1
Giselle Medeiros da Costa One Adriana Gomes Cézar Carvalho
(Organizadores)
Nutrição & : os
desafios da interdisciplinaridade nos ciclos da vida humana
1
IBEA
Campina Grande - PB 2017
Instituto Bioeducação - IBEA
Editor Chefe Giselle Medeiros da Costa One
Corpo Editorial
Beatriz Susana Ovruski de Ceballos Ednice Fideles Cavalcante Anízio Giselle Medeiros da Costa One Helder Neves de Albuquerque Roseanne da Cunha Uchôa
Revisão Final
Ednice Fideles Cavalcante Anízio
FICHA CATALOGRÁFICA Dados de Acordo com AACR2, CDU e CUTTER
Laureno Marques Sales, Bibliotecário especialista. CRB -15/121
Direitos desta Edição reservados ao Instituto Bioeducação www.institutobioeducacao.org.br
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
One, Giselle Medeiros da Costa. O59n Nutrição e saúde: os desafios da interdisciplinaridade
nos ciclos da vida humana, 1./ Organizadores: Giselle Medeiros da Costa One; Adriana Gomes Cézar Carvalho. – Campina Grande –
PB, 2017 594 fls. Prefixo editorial: 92522 ISBN: 978-85-92522-08-7 (on-line) Modelo de acesso: Word Wibe Web <http://www.cinasama.com.br> Instituto Bioeducação – IBEA - Campina Grande - PB
1. Nutrição 2. Nutrição clínica 3. Alergia alimentar I. Giselle Medeiros da Costa One II. Adriana Gomes Cézar Carvalho III. Nutrição e saúde: os desafios da interdisciplinaridade nos ciclos da vida humana, 1
CDU: 612.3
IBEA INSTITUTO BIOEDUCAÇÃO
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meio ou processo, seja reprográfico, fotográfico, gráfico, microfilmagem, entre outros. Estas proibições aplicam-se também às características gráficas e/ou
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2017
Aos participantes do CINASAMA pela
dedicação que executam suas
atividades e pelo amor que escrevem os
capítulos que compõem esse livro.
" Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para para constatar, contatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade."
Paulo Freire
PREFÁCIO
Os livros “NUTRIÇÃO E SAÚDE: os desafios da
interdisciplinaridade nos ciclos da vida humana 1, 2 e 3” tem conteúdo interdisciplinar, contribuindo para o
aprendizado e compreensão de varias temáticas dentro da área em estudo. Esta obra é uma coletânea de pesquisas de
campo e bibliográfica, fruto dos trabalhos apresentados no Simpósio Nacional de Saúde e Meio Ambiente realizado entre os dias 2 e 3 de dezembro de 2016 na cidade de João Pessoa-
PB. O CINASAMA é um evento que tem como objetivo
proporcionar subsídios para que os participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e da educação. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico,
Nutricional e Ambiental de direcionar todos que formam a Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana e
Educação socioambiental para a Vida. Os eixos temáticos abordados no Simpósio Nacional de
Saúde e Meio Ambiente e nos livros garantem uma ampla
discussão, incentivando, promovendo e apoiando a pesquisa. Os organizadores objetivaram incentivar, promover, e apoiar
a pesquisa em geral para que os leitores aproveitem cada capítulo como uma leitura prazerosa e com a competência, eficiência e profissionalismo da equipe de autores que muito
se dedicaram a escrever trabalhos de excelente qualidade direcionados a um público vasto.
Esta publicação pode ser destinada aos diversos leitores que se interessem pelos temas debatidos.
Espera-se que este trabalho desperte novas ações, estimule novas percepções e desenvolva novos humanos cidadãos.
Aproveitem a oportunidade e boa leitura.
SUMÁRIO
ALERGIA ALIMENTAR .................................................................. 14
CAPÍTULO 1 ................................................................................ 15
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO
CONSUMIDOR: REVISÃO ................................................................... 15
NUTRIÇÃO CLÍNICA ..................................................................... 35
CAPÍTULO 2 ................................................................................ 36
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA
PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM
QUIMIOTERAPIA: UM ESTUDO DE CASO........................................... 36
CAPITULO 3 ................................................................................ 56
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE
HIDROGINÁSTICA .............................................................................. 56
CAPÍTULO 4 ................................................................................ 76
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA
CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE ............................ 76
CAPÍTULO 5 ................................................................................ 90
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE
MUSCULAÇÃO E SEUS POSSIÍVEIS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
.......................................................................................................... 90
CAPÍTULO 6 ............................................................................... 107
OBESIDADE COMO UMA DOENÇA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS
PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE GERAL DO INDIVÍDUO,
DECORRENTE DO ACÚMULO EXCESSIVO DE GORDURA CORPORAL.
........................................................................................................ 107
CAPÍTULO 7 ............................................................................... 128
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL:
UM ESTUDO DE REVISÃO ................................................................ 128
CAPÍTULO 8 ............................................................................... 143
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE
HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA ..................................... 143
CAPÍTULO 9 ............................................................................... 158
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A
HEREDITARIEDADE .......................................................................... 158
CAPÍTULO 10 ............................................................................. 178
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO
EPIGENÉTICO: UM ESTUDO DE REVISÃO ......................................... 178
CAPÍTULO 11 ............................................................................. 193
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA
CARDIOVASCULAR .......................................................................... 193
CAPÍTULO 12 ............................................................................. 209
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE
VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA ........... 209
CAPÍTULO 13 ............................................................................. 224
NÍVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO
ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO ............................................ 224
CAPÍTULO 14 ............................................................................. 239
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A INDIVIDUOS SOROPOSITIVO ........... 239
CAPÍTULO 15 ............................................................................. 254
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE
DOWN ............................................................................................. 254
CAPÍTULO 16 ............................................................................. 274
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABÉTICO
HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
........................................................................................................ 274
CAPÍTULO 17 ............................................................................. 291
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA
REVISÃO DA LITERATURA ................................................................ 291
CAPÍTULO 18 ............................................................................. 307
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO
COM FOCO NA NUTRIÇÃO .............................................................. 307
CAPÍTULO 19 ............................................................................. 326
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA
NUTRIÇÃO ....................................................................................... 326
CAPÍTULO 20 ............................................................................. 345
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO
GLÚTEN ........................................................................................... 345
CAPÍTULO 21 ............................................................................. 365
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12
EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO .................................................................................... 365
CAPÍTULO 22 ............................................................................. 383
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE
MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE
BREJO DO CRUZ, PB ......................................................................... 383
CAPÍTULO 23 ............................................................................. 398
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
........................................................................................................ 398
CAPÍTULO 24 ............................................................................. 422
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE
DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS ...................................................... 422
CAPÍTULO 25 ............................................................................. 442
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM
OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................ 442
CAPÍTULO 26 ............................................................................. 456
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS
TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA
EMAGRECIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO 456
CAPÍTULO 27 ............................................................................. 472
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA
INTERNET E EM REVISTAS POPULARES ........................................... 472
CAPÍTULO 28 ............................................................................. 492
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICO E
MELHOR ADESÃO DA DIETA ............................................................ 492
CAPÍTULO 29 ............................................................................. 508
ANÁLISE CRITICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA .... 508
CAPÍTULO 30 ............................................................................. 526
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE
CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS
DE CAMPINA GRANDE/PB ............................................................... 526
CAPÍTULO 31 ............................................................................. 546
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE ÓLEO DE
AMENDOIM (ARACHIS HYPOGAEA L.) SOBRE OS PARÂMETROS
MURINOMÉTRICOS E BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR ................ 546
CAPÍTULO 32 ............................................................................. 561
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL ................................................................................. 561
CAPÍTULO 33 ............................................................................. 579
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES DO CURSO DE NUTRIÇÃO SOBRE
ALIMENTOS FUNCIONAIS ................................................................ 579
CAPÍTULO 34 ............................................................................. 594
DESNUTRIÇÃO ENERGÉTICO-PROTEÍCA COMO IMPORTANTE
PREDITOR DE MORBIMORTALIDADE EM PACIENTES COM DOENÇA
RENAL CRÔNICA EM HEMODIÁLISE ................................................ 594
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14
ALERGIA
ALIMENTAR
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
15
CAPÍTULO 1
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
Jéssica Moreira de CARVALHO 1
Leila Moreira de CARVALHO 2 Martiniano da Silva LIMA 1
1 Pós-Graduandos em de Nutrição Desportiva, FIP; 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, UFPB.
RESUMO: Alergias alimentares são reações adversas à saúde desencadeadas por uma resposta imunológica específica que ocorre em indivíduos sensíveis após o consumo de determinado alimento. As alergias, por sua vez, podem ser induzidas por uma grande variedade de alimentos, contudo, são atribuídas a uma classe restrita de alimentos conhecidos como the big 8, que correspondem ao grupo de oito alimentos que causam mais de 90% de todas as reações alérgicas alimentares. Esse grupo é constituído pelo leite, ovos, peixes, crustáceos, amendoim, trigo, soja e frutos de casca rija (amêndoa, noz, avelã, noz-pecã, noz de macadâmia, pistácios, castanha de caju e noz do Brasil). Devido as reações adversas provenientes de alimentos alergênicos, podendo em alguns casos levar o indivíduo à óbito, faz-se necessária a restrição no consumo desses alimentos e adequada informação na rotulagem dos alimentos industrializados. O presente estudo teve como objetivo desenvolver um trabalho de revisão da literatura de forma a abordar os principais alergênicos alimentares e a legislação brasileira que regulamenta e fornece disposições legais para a rotulagem adequada desses produtos. Portanto, o controle de alimentos alergênicos deve ter um enfoque preventivo mediante a identificação das fontes potenciais de substâncias alergênicas na rotulagem de
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
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alimentos, de forma a garantir que essa informação chegue de forma adequada ao consumidor garantindo sua saúde a integridade. Palavras-chave: The big 8. Alergia alimentar. Rotulagem de
alimentos alergênicos.
1 INTRODUÇÃO
As reações adversas aos alimentos têm se tornado mais
prevalentes na atualidade do que no passado, com um aumento
em termos de gravidade e de extensão (MAHAN; STUMP;
RAYMOND, 2012). Modificações da dieta e interferências do
meio ambiente associadas a predisposição genética têm sido
implicadas na ampliação dessas reações.
As alergias alimentares têm sido consideradas um
problema procedente de saúde pública. Estudos estimam que
a prevalência dessas alergias tende a aumentar e pode afetar
cerca de 2 a 4% da população mundial (COSTA; OLIVEIRA;
MAFRA, 2012).
A alergia alimentar pode ser induzida por uma grande
variedade de alimentos, contudo, estudos relatam que cerca de
90% das reações alérgicas são atribuídas a uma classe restrita
de alimentos conhecidos como the big 8. Esse grupo
compreende: leite, ovos, peixes, crustáceos, amendoim, trigo,
soja e frutos de casca rija (amêndoa, noz, avelã, noz-pecã, noz
de macadâmia, pistácios, castanha de caju e noz do Brasil)
(COSTA; OLIVEIRA; MAFRA, 2012).
Devido as reações adversas provenientes de alimentos
alergênicos, a restrição no consumo desses alimentos é a
principal alternativa para prevenir o aparecimento de
complicações clínicas. Por consequência, o acesso a
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
17
informações corretas sobre a composição dos alimentos é
essencial para proteger a saúde de indivíduos com alergias
alimentares.
No Brasil, a RDC Nº 26, de 02 de Julho de 2015, da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece
requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos
que causam alergias (BRASIL, 2015). Desta forma, as
empresas que processam e embalam os alimentos possuem a
responsabilidade legal de informar corretamente a composição
de seus produtos, e adotar as medidas para evitar a
contaminação cruzada com alérgenos alimentares.
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo
desenvolver um trabalho de revisão bibliográfica que aborde os
principais alimentos alergênicos e a legislação brasileira de
rotulagem desses.
2 MATERIAIS E MÉTODO
A pesquisa constituiu-se de uma revisão bibliográfica
através de buscas de dados em livros de nutrição e nas bases
eletrônicas ScienceDirect, Pubmed, LILACS, Web of Science e
Periódicos CAPES.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
ALERGIAS ALIMENTARES
As alergias alimentares mediadas por IgE, são as mais
importantes classes de sensibilidades alimentares, por serem
potencialmente graves e até fatais, especialmente se uma
quantidade significativa do alimento nocivo for ingerido, e pelo
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
18
fato dos indivíduos com esse tipo de alergia apresentarem baixo
grau de tolerância para o alimento (IANR, 2014).
As reações de alergia alimentar IgE-mediadas
geralmente são de início rápido, ocorrendo dentro de minutos a
algumas horas após a exposição. Os métodos de exposição
incluem a inalação, o contato com a pele e a ingestão. São
atribuídos diversos sintomas a esse tipo de alergia alimentar;
envolvendo os sistemas cutâneo, gastrointestinal ou
respiratório, podendo variar de uma urticária até uma anafilaxia
com risco de vida (MAHAN; STUMP; RAYMOND, 2012).
Conforme Vickery, Chin e Burks (2011), na alergia
alimentar, o sistema imune estimula mediadores inflamatórios
em resposta ao alimento, este por sua vez não deveria causar
uma resposta. O sistema imune identifica de modo errado o
alimento como uma ameaça e monta um ataque contra ele. A
sensibilização ocorre na primeira exposição do alérgeno ás
células imunes, nessa fase não há nenhum sintoma de reação.
Durante a sensibilização, a IgE específica para alérgenos se
liga à superfície de mastócitos em vários tecidos e basófilos no
sangue. Após a sensibilização, sempre que o alérgeno entra no
corpo, o sistema imunológico responde da mesma maneira a
essa ameaça.
A combinação de um alérgeno com IgE específico ao
alérgeno fixado aos mastócitos do tecido ou basófilos
circulantes leva à liberação de mediadores químicos, incluindo
histamina, enzimas, prostaglandinas derivadas de lipídios,
interleucinas e outros. Quando liberados, esses mediadores
inflamatórios causam as reações adversas.
A predisposição genética, a potência antigênica de
alguns alimentos e alterações a nível do intestino
desempenham um importante papel nos fatores envolvidos na
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
19
alergia alimentar. Existem mecanismos de defesa
principalmente a nível do trato gastrintestinal que impedem a
penetração do alérgeno alimentar e consequente
sensibilização. Estudos indicam que cerca de 50 a 70% dos
pacientes com alergias alimentares possuem histórico familiar
de alergia (ASBAI, 2009).
ALIMENTOS ALERGÊNICOS
Leite e derivados de leite
Segundo Wood (2003), o leite é uma causa muito comum
de alergia em todo o mundo e representa o maior episódio de
alergia alimentar na infância. Exl e Fritsche (2001), Garcia-Ara
et al. (2004) e Host et al. (2002) afirmam que a dominância
relatada nos cinco primeiros anos de vida varia entre 2 a 6 %,
porém, em 90% dos casos é superada aos seis anos de vida e
afeta em quantidade mínima adultos.
Alergia às proteínas do leite geralmente resultam em
uma combinação de diferentes sintomas, na maioria das vezes
cutâneos (dermatite atópica, eczema em flexão, urticária), no
trato gastrointestinal (vômitos, diarreia, constipação, dor
abdominal), e em vias aéreas (febre do feno, sonoridade) dentro
da primeira hora após o consumo (IANR, 2014).
Caseínas e beta-lactoglobulina são consideradas como
os alérgenos mais importantes no leite. Estas proteínas
presentes no leite são encontradas em várias espécies de
mamíferos. Bernard et al. (1998) afirmam que indivíduos
alérgicos ao leite de vaca, muito provavelmente, reagem ao leite
de ovelha e/ou cabra, porém o leite de outras espécies pode,
algumas vezes, ser tolerado.
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
20
Ovos e produtos à base de ovos
Ovos são amplamente introduzidos na dieta da
população devido ao seu fácil acesso e sua qualidade
nutricional. O ovo é um dos alimentos que mais causa alergia
alimentar na infância, sendo observado uma alta prevalência de
alergia nessa fase (IANR, 2014). As principais proteínas
envolvidas na alergia são: albumina, ovalbumina, ovomucóide,
ovotransferrina, ovomucina, lisozima, presentes na clara, e
grânulo, lipovitelina, fosvitina, lipoproteína de baixa densidade
e plasma, presentes na gema (DISTRITO FEDERAL, 2009).
Segundo MAHSC (2006), a ingestão de ovos em
indivíduos com alergia desencadeia uma reação alérgica
imediata com diferentes sintomas, na maioria das vezes
apresentando pruridos na boca e faringe, vômitos,
rinoconjuntivite, asma e até mesmo anafilaxia.
Peixes e produtos à base de peixes
Conforme IANR (2014), o consumo de peixes têm
aumentado consideravelmente nos últimos anos, e isso vem
desencadeando o número de indivíduos com alergias ao peixe,
principalmente em regiões de alto consumo.
Os sintomas que resultam da reação alérgica aos
peixes, que são na maioria das vezes cutâneos (urticária e
angiodema, dermatite atópica e dermatite herpetiforme) e
gastrointestinais (hipersensibilidade imediata, sindrome da
alergia oral, esofagite e gastrite eosinofílica alérgica,
enteropatia, proctite e enterocolite induzida por proteina
alimentar), que aparecem logo após sua ingestão. Raramente
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
21
também se observam reações mais graves, incluindo o choque
anafilático.
Segundo IANR (2014), apesar da variedade de
diferentes espécies de peixes, a maioria das reações alérgicas
são causadas pela proteína do músculo do peixe parvalbumina.
Índivíduos com reações alérgicas a uma espécie de peixe,
tendem a ser sensíveis a outros também.
A proteína parvalbumina controla o fluxo de cálcio no
sarcoplasma muscular, sendo assim resistente a temperaturas
elevadas e à digestão enzimática, mantendo sua alergenicidade
mesmo após o aquecimento. (POULSEN et al., 2001;
BORREGO; CUEVAS; GARCÍA, 2003). A reatividade cruzada
entre diferentes espécies de peixes tem comumente
importância clínica. Segundo Carrapatoso (2004),
aproximadamente 50% dos alérgicos a uma espécie de peixe
apresentam risco de alergia alimentar a uma segunda espécie.
A alergia ao peixe é frequente em crianças, e em 75%
dos casos, ocorrem com a introdução dele na dieta, durante o
primeiro ano de vida. Ja em adultos,é frequente a sensibilização
através do contato ou da inalação (CARRAPATOSO, 2004).
Crustáceos e produtos à base de crustáceos
Segundo Wild e Lehrer (2005), os crustáceos mais
relevantes na dieta humana são os camarões, caranguejos e a
lagostas. A alergia produzida por crustáceos é uma das
principais causadoras de alimentares. De acordo com Jeebhay
et al. (2001) e Ramírez e Bahna (2009) o aumento do consumo
de crustáceos, está associado a reações adversas relatadas
tanto alérgicas como tóxicas. Essas reações incluem as
respostas imunológicas mediadas por IgE, induzidas pela
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
22
ingestão do crustáceo, pelo contato através da inalação do
alérgeno ou pela manipulação do mesmo. O principal alérgeno
nos crustáceos é a tropomiosina, uma proteína fundamental à
contração muscular.
Um indivíduo alérgico a um determinado crustáceos, tem
grande probabilidade de apresentar alergia a outros crustáceos,
uma vez que a tropomiosina encontra-se em diversas espécies.
Carrapatoso (2004) destaca que o risco de reação a uma
segunda espécie é de aproximadamente 75%.
Os sintomas mais comuns de alergia a crustáceos
incluem desde reações na cavidade oral (síndrome da alergia
oral) a reações sistêmicas (anafilaxia) que podem ser fatais
(IANR, 2014). Contudo, Lehrer, Ayuso e Reese (2003) afirmam
que sensibilizações assintomáticas são também frequentes.
Eventualmente ocorrem reações respiratórias (rinite alérgica,
asma, asma crônica prévia e síndrome de Heiner) e
gastrointestinais.
Segundo IANR (2014), assim como o peixe, os
crustáceos mantém sua alergenicidade mesmo com o
aquecimento.
Cereais (Trigo, centeio, cevada, aveia e suas estirpes
hibridizadas)
A alergia a cereais tem assumido grande relevância nas
últimas décadas. Segundo Blanco (2001), os alérgenos
presentes no cereais mais relevantes são: CM16, Hor v1, Sec
c1, RAP. Reações alérgicas a cereais são habitualmente
percebidos em lactentes e comumente aparecem nos primeiros
anos de vida (IANR, 2014). As reações adversas imediatas
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
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mediadas por IgE aos cereais variam de reaçõs leves a reações
mais graves, como anafilaxia, potencialmente fatal.
Segundo Soares et al. (2014) e Comissão do Codex
Alimentarius (2008), a doença celíaca é uma reação específica
a uma fração de proteína, o glúten, este pode ser encontrado
no trigo e cereais relacionados, como centeio, cevada e aveia.
A doença é caracterizada por uma reação inflamatória crônica,
autoimune, que muda a mucosa do intestino delgado,
dificultando a absorção de macro e micro nutrientes. O glúten,
por sua vez, é classificado como prolaminas e gluteminas.
A alergia aos cereais é muito frequente na infância. Entre
os cereais, a alergia ao trigo é a mais frequente. Mansouri et al.
(2012), afirmam que nas crianças, a manifestação clínica mais
frequente é a dermatite atópica, enquanto no adulto predomina
o choque anafilático, angiodema e esofagite. De acordo com
Husain e Schwartz (2013) ocasionalmente pode ocorrer alergia
cruzada entre os cereais. Um estudo mostrou que 21% dos
alérgicos apresentaram reatividade cruzada a mais de um
cereal.
O trigo, pertencente à família das gramíneas (Poaceae),
devido a seus atributos próprios e pela frequência com que é
aproveitado em todo o mundo, encontra-se no grupo de
alimentos que, em conjunto, são responsáveis pela maioria de
reações alérgicas alimentares (ARSHAD, 2001; ALMEIDA et
al., 1999; SICHERER et al., 2003; JAMES et al., 1997).
Segundo James et al. (1997), geralmente, os alérgicos
ao trigo sensibilizam-se durante o primeiro ano de vida,
evoluindo para a tolerância imunológica cerca de 1 a 3 anos
mais tarde.
A composição proteica do trigo mais comumente
responsabilizadas pela alergia alimentar são: albumina
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
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hidrossolúvel, globulinas solúveis, prolaminas, gliadinas,
glutelinas e gluteninas. (DISTRITO FEDERAL, 2009). De
acordo com James et al. (1997), as albuminas e as globulinas
são as proteínas mais relevantes nas reações de
hipersensibilidade mediadas por anticorpos específicos da
classe IgE.
As reações adversas imediatas através da ingestão de
trigo são características típicas na infância. Geralmente, essas
reações ocorrem durante a primeira hora após a ingestão do
trigo e incluem manifestações cutâneas e/ou gastrintestinais
e/ou respiratórias (asma, rinite), acontecendo, embora
raramente, a anafilaxia; geralmente as queixas são breves,
porém, notáveis os casos que se estendem à idade adulta
(SILVA et al., 2005).
Leguminosas
As leguminosas são pertencentes a família
Leguminosae, esta por sua vez contém cerca de 30 espécies
diferentes que incluem: feijão, ervilha, lentilha, soja e
amendoim. As leguminosas caracterizam-se por proteínas de
alto valor biológico e formam parte fundamental da dieta
humana em muitos países (PEREIRA et al., 2002).
Segundo Carrapatoso (2004), as proteínas alergênicas
dos legumes são resistentes à desnaturação química, térmica
e proteolítica, podendo até aumentar seu potencial da
antigenecidade dessas proteínas.
Entre as leguminosas, o amendoim e a soja são os que
mais determinam reações alérgicas e ambos são
extensamentes consumidos. As reações adversas da alergia a
legumes incluem a síndrome de alergia oral, urticária e
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
25
angiodema, rinoconjuntivite, asma e anafilaxia, sendo
manifestações respiratórias mais comuns (PEREIRA et al.,
2002; WENSING et al., 2003).
O amendoim (Arachis hypogaea) é uma leguminosa rica
em óleo e proteínas, elevando seu valor nutricional. De acordo
com Fávero (2004), ele é o maior causador de reações alérgicas
fatais relacionadas com alimentos. As proteínas associadas à
sua alergenicidade são: albuminas, aglutinas, glicoproteínas
lecitino reativas, inibidores de protease, inibidores de alfa
amilase, fosfolipases, globulinas, araquina e conaraquina.
As vias comprovadas de sensibilização pelo amendoim
são várias e podem contribuir para o desenvolvimento de
tolerância ou alergia a este alimento. Cerca de 75% dos
alérgicos ao amendoim referem manifestação já na primeira
ingestão conhecida (DESROCHES et al., 2010).
Os sintomas mais comuns apresentados em indivíduos
alérgicos ao amendoim são reações cutâneas como urticária ou
angiodema, embora eles variam desde sintomas leves como a
síndrome da alergia oral a sintomas mais graves como asma,
falta de ar, queda da pressão arterial. A ingestão acidental do
alérgeno resulta, frequentemente, em reações anafiláticas, e
casos fatais ja foram relatados (MACDOUGALL; CANT;
COLVER, 2002; LE et al., 2008). Além da ingestão, podem
ocorrer reações adversas ao contato com a pele e inalação.
A soja (Glycine max) é uma leguminosa que passou a ser
mais utilizada na dieta humana, por ser fonte de proteínas de
elevado valor biológico e apresentar baixo teor de gorduras, e
na indústria de alimentos, por apresentarem excelentes
propriedades funcionais tecnológicas (BISHOP; HILL;
HOSKING, 1990).
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
26
De acordo com Distrito Federal (2009), os alérgenos da
soja são: globulinas, 7S (beta conglicina), beta amilase,
lipoxigenase, lecitina, 11S (glicina), proteínas do soro,
hemaglutinina, inibidor de tripsina e urease. Conforme Besler,
Helm e Ogawa (2000), alergia à soja está associada às suas
proteínas de estoque, constituídas principalmente pelas frações
protéicas 7S e 11S.
De acordo com MAHSC (2006), os sintomas de
indivíduos alérgicos após a ingestão de soja variam desde a
coceira e inchaço da boca e da garganta (angiodema), sintomas
na pele (dermatite atópica ou eczema e urticária) reações
gastrointestinais (náuseas, cólica e diarréia), sintomas
respiratórios (febre do feno e asma), reações cutâneas
(urticária) a reações potencialmente graves, podendo até serem
fatais, incluindo choque anafilático.
Frutas de casca rija
Os frutos de casca rija desempenham um papel
importante na saúde e nutrição humana, dado que estes frutos
são muito rico em ácidos graxos monoinsaturados. Este tipo de
ácidos graxos têm sido associados a efeitos benéficos para a
saúde, tais como, prevenção da ocorrência de acidentes
cardiovasculares, aterosclerose e artrite. Por este motivo, os
frutos de casca rija foram reconhecidos pela FDA como
alimentos “protetores do coração” (ALASALVAR et al., 2003;
AMARAL et al., 2006; KÖKSAL et al., 2006; OLIVEIRA et al.,
2008).
Dentre esse frutos, a castanha de caju, a noz pecã, a noz
e a amêndoa são os que possuem maior capacidade
alergizante. Segundo Husain e Schwartz (2013) e Noorbakhsh
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
27
et al. (2011), os alérgenos principais dos frutos de casca rija
são: albuminas 2S, leguminas e vicilinas.
No Reino Unido e nos Estados Unidos, estima-se que a
prevalência de alergia a nozes (Juglans spp.) seja entre 0,2 e
0,5%, em adultos e crianças. Existe a probabilidade de que um
percentual de alérgicos à nozes possa vir a ser tolerante após
anos de abstenção (MAHSC, 2006). A gravidade das reações
alérgicas induzidas por nozes variam desde a síndrome de
alergia oral até mesmo reações sistêmicas graves e
potencialmente fatais. A gravidade das reações depende da
quantidade ingerida do alimento e da proteína alergênica.
De acordo com o MAHSC (2006), indivíduos alérgicos a
noz-pecã (Carya illinoinensis) tem reações alérgicas
desencandeadas pelas principais proteínas encontradas nas
nozes.
Devido as suas características sensoriais, a avelã
(Corylus avellana) é utilizada como matéria prima na
formulação de diversos produtos alimentícios com o intuito de
adicionar sabor e textura (AMARAL et al., 2006; PIKNOVÁ;
PANGALLO; KUCHTA, 2008), porém vestígios de avelã em
produtos alimentícios, podem originar da contaminação
cruzada durante alguma etapa do processo produtivo,
desencadeando reações adversas em indivíduos alérgicos.
Os alérgenos alimentares associados à avelã são: PR-
10, Profilinas, nsL TP, Globulinas 11S, Globulinas 7S,
Oleosinas e Albuminas 2S (JEDRYCHOWSKI et al., 2010;
WHO, s.d).
Segundo MAHSC (2006), as reações adversas mais
frequentes são cutâneas (urticária e angiodema),
gastrointestinais (síndrome de alergia oral, vômitos, diarréia),
respiratórias (asma) e sistêmicas (anafilaxia). Os alérgenos de
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
28
avelã que provocam reações sistêmicas, pertecem a mesma
família de proteínas que os alérgenos nos amendoins.
A alergia ao pinoli (Pinus pinea) tem sido relatada com
menos frequência do que alergia à castanhas. Embora não se
tenha muitos estudos sobre alergia ao Pinoli, reações adversas
graves, como anafilaxia, foram detectadas em indivíduos
(MAHSC, 2006).
Casos de alergia à macadâmia (macadamia integrifolia e
macadamia tetrophylla) eventualmente tem sido relatados na
literatura (LERCH; EGGER; BIRCHER, 2005; KNOTT et al.,
2008), podendo causar reações alérgicas graves, como a
anafilaxia (SUTHERLAND et al., 1999; PALLARES, 2000;
HABERLE; HAUSEN, 2002; SENTI; BALLMER-WEBER;
WÜTHRICH, 2000).
A amêndoa (Pronus dulcis) é rica em nutrientes, como:
vitamina E, manganês, magnésio, cobre, fósforo, fibra,
riboflavina, ácidos graxos monoinsaturados e proteínas.
Embora as amêndoas tenham alto valor nutritivo, a reação
adversa em indivíduos alérgicos pode apresentar um risco em
potencial (CHEN; LAPSLEY; BLUMBERG, 2006). A reatividade
cruzada da amêndoa é comum em alérgenos de outros frutos
de casca rija e do pêssego. As reações adversas varia desde
sintomas leves (síndrome de alergia oral ou urticária) à
sintomas sistêmicos (anafilaxia).
Latex natural
O látex natural é extraído da seiva da Seringueira (Hevea
Braziliensis). Seus principais alérgenos são: heveína b1 e b3
(YEANG et al., 1996; ALENIUS et al.,1996).
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
29
Segundo Weiss e Halsey (1996) e Monreal et al. (1996),
estudos associam a alergia ao látex com alergia alimentares. A
hipersensibilidade ao látex ocorre após ingestão,
principalmente de frutas, que sofreram contaminações
cruzadas, sendo conhecida como síndrome látex-frutos.
Os sintomas variam desde a síndrome de alergia ora,
anafilaxia e até reações sistêmicas graves (GASPAR; FARIA,
2012).
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE ALÉRGENOS ALIMENTARES
Em 2015, a ANVISA vendo ausência de uma legislação
que protegesse o consumidor de reações adversas decorrentes
da ingestão de alimentos potencialmente alergênicos, criou a
RDC 26, de 2 de julho de 2015, que estabelece os requisitos
para rotulagem obrigatória dos principais grupos de alimentos
que causam alergias.
Esta resolução aplica-se aos rótulos de alimentos,
bebidas, ingredientes, aditivos alimentares e coadjuvantes de
tecnologia destinados aos consumidores (desde que
embalados em sua ausência), ao processamento industrial e
aos serviços de alimentação.
Segundo Brasil (2015) os alimentos, ingredientes,
aditivos e coadjuvantes que contenham ou sejam derivados dos
seguintes alimentos: trigo, centeio, cevada, aveia, crustáceos,
ovos, peixes, amendoim, soja, leite, amêndoa, avelã, castanha-
de-cajú, castanha-do-pará, macadâmia, nozes, pecãs,
pistache, pinole, castanhas e látex natural, devem apresentar
em desqueque no rótulo a advertência de alérgicos.
ALERGIAS ALIMENTARES E A GARANTIA DA SAÚDE E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR: REVISÃO
30
4 CONCLUSÕES
Diante dos diferentes níveis de reações adversas
provocadas por alimentos alérgenos conclui-se que é
necessário que a legislação vigente sobre rotulagem nutricional
dos principais alimentos que causam alergias alimentares seja
cumprida na íntegra a fim de proteger a saúde do consumidor.
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35
NUTRIÇÃO
CLÍNICA
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
36
CAPÍTULO 2
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA
LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA: UM ESTUDO DE CASO
Débora Ellen Oliveira de ANDRADE¹
Mylena Ferreira MORAIS¹ Mônica de Almeida Lima ALVES²
¹Graduandas do curso de Nutrição, FPB; ²Orientadora/Professora da FPB. [email protected]
RESUMO: Dois terços dos casos de câncer infanto-juvenil podem ser curados se a terapêutica instituída for adequada, com diagnóstico precoce e acompanhamento nutricional iniciado imediatamente, pois, aproximadamente 50% dos portadores reportam redução no apetite e alterações gastrintestinais causadas pela quimioterapia. O estudo objetivou avaliar o estado nutricional e consumo alimentar de uma criança portadora de Leucemia Linfoblástica Aguda em quimioterapia. Tratou-se de estudo de caso, de natureza qualiquantitativa, exploratória e descritiva. Utilizou-se entrevista padronizada com aplicação de formulários, coletando-se informações sobre consumo alimentar, antropometria, sinais/sintomas, características socioeconômicas e história clínica. A quimioterapia ocasionou efeitos colaterais como, diarreia, náusea, vômito, anorexia e emagrecimento. Quanto ao diagnóstico nutricional, a menor foi caracterizada com magreza; a ingestão habitual diária atendia as recomendações. Observou-se que os fármacos utilizados poderiam reduzir a absorção de cálcio, fósforo, vitamina B12 e D, além de
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
37
aumentarem a excreção de zinco e vitamina C. Fica evidenciada a necessidade de acompanhamento nutricional no caso estudado, já que o tratamento quimioterápico interfere desde a ingestão até a excreção de nutrientes, levando a um risco elevado de deficiências nutricionais. Palavras-chave: Consumo Alimentar. Estado Nutricional. Leucemia Linfoblástica Aguda.
1 INTRODUÇÃO
O câncer constitui um grupo de doenças vasto e
heterogêneo, caracterizado pelo progressivo crescimento
celular anormal e por mutações intracelulares (genoma). Essas
alterações podem transformar a célula normal, desregulando
sua função de proliferação, diferenciação e morte
(WAITZBERG, 2004; DUNCAN; SCHMIDT; GIUGLIANI, 2004).
A incidência das neoplasias pediátricas difere de acordo
com o tipo de tumor, idade, sexo e etnia; mas, em geral, a
incidência total de tumores malignos na infância é ligeiramente
maior no sexo masculino (BRAGA; LATORRE; CURADO;
2002). As neoplasias mais frequentes na infância são
leucemias, tumores do Sistema Nervoso Central (SNC) e
linfomas (BRAGA; LATORRE; CURADO, 2002).
A Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) caracteriza-se
pelo acúmulo de células imaturas da linhagem linfoide, na
medula óssea, sangue periférico e órgãos linfoides, sendo seu
pico de incidência por volta dos 5 anos de idade. O prognóstico
da LLA é determinado pela idade, pelo imunofenótipo (LLA pró-
B, B comum, pré-B, B madura ou de linhagem T) e pelas
alterações citogenéticas (KEBRIAEI; ANASTASI; LARSON,
2002).
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
38
As formas mais comuns de tratamento antineoplásico
incluem quimioterapia, radioterapia, cirurgia e transplante de
medula óssea (GARÓFOLO; LOPEZ, 2002).
Os quimioterápicos, devido a seus efeitos colaterais,
diminuem a ingestão de alimentos, pois causam alteração do
paladar, ressecamento da boca, provocam náuseas e/ou
vômitos (BIANCHI; ANTUNES, 2008).
Levantamentos demonstram que de 6% a 50% dos
pacientes pediátricos com câncer já apresentam algum grau de
desnutrição no momento do diagnóstico (GARÓFOLO, 2006).
Segundo Dornelles et al. (2009), a atuação do
nutricionista é ampla e deve estar presente em ambas as fases
do tratamento: tanto a curativa quanto a paliativa, focando na
recuperação do estado nutricional e na promoção da saúde.
O objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional e
o consumo alimentar de uma criança portadora de Leucemia
Linfoblástica Aguda em quimioterapia.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Foi realizado um estudo de caso, de natureza
qualiquantitativa, com caráter exploratório e descritivo, no qual
foi avaliada uma criança do gênero feminino, de seis anos de
idade, portadora de Leucemia Linfoblástica Aguda, em
tratamento quimioterápico, internada no Hospital Napoleão
Laureano, em João Pessoa-PB, no período de agosto a outubro
de 2016.
A coleta de dados foi realizada no próprio hospital, com
participação da responsável pela criança (mãe), após
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
39
do Termo de Assentimento. Foi realizada uma entrevista
padronizada, com aplicação de formulários para coleta de
informações sobre condições socioeconômicas, história clínica,
avaliação antropométrica, avaliação do consumo alimentar,
fármacos em uso, sinais e sintomas.
Para realização da avaliação antropométrica, foram
aferidos o peso corporal e a altura, seguindo as técnicas
recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS,
2006; OMS, 2007). Após aferição das medidas
antropométricas, foi calculado o Índice de Massa Corporal e, o
estado nutricional foi diagnosticado pelos indicadores
antropométricos: peso para idade, altura para idade e Índice de
Massa Corpórea (IMC) para idade.
O consumo alimentar foi avaliado por meio do
Recordatório de 24 horas e pelo Questionário de Frequência
Alimentar elaborado pela pesquisadora acadêmica. Após coleta
das informações, realizou-se análise do consumo alimentar
diário quanto a calorias, carboidratos, proteínas e lipídios,
utilizando-se a Tabela de Medidas Caseiras (PINHO, 2004). As
informações sobre porções alimentares e frequência de
consumo foram avaliadas de acordo com as recomendações da
Pirâmide Alimentar Brasileira Infantil, por grupos alimentares.
Realizou-se também análise da interação droga-
nutriente, de acordo com as informações sobre os fármacos em
uso no tratamento da criança participante da pesquisa, a partir
das bulas dos medicamentos descritos no prontuário.
O banco de dados foi realizado em Microsoft Office
Excel2007 e, posteriormente, transportado para o pacote
estatístico Epinfo 6.0, onde os dados foram avaliados por meio
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
40
de distribuição de frequências, percentagens e médias das
variáveis.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa foi realizada com uma criança portadora de
Leucemia Linfoblástica Aguda, com 6 anos de idade,
diagnosticada há 4 anos, em uso de tratamento quimioterápico
na fase de manutenção, residente na zona rural da cidade de
Santa Rita-PB, filha de agricultores, com renda familiar mensal
de até 2 salários mínimos (Tabela 1).
Tabela 1. Características sociodemográficas da participante da pesquisa.
Idade Sexo Raça Renda Familiar Residência
6 anos Feminino Parda Até 2 salários mínimos
Zona Rural
Fonte: Dados da pesquisa. 2016
Segundo relato materno, o diagnóstico aconteceu após
quadro crônico de dor no joelho e febre intensa. A etiologia da
LLA ainda é discutível, embora seja enfatizado como possíveis
causas os efeitos de irradiação, exposição a alguns tipos de
drogas, fatores genéticos, fatores imunológicos e exposições a
alguns vírus (ABRALE, 2016).
Atenção especial deve ser voltada ao fato de a criança
ser filha de agricultores, que normalmente estão expostos a
radiações solares e agrotóxicos.
A radiação UV, particularmente a UV-B, é um potente
carcinógeno, que provoca danos ao ácido desoxirribonucleico
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
41
(DNA) diretamente ou por meio da formação de radicais livres.
Podendo assim aumentar as chances de adquirir um câncer
(HILDESHEIM; AWWAD; FORNACE, 2004).
Alguns agrotóxicos como o DDT são considerados
carcinógenos humanos em potencial além de promotores
tumorais e são incluídos no grupo B1 (substâncias
provavelmente carcinogênicas) da Agência Internacional de
Pesquisa do Câncer. O dichlorodiphenyl-trichoroethane - DDT
assim como as bifenilas policloradas (PCBs), as dioxinas, o
hexaclorociclohexano (HCH) e o hexaclorobenzeno constituem
um grupo diverso de substâncias químicas sintéticas
denominadas agrotóxicos organoclorados (CALLE et al., 2002).
De acordo com Baracat et al. (2000), a LLA é o tipo de
câncer mais frequente na infância, com uma maior incidência
em crianças entre três e cinco anos. Seu pico ocorro por volta
dos quatro anos de idade, sendo quase duas vezes mais
comum em caucasianos (brancos) (BUSATO et al., 2003) do
que em não-caucasianos e um pouco mais frequente em
meninos do que em meninas (MEDEIROS et al., 2004;
CORNACCHIONI et al., 2004).
Na Fig. 1, é possível observar o estado nutricional da
paciente avaliada de acordo com o Índice de Massa Corporal
(IMC), demostrando que no mês de janeiro a mesma foi
considerada, através da classificação segundo as
recomendações do SISVAN e pela OMS (2007), com magreza
para sua idade, isso ocorreu devido à sua saúde debilitada por
causa do tratamento da LLA, podendo causar vários problemas
decorrentes da deficiência de energia e proteínas,
representando uma síndrome de carências que reúne diversas
manifestações clínicas, antropométricas e metabólicas, em
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
42
função da intensidade e duração da deficiência alimentar. Em
outra avaliação antropométrica, no mês de junho, o estado
nutricional foi caracterizado como sobrepeso, podendo ser
explicado pelo fato de ter sido um momento em que a paciente
se encontrava com um quadro clínico mais estável, menos
doses quimioterápicas e redução das alterações
gastrintestinais. Uma última avaliação antropométrica foi
realizada no mês de outubro, onde a menor foi diagnosticada
com IMC adequado para idade. Neste período, a responsável
pela criança informou que a mesma mudou os hábitos
alimentares e aumento das atividades diárias.
Figura 1. Análise das Medidas Antropométricas
Fonte: Dados da pesquisa. 2016
Na Tabela (2), podem-se observar os sinais e sintomas
relatados pela menor e por sua responsável e registrados em
prontuário por equipe médica, sendo os mais frequentes e
intensos, em ordem decrescente, a dor, o vômito, a náusea, a
diarreia, o emagrecimento e a febre, sendo estas
consequências clínicas comuns da quimioterapia e da própria
13,59
18,74 17,1
0,85
0,90
0,95
1,00
1,05
0
5
10
15
20
Altu
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Mês
Pe
so
/IM
C
Peso IMC Altura
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UM ESTUDO DE CASO
43
patologia. Além dos sinais e sintomas, observamos na tab. (2)
as consequências clínicas decorrentes destes fatores, que
podem ocasionar deficiências nutricionais específicas e déficits
ponderais.
Tabela 2. Sinais e sintomas e consequências clínicas associadas.
Sinais/Sintomas Consequências Clínicas
Dor Redução do apetite, afeta a qualidade do sono, pode causar anorexia.
Emagrecimento Mau funcionamento intestinal, baixa imunidade, pele, cabelos e unhas frágeis, atrofia muscular, atraso no desenvolvimento corporal e intelectual em crianças, debilidade, maior risco de infecções, baixa resposta a tratamentos.
Febre Aumento da taxa metabólica basal, desidratação.
Vômito/Diarreia Desidratação, desequilíbrio de eletrólitos. Náusea Perda de apetite, vômito. Vertigem Sensação de desequilíbrio, vômito,
náusea, sensação de desmaio, falta de força, perda de apetite, dor de cabeça.
Fonte: Dados da pesquisa. 2016
Os quimioterápicos em uso clínico, geralmente, são bem
tolerados pelos pacientes e os efeitos colaterais moderados são
bem controlados com dosagens apropriadas e uso criterioso de
outros fármacos, como os antieméticos (SAWADA et al., 2009).
As consequências clínicas da quimioterapia são: a
indução de náuseas e vômitos, lesão de esôfago, fraturas, má
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
44
nutrição, desequilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico,
diminuindo a sua qualidade de vida relacionada à saúde e
comprometendo a eficácia do tratamento (BALLATORI; ROILA,
2003).
Algumas drogas produzem alterações de trato alimentar,
portanto, são importantes as orientações dietéticas que visam
minimizar o desconforto do paciente (DIAS et al., 2006).
O resultado da diminuição da ingestão de alimentos e de
anormalidades hormonais e metabólicas decorrentes da
interação tumor-hospedeiro é conhecido como a caquexia do
câncer, que se manifesta como desnutrição grave (NOVAES;
PANTALEÃO, 2004).
Uma pesquisa realizada em um hospital de referência em
oncologia na cidade de Belém-PA, com 60 pacientes portadores
de câncer em tratamento quimioterápico, identificou que 88,3%
dos pacientes apresentavam pelo menos um efeito colateral
decorrente do tratamento. Dentre os sintomas relatados pelos
pacientes estavam náuseas (65%), disgeusia (60%), fadiga
(55%), inapetência (53,3%), xerostomia (50%) e vômito (45%),
podendo afetar significativamente o estado nutricional e a
qualidade de vida do paciente oncológico (MIRANDA et al.,
2013).
Realizar uma avaliação do estado nutricional e
determinar o diagnóstico nutricional do paciente, no momento
da admissão hospitalar, é imprescindível para execução de uma
triagem nutricional e estabelecimento de condutas efetivas
sobre a evolução clínica dos pacientes hospitalizados,
principalmente aqueles com neoplasias malignas (NEHME et
al., 2006).
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
45
Na Tabela (3) encontram-se os dados obtidos após
realização de uma comparação entre os itens dietéticos
consumidos habitualmente pela criança participante do estudo
e as recomendações nutricionais para paciente oncológico
pediátrico submetido à quimioterapia e à radioterapia.
Observou-se que a criança consumia diariamente uma média
de 2407,05 kcal, estando este valor além das recomendações
calóricas propostas pelas DRIs (2006). Quanto ao consumo de
micronutrientes, os carboidratos (56%) e lipídios (29%) estavam
dentro da faixa de normalidade segundo as DRIs (2006), porém,
a proteína (1,6g/kg/dia) estava aquém da recomendação
(2,0g/kg/dia), segundo valor preconizado pela Aspen (2002).
Tabela 3. Consumo Alimentar x Recomendação Nutricional
Itens dietéticos Consumo Habitual Recomendação DRI’s (2006) /Aspen (2002)
Calorias (kcal/dia) 2407,05 1196,68 Carboidratos (%)
56%
45% a 65%
Proteínas (g/kg/dia)
1,6
2,0
Lipídeo (%) 29% 20% a 35%
Fonte: Dados da pesquisa. 2016
A alimentação da criança foi avaliada durante a
internação da mesma, podendo este fato ter interferido no
consumo alimentar adequado, já que no hospital as refeições
são oferecidas preconizando-se a qualidade e a quantidade
adequadas. Todas as refeições eram realizadas por via oral,
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
46
sem adição de suplementos ou polivitamínicos. Provavelmente,
o consumo calórico estava além da recomendação pelo fato de
a menor encontrar-se desnutrida.
A determinação das necessidades nutricionais pode ser
obtida por meio de várias equações, não havendo, na literatura,
recomendação específica estabelecida para crianças
submetidas à quimioterapia e à radioterapia. Por essa razão,
com base na prática clínica, foi consenso adotar, para cálculo
das necessidades calóricas, a equação da Dietary Reference
Intake (DRIs, 2006), e as recomendações proteicas da Aspen
(2002).
Além da avaliação da composição química dos
macronutrientes da dieta habitual, realizou-se análise da
frequência de consumo alimentar com base nos grupos
alimentares propostos pela Pirâmide Alimentar Infantil
Brasileira, podendo-se observar que os grupos de
cereais/raízes/pães/massas, frutas/sucos, verduras/legumes,
carnes/ovos e derivados, leguminosas, gorduras e açúcares
estavam todos dentro das recomendações, apenas o grupo de
leite e derivados ficou abaixo das recomendações de consumo
diário (Tabela 4).
Tabela 4. Frequência de consumo alimentar com base nos grupos alimentares propostos pela Pirâmide Alimentar Infantil Brasileira.
Grupos Alimentares Frequência de Consumo
Vegetais/legumes Consome diariamente, duas vezes por dia.
Frutas/sucos Consome diariamente, três vezes ao dia.
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
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Leite e Derivados Consome diariamente, uma vez ao dia.
Carnes/ovos e derivados Consome diariamente, duas vezes ao dia.
Leguminosas Consome diariamente, uma vez ao dia.
Cereais, raízes, pães, massas Consome diariamente, 8 porções ao dia.
Gorduras Consome diariamente, duas vezes ao dia.
Açúcares Consome diariamente, uma vez ao dia.
Fonte: Dados da pesquisa. 2016
Analisando de uma forma geral a alimentação da criança,
a frequência de consumo alimentar foi satisfatória. Porém,
deve-se considerar a necessidade de variedade na
alimentação, principalmente de frutas, verduras e legumes que
são fontes excelentes de antioxidantes.
A utilização de nutrientes imunomoduladores em
pacientes oncológicos, associada a nutrientes antioxidantes,
com a finalidade de estabilizar o catabolismo e reduzir os danos
peroxidativos, tem demonstrado resultados promissores
(GARÓFOLO; PETRILLI, 2006).
Na Tabela (5), encontram-se as drogas utilizadas no
tratamento da criança estudada, com suas respectivas
interações nutricionais, efeitos clínicos e recomendações
gerais.
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
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Tabela 5. Interação Droga-Nutriente, efeitos clínicos e recomendações gerais dos fármacos em uso.
Medicamentos Interação
Efeito Clínico
Recomendação
CEFEPIME Sódio ↑ risco de nefrotoxicidade ↑ TGO ↑ TGP ↑ Fosfatasse Alcalina ↑ Ureia ↑ Creatinina
Na conduta dietoterápica devemos minimizar as alterações das funções renal e hepática.
CLORETO DE POTÁSSIO
Cálcio ↑ risco de hipercalcemia ↑ níveis plasmáticos de potássio
Monitorar níveis plasmáticos de cálcio e sinais e sintomas de hipercalcemia
RANITIDINA Tem o potencial de afetar a absorção, o metaboli
Pode provocar náuseas, vômitos, dor abdominal, cefaleia,
Pode ser administrado com ou sem alimentos, aguardar 30-60min
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
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smo e a excreção renal de outros medicamentos
constipação, proteinúria e diminuição da absorção de vitamina A, B1 e B12.
da administração de alimentos que causem azia.
SULFAMETAZOL/TRIMETOPRIM
Diminui a glicose, e ocorre depleção do ácido fólico.
Pode ocorrer estomatite, glossite, diarreia, náuseas, vômitos, reações alérgicas, erupções cutâneas, fotossensibilidade, cansaço, vertigem, cefaleia, edema, insônia, icterícia e pancreatite.
A conduta nutricional deve assegurar uma ingestão hiper-hidrica e suplementação de micronutrientes.
DECADRON Sódio Retenção de sódio, retenção de liquido, perda de potássio e
Ofertar mais líquidos na dieta, reduzir o sódio da
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
50
hipertensão.
alimentação e adicionar uma suplementação de potássio.
METHOTREXATO ↓a absorção da vitamina B12, vitamina C, vitamina D, folacina, cálcio e gorduras.
Pode provocar náuseas, vômitos, anorexia, gengivite, alteração no paladar, estomatite, úlcera gástrica, diarreia, esteatorrei, depressão, diminuição de leucócitos, anemia, aumento de ácido úrico, ureia, creatinina, TGO e TGP.
A dieta tem como objetivo a regularização das alterações do trato gastrointestinal, das funções hepáticas e renal.
HIDROCORTISONA O fármaco ↓a absorção
Pode provocar esofagite, náuseas,
O fármaco deve ser ingerido com a
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
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de cálcio e fósforo. ↑excreção de nitrogênio, potássio, cálcio, zinco, vitamina C, ácido úrico e glicose.
vômitos, dispepsia, gastrite ou úlcera péptica gástrica, flatulências, entre outros.
alimentação para diminuir as alterações do TGI.
CEFTRIAXONA Cálcio Tratamento de infecções do trato respiratório, otite média aguda bacteriana, infecções da pele e da estrutura da pele.
Não administrar com alimentos que tenham cálcio, pois pode haver diminuição da absorção do fármaco.
Fonte: Dados da pesquisa. 2016
A associação entre os fármacos e nutrientes possibilita a
ocorrência de interações indesejáveis, permitindo um aumento
ou diminuição da eficácia da droga, bem como do nutriente.
Considera-se interação entre alimentos e medicamentos
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
52
quando um alimento ou um nutriente altera a eficácia de um
medicamento, ou quando há interferência sobre o estado
nutricional do indivíduo. Portanto, não só os fármacos podem
interferir sobre a absorção e o aproveitamento dos nutrientes,
como alguns alimentos e nutrientes também podem interferir
sobre a ação destes (GOMEZ; VENTURINI, 2009).
Além dos sintomas relacionados ao tratamento
quimioterápico que reduzem a ingestão alimentar e podem
alterar o metabolismo dos nutrientes, reduzindo sua utilização
corporal, os medicamentos utilizados no caso estudado
reduzem a absorção e/ou aumentam a excreção de muitas
vitaminas e minerais, como vitamina A, D, C, B1, B12, cálcio e
zinco. Este fato é relevante e deve ser observado pela equipe
de nutrição no intuito de oferecer na dieta fontes alimentares
destes nutrientes, inclusive a possibilidade de suplementação,
no intuito de evitar as deficiências de micronutrientes que são
tão comuns.
4 CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo de caso demonstraram a
necessidade de uma avaliação clínica e nutricional completa,
identificando-se as alterações gastrintestinais que podem ser
ocasionadas pela neoplasia e pelo tratamento quimioterápico.
Quanto à presença de sinais e sintomas foram
observados dor, vômito, náusea, diarreia, emagrecimento e
febre, todos relacionados ao comprometimento do estado
nutricional, por interferirem na ingestão alimentar, digestão,
absorção, metabolismo e excreção de nutrientes.
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
53
No que diz respeito ao consumo alimentar, os
macronutrientes carboidratos e lipídios encontraram-se dentro
do recomendado, e apenas a proteína apresentou valor abaixo
da recomendação, podendo reduzir a competência
imunológica, aumentar os riscos de desnutrição energético-
proteica, intensificar o catabolismo e dificultar a resposta ao
tratamento.
De acordo com a análise da interação droga-nutriente,
percebe-se o risco de inadequação de micronutrientes, já que
as drogas utilizadas no tratamento reduzem a absorção e/ou
aumentam a excreção de vitaminas e minerais, como: vitamina
C, A, D, B1, B12, cálcio e zinco. Assim, faz-se necessário um
acompanhamento nutricional com essa paciente de maneira a
evitar que haja um déficit maior de micronutrientes essenciais
para o crescimento e desenvolvimento nesta faixa etária.
O diagnóstico e a intervenção nutricional precoces
devem ser metas prioritárias das equipes que tratam pacientes
com câncer, na tentativa de solucionar, pelo menos parte do
problema, em curto prazo.
Assim, a implantação de protocolos de terapia
nutricional, adaptados à realidade da nossa população, deve
ser efetuada para que, no mínimo, esses pacientes tenham a
chance de receber o tratamento planejado, evitando-se a
redução na dose das drogas, o atraso dos ciclos de
quimioterapia ou da cirurgia, e o aumento do risco de
toxicidades, infecções e morte.
Os resultados apresentados neste estudo são limitados,
considerando o fato de ser um estudo de caso com uma única
criança envolvida. Entretanto, esses dados podem ser
utilizados para estimular e justificar a necessidade do
ESTADO NUTRICIONAL E CONSUMO ALIMENTAR DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM QUIMIOTERAPIA:
UM ESTUDO DE CASO
54
desenvolvimento de mais pesquisas que contribuam para o
conhecimento das condições nutricionais de crianças tratadas
por câncer em nosso país.
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UM ESTUDO DE CASO
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AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
56
CAPITULO 3
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
Karlla Jane S. MARTINS1
Janilson Avelino da SILVA2
1Graduada do curso de nutrição, FIP/ 2 Professor,Orientador das FIP
RESUMO: A antropometria é um meio abrangente usado na avaliação nutricional de idosos, principalmente por se tratar de um meio de baixo custo, não invasivo. A avaliação nutricional tem como objetivo detectar as alterações e riscos nutricionais, além de avaliar a magnitude desses problemas, para elaborar condutas nutricionais que proporcionem a recuperação ou manutenção adequada do estado nutricional do indivíduo Esse estudo tem como objetivo geral avaliar o estado nutricional dos idosos praticantes de hidroginástica. A amostra é constituída por 15 idosos praticantes de hidroginástica, sendo que 14 eram do sexo feminino e 01 do sexo masculino. Foram utilizados como instrumentos para coleta de dados um questionário em que continham questões sociodemográficas, questões relacionadas a prática de atividade física, histórico familiar de doenças crônicas não transmissíveis e histórico clínico, além disso espaço para registro das variáveis antropométricas. Peso e estatura. Índice de Massa Corporal (IMC). Circunferências da cintura (CC), quadril (CQ) e panturrilha (CP). Dobra cutânea bicipital (DCB), tricipital (DCT), subescapular (DCSE) e suprailíaca (DCSI). A partir dos resultados obtidos, pode-se inferir que os idosos avaliados apresentaram excesso de peso corporal, que é reflexo de um IMC inadequado. A avaliação nutricional assim como as orientações nutricionais são
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
57
maneiras de incentivar a adoção de uma alimentação. Palavras - chave: Idosos. Avaliação Nutricional. Atividade Física. 1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo que ocorre de forma
natural que pode se manifestar através da redução das funções
de diferentes órgãos em função do tempo. Não se pode
determinar um ponto certo dessa transição, como nas outras
fases da vida.O envelhecimento ocasiona mudanças e
desgastes em muitos sistemas funcionais, de forma progressiva
e irreversível. O momento em que estas transformações
aparecem, quando passam a serem notadas e como crescem,
diverge de uma pessoa para outra (OLIVEIRA et al, 2010).
A Organização Mundial da Saúde reconhece como
idoso, nos países em desenvolvimento, aqueles que chegarem
à idade de 60 anos, assim como também a legislação brasileira
(lei no 8.842/94, em seu artigo 2º, parágrafo único) entende que
são considerados idosos as pessoas com mais de 60 anos, de
ambos os sexos, sem diferenciação de cor, etnia e ideologia
(CAVALCANTI et al, 2011).
A partir dos registros de envelhecimento populacional,
gerou-se uma necessidade de aprofundamento e entendimento
a respeito do papel do nutricionista no estímulo e manutenção
da autonomia dos idosos. Durante essa fase, o nutricionista
poderá contribuir para o reconhecimento dos indivíduos em
risco de desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) e realizar uma intervenção alimentar
para prevenção e controle dessas patologias (SAMPAIO, 2004).
O envelhecimento pode reduzir as capacidades físicas,
psicológicas e comportamentais de forma irreversível, tornando
as pessoas mais suscetíveis as agressões interiores e
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
58
exteriores, desta forma caracteriza-se por uma maior
suscetibilidade, celular, tecidual, orgânica e nos aparelhos e
sistemas. As mudanças na formação corporal de um indivíduo
ao decorrer dos anos são um processo habitual que acontece
em função da idade, ainda que o nível diferencie entre os
indivíduos (CAVALCANTI et al, 2011).
O desenvolvimento econômico dos últimos anos vem
aumentando a expectativa de vida da população, porém esse
aumento está ligado ao desenvolvimento das doenças crônicas
não transmissíveis que geralmente se manifestam em
indivíduos com idade mais avançada. Essas patologias ocupam
os primeiros lugares nas estatísticas de mortalidades mundiais
(OLIVEIRA et al., 2013).
Em menos de 40 anos passamos de um contexto de
mortalidade respectivo de uma população jovem para um
quadro de patologias complexas, típicas dos idosos, qualificado
por enfermidades que se estendem por anos, que exigem
cuidados progressivos. O aumento da expectativa de vida é um
aspecto positivo, porém é necessário considerar que a
longevidade só será um fator benéfico se integrar qualidade aos
anos a mais de vida (VERAS, 2011).
Um terço da população adulta brasileira é atingido pelo
excesso de peso, tendência que vem aumentando nos últimos
anos. Há uma predominância maior de casos de obesidade
entre as mulheres, incluindo as idosas. Em ambos os gêneros,
o auge acontece entre 45 e 64 anos. O excesso de peso
corporal tem uma importância ainda maior entre os idosos,
tendo em vista que entre estes se observa uma regularidade
mais elevada de patologias (CAVALCANTI et al., 2011).
O crescimento dos casos das DCNT’s é um efeito direto
da urbanização acelerada, o aumento da expectativa de vida,
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
59
as modificações dos padrões alimentares, o crescimento do
tabagismo, a inatividade física, dentre outros fatores (ISER et
al., 2012).
O aumento das DCNT’s na morbimortalidade da
população nos últimos anos causou uma preocupação mundial,
em relação ao impacto destas enfermidades na qualidade de
vida e no desenvolvimento econômico dos países (ISER et al.,
2012).
A estratégia global da Organização Mundial da Saúde
(OMS) foi aprovada em maio de 2004 pela 57º assembleia
mundial, sobre saúde, alimentação saudável e atividade física.
A estratégia global reconhece o problema que representa as
doenças crônicas não transmissíveis, a prevenção dessas
doenças é um desafio importante para a saúde pública.
Segundo a OMS os fatores de risco mais consideráveis para
essas patologias são a hipertensão arterial, hipercolesterolêmia
o baixo consumo de frutas, verduras e legumes, a inatividade
física e o tabagismo (CAVALCANTI et al., 2011).
Um estilo de vida inapropriado aumenta a ineficácia
metabólica, que colabora basicamente para a quebra da
homeostasia corporal. Esse fato, aos poucos, torna o indivíduo
mais vulnerável a lesões orgânicas, favorecendo o
desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT) (GOTTLIEB et al., 2011).
Os idosos apresentam mudanças no perfil
antropométrico, como o aumento nas reservas de gordura
corporal, redução da massa muscular magra, diminuição da
altura pelo comprometimento da densidade óssea vertebral,
diminuição do percentual de água corpórea, entre outras
(WACHHOLZ et al, 2011).
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
60
Com o envelhecimento, o estado nutricional dos
indivíduos é diretamente afetado, seja por questões patológicas
ou fisiológicas. Diferentes alterações que acontecem de forma
natural no organismo quando se está envelhecendo são
capazes de mudar o estado nutricional, desde as mudanças nas
primeiras fases do processo, como alterações na mastigação,
seja pela ausência de dentes ou mesmo pela diminuição da
saliva, até problemas como a redução da eficácia dos
processos de absorção e eliminação (WACHHOLZ et al, 2011).
Almeida et al. (2010), relata que a prática de atividade
física é um dos fatores que contribuem para um envelhecimento
saudável e ativo. Praticar exercícios, como por exemplo, a
hidroginástica, frequentemente ajuda a diminuir os riscos das
DCNT e doenças degenerativas. Somado a isso existe o fato de
a maioria dos idosos preferir esse tipo de exercício.
A pressão tranquilizante que se tem quando está na
agua, ajuda a aliviar os edemas e dores nas articulações caso
estejam presentes, e contribuem para o aumento da
flexibilidade. A prática de exercícios aquáticos ajuda a diminuir
a autocritica que os idosos têm sobre si mesmo, já que quando
estão submersos não podem ver seus próprios movimentos. A
hidroginástica contribui para a melhoria de todos os
componentes: aeróbicos, força muscular, resistência muscular,
flexibilidade, assim como a composição corpórea (ALMEIDA et
al, 2010).
Diversos autores mencionam os efeitos hipotensores
que acontecem pós-exercício, sejam esses aeróbicos ou de
resistência. Dessa forma, pode-se ter nos exercícios uma
provável maneira de tratamento ou de prevenção não
farmacológica. Existem diversos benefícios incorporados, tais
como melhoria da qualidade de vida fornecida pelo treinamento
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
61
físico, o que diminui as mudanças fisiológicas prejudiciais que
ocorrem com o aumento da idade (CANUTO et al, 2011).
O exercício físico regular estabelece uma intervenção
capaz de retardar a diminuição da aptidão aeróbica que ocorre
juntamente com o envelhecimento. Pessoas que envelhecem
praticando exercício físico demostram menores reduções nas
habilidades aeróbicas quando relacionadas às pessoas
fisicamente inativas. Os exercícios resistidos são vistos como
importantes para acréscimos na massa e força muscular,
diminuindo a progressão da sarcopenia e repercutindo em um
melhor desempenho dos idosos nas atividades (GUIDO et al,
2010).
A avaliação nutricional em idosos é um meio para a
identificação dos indivíduos em risco nutricional. A avaliação
deve incluir exames bioquímicos e exames antropométricos
para um melhor diagnóstico do estado nutricional do indivíduo;
é o primeiro passo para a recuperação de qualquer alteração
nutricional (DUARTE, 2007).
A avaliação nutricional tem como objetivo detectar as
alterações e riscos nutricionais, além de avaliar a magnitude
desses problemas, para elaborar condutas nutricionais que
proporcionem a recuperação ou manutenção adequada do
estado nutricional do indivíduo. A avaliação nutricional é um
mecanismo utilizado para diagnóstico, que verifica a partir de
diferentes ângulos o estado nutricional, definidos pelos
processos de ingestão, absorção, utilização e excreção dos
nutrientes (MUSSOI, 2015).
O estado nutricional é resultante da associação entre
consumo alimentar e necessidades nutricionais, sua avaliação
tem como objetivo reconhecer os indivíduos em risco, e auxiliar
na recuperação e promoção da saúde. Os parâmetros utilizados
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
62
de uma forma isolada não são considerados confiáveis para
determinar as condições nutricionais de uma forma geral, sendo
necessário utilizar a associação de diversos indicadores do
estado nutricional para ampliar a precisão do diagnóstico
(FISBERG et al, 2009).
A intervenção dietética é reconhecida como um
tratamento isolado ou associado de diversas doenças como,
obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão, dentre
outros, porém para que o tratamento nutricional seja válido deve
ser realizado um diagnóstico adequado. A avaliação dietética é
usada para fornecer auxilio para o desenvolvimento de planos
nutricionais, para estimar a ingestão alimentar, se estar
adequada, inadequada se há consumo excessivo ou carências
(FISBERG et al, 2009).
A antropometria é um método de avaliação muito
importante para determinar o estado nutricional dos indivíduos.
É a partir dela que se pode verificar o crescimento e composição
corpórea. Com relação à composição corporal podem-se avaliar
os dois principais compartimentos de massa corpórea total:
tecido adiposo e massa livre de gordura. São utilizados diversos
indicadores que podem ser usados para avaliação, de maneira
isolada ou associados (DUARTE, 2007).
A antropometria é um meio não invasivo que tem como
objetivo definir e controlar a composição corpórea e classificar
a distribuição de gordura corporal, correlacionando com o
desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. As
principais alterações referem-se a diminuição de massa magra
e a distribuição dos padrões de gordura, a altura tende a
diminuir cerca de 1-2 cm a cada dez anos, sendo essa redução
mais intensa em idosos (MASTROENI et al, 2010).
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
63
Considerado o meio mais usado em avaliação nutricional
em idosos, os elementos antropométricos constantemente
usados para este grupo etário compreendem peso, altura,
dobras cutâneas e circunferências do braço, da cintura, quadril
e panturrilha que é considerada a medida mais sensível e eficaz
de massa magra (MASTROENI et al., 2010).
Com base no peso e altura, calcula-se o Índice de Massa
Corpórea (IMC), que pode ser usado em associação a outras
variáveis antropométricas na avaliação do estado nutricional no
caso dos idosos devido as alterações fisiológicas que ocorrem
com a idade o IMC é diferenciado.
A avaliação da habilidade funcional em idosos é
importante também, pois pode identificar riscos de dependência
futuras quedas, morbidade e são adequadas para conduzir
estratégias terapêuticas nos idosos, visando que tais
informações complementem a avaliação nutricional (VILAÇA et
al, 2011).
A antropometria é um meio abrangente usado na
avaliação nutricional de idosos, principalmente por se tratar de
um meio de baixo custo, não invasivo, e aplicado
universalmente e com uma boa aceitação pelos indivíduos
(MENEZES, MARUCCI, 2010).
Esse estudo tem como objetivo geral avaliar o estado
nutricional dos idosos praticantes de hidroginástica.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo quantitativo, de caráter descritivo
e transversal. A amostra é constituída por 15 idosos, sendo que
14 eram do sexo feminino e 01 indivíduo do sexo masculino
participantes do Projeto Vida Ativa, praticantes de
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
64
hidroginástica, vinculado as Faculdades Integradas de Patos-
FIP. Foram selecionados indivíduos com idade igual ou superior
a 60 anos que fossem participantes dessa modalidade.
A amostragem utilizada foi do tipo não probalística por
conveniência em que os indivíduos foram escolhidos pela
disponibilidade de participação da pesquisa.
Foram utilizados como instrumentos para coleta de
dados um questionário em que continham questões
sociodemográficas, questões relacionadas à prática de
atividade física, histórico familiar de doenças crônicas não
transmissíveis e histórico clínico, além disso espaço para
registro das variáveis antropométricas.
Foram avaliadas as medidas antropométricas de peso e
estatura. Posteriormente obteve-se o Índice de Massa Corporal
(IMC) para que assim se conseguisse classificar o estado
nutricional. Em relação às circunferências, coletaram-se as:
circunferências da cintura (CC), quadril (CQ) e panturrilha (CP).
O peso foi aferido utilizando uma balança antropométrica
Filizola® com capacidade para 150 kg e precisão de 100
gramas, estando o idoso usando roupas leves e descalço. A
estatura foi verificada com antropômetro vertical fixo à balança
com o indivíduo ereto, descalço e utilizando roupas adequadas,
de acordo com a técnica de Frisancho (1984).
O Índice de massa corpórea (IMC) foi obtido através da
divisão do peso em quilos (kg), pela estatura em metros (m) e
elevado ao quadrado, o resultado é obtido em kg/m². E sua
classificação de acordo com o IMC específico para a população
idosa: (<22 km/m² magreza) (22 km/m² eutrofia,) (> 27 km/m²
excesso de peso) e o estado nutricional foi classificado segundo
valores críticos propostos por Lipschitz (1994).
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
65
A identificação do risco de doenças cardiovasculares foi
realizada utilizando-se a relação cintura-quadril (RCQ) e
classificada segundo Lohmanet al.(1988), que considera: risco
baixo – RCQ (< 0,91), risco moderado entre (0,91-0,99) e risco
alto entre (1,00-1,03) para indivíduos do sexo masculino. E para
mulheres, risco baixo (< 0,76), risco moderado entre (0,76-
0,84), risco alto (0,85- 0,90).
A CC foi utilizada ainda de forma isolada para avaliar o
acúmulo de gordura abdominal e o risco de doenças
cardiometabólicas. Os valores foram classificados de acordo
com (NIH, 2000) (CC:> 80cm elevada) (> 88 muito elevada)
para mulheres e (>94cm elevada) ( > 102 muito elevada) para
homens.
O risco para desnutrição foi avaliado a partir da CP, em
que valores inferiores a 31 cm são considerados marcadores
de desnutrição segundo Chumelea (1995).
A CP avalia o estoque muscular na perna e é muito
usada como parâmetro de desnutrição e perda de massa
muscular em idosos (VALDUGA, ALVES 2014).
Todas as circunferências foram avaliadas utilizando
uma fita métrica inelástica Macrolife® conforme Callawayet al.
(1998)
Todas as dobras foram aferidas utilizando-se um
adipômetro da marca Cescorf® estando o individuo de pé,
usando roupas leves, adequadas e posicionados de acordo
com Harrison et al. (1988).
O protocolo para determinação do percentual de gordura
foi o de quatro dobras compostas pelas: dobra cutânea bicipital
(DCB), tricipital (DCT), subescapular (DCSE) e suprailíaca
(DCSI) e analisados a partir de uma tabela que contém o
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
66
respectivo percentual de acordo com a idade e o sexo
(DURNIN, WOMERSLEY, 1974).
Para determinar o percentual de gordura corporal (G%)
nos idosos obesos foram utilizadas fórmulas específicas
descritas abaixo, visto que não é adequado o uso de
adipômetro:
Mulheres: G% = 0.11077 x (circunf. abdominal) –
0.17666 x (estatura) + 0.14354 x (massa corporal) + 51.03301.
Homens: G% = 0.31457 x (circunf. abdominal) – 0.10969 x
(massa corporal) + 10.8336 (GUEDES, GUEDES, 1998). Todas
as medidas foram realizadas antes da prática da hidroginástica.
Os dados foram tabulados no Microsoft Excel, versão 2010, e
analisados através do software Stastistical Package for the
Social Sciences versão 22.0 (SPSS®). Realizaram-se
estatísticas descritivas para caracterização da amostra.
Esse estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa
das Faculdades Integradas de Patos-FIP, obtendo o número de
protocolo nº 1.364.02, em 11 de dezembro de 2015.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra foi constituída por 14 idosas do sexo feminino
(93,3%) e 01 idoso do sexo masculino (6,7 %), totalizando 15
participantes. A partir dos resultados observou-se uma maior
participação das mulheres na prática de hidroginástica. No
estudo de Valduga e Alves (2014), também foi possível
observar uma maior predominância de idosas na prática de
atividade física em que 94,1% da amostra eram do sexo
feminino e apenas 5,8% eram do sexo masculino.
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
67
As mulheres são mais participativas em atividades
voltadas para a promoção da saúde, por consequência de suas
experiências e exposições nos serviços de saúde em outras
fases da vida (CERVATTO, 2005). Além disso, toda a amostra
classificou a saúde como principal motivo para a prática de
hidroginástica.
A partir da análise do histórico familiar dos idosos, foi
possível identificar que 20 % da amostra relatou histórico
familiar de doenças cardiovasculares e 26,6 % para
hipertensão. Em relação a história clínica dos participantes,
demonstrou-se que 53,3 % dos idosos sofrem de algum tipo de
doença crônica não transmissível.
A média de idade encontrada no presente estudo (Tabela
1) é semelhante à pesquisa de Freitas et al. (2008), em que os
idosos apresentaram uma média de idade de 67,7 anos. Nos
dois estudos é notável a prevalência dos idosos jovens (60 a
69,9 anos) praticando atividade física, o que pode ser
considerado um ponto positivo tendo em vista que, quanto mais
cedo o idoso for inserido na prática de atividade física, melhor
será para melhoria e manutenção do estado de saúde (Valduga
e Alves 2014).
A partir da média de peso corporal identificada (Tabela
1) pode-se observar similaridade com o estudo de Valduga e
Alves (2014), em que os idosos apresentaram peso corporal
médio de 80, 51 kg e também eram praticantes de
hidroginástica.
O excesso de peso foi identificado em outro estudo com
idosos, em que apresentaram prevalência de obesidade
superior a 50%, similarmente ao presente estudo. Apesar do
excesso de peso ser algo preocupante, principalmente quando
se fala em idosos, tendo em vista todos os riscos que esse
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
68
excesso e massa corporal poderá causar, é sabido que a
prática de atividade física contribui para a manutenção/melhoria
do estado nutricional (MATSUDO, 2002).
A avaliação da gordura corporal (Tabela 2) demonstrou
que todos os idosos estudados apresentaram elevado
percentual (%) de gordura corpórea, conforme WHO (1998). A
alta quantidade de gordura corporal exerce efeitos negativos no
desenvolvimento de DCNT, por isso a quantificá-las em idosos
é importante, pois poderá garantir intervenções direcionadas à
adequação dos compartimentos corporais (LACOURT,
MARINI, 2006).
Com o aumento da idade há uma perda progressiva da
massa magra, representada pelo processo de sarcopenia e um
aumento da proporção de gordura corpórea. Além disso, ocorre
uma diminuição da estatura e relaxamento da musculatura
abdominal.
O elevado percentual de gordura corporal na terceira
idade é um fator que merece atenção. A adoção de uma
alimentação saudável e a prática de atividade física regular são
meios de minimizar os prejuízos causados pelas patologias
ligadas ao sobrepeso e obesidade.
Tabela 1. Caracterização dos idosos praticantes de
hidroginástica.
Variáveis N Mínimo Máximo Média
Idade (anos) 15 60,00 71,00 63,80
Peso Atual
(Kg) 15 50,00 92,50 76,58
Estatura (m) 15 1,47 1,78 1,79
G % 15 26,50 75,80 58,02
*G % = Percentual de gordura corporal
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
69
Grande parte dos idosos avaliados apresentou
obesidade, como pode-se observar na (Tabela 2), coincidindo
com um estudo realizado na cidade de Maringá (PR), em que
61,11% dos idosos avaliados apresentaram obesidade e
também praticavam hidroginástica (ELIAS et al, 2012). O
excesso de peso encontrado nesses estudos pode estar ligado
a diferentes causas, como má alimentação, redução da
frequência nas aulas de hidroginástica, intensidade e volume da
prática (VALLE, 2007).
Tabela 2. Avaliação do estado nutricional de idosos praticantes
de hidroginástica
Classificação do IMC Percentual ( %) Frequência (n)
Eutrófico 6,7 % 1
Sobrepeso 33,3% 5
Obesidade 60,0 % 9
*IMC = Índice de massa corpórea
A Tabela 3 apresenta a distribuição dos idosos em
níveis de classificação da circunferência da cintura (CC), em
que se pode observar que 26,7 % dos idosos apresentaram
circunferência da cintura elevada e 66,7% muito elevada o que
aponta riscos para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares (NIH 2000).
A alta predominância do risco de desenvolvimento de
doenças cardiovasculares nos idosos do presente estudo
(Tabela 3) é similar com os resultados da pesquisa de Menezes
et al. (2013), em que 50% dos idosos avaliados apresentaram
valores superiores a 87,5 cm da circunferência da cintura.
Os resultados obtidos para a CC é algo preocupante,
tendo em vista que a obesidade localizada na região abdominal
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
70
pode desencadear sérios problemas de saúde que relacionada
as doenças cardiovasculares, hipertensão e resistência a
insulina podem ser contabilizados como fatores de risco para a
síndrome metabólica (GRAVINA et al. 2010).
Tabela 3. Classificação da circunferência da cintura em idosos
praticantes de hidroginástica
Circunferência da
Cintura
Percentual ( %) Frequência (n)
Elevado 26,7 4
Muito Elevado 66,7 10
A Relação Cintura-quadril (RCQ) apresentou elevadas
proporções de risco cardiovascular em toda a amostra avaliada.
Resultados similares foram encontrados na pesquisa de Felix e
Sousa (2009), em que 98,5 % da amostra apresentou risco de
doenças cardiovasculares. A RCQ é relacionada a gordura
visceral, através dela é possível classificar a obesidade em
ginecóide e andróide quando os seus valores apresentam–se
superiores a 1,0 para os homens e 0,85 para a mulheres
(ACUNÃ, 2004).
De acordo com a avaliação da Circunferência da
panturrilha (CP) foi possível observar que toda a amostra
(100%) apresentou resultados superiores a 31 cm da CP,
indicando um improvável processo de sarcopenia, visto que
essa é região bem sensível a perdas de massa magra (NAJAS,
2011). A CP estima a reserva muscular na perna, e é muito
utilizada como indicador de desnutrição e como perda de massa
muscular em idosos (MASTROENI, 2010).
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
71
A amostra avaliada expõe um inadequado estado
nutricional, apesar de os mesmos serem praticantes de uma
atividade física, mas que por causas desconhecidas e
multifatoriais não demonstram um estado nutricional compatível
com o gasto energético, perfil antropométrico e de composição
corporal que esperaria ser encontrado.
O presente estudo apresentou diversas dificuldades, em
relação à disponibilidade de participantes para a pesquisa,
podendo-se observar o limitado número de voluntários,
principalmente do sexo masculino.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados obtidos, pode-se inferir que os
idosos avaliados apresentaram excesso de peso corporal, que
é reflexo de um IMC inadequado. O percentual de gordura
apresentou-se elevado e requer uma associação ao IMC para
um melhor diagnóstico do estado nutricional desses idosos da
hidroginástica.
Percebe-se assim, uma necessidade da
presença/acompanhamento do profissional nutricionista nos
grupos de idosos durante a prática de exercício físico, tendo em
vista a importância da manutenção de um adequado estado
nutricional na terceira idade.
A avaliação nutricional assim como as orientações
nutricionais são maneiras de incentivar a adoção de uma
alimentação saudável que unida à prática de atividade física
podem garantir uma melhor qualidade de vida para esses
idosos.
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
72
REFERÊNCIAS
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AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA
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AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
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CAPÍTULO 4
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO
PORTE
Juliana Késsia Barbosa SOARES¹ Larissa Maria Gomes DUTRA ²
Viviane Priscila Barros de MEDEIROS³
Rita de Cássia de Araújo BIDÔ³
Maria Juliete da Silva OLIVEIRA³
¹ Docente da UFCG/Docente PPGCTA-UFPB ²; Especialista em Nutrição Clínica pela Estácio de Sá; ³Pós-graduandos em Ciência e Tecnologia de Alimentos, UFPB.
RESUMO: A realização de ações de vigilância nutricional e de educação alimentar de forma contínua é essencial para o público infantil, sendo a creche um ambiente estratégico no desenvolvimento desses tipos de intervenções. Assim o objetivo do presente trabalho foi avaliar o estado nutricional de crianças matriculadas em uma creche pública do município de Picuí/PB. Para tanto realizou-se a avaliação antropométrica de 67 pré-escolares. Com relação ao indicador peso para a idade foram identificadas crianças desnutridas 3 (4,5%), com baixo peso 8 (11,4%), eutróficas 39 (58,2%), com sobrepeso 12 (17,9%) e obesidade 5 (7,5%). De acordo com o indicador estatura para a idade encontrou-se baixa estatura para a idade 5 (7,5%), risco de baixa estatura para idade 8 (11,4%), estatura adequada para a idade 48 (71,6%), risco de estatura elevada para idade 1 (1,5%) estatura elevada para idade 5 (7,5%). No tocante ao indicador peso para a estatura foram detectadas crianças desnutridas 2 (4,2%), com baixo peso 5 (10,1%), eutróficas 27 (56,3%), com sobrepeso 10 (20,8%) e obesidade 4 (8,3%). Quanto ao indicador IMC para a idade foram identificadas crianças desnutridas 2 (3%), com baixo peso 9
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
77
(13,4%), eutróficas 39 (58,2%), com sobrepeso 11 (16,4%) e obesidade 6 (9%), observou-se também que 33 (60%) crianças estavam com sobrepeso e 22 (40%) com baixo peso. Palavras-chave: Creche; Avaliação Nutricional; Educação
Nutricional.
1 NTRODUÇÃO
A situação nutricional do público infantil reflete as condições
de saúde e de vida da população, na qual está intimamente
relacionada ao atendimento as necessidades básicas como
alimentação, saneamento, acesso aos serviços de saúde,
educação, dentre outros. (TUMA; COSTA; SCHMITZ, 2005).
No Brasil, um número crescente de crianças dos estratos
sócio-econômicos menos favorecidos dos centros urbanos vem
sendo atendidas em creches gratuitas. A demanda por estes
serviços é grande e tende a aumentar com a participação
crescente da mulher no mercado de trabalho (FISBERG;
MARCHIONI; CARDOSO, 2004), fazendo com que haja menor
tempo disponível para o cuidado com a alimentação da família,
o que favorece a adoção de hábitos de vida não saudáveis.
Além disso pode-se citar outros fatores causais como a
ampliação e diversidade da oferta de alimentos industrializados
e a crescente comercialização de produtos alimentícios em
grandes redes de supermercados (GARCIA, 2003).
A creche é um ambiente especial, criado para oferecer
condições para o desenvolvimento integral e harmonioso da
criança, estimulando-as nas esferas biológica, psicossocial,
cognitiva e espiritual, onde vários profissionais respondem pela
implementação dos cuidados integrais e necessários à criança
nesse espaço (ARAÚJO; LEMOS; CHAVES, 2006).
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
78
Pesquisas mostram que crianças que frequentam
creches apresentam maior risco de desenvolver diarréia e
doenças infecciosas respiratórias. Em contrapartida, várias
investigações destacam a importância das creches como fator
positivona melhoria do estado nutricional das crianças, em
especial para aquelas de menor renda familiar (COSTA et al,
2008).
Outro estudos elencam que os benefícios da assistência
a pré-escolares nas creches estão diretamente relacionados à
melhor oferta nutricional, bem como aos processos de
socialização e estímulo psicomotor, além do apoio à família
para a guarda segura de seus filhos (ROCHA et al, 2008).
O estado nutricional do indivíduo é resultante da
disponibilidade, do consumo, da absorção e das necessidades
individuais de nutrientes, dentre outros fatores, ficando evidente
a influência que o ambiente exerce sobre a saúde e bem estar
geral das pessoas. Para tanto faz-se necessário a realização
constante de ações de vigilância nutricional, em virtude da alta
prevalência de distúrbios nutricionais, como a desnutrição
energético-protéica, a anemia ferropriva e obesidade em
crianças (MACHADO et al, 2005).
Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o estado
nutricional de crianças matriculadas em uma creche pública do
município de Picuí/PB que recebem merenda escolar planejada
dentro dos princípios e normas estabelecidas pelo Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
2 MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de um estudo do tipo transversal, realizado por
meio da avaliação antropométrico de 67 pré-escolares (76,14%
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
79
dos alunos) na faixa etária de 2 a 6 anos de idade, regulamente
matriculados em uma Creche Municipal do município de
Picuí/PB nos turnos matutino e vespertino, sendo 34 sexo
feminino e 33 do sexo masculino. A avaliação nutricional foi feita
com auxílio das curvas da Organização Mundial de Saúde
(OMS), para tanto foram utilizadas as tabelas de percentis de
peso/idade, estatura/idade, peso/estatura e IMC/idade.
