi criado pela prefeitura, mas não formalizado, e no momento, não
tem se reunido.
Desta forma, a sociedade não participa do processo de decisão do programa de coleta
seletiva nem tão pouco de sua política.
5.3 DESAFIOS E LIMITAÇÕES DA GESTÃO INTEGRADA
Os resultados da pesquisa apontam para dois níveis que se localizam desafios e
limitações gerais na gestão do programa de coleta seletiva de Belém. Em um primeiro
momento os desafios e limitações mais marcantes estão no âmbito das características do
próprio programa. Em um segundo nível, identificou-se desafios e limites localizados nas
dificuldades experimentadas pela associação de catadores, no caso, ACCSB.
No âmbito das características do programa, identificou-se desafios e limitações de
ordem técnica, econômica, administrativo e, a principal delas, política. Percebe-se, que a falta
87
de reconhecimento institucional, interfere nas várias características de sua gestão, e que surge
como a fragilidade mais marcante do programa.
Corrobora com esta informação, Tavares (2006) ao afirmar que a Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos para Região Metropolitana de Belém e seus projetos enfrentam hoje
dificuldades de ordem técnica, organizativa, econômica e política.
Diante da fragilidade institucional, o programa encontra dificuldades em coordenar e
articular as ações conjuntas entre a associação e as instituições parceiras, o que conduz, a
fragmentação e descontinuidade das ações do programa e assim, a instabilidade financeira.
De acordo com o relato de um dos entrevistados “As ações deveriam ser realizadas
institucionalmente, via um programa efetivo de coleta seletiva oficial”. (Entrevistado 08,
informação verbal, 2012).
Frequentes modificações no rumo das ações do programa, a cada mudança de
administração municipal, também refletem nos vários aspectos de gestão e execução do
programa, chegando a ameaçar sua continuidade. Como resultado, tem-se um projeto
incipiente, sem expressividade e com poucas possibilidades de expansão a partir da adesão da
população local e, por conseguinte, de sua sustentabilidade ao longo do tempo.
Neste contexto, o programa de coleta seletiva enfrenta o problema caracterizado por
Conh (1995) como o mal crônico das políticas e programas sociais no Brasil, e apontado por
Oliveira (2006) como uma das causas da falha do planejamento de políticas públicas em
países em desenvolvimento, que se refere a insuficiência e instabilidade de recursos
financeiros.
Diante do exposto, e neste ano de eleição municipal, são vários os desdobramentos da
incerteza quanto ao futuro das ações do programa.
No que se refere aos aspectos experimentados pela associação, verifica-se pelos
resultados obtidos que muitas das dificuldades de gestão enfrentadas pelo programa
encontram-se localizadas no âmbito de ação e gestão da própria associação. Contudo, é
preciso evidenciar as fragilidades vivida pela associação e pelos sujeitos que a compõe.
Além de ter que enfrentar a dificuldade vivida cotidianamente da escassez de recursos
financeiros, de equipamentos e infraestrutura, embora seja a única associação apoiada
oficialmente pela PMB, pode-se afirmar, de acordo com relato de entrevistados, que a baixa
escolaridade e o desconhecimento de tecnologias mais adequadas constituem-se em evidentes
restrições ao alcance de resultados mais consistentes. Aliado a isso, percebe-se que a
associação ainda enfrenta problemas de reconhecimento junto a própria prefeitura, conforme
relata a entrevistada:
88
Essa estrutura nova da prefeitura, não vai dar certo. Nós não estamos satisfeito. Porque quando foi para assinar os documentos para vim dinheiro pro novo galpão, fomos nós. Agora, eles (prefeitura) querem juntar nós que já estamos no trabalho a muito tempo, com mais 800 catadores, invalidando o nosso projeto [...]. (Entrevistado 06, informação verbal, 2012).
Observa-se assim, que a falta de infraestrutura também interfere na gestão do
programa, por representar um fator limitante de sua capacidade de atender a um numero maior
de instituições parcerias e até de participar de editais de seleção de projetos via governo
federal.
A falta de infraestrutura envolve, ainda, os problemas de gestão interna na associação.
Constata-se que a associação é dividida em grupos, segundo já mencionado anteriormente, e
com isso, apresenta problemas de estruturação e coordenação de suas atividades, sobre as
quais se observa uma gestão centrada na figura do coordenador do grupo.
A rotatividade das equipes vivida na associação também compromete em grande parte
a execução de suas atividades. Aliado a isso, a fragilidade organizacional gerada pela ausência
de autonomia da associação representam um enorme desafio no processo e gestão do
programa, como se verifica no relato a seguir: “Porque o que acontece é o seguinte: se a
presidente disser tira o saco daqui e a prefeitura, deixa o saco, o saco fica, entendeu como é
que é?!”. (Entrevistado 06, informação verbal, 2012).
No que se refere a operacionalização de suas atividades, o quadro 03 representa as
maiores dificuldades enfrentadas pela ACCSB:
Quadro 3 - Desafios e limitações enfrentadas pela associação.
Etapas de
gerenciamento dos
materiais recicláveis
Descrição dos desafios e limitações
Coleta
o veículo disponibilizado pela Prefeitura não atende a
demanda da coleta e mesmo em condições desfavoráveis
são coletadas e comercializadas cerca de 15
toneladas/semana
Armazenamento:
a falta de infraestrutura adequada e espaço insuficiente
aliada a falta de equipamentos obrigando a
comercialização ao final da semana
Triagem:
realizada de maneira inadequada devido à precariedade
dos galpões utilizados sem o uso de EPIs como luvas,
máscaras, aventais, botas e uniformes para separação dos
89
materiais
Compactação
os materiais são vendidos sem prensar, reduzindo o valor
de comércio. Falta equipamento como a fragmentadora
para diminuir o volume e inviabilizando novas parcerias
Estoque
Inviabilizado em grande parte pela falta de espaço,
obrigando a comercialização semanal e impossibilitando a
pesquisa e venda no melhor período de preços do
mercado. A ACCSB não possui empilhadeira ou elevador
de carga necessário para agilizar os trabalhos
Beneficiamento em função da incerteza do futuro das ações do programa e
espaço adequado não é realizado esta etapa
Comercialização
a associação não dispõe de capital de giro que
proporcionaria a remuneração imediata ao catador, pelo
material entregue. Nessas condições o catador vende o
material para atravessadores, com perda de valor. O
aumento do número de associados também depende da
possibilidade de aquisição do material pela associação,
remunerando o catador com preço justo.
Fonte: Dados da Pesquisa
Acerca das dificuldades vividas em relação à gestão e conflitos internos, a associação
reconhece suas limitações e afirmam ainda terem um longo caminho a trilhar. Sabe-se, no
entanto, que parte dos desafios impostos á gestão do programa é gerada pela característica da
própria associação que tem o papel indispensável a sua formação e desenvolvimento.
5.4 AVALIAÇÃO DAS DIMENSÕES AMBIENTAIS, SOCIOECONÔMICAS E
POLÍTICAS
Observa-se, pela discussão desenvolvida, que algumas características essenciais da
gestão do programa de coleta seletiva já foram abordadas ao longo deste estudo por
mostrarem-se indispensáveis à compreensão dos dois primeiros objetivos específicos
propostos.
A partir disso, pretende-se dar continuidade a essa discussão, no intuito de identificar
as características dos resultados sob as dimensões ambientais, socioeconômico e político do
programa de coleta seletiva. Parte-se do pressuposto de que as características que identificam
90
tais dimensões estão intimamente relacionadas aos princípios de sustentabilidade no
gerenciamento dos RSU.
No intuito de entender a esse objetivo, empregam-se como referência orientadora de
discussão as variáveis utilizadas por Milanez e Teixeira (2001) para os princípios de
sustentabilidade no gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. Os resultados encontrados
estão sintetizados no Quadro 04, abaixo:
91
Quadro 4 - Comparação entre os princípios de sustentabilidade e a situação atual do gerenciamento dos RSU, por meio do programa de coleta seletiva de Belém.