Além disso, foram realizadas atividades de Educação
Alimentar e Nutricional de forma lúdica. A pesquisa
compreendeu o período de 31 de março a 10 de abril do ano de
2014.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um
prontuário, no qual continha espaços para coleta de dados
pessoais, antropométricos (peso e altura) e o Índice de Massa
Corporal (IMC), calculado pela fórmula: peso/(altura)². Ao final
da pesquisa, todos os prontuários foram arquivados no
ambiente de creche para intervenções futuras pela equipe de
nutriciconistas do munípio e pela equipe de saúde da família
através do programa saúde na escola.
A ficha de matrícula da criança foi utilizada para a
obtenção de dados pessoas. Para a aferição do peso, foram
usadas balanças digitais com capacidade máxima de 150 Kg e
graduação de 100 g. Para avaliação da massa corporal, o aluno
ficou em pé, descalço e foi orientado a se posicionar na balança
de forma ereta, com o peso distribuído igualmente nas duas
pernas, braços estendidos ao longo do corpo e o olhar para o
horizonte, segundo o Plano de Frankfort. Para a aferição da
altura, o aluno foi posicionado junto à fita métrica de modo que
sua cabeça, nádegas e calcanhares estivessem encostados na
parede, em posição ereta, com o peso distribuído igualmente
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
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nas duas pernas, braços estendidos ao longo do corpo e o olhar
para o horizonte de acordo com o Plano de Frankfort
Para a análise dos índices Peso por Idade, Peso por
Estatura e IMC por Idade foram utilizados as seguintes
classificações: desnutrição para percentil <3, baixo peso para
percentil ≥3 e <15, normalidade ou eutrofia para percentis no
intervalo entre 15 e 85, sobrepeso para percentis no intervalo
≥85 e <97, e obesidade para percentil ≥97. Em relação a
Estatura por Idade os índices foram avaliados da seguinte
forma: Baixa Estatura para a Idade para percentis <3, risco de
Baixa Estatura para a Idade para percentis ≥3 e <15, Estatura
Adequada para Idade para percentis no intervalo entre 15 e 85,
risco de Estatura Elevada para Idade para percentis no intervalo
≥85 e <97 e Estatura Elevada para a Idade para percentis ≥97.
Figura (1) – Avaliação antropométrica das crianças: aferição do
peso
Fonte: própria
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
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Figura (2) – Avaliação antropométrica das crianças: aferição da
altura
Fonte: própria
Figura (3) – Atividade Lúdico pedagógica
Fonte: própria
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 4, mostra a distribuição do indicador peso para
a idade em escala de percentis, onde foram identificadas
crianças desnutridas, com baixo peso, eutróficas, com
sobrepeso e obesidade, 3 (4,5%), 8 (11,4%), 39 (58,2%), 12
(17,9%) e 5 (7,5%), respectivamente.
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
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Figura 4 – Estado Nutricional de Pré-escolares: percentil Peso
por Idade
Fonte: Pesquisa direta, 2014
A Figura 5 mostra a distribuição do indicador estatura
para a idade em escala de percentis, onde foram detectadas
crianças com baixa estatura para a idade, risco de baixa
estatura para idade, estatura adequada para a idade, risco de
estatura elevada para idade, 5 (7,5%), 8 (11,4%), 48 (71,6%), 1
(1,5%) e 5 (7,5%), respectivamente.
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
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Figura 5- Estado Nutricional de Pré-escolares: percentil
Estatura por Idade
Fonte: Pesquisa direta, 2014
A Figura 6 mostra a distribuição do indicador peso para
a estatura em escala de percentis, onde foram detectadas
crianças desnutridas, com baixo peso, eutrófica, com
sobrepeso e obesidade, 2 (4,2%), 5 (10,1%), 27 (56,3%), 10
(20,8%) e 4 (8,3%), respectivamente.
Figura 6– Estado Nutricional de pré-escolares: percentil Peso
por Estatura
Fonte: Pesquisa direta, 2014
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
84
A Figura 7 mostra a distribuição do indicador IMC para a
idade em escala de percentis, onde foram detectadas crianças
desnutridas, com baixo peso, eutrófica, com sobrepeso e
obesidade, 2 (3%),9 (13,4%), 39 (58,2%), 11 (16,4%) e 6 (9%),
respectivamente.
Figura 7- Estado Nutricional de pré-escolares: percentil IMC por
Idade
Fonte: Pesquisa direta, 2014
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
85
A Figura 8 mostra um aumento de peso em crianças,
onde foram detectadas 33 (60%) crianças com sobrepeso e 22
(40%) escolares com baixo peso.
Figura 8 Distribuição em porcentagens de Baixo peso e
Sobrepeso em pré-escolares
Fonte: Pesquisa direta, 2014
O grupo avaliado apresentou distribuição homogênea
entre os sexos, tendo todas as crianças idade acima de 24
meses, corroborando com o perfil de acesso das crianças
brasileiras às creches, no qual há maior abrangência de
atendimento a pré-escolares acima de dois anos (SILVA, et al.
2000).
O perfil do grupo antropométrico em estudo, quando
comparados aos percentis de referência apresentados nas
curvas da OMS, indica que há maior prevalência de crianças
com sobrepeso nos percentis peso/idade (17,9%),
peso/estatura (20,8%) e IMC/idade (16,4%) quando se compara
com as crianças de baixo peso, (11,4%), (10,1%) e (13,4%),
respectivamente. Silva et al. (2001), estudando a demanda de
crianças atendidas em ambulatório, concluíram que as
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
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prevalências de sobrepeso e obesidade foram elevadas entre
pré-escolares. O estudo supracitado, que foi realizado em
crianças de famílias de classe socioeconômica baixa, reforça os
resultados encontrados em Mogi-Guaçú (FERNANDES;
GALLO; ADVÍNCULA; 2006), porém com crianças de família
com abrangência socioeconômica maior. Os achados
endossam a ideia de que a obesidade infantil vem se tornando
um problema de saúde pública independente da classe
econômica social.
Pesquisas elucidam que a diminuição das taxas de
desnutrição e aumento nos percentuais de obesidade tem
ocorrido em curto intervalo de tempo, agregando uma nova
preocupação no âmbito das políticas públicas que envolvem os
cuidados alimentares e nutricionais com as crianças. É
importante destacar que a obesidade infantil traz riscos a saúde
principalmente na vida adulta, que estão relacionados com o
desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis
(FERNANDES; GALLO; ADVÍNCULA, 2006). O crescente
aumento do número de indivíduos obesos pode ser atribuído às
mudanças no estilo de vida, em em especial dos hábitos
alimentares.
Não obstante, o Brasil vem passando por um processo
de transição nutricional caracterizado por uma redução
marcante na prevalência da desnutrição infantil e um aumento
do sobrepeso e obesidade (COUTINHO; GENTIL; TORAL,
2008), corrobando assim com os dados apresentados no
presente estudo, onde foi identificado que 33 (60%) dos pré-
escolares apresentam-se com sobrepeso e 22 (40%) das
crianças com baixo peso.
Em estudo realizado por Oliveira, Costa e Rocha (2011),
onde analisou-se o nível de conhecimento de escolares em
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
87
relação aos hábitos alimentares, por meio de um questionário
de múltipla escolha, foi demonstrado 41,21% (n=29) de acertos,
no entanto, após a intervenção lúdica, em um segundo
momento, a média de acertos foi aumentada 67,83% (n=47).
Gaglianoneetal (2006) e Freitas (2009), comprovaram em suas
pesquisas que ações de educação nutricional nas escolas
apresentam importância fundamental para o desenvolvimento
de hábitos de vida saudáveis.
Sendo assim pode-se notar a importância de ações de
Educação Alimentar e Nutricional no empoderamente sobre o
conhecimento de hábitos de vida saudáveis, principalmente na
faixa etária infantil, onde ocorre o desenvolvimento de diversos
aspectos relacionados à criança em toda sua dimensão, tais
como, comportamento, caráter, desenvolvimento psicomotor e
não obstante o hábito alimentar. No tocante à subjetividade dos
resultados da atividade lúdica realizada após a avaliação
nutricional dos escolares, percebeu-se em diálogo com as
crianças, que o resultado da intervenção foi positivo e produtivo,
pois as mesmas mostraram ter absrovido os conhecimentos
transmitidos durante o decorrer da atividade.
4 CONCLUSÕES
A idade infantil se configura como uma fase onde são
necessárias diversas intervenções, sendo essencial uma
atenção especial nessa estapa da vida, pois é exatamente
nesse momento que inúmeros hábitos da vida da criança são
formados. Dentre essas possíveis intervenções, o
acompanhamento do desenvolvimento por meio da avaliação
antropométrica, bem como a promoção de ações de Educação
Alimentar e Nutricional, são de importância relevante, pois
AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
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contribuem para o empoderamente do conhecimento
relacionado a alimentação adequada e saudável nessa fase
crítica da vida. Dessa forma, o trabalho realizado mostra-se
importante, uma vez que contribui de forma positiva no
acompanhamento do estado nutricional e promoção de hábitos
alimentares saudáveis e abre portas para que os temas,
desenvolvimento de crianças de creche e alimentação saudável
sejam trabalhados em momentos futuros no embiente escolar.
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AVALIÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS ASSISTIDAS POR UMA CRECHE EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
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AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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CAPÍTULO 5
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSIÍVEIS
EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
Ewelen Natchara Alves MENDES1
Luciana Maria Martinez VAZ2
1 Graduanda do curso de Nutrição, FPB; 2Orientadora/Professora da FPB. [email protected]
RESUMO:Comumente encontramos pessoas que conhecem ou possuem alguma alteração a nível renal, podendo torna-se irreverssível. Dentre os principais fatores que contribuem para esse índice destaca-se hábitos alimentares em dietas hiperproteicas. Apesar de sua função anabólica, não existe nenhuma vantagem na ingestão excessiva de proteínas, tendo em vista a impossibilidade de seu armazenamento pelo organismo. O consumo excessivo de proteína pode sobrecarregar a função renal e implicar em disfunções do metabolismo. Portanto, a referida pesquisa trata-se de uma pesquisa de campo, que possui natureza qualitativa, com caráter descritivo e tem como objetivo avaliar o consumo de suplementos por praticantes de musculação e seu possível efeito sobre a função renal. Dentre os indivíduos avaliados 92% apresentavam estado nutricional eutrófico, enquanto que 8% encontrava-se com sobrepeso. Quanto ao consumo proteico apenas 16% da amostra estava ingerindo a quantidade ideal e 84% estava ingerindo acima da quantidade recomendada pela literatura. No que se refere a indicação de uso de suplementos, verificou-se que 34% consomem por iniciativa própria, 52% consome por indicação do Educador Físico, 10% possuem acompanhamento com Nutricionista e 4% por indicação de amigos. Portanto, conclui-se que uma porcentagem relevante
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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da amostra possui hábitos alimentares em dietas hiperproteicas podendo vir a apresentar alterações na função e fisiologia renal em decorrencia de uma alimentação desequilibrada. Palavras-chaves:Sistema Renal. Excesso. Proteínas.
1 INTRODUÇÃO
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia
(2013), um a cada dez brasileiros sofrem de doenças renais, a
qual afeta 5 a 10% da população mundial. Dentre os fatores que
contribuem para esse índice, destaca-se pressão alta, diabetes,
obesidade e hábitos alimentares em dietas hiperproteicas.
Vive-se em uma época em que as pessoas, buscam o
corpo “esteticamente perfeito”, recorrendo a vários tipos de
dietas e suplementos, na esperança de atingir um novo nível de
bem-estar ou desempenho físico. Os praticantes de
musculação muitas vezes colocam em risco sua saúde,
apostando em dietas hiperproteicas, fazendo uso de
suplementos de maneira totalmente inadequada, tentando
melhorar a aparência física.
Acredita-se que o uso excessivo e indevido de dietas
hiperproteicas possa causar algum dano ao Sistema Renal,
modificando assim, o seu funcionamento normal, de uma forma
que possa afetar a homeostase corpórea e manutenção do
órgão. Os efeitos causados pelo consumo excessivo de
proteínas podem ser irreversíveis para a saúde humana.
O Sistema renal é formado por dois órgãos denominados
de rins, os quais realizam a maior parte das funções de
excreção, filtrando o sangue e recolhendo deste, os resíduos
metabólicos de todas as células do nosso corpo (MOORE,
2007).
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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Os rins são órgãos importantes para manter o equilíbrio
do corpo. Sua função é eliminar através da urina os restos e
excessos da alimentação que o corpo não pode usar.
Normalmente, realiza sua função pela filtração, secreção e
reabsorção contínua de sangue (ZAMBRA; HUTH, 2010).
Fermi (2003) enfatiza que sua função básica é limpar o
plasma sanguíneo de substâncias indesejáveis ao organismo,
como as proteínas finais do metabolismo, ureia, creatinina,
ácido úrico e uratos, através da filtração.
Quando os rins não funcionam direito as substancias não
excretadas começam a se acumular em nosso organismo,
causando um desequilíbrio na homeostase corpórea. Segundo
Dangelo e Fanttini (2007), o rim é capaz de prover a função
adequada se o rim oposto estiver lesionado ou afuncional.
Mendes e Bregman (2010) relata que, o aumento na
ingestão proteica pode ter relação direta ou indireta com o
diagnostico de proteinúria, uma vez que esse aumento promove
maior oferta de produtos metabólicos e das próprias proteínas
disponíveis no organismo, no caso, na urina.
A uremia é outra patologia renal que tem suas causas
ligadas ao metabolismo proteico e consequentemente a dieta.
Os nitrogênios não proteicos, que incluem a ureia, o ácido úrico
e a creatinina são diretamente responsáveis pela mesma. A
uremia se refere ao nível elevado de ureia existente no sangue.
As concentrações de alguns compostos, em particular a ureia,
podem aumentar por ate 10 vezes o normal durante 1 a 2
semanas de insuficiência renal (GUYTON; HALL, 2002).
Dentre os diversos fatores que afetam o treinamento de
força, um dos mais frequentemente associados ao aumento de
força muscular é o aspecto nutricional, mais especificamente, a
ingestão de proteínas. As proteínas são moléculas formadas
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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por longas cadeias lineares de seus elementos constitutivos
próprios: os aminoácidos (TRAMONTE, 2003).
A ingestão proteica acima das necessidades orgânicas
leva ao aumento das reações catabólicas de seus aminoácidos,
desencadeando a produção de subprodutos como ureia
(H2NCONH2), trifosfato de adenosina (ATP), gás carbônico
(CO2), glicose (C6H12O6); acetil coenzima A e corpos
cetônicos. Alguns destes subprodutos podem resultar em
efeitos adversos ao organismo (MARCHIONI et al., 2004).
Outra hipótese pela qual as dietas hiperproteicas podem
ser deletérias a nível renal é devido ao seu conteúdo dietético
excessivo de produtos finais de glicosilação avançada (AGE)
que têm uma ação nefrotóxica direta (BOHLENDER, 2005).
Apesar de sua função anabólica, não existe nenhuma
vantagem na ingestão excessiva de proteínas, tendo em vista a
impossibilidade de seu armazenamento pelo organismo. Todo
o excesso calórico na forma de proteína deverá ser
transformado em gordura, assim como o nitrogênio adicional
advindo da maior ingestão proteica deverá ser eliminado pelo
sistema urinário. O consumo excessivo de proteína pode
sobrecarregar a função renal e implicar em disfunções do
metabolismo. O consumo adicional de suplementos proteicos
acima das necessidades diárias (1,7g/Kg/dia) não determina
ganho de massa muscular adicional, nem promove aumento de
desempenho (TALES, 2003).
A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2009)
recomenda que praticantes de atividade física tenham um
consumo máximo de 1,7g/kg de proteínas.
Geralmente pessoas que iniciam ou vivem no meio da
musculação em academias costumam associar o ganho de
massa muscular ao consumo “extra” de proteínas, assim, é
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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disseminado a um alto consumo de alimentos e suplementos
proteicos por tais indivíduos (PEREIRA e CABRAL, 2007).
No que se diz respeito á atividade física, a alimentação é
considerada um dos principais fatores determinantes para a
otimização do desempenho, pois a capacidade de rendimento
do organismo melhora através de uma nutrição adequada, com
a ingestão equilibrada de todos os nutrientes (CORTEZ, 2011).
Contudo, essa compreensão pode ser erroneamente aplicada,
quando a ganância por obter um corpo idealizado pela
sociedade, faz com que haja uma acessão do mercado voltado
à suplementação dietética (SABINO; MADEL; CARVALHO,
2010).
Paralelo á prática de atividade física, a utilização de
suplementos alimentares vem crescendo constantemente, pois
muitos destes produtos apresentam promessas de hipertrofia
muscular, diminuição de excesso de gordura corpórea e
melhoria do desempenho esportivo (HISRSCHBRUCH, 2008).
Suplementos Nutricionais são definidos como substâncias
adicionais á dieta principalmente: vitaminas, minerais, ervas e
botânicos, aminoácidos, metabólicos, constituintes, extratos ou
combinações de qualquer desses ingredientes (Willians, 2004).
De acordo com Santos e Barros (2002), é consenso, na
comunidade científica, que a dieta pode fornecer todos os
nutrientes necessários a uma vida saudável. Sendo assim, a
suplementação da dieta é recomendada apenas em situações
específicas.
Segundo Hernandes e Nahas (2009), os suplementos
alimentares, se bem empregados, melhoram o rendimento nas
atividades físicas, além de garantir maior disposição para
realizar tarefas cotidianas. No entanto, o uso indiscriminado e
sem orientação de um profissional capacitado pode causar
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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danos á saúde como problemas hepáticos, sobrecarga renal,
aumento da gordura corporal e desidratação (WAGNER, 2011).
Assim sendo, esse estudo investiga o consumo de
suplementos por praticantes de musculção e seus possíveís
efeitos sobre a função renal, analisando as repostas negativas
desse tipo de dieta, que podem acometer a fisiologia e função
do Sistema Renal. O principal objetivo deste trabalho é
descrever a função do Sistema Renal, bem como explicar os
efeitos do excesso de proteína para a fisiologia renal.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O referido trabalho se trata de uma pesquisa transversal,
de campo, qualitativa, e quanto aos objetivos caracteriza-se
como exploratória, tendo em vista que os dados observados
nos permitirão definir estes objetivos; e descritiva, pois
permitirão avaliar o consumo de suplementos por praticantes de
musculção e seus possíveis efeitos sobre a função renal.
Segundo GIL 2008, uma pesquisa é exploratória
proporciona maior familiaridade com o problema, tornando-o
explícito. Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas
com pessoas experientes no problema pesquisado.
Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo
de caso.
Pesquisa descritiva é usada para descrever as
características de determinadas populações ou fenômenos.
Algumas hipóteses podem ser formuladas com base em
conhecimentos prévios, procurando confirmá-las ou negá-las.
Nesse tipo de estudo é extremamente importante a exatidão e
precisão dos dados coletados (GIL, 2008).
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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A pesquisa foi realizada em uma academia de musculação,
em João Pessoa, com 50 alunos, de ambos os sexos, maiores
de 18 anos e que fazem uso de suplementos alimentares.
Quanto a coleta de dados, foram aplicados questionários de
consumo alimentar, contendo questões abertas e fechadas,
para avaliar os hábitos alimentares de cada indivíduo envolvido
na pesquisa. O questionário foi composto por questões como
uso de suplemento, freqüência de consumo, quantidade a ser
consumida, indicação de uso, alimentos proteicos mais
consumidos ao longo do dia, alem de, outras questões relativas
ao perfil de freqüentadores de academias.
Os intrumentos utilizados para realizar a avaliação
nutricional, constituem-se de uma balança de marca g tech,
com capacidade de 150kg, que tem como intuito o peso da
massa corpórea, estadiômetro da marca sanny com capacidade
de medição de 115 a 210cm, equipamento que é necessário
para verificação da estatura, e com esses dois resultados o
cálculo do IMC.
O IMC foi obtido através da fórmula (IMC = peso corporal/
estatura²). Para classificar o estado nutricional da amostra foi
utilizado o valor proposto pela organização mundial de saúde
(OMS, 1995), que tem no seu índice as seguintes
classificações: abaixo do peso, peso normal, excesso de peso,
obesidade I, obesidade II e obesidade III (ver tabela abaixo).
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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FONTE: OMS, 1995.
A análise dos dados foi realizada através dos programas
do Microsoft Office 2007, Word e Excel, através de planilhas de
dados, bem como, do aplicativo Tecnonutri, para analise dos
alimentos. Todos os dados recolhidos foram avaliados e as
respostas foram transcritas e discutidas com base em análise
quantitativa, qualitativa e descritiva, juntamente com a
fundamentação teórica dos resultados obtidos.
Os participantes da pesquisa foram devidamente
esclarecidos a respeito dos objetivos, métodos, riscos e
benefícios da pesquisa, para a qual foram seguidas todas as
normas éticas vigentes, os que concordaram em participar,
assinarão o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1. Distribuição dos indivíduos segundo o gênero.
FONTE: Dados de pesquisa, 2016.
Quanto ao gênero, 28 (56%) eram do sexo feminino e 22
(44%) do sexo masculino. Resultados bem parecidos com o de
Adam e colaboradores (2013), onde a prevalência era do
gênero feminino 62,9% e 37,1% do gênero masculino. A média
de faixa etária da população estudada ficou entre 18 a 42 anos,
similar ao aos encontrados por Fontes e colaboradores (2010),
onde as idades dos entrevistados variam entre 18 a 40 anos.
44% Masculino
56%Feminino
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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Figura 2. Distribuição do Estado Nutricional dos participantes.
FONTE: Dados de pesquisa, 2016.
De acordo com a IMC, foi possível avaliar o estado
nutricional dos participantes da pesquisa, dentre eles, 92%
encontra-se em estado eutrófico e 8% dos entrevistados
encontram-se com sobrepeso. Estes resultados são coerentes
aos encontrados por Hallak (2007) e Colaboradores que
identificaram em seus estudos que de acordo com IMC a maior
parte dos participantes (81,4%) apresentavam peso adequado
a altura, enquanto que um pequeno percentual (18,6%)
encontravam-se acima do peso.
92%Eutrófico
8%Sobrepeso
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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Figura 3. Distribuição quanto á quantidade de suplementos consumida pelos participantes.
FONTE: Dados de pesquisa, 2016.
Demonstrou-se que 32% dos participantes fazem uso de
apenas 1 tipo de suplemento, 36% fazem uso de 2 tipos de
suplementos, 14% utilizam 3 tipos de suplementos e 18% fazem
uso de 4 tipos de suplemento.
O uso indiscriminado dos suplementos bem como a
associação de vários deles, oferece sérios riscos á saúde
humana. Segundo Linhares e Lima (2006), um estudo realizado
no Laboratório Antidoping da Colômbia pela comissão médica
da COI (Comitê Olímpico Internacional) ao analisar 634
suplementos alimentares provenientes de 13 países, verificou a
presença de substâncias não declaradas em seus rótulos.
Dentre elas, esteroides, precursores de hormônios e
estimulantes do sistema nervoso central. Estas substâncias
podem causar aumento da pressão arterial, alterações
cardíacas, distúrbios do sono, efeitos tóxicos, dependência
psicológica e risco de morte por insuficiência cardíaca.
32%
36%
14%
18%
1 Suplemento
2 Suplementos
3 Suplementos
4 Suplementos
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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Figura 4. Distribuição quanto á indicação de uso dos suplementos.
FONTE: Dados de pesquisa, 2016.
No que se refere a indicação de uso dos suplementos,
verificou-se que, 34% tomam por iniciativa própria e nunca
tiveram acompanhamento com um profissional da área, a
grande maioria 52% consome por indicação do Educador
Físico, que na maioria das vezes atua com comércio na própria
academia, apenas 10% relatam possuir acompanhamento com
Nutricionista e 4% fazem uso por indicação de amigos, ou seja,
a grande maioria dos participantes em questão não possuem
um acompanhamento com um profissional especializado na
área e por muitas vezes acabam consumindo de forma
equivocada, sem que haja um esclarecimento sobre a
necessidade de consumo.
A grande variedade de suplementos alimentares
lançados no mercado e a influência produzida pela mídia tem
incentivado o aumento do consumo desses produtos nos
últimos anos. Em diversos estudos verificou-se que educadores
físicos, treinadores e a mídia influenciam e estimulam o
34%
52%
10% 4%
Iniciativa PrópriaEducador FísicoNutricionistaAmigos
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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consumo de suplementos para praticantes de atividade física
de diversas modalidades (CANTORI, 2009; FONTES E
NAVARRO, 2010).
Entretanto, de acordo com a Resolução CFN n°390
(Brasil, 2006), o nutricionista é o profissional habilitado para
realizar a prescrição de suplementos alimentares, devendo
respeitar os níveis máximos de segurança regulamentados pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Tabela 1. Distribuição quanto ao tipo de suplemento mais consumido pelos participantes.
N %
Hipercalórico 8 16
BCAA 36 72
Creatina 13 26
Whey Protein 42 84
Albulmina 7 14
Glutamina 5 10
Maltodextrina 8 16
FONTE: Dados de pesquisa, 2016.
Dentre os suplementos mais consumidos pelos
entrevistados, seja por associação dos mesmos ou não,
destaca-se, Whey Protein 84%, BCAA consumido por 72%,
Creatina 26%, Hipercalórico sendo consumido por 16%,
Maltodextrina 16%, Albumina 14% e Glutamina 10%. Resultado
parecido ao encontrado por Silveira (2013), onde o Whey
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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Protein era o mais consumido (54%) entre os alunos em
questão.
No que se diz respeito á prática de associação dos
mesmos, foi possível observar que 61% dos entrevistados
fazem uso de Whey Protein e BCAA juntos.
Tabela 2. Consumo de proteína em gramas por quilo de peso dos indivíduos avaliados.
FONTE: Dados de pesquisa, 2016.
Analisando os dados da tabela 2, observa-se que 68%
dos avaliados estão ingerido proteínas a mais do que o
recomendado pela Sociedade Brasileira de Medicina do
Esporte (2009). Segundo Marchione, 2004 a ingestão proteica
acima das necessidades orgânicas leva ao aumento das
reações catabólicas de seus aminoácidos, desencadeando a
produção de subprodutos como ureia (H2NCONH2), trifosfato
de adenosina (ATP), gás carbônico (CO2), glicose (C6H12O6);
acetil coenzima A e corpos cetônicos. Alguns destes
subprodutos podem resultar em efeitos adversos ao organismo,
sobretudo a nível renal já que muitos subprodutos do
metabolismo proteico têm sua síntese e excreção nesse órgão.
PTN/g/kg/peso N (%)
1g 3 (6%)
1 - 1,8g 13 (26%)
> 1,8g 34 (68%)
Total 50 (100%)
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEUS POSSÍVEÍS EFEITOS SOBRE A FUNÇÃO RENAL
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4 CONCLUSÕES
Diante dos resultados obtidos com o referido estudo,
percebe-se que 68%, uma porcentagem relevante dos
indivíduos entrevistados fazem uso exagerado de maneira leiga
e equivocada de suplementos alimentares. Dentre os
suplementos mais consumido por eles desctaca-se Whey
Protein 84% e BCAA 72%, sobretudo com associação dos
mesmos.
Sabe-se que uma alimentação balanceada associada a
musculção é de extrema importância para o desenvolvimento e
desempenho físico, entretanto o aumento na ingestão proteica
sem necessidade não irá ecelerar todo esse processo, quanto
a essa prática percebe-se que os praticantes de musculção
estão cada vez mais adeptos ao uso incessante e equivocado
de suplementos alimentares, principalmente a base de
proteínas, podendo vir a afetar a homeostase corpórea,
sobretudo, a fisiologia renal. Pode-se perceber que apenas 10%
dos indivíduos possuem acompanhamento com profissional
Nutricionista.
Por isso faz-se necessário um acompanhamento com um
profissional nutricionista, para que o mesmo possa identificar a
necessidade calórica de cada individuo, considerando todos os
aspectos fisiológicos e especificidades individual para que não
haja excessos.
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OBESIDADE COMO UMA DOENÇA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE GERAL DO INDIVÍDUO, DECORRENTE
DO ACÚMULO EXCESSIVO DE GORDURA CORPORAL.
107
CAPÍTULO 6
OBESIDADE COMO UMA DOENÇA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES NA
SAÚDE GERAL DO INDIVÍDUO, DECORRENTE DO ACÚMULO EXCESSIVO DE GORDURA CORPORAL.
Faglanya Emanuelle Henrique AMANCIO 1
Pamela Rodrigues Martins LINS 1 1 Graduanda do curso de Nutrição, UFPB; 2 Orientadora/Professora do CCS/UFPB.
RESUMO: A Obesidade, antes considerada como símbolo de nobreza e riqueza é atualmente categorizada como doença desde 1985 pela Organização Mundial de Saúde. Entretanto ainda não temos esse conceito completamente entendido pela sociedade, visto que uma pessoa obesa dificilmente terá essa consciência de que está doente. Todavia a obesidade desencadeia diversas alterações sistêmicas na dinâmica corporal, em virtude do papel ativo do tecido adiposo como excretor de adipocinas inflamatórias e não inflamatórias, que provocam no corpo o surgimento de um completo desarranjo metabólico. Diante disso, é possível perceber que a obesidade, por retirar o estado de saúde do indivíduo, provocar desequilíbrio endócrino e metabólico, aumentar sua taxa de mortalidade e aumentar o risco de surgimento das mais diversas doenças é considerada uma doença, fato confirmado pela conclusão de que é possível de regressão com a perda do excesso de tecido adiposo corporal. Dessa forma, entendendo o conceito de doença como uma desordem no estado de saúde do indivíduo, analisando algumas das implicações endócrinas e o potencial inflamatório do tecido adiposo, as comorbidades associadas à obesidade expostas conclui-se que a obesidade
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pode ser considerada uma doença multifatorial, de alto potencial de mortalidade e que por isso deve ser prevenida o mais cedo possível. Palavras-chave: Obesidade. Comorbidades. Adipocinas.
1 INTRODUÇÃO
A Obesidade, antes considerada como símbolo de
nobreza e riqueza é categorizada como doença desde 1985
pela Organização Mundial de Saúde. Entretanto uma pessoa
obesa dificilmente terá essa consciência de que está doente,
embora já tenha ouvido falar dos riscos a que está sujeita de
desenvolver doenças como diabetes, hipertensão,
dislipidemias, sobrecargas articulares, etc.
Segundo Dâmaso (2001), a obesidade é caracterizada
não só pelo aumento do peso corporal, mas também pelo
aumento excessivo da massa adiposa depositada em vários
compartimentos corporais. A mensuração do estado nutricional
do individuo para fins de estudos populacionais é o Índice de
Massa Corporal (IMC) calculada através da relação peso
dividida pela altura ao quadrado, onde se o resultado alcançado
for superior a 30 o individuo já estaria enquadrado no primeiro
grau de obesidade. Embora o IMC possua limitações de
avaliação, para análise do panorama nutricional de populações
é ainda o método mais acessível de análise.
As associações que as pesquisas recentes têm realizado
entre a obesidade e o surgimento de diversas comorbidades
tem chamado a atenção dos pesquisadores ao estudo do papel
do tecido adiposo como um tecido não apenas de reserva de
energia, mas sim como um tecido metabolicamente ativo e com
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elevada produção hormonal capaz de modificar o
funcionamento normal do corpo humano, trazendo consigo a
possibilidade de desencadear uma série de doenças.
Diante da relevância do tema e dos fatos acima
expostos, esse estudo de revisão bibliográfica fornecerá uma
melhor compreensão do conceito de obesidade como uma
doença, em virtude das inúmeras implicações que o excesso de
peso e gordura corporal são capazes de ocasionar na saúde do
individuo. Sendo assim fica a pergunta a ser respondida através
dessa revisão: As implicações sistêmicas na saúde do indivíduo
são suficientemente relevantes para o estado de saúde ao
ponto de enquadrar a obesidade como doença?
2 MATERIAIS E MÉTODO
Essa pesquisa será realizada através de uma revisão
bibliográfica da literatura a cerca das comorbidades
relacionadas à obesidade e relevância do tecido adiposo nesse
papel de obesidade como doença.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dificilmente fazemos associação do excesso de gordura
ao fato do pessoa ser doente, entretanto a obesidade é a uma
doença causada por fatores diversos tais como fator genético,
psicológicos, culturais, além de nutricionais e de estilo de vida
que atuam diretamente na sua causa e manutenção.
Cuppari (2014, p. 186) define a obesidade como uma
enfermidade crônica, que se caracteriza pelo acúmulo
excessivo de gordura comprometendo a saúde do indivíduo. A
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partir desse conceito é perceptível que a o excesso de peso já
se consolida como uma desordem crônica instalada que
compromete a qualidade de vida de quem é portador.
Vários são os estudos que fazem a associação da
obesidade ao risco de morte assim como nos elucida Krause
(2012, p. 471) ao trazer os dados científicos de um estudo de
coorte:
Um grande estudo, com mais de 100.000 homens e
mulheres norte-americanos com 50 anos ou mais que
participaram do estudo de coorte Cancer Prevention Study II
Nutrition Cohart, com duração de 9 anos, descobriu que a
obesidade está relacionada à morte. Os indivíduos com
cintura mais larga (pelo menos 119 cm em homens e 109 cm
em mulheres) tinham o dobro de risco de mortalidade quando
comparados àqueles com cinturas estreitas (89 cm ou menos
em homens e 76 cm ou menos em mulheres). Isto era verdade
em todos os IMC, mas era mais forte em mulheres de peso
normal, indicando o perigo da gordura visceral, da linha da
cintura ou abdominal. (Grifo do autor)
O tecido adiposo é muito irrigado vascularmente e com
potencial de refletir alterações endócrinas a nível plasmático,
tendo relevante função excretora. Conforme apresenta Leite et
al (2009, p.3), o tecido adiposo é considerado atualmente um
importante órgão endócrino metabolicamente ativo e que reflete
diretamente no controle, reversão e implicações clínicas do
excesso de peso.
Segundo Prado (2009, p.2), adipocina é um termo
universal adotado para descrever a proteína que é secretada (e
sintetizada) pelo tecido adiposo. Estas proteínas liberadas, tem
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os mais diversos papéis, já tendo sido catalogadas segundo
Leite et al (2009, p.3) 50 destas, agrupadas em categorias
funcionais distintas. Essa intensa atividade metabólica é capaz
de alterar o funcionamento perfeito dos mais diversos sistemas
corporais como endócrino, de equilíbrio energético, sexual,
imunizante, cardíaco, etc.
A literatura sugere ainda, que a obesidade seja um fator
de propensão a um estado de inflamação corporal, conforme
explica Leite et al (2009, p.5):
Acredita-se que o ganho de peso e hipertrofia dos
adipócitos haja compreensão dos vasos sanguíneos no tecido
adiposo branco, impedindo um suprimento adequado de
oxigênio. Ocorreria, então, hipóxia local e morte de alguns
adipócitos. Esse quadro desencadearia a cascata da resposta
inflamatória e também o processo de angiogênese, para
formação de novos vasos. Portanto, a condição de hipóxia por
si já seria suficiente para estimular a quimiotaxia de
macrófagos e induzir a expressão de genes pró-inflamatórios.
Segundo Sippel et al. (2014, p. 2), a resposta inflamatória
da obesidade leva não somente à elevação da expressão de
adipocinas não inflamatórias, mas também à redução de
adipocinas com propriedades anti-inflamatórias. Entre as
adipocinas anti-inflamatórias é possível citar a Interleucina 10
(IL-10), adiponcetina (adipoQ) e SFRP5
Além destas, também são conhecidas as adipocinas pró-
inflamatórias, ou seja, que promovem a inflamação.
Essa correlação se deve à análise dos níveis destas
adipocinas estarem alteradas em pacientes obeso, levando a
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crê, portanto que seja o tecido adiposo o responsável pelo
estado inflamatório, justificando o porquê de tantos
pesquisadores associarem à obesidade a um quadro de
inflamação crônica.
Vejamos, portanto, algumas das adipocinas que influem
nos quadros de inflamações do Tecido Adiposo e suas
implicações locais e sistêmicas:
TNF-α:
O fator de necrose tumoral alfa, encontra-se aumentado na obesidade e consegue ser diminuído com a adequação do peso. Conforme GENTIL (2012, p.55, apud, Ruan et al., 2002), é possível visualizar a ação do TNF-α:
A expressão gênica do TNF-α influencia tecidos
metabolicamente importantes, tais como tecido adiposo e
fígado. No tecido adiposo, o TNF-α inibe genes envolvidos na
captação e no armazenamento da glicose e de ácidos graxos
não esterificados (NEFAs) suprime genes para os fatores de
transcrição envolvidos na adipogênese e lipogênese e
promove mudanças na expressão de várias adipocinas,
incluindo adiponectina e IL-6. No fígado, o TNF-α suprime a
expressão de genes envolvidos na captação e no
metabolismo da glicose, na oxidação dos ácidos graxos e
aumenta a expressão dos genes envolvidos na síntese do
colesterol e ácidos graxos.
IL-6
A Interleucina 6 são também produzidas pelo tecido adiposo, contudo sua maior produção é proveniente de células não gordurosas. Porém, segundo GENTIL (2012, p.57, apud Bastard et al., 2000; Bastard et al., 2002; Fernandez-Real & Ricart, 2003), os níveis plasmáticos de IL-6 são altamente
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correlacionados à massa corporal. Logo quanto maior o sobrepeso, maior será a concentração plasmática de IL-6, que segundo o referido autor estimulam a liberação de gordura pelo fígado, o que pode contribuir para a hiperlipidimia associada à obesidade.
Ademais Sippel et al. (2014, p. 51) ainda traz em seu
artigo que há indicativos do papel da Interleucina 6 com o
desenvolvimento da diabetes:
Há indícios recentes de que a IL-6 exerça ação direta
sobre a sensibilidade à insulina, alterando a sinalização
insulínica em hepatócitos mediante a inibição do receptor de
insulina dependente de auto fosforilação, promovendo, desse
modo, resistência à ação do hormônio no tecido.
Conforme Sippel et al. (2014, p. 50), a IL-6 e o TNF-α,
são adipocinas com função imunológica, e são produzidas
pelos adipócitos em respostas a estímulos infecciosos ou
inflamatórios. Logo as mesmas favorecem o processo
inflamatório que se observa em quadros de obesidade, capazes
de refletir na qualidade de vida e saúde geral dos indivíduos.
CRP ou PCR
A Proteína C Reativa também produzida pelo tecido adiposo e considerada um marcador que favorece a inflamação corporal é relacionado, segundo GENTIL (2012, p. 58 apud, Hermsdorff & Monteiro, 2004) ao risco aumentado de doenças cardiovasculares. Para provar esse risco aumentado, GENTIL (2012, p. 58 apud, Rexrode et al., 2003) apresenta os dados de uma pesquisa que elucidam essa questão:
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Em um estudo envolvendo 773 mulheres, Rexrode et
al. (2003), verificaram uma estreita relação entre IMC e níveis
de CRP. A comparação entre os quartis com maior (>28,3
kg/m2) e menor (<22,4 kg/m2) IMC mostrou que os níveis d
CRP eram 4 vezes mais altos em mulheres com IMC elevado.
De acordo com os resultados, mulheres com IMC maior que
28,3 kg/m2 possuíam risco 12 vezes maior de apresentar altos
níveis de CRP, o que equivaleria a um risco 4 vezes maior de
doenças cardiovasculares e diabetes.
MCP-1
A proteína quimiotática de monócitos 1 segundo GENTIL (2012, p.60 apud, Sartipy & Loskutoff, 2003), é um potente atrator de monócitos, cuja expressão é aumentada na obesidade.
Leptina
Foi o primeiro hormônio associado à obesidade a partir de estudos realizados com ratos. É uma proteína secretada pelo tecido adiposo, tendo papel hormonal de regular o apetite e o metabolismo, ou como bem sintetiza Krause (2012, p.465), contribui para a plenitude em longo prazo, pela estimulação dos depósitos de energia de todo o corpo.
Segundo Gentil (2012, p.48 apud, Khan & Joseph, 2004),
a leptina influencia em outros mecanismos, conforme descrito:
Especificamente, a leptina parece inibir a liberação do
neuropeptídio Y (NPY), ácido gama-aminoburítico (GABA) e
estimular a de proopiomelanocortina (PMC). Como NPY e
GABA são orexígenos e POMC é anorexígeno, a leptina
promoveria a sensação de saciedade e aumentaria o gasto
energético.
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Além de efeitos sistêmicos a leptina é capaz de promover
alterações locais, tais como seu efeito no tecido adiposo de
oxidar gorduras, efeitos protetores nas funções cardíacas,
auxiliando na resistência à hipertensão, trombose e alterações
na fibrinólise. (GENTIL, 2012, p.49)
Outra referência científica se dá por Sippel (2014, p.52
apud, Fruhbeck G, 2001), onde relata que a leptina está
envolvida no aumento da oxidação lipídica e redução da síntese
de triglicerídeos e também possua efeitos sobre a fertilidade,
angiogênese, controle da pressão arterial e na osteogênese.
Há evidências científicas de que um aumento no tecido
adiposo provoca um aumento nos níveis de leptina, entendendo
ser uma resposta do corpo a esse aumento de peso, como
tentativa de controlar o apetite e adequar o metabolismo para
manter a homeostase do peso corpóreo. Entretanto na
realidade o que se percebe são os feitos opostos: quanto maior
o peso, maior o apetite, o acúmulo de gordura corporal. Uma
das hipóteses levantadas segundo GENTIL (2012, p.49, apud
Mattei et al., 2002; Huan et al. 2003), é que devido a defeitos
nos mecanismos de sinalização nos níveis receptores e pós-
receptores esses sinais não cheguem ao SNC.
Resistina
A resistina também secretada pelo tecido adiposo é capaz de promover a inflamação, além de afetar outros mecanismos corporais, conforme nos traz GENTIL (2012, p.53, apud, Gomez-Ambrosi & Fruhbeck, 2001; Shaffler et al., 2003), que argumenta que além do papel de resistência à insulina, a resistina também pode estar ligada a processos inflamatórios, como artrite.
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Esta adipocina também diminui a gliconeogênese
hepática e tem ação regulatória da adipogênese devido a sua
alta expressão nos pré-adipócitos. (Sippel, et al., p.52 apud,
Mcternan PG et al., 2002).
Adiponectina
Diferentes das outras adipocinas citadas, a adiponectina é menor em pacientes obesos e vai subindo à medida que se perde peso, em contra partida sabe-se que a mesma possui um efeito benfeitor para o corpo. Isso por que conforme nos apresenta Krause (2012, p.466), a adiponectina modula a regulação da glicose e o catabolismo dos ácidos graxos, atuando em diversos distúrbios metabólicos como obesidade e diabetes, por exemplo. Sendo, portanto considerada auxiliadora da saúde.
Segundo GENTIL (2012, p. 54, apud, Ouchi et al., 1999;
Hotta et al., 2000; Weyer et al., 2001; Okkola & Santaniemi,
2002; Beltowski, 2203; Ouchi et al., 2003: Frystyk et al., 2007),
sua concentração tem relação inversa com patologias como
diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares,
demonstrando que a obesidade atrapalha essa proteção.
Devido a essa atuação diferenciada, como adipocina
anti-inflamatória, Sippel (2014, p. 53 apud Fonseca-Alaniz MH,
2006; Berg AH, 2002), conclui que ela é considerada protetora
para doenças cardiovasculares, aterosclerose, resistência
insulínica, além de aumentar a oxidação lipídica. Entretanto,
Sippel (2014, p.53) nos traz uma realidade cruel, onde os
indivíduos obesos possuem baixos níveis plasmáticos quando
comparados a indivíduos eutróficos, além do que sua
expressão é reduzida pela presença de gordura visceral.
Angiotensina I
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A angiotensina I é um dos componentes do sistema renina-angiotensina, responsável pelo controle hídrico corporal.
Conforme descreve GENTIL (2012, p.49 apud Kershaw
& flieer, 2004), podemos conhecer o caminho desse sistema:
A renina cliva o angiotensinogênio, formando a
angiotensina I. Em seguida, a enzima conversora de
angiotensina (ECA) converte a angiotensina I em angiotensina
II, a qual tem uma série de efeitos sistêmicos e renais.
A concentração aumentada de angiotensina II
promove reabsorção de sódio nos túbulos renais e tem
potente efeito vasoconstritor, o que induz aumento da pressão
arterial e do volume vascular e estimula a secreção de
aldosterona pela glândula adrenal.
Ademais o angiotensinogênio, precursor da angiotensina
I e II, segundo Sippel et al. (2014, p.52), vem sendo relacionada
ao acúmulo de gordura corporal e sua participação estaria na
diferenciação de adipócitos, sugerindo maior secreção no
tecido adiposo visceral. O referido autor ainda menciona
relação da Angiotensina II como estimulador da lipogênese e
secreção de adipocinas promotoras de inflamações.
Ainda tem o agravante de que segundo Krause, (2012,
p.180) esse sistema controla a ingestão de líquidos e sensação
de sede. Essa sensação de sede é muitas vezes confundida
com o sinal da fome, provocando episódios de consumo
alimentar excessivos desnecessários.
PAI-1
Também conhecida como Inibidor do ativador de
plasminogênio, o mesmo inibe que o organismo converta
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plasminogênio em plasmina, uma enzima que digere os
coágulos dos vasos, portanto níveis aumentados devido à
liberação via tecido adiposo, tem participação nas complicações
cardiovasculares da obesidade.
Para GENTIL (2012, p.51, apud 51, apud Raji et al.,
2001; Schafer et al., 2001), além dos efeitos cardiovasculares,
estudos em ratos e humanos sugerem que o PAI-1 também tem
importante papel na resistência à insulina. Entretanto, nem
todas as adipocinas contribuem com o processo inflamatório,
existem outras que estão relacionadas às comorbidades
atribuídas à obesidade, sem participar do fenômeno
inflamatório, como a vistafina, apelina, vaspina e omentina.
Vistafina
Também chamada de fator estimulador das células pré-B ou nicotinamida, possui função análoga a da insulina, tendo, portanto seu desequilíbrio relacionado às desordens metabólicas como a obesidade, síndrome metabólica e diabetes.
Segundo Krause (2012, p.467 apud, Stevens e Vidal-
Puig, 2006), a vistafina tem suas concentrações plasmáticas
aumentadas com o incremento da adiposidade e resistência à
insulina. Ou seja, a obesidade favorece seu aumento
plasmático e consequentemente as desordens a ela
associadas, como os citados por Sippel (2014, p.52 apud,
Romacho, 2009; Adya R, 2009), no papel de inflamatório
vascular e na aterosclerose e os citados por Sippel (2014, p.52
apud Fukurana et al., 2005), na regulação da homeostase
glicêmica por sua ligação ao receptor de insulina.
Apelina
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Sua expressão aumenta com o ganho de peso e segundo estudos apresentados por Leite LD et al. (2009, p. 88) esse aumento está associado à hiperinsulinemia e possuir ação angiogênica.
Vaspina
Também com expressão aumentada na obesidade é uma adipocina recém-descoberta e com poucos estudos esclarecedores quanto aos seus efeitos deletérios.
Omentina
Igualmente recentemente descoberta, expressa preferencialmente no tecido visceral segundo Leite LD et al. (2009, p. 89), que está associada com resistência insulínica.
Diante da exposição acima elencada a cerca do papel do
tecido adiposo como órgão metabolicamente ativo, é possível
concluir que os indivíduos com excesso de peso apresentam
um nível superior de secreção de adipocinas que promovem a
inflamação e um nível diminuídos das adipocinas que conferem
o papel protetor da saúde, que faz com que o corpo do indivíduo
obeso tenha um metabolismo prejudicado pela existência de
excessivo tecido adiposo, em virtude do seu papel endócrino e
efeitos sistêmicos.
Tal como foi debatido, a obesidade altera as funções
sistêmicas, que ao longo do tempo refletirão no surgimento dos
sintomas e manifestação das mais diversas desordens
metabólicas e doenças.
Não é difícil de com essas informações já citadas,
entender o porquê a obesidade é considerada um fator de risco
para inúmeras patologias cada vez mais prevalentes na
sociedade contemporânea
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Os reflexos da obesidade não se limitam a alterações na
saúde física. Há também impactos na saúde mental de grande
impacto psicológico, já que a sociedade ainda tem um
comportamento de preconceito e exclusão para as pessoas que
fogem aos padrões de beleza estabelecidos pela coletividade.
A indústria seja ela de cosméticos, de roupas e até mesmo de
bebidas alcoólicas e automobilística endeusam a magreza e a
perfeição inatingível que frustra as pessoas que mais se
encontram distantes deles, como é o caso do obeso. Por esses
motivos é frequente encontrar obesos com depressão, baixa
autoestima e uma tendência ao isolamento da sociedade.
Diante de tantas desordens provocadas pela obesidade,
é natural que a mortalidade das pessoas obesas também seja
mais alta. Krause (2012, p.471) traz dados de uma grande
pesquisa norte-americana:
Um grande estudo, com mais de 100.000 homens e
mulheres norte americanos com 50 anos ou mais que
participaram do estudo de coorte Cancer Prevention Study II
Nutrition Cohort, com duração de 9 anos, descobriu que a
obesidade está relacionada à morte. Os indivíduos com
cintura muito larga (pelo menos 119 cm em homens e 109 cm
em mulheres) tinham o dobro de risco de mortalidade quando
comparados àqueles com cinturas estreitas (89 cm ou menos
em homens e 76 cm ou menos em mulheres).
A literatura já é consolidada no sentido de associar a
obesidade com o desenvolvimento da hipertensão arterial,
Pollock (1993, p.57), já dizia que a hipertensão mostra-se
claramente relacionada à obesidade, impondo um risco
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considerável para a ocorrência de um acidente vascular
cerebral e para o desenvolvimento de um quadro de
insuficiência cardíaca congestiva. Isso se dá pela necessidade
de irrigação de uma maior área corporal, que requer aumento
do volume de sangue para tal, conforme elucida Dâmaso (2001,
p.232), quando relata que ocorre aumento do volume
sanguíneo e consequentemente do débito cardíaco. Tudo isso
associado ao fato de que o próprio volume ocupado pela massa
gordurosa confira resistência à passagem do fluxo sanguíneo,
aumentando a pressão para o fluxo do sangue e
consequentemente se refletindo no quadro de hipertensão.
Em decorrência do aumento da pressão arterial ocorre
sobrecarga cardíaca que refletirá em doenças
cardiovasculares. Dâmaso (2001, p.234), traz um dado
interessante a cerca do ganho de peso e o reflexo no
surgimento de doenças cardiovasculares, quando refere que
um aumento de 10% no peso está associado ao aumento de
13% e 8% nas chances de desenvolvimento das doenças
cardiovasculares para homens e mulheres, respectivamente.
Assim como em relação à hipertensão, desde a década
passada Pollock (1993, p.57 apud, Van Ittalie, 1985),
associava-se a existência da obesidade com o surgimento da
diabetes mellitus, quando traz dados da mesma pesquisa
americana já mencionada que demonstram um risco 3,8 vezes
de desenvolver diabetes nestes indivíduos. Conforme nos
apresenta Cuppari (2014, p.197), a partir de estudos mais
recentes apresentados pela Comissão Nacional de Diabetes
dos Estados Unidos, o risco do desenvolvimento da doença é 2
vezes maior em obesos leves, 5 vezes maior em obesos
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moderados e 10 vezes maiores em indivíduos com obesidade
grave.
Esse fato não se restringe aos EUA, segundo Mariath et
al. (2007, p.898 apud Sartorelle DS et al, 2003), a diabetes vem
aumentado de forma exponencial em vários países, inclusive no
Brasil. Mariath et al. (2007, p.898 apud Ministério da Saúde,
2002), ainda traz dados oficiais de que o diabetes responde por
cerca de 25 mil óbitos anuais e que 75% dos diabetes não
dependentes de insulina estão acima do peso desejável.
Diante de um excesso de gordura corporal, é natural o
interesse pela pesquisa acerca desse esse incremento como
fator que afetaria o perfil de gorduras a nível plasmático. Para
elucidar essa temática Dâmaso (2001, p.232) descreve:
A obesidade central está associada, também, a
mudanças no perfil de lipoproteínas plasmáticas, as quais
predispõem a doenças cardiovasculares, até mesmo em
mulheres na pré-menopausa, as quais apresentam menor
risco para o desenvolvimento destas doenças. (Apud, Despres
JP, p. 1991).
A atividade da enzima lipase lipoprotéica (LPL),
principal enzima no fígado a hidrolisar triglicerídeos (TG), está
intimamente associada à quantidade de gordura central
tornando-se mais acentuada em indivíduos com tais
características. A LPL pode remover moléculas de
lipoproteínas de alta densidade (HDL) da circulação, além de,
em situação de excesso no consumo alimentar, metabolizar
os TG, liberando partículas de lipoproteínas de muito baixa
densidade (VLDL). As VLDL também irão sofrer a ação da LPL
tornando-se, em segunda instância, lipoproteínas de
densidade intermediária (IDL). Estas sofrem a ação de outra
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DO ACÚMULO EXCESSIVO DE GORDURA CORPORAL.
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importante lipase existente na superfície dos hepatócitos, a
lipase hepática (LH), que as transforma em lipoproteínas de
baixa densidade (LDL, lipoproteínas com altas concentrações
de colesterol), as quais tem íntima relação com doenças
cardiovasculares. (Apud, Ferrannini E, 1996; Giannini SD,
1998).
Embora ao se pensar em câncer dificilmente se faça a
associação com o fator obesidade, estudos demonstram a
associação do excesso de peso com o surgimento das
neoplasias. Prado et al. (2009, p. 381 apud, Lihn AS, 2005;
Ishikawa, 2005; Goktas S. 2005; Tilg H, 2006) estabelecem a
relação do câncer e da obesidade através da liberação das
adipocinas inflamatórias já mencionadas:
A presença de gordura corporal excessiva na região do
pescoço está associada às disfunções relacionadas à apneia,
como as paradas respiratórias e ronco, em virtude da gordura
imprensar as estruturas da face, faringe, vias respiratórias, etc.
Segundo Cuppari (2014, p.198), 70% das pessoas portadoras
da síndrome da apneia obstrutiva do sono são obesos, e entre
os obesos graves, a incidência é de 15 vezes mais do que na
população em geral.
A Doença Hepática Não-Gordurosa caracteriza-se pelo
acúmulo de gordura nos hepatócitos, que pode evoluir para
uma neoplasia hepática se não controlada. Cuppari (2014,
p.198) afirma que a prevalência aumenta significativamente em
obesos, variando de 50 a 75% dos casos. O referido autor
esclarece a relação, atribuindo à influência das adipocinas
excretadas pelo tecido adiposo, conforme descrito:
OBESIDADE COMO UMA DOENÇA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE GERAL DO INDIVÍDUO, DECORRENTE
DO ACÚMULO EXCESSIVO DE GORDURA CORPORAL.
124
Na obesidade, pode ocorrer, também, resistência à
leptina. Há estudos sugerindo que esse hormônio promove
esteatose hepática e esteato-hepatite, e outros mostrando que
suas concentrações se correlacionam com esteatose, mas
não com inflamação e fibrose. Na ausência de terapêutica
específica para a Doença Hepática Não Gordurosa, o
tratamento é direcionado à correção dos fatores de risco.
Esta associação se confirma quando pensamos que a
primeira indicação médica para regressão da esteatose
hepática se dá pela perda de peso e modificação dos hábitos
alimentares e estilo de vida. E ainda quando ao acompanhar
pacientes de bariátrica, percebe-se a regressão da esteatose,
o que facilmente podemos ligar ao excesso de gordura corporal
anteriormente presente.
A Síndrome Metabólica refere-se a uma associação de
doenças combinadas à obesidade, como a diabetes/resistência
insulínica, dislipidemia e hipertensão, que representarão um
risco maior de desenvolver as doenças cardiovasculares e
aumenta o risco de mortalidade também.
Segundo Krause (2012, p.471) o diagnóstico da
síndrome metabólica se dá pela análise de alguns dados
bioquímicos e antropométricos:
Os indivíduos diagnosticados com síndrome
metabólica (SM) têm três ou mais das seguintes alterações:
circunferência da cintura maior que 102 cm (40 polegadas) em
homens e maior de 88cm (35 polegadas) em mulheres
triglicerídeos séricos de pelo menos 150 mg/dL, concentração
de lipoproteína de alta densidade (HDL) menor que 40 mg/dL
em homens e menor que 50 mg/dL em mulheres, pressão
OBESIDADE COMO UMA DOENÇA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE GERAL DO INDIVÍDUO, DECORRENTE
DO ACÚMULO EXCESSIVO DE GORDURA CORPORAL.
125
arterial de 135/85 mmHg ou superior ou glicemia de jejum de
100 mg/dL ou superior.
Não podemos esquecer da Osteoartrose, decorrente da
sobrecarga de peso que o paciente obeso carrega e aumenta
as chances de desenvolver complicações principalmente de
coluna, joelho e quadril, pois o peso extra, acaba pressionando
as vértebras e desgastando as articulações. Essa sobrecarga,
dores e incômodos são minimizados logo que o paciente perde
peso, isso nos faz fazer essa associação facilmente.
A obesidade ainda aumenta tanto a gravidade quanto a
mortalidade dos casos de pancreatite aguda.
Diante de tantas doenças diretamente relacionadas à
obesidade o reflexo se dá nos custos de saúde pública
aumentados diretamente por este fator em todo o mundo.
Krause (2012, p.471), traz dados levantados por
economistas de saúde nos EUA, de que os custos com
sobrepeso e obesidade são responsáveis por quase 10% do
total de gastos anuais com serviços médicos.
4 CONCLUSÕES
Dessa forma, entendendo doença como uma desordem
no estado de saúde do indivíduo, analisando todas as
implicações endócrinas e o potencial inflamatório do tecido
adiposo, as comorbidades associadas à obesidade já exposta
ao longo desse trabalho, conclui-se que a obesidade pode ser
considerada uma doença multifatorial, de alto potencial de
mortalidade e que por isso deve ser prevenida o mais cedo
possível. Requerendo ainda, cada vez mais estudos a fim de
OBESIDADE COMO UMA DOENÇA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE GERAL DO INDIVÍDUO, DECORRENTE
DO ACÚMULO EXCESSIVO DE GORDURA CORPORAL.
126
compreender todos os meios e mecanismos etiológicos e
preventivos, a fim de minimizar esse problema de saúde pública
do mundo contemporâneo.
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A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
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CAPÍTULO 7
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
Raquel Patricia Ataide LIMA 1
Marina Ramalho RIBEIRO 2
Jessica Vanessa de Carvalho LISBOA 2 Keylha Querino de FARIAS LIMA 2
Maria José de Carvalho COSTA3
1 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 2Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 5 Doutora e Coordenadora do
Programa de Pos Graduação em Ciencias da nutrição. [email protected]
RESUMO: A etiologia da obesidade tem sido atribuída a vários
fatores (ambiental, dietético, estilo de vida, hospedeiro e fatores
genéticos). Microbiota intestinal localizada na interface do
hospedeiro e do ambiente no intestino é uma nova área de
pesquisa sendo explorada para explicar o excesso de acumulo
de energia em indivíduos obesos e pode ser um alvo potencial
para a manipulação terapêutica para reduzir o armazenamento
de energia do hospedeiro. Vários mecanismos têm sido
sugeridos para explicar o papel da microbiota intestinal na
etiologia da obesidade, como a produção de ácidos graxos de
cadeia curta, estimulação de hormônios, inflamação crônica de
baixo grau, lipoproteína e metabolismo dos ácidos biliares e
aumento do tom do sistema receptor endocanabinóide. No
entanto, as evidências de estudos com animais e humanos
indicam claramente controvérsias na determinação da relação
de causa e efeito entre a microbiota intestinal e a obesidade.
Estudos baseados em metagenómica indicam que a
funcionalidade em vez da composição da microbiota intestinal
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
129
pode ser importante. As intervenções nutricionais, restrição
calórica e probióticos, pode ser um possível alvo para
intervenção, uma vez que a composição microbiana do intestino
e as modificações epigenéticas são reversíveis. No entanto, o
conhecimento de efeitos dietéticos específicos é limitado, como
combinações complexas e interações entre os nutrientes e
comensais intestino têm que ser envolvidos.
Palavras-chave: Microbiota Intestinal. Obesidade. Nutrição.
1 INTRODUÇÃO
O aumento mundial da obesidade levou aos pesquisadores
investigarem sua etiologia multifatorial, envolvendo fatores
ambientais, dietéticos, de estilo de vida, genéticos e
patológicos. Sabe-se que a microbiota intestinal difere entre os
seres humanos de acordo com o estilo de vida, nutrição e
diferentes doenças. A análise da diversidade da microbiota
intestinal e da composição de suas subpopulações são de
especial interesse em pesquisa (CANI,
2014;REMELY;HALSBERGE, 2016).
Embora a microbiota intestinal já estivesse estabelecida
como um órgão metabólico capaz de fermentar componentes
dietéticos não digeríveis (particularmente os carboidratos não
digeridos) para gerar ácidos graxos de cadeia curta (SCFA),
seu papel como fator ambiental significativo afetando a
adiposidade do hospedeiro através de uma via de sinalização
foi explorado no ano de 2004 por Bäckhed et al.
Bäckhed et al., (2004) sugeriram em seu estudo evidencias
inovadoras, que a microbiota intestinal induz a adiposidade por
estimulação da lipogénese hepática e armazenamento de
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
130
triglicéridos através da proteína de ligação ao elemento de
resposta a carboidratos (ChREBP) e da proteína de ligação ao
elemento de resposta esterolica 1 (SREBP1) e pela supressão
do fator de adipocito induzido em jejum. Este mesmo estudo,
propos ainda, que este "biorreator" de alta eficiência intestinal
em certos indivíduos poderia promover armazenamento de
energia (obesidade), enquanto que um reator de baixa
eficiência nao promoveria este armazenamento devido à menor
captação de energia da fermentação de carboidratos. As
diferenças na microbiota do intestino entre pessoas obesas e
magras foram, portanto, merecedoras de uma maior
exploração.
Estudos subseqüentes conduzidos pelo mesmo grupo
sugeriram que, embora as comunidades de microbiota intestinal
fossem compartilhadas entre mães e descendentes,
observaram em microbiotas de ratos que, independente do
parentesco dos ratos a proporção maior entre Bacteroidetes e
Firmicutes estava associada com o aumento do
armazenamento de energia a partir de alimentos facilitados pela
microbiota intestinal. No entanto, nenhuma evidência foi
apresentada para mostrar o aumento da expressão de genes
relacionados à atividade metabólica bacteriana e como isso
poderia ser afetado pela dieta e estilo de vida, nem se essas
mudanças também poderiam ser observadas em seres
humanos.
Estudos com humanos, iniciou em 2006 com a equipe de
Ley et al. Onde distribuiram aleatoriamente os adultos obesos
com dietas com restrição de carboidratos e gordura
acompanhados por um ano. Apesar das variações
interpessoais na diversidade da microbiota intestinal, as
pessoas obesas tiveram uma menor abundância de
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
131
Bacteroidetes e uma maior abundância relativa de Firmicutes
antes da ingestão calórica restrita. No entanto, ao longo do
período de seguimento, a abundância relativa de Bacteroidetes
aumentou significativamente enquanto que a de Firmicutes
reduziu significativamente.
O aumento de Bacteroidetes foi significativamente
correlacionado positivamente com o percentual de perda de
peso e não com o teor calórico da dieta. Isso sugeriu que a
microbiota intestinal reestruturou, mudando suas prioridades
metabólicas para apoiar a coexistência em um ambiente
alterado. No entanto, este estudo não explorou a mesma
relação em um grupo paralelo de eutroficos para ver se este
fenótipo teve a mesma resposta à intervenção dietética.
Diante deste contexto, relacionado entre a alteração da
microbiota intestinal e obesidade, este trabalho objetivou
realizar um estudo de revisao do que é encontrado na literatura
referente a esta alteração.
2 MATERIAIS E MÉTODO
O estudo em questão trata-se de uma revisão integrativa
da literatura visando testar a hipótese de que as alterações na
microbiota intestinal altera o armazenamento de energia nos
individuos obesos, a revisão de literatura foi realizada no
período de agosto a outubro de 2016, considerando como
critério de inclusão: estudos correlacionando a microbiota com
a etiologia da obesidade em humanos, e critérios de exclusão
estudos com ratos e microbiota intestinal e obesidade.
Para tanto, foram selecionados 26 artigos científicos do
ano de 2004 até 2016, que abordam a problemática em
questão. A busca dos artigos na literatura consultada foi
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
132
realizada através dos descritores (em inglês): gut microbiot and
obesity. Os artigos foram obtidos em diversas bases de dados,
como PUBMED, Periódicos Capes e American Society for
Nutrition.
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Mecanismos da microbiota intestinal
A microbiota intestinal pode ser considerada como um
"órgão microbiano" que contribui para uma variedade de
processos metabólicos do hospedeiro, desde a digestão até a
modulação da expressão gênica. As diferenças na microbiota
intestinal entre animais magros e obesos ou seres humanos
sugerem uma ligação entre a microbiota intestinal e a
homeostase energética, embora ainda haja algum debate sobre
se essas diferenças para saber se estão causalmente
relacionadas a um fenótipo obeso ou magro.
A dieta desempenha um papel importante na formação da
estrutura e função da microbiota intestinal. Os micróbios e os
produtos microbianos, por sua vez, podem influenciar vários
aspectos da fisiologia do hospedeiro. Uma rota promissora para
afetar a função do hospedeiro e restaurar a saúde é alterando
o microbioma intestinal usando a intervenção dietética (SMITS
et al., 2016).
O papel da microbiota intestinal em manter a saúde e
causar doenças é agora bem reconhecido e, no entanto, as
operações desta componente vital da nossa biologia e os
factores que conduzem à sua função são mal compreendidas
devido à sua complexidade e individualidade. Os nutrientes
dietéticos podem ter um impacto significativo na abundância de
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
133
táxons microbianos específicos (ROGOWSKI et al.,2015).
Alguns dos recursos mais prevalentes que suportam a
microbiota intestinal são os carboidratos acessíveis por
microbiota (MACs), a porção de carboidratos complexos da
fibra alimentar que podem ser metabolizada por micróbios
intestinais.
Os MACs provaram ser um poderoso modulador da
microbiota, e as formas purificadas destes hidratos de carbono
(ex. prebióticos) estão a ser cada vez mais investigadas quanto
ao potencial terapêutico.
Vários mecanismos têm sido sugeridos para ligar a
microbiota intestinal com a obesidade-gênese e outros
distúrbios metabólicos. No entanto, ainda não está claro como
esses mecanismos interagem para influenciar o estado
metabólico global de um indivíduo (RIDAURA et al.,2013).
3.2 Armazenamento de energia a partir da dieta
Os polissacáridos dietéticos e as proteínas que escapam à
digestão no intestino delgado são fermentados no cólon pela
microbiota intestinal em SCFA (ácidos graxos de cadeia curta)
principalmente acetato, propionato e butirato. Para a
quantidade de energia armazenada, existe uma hipótese de ser
influenciado pela composição da microbiota intestinal. Estima-
se que até 10% da necessidade diária de energia e até 70% da
energia para a respiração celular para o epitélio colônico pode
ser derivada do SCFA. O armazenamento de energia crônica
em excesso pode causar aumento de gordura no corpo a longo
prazo (PAYNE et al., 2012).
Em grande medida, existe um acordo geral de muitos
estudos de que o fenótipo obeso está associado ao
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
134
armazenamento do SCFA em excesso, sendo observados em
estudos com animais e humanos em comparação com os não
obesos.
O aumento da produção do SCFA resulta em um aumento
do armazenamento de energia da dieta em fenótipos obesos e
depende de vários fatores, como disponibilidade de substrato,
trânsito intestinal, absorção mucosa, saúde intestinal, produção
pela microbiota intestinal e relações simbióticas entre diferentes
grupos de microbiota intestinal.
O fenótipo obeso em animais está associado com a maior
produção do SCFA, acetato e butirato e maior expressão de
genes bacterianos responsáveis pelo metabolismo de
polissacarídeos (TURNBAUG et al.,2006).
A absorção destes SCFA, juntamente com outros fatores de
estilo de vida e ambientais pode resultar em excesso de
armazenamento de energia e obesidade. Não está claro se este
é um efeito do substrato (ex: hidratos de carbono) ou da
população de microbiota intestinal específica associada com
aumento da produção, absorção e armazenamento do SCFA
em tecidos adiposos e fígado. Os resultados são em grande
parte confusos pelas configurações do estudo, estilo de vida e
fatores ambientais dos sujeitos do estudo.
3.3 Estudos com humanos relacionando a microbiota
intestinal com obesidade
Evidências que ligam a microbiota intestinal à obesidade
em seres humanos são até agora inconclusivas e controversas.
Isto pode ser parcialmente devido a variações interindividuais
acentuadas na microbiota intestinal e atividade metabólica em
seres humanos com a idade, a dieta, a utilização de antibióticos,
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
135
a genética, e outros fatores ambientais (DELZENNE et al.,
2011).
A primeira evidência mostrando firmicutes e bacteroidetes
mais baixos em adultos obesos versus magros antes do início
da intervenção dietética foi apresentada por LEY et al. (2006).
Além disso, vários microorganismos intestinais têm sido
associados à obesidade ou a eutrofia (MILLION et al., 2013).
A capacidade de armazenamento de energia da microbiota
intestinal em indivíduos obesos é pensado para ser
estabelecido em um limiar mais elevado do que no individuo
não obeso com ou sem diferenças na abundância relativa da
microbiota intestinal. Os adultos obesos apresentaram SCFA
individual e total maior do que os adultos magros na ausência
de qualquer diferença na abundância relativa dos principais
filamentos bacterianos intestinais (FERNANDES et al.,2014).
Porem, evidências sugerem que a dieta desempenha um
papel importante na alteração da proporção da microbiota
intestinal em indivíduos, porque a quantidade e o tipo de
bactérias mudam significativamente com a dieta (WALKER et
al., 2011). Isso varia entre os indivíduos e pode ser devido à
colonização microbiota distinta durante o início da vida,
alterando a capacidade de armazenamento de energia da
dieta.
A composição e conteúdo calórico da dieta alteram
significativamente a abundância relativa da microbiota intestinal
(WALKER et al., 2011). Um aumento da ingestão de amido
resistente foi associado a um aumento de ~ 10% de
Eubacterium rectale (uma bactéria produtor de butirato) e a ~
17% Ruminococcus bromii (um produtor de acetato) e em
comparação com voluntários consumindo polissacarídeos não
amidos. Estas alterações foram revertidas com dietas de perda
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
136
de peso. Isso mostra o efeito substancial da dieta sobre a
microbiota intestinal e sua capacidade de armazenar energia
(SANTACRUZ et al.,2010).
Da mesma forma, a produção do SCFA é afetada pela
carga de nutrientes e carboidrato dietético disponível para
fermentação. Dietas de perda de peso geralmente têm baixo
teor de carboidratos e alto teor de proteína e reduz a população
de butirato produzindo Roseburia e Eubacterium rectale (KHAN
et al.,2016)
Mudanças a longo prazo na microbiota intestinal (como
contagens menores de Bifidobactérias e Bacteroides maiores)
têm sido observadas em crianças que foram expostas a
antibióticos na primeira infância (ARBOLEYA et al.,2014). A
modulação da microbiota intestinal com antibióticos (por
exemplo, norfloxacina e ampicilina) altera a expressão de genes
hepáticos e intestinais envolvidos na inflamação e no
metabolismo, alterando assim o ambiente hormonal,
inflamatório e metabólico do hospedeiro (MEMBREZ et
al.,2008).
Essas mudanças induzidas por antibióticos podem
predispor crianças a sobrepeso e obesidade promovendo
"crescimento obesogênico-bacteriano" . O desenvolvimento da
microbiota intestinal em lactentes e a sua tendência para o
excesso de peso e a obesidade na infância posterior estão
ligados ao IMC pré-gravidez da mãe e à microbiota intestinal
com números significativamente menores de Bifidobactérias
fecais e Bacteroides e significativamente maiores de E. coli e
Staph. Aureus em sobrepeso e obesidade em relação ao peso
normal de mulheres grávidas (KHAN et al.,2016).
Um estudo recente de Cottilard et al., (2013) observou uma
alta riqueza bacteriana com o aumento do consumo de frutas e
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
137
verdura, de acordo com Wu et al., (2011) a relação entre os
hábitos alimentares a longo prazo e a estrutura da microbiota
intestinal sugere que uma mudança permanente da microbiota
pode ser alcançado por uma dieta adequada.
Probióticos (como L. paracasei estirpe F19) podem afetar
benéficamente a curto prazo a homeostase energetica em
recém-nascidos (CHORELL et al., 2013).
Neste contexto, os fatores que afetam a colonização da
microbiota intestinal no recém-nascido, desde antes do
nascimento até a infância precoce e tardia, podem
desempenhar um papel importante. No entanto, o papel desses
fatores no estabelecimento de uma microbiota intestinal com
tendência à obesidade ou distúrbios alérgicos na vida futura é
controverso. Por exemplo, maior número de Bifidobactérias e
menor número de Staphylococci em crianças com 6 a 12 meses
de idade apresentaram correlação negativa com sobrepeso e
obesidade aos 7 anos.
Do mesmo modo, o estudo populacional de uma Coorte
Nacional de Nascimento Dinamarquesa não mostrou
associação de cesariana com o desenvolvimento de sobrepeso
e obesidade em mais de 10.000 crianças do sexo masculino.
No entanto, apesar de uma coorte maior, os dados não foram
ajustados para outros fatores de confusão, como status
socioeconômico e fatores antropométricos e comportamentais.
Por outro lado, um estudo brasileiro recente, realizado em
crianças nascidas por cesariana (n = 5914) com idade de 4, 7,
15 e 23 anos, mostrou que, embora as crianças nascidas com
cesariana tivessem uma taxa de prevalência de obesidade ~
50% maior, esse efeito foi perdido quando ajustado para fatores
socioeconômicos, demográficos, maternos, antropométricos e
comportamentais (BARROS et al.,2012).
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
138
3.4 Microbiota Intestinal e Sindrome Metabolica
A síndrome metabólica, é um distúrbio multifatorial, que
resulta de um desequilíbrio a longo prazo da dieta, atividade
física, predisposição genética e de uma microbiota intestinal
desequilibrada que influencia várias vias metabólicas, incluindo
a regulação epigenética.
Alterações na microbiota intestinal por fenótipo obeso
induzem alterações metabólicas (CONTERNO et al., 2011). Os
mecanismos possíveis são a sinalização mediada por
componentes bacterianos através de receptores de
reconhecimento de padrões: o receptor toll-like 2 (TLR2) e
TLR4 (REMELY et al., 2014) incluindo NF-KB ou a sinalização
de SCFAS (ácidos gordos de cadeia curta) produzidos por a
microbiota através de GPRS (receptores acoplados à proteína
G) (REMELY et al., 2013) e via HDAC (histona desacetilases)
(LIU et al, 2012 e VINOLO et al, 2011).
4 CONCLUSÕES
Existem controvérsias sobre se os indivíduos obesos e não
obesos hospedam um tipo particular de filamento bacteriano ou
enterótipo e se a resposta da microbiota intestinal à dieta é
diferente. A correlação do IMC com Bacteroides em indivíduos
obesos e não obesos em diferentes regimes alimentares não é
clara, uma relação inversa também tem sido observada, o que
aumenta a complexidade da relação entre dieta, microbiota
intestinal e obesidade.
A ETIOLOGIA DA OBESIDADE E O PAPEL DA MICROBIOTA INTESTINAL: UM ESTUDO DE REVISÃO
139
A ecologia microbiana do intestino tem um impacto
importante na extração da energia / controle de peso e estado
inflamatório. Especialmente os produtos finais de fermentação
(SCFAs), mas também os componentes da parede celular,
influenciam o metabolismo do hospedeiro regulando as funções
neurais, hormonais e imunológicas.
A população de microorganismos intestinais no intestino
humano é afetada por uma variedade de fatores desde o
nascimento até a idade adulta, dos quais alguns são
conhecidos e outros são amplamente desconhecidos.
Adicionalmente, grandes variações interindividuais foram
observadas em todos os estudos humanos sugerindo interação
da dieta hospedeira em nível individual.
As intervenções nutricionais, restrição calórica e probióticos,
pode ser um possível alvo para intervenção, uma vez que a
composição microbiana do intestino e as modificações
epigenéticas são reversíveis. No entanto, o conhecimento de
efeitos dietéticos específicos é limitado, como combinações
complexas e interações entre os nutrientes e comensais do
intestino devem ser envolvido.
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MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
143
CAPÍTULO 8
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Yohanna de OLIVEIRA 1
Jéssica Vanessa de Carvalho LISBOA 1 Keylha Querino de Farias LIMA 1
Nadjeanny Ingrid Galdino GOMES 2 Jéssica Vicky Bernardo de OLIVEIRA 3
1 Mestrandas do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 2 Graduada em Nutrição/ UFPB; 3 Pós-Graduanda em Nutrição Clínica/Estácio de Sá.
RESUMO: A obesidade é uma doença metabólica multifatorial, sendo uma das principais doenças associadas com outras comorbidades, no entanto, os mecanismos epigenéticos da obesidade ainda não são totalmente compreendidos. Portanto, objetivou-se com este trabalho apresentar o atual papel da epigenética como uma nova perspectiva para o tratamento de doenças crônicas como a obesidade. Constituiu-se de uma revisão bibliográfica através de buscas nas bases Sciencedirect, Pubmed, Web of Science e Periódicos CAPES, no intervalo de tempo de 6 anos, idioma inglês, e os termos indexados foram epigenetic mechanisms, DNA methylation, obesity, nutrients. Evidências demonstram que as interações gene-ambiente podem ser responsáveis pela modificação da expressão de genes que regulam traços da obesidade e mecanismos epigenéticos, levando à obesidade e complicações associadas. Além disso, a metilação do DNA também pode alterar vários estímulos ambientais para a obesidade, por ser uma doença programável no âmbito das modificações epigenéticas quando expostos a agressões ambientais desfavoráveis, como estresse oxidativo, dieta rica em gordura e álcool. Como os padrões epigenéticos são
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
144
estabelecidos durante o período embrionário, os mecanismos epigenéticos são importantes no desenvolvimento fetal e na transmissão transgeracional de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade, síndrome metabólica e diabetes mellitus. Concluiu-se que os diversos mecanismos epigenéticos são relevantes para o desenvolvimento, modificação e prevenção da obesidade e que devem ser considerados. Palavras-chave: Mecanismos epigenéticos. Obesidade
humana. Metilação do DNA.
1 INTRODUÇÃO
A obesidade é uma condição multifatorial complexa, e
entre os principais fatores que contribuem para esta condição,
o componente genético é um fator importante. Recentemente,
grandes avanços na pesquisa da obesidade surgiram sobre os
mecanismos moleculares que contribuem para a condição de
obesidade (ALBUQUERQUE et al., 2015).
A epigenética é definida como o estudo de alterações
hereditárias na expressão do gene ou fenótipo celular. O termo
epigenética foi originalmente criado por Conrad Waddington em
1940, sendo referida como os genes e seus produtos herdados
no fenótipo do ser humano. A definição exata dos princípios da
epigenética é tanto para as alterações meioticamente como
mitoticamente herdadas na expressão do gene que não são
codificados na sequência do DNA (WHAYNE, 2015).
A epigenética envolve mudanças nas marcas do genoma
que são copiados a partir de uma geração de células para a
próxima (MATHERS, 2008). Essas marcas envolvem a
metilação do DNA e modificações pós-tradução das caudas das
histonas que se projetam a partir de núcleos de nucleossomos.
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
145
Estas modificações incluem a acetilação, fosforilação e
ubiquitinação. Uma hipótese é que a alteração da marca
epigenética é mediada através dos efeitos ambientais, incluindo
a nutrição, dieta e exercício, e como esses fatores são
recebidos e gravados pelo genoma (ELIA; CONDORELLI,
2015).
A metilação do DNA é o mecanismo epigenético mais
estudado, que influencia na expressão do gene, alterando a
capacidade de fatores nucleares diferentes de interagir com a
cromatina e em alguns casos, a sua compactação, também
proporcionando um contexto que permite ou bloqueia o
recrutamento de fatores de transcrição e diferentes proteínas
ao DNA (RODRÍGUEZ-CORTEZ et al., 2016).
A metilação do DNA consiste na adição de um grupo
metil na posição 5' de citosinas adjacentes a guaninas,
localizadas em dinucleotídeos CpG, pela ação de uma família
de enzimas específicas denominadas de DNA metiltransferases
(DNMTs). Os CpGs estão agrupados em regiões estratégicas
chamadas ilhas CpG, muitos dos quais se sobrepõem com as
regiões promotoras dos genes. Promotores e potenciadores
são pontos de acesso comuns para as alterações de metilação
do DNA que são funcionalmente relevantes. Assim, a metilação
do DNA tem um papel importante em diferentes processos
celulares, incluindo a capacidade de conduzir e estabilizar
estados de atividade do gene durante a diferenciação celular
(VINSON; CHATTERJEE, 2012).
No geral, os baixos níveis de metilação do DNA
(hipometilação) estão associados com o aumento da atividade
do gene, e altos níveis de metilação (hipermetilação) estão
associados com as alterações de repressão ou silenciamento
do gene (LORENZEN; MARTINO; THUM, 2012).
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
146
Portanto, objetivou-se com este trabalho apresentar o
atual papel da epigenética como uma nova perspectiva para o
tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, com
destaque para a obesidade.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Constituiu-se de uma pesquisa de natureza qualitativa
descritiva, exploratória e transversal, realizada através de uma
revisão da literatura, que envolve a recolha e análise de vários
artigos científicos relativos ao tema escolhido. Para o
levantamento bibliográfico, realizou-se buscas de dados nas
bases eletrônicas Sciencedirect, Pubmed, Web Of Science e
Periódicos CAPES, no intervalo de tempo de 6 anos, utilizando
os termos indexadores: epigenetic mechanisms, DNA
methylation, obesity, nutrients.
Dos 55 artigos pesquisados, 26 foram selecionados.
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos no
idioma inglês, no intervalo temporal de 2010 a 2016, que
contemplassem dentre os mecanismos epigenéticos, a
metilação do DNA, e que abordassem genes relacionados com
a obesidade. Como critérios de exclusão, foram descartados os
artigos que não pertenciam ao intervalo de tempo de 2010 a
2016, os que apresentavam mecanismos epigenéticos
diferentes da metilação do DNA e estudos experimentais.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura (1), encontram-se os principais mecanismos
epigenéticos, que podem ser influenciados pela nutrição. A
epigenética é o estudo de alterações hereditárias na função do
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
147
gene sem alterações na sequência de DNA. Portanto, as
modificações do DNA podem incluir mudanças em todo o
organismo ou podem operar em um nível específico do tecido
(HERNÁNDEZ-AGUILERA et al., 2016).
Figura 1. Principais mecanismos epigenéticos.
Fonte: Hernández-Aguilera et al. (2016).
A epigenética é um campo de pesquisa relativamente
novo e os primeiros passos estão agora sendo tomados para
identificar potenciais biomarcadores visando prever o risco de
obesidade/diabetes de um indivíduo perante os fenótipos
desenvolvidos. Também é evidente que várias marcas
epigenética são modificáveis, o que implica que existe o
potencial para intervenções para transformar ou modificar de
maneira benéfica os perfis epigenômicos desfavoráveis
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
148
(KIRCHNER et al., 2013; CHENG; ALMEIDA, 2014; DE MELLO
et al., 2014; VAN DIJK et al., 2015).
A nutrição tem uma importância a longo prazo que pode
afetar uma geração posterior, com o desenvolvimento
acelerado de doenças crônicas e, evidentemente, afetar a
duração da vida humana. Dessa forma, a restrição calórica
benéfica desempenha um papel nutricional importante na
contribuição para a longevidade em modular de maneira
favorável os mecanismos epigenéticos, tais como a metilação
do DNA e a modificação de histonas (RIBARIC, 2012).
Evidências crescentes têm revelado que as interações
complexas entre os componentes alimentares e as
modificações de histonas, metilação do DNA, regulação de
RNAs não-codificantes e a remodelação da cromatina são
fatores que influenciam o fenótipo da inflamação e, como tal,
podem proteger ou predispor um indivíduo a várias doenças
relacionadas à idade (VEL SZIC et al., 2015).
Portanto, os mecanismos epigenéticos podem agravar a
epidemia da doença metabólica, contribuindo primeiramente
para as modificações e desenvolvimento da obesidade e
diabetes mellitus tipo 2 e, em seguida, passando para a próxima
geração através da herança transgeracional (EINSTEIN, 2014).
Na Figura (2), os mecanismos de interações gene x
ambiente feitos em estudos epidemiológicos (ou interações de
genes x ensaios clínicos), provavelmente envolvem uma
combinação de modificações epigenéticas e transcricionais.
Embora as exposições ambientais possam ser os principais
gatilhos dessas perturbações, os próprios fenótipos podem
também retroalimentar para desencadear eventos epigenéticos
e transcriptômicos, modulando assim a expressão dos fenótipos
da doença (FRANKS; LING, 2010).
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
149
Figura 2. Os mecanismos de interação gene-ambiente.
Fonte: Franks; Ling (2010).
Segundo Martino et al. (2016), o desequilíbrio alimentar
materno, inadequado para enfrentar as necessidades
nutricionais do feto, pode levar a um retardo do crescimento
intra-uterino, diminuição da idade gestacional, baixo peso ao
nascer, crescimento pós-natal excessivo e alterações
metabólicas, com subsequente aparecimento de fatores de
risco para as doenças cardiovasculares (DCV). A exposição
fetal à níveis elevados de colesterol, diabetes e a obesidade
materna estão associados com o aumento do risco de
progressão de aterosclerose. Além disso, o tabagismo materno
durante a gravidez e exposição a vários poluentes ambientais
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
150
induzem alterações epigenéticas da expressão de genes
relevantes para o início ou a progressão de DCV.