Princípios da Sustentabilidade
(Milanez e Teixeira, 2001)
Gerenciamento dos RSU / Programa de Coleta Seletiva
Variável Padrão Esperado Análise Comparativa Realidade Observada
Universalização dos
serviços
Todas as pessoas devem ser
atendidas pelo sistema publico
de gestão de resíduos sólidos
urbanos.
Sistema público de GRSU
limitado Coleta de lixo domiciliar 97%
10,4% lixo acumulado nas ruas
Integração dos aspectos
econômicos, ambientais e
sociais na gestão dos
resíduos sólidos urbanos
Aplicação das dimensões
econômicas, ambientais e
sociais no momento do
planejamento, tomada de
decisão, intervenção e controle
do sistema de gestão.
Aplicação parcial e/ou incipiente Não há sistematização das
informações nem um sistema
integrado de GRSU.
Não está em funcionamento o
Fórum Lixo e Cidadania
Cooperação e consórcio Soluções pautadas na gestão
compartilhada
Não foram relatadas
cooperações ou consócios
estabelecidos
Em proposta de discussão articulada
pelo MPE, um consórcio para
RMB, porém com pouquíssimas
possibilidades de sucesso.
Adequação das tecnologias
à realidade local
Soluções tecnológicas, tanto em
relação a equipamentos quanto a
processos e sistemas
Projeto de Biorremediação do
Complexo do Aurá
Com mudanças na administração
municipal, as ações foram
desarticuladas e paralisadas estão
92
em discussão uma nova proposta.
Gestão Participativa Transparência do processo de
gestão, com controle social
Não aplicado no momento. O GT foi criado informalmente e
não está ativo.
Democratização da
Informação
Esclarecimento e orientação
acerca das questões dos
Resíduos sólidos urbanos
Realizado parcialmente Realizado de forma incipiente pelos
Agentes ambientais da SESAN.
Quadro 5- Comparação entre os princípios de sustentabilidade e a situação atual do gerenciamento dos RSU, por meio do programa de coleta seletiva de Belém (cont.)
Princípios da Sustentabilidade
(Milanez e Teixeira, 2001)
Gerenciamento dos RSU / Programa de Coleta Seletiva
Variável Padrão Esperado Análise Comparativa Realidade Observada
Garantia de condições
adequadas de trabalho
Quanto às condições de trabalho
oferecidas aos catadores, tais
como: segurança, ergonomia e
valorização do trabalho.
Atendido com deficiência e
limitações.
Espaços insuficientes utilizados como
galpão de triagem, sem a preocupação
com a ergonomia e ausência de uso de
EPI´s. Em construção um novo galpão.
Geração de Trabalho e
Renda
Prioridades as iniciativas de
cooperativismo ou
associativismo e, promover a
geração de trabalho e renda aos
catadores envolvidos.
Atendimento de
aproximadamente 6,5% dos
catadores cadastrados pela
SESAN (608)
Atuam na associação 56 catadores
93
Preservação dos recursos
naturais
Redução da geração dos
resíduos na fonte.
Não houve relato de ações de
ordem técnica, somente
educacional.
Ação de Educação Ambiental são
desenvolvidas pela SESAN
Previsão dos impactos
socioambientais
Em cada etapa do sistema de
gestão, desde a coleta até sua
disposição final, deverão ser
avaliados os impactos sociais e
ambientais gerados na
população e meio ambiente
local.
Fragilidade institucional com
limitações de recursos
financeiros e resultados obtidos.
Aliado a isso, não há
sistematização das informações
nem sistema de monitoramento
e avaliação.
Desvio de materiais do Aurá,
aumentando sua vida útil;
Geração de trabalho e renda aos 56
catadores;
Melhoria das condições de trabalho em
relação a catação no lixão.
Recuperação de áreas
degradadas pela gestão
incorreta dos resíduos
sólidos urbanos
Investir na correção das ações
negativas geradas no sistema
Projeto de Biorremediação do
Aurá desarticulado e sem
operacionalização
Nova proposta em discussão foi
encaminhada para SEMA no âmbito do
processo de licenciamento ambiental
para análise.
Poluidor-pagador
Corresponsabilidade pela gestão
dos resíduos sólidos urbanos
sendo assumidos pelos seus
geradores
Até o momento não há acordos
setoriais firmados.
A sociedade não participa do processo
de tomada de decisão, uma vez que não
há a constituição de um Fórum de
discussão do tema.
94
No que se refere aos impactos ambientais, de modo geral, todos os atores entrevistados
reconhecem ter algum impacto positivo no tocante ao meio ambiente urbano, o aspecto mais
lembrado foi relacionado ao desvio de material ao aterro, aumentando sua vida útil, como
relatado por um entrevistado:
Olha, se por exemplo, o lixão (Aurá) tinha projeto de vida útil para 2000, então se esse material fosse pra baixo da terra, quanto lixão já num tinha aberto, porque um contêiner pode dar em média 2 ton de material [...] desvia também das beiras de córregos e igarapés, entupindo bueiros e provocando alagamentos na cidade. (Entrevistado 07, informação verbal, 2012).
Para a SESAN são aproximadamente 20 ton/semana de material que são desviados do
destino do complexo do Aurá.
No entanto, nenhum entrevistado observa destaque na área socioeconômica, uma vez
que com a modesta organização da associação ainda são pequenos os preços aferidos pelos
materiais comercializados, de acordo com o entrevistado:
Na época que a gente tava em cima do lixão, a única coisa que melhorou foi a condição de trabalho, porque com uma chuva dessas, o lixão fica pura lama, você emagrece rapidinho [...] Mas por mês eu tirava uma base de 1.500 a 1.700 é por isso que eles brigam em cima do lixão [...] Já passou umas trezentas pessoas por aqui, mas quando chega no fim do mês que recebe o dinheirinho, eles não ficam. (Entrevistado 07, informação verbal, 2012).
Em relação aos aspectos sociais e políticos, segundo um entrevistado, os incentivos
são tímidos, porém marcantes, conforme expõe abaixo: “Reconheço melhorias educacional
quando eu participo de reuniões, de seminário, feiras e social quando eu vou negociar e
reivindicar meus direitos de catadora”. (Entrevistado 06, informação verbal, 2012).
Para a SESAN o programa de coleta seletiva proporciona melhora da autoestima a
partir da aquisição de trabalho e renda para os 56 catadores. Segundo dados da SESAN, os
catadores envolvidos saíram de uma renda de aproximadamente R$ 20 a R$ 30 reais por
semana para os atuais R$ 100 a R$ 120 reais por semana, possibilitando melhoria na
qualidade de vida, com a aquisição de eletrodomésticos, moradia, educação e etc;
95
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados pode-se afirmar que, no âmbito do sistema de gestão e
gerenciamento dos resíduos sólidos na RMB, o Programa de Coleta Seletiva de Belém, após
quatro governos municipais sucessivos, apresenta-se, diante da realidade da gestão integrada
dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, como um conjunto de ações pontuais descontínuas e
desconectadas entre as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e sem adequado
controle social, conforme estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
De acordo com Pires (2010) não há um programa de coleta seletiva oficial estruturado
em Belém e sim ações pontuais realizadas pelos membros da ACCSB, sob a tutela da
SESAN, e sem remuneração sobre os serviços de coleta e triagem prestados a municipalidade.
Sobre os resultados alcançados pelo programa, nota-se que são destacados como
insignificantes por todos os atores-chave entrevistados, em relação a todas as dimensões,
exceto a ambiental, revelada também por todos os atores, com impactos positivos na
contribuição da qualidade ambiental da cidade.
No que se refere ao desenvolvimento de um sistema integrado de gerenciamento de
resíduos sólidos urbanos, verifica-se que o programa de coleta seletiva, enfrenta dificuldades
de institucionalização, uma vez que sofre constante descontinuidade de suas ações,
diminuindo, com isso, as chances de adesão da população local e de sua sustentabilidade a
curto, médio e longo prazo.
No entanto, para tornar-se de fato, um programa institucionalizado, no âmbito de um
sistema integrado de gestão de resíduos sólidos, o programa de coleta seletiva de Belém,
precisa, antes, ser instituído pelo Governo Municipal, como uma política pública, clara e
concreta, não somente como uma soma de ações pontuais.