O papel da programação gestacional da população tem
mudado para a obesidade e síndrome metabólica. As mães de
peso normal geralmente dão à luz a bebês de peso normal.
Estes descendentes desenvolvem-se como adultos normais
com percentual de gordura corporal e perfil metabólico
adequados. O aumento da incidência de prematuridade e de
restrição do crescimento intra-uterino, resultante da
desnutrição, entre outros fatores, combinada com a melhora da
sobrevida neonatal, fórmulas alimentares e exposição a uma
dieta pós-natal ocidental resultou no aumento da obesidade e
síndrome metabólica. Um pequeno percentual de mães obesas
dão à luz a recém-nascidos com peso corporal aumentada,
como resultado da subnutrição (consumo de uma dieta rica em
gordura). Esses processos podem contribuir para a mudança
da população para um fenótipo obeso, com mulheres obesas
de segunda geração com maior risco de dar à luz recém-
nascidos com maior teor de gordura corporal e que, por sua vez,
correm risco de desenvolver obesidade e síndrome metabólica
(DESAI; JELLYMAN; ROSS, 2015).
A epigenética depende da presença de enzimas e
nutrientes dietéticos, e pode ocorrer isolada ou de forma global,
específica para o gene (ANDERSON; SANT; DOLINOY, 2012).
O S-adenosilmetionina (SAM) é o doador universal de metil
para todas as metiltransferases para a metilação do DNA e
histonas. A disponibilidade de SAM pode ser diminuída em
algumas circunstâncias por disponibilidade insuficiente de ácido
fólico, vitamina B12, vitamina B6, vitamina B2, colina, betaína e
metionina, tanto devido ao baixo consumo como por
vulnerabilidades genéticas individuais. Logo, a
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
151
biodisponibilidade destes nutrientes é um fator limitante para o
estabelecimento e a manutenção adequada das marcas
epigenéticas (FERGUSON et al., 2016).
Em um estudo realizado com homens obesos e a
utilização de uma dieta hipocalórica para perder peso, foram
encontradas diferenças nos padrões de metilação do DNA entre
os indivíduos com perda de peso elevada em comparação com
aqueles com pouca perda de peso (MILAGRO et al., 2011).
Indivíduos susceptíveis ao ganho de peso excessivo
podem, portanto, levar variantes genéticas que influenciam no
controle do apetite (CNR1, NPY, POMC, MC4R), mecanismos
reguladores nucleares e do citoplasma (FTO, TFAPB2,
TCF7L2, SCAP, DRD2), adipogênese e metabolismo lipídico
(ADRB3, PPAR, APOs, PLIN), despesa energética (UCPs),
sinalização de insulina (ISR-2, INSIG2, GIPR), e inflamação
(ADIPOQ, IL-6, RESISTINA) (MARTÍNEZ, 2014).
Em um estudo para avaliar a associação potencial entre
os nutrientes alimentares e alterações na metilação do DNA em
um conjunto de cinco genes (CD14, Et-1, iNOS, HERV-w e
TNF-α), em uma população de indivíduos com sobrepeso/
obesidade, associações positivas foram observadas entre a
metilação do TNF-α e níveis de colesterol séricos, bem como
entre a metilação do HERV-w e a ingestão dietética de β-
caroteno e carotenóides. A metilação do TNF-α mostrou
associações negativas com a ingestão dietética de colesterol,
ácido fólico, β-caroteno, carotenóides e retinol. Estes resultados
sugerem uma relação complexa entre a ingestão de nutrientes,
estresse oxidativo e metilação de DNA na epigenética da
obesidade (BOLLATI et al., 2014).
Além disso, a associação da epigenética com níveis de
colesterol e homeostase da glicose têm sido mostrados que
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
152
desempenham um papel importante na susceptibilidade, no
desenvolvimento e progressão de morbidades complexas, tais
como diabetes mellitus tipo 2, obesidade, síndrome metabólica
e doença hepática gordurosa não-alcoólica (ZHANG; REN,
2016).
As mudanças relacionadas com a metilação do DNA em
genes relacionados com o metabolismo do colesterol podem
servir como uma ligação molecular entre obesidade, inflamação
e certos tipos de fenótipos diabéticos tipo 2 (DING et al., 2015).
Além disso, a metilação do DNA de adipocinas, incluindo a
leptina e a adiponectina no tecido adiposo e no sangue estão
ligados à adiposidade e massa corporal. Uma correlação
positiva foi identificada entre a metilação do DNA no gene da
adiponectina no tecido adiposo e índice de massa corporal
(IMC), circunferência da cintura (CC) e níveis de LDL. Por outro
lado, a metilação do DNA da leptina no sangue e no tecido
adiposo foi negativamente e positivamente associada com os
níveis de IMC e LDL, respectivamente (HOUDE et al., 2015).
Os maiores estudos de associação em todo o genoma
(EWAS) publicados até agora, incluindo um total de 5.465
indivíduos, identificou 37 locais de metilação no sangue que
foram associados com o IMC, incluindo sítios em CPT1A,
ABCG1 e SREBF1 (DEMERATH et al., 2015). Outro estudo em
grande escala mostrou associações consistentes entre IMC e
metilação do gene HIF3A no sangue e tecido adiposo (DICK et
al., 2014).
Os fatores genéticos que predispõem o ganho de peso e
o desenvolvimento da obesidade em seres humanos também
podem influenciar na resposta à intervenção da perda de peso.
Por exemplo, indivíduos com mutações genéticas nos genes
MC4R ou POMC parecem responder a uma dieta calórica
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
153
reduzida, porém aqueles com mutações no MC4R não
conseguem manter o peso perdido após a intervenção.
Portanto, a interação gene-ambiente precisa ser considerada
quando se trata de pessoas com obesidade (BUTLER, 2016).
A inflamação induzida pela obesidade promovida pela
disfunção do tecido adiposo pode ser uma importante ligação
entre a obesidade e câncer. A inflamação induz um aumento de
radicais livres e subsequentemente promove o estresse
oxidativo, que por sua vez, pode criar um microambiente
favorável para o desenvolvimento de tumores em pessoas
obesas. Assim, o estresse oxidativo relacionado com a
obesidade pode ser um causa direta de transformação
neoplásica associada com a obesidade e diabetes tipo 2 em
células de câncer de mama (CRUJEIRAS et al., 2013; TOUBAL
et al., 2013).
A relação causal entre as marcas epigenéticas e a
obesidade ainda não foi elucidada, e outros fatores como
nutrição ou atividade física, que correlacionam tanto com a
metilação do DNA como com o aumento da adiposidade devem
ser consideradas para esse fim (FRANKS; LING, 2010).
Diferenças genéticas entre indivíduos também podem
influenciar a regulação epigenética e as variantes genéticas
poderiam explicar o local específico de variância nos estados
epigenéticos (FEIL; FRAGA, 2011).
Neste contexto, o campo de nutrigenética oferece novas
ferramentas para elucidar os papéis dos genes relacionados
com a obesidade e entender como modulá-los através da
nutrição personalizada. Os avanços na nutrigenética são
baseados no entendimento de que a composição genética
determina necessidades nutricionais únicas e contam com o
sequenciamento do genoma humano e análises subsequentes
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
154
da variação genética humana, bem como estudos que
associam variantes genéticas com doenças (FENECH et al.,
2011).
No geral, progressos significativos foram iniciados no
campo da epigenética e obesidade e do potencial de
marcadores epigenéticos para a obesidade que podem ser
detectados no nascimento também foram identificados.
Eventualmente, isso pode ajudar na previsão do risco de
obesidade do indivíduo em idade jovem e abre possibilidades
para a introdução de estratégias de prevenção direcionados.
Tornou-se também claro que várias marcas epigenéticas são
modificáveis, alterando a exposição no útero, mas também por
mudanças de estilo de vida na vida adulta, o que implica que
existe o potencial para intervenções que podem ser
introduzidos na vida pós-natal para modificar o perfil
epigenômico desfavorável (VAN DIJK et al., 2015).
4 CONCLUSÕES
Os componentes da dieta podem modificar diretamente
a expressão do gene, no entanto, muitos dos efeitos da dieta e
do estado nutricional sobre a expressão e regulação gênica são
mediadas através de mecanismos epigenéticos. A
desregulação das marcas epigenéticas desempenham um
papel importante nas doenças crônicas.
Esses mecanismos epigenéticos podem ser
influenciados especialmente durante o período vulnerável de
desenvolvimento embrionário, e um desequilíbrio pode conduzir
a expressão alterada do gene, e assim, a obesidade.
Somente com uma compreensão completa dos fatores e
mecanismos que contribuem para a obesidade, será possível
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
155
proporcionar e permitir o desenvolvimento de novas
abordagens terapêuticas para esta condição.
Portanto, compreender as ligações entre esses
mecanismos epigenéticos e a nutrição podem permitir
intervenções dietéticas mais eficazes para lidar com o
desenvolvimento e progressão da obesidade. A capacidade da
nutrição personalizada ou da precisão baseada em evidências
por meio de intervenção dietética é uma meta de saúde com um
potencial significativo.
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NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
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CAPÍTULO 9
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
Maria Betânia Vanderlei de CARVALHO1
Rejane Freitas da SILVA2
Juliana Paiva Góes RAMALHO3
1 Nutricionista, professora da Escola Técnica da FPB; 2 Nutricionista; 3 Mestre em Enfermagem, enfermeira, professora da Escola da Saúde da Faculdade Internacional da
Paraíba – FPB, orientadora. [email protected]
RESUMO: A partir da junção da Genética com a nutrição, surge a epigenética. Essa interação gene - nutriente é ponto de partida para muitas pesquisas na comunidade científica e tem estimulado as investigações nos principais centros de pesquisas do mundo, inclusive no Brasil. O que a Epigenética busca é a comprovação do poder dos alimentos na transmissão genética. Este estudo teve por objetivo demonstrar a importância dessa ciência, destacando o papel da Nutrição como recurso indispensável na melhora da qualidade de vida dos indivíduos. Este estudo consiste em uma revisão bibliográfica, que abordou a relação entre Epigenética e Nutrição. Utilizou-se a produção científica sobre o tema abordado em revistas científicas, em periódicos indexados nos bancos de dados eletrônicos (Scielo, Medline) e livros que abordam o tema. A finalidade do presente trabalho é abordar a epigenética como ciência emergente, que surgiu após a conclusão do Projeto Genoma, importante marco da área científica. Com base nas pesquisas, a epigenética possibilita a prescrição de dietas personalizadas a partir da manipulação genética e permite ampliar ainda mais a importância da nutrição na saúde das gerações futuras. Dessa forma, é de suma
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
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importância, estimular pesquisas nessa área para divulgação e desenvolvimento sobre a temática, para que seja possível realizar ações voltadas para prevenção de doenças e promoção da saúde. Palavras-chave: Genética. Nutrição personalizada.
Hereditariedade.
1 INTRODUÇÃO
O conceito tradicional de herança genética vem sofrendo
modificações nas últimas décadas. Pensava-se que os genes
eram determinantes do nosso destino e que a carga hereditária
que recebemos com a concepção era irreversível e inalterável.
Porém, tudo começou a mudar a partir do estudo do Genoma
Humano, dando origem a várias ciências como a Nutrigenoma,
Nutrigenética e a Epigenética, que podem contribuir para
manutenção da saúde, minimizando o risco do surgimento de
doenças não transmissíveis.
Francis (2015) conceitua Epigenética como um campo
da genética que investiga de que maneira os genes são
acordados ou silenciados, em combinação com fatores
ambientais, alimentares e emocionais. Podemos ver a
epigenética como uma nova maneira de enxergar o DNA, que
vais além da sequência de bases. A nutrição passa a ter o seu
papel potencializado dentro desta ciência.
A epigenética é uma ciência que amplia o estudo dos
genes na unidimensionalidade para a tridimensionalidade.
Essas dimensões adicionais são de particular importância para
o entendimento da regulação gênica, que é onde se dá a ação
epigenética (FRANCIS, 2015)
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
160
Existem algumas características que distinguem a
epigenética dos mecanismos da genética convencional: a
reversibilidade, os efeitos de posicionamento, a habilidade de
agir em distâncias não esperadas maiores do que um único
gene. Existem dois mecanismos principais envolvidos na
epigenética: alterações nas histonas e padrão de metilação do
DNA, que envolve modificações na estrutura das ligações
covalentes do DNA.
Pode-se afirmar que alguns compostos bioativos
presentes na alimentação são capazes de intervir na
hereditariedade genética transmitida de pai para filho, ou até de
avó para neto. E que as experiências nutricionais podem
influenciar no destino biológico do ser humano (FRANCIS,
2015).
Os alimentos possuem inúmeros benefícios ainda a ser
descobertos é unânime entre os estudiosos. O que a
Epigenética busca é a comprovação do poder dos alimentos na
transmissão genética. Conhecer a ação dos nutrientes nos
permitirá saber como ocorre essa influência e como podem ser
modificados pelo que ingerimos.
Já é de conhecimento que questões nutricionais estão
inter-relacionadas com a vida intrauterina e /ou a materna
podendo refletir em longo prazo na saúde do indivíduo. Portanto
nossas escolhas alimentares podem determinar a qualidade de
vida das gerações vindouras.
Dessa forma, considerando a importância do estudo da
Epigenética para a Nutrição, este estudo teve como objetivos:
enfatizar a importância dessa ciência, destacando o papel da
Nutrição como recurso indispensável na melhora da qualidade
de vida dos indivíduos. Este estudo visou ainda trazer uma
contribuição para a sociedade, fomentando o conhecimento e a
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
161
importância de uma alimentação nutricionalmente adequada,
principalmente em alguns períodos mais críticos da vida, como,
por exemplo, a vida intrauterina.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Este estudo consiste em uma revisão bibliográfica, que
abordou a relação entre Epigenética e Nutrição. Como objeto
de estudo, utilizou-se a produção científica sobre o tema
abordado em revistas científicas, em periódicos indexados nos
bancos de dados eletrônicos (Scielo, Medline) e livros que
abordam o tema a base desta pesquisa devido a pequena
quantidade de publicações existentes. Os descritores
empregados neste estudo foram: Epigenética, Nutrição,
Metilação do DNA.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a última década, tem se realizado avanços
importantes a respeito da compreensão da expressão gênica e
da regulação das funções dos genes. Uma descoberta quase
inesperada foi que os fatores externos podem ter um impacto
importante sobre a expressão dos genes, com consequências
em longo prazo, embora sem modificar o código genético do
DNA (FRANK, 2012).
Os avanços científicos no campo epigenético têm
enriquecido o conhecimento acerca da influência da dieta na
informação genética que herdamos dos nossos pais, avós etc.
A ação dos alimentos desde a concepção, ou até mesmo antes
mesmo dela, pode acarretar mudanças no comportamento
celular por influencias dentro do núcleo da célula.
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
162
O que ocorre de muito importante com os marcadores
epigenéticos é que ao contrário dos poliformismos genéticos,
eles não são permanentes. Diversos fatores ambientais como o
estresse, a dieta, o exercício físico e outros fatores relacionados
com a obesidade, a hiperglicemia, e o estresse oxidativo
modulam as mudanças epigenéticas e contribuem com sua
platicidade ao longo da vida (FERMIN et al., 2013)
As mudanças epigenéticas acontecem em resposta ao
ambiente, a alimentação, aos poluentes a que somos impostos
ao e até as interações sociais Os processos epigenéticos
ocorrem na interação entre ambiente e gene. Para muitos, pode
ser uma surpresa descobrir que o ambiente externo afeta os
genes, modulando sua atividade. O efeito gênico do ambiente
não é direto. As influências ambientais são mediadas por
alterações nas células em que os genes residem. Diferentes
tipos de células reagem de forma diversa ao mesmo (FRANCIS,
2015).
Nas últimas décadas o padrão alimentar das populações
tem passado transformações que provocaram o
desenvolvimento de hábitos alimentares impróprios, o que é
influenciado por diversos fatores, dentre os quais se destacam
o modismo da alimentação fast-food e de uma alimentação
industrializada. Como também estimula a valorização da
imagem corporal, representando a contestação dos padrões
alimentares em benefício da estética, e não da saúde.
Os genes epigeneticamente regulados podem ser
identificados por marcações características que aparecem sob
a forma de apêndices químicos específicos. O tipo mais comum
desses apêndices envolve o grupo metila, constiuído por um
átomo de carbono ligado a três átomos de hidrogênio (CH³).
Quando um gene está ligado a um grupo metila, diz-se que ele
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
163
está metilado. Em geral quanto mais metilado, menos ativo é o
gene (FRANCIS, 2015).
O silenciamento epigenético por hipermetilação ocorre
tão frequentemente quanto mutações e deleções e, isso pode
ocasionar silenciamento de genes supressores tumoral em
câncer. Além disso, tem sido observado um aumento da
metilação em promotores de genes específicos durante os
processos de envelhecimento e da carcinogênese (GONZALO,
2010).
Os benefícios e malefícios dos alimentos ingeridos não
são iguais para todo mundo. O grau de influência da dieta na
saúde pode depender da constituição genética. A escolha dos
alimentos e o apetite certamente são influenciados pela
constituição genética. Sabe-se, de fato, que as necessidades
de alimentos, nutrientes e compostos bioativos variam de um
indivíduo para o outro e influenciam o risco individual de
doenças ao longo da vida.
Os nutrientes podem regular a expressão gênica através
de proteínas específicas que interagem com o DNA e/o através
de modificações transcritas ou traduzidas. A regulação pode ser
produzida a nível do RNA durante esse processamento. Estes
efeitos regulatórios resultariam nas interações destas
moléculas com diferentes nutrientes, cuja ação final pode ser
potencialmente preventiva e/o terapêutica. (HERNANDEZ,
2008)
De acordo com Martinez (2008) o maior descobrimento
dos últimos 15 anos dentro da teratología foi conhecer as
deficiências na alimentação materna que originavam maior
risco de malformações no feto, como a do ácido fólico, e dos
defeitos do tubo neural. Além do que, o consumo desta vitamina
antes e durante a gestação poderia prevenir até 85% dos
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defeitos. A programação na etapa inicial da vida tem um efeito
potencialmente amplo na saúde do indivíduo.
De acordo com Francis (2015), a famosa fome
Holandesa, na segunda guerra mundial, impulsionou os
estudos da Epigenética. A Holanda passou por uma terrível
fome, como resultado da ocupação Alemã, em 1944 e 1945. A
dieta da população caiu para mil calorias diárias. As mulheres
continuaram a ter filhos nesses tempos difíceis, e essas
crianças são hoje adultos com mais de 70 anos. Os holandeses
conservaram e mantiveram os registros meticulosos sobre a
saúde dos seus cidadãos.
Estudos recentes revelaram que estes indivíduos –
expostos a restrições calóricas no útero materno – têm uma
taxa mais elevada de doenças crônicas, como diabetes, doença
cardiovascular e obesidade, que os seus irmãos. Smith, da
Harvard Medical Scholl, viu naquela tragédia uma oportunidade
para melhorar nossa compreensão acerca dos efeitos da
nutrição materna sobre o desenvolvimento fetal e suas
consequências por toda a vida do indivíduo.
A quantidade e a qualidade dos nutrientes disponíveis
para o feto pode estar relacionado com enfermidades nos
adultos, determinando assim os efeitos provocados pela
alimentação que contribuem.
Não é possível precisar todas as alterações
epigenéticas, e nem como elas ocorrem, mas se sabe que
pessoas expostas a fome no útero materno tem um menor grau
de metilação de determinados genes e que modificações
sucedidas durante o desenvolvimento embrionário podem
prosseguir na idade adulta, e até por gerações, afetando os
netos das mulheres expostas à fome (FRANCIS, 2015).
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
165
Cabe notar que os efeitos adversos da fome não se
limitaram àqueles que a viveram. Os filhos dos que passaram
pela fome no ventre materno são mais suscetíveis a apresentar
problemas de saúde que os filhos de mães não expostas à fome
(FRANCIS, 2015).
Atualmente muitas áreas de investigações comprovam
que as conseqüências vão além da vida adulta do indivíduo
afetado, podendo perpetuar até as próximas gerações.
Um estudo muito interessante cruzou entre si ratas pai e
mãe que haviam sofrido ou não o diabetes gestacional e
analisou a intolerância a glicose durante três gerações assim
como a expressão dos genes impressos, o imprintin (um tipo
particular de regulação epigenética que depende do sexo do
progenitor). O peso ao nascer foi significativamente maior dos
descendentes da linha materna do que na descendência
através de da linha paterna, com intolerância a glicose, e em 3
deles apareceu uma maior intolerância a glicose. Igualmente, a
impressão dos genes impressos foi menor na descendência
direta da mãe, o que sugere que as mudanças nas células
germinais contribuem com a transmissão transgeracional
(CORDERO, 2010).
Segundo Garcia (2015) as alterações epigenéticas
acontecem em momentos específicos da vida e são reversíveis,
o que as difere das mutações genéticas, podendo mesmo assim
ser passada para outras gerações, sem alterar a sequência
básica do DNA.
Um desses processos chama-se metilação do DNA, que
define quais genes são ativos e quais não são. Desta forma, a
célula pode usar somente uma parte dos genes para produzir
proteínas que precisa e não usar o restante, O conjunto dessas
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166
marcações do DNA é chamado de código epigenético
(FRANCIS, 2015).
O mais interessante disso é que a metilação do DNA
sofre influência da alimentação, do comportamento, dos
aspectos psicológico, do estilo de vida e do ambiente. Essa
influência ocorre por meio de sinais dentro da célula, gerados
por receptores que ficam em sua superfície, em resposta a
diversos estímulos (GALPERIN, 2011).
A epigenética também está envolvida em alguns
segredos da hereditariedade. Nossos pais dão separadamente,
contribuições genéticas iguais para sermos quem somos. Suas
contribuições epigenéticas, porém são desiguais. Faz diferença
herdar alguns genes do pai ou da mãe. Esses genes são
ativados quando recebidos por via materna e inativados quando
nos chegam pela via paterna (e vice-versa). Outros estados
epigenéticos podem ser desencadeados por fatores
ambientais, e podem ser transmitidos de avós para netos
(VILLALOBOS et al., 2015).
Entre os fatores ambientais que parecem afetar os
marcadores epigenéticos se encontram a dieta. Uma nutrição
inadequada pode originar modificações epigenéticas que
poderiam estar implicadas em um incremento de risco a sofrer
enfermidades metabólicas. Entretanto, ao mesmo tempo, existe
a esperança de que uma nutrição adequada, com um aporte
adequado de compostos que ajudam a manter o nível de
metilação do DNA, possa ajudar a reverter os marcadores
epigenéticas de risco, ou prevenir as mudanças de metilação
que ocorrem com a idade ou por efeito de outros fatores
ambientais (FERMIN et al., 2013).
Os efeitos da dieta alimentar durante os primeiros
estágios de vida são também claramente visíveis entre as
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167
abelhas. O que diferencia abelhas obreiras, estéreis, da rainha,
fértil, não é a genética, mas sim a dieta no estado larvar. As
larvas destinadas a rainha são alimentadas exclusivamente de
geléia real, uma substância segregada pelas abelhas obreiras,
que ativa o programa genético responsável pela fertilidade da
rainha (SANCHES et al., 2011).
O conceito da interação entre gene e dieta descreve o
efeito de um componente do alimento sobre um determinado
fenótipo, que pode variar devido ao polimorfismo genético. Isto
é, a variação genética faz com que os nutrientes e outros
compostos dos alimentos tenham interações distintas e por
isso, produzem um fenótipo diferente (YAMADA et al., 2010)
A nutrição depende não somente da composição do
alimento em si, mas também do gasto energético como a taxa
metabólica basal, atividade física, composição corporal e
condições metabólicas de cada um, pois as diferenças
nutricionais existem entre os indivíduos devido à raça, idade,
estilo de vida e composição dos alimentos que são consumidos
(YAMADA et al., 2010). Intervenções dietéticas baseada nos
conhecimentos nutricionais serão úteis para prevenir, minimizar
ou curar as enfermidades crônicas.
O câncer é um processo em que erros genéticos e
epigenéticos se acumulam e transformam uma célula normal
em células invasivas ou em células tumorais metastáticas. As
alterações nos padrões de metilação do DNA mudam a
expressão de genes associados ao câncer, entre esses, os
genes supressores tumorais e os oncogenes.
O risco de câncer está arrolado com a taxa de dano de
DNA detectada em células somáticas. Agravos ao material
genético podem ocorrer espontaneamente, ou podem estar
aumentados em algumas situações, como déficits nutricionais,
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
168
e exposição exagerada a agentes mutagênicos. Sendo assim,
o entendimento dos fatores que induzem ao aumento do agravo
de DNA pode trazer importantes avanços na área da prevenção
do câncer.
Estudos apontam que a dieta é um dos fatores
determinantes no prognóstico da neoplasia. Atualmente, pode-
se afirmar que compostos bioativos da dieta como a curcumina,
a genisteína, o resveratrol, o ácido ursólico, o licopeno, a
capsaisina, a silimarina, as catequinas, as isoflavonas, o indol-
3-carbinol, as saponinas, os fitoesteróis, a luteína, a vitamina C,
o folato, o beta caroteno, a vitamina E, os flavonóides, o selênio
e as fibras dietéticas atuam como agentes protetores contra o
câncer (YAMADA et al., 2010).
A qualidade dos alimentos ingeridos pode influenciar no
estado oxidativo das células. A ingestão de frutas e vegetais,
ricos em vitaminas, aumenta o potencial antioxidante,
principalmente no sangue (2). A vitamina C é um dos principais
antioxidantes oriundos da dieta. Os níveis de ingestão
recomendados para a dieta são de 75 a 125 mg por dia,
dependendo de características individuais, como idade, peso e
sexo. O consumo exagerado de vitamina C é desnecessário, já
que o máximo de absorção é de aproximadamente 200 mg por
dia (3). Entre os alimentos ricos em vitamina C estão a goiaba,
o caju, a laranja, a manga, entre outros (SILVA, 2014).
Fatores ambientais podem regular diretamente
mecanismos epigenéticos. O folato, importante substrato para
reações de metilação (incluindo a do DNA), deve ser adquirido
pela alimentação, já que nossas células não o sintetizam.
(SILVA, 2014).
Os antioxidantes são alvo de estudo terapêutico na
prevenção e cura do câncer, apesar de não haver ainda um
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
169
completo consenso sobre seu uso. A inter-relação do estresse
oxidativo com a epigenética também é de grande interesse, já
que ambos parecem estar intimamente conectados com
processos de progressão tumoral (SILVA, 2014).
Há muitas evidências de que a variação lipídica no
plasma provocada por mudanças no consumo de lipídios e de
colesterol tenha um componente genético envolvido. Desde
então, a identificação desses fatores genéticos permitiu
pesquisar os genes e seus produtos que estão, de alguma
maneira, envolvidos com o metabolismo das lipoproteínas
(YAMADA et al., 2010
De acordo com Anhueza (2012) as vitaminas
lipossolúveis como as vitaminas A, D, E se unem ao RNA
modulando de forma específicaa expressão de genes
vinculados com o metabolismo energético.
Os minerais também podem afetar a transcrição dos
genes. Entre eles o selênio que tem efeitos importantes na
fisiologia orgânica, devido ao fato de ter várias proteínas que
interagem com ele,e porque certos genes são regulados por
este mineral. No câncer de próstata tem-se observado que de
um total de 12.000 genes encontrados, 2.500 respondem ao
selênio e são afetados por ele. Podendo, assim, de alguma
forma modular o avanço ou o retardo do câncer (ANHUEZA,
2012).
Muitos componentes dos alimentos têm a capacidade de
causar modificações epigenéticas em seres humanos. Por
exemplo, Brassica oleracea var. itálica, conhecido vulgarmente
como brocólis e outros vegetais crucíferos contêm
isotiocianatos, que podem aumentar a acetilação de histonas.
A Glycine Max, nome popular da soja, por outro lado, é uma
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
170
fonte da isoflavonagenisteína, que, afirmam, diminuir a
metilação de DNA em certos genes.
O alho é conhecido por possuir diversos compostos
antioxidantes e já foi relacionado com a prevenção do câncer.
Seus componentes podem afetar diversos processos celulares,
como proliferação e diferenciação. O tratamento de células
tumorais com alguns desses compostos, incluindo o próprio
selênio, foi eficaz em inibir seu crescimento e ainda aumentar
sua taxa de apoptose. O chá verde também é utilizado pela
medicina popular para diversos fins terapêuticos. Dentre seus
compostos, há antioxidantes que podem proteger a pele contra
danos causados por radiação ultravioleta quando aplicados
topicamente, ou seja, sobre a pele. Foi proposto que tais efeitos
fotoprotetores são mediados por interações com moléculas
envolvidas em respostas inflamatórias (SILVA, 2014).
É de extrema importância o avanço nessas pesquisas,
porque conhecer o perfil genético individual posibilitará saber
quais pacientes responderão melhor à uma dieta personalizada
que influirá tanto na prevenção, quanto no tratamento das
doenças.
Estudos epidemiológicos sugerem que populações que
consomem elevadas quantidades de alguns destes alimentos
parecem ser menos propensas a certas doenças. Mas muitos
destes compostos têm outras funções biológicas além dos
efeitos epigenéticos. Um alimento pode conter múltiplas
moléculas biologicamente ativas, tornando difícil estabelecer
uma correlação direta entre atividade epigenética e efeito global
no organismo. (FLOREAN, 2014).
Para os cientistas, um argumento potencializa de forma
contundente a importância da Epigenética. Gêmeos idênticos
podem exibir diferente susceptibilidade a doenças se a única
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
171
variável é o código genético. Para esses profissionais, a
resposta apóia-se na inferência de que, ao contrário do
genoma, o epigenoma desses gêmeos não é idêntico.
Argumentam que, mesmo dentro do útero, o epigenoma de um
e de outro poderia sofrer influências ambientais distintas como,
por exemplo, fluxo sanguíneo placentário desigual. O que, em
última análise, poderia levar a um diferente aporte de nutrientes
(FRANCIS, 2015).
Outro exemplo muito importante vem da própria
natureza. Retrata muito bem a estreita relação entre nutrição e
epigenética. É o caso das abelhas. As abelhas operárias,
apesar de ser geneticamente igual a abelha rainha, não
desenvolve características que possam se tornarem como ela.
A chave de todo esse mistério está na alimentação.
Diversamente das operárias, a rainha se alimenta de
forma exclusiva de geléia real, proteína bastante rica e muito
complexa secretada na cabeça das abelhas operárias, através
das glândulas. Será sua alimentação para o resta da vida Em
conseqüência dessa mudança alimentar, a abelha rainha
desenvolve órgãos diferentes das demais. Um ovário e um
amplo abdômem para comportar os ovos. As abelhas operárias
continuam estéreis. A abelha rainha mata suas rivais, produz
zumbidos diferentes.
Atualmente com o progresso na indústria alimentar e no
estudo das ciências da nutrição, surge uma nova abordagem
nutricional que pretende enquadrar os conhecimentos da
genética, da biologia molecular e da bioquímica, com vista a um
aconselhamento mais personalizado (NORHEIM et al., 2012;
RONTELTAP et al., 2013; TROVATO, 2012). Os fatores
ambientais em conjunto com o estilo de vida parecem
apresentar impacto na carga genética individual e
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
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consequentemente no estado de saúde dos indivíduos. As
evidências científicas apontam para que fatores ambientais e
comportamentos do estilo de vida, nos quais se incluem a
alimentação e a prática de atividade física, podem influenciar os
mecanismos epigenéticos.
4 CONCLUSÕES
Não resta dúvida que as novas perspectivas trazidas
pela epigenética influenciarão de forma irreversível a nutrição,
produzindo um impacto positivo na saúde dos indivíduos.
Na contemporaneidade, a Nutrição está focada em
contribuir com a prevenção de doenças e manutenção da saúde
através de mudanças de comportamento alimentar.
Compreender com ocorre essa interação entre gene e
alimentos pode ser a chave que abrirá os segredos de uma vida
longa e com saúde. Confirmando o que Hípocrátes já afirmava,
há 500 anos, “que somos aquilo que comemos”. Com um
acréscimo, somos também o resultado do que nossos pais e
avós comeram.
Este é um tema que exerce um grande fascínio nos
estudiosos. É complexo e pouco conhecido, porém chega
carregado de promessas. Questões nutricionais estão inter-
relacionadas com a vida intrauterina e /ou a materna podendo
refletir em longo prazo na saúde do indivíduo. Portanto, nossas
escolhas alimentares podem determinar a qualidade de vida
das gerações vindouras.
As alterações epigenéticas que marcam o genoma são a
chave para a exposição nutricional noútero e sua influência na
expressão dos genes e do fenótipo. A nutrição noúteroé capaz
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
173
de mudar a estrutura da cromatina, alterar a expressão gênica
e modificar a saúde durante toda la vida.
A funcionalidade de muitos alimentos consumidos por
uma gestante está pautada diretamente com as condições de
saúde do feto. Podem afetar a cognição, o desenvolvimento
físico, como também influenciar no surgimento de doenças
crônicas não transmissíveis.
Já existe um consenso entre os especialistas de que uma
alimentação nutricionalmente adequada nos traz enormes
benefícios, porém não se resume apenas a isso. As implicações
na saúde, na prevenção de doenças e na qualidade de vida do
indivíduo são muito mais contundentes.
Entre os processos patológicos em que já foi descrita a
participação do estresse oxidativo estão as doenças
cardiovasculares, neurológicas, o diabetes e o câncer. Diversos
tumores humanos, incluindo melanoma, leucemias, carcinomas
gástrico, prostático, mamário e de cólon, apresentam níveis
elevados de estresse oxidativo. Células tumorais estão
comumente expostas a condições de estresse, como hipóxia
(baixos níveis de oxigênio), perda de adesão célula-célula e
célula-matriz extracelular, desbalanço no metabolismo
oxidativo e diversos fatores ambientais.
Trabalhos científicos têm mostrado diversos benefícios
do uso de terapias antioxidantes para o tratamento de doenças
como Alzheimer, diabetes e câncer. Grande parte desses
estudos mostra a importância de nutrientes oriundos da
alimentação. O selênio, por exemplo, pode ser incorporado em
algumas proteínas evitando sua oxidação, ou seja, possui
função antioxidante. Estudos mostram que o selênio tem efeitos
antitumorais, prevenindo angiogênese e metástase em câncer
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
174
de mama, próstata, colorretal, melanoma, fígado, pulmão, entre
outros.
Nos próximos anos, a melhora de técnicas analíticas
nesta área resolverá muitas incógnitas que permeia a
epigenética, podendo então integrar a nutrição a essa nova
ciência, mediante uma intervenção específica para um
determinado indivíduo ou como nova ferramenta para prever o
efeito de uma resposta a um tratamento dietético, dependendo
do padrão epigenético prévio.
Com as análises epigenéticas é possível avaliar os
fatores de risco cardiovascular, tais como nutrição, tabagismo,
poluição, estresse, e o ritmo circadiano, isso por haver
evidências crescentes de que as vias epigenéticas controlam a
expressão genética do endotélio vascular e modulam
susceptibilidade de doença cardiovascular. É de fundamental
importância a avaliação das apoliproteinas para diminuir a ação
do colesterol sobre o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares. A partir do estudo da epigenética é possível
identificar as variações genéticas associadas aos diferentes
tipos de nutrientes, sendo assim uma ferramenta para
desenvolver dietas que sejam mais adequadas para indivíduos
segundo o seu padrão genético, melhorando a qualidade de
vida para alcançar o envelhecimento saudável.
A partir das pesquisas da epigenéticas será possível
identificar as alterações genéticas associadas aos diferentes
tipos de nutrientes, possibilitando assim criar ferramentas que
desenvolvam dietas mais adequadas para as pessoas de forma
individualizada, propiciando melhor qualidade de vida e um
envelhecimento muito mais autônomo. Será um cuidado
nutricional preventivo e personalizado que trará muitos
benefícios a humanidade. Portanto, antes de eleger sua
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
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alimentação, reflita na sua responsabilidade sobre a saúde dos
seus descentes e até da espécie humana.
Provavelmente em alguns anos, será possível que o
nutricionista possa prescrever uma dieta personalizada, através
do mapeamento genético de cada indivíduo, podendo prevenir
determinadas doenças imprintadas nos marcadores
epigenéticos de cada um. Sendo assim, poderão ser produzidos
produtos nutricionais que impactem de forma eficiente nas
doenças.
Após a finalização do Projeto do Genoma Humano no
ano de 2001, deu-se início o Projeto Epigenoma Humano
(HEP), de iniciativa pública-privada. Tendo como objetivo
identificar, catalogar e interpretar a importância gênica dos
padrões de metilação em todos os genes, na maioria dos
tecidos.
O projeto Epigenoma já está em andamento e promete
revolucionar a nossa forma de pensar a nutrição e modificar a
maneira que conduzimos a saúde humana. Sem dúvida, será
bastante impactante nas práticas de nutrição clínica e de saúde
pública, seja através do surgimento de guias alimentares que
terão como base o genoma de cada um ou intervenções
nutricionais para grupos, como é o caso da suplementação de
ácido fólico que ocorre através de políticas públicas de saúde
no Brasil.
Dessa forma, é de suma importância, estimular
pesquisas nessa área para divulgação e desenvolvimento sobre
a temática, para que seja possível realizar ações voltadas para
prevenção de doenças e promoção da saúde.
NUTRIÇÃO E EPIGENÉTICA: UMA RELAÇÃO DIRETA COM A HEREDITARIEDADE
176
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INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
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CAPÍTULO 10
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO: UM ESTUDO DE REVISÃO
Maria José de Carvalho COSTA 1
Keylha Querino de Farias LIMA2
Tainá Gomes DINIZ 3
Caroline Severo de ASSIS 4
Raquel Patricia Ataíde LIMA5
1 Doutora e Coordenadora do Programa de Pos Graduação em Ciencias da nutrição; 2Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 3,4 Nutricionista,
Especialista em Nutrição; 5 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB.
RESUMO: Entende-se por epigenética um mecanismo associado a mudanças hereditárias na expressão do gene, que não envolvem alterações na sequência do DNA, são reversíveis e ainda podem ser herdadas entre gerações. A epigenética envolve mudanças, a partir de marcas no genoma que são copiadas de uma geração de células para a próxima. Essas marcas envolvem a metilação do DNA. Uma hipótese é que a alteração da marca epigenética é a forma como os efeitos ambientais, incluindo a nutrição, dieta e exercício, são recebidas e registradas pelo genoma. A promessa da epigenética nutricional é que ele vai ajudar a elucidar a forma como a nutrição podera manter um individuo saudavel e contribuir na prevenção de doenças, como diabetes mellitus tipo 2, obesidade, inflamação e distúrbios cognitivos através dos efeitos dos nutrientes sobre o epigenoma. O atual conhecimento sobre as influências dietéticas no mecanismo epigenético é de expansão, e certamente é uma abordagem promissora para melhorar a saude da população.
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
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Palavras-chave: Mecanismo Epigenético. Intervenção Dietética. Folato
1 INTRODUÇÃO
Dadas as implicações médicas e de saúde pública,
alguns estudos têm examinado o potencial da herança
epigenética no risco metabólico nutricional em populações
humanas (HEARD; MARTIENSSEN, 2014).
E, pouco se conhece sobre a influência do metabolismo
dos nutrientes no controle epigenético. Porém, sabe-se que
genes envolvidos no metabolismo podem contribuir para
diferenças entres os indivíduos em relação as necessidades de
nutrientes e susceptibilidade a doença (MILAGRO et al.,2009).
Foi proposto, que as alterações na (dietas ricas em
gordura ou de baixa proteína) dieta paterna ou então uma
história prévia de exposição intra-uterina a restrição calórica
materna pode resultar em aumento do risco metabólico na prole
(também conhecido como teoria de Barker. As condições
nutricionais durante o desenvolvimento uterino pode ter efeitos
mais tarde na vida, e influenciar a ocorrência de alterações no
metabolismo e doenças durante a fase adulta
(HALES;BARKER,2013).
Quanto aos tipos de gordura o destaque é para o ômega
-3, de acordo com HUANG et al., (2011), em sua meta-análise
concluiu que o alto consumo, desta gordura, foi associado com
uma diminuição significativa na homocisteína plasmática. Além
disso, o ômega-3 tem sido relacionado por regular
positivamente a expressão de genes envolvidos na via de
metabolismo de um carbono aumentando potencialmente a
remetilação de homocisteína a metionina (HUANG et al., 2011).
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
180
Portanto, este trabalho objetivou realizar um
levantamento dos artigos publicados onde relatam a influência
da intervenção dietética no mecanismo epigenético.
2 MATERIAIS E MÉTODO
O estudo em questão trata de uma revisão integrativa da
literatura visando testar a hipótese sobre a influência da
intervenção dietética no mecanismo epigenetico com base na
literatura.
Para tanto, foram selecionados artigos científicos que
abordam a problemática em questão. A busca dos artigos na
literatura consultada foi realizada através dos descritores:
epigenetic mechanism, folic acid intervention and epigenetic. Os
artigos foram obtidos em diversas bases de dados, como
PUBMED, Periódicos Capes e American Society for Nutrition.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A. MECANISMOS EPIGENÉTICOS
A epigenética é definida como o estudo de alterações na
expressão do gene hereditários, sem alterar a sequência do
DNA, ou fenótipo celular, mas afetam a expressão genica. O
termo epigenética foi criado por Conrad Waddington em 1940.
Originalmente, a epigenética refere-se à forma como os genes
e seus produtos trouxeram o fenótipo (JABLONKA; LAMB,
2002). Uma definição precisa dos princípios da epigenética é
meioticamente todas as mudanças e mitoticamente herdadas
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
181
na expressão de genes que não são codificados na sequência
do próprio ácido desoxirribonucleico (DNA).
Os principais processos epigenéticos em células de
mamífero são a metilação de carbono 5 de resíduos de citosina
no nucleótidos CpG; modificações covalentes de histonas, tais
como a metilação, acetilação, fosforilação, e ubiquitinação; e as
atividades de pequenos RNAs interferentes.
Estudos pré-clínicos e clínicos têm demonstrado que a
exposição aos desafios ambientais, modificam as marcas
epigenéticas, e que a maioria das pesquisas tem se
concentrado em metilação do DNA (ORDOVÁS; SMITH, 2010).
Investigações prospectivas são necessárias para determinar
se os indivíduos que estão expostos a vários desafios
ambientais e desenvolvem fatores de risco podem acumular
alterações epigenéticas ao longo do tempo, e se essas
alterações aumentam a incidência de doenças
cardiovasculares ou doenças crônicas não transmissíveis, em
geral.
B. EPIGENETICA E DIETA ANTIOXIDANTE
Entende-se por epigenética um mecanismo associado a
mudanças hereditárias na expressão do gene, que não
envolvem alterações na sequência do DNA, são reversíveis e
ainda podem ser herdadas entre gerações (MARTINEZ et al.,
2014). Embora a definição de epigenética esteja
constantemente sendo atualizada, três características
principais são preservadas, ou seja, alterações na sequência
de DNA, hereditariedade e plasticidade e reversibilidade.
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
182
O conceito biológico de antioxidante refere-se a qualquer
composto que, quando presente a uma concentração mais
baixa comparada com a de um substrato oxidável, é capaz de
atrasar ou evitar a oxidação do substrato (GODIC et al., 2014).
Funções antioxidantes implicam em redução do estresse
oxidativo, mutações de DNA, transformações malignas, assim
como outros parâmetros de danos celulares.
Em estudos epidemiológicos observa-se que a capacidade
dos antioxidantes para conter os efeitos da atividade de
espécies reativas de oxigênio (ROS), e diminuir a incidência de
câncer e outras doenças degenerativas. No entanto,
principalmente, no que se refere, a ação de radicais livres
sustentado, a capacidade do sistema de defesa contra ROS
pode ser sobrecarregado, levando à ocorrência da doença
(GODIC et al., 2014).
O consumo de frutas e vegetais tem sido associado com a
diminuição da incidência e mortalidade por uma variedade de
doenças relacionadas com a obesidade, incluindo diabetes tipo
2 e as doenças cardiovasculares (COOPER et al, 2012;
HERMSDORFF et al., 2010), que são condições de estresse
oxidativo e inflamação crônica (KIZHAKEKUTTU;
WIDLANSKY, 2010). Estas associações têm sido atribuídas ou
a uma interação entre micro e macronutrientes, ou aos
nutrientes isolados.
Alguns fatores nutricionais, como ácido fólico e vitaminas
B1, B2 e B12, pode mudar de metilação do DNA. A restrição do
ácido retinóico e de proteínas na dieta podem causar
modificação da histona, e alimentos com compostos bioativos,
como curcumina, genisteína e ácido retinóico, podem diminuir
a expressão carcinogénica por miARN (BERNI CANANI; DI
COSTANZO, 2010).
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
183
Alternativamente, fatores dietéticos podem influenciar a
regulação epigenética da expressão do gene através de um
mecanismo indireto mediado por uma modulação da microbiota
intestinal. Os principais metabolitos produzidos pela microbiota
intestinal são os ácidos graxos de cadeia curta (SCFA), tais
como o butirato, que têm múltiplos efeitos benéficos ao nível
intestinal e extra-intestinal (BERNI CANANI; DI COSTANZO,
2012) nesse sentido, o aumento no consumo de fibra dietetica
ocorre aumento da produçao do SCFA.
Os micronutrientes modulam o sistema imunológico e
exercem uma ação protetora ao reduzir a oxidação de LDL-
colesterol através da indução de enzimas antioxidantes
(BEYDOUN et al., 2011).
Os benefícios relatados pelo consumo de frutas e vegetais
na saúde são, em parte, dependente de seu conteúdo de
antioxidantes naturais como vitaminas A, C e E, pois, combatem
o estresse oxidativo (NÚÑEZ-CÓRDOBA; MARTÍNEZ-
GONZÁLEZ, 2011).
Estudos em modelos animais e humanos forneceram
evidências sobre as vias pelas quais micronutrientes podem
induzir efeitos cardiometabólicos de proteção (HENRIKSEN et
al., 2011). Desequilíbrio entre a produção de radicais livres e
enzimas antioxidantes causam danos de vários componentes
celulares e até mesmo a morte (LANDETE, 2013), e esperar o
restabelecimento do equilíbrio redox poderia atenuar o risco de
doenças como a diabetes tipo 2 e aterosclerose (RAIN; JAIN,
2011).
No entanto, a suplementação de multivitaminas em estudos
randomizados não demonstraram reduzir a morbidade e
mortalidade cardiovascular. Considerando-se que altas doses
de certas vitaminas podem afetar adversamente as
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
184
concentrações de lipídeos, e a divisão celular, para tanto, a
ingestão natural através de uma dieta saudável tem sido
recomendada (LANDETE, 2013).
Nos últimos anos, uma série de estudos estão sendo
realizados para entender a influência de diferentes compostos
nutricionais (macronutrientes, micronutrientes, fitoquímicos,
antioxidantes, etc.) sobre a alteração de marcas epigenéticas e,
conseqüentemente, na regulação da expressão gênica e a
probabilidade de desenvolver ou prevenir doenças (MARTINEZ
et al.,2014).
Para Jones, (2012) um fator importante para se estudar
a metilação do DNA, é poder ser modificada regulamente e ser
influenciada por fatores ambientais e externos.
A dieta é um fator muito influente na origem da doença
metabólica, e ambos os componentes dietéticos específicos,
bem como mudanças de regimes alimentares globais podem
afetar os níveis de metilação do DNA (JACOBSEN et al., 2012).
Switzeny et al., (2012) concluíram que uma dieta rica em
antioxidantes e vitaminas, especialmente o folato, foi capaz de
alterar a metilação do DNA, e compensar lesões epigenéticas
induzidas por ROS (espécies reativas de oxigênio), em
indivíduos idosos diabéticos tipo 2. Essas lesões dizem respeito
à desmetilação ocasionada pelo aumento de ROS como
resultado da hiperglicemia crônica. A intervenção resultou em
metilação significativamente mais alta em duas particulares
regiões promotoras, MLH1 e MGMT, que geram enzimas de
reparo do DNA. Os autores consideram que a intervenção
nutricional pode ter levado a uma menor carga de ROS e, dessa
forma, diminuído os efeitos da desmetilação, a metilação do
DNA foi associado com maior consumo de frutas / vegetais
(ZHANG et al., 2011).
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
185
Ainda referente as vitaminas, Van Wijk et al., (2012)
sugeriu em seu estudo que o ácido fólico na dieta, pode
influenciar o perfil de ácidos graxos, particularmente o ácido
docosa-hexaenóico (DHA), um importante ácido graxo do
omega-3, por influenciar a síntese de fosfolípidos tais como
fosfatidilcolina (FD) e fosfatidiletanolamina (FE).
Alterações epigenéticas tornaram-se mais
significativamente associada com o gene-dieta e interações
gene-ambiente, resultando em metabolismo alterado de
lipídeos, inflamação e outros desequilíbrios metabólicos que
levam a doenças cardiovasculares e obesidade (ORDOVAS et
al., 2011). O acúmulo de homocisteína no sangue leva a um
aumento intracelular de S-adenosilhomocisteina (AdoHcy), que
é um potente inibidor da metiltransferase competitiva
(INGROSSO; PERNA, 2009).
A homocisteína é um fator de risco para doença
cardiovascular e parece haver uma ligação com a epigenética.
A administração do folato resulta na redução da homocisteína,
mas, infelizmente, a prova de subsequente redução do risco de
doença cardiovascular não foi estabelecida e há ainda a
sugestão de um efeito nocivo a partir de tratamento com
suplementos de vitamina B combinado com o ácido fólico,
vitamina B6 e vitamina B12 (BONAA et al., 2006). Um conceito
terapêutico importante é que nutrientes e medicamentos podem
ser capazes de reverter os padrões epigenéticos anormais e
que programação epigenética, ou reprogramação quando
indicado, pode tornar-se mecanismos eficazes que conduzem à
melhoria da saúde através da intervenção dietética em pontos
específicos de desenvolvimento (HANLEY et al., 2010).
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
186
c. EPIGENETICA E ÁCIDO FÓLICO
Entre os micronutrientes, o ácido fólico é bem conhecido,
como doador de carbono para metilação e síntese de DNA
(CLAYCOMBE et al., 2015). Nutrientes anti-inflamatórios tal
como o ácido fólico pode ser benéfico na prevenção a resposta
inflamatória (KINOSHITA et al., 2012). Estudos in vitro,
demonstraram que as condições de deficiência em ácido fólico,
aumentou a expressão de mediadores inflamatórios, tais como
Il-b, IL-6 e TNF-α nos ratos da linha celular RAW 264.7
(KOLB;PETRIE, 2013), em humanos, ainda não foi encontrada,
na literatura, se existe essa relação, até o atual momento.
Os componentes dietéticos que aumentam o nível de
componentes da via de doadores de metilo incluem ácido fólico,
cobalamina (vitamina B12), colina, betaína / trimetilglicina
(TMG), e l-metionina. O metabolismo da metionina é regulado
pela ingestão de nutrientes de B12, piridoxina (vitamina B6), e
riboflavina (vitamina B2) uma vez que estas vitaminas B são co-
fatores para hormônios que regulam o metabolismo da
metionina (KALHAN; MARCZEWSKI, 2012).
Dieta deficiente em doadores de grupos metilo e co-
factores do ciclo da metionina-homocisteína (por exemplo,
ácido fólico, metionina, colina, betaína) reduzem a metilação e
a regulação da expressão de genes envolvidos na absorção de
ácidos graxos livres e na síntese dos triglicérideos, promovendo
doença do fígado gordo e, presumivelmente, a obesidade
(POGRIBNY et al., 2009)
Um dos nutrientes alimentares mais intensamente
investigados é o folato, derivado de alimentos ricos em ácido
fólico, como vegetais, legumes e grãos integrais. O folato
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
187
participa tanto da metilação de DNA e de reações de
nucleótidos de biossíntese e está envolvido, ainda, na
formação de grupos de metilo, que serve como um doador de
metilo na metilação de DNA (JENNINGS, 1995) e desempenha
também um papel importante na novo síntese de purinas e
pirimidinas, os quais são necessários durante a replicação e
reparação de DNA (BOTTIGLIERE, 1996).
A via metabólica do folato leva à síntese de purina e de
síntese de 5-metiltetrahidrofolato (5-MTHF) utilizando a enzima
5-metilenotetrahidrofolato redutase (5-MTHFR) que é um
cofator da vitamina B2 (Fig. 1). A metionina é então produzido
com a ajuda de vitamina B12 e metionina sintase (MS). A
metionina é convertida em S-adenosilmetionina (SAM), a
molécula de doador de metilo. SAM doa um grupo metilo,
enquanto enzimas metiltransferase adicionam o grupo metilo no
DNA, RNA, proteínas, e lipídeos (SHORTER et al., 2015).
Figura 1. Via de Metabolismo do Folato.
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
188
O ácido fólico (folato) é metabolizado eventualmente a
metionina, a qual é depois convertida em S-adenosilmetionina
(SAM), o doador da mólecula metil. SAM doa um grupo metilo
para DNA, RNA, proteínas e lipideos.Vitamins B2 e B12 são
necessários para este processo. Metileno tetra hidrofolato
redutase (MTHFR) é em grande parte responsável por este
processo, bem como, as mutações no gene que codifica esta
enzima são ligadas à homocisteína que pode também ser
convertida em metionina (SHORTER et al., 2015).
A deficiência de folato pode ocorrer, por consumo
inadequado, além da interação com medicamentos e com
consumo do álcool por interferirem na sua absorção. A má
absorção também pode estar relacionada, mais raramente, aos
defeitos enzimáticos congênitos. A deficiência de cobalamina
acarreta captação reduzida de folato através do intestino e de
outras paredes celulares, além de retenção celular reduzida de
folato.
Os fármacos podem interferir de diversas formas na
absorção, metabolização e utilização do folato no organismo. A
principal droga antagonista do folato é o metotrexato, uma
droga com propriedades antineoplásicas e imunossupressoras,
desempenhando a função de potente inibidor da dihidrofolato
redutase. A inibição dessa enzima leva a defeitos de metilação
que comprometem a síntese de DNA, acarretando eritropoiese
ineficaz.
Outros inibidores da dihidrofolato redutase são a
pentamidina, o trimetropim, o triantereno e a pirimetamina. Os
anticonvulsivantes, tais como fenitoína, fenobarbital e
primidona, competem com o folato por receptores intestinais,
cerebrais e de outras superfícies celulares, estando associados
INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO DIETETICA NO MECANISMO EPIGENÉTICO:
UM ESTUDO DE REVISÃO
189
ao desenvolvimento de macrocitose em até 40% dos pacientes
em uso dessas drogas (VANNUCCHI; MONTEIRO, 2010).
4 CONCLUSÕES
Estudos com mecanismos epigenéticos e a influência da
intervenção dietética em humanos ainda são escasso, sabe-se
que o consumo de gordura acima das recomendações alteram
as marcas epigenéticas e o aumento de doenças crônica não
transmissíveis assim como o consumo de folato, abaixo das
recomendações, pode levar ao silenciamento do gene MTHFR
o qual desempenha um papel importante na novo síntese de
purinas e pirimidinas, os quais são necessários durante a
replicação e reparação de DNA.
Portanto, estudos em humanos são necessários para
melhor elucidar as vias que o consumo dos macronutrientes e
micronutrientes podem alterar o mecanismo epigenético.
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POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
193
CAPÍTULO 11
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
Marina Ramalho RIBEIRO 1
Jessica Vanessa de Carvalho LISBOA 1 Thamires Ribeiro CHAVES 2
Raquel Patrícia Ataíde LIMA 3
Maria José de Carvalho COSTA 4
1 Mestranda em Ciências da Nutrição, UFPB; 2 TMestre em Ciências da Nutrição; 3 Doutoranda em Ciências da Nutrição, UFPB; 4 PhD em Nutrition et Alimentation, Université de
Bourgogne . [email protected]
RESUMO: Polimorfismos são variações genéticas que resultam em alterações na expressão do gene, cuja análise possibilita a definição de uma dieta ideal, tendo em vista a influência que podem exercer sobre a absorção, metabolismo e transporte de nutrientes em todo o corpo. O polimorfismo C677T, localizado no gene da metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR), está associado com níveis alterados de marcadores inflamatórios e no perfil lipídico, hiperhomocisteinemia, levando a um risco elevado do surgi-me nto de doenças cardiovasculares (DCV), que caracteriza-se como sendo a causa principal de morte em todo o mundo. Por este motivo, o conhecimento dos níveis de marcadores bioquímicos possui grande relevância, pois é sabido que os seus valores, quando alterados, geralmente acompanham as síndromes coronárias agudas. A presença do polimorfismo C677T no gene MTHFR torna este conhecimento ainda mais importante, especialmente naqueles portadores do genótipo TT devido a menor atividade enzimática resultante desta mutação. Portanto, devido a relação que os níveis elevados de marcadores inflamatórios e de perfil lipídico
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
194
exercem sobre o surgimento de doenças cardiovasculares,são necessárias investigações acerca da influência do polimorfismo C677T da MTHFR sobre estes parâmetros bioquímicos. Palavras-chave: Polimorfismo Genético. Doenças
Cardiovasculares. Inflamação.
1 INTRODUÇÃO
Com a atualização do projeto Genoma Humano o uso de
diagnósticos moleculares clínicos tem crescido
consideravelmente, inclusive no âmbito da nutrição. A partir
deste projeto, puderam-se conhecer diversos polimorfismos,
que implicam em uma variação genética num local designado,
resultando em alterações no grau de expressão do gene. Esta
expressão gênica possui interação com diversos fatores
ambientais, especialmente a ingestão alimentar que pode levar
a aumento do risco de desenvolvimento de doenças, como a
obesidade, diabetes mellitus, certos tipos de câncer e as
doenças cardiovasculares (DCV) (TUCKER et al., 2013).
A análise do polimorfismo oferece uma ferramenta
molecular poderosa para investigar o papel da nutrição na
saúde humana e na doença, e sua consideração em clínica e
estudos epidemiológicos possui grande relevância para a
definição de uma dieta ideal. Portanto, a presença dos
polimorfismos tem de ser reconhecida antes de serem feitas
recomendações dietéticas para melhorar a saúde, tendo em
vista a influência que podem exercer sobre a absorção, o
metabolismo e o transporte de nutrientes em todo o corpo
(MUTCH; WAHLI; WILLIAMSON, 2005).
Dentre estes polimorfismos que interferem no
metabolismo dos nutrientes está o C677T presente no gene da
metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR). A MTHFR é a
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
195
enzima chave no metabolismo do folato e metionina,
influenciando assim o metabolismo do DNA e mantendo os
níveis de homocisteína adequados.
O polimorfismo C677T no gene MTHFR está associado
com alterações nas concentrações séricas de homocisteína,
ácido fólico, perfil lipídico, marcadores do estresse oxidativo,
dentre outros (CHMURZYNSKA et al., 2013; ABD-ELMAWLA
et al., 2016; GUPTA et al., 2016), especialmente naqueles
portadores do alelo T em homozigose (TT). Portanto, o
conhecimento destes parâmetros bioquímicos possui grande
relevância, pois é sabido que os seus valores, quando
alterados, geralmente aumentam o risco de desenvolvimento de
síndromes coronárias agudas (LIBBY; RIDKER; MASERI,
2002).
Assim, este artigo tem como objetivo fazer uma revisão
a respeito das relações existentes entre o polimorfismo C677T
no gene MTHFR e marcadores bioquímicos no aumento do
risco de surgimento de doenças cardiovasculares.
2 MATERIAIS E MÉTODO
O estudo em questão trata-se de uma revisão integrativa
da literatura visando testar a hipótese de que as alterações nos
marcadores bioquímicos induzidas pela presença do
polimorfismo C677T no gene MTHFR estão relacionadas com
um aumento do risco de surgimento de doenças
cardiovasculares.
Para tanto, foram selecionados artigos científicos que
abordam a problemática em questão. A busca dos artigos na
literatura consultada foi realizada através dos descritores:
inflammatory markers, lipid profile e polymorphism C677T
MTHFR. Os artigos foram obtidos em diversas bases de dados,
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
196
como PUBMED, Periódicos Capes e American Society for
Nutrition.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Características do polimorfismo C677T no gene MTHFR
O sequenciamento completo do genoma humano
permitiu a identificação de diversos polimorfismos, dentre eles
os polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) que ditam
diferenças fenotípicas individuais entre a população, podendo a
tecnologia atual identificar um número superior a 500.000
polimorfismos por pessoa. Os SNP são um tipo comum de
polimorfismo em evidência na literatura que representam a
diferença em um nucleotídeo e caracteriza-se pela substituição
de uma base de nucleotídeos por outra (FERGUSON et al.,
2016) (Figura 1).
O termo “polimorfismo” implica em uma variação
genética que ocorre na sequência de alelos, na sequência de
bases nucleotídicas ou na estrutura cromossômica, que ocorre
em pelo menos 1% de qualquer população distinta, resultando
em alterações no grau de expressão do gene onde ocorre a
mutação, e podem surgir através de mutação envolvendo a
alteração em uma base de nucleotídeo, ou por perda ou por
inserção.
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
197
Figura 1. Representação do Polimorfismo de Nucleotídeo
Único
Fonte: FERGUSON et al., 2016
A metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR) é uma
enzima presente especialmente no fígado e que age
catalisando a desmetilação de 5,10-metilenotetrahidrofolato a
5-metilenotetrahidrofolato, que fornece metilo para remetilação
de homocisteína e transformação em metionina. Ela é, portanto,
a enzima chave no metabolismo da homocisteína, metionina e
folato (sendo responsável por sua forma circulante) e também
influencia o metabolismo do DNA (DEDOUSSIS et al., 2005; LI,
2012).
Dois polimorfismos comuns que podem contribuir para a
hiperhomocisteinemia foram relatados no gene MTHFR
(HANSON et al., 2001). Dentre eles está o polimorfismo C677T,
que é o tipo mais comum de mutação na via de metabolismo da
homocisteína; tendo sido descrito pela primeira vez por Frosst
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
198
et al. (1995), como sendo responsável pela síntese de uma
forma de MTHFR termolábil.
O polimorfismo C677T que ocorre na MTHFR é
responsável pela síntese de uma forma de MTHFR termolábil.
Este polimorfismo está localizado na região do gene da
MTHFR-catalisador e surge quando a timina (base T) é
substituída por citosina (base C) no nucleotídeo 677 do gene da
MTHFR, fazendo com que aja uma conversão de alanina para
um resíduo de valina na enzima (DEDOUSSIS et al., 2005; LI,
2012).
Quando comparada ao genótipo normal (CC) do C677T
na MTHFR, observa-se que a atividade específica desta enzima
é reduzida em 35% na presença de genótipo em heterozigose
(CT) e em 70% quando em homozigose (TT) (HOBBS et al.,
2000). A presença deste polimorfismo está associada com a
elevação dos níveis séricos de homocisteína por contribuir para
a inatividade da MTHFR, o que dificulta a conversão deste
marcador em metionina, fazendo com que o nível sérico de
folato diminua e o de homocisteína aumente, levando a um
maior risco de DCV; havendo, também, uma hipometilação do
DNA (HANSON et al., 2001; IMAMURA et al, 2010).
Polimorfismo C677T no gene MTHFR e marcadores
bioquímicos
O conhecimento dos níveis de marcadores pró e anti-
inflamatórios possui grande relevância, pois é sabido que os
seus valores, quando elevados, geralmente acompanham as
síndromes coronárias agudas (LIBBY; RIDKER; MASERI,
2002). A presença do polimorfismo C677T na MTHFR torna
este conhecimento ainda mais importante, pois os portadores
desta marca genética apresentam níveis mais elevados de
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
199
vários marcadores inflamatórios, especialmente se este possuir
homozigose para o alelo T (DEDOUSSI et al., 2005).
Dentre os marcadores inflamatórios e e do estresse
oxidativo que possuem relação com o polimorfismo em questão
estão a homocisteína, proteína C-reativa (PCR), alfa 1
glicoproteína ácida, malondealdeído (MDA), capacidade
antioxidante total (CAT) e Fator de Necrose Tumoral - α (TNF-
α).
A CAT considera a ação cumulativa de todos os
antioxidantes presentes nos fluidos corporais e plasmáticos,
proporcionando um parâmetro integrado, e não apenas a
simples soma de antioxidantes mensuráveis. Existem várias
evidências indicando a importância da CAT no plasma e nos
tecidos e a sua modificação durante o desenvolvimento do
estresse oxidativo, bem como sua viabilidade como uma
ferramenta para investigar a associação entre a dieta e o
estresse oxidativo.
Além disto, ela está inversamente relacionada com o
surgimento de doenças cardiovasculares, tendo o processo
inflamatório como papel chave em sua iniciação e progressão
(SERAFINI; DEL RIO, 2013; BOEKHOLDT; KASTELEIN,
2010).
No que diz respeito aos níveis de MDA, alguns
estudiosos demonstram que, na presença desta polimorfismo,
há um aumento nas concentrações séricas de MDA, havendo
influência ainda maior naqueles que possuem o alelo T (RAHIMI
et al., 2013; ASEFI et al., 2014; DHANANJAYAN et al., 2015;
ABD-ELMAWLA et al., 2016). O MDA é um biomarcador
utilizado para a peroxidação lipídica, sendo um dos mais
populares e confiáveis para a determinação do estresse
oxidativo em situações clínicas e bastante relevante para a
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
200
comunidade de investigação biomédica (AYALA; MUÑOZ;
ARGUELLES, 2014).
No que diz respeito a PCR, ela é classificada como um
marcador geral de inflamação sistêmica, cujo valor é importante
para quantificar a eficácia das intervenções e prevenção da
DCV (BOEKHOLDT; KASTELEIN, 2010). A presença do
polimorfismo C677T está associado com um aumento das
concentrações deste marcador, especialmente naqueles
indivíduos portadores do alelo TT (homozigotos) ou CT
(heterozigotos) (DEDOUSSIS et al., 2005).
Valores elevados de homocisteína surgem a partir da
baixa disponibilidade de vitaminas B6, B12 e ácido fólico no
organismo, o que leva a risco de inflamação vascular e doença
arterial coronariana (HYDERALI; MALA et al., 2015). Os níveis
séricos de homocisteína encontram-se mais elevados nos
portadores do alelo TT do que naqueles com CC ou CT
(DEDOUSSIS et al., 2005).
O metabolismo lipídico tem sua via alterada na presença
deste polimorfismo, especialmente naqueles portadores do
alelo T (CHMURZYNSKA et al., 2013). Em estudo realizado por
Zhang et al. (2010), pôde-se observar que os níveis de
colesterol total e LDL-colesterol sofreram alterações devido a
presença do referido polimorfismo; Afirmando, ainda, que os
portadores do alelo T apresentavam níveis séricos mais
elevados de CT e LDL-colesterol do que os não portadores
deste alelo.
Em outro estudo observou-se que os níveis de
triglicerídeos séricos encontravam-se elevados frente a
presença do polimorfismo C677T da MTHFR (MIKAEL et al.,
2009). Alterações no perfil lipídico também foram verificadas em
um estudo realizado por Massa et al., (2016); no entanto os
valores observados foram estatisticamente semelhantes para
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
201
os portadores do alelo 677T e 677C, o mesmo não foi
encontrado por Abd-Elmawla et al., (2016).
Indivíduos com sobrepeso ou obesidade tendem a
possuir maiores alterações nestes parâmetros bioquímicos
citados, devido ao fato de que a excessiva deposição de
gordura está relacionada com aumento de biomarcadores
inflamatórios e de estresse oxidativo, sendo observado, em
alguns estudos a influência desta condição nutricional com
níveis diminuídos de CAT ao mesmo tempo em que se elevam
os de MDA, homocisteína, e alguns marcadores do perfil lipídico
(HERMSDORFF; PUCHAU; VOLP, 2011).
Fazendo com que seja necessário, portanto, uma
atenção maior naqueles que possuem o polimorfismo C677T no
gene MTHFR por este já ser conhecido por favorecer
alterações nestes marcadores (SINGH; SINGH, 2015).
Relação entre doença cardiovascular e o polimorfismo
C677T no gene MTHFR
As mutações nas sequências do DNA são responsáveis
por cerca de 90% de variação genética humana, podendo
alterar o risco de desenvolvimento de diversas doenças (MEAD,
2007). Estas doenças podem ser classificadas como
monogênica, quando possui o surgimento influenciado por um
único gene, ou multifatorial que, como o próprio nome já diz, é
determinada pela combinação de diversos outros fatores além
do genético.
Apesar de distintas, ambos os tipos são beneficiados
pela genômica nutricional que fornece as evidências capazes
de modular a expressão fenotípica provocada pelas patologias,
sendo necessários mais progressos nesta área para identificar
os genes-chave envolvidos na etiologia das patologias e no
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
202
entendimento a cerca do impacto da sua variação no processo
saúde-doença (ORDOVAS, CORELLA, 2004).
Portanto, torna-se de grande importância a identificação
dos genes variantes que podem modular os níveis de lipídios e
de marcadores inflamatórios, visando a compreensão do
desenvolvimento e da gravidade de doenças relacionadas a
estes parâmetros bioquímicos (MERINO; MA; MUTCH, 2010).
Na literatura, as patologias multifaroriais mais
comumente relacionadas com a presença de polimorfismos
genéticos são diabetes, doença cardiovascular, hipertensão,
obesidade, dislipidemia e câncer. Já as monogênicas mais
comuns são fenilcetonúria, galactosemia, intolerância a lactose
e doença celíaca (STEEBURGO; AZEVEDO; MARTÍNEZ,
2009; SIMOPOULOS, 2010; LI, 2012; NASSEREDDINE et al.,
2015; SONG et al., 2016).
A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de
morte e incapacidade em todo o mundo, representando cerca
de 50% das mortes por doenças crônicas não transmissíveis
(ALJEFREE; AHMED, 2015; SMIDOWICZ; REGULA, 2015).
Inúmeros estudos evidenciam a relação entre diversos
polimorfismos e o surgimendo de doença cardiovascular (DCV),
seja por alterações em marcadores bioquímicos que antecedem
e aumentam o risco de desenvolvimento desta doença, ou por
ligação direta com o seu surgimento.
Na literatura são descritas diversas alterações induzidas
por este polimorfismo, sendo de ordem patológica, metabólica
ou bioquímica. Dentre as patologias estão a Doença Arterial
Coronariana (DAC); doenças cerebrovasculares, incluindo
infarto isquêmico e hemorrágico; e hipertensão (LI, 2012;
ZHANG et al., 2014; WU et al., 2014; YANG et al., 2014; HOU;
CHEN; SHI, 2015; NASSEREDDINE et al., 2015; SONG et al.,
2015). Estando também relacionado com alguns parâmetros
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
203
bioquímicos, incluindo perfil lipídico, vitamina B12 e marcadores
do estresse oxidativo. Portadores do
genótipo TT deste polimorfismo tendem a ser mais propensos
a desenvolver DAC do que os portadores do genótipo CC,
sugerindo que o alelo T é o gene de predisposição para a
patologia em questão, também sendo observado que aqueles
que possuem o genótipo homozigoto alterado (TT) apresentam
maiores casos de doenças cardiovasculares em sua família (LI,
2012; NASSEREDDINE et al., 2015). No entanto, resultados
controversos a respeito da influência positiva deste
polimorfismo sobre o surgimento da DAC também são
encontrados na literatura (IBRAHIM; DESSOKIY, 2009).
A inflamação é uma resposta necessária do sistema
imunológico para a infecção aguda ou trauma; no entanto, um
estado inflamatório prolongado tem efeitos prejudiciais à saúde,
ocasionando, especialmente, danos cardiovasculares, pois se
sabe que níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias levam
a alteração do perfil sérico dos marcadores inflamatórios,
considerados preditores de doenças cardiovasculares futuras
(BASU; DEVARAJ; JIALAL, 2006; BEAVERS et al., 2015). Os
indivíduos com o polimorfismo C677T da MTHFR apresentaram
níveis elevados destes marcadores bioquímicos, indicando,
assim, um maior risco de surgimento de DCV (DEDOUSSIS et
al., 2005).
A relação entre o polimorfismo C677T na MTHFR e o
surgimento de doença cardiovascular é descrita em diversos
estudos e tem sido observado que os portadores do genótipo
TT deste polimorfismo foram mais propensos a desenvolver
doença arterial coronariana do que os portadores do genótipo
CC, sugerindo que o alelo T é o gene de predisposição para a
patologia em questão (LI, 2012). Sua associação com o
aumento do risco de doenças cerebrovasculares, incluindo
POLIMORFISMO C677T NO GENE MTHFR E DOENÇA CARDIOVASCULAR
204
acidente vascular cerebral isquêmico e hemorrágico, bem como
também para hipertensão, é observada em algumas meta-
análises (WU et al., 2014; ZHANG et al., 2014).
4 CONCLUSÕES
A partir da literatura consultada pôde-se observar que as
alterações clínicas e metabólicas induzidas pela presença do
polimorfismo C677T da MTHFR, especialmente naqueles
indivíduos portadores dos alelos CT e TT, estão relacionadas
com um aumento do risco de desenvolver algum tipo de doença
cardiovascular, sendo devido as alterações provocadas nos
marcadores inflamatórios, elevando suas concentrações
séricas. O conhecimento desta relação torna ainda mais
relevante a identificação do gene variante, a fim de minimizar
os danos provocados por sua presença.
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RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
209
CAPÍTULO 12
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA
REVISÃO DA LITERATURA
Laís Kisly Costa SILVA 1
Yohanna de OLIVEIRA 2
Camila Cândida de Lima MARTINS 2 Matheus Silveira da COSTA3
Cássia Surama Oliveira da SILVA4
1 Pós-Graduada em Nutrição Clínica/Estácio de Sá; 2 Mestrandas do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 3 Pós-Graduando em Fitoterapia e Nutrição
Esportiva/Faculdade Integrada de Patos; 4 Mestre em Ciências da Nutrição/UFPB. [email protected]
RESUMO: Nos últimos anos, a vitamina D têm ocupado destaque na comunidade científica, através de evidências abordando a estreita relação entre a obesidade e a deficiência de vitamina D, que pode ser ocasionada pela biodisponibilidade reduzida devido a um sequestro da vitamina D pelo tecido adiposo. Neste sentido, objetivou-se avaliar a relação entre os diferentes níveis de adiposidade abdominal e os valores de vitamina D em adultos, além dos possíveis fatores bioquímicos afetados, a fim de prevenir sua deficiência. Foi realizada uma revisão bibliográfica, através de buscas nas bases eletrônicas Sciencedirect, Pubmed, Web Of Science e Periódicos CAPES, no idioma inglês, utilizando a literatura dos últimos 5 anos. Observou-se que as concentrações séricas de vitamina D estavam inversamente correlacionadas com CC, RCQ, RCA e IMC, mesmo esta última sendo uma medida de obesidade generalizada. Além disso, a prevalência de hiperglicemia e hipertrigliceridemia aumentou com os percentuais de gordura abdominal em ambos sexos, estando estreitamente relacionadas com doenças cardiometabólicas. Tomados em
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
210
conjunto, este panorama de indicadores fornecem evidências convincentes para uma correlação entre as concentrações séricas de vitamina D e fenótipos de adiposidade, sugerindo fortemente que a vitamina D é alterada no sistema de indivíduos obesos e isto pode ter implicações tanto para o desenvolvimento da própria obesidade e de co-morbidades. Palavras-chave: Vitamina D. Obesidade visceral.
Antropometria.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a vitamina D tem ocupado uma
posição de destaque na comunidade científica devido ao
aumento de evidências abordando diversos fatores associados
com a deficiência/ insuficiência de vitamina D (CASHMAN et al.,
2016).
A vitamina D, solúvel em gordura, é um composto
essencial para a manutenção da mineralização óssea, além de
desempenhar papéis importantes em diversos processos
metabólicos. É sintetizada na pele através da ação solar dos
raios ultravioleta B (UVB) ou obtida a partir da dieta (por
exemplo, óleo de fígado de bacalhau e peixes gordos), ou
suplementação nutricional (HOSSEIN-NEZHAD; HOLICK,
2013).
O conhecimento da distribuição dos níveis séricos de 25
(OH) D em populações, levando em consideração inúmeros
fatores como gênero, região geográfica residente,
sazonalidade, exposição inadequada à luz solar, pele escura,
uso de protetor solar, tabagismo, obesidade, sedentarismo,
fatores genéticos, doenças renais e hepáticas, e certos agentes
farmacológicos, faz-se importante para a elaboração de
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
211
estratégias eficazes para a sua prevenção (JAKOBSEN;
KNUTHSEN, 2014).
De acordo com o critério adotado pela última diretriz da
Endocrine Society (HOLICK et al., 2011), para concentrações
séricas de 25-hidroxivitamina D abaixo de 20 ng/mL (50 nmol/L)
são classificadas como deficiência, entre 20 e 29 ng/mL (50 e
74 nmol/L) como insuficiência e entre 30 e 100 ng/mL (75 e 250
nmol/L) como suficiência, sendo sugerida como ideal a
manutenção das concentrações de 25(OH)D entre 40 e 60
ng/Ml (HOLICK et al., 2011).
No Brasil, Eloi et al. (2016), analisaram 39.004 indivíduos
brasileiros em São Paulo, de ambos os sexos com idade entre
2 a 95 anos, e constataram que no geral, 33,9% tinham
concentrações séricas de 25 (OH) D inferiores a 20 ng / mL, de
acordo com os critérios de corte estabelecidos pelo Institute of
Medicine (IOM, 2011). Já utilizando o corte da Endocrine
Society, a maioria (70,7%) foram considerados deficientes (< 20
ng/ mL) ou insuficientes em vitamina D (<30 ng / mL), não
diferindo entre os sexos. A prevalência de deficiência de
vitamina D foi significativamente mais elevada durante o
inverno, em comparação com o verão.
Tem sido relatado que a deficiência de vitamina D está
associada com a síndrome metabólica (SM), doença arterial
coronariana (DAC), diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e doença
hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) (KHAN et al., 2013).
Na verdade, existe agora uma associação recíproca bem
estabelecida entre a adiposidade e a vitamina D, que pode ser
ocasionada pela biodisponibilidade reduzida devido a um
sequestro da vitamina D afetada por inflamação devido ao
excesso de tecido adiposo e hipertrofia dos adipócitos
(FERDER et al., 2013).
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
212
De acordo com os dados da Organização Mundial de
Saúde (WHO, 2016), a obesidade tem sido apontada como um
dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção
é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com
sobrepeso, e mais de 700 milhões, obesos. No Brasil, alguns
levantamentos apontam que mais de 50% da população está
acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso e obesidade, e
na Região Nordeste, o excesso de peso já foi diagnosticado em
44,45% da população de adultos (ABESO, 2016).
Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que
indivíduos obesos apresentam menores concentrações séricas
de vitamina D do que os indivíduos não-obesos (SANEEI;
SALEHI-ABARGOUEI; ESMAILLZADEH, 2013). Na prática
clínica, a maneira mais fácil e conveniente para avaliar a
obesidade e o excesso de peso é pela determinação do índice
de massa corporal (IMC) e circunferência da cintura (CC). No
entanto, estas medidas são limitadas sobre a distribuição de
gordura (KHOURY; MANLHIOT; MCCRINDLE, 2013).
Neste sentido, o presentre estudo objetivou avaliar a
relação entre os diferentes níveis de adiposidade abdominal e
os valores de vitamina D em adultos, além dos possíveis fatores
bioquímicos afetados, a fim de prevenir sua deficiência.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa
descritiva, exploratória e transversal, realizada através da
revisão sistemática da literatura, que envolve a recolha e
análise de vários artigos científicos relativos ao tema escolhido.
Para o levantamento bibliográfico, realizou-se buscas de dados
nas bases eletrônicas Sciencedirect, Pubmed, Web Of Science
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
213
e Periódicos CAPES, utilizando literatura dos útimos 5 anos,
com os termos indexadores: vitamin D deficiency, abdominal
obesity, waist-to-height ratio, obesity indices and adults.
Dos 33 artigos pesquisados, 22 foram selecionados.
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos no
idioma inglês, no intervalo temporal de 2011 a 2016, que
contemplassem a deficiência de vitamina D abordando a
utilização de indicadores antropométricos, como Índice de
Massa Corporal (IMC), Circunferência da Cintura (CC), Relação
Cintura/Quadril (RCQ) e Relação Cintura/Altura (RCA), na faixa
etária adulta e idosa, e com as variáveis bioquímicas
interferentes em ambos os sexos. Como critérios de exclusão,
foram descartados os artigos que não pertenciam ao intervalo
de tempo de 2011 a 2016, com evidências científicas em jovens
e estudos experimentais.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Zhang et al. (2016) na China, analisaram as
concentrações de 25(OH)D de 1.277 indivíduos, de ambos os
sexos, com idades entre 20 e 82 anos. Na análise de regressão
múltipla, os níveis séricos de 25 (OH)D estavam inversamente
relacionados para circunferência da cintura (CC) e relação
cintura/quadril (RCQ) (p< 0,05), porém não houve correlação
com o IMC (p> 0,05). Além disso, cálcio sérico e atividade física
ao ar livre foram fatores significativos associados aos níveis
mais elevados de vitamina D.
Em Porto Rico, 797 adultos tiveram as concentrações de
25 (OH) D dosadas. Foi detectada uma alta prevalência de
sobrepeso (35,6%) e obesidade (43,7%) na amostra. A maioria
dos participantes (79%) tiveram níveis insuficientes de vitamina
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
214
D (níveis < 30 ng / mL), de acordo com a Endocrine Society.
Contudo, ao utilizar os pontos de corte do Institute of Medicine
(IOM, 2011), apenas 35,9% da amostra tinha um estado
inadequado de vitamina D (<20 ng / mL). Com relação às co-
morbidades, diabetes, hipertensão e hiperlipidemia foram
significativamente (p< 0,05) mais comuns em homens do que
em mulheres. Os níveis séricos de 25 (OH) D estavam
inversamente correlacionados com o IMC, CC e RCA (p< 0,001)
e foram mais fortes para os homens do que as mulheres
(GONZÁLEZ et al., 2015).
Karonova et al. (2016) na Rússia, examinaram 1.544
adultos com idades entre 18 e 75 anos, de ambos os sexos, e
demonstraram que baixos níveis séricos de 25 (OH) D foram
mais frequentes em mulheres com sobrepeso e obesidade.
Porém, correlações negativas entre níveis séricos de 25 (OH) D
e IMC e CC foram encontrados para ambos os gêneros. Não
houve associação entre os níveis de vitamina D e idade. A
ingestão regular de peixe (no mínimo uma vez por semana) foi
associada com níveis de 25 (OH) D mais elevados, enquanto
que a ingestão de produtos lácteos não interferiu no status de
vitamina D. Entretanto, os produtos lácteos não são fortificados
com vitamina D na Rússia, podendo ser a razão pela qual a
ingestão desses produtos não ter sido associada com os níveis
de vitamina D.
Em um estudo realizado por Hannemann et al. (2015) a
partir de três estudos de coorte em populações adultas com
média de 50 anos, no nordeste da Alemanha e Dinamarca,
observaram que as medidas de adiposidade IMC, CC, RCQ e
RCA e as concentrações de 25(OH) D foram inversamente
associadas, sendo semelhantes em ambas as coortes, e
portanto, reforçando-se mutuamente.
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
215
Vários mecanismos subjacentes à relação entre
obesidade e deficiência de vitamina D têm sido propostos. Uma
teoria sugere um efeito de diluição volumétrica (DRINCIC et al.,
2012). A molécula de vitamina D3 pode ser armazenada no
tecido adiposo, conduzindo a uma redução na
biodisponibilidade (BARCHETTA et al., 2013). Com o aumento
da massa de gordura, a vitamina D3 é distribuída numa massa
crescente de tecido adiposo e assim a biodisponibilidade do
soro é reduzida (WAMBERG et al., 2013).
Zhang et al. (2015), em um estudo transversal com 1.105
adultos chineses com idades entre 20 e 70 anos, realizaram a
medição do acúmulo de gordura visceral utilizando a
bioimpedância elétrica para estimar IMC, CC, RQC, massa
gorda, massa livre de gordura e percentual de gordura corporal
para explorar a associação dos níveis de obesidade visceral
com a insuficiência/deficiência de vitamina D na população. Os
resultados revelaram uma tendência crescente na obesidade
visceral que acompanhou o aumento de todos os indicadores e
triglicerídeos em ambos os sexos, diminuindo
significativamente as concentrações de 25 (OH) D3 em homens
e mulheres na pré-menopausa (ambos p< 0,05), mas não em
mulheres na pós-menopausa. Além disso, a prevalência de
hiperglicemia e hipertrigliceridemia aumentou com os
percentuais de gordura abdominal em ambos sexos.
Esteghamati et al. (2014), avaliaram as diferenças nas
concentrações séricas de vitamina D entre a obesidade
metabolicamente saudável e obesidade metabolicamente
insalubre em 4.391 adultos obesos. Os níveis séricos de 25
(OH) D mais baixos foram encontrados em indivíduos com
obesidade insalubre, associada com marcadores
cardiometabólicos e inflamatórios, resistência à insulina, perfil
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
216
lipídico anormal, danos hepáticos, aumento das enzimas
hepáticas (homocisteína) e um estado inflamatório crônico, em
comparação com indivíduos obesos saudáveis. No entanto, o
fenótipo de obeso saudável é claramente mais frequente entre
indivíduos obesos que vivem em países asiáticos, em
comparação com os países ocidentais. Este grupo de
indivíduos obesos apresentaram pressão arterial normal,
melhores índices glicêmicos e menor resistência à insulina,
marcadores inflamatórios inferiores, como a proteína C-reativa
(PCR), triglicerídeos e LDL inferiores e HDL mais elevado, além
de das enzimas hepáticas na faixa normal.