Pelos resultados obtidos na pesquisa, evidencia-se a necessidade do programa de
coleta seletiva, deixar de ser um conjunto de ações pontuais e passar a ser um programa
sistematizado e institucionalizado, ou seja, definir todo o processo de gestão, desde a etapa de
planejamento até sua operacionalização, com ações e metas mensuráveis, sem deixar de lado
as etapas de avaliação e monitoramento, para sua adequação as necessidades da população
local, com controle social, nas tomadas de decisão. Desse modo, o reconhecimento do
programa de coleta seletiva como estratégia válida de geração de trabalho e renda e inclusão
social aos catadores envolvidos promove condições favoráveis ao seu processo de
institucionalização.
Neste sentido, avanços no que se refere aos aspectos da legalidade como também a
96
busca de fontes permanentes de financiamento junto ao Governo Federal se fazem necessários
e urgentes.
Além de definir estruturas, capacidade institucional, formalização e financiamento
entre outros, é importante considerar ainda, que a institucionalização do programa interage
com um processo mais amplo de institucionalização da Política Nacional de Resíduos
Sólidos, o qual determina o conjunto de estratégias, ações, problemas e atores que pertencem
a esse campo.
Constata-se, assim, que a criação de uma marco legal para a coleta seletiva no âmbito
da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos na RMB, faz-se fundamental para o
processo de institucionalização do conjunto de políticas que a envolve. Impõem-se ainda a
necessidade de maior comprometimento e diálogo entre os atores-chave envolvidos no
programa de coleta seletiva, no sentido de alcançar efetividade.
Em relação ao arranjo institucional preparado para a gestão do programa, apresenta-se,
ainda de forma frágil e incipiente, centrada na coordenação da SESAN, sem participação
representativa e direta dos atores-chave envolvidos, , nem de criação de espaços de debates e
discussão a exemplo do Fórum Lixo e Cidadania. Desta forma, a reativação do Grupo de
Trabalho (GT) dos Resíduos Sólidos da RMB, o qual foi criado, porém não formalizado,
representa indícios em busca de práticas de gestão participativa.
Neste contexto, o programa de coleta seletiva, apresenta-se como uma experiência que
se mostra como frágil e limitada, tendo muito a avançar em sua efetividade. No tocante aos
desafios e limitações da gestão, percebe-se que a gestão do programa enfrenta nos dois níveis
de discussão – características do próprio programa e da associação – desafios que colocam em
risco sua sustentação e efetividade e ainda comprometem características essenciais no tipo de
gestão adotado.
Para tanto, o programa precisa incorporar a participação de todos os atores sociais, em
especial a população local, adotando métodos e técnicas participativas.
Necessita também de alcançar um equilíbrio entre as dimensões econômica, social,
ambiental e política de gestão por meio da elaboração de um Plano Municipal de
Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos, conforme determina a Política Nacional de
Resíduos Sólidos.
As discussões a cerca do programa, situa-se, ainda, dentro de um debate como
propositor da geração de trabalho e renda, inclusão social e cidadania aos catadores
envolvidos. Por enquanto, merece notar que o alcance e os resultados obtidos são limitados e
incipientes.
97
A efetividade e sustentação do programa ao longo do tempo exigem de todos os atores
envolvidos o esforço de repensá-lo em sua essência. E finalmente, os rumos do programa de
coleta seletiva de Belém, depende também da mudança de governo municipal em curso e da
orientação das ações a serem adotadas a partir de então.