Em um recente estudo realizado com 4.771 adultos
coreanos, a concentração de 25 (OH) D foi significativamente
maior em homens do que em mulheres, correlacionando-se
positivamente com a ingestão energética e negativamente
correlacionada com o teor de gordura corporal total e percentual
de gordura corporal. Os níveis séricos de 25 (OH) D foram
inversamente associados com o percentual total de gordura
corporal após ajuste para idade, IMC, educação, região,
tabagismo, consumo de álcool, atividade física e ingestão
energética apenas em homens. No entanto, a concentração de
25 (OH) D não foi associada com os indicadores IMC e CC em
ambos os sexos para estimar adiposidade (KIM; KIM, 2016).
Pannu et al. (2016) examinaram a associação entre os
níveis séricos de 25 (OH) D, ingestão de cálcio com a presença
de síndrome metabólica em 3.404 adultos australianos com
idade entre 18 e 75 anos, sem diabetes do tipo 1 ou tipo 2.
Verificaram que cada aumento de 10 nmol / L nas
concentrações de 25 (OH) D foi significativamente associada
com a diminuição da probabilidade de síndrome metabólica.
Uma alta ingestão de cálcio também pode ter um desfecho
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
217
favorável para a modulação das concentrações de 25 (OH) D
em circulação e na redução do risco de síndrome metabólica.
Já no recente estudo prospectivo com idosos realizado
por Vitezova et al. (2015), também encontrou uma associação
inversa entre síndrome metabólica e altas concentrações de 25
(OH) D (≥75 nmol / L). No geral, apesar das diferenças entre
esses estudos em tamanhos da amostra, desenho do estudo
(transversal x prospectivo), idade dos indivíduos e variáveis de
confusão utilizadas, o efeito protetor da vitamina D na redução
das chances de ter síndrome metabólica aparece consistente.
Mao et al. (2016), examinaram as relações entre os
níveis séricos das vitaminas D2 e D3 em 9.254 pacientes de
ambos os sexos com idade entre 31 a 104 anos com diabetes
mellitus tipo 2 (9,07%), hipertensão arterial (5,30%) ou doença
cardiovascular (85,64%) em Xangai, na China. Verificaram que
os níveis séricos de vitamina D3 estavam baixos em pacientes
com DM2, que é consistente com as constatações de estudos
semelhantes realizados em países ocidentais. Além disso, os
níveis de vitamina D2 foram elevados em pacientes com
doença cardiovascular ou hipertensão, apresentando uma
correlação negativa significativa entre as concentrações de
vitaminas D2 e D3 em pacientes acima de 85 anos de idade.
Miettinen et al. (2014), na Finlândia, analisaram as
concentração de 25(OH)D em 2.822 indivíduos de ambos os
sexos, com idades entre 45 e 74 anos. Constataram que o valor
médio da vitamina D foi de 58,2 nmol/l em homens (n = 1.348)
e 57,1 nmol/ em mulheres (n = 1.474), destacando que as
concentrações de 25(OH)D foi mais baixa nos grupos etários
mais jovens. A inatividade física e o tabagismo, tanto em
homens como em mulheres, e o IMC elevado em mulheres
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
218
foram fatores que se associaram de forma independente aos
baixos valores de vitamina D.
Krivosíková; Gajdos; Sebeková (2015), analisaram a
associação do status de vitamina D3 com diversos fatores de
risco cardiometabólicos em 411 indivíduos com idade entre 18
a 81 anos. Os indivíduos livres de fatores de risco
cardiometabólico apresentaram níveis significativamente
superiores de 25 (OH) D3 (35,5 ng / mL) em comparação com
os grupos que tinham fatores de risco aumentado (32,6 ng / mL)
e elevado (31,0 ng / mL). A presença de resistência à insulina,
pressão arterial elevada, obesidade central e índice aterogênico
elevado foi refletido apenas com tendências para níveis mais
baixos de 25 (OH) D3.
Peterson et al. (2014), examinaram o status de vitamina
D de 112 adultos de ambos os sexos com paralisia cerebral, e
avaliaram a associação entre vitamina D e nível funcional,
idade, raça, e indicadores antropométricos de adiposidade. A
partir dos resultados, 52% dos pacientes estavam com
sobrepeso ou obesidade, e desses, 23,5% foram classificados
como obesos. O status de vitamina D foi inversamente
correlacionado com os valores de paratormônio e circunferência
da cintura, mas não se correlacionou com a idade, IMC, relação
cintura/quadril, ou circunferência do quadril, revelando que a
maior adiposidade central está associada com menor nível de
vitamina D, independente da deficiência motora.
Há uma crescente evidência que demonstra que a
deficiência/insuficiência de vitamina D estão associados com o
aumento da incidência de severidade/atividade das desordens
imuno-inflamatórias. A vitamina D possui propriedades
imunomodulatórias capaz de reduzir os níveis de inflamação,
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
219
como dos marcadores interleucina 6 (IL-6) e proteína C reativa
(PCR) (GRZANKA et al., 2014).
No entanto, a variação entre os dados dos estudos pode
ser explicada pelo fato de que diferenças raciais podem
influenciar os níveis de vitamina D em grupos étnicos. Os
asiáticos tipicamente apresentam níveis mais baixos de 25 (OH)
D do que os caucasianos, como resultado da pigmentação da
pele mais escura, o que diminui a quantidade de radiação
ultravioleta B (UVB) que penetra na pele para produzir vitamina
D. Além das diferenças no estilo de vida dos diferentes métodos
de quantificação de tecido adiposo (HE et al., 2013).
Entretanto, em indivíduos saudáveis adultos, baixo teor
dos níveis de 25 (OH) D3 são associados com maior IMC e
gordura de massa corporal (KAYANIYIL et al., 2011). Estudos
recentes sugerem que os principais componentes do sistema
renina-angiotensina são evidentes no tecido adiposo, e que a
vitamina D pode estar envolvida na inibição da adipogênese
(OCHS-BALCOM et al., 2011).
Com a hipertrofia dos adipócitos na obesidade, há um
aumento considerável da síntese e liberação de mediadores
pró-inflamatórios (por exemplo, TNF-α, IL-6, IL-8 e MCP-1), e
estas contribuem para os níveis circulantes elevados, bem
como para a inflamação do tecido adiposo, caracterizado por
um aumento da infiltração de macrófagos e outras células do
sistema imunológico, que é um processo patológico central na
disfunção do tecido adiposo (LOLMEDE et al., 2011).
Dada a importância do tecido no balanço de energia,
metabolismo de lípidos e na inflamação na obesidade, o
entendimento dos mecanismos de ação da vitamina D nos
adipócitos pode ter um impacto significativo na manutenção da
saúde metabólica (DING et al., 2012).
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
220
4 CONCLUSÕES
Tomados em conjunto, este panorama de resultados
fornecem evidências convincentes para uma correlação entre
as concentrações séricas de vitamina D e fenótipos de
adiposidade, sugerindo fortemente que a vitamina D é alterada
no sistema de indivíduos obesos e isto pode ter implicações
tanto para o desenvolvimento da própria obesidade e de co-
morbidades.
O estudo destaca que a gordura visceral abdominal
também pode ser um índice simples e sensível no uso rotineiro
de triagem para o diagnóstico do risco de deficiência de
vitamina D relacionada com doenças cardiometabólicas no
geral, sendo a circunferência da cintura e relação cintura/altura
fortes preditores independentes para os baixos níveis de
vitamina D.
Conclui-se então, que adultos com medidas elevadas de
adiposidade abdominal estão em maior risco para a
desregulação metabólica e deficiência de vitamina D do que
indivíduos com obesidade geral, e que os indicadores de
adiposidade central são superiores ao IMC para determinação
do risco. Assim, os profissionais de saúde devem estar cientes
da adequação da CC, específica para gênero, raça e etnia,
assim como dos demais marcadores de adiposidade abdominal
como RCA e RCQ, recomendado limites de circunferência para
a obesidade abdominal.
RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE ADIPOSIDADE ABDOMINAL E VALORES DE VITAMINA D EM ADULTOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
221
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NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
224
CAPÍTULO 13
NÍVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
Emyle da Silva MOURA¹
Luciana Maria Martinez VAZ ² ¹ Graduanda do curso de Nutrição da FPB; ² Orientadora/Professora da FPB
RESUMO: O aleitamento materno exclusivo (AME) é de fundamental importância à criança, fornece tudo o que ela precisa para que haja bom crescimento e desenvolvimento. Ao contrário do que se pensa, o leite materno supre todas as necessidades da criança até o sexto mês, sem necessidade de complementação, protege contra inúmeras patologias. Este trabalho tem por objetivo saber o quanto as mães sabem sobre amamentação exclusiva, quais os mitos e verdades que ainda existem para as que amamentam. Observa-se que muitas mães desconhecem a importância do aleitamento materno exclusivo, algumas acham que a complementação à alimentação, supre mais as necessidades da criança do que o próprio leite materno. Este trabalho se trata de uma pesquisa transversal, de campo, quantitativa, e quanto aos objetivos caracteriza-se como exploratória, tendo em vista que os dados observados nos permitirão definir estes objetivos; e descritiva, pois permitirão descrever o quanto as lactantes conhecem sobre os benefícios do aleitamento materno exclusivo. É necessário um acompanhamento como forma de orientação tanto do nutricionista quanto de uma equipe multidisciplinar. O profissional de saúde deve apoiar e incentivar a lactante a colocar em prática o aleitamento materno, preparando-a psicologicamente, informando-a sobre a fisiologia da lactação, seus benefícios, como cuidar das mamas, o posicionamento
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
225
dela e do bebê durante a amamentação, sendo que este preparo deve ser iniciado durante o pré-natal. Palavras-chave: Aleitamento Materno Exclusivo. Nível de Conhecimento. Benefícios.
1 INTRODUÇÃO
O aleitamento materno exclusivo (AME) é de
fundamental importância para a saúde da criança, pois fornece
tudo o que ela precisa para que haja um bom crescimento e
desenvolvimento. Ao contrário do que muitas vezes se pensa,
o leite materno supre todas as necessidades da criança até o
sexto mês de vida, sem necessidade de complementação,
protege contra inúmeras patologias. Funciona como um tipo de
prevenção prevenção para a criança, não corre o risco de
contaminação e quanto mais a criança mamar, mais leite a mãe
vai produzir (COSTA et al. 2013).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma
criança é considerada amamentada, fazendo a ingestão de leite
materno diária, sem necessidade de qualquer outro tipo de
alimento nos primeiros seis meses de vida.
A amamentação é essencial para que a criança tenha
uma boa qualidade de vida no primeiro ano de vida, pois o leite
materno é composto de todos os nutrientes necessários para o
crescimento e desenvolvimento da criança como também a
prevenção de diversas patologias (VANNUCHI et al. 2005 apud
MORAIS; FREITAS; NEVES, 2010).
O aleitamento materno (AM) é a estratégia que mais
previne mortes infantis, além de promover a saúde física,
mental e psíquica da criança. Estima-se que a amamentação
tem o potencial de reduzir em 13% as mortes em crianças
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
226
menores de 5 anos, assim como em 19 a 22% as mortes
neonatais, se praticada na primeira hora de vida (COSTA et al.
2013).
A amamentação é uma prática milenar com benefícios
nutricionais, imunológicos, cognitivos, econômicos e sociais.
Tais benefícios são aproveitados quando a amamentação é
praticada de uma forma completa por pelo menos 2 anos, sendo
oferecida como forma exclusiva de alimentação do bebe até o
sexto mês de vida. Estudos nacionais mostram que, apesar da
tendência de melhoria, os índices de aleitamento materno no
Brasil estão muito abaixo dos considerados ideais pela
organização mundial de saúde (OMS) (CHAVES; LAMOUNIER;
CÉSAR, 2007).
O aleitamento materno depende de fatores que podem
influir positiva ou negativamente no seu sucesso. Entre eles,
alguns estão relacionados à mãe, como as características de
sua personalidade e sua atitude diante da situação amamentar,
outros referem-se à criança e ao ambiente, como, por exemplo,
as suas condições de nascimento e o período pós-parto
havendo, também, fatores circunstanciais, como o trabalho
materno e hábitos de vida (FALEIROS; TREZZA; CARANDINA,
2006).
A prática do aleitamento materno é permeada por fatores
a favor e contra o seu sucesso. Como fatores protetores a esta
prática tem-se o conceito materno sobre o tempo ideal de
amamentação, o recebimento de leite exclusivamente materno
na maternidade e a permanência em hospedagem na
maternidade. Como fatores que contribuem para o desmame
precoce aponta-se o baixo peso da criança ao nascer, o fato de
a mãe trabalhar fora de casa e as dificuldades encontradas pela
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
227
mãe para amamentar no puerpério imediato (AZEVEDO et al.
2010).
Podemos considerar como obstáculos para o
aleitamento materno as dificuldades do bebe em conseguir
sugar ou ter sucção deficiente, não conseguir pegar a auréola
ou manter a pega adequada e a recusa de uma das mamas ou
dificuldade das mães, quando ocorre a demora da descida do
leite, do mamilar, mamilos planos ou invertidos, ingurgitamento
mamário, candidíase, reflexo de ejeção exagerado do leite,
eliminação de sangue no leite, bloqueio de ductos lactíferos,
mastite, abscesso mamário, galactocele, baixa produção de
leite, cirurgia da redução das mamas ou implante mamário
(GIUGLIANE 2006, apud CALEGARI 2009).
Amamentar é um ato que se aprende. Muitos fatores
podem contribuir para que a amamentação se torne efetiva ou
não, seja eles, experiências negativas, o desconhecimento ou
falta de apoio. Desse modo, é essencial que haja
esclarecimento a respeito da amamentação e seus benefícios,
já que se trata de um momento onda há muitas dúvidas
preocupações e ansiedade (GRANDO; ZUSE, 2011).
Muitas são as dúvidas das mulheres no que diz respeito
à amamentação e seus benefícios. Por isso, é muito importante
que o profissional que presta atendimento a esse grupo de
pacientes, disponha de informações úteis referentes à
amamentação, bem como dicas para que as mesmas
enfrentem e aceite o período pós-parto de maneira tranquila
para que possam cuidar bem de seus bebês (GRANDO; ZUSE,
2011).
Ressalta-se, ainda, a importância de que estes
profissionais estejam imersos na realidade materna, de maneira
a conhecer o cotidiano a qual estão inseridas, bem como sua
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
228
“bagagem cultural”, já que o ato de amamentar envolve muitas
crenças, tabus e, por vezes, experiências não satisfatórias para
a efetivação da amamentação (GRANDO; ZUSE, 2011 apud
MARQUES; COTTA; ARAUJO, 2009).
Levando em consideração as dificuldades e a falta de
conhecimento que muitas lactantes tem a respeito do
Aleitamento Materno Exclusivo (AME), surge um
questionamento: O quanto e até onde vai o conhecimento de
cada mãe sobre os benefícios da amamentação exclusiva?
Observa-se que muitas mães desconhecem a importância do
aleitamento materno exclusivo, muitas acham que a
complementação à alimentação, supre muito mais as
necessidades da criança do que só o próprio leite materno.
Esse trabalho se constitui em um relato das mães que
amamentam, com a intenção de demonstrar a importância da
amamentação exclusiva, já que muitas mães desconhecem os
benefícios. As informações colhidas servirão para melhora do
entendimento de cada mãe sobre a importância do aleitamento
materno exclusivo para a saúde da criança.
O principal objetivo desse trabalho foi avaliar o nível de
conhecimento das lactantes sobre os benefícios do aleitamento
materno exclusivo, bem como descrever a importância da
amamentação exclusiva, demonstrando os benefícios da
amamentação para a mãe e para o bebe, bem como os fatores
que influenciam a não adesão do aleitamento materno.
2 MATERIAIS E MÉTODO
O referido trabalho se trata de uma pesquisa transversal,
de campo, quantitativa, e quanto aos objetivos caracteriza-se
como exploratória, tendo em vista que os dados observados
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
229
nos permitirão definir estes objetivos; e descritiva, pois
permitirão descrever o quanto as lactantes conhecem sobre os
benefícios do aleitamento materno exclusivo.
Segundo GIL 2008, uma pesquisa é exploratória
proporciona maior familiaridade com o problema, tornando-o
explícito. Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas
com pessoas experientes no problema pesquisado.
Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo
de caso.
Pesquisa descritiva é usada para descrever as
características de determinadas populações ou fenômenos.
Algumas hipóteses podem ser formuladas com base em
conhecimentos prévios, procurando confirmá-las ou negá-las.
Nesse tipo de estudo é extremamente importante a exatidão e
precisão dos dados coletados (GIL, 2008).
Foi desenvolvida uma pesquisa com lactantes assistidas
na Maternidade Frei Damião, a qual fica localizada na cidade
de João Pessoa, tendo como amostra 50 lactantes, de qualquer
faixa etária. Teve como instrumento de coleta de dados um
questionário, o qual, com perguntas sucintas e objetivas, busca
saber o conhecimento de cada lactante sobre aleitamento
materno exclusivo. Participaram da amostra todas as mulheres
que estavam em período de lactação e que quiseram participar
do estudo.
Todas as mulheres foram informadas sobre as
características do estudo e assinaram termo de consentimento.
Os dados foram trabalhados por meio de estatística descritiva
e os resultados são apresentados através de frequência dos
dados em números absolutos e relativos.
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
230
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O leite materno é o alimento mais eficaz e protetor
quando se diz respeito a criança. Com base na pesquisa, foi
possível observar que muitas mães ainda sentem dificuldade
quando o assunto é aleitamento materno.
A maternidade tem um fluxo grande de atendimento, são
atendidas em média 5 mil puérperas mensalmente.Dentre as
lactantes que participaram da pesquisa, 48% apresentaram o
ensino médio completo, porém ainda pôde-se observar que
ainda existe um baixo nível de escolaridade entre as mesmas,
14% apresentaram o ensino fundamental completo e 16%
incompleto. A maioria das entrevistadas apresentaram renda
igual ou inferior a um salário mínimo. 98% das mesmas
realizaram o pré-natal, porém apenas 58% receberam
orientação sobre o aleitamento materno durante o pré-natal. Já
na maternidade 88% receberam orientação para amamentar.
Sobre a dificuldade de amamentar pós-parto, 44% relataram
que sentiram dificuldade e 56% não tiveram esse problema.
Um dos questionamentos feito foi se há benefícios no
leite materno, 98% tinham consciência dos benefícios que o
leite materno trazia para a criança e para a mãe, e 2%
responderam que não há benefícios.
Ao serem questionadas sobre a resistência a doenças
com o aleitamento materno, 94% declararam que o aleitamento
materno deixa a criança resistente, equanto 2% relataram não
saber responder, 2% afirmaram que só ás vezes e 2%
desconhecem essa afirmação.
Quando perguntadas a respeito da idade que uma
criança deve ser amamentada, a maioria delas responderam os
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
231
6 meses como mostra a figura 1, sendo essa idade para a
amamentação exclusiva.
Figura 1. Distribuição percentual em relação ao tempo em que
uma criança deve ser amamentada.
FONTE: Dados da pesquisa.
Sobre o aleitamento materno exclusivo, a maioria delas
tinham consciência da idade certa para amamentar seu bebê
de forma exclusiva, porém grande quantidade das mesmas não
sabiam ao certo a idade ou ainda desconheciam essa
informação como mostra a figura 2.
6 Meses;
44%
12 Meses ; 30%
24 Meses;
24%
Não Sei; 2%
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
232
Figura 2. Distribuição percentual em relação a idade que o
aleitamento materno exclusivo é recomendado.
FONTE: Dados da pesquisa.
Um estudo realizado com 206 lactantes no município de
Juazeiro do Norte em 2003 monstou que 24% das mães
entrevistadas não sabiam até que idade o aleitamento materno
exclusivo era recomentado, isso demonstrou preocupação.
Outro questionamento acerca do aleitamento materno
exclusivo foi sobre o uso de chupeta e mamadeira durante o
mesmo, grande maioria da mães sabiam que não é
aconselhado o uso, porém 2% disseram não saber e 2%
responderam que é aconselhado o uso de chupeta, já no que
diz respeito ao uso de mamadeira, 4% responderam não saber
e 4% afirmaram que é aconselhado sim, o uso, alegando que o
estimulo para a mamada e pega do bebê. Foram também
questionadas sobre ofertar água ao bebê a partir do segundo
mês, e a maioria reponderam que não é necessário, mas ainda
20% vê a necessidade de ofertar.
Ao serem indagadas sobre a quantidade de leite que
produzem e se é suficiente para suprir as necessidades do
bebê, uma maioria, totalizando 82% responderam que sua
produção é sufuciente sim, já 18 % responderam não ter leite
6 Meses;
76%
12 Meses;
18%
Não Sei ; 6%
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
233
sufuciente para suprir as necessidades do filho como pode ser
observado na figura 3.
Figura 3. Distribuição percentual destinada a verificar se a
quantidade de leite que as mães produzem é suficiente para
suprir as necessidades dos seus bebês.
FONTE: Dados da pesquisa.
Algumas mães ainda acreditam ter o leite fraco, a maioria
delas relataram não ter o leite fraco e algumas chegaram a
confirmar que não existe leite fraco. Os resultados desse
questionamento pode ser observado na figura 4.
Figura 4. Distribuição percentual do quesito leite fraco.
FONTE: Dados da pesquisa.
Sim; 82%
Não; 18%
Sim; 18%
Não; 78%
Às Vezes;
2%Não Sei ; 2%
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
234
Sobre questões relacionadas a alimentação materna
interferir no leite, 44% responderam que pode sim interferir,
42% responderam que não interfere, 8% disseram que so
interfere as vezes e 6% relataram não saber.
Outro questionamento importante foi saber das mães se
elas acham que o leite em pó tem os mesmos benefícios que o
leite materno e como mostra a figura 5, grande parte
responderam que não porém 10% disseram que pode ser
substituído sim e que não há problema algum nisso.
Figura 5. Distribuição percentual do seguinte questionamento:
O leite em pó tem os mesmos benefícios que o leite materno e
pode ser substituído sem que haja problema algum?
FONTE: Dados da pesquisa.
A dificuldade de amamentar a criança exclusivamente
até os seis meses de vida é comum entre as mulheres.
Começa-se a dificuldade do momento em que algumas não são
orientadas desde o pré-natal.
Sim; 10%
Não; 84%
Às Vezes;
4%
Não Sei ; 2%
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
235
Um estudo realizado com 35 lactantes em uma
maternidade no Rio de Janeiro no ano 2000, demosntrou
preocupação, pois apenas 53 % das mulheres haviam recebido
informação sobre o aleitamento materno durante o pré-natal.
Outro fato preocupante é que 2% das mulheres disseram que
não há benefícios no aleitamento materno, número pequeno
mas não deixa de ser preocupante, já que é uma questão que
todas deveriam ter consciência disso.
Um dos questionamentos mais importantes era saber ser
realmente as lactantes sabem a idade correta de amamentar
seu filho e até quando deve ser a amanetação exclusiva,
podemos observaro quanto muitas ainda não sabem a idade
correta para isso, o que é um dado preocupante, pois é o
mínimo que as mesmas devem saber para que cumpram a
realização do AME.
Algumas também acham que pode ser ofertado chupeta
e mamadeira ao bebê durante o aleitamento materno exclusivo
pois é uma forma de estimular a sucção do bebê. Também foi
possível observar que algumas confirmaram a oferta de água
ao bebê a partir do segundo mês de vida, o que não se torna
necessário, pois uma criança alimentada apenas com
aleitamento materno até os seis meses está suprida e livre de
qualquer outra necessidade alimentar.
O que é mais comum ouvir entre as mães é que o leite é
fraco e que a quantidade de leite que a mesma produz não é
suficiente para amamentar seu filho. Sabe-se que isso não
existe. Todo leite materno é capaz de sustentar e suprir as
necessidades de um bebê, o que se deve ser feito é estimular
a sucção e pega correta para que o leite seja abundante no seio
da mãe.
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
236
Outro questionamento preocupante foi o fato de algumas
mulheres terem respondido que o leite em pó tem os mesmos
benefícios que o leite materno, fórmulas infantis tem benefícios
sim mas não tão quanto o leite materno, fato que as mães
deveriam ser conscientes disso.
4 CONCLUSÕES
Há muito tempo já se houve falar sobre a dificuldade que
as mães tem de amamentar seus filhos exclusivamente até os
seis meses, para a reversão desta situação e para que as mães
desejem amamentar seus filhos de forma exclusiva até o sexto
mês e amamentação com complementação até os dois anos de
idade, é necessário um acompanhamento de uma equipe
multidisciplinar para auxiliar na hora das informações e
incentivos para as mesmas.
Vale ressaltar a importância desse acompanhamento
desde o momento do pré-natal. A pesquisa constatou que nem
todas as mães recebem essa informação no período do pré-
natal.
Pode-se observar com o resultado da pesquisa que a
maioria das mães entrevistadas tem conhecimento sobre o
aleitamento materno exclusivo, tempo de amamentação,
benefifios do leite, etc. Mas não podemos deixar de ressaltar a
quantidade de lactantes que ainda desconhecem esses fatos,
os quais são importantes e precisam ser conhecidos e
colocados em prática, tornando esse desconhecimento um
caso preocupante.
O aleitamento materno é importante tanto para a mãe
quanto para a criança, precisa ser reconhecido e colocado em
prática.
NIVEL DE CONHECIMENTO DAS LACTANTES SOBRE OS BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
237
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CAPÍTULO 14
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A INDIVIDUOS SOROPOSITIVO
Jacyara Santos da Silva1
Luciana Mª Martinez VAZ 2 1 Graduanda do curso de Nutrição, FPB; 2 Orientadora/Docente da FPB.
RESUMO: A assistência nutricional, quando bem realizada, fornece elementos para a elaboração do diagnóstico nutricional em indivíduos soropositivo, por sua condição de imunodeficiência, encontram-se mais vulneráveis aos agravos à saúde. O conhecimento do estado nutricional permite ao profissional de saúde compreender algumas condições físicas do organismo para o enfrentamento da doença e possibilita uma terapia nutricional mais apropriada, visando a recuperação e a manutenção da saúde. A referida pesquisa teve como objetivo investigar a luz da literatura, aspectos da assistência nutricional, bem como relação entre nutrição e terapia antirretroviral e terapia nutricional. Este estudo tratou-se de uma pesquisa bibliográfica de artigos publicados, dissertações e da Biblioteca Virtual em saúde (BVS). Conclui-se que, a relação da terapia antirretroviral junto com a terapia nutricional, favorece significante melhora do estado de saúde das pessoas que vivem com HIV/AIDS, diminuindo a taxa de mortalidade. Palavras-chave: Assistência Nutricional. Terapia Nutricional. Soropositivo.
1 INTRODUÇÃO
A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) como
também é chamada, é causada pelo HIV. Esse vírus ataca as células de defesa do nosso corpo, as mais atingidas são os
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linfócitos T CD4+, onde o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de um simples resfriado a infecções mais graves como tuberculose ou câncer (BRASIL, 2013).
Segundo Krause e Mahan (2005), alguns medicamentos TARV e drogas para tratamento das doenças oportunistas, também podem provocar efeitos colaterais que interferem na ingestão, digestão e absorção dos nutrientes, com possível prejuízo ao estado nutricional do indivíduo.O estado nutricional expressa o grau pelo qual as necessidades fisiológicas de nutrientes do indivíduo estão sendo atendidas. As alterações nutricionais têm origem multifatorial e envolve redução na ingestão alimentar, comprometimento dos processos de digestão e absorção dos nutrientes, acelerado catabolismo proteico, doenças oportunistas e efeitos adversos dos medicamentos. Por isso, a avaliação do estado nutricional de pacientes portadores de HIV/AIDS deve ser realizada precocemente e periodicamente.
O quadro de imunodeficiência que os pacientes com AIDS apresentam frequentemente, acomete o trato gastrointestinal e suas funções. Outros fatores, como anorexia, disfagia, náuseas e vômitos, febre, lesões orais e esofagianas, doenças neurológicas relacionadas à AIDS, efeitos colaterais dos medicamentos, recursos financeiros escassos e dificuldade física para preparar seu próprio alimento estão relacionados com perda de apetite e/ou inadequado consumo de alimentos, o que contribui ainda mais para a desnutrição nesses pacientes. Observa-se que deficiências de micronutrientes, principalmente as vitaminas A, C, E, e minerais como o Selênio, estão associadas à desnutrição e são comuns em pacientes infectados pelo HIV. A carência desses elementos compromete ainda mais o funcionamento do sistema imunológico (RIBEIRO, 2010).
De acordo com Duarte (2007), todo paciente que possuir o vírus HIV deve ser avaliado por inteiro para determinar o seu estado nutricional, considerando o estágio da doença. Uma abordagem dietética para a manutenção do estado nutricional
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do individuo precisa estar voltada para empregar a dietoterapia na melhoria da absorção dos nutrientes e no favorecimento a tolerância à medicação (MARIA, 2012).
A ingestão nutricional adequada ajuda o sistema imunitário a produzir uma resposta efetiva na prevenção e recuperação do estado imunológico destes pacientes apesar da perda de peso existente (MARGALHO, PEREIRA et al. 2011).
Ao decorrer desta pesquisa, verificamos a importância do profissional nutricionista como promotor de saúde, mediante a assistência nutricional adequada aos portadores do HIV. Acredita-se que, devido ao comprometimento nutricional de indivíduos soropositivo, um bom acompanhamento pode influenciar de maneira positiva, promovendo melhoria do seu estado nutricional.
O tema escolhido tem grande relevância, devido ao comprometimento nutricional de portadores do HIV. Assim, a observação dos aspectos da assistência nutricional, exercem grande importância para determinação das necessidades nutricionais dos pacientes, podendo influenciar de maneira positiva a melhoria do seu estado nutricional.
Portanto, o objetivo geral dessa pesquisa é investigar à luz da literatura, aspectos da assistência nutricional; e como objetivos específicos, descrever a relação entre nutrição e terapia antirretroviral, e investigar na literatura a terapia nutricional.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Gil (2008), define pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, desde a formação do problema até a apresentação e discussão dos resultados.
Possui caráter descritivo, na qual já se tem uma base teórica e hipóteses constituídas a partir da teoria a ser
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abordada. Gil (2008) descreve a pesquisa descritiva como sendo a que tem o objetivo de descrever as características de determinada população, ou de um fenômeno, ou ainda estabelecer relações entre as variáveis que compõem tais.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir de pesquisas publicadas em livros, artigos, dissertações e teses. Tal pesquisa pode ser realizada independentemente ou pode constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental. De acordo com Cervo, Bervian e da Silva (2007), a pesquisa bibliográfica é um procedimento básico para os estudos, pelo qual busca-se o domínio do estado da arte sobre determinado tema. Portanto, é de fundamental importância realizar uma pesquisa blibliográfica antes de todo e qualquer trabalho científico. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 CONCEITO E HISTÓRICO DA DOENÇA
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi
descoberta nos Estados Unidos no ano de 1981, onde houve o primeiro caso de infecção pelo vírus. Referiram esse caso a homossexuais masculinos que viviam no estado. Após sua descoberta o número de indivíduos infectados veio aumentando ao longo do tempo (MARIA, 2012).
A AIDS é o estágio mais avançado da doença que ataca o sistema imunológico. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, como também é chamada, é causada pelo HIV. Esse vírus ataca as células de defesa do nosso corpo, as mais atingidas são os linfócitos T CD4+, onde o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de um simples resfriado a infecções mais graves como tuberculose ou câncer. HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Ter o HIV não é a mesma coisa que ter a AIDS. Há muitos soropositivos que vivem anos sem
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apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas, podem transmitir o vírus a outros pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação. Em indivíduos não tratados, estima-se que o tempo médio entre o contágio e o aparecimento da doença esteja em torno de dez anos. (BRASIL, 2013)
Segundo Brasil (2013), os primeiros casos descobertos e definidos como AIDS, foram em meados 1977 e 1978 nos EUA, Haiti e África Central. Logo, o primeiro caso no Brasil foi em São Paulo, também só classificado em 1982. No começo da epidemia, pelo fato da aids atingir, principalmente, os homens homossexuais, os usuários de drogas injetáveis e os hemofílicos, eles eram, à época, considerados grupos de risco. Atualmente, fala-se em comportamento de risco e não mais em grupo de risco, pois o vírus passou a se espalhar de forma geral, não mais se concentrando apenas nesses grupos específicos. Até o começo da década de 1990, a aids era considerada uma doença que levava à morte em um prazo relativamente curto. Porém, com o surgimento do coquetel as pessoas infectadas passaram a viver mais. Esse coquetel é capaz de manter a carga viral do sangue baixa, o que diminui os danos causados pelo HIV no organismo e aumenta o tempo de vida da pessoa infectada. 3.2 FISIOPATOLOGIA DA AIDS
De acordo com o Protocolo Clinico e Diretrizes do Ministério da Saúde (2013), a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana o HIV, Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. E é alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar.
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Por isso, a maioria dos casos passa despercebido. Em indivíduos não tratados, estima-se que o tempo médio entre o contágio e o aparecimento da doença esteja em torno de dez anos.
O período de identificação do contágio pelo vírus depende do tipo de exame e da reação do organismo do indivíduo. Na maioria dos casos, a sorologia positiva é constatada de 30 a 60 dias após a exposição ao HIV. Porém, existem casos em que esse tempo é maior: o teste realizado 120 dias após a relação de risco serve apenas para detectar os casos raros de soroconversão – quando há mudança no resultado. Se um teste de HIV é feito durante o período da janela imunológica, há a possibilidade de apresentar um falso resultado negativo. Portanto, é recomendado esperar mais 30 dias e fazer o teste novamente. Janela imunológica é o intervalo de tempo entre a infecção pelo vírus da aids e a produção de anticorpos anti-HIV no sangue (BRASIL, 2013). 3.3 RELAÇÃO ENTRE NUTRIÇÃO E TERAPIA
ANTIRRETROVIRAL
A intervenção nutricional no HIV é personalizada, depende do fármaco utilizado e do estado nutricional do doente sendo também valorizada a interação do fármaco-nutriente. A terapia HAART causa alterações morfológicas e metabólicas tais como dislipidemia, síndrome da lipodistrofia, resistência à insulina, entre outras (BRAGA AND SILVA 2010; MARRONE, SILVA et al. 2010; RAITEN 2011).
As doenças oportunistas e patologias infecciosas que ocorrem neste estado imunológico deprimido, provocam perda de peso nestes doentes, incluindo perda de massa magra. A ingestão nutricional adequada ajuda o sistema imunitário a produzir uma resposta efetiva na prevenção e recuperação do estado imunológico destes pacientes apesar da perda de peso existente (MARGALHO, PEREIRA et al. 2011).
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A OMS destaca também a importância de uma correta ingestão alimentar, em macro e micronutrientes, antes e durante o tratamento para prevenir comorbidades associadas à doença e alcançar um bom estado nutricional (RAITEN 2011). Em contrapartida, alguns nutrientes ao serem ingeridos com estas drogas, podem comprometer a eficácia da terapêutica, sendo importante conhecer os horários dos medicamentos, pois alguns necessitam de serem ingeridos com a alimentação, outros não e, alguns a alimentação não interfere (SANTOS, 2006).
São fatores relevantes os processos de alimentação (ingestão, digestão, absorção, metabolismo, utilização do fármaco, sua ativação e excreção) na interação do fármaco com o organismo para constatar a sua reação ao medicamento/terapia (RAITEN, 2011). A ingestão de alimentos pode interferir na toma da medicação, influenciando a sua absorção e eficácia. Por este motivo o profissional de saúde deve informar e aconselhar o doente na prescrição da toma do medicamento, nomeadamente se a toma deve ser feita com ou sem alimentos, e ser cuidadoso na constituição das refeições de modo a que estas sejam variadas e equilibradas.
Para minimizar estas interações entre fármacos e nutrientes devem ser concebidos programas de prevenção, cuidados e tratamento (CASTRO AND AMADA 2009; RAITEN 2011).
É relevante ter em atenção as interações alimentares específicas de cada fármaco e ainda qualquer alteração que possa aparecer devido à combinação de fármacos. Deve ser feita uma abordagem nutricional que contemple a ingestão alimentar, consumo de suplementos ou prática de medicinas alternativas (CASTRO AND AMADA 2009; RAITEN 2011).
As terapias complementares e/ou alternativas são utilizadas em elevada percentagem e as técnicas mais utilizadas são as massagens terapêuticas, acupuntura e ervas terapêuticas. Os doentes optam por esta terapia para reduzir os sintomas associados à doença. No entanto as terapias
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complementares e/ou alternativas apresentam alguns riscos tais como nefrotoxicidade e interação entre o fármaco e a planta, (ADA 2010; ARELLANO ET AL. 2009) afetando o uso, a eficácia e a segurança da terapia antirretroviral (RAITEN 2011).
Esta terapia não se cinge apenas a um único produto mas também à combinação de vários (ADA 2010; ARELLANO, DELGADO ET AL. 2009). 3.4 TERAPIA NUTRICIONAL
De acordo com Coppini and Jesus (2011) e Polo,
Gomes-Candela et al (2007) nos portadores de HIV a terapia nutricional tem os seguintes objetivos:
Melhorar a qualidade de vida dos doentes;
Reduzir e / ou retardar complicações associadas à doença;
Reduzir efeitos colaterais da terapia antirretroviral, controlando alterações metabólicas e morfológicas associadas;
Prevenir o aparecimento de desnutrição, principalmente a perda de peso;
Manter o peso ideal do doente;
Melhorar o estado imunológico decorrente da infecção, garantindo um adequado aporte de nutrientes (PAULA, NERES et al. 2010);
Minimizar consequências dos distúrbios gastrointestinais decorrentes de infeções oportunistas e da HAART;
Atrasar o aparecimento do vírus da SIDA (OMS 2009). É importante ter em conta que os objetivos da terapia nutricional devem ser sempre ajustados a cada caso (POLO, GOMES-CANDELA et al. 2007). 3.4.1 Recomendações alimentares
Em doentes com falta de apetite, um maior aporte de gordura nos alimentos traz maior palatibilidade à refeição, o que pode ser uma forma de estimular o apetite (OMS 2009).
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Beber grandes quantidades de água diariamente principalmente em períodos de diarreia, vómitos ou febre. O consumo de chá e café deve ser evitado pois diminuem a assimilação de ferro. Também o consumo de álcool deve ser limitado pelas suas propriedades diuréticas, além de poderem interagir com a medicação (OMS 2009);
Se possível ingerir leguminosas todos os dias, ingerir com regularidade produtos lácteos e animais, bem como consumir diariamente frutas e vegetais, fontes de vitaminas e minerais, sendo aconselhado a variedade neste grupo (OMS 2009).No caso de o doente apresentar colesterol elevado: os alimentos devem ser preparados de forma cozida, assada ou grelhada evitando frituras; (PAULA, NERES et al. 2010); consumir preferencialmente leite e derivados sob a forma magra; preferir o azeite como gordura de confecção e tempero e se o doente apresentar hipertrigliceridemia deve aumentar o consumo de ácidos gordos ómega 3 (POLO et al. 2009); Caso o doente apresente hiperglicemia: diminuição da ingestão calórica total; a ingestão de sacarose deve ser inferior a 10% da energia total; o consumo de fibra deve ser de 30 –35g/dia (preferencialmente fibra solúvel); os alimentos que contenham hidratos de carbono ou ricos em fibra (pão, cereais, batata, arroz, legumes, leite, frutas e iogurte) devem ser distribuídos pelas várias refeições do dia (POLO, GALINDO et al. 2009).
Em doentes com alterações ósseas deve ser recomendado a ingestão de alimentos ricos em cálcio, evitar o consumo de quantidades excessivas de proteínas, cafeína, fósforo e sódio pois podem potenciar perdas de cálcio. Não só o cálcio mas também um adequado aporte de vitamina D ajuda a assegurar uma ótima densidade óssea. Doses diárias recomendadas de vitamina D podem ser atingidas pela exposição solar, bem como através de fontes alimentares (POLO, GALINDO et al. 2009).
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3.4.2 Nutrição artificial
A nutrição artificial melhora a qualidade de vida dos doentes e reduz as taxas de mortalidade e morbilidade. Consoante as necessidades nutricionais e o estado clínico do doente, pode recorrer-se à suplementação oral, nutrição entérica e nutrição parentérica. A nutrição artificial deve ser o último escalão da abordagem nutricional, e quando o seu uso é necessário, esta terapia deve ser prescrita precocemente (POLO, GALINDO et al. 2009).
Esta é indicada a todos os doentes desnutridos ou em risco de desnutrição que não podem ou não conseguem alimentar-se corretamente ou quando a alimentação é insuficiente (POLO, GOMES-CANDELA et al. 2007). Doentes com as seguintes características são selecionados para suplementação oral e nutrição entérica (POLO, GOMES-CANDELA et al. 2007):
Doentes que se encontrem levemente desnutridos ou em risco de desnutrição e disfagia (POLO, GALINDO et al. 2009; POLO, GOMES-CANDELA et al. 2007); Doentes com capacidade funcional digestiva suficiente mas com ingestão oral escassa (< 1000kcal e 30g de proteína) (POLO, GALINDO et al. 2009; POLO, GOMES-CANDELA et al. 2007); doentes com infeções oportunistas e tumores, doentes com fraca adesão ao tratamento antirretroviral (POLO, GALINDO et al. 2009); doentes que apresentem má absorção e má digestão. 3.4.3 Suplementação oral
A suplementação oral é recomendada quando a ingestão alimentar per os não é suficiente para suprir as necessidades nutricionais e com a condicionante de um trato gastrointestinal funcional. Existem fórmulas eficazes de multinutrientes que são capazes de aumentar a oferta de macro e micronutrientes e
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melhorar a resposta à terapia (POLO, GOMES-CANDELA et al. 2007).
Alguns estudos mostram vantagens no uso de suplementos de micronutrientes. Existem diversos tipos de suplementos de vitaminas/minerais como as vitaminas A, B, C, E, ferro, zinco, selénio e ácido fólico. Estes retardam a doença de VIH para a SIDA, melhoram a função imunológica e a contagem de linfócitos TCD4+ (FAWZI et al. 2013).
Por outro lado, a suplementação de micronutrientes em doses elevadas e a longo prazo pode trazer efeitos adversos pois aumentam o risco de morte por cancro e doenças cardiovasculares, logo estes suplementos apresentam vantagens apenas a curto prazo (FORRESTER AND SZTAM , 2011).
Foram demonstrados benefícios da suplementação com probióticos no aumento do número de linfócitos TCD4+, na prevenção da diarreia e melhoria da imunidade da mucosa intestinal (COPPINI AND JESUS 2011; FALCO et al. 2012; HEMSWORTH et al. 2012).
Também o uso de vitamina B1e B2 em doses superiores a 5 vezes ou mais do que a ingestão diária recomendada foi associado a uma redução de 40% na mortalidade. Já abaixos níveis de vitamina A estão associados uma progressão mais rápida da doença. Relativamente à suplementação com vitamina C e E parece reduzira carga viral (FAWZI, MSAMANGA et al. 2013).
Estudos dedicados aos níveis de selénio e zinco concluíram que baixos níveis de selénio foram aliados ao aumento do aparecimento de doenças associadas ao VIH. Assim como altos níveis de zinco foram associados à progressão da doença e aumento da mortalidade (FAWZI, MSAMANGA et al. 2013).
Quanto à vitamina D em níveis dentro dos recomendados parece ter um papel importante no atraso da progressão da doença e na prevenção da mortalidade (OCKENGA et al. 2006) .A suplementação com ómega 3 foi comprovada em vários
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estudos que reduz as complicações metabólicas associadas à doença, na redução dos triglicerídeos e aumento do colesterol HDL, reduzindo assim o risco de lipodistrofia e dislipidemias (ADA 2010; COPPINI AND JESUS 2011).
GROBLER et al.(2013), demonstrou que a suplementação com fórmulas de macronutrientes dadas para fornecer energia e/ou proteínas e enriquecidos com micronutrientes, juntamente com aconselhamento nutricional melhorou o consumo de energia e proteína em adultos com perda de peso e portadores de VIH (GROBLER et al. 2013).
Em suma, o uso da suplementação oral em doentes portadores de VIH reduz a perda de peso, melhora a sintomatologia e a qualidade de vida dos doentes (GROBLER, SIEGFRIED et al. 2013). 3.4.4 Nutrição entérica
A nutrição entérica é indicada para doentes que apresentem anorexia grave, desnutrição grave, disfagia, tumores e efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia (POLO, GOMES-CANDELA et al. 2007). A via de acesso e a duração da nutrição entérica dependem da situação clínica do doente. Em doentes que não apresentam disfagia a via oral é a mais indicada. Também a via nasogástrica é aconselhada a doentes com disfagia, em caso de desnutrição que necessitam de quantidades extra e não possa ingerir pela via oral. A escolha da fórmula entérica deve ter em consideração o grau de catabolismo do doente, desordens metabólicas e a função digestiva (COPPINI AND JESUS 2011; POLO, GOMES-CANDELA et al. 2007). É importante salientar que a nutrição entérica pode ser combinada com a alimentação normal e é apropriada em muitos dos casos para otimizar o estado nutricional (OCKENGA, GRIMBLE et al. 2006)
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3.4.5 Nutrição parentérica
A nutrição parentérica é recomendada em doentes que não preenchem os requisitos da nutrição entérica. Em doentes portadores de VIH, com infeções oportunistas que desencadeiam diarreia grave e má-absorção e que a nutrição entérica apenas cobre 75% das necessidades energéticas totais, é indicada a nutrição parentérica. Segundo Polo et al. (2007) as fórmulas parentéricas devem seguir as seguintes recomendações:
Ingestão de calorias: 35 kcal/kg/dia; Ingestão de proteínas: 1,2 g/ kg/dia; Minerais, vitaminas, oligoelementos e água devem ser
administrados numa base individual. 4 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A nutrição vem ganhando o reconhecimento mundial devido à importância da alimentação saudável na promoção da saúde dos indivíduos, que busca diminuir os riscos de doenças e progredir com a melhora do estado nutricional das populações (BRASIL, 2006).
Portanto, é papel do Nutricionista traçar um plano dietético, com o propósito de melhorar o estado nutricional das pessoas que vivem com patologias, montando cardápios diferenciados e que estejam adequados a cada população, a partir do contexto socioeconômico e psicológico, orientando-os a ter uma alimentação balanceada, adequada e que melhore a sua qualidade de vida (BRASIL, 2008). 5 CONCLUSÕES
Em conclusão, a combinação da terapia antirretroviral junto com a terapia nutricional favorece significante melhora do estado de saúde das pessoas que vivem com HIV/AIDS, diminuindo a taxa de mortalidade.
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Nesse contexto, identifica-se a importância da assistência nutricional, contribuindo para um atendimento completo proporcionando mudanças no estilo de vida e comportamento alimentar que irão favorecer a promoção da saúde. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN
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CAPÍTULO 15
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN
Maria Rayssa Silva do NASCIMENTO¹ Yasmin Farias GOMES¹
Leyllianne de Fátima Leal Interaminense de ANDRADE² Germana Montenegro Costa Agra CARVALHO²
Pamela Rodrigues Martins LINS³ ¹ Graduadas em Nutrição, UFPB; ² Professoras do CCS/UFPB; ³Professor Orientador do
CCS/UFPB. [email protected]
RESUMO: A Síndrome de Down (SD) é uma condição humana determinada geneticamente, caracterizada pela presença do cromossomo 21 extra, desencadeando características específicas que implicam diretamente ou indiretamente sob os aspectos nutricionais. Este trabalho tem como objetivo traçar o perfil nutricional de crianças com Síndrome de Down em um centro de referência no município de João Pessoa-PB. Trata-se de um estudo do tipo transversal analítico com abordagem quantitativa. Participaram da pesquisa, vinte crianças na faixa etária de 4 a 10 anos de idade. Os voluntários foram submetidos à avaliação antropométrica e foi aplicado um questionário socioeconômico e Recordatório de 24 horas, respondidos pelos responsáveis dos participantes. Quanto ao diagnóstico do estado nutricional, encontraram-se frequências de excesso de peso de 40% segundo Peso/Idade e 60% segundo IMC/Idade. Conforme o indicador Altura/Idade, 95% apresentaram altura normal para a idade. O consumo calórico médio da população foi de 2092,39 Kcal, valor superior ao recomendado, porém, com consumo de macronutrientes adequado para a maioria da população. Observaram-se baixas ingestões de cálcio, vitamina
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D e fibras e frequências de inadequações baixas para vitamina A, vitamina C e zinco, demonstrando que o consumo desses micronutrientes aproxima-se do adequado. A maioria dos indivíduos foi estratificada nas classes sociais C (75%) e D-E (15), resultados expectáveis, devido à pesquisa ser realizada em um centro de referência público. Palavras-chave: Síndrome de Down. Estado nutricional. Consumo alimentar.
1 INTRODUÇÃO
A Síndrome de Down (SD) é uma condição humana
determinada geneticamente e é considerada a alteração
cromossômica mais comum em humanos, caracterizada pela
presença do cromossomo 21 extra na constituição genética do
indivíduo (BRASIL, 2012).
As Diretrizes de atenção à pessoa com Síndrome de
Down revelam que no Brasil nasce uma criança com SD a cada
600 e 800 nascimentos, independente de etnia, gênero ou
classe social (BRASIL, 2012).
Entre as causas que elevam o risco para o surgimento
da SD na gestação, a idade materna avançada é a mais
importante, devido ao aumento de incidências de alterações
genéticas. Destacam-se ainda outros fatores de risco, como
idade paterna avançada e o nascimento anterior de uma criança
anormalidade cromossômica (GUERRERO; CLARK; SISTO,
2015).
São características comuns nessa população as fissuras
palpebrais oblíquas, membros mais curtos, uma única prega
palmar transversal, tônus muscular pobre, retardo mental e
dificuldades de aprendizagem, dificuldades na mastigação,
problemas de absorção, constipação intestinal, fatores que
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256
levam a predisposição ao sobrepeso e obesidade. (FRAGA et
al, 2015; SIMÕES, 2009).
As cardiopatias congênitas correspondem às
complicações mais frequentes nessa população e está
diretamente associado ao prognóstico e a sobrevida dos
pacientes, comprometendo também o sistema respiratório,
sendo responsável pela maior causa de morbidade e
mortalidade nos primeiros dois anos de vida (VILASBOAS,
ALBERNAZ, COSTA, 2009; BARBOSA, 2012).
Santos, Sousa e Elias (2011), baseados na
antropometria e na anamnese alimentar realizada em
portadores de SD, observaram que a maioria desses indivíduos
possuía risco aumentado para doenças cardiovasculares e
excesso de peso. Esses fatores associados às alterações
metabólicas da própria SD potencializam os agravos da vida
adulta.
A educação alimentar do portador de SD é
extremamente importante para o desenvolvimento adequado,
visto que esses indivíduos possuem preferências por alimentos
extremamente calóricos e ricos em gordura e açúcar (SANTOS,
SOUSA, ELIAS, 2011).
Nesse contexto, considerando a importância do estado
nutricional na qualidade de vida dessa população, esta
pesquisa teve como principal objetivo, traçar o perfil nutricional
de crianças com Síndrome de Down em um centro de referência
em João Pessoa-PB, e, mais especificamente, verificar o
estado nutricional das crianças, analisar o consumo alimentar e
identificar a situação socioeconômica dessa população.
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257
2 MATERIAIS E MÉTODO
O presente trabalho trata-se de um estudo do tipo
transversal analítico com abordagem quantitativa, realizado na
Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência
(FUNAD) localizada na cidade de João Pessoa-PB.
Participaram da pesquisa vinte crianças portadoras de
Síndrome de Down entre a faixa etária de 4 a 10 anos de idade
e de ambos os sexos.
Os voluntários da pesquisa foram submetidos à
avaliação antropométrica e à aplicação de um questionário
socioeconômico e do Recordatório de 24 horas que foram
respondidos pelos responsáveis dos participantes.
O diagnóstico do estado nutricional dos portadores de
SD foi realizado através da avaliação antropométrica, sendo
utilizadas as variáveis de peso, altura, circunferência da cintura.
Para a mensuração do peso, utilizou-se uma balança
eletrônica com graduação de 100g. Os indivíduos estavam
posicionados em pé, com os pés paralelos na base da balança,
descalços e com roupas leves. Para a aferição da estatura
utilizou-se uma fita métrica com precisão de um centímetro, em
uma parede lisa sem rodapé, com o indivíduo em pé descalço,
com os calcanhares juntos, tronco ereto, braços estendidos ao
longo do corpo e o olhar fixo no horizonte e sem adereços na
cabeça (SANTOS; SOUSA; ELIAS, 2011).
A circunferência da cintura foi mensurada com a criança
em posição ortostática, colocando-se sobre a pele uma fita
inelástica graduada em milímetros, no espaço correspondente
à menor circunferência entre a crista ilíaca e o rebordo costal,
no momento da mínima expiração (DAMASCENO et al., 2010).
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258
Foi utilizado um Formulário de avaliação nutricional para
caracterização da criança, com o registro dos dados coletados
referentes à avaliação nutricional e outros dados, como nome
completo, data de nascimento, sexo, idade e nome do
responsável.
Para estimar o consumo de energia e nutrientes foi
utilizado o Recordatório de 24h, cuja aplicação foi realizada com
o responsável da criança, em três dias distintos, com intervalos
de 7 dias entre as entrevistas. Como as crianças eram
atendidas em dias fixos no centro de referência, não foi possível
coletar informações sobre o consumo alimentar do final de
semana, exceto para as crianças que eram atendidas no dia de
segunda feira.
Com o intuito de melhorar a exatidão das porções
ingeridas, utilizou-se o registro fotográfico das porções,
elaborado por Monteiro (2007). As informações foram
analisadas utilizando-se o software de nutrição DIETWIN -
Análise Nutricional (2008). Os resultados foram digitados no
Microsoft Excel XP e posteriormente calculada a média dos três
recordatórios.
Além das informações de identificação pessoal (nome
completo da criança e do responsável), foram coletados dados
sobre a escolaridade do pai e da mãe (fundamental incompleto,
fundamental completo, médio incompleto, médio completo,
ensino superior incompleto, superior completo) e a quantidade
de bens e de empregados na residência, de acordo com a
metodologia da Associação Brasileira das Empresas de
Pesquisa (ABEP) (2015) para determinar a classe econômica
dos adolescentes (A, B, C, D e E).
A análise dos dados antropométricos (peso, altura) dos
voluntários da pesquisa foi interpretada com base na curva de
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crescimento de Cronk et al (1988), relacionando a altura/idade
(A/I) e o peso/idade (P/I) sendo classificada a avaliação
nutricional conforme a Tab. (1). O indicador IMC/Idade foi
interpretado baseado nos percentis para a população infatil
geral e os valores da circunferência da cintura foram de acordo
com percentis do estudo de Fernandez et al (2004).
Tabela 1 – Classificação dos pontos de corte para os valores de altura/idade e peso/idade por percentil para crianças com Síndrome de Down.
PERCENTIL CLASSIFICAÇÃO
< P5 Baixo peso ou baixo para idade
P5 – P95 Eutrofia
> P95 Excesso de peso ou alto para idade
Fonte: SANTOS; SOUSA; ELIAS (2011).
Para análise da adequação das dietas, foram adotadas,
como parâmetro, as recomendações do Institute of Medicine
(IOM) (2000), denominadas como Ingestões Dietéticas de
Referência (Dietary Reference Intakes– DRIs). O valor da
Necessidade Média Estimada (Estimated Average
Requirement- EER) foi utilizado para avaliar o consumo total de
energia em Kcal, e levou-se em consideração variáveis como
idade, sexo, peso, altura e atividade física.
A distribuição percentual dos macronutrientes foi
considerada como adequada de 45 a 65% para carboidratos,
de 10 a 30% para as proteínas, e de 25 a 35% para os lipídeos,
com base na distribuição percentual estabelecida pelas DRIs
(2000), para indivíduos de 4 a 18 anos.
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260
Para adequação de ferro, cálcio, zinco e das vitaminas
A, C, foram utilizados os valores de EAR (2000), enquanto que
para fibras e vitamina D, utilizou-se a estimativa da Ingestão
Adequada (Adequate Intake-AI) (2000), como parâmetro, uma
vez que EARs para esses, ainda não foram estabelecidas. A
determinação da prevalência de inadequação das vitaminas A
e C, bem como cálcio, ferro e zinco, foi determinada pelo
método de abordagem probabilística, que combina a
distribuição das necessidades com base nos valores de EAR e
a distribuição da ingestão em grupos, para o cálculo da
probabilidade de inadequação (SOARES; MAIA, 2013).
Quanto ao questionário socioeconômico, os indivíduos
foram estratificados nas seguintes classes sociais: A, B, C e DE,
conforme a metodologia utilizada pelo Critério de Classificação
Econômica Brasil (2015). Os pontos de corte utilizados foram:
A (de 45 a 100 pontos), B (de 29 a 44), C (de 17 a 28) e DE (de
0 a 16).
Os dados foram, digitados no software Microsoft excel for
Windows 8 e analisados através do programa estatístico
Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 21. Para
análise descritiva das variáveis foram utilizados os
procedimentos estatísticos apropriados, incluindo-se o cálculo
de medidas de tendência central (média e mediana) e de
dispersão (desvio ou erro padrão), intervalo de confiança. Para
as variáveis mensuradas em escala nominal e ordinal foi
utilizada a distribuição de frequências.
As variáveis quantitativas foram testadas quanto à sua
normalidade através do teste Kolmogorov-Smirnov. A análise
de associação entre variáveis categóricas dependentes foi
efetuada mediante aplicação do teste de Qui-quadrado. A
comparação entre médias foi efetuada por meio do teste “t” de
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261
Student e da análise de variância para comparações múltiplas,
quando apropriado. Em todos os casos, os intervalos de
confiança de 95% foram calculados, adotando-se um nível de
significância de 5% para todos os testes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do estudo vinte crianças, compreendendo a
faixa etária de 4 a 10 anos de idade, sendo doze do sexo
masculino (60%). Nesta população, constatou-se que cinco
indivíduos (25%) apresentavam cardiopatia congênita
diagnosticada e nove indivíduos (75%) possuíam compulsão
alimentar relatada pelos responsáveis.
A frequência de cardiopatia congênita na amostra foi
inferior aos encontrados por Bermudez et al (2015) e por
Mourato, Villachan e Mattos (2014), que obtiveram prevalências
de cardiopatia na população com SD de 50% e 81,2%,
respectivamente.
Nesta pesquisa, a presença ou inexistência de
cardiopatia congênita foi quantificada a partir do relato dos
responsáveis dos participantes, podendo, portanto, os valores
terem sido subestimados ou não representativos. Para maior
confiabilidade dos resultados, são necessárias análises mais
seguras, como exames cardiológicos ou coleta de prontuários,
para melhor representar a prevalência desta patologia nesta
população.
No Brasil, a curva de crescimento específica para a
população com SD foi construída por Zan Mustacchi em 2002,
porém, nesse estudo utilizou-se como referência a curva de
Cronk et al (1988) baseada na população americana, visto que
a curva de crescimento brasileira não atinge a faixa etária dos
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262
participantes da pesquisa. Na Tabela 2 está apresentado o
diagnóstico do estado nutricional conforme os indicadores
peso/idade, altura/idade e IMC/idade.
Tabela 2 – Diagnóstico do estado nutricional segundo indicador peso/idade, altura/idade, IMC/ idade, de crianças portadoras de Síndrome de Down em um centro de referência em João Pessoa-PB, 2015.
DIAGNÓSTICO
MASCULINO FEMININO TOTAL
P/I* A/I** IMC/I*** P/I A/I IMC/I P/I A/I IMC/I
N % n % N % N % n % n % N % n % n %
Magreza 1 8,3 2 16,7 - - 1 12,5 - - - - 3 15 1 5 - -
Eutrofia 9 75 10 83,3 6 50 3 37,5 8 100 2 25 9 45 19 95 8 40
Excesso de Peso
2 16,7 - - 6 50 4 50 - - 6 75 8 40 - - 12 60
Total 12 100 12 100 12 100 8 100 8 100 8 100
20 100 20 100 20 100
*P/I= Peso/idade; **A/I= Altura/idade; ***IMC/I= Índice de massa corpórea/idade.
O diagnóstico do estado nutricional dos indivíduos do
estudo, segundo o indicador peso/idade, aponta para maior
prevalência de eutrofia para o sexo masculino e índices de
sobrepeso relativamente elevados para o sexo feminino. Esses
resultados são similares aqueles encontrados por Santos,
Sousa e Elias (2011), onde os indivíduos menores de 18 anos
de idade apresentaram índices inferiores de baixo peso e
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263
excesso de peso (17% para cada classificação) e maior
percentual de eutrofia (66%) para o sexo masculino. No sexo
feminino, 100% da amostra foi classificada como eutrófica,
segundo o mesmo indicador, divergindo dos encontrados nessa
pesquisa para o mesmo sexo.
Quanto ao indicador altura/idade, Santos, Sousa e Elias
(2011), obtiveram como resultados, 83% de normalidade e 17%
de altura elevada para idade para o sexo masculino e 100% de
normalidade para idade para o sexo feminino. Esses achados
são análogos aos desta pesquisa, onde se obtiveram maiores
índices de normalidade para ambos os sexos (83,3% para o
sexo masculino e 100% para o sexo feminino).
Conforme o indicador IMC/idade, observou-se que na
população geral 60% das crianças encontravam-se com
sobrepeso, valor similar ao encontrado no estudo de Venegas
et al (2015), que avaliaram o estado nutricional de 40 crianças
entre 3 e 13 anos de idade e verificou que 60% população
tiveram o mesmo diagnóstico nutricional segundo este
indicador.
Jiménez et al (2015) realizaram estudo no Chile com 79
escolares com SD entre a faixa etária de 6 a 18 anos de idade.
Os resultados obtidos baseados no indicador IMC/idade foram
de 65,7% de sobrepeso/obesidade, convergindo também com
os valores encontrados neste estudo.
Ressalta-se que os valores de referência utilizados foram
baseados na população geral, podendo-se justificar o alto
índice de sobrepeso e obesidade, visto que os indivíduos com
SD possuem particularidades específicas que se diferenciam da
população geral. Sendo assim, torna-se necessário pontos de
cortes de IMC/idade específicos para este público para melhor
representá-los.
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN
264
Quanto ao risco cardiovascular baseado na medida de
circunferência da cintura, os resultados demonstram que uma
parcela importante da amostra (35%) foi classificada como de
risco cardiovascular, conforme a Tab. (3). Esses achados foram
semelhantes aos resultados do estudo de Jiménez et al (2015),
cujo mesmo diagnóstico foi encontrado em 19% da população.
Tabela 3- Classificação dos percentis da circunferência da cintura em crianças portadoras de Síndrome de Down em um centro de referência em João Pessoa, 2015.
PERCENTIL MASCULINO FEMININO TOTAL p**
N % N % N %
0,608 Sem risco
CV* 9 75 5 62,5 13 65
Com risco CV 3 25 3 37,5 7 35 Total 12 100 8 100 20 100
*CV= Cardiovascular; **Qui-quadrado de Pearson.
O excesso de peso, o acúmulo de gordura abdominal e
os elevados índices de cardiopatias na população com SD
aumentam ainda mais as chances de complicações cardíacas
e metabólicas neste público. Logo, a utilização da medida de
circunferência da cintura deve ser uma prática rotineira na
avaliação e no diagnóstico nutricional nesta população.
De acordo com a classificação socioeconômica,
constatou-se que maior parte da população analisada
enquadrava-se na classe social C e D-E, em um número de
quinze crianças (75%) para a classe C e três na classe D-E
(15%), conforme exposto na Tab. (4). Isto pode ser reflexo do
centro de referência utilizado como local da pesquisa, que é de
caráter público, logo, os resultados obtidos eram expectáveis.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) (2006), as famílias pertencentes às classes sociais C2,
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D-E são consideradas famílias de baixa renda. O IBGE afirma
ainda que essas três classes juntas representam 45% dos lares
urbanos brasileiros.Por volta de três quartos das famílias
brasileiras pertencem hoje às classes C, D e E, conforme o
Critério Econômico Brasil.
Tabela 4- Classificação socioeconômica de crianças portadoras de Síndrome de Down em um centro de referência de João Pessoa- PB, 2015.
CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE PORCENTAGEM
A 1 5% B 1 5% C 15 75% D-E 3 15%
A Tabela 5 apresenta os valores de média e desvio
padrão do consumo calórico diário e da EAR, bem como o
percentual de adequação do consumo de acordo com a
recomendação e as frequências dessa adequação na
população. Observa-se que a média do consumo calórico da
população (2092,39 Kcal) foi bastante superior à recomendação
média (1258,91 kcal), sendo a média de adequação encontrada
de 169,56%. A frequência de consumo calórico excessivo
encontrado em 85% da amostra.
Tabela 5 - Média e desvio padrão do consumo de energia segundo a ingestão de Kcal/dia e da Recomendação Média Estimada (EAR), % de Adequação da Ingestão em relação à EAR e frequência de adequação do consumo, segundo insuficiência, adequação e excesso de energia, de crianças portadoras de Síndrome de Down em um centro de referência em João Pessoa-PB, 2015.
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266
Consumo de Energia (Kcal/dia)
Adequação (95 a 105)
Frequência de adequação do Consumo (95 a 105)
Ingestão EAR % Insuficiente Adequado Excessivo
Média ± DP Média ± DP
Média ± DP N (%) N (%) N (%)
2092,39 ± 539,24
1258,91 ±139,48
169,56 ± 49,90
- 3 (15) 17 (85)
Não foram encontrados estudos científicos que
retratassem o consumo energético, de macro e micronutrientes
da população com SD, portanto, os resultados sobre consumo
alimentar deste trabalho foram comparados com trabalhos com
o público infantil geral.
Almeida et al (2015) avaliou o consumo alimentar de 126
estudantes com idades entre 6 e 18 anos. Como resultados,
observaram que a média de consumo calórico das crianças
eutróficas foi de 1.637,9 Kcal e de 1.771,5 Kcal para as crianças
com sobrepeso ou obesidade. Comparando com os resultados
do presente trabalho, observa-se que as crianças com SD
apresentaram consumo calórico superior ao das crianças
saudáveis, incluindo das crianças com possuíam sobrepeso ou
obesidade.
Neste sentido, Santos, Sousa e Elias (2011) descrevem
que este público possui preferências por alimentos
extremamente calóricos e ricos e gorduras e açúcar. Aliando ao
fato de que na amostra estudada, 75% indivíduos possuía
compulsão alimentar relatada pelos responsáveis, pode-se
justificar o alto consumo energético encontrado como resultado.
Na Tabela 6 estão apresentados os valores de média e
desvio padrão do consumo de macronutrientes e a frequência
da adequação. Pode-se verificar que a maioria dos indivíduos
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do estudo apresentaram um consumo habitual adequado dos
macronutrientes.
Tabela 6 - Média, desvio padrão do consumo de macronutrientes e frequência de consumo, segundo insuficiência, adequação e excesso, de crianças portadoras de Síndrome de Down em um centro de referência em João Pessoa-PB, 2015. Consumo de macronutrientes Frequência de Consumo
Ingestão AMDR* Insuficiente Adequado Excessivo
Média ± DP
Intervalo N (%) N (%) N (%)
Carboidratos(%) 58,04 ± 5,87
45 a 65 1 (5) 15 (75) 4 (20)
Proteínas(%) 11,97 ± 2,62
10 a 30 6 (30) 14 (70) -
Lipídeos(%) 30,14 ± 4,51
25 a 35 3 (15) 13 (65) 4 (20)
*Acceptable macronutriente distribuition ranges
Apesar do consumo calórico excessivo, a contribuição
percentual de carboidratos, proteínas e lipídeos para a ingestão
energética foi adequada para a maioria dos indivíduos do
estudo, resultado semelhante aos achados do projeto Estudo
de Risco Cardiovascular em Adolescentes (ERICA). Os
resultados encontrados no projeto ERICA, foram de 54,0% de
carboidratos, 15,0% de proteínas e 31,0% de lipídios para
meninas, e 53,0% de carboidratos, 16,0% de proteínas e 30,0%
de lipídios entre os meninos, sendo estas médias referentes a
todas as macrorregiões (SOUZA et al, 2016).
A tabela 7 demonstra a média, o desvio padrão e a
prevalência de inadequação no consumo da vitamina A,
vitamina C, cálcio, ferro e zinco. Pode-se destacar que o maior
percentual de inadequação foi referente à ingestão de cálcio
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN
268
(72,05%) e que menos de 1% da população teve inadequação
na ingestão de ferro.
Tabela 7–Média, desvio padrão e prevalência de inadequação no consumo dos micronutrientes segundo EAR, de crianças portadoras de Síndrome de Down em um centro de referência em João Pessoa-PB, 2015.
Micronutrientes Média ± DP Frequência de Inadequação (%)
Vitamina A (mcg) 1003,04 ± 669,25 30,53 Vitamina C (mg) 1073,68 ± 1269,37 11,53 Cálcio (mg) 617,55 ± 159,20 72,05 Ferro (mg) 13,10 ± 4,86 0,90 Zinco (mg) 7,03 ± 2,14 30,56
Conforme o exposto na Tab. (8) observa-se que o
consumo médio de fibras e vitamina D foi inferior aos valores de
AI para maioria dos indivíduos, sendo 90% para fibras e 100%
para a vitamina D.
Tabela 8 - Média e desvio padrão do consumo de fibras e vitamina D e frequência de indivíduos com consumo inferior a AI, de crianças portadoras de Síndrome de Down em um centro de referência em João Pessoa-PB, 2015. Ingestão < AI Média ± DP N (%)
Fibras (g) 17,03 ± 6,04 18 (90) Vitamina D (mcg) 2,07 ± 1,33 20 (100)
Silva et al (2010) analisaram o consumo alimentar de 272
crianças de 1 a 8 anos. Para as crianças entre 4 a 8 anos de
idade, obtiveram como resultados, frequências de inadequação
para vitamina A de menos de 20%, 10% de inadequação para
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN
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vitamina C, menos de 40% para ferro e menos de 20% para
zinco.
Bueno et al (2013) avaliou o consumo alimentar de
crianças de escolas públicas e privadas de 2 a 6 anos de idade
e verificaram que mais de 90% das crianças tinham uma
ingestão inadequada de vitamina D e a prevalência da ingestão
inadequada de cálcio foi de aproximadamente 45%. A
prevalência de inadequação encontrada para o ferro foi de
menos de 0,001%, de cálcio entre 40,3% a 48,9% e de vitamina
D de 90,9% a 94,1% .
Os resultados dos estudos citados corroboram com os
achados de consumo de micronutrientes encontrados nesta
pesquisa, onde se obteve como resultados, baixas frequências
de inadequação para vitamina A, vitamina C, zinco e ferro.
Quanto ao baixo consumo de cálcio, sabe-se que a
deficiência desse micronutriente pode acarretar em diversos
malefícios para a saúde, como a osteomalácia, prejuízo no
desenvolvimento e crescimento infantil, além de ser um fator
importante em doenças crônicas, tais como hipertensão arterial
(GALLAGHER, In: MAHAN, STUMP, 2010).
O consumo de vitamina D e fibras da amostra analisada
foi bastante inferior às recomendações, sendo 90% dos
indivíduos com consumo abaixo da AI para o cálcio e 100%
abaixo da AI para a fibras, porém, segundo as DRIS, não pode-
se afirmar que isso é inadequado.
Destaca-se ainda, que a AI de vitamina D para as
crianças de ambos sexos é de 5 µg e o consumo médio do
micronutriente foi de 2,075 µg, estando inferior ao
recomendado. Porém, esses valores são sempre esperados
uma vez que a principal fonte de vitamina D é de origem solar,
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN
270
estando presente em pouca variedade de alimentos
(GALLAGHER, In: MAHAN, STUMP, 2010).
Ressalta-se que a vitamina D tem um papel fundamental
no metabolismo do cálcio e na saúde óssea das crianças.
Acredita-se ainda que ela seja benéfica em doenças não
ósseas, tais como doenças respiratórias, atopia e esquizofrenia.
Existe uma relação clara entre a deficiência de vitamina D e
raquitismo e hipocalcemia neonatal, mas a vitamina D também
facilita a aquisição de massa óssea na infância, justificando
assim, a necessidade de níveis adequados desse nutriente
(WINZENBERG; JONES, 2016).
Quanto ao consumo de fibras, a recomendação atual
segundo a IOM (2002/2005) para crianças de 4 anos é de 25g
e o consumo médio de fibras da população foi de 17,03g.
Consumos baixos de fibras alimentares podem acarretar em
prejuízos para a saúde da criança, incluindo a constipação
intestinal. Faz-se necessário, portanto, ingestão adequada de
fibras, principalmente porque a população com SD já possui
predisposição à complicação intestinal (SIQUEIRA et al, 2015).
4 CONCLUSÕES
Os indivíduos portadores da Síndrome de Down,
igualmente aos outros indivíduos da sociedade, possuem o
direito de assistência à saúde de modo integral e equitativo.
Considerando que a ciência da Nutrição tem papel fundamental
no crescimento e desenvolvimento adequado dos indivíduos,
destaca-se a importância da intervenção e do
acompanhamento nutricional para melhora da qualidade de
vida desta população, visto que os mesmo possuem
características clínicas que afetam o seu estado nutricional.
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN
271
Com isso, esse trabalho dispõe de resultados a cerca do
estado nutricional, do consumo alimentar e da situação
socioeconômica de crianças com Síndrome de Down.
Observou-se que a população estudada apresentou
frequências muito elevadas de excesso de peso, e que, quando
comparados com indicadores da população geral, essas
frequências foram maiores. Constatou-se ainda, que essas
crianças apresentaram consumo calórico acima das
recomendações, porém com proporções de consumo de
macronutrientes adequada, além de baixo consumo de cálcio,
vitamina D e fibras. Quanto à situação socioeconômica, a
maioria dos participantes da pesquisa foram estratificados na
classe social C e D-E, considerados baixa renda.
Devido ao número reduzido de indivíduos na amostra,
não se pode fazer conclusões que representem o perfil
nutricional população com Síndrome de Down em geral, sendo
os resultados representativos para o centro de referência do
local do estudo. Reforça-se ainda, a importância do
desenvolvimento de pesquisas científicas que descoram sobre
fatores nutricionais deste público, a fim de dispor de subsídios
que potencializem o cuidado e intervenção nutricional,
melhorando a qualidade de vida deste público.
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TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
274
CAPÍTULO 16
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABÉTICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE
ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
Martiniano da Silva LIMA 1
Jessica Moreira de CARVALHOS 1
Larissa Maria Gomes DUTRA 2
Suedna Costa da SILVA 3 1 Nutricionistas/UFCG Pós graduandos em nutrição esportiva/FIP; 2 Nutricionista, especialista
em nutrição clínica/Estácio de Sá; Graduanda do curso de nutrição/UFCG.
RESUMO:A diabetes mellitus é uma patologia considerada crônica não transmissível, caracterizada pela deficiência ou ausência da excreção insulina pelas célular beta do pâncreas, interferindo na captação de glicose pelas células. Esta patologia além de interferir no metabolismo dos glicideos, leva consequência também na metabolização de proteína e gorduras. O objetivo deste trabalho foi de relatar a terapia e evolução nutricional de um paciente com quadro clínico de diabetes descompensada, níveis de pressão arterial elevado, anemia ferropriva e sequelas de uma acidente vascular encefálico ao qual o deixou impossibilitade de deglutir, deste modo foi utilizado a terapia de nutrição enteral. Paciente do sexo masculino, 42 anos, internado em um hospital público no brejo paraibano. Foi realizado a avaliação física, clínica e nutricional, para após proceder a formulação do plano alimentar, foi levdo em consideração as recomendações nutricionais para paciente diabético e hierpertenso, como também o protocolo para terapia de nutrição enteral. Com o passar dos dias foi observado a evolução do quadro clínico do paciente, através das alterações bioquímicas demonstrando níveis próximos aos normais do nível de glicose sanguínea,
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
275
pressão arterial sistêmica como também da hemoglobina. Sendo assim, é notório que este acompanhamento repercutiu positivamente no caso clínico. Conlui-se que a terapia nutricional é de extrema importância para o paciente acometido de alteração glicêmica e pressão arterial sistêmica, contribuindo para recuperação. Palavras-chave: Terapia Nutricional Enteral. Evolução
Dietoteráica. Diabetes Mellitus
1 INTRODUÇÃO
O diabetes mellitus é uma síndrome do metabolismo
defeituoso de carboidratos, lipídeos e proteínas e pode ocorrer
de duas formas: falta de produção ou pela falha na utilização da
insulina (GUYTON; HALL.,2011). S. R. P. é acometido pela
segunda forma de diabetes, não-dependente de insulina,
comumente chamada de tipo 2 (DM2). É mais comum,
corresponde entre 90 a 95% de todos os casos de DM e pode
ser ocasionada por um defeito na produção e secreção da
insulina pelo pâncreas produzindo quantidades insuficientes
e/ou por um problema nos receptores, dificultando a sua
utilização. Este último caso é particularmente conhecido como
resistência insulínica. Geralmente ocorre após os 30 anos de
idade, é mais frequente entre os 50 e 60 anos, porém nos
últimos anos tem se notado um grande aumento entre
indivíduos mais jovens (MOHAN, 2012). Conforme Guyton; Hall
(2011) a maior parte da resistência à insulina aparentemente
está relacionada com defeitos na via de sinalização
desencadeada pelo hormônio. O efeito tóxico causado pelo
acúmulo de lipídeos nos tecidos parece estar relacionado com
alterações nesta via. Podemos citar ainda o excesso de
glicocorticoides, excesso de hormônio do crescimento,
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
276
síndrome do ovário policístico e algumas mutações como
interferentes também (GUYTON; HALL, 2011).
Conforme a Angência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), através do regulamento pela Resolução RDC n°
63/2000 define nutrição enteral como alimento para fins
especiais, com ingestão controlada de nuteientes, de forma
isolada ou combinada, de composição quimida definida ou
estimada, para o uso de sondas ou via, industrializada ou
artesanal utilizada exclusivamente ou parcialmente para
substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes
desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais,
em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a
síntese ou manutenção de tecidos, órgãos ou sistema (BRASIL,
2000).
Os principais objetivos da terapia de nutrição enteral é a
manutenção da morfologia e da função do trato gastrointestinal,
a prevenção da translocação bacteriana, como também é uma
terapia que necessita de custo relativamente baixo
(WAITZNBERG, 2009).
Para indicação deste terapia é necessário proceder a
avaliação física nutricional, para qual é necessário verificar se
há risco de desnutrição, principalmente em casos de lesão do
sistema nervoso central, caquexia e câncer, bem como
dificuldade de acesso via oral, é importante o trato
gastrointestinal está funcionante (WAITZNBERG, 2009).
Considerando que o paciente não apresenta condições
orgânicas para se alimentar através da via oral, como também
como medida de assegurar o aperto dietético adequado, foi
considerado a prescrição de consistência líquida por via sonda,
caracterizando a terapia de nutrição enteral.
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
277
Diante da importância da terapia nutricional na
normatização da homeostasia do paciente, objetivou-se relatar
a normatização dos níveis glicêmicos de um paciente recém
estabilizado de um quadro ce cetoacidose biatética através da
terapia de nutrção enteral.
2 MATERIAIS E MÉTODO
O presente trabalho trata-se de um estudo observacional
e descritivo desenvolvido no âmbito de um hospital público de
médio porte localizado na cidade de Guarabira, Paraíba.
A principio foi realizado uma triagem dos pacientes onde
foi observado o prognóstico e o desenvolvimento clínico de
cada um, para assim elegê-lo como caso clínico. Com
consentimento do responsável pelo paciente, como também da
direção do hospital foi escolhifo o paciente identificado por S. R.
P. do sexo masculino de 42 anos, apresentando sequelas do
acidente vascular encefálico, diabetes descompensada,
anemia ferropriva e hipertensão arterial sistêmica.
Foi disponibilizado o prontuário do mesmo, assim como
os exames bioquímicos, também foi realizado um levantamento
do histório clínico, anamnese alimentar e avaliação nutricional
através do método de Mini Avaliação Nutricional (NAN) (tabela
1) previamente adaptada as características do serviço.
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
278
Tabela 1. Mini Avaliação Nutricional Adaptada Mini Avaliação Nutricional (MAN)
Condição Pontuação - IMC: <19 (0); IMC:19 - <21 (1); IMC:21 - < 23 (2) IMC≥23 (3)
- Circunferência do Braço (CB) CB < 21 (0); CB 21 ≤ 22 (0,5); CB>22 (1).
- Circunferência da Panturrilha (CP) CP <31 (0); CP ≥ 31 (1).
- Vive Sozinho Não (0); Sim (1).
- Ingere mais de três medicamentos por dia Sim (0); Não (1)
- Mobilidade
Cama ou cadeira de roda = (0)
É capaz de sair da cama/ cadeira mas não o faz =
(1); Deambula = (2)
- Marcas de pressão ou escaras
Sim (0) ; Não (1)
- Quantas refeições o paciente faz por dia
Uma refeição (0); Duas refeições (1); Três
refeições (2)
- Ingestão proteica
1 Porção de produto lácteo por dia __ sim
__ não
2 ou mais porções de legumes ou ovos por dia __
sim __não
Ingere carne, peixe ou aves diariamente ?
__ sim __ não
Se 0 ou 1 sim (0.0); Se 2 sim (0.5); Se 3 Sim (1)
- Consome 2 ou mais porções de frutas por dia
Sim (1); Não (0)
- Qual a quantidade de líquido consumido por
dia ( 1 copo 240 ml)
Menos de 3 copos (0.0); De 3 a 5 copos (0.5); Mais
de 5 copos (1)
- Forma de alimentação
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
279
Incapaz de comer sem assistência (0);
Dificuldade em se alimentar sozinho (1);
Comer sozinho sem problemas (2) Pontuação Total
Escore de Indicação de Desnutrição:
≥ a 12 pontos ___ Bem Nutrido; 5 a 11.5 pontos _ Risco de
Desnutrição; < 5 pontos ___ Desnutrido Fonte: Vellas et al, 2006.
Após a realização da avaliação nutricional e obtenção
dos dados necessários, realizou-se a intervenção dietética
através de uma conduta dietoterápica ajustando a ingestão de
energético-calorica ao gasto energético, o consumo preteíco de
acordo com a necessidade, sob as considerações dos
regularmentos das diretrizes de nutrição enteral e parenteral, de
forma a adequar a consistência e a via de acesso da dieta.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os achados bioquímicos (tabela 2) S. R.
P. apresenta anemia ferropriva (10g/dl), diabetes mellitus (DM)
descompensada (197mg/dl), através do sinal vital é possível
verificar alteração na pressão arterial (160/10) caracterizando-
o em hipertensão Arterial Sistemica (HAS). Através do Índice de
Massa Corporal (IMC) o mesmo é diagnostico como eutrófico (
21,03kg/m²), contudo ao realizar a NAN foi possível verificar
que o paciente está em risco para desnutrição.
Tabela 2. Dados Bioquímicos
Dados referentes à Bioquímica do paciente
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
280
Medida
bioquímica
Valor de
Referência
29/02/2016 14/03/2016
Hemoglobina 13 – 16g/dl 10g/dl 12,2g/dl
Glicose <120mg/dl 197mg/dl 137mg/dl
Ureia 15 – 45mg/dl 18mg/dl 16mg/dl
creatinina 0,6–1,2 mg/dl 0,9mg/dl 0,58mg/dl
Fonte: Própria
Pressão Arterial Sistemica 160/10 (29/02/2016), 130/80
(14/03/2016).
Foi analisados os medicamentos que fizeram parte da
rotina do devido paciente. Azitomicina, possui retardamento na
absorção quando administrado na presença de alimento,
recomenda-se a administração uma hora antes ou duas horas
após a alimentação. Devido à degradação da azitromicina , que
permanece mais tempo em contato com o pH ácido do
estomago (REIS, 2004). Biguanida apresenta desconforto
gástrico quando ingerido de estomago vazio, desta forma
recomenda-se a administração da medicação logo após a
ingestão de alimentos, proporcionando a diminuição do
desconforto intestinal (REIS, 2004).
Por se tratar de um paciente restrito ao leito, foi
impossibilidade a aferição do peso e altura do mesmo, desta
maneira, foi verificado a altura do joelho e a circunferência do
braço, através de uma fita métrica para posteriormente realizar
a estimatimação do peso e altura através da fórmula de
Chumlea et al (1988). para o cálculo do Índice de Massa
Corporal (IMC). Também foi realizado a Mini Avaliação
Nutricional (MAN), adaptada ao serviço (tabela 3), para a
avaliação do indicador de desnutrição.
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
281
Altura do Joelho (AJ) : 50 cm; Circunferência do Braço
(CB) : 27,5 cm.
Para o cálculo da estatura foi utilizado a formula segundo
o gênero idade e etnia:
71,85 + 1,88 x AJ (cm) = 71,85 + 1,88 x 50 = 1,66m.
Altura Estimada: 1,66 cm
Para o cálculo do peso corporal foi utilizado a equação
segundo o gênero:
(AJ x 1,10) + (CB x 3,07) – 75,81 = (50x 1,10) + (27,5 x
3,07) – 75,81 = 63, 61 kg
63,61 – 4kg (Subtração de 4 kg referente ao edema de
joelho ++) = 59,5kg. Subtração do peso relacionado ao edema
está coerente à Cuppari (2005).
Peso Estimado: 59,5kg
IMC = Peso = 59,5 / 2,75 IMC= 21,03 kg/m² Estado
Nutricional: Adequado.
Para evolução do paciente foi realizado novamente o
aferimento da medida altura do joelho e circunferência do braço
para estimar o peso corporal através da fórmula (AJ X 1,10) +
(CB X 3,07) – 75,81
(50 X 1,10) + (28 X 3,07) – 75,81 Peso Estimado = 55 + 85,96
– 75,81. Peso Estimado = 65,15 – 4kg (Subtração de 4 kg
referente ao edema de joelho ++) = 61,15kg. Diminuição do
peso coerente à Cuppari (2003), associado ao edema.
IMC= Peso/ Altura² = 61,15/ 2,75 IMC= 22,24kg/m² Estado
Nutricional Adequado.
Mini Avaliação Nutricional (adaptada).
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
282
Tabela 3. Mini Avaliação Nutricional Adaptada
Mini Avaliação Nutricional (MAN) Condição Pontuação
29/02/2016
Pontuação
14/03/2016
- IMC: <19 (0); IMC:19 - <21 (1);
IMC:21 - < 23 (2) IMC≥23 (3)
2 2
- Circunferência do Braço
(CB)
CB < 21 (0); CB 21 ≤ 22 (0,5);
CB>22 (1).
1 1
- Circunferência da Panturrilha
(CP)
CP <31 (0); CP ≥ 31 (1).
0 0
- Vive Sozinho
Não (0); Sim (1).
0 0
- Ingere mais de três medicamentos
por dia
Sim (0); Não (1)
1 1
- Mobilidade
Cama ou cadeira de roda = (0)
É capaz de sair da cama/ cadeira mas
não o faz = (1)
Deambula = (2)
0 0
2
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
283
Fonte: Vellas et al, 2006.
- Marcas de pressão ou escaras
Sim (0) ; Não (1)
0 0
- Quantas refeições o paciente faz por
dia
Uma refeição (0); Duas refeições (1);
Três refeições (2)
2 2
- Ingestão proteica
1 Porção de produto lácteo por dia __
sim __ não
2 ou mais porções de legumes ou ovos
por dia __ sim __não
Ingere carne, peixe ou aves diariamente
? __ sim __ não
Se 0 ou 1 sim (0.0); Se 2 sim (0.5);
Se 3 Sim (1)
1 1
- Consome 2 ou mais porções de
frutas por dia
Sim (1); Não (0)
1 1
- Qual a quantidade de líquido
consumido por dia ( 1 copo 240 ml)
Menos de 3 copos (0.0); De 3 a 5 copos
(0.5); Mais de 5 copos (1)
1 1
- Forma de alimentação 0 0
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
284
A partir da contagm dos pontos da mini avaliação
nutricional devido paciente recebe o diagnóstico de risco de
desnutrição.
Cálculo do Gasto Energético Total (GET)
Para o sexo másculo: 66,5 + 13,7x (Peso em kg) +5 x
(altura em cm) – 6,48 x (Idade em anos) = 66,5 + 13,7x64 +5
x 166 – 6,48 x 48
GET = 1462,26 X Fa (acamado) = GET = 1462,26 X
1,2
GET = 1754,71 kcal
Distribuição e adequação:
Carboidrato: 55% 923,59 kcal ( 230,90g) – Adequação 95,7%
Proteína: 20 % 339,53 kcal (84,88g) – Adequação 96,75%
Lipídeos: 25% 441,40 kcal (49,04g) – Adequação 100,62%
Relação Kcal não proteicas/ g de nitrogênio relação =
98,06 – Adequada para paciente estressado. Resultado que
corrobora aos que Waitznberg (2009) preconiza para pacientes
em estado metabólico alterado.
Prescrição dietética (tabela 4).
Incapaz de comer sem assistência (0);
Dificuldade em se alimentar sozinho
(1);
Comer sozinho sem problemas (2)
Pontuação Total 9 9
Escore de Indicação de Desnutrição:
≥ a 12 pontos ___ Bem Nutrido; 5 a 11.5 pontos X
Risco de Desnutrição; < 5 pontos ___ Desnutrido
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
285
A conduta dietoterápica foi realizada conforme as
necessidades energéticas adequando aos alimentos
disponíveis na cozinha dietética.
Tabela 4. Prescição Dietética.
Horário Descrição da Refeição 06:00 Vitamina de Mamão com Aveia e
Albumina Mamão – 01 fatia pequena Leite de soja – 02 colheres de sopa Farinha de aveia – 02 colheres de sopa Albumina – 1 medida Liquidificar e coar
09:00 Vitamina de Banana com Maçã e Aveia
Maçã – 01 unidade pequena Banana – ½ unidade Leite de soja – 2 colheres de sopa Farinha de aveia – 02 colheres de sopa Liquidificar e coar
12:00 Caldo de feijão com Legumes e Arroz
Carne Bovina – 100 gramas Caldo de feijão ou de arroz – 1 copo Arroz cozido – 02 colheres de sopa Ovo cozido – 01 unidade Cenoura cozida – 10 gramas Chuchu cozido – 10 gramas Azeite de oliva – 1 colher de sopa de sobremesa Coar e Liquidificar
15:00 Vitamina de Banana com Maçã e Aveia
Maçã – 01 unidade pequena
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
286
Banana – ½ unidade Leite de soja – 2 colheres de sopa Farinha de aveia – 02 colheres de sopa Liquidificar e coar
18:00 Caldo de feijão com Legumes e Arroz
Carne Bovina – 100 gramas Caldo de feijão ou de arroz – 1 copo Arroz cozido – 02 colheres de sopa Ovo cozido – 01 unidade Cenoura cozida – 10 gramas Chuchu cozido – 10 gramas Azeite de oliva – 1 colher de sopa de sobremesa Coar e Liquidificar
21:00 Suco de Acerola com Aveia Acerola – 1 copo de suco 150 ml Farinha de aveia – 02 colheres de sopa Liquidificar e Coar
00:00 Mingau de Aveia Farinha de aveia – 1 medida Leite de soja – 2 medidas Liquidificar e Coar
Fonte: Própria.
Conforme Cuppari (2014) nem todos os planos
alimentares para pacientes portadores de diabetes mellitus são,
necessariamente restrito em energia, como foi o caso de R. S.
P. pois, apresentando risco desnutrição, conforme a MAN, a
oferta do aporte calório foi o suficiente para garantir a
recuperação do estado nutricional.
Como consequência da anemia ferropriva o estado
metabólico do paciente fica alterado, pois, de acordo com
Grotto (2008), a deficiência orgânica de ferro, provoca
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
287
modificações enzimáticas, evento condicionante ao aumento da
absorção intestinal do ferro que é ingerido pela dieta.
O plano alimentar contemplou nas grandes refeições
alimentos proteicos de fonte animal, pois, em conformidade
com Grotto (2008) e Cozzolino (2012), estes alimentos contém
ferro orgânico (forma heme), sendo proveniente da quebra da
hemoglibina e mioglobina contidas na carne vermelha, assim é
prutende afirmar que esta forma de ferro é melhor absorvida do
que a forma inorgânica. Fato que possivelmente explique o
aumento da hemoglobina na bioquímica sanguínea do paciente
após aplicação do plano dietético.
Os alimentos de fonte vegetal apresentam em sua
composição o ferro inorgânico (ferro não-heme), para exacerbar
a absorção do ferro nesta forma é aconselhável o consumi
concomitante de alimentos fonte de ácido ascórbico (PAIVA;
RONDÓ; SHINIHARA, 2002; COZZOLINO, 2012) contudo, esta
orientação não foi contemplada ao plano alimentar, pois o
paciente estava recuperado do quadro de cetoácidoce
diabética.
Plano alimentar adequado as especifidades atendendo
as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes Mellutus
2015. Ainda conforme com o autor citado no capitulo anteior e
com Mohan (2010) ao quais especificam que um dos objetivos
da terapia nutricional para diabéticos é manter o mais próximo
possível do normal a glicemia, balanceando a ingestão
dietética, conduta que corrobora com Waitznberg (2009), a
alteração glicêmica para próximo da normalidade é verificado
na bioquímica do paciente, onde sua glicemia media 197mg/dl
e após aplicação do plano dietético foi verificado o nível
glicêmico de 137mg/dl, glicemia ainda acima do que é
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
288
recomendado, porém próximo a normalidade, comparado ao
nível anterior à aplicação do plano.
As recomendações para o consumo de sódio é uma das
principais recomendações preconizadas para regulação da
hipentensão arterial sistêmica, a necessidade nutricional de
sódio para seres humanos é de de 1,2g de cloreto de sódio (sal
de cozinha), tem sido definido que 5g de cloreto de sódio (que
corresponde a 2g de sódio) é a quantidade considerada máxima
saudável para ingestão alimentar (WAITZNBERG 2009;
MAHAN, 2010). A dieta prescrita para o paciente contemplou
alimentos com baixo conteúdo de sódio, contribuindo com
eficácia para regulamentação da pressão da arterial.
A adequação de cálcio, potássio e magnésio também
são essenciais para manter o controle da pressão arterial
sistêmica (SILVA; MURA 2010), foi preconizado a seleção e
inserção de alimentos com teores significativos destes
micronutrientes de forma que contribui de forma positiva.
A MAN aborda questões sobre hábitos alimentares,
aspectos mentais e físicos, avaliados por uma escala simples.
Por ser uma ferramenta de baixo custo, não invasiva e de fácil
aplicação pode ser aplicada à beira do leito, torna-se uma
ferramenta de grande importância e vantajosa na utilização da
avaliação nutricional (TIRAPEGUI; RIBEIRO, 2009; DUART,
2007). Deste modo a MAN apresenta uma forma de avaliação
nutricional mais global de forma a ser mais fidedigna por
analisar o indivíduo com um todo, não considerando somento
as medidas antropométricas de peso e altura (GUIGOZ; VELLAS;
GARRY, 1996; GUIGOZ; LAUQUE; VELLAS, 2002).
4 CONCLUSÕES
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
289
Diante do exposto, foi observado o controle das altareções
metabólicas apresentadas pelo paciente até a aplicação do
plano alimentar. Sendo assim, torna evidente a importância da
terapia nutricional inserida de forma adequada para controlar a
patologia de base, como também amenizar os efeitos da
doença secundária. Sendo assim, é considerável que o plano
dietético associado aos cuidados da equipe de enfermagem e
médica contribuiram de forma satisfatória para a evolução
clínica do paciente, o que poderá possibilitar a altar hospitalar e
consequentemente a volta ao convívio familiar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.RDC, nº 63
de julho de 2000. Regulamento Técnico para a Terapia de
Nutrição Enteral. Diário Oficial – República Federativa do
Brasil, Brasília – DF, 6 de julho de 2000. COZZOLINO,S. M. F. BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES. 4ª ed., Manole, São Paulo, 2012 CUPPARI, L. Guia de Nutrição: nutrição clínica no adulto. 2ª ed., Manole, São Paulo, 2005. DUART, A. C. G. Avaliação nutricional – aspectos clínicos e laboratoriais. 1ª ed., Atheneu, 2007. GROTTO, H. Z. W. Metabolismo do ferro: uma revisão sobre os principais mecanismos envolvidos em sua homeostasia. Revista brasileira de hematologia, v.30, n.5, 2008. GUIGOZ, Y.; LAUQUE, S.; VELLAS, B.; Identifying the elderly at risk for malnutrition. The mini nutritional assessment. Clinics in Geriatric Medicine, v.18, n.4, 2002. GUIGOZ, Y.; VELLAS, B.; GARRY, P. J. Assessing the nutrition status of the elderly: the mini nutritional assessment as parto f the geriatric evaluation. Nutrition Reviews, v. 54, n.1, 1996. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP. S, Krause, alimentos, nutrição e dietoterapia. 12 ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2010. PAIVA, A.; RONDÓ, P. H. C. SHINONHARA, G. E. M. Parâmetros para avaliação do estado nutricional do ferro. Revista de Saúde Pública, v.34, n.4, 2000.
TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM PACIENTE DIABETICO HOSPITALIZADO COM SEQUELA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
290
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EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
291
CAPÍTULO 17
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Matheus Silveira da COSTA 1
Yohanna de OLIVEIRA 2
Wlliane Silva SOARES 3 Raquel Suelen Brito da SILVA 4
1 Pós-Graduando em Fitoterapia e Nutrição Esportiva/Faculdade Integrada de Patos; 2 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 3 Pós-
Graduanda em Nutrição Clínica e Funcional/ Faculdade Integrada de Patos; 4 Doutoranda em Educação Física/UFPB.
RESUMO: Nos últimos anos, o acúmulo de evidências científicas sugerindo que a Dieta Cetogênica (DC) pode apresentar papel terapêutico em alguns tipos de patologias tem aumentado. Nesse sentido, objetivou-se com este trabalho analisar a eficácia da DC no tratamento do câncer. Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada através das bases de dados eletrônicas Pubmed, Web of Science, ScienceDirect e Periódicos Capes, no idioma inglês, dos últimos 9 anos, utilizando os termos indexados: ketogenic diet, cancer, metabolism, non toxic cancer therapies. Dos estudos selecionados, 90% observaram um efeito terapêutico positivo no câncer, 90% foram estudos experimentais em ratos e apenas 10% realizados em humanos. Dos 90% experimentais, apenas 10% apresentou efeito terapêutico negativo. Alguns tipos de câncer têm a capacidade de utilizar o metabolismo anaeróbio mesmo na presença de oxigênio. Tendo em vista essa característica, também denominada como Warburg Effect, enxerga-se na dieta cetogênica um potencial em desacelerar o avanço do câncer baseando-se na premissa de que esse tipo de dieta exerce adaptações contrárias ao metabolismo de tal patologia, forçando o organismo a utilização de vias energéticas
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
292
alternativas e inibindo vias glicolíticas favoráveis ao desenvolvimento do câncer. Concluiu-se que a DC exerce efeitos positivos no tratamento de alguns tipos de tumores, especialmente nos tipos glioma e neuroblastoma. Palavras-chave: Dieta cetogênica. Câncer. Glioma.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o acúmulo de evidências científicas
sugerindo que a Dieta Cetogênica (DC) tem um papel
terapêutico em alguns tipos de patologias tem aumentado
(PAOLI et al., 2013). O uso desse tipo de dieta no tratamento
da epilepsia tem sido documentado há algumas décadas e
assim tornando-se cada vez mais conhecida, tendo uma maior
repercussão depois de 1970 quando foi comprovada sua
eficácia no tratamento da obesidade, sendo recentemente
estudada no contexto do câncer (KOSSOFF; RHO, 2009; POFF
et al., 2015).
As DC são caracterizadas por uma redução na
quantidade de carboidrato da dieta (menor que 50g/dia) e um
aumento relativo nas proporções de proteína e gordura, e como
principal desfecho o aumento as concentrações plasmáticas de
corpos cetônicos, o que caracteriza uma resposta metabólica
muito peculiar desse tipo de dieta. O conhecimento sobre os
efeitos metabólicos da dieta cetogênica foi observado
primeiramente no estudo de Owen et al. (1967), no entanto, os
benefícios desse tipo de dieta têm sido reportados desde 1920
(PAOLI, 2014).
Nesse sentido, células cancerosas reprogramam seu
metabolismo utilizando diferentes estratégias para atender as
demandas de energia e o potencial anabólico para manter o
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
293
crescimento e sobrevivência. Compreender os determinantes
moleculares e genéticos desses programas metabólicos é
fundamental para explorá-los com êxito para a terapia
(VAZQUEZ et al., 2013). No câncer, muitas das principais vias
de sinalização oncogênicas convergem na adaptação do
metabolismo celular para suportar o crescimento de células
tumorais e sobrevivência. Algumas dessas alterações também
parecem ser necessárias para a transformação maligna,
portanto, o metabolismo celular alterado deve ser considerado
um marco importante de câncer (WALLACE, 2005).
Consequentemente, alguns tipos de câncer têm a
capacidade de produzir a fermentação do lactato mesmo em
condições aeróbias, fenômeno denominado Warburg Effect,
primeiramente descrito em 1924, pelo pesquisador Otto
Warburg (WOOLF; SCHECK, 2015). O interesse no
metabolismo do câncer tem crescido nas últimas décadas,
pesquisadores apontam diversas causas e consequências
decorrentes desse fenômeno (ALLEN et al., 2014).
Dependência do ciclo da glicose e produção do lactato são dois
pontos chave desse efeito, correlacionado com a capacidade
agressiva e potencial invasivo. Porém, atualmente ainda não
existem terapias efetivas para gerenciar a metástase. Uma vez
que o Efeito Warburg é um fenótipo metastático em destaque,
terapias metabólicas que explorem esse fenômeno podem
oferecer novas opções terapêuticas (KLEMENT; KÄMMERER,
2011).
Tem sido postulado que a DC pode ser útil na exploração
do metabolismo do tumor e do Efeito Warburg (POFF et al.,
2015). Pois, ao contrário das células normais, muitas células
tumorais não podem utilizar de forma eficaz os corpos cetônicos
devido aos seus vários defeitos genéticos e mitocondriais, e
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
294
deve contar com glicose como fonte primária de energia
(SEYFRIED et al., 2003). Os corpos cetônicos podem também
ser tóxicos para algumas células tumorais humanas
(MORSCHER et al., 2015). Assim, reduzindo a disponibilidade
de glicose para células cancerosas e proporcionando corpos
cetônicos como uma fonte alternativa de energia para as células
normais, a DC pode oferecer uma abordagem para a
descontinuidade do Efeito Warburg (WOOLF; SCHECK, 2015).
Diante do exposto, objetivou-se com o presente trabalho
analisar o potencial da eficácia da DC como terapia não tóxica
ao câncer, aliada ou não a outras terapias, forçando o
organismo a utilizar uma fonte energética alternativa na
tentativa de frear o Efeito Warburg, um dos efeitos metabólicos
nefastos provocados pelo câncer que pode acarretar em
complicações cada vez mais graves.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada através
de buscas nas bases de dados eletrônicas Pubmed, Web of
Science, ScienceDirect e Periódicos CAPES, no idioma inglês,
dos últimos 9 anos, utilizando os seguintes termos indexados:
ketogenic diet, cancer, metabolism, non toxic cancer therapies.
Dos 90 artigos pesquisados, 10 foram selecionados para
o desenvolvimento da presente revisão. Foram estabelecidos
como critérios de inclusão: estudos internacionais, no intervalo
de tempo de 2007 a 2016 e trabalhos que obtiveram um efeito
terapêutico positivo ou negativo no câncer, com o intuito de
analisar metodologicamente e constatar o motivo de ambas as
intervenções terem resultados distintos. Como critérios de
exclusão, foram descartados os trabalhos fora do intervalo de
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
295
tempo de 2007 a 2016 e que abordaram a dieta cetogênica em
contextos de outras patologias.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos trabalhos incluídos na revisão, 90% (n=9)
observaram um efeito terapêutico positivo no câncer, sendo
90% (n=9) desses realizados em ratos e apenas 10% (n=1) em
humanos. De todos os artigos presentes na revisão somente
10% (n=1) deles não obteve efeito terapêutico positivo no
câncer, refletindo o baixo número de trabalhos encontrados na
literatura com esse prognóstico. Os principais tipos de câncer
abordados foram glioma e neuroblastoma, expressando em sua
grande maioria resposta positivas frente à DC.
Zhou et al., (2007) mostraram em um estudo
experimental, que adotando a DC obteve-se uma diminuição
significativa no crescimento dos tumores intracerebrais CT-2A
e U87-MG em cerca de 65% e 35% respectivamente, e
aumentou significativamente a sobrevida e saúde quando
comparado ao dos grupos que receberam o padrão de dieta
com baixo teor de gordura e rica em carboidratos. A DC reduziu
os níveis de glicose no plasma, enquanto elevou os níveis de
corpos cetônicos plasmáticos (β-hidroxibutirato). Os autores
explanaram ainda que talvez a regressão dos tumores tenha se
dado ao fato dos mesmos não se adaptarem a utilização dos
corpos cetônicos como fonte de energia.
No experimento de Stafford et al. (2010), os animais
receberam injeções de células intracranianas GL261-luc
bioluminescentes e o crescimento do tumor foi seguido in vivo.
O tratamento com a DC reduziu significativamente a taxa de
crescimento do tumor e prolongou a sobrevivência. Além disso,
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
296
a DC reduziu a produção de espécies reativas de oxigénio em
células tumorais, mostrando uma forte tendência para um
possível efeito neuroprotetor dos corpos cetônicos pelo fato de
neutralizar espécies reativas de oxigênio.
Schmitd et al. (2011) analisaram 16 pacientes com
tumores metastásicos que foram prospostos a aderirem a um
modelo de dieta cetogênica. apenas 5 concluíram o período de
intervenção de 3 meses. Estes 5 e aquele que retomou a
quimioterapia após 6 semanas relataram um melhor estado
emocional avaliado pelo questionário EORTC QLQ-C30 e
menos insônia, enquanto vários outros parâmetros de
qualidade de vida, como constipação e fadiga, permaneceram
estáveis ou pioraram, refletindo a gravidade de tal patologia
pregressa.
Em outro estudo clínico realizado por Rieger et al. (2014),
observaram que a oferta da DC para pacientes acometidos com
câncer pode ser segura, porém essa dieta administrada como
um terapia isolada não apresentou um efeito terapeutico
positivo, concluindo-se dessa forma, que é necessário aliar
outras terapias para alcançar tal efeito.
Morscher et al. (2015), observaram que a DC e/ou
restrição calórica reduziu significativamente o crescimento do
tumor e prolongou a sobrevivência no modelo de xenoenxerto.
A redução do crescimento do neuroblastoma foi correlacionada
com a diminuição das concentrações de glicose no sangue e foi
caracterizada por uma diminuição significativa na Ki-67 e níveis
de H3 fosfo-histona nos grupos de dieta com baixo crescimento
do tumor. A análise de sobrevivência feita dos animais após 22
dias de estudo para os animais recebendo uma dieta padrão
constatou 0% de sobrevivência comparada ao grupo com
restrição calorica + dieta padrão, que foi de 75%, no grupo dieta
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
297
cetogênica isolada 50% e dieta cetogênica + restrição calórica
foi de 100%.
Allen et al. (2013) utilizaram a DC combinada com a
radiação e observaram um crescimento mais lento do tumor em
ambos, NCI-H292 e A549 xenoenxertos, em relação à radiação
isolada. A DC também diminuiu o crescimento tumoral quando
combinado com carboplatina e radiação, relativamente ao
controle. Os tumores dos animais alimentados com uma DC em
combinação com radiação demonstrou aumento em dano
oxidativo mediado por peroxidação lipídica, tal como
determinado por HNE-4, proteínas modificadas, bem como
diminuiu a proliferação tal como avaliado por uma diminuição
imunorreativa do anticorpo PCNA.
Shukla et al. (2014) observaram uma redução do fluxo
glicolítico em células tumorais no tratamento com corpos
cetônicos. Os corpos cetônicos também diminuíram a absorção
de glutamina, conteúdo geral de ATP e a sobrevivência de
várias linhas celulares de câncer pancreático, enquanto houve
a indução de apoptose. A diminuição dos níveis de c-Myc, um
regulador mestre metabólico, e seu recrutamento em
promotores de genes glicolíticos, foram em parte responsáveis
pelo fenótipo metabólico nas células tumorais. Corpos
cetônicos induziram a reprogramação metabólica intracelular
em células de câncer do pâncreas, também conduziram a uma
diminuição significativa da caquexia em modelos de linhas
celulares. Esse ensaio em modelo com ratos de xenoenxerto
confirmou ainda mais o efeito da DC em diminuir o crescimento
do tumor e caquexia.
Abdelwahab et al. (2012) observaram diferença e
significativa na sobrevivência média entre animais alimentados
com dieta padrão (23 dias) contra aqueles alimentados com
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
298
KetoCal (28 dias). Este aumento da sobrevida foi comparável
aos resultados anteriormente relatados obtidos em um
experimento, onde a sobrevida máxima de animais alimentados
com a DC foi de apenas 5 dias a mais do que a sobrevida
máxima de animais com a dieta padrão. Neste relatório, a
sobrevida máxima de animais alimentados com uma dieta
padrão foi de 33 dias, em comparação a 43 dias no grupo
mantido na KetoCal. Um animal na KetoCal isolado foi
aparentemente curado do seu tumor, como evidenciado pela
perda de sinal bioluminescente. No dia 101, o animal foi
colocado de volta na ração padrão para roedores com nenhuma
evidência de reaparecimento do tumor durante mais de 200
dias.
Dang et al. (2015) analisaram ratos que receberam
injeções para induzir o crescimento do tumor do tipo
meduloblastoma. Em seguida, quando o tumor atingiu entre 75
e 100mm, foram divididos em 2 grupos, um grupo recebeu dieta
padrão e o outro recebeu a DC. Posteriormente, quando o
tumor atingiu tamanho > 1000mm, os animais foram
eutanasiados. Constatou-se que a DC não inibiu o crescimento
do tumor nos ensaios realizados, entretanto foi observada uma
redução no peso (9% a 13%) dos ratos alimentados com DC,
diferentemente dos que receberam uma dieta padrão, os quais
tiveram um ganho de peso. Também houve uma redução na
glicose plasmática no grupo com DC quando comparado ao
controle.
Sabe-se que as células malignas expressam altos níveis
de captação de glicose, glicólise e atividade das pentoses
fosfato, mesmo na presença de oxigênio. Este fenótipo
glicolítico tem sido associado ao elevado grau de neoplasias e
pior prognóstico (DE GEUS-OEI et al., 2007). As células
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
299
cancerosas também têm alterações em suas estruturas e
função mitocondrial, resultando num aumento dos níveis de
espécies reativas de oxigênio (POOF et al., 2013). Dessa
maneira, desenvolver abordagens terapêuticas que possibilitem
reverter este fenótipo glicolítico, através de alterações
bioquímicas e/ou farmacológicas, tem-se demonstrado eficaz
na diminuição de metástases e crescimento do tumor
(PORPORATO et al., 2011).
Nessa perspectiva, Stafford et al. (2010) explanam
através de ensaio com ratos utilizando bioluminescência para
acompanhar a progressão do tumor tipo glioma, que a DC pode
retardar significativamente o crescimento deste tumor, evitar
aumento de espécies reativas de oxigênio associados com o
crescimento tumoral e mudança geral da expressão do gene no
tecido afetado para um padrão observado em cérebro normal
(RHO et al., 2004; KIM; RHO, 2008). Quando comparado com
o perfil de expressão no cérebro normal, a DC exerce efeitos
diferentes em tumor cerebral, e parece influenciar genes
específicos envolvidos na regulação dos níveis de espécies
reativas de oxigênio, as quais podem levar à indução da
angiogênese e crescimento tumoral através da regulação de
fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e fator de
indução hipóxia 1 (HIF-1) (WEINBERG; CHANDEL, 2009).
Diferentes mecanismos podem contribuir para o
potencial inibidor do crescimento tumoral da DC e/ou restrição
calórica em células cancerosas observadas nos modelos
apresentados. Uma teoria amplamente aceita é que a forte
dependência da glicólise pelos processos de anabolismo e
produção de energia torna as células cancerosas sensíveis à
diminuição da disponibilidade de glicose no tecido tumoral
hipovascularizado (SEYFRIED et al., 2003). Em comparação às
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
300
células não malignas, as células cancerosas costumam mostrar
reduzida capacidade de adaptação à mudança no fornecimento
de nutrientes induzida pela DC e/ou restrição calórica
(MAROON et al., 2013). Os dados dos presentes estudos sobre
a baixa expressão em células do tumor tipo neuroblastoma
estão em linha com a incapacidade das células cancerosas em
utilizar corpos cetônicos como uma fonte de energia (TISDALE;
BRENNAN, 1983). Além disso, corpos cetônicos podem exercer
efeitos antiproliferativos direto no neuroblastoma (SKINNER et
al., 2009).
Estudos anteriores indicam que muitos tumores,
incluindo tumores cerebrais, são em grande parte incapazes de
metabolizar corpos cetônicos para gerar energia devido às
várias deficiências em uma ou em ambas das principais
enzimas mitocondriais, β-hidroxibutirato desidrogenase (β-
OHBDH) e succinil-CoA: 3-cetoácido CoA-transferase (SCOT)
(SAWAI et al., 2004). As deficiências nestas enzimas, no
entanto, são importantes para o gereciamento do tumor
somente sob condições de restrição calórica, quando os níveis
de glicose são reduzidos, tornando as células a exigirem corpos
cetônicos para fornecerem energia (SEYFRIED et al., 2003).
Shukla et al. (2014) constataram que corpos cetônicos
diminuíram a expressão de c-Myc e a sua função como
promotor de genes glicolíticos. O C-Myc é um importante
regulador do crescimento e proliferação celular. Dentre células
transformadas, a c-Myc aumenta a expressão dos genes
glicolíticos de GLUT1, Ldha e ENO1. A c-Myc é considerada um
alvo terapêutico atrativo devido ao seu papel em modular o
metabolismo celular, a iniciação do tumor e crescimento em
uma variedade de tipos de câncer (GORDAN; THOMPSON;
SIMON, 2007).
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
301
Por isso, reduzir a expressão de c-Myc por corpos
cetônicos pode contribuir para os efeitos inibidores do
crescimento dos corpos cetônicos no câncer de pâncreas.
Anteriormente, foi relatado que a inibição de c-Myc leva à
regressão do câncer de pulmão, câncer de bexiga e do câncer
de pâncreas (SOUCEK et al., 2008; JEONG et al., 2014; LU et
al., 2011).
Dang et al. (2015), expuseram o único trabalho existente
na presente revisão que não apresentou efeito terapêutico
positivo, talvez por não associar a DC com a restrição calórica,
o que faz com que ocorra uma redução brusca dos níveis de
glicose plasmática e, consequentemente, redução da atividade
glicolítica e também dos níveis de proteínas-chave na terapia
através da DC, diferentemente do que se observa isoladamente
na utilização dessa terapia, mostrando apenas discreta redução
desses marcadores (SEYFRIED et al., 2003; SAWAI et al.,
2004). Outros fatores também podem afetar a eficácia da DC
sobre o seu potencial terapêutico no câncer, como o tipo de
tumor, estágio de comprometimento e modelo de DC proposto.
Em outro estudo realizado com humanos acometidos por
vários tipos de tumores, propôs um novo marcador, o
transketolase like - 1 (TKTL1) para análise da progressão do
Efeito Warburg, e para relação com tal, tem sido proposto que
esse novo marcador é responsável pela alteração do
metabolismo do câncer, fazendo com que as células consumam
cada vez mais glicose ao invés de oxidação de gorduras.
Embora o estudo não tenha como objetivo validar tal hipótese,
os resultados obtidos sugerem que há uma ligação positiva
entre a expressão de TKTL1 e a progressão do câncer e uma
ligação negativa entre a dieta cetogênica e a expressão de
TKTL1. Entretanto, ainda são necessários mais estudos clínicos
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
302
randomizados, com uma rigoroso desenho metodológico para
validar esse marcador (JANSEN; WALACH, 2016).
Uma meta-análise realizada por Klement et al. (2016), os
resultados corroboram com os dados aqui apresentados. Nesse
estudo foi exposto que, o tempo de iniciar a dieta e a localização
do tumor influenciam o tempo de sobrevivência dos animais e
que a restrição calórica aliada a DC pontencializa o seu efeito
benéfico, sugerindo que estudos futuros devem observar a
eficácia da DC no tratamento do câncer quanto ao seu tempo
de iniciação.
No estudo de Poff et al. (2013), os pesquisadores
utilizaram um protocolo que contempalava a utilização de DC +
oxigenoterapia e obtiveram resultados mais satisfatórios do que
DC isolada. Já no estudo posterior de Poff et al. (2015), o grupo
empregou um protocolo semelhante, mas com a adição de
suplementação de corpos cetônicos, de modo que se utilizou
DC + oxigenoterapia + suplementação cetônica, encontrando
resultados de magnitude superior ao estudo prévio quando
observados parâmetros como regressão do tumor e tempo de
sobrevivência. Outros estudos que também utilizaram terapias
não tóxicas conjugadas na busca de tratamentos eficazes no
câncer tiveram resultados mais expressivos que terapias
isoladas.
Dessa maneira, deixando a entender que as futuras
pesquisas devem trabalhar na perspectiva de observar os
efeitos sinergísticos entre as abordagens utilizadas com essa
finalidade. Terapias conjugadas demostrando um efeito de
magnitude superior a terapia isolada. Assim, deve-se olhar o
tratamento dessa patologia, como sendo um tratamento
multicomponente e de carater dinâmico, para abordar com mais
ferramentas possíveis esse quadro, buscando sempre frear
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
303
esse metabolismo (ALLEN et al., 2013; ABDELWAHAB et al.,
2012; MARSH; MUKHERJEE; SEYFRIED, 2008).
4 CONCLUSÕES
O presente trabalho expõe grande parte dos estudos
realizados em modelo animal, o que reflete a carência de
estudos clínicos nessa linha de pesquisa, e que enfatiza a
necessidade e dificuldade de trabalhos abordando melhor essa
população para que futuramente seja possível elucidar o papel
desse tipo de dieta no câncer e entender qual o efeito que a
limitação ou a ingestão de carboidratos exerce, proporcionando
uma aplicabilidade clínica segura.
A dieta cetogênica exerce efeitos positivos no tratamento
de alguns tipos de tumores, especialmente nos tipos glioma e
neuroblastoma, os quais são abordados com mais frequência,
devido mostrarem-se mais responsivos ao tratamento com a
DC. O grande número de modelos animais reflete a dificuldade
da adesão à dieta, devido à drástica redução na quantidade de
carboidratos necessários para que o organismo entre em
cetose e posterior adaptação à utilização de corpos cetônicos
como energia, já que os modelos animais permitem um maior
controle dos hábitos que possam interferir nas variáveis
estudadas, permitindo a realização de análises que não seriam
possíveis em humanos devido ao grau invasivo de tais
procedimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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EFEITOS TERAPÊUTICOS DA DIETA CETOGÊNICA NO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
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PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
307
CAPÍTULO 18
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
Nadjeanny Ingrid Galdino GOMES 1
Yohanna de OLIVEIRA 2
Christiane Carmem Costa do NASCIMENTO 3 Caroline Severo de ASSIS 4
Rafaella Cristhine Pordeus LUNA5
1 Graduada em Nutrição/UFPB; 2 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 3 Mestre em Ciências da Nutrição/UFPB; 4 Pós-Graduanda em Nutrição
Clínica e Funcional/Faculdade Integrada de Patos; 5 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB.
RESUMO: A paralisia cerebral pode ser causada por diversos fatores, como hemorragias, falta de oxigênio no cérebro, traumatismo, infecções, nascimento prematuro entre outros, que não proporcionam a melhoria deste quadro, causando graves limitações ao portador e que podem contribuir para a instalação de um quadro de desnutrição. Objetivou-se com este estudo avaliar o estado nutricional, o consumo alimentar e fatores que podem influenciar no estado nutricional de um paciente com paralisia cerebral. Tratou-se de um caso clínico, com levantamento de dados e abordagem quantitativa, que utilizou por variante a análise do consumo alimentar, exames bioquímicos e nutricionais de um paciente adolescente apresentando PC. No paciente analisado verificou-se que houve acréscimo do peso de 7%, altura 3%; IMC 2%; circunferência do braço 7%. Em relação às dobras cutâneas, não ocorreram diferenças entre a DCB e DCA; no entanto nas DCT e DCSE observou-se elevação de 25% das dobras citadas. Dentre os exames analisados, alguns marcadores bioquímicos chegaram aos níveis normais, outros se elevaram, porém não chegaram ao desejado, enquanto o triglicerídeo
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
308
aumentou passando dos níveis normais. Concluiu-se que o paciente respondeu bem a conduta dietoterápica, conseguindo normalizar alguns valores bioquímicos, hematológicos e antropométricos, ocorrendo uma pequena evolução no quadro, o que torna expressivo o empenho da genitora em realizar a dieta corretamente para o filho, com intuito de reverter à desnutrição. Palavras-chave: Paralisia cerebral. Desnutrição grave.
Adolescentes.
1 INTRODUÇÃO
A Paralisia Cerebral (PC) afeta aproximadamente dois
em cada 1000 indivíduos, sendo esse o problema mais comum
de desenvolvimento nas crianças. Muitas crianças com PC
sofrem alterações que resultam de lesão cerebral, as quais
incluem problemas de cognição, comunicação, percepção,
atenção, concentração, dificuldadesde se locomover,
sensoriais, na fala, em triturar os alimentos podendo assim levar
a desnutrição (ROTTA, 2002).
A desnutrição presente em indivíduos com PC tem várias
causas, sendo especialmente devida ao estado de
hipermetabolismo resultante da inflamação pancreática e da
ingestão de alimentos. A sintofobia, medo de alimentar-se, é
observada também em pacientes com alterações avançadas.
Estudos realizados ao longo dos anos têm demonstrado
elevada freqüência de desnutrição em crianças e adolescentes
com PC devido às dificuldades para se alimentar sendo o
acompanhamento do estado nutricional um importante
indicador para acompanhar o crescimento e desenvolvimento
(SOUZA et al., 2011).
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
309
A PC pode ser causada por hemorragias, deficiência na
circulação cerebral ou falta de oxigênio no cérebro,
traumatismo, infecções, nascimento prematuro ou icterícia
grave neonatal. Essa deficiência não agrava, não progride, mas
causa limites graves ao afetado e ocorre devido a desordens no
desenvolvimento do controle motor e da postura, como
resultado de uma lesão não progressiva no desenvolvimento do
sistema nervoso central, essa lesão pode ocorrer no
nascimento, anteriormente ou no período que se segue
(VIVONE et al., 2007).
Quanto a desnutrição que é um dos fatores presente em
crianças com PC, esta é ainda, um problema do mundo atual,
onde os principais fatores são sociais, econônomicos,
biológicos e ambientais. As causa primárias da desnutrição é
proveniente de uma alimentação quantitativa ou
qualitativamente insuficiente, as secundárias ocorrem devido a
anormalidades dos nutrientes ingeridos, como digestão
insuficiente, má absorção, utilização inadequada, excesso de
perdas, desmame precoce, renda e disponibilidade de
alimentos (CAMPOS; KENT-SMITH; SANTOS, 2007).
A desnutrição afeta todos os sistemas e orgãos das
crianças gravemente desnutridas, todos os processos do
organismo entram em uma redução funcional adaptativa como
estratégia para garantir a sobrevivência levando a redução do
metabolismo basal. Os orgãos e sistemas são seriamente
afetados levando a alterações nas suas funções, como o fígado
onde ocorrerá uma redução na síntese de proteína e da
gliconeogênese, nos músculos onde haverá perda de massa
muscular esquelética e lisa, se instalando a magreza
acentuada, e baixa resposta do sistema imunológico podendo
levar a infecções (FRAGA; VARELA, 2012).
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
310
A alimentação é um importante fator para combater a
desnutrição de etiologia primária, secundária, ou mista como
ocorre em decorrência da PC. Essa alimentação deverá suprir
todas as necessidades que o organismo necessitará e deste
modo com um tratamento adequado e extensivo serão obtidos
resultados positivos (MONTE, 2000).
Portanto, este trabalho objetivou avaliar o estado
nutricional, analisar o consumo alimentar e descrever os fatores
que podem influenciar no estado nutricional de um paciente
com PC.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Tratou-se de um estudo de caso clínico, com
levantamento de dados e abordagem quantitativa, que utilizou
por variante a análise do consumo alimentar, exames
bioquímicos e nutricionais de um paciente apresentando PC e
desnutrição em seu período de adolescência, do sexo
masculino, com 12 anos de idade.
Realizou-se 04 visitas domiciliares em intervalos de 02
meses. Para a análise de dados do presente estudo foram
utilizados os dados referentes aos valores de consumo
alimentar, bioquímico e nutricional.
Primeiramente, para a realização do caso clínico, foram
realizadas visitas domiciliares para coleta das medidas
antropométricas de peso, altura, circunferência do braço,
dobras cutâneas e cálculo do índice de massa corporal (IMC).
Em seguida foram solicitados os exames laboratoriais
pertinentes, cujos resultados foram apresentados na visita
subseqüente. Logo após, no período de 15 dias, foi realizada a
segunda visita para realização do Recordatório 24h (R24h).
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
311
Novamente após 15 dias, foi realizada a terceira visita, sendo
entregue uma conduta dietoterápica ao responsável pelo
paciente e realizada orientação sobre a implementação da
mesma. Após o prazo de 20 dias, da entrega da conduta, foi
realizada uma nova visita para novamente aferir o estado
nutricional do paciente, aplicar um segundo recordatório
alimentar e realizar novos exames bioquímicos.
Para a mensuração do peso, foi utilizada uma balança
antropométrica digital de marca Filizola (Indústria Flizola S.A. –
Brasil), com capacidade de até 150 Kg e precisão de 100 g. A
genitora foi pesada vestida, com roupa leve e sem sapato, sem
objeto algum nos bolsos ou nas mãos, e sem adornos na
cabeça, posicionada no centro da balança, ereta, com os pés
juntos e os braços estendidos ao longo do corpo (KAC;
SICHIERI; GIGANTE, 2007). O paciente foi pesado nos braços
de sua mãe, sendo o peso do mesmo calculado a partir da
subtração do peso da mãe.
Para tomada de medida da altura, utilizou-se a estatura
recumbente, o paciente ficou em posição supina e com leito
horizontal completo. Marcou-se o lençol na altura da
extremidade da cabeça e da base do pé no lado direito com
auxilio de um triângulo, mediu-se a distância entre as marcas
utilizando uma fita métrica (GRAY et al., 1985).
O indicador utilizado para avaliar o estado nutricional foi
o IMC, calculado a partir da razão entre o peso do paciente em
quilogramas e o quadrado de sua altura em metros, que seguiu
a classificação da WHO (2007).
Para verificar a circunferência do braço, flexionou o braço
do paciente a ser avaliado, formando um ângulo de 90 graus,
localizando o ponto médio entre o acrômio e o olecrano, o braço
ficou estendido ao longo do corpo com a palma da mão voltada
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
312
para a coxa, contornando com fita flexível no ponto marcado de
forma ajustada evitando a compressão da pele ou folga
conforme descrito por Lopes; Oliveira; Bleil (2008).
Para verificar as dobras cutâneas biciptal, triciptal,
abdominal e subescapular do paciente, segurou-se a prega
formada pela pele e tecido adiposo com os dedos polegar e
indicador da mão esquerda a 1 cm do ponto marcado, os dedos
continuaram na prega até o término da aferição, a leitura foi
realizada no milímetro mais próximos, conforme descrito por
Lopes; Oliveira; Bleil (2008).
O recordatório foi aplicado, duas vezes, no intervalo de
quinze dias contemplando um dia de final de semana. Para
preenchimento do R24h, a responsável pelo paciente citou
dados que incluem: hora, identificação do alimento ou bebidas
consumidas; as características detalhadas dos alimentos como
o tipo, ingredientes que compõem as preparações, marca,
forma de preparo e identificação da quantidade consumida, de
acordo com a porção e medida caseira.
Utilizou-se um álbum de desenhos de alimentos com
medidas caseiras nas três dimensões (pequena, média, grande
e extragrande), desenhados com base no peso real do
consumo médio de alimentos validados para a população de
João Pessoa, com o objetivo de quantificar de forma mais eficaz
o tamanho das porções consumidas, minimizando prováveis
deficiências de memória dos indivíduos entrevistados (LIMA et
al., 2008; ASCIUTTI et al., 2005; GIBSON, 1990).
Foram solicitados exames bioquímicos, tais como
hemograma completo (hemoglobina, hemácias, hematócrito e
leucócitos), glicemia, colesterol total, triglicerídeos, ferro sérico,
albumina, uréia, creatinina, para acompanhar a evolução
bioquímica e imunológica. Tais exames foram realizados em
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
313
laboratório particular, seguindo o protocolo de jejum durante 12
horas.
A conduta dietoterápica oferecida foi prescrita com base
na capacidade de ingestão e mastigação do paciente, nos
alimentos disponíveis a todos da família, tentando assim corrigir
passo a passo a desnutrição. Logo, a dieta recomendada
possui alimentos que corrigirá a alimentação inadequada e
auxiliará na estabilização dos valores anormais dos exames
bioquímicos e hematológicos, contribuindo no tratamento de
desnutrição e da constipação, pois contém alimentos ricos em
fibras, ferro, cálcio, vitamina A, ácidos graxos
monoinsaturadose suplementos alimentares (VASCONCELOS
et al., 2011).
Para o cálculo das necessidades calóricas do paciente
foi utilizado à fórmula de Harris; Benedict (1919) indicada para
adolescentes, utilizando percentil 15 para peso/idade, sendo
ofertada uma dieta com um valor calórico de 1.327,94 kcal,
distribuídos em 55% carboidrato, 17% proteína e 28% lipídeos.
A dieta foi fracionada em seis refeições em quantidades
adequadas para melhor distribuição das calorias durante o dia.
O protocolo de pesquisa do projeto intitulado “Paralisia
cerebral e desnutrição grave: Um estudo de caso com foco na
nutrição”, ao qual está vinculado o presente trabalho foi
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPB, sob o nº
55957116.9.0000.5181 do CAAE , segundo as normas éticas
para pesquisa envolvendo seres humanos, constantes da
Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho
Nacional da Saúde/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.
Portanto, para que fosse válida a participação do
paciente na pesquisa a genitora deu o seu consentimento
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
314
mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
Os dados do estado nutricional do paciente foram
comparados entre si e os demais dados hematológicos e
bioquímicos foram comparados aos valores de referência antes
da conduta dietoterápica e após a orientação nutricional
prescrita.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observam-se na Tabela (1), as características gerais do
paciente participante do caso clínico antes e depois da
orientação nutricional.
Tabela 1. Características gerais do paciente diagnosticado com PC e Desnutrição.
Variáveis Antes da
Orientação Depois da Orientação
IDADE (anos) 12 12 PESO (kg) 14 15 ALTURA (m) IMC (kg/m²) C/B (cm) DCB (mm) DCT (mm) DCSE (mm) DCA (mm)
1,11 11,38
13 4 3 3 3
1,14 11,53
14 4 4 4 3
Fonte: GOMES et al. (2016).
Verificou-se que houve evolução quanto ao peso, altura,
IMC e circunferência do braço. Em relação às dobras cutâneas,
não ocorreram diferenças quanto as DCB e DCA; no entanto no
que se refere às DCT e DCSE observou-se elevação de 25%.
Logo após vinte dias da consulta com orientação nutricional,
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
315
observou-se que houve melhora do estado de depleção do
paciente.
Tendo em vista que o IMC/idade de acordo com percentil
50 (P50) para o participante seria de 17,5 kg/m², peso/idade o
P50 seria de 40 kg, já a estatura/idade o P50 seria de 1,49 m,
observa-se que devido à desnutrição e PC todos esses
parâmetros estão alterados no paciente. De acordo com o
estudo de Araújo; Silva (2013), distúrbios de crescimento e
nutrição são freqüentes em crianças com PC e essas
deficiências nutricionais podem somar prejuízos no
desenvolvimento motor e cognitivo, na socialização e na função
psicológica.
Na Tabela (2), estão descritos os exames bioquímicos e
hematológicos do paciente, realizados antes e após a
orientação nutricional. Observa-se que os valores de leucócitos,
neutrófilos, linfócitos típicos e atípicos, ferro sérico,
triglicerídeos, colesterol total, colesterol LDL, albumina e
creatinina, encontram-se alterados antes da conduta. Porém,
após a orientação, os valores de leucócitos, triglicerídeos,
colesterol total, colesterol HDL e albumina ainda encontravam-
se alterados.
Verificou-se alterações e normalizações de alguns
marcadores bioquímicos, antes e depois da orientação
nutricional. Tendo em vista que os valores de hemoglobina e
hematócrito antes da consulta nutricional encontravam-se no
limite da faixa de normalidade, e que após a adoção da nova
conduta houve melhora nesses marcadores, considera-se que
foi relevante a evolução do paciente devido à presença da
anemia.
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
316
Tabela 2. Exames bioquímicos do paciente diagnosticado com PC e Desnutrição antes e após a orientação nutricional.
Exame Antes da Orientação
Depois da Orientação
Valor de Referência
HEMÁCIAS (milh/mL)
4,1 4,1 3,9 – 5,3
HEMOGLOBINA (g/dL)
12,1 12,7 12,0 – 15,6
HEMATÓCRITOS (%)
36,9 40,5 36 – 48
LEUCÓCITOS (mm³) 4.000 4.250 4.500 – 12.000 NEUTRÓFILOS
(mm³) 32 41,3 40 - 70
LINFÓCITOS TÍPICOS (mm³)
52 50 25 - 50
LINFÓCITOS ATÍPICOS (mm³)
5 0 0
MONÓCITOS (mm³) 6 5,4 2 - 10 PLAQUETAS (mm³) 262.000 292.000 150 – 450.000
FERRO SÉRICO (ug/dL)
190 71 65 – 170
TRIGLICERÍDEOS (mg/dL)
31 164 35 – 150
COLESTEROL TOTAL (mg/dL)
187 170 150
COLESTEROL HDL (mg/dL)
35 29 ≥35
COLESTEROL VLDL (mg/dL)
6 10 Até 40
COLESTEROL LDL (mg/dL)
146 108 < 110
ALBUMINA (mg/dL) 2,5 2,7 3,5 – 5,2 URÉIA (mg/dL) 27 20 15 - 40 CREATININA
(mg/dL) 0,31 0,5 0,42 – 0,71
GLICOSE (mg/dL) 88 80 70 - 99
Fonte: GOMES et al. (2016).
Dentre os exames, também foram analisados os
triglicerídeos (TG) antes e após a orientação, observando-se
elevação um pouco além do limite superior dos valores de
referência após a adesão da nova conduta, no entanto antes da
conduta esses valores se encontravam reduzidos, sendo uma
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
317
das características da desnutrição. Os valores de colesterol
total (CT) e de LDL-C diminuíram após a conduta. Já os valores
de VLDL aumentaram em níveis consideráveis após a conduta,
porém ainda situam-se na faixa dos valores de referência. Vale
ressaltar que o paciente não seguiu de maneira correta a
conduta nutricional adequada e orientada.
Segundo Alves et al. (2004), dislipidemia é um quadro
clínico caracterizado por concentrações anormais de lipídios no
sangue. Sabe-se que a dislipidemia é determinada por fatores
genéticos e ambientais. Evidências acumuladas ao longo de
várias décadas, inclusive epidemiológicas, metabólicas e
clínicas, demonstraram que níveis elevados de colesterol total,
colesterol LDL e triglicerídeos estão correlacionados com maior
incidência de hiperlipidemia.
Em relação aos leucócitos, neutrófilos e plaquetas os
valores aumentaram após a conduta dietoterápica, através da
inclusão de frutas, verduras e cereais, além de alimentos-fonte
de cálcio, ferro e vitamina A, bem como suplementos como o
Nutren active que fornece macro e micronutrientes de acordo
com suas necessidades diárias e a maltodextrina que oferta a
glicose necessária para fornecer energia, melhorando aos
poucos a imunidade o que torna o organismo mais resistente
aos invasores, como bactérias, vírus ou fungos e as plaquetas
em seus valores de referência evitam possíveis hemorragias,
entretanto os leucócitos não chegaram aos níveis normais,
classificando o paciente a partir dos exames bioquímicos com
leucopenia (MACÊDO et al., 2010).
Os valores de albumina também foram avaliados por sua
importância na avaliação do estado nutricional de paciente
desnutrido, pois sua deficiência compromete a síntese das
proteínas (COSTA et al., 2009). Antes da conduta nutricional os
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
318
valores de albumina encontrava-se em concentrações baixas,
contudo após a adoção da nova conduta elevou-se em pequena
quantidade, porém não alcançou o nível desejável.
Os valores de uréia situaram-se na faixa dos valores de
referência antes e após a conduta, os valores de creatinina por
sua vez, antes da nova conduta nutricional, situaram-se abaixo
da referência, mas posteriormente a conduta, seus níveis
aumentaram e se normalizaram.
Segundo Costa et al. (2009), os níveis anormais de uréia
estão relacionados a insuficiência renal, desidratação, febre,
catabolismo protéico excessivo, ingestão protéica baixa,
desnutrição entre outros. Enquanto a creatinina quando em
níveis baixos está associada com maior risco de mortalidade,
aumento da insuficiência renal aguda e crônica e dano
muscular.
As complicações clínico-metabólicas mais freqüentes da
desnutrição energético-proteica são hipoglicemia, hipotermia,
desidratação e diarréia (FALBO; ALVES, 2002). As variações
dos níveis glicêmicos ocorrem devido à maior produção de
glicose a partir de outras vias metabólicas, redução da síntese
de insulina, estímulo à produção do glucagon e aumento da
epinefrina circulante. Como os estoques de glicogênio são
consumidos rapidamente, o organismo passa a produzir glicose
por meio de aminoácidos livres e glicerol proveniente dos
ácidos graxos, aumentando a neoglicogênese. Com a
intensificação dessas vias alternativas de produção de glicose
e a redução crescente dos estoques de macronutrientes, torna-
se difícil a manutenção adequada dos níveis séricos de glicose,
levando a um quadro de hipoglicemia (LIMA; GAMALLO;
OLIVEIRA, 2010), entretanto, a glicemia avaliada do paciente
encontrava-se em níveis satisfatórios antes e depois da conduta
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
319
nutricional, logo como mostra a Tab. (2), o paciente não
apresentou nenhum quadro de hiperglicemia e/ou hipoglicemia.
Na Tabela (3), encontram-se descritos os alimentos
consumidos pelo paciente com base no recordatório de 24
horas aplicado a genitora do mesmo antes da intervenção
nutricional, onde observa-se a ausência de frutas e vegetais
crus e a inclusão de alimentos constipantes e ricos em
gorduras.
Tabela 3. Recordatório de 24 horas do paciente diagnosticado com PC e Desnutrição antes da orientação nutricional.
REFEIÇÕES/HORÁRIO
ALIMENTO/INGREDIENTES GRAMAS/ML
DESJEJUM 10:00 MINGAU: FARINHA LÁCTEA
350 36
MUCILON 30
ALMOÇO 13:00 LANCHE 16:00 JANTAR 19:30
BISCOITO MAIZENA LEITE EM PÓ INTEGRAL
FEIJÃO MULATINHO MACARRÃO
FRANGO COZIDO BATATA INGLESA COZIDA
CENOURA COZIDA JERIMUM COZIDO CHUCHU COZIDO
ÁGUA
IOGURTE INTEG. FRUTAS
MINGAU:
FARINHA LÁCTEA MUCILON
BISCOITO MAIZENA LEITE EM PÓ INTEGRAL
36 56
148 54 88 43 20 30 27
125
240
350 36 30 36 56
Fonte: GOMES et al. (2016).
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
320
Quanto ao consumo alimentar, observou-se no R24h,
avaliado antes da conduta recomendada, o consumo de
alimentos pobre em vitaminas e minerais e ricos em açúcares
simples e alimentos constipantes, sendo esses não
recomendados para o paciente por possuir dificuldade para
evacuar, como também alimentos ricos em gorduras saturadas,
desde leite integral que segundo a genitora o consumo maior
era de leite de vaca de fazenda, o que possivelmente contribuiu
para o aumento do colesterol junto ao integral, o iogurte de
frutas também consumido pelo paciente possuindo teores de
gordura e açúcares significantes, não consumindo nenhum tipo
de gordura monoinsaturadas ou poliinsaturadas o que ajudaria
no controle do colesterol LDL e do HDL, além de não conter
fibras solúveis e insolúveis, presentes em frutas, verduras cruas
e cereais (FRANCA; ALVES, 2006). Vale ressaltar que a
ingestão do paciente também não era suficiente em
quantidades e que as refeições eram fracionadas em quatro
vezes ao dia.
As características da dieta para pessoas com PC e
disfagia devem ser de textura viscosa a fim de facilitar a
deglutição, pois as preparações líquidas ou ralas têm mais
chance de provocarem aspiração no paciente. Os alimentos
muito secos, duros, fibrosos e assados, como casca de pão,
biscoitos e vegetais crus, devem ser eliminados, dando
preferência aos alimentos abrandados pelo cozimento,
preparações de textura pastosa e homogênea e líquidos
espessados (ANTUNES et al., 2012).
Na Tabela (4), encontra-se descrita a conduta
dietoterápica indicada de acordo com as necessidades do
paciente, na qual observa-se a presença de frutas, vegetais
crus, cereais, gorduras monoinsaturadas, bem como os
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
321
suplementos Nutren active e Maltodextrina e a redução de
alimentos constipantes e gorduras saturadas.
Tabela 4. Conduta dietoterápica recomendada para o paciente diagnosticado com PC e Desnutrição.
REFEIÇÕES HORÁRIO ALIMENTO/
INGREDIENTES GRAMAS/ML
DESJEJUM 07:00 LEITE ENRIQUECIDO
LEITE DESNATADO NUTREN ACTIVE
350 300 31,5
MALTODEXTRINA 10
LANCHE 10:00 ALMOÇO 13:00 LANCHE 16:00 JANTAR 19:00 LANCHE 22:00
VITAMINA DE
FRUTA MAMÃO PAPAYA AVEIA FARINHA NUTREN ACTIVE MALTODEXTRINA
SALADA CRUA: ALFACE TOMATE
COUVE-FOLHA CENOURA
CARNE DE BOI COZIDA
FEIJÃO MULATINHO ARROZ COZIDO AZEITE EXTRA-
VIRGEM VITAMINA DE
FRUTAS: MAÇÃ
LARANJA NUTREN ACTIVE MALTODEXTRINA
INHAME COUVE-FOLHA
SARDINHA AZEITE
IOGURTE NATURAL
300 135
8 31,5 10
30 45 20 24 20
75 50 10
300
40 45
31,5 10 30 20
16,5 10
140
Fonte: GOMES et al. (2016).
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
322
Na Tabela (5), encontra-se o recordatório de 24 horas do
paciente depois da intervenção nutricional, onde observa-se
ausência de vegetais crus e a inclusão de frutas, alguns
alimentos constipantes, como também os suplementos Nutren
active e Maltodextrina.
Tabela 5. Recordatório de 24 horas do paciente diagnosticado com PC e Desnutrição após a orientação nutricional.
REFEIÇÕES HORÁRIO
ALIMENTO/ INGREDIENTES
GRAMAS/ML
DESJEJUM 10:00 MINGAU: LEITE DESNATADO
MUCILON
350 250 30
BICOITO MAISENA 30
ALMOÇO 13:00
LANCHE 16:00
JANTAR 19:00
LANCHE 21:30
FEIJÃO MULATINHO ARROZ COZIDO
FRANGO COZIDO BATATA INGLESA
COZIDA CENOURA COZIDA JERIMUM COZIDO CHUCHU COZIDO
ÁGUA VITAMINA DE
FRUTAS LARANJA
MAÇÃ NUTREN ACTIVE MALTODEXTRINA
CANJA DE GALINHA
VITAMINA DE FRUTAS LARANJA
MAÇÃ NUTREN ACTIVE MALTODEXTRINA
75 50 50
21,5
40 190 54
150 300
45 40
31,5 10
260
300
45 40
31,5 10
Fonte: GOMES et al. (2016).
Em relação aos alimentos consumidos no segundo
R24h, como mostra a Tab. (5), observou-se que a conduta não
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
323
foi efetivada da mesma forma como prescrita, com o
fracionamento de seis refeições/dia, sendo realizadas cinco
refeições/dia, percebendo-se mesmo assim um avanço em
relação ao primeiro recordatório que eram apenas quatro, vale
ressaltar ainda que em alguns horários a dieta foi realizada da
maneira correta. Todavia buscou-se ainda com ensinamentos e
diálogos apontar a melhor maneira de obter maiores sucessos
com a conduta dietoterápica ofertada, tentando assim reduzir o
quadro da desnutrição, melhorando a qualidade de vida do
paciente.
4 CONCLUSÕES
Logo, conclui-se que o paciente respondeu bem a
conduta dietoterápica, conseguindo normalizar alguns valores
bioquímicos e hematológicos, como também os valores
antropométricos ocorrendo uma pequena evolução no quadro,
o que torna expressivo o empenho da genitora em realizar a
dieta corretamente para o filho, com intuito de reverter à
desnutrição. Contudo, espera-se que a conduta seja realizada
da forma mais adequada, para que assim chegue-se ao
sucesso esperado, que é a melhora da desnutrição grave, com
a conseguinte estabilização dos valores dos exames
bioquímicos e hematológicos, trazendo assim uma boa
qualidade de vida, melhorando a saúde e bem estar do
paciente.
PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
324
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PARALISIA CEREBRAL E DESNUTRIÇÃO GRAVE: UM ESTUDO DE CASO COM FOCO NA NUTRIÇÃO
325
LIMA, A.M.; GAMALLO, S.M.M.; OLIVEIRA, F.L.C. Desnutrição energético-proteica grave durante a hospitalização: aspectos fisiopatológicos e terapêuticos. Revista Paulista de Pediatria, v.28, n.3, p. 353-361, 2010. LOPES, A.; OLIVEIRA, A. F.; BLEIL, R. T. Apostila de Avaliação Nutricional I. Faculdade Assis Gugacz, Cascavel, PR, 2008. MACÊDO, E.M.C. et al. Efeitos da deficiência de cobre, zinco, magnésio sobre o sistema imune de crianças com desnutrição grave. Revista Paulista de Pediatria, v.28, n.3, p. 329-336, 2010. MONTE, C. M. G. Desnutrição: um desafio secular á nutrição infantil. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v.76, p. 285-297, 2000. ROTTA, N. T. Paralisia cerebral, novas perspectivas terapêuticas. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v.78, n.1, p. 48-54, 2002. SOUZA, K. E. S. et al. Classificação do grau do comprometimento motor e do índice de massa corpórea em crianças com paralisia cerebral. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, v.21, n.1, p. 11-20, 2011. VASCONCELOS, M.J.O.B. et al. Nutrição Clínica: Obstetrícia e Pediatria. Rio de Janeiro: MedBook, p. 275-280, 2011. VIVONE, G. P. et al. Análise da consistência alimentar e tempo de deglutição em crianças com paralisia cerebral tetraplégica espástica. Revista CEFAC, São Paulo, v.9, n.4, p.504-511, out./dez., 2007. WHO. World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Technical Report Series, n.854, World Health Organization: Geneva, Switzerland, 2007.
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
326
CAPÍTULO 19
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
Rafaella Cristhine Pordeus LUNA 1
Yohanna de OLIVEIRA 2
Erika Epaminondas de SOUSA 2
Nadjeanny Ingrid Galdino GOMES 3 Jéssica Vicky Bernardo de OLIVEIRA 4
1 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 2 Mestrandas do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição/UFPB; 3 Graduada em Nutrição/
UFPB; 4 Pós-Graduanda em Nutrição Clínica/Estácio de Sá. [email protected]
RESUMO: O fígado é um órgão responsável por mais de 500 reações em nosso corpo, podendo ser afetado por várias patologias de origem crônica ou pouco freqüente como a Síndrome de Budd Chiari (SBC), classificada com um conjunto de doenças hepáticas. A sintomatologia consiste em um grupo de distúrbios, entre eles a obstrução do fluxo hepático, ascite, icterícia, varizes esofágicas e hepatomegalia. O presente estudo teve como objetivo propor um tratamento nutricional que influenciará no tratamento de tal patologia, visando proporcionar melhorias em determinados sintomas expressos por determinadas doenças. Tratou-se de um estudo de caso clínico, com levantamento de dados e abordagem quantitativa, que utilizou por variante a análise do consumo alimentar, exames bioquímicos e nutricionais de um paciente interno no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW/UFPB) apresentando a SBC no período de adolescência. Verificou-se que durante o período em que o adolescente seguia o tratamento dietoterápico, o mesmo apresentou melhoras com a normalização dos valores dos exames bioquímicos e hematológicos, entretanto, após alguns meses o paciente
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
327
recusou-se a consumir parte dos alimentos, abandonando o tratamento e nesse período apresentou piora em seu quadro, o que foi verificado através dos exames. Concluiu-se que mesmo que a dieta proporcione uma melhor qualidade de vida aos indivíduos com a síndrome de Budd Chiari, a cura ocorre apenas por meio do transplante hepático. Palavras-chave: Hipertensão portal. Hepatopatias.
Dietoterapia.
1 INTRODUÇÃO
A síndrome de Budd Chiari (SBC) é um grupo
heterogêneo de distúrbios, cujas características são obstrução
do fluxo venoso hepático, no nível das veias hepáticas centrais
ou sublobular ou em ambas, levando ao aumento da pressão,
ou seja, hipertensão portal (MENON et al., 2004).
A intervenção nutricional relaciona-se com o estado
apresentado pelo paciente, a partir da avaliação do mesmo,
visando atender às necessidades individuais, como a
capacidade digestiva, alívio do processo de doença e de
absorção. As intervenções podem ser por meio de suplementos
alimentares ou nutricionais, alimentação por sonda, orientação
nutricional, modificações na prescrição dietética com aumentos
ou reduções de componentes da dieta. Deve-se respeitar a
condição socioeconômica de cada um, oferecendo-lhe o mais
viável, o que irá garantir que a terapêutica será concluída,
sendo a quantidade e freqüência alimentares estabelecidas na
doença e nas metas de tratamento (MUELLER; BLOCH, 2010).
Nos pacientes hepáticos, o tratamento tem como objetivo
garantir a prevenção ou tratamento da desnutrição calórico
protéica, fazer a suplementação com vitaminas, para evitar
deficiências, diminuir o risco de complicações como
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
328
hipoglicemia, encefalopatia e infecções, evitar a produção de
substâncias extremamente tóxicas, promover o crescimento e
desenvolvimento do indivíduo, melhora na qualidade de vida e
adequado estado nutricional (PÉRET, 2013).
Uma alimentação inadequada com elevada
concentração de gordura saturada, carboidratos simples e
xenobióticos, ou contaminantes externos, pode contribuir para
a instalação ou agravamento de doenças hepáticas, isso devido
à capacidade hepatotóxica dos alimentos (CUPPARI, 2013).
Dentre as manifestações clínicas da SBC, os pacientes
apresentam ascite refratária, insuficiência hepato-renal e
desnutrição grave. Outro fator é a hemorragia digestiva de alto
risco, que afeta um terço do grupo. No manejo pré-operatório
são de fundamental importância a manutenção do equilíbrio de
eletrólitos e uma adequada nutrição (ZHANG et al., 2015).
Observou-se em alguns casos sintomas como diarreia,
vômitos, diminuição do volume urinário, edema de membros
inferiores, aumento do perímetro abdominal (RAMÍREZ et al.,
2014). Além de patologias que estão relacionadas com a
síndrome como o diabetes mellitus e a hipertensão arterial
(ALVES et al., 2012).
Visto a tamanha importância da atuação da dieta na
síndrome de Budd Chiari e, que muitos dos sintomas causados
por tal patologia estão relacionados a alterações alimentares, o
presente trabalho teve como objetivo descrever o tratamento
dietoterápico na síndrome, avaliar o perfil nutricional de um
paciente adolescente com tal patologia, verificar as
modificações causadas na sintomatologia dessa patologia e
observar a aceitação da dieta.
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
329
2 MATERIAIS E MÉTODO
Tratou-se de um estudo de caso clínico, com
levantamento de dados e abordagem quantitativa, que utilizou
por variante a análise do consumo alimentar, exames
bioquímicos e nutricionais de um paciente interno no Hospital
Universitário Lauro Wanderley (HULW/UFPB) apresentando a
SBC no período de adolescência.
O protocolo de pesquisa do projeto intitulado “Síndrome
de Budd Chiari: Um estudo de caso sob o olhar da nutrição”, o
qual está vinculado o presente trabalho foi submetido e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Lauro Wanderley (HULW), sob o CAAE:
55957116.9.0000.5188, segundo as normas éticas para
pesquisa envolvendo seres humanos, constantes da Resolução
466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional da
Saúde/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.
Portanto, para que fosse válida a participação do
paciente na pesquisa, a cuidadora e o adolescente deram os
seus consentimentos mediante a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e Termo de Assentimento.
O paciente adolescente, de 13 anos, foi recrutado no
HULW, onde recebeu o diagnóstico da patologia pelo médico
hepatologista, foi avaliado por uma equipe e recebeu a
indicação de transplante de fígado. O adolescente também
possui o diagnóstico de hipotireoidismo e diabetes mellitus tipo
1.
Para a realização do caso clínico, foram realizadas
visitas ao HULW, em um período de acompanhamento, o qual
foi dividido em dois períodos distintos, sendo o primeiro em julho
de 2015 e novembro de 2015, para coleta das medidas
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
330
antropométricas de peso, altura, circunferência do braço,
dobras cutâneas, cálculo do índice de massa corporal (IMC) e
dados de consumo alimentar. Em seguida foram avaliados os
exames laboratoriais pertinentes, verificados a partir da analise
do prontuário do paciente.
O indicador utilizado para avaliar o estado nutricional foi
o IMC, calculado a partir da razão entre o peso do paciente em
quilogramas e o quadrado de sua altura em metros, que seguiu
a classificação da World Health Organization (WHO, 1995). A
circunferência do braço e dobras cutâneas foram realizadas de
acordo com o descrito por Lopes; Oliveira; Bleil (2008).
O Recordatório Alimentar de 24 horas é um método de
inquérito, cuja finalidade é qualificar o consumo alimentar nas
24 horas anteriores a entrevista ou durante o dia anterior, sendo
utilizado pela primeira vez em 1960 por Wiehl (FERRO-LUZZI,
2002).
Para realizar uma avaliação mais precisa, foram
aplicados dois recordatórios, sendo um realizado na residência
do paciente e outro no hospital.
O cálculo utilizado para dieta foi kcal/kg, de acordo com
a literatura que recomenda estimar as necessidades
energéticas em doença hepática crônica a partir de valores
entre 35 a 40 kcal/kg, com a finalidade de manter ou restaurar
o estado nutricional, sendo utilizado o valor de 35 kcal/kg
(MAZZA; SANTANA; OLIVEIRA, 2013).
Os dados do estado nutricional do paciente foram
comparados entre si e os demais dados hematológicos e
bioquímicos foram comparados aos valores de referência
durante o tratamento dietético e após o abandono do
tratamento.
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
331
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela (1) observam-se as características
antropométricas do paciente participante do caso clínico, no
período em que ele seguia o tratamento dietoterápico orientado
pela nutricionista do HULW e quando o mesmo abandonou o
tratamento.
Tabela 1. Avaliação antropométrica do paciente diagnosticado com Síndrome de Budd Chiari.
Variáveis Valores
recomendados
Durante a orientação (07/07/15)
Após o abandono do tratamento dietético
(24/11/15)
IDADE (anos) 13 13 PESO (kg) 45 32 17 ALTURA (m) 1,55 C/B (cm) 24,5 CMB (mm) 21,1 DCT (mm) 9
1,33 20
17,17 9
1,33 16
13,17 3
Fonte: LUNA et al. (2016).
Os exames são necessários e de imensa contribuição
para o adequado diagnóstico de doença hepática, quando
associados à sintomatologia. Embora, a quantidade utilizada
seja diversa, apenas alguns possuem maior sensibilidade e são
utilizados por profissionais de saúde. De acordo com o que foi
verificado na literatura, buscamos reunir os mais solicitados.
O paciente apresentava ainda cabelos e pele com
aspecto ressecado, além de algumas manchas pelo corpo e
unhas fracas. Tais sintomas poderão ser melhorados a partir do
consumo da vitamina A e proteínas (MAHAN; ESCOTT-
STUMP, 2010). A associação da vitamina A ao zinco pode
contribuir com o ganho de peso, logo se pode verificar uma
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
332
melhora do quadro de desnutrição calórico-protéica (MAZZA;
SANTANA; OLIVEIRA, 2013).
Na Tabela (2) estão descritos os exames bioquímicos
com os respectivos resultados do paciente, realizados durante
a orientação dietética no dia 07/07/2015.
Tabela 2. Exames bioquímicos do paciente diagnosticado com Síndrome de Budd Chiari durante a orientação dietética.
Exame Valor encontrado
Valor de referência
Alteração
Proteínas Totais 6,5 g/dL 6 a 8 g/dL -
Albumina 3,8 g/dL 3,5 a 5 g/dL -
Bilirrubina Total 0,7mg/dL 0,2 a 1,3 mg/dL -
Bilirrubina Direta 0,2mg/dL 0 a 0,4 mg/dL -
Bilirrubina Indireta 0,5 mg/dL 0 a 0,8 mg/dL -
TGO
TGP
Gama GT
Fosfatase Alcalina
37 U/L
34 U/L
352 U/L
773 U/L
até 38 U/L
até 41 U/L
7 a 50 U/L
390U/L
-
-
+ 302 U/I
+ 383 U/L
Fonte: LUNA et al. (2016).
Na Tabela (3) estão descritos os exames bioquímicos
com os respectivos resultados do paciente, realizados após o
abandono da orientação dietética no dia 24/11/2015.
Tabela 3. Exames bioquímicos do paciente diagnosticado com Síndrome de Budd Chiari após o abandono do tratamento.
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
333
Exame Valor encontrado
Valor de referência
Alteração
Proteínas Totais 4,1 g/dL 6 a 8 g/dL - 1,9 g/Dl
Albumina 2,6 g/dL 3,5 a 5 g/dL - 0,9 g/ Dl
Bilirrubina Total 0,63mg/dL 0,2 a 1,3 mg/dL -
Bilirrubina Direta 0,21mg/dL 0 a 0,4 mg/dL -
Bilirrubina Indireta 0,42 mg/dL 0 a 0,8 mg/dL -
TGO
TGP
Gama GT
Fosfatase Alcalina
96 U/L
60 U/L
415,2 U/l
584,1 U/L
até 38 U/L
até 41 U/L
7 a 50 U/L
390 U/L
+ 58 U/L
+ 59 U/L
+ 365,2 U/L
+ 194,1 U/L
Fonte: LUNA et al. (2016).
Conforme apresentados na Tabela (2) e Tabela (3), os
resultados bioquímicos obtidos foram de momentos distintos e
com intervalos, tendo sido realizados nos dias 07/07/15 e no dia
24/11/15, pois buscamos retratar a discrepância que houve no
primeiro momento, em que o paciente seguia a dieta proposta
pelo hospital e no segundo momento quando o mesmo, por
apresentar piora do seu quadro, começa a consumir apenas
parte do que lhe é oferecido. Durante esse período buscamos
observar como a síndrome manifestava-se, pois segundo a
literatura os sintomas variam constantemente.
As dosagem de TGO e TGP refletem o grau de
destruição das células hepáticas, pois sua elevação está
associada a doenças hepáticas. Valores superiores a oito vezes
o seu limite de normalidade indicam lesão hepatocelular
(COSTA, 2009), como apresentado na Tab. (2) e Tab. (3) a
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
334
diferença considerável dos valores durante o acompanhamento
dietético e as alterações dessas dosagens após o abandono do
tratamento, respectivamente. A bilirrubina, entretanto, não
apresentou alterações em nenhum dos momentos.
A dosagem de albumina sérica, bem como outras
proteínas estará alterada tanto pela ingesta inadequada, quanto
pela diminuição da síntese e por alterações ocasionadas por
estados dilucionais (PÉRET, 2013).
Na Tabela (4) estão descritos os exames hematológicos
com os respectivos resultados do paciente, realizados durante
a orientação dietética no dia 07/07/2015. Observa-se que os
valores das hemácias, hemoglobina, hemograma,
hematócritos, plaquetas e leucócitos, encontram-se alterados.
Tabela 4. Exames hematológicos do paciente diagnosticado com Síndrome de Budd Chiari durante o tratamento dietético.
Exame Valor encontrado
Valor de referência
Alteração
Hemácias 3,9milh/mL 4,5 a 6,0 milh/mL - 0,6 milh/mL
Hemoglobina Hematócrito
10,6 g/dL
31,1 %
12,0 a 16,0 g/dL
35,6 a 48,6%
- 1,4g/dL
- 4,5 %
Plaquetas 96.000mil/ mm³
150 a 450 mil/ mm³ - 54 mil/ mm³
Leucócitos 3.410/ mm³ 5.000 a 10.000/ mm³ - 1.590/ mm³
Fonte: LUNA et al. (2016).
Na Tabela (5) estão descritos os exames hematológicos
com os respectivos resultados do paciente, após o abandono
do tratamento dietético no dia 24/11/2015. Observa-se que os
valores das hemácias, hemoglobina, hemograma,
hematócritos, plaquetas e leucócitos, encontram-se alterados.
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
335
Tabela 5. Exames hematológicos e bioquímicos do paciente diagnosticado com Síndrome de Budd Chiari após o abandono do tratamento.
Exame Valor encontrado
Valor de referência
Alteração
Glicose
186 mg/dL
60 a 100 mg/dL
+ 86 mg/dL
Hemácias 3,5milh/mL 4,5 a 6,0 milh/mL - 1,0 milh/mL
Hemoglobina Hematócrito
10,2
29,6 %
12,0 a 16,0 g/dL
35,6 a 48,6%
- 1,8 g/dL
- 6,0%
Plaquetas 161mil/ mm³ 150 a 450 mil/ mm³ -
Leucócitos 19.580/ mm³ 5.000 a 10.000/ mm³ + 9.580/ mm³
Uréia Creatinina
58mg/dL
0,7
14,9 a 35,9 mg/dL
0,3 a 1,0 mg/dL
+ 22,1mg/dL
-
Fonte: LUNA et al. (2016).
De acordo com as Tabelas (4) e Tabela (5), dos exames
hematológicos realizados, ocorreu a normalização apenas dos
valores de plaquetas e creatinina.
A partir de avaliações bioquímicas e hematológicas
verificaram-se algumas modificações significativas nos exames
do paciente. Baseado nessas variações buscou-se a
elaboração de uma proposta dietoterápica que contribuísse
para a normalidade dos marcadores bioquímicos, além de
estabelecer melhora no quadro de deficiências que são
causadas pelas interações entre os medicamentos e os
alimentos.
Por apresentar diabetes mellitus tipo 1 é de grande
relevância controlar os carboidratos e lipídios, por isso
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
336
inserimos na dieta proposta, alimentos cujo papel é contribuir
com o controle da taxa glicêmica, além de realizarmos o
fracionamento dos alimentos, o que contribuirá com a melhora
da função hepática responsável pela metabolização de tais
macronutrientes (COSTA, 2009).
Na Tabela (6) encontram-se os alimentos consumidos
pelo paciente com base no recordatório de 24 horas aplicado a
responsável do paciente, sem nenhuma orientação nutricional,
onde observa-se a irregularidade nos horários da alimentação,
redução do fracionamento alimentar, ausência de frutas,
pequeno consumo de vegetais crus e ingestão de alimentos que
elevam a pressão arterial, como o macarrão instantâneo.
Tabela 6. Recordatório de 24 horas do paciente diagnosticado com Síndrome de Budd Chiari antes do tratamento dietético.
Refeições/ Horário
Alimento/Ingredientes Gramas/ML
Desjejum 10:00
CUSCUZ OVO
200 100
Almoço 14:00 Lanche 17:00 Jantar 22:00
SALADA CRUA:
ALFACE TOMATE
FRANGO ENSOPADO FEIJÃO MULATINHO
ARROZ
MACARRÃO INSTANTÂNEO
CUSCUZ OVO
30 60
140 25 63
85
200 100
Fonte: LUNA et al. (2016).
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
337
Na Tabela (7) encontram-se os alimentos consumidos
pelo paciente com base no recordatório de 24 horas, observado
no HULW, onde se observa a regularidade no fracionamento
das refeições, o consumo regular de frutas e verduras.
Tabela 7. Recordatório de 24 horas do paciente diagnosticado com Síndrome de Budd Chiari durante o tratamento.
Refeições/ Horário
Alimento/Ingredientes
Gramas/ML
Desjejum 07:00
MAMÃO PAPAYA CUSCUZ
OVO
100 85
100 PÃO
QUEIJO 25 25
Lanche 09:00 Almoço 12:00 Lanche 15:00 Jantar 17:00
MAÇÃ
SUPLEMENTO (TROPICAL)
SALADA CRUA:
TOMATE CEBOLA
FRANGO ASSADO ARROZ FEIJÃO LIMÃO
SUCO DE CAJÚ GELATINA
SUPLEMENTO
(TROPICAL) SOPA:
BATATA INGLESA CHUCHU
CENOURA ARROZ CARNE
PÃO
80
180
45 12 40 45 40 3
180 25
180
30 28 25 45 35 50
Fonte: LUNA et al. (2016).
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
338
O recordatório alimentar obtido a partir do consumo em
sua residência foi realizado para justificar um dos motivos que
interferiam no tratamento, a partir dele é mostrado que o mesmo
não seguia a dietoterapia no período citado sendo internado
duas vezes, fato de extrema relevância, visto que se sentia mal
e retornava ao HULW.
Cuppari (2013) traz modificações mais significativas para
o tratamento de doenças hepáticas crônicas, a exemplo do
consumo de alimentos que contenham zinco, restrição de sódio,
consumo de fibras, não se pode fazer a restrição de proteínas,
com exceção ao caso em que o indivíduo apresente alteração
cognitivo-comportamental.
O consumo alimentar contendo vitaminas antioxidantes
como vitamina A, vitamina C e vitamina E pode ser benéfico
para o hepatopata crônico como também o controle do ferro,
pois tanto a hipertensão portal quanto as varizes de esôfago
podem levar ao quadro de anemia, ocasionado pelas
hemorragias (PÉRET, 2013).
O zinco é um dos alimentos que contribui
significativamente para o funcionamento de mais de 200
funções fisiológicas, entre elas a hepática. Sendo um
micronutriente que atua sobre os sintomas das hepatopatias,
proporcionando a melhoria da encefalopatia, atuando ainda
sobre a cirrose e contribuindo também para disponibilidade da
glicose. Observou-se que pacientes com cirrose apresentavam
a média de ingestão desse mineral diminuída em 35% do
estabelecido (MAZZA; SANTANA; OLIVEIRA, 2013).
O consumo de ferro é importante, pois as hemorragias
digestivas provocadas pelas lesões gastrointestinais causadas
pela hipertensão portal e as varizes esofágicas hemorrágicas
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
339
são responsáveis pela anemia ferropriva (MAZZA, SANTANA e
OLIVEIRA, 2013).
Associado a esse consumo está o ácido ascórbico,
importante tanto para a absorção de maiores quantidades de
ferro como atuando no metabolismo da glicose, devido à
facilitação da absorção de glicose e outros glicídios, bem como
a glicogênese hepática tendo ainda participação na síntese e
manutenção dos tecidos (FRANCO, 2008).
O consumo de potássio também deve ser controlado,
pois devido ao uso de medicamentos que contribuem para o
controle da hipertensão, como os diuréticos, seus níveis
sanguíneos podem diminuir, assim como a administração de
magnésio deve ocorrer, pois diuréticos aumentam a sua
excreção (PÉRET, 2013; MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2010).
Nas doenças hepáticas crônicas, o cuidado principal
deve ser em relação à quantidade de proteínas oferecidas, que
será ofertada de acordo com o sintoma presente, pois nesse
sentido devem ser oferecidos aminoácidos de cadeia
ramificada, pois eles estão envolvidos na regulação do balanço
protéico muscular de síntese e degradação, como também
deve ser hipoproteíca por quilo de peso quando apresentar a
síndrome hepato renal, que é uma das patologias decorrentes
da SBC, se o paciente não apresentá-la pode ser utilizado as
recomendações normoproteíca ou hiperprotéica,
normoglicídica e normolipídica (CUPPARI, 2013).
Na dieta proposta, recomendou-se inserir alimentos que
possuam essas vitaminas e minerais, além de acrescentar
alimentos ricos em vitamina K, pois o seu consumo contribui
com a redução das hemorragias que ocorrem devido às varizes.
Sua dose oral varia entre 2,5 a 15 mg/dia, apenas nos casos
em que não se obtiver os resultados esperados durante o
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
340
tratamento, deve ser feito o uso intravenoso ou intramuscular,
como também, o uso de suplemento que possua albumina,
tendo em vista que alguns estudos sugerem como importante a
administração por meio injetável desse nutriente (PÉRET,
2013).
A partir dessas pesquisas, foram selecionados os
alimentos que possuem tais nutrientes na elaboração da
proposta dietoterápica que foi distribuída em seis refeições,
onde se buscou atender as necessidades nutricionais do
paciente, e respeitar a condição sócio-econômica do mesmo.
Ressaltamos que deve ser recomendado o consumo de carne
e fígado ao menos uma vez por semana, devido à concentração
de ferro e utilizar temperos como cominho, colorau e alho em
pó, além de manjericão, limão e orégano.
Na dieta proposta também foi realizada a contagem de
carboidratos, pois o paciente faz administrações de insulina, por
apresentar diabetes mellitus tipo 1, além de a própria Síndrome
de Budd Chiari causar alterações na glicemia. Verificamos que
a necessidade de unidades de insulina ao longo do dia foi de
10,77 unidades.
Como as doenças hepáticas podem causar desnutrição
calórico protéica, procuramos calcular cuidadosamente o Valor
Energético Total (VET), pois os quadros de desnutrição devem
ser evitados, por dificultarem a melhora do paciente, sendo um
ponto importante evitar o agravamento do quadro, pois segundo
a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, quando
a desnutrição chega ao nível grave, a recuperação é muito
difícil, podendo não ocorrer (SBNPE, 2011).
Na Tabela (8) está descrito a proposta para o paciente
diagnosticado com SBC seguir em casa, a seguinte orientação
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
341
está fracionada em seis refeições, realizadas a cada três horas,
observa-se a variedade de frutas, verduras e legumes.
Tabela 8. Conduta dietoterápica recomendada para o paciente diagnosticado com SBC para seguir após alta.
Refeições/ Horário
Alimento/Ingredientes Gramas/ML
Desjejum 06:00
MAMÃO PAPAYA VITAMINA DE FRUTA:
BANANA LEITE DESNATADO
AVEIA SUPLEMENTO
PÃO OVO
100
30 20 15 20 50
100 Lanche 09:00 Almoço 12:00 Lanche 15:00 Jantar 18 :00 Ceia 21:00
SALADA DE FRUTAS: LARANJA GOIABA
SALADA CRUA: TOMATE ALFACE CEBOLA AZEITE LIMÃO
FRANGO ENSOPADO: FRANGO
ERVILHAS TOMATE
PIMENTÃO CEBOLINHA
ARROZ COM CENOURA: ARROZ
CENOURA MILHO
FEIJÃO SIMPLES ABACAXI
SUCO DE CAJÚ TORRADAS COM ALHO
PEIXE COUVE INHAME
LEITE DESNATADO PÃO
CREME VEGETAL
45 42
45 45 20 5 3
40 30 30 16 15
45 24 17 50
100 180 24
100 40 60 25 50 8
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
342
Fonte: LUNA et al. (2016).