98
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INTERNAVE Engenharia Ltda. EIA/RIMA - AMPLA Projetos e Serviços em Meio Ambiente Ltda. SEWELL, G. H. Administração e controle da qualidade ambiental. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1978. 295 p. SILVA, J. A, GUIMARÃES, G. T. D. Políticas municipais de geração de trabalho e renda: um instrumento de emancipação? In: BARCELOS, E. S.; RASSIA, P. C.; SILVA, E, W. Economia solidária: sistematizando experiências. Ijuí: Unijuí, 2010. 329 p. SILVA, P, L. B; MELO, M, A, B. O processo de implementação de políticas públicas no Brasil: características e determinantes da avaliação de programas e projetos. Campinas: UNICAMP, 2000. p.16. (Caderno; 48). SILVA, S. R. M. Indicadores de sustentabilidade urbana: as perspectivas e as limitações da operacionalização de um referencial sustentável. 2000. 260p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana)-Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, SP, 2000. SINGER, P. A recente ressurreição da economia solidária no Brasil. In: SANTOS, Boaventura de Souza (org.) Produzir para viver: os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 81-126. SOUZA, C. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, v.8, n.16, p.20-45, jul./dez., 2006. STAKE, R. E. Cases studies. In: DENZIN, N, K; LINCOLN, Y. S. Handbook of qualitative research. Londres: Sage, 1994. p.236-247. TAVARES, A. N. Programa de reciclagem de lixo na área comercial de Belém: uma proposta metodológica In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 19. Belém, 2006. WAITE, R. Household waste recycling. London: Earthscan Publications, 1995. ZANETI, B. C. I.; SÁ, M. L. A educação ambiental como instrumento de mudança na concepção de gestão dos resíduos sólidos domiciliares e na preservação do meio ambiente. [2003]. Disponível em: <http:/www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro1/gt/sociedade_do_conhecimento/Zaneti/Mourão.pdf>. Acesso em: 27 maio 2009. ZANIN, M. et al. Resíduos plásticos e reciclagem: aspectos gerais e tecnologia. São Carlos: EDUFSCar, 2009.
103
Apêndice A - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da Secretaria Municipal de
Saneamento (SESAN), Departamento de Resíduos Sólidos (DRES) – Sra. Elvira Pinheiro de
Oliveira - Coordenadora do Programa de Coleta Seletiva
I - Perfil do Entrevistado:
a) Nome:
b) Há quanto tempo a Sra está na coordenação do Programa?
II - Origem e Institucionalização:
a) Qual a infra-estrutura física da SESAN/DRES para a execução do gerenciamento dos
RSU? E o Programa?
b) Quantos funcionários trabalham na execução do gerenciamento dos RSU?
c) Quantos de recursos financeiros são destinados para o gerenciamento dos RSU?
d) O programa de coleta Seletiva pode ser considerado uma política de Estado?
e) Quais são as Leis e normas que existem acerca da Política de Resíduos Sólidos da RMB? E
do Programa?
f) Há proposta de criação de um Grupo de Trabalho (GT) a fim de dar suporte a gestão da
política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (RMB) em discussão? Quais
são seus desdobramentos?
III - Arranjo Institucional para gestão
a) Quem são os parceiros na gestão do Programa de Coleta Seletiva?
b) Esses parceiros influenciam no processo de tomada de decisão do Programa?
c) Quem participa do processo de planejamento do Programa?
d) Quem executa o Programa?
e) Como são tomadas as decisões acerca do Programa?
f) A sociedade participa do processo de tomada de decisão acerca do Programa? Como?
g) Quais os canais estabelecidos para esta comunicação?
h) Qual o papel exercido pelo Ministério Público (MP) no processo de implantação do
Programa?
i) Qual o papel exercido pelo Governo do Estado através de suas Secretarias no processo de
implantação do Programa?
j) Qual o arranjo institucional preparado para gerir o Programa de Coleta Seletiva?
104
IV - Possibilidades, Desafios e Limitações
a) Que resultados, esperados ou não, já foram alcançados até o momento sobre o Programa?
b) Quais objetivos já foram alcançados pelo Programa?
c) Quais as dificuldades encontradas na execução do Programa?
d) Que ações se fazem necessária para melhorar a condução e conseqüentemente, os
resultados obtidos pelo Programa?
V - Impactos Ambiental, Socioeconômico, Político
a) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área ambiental?
b) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área
Socioeconômica?
c) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Política?
105
Apêndice B - Roteiro de Entrevista a ser aplicados aos Membros Fábia de Melo-Fournier e
Nilton Gurjão das Chagas da área de meio ambiente do Ministério Público do Estado (MPE).