4 CONCLUSÕES
Estudos sobre a síndrome de Budd Chiari ainda são
poucos, principalmente no que se refere à dieta, mesmo
considerando que a mesma irá proporcionar melhor qualidade
de vida para todos os indivíduos que apresentarem qualquer
doença hepática, já que a mencionada síndrome é um conjunto
de várias doenças hepáticas responsáveis pelo
desencadeamento de outras, que vão desde a síntese
inadequada dos nutrientes até a síndrome hepato-renal. Outro
fator que dificulta o tratamento é o diagnóstico tardio, que
muitas vezes acaba sendo confundido com outros, dificultando
até no momento da aplicação da dieta adequada.
Verificamos também como a adequada alimentação tem
influência diretamente nos sintomas, embora a cura ocorra
apenas por meio do transplante hepático, ao compararmos o
momento em que o jovem alimentava-se em casa apresentando
pioras e retornos ao hospital, onde seguia o tratamento
dietoterápico, tendo melhora nos resultados bioquímicos e
hematológicos, infelizmente piorando quando ocorreu o
agravamento da doença e reduziu o consumo alimentar.
Nesse momento, o suporte nutricional irá possibilitar as
condições adequadas para a realização do transplante, além de
contribuir com a recuperação.
Com base no exposto, observou-se que explicar aos
jovens a importância de uma adequada alimentação ainda é um
desafio para o profissional da nutrição, pois estes preferem os
alimentos ricos em gorduras e açúcares, fazendo o consumo de
forma exagerada e piorando a qualidade de vida.
SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
343
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SÍNDROME DE BUDD CHIARI: UM ESTUDO DE CASO SOB O OLHAR DA NUTRIÇÃO
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ZHANG, W. et al. Budd-Chiari Syndrome in China: A Systematic Analysis of Epidemiological Features Based on the Chinese Literature Survey. Gastroenterology Research and Practice, v.2015, p. 1-8, 2015.
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
345
CAPÍTULO 20
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
Jéssica Maria Alves BRASIL1
Leylliane de Fátima Leal Interaminense de ANDRADE2 1 Graduandos do curso de Nutrição, UFPB; 2 Orientadora/Professora do CCS/UFPB.
RESUMO: O glúten é uma proteína encontrada em grãos como
o trigo, centeio e cevada. Esses grãos, principalmente o trigo, a
partir da revolução agrícola, sofreram inúmeras modificações
genéticas, aumentando, por exemplo, a quantidade de glúten e
de um dos peptídeos encontrados nele, a gliadina (considerado
o peptídeo tóxico presente no glúten), sendo esta uma das
razões que explicam o aumento de patologias e intolerâncias
ligadas ao consumo desses grãos. Ao ingerirem o glúten,
pessoas com predisposição genética podem vir a desencadear
mecanismos imunológicos que levam a alergias (alergia ao
trigo), e/ou processos que gerem uma resposta autoimune
mediada por ele, ocasionando lesões teciduais no epitélio
intestinal (doença celíaca). Além das patologias
desencadeadas pela ingestão de glúten, essa proteína, em
particular o peptídeo gliadina, está ligada ao surgimento de
inúmeras doenças autoimunes como a doença de Crohn,
diabetes mellitus e obesidade, pois consegue estimular a
abertura das Tight junctions, tornando o intestino permeável,
aumentando com isso as chances de ativação de respostas
imunológicas e do deslocamento de microorganismo presentes
na flora intestinal para dentro do epitélio, podendo vir a
estimular o desenvolvimento de sintomas gastrointestinais e
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
346
extraintestinais na população em geral. Além do glúten,
investigam-se também outros componentes presentes nesses
cereais como sendo eles os responsáveis em gerar a ativação
de respostas imunológicas, tais como as proteínas inibidoras de
amilase-tripsina presentes no trigo e os carboidratos
considerados FODMAPs.
Palavras-chaves:Glúten. Gliadina. Permeabilidade intestinal.
1 INTRODUÇÃO
Os cereais na alimentação humana desempenham papel muito importante com relação à saúde, sendo estes fonte de energia, nutrientes e fibras. O trigo, alimento base em diversas culturas, utilizado desde a antiguidade até os tempos modernos (SCHEUER, et al., 2009) é fomado de duas principais frações protéicas: a gliadina e a glutenina (NASCIMENTO, 2008). Essas proteínas são de bastante importância na indústria, pois em contato com água formam uma espécie de liga, conferindo características únicas aos produtos que as contêm (BRANDÃO et al., 2011).
Apesar das propriedades pertencentes ao glúten serem
de bastante serventia para a indústria, segundo Prince (2005),
a gliadina é considerada um peptídeo imunogênico. Além
disso, é resistente à degradação enzimática por peptidases e
promove alterações na permeabilidade intestinal por estimular
a ativação da imunidade inata e adquirida (PRINCE, 2005).
As antigas variedades do trigo possuíam menos gliadina,
sendo estas mais toleradas por pessoas com transtornos
relacionados à sua ingestão (VAQUERO et al, 2015).
Observar-se o crescimento dos problemas decorrentes a
ingestão do trigo. Dentre os transtornos mais relatados temos a
alergia ao trigo, doença celíaca (DC) e a sensibilidade ao glúten
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
347
não celíaca (ZINGONE et al., 2016). Indica-se como tratamento
a adesão de uma dieta gluten-free (GFD) que apesar de
diminuir ou até extinguir os sintomas relatados pelos pacientes,
ocasiona uma diminuição na ingestão de muitos nutrientes
importantes, tais como ferro, vitaminas do complexo B e fibras
prebióticas (LIS et al., 2015).
A GFD possui adeptos que incluem tanto a população
que tem transtornos decorrentes da ingestão do glúten, quanto
à população em geral, que adere a essa dieta por acreditar que
a mesma proporcione condições de vida mais saudáveis (LIS et
al., 2015).
Diante disso, essa revisão tem como objetivo elucidar os
mecanismos fisiológicos gerados pelo glúten na população
portadora de patologias ligadas ao consumo dessa proteína e
em pessoas saudáveis.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Este trabalho foi realizado através de uma revisão da
literatura cientifica. A pesquisa foi desenvolvida em base
eletrônicas de dados Lilacs, Bireme, Pubmed e Scielo,
considerando os artigos que apresentavam estudos clínicos,
pesquisas e revisões bibliográficas, ultilizando os seguintes
descritores: glúten, doenças auto-imunes, celíacos, dieta
gluten-free, imunidade inata e adquirida, disbiose, FODMAPs,
permeabilidade intestinal.
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
348
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 GLÚTEN
O glúten é um conjunto de proteínas que estão presentes
em alguns cereais (trigo, centeio, cevado e aveia).
(SDEPANIAN, et al., 1999).
O glúten do trigo possui características únicas, pois a
gliadina se comporta como liquido viscoso, conferindo
extensibilidade, enquanto as gluteninas promovem elasticidade
e força (CUNHA, RUFFI, NABESSHIMA, 2009). Dessa forma, a
massa retém gases da fermentação, os quais possibilitam o
crescimento dos pães e a umidade da massa depois de assada
(ANGELINI, 2012).
Segundo projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) nos últimos 40 anos, o consumo médio
per capita no Brasil de cereais que contém glúten mais que
dobrou (Figura 1).
Figura 1. Consumo de trigo no Brasil.
Fonte: IBGE- Instituto brasileiro de Geografia e Estatística, 2002.
O trigo consumido atualmente é modificado
geneticamente, possuindo um maior teor de glúten e da
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
349
gliadina, porção antigênica do glúten (SOARES, 2015). Esse
fato explica parcialmente o aumento dos transtornos ligados a
sua ingestão (BROECK et al., 2010). Os peptídeos da gliadina
exercem atividades citotóxicas, culminando na atrofia das
vilosidades intestinais, imunomoduladoras, estimulando a
liberação de substancias pro-inflamatórias e aumento da
permeabilidade intestinal com a estimulação da zonulina, uma
proteína responsável por modular a abertura das ligações entre
as células da parede do trato digestivo (Tight junctions) (figura
2) (FASANO, 2011).
Figura 2. Mapeamento do peptídeo gliadina.
Fonte: FASANO (p.163), 2011.
3.2 PATOLOGIAS LIGADAS À INGESTÃO DE GLÚTEN
O consumo de glúten pode provocar doenças hoje
bastante conhecidas, como a alergia do trigo, a doença celíaca
e a sensibilidade ao glúten não celíaca.
A doença celíaca e a alergia do trigo são mediadas pelo
sistema imunitário adquirido (FASANO et al., 2015). As
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
350
respostas desse sistema de imunidade dependem da ativação
de células especializadas, dos linfócitos e das moléculas
solúveis por eles produzidas, tais como anticorpos, citocinas e
quimiocinas (CRUVINEL et al., 2010).
Embora as principais células envolvidas na resposta
imune adquirida sejam os linfócitos, as células apresentadoras
de antígenos (APCs) desempenham papel fundamental em sua
ativação, apresentando peptídeos antígenos a moléculas do
complexo de histocompatibilidade principal (MHC, major
histocompatibility complex), glicoproteína existente em quase
todos os vertebrados, localizada na superfície da membrana
celular, recebendo a designação de antígeno leucocitário
humano (HLA) nos seres humanos, onde será formado um
complexo peptídeo-MHC, permitindo o reconhecimento do
antígeno pelos linfócitos T, que irão diferenciar-se de acordo
com o antígeno inicialmente associado à molécula de MHC
(MAGALHÃES et al., 2004).
Ao lado da doença celíaca e da alergia do trigo está a
sensibilidade ao glúten não celíaca. Na NCGS não estão
envolvidos mecanismos alérgicos ou autoimunes. Essa
sensibilidade é mediada por uma resposta da imunidade inata,
causada pela ingestão de graõs que contém glúten (FASANO
et al., 2015).
NCGS foi proposta por resultar de uma resposta imune
inata a alimentos contendo glúten (FASANO et al., 2015). A
imunidade inata representa uma resposta rápida e
estereotipada a um número grande, mas limitado, de estímulos.
É representada por barreiras físicas, químicas e biológicas,
células especializadas e proteínas de fase aguda, citocinas e
quimiocinas, independentemente de contato prévio com
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
351
imunógenos ou agentes agressores, e inalteráveis qualitativa
ou quantitativamente após o contato (CRUVINEL et al., 2010).
3.2.1 Doença celíaca
A doença celíaca é uma desordem autoimune
desencadeada pelo consumo de glúten na dieta. Esta doença é
caracterizada por um estado inflamatório crônico da mucosa do
intestino delgado proximal, que é tratado quando os alimentos
que contêm glúten são excluídos da dieta e retorna quando
estes alimentos são reintroduzidos (HATANAKA, et al., 2015).
A doença manifestando-se com má absorção de
nutrientes, diarréia crônica, perda de peso e distensão
abdominal. Outras manifestações incluem deficiência de ferro
com ou sem anemia, dor abdominal recorrente, estomatite
aftosa, baixa estatura, níveis elevados de aminotransferase,
fadiga crônica. (HATANAKA, et al., 2015).
Essa patologia depende basicamente de três aspectos
fundamentais para tornar-se ativa: a ingestão de glúten (agente
etiológico da doença), disfunção na barreira da mucosa
intestinal e predisposição genética (holótipos HLA DQ2/DQ8)
(CECILIO; BONATTO, 2015).
A gliadina é um peptídeo capaz de desencadear a
ativação de mecanismos imunológicos na população em geral
pelo fato de ser formado de dois aminoácidos (prolina e
glutamina) resistentes a digestão intraluminal, aumentando
assim sua permanência no lúmen intestinal, sendo reconhecido
como antígeno (FASANO, 2011).
A disfunção na barreira intestinal é uma condição
responsável por desencadear um grande número de doenças
imuno-mediadas, incluindo a DC. A gliadina é uma substancia
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
352
responsável por tornar o intestino permeável, atravessando
essa barreira, vindo a ativar o sistema imunitário (HOLLON, et
al., 2015).
Os principais fatores de risco genético associados a DC
são os antígenos leucocitários humanos (HLA) de classe II DQ2
e DQ8 (ONTIVEROS, et al., 2015), que quando ausentes
praticamente excluem a ativação da patologia (MAGALHÃES et
al., 2004).
A ativação da resposta imunológica culmina na atrofia
das vilosidades, com consequente redução da superfície de
absorção intestinal, caracterizando o resultado final na doença
celíaca (TEIXEIRA, 2012).
O diagnóstico para essa doença consiste em testes
laboratoriais para detectação de anticorpos específicos, testes
genéticos de tipagem de HLA e por fim realizaçao de uma
biopsia no intestino para medir os danos causados pela
patologia (ONTIVEROS, et al., 2015).
3.2.2 ALERGIA AO TRIGO
A Academia Européia de Alergologia e Imunologia Clínica,
segundo Johansson et al.,(2001), define a hipersensibilidade alimentar
ao trigo como uma reação adversa imunológica à ingestão de proteínas
alimentares contidas nele.
Estas reações são tipicamente caracterizadas por um
tipo de inflamação tendo como linfócito de expressão
predominante o T helper 2 (Th2), e as interleucinas (IL -4, IL-
13, e IL-5)(CIANFERONI, 2016).
Na alergia ao trigo, as sequencias de repetição de
peptídeos do glúten reticulam a IgE, e as proteínas não-glúten
induzem a libertação de mediadores imunes, tais como
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
353
histamina, a partir de basófilos e mastócitos (FASANO et al.,
2015).
Esta alergia manifesta-se com uma variedade de
sintomas que incluem urticária, asma, rinite alérgica, dor
abdominal, vômitos, exacerbação aguda de dermatite atópica e
anafilaxia induzida pelo exercício (EIA) (CIANFERONE, et al.,
2013).
O diagnostico para essa patologia se da a partir da
realização de testes alérgicos a fim de averiguar a presença de
IgE específica para o trigo (CIANFERONI, 2016).
3.2.3 Sensibilidade ao glúten não celíaca.
A sensibilidade ao glúten não celíaca (NCGS) é uma
condição onde, na ausência da doença celíaca e da alergia ao
trigo, sintomas intestinais e extra-intestinais são acionados
devido a ingestão do glúten, conforme definido por discussões
realizadas em três conferências (BIESIEKIERSKI; IVEN, 2015).
A apresentação típica do NCGS é uma combinação de
sintomas e manifestações sistêmicas da síndrome do intestino
irritável, além de manifestações extra-intestinais (CZAJA-
BULSA, 2015).
Os dados experimentais parecem indicar um possível
papel anormal da resposta inata no mecanismo da doença,
causando assim alterações na permeabilidade do intestino
delgado (intestino permeável), levando à absorção excessiva
de péptidos derivados de glúten (CATASSI, 2015).
A NCGS possui diagnostico por exclusão, quando
mesmo com resultados negativos para doença celíaca e alergia
ao trigo, o paciente apresenta queixas provocadas pela
ingestão do glúten (FASANO, 2015).
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
354
Pela dificuldade do diagnóstico dessa patologia, muitas
pessoas aderem por uma dieta sem glúten na tentativa de
melhora dos sintomas (PELLEGRINI; AGOSTONI, 2015).
A dieta livre de glúten já foi investigada em pacientes não
celíacos como uma opção de tratamento para muitas
condições, incluindo dermatite herpetiforme, síndrome do
intestino irritável, distúrbios neurológicos, artrite reumatóide,
diabetes mellitus, obesidade e enteropatia associada ao HIV
(EL- CHAMMAS e DANNER, 2011).
Biesiekierski et al, (2011) realizou um estudo duplo-cego,
randomizado, placebo-controlado, obtendo a conclusão de que
uma dieta livre de glúten trouxe benefícios a pacientes com
sensibilidade ao glúten não celíacos, como a diminuição do
cansaço e de sintomas intestinais, tais como a melhora da
consistência das fezes, diminuição de gases e inchaço.
A dieta sem glúten possui propriedades
imunoestimulantes para a população em geral e com
sensibilidade (figura 4). Entretanto, o mesmo estudo detectou
que essa dieta ocasionou um quadro de disbiose intestinal,
provavelmente relacionado com reduções na ingestão de
polissacarídeos, uma vez que estes compostos dietéticos são
considerados prebióticos (PALMAS et al., 2009).
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
355
Figura 3. Propriedade imunoestimuladora de uma dieta gluten-free.
FONTE: PALMA, et al. (p. 1158), 2009.
3.3 MECANISMOS IMUNOLOGICOS NÃO ALERGICOS
DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO TRIGO/GLÚTEN.
A gliadina, é uma das substancias responsáveis por
tornar o intestino permeável na população em geral. Esse
peptídeo estimula a expressão dos receptores CXCR3 no
epitélio intestinal, que por sua vez, estimulam a liberação de
zonulina, que se ligam os receptores expressos , promovendo
um rearranjo do citoesqueleto e por fim a desmontagem das
Tight junctions (figura 5) (FASANO, 2011).
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
356
Figura 4. Ação da gliadina na mucosa intestinal de pacientes com doença celíaca ativa, em remissão e no grupo controle.
Fonte: FASANO, (p. 159), 2011.
Com a abertura das Tight junctions, a gliadina atravesa
a barreira intestinal, onde sofre a ação da enzima
transglutaminase 2 (TG2) que a desamida, aumento assim sua
afinidade com os linfócitos T e linfócitos B (LB), células do
sistema imunitário responsáveis por desencadear respostas
imunológicas contra o peptídeo imunogênico (gliadina)
(DORUM, et al., 2016).
No caso da doença celiaca, em que os pacientes
possuem predisposições genéticas, os peptídeos desamidados
serão apresentados por APCs para as moléculas HLA DQ2 e/ou
DQ8. Essa ligação (HLA junto ao antígeno) promove a ativação
dos linfócitos T CD4+, desencadeando a produção de citocinas
do tipo T Helper 1 (Th1), e consequentemente a produção de
anticorpos específicos e liberação de interferon, caracterizando
um quadro de inflamação local e posterior destruição do epitélio
intestinal (figura 6) (ODIO; CÓRDOVA, 2012).
Para a população que não possui riscos genéticos para
a doença celíaca a gliadina também pode desencadear uma
resposta imune, ativando componentes do sistema imunitario
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
357
inato do intestino delgado, sistema esse que engloba interações
entre citocinas, células apresentadoras de antígenos,
microbiota, interleucinas e os linfócitos epiteliais intestinais (IEL)
(KIM, et al., 2015).
A ativação do sistema de imunidade inata intestinal em
pessoas saudáveis é mediada por uma porção da gliadina
denominado P31-43, capaz de estimular o aumento da
produção da interleucina-15 (IL-15). A IL-15 ocasiona a
produção de citocinas pró-inflamatórias, estimulando a
produção das células natural killer tipo A pelas células do
sistema imune, além de recrutar os linfócitos para o epitélio
intestinal (BARONE, et al., 2014).
O recrutamento de linfócitos pela IL-15 induz a
expressão de uma molécula denominada MICA que funciona
como um receptor para células natural killer tipo A e para
diversos tipos de linfocitos T. Quando as células natural killer
tipo A encontram as moléculas MICA expressas no epitélio de
algumas células, ligam-se a elas promovendo apoptose
(TEIXEIRA, 2012).
Além dos danos teciduais ocasionados pela liberação da
IL-15, ela também gera mecanismos que ocasionam a
intolerância ao glúten em pessoas não portadoras da doença
celíaca. Esses mecanismos iniciam-se com o processamento e
espressão dos antígenos pelas celúlas dendríticas,
apresentando-os assim às células T CD4+, que diferenciam-se
em citocinas do tipo T helper 1, levando a produção de IFN-γ,
caracterizando assim a perda da tolerância oral ao glutén (KIM,
et al., 2015).
Outro componente do sistema imunitário inato do
intestino é a microbiota intestinal, que é um conjunto de
comunidades que habitam essa região do corpo, formadas por
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
358
microorganismos, dentre os quais estão presentes bactérias,
vírus, parasitas e fungos (ALEGRE et al., 2014).
Os microorganismos presentes na microflora intestinal
desenvolvem uma relação com seu hospedeiro, beneficiando
ambos os organismos em condições fisiológicas (SANZ, 2015),
mas quando em disbiose, situação caracterizada por um
aumento de bactérias patogênicas e redução de bactérias
benéficas ao hospedeiro, a microbiota pode vir a ativar a
resposta imune em indivíduos sem o risco genético para a DC
(SANZ, et al., 2011).
A microflora intestinal saudável funciona como uma
espécie de barreira, protegendo o epitélio intestinal de
microorganismos patogênicos. Esses microrganismos
patogênicos que chegam a invadir a submucosa intestinal,
através das Tight junctions rompidas devido à liberação de
zonulina, podem interagir com os receptores toll-like, presentes
na superfície baso-lateral das células, estimulando a liberação
de citocinas (MAN et al., 2011).
Uma dessas citocinas é o fator transformador de
crescimento β (TGF-β), que coordenam a diferenciação das
células T CD4+ em T helper 17 (Th17), responsáveis pela
produção das citocinas, tais como a interleucina 17 (IL-17) e a
interleucina 22 (IL-22) na mucosa intestinal, desencadeando
inflamação do tecido. (CICERONE, 2015).
Os mecanismos imunológicos citados acima são
considerados descobertas recentes e apesar de se acreditar
que o glúten seja a substância mediadora dessas reações,
investigam-se também outros componentes presentes nos
grãos fontes de glúten que podem vir a causar ativação de
respostas imunológicas, tais como as proteínas de cereais
inibidores de amilase-tripsina (ATIs) e os carboidratos
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
359
considerados FODMAPs (oligossacarídeos, dissacarídeos,
monossacarídeos e polióis fermentáveis) (CATASSI, 2015).
As enzimas inibidoras de amilase-tripsina (ATIs) são
gatilhos conhecidos do receptor Toll-like do sistema imune
inato, estimulando a liberação de citocinas pró-inflamatórias
(ELLI et al., 2015). Já os FODMAPs (oligossacarídeos,
dissacarídeos, e monossacarídeos fermentáveis e polióis) são
hidratos de carbono de cadeia curta fracamente absorvidos
(TACK, et al., 2016). Estes hidratos de carbono por serem
pouco absorvidos, permanecendo no lúmen intestinal, onde são
expostos a bactérias que os fermentam rapidamente. O
resultado dessa fermentação é a liberação de ácidos graxos de
cadeia curta e gases, podendo causar problemas
gastrointestinais em pessoas com hipersensibilidade visceral e
motilidade intestinal anormal (GIORGIO, et al., 2015), e o
supercrescimento de bactérias e leveduras, o que pode levar a
um estímulo inflamatório, ocasionando lesões na mucosa,
agravando a má absorção desses carboidratos,
desencadeando uma viciosa auto-amplificação desse ciclo
(RUEMMELE, 2016).
Apesar dos dados citados acima, a sociedade brasileira
de alimentação e nutrição não recomenda as práticas de
exclusão do glúten da dieta de indivíduos que não possuem
patologias ligadas ao seu consumo, pois considera os dados
publicados atualmente não suficientes para provar que os
indivíduos saudáveis poderiam usufruir de todos os pontos
positivos que pacientes doentes experimentam ao
consumirem uma GFD (PANTALEÃO, et al., 2016).
MECANISMOS FISIOLÓGICOS DESENCADEADOS PELA INGESTÃO DO GLÚTEN
360
4 CONCLUSÕES
Conclui-se com esse trabalho de revisão da literatura que o trigo
geneticamente modificado ampliou o casos de alergia ao trigo,
doença celíaca e de sensibilidade ao glúten não celíaca, além
de ocasiornar a permeabilidade intestinal, na população em
geral, sendo esta situação relacionada em desencadear outras
patologias.
Pode-se concluir também que, em conjunto com um quadro de
disbiose intestinal, a gliadina consegue estimular mecanismos
imunológicos em pessoas com e sem predisposição genética
para a doença celíaca.
Além disso, foi possível evidenciar que apesar dos efeitos
imunoestimuladores característicos de uma dieta gluten-free,
não podemos desconsiderar a diminuição da ingestão de fibras
prebióticas ocasionada por essa dieta, levando a uma
diminuição de bactérias benéficas, aumentando o cenário
inflamatório do trato gastrointestinal.
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PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
365
CAPÍTULO 21
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES,
ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA POPULAÇÃO
Marina Ramalho RIBEIRO 1
Keylha Querino de Farias LIMA 1
Karen Beatriz Borges de OLIVEIRA 2 Caroline Severo de ASSIS 2
Jessica Vanessa de Carvalho LISBOA 1 1 Mestranda em Ciências da Nutrição, UFPB; 2 Pós-graduanda em Nutrição Clínica Funcional,
FIP. [email protected]
RESUMO: A vitamina B12 exerce um papel de grande importância para o organismo, sendo indispensável para a hematopoiese, metabolismo energético, funcionamento do sistema nervoso, síntese de DNA, e prevenção do acúmulo de homocisteína. Sua deficiência tende a crescer com o passar da idade e acarreta o surgimento de enfermidades específicas. Objetivo: avaliar o grau de inadequação do consumo de vitamina B12 em crianças, adolescentes, adultos e idosos na cidade de João Pessoa. Materiais e Método: estudo originado a partir do projeto de pesquisa “Primeiro diagnóstico e intervenção da situação alimentar, nutricional e das doenças não transmissíveis mais prevalentes da população do município de João Pessoa (I DISANDNT/JP)”. Participaram do estudo 866 indivíduos de todas as faixas etárias, nos quais foram aplicados questionários socioeconômicos e Recordatório de 24 Horas, tendo sido aplicado em triplicata. Análise de consumo habitual foi feita através do Multiple Source Method (MSM). RESULTADOS: a maioria da amostra foi composta pelo gênero feminino (n=408), no entanto a maior prevalência de
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
366
inadequação foi encontrada entre adultos (100%) e idosos (100%) do gênero masculino. Entre as mulheres, uma maior inadequação de consumo foi encontrada entre as crianças (81%). CONCLUSÃO: indivíduos adultos e idosos do gênero masculino bem como crianças do gênero feminino, de uma mesma população do município de João Pessoa-PB, apresentaram alta prevalência de inadequação do consumo de vitamina B12. Palavras-chave: Vitamina B12. Consumo alimentar. Inadequação.
1 INTRODUÇÃO
As vitaminas B12 exerce importante papel como um co-
fator enzimático, sendo indispensável para a hematopoiese,
metabolismo energético, funcionamento do sistema nervoso,
síntese de DNA, além de prevenir a acumulação de
homocisteína no organismo (STELUTI et al., 2011; GREEN;
MILLER 2007). Estando presente naturalmente apenas em
alimentos de origem animal, como fígado, carne vermelha,
frango, ovos e produtos lácteos (DROR; ALLEN, 2014;
O’LEARY; SAMMAM, 2010).
Combinando os achados de estudos nacionais sobre
carências nutricionais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009) e
excesso de peso (IBGE, 2011), observa-se que o Brasil
apresenta dupla carga de doenças de origens alimentares,
verificando-se a ocorrência de enfermidades causadas por
deficiência de micronutrientes específicos, entre estes a
deficiência de vitamina B12, caracterizada como um problema
de saúde pública, tendo as crianças como grupo de maior
vulnerabilidade devido às infecções pertinentes a esta faixa
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
367
etária, alimentação inadequada e desmame ou introdução de
alimentos precoces (HINTZ; TEIXEIRA, 2012).
A ingesta inadequada de vitamina B12 exerce efeitos
importantes sobre a saúde do indivíduo, visto que os
micronutrientes têm um papel relevante na prevenção de
doenças de alto impacto (STELUTI et al., 2011; ARAUJO et al.,
2013), além de prejudicar a síntese de glóbulos vermelhos e
função neurológica (ALLEN, 2012).
A prevalência de deficiência de vitamina B12 aumenta
com a idade, e a causa mais comum é a má absorção desta
vitamina. No entanto, a anemia perniciosa, gastrite atrófica,
crescimento bacteriano excessivo no intestino delgado, mau
funcionamento do íleo, além do uso de certos medicamentos
(como metformina, neomicina, cloreto de potássio, ácido para-
aminossalicílico), também podem resultar no aumento desta
prevalência (TANGNEY et al., 2009).
Crianças e adolescentes constituem um grupo de risco
para esta deficiência devido a alteração no perfil alimentar deste
grupo que pode dificultar o alcance das necessidades de
vitamina B12 (DROR; ALLEN, 2014; BALLEW; KUESTER;
GILLESPIE, 2000). Por este motivo, há necessidade de maior
vigilância do cumprimento das recomendações nutricionais
propostas nesta faixa etária (GOMES et al., 2010).
Diante da importância que a vitamina B12 exerce sobre
o organismo, faz-se necessário este estudo que tem como
objetivo avaliar o grau de inadequação do consumo de vitamina
B12 em crianças, adolescentes, adultos e idosos na cidade de
João Pessoa.
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
368
2 MATERIAIS E MÉTODO
Caracterização do estudo
O presente estudo foi originado a partir do projeto de
pesquisa intitulado: “Primeiro diagnóstico e intervenção da
situação alimentar, nutricional e das doenças não
transmissíveis mais prevalentes da população do município de
João Pessoa (I DISANDNT/JP)”. Utilizou-se um procedimento
amostral único, composto em níveis. Dada a disparidade da
variável "renda" e a relação existente entre renda, prevalência
de doenças e nutrição (KAC; SICHIERI; GIGANTE, 2007), em
um primeiro nível utilizou-se uma amostragem estratificada
(COCHRAN, 1977) sobre as quadras. Neste, classificaram-se
os bairros do município por renda em 10 estratos, segundo
informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE.
Sobre as quadras sorteadas, aplicou-se uma
amostragem sistemática (BOLFARINE; BUSSAB,
2005), objetivando escolher as residências que participariam da
amostra (segundo nível). Sorteou-se o rumo das quadras a
serem percorridas e o método de sistematização utilizado foi o
seguinte: a partir da primeira casa sorteada, as demais seriam
visitadas após cada sete.
Ao consentir colaborar com a pesquisa, cada participante
assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Em relação ao protocolo de pesquisa o mesmo foi submetido e
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), sob nº 0493.
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
369
Amostragem
Foram visitadas 722 residências, sendo encontrado um
total de 2030 indivíduos. Destes, foram selecionados 1165 de
acordo com o procedimento metodológico e objetivo deste
estudo. Após as perdas obtidas durante a seleção, foi totalizado
uma amostragem final de 866 indivíduos de todas as faixas
etárias. Os critérios de inclusão foram indivíduos saudáveis,
usuários ou não de medicamentos. E como critérios de
exclusão indivíduos com distúrbios neuropsiquiátricos; usuários
de suplemento de polivitamínicos, minerais, anorexígenos e
anabolizantes, gestantes, crianças com amamentação
exclusiva, e os que relataram consumo alimentar menor que
400kcal ou maior que 5000kcal (COSTA et al., 1996; PEREIRA
et al., 2013).
Coleta de dados
Após estudo piloto a coleta de dados foi realizada pelos
membros da equipe, mediante a supervisão dos
coordenadores, que eram mestrandos do Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Nutrição (PPGCN) da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Informações
completas sobre a coleta de dados e definição da amostra são
fornecidas em estudos publicados anteriormente (PEREIRA et
al., 2013; LUNA et al., 2011; LIMA et al., 2015).
Os dados socioeconômicos, como idade, renda e
escolaridade, foram obtidos por meio de questionário durante
as visitas domiciliares. A renda familiar foi calculada com base
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
370
no somatório dos proventos de todos os indivíduos da família e
presença de comorbidades foi auto-relatada no questionário.
Avaliação Dietética
Foram aplicados três R24h para cada indivíduos,
totalizando 2598 inquéritos, sendo realizados no intervalo de
quinze dias e contemplando um dia do final de semana. Para
preenchimento do R24h, os participantes referiram hora,
identificação do alimento ou bebidas consumidas,
características detalhadas dos alimentos como o tipo,
ingredientes que compõem as preparações, marca, forma de
preparo e identificação da quantidade consumida, de acordo
com o tamanho da porção e medidas caseiras.
Para auxílio do preenchimento do R24h utilizou-se um
manual contendo desenhos de alimentos e de medidas caseiras
nas três dimensões (pequena, média, grande e
extragrande), mensurados em balança eletrônica e desenhados
com base no peso real do consumo médio de alimentos
validados para esta população foi utilizado, com o
objetivo de quantificar de forma mais eficaz o tamanho das
porções consumidas (LIMA et al., 2008; GIBSON, 1990).
Os alimentos descritos no R24h foram convertidos em
gramas com auxílio do Manual acima mencionado (ASCIUTTI
et al., 2005). As preparações dos alimentos foram
desmembradas segundo seus ingredientes e quantidades e os
nutrientes contidos nos alimentos foram avaliados pelo software
de nutrição Dietwin.
Após a análise dos nutrientes, foi utilizado o Método de
Múltiplas Fontes (MultipleSourceMethod - MSM), online,
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
371
disponível no site (https://msm.dife.de/tps/msm/), para se obter
o consumo habitual (MSM, 2014). Para as análises sobre as
necessidades de nutrientes foram adotadas as recomendações
da DietaryReferenceIntake (DRI), de acordo com a EAR para
vitamina B12 (ALLEN, 2012)
Análise Estatística
Foi realizada análise das características da amostra e
expressa através de uma estatística descritiva representada por
frequência simples, utilizando-se medidas de posição como
tendência central e de dispersão (média, desvio-padrão,
amplitude e porcentagem). Os dados foram avaliados quanto à
normalidade através do teste de normalidade de Lilliefors, que
é uma derivação do teste de Kolmogorov-Smirnov. Todas as
análises estatísticas serão realizadas com o auxílio do software
Core R Development Team. Verificou-se a prevalência de
inadequação do consumo de vitamina B12 em todas as faixas
etárias. Foi estimado o seguinte modelo de regressão com o
escopo de identificar o sinal do coeficiente e a existência de
uma relação linear estatisticamente significativa entre as
variáveis:
Y = β0 + β1 . X
Para a comparação das médias foi utilizado ANOVA
seguido da aplicação do Teste de Tukey e para verificar as
associações será utilizado o Teste qui-quadrado. O nível de
significância adotado foi de 5% para rejeição da hipótese de
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
372
nulidade. Para todas as análises estatísticas, os valores de p
<0,05 foram considerados significativos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme mostra a tabela 1, a amostra foi composta por
866 indivíduos de todas as faixas etárias e de ambos os
gêneros, dos quais 525 eram do gênero feminino e 340
masculino.
Tabela 1. Características da amostra total dividida por grupo etário. João Pessoa – Paraíba, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa
Na tabela 2 são apresentadas a ingestão de vitamina
B12 bem como seus níveis de inadequação no gênero
masculino. No que diz respeito às médias de consumo, pôde-
se observar valores mais elevados nos indivíduos da maior
faixa etária (≥ 60 anos), enquanto que a menor média foi
encontrada na faixa etária que compreende indivíduos adultos,
de 20 a 59 anos. Quando analisados os valores da prevalência
de inadequação, é observado que tanto os adultos quanto
os idosos apresentaram 100% de inadequação, sendo as
crianças aquelas com menores valores (11%).
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
373
Os adolescentes são suscetíveis a deficiências
nutricionais devido à demanda aumentada de nutrientes para
atender o intenso crescimento característico desta fase,
especialmente no que diz respeito as vitaminas do complexo B,
C e minerais como ferro, cálcio e zinco. Assim, o interesse na
alimentação e nutrição nesta faixa etária se justifica diante de
evidências que associam dieta com riscos de patologias
crônicas na vida adulta, tanto pelo excesso quanto pela
carência de nutrientes (SPEAR, 2002; MALIK et al., 2012).
Durante esta fase ocorre um expressivo crescimento e
desenvolvimento corporal e cerebral, sendo a vitamina B12 um
nutriente essencial nesta etapa, podendo sua deficiência,
inclusive, ocasionar problemas mais graves, como desordens
hematológicas e induzir distúrbios neurológicos clínicos e sub
clínicos.
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
374
Tabela 2. Ingestão média de vitamina B12, quartis de ingestão e prevalência de inadequação de vitamina B12 por faixa etária e na amostra total do gênero masculino (João Pessoa/PB, Brasil).
Fonte: Dados da pesquisa
Grande parte dos estudos realizados com esta faixa
etária apontam valores de consumo de vitamina B12 abaixo do
recomendado, havendo ainda, em alguns destes, inadequação
da vitamina supracitada devido ao consumo elevado de
determinados nutrientes, algo que ocorre possivelmente pela
transição nutricional, com o aumento das porções e uma grande
mudança nos hábitos alimentares (APARICIO et al., 2015;
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
375
MACFARLANE et al., 2014; THOMAS et al., 2015; BRITO et al.,
2015). A transição nutricional presente nos adolescentes é um
fator social importante que influencia na percepção corporal e
na forma como estes jovens se alimentam.
No entanto, apesar destes fatores, o consumo excedente
de vitamina B12 também é observado entre os adolescentes
conforme observado em estudo realizado por Veiga et al.
(2013). Porém, embora elevados, este resultado não é
caracterizado como um problema nutricional, pois não atinge e
muito menos ultrapassa a UL.
Com relação aos adultos, o estudo em questão observou
outro resultado expressivo ao constatar um consumo
inadequado de vitamina B12 em 100% dos adultos do gênero
masculino. Além de ser importante devido a proporção de
inadequação, este resultado também se faz relevante devido a
escassez de estudos que demonstrem resultados semelhantes.
Araujo et al., (2013) verificaram que, entre o gênero feminino e
o masculino respectivamente, apenas 12,6% e 8,5% da
amostra apresentaram inadequações no consumo da vitamina
em questão.
Esta acentuada deficiência no consumo é um dado
bastante preocupante visto que a vitamina B12 está relacionada
à proteção contra alguns tipos de câncer e redução dos níveis
plasmáticos de homocisteína, que, por sua vez, caracteriza-se
como um fator de risco para doenças cardiovasculares e
doença de Alzheimer (STELUTI et al., 2011). Esta deficiência
também prejudica a síntese de glóbulos vermelhos e a função
neurológica, provocando desmielinização dos nervos – em
parte devido à metilação anormal – podendo levar à demência
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
376
neuropatia periférica, desempenho cognitivo ruim e depressão)
(ALLEN, 2012).
Com relação aos idosos, especialmente aqueles do
gênero masculino onde todos demonstraram consumo
inadequado de vitamina B12, não foi encontrado na literatura
consultada artigos que observaram níveis semelhantes de
inadequação com aquele verificado no presente estudo. Entre
os indivíduos do gênero feminino (tab. 4) a inadequação de
consumo da vitamina supracitada foi menor, sendo este dado
semelhante ao apresentado na literatura por Viñas et al.,
(2011).
O consumo inadequado da vitamina B12 não é uma
condição imperativa para os indivíduos nesta faixa etária, visto
que existem estudos que observaram um consumo adequado
ou acima da média desta vitamina (LIMA, LIMA, ALMEIDA,
2013). No entanto, as inadequações do consumo alimentar são
comuns nesta faixa etária levando à necessidade de melhorias
na alimentação dos mesmos (MALTA, PAPINI, CORRENTE,
2013; FISBERG et al., 2013).
Estas alterações nos perfis de consumo alimentar entre
os idosos podem ser devido às diversas alterações fisiológicas
naturais da idade que interferem na ingestão alimentar,
absorção, digestão e utilização de nutrientes. Também pode
estar relacionada ao fato de que indivíduos idosos possuem
maior dependência de terceiros para a preparação e
fornecimento de alimentos, fazendo com que haja, muitas
vezes, certa negligência nestes quesitos (LIMA, LIMA,
ALMEIDA, 2013; BIERHALS, MELLER, ASSUNÇÃO, 2016).
Uma alimentação adequada em todos os nutrientes
exerce função importante entre os idosos, tanto na saúde
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
377
quanto na habilidade funcional, sendo já observado que a
ingestão de vitaminas por idosos brasileiros encontra-se aquém
dos valores recomendados; por isso, a má nutrição nesta faixa
etária pode levar à um risco aumentado de danos à saúde
(FISBERG et al., 2013; VENTURINI et al., 2016).
Quanto ao consumo e inadequação de vitamina B12 no
gênero feminino, apresentados na tabela 3, observa-se que,
assim como no gênero masculino, houve maior média de
consumo nos indivíduos com idade ≥ 60 anos e menor nos
adultos. A prevalência de inadequação foi baixa em todas as
faixas etárias, exceto nas crianças que apresentaram uma
proporção de 81% de inadequação.
No que diz respeito ao consumo alimentar das crianças
do gênero feminino, alguns estudos demonstram níveis de
inadequação semelhantes ao apresentados no presente
estudo, remetendo à baixa ingestão de fontes alimentares ricas
em vitamina B12 por este grupo etário (CARVALHO et al.,
2015).
Com relação as crianças com idade entre 12 e 59 meses,
Shahab-Ferdows et al., (2015) observaram uma taxa de
inadequação de 29% entre as crianças não amamentadas que
compuseram sua amostra. Este dado, apesar de elevado, não
se equipara àquele encontrado no presente estudo, revelando,
portanto, uma taxa de inadequação expressiva na amostra em
questão.
Tabela 3. Ingestão média de vitamina B12, quartis de ingestão e prevalência de inadequação de vitamina B12 por faixa etária e na amostra total do gênero feminino (João Pessoa/PB, Brasil).
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
378
Fonte: Dados da pesquisa
No entanto, vale ressaltar que quando inserida em um
meio propício para uma alimentação adequada, a criança
possui maiores chances de ter um consumo suficiente de
nutrientes (CARVALHO et al., 2015).
Todos estes fatores juntos podem ocasionar forte
influência no que diz respeito ao consumo alimentar nesta fase
e também à saúde, visto que um consumo inadequado de
vitamina B12 está associado a aumento do risco de surgimento
de anemia e outras patologias relacionadas.
PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DO CONSUMO DE VITAMINA B12 EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES, ADULTOS E IDOSOS DE UMA MESMA
POPULAÇÃO
379
As variações encontradas nas prevalências de
inadequações entre os grupos estudados, e entre outros
estudos, devem ser analisadas frente a presença de diversas
variáveis que podem ter influenciado em seus resultados,
dentre elas as socioeconômicas e escolares, pois é sabido que
o comprometimentos destas tende a diminuir o acesso a
determinados tipos de alimentos, como aqueles que são fonte
de vitamina B12, bem como também pode afetar negativamente
a obtenção de informações pertinentes a respeito de uma
alimentação saudável e outros fatores que contribuem para
uma boa qualidade de vida.
4 CONCLUSÕES
Conclui-se que indivíduos adultos e idosos do gênero
masculino bem como crianças do gênero feminino, de uma
mesma população do município de João Pessoa-PB,
apresentaram alta prevalência de inadequação do consumo de
vitamina B12.
Os resultados expostos no presente estudo são de
grande relevância para estudos de situação alimentar, visto que
este é o primeiro a analisar o consumo alimentar de vitamina
B12 em indivíduos de todas as faixas etárias e ainda por
apresentar proporções de inadequações significativas para
ambos os gêneros em determinados grupos etários.
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AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
383
CAPÍTULO 22
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO CRUZ, PB
Larissa Maria Gomes DUTRA 1
Rita de Cássia de Araújo BIDÔ 2
Martiniano da Silva LIMA 3
Maria Juliete da Silva OLIVEIRA 4
1 Especialista em Nutrição Clínica/Estácio de Sá; 2 Pós-graduanda em Ciência e Tecnologia de Alimentos/UFPB; 3 Pós-graduando em Nutrição Esportiva/FIP; 4Orientadora/ Pós-
graduanda em Ciência e Tecnologia de Alimentos/ UFPB. [email protected]
RESUMO: O objetivo do trabalho foi avaliar o estado nutricional de crianças assistidas pela Creche Municipal Nossa Senhora dos Milagres, Brejo do Cruz – PB. Estudo do tipo transversal, levantamento antropométrico em pré-escolares regulamente matriculados na Creche, no total de 99 crianças matriculadas, na faixa etária de um ano aos cinco anos. A avaliação nutricional foi realizada de acordo com as técnicas preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nos índices: Estatura por Idade, Peso por Idade, Peso por Estatura e IMC por Idade. Observou-se no indicador peso para a idade crianças desnutridas, com baixo peso, eutrófica, com sobrepeso e obesidade, 2 (2,5%), 18 (22,5%), 48 (60%), 5 (6,25%) e 7 (8,75%), respectivamente. No indicador estatura para a idade, foi observado que 50% das crianças apresentaram estatura adequada para a idade, enquanto que 25% com risco de baixa estatura para idade, 2,5% risco de estatura elevada para idade. No indicador peso para a estatura, foram detectadas crianças com baixo peso, eutrófica, com sobrepeso, 4 (5%), 48 (60%), 17 (21,25%), e analisando o indicador IMC para a idade, foram detectadas crianças com
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
384
baixo peso, eutrófica, e sobrepeso, 4 (5%), 46 (57,5%), 18 (22,5%), respectivamente. No final do estudo pode-se observar que a transição nutricional é um momento vivido por todo o mundo, sendo assim, necessárias intervenções na avaliação no desenvolvimento da criança. Palavras-chave: Criança. Creche. Estado Nutricional.
1 INTRODUÇÃO
O estado nutricional de uma criança possui importante
relação com seu crescimento, contribuindo para o
desenvolvimento de suas aptidões psicomotoras e sociais.
Alterações nutricionais expõem tais crianças a riscos potenciais
de agravos à saúde, bem como a futuros problemas de relações
interpessoais e funcionais dentro da comunidade (SANTOS;
LEÃO, 2008).
A saúde infantil é considerada um indicador de saúde
pública de um país e reflete as condições de vida de uma
população. Há algum tempo atrás a desnutrição infantil era o
distúrbio nutricional frequentemente observado nas crianças
menores de cinco anos. Sobretudo, nos dias atuais, os estudos
vêm mostrando um aumento significativo do sobrepeso em
crianças, decorrente da transição nutricional (BATISTA;
RISSIN, 2010).
Segundo Fernandes, Gallo e Adivincula (2009), o Brasil
é um país que vem passando por este momento de transição,
que se caracteriza pelas mudanças nos padrões de consumo
alimentar da população, ocasionadas por modificações sociais,
econômicas, influência da mídia, família e escola, aumentando
o percentual de obesidade durante a infância, levando a graves
riscos à saúde (SANTOS; LEÃO, 2008).
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
385
A avaliação do estado nutricional de crianças vem se
tornado cada vez mais importante no estabelecimento de
situações de risco, no diagnóstico nutricional e no planejamento
de ações de promoção à saúde e prevenção de doenças, e ao
monitorar esse estado nutricional é possível obter o
conhecimento do padrão de crescimento da população
analisada, instrumento importante na prevenção e no
diagnóstico de distúrbios nutricionais (PERRONE et al., 2015).
As medidas peso e altura são as medidas
antropométricas mais utilizadas como método de avaliação e de
monitoramento do crescimento durante a infância, devido à fácil
aplicabilidade e ao baixo custo. A avaliação desses parâmetros
permite inúmeras aplicações, tais como prever situação
emergencial relacionada à nutrição e alimentação, mensurar a
distribuição dos recursos econômicos intra e intercomunidades,
rastrear e acompanhar grupos de risco nutricional (PERRONE
et al., 2015).
O benefício oferecido pelas creches é considerado uma
importante estratégia dos países subdesenvolvidos para
aprimorar o crescimento e desenvolvimento de crianças que
pertencem a estratos sociais menos favorecidos. A demanda
por estes serviços é grande, condicionada pela participação
crescente da mulher no mercado de trabalho, principalmente
nas grandes e médias cidades do Brasil (GOULART et al.,
2010)
Assim, as creches vêm se modificando gradativamente
no sentido de se transformar em proposta de política pública
nos setores de educação, nutrição e saúde. O benefício
constitui o principal instrumento de política pública voltado para
a promoção de segurança alimentar e nutricional da população
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
386
urbana de lactentes e pré‐escolares de famílias de baixa renda
(BÓGUS et al., 2007).
Os estudos sobre a influência das creches na saúde das
crianças são inconclusivos. Algumas pesquisas mostraram que
crianças que frequentam creches apresentam maior risco de
desenvolver diarreia e doenças infecciosas respiratórias. Por
outro lado, várias investigações ressaltam a importância das
creches na melhoria do estado nutricional das crianças,
principalmente para aquelas de menor renda familiar. Os
benefícios da assistência a pré-escolares nas creches estão
relacionados à melhor oferta nutricional, aos processos de
socialização e estímulo psicomotor, além do apoio à família
para a guarda segura de seus filhos (ROCHA et al, 2008).
O estado nutricional é resultante da disponibilidade, do
consumo, da absorção e das necessidades individuais de
nutrientes, ficando evidente a influência que o ambiente exerce.
Sendo necessária a realização constante de ações de vigilância
nutricional, em virtude da alta prevalência de distúrbios
nutricionais, como a desnutrição energético-protéica, a anemia
ferropriva e, atualmente, o aumento da obesidade em crianças
(MACHADO et at, 2005).
Assim, torna-se importante conhecer o estado nutricional
de crianças assistidas em uma creche pública do município de
Brejo do Cruz/PB, através do aferimento do peso e do
comprimento/estatura da criança para que assim defina-se o
Índice de Massa Corporal (IMC) e à determinação do estado
nutricional através das técnicas preconizadas pela
Organização Mundial de Saúde (OMS); com o intuito de
elucidar a existência de alguma relação entre o estado
nutricional e ao fato destas receberem uma merenda escolar
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
387
planejada dentro dos princípios e normas estabelecidas pelo
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
2 MATERIAIS E MÉTODO
Estudo do tipo transversal, constituído de levantamento
antropométrico em pré-escolares regulamente matriculados na
Creche Municipal Nossa Senhora dos Milagres, Brejo do Cruz -
PB, perfazendo um total de 99 crianças matriculadas nos turnos
matutino e vespertino, na faixa etária de um (01) ano aos cinco
(05) anos. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi
uma ficha, onde conteve o nome, data de nascimento, peso e
estatura da criança.
A ficha de matrícula da criança foi utilizada para a
determinação da idade cronológica em anos e meses. Para a
aferição do peso, foi utilizada balança digital com capacidade
máxima de 150 Kg e graduação de 100 g. O aluno avaliado ficou
em pé, descalço e foi orientado a ficar na balança em posição
ereta, com o peso distribuído igualmente nas duas pernas, os
braços estendidos ao longo do corpo e o olhar para o horizonte,
segundo o Plano de Frankfort. Para a medição, o aluno ficou
posicionado junto à fita métrica de modo que sua cabeça,
nádegas e calcanhares estejam encostados na parede, em
posição ereta, com o peso distribuído igualmente nas duas
pernas, os braços estendidos ao longo do corpo e o olhar para
o horizonte, segundo o Plano de Frankfort.
A avaliação nutricional das crianças foi realizada de
acordo com as técnicas preconizadas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS). Para a análise dos índices: Peso por
Idade, Peso por Estatura e IMC por Idade foram utilizados as
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
388
seguintes classificações: normalidade ou eutrofia foi conferido
às crianças com percentil no intervalo entre 15 e 85; o
sobrepeso foi classificado com um percentil no intervalo ≥85 e
<97; a obesidade foi apontada com um percentil ≥97; já o baixo
peso foi entendido como um percentil ≥3 e <15; e a desnutrição
foi diagnosticada com um percentil <3. Quanto a Estatura
por Idade os índices foram avaliados da seguinte forma:
estatura adequada para idade foi conferido às crianças com
percentil no intervalo entre 15 e 85; o risco de estatura elevada
para idade foi classificado com um percentil no intervalo ≥85 e
<97; a estatura elevada para a idade foi apontada com um
percentil ≥97; já o risco de baixa estatura para a idade foi
entendido como um percentil ≥3 e <15; e a baixa estatura para
a idade foi diagnosticada com um percentil <3.
Para a análise dos dados, foram gerados gráficos pelo
programa Excel®.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No total de 99 crianças, foram analisadas 80 (80,80%)
pré-escolares, dos quais 41 alunos eram do sexo feminino e 39
do sexo masculino. A Avaliação Nutricional foi realizada através
das curvas da Organização Mundial de Saúde (OMS), nos
percentis peso/idade, estatura/idade, peso/estatura e
IMC/idade.
A Figura 1, apresenta a distribuição do indicador peso
para a idade em escala de percentis, onde foram detectadas
crianças desnutridas, com baixo peso, eutrófica, com
sobrepeso e obesidade, 2 (2,5%), 18 (22,5%), 48 (60%), 5
(6,25%) e 7 (8,75%), respectivamente. Podendo ver que mais
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
389
da metade das crianças apresentaram-se eutróficas em relação
ao estado nutricional.
Figura 1 - Estado Nutricional de pré-escolares no Percentil Peso por Idade
Fonte: Pesquisa direta, 2015
Na Figura 2 foi analisado o indicador estatura para a
idade em escala de percentis, onde observou que 50% das
crianças avaliadas apresentaram estatura adequada para a
idade, enquanto que 21,25% mostraram baixa estatura para a
idade, 25% risco de baixa estatura para idade, 2,5% risco de
estatura elevada para idade e 1,25% estatura elevada para a
idade.
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
390
Figura 2 - Estado Nutricional de pré-escolares no Percentil Estatura por Idade
Fonte: Pesquisa direta, 2015
Em relação a distribuição do indicador peso para a
estatura em escala de percentis, foram detectadas crianças
desnutridas 1 (1,25%), com baixo peso 4 (5%), eutrófica 48
(60%), com sobrepeso 17 (21,25%) e obesidade 10 (12,25%).
Sendo assim, mais da metade das crianças neste parâmetro
apresentaram-se eutróficas (Figura 3).
Figura 3 - Estado Nutricional de pré-escolares no Percentil Peso por Estatura
Fonte: Pesquisa direta, 2015
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
391
Analisando a Figura 4, a distribuição do indicador IMC
para a idade em escala de percentis, onde foram detectadas
crianças desnutridas, com baixo peso, eutrófica, com
sobrepeso e obesidade, 1 (1,25%),4 (5%), 46 (57,5%), 18
(22,5%) e 11 (13,75%), respectivamente.
Figura 4 - Estado Nutricional de pré-escolares no Percentil IMC por Idade
Fonte: Pesquisa direta, 2015
A Figura 5, mostra um aumento de peso em crianças,
onde foram detectadas 18 (22,5%) crianças com sobrepeso e 4
(5%) escolares com baixo peso.
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
392
Figura 5 - Distribuição em porcentagens de Baixo peso e Sobreso em pré-escolares
Fonte: Pesquisa direta, 2015
A maioria dos problemas de saúde e nutrição durante a
infância está relacionada com consumo alimentar inadequado
e infecções de repetição, sendo que essas duas condições
estão intimamente relacionadas com o padrão de vida da
população, que inclui o acesso a alimentação, moradia e
assitência à saúde. Dessa forma, então, a avaliação do
crescimento infantil é também uma medida indireta da
qualidade de vida da população (ONIS et al., 1993).
Os parâmetros antropométricos usualmente utilizados
para avaliar a condição nutricional de crianças são o peso e a
estatura que representam, no nível individual ou de populações,
o grau de ajustamento entre o potencial genético de
crescimento e os fatores ambientais favoráveis e nocivos. Há
evidências de que o crescimento em estatura e peso de
crianças saudáveis de diferentes origens étnicas, submetidas a
condições adequadas de vida, são similares até os cinco anos
de idade. Assim, existe a possibilidade de utilizar um referencial
único, internacional, para avaliar o crescimento e o estado de
nutrição de diferentes regiões (SIGULEM et al., 2000).
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
393
O perfil do grupo antropométrico em estudo, quando
comparados aos percentis de referência contidos nas curvas da
OMS, indica que há uma alta prevalência de crianças com
sobrepeso nos percentis peso/estatura (21,25%) e IMC/idade
(22,5%) quando se compara com as crianças de baixo peso
(5%) e (5%), concomitantemente e no percentil peso/idade
pode-se observar um alto percentual de baixo peso (22,5%)
comparando com sobrepeso (6,26%). Flores et al, (2013),
analisando o excesso de peso (sobrepeso + obesidade),
verificou dados preocupantes: cerca de 20% no sobrepeso, e
na obesidade, varia de 5,5% a 12,2% no último período avaliado
2009 a 2011, representando uma média de prevalência de
excesso de peso de 27,6% no sexo masculino e de 33,8 % no
sexo feminino, corrobando com os dados demostrados na
Gráfico 5, podendo-se notar a identificação de 18 (22,5%) dos
pré-escolares estão com sobrepeso e 4 (5%) das crianças com
baixo peso, tal fato pode ser atribuído a transição nutricional,
endossando a ideia de que a sobrepeso/obesidade infantil vem
se tornando um problema de saúde pública.
É preciso destacar que o maior risco, em longo prazo, da
obesidade infantil, é sua persistência no adulto, com todas as
consequências associadas a prejuízos a saúde, como as
doenças crônicas não transmissíveis, hipertensão, diabetes,
dislipidemias e doenças cardiovasculares. (FERNANDES;
GALLO; ADVÍNCULA; 2006). O crescente aumento do número
de indivíduos obesos parece estar mais relacionado às
mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares (SILVA et
al., 2001).
No parâmetro peso/idade, após a eutrofia, o estado
nutricional mais prevalente foi o de baixo peso com o percentual
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
394
de 22,5% para todas as crianças avaliadas. Este valor encontra-
se aumentado quando comparado com outros estudos que
apresentam prevalência de 4,5% de baixo peso para idade,
para crianças no estado do Pará, também na Regiäo Norte
(NEVES et al., 2006).
No parâmetro estatura/idade, o segundo estado
nutricional mais prevalente foi o de risco de baixa estatura com
25% das crianças avaliadas. Os resultados encontrados por
Santos e Leão (2008), as crianças apresentaram risco de baixa
estatura e peso elevado para a idade, ocasionando risco de
sobrepeso, no qual apontam como reflexo da transição
nutricional
No parâmetro de IMC/idade o segundo estado nutricional
mais prevalente foi o de sobrepeso denotado em 22,5% das
crianças avaliadas. Sendo o IMC um índice relativo do peso e
da estatura, podemos dizer que a adequação do escore-z
IMC/idade pode não refletir o excesso de peso na população,
mascarado pela baixa estatura. Crianças com baixa estatura
podem estar no peso ideal para sua estatura, entretanto abaixo
do peso ideal para sua idade.
Pedraza e Mendezes (2016) sugerem que o processo de
transição nutricional evidenciado na população brasileira se
apresenta também na população de crianças assistidas em
creches, ressalta‐se a necessidade do desenvolvimento de um
inquérito multicêntrico sobre saúde e nutrição, aliado à maior
quantidade de investigações pontuais, mas comparáveis, para
avaliar de forma mais precisa o comportamento atual das
prevalências de má‐nutrição de crianças assistidas em creches.
Isto tornaria possível comparar de forma mais clara os
indicadores do estado nutricional de crianças assistidas em
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
395
creches com dados nacionais e de outros grupos vulneráveis e
o planejamento de intervenções direcionadas ao controle do
sobrepeso e do déficit de estatura.
No presente estudo verificou-se que a maioria da
população estudada apresentou peso adequado para idade,
revelando um adequado estado nutricional desses pré-
escolares.
É importante ressaltar que para manter um bom estado
nutricional de crianças se faz necessário uma alimentação
adequada não só no ambiente familiar, como dentro da própria
escola, pois uma alimentação inadequada pode acarretar serias
consequências. Essas consequências durante a fase pré-
escolar incluem dentre outras situações, alterações no
aprendizado, déficit de atenção, deficiências nutricionais, e
ainda contribuem para o surgimento do peso elevado para
idade, ocasionando sobrepeso e obesidade (DESPAIN, 2011).
Podendo-se notar a importância da realização de
eventos, como ações educativas no que tange a alimentação e
a nutrição para que haja melhoras no nível de conhecimento
nos hábitos de vida saudáveis.
4 CONCLUSÕES
Ao final deste estudo pode-se confirmar, por meio da
avaliação do perfil nutricional das crianças pré-escolares
pertencentes a creche pública da cidade de brejo do Cruz-PB,
que a transição nutricional é um momento vivido por todo o
mundo, mostrando que, há um aumento de peso nas crianças
avaliadas, onde foram detectadas 18 (22,5%) com sobrepeso e
4 (5%) escolares com baixo peso. Sendo assim, necessária
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
396
intervenções na avaliação no desenvolvimento da criança bem
como ações de educação alimentar e nutricional,
principalmente nesta fase infantil onde seus hábitos alimentares
são formados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, F. M; RISSIN, A. A transição nutricional no Brasil, tendências regionais e temporais. Caderno de Saúde Pública. São Paulo. v. 19, n.1, p. 150-163, 2010. BÓGUS, C. M., NOGUEIRA-MARTINS, M. C., MORAES, D.E., TADDEI, J. A. Cuidados oferecidos pelas creches: percepções de mães e educadoras Rev Nutr., v. 20, p. 499–514, 2007. DESPAIN, J. J. A bebida perfeita. Vida e Saúde. Casa Publicadora
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2016.
AVALIÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS ASSISTIDAS PELA CRECHE MUNICIPAL NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, NO MUNICÍPIO DE BREJO DO
CRUZ, PB
397
ROCHA, D. S.; LAMOUNIER, J. A.; CAPANEMA, F. D.; FRANCESCHINI, S. C. C.; NORTON, R. C.; COSTA, A. B. P.; RODRIGUES, M. T. G.; CARVALHO, M. R.; CHAVES, T. S. Estado nutricional e prevalência de anemia em crianças que frequentam creches em Belo Horizonte, Minas Gerais. Revista Paulista de Pediatria, v. 26, n. 1, p. 6-13, 2008. SANTOS, A. L. B.; LEÃO, L. S. C. S. Perfil antropométrico de pré-escolares de uma creche em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Revista Paulista de Pediatria. v. 26, n. 3, p. 218-24, 2008. SIGULEM, D.M.; DEVINCENZI, M.U.; LESSA, A. C. Diagnóstico do estado nutricional da criança e do adolescente J Pediatr. Rio de Janeiro, 76 (Suppl 3), pp. 275–284. 2000. SILVA, G. A. P.; BALABAN. G.; BARACHO, J. D.S.; FREITAS, M. M. V.; NASCIMENTO, E. M. M. Prevalência de sobrepeso e obesidade entre pré-escolares atendidos no ambulatório do Hospital das Clínicas/UFPE - Recife, Pernambuco - Brasil. Anais da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, v. 46, p. 127-131, 2001. PERRONE, A. C. L.; FIGUEIREDO, G. L. P.; AMARAL. J. H.; SOUZA, C. S. M. Desenvolvimento infantil no interior do Amazonas: avaliação antropométrica de escolares de 9 anos. Saúde & Transformação Social. Florianópolis. v.6, n.3, p.42.-09, 2015. ONÍS, M., MONTEIRO, C. A., AKRÉ, J., CLUGSTON, G. The worlwide magnitude of protein-energy malnutrition: an overview from the WHO global database on child growth. Bull WHO. v. 71, p. 703-12, 1993.
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
398
CAPÍTULO 23
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
Erika Maria Pereira MATOS¹ Giselle Medeiros da Costa ONE³
Nutricionista¹, Bióloga Dra.
RESUMO: Micronutrientes são definidos como vitaminas e minerais que são essenciais para o bom funcionamento do nosso corpo, porém necessários em pequenas quantidades. A ingestão inapropriada de alguns nutrientes pode estar agregada a diferentes prejuízos na capacidade normal de defesa celular e/ou humoral. Objetivou-se conhecer a influência dos micronutrientes e sua implicação no estado nutricional, identificarem a importância nutricional e biológica dos micronutrientes sobre o sistema imune, verificar a relação entre micronutrientes e excesso de peso e descrever fontes dietéticas dos micronutrientes. O estudo foi realizado nos bancos de dados BIREME, MEDLINE, SCIELO E LILACS com artigos dos últimos 15 anos. Neste estudo foram utilizados os seguintes descritores: “consumo de micronutrientes”, “consumo alimentar”, “excesso de peso”, “estado nutricional“, “saúde”, “desnutrição”, “carência alimentar”, “imunidade” e “sistema imunológico” e todos os artigos selecionados foram da língua portuguesa. Os micronutrientes citados nessa revisão mais importantes para a saúde são o cálcio, ferro, zinco e vitaminas A, C e D. O cálcio é o componente básico da estrutura óssea, ajuda a construir os dentes e tem função antialérgica e desintoxicante. O ferro é importante para o organismo porque é um dos componentes da hemoglobina, mioglobina e enzimas respiratórias, sendo de fundamental importância para a respiração celular. O zinco é um mineral essencial para o
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
399
desenvolvimento normal e função de células imunológicas. vitamina A está relacionada às reações da visão e diferenciação epitelial, C e D, tem função antioxidante, limitando o estresse oxidativo e a ação dos radicais livres sobre as estruturas celulares. A deficiência de ferro, zinco e vitamina A pode levar a diversos prejuízos na função imunológica normal, incluindo defeitos nas respostas inatas e adaptativas. Concluiu-se que a adequação nutricional de micronutrientes está intimamente relacionada ao bom funcionamento do sistema imunológico. Palavras chave: Sistema imune, Micronutrientes, Defesa de organismo. 1 INTRODUÇÃO
Desde os primórdios já se ouvia falar em doenças e
epidemias que acomete a humanidade e causam inúmeras
mortes (GUTIERREZ; OBERDIEK, 2001), mas sempre houve
indivíduos que mesmo contraindo a doença se recuperavam e
não morriam, sendo considerada imune a enfermidade. O termo
imunidade surgiu do latimimmunitasna Roma Antiga e fazia
referência legal aos senadores romano.
O sistema imunológico ou sistema imune engloba todos
os processos pelos quais um organismo se defende de agentes
estranhos, conhecidos com antígenos (MOYNIHAN;
PETERSEN, 2006). O conjunto de órgãos, células e moléculas
responsáveis pela imunidade constituem o sistema
imunológico, e suas ações coletivas de resposta na
apresentação de substâncias estranhas é chamado de resposta
imune (ABBAS, 2008).
A relação entre nutrição e imunidade é conhecida desde
a antiguidade. Scrimshaw, em 1959, fez uma revisão da
literatura com relação ao tema Nutrição e Resposta Imune, no
qual concluiu que: "Muitas das importantes infecções das
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
400
populações humanas tornam-se mais severas quando há má-
nutrição e muitas infecções isoladamente causam alterações
nutricionais" (ROZICKI, 2000).
A imunidade é regulada pela produção de APC´s
(Células apresentadoras de antígenos), imunoglobulinas e
citocinas (CALDER, 2011), e o sistema imunológico necessita
de aminoácidos para a síntese de moléculas com grande
importância biológica como proteínas e lipídeos (KIM et al.,
2007).
A desnutrição acarreta consequências negativas no
crescimento de crianças e nos mecanismos gerais de defesa,
resultando em um indivíduo mais suscetível a enfermidades,
devido a interação entre desnutrição, sistema imune e doenças
infecciosas (MOYNIHAN; PETERSEN, 2016). Kemp et al.
(2002) mencionam que muitas doenças crônicas, incluindo
infecções, aterosclerose, artrite, câncer tem suas raízes em
alterações do sistema imune e seu curso pode ser alterado com
tratamentos nutricionais.
A insuficiente ingestão de micronutrientes em
consequência da desnutrição ou de uma alimentação
desequilibrada traz prejuízos ao sistema imunológico, isso
contribui para o aumento da suscetibilidade de animais e seres
humanos a doenças infecciosas, por sua vez, produzem
mudanças fisiológicas que pioram o estado nutricional
(CHANDRA, 2002). Verifica-se nos dia atuais que a
alimentação da população no geral está totalmente
desequilibrada, desencadeando processos inflamatórios e
infecciosos.
Pinheiro et al. (2010) identificou que no Brasil existe uma
grande limitação sobre o consumo de micronutrientes, pois a
ingestão de vitaminas e minerais é inadequada na dieta padrão
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
401
do país, independente da classe social, afirmando que: “A
inadequação no consumo de vitaminas e minerais foi de 50%
para vitamina A, 80% para vitamina C e para magnésio, 81%
para vitamina K e, 99% para vitaminas E e D”.
Leão e Santos (2012) confirmam que a deficiência no
consumo de micronutrientes é um problema de saúde global,
atingindo cerca de 2 bilhões de pessoas e está associado a
vários problemas, entre eles obesidade (POPKIN, 2001), a
capacidade do hospedeiro produzir resposta inflamatória
protetora (CAPIK, 2010), baixa estatura em crianças (ONIS;
BLOSSNER, 2003), em pessoas hospitalizadas contribui para o
desenvolvimento de infecção, sepse, falência de órgãos, má
cicatrização de feridas e aumento geral da morbidade e
mortalidade (CERRA et al., 1990).
Objetivou-se conhecer a influência dos micronutrientes e
sua implicação no estado nutricional, identificar a importância
nutricional e biológica dos micronutrientes sobre o sistema
imune, verificar a relação entre micronutrientes e excesso de
peso e descrever e fontes dietéticas dos micronutrientes.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo tratou de uma revisão bibliográfica,
realizada através de método investigativo, que, segundo
Prodanov (2013) engloba a análise de trabalhos já realizados
na área, com o intuito de prover ao leitor o entendimento
necessário sobre a importância dos micronutrientes no
sistema imunológico.
Para a realização das buscas dos artigos científicos,
foram utilizadas diversas bases de dados, como sistema
BIREME (Biblioteca Virtual em Saúde); MEDLINE; SciELO
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
402
(ScientificElectronic Library Online); LILACS (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) dos últimos 15
anos. Neste estudo foram utilizados os seguintes descritores:
“consumo de micronutrientes”, “consumo alimentar”, “excesso
de peso”, “estado nutricional“, “saúde”, “desnutrição”, “carência
alimentar”, “imunidade” e “sistema imunológico” e todos os
artigos utilizados foram da língua portuguesa.
Foram encontrados 32 artigos científicos sobre
alimentação e sistema imunológico. Como critérios de inclusão
foram selecionados os artigos que se referiam apenas à
micronutriente e sistema imunológico e como critério de
exclusão para este trabalho e tendo que sejam dispensáveis os
artigos referentes à alimentação e imunidade, mas não
especificamente micronutrientes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
O sistema imunológico ou sistema imune envolve os
mecanismos pelos quais um organismo se defende de
patógenos e é formado por moléculas, células e órgãos em prol
da homeostase do organismo. Esse sistema constitui a defesa
do hospedeiro contra agentes agressores externos, tais como
bactérias, vírus e parasitas ou internos como, por exemplo,
células neoplásicas malignas (SARNI et al., 2010).
As células que fazem parte do sistema imunitário são os
neutrófilos, eosinófilos, basófilos, linfócitos T, linfócitos B, células
NK, macrófagos, mastócitos e monócitos (LEÃO; SANTOS, 2012).
Os neutrófilos atuam na defesa fagocitando bactérias e
outros microrganismos, oseosinófilos são responsáveis por
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
403
fagocitar e eliminar complexos de antígenos com anticorpos
que aparecem em casos de alergia;os basófilos liberam
heparina e histamina durante o processo de combate a agentes
infecciosos;os linfócitos são divididos em linfócito T-
citotóxico,linfócito T- auxiliar,helperouT4; linfócito T- supressor
e linfócito T de memória, no geral tem como função síntese de
anticorpos visando destruir os microrganismos invasores; os
linfócitos B atuam na produção de anticorpos específicos contra
um determinado agressor (BONHAM et al.,2002).
As células NK conhecidas como Natural Killer ou linfócitos
NK destroem as células tumorais ou infectadas por vírus sem que eles
expressem qualquer tipo de antígeno ativador da resposta imune
específica. Os macrófagos tem função de fagocitar restos celulares,
células mortas, proteínas estranhas, calo ósseo que se formou em uma
fratura, tecido de cicatrização dentre outros (CRUVINEL et al., 2010).
Os mastócitos liberam histamina, a heparina, a serotonina, mediadores
químicos da inflamação, sendo células de grande importância em
reações alérgicas, pois atrai os leucócitos e cria uma vasodilatação; já
os monócitos que se transformam em macrófagos quando necessário
(BONHAM et al.,2002).
Os órgãos primários, como a medula óssea e o timo são
responsáveis pela produção e pelo amadurecimento e desenvolvimento
das células. A medula óssea atua na produção de células sanguíneas e
plaquetas, produzem Linfócitos B, Linfócitos T e é responsável pela
diferenciação e maturação dos linfócitos B; e o timo, que é um órgão
linfático situado na porção anteros superior da cavidade torácica,
abaixo do osso esterno que é responsável pela maturação de Linfócitos
T maduros, estes comandam todas as outras células do sistema
imunológico (JANEWAY et al., 2002).
Os linfonodos, baço, tonsilas e placa de Peyer são consideradas
órgãos secundários. Os linfonodos são órgãos pequenos que localizam-
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
404
se nas axilas, na região inguinal, no pescoço e ao redor de grandes
vasos do organismo. Aparecem no meio do trajeto de vasos linfáticos,
coletam o fluido extracelular dos tecidos, removem bactérias, vírus,
restos celulares e retornando-os para o sangue. Este fluido recebe o
nome de linfa (ABBAS et al., 2007). O baço é considerado o centro de
maturação dos linfócitos, sendo responsável pela liberação de
linfócitos B, T, plasmócitos, e outras células linfóides maduras e
capazes e capazes de realizar uma resposta imune para o sangue e não
para a linfa, lançando estas hemácias para circulação no caso de
necessidade (sob estímulo da adrenalina liberada numa situação de
estresse/alerta) (SARNI et al., 2010).
O sistema imunológico pode ser dividido em imunidade
natural e o adquirido. A imunidade natural é uma resposta
rápida chamada de primeira linha de defesa do organismo. A
imunidade adquirida atua selecionando linfócitos e produzindo
anticorpos específicos, que demora alguns dias para se
estabelecer (MEDZHITOV; JANEWAY, 2000; TIZARD, 2002).
O sistema imunológico possui dois tipos de defesa, a
imunidade celular e a imunidade humoral. A humoral
corresponde à defesa mediada através dos linfócitos T e a
humoral está relacionada com a participação de anticorpos
específicos produzidos pelos linfócitos B maduros. Esses
anticorpos são os principais agentes da imunidade humoral, e
eles são capazes de reconhecer o antígeno em específico e se
ligar a ele, estimulando assim a formação do anticorpo em uma
reação antígeno-anticorpo específico (MISSIMA; SFORCIN,
2008; CRUVINEL et al., 2010).
Além das células de defesa já mencionadas, o sistema
imune é dotado de células de memória, que armazenam
informações sobre agentes infecciosos que o organismo já
entrou em contato, mesmo que tenha sido anos atrás. Caso o
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
405
organismo tinha contato com esse agente infeccioso
novamente, as células de memória serão ativadas e
estimuladas a se reproduzirem, despertando rapidamente a
ação das células defensoras específicas que irão realizar a
interação antígeno-anticorpo e consequentemente a defesa do
organismo (CRUVINEL et al., 2010).
As células da memória estão bem relacionadas com a
imunização do tipo ativa onde o organismo tem contato com o
antígeno atenuado e produzirá células de defesa, e estas
informações ficarão armazenadas como células de memória do
indivíduo através da vacinação (BONHAM, 2012; JANEWAYet
al., 2002).
Quando o indivíduo não tem tempo de produzir células
de memória e necessita de defesa rápida, como em casos de
acidentes com animais venenosos ou com objetos suspeitos de
estarem contaminados com a bactéria causadora do tétano, é
necessário utilização de anticorpos já prontos chamado de soro,
e possuem anticorpos que conseguem neutralizar em poucos
instantes os antígenos, impedindo que a infecção ou da
intoxicação se instale. Essa imunização é conhecida como
passiva (MISSIMA; SFORCIN, 2008).
3.1 NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
A alimentação e os nutrientes são de grande importância
para o metabolismo e a saúde dos indivíduos e a cada dia
comprova-se a influência desses alimentos no sistema
imunológico. A desnutrição é uma consequência a falta ou da
carência de ingestão de alimentos, resultando assim deficiência
de aminoácidos, carboidratos, ácidos graxos, minerais (SAKER,
2006), calorias, vitaminas A, D, E, cianocobalamina, piridoxina,
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
406
ácido fólico e minerais como ferro, zinco, cobre, magnésio e
selênio, e causa vários problemas para a saúde do indivíduo e
afeta principalmente os mecanismos gerais de defesa.
Elementos como aminoácidos, são nutrientes para os
quais já se estabeleceu relação entre sua condição no
organismo e o funcionamento do sistema imune (BRUNETTO
et al., 2007). Mccowen e Bistrain (2003) completam que a
glutamina, arginina, nucleotídeos, ácidos graxos e fibra dietética
(uma fonte de ácidos graxos de cadeia curta), são necessários
para o crescimento e função normal das células epiteliais da
mucosa intestinal, bem como das células linfoides associadas
a ela, para que possam atuar na defesa contra patógenos.
O sistema imunológico depende dos aminoácidos para a
síntese proteica e de outras estruturas ou células, como as APC
– células apresentadoras de antígenos que tem grande
importância para a defesa do organismo. Missima e Sforcin
(2008) relatam que desequilíbrios nutricionais afetam a
capacidade do hospedeiro de sintetizar resposta inflamatória
protetora acarretando prejuízos às defesas imunológicas em
todos os processos, indo desde o processo de fagocitose,
sistema complemento, secreção de anticorpos, produção e
função de citocinas, imunidade mediada por células (CAPÍK,
2010). A escassez de nutrientes antioxidantes promove imuno
supressão celular, podendo a desnutrição intensificar a
gravidade de infecções e acentuar a sua evolução
(MOYNIHAN; PETERSEN, 2006).
Essa relação entre a nutrição e imunidade é estudada
desde a década de 60 onde foi verificado que a alimentação é
um fator crítico da resposta imune e é um índice muito sensível
do estado nutricional do paciente (ROZICKI, 2001),
independente do sexo e da idade.
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
407
Serafini (2000) afirma que o declínio em ambos os
parâmetros específicos e não específicos da imunidade tem
sido associado à desnutrição e à deficiência de proteína, e o
grau de comprometimento do sistema de defesa está
diretamente relacionado com o tempo e a severidade da
desnutrição.
Pesquisas mostram que deficiências leves, sub clínicas
de alguns nutrientes são significativos nas alterações da
resposta imune, e esta pode ser a causa de diversas doenças.
Muitas doenças crônicas, incluindo infecções, aterosclerose,
artrite, câncer tem suas raízes em alterações do sistema imune
e pode ser alterado com tratamentos nutricionais (KEMP et al.,
2003).
Rozicki (2001) afirma que é de grande importância
estabelecer como a resposta imune está sendo afetadas, quais
nutrientes são mais importantes e qual a quantidade ótima de
cada nutriente que deve ser ingerido com o objetivo de obter
uma resposta imune com benefícios máximos em cada
situação, pois investimentos em pesquisas e programas de
avaliação e intervenção sobre o estado nutricional são
ferramentas importantes na promoção da saúde do indivíduo,
visando prevenir ou identificar precocemente deficiências
nutricionais e assim tentar minimizar seus efeitos ao longo da
vida.
Li et al. (2007) confirmam que a suplementação dietética
de aminoácidos específicos em desnutridos e/ou com doenças
infecciosas aumenta o estado imunológico, reduzindo a
mobilidade e mortalidade.
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
408
3.2 MICRONUTRIENTES E IMUNIDADE
O consumo insuficiente de micronutrientes está entre os
dez principais fatores de risco para a carga total global de
doenças em todo o mundo, sendo considerado o terceiro fator
de risco previsível de doenças e agravos não-transmissíveis
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002).
A relação entre nutrição e imunidade foi comprovada no
início da década de 70 quando testes imunológicos começaram
a fazer parte da avaliação do estado nutricional (HOLT et al.,
2009). Entre as alterações imunológicas relacionadas à
desnutrição destacam-se: prejuízo na estrutura e função do
timo, redução na função das células T, redução em todos os
componentes do sistema complemento (particularmente o C3 e
o fator B), exceto o C4; comprometimento da fagocitose, da
resposta citocínica, produção de anticorpos e afinidade
antígeno-anticorpo (KATONA, 2008).
Minerais e vitaminas são de grande importância para as
reações metabólicas, são componentes principais de atividades
antioxidantes e estão recebendo muita atenção na comunidade
científica como moduladores dos componentes imunológicos
(SAKER, 2006).
O zinco é um cofator importante para várias enzimas
envolvidas no metabolismo celular e está diretamente
relacionado com a atividade de células T auxiliadoras,
desenvolvimento de linfócitos T citotóxicos, hipersensibilidade
retardada, proliferação de linfócitos T, produção de interleucina
(IL)-2 e apoptose de células de linhagens mieloide e linfóide
(FISBERG et al., 2011). Sua deficiência também pode resultar
em um estado de imuno deficiência. Deficiência de zinco está
relacionada à diminuição da população de células de CD4 (Th)
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
409
e aumento de CD8 (T-supressores), reduzida resposta
proliferativa a mitógenos e atividade das células natural killer,
além de diminuição da quimiotaxia de monócitos e neutrófilos
(CHANDRA, 1990).
O ferro é componente de várias proteínas, incluindo
enzimas, citocromos, mioglobina e hemoglobina, é encontrada
em carnes, principalmente as vermelhas e vísceras (fígado, rim
e coração), são de grande importância para o sistema imune, e
sua falta induz redução no poder bactericida de fagócitos,
menor proliferação linfocitária e redução da população de
células. Não ocorrem prejuízos, no entanto, à resposta humoral
(BAINES; SHENKIN, 2002).
O magnésio é um mineral essencial para o corpo
humano, necessário para mais de 300 processos biológicos
muito importantes, entre eles é o fato de ser co-fator na síntese
de DNA. Sua deficiência promove alteração no funcionamento
de linfócitos T e B (CHANDRA, 1992b).
O cobre tem um significativo efeito que transforma o íon
superóxido em peróxido, radical livre que a enzima
glutationaperoxidase eliminará do organismo durante o
processo de fagocitose. Sua deficiência altera os linfócitos T e
B, os neutrófilos e os macrófagos, resultando na queda das
células protetoras de anticorpos e consequentemente em uma
queda na resposta imunológica específica e
inespecífica(SAKER et al., 1998) e ocasiona redução do
número de linfócitos circulantes, da produção de anticorpos e
do poder fagocitário, além de causar atrofia do timo e menor
produção de citocinas (BAINES; SHENKIN, 2002).
O selênio é integrante da enzima glutationaperoxidase,
que é importante na estabilização dos peroxissomos dos
fagócitos, apresentando correlação com seu poder de inativar
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
410
agentes infecciosos. Ele afeta a capacidade proliferativa de
linfócitos, bem como de todos os componentes do sistema
imunológico (CHANDRA, 1992b).
As vitaminas também se apresentam como importantes
no sistema de defesa dos organismos. Os antioxidantes
encontrados nos alimentos auxiliam na produção de radicais
livres que por sua vez atuam na destruição de microrganismos
durante o processo de fagocitose e atuam como fatores de
transcrição na sinalização intracelular, induzindo à apoptose.
A deficiência de vitamina A está associada ao aumento
da suscetibilidade a infecções. Na hipovitaminose A, verifica-se
redução =do tamanho do timo e do baço, menor atividade de
células natural killer, redução da produção de interferon e da
resposta de hipersensibilidade cutânea tardia, menor atividade
de macrófagos e redução da proliferação linfocitária
(CHANDRA, 1992b). Sinais da deficiência de vitamina A
incluem anormalidades da função imune, pois a deficiência
desta vitamina prejudica a produção e secreção de IgA, diminui
a produção de muco (um componente do sistema imune inato)
(BAUMGARTNER et al., 1997).
Um exemplo é a ativação do fator nuclear kappa B,
induzida pelo peróxido de hidrogênio e bloqueada por vários
antioxidantes, incluindo a vitamina E (KAGUNOVA et al., 2011).
Quanto aos eventos adversos, sua produção tem sido implicada
na carcinogênese, na progressão de doenças cardiovasculares,
na patogênese da sepse, em complicações do diabetes
mellitus, disfunções cognitivas associadas ao envelhecimento e
também na isquemia tecidual seguida de reperfusão que
ocorre, por exemplo, em procedimentos cirúrgicos (LEITE;
SARNI, 2003).
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
411
As vitaminas hidrossolúveis, como a vitamina C e as
vitaminas do complexo B (B1 ou tiamina; B2 ou riboflavina;
niacina, que inclui o ácido nicotínico 29 e a nicotinamida; B6,
que agrupa a piridoxina, piridoxal e a piridoxamina e B12 ou
cobalamina; ácido fólico; ácido pantotênico e biotina) não são
estocadas no organismo, sendo necessária ingestão constante.
Além de sua interferência na imunidade, são fundamentais aos
processos de produção e uso de energia, atuando como co-
fatores enzimáticos em várias etapas do ciclo de Krebs
(KAGUNOVA et al., 2011).
A vitamina C ou ácido ascórbico é um ácido ascórbico é
um micronutriente essencial que está envolvida na síntese de
colágeno e nos mecanismo de defesa antioxidante. É um dos
nutrientes antioxidantes mais abundantes do fluido extracelular
do pulmão, estando relacionado com o sistema imunológico
(FISBERG, 2008).
3.2.1 Vitamina “A” e imunidade
A carência de vitamina A esta diretamente ligada ao
aumento de suscetibilidade a infecções. Na hipovitaminose A,
percebe-se diminuição do tamanho do timo e do baço, uma
atividade menor das células natural killer, baixa da produção de
interferon e da resposta de hipersensibilidade cutânea tardia,
redução da atividade de macrófagos e baixa na proliferação
linfocitária (LUZ, 2001). Alguns sinais da deficiência dessa
vitamina incluem anormalidades da função imune, uma vez que
a deficiência da vitamina A prejudica a produção e secreção de
IgA, diminui a produção de muco (um componente do sistema
imune inato) e leva a queratinização do epitélio secretor.
Quando a vitamina A se liga a remanescentes de quilomícrons
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
412
exerce modulação da ativação de células B normais, da
produção de citocinas e de anticorpos. O -caroteno, um
precursor da vitamina A, mostrou melhorar a produção de
células T e B em animais (MOREIRA, 2009).
A vitamina A pode ser facilmente encontrada em vegetais
com alto teor de carotenóides que no organismo é convertido
em vitamina A. Os legumes e frutas de cor alaranjada ou
amarelada e os vegetais folhosos de cor verde-escuros, de uma
maneira geral, são fontes riquíssimas em carotenóide,
como:cajá, manga, caju maduro, mamão, abóbora, cenoura,
batata doce, chicória, salsa, espinafre, couve, entre outros
(TABELA DE COMPOSIÇÃO QUIMICA DOS ALIMENTOS,
2011).
3.2.2 Vitamina “C” e imunidade
O ácido ascórbico, mais conhecido como vitamina C, é
um antioxidante hidrossolúvel que desempenha varias funções
no organismo. Por ser solúvel em água, acredita-se que a
vitamina C faça parte da primeira linha de defesa do organismo.
E, por ter facilidade em doar elétrons, possua função
antioxidante. A vitamina C atua como cofator para enzimas que
estão envolvidas na biossíntese de colágeno, carnitinina,
neurotransmissores e hormônios adrenais (MANELA-AZULAY
et. al., 2003).
Alguns estudos mostram o envolvimento dessa vitamina
na regulação do metabolismo do ferro não heme, aumentando
assim a absorção desse mineral. Ainda, esta diretamente ligada
à melhora da respostado sistema imunológico e na proteção
das células em relação ao dano causado pelos radicais livres
(CLARK, 2009).
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
413
A carência da vitamina C causa escorbuto e outros danos
como depressão, histeria, distúrbios neurológicos, porém os
sintomas são rapidamente desaparecidos com a administração
adequada de doses terapêuticas dessa vitamina (OLIVEIRA;
MARCHINI, 2008).
Alimentos que são boas fontes de vitamina C incluem
determinados vegetais e frutas, como: batatas, pimentão verde,
brócolis, couve-flor, folhoso verde, morango, frutas cítricas,
entre outras e em quantidades variadas. Existem outros
alimentos fontes dessa vitamina, porém com um teor baixo,
como: carnes, cereais e leites (MAHAN; ESCOTT-STUMP,
2005; ROSA, 2007).
3.3.3 Vitamina “D” e imunidade
A vitamina D é um hormônio indispensável para a
homeostase do mineral cálcio e para a manutenção da saúde
óssea. Esta vitamina é sintetizada pela após exposição solar e
tem a 25-diidroxi-vitamina D – 25(OH)D – como o seu
metabolito mais abundante na circulação e como indicador de
estado nutricional da vitamina D (FISBERG et al., 2008).
Essa vitamina exerce função na imunidade, reprodução
e secreção de insulina. Agindo em conjunto com o paratormônio
(PTH), mobiliza cálcio dos ossos e aumenta a absorção tubular
renal de cálcio e de fósforo (CANOY et al., 2005).A vitamina D,
ainda, esta diretamente envolvida no crescimento ósseo, pois
ela estimula a diferenciação dos condrócitos da placa de
crescimento (WINZENBERG, 2016).
Em razão deste nutriente está disponível através da luz
solar nos tecidos subcutâneos, a ingestão diária pelas fontes
dietéticas depende de alguns fatores, como: o tempo passado
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
414
fora de casa e a localização geográfica. A prática de atividade
física é um estimulo importante aumentar a produção da
vitamina D pelo organismo (WINZENBERG;JONES, 2016).
Algumas fontes alimentares, porém não suficientes são: peixes
(salmão, sardinha, atum e óleos), ovos (gema), Leite integral,
manteiga, nata, carnes e (fígado). Esta é uma vitamina estável
e não deteriora quando os alimentos são submetidos à cocção
ou acondicionados e armazenados por períodos longos (USDA
NATIONAL NUTRIENT DATABASE, 2007).
3.3.4 Zinco e imunidade
O zinco é um mineral indispensável para o
desenvolvimento, crescimento e função imunológica. Existe
relação direta entre esse mineral e as células do sistema
imunológico, incluindo atividade de células T auxiliadoras,
desenvolvimento de linfócitos T citotóxicos, proliferação de
linfócitos, hipersensibilidade retardada, produção de
interleucina (IL)-2 e apoptose de células de linhagens mieloide
e linfóide (PORTO, 2015)
A carência de zinco atinge em extensivo dano aos
linfócitos T, atrofiando o timo e alterando a síntese de linfócitos,
resultando em imunossupressão (KING, 2002). O papel da
deficiência nutricional de zinco na patogênese de doenças
levou ao surgimento de novos estudos para desvendar os
mecanismos de alterações na imunidade induzida pelo zinco
(SARNI, 2005).
Algumas fontes alimentares deste mineral incluem aves,
carne bovina, peixe, queijos e leite, bem como frutos do mar,
germe de trigo, nozes, feijões, cereais de grãos integrais,
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
415
castanhas, amêndoa e semente de abobora (TABELA DE
COMPOSIÇÃO QUIMICA DOS ALIMENTOS, 2011).
3.3.5 Cálcio e imunidade
O cálcio é um mineral muito comum no organismo
humano e é indispensável para a mineralização dos ossos e
dos dentes; é, também, um cofator da cascata de coagulação
sanguínea; na liberação da insulina; na contração muscular e
atua na transmissão nervosa. Para pesquisadores
interessados, esse mineral atua na cinética lipídica adipocitária,
uma vez que o seu aumento intra-adipócito altera o balanço
entre a síntese e a utilização de lipídios, favorecendo, assim, a
lipogênese (FISBERG et al., 2008).
Alimentos fontes de cálcio são iogurtes, queijos e leites
sem gordura. Alguns vegetais folhosos como a couve, a
mostarda e brócolis, também os cereais, grãos, sardinha,
salmão, ostras e carnes são ótimas fontes desse mineral,
contudo existe uma resistência das crianças pelo gosto
característico de cada alimento. Entre os alimentos citado
acima o mais rico em cálcio é o leite e ainda possui outros
nutrientes essenciais para o bom funcionamento do corpo
(TABELA DE COMPOSIÇÃO QUIMICA DOS ALIMENTOS,
2011).
É importante frisar que o cálcio compete com o ferro pela
absorção no organismo, portanto, é preciso orientar a maneira
como se devem consumir os alimentos ricos nesses dois
minerais para que ambos sejam absorvidos. Ainda, vale lembrar
que o cálcio não é absorvido sem a vitamina D, uma vez que
essa vitamina aumenta absorção do cálcio (CZAJKA-NARINS,
2005)
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
416
3.3.6 Ferro e imunidade
O ferro é um dos elementos essenciais para o
organismo, uma vez que o mesmo desempenha função de
destaque no transporte de oxigênio e em vias de oxidação-
redução de alguns sistemas. Esse mineral está diretamente
associado à desnutrição, como resultado de baixa ingestão,
perdas excessivas ou má absorção. Situações de equilíbrio
negativo desse mineral leva a redução da concentração de
hemoglobina no sangue e ao surgimento de anemia microcítica
hipocrômica. As células linfóides exigem ferro nas reações de
oxidação-redução, na divisão celular e no transporte de
elétrons. Nas células do sistema imunológico esse mineral é
ligado a transferrina e transportado (KZAJKA-NARINS, 2005).
As principais fontes de ferro incluem peixe, fígado, carne,
gema de ovo, aves, ceriais fortificados com ferro, feijão, ervilha,
vegetais verde-escuros (espinafre) (TABELA DE
COMPOSIÇÃO QUIMICA DOS ALIMENTOS, 2011).Na tabela
5, estão listados alimentos fonte de ferro e a quantidade por
porção.A absorção do ferro é facilitada ou dificultada de acordo
com os nutrientes ou fármacos ingeridos, exemplo: a vitamina c
facilita a absorção do ferro não heme presente em alimentos de
origem vegetal e o cálcio dificulta a absorção desse mineral,
pois os dois no organismo competem (KZAJKA-NARINS, 2005).
Grãos integrais e leguminosos com alto teor de fitato têm uma
biodisponibilidade baixa de ferro e os taninos de cafés, chás
echocolate reduzem a sua absorção (KZAJKA-NARINS, 2005).
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
417
4 CONCLUSÃO
Conforme o que foi discutido ao longo desta revisão
bibliográfica, os micronutrientes desempenham um importante
papel no estado nutricional dos indivíduos, bem como supre a
necessidade orgânica destes em todas as fases da vida. Nos
bebês esses micronutrientes são passados pelo aleitamento
materno e imprescindíveis para a produção de anticorpos e
outras substâncias fundamentais. Durante a adolescência, a
alimentação rica em micronutrientes é essencial para um
crescimento e desenvolvimento adequados, razão pela qual é
de grande importância em qualquer fase da vida ter uma
alimentação equilibrada com o consumo de todos os grupos
alimentares, destacando-se nessa faixa etária o consumo de
cálcio, mineral importante para a formação do tecido ósseo, de
ferro para o desenvolvimento muscular, esquelético e endócrino
e de zinco, que contribui para o crescimento e a maturação
sexual do adolescente. Na fase adulta e nos idosos, os
micronutrientes atuam para um bom funcionamento orgânico e
prevenção de doenças.
Os micronutrientes que estão diretamente ligados ao
sistema imunológico são o cálcio, ferro e as vitaminas A, C, D.A
carência dessas vitaminas e minerais pode causar diversos
prejuízos, sendo muitas vezes irreversíveis, na função
imunológica normal. Dentre esses prejuízos podemos destacar:
defeitos na resposta adaptativa e inata, redução na linhagem
precursora de células B, diminuição na produção de interferon-
α pelos linfócitos e prejuízo na resposta de células fagocitárias,
entre vários outros fatores.
Uma vez que a deficiência no consumo de micronutrientes
está associada a um maior risco de doenças e agravos não
O PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNE
418
transmissíveis, fazem-se necessárias estratégias de incentivo
ao consumo desses nutrientes,bem como outros estudos mais
aprofundados acerca desse assunto para que se possa
aproveitar de forma eficaz o beneficio desses nutrientes para o
sistema imunológico garantindo a homeostase.
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A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
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CAPÍTULO 24
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
Juliana Paiva Góes RAMALHO1
Rejane Freitas da SILVA2
Maria Betânia Vanderlei de CARVALHO3
1 Mestre em Enfermagem, enfermeira, professora da Escola da Saúde da Faculdade Internacional da Paraíba – FPB, orientadora. 2 Nutricionista; 3 Nutricionista, professora da
Escola Técnica da FPB; [email protected]
RESUMO: O câncer é uma doença que acomete as células do organismo humano, isso ocorre devido a diversos como, por exemplo, tabagismo, obesidade, má alimentação e falta de atividade física podendo assim, influenciar diretamente no surgimento desta patologia. Quando o paciente descobre que está com a doença ele é submetido a alguns tratamentos que fazem com que sua imunidade diminuaA presente pesquisa estudo objetivou realizar uma análise na literatura científica no intuito de gerar informações que possam dar subsídios aos pacientes portadores de processos neoplásicos. Para levantamento de dados, foi utilizado uma revisão bibliográfica, onde pode-se constatar que quando o paciente descobre que está com câncer ele é submetido a alguns tratamentos que fazem com que sua imunidade diminua. A alimentação desempenha papel muito importante na imunidade, pois o sistema imunológico necessita de energia para seu funcionamento e de vários nutrientes para a formação de células e outras substancias envolvidas no processo de defesa. Os alimentos funcionais exercem ações promotoras para o bom funcionamento do organismo, mas qualquer alimento ou ingredientes alimentares benéficos para o funcionamento
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
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orgânico. Isso acontece devido aos compostos que esses alimentos possuem favorecendo além do efeito nutricional o efeito sobre funções fisiológicas. Alguns alimentos funcionais como, açaí, alho, brócolis, soja e tomate caracterizam-se por oferecer vários benefícios á saúde, além do valor nutritivo inerente à sua composição química, podendo assim, desempenhar um papel potencialmente benéfico na redução do risco de câncer e na proliferação das células cancerígenas, pois reduzem a ação dos radicais livres, agindo como antioxidantes e agem na melhora das funções do sistema imunológico. Palavras-chave: Alimentos funcionais. Câncer. Imunidade.
1 INTRODUÇÃO
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária –
ANVISA (1999), o alimento funcional é definido como "aquele
alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais
básicas, quando consumido, como parte da dieta habitual,
produz efeitos benéficos à saúde".
Esses alimentos específicos são denominados
funcionais, por possuírem além do efeito nutricional, também o
efeito sobre funções fisiológicas. Os alimentos funcionais
caracterizam-se por oferecer vários benefícios à saúde, além
do valor nutritivo inerente à sua composição química, podendo
assim, desempenhar um papel potencialmente benéfico na
redução dos riscos de doenças crônicas degenerativas, como
câncer, diabetes, dentre outras (PADILHA; PINHEIRO 2004).
A ingestão de alimentos funcionais na alimentação de um
paciente com câncer é benéfico, principalmente, para o
aumento de sua imunidade, pois, devido aos tratamentos que,
em sua maioria, esses pacientes são submetidos, ocorrem
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
424
diversos efeitos prejudiciais, dentre eles, a diminuição da
imunidade (DIPLOCK, 1999).
De acordo com Garófolo et al., (2004) a alimentação é
um dos fatores ambientais que mais contribuem para o
aparecimento do câncer, sendo responsável por 35% das
causas de câncer seguidos pelo tabagismo com 30% e outra
causas 35%.
Estudos epidemiológicos indicam que, além de uma dieta
variada com elevado consumo de frutas, hortaliças e fibras, o
consumo baixo de alguns tipos de gordura e ingestão calórica
moderada, além da prática de atividade física, está intimamente
relacionada ao risco reduzido de diversos tipos de câncer. A
relação entre dieta e câncer está bem estabelecida, e estima-
se que, fatores de nutrição e estilo de vida, sejam determinantes
em um terço de todos os casos de câncer. A otimização da
nutrição por meio do uso de alimentos específicos e seus
componentes bioativos, é uma estratégia admissível não
invasiva de redução de risco (ATTOLINI; GALLON, 2010).
A literatura referencia alguns critérios estabelecidos para
determinação de um alimento funcional, tais como: exercer
ação metabólica ou fisiológica que contribua para a saúde física
e para a diminuição de morbidades crônicas; integrar a
alimentação usual; os efeitos positivos devem ser obtidos em
quantidades não tóxicas, perdurando mesmo após suspensão
de sua ingestão; e, por fim, os alimentos funcionais têm sido
muito estudados, e embora não curem, apresentam
componentes ativos capazes de prevenir ou reduzir o risco de
algumas doenças (PADILHA; PINHEIRO, 2004). Ante o
exposto, a presente pesquisa objetivou realizar uma análise na
literatura científica no intuito de gerar informações que possam
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
425
dar subsídios aos pacientes portadores de processos
neoplásicos, garantindo-lhes melhoria na qualidade de vida.
2 MATERIAIS E MÉTODO
No presente estudo foi realizado uma pesquisa
bibliográfica sobre os alimentos funcionais e seus benefícios
para a saúde dos pacientes portadores de câncer. Para tanto,
foram utilizados pesquisas com os termos: alimentos
funcionais, imunidade e câncer, e que neste contexto, foram
encontradas pouco mais de 1200 referências nas bases de
dados Scielo, Medline, Lilacs, BVS, e Bireme, porém, optou-se
em sua maioria, preferencialmente pelos artigos de língua
portuguesa, e com ênfase para trabalhos oncológicos e estudos
experimentais com alimentos funcionais. Contou- se ainda, com
análise de manuais do Ministério da Saúde, do INCA e livros
acadêmicos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Câncer
O câncer é caracterizado pelo crescimento anormal e
desordenado de células que invadem tecidos e órgãos,
podendo também espalhar-se para outras regiões do corpo
causando assim a metástase (INCA, 2009).
É uma doença multifatorial e alguns costumes como, por
exemplo, tabagismo, obesidade, má alimentação e falta de
atividade física podem influenciar diretamente o surgimento
desta patologia. O câncer também é definido como uma doença
catabólica, isto é, que consome as reservas nutricionais do
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
426
paciente, e isto se dá, devido ao grande aumento neste período,
do gasto energético pela atividade humoral presente (INCA,
2009; ALVES, 2010).
Segundo Buzaid e Varella (2012), o câncer é
considerado uma doença grave e de grande incidência,
podendo surgir em qualquer tecido do corpo, característica que
classifica os mais diversos tipos da doença. O surgimento do
câncer, no corpo humano, ocorre lentamente, o que impede, em
alguns casos, que a doença seja diagnosticada antes de
apresentar os sintomas de um estágio mais avançado, quando
a multiplicação celular se apresenta descontrolada e
irreversível.
Dependendo da localização de um possível tumor, o
câncer apresenta uma característica que determina a gravidade
da doença, uma vez situado em órgãos muito vascularizados,
os tumores apresentam mais chances de se espalhar pela
corrente sanguínea, originando a metástase. A forma silenciosa
como o câncer costuma se desenvolver no organismo é um dos
fatores que podem influenciar no diagnóstico e também no
tratamento, por isso existe a necessidade da realização de
exames preventivos que auxiliam nesse processo (FERNADES,
2011).
Alguns dados emitidos pela da Organização Mundial da
Saúde (OMS), a cada ano o câncer atinge em média nove
milhões de pessoas no mundo, e se torna hoje a segunda causa
de morte por doença na maioria dos países. No Brasil, o câncer
é a segunda causa de morte por doença, apenas sendo
superada pelas doenças cardiovasculares (CUPPARI, 2005).
A mortalidade de uma neoplasia dependerá de alguns
aspectos, como: o tipo de câncer, a rapidez com que as células
cancerígenas se multiplicam, a existência de um tratamento
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
427
adequado e eficaz e a capacidade que o organismo da pessoa
acometida tem de responder ao tratamento e combater a
doença (VIEIRA, 2010).
O câncer pode apresentar diferentes aspectos clínicos,
isso ocorre devido aos muitos tipos de células que compõem
cada órgão, por isso, durante uma avaliação clínica, é
importante investigar suas características histológicas e
morfológicas. Para a medicina, esses dados são importantes
por auxiliarem no uso de métodos mais eficazes no tratamento
de cada tipo de câncer (BIFULCO, 2012).
Existem muitos fatores associados ao aparecimento do
câncer, entre eles estão, a predisposição genética, estilo de
vida inadequado, condições ambientais e hábitos alimentares
ruins, ou seja, todos estes fatores podem favorecer o
desenvolvimento do câncer no organismo de qualquer pessoa,
independente de idade, etnia e sexo. Existe ainda uma série de
outras situações que podem contribuir com o desenvolvimento
da doença, porém, são teorias que permanecem sendo alvo de
estudos e pesquisas (MAYOL, 2015).
Os fatores internos destacam-se, o sistema imunológico
comprometido, predisposição genética e hormônios. Já os
fatores externos se subdividem em exposição ocupacional,
exposição as radiações e produtos químicos, uso de cigarro,
vírus, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, sedentarismo,
e dieta inadequada (OLIVEIRA, 2012).
Existem alguns métodos pelo qual o câncer pode ser
diagnosticado, e entre eles estão o diagnóstico médico, o
exame físico e a avaliação para marcadores tumorais, estes são
apenas alguns deles. E durante o diagnóstico do câncer, ocorre
de o paciente passar por um período de ansiedade e angústia,
que muitas vezes desencadeia a desenvolvimento de algumas
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
428
outras doenças, dentre elas a mais observada, dentre algumas
pesquisas, que é a de depressão, que vem também associada
a sintomas como perda de apetite e fadiga (MAHAN; ESCOTT-
STUMP, 2010).
As causas do câncer ainda são motivo de muitos
questionamentos por parte de especialistas e pesquisadores, e
principalmente dos leigos sobre o assunto. Profissionais de
saúde também se sentem refém da falta de informações
precisas e fundamentadas em estudos, especialmente quando
se refere a prevenção da doença. As possíveis causas do
câncer se dividem em fatores internos e externos, o que torna
a carcinogênese um processo ainda mais complexo
(OLIVEIRA, 2012).
As modalidades convencionais de tratamento
antineoplásico são a quimioterapia, a radioterapia, a
iodoterapia, a cirurgia e o transplante de medula óssea. O
tratamento, devido a sua toxicidade, causa efeitos adversos aos
pacientes como náuseas, vômito, mucosite, constipação,
diarreia, alteração no paladar, xerostomia e alteração na
absorção dos nutrientes, levando a um quadro de desnutrição
(NASCIMENTO, 2015).
A partir do momento que os pacientes são
diagnosticados com a doença, os médicos imediatamente já
indicam alguns tratamentos para combater a doença em sua
maioria os tratamentos de quimioterapia ou radioterapia são os
mais indicados, e eles também são os mais eficazes, mas
devido a serem tratamentos com substâncias fortes para o
organismo, causas diversos efeitos colaterais como, por
exemplo: vômito, diarreia, falta de apetite entre outros
(BIFULCO, 2012). Em virtude dos sintomas, muitas são as
pesquisas que vêm sendo desenvolvidas para estudar melhor
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
429
a inserção de alimentos funcionais na alimentação destes
pacientes com câncer, para assim, favorecer o aumento dessa
imunidade (BIFULCO, 2012).
3.2 Sistema Imunológico
O sistema imunológico é constituído por uma complexa
rede de células e moléculas dispersas por todo o organismo e
se caracteriza biologicamente pela capacidade de reconhecer
especificamente determinadas estruturas moleculares ou
antígenos e desenvolver uma resposta efetora diante destes
estímulos, provocando a sua destruição ou inativação
(MARTÍNEZ; ALVAREZ-MON, 1999).
A função do sistema imunológico consiste em
reconhecer cada um dos tecidos, células, proteínas, quando o
organismo para distingui-las de uma ampla variedade de
agentes patogênicos e substâncias estranhas. Neste processo,
os linfócitos T, células pequenas que fazem parte dos glóbulos
brancos sanguíneos (também conhecidos como leucócitos),
têm grande importância (JANEWAY et al., 2007).
Durante o desenvolvimento fetal, o sistema imunológico
"aprende" a distinguir as substâncias próprias do organismo;
com isso mantém desativados os linfócitos T que reagiram
diante das mesmas. Mas quando um agente estranho, como
por exemplo, uma bactéria, invade nosso corpo, essas células
são ativadas com o objetivo de defender nosso organismo dos
possíveis prejuízos que a bactéria causará (ABBAS et al.,
2000).
O sistema imune pode responder às células cancerosas
de duas maneiras: reagindo contra antígenos tumorais
específicos (moléculas que são originais de células
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
430
cancerosas), ou contra antígenos associados a tumor (TAA),
moléculas que são expressas diferentemente pelas cancerosas
e normais. Este sistema de defesa possui dois tipos de células
T: as auxiliares CD4+ que reconhecem antígenos ligados às
moléculas de classe II do complexo MHC; e as citotóxicas
CD8+, que distinguem antígenos tumorais pelas moléculas do
MHC de classe I e matam as células cancerosas (GIACOMINI;
MENEZES, 2012).
A alimentação desempenha papel muito importante na
imunidade, pois o sistema imunológico necessita de energia
para seu funcionamento e de vários nutrientes para a formação
de células e outras substâncias envolvidas no processo de
defesa. Alguns nutrientes têm a capacidade de interferir na
resposta imune por terem efeito regulatório direto sobre os
leucócitos, alterando os índices de proliferação, padrão de
produção de citocinas e diferenciação de populações
leucocitárias específicas (LEITE; SARNI, 2003).
Os fatores nutricionais também estão relacionados com
reduções da capacidade imunológica. Os efeitos prejudiciais
dos déficits dietéticos específicos, de minerais, aminoácidos e
vitaminas do complexo B estão implicados no desenvolvimento
da imunidade adquirida, tanto humoral quanto celular.
Entretanto, em determinadas circunstâncias uma redução da
ingestão de proteínas pode originar uma potenciação da
resposta imunológica (MARTÍNEZ; ALVAREZ-MON, 1999).
Os principais nutrientes que atuam fortalecendo nosso
sistema imunológico são as vitaminas A, C e E, o ácido fólico,
o zinco e o selênio. Dentre os minerais supostamente
envolvidos na redução do câncer de mama, o selênio é
apontado como um importante componente da enzima
antioxidante glutationa peroxidase, inibindo diretamente a
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
431
proliferação de células epiteliais pela degradação da matriz, o
que resulta na inibição da angiogênese, evento obrigatório para
o desenvolvimento tumoral (PADILHA; PINHEIRO, 2004).
A deficiência de ferro está associada a um aumento da
prevalência de infecções, e o déficit de zinco e magnésio estão
relacionados com quedas de imunidade. Em indivíduos mal
nutridos ocorreram reduções da produção de interleucin, bem
como dos fatores do complemento e uma redução importante
da elevação das proteínas de fase aguda em processos
infecciosos e inflamatórios (MARTÍNEZ; ALVAREZ-MON,
1999).
Uma das ações das vitaminas e minerais é a defesa
contra as espécies reativas de oxigênio, que são responsáveis
por danos ao DNA, regulação da diferenciação celular e,
consequentemente, inibição do crescimento de células
mamárias cancerígenas.
Evidências epidemiológicas mostram associação inversa
entre o consumo frequente de frutas e hortaliças e o risco de
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como as doenças
cardiovasculares e os diversos tipos de câncer, o que pode ser
explicado pelo efeito protetor dos antioxidantes contidos em tais
alimentos (COSTA; BARBOSA, 2010).
3.3 Alimentos Funcionais
Uma das definições mais completas descreve os
alimentos funcionais como sendo aqueles que beneficiam uma
ou mais funções orgânicas, além da nutrição básica,
contribuindo para melhorar o estado de saúde e bem-estar e/ou
reduzir o risco de doenças, porque agem nos mecanismos de
imunidade, facilitam a absorção de certas vitaminas, ofertam
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
432
minerais importantes e funcionam como barreiras antioxidantes.
Os alimentos funcionais devem ser consumidos frescos e não
em pílulas, cápsulas ou qualquer forma de suplemento e devem
ser eficazes em quantidades normalmente consumidas em uma
dieta padrão (DIPLOCK, 1999).
Atualmente, o efeito funcional de um alimento abrange
não somente aqueles que, além do enfoque nutricional,
exercem ações promotoras para o bom funcionamento do
organismo, mas qualquer alimento ou ingredientes alimentares
benéficos para o funcionamento orgânico (PADILHA;
PINHEIRO 2004).
Os principais alimentos funcionais que previnem o
câncer e minimizam o surgimento de novas células
cancerígenas são: catequinas, encontradas no açaí, sulfetos
alílicos, no alho, glicosinolatos, no brócolis, isoflavonas, na soja
e o licopeno, no tomate.
3.3.1 Açaí
Fruta que contém quantidades significativas de
antocianinas que fazem parte ao grupo dos flavonoides que por
sua vez pertencem ao grupo dos compostos fenólicos
(SOARES, 2002). Essa quantidade de antocianinas chega até
30 vezes mais que o encontrado em vinho tinto, o que assim,
torna o açaí um alimento funcional (EMBRAFARMA, 2010).
As antocianinas são responsáveis pelas cores:
vermelha, violeta e azulada do açaí (RIBEIRO et al., 2011). As
antocianinas são compostas de uma aglicona (antocianidina),
um grupo de açúcares e, geralmente, um grupo de ácidos
orgânicos (SCHULTZ, 2008). Das 20 espécies de antocianinas
conhecidas, que ocorrem naturalmente, apenas seis delas
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
433
aparecem comumente, elas são: a cianidina, a delfinidina, a
malvidina, a peonidina, a pelargonidina e por fim a petunidina
(RIBEIRO et al., 2011). Aquelas que estavam presentes no açaí
foram a cianidina-3-rutinosideo e cianidina-3- glicosídeo
(PAULA, 2007).
Esses compostos têm grande ação antioxidante em
nosso corpo, pois tem a habilidade de doarem eletros
(hidrogênio) para radicais livres altamente reativos que podem
ocasionar lesões nas células, isso os torna importantes, pois
diminuem assim, os danos causados ao DNA (SANTOS et al.,
2008), além de retardar o envelhecimento das células,
aumentando desta forma, a sua expectativa de vida e
melhorando as defesas imunológicas (VOLP et al., 2008).
De acordo com Embrafarma (2010), pesquisas
realizadas provaram que compostos tendo como principal
representante a cianidina-3-glucosideo, que existem no açaí,
induziram a apoptose em células leucêmicas humanas. E com
isso foi verificado que a capacidade dos antioxidantes que estão
presentes no açaí contra os radicais livres, são muito maiores
do que em qualquer outra fruta.
3.3.2 Alho
O alho pertence à família Liliaceae. Allium sativum é a
erva mais comum, e alguns estudos sugerem que sua ação
pode ser quimiopreventiva, antibiótica, anti-hipertensiva e
hipercolesterolêmica. A ciência moderna investiga seus efeitos
nas doenças cardiovasculares, no câncer, nas inflamações e
nas infecções. Cerca de 30 ingredientes com potenciais efeitos
biológicos foram identificados no alho, entre eles os efeitos
hipotensor, hipoglicemiante, antiviral, antitumoral,
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
434
hipocolesterolêmico, antifúngico e antioxidante (GÓMEZ;
SÁNCHEZ-MUNIZ, 2000).
Habitualmente, o alho é utilizado como alimento e como
erva medicinal em diferentes países. A ingestão regular do alho
em nosso cardápio impede as nitrosaminas (derivados de
nitritos e nitratos), reduzindo a incidência de tumores no
estômago e no cólon. Ele possui também ação antibacteriana
combatendo a bactéria Helicobacter pylori, causadora de
gastrite, úlcera e câncer gástrico. Isso se dá, devido à presença
de alicina no alho. Seu precursor, a cisteína, atribui ao alho o
domínio de fixar metais, reduzindo assim as exigências
detoxificadoras do fígado (GARCIA, 2004).
3.3.3 Brócolis
O brócolis (Brassica oleracea) é uma hortaliça oriunda do
sul da Europa – região do mediterrâneo – e faz parte de um
grupo de vegetais denominado crucíferas (LAMOUNIER, 2012).
Em relação aos estudos dessa hortaliça, segundo Malucelli at
al., (2009, p.553):
Vários estudos feitos desde o final da década de 90 citam a importância do consumo frequente de vegetais crucíferos, por conterem substâncias com propriedades fitoterápicas as quais reduzem os riscos de diversas doenças. O brócolis chama a atenção por conter glicosinolatos ou glucosinolatos, compostos ricos em enxofre e que apresentam efeito protetor por atuarem na detoxificação do fígado (ação de metabolizar e eliminar substâncias as quais prejudicam à saúde). Os dois tipos de glucosinolatos mais conhecidos são o sulforafano e indol – 3 – carbinol. O primeiro age como protetor de doenças cardiovasculares e de alguns tipos de câncer
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
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(principalmente próstata e mama), auxiliando na eliminação de elementos carcinogênicos e de radicais livres. Já a principal função do segundo elemento é diminuir a quantidade circulante no sangue de estrogênio (hormônio feminino que estimula o crescimento de células mamárias).
Os brócolis se destacam por apresentar quantidades
significativas de fibras, auxiliando no funcionamento intestinal,
minerais como o ferro e cálcio, ácido fólico (essencial para o
funcionamento e formação do sistema nervoso), vitaminas A e
C, além de baixo valor calórico (LAMOUNIER, 2012).
3.3.4 Soja
A soja pode ser considerada como um alimento
completo, uma vez que apresenta em sua composição
proteínas, carboidratos, lipídios e resíduos, além de vitaminas
e sais minerais (AMARAL, 2006).
Seus principais componentes fotoquímicos são as
isoflavonas daidzeína e genistíina, que pertencem ao grupo dos
fitoestrogênios. A soja é uma leguminosa muito estudada
atualmente, devido a sua larga aplicabilidade na prevenção de
doenças crônicas não transmissíveis. A sua primeira utilização
foi na prevenção de doenças cardiovasculares, e ultimamente
tem sido utilizada contra o câncer de próstata e de mama
(MESSINA et al., 2009).
A soja é uma excelente fonte protéica e boa fonte de
fitoquímicos biológicamente ativos onde, o fitoquímico principal
encontrado na soja, são as isoflavonas, que atualmente atraem
interesse para aplicações medicinais. Inúmeras literaturas
científicas mostraram que a ingestão de uma dieta rica em
produtos de soja pode reduzir incidência de câncer de mama,
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
436
cólon e próstata. Os isoflavonóides são uma das principais
classes de difenóis, derivados de plantas e sementes,
encontrados em grandes quantidades na soja (AMARAL, 2006).
Estudos realizados têm mostrado a presença de altos
níveis de estrógenos em urina e plasma de população com
baixo risco de doenças cardiovasculares e de câncer.
Daidzeína, genisteina e seus correspondentes glicosídeos
constituem a maior proporção de isoflavonóides de soja, aos
quais têm sido dada atenção em inúmeros estudos, devido a
isto tem sido demonstrado que as isoflavonas da soja,
especificamente a genisteína e a daidzeína, apresentam efeito
anti-cancerígeno.
As características físicas dos isoflavonóides permitem
sua aplicação na maioria das classes de produtos alimentícios.
Os fatores que promoveram interesses e a utilização crescente
da soja na indústria de alimentos são: a contribuição da soja e
seus derivados em benefício à saúde; mudança de atitudes dos
consumidores em relação à soja; melhoramento do processo
tecnológico da utilização de soja; crescimento da produção
mundial de soja; popularidade da dieta rica em fibras e menor
teor de gordura saturada (CHANG, 2013).
3.3.5 Tomate
O tomate tem sido um forte aliado, e com uma grande
potencialidade na redução dos riscos de ocorrerem o
aparecimento de câncer no pulmão, gástrico, mama, próstata,
esôfago, benéfico também na luta contra o câncer de pâncreas,
cólon, reto, cavidade oral, seio e cervical. Isso se dá, devido ao
tomate conter uma contêm uma ampla variedade de nutrientes
benéficos e antioxidantes, incluindo o ácido alfa-lipóico, o
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
437
licopeno, a colina, o ácido fólico, o betacaroteno e a luteína, que
podem também ser encontrados no mamão, na melancia, na
goiaba vermelha, e na pitanga (GARCIA, 2004).
O destaque neste alimento, é a substancia chamada
licopeno, que não proporciona uma atividade de pró-vitamina A,
porém, em decorrência dele ser um protetor contra lesões
causadas pelos radicais livres, ele é considerado um potente
antioxidante (ele se destaca devido a porcentagem de 400 a
1000% maior de atividade média que outros carotenoides). Eles
podem agir diretamente na neutralização da ação dos radicais
livres ou participar indiretamente de sistemas enzimáticos com
essa função, sugerindo-se seu papel na prevenção de
carcinogênese e aterogênese, devido à proteção às moléculas
de lipídio, LDL, proteínas e DNA (SHAMI; MOREIRA, 2004).
4 CONCLUSÕES
Uma alimentação saudável é de grande importância na
vida de qualquer indivíduo, e em especial, quando estes
possuem alguma patologia grave como o câncer. No caso desta
patologia, os alimentos mais indicados são os funcionais, pois
são ricos em substâncias como: catequinas, sulfetos alílicos,
glicosinolatos, isoflavonas e licopeno que contribuem para
prevenção e controle do avanço do câncer, bem como para o
aumento da imunidade, além de oferecer vários benefícios à
saúde.
Contudo, ressalta a relevância do desenvolvimento de
novas pesquisas no âmbito nutricional e a elaboração de guias
alimentares com intuito de fornecer uma dieta variada e
A CONTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS FUNCIONAIS PARA A IMUNIDADE DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS
438
saudável para suprir as necessidades nutricionais dos
pacientes, além de garantir a melhoria do sistema imunológico.
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EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
442
CAPÍTULO 25
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Paloma de Sousa Martins MALVINO 1
Adriana Eleuterio da SILVA 2 1 Pós-Graduanda em Nutrição com Ênfase em Obesidade e Emagrecimento,UCAM; 2 Pós-
Graduanda em Nutrição Clínica, Estácio. [email protected]
RESUMO: A obesidade é uma patologia em que o excesso de gordura corporal, esse excesso é causado de consecutivos balanços energéticos positivos, em que a quantidade de energia ingerida é maior que à quantidade de energia gasta. Como opção de tratamento a pacientes com obesidade, atualmente é bastante utilizado o balão intragastrico, este é uma técnica minimamente invasiva, terapêutica provisória, com período máximo de permanência de seis meses no estômago. Esse estudo tem como objetivo relacionar o uso do balão intragastrico e o sucesso no combate a obesidade, avaliando também a contribuição do nutricionista na perda de peso durante o uso do BIG e após a sua retirada. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, com indexadores balão intragastrico, obesidade, alimentação, doença mental e reeducação alimentar. Utilizando artigos e textos literários nos últimos oito anos. O balão intragástrico é eficiente no controle temporário da obesidade, contudo, após a retirada do balão a manutenção dos seus resultados serão satisfatórios apenas com a continuação do acompanhamento nutricional e mantimento do novo estilo de vida adotado enquanto o uso do BIG, Nesse sentido é factível a necessidade da equipe multidisciplinar durante toda a trajetória no combate a essa doença. Sendo o acompanhamento nutricional imprescindível para proporcionar maior eficácia no tratamento, com a adequação de planos
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
443
alimentares, aliado ao estímulo a práticas físicas e mudanças comportamentais. Palavras-chave: obesidade. Reeducação alimentar. Balão
intragastrico.
1 INTRODUÇÃO
A obesidade é registrada como um dos maiores
problemas de saúde pública no mundo. Cerca de 18 milhões de
pessoas, no Brasil, são obesas. Essa doença é distinguida pelo
acúmulo excessivo de gordura corporal no individuo
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E
METABOLOGIA, 2016).
Apresenta caracterização singular e etiologia
multifatorial, destacando alterações endócrinas, modificações
nos mecanismos dos controladores da saciedade e apetite e a
genética. A visão negativa do próprio corpo, que é associado à
felicidade, aceitação e sucesso social, são fatores
preocupantes na diminuição da qualidade de vida (VASQUES;
MARTINS; AZEVEDO, 2004).
Tais fatores fisiológicos, patológicos e psicológicos, têm
sido razões para a intensificação pela busca de tratamento da
obesidade (RODRIGUES et al., 2011).
A base do tratamento da obesidade deve ser
multidisciplinar, incluindo nesse quadro de profissionais o
nutricionista. Esse tratamento deve visar à perda de peso,
reeducação alimentar, melhora de parâmetros clínicos, melhora
da sua autoimagem, adoção de novos hábitos de vida
(SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO, 2015).
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
444
Quando ocorre a dificuldade e mesmo efetividade da
perda de peso satisfatória, em pacientes com Índice de Massa
Corporal (IMC) maior que 27 kg/ m2, o uso do balão
intragástrico (BIG) pode ser indicado. Esse procedimento
consiste na introdução de um dispositivo de silicone com vida
útil de aproximadamente seis meses, garantindo sensação de
plenitude e saciedade precoce, considerado terapia
minimamente invasiva (ALMEIDA et al, 2006; SALLET et al,
2012).
Acredita-se que o balão intragastrico é um procedimento
que garante auxiliar no combate a obesidade, se durante o uso
e após a retirada do BIG o paciente for acompanhado por uma
equipe de profissionais da saúde, entre eles o nutricionista,
garantindo que aja a mudança no comportamento alimentar,
para que ao ser retirado o individuo esteja intimamente
associada a costumes diferentes, que o levarão a manutenção
do peso alcançado e mais qualidade de vida.
Sabe-se que o uso do balão intragastrico é uma
alternativa moderadamente simples, válida, segura e eficaz no
tratamento de pacientes obesos. A continuidade de
acompanhamento nutricional, com plano alimentar
individualizado, são fatores imprescindíveis para o sucesso do
tratamento durante e após o uso do balão intragastrico. A
ausência desses profissionais garante o esperdício de recursos
humanos e técnicos, assim como a submissão do paciente a
um procedimento invasivo sem resultados a longo prazo
(CARVALHO et al, 2011).
Conhecer e avaliar os fatores associados ao sucesso na
perda e manutenção do peso alcançados no uso do BIG pelo
paciente obeso torna-se relevante para garantir maiores
conhecimentos aos pacientes, auxiliando-os na adaptação aos
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
445
planejamentos de tratamento, sem abandono ou sabotagem ao
longo do tratamento; aos profissionais garante trabalharem de
maneira mais articulada, sabendo que nenhum procedimento
sozinho é capaz de alcançar o tratamento dessa doença
complexa; e resultando em informações importantes a
população devido o número abrangente e crescente de
indivíduos com sobrepeso e obesidade no mundo e que utilizam
de diferentes procedimentos na busca de melhorar a qualidade
de vida.
Nesse intuito o presente trabalho tem como objetivo
relacionar o uso do balão intragastrico e o sucesso no combate
a obesidade. Nesta perspectiva, construiu-se questões que
orientaram essa pesquisa: 1. A introdução do balão
intragástrico é suficiente para a perda de peso e a manutenção
do peso desejado pelo paciente? 2. Qual a contribuição do
nutricionista ao paciente durante o uso do BIG e na sua
retirada?
2 MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica em que foram
utilizadas as bases de dados online LILACS, SCIELO, PUB
MED, ResearchGate. Primeiramente foi efetivada uma busca
sobre o balão intragastrico, seu funcionamento, os profissionais
envolvidos no tratamento de pacientes que utilizavam desse
método contra o ganho de peso e os resultados, através da
revisão de literatura. Nessa busca foram considerados os títulos
e os resumos dos artigos para a vasta seleção de prováveis
trabalhos de interesse, sendo destacados os resumos que
continham os textos completos e acessíveis. Utilizou-se como
palavras chave os termos reeducação alimentar, balão
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
446
intragástrico, obesidade, equipe multiprofissional. Os critérios
de inclusão para essa pesquisa foram os textos que abordavam
o balão intragastrico como tratamento da obesidade e aqueles
que retratavam os vários profissionais no combate da
obesidade, considerados artigos nacionais e internacionais,
publicações entre 2004 e 2016. O intuito foi destacar o avanço
do tratamento e de comparações de dados de número de
pessoas obesas. Assim, foram encontrados 36 trabalhos
referentes à obesidade e balão intragástrico, sendo excluídos
aqueles que não atendiam aos critérios estabelecidos. Ao final,
foram selecionados 18 textos que se enquadravam nos critérios
de inclusão e garantiu a elaboração desse trabalho, cujo
objetivo é relatar a efetividade do balão intragastrico no
combate a obesidade correlacionando a atuação do profissional
da nutrição durante o tratamento dessa Doença Crônica Não-
Transmissível.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cerca de 82 milhões de pessoas apresentaram o Índice
de Massa Corpórea (IMC) com sobrepeso ou obesidade, cujo
58,2% a prevalência no sexo feminino e 55,6% no sexo
masculino, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE). O acumulo de gordura
abdominal foi mais frequente no sexo feminino, atingindo 52,1%
das mulheres e 21,8% dos homens (ABESO, 2015).
A projeção de que em, 2025, em média 2,3 bilhões de
adultos estarão com sobrepeso, e mais de 700 milhões de
obesos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde a
obesidade é marcada como um dos maiores problemas de
saúde pública em todo o mundo. No Brasil, levantamentos
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
447
mostram que aproximadamente 15% das crianças estariam
acima do peso e mais de 50% da população está na faixa de
sobrepeso e obesidade (ABESO, 2016).
A obesidade é uma patologia em que o excesso de
gordura corporal acumulada pode alcançar graus capazes de
interferir na saúde. O excesso de gordura é causado de
consecutivos balanços energéticos positivos, em que a
quantidade de energia ingerida é maior que à quantidade de
energia gasta (BRASIL, 2005).
Algumas das causas da obesidade são: hereditariedade
e nutrigenômica, cujos defeitos na expressão ou interação dos
sinais de curto e longo prazo que garantem saciedade e fome
colaboram para o ganho de peso; atividade física inadequada;
alimentações ricas em gordura favorece o processo inflamatório
no organismo resultando em ganho de peso, de modo que o
excesso de peso pulsiona a inflamação, é um ciclo de
inflamação e mais ganho de peso; sono alterado, visto que o
tempo insatisfatório de sono leva a alteração da regulagem
endócrina da fome e apetite; o prazer a certos tipos de
alimentos, tais como alimentos ricos em gordura e açúcar que
ocasiona no ciclo vicioso através da liberação dos hormônios
do prazer, de modo que a porção do alimento é sempre maior
favorecendo o ganho de peso; entre outras causas (KRAUSE,
2013).
Erros comumente cometidos no processo de tratamento
da obesidade estão na restrição excessiva de calorias, visão
apenas na quantidade ingerida, sem considerar a qualidade dos
alimentos, não considerar que a reeducação alimentar é mais
importante do que a perda de peso excessiva em pouco tempo,
discriminação da população com o obeso ou mesmo dos seus
familiares, falta de vontade do paciente; dietas da moda,
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
448
atividade física irregular, não acompanhamento por
profissionais habilitados. Esses fatores garantem um processo
de maior elevação do peso, tornando cada vez mais difícil em
alcançar a meta e sempre levando a um quadro de insatisfação
pessoal.
Quando esses erros acontecem e resulta na falha dos
tratamentos convencionais, torna-se imprescindível outras
abordagens para o alcance do objetivo, garantindo mais saúde
e bem-estar (SALLET et al, 2012).
Como opção a esses pacientes, tem- se utilizado o balão
intragástrico. O BIG é uma técnica minimamente invasiva, cujos
pacientes indicados para tal procedimento, devem ter IMC
maior que 27Kg/m2. Consiste em uma prótese fechada de
silicone que é introduzida no estômago por via endoscópica.
Esse procedimento induz percepção de plenitude gástrica e de
saciedade. O médico responsável por esse procedimento deve
avaliar se o paciente tem contraindicação ao método, tais como
lesões esófago-gastro-duodenais, cirurgia abdominal prévia,
gravidez e lactação, toxicodependência e alcoolismo, entre
outros. O BIG é uma terapêutica provisória, com período
máximo de permanência de seis meses no estômago. A estima
de perda de peso é de 13 a 20 Kg, modificando o IMC desses
pacientes, ao modo que, esses valores dependem da conduta
do paciente durante o período de uso do balão e o seu peso
inicial. Além da redução ponderal de peso, esse método causa
uma melhoria no perfil metabólico de pacientes e alterações na
concentração dos hormônios reguladores do apetite, porém
essas modificações são transitórias (ALMEIDA et a, 2006;
CARVALHO et al, 2011; SALLET et al., 2012).
O balão intragastrico é considerado um método de baixo
risco quando relacionado a outras formas de terapêutica da
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
449
obesidade como a cirurgia bariátrica. Como principais
complicações ocorridas pelo uso do BIG, ainda que raros, pode
citar o esvaziamento do balão e migração para o intestino;
surgimento de úlcera gástrica; a colonização por fungos;
desidratação devida os vômitos nos primeiros dias, sua
persistência pode causar insuficiência renal ou ainda
desequilíbrio hidroeletrolítico. Tais complicações têm maiores
chances de serem ocasionadas quando o BIG não é retirado no
prazo recomendado (CARVALHO et al, 2011; INSTITUTO
MINEIRO DE ENDOCRINOLOGIA, 2016).
O BIG atua reduzindo a secreção da grelina. A grelina é
o hormônio liberado pelo estômago, estimulando o cérebro,
indicando fome. Nos pacientes obesos, a grelina, hormônio do
apetite, e a leptina, hormônio da saciedade, são desregulados.
O BIG causa distensão abdominal, garantindo a sensação de
saciedade, portanto, a grelina é liberada em menor quantidade,
causando menor apetite e consumo dos alimentos (INSTITUTO
MINEIRO DE ENDOCRINOLOGIA, 2016).
O estudo feito por Almeida e colaboradores (2006) traz
como resultado que os 17 doentes, amostra da pesquisa,
conseguiu-se uma redução média de peso de 19,6 Kg, contudo,
esses resultados não podem ser relacionados apenas ao uso
do BIG, mas este associado às medidas dietéticas propostas
para o tratamento da obesidade. De acordo com Sallet (2012)
decréscimos da ordem de 5% a 10% do peso resultam na
possível melhoria da pressão arterial, do perfil lipídico, diminui
o quadro de apneia do sono e melhora o quadro da diabetes.
A pesquisa realizada por Carvalho e colaboradores
(2011) relata que 92,31% dos pacientes estudados, perderam
peso. A média máxima de perda de peso foi de 40Kg. A redução
média no ÍMC foi de 6,7 ± 3,73 kg/m2 e diminuição média de
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
450
26,7 ± 16,99 % do excesso de peso. Na amostragem da
pesquisa teve pacientes que mantiveram e ganharam peso
durante o uso do BIG. Foram relatadas complicações como
vômitos, náuseas ou desequilíbrio hidroeletrolítico.
O estudo realizado com 573 pacientes com sobrepeso
utilizando BIG, seguindo plano alimentar de 1000 Kcal/dia e
acompanhamento multidisciplinar, obtiverem resultados, após
seis meses de tratamento, redução de 48% de peso comparado
ao peso inicial ao tratamento e uma redução de 5,3 Kg/m2 IMC
(SALLET et al., 2004). Contudo, de acordo com Doldi e
colaboradores (2004), 25-40% dos pacientes com BIG têm
aumento de peso, voltando ao quadro de sobrepeso ou
obesidade após doze meses, contados a partir da retirada do
balão intragastrico.
Em casos de não haver a envoltura do paciente com as
alterações nos hábitos de vida, que incluem a alimentação e
exercícios físicos, o balão intragastrico apresenta efeito apenas
momentâneo, ganhando novamente o peso antes perdido,
gerando baixa autoestima e um quadro da doença mais
complicado. Sendo assim, a participação ativa do paciente e o
acompanhamento nutricional se torna imprescindível para o
sucesso do tratamento da doença, assim como outros
profissionais da saúde, tais como psicólogo e educador físico
(INSTITUTO MINEIRO DE ENDOCRINOLOGIA, 2016).
Um estudo realizado por Quintas (2009) mostrou os
seguintes resultados de acordo com a sua amostra: a
reincidência de peso após a remoção do BIG, no qual parte dos
pacientes aumentaram 38 kg, enquanto outros continuaram a
diminuir o peso, chegando a 12 kg, até o momento final da
pesquisa, além do peso já alcançado enquanto usavam o BIG.
Avaliou-se ainda que após a remoção do BIG, a maior parte dos
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
451
doentes, abandonou o acompanhamento nutricional, por
iniciativa própria, mais especificamente 54,0% da sua
amostragem, equivalente a 47 pacientes, cujo 23 desses
apontaram a falta de tempo como causa para o abandono, já
38,3% referiram a falta de motivação e resultados como motivo.
Esse mesmo estudo levantou os dados sobre a influência
do acompanhamento nutricional no sucesso do tratamento.
Visto que, 54% dos pacientes avaliados abandonaram o
tratamento nutricional, em média, esses grupos de pessoas
obtiveram maior ganho de peso, do que os 46% que manteve o
acompanhamento com o profissional da nutrição, equivalente a
40 indivíduos, grupo A e B, respectivamente. O grupo A
aumentou em média 4,31 ± 3,45 kg/m2 mais do que o IMC dos
indivíduos do grupo B, cuja média de aumento de IMC foi 2,72
± 3,76 kg/m2. No geral, os resultados mostram que o grupo A,
que abandonou as consultas da nutrição, aumentaram, em
média, mais de 4 Kg.
Cabem ao nutricionista firmar uma relação com o
paciente, estes não abandonando o acompanhamento
nutricional. O nutricionista deve utilizar as consultas para passar
informações que possam garantir que o paciente tenha
autonomia em adaptar o plano alimentar de forma consciente e
saudável. Podendo o profissional utilizar de diferentes meios
para fidelizar o paciente ao tratamento nutricional.
Atividades dinâmicas individuais e em grupos, reuniões
com familiares e amigos próximos para passar informações
sobre alimentação saudável e a obesidade como doença
complexa, explicar a pirâmide alimentar, corridas da saúde,
entregar receitas práticas e saudáveis junto ao plano alimentar,
discutir mitos e verdades sobre alimentação, induzir o paciente
a ser critico e cuidadoso com as informações passadas na
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
452
mídia, atentos a dietas da moda, alterar aos poucos hábitos
alimentares já firmados e que não condizem com a vida
saudável, usar produtos e temperos naturais, mastigação mais
lenta e considerar a importância de reduzir a gordura corporal e
não apenas o número na balança, trabalhar a ideia de
alimentação saudável e a quantidade adequada, não apenas a
restrição de calorias. Estas são abordagens que podem ser
realizadas pelo profissional da nutrição e que auxiliam na
mudança dos hábitos alimentares do paciente através do
acompanhamento nutricional (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA, 2016a).
O nutricionista também deve conscientizar o paciente
que o tratamento com o BIG, não é um método que irá resolver
rapidamente o quadro da sua doença, este requer dedicação
durante e após o procedimento para alcançar os resultados
almejados (QUINTAS, 2009). É papel importante do
nutricionista, encaminhar ao paciente a procurar outros
profissionais que possam auxiliar o tratamento do mesmo,
como é o caso do psicólogo e educador físico.
Juntamente com as modificações na alimentação
saudável é necessário auxiliar a atividades físicas regulares,
para que o objetivo da perda de peso, saúde e qualidade de
vida sejam alcançados. Algumas dicas sobre exercícios físicos
podem ser indicados ao paciente, como escolher uma atividade
que goste; montar uma programação auxiliando com as demais
atividades do dia; ter um amigo para acompanhar durante o
exercício; criar metas e objetivar alcança-las (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA,
2016b). Contudo, é ponderoso o profissional capacitado para
auxiliar nessas atividades.
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
453
Um dado importante do estudo de Quintas (2009) foi que
28,7%, equivalente a 25 doentes, afirmarem que a causa
principal para a decisão em perder peso e utilizar o BIG como
tratamento foram os fatores sociais, ou seja, a pressão da
sociedade atual. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica (2016c) relata estudo publicado no Journal of the
American Medical Association, onde um quarto dos candidatos
à cirurgia bariátrica apresenta algum distúrbio
mental. Mostrando a importância do acompanhamento
psicológico a pacientes com sobrepeso e obeso.
Pode-se afirmar que o balão intragastrico é eficiente no
controle temporário da obesidade, através da sensação de
saciedade e diminuição do excesso de peso, contudo, após a
retirada do balão seus resultados serão satisfatórios apenas
com a continuação do acompanhamento nutricional e
manutenção do novo estilo de vida adotado enquanto o uso do
BIG, nesse sentido é factível a necessidade da equipe
multidisciplinar durante toda a trajetória no combate a essa
doença. Sendo o acompanhamento nutricional imprescindível
para proporcionar maior eficácia no tratamento, com a
adequação de planos alimentares, aliado ao estímulo a práticas
físicas e mudanças comportamentais.
4 CONCLUSÕES
Diante do publicado nesse trabalho, conclui-se que o uso
do balão intragástrico é um método satisfatório para combater
temporariamente a obesidade, o tratamento com o mesmo
garante redução do peso quando há comprometimento do
paciente e este é acompanhado por uma equipe
multidisciplinar.
EFETIVIDADE DO BALÃO INTRAGÁSTRICO EM PACIENTES COM OBESIDADE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
454
Para a manutenção do peso e melhores resultados é
imprescindível o paciente ter acompanhamento do profissional
da nutrição, educador físico e quando necessário tratamento
psicológico.
O acompanhamento com o nutricionista deve ser
mantido durante o uso do balão intragastrico e após a sua
retirada. Devendo o nutricionista conscientizar o paciente que o
principal objetivo é a sua reeducação alimentar e não apenas a
perda de peso, além de garantir boa relação com o paciente
para que este não abandone o tratamento.
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INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
456
CAPÍTULO 26
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE
DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
Priscila da Silva JERÔNIMO 1
Jaielison Yandro Pereira da SILVA 1 Ana Cláudia Pereira da SILVA 2
Janaina Almeida Dantas ESMERO 3
1 Graduandos do curso de Bacharelado em Nutrição e integrantes do Grupo de Pesquisa e Estudos em Atualidades da Nutrição Clínica (CLINUTRI) do Centro de Educação e Saúde -
CES/UFCG; 2 Nutricionista formada pelo Centro de Educação e Saúde – CES/UFCG; 3
Orientadora/Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição e Vice-Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Estudos em Atualidades da Nutrição Clínica (CLINUTRI)do Centro de
Educação e Saúde – CES/UFCG. [email protected]
RESUMO: As mídias sociais são meios de comunicação de
grande impacto no cotidiano dos indivíduos. Elas tem o poder
de influenciar diretamente os hábitos alimentares da população.
A preocupação das pessoas com estética e o crescimento das
doenças crônicas associadas à práticas alimentares e estilo de
vida, faz crescer a adesão por dietas restritivas, disponíveis em
revistas populares e na internet e, portanto, de fácil acesso a
população. Não se sabe até que ponto esses planos
alimentares disponíveis são adequadas do ponto de vista
nutricional. O presente trabalho tem por finalidade revisar a
literatura científica sobre a influência da mídia na adoção de
dietas para emagrecimento e suas implicações na saúde.
Foram utilizadas as seguintes bases de dados: LILACS,
SciELO e Portal de Periódicos CAPES para pesquisa dos
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
457
assuntos relacionados, utilizando para a busca os descritores:
dieta da moda, mídia, internet e recomendações nutricionais.
Foram selecinados artigos na língua inglesa e portuguesa dos
últimos dez anos. A pesquisa revelou que as dietas para
emagrecimento propostas na mídia são, em maioria,
inadequadas em qualidade e quantidade do ponto de vista
nutricional, apontando deficências nos planos alimentares.
Diante do exposto, observou-se a influencia dos meios de
comunicação sobre o consumo dos indivíduos, e as dietas
veiculadas nesse meio não levam em consideração
individualidade, podendo repercutir em impacto negativo na
saúde dos adeptos.
Palavras-chave: Dietas da Moda, Perda de Peso,
Recomendações Nutricionais, Mídia Audiovisual.
1 INTRODUÇÃO
A obesidade é consequência de um conjunto de fatores
que aumentam a massa de tecido adiposo corporal que tem
como principal causa o desequilíbrio entre ingestão alimentar e
gasto energético. Essa patologia é considerada um problema
grave de saúde pública, pois sua prevalência vem crescendo
acentuadamente nas últimas décadas, inclusive nos países em
desenvolvimento, o que levou a doença a uma condição de
epidemia global (MANCINI; HALPERN, 2006).
Sob outra ótica, a obesidade pode estar relacionada a
problemas sociais como: discriminação, preconceito e exclusão
social, acarretando preocupação exaregada com o corpo,
podendo ser um fator associado ao risco de desenvolvimento
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
458
de transtornos no comportamento alimentar (FILIPPE,2004
apud ABREU 2013; LOFRANO-PRADO et al., 2011).
Os transtornos alimentares, em especial a anorexia e a
bulimia, são tidos como alterações graves na conduta alimentar
que podem desencadear sérias complicações à saúde, como:
o emagrecimento extremo ou o ganho excessivo de peso, além
de alterações psicológicas, físicas e sociais (TOSATTI; PERES;
PREISSLER, 2007).
Diante disso, na tentativa de redução de peso e
prevenção da obesidade, nos últimos anos tem surgido uma
variedade de dietas que prometem a perda de peso rápida.
Para tanto, essas dietas divulgadas na mídia, principalmente na
internet e em revistas populares, recomendam o uso de planos
alimentares com grande restrição energética (BETONI, 2010).
Sabe-se que a internet e revistas não científicas,
ferramentas de comunicação da mídia atual, apresentam um
grande poder de influenciar diretamente o consumo e hábitos
alimentares, ainda mais com a crescente preocupação do
mundo atual em relação ao físico corporal (CORRÊA, 2013).
Esses meios de informação são utilizados amplamente pelos
indivíduos como fontes de pesquisas sobre saúde, receitas e
dietas, porém, não se sabe até onde vai a influência dessa
ferramenta e suas implicações, em termos de qualidade,
quantidade, harmonia e variedade, que podem repercutir na
saúde dos consumidores.
Portanto, partindo do princípio de que uma alimentação
saudável deve ser entendida como aquela que promove saúde
e que deve ser planejada com alimentos de todos os grupos
alimentares, a quantidade de energia e nutrientes que atendem
as necessidades da maioria dos indivíduos de uma população
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
459
e promovem saúde devem ser fundamentadas nas
recomendações nutricionais (PHILIPPI, 2008) e elaboradas por
profissionais de nutrição.
Diante de tais considerações, o presente estudo tem por
finalidade realizar uma revisão da literatura científica sobre a
influência da mídia na adoção de dietas para emagrecimento e
suas implicações na saúde, contribuindo com uma visão crítica
sobre o problema em questão.
2 MATERIAIS E MÉTODO
A elaboração deste estudo se deu através da realização
de uma revisão da literatura científica disponível nos últimos
dez anos (2006-2016) sobre o tema em questão. Para tanto,
foram selecionadas as seguintes bases de dados: LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online) e Portal
de Periódicos CAPES. Para a busca dos periódicos utilizou-se
os seguintes descritores: dieta da moda, mídia, internet e
recomendações nutricionais. Foram selecionados artigos
científicos escritos na língua inglesa e portuguesa.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A obesidade é uma doença de difícil controle, com altos
percentuais de insucessos terapêuticos e de recidivas, podendo
apresentar sérias repercussões orgânicas e psicossociais,
especialmente nas formas mais graves. O indivíduo obeso
apresenta sofrimento psicológico decorrente dos problemas
relacionados ao preconceito social e a discriminação contra a
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
460
obesidade. A depreciação da própria imagem física leva a uma
imagem negativa de si, acompanhada de tristeza, vergonha e
isolamento, tornando-o inseguro (MACÊDO et al., 2015).
De maneira geral, a obesidade relaciona-se com uma
pior qualidade de vida, menor interação social, baixa autoestima
e menos bem estar físico e psicológico. Tem causado
problemas como frustações, infelicidade e uma gama de
doenças lesivas (VASCONCELOS, et al., 2011).
A insatisfação com o peso e imagem corporal é um fator
de risco para o desenvolvimento de transtornos no
comportamento alimentar, afetando a relação do indivíduo com
o corpo, autoestima e satisfação com a aparência, o que o torna
mais susceptível ao desenvolvimento de perturbações
comportamentais em relação à alimentação (LOFRANO-
PRADO et al., 2011).
Dentre os transtornos alimentares, destacam-se pela
frequência a Bulimia Nervosa (BN) e a Anorexia Nervosa (AN).
A BN é uma síndrome caracterizada pela ingestão alimentar
descontrolada, que afeta principalmente adolescentes e adultos
jovens do sexo feminino (SCATOLIN; CARVALHO; SILVA,
2010). Já a anorexia é evidenciada pela recusa do indivíduo em
manter um peso corporal na faixa normal mínima, de acordo
com sua idade e altura. Esse último envolve temor intenso de
ganhar peso e uma perturbação significativa na percepção da
forma ou do tamanho do corpo (LEONIDAS; SANTOS, 2013).
O tratamento de tais transtornos envolve uma equipe
multiprofissional, formada por psiquiatras, psicólogos,
nutricionistas, nutrólogos e terapeutas ocupacionais, a fim de se
obter sucesso na resolução e alívio dos sintomas (CATALAN-
MATAMOROS, et al., 2010). O tratamento farmacológico é
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
461
acompanhado de terapias individuais e familiares,
aconselhamento nutricional individualizado e terapia
ocupacional. De modo geral, não existe um profissional que
cuide especificamente do distúrbio da percepção corporal. Uma
das prioridades no tratamento é mudar a maneira como os
pacientes vivenciam seu próprio corpo (PROBST et al., 1997
apud THURM, 2012).
Existem evidências que dão suporte de que a mídia
promove distúrbios na imagem corporal e alimentar devido a
imposição do corpo “perfeito” que ela causa nos indivíduos,
sugerindo que o padrão estético de beleza para meninas é a
magreza e para meninos a musculosidade (HAASE, 2011;
SCHAAL et al., 2011). Diante disso, indivíduos sentem-se
pressionados por esse padrão estético imposto pela mídia, e
muitas vezes buscam por informações de novos hábitos
alimentares, mantém técnicas não saudáveis de manipulação e
controle do peso, tais como indução de vômitos, dietas severas,
exercícios físicos exagerados, uso de laxantes e diuréticos
(PESSOA et al, 2007).
Os meios de comunicação atuais como jornais, revistas
populares, televisão e, principalmente, a internet permitem que
a divulgação científica torne-se acessível à população em geral
(PECHULA, 2007); associado a isso, é inegável a influência
desses veículos de comunicação sobre os comportamentos
adotados pela sociedade na vida moderna. Acredita-se que seja
uma ferramenta de conduta de informação à população, capaz
de influenciar tanto positivamente quanto negativamente no
estilo de vida das pessoas. Com isso, surgem discussões sobre
o impacto dos meios de comunicação sobre a saúde da
população (AKIRA; MARQUES, 2009).
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
462
A crescente preocupação com o padrão estético, assim
como a obesidade, tornou-se um assunto de grande interesse
em vários meios de comunicação em massa, consultado pela
população leiga. As principais formas pelas quais os meios de
comunicação abordam esse tema são o estímulo à venda de
produtos para emagrecimento e recomendações de dietas
hipocalóricas. Podemos encontrar mensagens que incitam o
consumidor a seguir dietas restritivas em calorias ou outras
práticas, com o objetivo de redução de peso em pouco tempo e
sem esforço (ABREU et al, 2013).
A internet apresenta-se como um meio de comunicação
amplamente utilizado pela população na busca por informações
sobre dietas e saúde no entanto a falta de fiscalização pode
levar a divulgação de material de origem duvidosa, e que possa
vir a trazer malefícios.
Segundo Gomes (2007), a mídia veicula um padrão de
beleza possível apenas para uma parcela da população
mundial, visto que para conseguir estes padrões há um
envolvimento de custos. As propagandas existentes, mesmo
que de uma forma indireta, enfatizam a aparência física como
responsável pela felicidade e sucesso, enquadrando as
pessoas num padrão de beleza pré-estabelecida (WITT;
SCHNEIDER, 2011).
A mídia não se limita a ser imparcial e apenas informar,
mas também se posiciona para o que parece ser conveniente e
lucrativo (GUARESCHI, 1999 apud ABREU et al., 2013).
Paradoxalmente, influencia o consumo de alimentos
gordurosos e por vezes hipercalóricos, ao mesmo tempo em
que incita o culto aos padrões de beleza pré-estabelecidos,
persuadindo cada vez mais adolescentes e adultos à
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
463
insatisfação da imagem corporal. Este cenário, por sua vez,
favorece a adesão às dietas restritivas e à prática excessiva de
exercícios físicos, com o objetivo de atingir um peso corporal
ideal (ANDRADE et al., 2003, apud ABREU et al., 2013).
Para um programa de perda de massa corporal com
algum grau de sucesso é importante integrar mudanças
alimentares e exercício físico, além de modificação de
comportamento, educação nutricional e apoio psicológico. A
dieta com restrição de energia é o método mais utilizado para
promover a redução da massa corporal, no entanto, deve ser
nutricionalmente equilibrada, exceto para energia, onde são
reduzidas para um ponto no qual as reservas de gordura devem
ser mobilizadas para atender as necessidades diárias (SILVA;
MURA, 2013).
Os planos alimentares para redução ou manutenção de
peso corporal que exigem redução calórica devem atender ao
padrão alimentar e nutricional considerado adequado. Além
disso, podem ser utilizadas como um instrumento de
aprendizado e exercício da reeducação alimentar,
contemplando os quesitos da adequação em quantidade e
qualidade, prazer e saciedade (BRASIL, 2008).
Segundo Escott-Stump (2007), a pirâmide alimentar
propõe um programa de estilo de vida saudável, incluindo
nutrição e atividade física. Abrange todos os grupos dos
alimentos: cereais, frutas, vegetais, laticínios, carnes, gorduras
e doces. Se as propostas da pirâmide forem seguidas, a
probabilidade de deficiências nutricionais e implicações
negativas para a saúde são pequenas. Para ABESO (2009), as
dietas balanceadas baseiam-se em princípios científicos e são
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
464
tidas como as mais estudadas com o objetivo de redução de
peso.
No entanto, com a demanda da sociedade em relação à
perda ponderal de forma imediatista surgiram inúmeras dietas
e/ou cardápios divulgados pela mídia para atender tais
necessidades, chamadas também de “dietas da moda”, porém,
não se sabe ao certo sobre a fundamentação teórica de sua
elaboração (MA et al., 2007).
São dietas que geralmente restringem um ou mais
grupos de alimentos, além de pré-determinar um consumo
calórico muitas vezes incompatível com uma boa saúde. Tais
dietas, em sua grande maioria, causam efeitos negativos para
a saúde e não atingem os requisitos exigidos para uma
alimentação saudável e manutenção da saúde (BRASIL, 2008).
São inúmeras as propostas encontradas na internet e em
revistas populares que preconizam a perda de peso rápida,
dentre elas podemos citar a “dieta Detox” que se baseia no
consumo de frutas, hortaliças, água, sucos e chás. Tem
duração de geralmente sete dias (OLIVEIRA, 2014). A “dieta da
sopa”, firmada no consumo de sopa duas vezes ao dia, trata-se
de uma dieta hipocalórica que promete uma considerável
redução de peso em sete dias (OLIVEIRA, 2013). A “dieta do
Macrobioma” fundamentada no consumo de bactérias “do bem”
presentes em produtos lácteos fermentados, com o
pressuposto de que tal ingestão auxilia na redução do peso. O
tempo de adesão à dieta para obtenção do resultado prometido
é de um mês (MENEZES, 2014). A “dieta da Tapioca” parte do
principio da restrição do glúten da dieta, pressupondo que essa
proteína deixa o organismo inflamado e mais propenso a
acumular gorduras, objetivando assim a perda de peso com a
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
465
substituição de pães por tapioca. A dieta tem duração média de
sete dias (MARUL, 2014).
Estudos objetivando avaliar as dietas divulgadas na
mídia para promover perda de peso rápida, apontaram que
essas propostas são nutricionalmente inadequadas, tendo em
vista que tratam-se de dietas altamente restritivas e não
oferecem um aporte de nutrientes necessário para a
manutenção da saúde.
Betoni et al. (2010), em um estudo sobre a avaliação da
utilização de dietas da moda, mostrou que dietas muito restritas
em calorias podem levar ao aumento nas cetonas urinárias,
interferindo na liberação renal do ácido úrico. Como
consequência da elevação dos níveis séricos desse ácido, pode
haver o aparecimento de gota úrica. Além disso, o colesterol
sanguíneo pode aumentar em razão da maior mobilização da
gordura corporal, levando ao risco de desenvolvimento de
cálculo biliar e doenças cardiovasculares. Observou-se ainda
que as reduções de peso decorrente de dietas muito restritivas
em calorias resultam em uma perda de 9 a 26 Kg em quatro a
vinte semanas, no entanto, o tempo de permanência com o
peso reduzido é breve.
Pacheco et al. (2009) analisou a composição nutricional
de dietas publicadas em revistas não científicas e encontrou
que das 30 dietas estudadas, 14 estavam abaixo do valor
calórico recomendado para atender as necessidades
nutricionais mínimas, principalmente, em relação aos
micronutrientes. Embora a maioria das dietas apresentassem
quantidades adequadas de carboidratos, um número
considerável mostrou quantidade insuficiente desse
macronutriente. Já no caso das proteínas, a maioria sugeriu
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
466
excesso do nutriente. Quanto ao teor de lipídios, foram
encontradas inadequações, onde o excesso foi apontado em
metade das dietas. Um dado que chamou atenção foi o fato de
apenas 1(uma) das dietas conter o teor de fibras adequado.
Silva e Kirsten (2014) analisaram 24 dietas publicadas em
revistas não científicas e observou que a maioria das dietas
apresentaram-se inadequadas em relação aos
macronutrientes: hipoglicídicas (91,7%, n=22), hiperproteicas
(91,7%, n=22) e hiperlipídicas (91,7%, n=22), sendo adequadas
em relação a fibras totais, potássio, sódio e vitamina C.
Enfatizando a quantidade insuficiente de
micronutrientes, o estudo de Souza et al. (2006), diz que as
dietas de emagrecimento veiculadas por revistas não-
científicas, quando submetidas a analises nutricionais,
apresentaram insuficiência na oferta de vitamina A e cálcio.
Porém, ao se examinar o risco de consumo excessivo
atentando-se aos limites máximos toleráveis (UL), nenhuma
dieta analisada mostrou-se inadequada.
Segundo Philippi (2008), a alimentação saúdavel deve
ser planejada com todos os grupos alimentares, respeitando as
diferenças individuais, emocionais e sociais, alcançando as
recomendações nutricionais e o prazer de comer.
Portanto, para que as dietas sejam adquedas precisam
seguir o que é recomendao pela a Dietary Reference Intakes
(DRIs), cujos valores de referencia implicam no cuidado à
saúde, diminuição do risco de doenças e do consumo excessivo
de algum nutriente por indivíduos e grupos. Foram
desenvolvidas para indivíduos saudáveis e, portanto, não
devem ser utilizadas como referências para indivíduos com
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
467
doenças agudas ou crônicas, nem tão pouco para indivíduos
com alguma deficiência nutricional prévia (IOM, 2006).
Considerando a prevenção de deficiências nutricionais
como também a diminuição do risco de doenças crônicas não
transmissíveis, e por levar em consideração limites superiores
para a ingestão de nutrientes de forma a prevenir riscos de
efeitos adversos pela ingestão excessiva; ao confrontar a
composição nutricional de dietas veiculadas na mídia com os
valores de referências propostos pelas DRIs é possível apontar
possíveis inadequações nutricionais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, percebe-se que a mídia exerce um papel de
grande importância no estímulo à adoção de dietas restritivas,
principalmente, por indivíduos obesos ou com transtornos
alimentares, na tentativa de se adequarem ao padrão estético
que imposto como o ideal.
É possível observar a partir dos resultados apontados em
alguns estudos que essas dietas vinculadas no meio virtual
podem apresentar inadequações tanto de macro quanto de
micronutrientes, e que as mesmas não respeitam a
individualidade.
É necessário que os profissionais nutricionistas estejam
preparados para alertar seus pacientes sobre as informações
que os mesmo estão tomando conhecimento através dessas
mídias sociais e reforçar também o papel do profissional de
acordo com a leigilação vigente.
Além disso, é primordial mais pesquisas a respeito do
poder de influência mídia sobre a imagem corporal das pessoas
INFLUÊNCIA DA MÍDIA EM INDIVÍDUOS OBESOS E COM OS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOÇÃO DE DIETAS PARA EMAGRECIMENTO E SUAS
COMPLICAÇÕES À SAÚDE: UMA REVISÃO
468
e suas atitudes em relação as suas escolhas alimentares, pois,
muitas vezes, veiculam proposições infundadas que podem
repercutir em prejuízos à saúde dos consumidores.
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ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
472
CAPÍTULO 27
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS
POPULARES
Ana Cláudia Pereira da SILVA 1
Jaielison Yandro Pereira da SILVA 2 Priscila da Silva JERÔNIMO 2
Janaina Almeida Dantas ESMERO 3
1 Nutricionista formada pelo Centro de Educação e Saúde – CES/UFCG; 2 Graduando dos curso de Bacharelado em Nutrição e integrantes do Grupo de Pesquisa e Estudos em
Atualidades da Nutrição Clínica (CLINUTRI) do Centro de Educação e Saúde - CES/UFCG; 3 Orientadora/Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição e Vice-Coordenadora do Grupo
de Pesquisa e Estudos em Atualidades da Nutrição Clínica (CLINUTRI) do Centro de Educação e Saúde – CES/UFCG.
RESUMO: O padrão estético e a obesidade têm despertado o interesse da mídia, que exerce influência direta sobre os hábitos alimentares da vida moderna. É frequente encontrarmos mensagens que incitam as pessoas a seguirem dietas com o intuito de perder peso, porém, não se sabe até que ponto elas são adequadas. O objetivo desse trabalho é analisar a composição nutricional de dietas veiculadas a internet e em revistas populares. Trata-se de um estudo transversal de caráter qualiquantitativo onde foram selecionadas cinco dietas (“Dukan”, “macrobioma”, “sopa”, “tapioca” e “detox”), e para cada uma foram analisados três cardápios. Foi feito a análise da composição nutricional pelo software AVANUTRI®. Para análise de macronutrientes utilizou-se como referência os valores do Institute of Medicine (IOM) considerando as Dietary Reference Intakes (DRIs). A frequência qualitativa foi definida de acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira. A análise estatística foi realizada no SPSS 13.0. Todas as dietas se mostraram hipocalóricas, com inadequações de nutrientes.
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
473
Quanto ao número de porções por grupos de alimentos, a grande maioria das dietas estava inadequada, sejam por excesso ou deficiência. Diante do exposto, as dietas mostraram inadequações do ponto de vista qualitativo e quantitativo, deixando claro que não levaram em consideração as necessidades individuais, podendo acarretar riscos à saúde do consumidor. Palavras-chave: Dietas da Moda; Recomendações
Nutricionais; Composição de Alimentos.
1 INTRODUÇÃO
A obesidade, doença multifatorial que envolve fatores
genéticos e ambientais, é definida como acúmulo anormal de
gordura corporal, resultante do desequilíbrio energético
prolongado, podendo trazer sérias implicações para a saúde
das pessoas (NAVES; COSTA, 2006; SOUZA et al, 2006).
Por outro lado, a preocupação excessiva com o peso e
forma corporal, e a auto avaliação excessivamente dependente
destas dimensões podem levar a transtornos de
comportamento alimentar como a anorexia e bulimia,
transtornos de comportamento alimentar que vem aumentando
cada vez mais nos últimos anos, atingindo principalmente
mulheres (TIRICO; STEFANO; BLAY, 2010; SMINK; HOEKEN;
HOEK, 2012).
A preocupação com a obesidade e suas comorbidades,
aliada com o padrão estético, tem ganhado grande destaque na
mídia. Artistas e modelos famosas, seja por meio de blogs,
comerciais de televisão, revistas populares entre outras formas
de divulgação, acabam incentivando os indivíduos a buscarem
dietas de restrição, associando suas imagens ao resultado
dessas práticas e ao uso indiscriminado de produtos para
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
474
emagrecimento (SOUTO; FERRO-BUCHER, 2006; ABREU et
al., 2013)
Existem evidências que fundamentam que a mídia pode
contribuir para a promoção de distúrbios da imagem corporal,
tendo em vista que para obter o “corpo ideal”, indivíduos podem
optar por condutas não saudáveis de controle de peso (indução
de vômitos, exercícios excessivos, dietas extremamente
restritivas) (STICE, 2002).
A internet e revistas populares de saúde são cada vez
mais utilizadas como fontes de informações sobre dieta e
saúde, sendo difundidos na sociedade moderna. Contudo, não
se sabe até que ponto as dietas e/ou cardápios preconizados
por esses veículos de comunicação, que prometem perda de
peso milagrosa, são adequadas do ponto de vista nutricional.
Embora sejam importantes ferramentas de pesquisa e
informação, a falta de fiscalização tem contribuído para a
veiculação cada vez maior de dietas inadequadas que
prometem emagrecimento rápido e não priorizam a saúde dos
indivíduos.
Observou-se que nos últimos anos há uma vasta oferta
de dietas que prometem perda de peso rápida e em curto prazo,
porém, a avaliação da qualidade nutricional destas dietas não
está bem esclarecida (MA et al, 2007).
São inúmeras as dietas encontradas na internet e em
revistas populares. Dentre elas podemos citar: a “dieta Dukan”,
a “dieta do Microbioma”, a “dieta da Sopa”, a “dieta da Tapioca”,
a “dieta Detox”, dentre outras.
Para um plano alimentar saudável é importante
considerar o suprimento das necessidades de cada nutriente de
acordo com as Dietary Reference Intakes (DRIs), que são
utilizadas para planejamento e avaliações de dietas e de
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
475
programas de orientação nutricional, além de auxiliar na
definição de rotulagem (SILVA; MURA, 2013; BRASIL, 2014).
Considerando o exposto, essa pesquisa tem por
finalidade analisar a composição nutricional de algumas dietas
veiculadas na internet e em revistas populares e, dessa forma,
contribuir para que os indivíduos tenham uma visão mais crítica
dos possíveis riscos e/ou benefícios que tais dietas podem
oferecer, despertando o interesse por estudos ainda mais
aprofundados acerca dessa temática.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de um estudo com uma abordagem transversal
de caráter quanti-qualitativo para análise de dietas destinadas
a emegrecimento e veiculadas em sites e revistas não
científicas, no período de Agosto a Novembro de 2014.
Foram selecionadas 3 revistas de forma aleatória que
publicaram dietas e/ou cardápios para emagrecimento, e
selecionadas 3 (três) dietas: dieta Dukan, dieta do Microbioma
e dieta da Tapioca, sendo uma de cada revista.
Na escolha das dietas veiculadas a internet, a ferramenta
escolhida para a pesquisa foi o Google. Por meio desta,
pesquisou-se os sites nos quais apareciam as dietas para
emagrecimento. Foram selecionadas 2 (duas) dietas: dieta
Dukan e dieta da Sopa.
Para cada dieta selecionada, foram avaliados três
cardápios, a fim de se obter uma média de valores de ingestão
individual.
A composição nutricional das dietas foi avaliada a partir
da listagem dos alimentos propostos nas refeições. Foram
incluídos na análise os cardápios contendo pelo menos três
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
476
refeições diárias. Para a análise da composição nutricional
foram contemplados os seguintes nutrientes: energia,
carboidratos, proteínas e lipídeos.
Os cardápios foram analisados por meio do software
AVANUTRI® – Sistema de Avaliação Nutricional, versão online
(2012). Foram incluídas informações nutricionais ao banco de
dados do programa, considerando os rótulos de alguns
produtos.
Para os cardápios que não referiram as quantidades em
gramas ou mL do alimento ou preparação sugerida, foi
estimado esse quantitativo a partir da utilização de tabelas de
medidas caseiras: Tabela para Avaliação de Consumo
Alimentar de Medidas Caseiras (PINHEIRO, 2004) e Medidas e
Porções de Alimentos (ALTENBURG; DIAS, 2009). Para todos
os alimentos que não continham o tamanho exato da unidade,
fatia ou porção, foi utilizado como padrão o tamanho médio.
Para aqueles que não especificavam se as colheres eram
cheia, rasa ou nivelada, foi utilizado como padrão a colher
cheia. Considerou-se sal, açúcar ou edulcorantes nas
preparações somente quando indicado.
Para avaliar a adequação nutricional dos cardápios em
relação aos macronutrientes, utilizou-se como referência os
intervalos de distribuição aceitáveis (Acceptable Macronutrient
Distribuition Range – AMDR), expressos em percentual de
energia total (Kcal): 45%-65% de carboidratos, 10%-35% de
proteínas e 20%-35% de lipídeos (IOM, 2005).
Para efetuar a análise das dietas foi estabelecido um
padrão, sendo escolhidas mulheres entre 20 e 55 anos que são
as mais afetadas pela mídia, considerando os padrões de
beleza (FREITAS; LIMA; LUCENA, 2010). O padrão utilizado
para comparação em relação à energia/Kcal das dietas para
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
477
esse perfil foi calculado em 108,78kJ/kg/dia (26kcal/kg/dia),
resultando em 6723kJ/dia (1607kcal/dia) (SILVA, MURA, 2013).
A frequência qualitativa dos principais alimentos/grupos
de alimentos sugeridos nessas dietas/cardápios foi comparada
com o número de porções por grupos de alimentos propostas
pelo Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL,
2008), a fim de se obter uma análise quantitativa das porções
(Quadro 1). Por questões éticas, os nomes das revistas
analisadas e suas respectivas editoras foram ocultadas.
A análise de dados foi realizada de forma descritiva por
meio de frequência, média, desvio padrão e valores mínimos e
máximos, utilizando o programa Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS) versão 13.0 para Windows
Quadro 1. Recomendações em números de porções preconizados pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, 2008.
Grupo de alimentos Porções diárias recomendadas
Cereais, raízes e tubérculos 6 Frutas 3 Legumes e verduras 3 Leguminosas 1 Leite e derivados 3 Carnes e ovos 1 Gorduras No máximo 1 Açúcares 1
Fonte: Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde (2008).
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
478
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os cardápios propostos por cada uma
das dietas analisadas, foi estimado o consumo diário de
porções por grupo de alimentos e determinada a média em
calorias e macronutrientes, com a finalidade de se fazer uma
análise qualitativa e quantitativa da dieta; além de uma brave
análise qualitativa em relação a fibras e alguns micronutrientes.
A dieta Dukan apresentou uma proposta de cardápio
contendo seis refeições diárias que ofertavam um elevado
aporte proteico, principalmente de origem animal. Tal proposta
pode contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas
(aterosclerose, doenças cardiovasculares e hipertensão),
considerando o fato de que ricos em proteínas de origem animal
que por muitas vezes são fontes de gorduras, principalmente
saturada (MAHAN; SCOTT-STUMP, 2010).
Na Dieta do Microbioma os cardápios eram distribuídos
em cinco refeições diárias e apresentaram uma oferta
moderada de proteínas e lipídios, além da ausência de
carboidratos refinados. Seu princípio básico era o consumo de
probióticos, presentes em leites fermentados e iogurtes,
importantes no segmento dos alimentos funcionais (COSTA et
al, 2013). Segundo Denipote, Trindade e Burini (2010) auxiliam
na hidrólise da lactose, na modulação da constipação, possui
atividade antimutagênica e anticarcinogênica. Além disso,
possui atividade na redução do colesterol sanguíneo e auxilia
no quadro de pacientes com diabetes tipo 2 e obesidade
(ARONSSON et al., 2010). No entanto, a dieta apresenta pouca
variedade de alimentos/preparações que pode contribuir para o
aparecimento de possíveis deficiências em micronutrientes.