I - Perfil do Entrevistado:
a) Nome:
b) Instituição representante:
II - Origem e Institucionalização:
a) Há quanto tempo esta instituição participa do Programa?
b) Quais motivos levaram esta instituição a participar do Programa?
c) Existe alguma norma que regulamenta esta participação?
d) Quais as atribuições do MPE no âmbito da composição institucional montada pra gerir o
Programa?
e) Quais são as Leis e normas que existem acerca da Política de Resíduos Sólidos da RMB? E
do Programa?
f) Há proposta de criação de um Grupo de Trabalho (GT) a fim de dar suporte a gestão da
política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (RMB) em discussão? Quais
são seus desdobramentos?
III - Arranjo Institucional para gestão
a) Como o MPE interage com a Política de Resíduos Sólidos da RMB? E com o Programa de
Coleta Seletiva?
b) A sociedade participa do processo de decisão acerca da Política? E do Programa?
c) As Instituições parceiras participam do processo de tomada de decisão acerca da Política?
E do Programa?
d) Cite alguns canais estabelecidos para esta interlocução?
IV - Possibilidades, Desafios e Limitações
a) Em sua opinião, quais as principais dificuldades encontradas para gerir a Política? E o
Programa?
b) Em sua opinião, quais as possibilidades verificadas na gestão do da Política? E do
Programa?
c) Que ações se fazem necessárias para melhorar a condução e, conseqüentemente, os
106
resultados obtidos?
d) Em sua opinião, que ações se fazem necessária para atender as atuais exigências da Lei
12.305/ 2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos?
e) Em sua opinião, quais objetivos já foram alcançados?
f) Em sua opinião, quais objetivos ainda se pretendem alcançar?
V - Impactos Ambiental, Socioeconômico, Político
a) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área ambiental?
b) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Social?
c) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Econômica?
d) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Política?
107
Apêndice C - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da ONG “No Olhar” – Sr.
Marcos Wilson – Representante Legal da ONG.
I - Perfil do Entrevistado:
a) Nome:
b) Instituição representante:
II - Origem e Institucionalização:
a) A ONG participa do Programa de Coleta Seletiva municipal? Se sim, há quanto tempo?
b) Quais motivos?
c) Existe alguma norma que regulamenta o Programa?
d) Quais ações a ONG desenvolvem no âmbito da gestão integrada dos RSU?
e) Qual infra-estrutura que a ONG dispõe?
f) Quantas pessoas estão envolvidas neste trabalho?
g) Quanto de recursos financeiros está disponível para a execução do programa?
h) Quais as atribuições da ONG no âmbito da composição institucional montada para gestão
integrada dos RSU na RMB?
i) Quais são as Leis e normas que existem acerca da Política de Resíduos Sólidos da RMB? E
do Programa?
j) Há proposta de criação de um Grupo de Trabalho (GT) a fim de dar suporte a gestão da
política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (RMB) em discussão? Esta
instituição participa? Quais são seus desdobramentos?
III - Arranjo Institucional para gestão
a) Como a ONG “No Olhar” interage com a Política de Resíduos Sólidos da RMB? E com o
Programa de Coleta Seletiva?
b) A sociedade participa do processo de decisão acerca da Política? E do Programa?
c) As Instituições parceiras participam do processo de tomada de decisão acerca da Política?
E do Programa?
d) Cite alguns canais estabelecidos para esta interlocução?
108
IV - Possibilidades, Desafios e Limitações
a) Em sua opinião, quais as principais dificuldades encontradas para gerir a Política? E o
Programa?
b) Em sua opinião, quais as possibilidades verificadas na gestão do da Política? E do
Programa?
c) Que ações se fazem necessárias para melhorar a condução e, conseqüentemente, os
resultados obtidos?
d) Em sua opinião, que ações se fazem necessária para atender as atuais exigências da Lei
12.305/ 2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos?
V - Impactos Ambiental, Socioeconômico, Político
a) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área ambiental?
b) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Social?
c) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Econômica?
d) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Política?
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Apêndice D - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da Associação de Catadores da
Coleta Seletiva de Belém (ACCSB) – Sra. Maria José de Moraes – Representante Legal –
Roselino Ribeiro (13 pessoas).
I - Perfil do Entrevistado:
a) Nome:
b) Instituição representante:
II - Origem e Institucionalização:
a) Há quanto tempo esta instituição participa do Programa?
b) Quais motivos levaram esta instituição a participar do Programa?
c) Existe alguma norma que regulamenta esta participação?
d) Quais as atribuições da Associação no âmbito da composição institucional montada para
gerir o Programa?
e) Quais são as Leis e normas que existem acerca da Política de Resíduos Sólidos da RMB? E
do Programa?
f) Há proposta de criação de um Grupo de Trabalho (GT) a fim de dar suporte a gestão da
política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (RMB) em discussão? Esta
instituição participa? Quais são seus desdobramentos?
III - Arranjo Institucional para gestão
a) Como a Associação interage com a Política de Resíduos Sólidos da RMB? E com o
Programa de Coleta Seletiva?
b) A sociedade participa do processo de decisão acerca da Política? E do Programa?
c) As Instituições parceiras participam do processo de tomada de decisão acerca da Política?
E do Programa?
d) Cite alguns canais estabelecidos para esta interlocução?
IV - Possibilidades, Desafios e Limitações
a) Em sua opinião, quais as principais dificuldades encontradas para gerir a Política? E o
Programa? transporte
b) Em sua opinião, quais as possibilidades verificadas na gestão da Política? E do Programa?
c) Que ações se fazem necessárias para melhorar a condução e, conseqüentemente, os
resultados obtidos? Infra-estrutura
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d) Em sua opinião, que ações se fazem necessária para atender as atuais exigências da Lei
12.305/ 2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos? nao
e) Em sua opinião, quais objetivos já foram alcançados?
f) Em sua opinião, quais objetivos ainda se pretendem alcançar?
V - Impactos Ambiental, Socioeconômico, Político
a) Qual a quantidade mensal de catadores envolvidos no Programa? E de catadores autônomos
envolvidos?
b) Qual a densidade média mensal de material reciclável coletado? E qual a quantidade de
material coletado seletivamente?
c) Qual a freqüência média de coletas por semana?
d) Qual o percentual médio de resíduos recicláveis presente no lixo da coleta regular?
e) Qual o percentual de resíduos orgânico nos resíduos de coleta seletiva?
f) Qual a quantidade de itens de materiais recicláveis comercializados (unidade)?
g) Qual o item de material reciclável é mais comercializado?
h) Qual a renda média mensal por catador?
i) Em sua opinião, quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área
ambiental?
j) Em sua opinião, quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área
Social?
k) Em sua opinião, quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área
Econômica?
l) Em sua opinião, quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área
Política?
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Apêndice E - Roteiro de Entrevista a serem aplicados aos membros representante dos bairros
partícipes do Programa, Bairros Umarizal e Marco (Rua Marquês).
Bom dia/tarde!
O Sr.(a) mora neste bairro? Caso sim, proceder à entrevista.
O Sr. (a) concorda em participar de uma entrevista sobre o programa de coleta seletiva de lixo
da RMB? Esta entrevista servirá de base de dados para um projeto de pesquisa científica da
UNAMA a fim de investigar o Programa de Coleta Seletiva desenvolvido pela Prefeitura.
Nome Completo e idade?
a) Você já ouviu falar de Coleta Seletiva? O que você entende por isso?
b) Você participa do Programa de Coleta Seletiva no seu Bairro? Caso sim, como? Caso não,
por quê?
c) Existem experiências em que o Programa de Coleta Seletiva começa bem e com o tempo
vai se deixando de lado. Por que você acha que isso acontece?
d) Em sua opinião, quais ações se fazem necessárias ser realizadas para melhorar a eficiência
do Programa?
e) Você acha difícil realizar a separação do material reciclável para a coleta seletiva?
f) Você tem alguma contribuição a fazer?
Obrigada pela informação!