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
479
O plano alimentar proposto pela dieta da Tapioca
apontou um consumo moderado de carboidratos e proteínas,
além de um baixo aporte de lipídios. Seu princípio básico é o
consumo de tapioca uma vez ao dia, com objetivo de reduzir o
consumo de glúten e contribuir para a perda de peso. Segundo
Conselho Regional dos Nutricionistas a restrição de glúten só
deve acontecer mediante diagnóstico clínico confirmado de
doença celíaca, de dermatite herpetiforme, de alergia ao glúten,
ou quando eliminada a hipótese de doença celíaca, haja
diagnóstico clínico confirmado de sensibilidade ao glúten
(CRN6, 2014). E, apresentou poucas fontes importantes de
cálcio.
A análise da dieta Detox apontou poucas fontes de cálcio
e uma quantidade considerável de fontes de fibras, tanto do tipo
insolúveis quanto solúveis. Tinha como base do plano alimentar
o consumo de chás, frutas e legumes, principalmente, na forma
de sucos, pelo menos uma vez ao dia.
Na dieta da Sopa foi observado uma restrição tanto na
quantidade quanto na variedade dos alimentos, além de
apresentar poucas fontes de vitamina A e ferro. O princípio da
dieta é o consumo de sopa duas vezes ao dia.
Todas as dietas analisadas estavam distribuídas em
cinco (desjejum, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde e
jantar) a seis (desjejum, lanche da manhã, almoço, lanche da
tarde, jantar e ceia) refeições diárias. O Guia Alimentar para a
População Brasileira (BRASIL, 2008) aponta que a distribuição
diária das refeições deve ser no mínimo três refeições, com
lanches intercalados.
Quanto à variedade dos alimentos e preparações, foi
possível observar monotonia alimentar, visto que os cardápios
apresentam repetições de boa parte dos alimentos.
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
480
Corroborando com nosso estudo, Santana e Mayer (2003) ao
analisarem a composição de dietas veiculadas na internet,
apontaram inadequações na variedade de
alimentos/preparações que compunham os cardápios
analisados.
Os alimentos são à base da alimentação e nenhum
isoladamente, exceto o leite materno nos seis primeiros meses
de vida, é capaz de fornecer o requerimento ideal de energia e
nutrientes para o organismo humano. Portanto, faz-se
necessário a combinação adequada de cereais com
leguminosas (por exemplo, arroz e feijão), com fontes de origem
animal e mesclados com vegetais, a saber: verduras, legumes,
frutas e grãos (BRASIL, 2014).
Na Tabela 1 estão expostas as médias do consumo
calórico e de macronutrientes das cinco dietas analisadas, bem
como seus respectivos desvios padrões (DP).
Considerando as cinco dietas analisadas foi encontrado
um valor energético médio de 1306,88 ± 220,57Kcal, com valor
mínimo de 929,83 kcal para a dieta da Sopa, e valor máximo de
1491,77Kcal para a dieta da Tapioca. Tomando como base o
padrão utilizado para comparação das calorias das dietas
(1607Kcal/dia), observamos um valor energético aquém que se
estende a todos os planos alimentares analisados. O valor
calórico médio por quilogramas de peso fornecido pelas dietas
é em média 21,14Kcal/Kg, configurando segundo Silva e Mura
(2010), como dietas de moderada restrição, visto que, nessa
categoria se enquadram planos dietéticos que fornecem de 20
a 30/kcal/Kg de peso. No entanto, analisando-as de forma
individual, observou-se que a dieta da Sopa fornece apenas
15,04Kcal/Kg de peso/dia o que a classifica como uma dieta de
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
481
elevada restrição calórica, onde fornecimento energético varia
de 10 a 19Kcal/Kg de peso/dia.
Tabela 1. Médias do consumo calórico e de macronutrientes das dietas, com base em três cardápios analisados.
Dieta VET Proteínas Carboidratos Lipídios
Kcal (g) % (g) % (g) %
Dieta Dukan 1.336,82 ± 273,58
131,73 ± 30,78
40 94,79 ± 47,05
28 47,86 ± 27,97
32
Dieta do Microbioma
1.341,84 ± 38,63
99,25 ± 23,28
30 147,99 ± 28,20
41 43,66 ± 8,75
29
Dieta da Tapioca
1.491,77 ± 363,25
90,83 ± 10,68
25 221,25 ± 76,99
59 27,05 ± 11,61
16
Dieta Detox 1.434,14 ± 39,47
73,95 ± 21,18
21 226,00 ± 25,71
63 26,04 ± 8,93
16
Dieta da Sopa 929,83 ± 193,96
23,63 ± 4,27
10 155,75 ± 23,15
67 23,59 ± 10,64
23
Fonte: Dados da pesquisa. Valores apresentados em Médias (± DP) e percentuais para macronutrientes.
Lima et al. (2010), em um estudo sobre o valor nutricional
de dietas veiculadas em revistas não cientificas onde foram
avaliadas 3 grupos de revistas, nos anos de 2007 e 2009,
observaram que as dietas propostas apresentaram um valor
calórico restritivo, com média calórica de 1.279,88Kcal/dia no
ano de 2007 e de 1.224,58Kcal no ano de 2009,
assememlhando ao resultado encontrado no presente estudo.
A literatura aponta que uma dieta com alta e média
restrição calórica traz como vantagem a redução rápida de peso
que ocorre devido à mobilização e utilização da gordura
corporal como fonte de energia, pois a quantidade de calorias
ingeridas é menor que a necessidade calórica do indivíduo
(MAHAN, SCOTT- STUMP, 2010).
Foi constatado que todas as dietas analisadas nesse
estudo tendem a cumprir o objetivo que proposto, ou seja,
proporcionar a perda de peso em pouco tempo. Contudo, Moreli
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
482
e Burini (2006) referem que dietas restritivas podem ocasionar
a perda não só da massa gorda como também da massa magra,
podendo advir, de forma associada, distúrbios hidroeletrolíticos,
anemia, dislipidemia e anormalidades hepáticas. Portanto, tais
dietas podem repercutir em consequências metabólicas
relacionadas à composição da dieta e ao tempo de duração.
Em relação à proporção dos macronutrientes, segundo a
recomendação proposta pela AMDR, estabelecida pelo Institute
of Medicine (IOM, 2005), a dieta Dukan apontou valores acima
do recomendado para proteínas e baixo em relação aos
carboidratos, enquanto que a dieta do Microbioma apresentou
percentual reduzido de carboidratos. Quanto a dieta da tapioca,
é possível observar poucos lipídios. Na dieta Detox
encontramos valores superiores para carboidratos e baixos
para lipídios. A dieta a Sopa apontou muito carboidrato.
Considerando o exposto, 40%, das dietas analisadas eram
hiperglicídicas e 40% hipoglicídicas. Quanto aos lipídeos, 40%
foram classificadas como hipolipdicas. No tocante as proteínas,
80% das dietas eram normoprotéicas e 20% hiperproteica.
Observou-se um desequilíbrio na distribuição dos
macronutrientes em boa parte das dietas analisadas. O estudo
de Willhelm et al, (2014) sobre a composição de dietas para
emagrecimento divulgadas em revistas não científicas,
apontaram que 59,84% das dietas analisadas eram
insuficientes em carboidratos e 95,7% tinham excesso de
proteínas. Carvalho e Faicari (2010), em um estudo analisando
16 dietas publicadas em revistas de circulação nacional,
mostraram que 68,75% das dietas eram hipoglicídicas, 12,5%
normoglicídicas e 18,75% hiperglicídicas. Quanto às proteínas,
todas as dietas apontaram valores superiores ao recomendado,
e em relação aos lipídios, 18,75% eram hipolipídicas e 25%
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
483
hiperlipídicas. Os resultado obtidos no estudo de Souza et al.
(2006) mostram que a maioria das dietas analisadas (85,72%)
tinham teores de carboidratos acima do recomendado, 82,86%
eram hiperprotéicas e 58,57% hiperlipídicas.
Segundo Calabrese e Liberali (2012), a baixa ingestão
de carboidratos pode levar ao surgimento de fadiga excessiva,
hipoglicemia e contribuir para cetose, além de favorecer a perda
do efeito protetor das proteínas. Ainda, dietas com elevado teor
de proteínas e um baixo teor de carboidratos favorecem não só
a perda de massa gorda, mas também de tecido muscular. O
desequilíbrio na proporção de macronutrientes, a saber, dietas
hipoglicídicas e hiperproteicas, promovem a perda de peso
mais rápida, pois a troca em termos quantitativos de
carboidratos por proteínas pode ter maior efeito termogênico
(SILVA; KIRSTEN, 2014). Contudo, o consumo excessivo de
proteínas pode ter efeito deletério, ocasionando excreção
excessiva de cálcio ou diminuição da função renal. Tal dieta em
longo prazo pode contribuir para o aparecimento de
osteoporose (MONTILLA; ALDRIGHI; MARUCCI, 2004).
As dietas com excesso de carboidratos em relação a
oferta calórica, dependendo do tempo e frequência de
consumo, podem favorecer à hipercolesterolemia,
hiperglicemia, hiperinsulinemia e hipertrigliceridemia, associado
a um risco cardiovascular aumentado (SANTOS et al., 2013).
Já as dietas com baixa quantidade de lipídios podem
influenciar na absorção das vitaminas lipossolúveis e também
na produção de hormônios (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2010).
Além disso, a diminuição na quantidade de gorduras na dieta
pode contribuir no aumento nos níveis de triglicerídeos e uma
diminuição nos níveis de HDL (OLIVEIRA; KUKIER; MAGNONI,
2006).
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
484
A Tabela 2, apresenta os valores encontrados em
médias e valores mínimos e máximos encontrados nas cinco
dietas analisadas, em relação ao consumo de porções por
grupo de alimentos.
Tabela 2. Média de consumo de porções por grupos de alimentos com base nos cardápios analisados.
Grupos de Alimentos
D1 D2 D3 D4 D5 *Recomendação
Cereais/raízes/tubérculos
2,33 [1; 3]
4,33 [4; 5]
6 [5; 7]
4,33 [4; 6]
6,33 [6; 7]
6
Frutas 0,66 [0; 2]
1,66 [1; 2]
1,33 [0; 3]
5,33 [4; 7]
3 [3; 3]
3
Legume/ verduras
2,66 [0; 4]
4 [2; 6]
2,33 [2; 3]
5 [4; 6]
5 [4; 6]
3
Leites/ derivados
5,33 [5; 6]
3 [2; 4]
3 [2; 4]
1,33 [0; 4]
0,66 [0; 1]
3
Leguminosas 0,33 [0; 1]
1 [0; 2]
1,33 [0; 2]
1,33 [0; 3]
1 [0; 2]
1
Carnes/ovos 6 [5; 7]
1,66 [1; 2]
2,67 [2; 3]
1,33 [1; 2]
0,66 [0; 2]
1
Gorduras 0,33 [0; 1]
1 [1; 1]
0,66 [0; 1]
0,33 [0; 1]
0 [0; 0]
No máximo 1
Açúcares 0,66 [0; 1]
0,33 [0; 1]
0 [0; 0]
0,66 [0; 1]
1 [1; 1]
1
Fonte: Dados da pesquisa. Valores apresentados são Médias (P 25; P 75).
*Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde,(2008).
D1 - Dieta Dukan; D2 - Dieta do Microbioma; D3 – Dieta da Tapioca; D4 –
Dieta Detox; D5 – Dieta da Sopa.
Considerando as porções indicadas no Guia Alimentar
para a População Brasileira (BRASIL, 2008), observamos que
para o grupo cereais/raízes/tubérculos, as dietas Dukan e
Microbioma apontaram um número aquém do recomendado,
enquanto que para a dieta da Tapioca o valor encontrado
atingiu a proposta do Guia. Em relação às frutas, as três dietas
exibiram médias inferiores às recomendações. Já em relação
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
485
ao grupo legumes/verduras, as dietas Dukan e Tapioca
apresentaram uma média de porções baixa, enquanto que a
deita do Microbioma mostrou valor médio acima do
preconizado.
Quanto ao grupo leite/derivados, a dieta Dukan apontou
um número médio de porções superior à proposta do Guia, e
nas dietas do Microbioma e da Tapioca o consumo foi
compatível. As três dietas apresentaram consumo acima da
recomendação para o grupo de carnes/ovos. No tocante as
leguminosas, a dieta Dukan apontou uma média de porções
abaixo do indicado pela literatura, enquanto que a dieta da
Tapioca apontou valor superior.
A dieta do Microbioma mostrou uma proposta de porções
compatíveis com os valores de referência. O valor médio de
porções de gorduras estabelecidos pelas dietas veiculadas às
revistas não científicas foi compatível com o Guia Alimentar
para a População Brasileira. Contudo, em relação aos
açúcares, foi observado um indicativo médio de porções
inferior.
Carvalho e Faicari (2014) ao analisar a composição de
16 dietas encontraram que, em relação ao grupo de
cereais/raízes/tubérculos todos, os cardápios apresentavam
valores aquém da recomendação. No entanto a maioria estava
adequada em relação aos grupos de frutas e de leite/derivados.
Considerando a média de porções encontradas das
dietas veiculadas na internet, e comparando com a proposta do
Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2008),
observamos que a dieta Detox apontou um número inferior para
o grupo cereais/raízes/tubérculos. Porém, um valor acima da
recomendação para o mesmo grupo foi observado na dieta da
Sopa. Em relação ao quantitativo de frutas, a dieta Detox
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
486
apontou valores acima da recomendação; enquanto que a dieta
da Sopa mostrou valores dentro do parâmetro de referência.
Para os legumes/verduras, as duas dietas mostraram
valores acima do estabelecido no Guia. Já em relação ao
leite/derivados, as duas dietas apontaram uma média inferior.
O número de porções para as leguminosas foi superior às
recomendações para a dieta Detox e adequada para a dieta da
Sopa.
Carnes/ovos exibiu uma média de porções acima dos
valores de referência para a dieta Detox e abaixo para a dieta
da Sopa. Quanto ao grupo das gorduras, foi contatado um
número adequado de porções nas duas dietas, e o grupo de
açúcares apresentou adequação para a dieta da Sopa e abaixo
da recomendação para a dieta Detox.
Em todas as dietas foi possível observar prováveis
divergências quanto ao número de porções diárias por grupo de
alimentos, corroborando com o estudo de Silva e Kirsten (2014)
que identificou inadequação no quantitativo de porções diárias
de acordo com os grupos alimentares em todas as dietas
analisadas, apontando que um pouco mais da metade
precisava apenas de algumas modificações e as demais
estavam totalmente incoerente com a recomendação.
Uma alimentação de qualidade deve contemplar porções
adequadas de alimentos, a fim de proporcionar uma maior
variedade nutricional. O porcionamento é um importante aliado,
na medida em que indica as janelas de oportunidades dentro de
um plano alimentar para a introdução de praticamente todos os
produtos disponíveis, respeitando a quantidade e a frequência
de consumo (ALMEIDA et al, 2011).
Uma das limitações de nossa pesquisa foi à dificuldade
em encontrarmos artigos atuais que abordassem a análise das
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
487
dietas da moda considerando os diferentes tipos de propostas.
A maioria apontava a análise calórica e dos nutrientes de forma
generalista. Uma análise geral inviabiliza apontar possíveis
deficiências nutricionais, pois, como observado, algumas dietas
podem apresentar um excesso de determinado nutriente
enquanto que outra pode mostrar adequação ou inadequação
para o mesmo nutriente. Além disso, quem faz a opção de
seguir uma determinada dieta tende em seguir a proposta por
um determinado tempo. Considerando isso, acreditamos que a
análise por tipo de dieta tende a apontar dados mais próximos
em relação às possíveis inadequações que o plano alimentar
seguido pode proporcionar.
Outra limitação foi em relação ao tamanho da amostra,
pois como para cada dieta analisada foram avaliados três
cardápios, uma amostragem maior poderia minimizar a
amplitude do intervalo dos valores encontrados,
proporcionando maior confiabilidade da estimativa e,
consequentemente, diminuir os possíveis víeis. A
heterogeneidade dos componentes nutricionais nos diferentes
cardápios para cada tipo de dieta proposta foi visível e,
provavelmente, um dos motivos responsáveis por contribuir
para essa variabilidade.
As informações sobre os quantitativos dos alimentos em
alguns cardápios propostos também foi considerado um entrave
na pesquisa, visto que, em algumas dietas, tais informações
foram apontadas de forma não muito clara, no entanto a análise
foi feita de maneira uniforme e padronizada.
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
488
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As possíveis inadequações em calorias e
macronutrientes encontradas nas dietas analisadas, deixa claro
que esse tipo de plano alimentar que promete perda de peso
rápida, não leva em consideração as necessidades individuais.
Foi observado que os cardápios apresentaram prováveis
inadequações não só quantitativamente, mas também
qualitativas, podendo influenciar em possíveis inadequações de
micronutrientes, que assim como macronutrientes são
essenciais para o organismo.
É importante expor que uma perda de peso saudável não
envolve apenas a restrição alimentar, mas também uma
seleção proporcional e variada de alimentos/nutrientes, visando
a reeducação alimentar associada ao exercício físico. Cada vez
mais ações educativas de alimentação e nutrição devem ser
realizadas com a população para expor possíveis riscos alguns
planos alimentares podem trazer a saúde, bem como esclarecer
que os mesmos não devem ser seguidos sem a orientação de
um profissional nutricionista.
Conclui-se que embora os meios de comunicação em
massa sejam de grande importância no que diz respeito a
informação, faz-se necessário um maior controle quanto ao que
é exposto pelos mesmos, visto que a divulgação indiscriminada
de dietas sem respaldo científico podem causar riscos a saúde
da população.
Faz-se necessário o desenvolvimento de novos estudos
que aprofundem essa temática, comparando os dados com
outros instrumentos de base, como o Novo Guia Alimentar.
Além disso, estudos com ênfase da análise de dietas de forma
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE DIETAS VEICULADAS NA INTERNET E EM REVISTAS POPULARES
489
individualizada e considerando a análise quantitativa de
micronutrientes.
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IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
492
CAPÍTULO 28
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICO E MELHOR ADESÃO DA DIETA
Caroline Severo de ASSIS1
Tainá Gomes DINIZ2
Erika Epaminondas de SOUSA4
Christiane Carmem Costa do NASCIMENTO5
1Pós-Graduandaem Nutrição Clínica e Funcional/FIP; 2Especialista em Nutrição Clínica e Terapia Nutricional/GANEP; ³Mestranda do Programade Pós Graduação em Ciências da
Nutrição/UFPB; 4Mestre em Ciências da Nutrição/ UFPB. [email protected]
RESUMO: Este trabalho de pesquisa visou reunir as informações concernentes às questões da adesão e motivação de indivíduos em programas de intervenção alimentar que almejam à mudança do comportamento, avaliados e acompanhados por nutricionistas registrados no CRN-6. O presente estudo avaliou problemas que os Nutricionistas enfrentam no seguimento dietético para melhor adesão da dieta pelos seus clientes. Trata-se de um estudo de campo transversal quanto ao objetivo, com aspectos qualitativos e quantitativos, por meio de aplicação de questionário, envolvendo 30 nutricionistas clínicos da cidade de João Pessoa/PB, no período de março a abril de 2014. Antes disto, foram recolhidas na literatura as atribuições do nutricionista, incluindo os métodos de avaliação nutricional, a comunicação entre o profissional e o cliente, a relação de confiança estabelecida entre estes eo importante quesito do atendimento humanizado. Foram abordadas as principais teorias motivacionais que se fundamentam os programas de intervenção alimentar e algumas considerações sobre a aplicação desta. O questionário aplicado versou sobre as dúvidas, questionamentos e interrogações mais frequentes a respeito dos êxitos e dificuldades nos tratamentos aos quais
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
493
seus clientes são submetidos, demonstrando onde se encontram as dificuldades em um tratamento, e sinalizando para as possíveis resoluções cabíveis a tais dificuldadesnecessitando da colaboração multua dos clientes para obtenção de êxito no tratamento. Palavras-chave: Alimentação. Educação nutricional. Problemas enfrentados pelos nutricionistas.
1 INTRODUÇÃO
No que se diz respeito a mudanças no estilo de vida,
incluindo os de alimentação, o nutricionista é o profissional
adequado a desempenhar um papeldede grande relevância.
Muito mais do que prestar serviços de avaliação nutricional, ele
torna-se o norteador do acompanhamento e manutenção da
mudança de hábitos alimentares. Como os serviços de saúde
hoje já oferecem um amparo bem mais completo a seus
clientes, no setor da nutrição não poderia ser diferente
(ARAÚJO; BANDEIRA; LEÃO, 2013).
Cabe ao profissional dar suporte, meios e condições
favoráveis para que seu paciente consiga atingir seus objetivos,
de forma que se torne necessário levar em consideração não
somente os dados pessoais condizentes ao seu cliente, mas
também o meio em que ele vive as condições que sua família
dispõe o desejo de mudança e, por meio dessas perspectivas
fornecerem aporte nutricional, emocional e comportamental ao
indivíduo (LOPES, 2012).
No seguimento nutricional, enquadra-se a humanização
no atendimento, quando o profissional visualiza o cliente não
como ponto focal, mas como sendo o centro do problema com
vários focos.O canal de comunicação e a postura profissional
humanizado entre o nutricionista e o paciente irão estabelecer
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
494
a confiabilidade entre um e outro e poderá facilitar o
desenvolvimento e o tratamento nutricional adequado (CFN,
2013).
O esclarecimento dos pontos relevantes e positivos no
que diz respeito à ética profissional, as técnicas utilizadas para
facilitar a adesão do paciente às dietas ofertadas e os melhores
meios para o sucesso no tratamento sãoimportante para
melhorar a formação e o exercício profissional. Contudo, para
expor esses pontos enunciados anteriormente, se faz
necessário saber que o nutricionista é um importante mediador
do problema, porém, a dedicação e a força de vontade do
paciente surtirão um efeito maior do que qualquer tratamento
proposto (ANDRADE; LIMA, 2013).
O presente trabalho objetivouavaliar a importância do
nutricionista para o seguimento dietéticoe melhor adesão da
dieta.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Tratou-se de um estudo de campo transversal quanto ao
objetivo, com aspectos qualitativos e quantitativos, por meio de
aplicação de questionário, envolvendo 30 nutricionistas clínicos
da cidade de João Pessoa/PB, no período de março a abril de
2014.
De acordo com o Conselho Regional de Nutrição (CRN-
6),a região conta com o cadastro de 115 profissionais em toda
a Paraíba, para compor a análise, definiu-se a amostra de 30
nutricionistas clínicos em João Pessoa (n= 26 %).
Os dados coletados através dos questionários foram
compilados, analisados e distribuídos em frequência e números
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
495
relativos e aplicado tratamento estatístico através do programa
Microsoft Excel 2010.
Os participantes da pesquisa foram tratados com todo o
rigor ético previsto pela Resolução n. 466/12, envolvendo
pesquisas com seres humanos e os dados foram coletados
após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM/PB), João
Pessoa-PB. Os participantes consentiram sua participação
assinando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) em que foram informados dos objetivos e dos
procedimentos da pesquisa antes da aplicação do questionário,
tendo em vista que seus resultados não seriam
esxpostoserapadamente em nenhum meio de divulgação.
O critério de inclusão compreendeu os nutricionistas que
atuam na prática clínica e que concordaram em participar da
pesquisa; o de exclusão, os que não permitiram sua
participação e que não atuam em consultório.
Risco:Este estudo não apresentou risco previsível aos
participantes, por se tratar apenas de coleta de informações
profissionais, através de questionário.
Benefício:Os resultados desta pesquisa poderão auxiliar
os nutricionistas na conduta com os pacientes e em sua melhor
resposta ao tratamento proposto, uma vez que terão
conhecimento dos entraves em sua relação com o cliente.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura (1), a conformação quanto ao gênero, deu-se
em 27 mulheres e 3 homens, evidenciando que a profissão de
Nutricionista ainda conta em sua grande maioria
comprofissionais do sexo feminino.
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
496
Figura 1. Distribuição dos participantes da pesquisa por gênero.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
Figura 2. Nível de formação dos nutricionistas particiantes da pesquisa.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
Com relação ao Nível de formação atual, os dados
revelaram uma tendência à qualificação profissional, visto que
mais da metade dos entrevistados tem ao menos um tipo de
especialização. Verificando-se também a procura de pós
graduaçãostrictosensu.
90%
10%
Mulheres
Homens
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
497
Tabela 1. Tempo de formação profissional dos nutricionistas participantes.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
Com relação ao tempo de formação, revelou-se que a
maioria dos profissionais, mais especificamente 14 destes, tem
até 5 anos conclusão da graduação, outros 9 profissionais já
têm até 10 anos de formados.
Segundo a Tabela (1), os profissionais consultados
demonstraram que a maioria dos pacientes, que procuram o
seu serviço visam tratar da Perda de Peso, representando em
média 64,8%. Evidenciando que em relação ao atendimento em
consultório, o “carro chefe” ainda é a redução de peso, seguida
pela reeducação alimentar, com 14,3%, e da procura por outros
tratamentos, que incluem as Patologias e Dislipidemias, com
10,5%. Há ainda uma demanda por recuperação de peso, com
uma média de 6,1%. E, por último, a manutenção de peso, com
4,3%. Estes resultados são as médias cujos limites variaram de
5 a 10%. A procura por Perda de Peso, cujo limite mínimo foi de
20% corresponde a resposta de um Nutricionista, que de forma
isolada, atende somente atletas, e desta forma, a procura
destes para a redução do peso é realmente baixa. De forma
similar, na demanda “Outros”, com a explicitação no tratamento
de Dislipidemias e Patologias, em que o limite máximo foi de
80%, também corresponde a um profissional que atende em
Tempo de formação Número de profissionais
Graduação 2
Especialização 18
Mestrado 9
Doutorado 1
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
498
sua grande maioria, pacientes dotados de complicações como
Diabetes Mellitus e Hipertensão.
Tabela 2. Principais demandas que os pacientes buscam.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
SegundoPinheiro(2008), a transição nutricional tinha
uma influência para os problemas nutricionais de uma
população para a obesidade, constata-se hoje que a maior
demanda dos problemas nutricionais dos consultórios dos
profissionais é a busca pela perda de peso. Reafirma-se a
necessidade do Nutricionista fazer parte da equipe
multidisciplinar da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e/ou
PSF conforme apresentado no trabalho supracitado, para que
consiga fornecer atendimento a todas as classes sociais
visando minimizar os danos que o agravo nutricional pode
acarretar.
Demanda Limites(%) Médias (%)
Perda de Peso 20 a 100 64,8
Manutenção de Peso 5 a 30 4,3
Recuperação de Peso 5 a 45 6,1
Reeducação Alimentar 5 a 40 14,3
Outros 10 a 80 10,5
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
499
Figura 3. Tempo de tratamento.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
A estimativa de tempo do tratamento, apresentado pelos
nutricionistas clínicos, em média, variou entre 0 a 6 meses,
como o período que mais fora mencionado.
Figura 4. Tempo de consulta/ atendimento.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
O tempo médio das consultas, citados pelos profissionais
foi de 30 a 60 minutos, mecionado por 23 nutricionistas, no
atendimento ao pacinte, em seguida, 6 deles, afirmaram levar
de 60 a 120 minutos atendendo cada paciente. Apenas um dos
30%
57%
13%
0-3 meses
4-6 meses
mais de6 meses
9%
72%
19%0-30 min
30-60 min
60-120 min
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
500
nutricionistas relatou que seu tempo médio de consulta é de até
30 minutos. Ressaltando que o tempo médio das consultas da
maioria dos profissionais entrevistados, foi de 30 minutos até 1
hora de atendimento, variando de acordo com a necessidade,
cosultas de retorno geralmente são mais rápidas.
Figura 5. Estimativa de retorno.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
Na Figura (5), a estimativa do retorno dos pacientes ao
consultório foi um questionamento feito aos nutricionistas, para
avaliar o acompanhamento do tratamento apresentado aos
clientes. Sendo esta estimativa, segundo 26 entre 40% a 90%.
Outros 14 profissionais responderam que 70 a 90% e 12 destes
entre 40 e 60%. Demonstrando assim que a maioria dos
pacientes procura cumprir o tratamento nutricional
recomendado pelo nutricionista. Evidencia-se também que 14
nutricionistas apresentaram como taxa de retorno entre 70 a
90% e apenas 2 com retorno acima de 90% e outros dois com
taxa de retorno abaixo de 30%.
Estes índices têm demonstrado que diferentemente
daqueles sugeridos pela OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS)
2
14
12
2
>90%
70 a 90%
40 a 60%
0 a 30%
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
501
há uma maior adesão aos tratamentos propostos pelos
nutricionistas atualmente. Do mesmo modo é fundamental o
retorno do paciente ao consultório, o acompanhamento,
assistência e maior interação entre o profissional e o paciente
no aprofundamento de questões de saúde como propõe a
própria OMS(WHO, 2003).
Figura 6. Motivo do retorno dos pacientes.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
A demanda do retorno de pacientes se verifica, para a
reavaliação do Tratamento recomendado, entre 46% dos
nutricionistas da pesquisa, e para 37% deles, apontam ainda a
satisfação com os resultados obtidos, como o segundo motivo
de grande procura pelos pacientes. E dentre todos os
entrevistados, apenas 17% deles apontam a busca por novos
ou mais tratamentos e estímulos, como sendo a causa do
retorno.
46%
37%
17%
0%
Reavaliação
Satisfação
Estímulos
Queixas
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
502
Figura 7. Grau de Satisfação.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
Segundo os Nutricionistas Clínicos do município de João
Pessoa/PB, os pacientes demonstram um Grau de bastante
Satisfação ao retornarem para o consultório, 21 nutricionistas
fizeram esse relato e alguns apontam um Grau de Satisfação
intermediário, 9 deles. Este grau de satisfação demonstra
influência que um tratamento quando proposto e cumprido da
forma correta pode ocasionar na adesão ao tratamento
apresentado pelo Nutricionista conforme exposto por Ceccim
(2005). Onde mesmo sendo uma percepção apresentada pelos
profissionais é importante frisar que este grau de satisfação é
um fator importante na relação profissional – paciente, o que
pode conferir um sucesso maior ao tratamento proposto pelo
profissional para o cliente, gerando também uma estimativa de
retorno mais elevada.
0 0
9
21
nada satisfeito pouco satisfeito intermediário bastante satisfeito
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
503
Figura 8. Tratamentos propostos.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
De acordo com o que os Nutricionistas apresentaram
quanto ao cumprimento do tratamento recomendado aos seus
pacientes, 19 profissionais relataram ter notado que a grande
maioria de seus pacientes cumpre o tratamento proposto. Seis
Nutricionistas discorreram sobre questões mais específicas
como o fato de o sucesso no tratamento variar de paciente para
paciente, dependendo do seu nível de comprometimento com o
tratamento proposto, e também do objetivo do tratamento. Há
ainda, aqueles pacientes que cumprem parcialmente o que foi
proposto, abandonando em algum momento o que
anteriormente estava seguindo como conduta.
Desta forma há que considerar que, mesmo sendo a
maioria dos profissionais pesquisados respondendo que a
grande maioria dos pacientes cumpre o tratamentoproposto, é
necessário o envolvimento do profissional em trabalhar a auto-
estima e o comprometimento do paciente.
19
0
56
cumpriu não cumpriu mudança outros
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
504
Figura 9. Influências que os tratamentos sofrem.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
O Tratamento Dietoterápico sofre influência de meios
externos, e não são somente influenciados pela força de
vontade do paciente e pelos incentivos que os Nutricionistas
apresentam. Destas dificuldades, que na descrição foram
citadas pelos profissionais, destacadam-se: dificuldade de
conciliar o tratamento com a vida social,adaptação a novos
horários de realizar as refeições, novas preparações e o
universo de refeições sugeridas, viagens que mudam a rotina
alimentar, depressão, falta de motivação pessoal e, a proposta
de “tratamentos milagrosos”. Seguidos destas descrições,
vieram em segundo lugar às dificuldades Psicológicas, e em
terceiro, as financeiras. Evidenciando que é de suma
importância o acompanhamento periódico pela parte do
nutricionista, para que seu paciente se sinta assistido e
amparado durante todo o tratamento.
5
12
13
financeiras psicológicas outras
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
505
Figura 10. Adapatação ao tartamento.
Fonte: ASSIS et al. (2016).
No quesito que tratou de averiguar a Adaptação ao
Tratamento, 19 Nutricionistas relataram que seus pacientes
afrirmaram ser fácil a adaptação, e 11 profissionais,
mencionaram que seus pacientes relatam dificuldades em
executar o tratamento. Dentre estas dificuldades, estão o início
á prática de exercícios físicos, horário disponível para preparar
suas refeições, dúvida se podem ou não consumir
determinados alimentos e a dificuldade de fracionamento de
suas refeições ao longo do dia.Vinte e sete Nutricionistas
assinalaram que seus pacientes não demonstram nenhum grau
de frustração em relação tratamento, e apenas 3 deles
disseram que sim, sem apresentar os motivos.
O intuito da procura ao Nutricionista é a perda de peso,
pois hoje a obesidade encontra-se entre as dislipidemias mais
presentes na população, assim como no estudo de Lima et al.
(2015), mostrou a correlação entre os fatores que são
determinantes para o execesso de peso, como a escolaridade,
renda,sexo, hábito de fumar e estilo de vida, corroborando com
os dados obtidos no presente trabalho, onde se faz necessário
19
11
fácil
dificuldades
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
506
que a população tenha acesso ao acompanhamento não só
nutricional, mas, multiprofissional, afim de prevenir ou tratar as
patologias mais frequentes, como a obesidade.
4 CONCLUSÕES
Ao avaliar os dados do presente estudo o profissional
nutricionista clínico do município de João Pessoa/PB, é em sua
grande maioria do sexo feminino com idade entre 23 e 56 anos,
apresentam até 5 anos de atuação profissional.
O acompanhamento profissional dos Nutricionistas
Clínicos, em sua maioria, propõe um tempo de tratamento aos
seus pacientes de 4 a 6 meses e que em suas consultas utilizam
o tempo de 30 a 60 minutos, tendo um índice de retorno entre
40% a 90%, com alto grau de satisfação.
A grande maioria dos pacientes cumpre o tratamento
proposto pelo Nutricionista, com fácil adaptação e sem
dificuldades em atender a suas orientações. Existem influências
externas durante o tratamento dos pacientes, mas não há
frustração ou dificuldades de assimilar as orientações
apresentadas pelos Nutricionistas. Os Nutricionistas Clínicos
tem que desenvolver canais de interações rápidas com seus
pacientes, mídia, redes sociais, para atender suas demandas,
tanto daquelas previstas no tratamento, como de influência
externa e momentâneas. Quanto mais fortalecida a relação de
confiança entre profissional e paciente, maior chances de êxito
tem o tratamento. Cada paciente é único e suas necessidades
devem ser tratadas como tais.
IMPORTÂNCIA DO NUTRICIONISTA PARA O SEGUIMENTO DIETÉTICOE PARA MELHOR ADESÃO DA DIETA
507
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, C.; BANDEIRA, M.; LEÃO, C. O que o nutricionista faz na área clínica?.Disponível em: <https://propaganut.wordpress.com/2013/08/19/o-que-o-nutricionista-faz-na-area-clinica-mesdonutricionista/> Acesso em: 28 de maio de 2015. CECCIM, R. B. Educação Permanente em Saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, v.9, n.16, p. 161-177,2005. CFN. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS.Resolução CFN n° 380/2005. Disponível em: <http://www.cfn.org.br/novosite/pdf/res/2005/res380.pdf>. Acesso em: 8 out. 2013. CFN. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS.Perfil da atuação profissional do nutricionista no Brasil. Brasília: CFN, 2006. Acesso em: nov. 2013. LIMA, R.P.A. et. al. IMC, sobrepeso e obesidade ajustados por váriosfatores em todas as faixas etárias da população de uma cidade nonordeste do Brasil. InternationalJournalofPesquisa Ambiental eSaúde pública,v.12, n.1, 2015. LOPES, M.P.A. Dieta Mediterânea. Disponível em: <fromhttp://www.plataformacontraaobesidade.dgs.pt>. Acesso em:2012. WHO.WORLD HEALTH ORGANIZATION.Adherence to long-term therapies: Evidence for action. Geneve: World Health Organization, 2013. PINHEIRO, A.R.O. Nutrição em saúde Pública:Os potenciais de inserção na Estratégia de Saúde daFamília (ESF). Revista eletrônica Tempus, v.1, n.1, 2008. SOCIEDADE MÉDICA PAULISTA DE ADMINISTRAÇÃO EM SAÚDE. Humanização: Apoio ao paciente ou mais uma ferramenta de marketing. Disponível em:<www.cqh.org.br>. Acesso em: 20 ago. 2013.
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
508
CAPÍTULO 29
ANÁLISE CRITICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA
REVISÃO DA LITERATURA
Jaielison Yandro Pereira da SILVA 1
Manuella Italiano PEIXOTO 2
Janaina Almeida Dantas ESMERO 3
1 Graduando do curso de Bacharelado em Nutrição e integrante do Grupo de Pesquisa e Estudos em Atualidades da Nutrição Clínica (CLINUTRI) do Centro de Educação e Saúde - CES/UFCG; 2 Nutricionista Residente em Nutrição Clínica; 3 Orientadora/Docente do Curso
de Bacharelado em Nutrição e Vice-Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Estudos em Atualidades da Nutrição Clínica (CLINUTRI) do Centro de Educação e Saúde – CES/UFCG.
RESUMO: O aumento na prevalência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, a saber: obesidade, diabetes, hipertensão arterial, entre outras, muitas vezes pode está associada a hábitos alimentares e estilo e vida inadequados, resultando na necessidade de mudanças em relação a essas variáveis. A comercialização de produtos para fins especiais, como os diet e light, pode contribuir de forma positiva em determinadas situações metabólicas e fisiológicas, cada um com sua especificidade. Contudo, a falta de conhecimento pode resultar no consumo desses produtos de forma inadequada e, com isso, acarretar prejuízos à saúde em decorrência do desconhecimento sobre a importância da rotulagem de alimentos e sua interpretação. O presente estudo tem por finalidade revisar a literatura dos últimos dez anos sobre a rotulagem de produtos diet e light. Os estudos indicaram que parte dos indivíduos não sabem diferenciar diet de light, e podem usar esses produtos de forma indiscriminada, muitas vezes sem indicação, podendo contribuir para danos à saúde. É essencial que o consumidor tenha atenção ao optar por consumir tais alimentos, pois, embora tenham objetivos ligados
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
509
à saúde, essa realidade pode não ser aplicada em todas as situações. É importante que os consumidores leiam e saibam interpretar a rotulagem desses produtos, evitando o consumo de forma incorreta. Deve-se incentivar ações educativas para um melhor compreensão por parte dos consumidores. Palavras-chave: Nutrição; Rotulagem de Alimentos; Doenças
Crônicas.
1 INTRODUÇÃO
Os produtos alimentares possuem um lugar de destaque no
cotidiano dos indivíduos (SOARES; MOURA NETO; SILVA,
2016). Esses produtos são utilizados não apenas para saciar a
fome, mas como forma de garantir o aporte nutricional
necessário para o bom desempenho do organismo,
contribuindo para a manutenção ou recuperação do estado
nutricional de um indivíduo saudável ou enfermo,
respectivamente.
O aumento da prevalência das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT), a saber: obesidade, diabetes,
hipertensão arterial, dislipidemia, entre outras, resultam em
graves prejuízos a saúde e, muitas vezes, estão associadas a
uma alimentação incorreta e estilo de vida sedentário,
influenciando no aumento da taxa de mortalidade (DUNCAN et
al., 2012). Tal aumento pode ter contribuído para a
comercialização de produtos com a finalidade de auxiliar no
tratamento ou prevenir complicações associadas a essas
doenças, surgindo os alimentos diet e light que vieram a se
tornar grandes aliados à saúde (HALL, 2006).
De acordo com a Portaria nº29, de 13 de janeiro de 1998
proposta de Agência Nacional de Vigilância Sanitária o produto
diet é caracterizado por apresentar na sua composição
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
510
quantidades insignificantes ou isentas de determinado
nutriente, destinado para grupos da população com
necessidades fisiológicas específicas, ao passo que um produto
light apresenta em sua composição uma redução de algum
nutriente ou valor energético (25%) quando comparado a um
tradicional (BRASIL, 1998; BRASIL, 2012).
Os alimentos diet e light devem conter em sua
embalagem a rotulagem nutricional que funciona como um meio
de informação ao consumidor, a fim de guiá-lo em escolhas
mais saudáveis e servir como meio de comunicação entre a
indústria e seu consumidor (MACHADO et al., 2006; CAVADA
et al., 2012).
Partindo do pré-suposto de que a rotulagem de alimentos
é obrigatória e normatizada pela ANVISA, isso passa confiança
e segurança aos comensais; porém, muitas vezes estes não
atentam ao que esta presente no rótulo ou até mesmo ignoram
a necessidade de se saber interpretá-lo. Contudo, isso não
exclui a possibilidade de eventuais erros, inadequações ou
fraudes que possam prejudicar a saúde dos mesmos
(MACHADO et al., 2006).
Então questionamos até que ponto vai o conhecimento
dos consumidores de produtos diet e light sobre sua rotulagem?
Eles sabem interpretar? Quais riscos o consumo inadequado
desses alimentos pode trazer à saúde?
Tendo em vista que o consumo alimentar inadequado
pode acarretar riscos à saúde, é de grande importância
investigar o conhecimento dos consumidos à respeito da
rotulagem de alimentos para fins especiais. Diante do exposto,
o presente trabalho tem como objetivo revisar a literatura
científica disponível dos últimos dez anos (2006-2016) fazendo
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
511
uma análise crítica sobre a rotulagem de produtos diet e light e
seu impacto à saúde humana.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de uma revisão da literatura científica que
abordam os produtos diet e light sob diferentes aspectos,
levantando uma análise crítica sobre essa temática. Foi feita
uma pesquisa prévia no DeCS (Descritores em Ciências da
Saúde) para a seleção das palavras-chave associadas ao
assunto. O levantamento bibliográfico foi realizado e partir das
bases de dados: SciELO (Scientific Electronic Library Online),
PubMed/MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Portal de
Periódicos CAPES. Para a busca dos artigos científicos foram
utilizados os seguintes descritores: produto light (light food),
produto diet (diet food), combinado os os descritores rotulagem
de alimentos (food labeling) e doenças crônicas (chronic
diseases). A seleção dos artigos foi conduzida de acordo com
os seguintes critérios de inclusão: 1) artigos/estudos
relacionados com a temática (declarados no título ou no objetivo
do estudo); 2) artigos com diferentes públicos (variando entre o
sexo, faixa etária, escolaridade, doenças e etc.); 3) artigos
publicados nos últimos dez anos (2006-2016) e 4) artigos
escritos no idioma português e inglês. Foram excluidos os
artigos que não se enquadravam nos critérios supracitados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo a World Heath Organization (2011) as Doenças
Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como as doenças
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
512
cardiovasculares, obesidade, diabetes, hipertensão arterial,
dislipidemias e entre outras, representam hoje o maior
problema de saúde pública, tanto no Brasil quanto nos demais
países do globo, gerando um grande número de mortes
prematuras e gastos ao cofre público. A grande maioria das
DCNT poderiam ser prevenidas ou controladas por meio da
detecção precoce, mudanças de hábitos alimentares, adoção
da prática da atividade física e acesso a tratamento adequado
(VERAS, 2011). É perceptível que hábitos alimentares
constituem um dos fatores modificaveis do estilo de vida de
grande importância para o controle de doenças crônicas, sendo
passível como intervenções preventivas com grande poder
custo-efetivo (BRUNO; PEREIRA; ALMEIDA, 2014).
Logo, o aumento das doenças crônicas não
transmissíveis, associada a prevalência de
alergias/intolerâncias alimentares e a preocupação crescente
com a estética corporal concomitante com elevação do nível de
escolaridade da população, vem resultando na formação de
consumidores mais conscientes em relação à boa alimentação
e saúde. Esses fatos têm contribuído para a necessidade de
formulação de produtos alimentícios especializados. De forma
geral, os produtos diet e light podem atender a população que
se preocupa com a saúde e forma física (HALL, 2006).
Observa-se um aumento progressivo em relação ao
consumo desses alimentos, não exclusivamente por indivíduos
acometidos por enfermidades, mas também por pessoas que
se preocupam com a estética, atletas, esportistas e/ou como
escolha opcional. A transição demográfica brasileira,
caracterizada pelo envelhecimento populacional, também
contribuiu com esse aumento, em decorrência da elevação na
frequência de comorbidades e, consequentemente, uso de
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
513
alternativas para o controle de algumas doenças (MEIRA,
2010).
A produção dos alimentos diet e light teve início na
década de 70 (DA SILVA; BISPO; DRUZIAN, 2013). No Brasil,
a comercialização era realizada em farmácias, por serem
caracterizados como medicamentos, e era controlada pela
Vigilância Sanitária de Medicamentos. Esta realidade perdurou
até o ano de 1988, quando foi instituída a Portaria n° 1 da
Secretária Nacional de Vigilância Sanitária e do Ministério da
Saúde (NUNES; GALLON, 2013), em que esses produtos
passaram a ser considerados alimentos, logo, sendo
controlados pela ANVISA.
A partir da Conferência da Organização da Agricultura e
Alimentação (FAO) e Assembleia Mundial de Saúde em 1962,
criou-se o Codex Alimentarius, responsável pela
implementação do Programa FAO/OMS de Padrões de
Alimentos, manuais e normas alimentares internacionais, a fim
de garantir a saúde dos consumidores. O mesmo foi utilizado
como referência para elaboração de legislações conceituando
alimentos diet e light, que foram publicadas pela ANVISA
(ANVISA, 2014).
Os alimentos diet são usados em dietas que requerem
restrição de nutrientes. Dentre estes, carboidrato, gordura,
proteínas e sódio (BATISTA et al., 2006). Essa categoria é
geralmente consumida por indivíduos com determinadas
doenças como diabetes, doenças cardiovasculares e alergias
alimentares. São isentos de algum nutriente específico, contudo
a quantidade calórica nem sempre é reduzida. Exemplificando,
temos o chocolate diet, que apresenta isenção de açúcar, no
entanto, possui alta quantidade de lipídios quando comparado
ao produto de referência (VIEIRA; CORNÉLIO, 2007).
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
514
De acordo com RDC 54/2012, os alimentos light
apresentam redução mínima de 25% em algum componente
como açúcares, gordura, sódio, calorias. A redução é feita com
base na porção ou por 100g/ml de acordo com comparações de
pratos preparados (BRASIL, 2012). São exemplos que se
enquadram nesta categoria no mercado alimentício: pão light,
maionese light, sal light” (ORNELLAS, 2007).
Dentre os produtos da categoria light os que são mais
adquiridos são: adoçantes, refrigerantes, sucos, pães,
sobremesas lácteas, biscoitos, barras de cereais, leite,
margarina, aveia, sorvetes, chocolate, maionese, creme de
leite, requeijão (ORTOLANI et al., 2008).
É importante que os consumidores saibam diferenciar o
que são alimentos diet e light para utilizá-los de acordo com as
suas necessidades. Santos et al. (2013) identificaram que 43%
dos indivíduos conceituaram erroneamente os termos diet e
light. Dados semelhantes foram vistos no estudo de Saito,
Pereira e Paixão (2013), onde 41% dos consumidores
desconheciam as diferenças existentes entre esses produtos.
Os resultados do estudo de Rorato, Degáspari e Mottin (2006)
foram ainda mais preocupantes, pois, 95% dos participantes da
pesquisa não conheciam a finalidade desses produtos. Nessa
mesma pesquisa, foi demonstrado que a maior parte dos
consumidores considera-os, de um modo geral, saudáveis.
No estudo de Santos e Miquelanti (2009), realizado com
adolescentes de escolas públicas e privadas com o intuito de
avaliar o conhecimento dos estudantes sobre produtos diet e
light, observou-se que 12,9% relataram que esses alimentos
são semelhantes, e que o consumo era mais frequentes por
estudantes da escola privada. Meira et al. (2010) avaliaram o
conhecimento sobre esses produtos por estudantes de ambos
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
515
os sexos da escola privada, e foi percebido que os mesmos não
sabiam diferenciar diet de light, relataram que utilizavam com o
intuito de emagrecer (meninas) e também porque achavam
saudáveis (meninos); além disso, relatarm obter informações
sobre tais por meio da televisão.
Geralmente a associação desses produtos como
benéficos à saúde pode ser pela redução em açúcar e sal. À
maioria considera a redução desses nutrientes mais relevantes
comparado à diminuição de calorias, carboidratos e gordura
(INSTITUTE OF FOOD TECHNOLOGISTS, 2014).
Nos alimentos diet e light, o açúcar pode ser trocado por
edulcorantes como a sucralose, aspartame, sacarina, ciclamato
e frutose; enquanto que a gordura é substituída por substância
de base proteica (derivados da proteína da soja, soro do leite e
dos ovos), por substância de base lipídica (esteres, ésteres de
lipídeos com açúcares, com poliglicerol, e politienoglicol) ou por
carboidratos (amido, gomas e maltodextrina) (DÍAS, 2007). Em
decorrência dessas substituições, uma atenção especial deve
ser dada ao rótulo.
Hall (2006) identificou que boa parte da população faz
uso frequente de produtos diet e light, e que a escolaridade,
renda e gênero influenciam em seu consumo. Dentre as
justificativas para essa conclusão destacam-se: prescrição
médica, não engorda ou por fazer bem a saúde. De forma geral,
são alimentos que apresentam custo mais elevado, contudo, a
relação custo-benefício acaba atraindo os consumidores.
Diante do exposto, o rótulo pode ser um instrumento de
educação alimentar e de comunicação entre os consumidores
e os fabricantes (NASCIMENTO et al., 2014). O Código de
Defesa do Consumidor determina como direito, a transmissão
de informações através do rótulo alimentar, de forma
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
516
compreensível e com especificações corretas sobre o conteúdo
nutricional (CAVADA et al., 2012). É permitido uma variação de
até 20% nos valores que são declarados (LOBANCO et al.,
2009).
A ANVISA, por meio de uma nova legislação (RDC
54/2012) que entrou em vigor em Janeiro de 2014, determinou
mudanças nos rótulos nutricionais para auxiliar o consumidor a
identificar com mais facilidade o produto desejado. Dentre as
mudanças, o alimento só poderá ser denominado light quando
apresentar redução de 25% de algum nutriente em comparação
com a porção da versão convencional do mesmo tipo do
produto. Na condição de não se ter o alimento convencional do
mesmo fabricante, utiliza-se o valor médio do conteúdo de três
alimentos de referência disponíveis no mercado. Anteriormente,
o produto que continha uma baixa quantidade e redução de
algum nutriente também era considerado light (ANVISA, 2013).
A partir dessa nova resolução foi exigido que os rótulos
alimentares expressassem a diferença quantitativa em
percentual, fração ou quantidade absoluta e declarassem a
informação nutricional complementar (INC), com cor
contrastante ao fundo do rótulo a fim de garantir a visilibidade e
legilibidade da informação. A norma aplica-se também aos
anúncios veiculados por meios de comunicação e para toda
mensagem transmitida de forma oral ou escrita (ANVISA,
2013).
Segundo a ANVISA (2013) “a INC é qualquer
representação que afirme, sugira ou implique que um alimento
possui propriedades nutricionais particulares, relativas ao seu
valor energético e ao conteúdo de proteínas, gorduras,
carboidratos, fibras alimentares, vitaminas e ou minerais.” Esta
deve ser aludida ao alimento pronto para o consumo ou de
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
517
acordo com as instruções de preparo do alimento. A INC
direciona a atenção do consumidor a um nutriente específico,
porém, não mostra todas as suas características, logo o
consumidor deve estar atento à tabela nutricional, na qual estão
contidas outras informações importantes.
A partir da rotulagem dos produtos é possível obter
informações quanto à composição, qualidade e característica
dos alimentos, auxiliando o consumidor a fazer suas escolhas
de forma consciente e de acordo com suas necessidades
(RORATO; DEGÁSPARI; MOTTIN, 2006). Duarte, Oliveira
(2008) demonstraram que 83% dos indivíduos não leem os
rótulos e os que possuem este hábito não compreendem as
informações.
Os rótulos dos alimentos devem apresentar informações
fidedignas do produto. Diversos episódios de fraudes nos
gêneros alimentícios foram revelados, demonstrando erros na
confecção e fiscalização, comprometendo não apenas a
qualidade dos alimentos, mas também a confiança do
consumidor para com a indústria. Câmara, Marinho e Guilam
(2008) realizaram uma pesquisa utilizando 75 produtos diet e
light com o propósito de identificar a adequação das
informações contidas nos seus rótulos e observaram que todos
apresentavam mais de uma irregularidade.
Uma pesquisa realizada no município de Doutor
Ricardo/RS, que avaliou o nível de conhecimento dos
consumidores sobre rotulagem de alimentos, apontou que 69%
das pessoas avaliadas afirmaram ler ocasionalmente a tabela
nutricional e outras informações contidas nas embalagens, no
entanto grande parte não as compreendiam (GIACOBBO,
GRÄFF, DAL BOSCO, 2009).
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
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518
Com a finalidade de auxiliar os consumidores a
compreenderem melhor a rotulagem dos alimentos, a ANVISA
criou o Manual de Orientação aos Consumidores - Educação
para o consumo saudável, que oferece informações sobre
legislação e leitura dos rótulos (ANVISA, 2008).
Giacobbo, Gräff e Dal Bosco (2009) observaram que
4,4% dos entrevistando envolvidos na pesquisa conheciam e
compreendiam o manual elaborado pela ANVISA e 95,6% não
conheciam o seu conteúdo, demonstrando a necessidade de
divulgação deste, visto que é essencial para que os
consumidores protejam-se de informações enganosas.
Nesse aspecto, quanto maior a compreensão das
informações contidas nos rótulos, maiores são as chances do
consumidor compreender o que são alimentos diet e light e suas
respectivas finalidades (ROCHA, 2008); particularmente,
pacientes que necessitam seguir recomendações dietéticas
mais rígidas, como hipertensos, diabéticos, obesos (ROTHMAN
et al. 2006).
Brugnera, Baruffi e Panatto (2012) realizaram um estudo
que apontou os possíveis malefícios do uso dos adoçantes mais
conhecidos no Brasil durante a gestação e lactação,
demonstrando que o sorbitol pode aumentar a excreção de
minerais considerados essenciais. Já a sacarina tem a
capacidade de atravessar a placenta e a substância aparece no
leite materno, devendo ser evitada nesse período. O ciclamato
também pode cruzar a placenta e os níveis sanguíneos fetais
podem chegar a 25% dos níveis plasmáticos maternos,
causando efeitos citogenéticos nos linfócitos humanos.
Dias (2007) apontou que a gordura agrega sabor ao
alimento e, desta forma, nem sempre os substitutos de gorduras
mantém um aspecto sensorial semelhante ao produto original.
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
519
Essas substituições modificam a textura, sabor, cor e aparência
do alimento, por isso são acrescentados proteínas, agentes
estabilizantes, emulsificantes, quelantes e fibras que retém
água e aumentam a umidade do produto. Com tais
características, o tempo de vida de prateleira pode diminuir.
Alguns produtos dietéticos substituem o açúcar por
lipídios, podendo aumentar a densidade calórica. Indivíduos
portadores de diabetes devem ter cuidado na utilização de tais
produtos, pois pode contribuir para agravos associados à
doenças cardiovasculares, devido as complicações micro e
macrovasculares (SOUZA et al., 2012).
Os alimentos light são utilizados normalmente por
indivíduos que desejam emagrecer. Contudo, esses produtos
podem fornecer a falsa ilusão de que não contribuem para o
ganho de peso e, desta forma, incentivar um consumo elevado.
Além disso, alguns produtos light, por reduzirem a quantidade
de gordura, aumentam o teor de sal a fim de manter a
consistência. Desta forma, pode não ser uma boa alternativa
para hipertensos (VIEIRA; CORNÉLIO, 2007).
No sal diet ou light, ocorre uma substituição de uma parte
do cloreto de sódio pelo cloreto de potássio. Portanto, pacientes
renais que devem ter uma ingestão controlada de potássio,
podem não se beneficiar com essas versões (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2008).
Um estudo realizado por Nishida (2013) analisou o rótulo
de 3449 alimentos industrializados classificados como isentos
ou reduzidos em nutrientes e demonstrou que os alimentos light
e diet costumam ter um teor de sódio em 43% a mais quando
comparados aos alimentos convencionais. As maiores
porcentagens encontradas foram nos grupos de Leites e
Derivados e de Óleos, Gorduras e Sementes Oleaginosas.
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
520
Dentre os alimentos com maior quantidade de sódio
destacam-se os caldos, sopas, refrescos em pó, gelatinas,
refrigerantes e balas (SCHRAMM, 2013). Portanto, pacientes
que necessitem de ingestão controlada de sódio devem ter
cautela ao utilizar esses produtos.
Pode haver variações em relação a determinados
alimentos diet e light de acordo com a marca do produto. Alguns
podem conter mais calorias e lipídios do que os comuns. A
exemplo, uma marca de batatas fritas na qual a versão
tradicional contem 107 calorias, numa versão light pode ter 115
calorias, ambas utilizando porção de 24 g. Um molho para
salada na versão light que apresentou 297 calorias e 30,5 g de
gordura foi comparado a outra marca na versão tradicional, que
continha 280 calorias e 25,8 g de gordura contidos na mesma
porção. Em tais exemplos, os alimentos tradicionais
demonstraram possuir menos calorias e lipídios (UNGOED,
2011).
Uma pesquisa liderada por Hill et al. (2014) demonstrou
que bebidas sem açúcar ou com teor reduzido, podem inibir a
saciedade e aumentar o consumo calórico. Participaram do
estudo 115 estudantes universitários que permanecerem em
jejum por oito horas, após esse período foram divididos em três
grupos. O primeiro consumiu refrigerante adoçado, o segundo
refrigerante adoçado artificialmente e o último água mineral com
gás sabor limão, sem açúcar. Após a ingestão, solicitou-se que
os estudantes abrissem uma caixa na qual continha água
mineral, chiclete sem açúcar e chocolate, e elegessem qual
gostariam de consumir. Os que beberam bebidas adoçadas
artificialmente obtiveram uma propensão de 2,93 vezes maior
em escolher o chocolate do que aqueles que consumiram o
refrigerante já adoçado.
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
521
Desta forma, percebe-se que quando não consumidos
adequadamente, tanto os produtos diet quanto os light podem
trazer prejuízos à saúde, sendo então de grande importância
que os seus consumidores fiquem atentos quanto a informação
nutricional presente nos rótulos, e quando não souberem como
ler ou interpretá-los, que procurem por orientações nutricionais
com finalidade de se tornarem mais conscientes em suas
escolhas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É essencial que o consumidor tenha cautela e senso
crítico ao optar por consumir um produto alimentício diet ou
light, pois, embora esses alimentos estejam muitas vezes
associados à melhoria da qualidade de vida e saúde, essa
realidade pode não ser aplicada em todas as situações. É
imprescindível conhecer e respeitar as necessidades
fisiológicas de cada indivíduo, bem como suas possíveis
patologias e repercussões para a saúde.
É de fundamental importância identificar se as propostas
dos alimentos diet e light, assim como as informações contidas
nos rótulos dos produtos estão sendo bem compreendidos pela
população, a fim de que o consumo desses gêneros possam
ocorrer de forma consciente e para que o consumidor possa
obter os benefícios proporcionados pelos mesmos. E, que o
consumo sem um conhecimento adequado de riscos e
benefícios podem gerar malefícios, caso o uso seja
inapropriado.
O conhecimento da população sobre esta temática é
importante, porém, é necessário também que o mercado
conheça o perfil desses consumidores e pensem em estratégias
ANÁLISE CRÍTICA DA ROTULAGEM DE PRODUTOS DIET E LIGHT E SEUS
IMPACTOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
522
mais específicas para direcionar o consumo sem repercutir em
possíveis prejuízos à saúde, de forma a tornar mais clara a
compreensão sobre esses produtos. Além disso, é importante
a atuação de órgãos fiscalizadores, objetivando a detecção de
possíveis falhas que possam repercutir em prejuízo ao
consumidor.
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AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
GRANDE/PB
526
CAPÍTULO 30
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM
SUPERMERCADOS DE CAMPINA GRANDE/PB
Manuella Italiano PEIXOTO 1
Jaielison Yandro Pereira da SILVA 2
Janaina Almeida Dantas ESMERO 3
1 Nutricionista Residente em Nutrição Clínica; 2 Graduando do curso de Bacharelado em Nutrição e integrante do Grupo de Pesquisa e Estudos em Atualidades da Nutrição Clínica
(CLINUTRI) do Centro de Educação e Saúde - CES/UFCG; 3 Orientadora/Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição e Vice-Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Estudos em
Atualidades da Nutrição Clínica (CLINUTRI) do Centro de Educação e Saúde – CES/UFCG. [email protected]
RESUMO: Doenças crônicas não transmissíveis e a maior necessidade de hábitos alimentares saudáveis contribuiu para a produção de alimentos para fins específícos, surgindo os produtos diet e light. Para que a aplicabilidade desses alimentos seja adequada é necessário que os consumidores conheçam os conceitos, interpretem seus rótulos e os utilizem corretamente. A proposta do estudo foi avaliar o nível de conhecimento e perfil de consumidores de produtos diet e light que frequentavam supermercados em Campina Grande/PB. Tratou-se de um estudo de caráter descritivo, quali-quantitativo, em que foi utilizado um questionário padronizado com perguntas associadas ao objetivo da pesquisa. Identificou-se que o sexo feminino, faixa etária de 25 a 34 anos, ensino médio completo, estado nutricional eutrófico e renda de 3 a 5 salários mínimos, foram as variáveis mais prevalentes. De modo geral, os consumidores não sabiam definir corretamente esses alimentos, havendo contradição entre afirmar saber conceitua-los e conceituar corretamente. A maioria dos consumidores que liam os rótulos, compreendiam. Os indivíduos utilizavam esses
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
GRANDE/PB
527
alimentos por associarem como saudáveis e redutores de peso. Boa parte dos entrevistados confiavam na rotulagem desses produtos e consideravam importantes. Considerando que os consumidores de alimentos diet e light possuem necessidades específicas, e que os conceitos não estão bem esclarecidos, deve-se pensar em estratégias para ampliar o conhecimento desses produtos e evitar o uso incorreto. Palavras-chave: Doenças Crônicas. Rotulagem de Alimentos.
Consumidor.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, observa-se um aumento das doenças
crônicas não transmissíveis, aliada a uma maior preocupação
na busca por hábitos alimentares saudáveis, despertando a
necessidade de formulações de produtos alimentícios que se
adequem a esta realidade. Nesse contexto, surgiram os
alimentos diet e light, contribuindo para que indivíduos que
possuem condições fisiológicas e metabólicas específicas,
obtivessem produtos alimentícios adequados a este fim além de
atender às necessidades de consumidores que se importam
com estética (DIAS, 2007; GARCIA, DE CARVALHO, 2011).
Os produtos diet são classificados como alimentos para
fins especiais, designados assim quando possuem uma
redução significativa ou isenção de algum nutriente específico,
a saber: carboidrato, gordura, proteína e sódio. Podem ser
classificados em alimentos para dietas com restrição de
nutrientes, alimentos para ingestão controlada de nutrientes e
para grupos populacionais específicos (BRASIL, 1998; BRASIL,
2012).
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
GRANDE/PB
528
Por outro lado, os alimentos light devem ter uma redução
de no mínimo 25% de algum dos seus componentes ou de
calorias totais, de acordo com a porção comparada ao produto
tradicional ou com outros similares. Normalmente, sendo
utilizados por indivíduos que objetivam controlar ou perder
massa gorda (BRASIL, 2012).
Para que os alimentos diet e light sejam produzidos, é
necessário que ocorram substituições nos componentes dos
produtos alimentícios, podendo aumentar o conteúdo de
carboidratos, lipídios e sódio (DÍAS, 2007), e resultar em
malefícios a saúde, como elevação da pressão arterial e
doenças cardiovasculares (SARTORELLI; FRANCO, 2003;
NISHIDA, 2013). Como consequência, o tratamento de doenças
que estão intimamente relacionadas à alimentação pode ser
afetado negativamente.
O fato de o alimento ser rotulado como diet ou light não
significa necessariamente que contribua para a redução
ponderal, prevenção e tratamento de determinadas patologias.
Nem sempre a expectativa do consumidor é correspondida
acarretando o consumo de alimentos não adequados as suas
necessidades específicas (MARINS; ARAUJO; JACOB, 2011).
Mesmo com seus benefícios e o livre acesso dos
indivíduos a esses produtos, é importante investigar se a
população tem conhecimento sobre as diferenças entre esses
alimentos, as finalidades a que se destinam e os principais
motivos que levam os consumidores a optar por utilizá-los.
Diante do exposto, o presente trabalho objetivou avaliar
o nível de conhecimento dos consumidores de produtos diet e
light em dois supermercados de Campina Grande/PB.
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
GRANDE/PB
529
2 MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de um estudo de caráter descritivo, quanti-
qualitativo que foi desenvolvido em dois supermercados
(supermercado A e B) em zonas diferentes da cidade de
Campina Grande/PB, escolhidos seguindo o critério de
popularidade desses locais. Os estabelecimentos foram
previamente informados sobre a finalidade do estudo e
metodologia aplicada para a viabilização e realização da
pesquisa nos locais. Para definição do tamanho da amostra,
levou-se em consideração a média de clientes que
frequentavam o supermercado por dia. Foi considerado um
intervalo de confiança de 95% com uma margem de erro de 5%.
Como o interesse da pesquisa era apenas os consumidores de
produtos diet e light, utilizou-se 24% do tamanho da amostra
(RORATO; DEGASPARI; MOTTIN, 2006).
Foram incluídas pessoas de ambos os sexos, com idade
cronológica acima de 18 anos e que fossem consumidores de
produtos diet e light. Foram excluídas aquelas que não se
enquadravam nos critérios supracitados e que apresentavam
agravos que pudessem prejudicar a coleta das informações,
como transtornos mentais. Os participantes foram informados
quanto aos objetivos da pesquisa e após concordância,
assinaram um Termo de Concentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
A pesquisa ocorreu nos dias de maior fluxo nos
supermercados. Foi aplicado um questionário padronizado com
13 perguntas, contemplando a identificação do consumidor
(sexo, idade, renda, escolaridade), dados antropométricos
(peso e altura), conhecimentos e consumo de produtos
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
GRANDE/PB
530
diet/light, além da leitura e interpretação dos rótulos alimentares
(RORATO; DEGASPARI; MOTTIN, 2006).
Os dados foram tabulados no programa Microsoft Office
Excel 2007. Utilizou-se dados de frequência para variáveis
descritivas.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
do Hospital Alcides Carneiro/UFCG, CAAE
40961014.6.0000.5182.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo foi realizado com 170 consumidores de
alimentos diet e light, sendo 84 (49,41%) frequentadores do
supermercado A e 86 (50,59%) do supermercado B. A maioria
dos entrevistados estavam na faixa etária média de 25 a 34
anos de idade, e apenas 12,35% eram maiores de 55 anos.
Considerando a população avaliada, 68,82% eram do
sexo feminino e 31,18% pertenciam ao público masculino.
Dados esses compatíveis com o encontrado por Freitas et al.
(2006), que ao avaliar consumidores quanto ao conhecimento
sobre alimentos diet e light, observou predominância do sexo
feminino (66%). Tal resultado pode ser atribuído a uma maior
preocupação por parte das mulheres em buscar hábitos
alimentares saudáveis a fim de contribuir para uma melhor
qualidade de vida, como também auxiliar na manutenção ou
perda de peso (BATALHA; LUCCHESE; LAMBERT, 2005).
Em relação à renda familiar (Tabela 1), observou-se que
33,53% dos participantes relataram uma renda maior que 3 a 5
salários mínimos (SM), independentemente dos
supermercados frequentados. Apenas os consumidores do
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
GRANDE/PB
531
estabelecimento B relataram uma renda superior a 10 SM
(15,12%).
Tabela 1. Descrição da amostra em relação à renda familiar e
grau de escolaridade dos entrevistados.
Total de entrevistado
s
Supermercado A
Supermercado B
Renda Familiar n % N % N % > 1/2 a 1 3 1.76 3 3.57 0 0.00 > 1 a 2 21 12.35 19 22.62 2 2.33 > 2 a 3 37 21.76 24 28.57 13 15.12 > 3 a 5 57 33.53 26 30.95 31 36.05 > 5 a 10 39 22.94 12 14.29 27 31.40 > 10 13 7,65 0 0.00 13 15.12 Escolaridade E.F.I 6 3.53 6 7.14 0 0 E. F.C 10 5.88 9 10.71 1 1.16 E.M.I 8 4.71 6 7.14 2 2.33 E.M.C 53 31.18 26 30.95 27 31.40 E.S.I 22 12.94 7 8.33 15 17.44 E.S.C 49 28.82 23 27.38 26 30.23 Pós Graduação 20 11.76 5 5.95 15 17.44 Semi analfabeto
2 1.18 2 2.38 0 0
Fonte: Dados da pesquisa.EFI: Ensino Fundamental Incompleto EFC: Ensino Fundamental Completo EMI: Ensino Médio Incompleto EMC: Ensino Médio Completo ESI: Ensino Superior Incompleto ESC: Ensino Superior Completo.
Perin e Uchida (2014) mostraram que os entrevistados
com renda de 4 a 5 SM eram os maiores consumidores de
alimentos diet e light (32,5%). No estudo de Marketest (2009),
foi identificado que os consumidores a partir dos 25 anos e
renda familiar mais alta eram geralmente os maiores
consumidores desses alimentos.
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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532
Quanto à escolaridade (Tabela 1), constatou-se que boa
parte dos participantes tinham ensino médio completo
(31,18%), e os consumidores que frequentavam o
supermercado B possuíam um grau de instrução maior quando
comparados aos do supermercado A (5,95%), considerando a
proporção de indivíduos com pós-graduação (17,44%).
Corroborando com os dados da pesquisa, Cardoso,
Souza e Ribeiro (2009) ao analisarem o grau de escolaridade
de pessoas em supermercados da cidade de Bragança
Paulista/SP, encontraram que 60,5% destes tinham ensino
médio completo/superior incompleto.
Quanto ao estado nutricional (Figura 1), considerando
como parâmetro de avaliação o IMC (kg/m2) a partir do peso e
altura relatados pelos participantes da pesquisa, foi possível
observar que 42,35% do total dos entrevistados eram eutróficos
e 41,18% tinham sobrepeso.
Ao avaliar o IMC de consumidores de alimentos diet e
light, Giacobbo, Gräff e Bosco (2009) encontraram uma maior
prevalência de indivíduos eutróficos (43,8%) e com sobrepeso
(36,5%). Rorato, Degáspari e Mottin (2006) apontaram que a
maioria dos consumidores desses alimentos também era
eutrófica (69%).
Acreditamos que esses resultados sejam atribuídos a
uma maior preocupação com a saúde e estética corporal,
observadas como perfil dos consumidores desses produtos.
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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533
Figura 1. Distribuição do estado nutricional de acordo com a
classificação pelo IMC (FAO/WHO, 2001).
Fonte: Dados da pesquisa
Quando questionados sobre o fato de saberem o que é
um produto diet e/ou light, 54% responderam que tinham
conhecimento; porém, apenas 12,35% conceituaram de forma
correta. Destes, 5,29% souberam conceituar alimentos diet e
7,06%, os produtos lights, conforme especifica a Portaria
SVS/MS 29, de 13 de janeiro de 1998 e RDC Nº 54, de 12 de
novembro de 2012.
Rocha (2008), ao realizar um estudo com 50
consumidores de alimentos diet e light em Belo Horizonte/MG,
identificou que apesar de 54 % (n =27) dos consumidores
afirmarem saber conceituar esses produtos, 12% (n= 06)
acertaram o que era diet e 4% (n= 02) light. Esses valores,
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
Eutrófico
Sobrepeso
Obesidade I
Obesidade II
Não soube
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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534
assim como os apontados em nosso estudo, demonstraram
uma discordância entre afirmar saber de fato e conceituar
corretamente tais produtos.
Gorte et al. (2007), ao considerar o nível de
conhecimento de consumidores de alimentos diet e light,
encontraram que apenas 5,79% (n=14) dos entrevistados
conceituavam de forma correta. Segundo dados de um trabalho
realizado por alunos do curso de nutrição, com 81 pessoas em
três supermercados de um município do leste mineiro, foi
apontado que 62% não sabiam diferenciar alimentos diet e light
(FREITAS et al, 2006). Já na pesquisa de Santos et al. (2013),
43% dos consumidores desconheciam as diferenças existentes
entre esses produtos.
Ao serem questionados sobre o que seriam alimentos
diet e light, foi possível verificar (Tabela 2) que 50% dos
indivíduos envolvidos na pesquisa responderam que os
produtos diet eram isentos ou possuiam menos açúcar;
enquanto que em relação aos produtos light, 44,71% dos
participantes referiram que estes produtos eram isentos de
gordura ou apresentavam uma menor quantidade desse
nutriente.
Semelhante aos dados encontrado, uma pesquisa
realizada com 150 consumidores em supermercados de Caxias
do Sul/RS apontou que mais da metade dos participantes (56%)
responderam que alimentos diet eram isentos de açúcar. Além
disso, 27,3% e 21,3% afirmaram que produtos lights eram
isentos de gordura ou “sem calorias”, respectivamente
(NUNES, GALLON; 2013).
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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535
Tabela 2. Descrição da amostra em relação aos conceitos atribuídos pelos entrevistados quanto aos produtos diet/light.
Variável Categoria N %
O produto diet é: Isento/-açúcar
85 50.00%
Menos calórico 41 24.12%
Isento/- gordura 31 18.24%
Isento de algum nutriente 9 5.30%
Outros 4 2.36%
O produto light é: Isento/-açúcar 26 15.29%
Menos calórico 52 30.59%
Isento/- gordura 76 44.71%
Redução mínima de 25% (açúcar/gordura/sal)
12
7.06%
Outros 4 2.36%
Fonte: Dados da pesquisa.
O fato de boa parte dos indivíduos desconhecerem esses
produtos, no tocante a conceitos e composição, pode ser motivo
de preocupação, uma vez que, em alguns casos é necessário
substituições ou adições de componentes a fim de garantir um
aspecto sensorial semelhante ao produto original. Com isso, o
consumidor pode estar ingerindo maiores quantidades de
gordura, carboidrato, sódio e até mesmo calorias, tornando-os
muitas vezes inapropriados para determinados consumidores.
Segundo os dados da nossa pesquisa (Tabela 3), os
principais motivos que levaram os indivíduos a consumirem
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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536
produtos diet era a associação como um produto saudável
(32,94%) e para emagrecimento (31,76%). Dados aproximados
foram encontrados em relação aos lights (36,47% e 34,12%,
respectivamente).
Na pesquisa de Hall (2006), realizada em Porto Alegre
(RS), São Paulo (SP), Goiânia (GO) e Recife (PE), dos
entrevistados que faziam uso desses alimentos (26,1%), 12,1%
alegaram que os mesmos contribuíam para saúde, 10,1%
associaram à não promoção de aumento de peso e 3,9%
utilizavam esses produtos por indicação médica.
Tabela 3. Descrição da amostra em relação aos motivos
apontados pelos consumidores como justificativa para consumo
de alimentos diet e light. Variável Produto Diet Produto Light
N % N % Por ser saudável 56 32.94% 62 36.47% Auxilia no emagrecimento 54 31.76% 58 34.12% Manter “a forma” 38 22.35% 35 20.59% Tratar doença 12 7.06% 11 6.47% Hábito 9 5.29% 4 2.35% Outro 1 0.59% - -
Fonte: Dados da pesquisa.
Nunes e Gallon (2013), ao investigar o conhecimento e
consumo de produtos diet e light por consumidores de
supermercados no RS, mencionaram dados que se
assemelham aos encontrados em nossa pesquisa: 48%
consumiam esses produtos alegando contribuir para uma
alimentação saudável, e 13,3%, por auxiliar na perda de peso.
Já Souza (2005), em um estudo com 139 pessoas,
encontrou que os maiores motivos para o consumo de produtos
diet por parte dos entrevistados foi por acreditar serem mais
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
GRANDE/PB
537
saudáveis (37,5%), por alegarem alguma doença de base
(29,2%) e para emagrecer (20,8%). Quanto aos light, a resposta
predominante foi a associação desses produtos como alimentos
mais saudáveis (50%). Apenas 8,4 % consumiam em virtude de
alguma doença.
Em pesquisa realizada em dois supermercados de
Campo Mourão/PR, dentre os consumidores que afirmaram
consumir alimentos light (46%), 26,5% faziam uso objetivando
emagrecimento/manutenção “da forma”. Os que consumiam os
diets (14%) também utilizavam para a mesma finalidade,
porém, a prevalência foi menor (7,2%) (PERIN, UCHIDA, 2014).
Ao observarmos na Figura 2 os meios de comunicação
para obtenção de informações sobre esses produtos ,a maioria
dos entrevistados apontou a televisão (31,18%) como principal
influente, seguido da internet (25,29%) e 21,76% mencionaram
outros meios, a saber: relato de profissionais de saúde, como
médicos e nutricionistas.
Na pesquisa de Perin e Uchida (2014), a internet e a
televisão (59%) foram os meios mais citados como veículo de
informações sobre os diet/light, seguido dos jornais e revistas
(25,3%). No estudo de Hara, Horita e Escanhuela (2003), a
televisão foi apontada como principal meio de informação sobre
esses alimentos (24%).
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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Figura 2. Descrição dos principais meios para obtenção de informações sobre alimentos diet e light.
Fonte: Dados da pesquisa.
Sobre a rotulagem dos produtos, observamos que a
maioria da população estava habituada a ler os rótulos
(64,71%), porém, um número elevado relatou ser de difícil
entendimento (41,76%).
Resultado aproximado foi constatado por Martins (2004),
que ao questionar consumidores em supermercados, 61%
informaram ler os rótulos, principalmente os de classe social
mais alta e indivíduos com problemas de saúde. Na pesquisa
de Pinheiro et al. (2011), a maioria dos entrevistados também
observou as informações contidas nos rótulos (85,40%). Em
contrapartida, Cavada et al. (2012) apresentaram resultados
distintos, onde menos da metade (48,13%) costumavam
consultar os rótulos, no entanto, os que liam (61,21%)
compreendiam as informações.
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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539
Na presente pesquisa, a maioria dos indivíduos que liam
os rótulos compreendiam tais informações, independente dos
supermercados que frequentavam.
Machado et al. (2013), ao questionar os possíveis
motivos que poderiam influenciar os consumidores na não
leitura dos rótulos dos produtos, apotaram a falta de
compreensão de tais informações como a principal causa
(40,2%). Marins, Jacob e Peres (2008) afirmaram que os
indivíduos não liam os rótulos por não compreenderem as
informações, uma vez que a linguagem utilizada era de difícil
compreensão.
De acordo com os dados obtidos, 70% confiavam nas
informações contidas nos rótulos desses produtos.
Em contrapartida, Siqueira et al. (2014), ao analisarem a
compreensão dos consumidores frente às informações dos
rótulos, indicaram que apenas 21,1% confiavam
completamente nas informações expressas. Marins, Jacob e
Peres (2008) referiram que 24% não acreditavam que as
informações dos rótulos eram fidedignas, podendo ser
manipuladas e omitidas, alegando a obtenção de lucros por
parte da indústria alimentícia, bem como a não ocorrência de
uma fiscalização adequada.
Algumas pesquisas apontaram a presença de fraudes
nos alimentos e nos rótulos, desrespeitando o Código de
Defesa do Consumidor vigente. Câmara (2008) realizou
análises com 75 alimentos diet e light, e todos os rótulos
apresentaram mais de uma irregularidade. Barros et al. (2012),
ao examinarem a rotulagem de produtos diet e light,
identificaram 39% de irregularidades nas amostras analisadas.
Paiva e Henriques (2005) mostraram que a rotulagem de 75%
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dos alimentos para fins especiais estavam em desacordo com
a Portaria específica (n.º 29/1998). Na pesquisa de Braga,
Abreu e Chaud (2011), 55,5% dos alimentos diet e 31,25% dos
light continham irregularidades.
O rótulo dever exercer o papel de apresentar ao
consumidor os componentes do produto, auxiliando nas
escolhas dos alimentos. Portanto, é incabível que as
informações representadas estejam incorretas e em desacordo
com a lei (SILVA et al., 2012).
Todos os entrevistados da pesquisa relataram a
importância da consulta aos rótulos dos alimentos (100%). Já
Bendino, Popolim e Oliveira (2012), ao questionarem
consumidores de dois supermercados, mostrou que 80% dos
indivíduos de sua pesquisa consideraram a leitura dos rótulos
como importante.
Quando questionados sobre o Manual de Orientação da
ANVISA para consumidores, 84,71% nunca leram ou ouviram
falar deste material, que é essencial para a melhor
compreensão das informações nutricionais contidas nos
rótulos, visto que explica de maneira simples o que é uma
porção, uma medida caseira, o que são macro e
micronutrientes, entre outras definições. Sendo um instrumento
de auxílio na identificação de informações mais relevantes e
que requerem mais atenção. Contribuindo assim, para visão
crítica e consciente do consumidor (ANVISA, 2008).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos dados coletados foi possível identificar o perfil
de consumidores de acordo com a população estudada, sendo
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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541
o sexo feminino, faixa etária de 25 a 34 anos, ensino médio
completo, estado nutricional eutrófico, e renda de 3 a 5 salários
mínimos como as variáveis mais prevalentes.
Os dados sobre conhecimento de alimentos diet e light
refletem que a amostra estudada não souberam definir e,
consequentemente, desconheciam a real finalidade desses
alimentos. Os produtos diet foram associados basicamente a
produtos isentos ou com pouco açúcar, enquanto os light a
isentos de gordura ou com menor quantidade desse
componente.
Apesar de 92 indivíduos afirmarem que sabiam o que era
alimento diet e light, apenas 21 definiram corretamente,
demonstrando o quanto a população necessita de informações
corretas sobre esses produtos, e a partir disso, utilizar dos seus
benefícios, evitando prejuízos com o uso inadequado.
Geralmente os indivíduos utilizam os alimentos diet
associando-os como saudáveis (32,94%) e que favorecem o
emagrecimento (31,76%). Os lights também são utilizados
pelas mesmas razões (36,47% e 34,12%, respectivamente).
A televisão e internet foram os meios mais utilizados para
obter informações sobre esses alimentos. Nesse sentido,
podem ser incluídos como estratégias de divulgação e
esclarecimentos.
Quanto aos rótulos, a maioria dos consumidores
relatram que liam e compreendiam as informações expressas.
Apesar de todos os consumidores apontarem a importância da
leitura dos rótulos, grande parte nunca leu ou ouviu falar no
Manual de Orientação da ANVISA para consumidores,
mostrando a necessidade de maior divulgação desse material.
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONHECIMENTO E PERFIL DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS DIET E LIGHT EM SUPERMERCADOS DE CAMPINA
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542
Apesar de vários estudos apontarem a ocorrência de
fraudes nos rótulos dos alimentos, a maioria da população
estudada (70%) confia nas informações repassadas. Porém,
faz-se necessário uma maior fiscalização por parte dos órgãos
competentes e cobrança da população, a fim de diminuir tais
irregularidades que podem trazer prejuízos para os
consumidores.
Por fim, tendo em vista que geralmente os consumidores
de alimentos diet e light possuem necessidades específicas, e
que a população não está bem esclarecida sobre o que são
esses alimentos, é importante uma maior divulgação sobre
esses produtos bem como sobre suas rotulagens, priorizando
como uma das ações de saúde, já que o consumo desses
produtos é crescente e a falta de informação pode implicar em
agravos à saúde quando consumidos de forma indiscriminada.
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AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE ÓLEO DE AMENDOIM (ARACHIS HYPOGAEA L.) SOBRE OS PARÂMETROS MURINOMÉTRICOS E
BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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CAPÍTULO 31
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE ÓLEO DE AMENDOIM (ARACHIS HYPOGAEA L.) SOBRE OS PARÂMETROS MURINOMÉTRICOS E BIOQUÍMICOS
DE RATOS WISTAR
Suedna da costa SILVA1 Martiniano da Silva LIMA2
Mikaelle Alburquerque de SOUZA3 Raphaela Araújo Veloso RODRIGUES4
Juliana Kessia Barbosa SOARES5 1 Graduanda do curso de Nutrição, UFCG;
2 Nutricioinista pela UFCG; 3Nutricionista pela UFCG; 4Docente do Curso de Nutrição UFCG; 5 Orientadora/ Docente do Curso de Nutrição UFCG;
RESUMO: O óleo de amendoim é uma fonte de gordura insaturado, que auxilia na redução de níveis séricos de lipídeos. Objetivou-se analisar o efeito da suplementação de óleo de amendoim sobre os parâmetros murinométricos e bioquímicos de ratos wistar. Utilizou-se 15 ratos, divididos em 2 grupos: controle e amendoim recebendo dieta e água ad libitum. Os grupos receberam água destilada e Óleo de Amendoim por gavagem na proporção de 1ml/100g de peso por 3 semanas, analisando o consumo da dieta, ganho de peso corporal, ao final, os animais foram anestesiados com Cloridrato de Ketamina e Xilazina (1 unid/g) para avaliação murinométrica, submetidos à eutanásia coletando sangue por punção cardíaca para análise da glicemia em jejum e frações séricas de lipídeos, as gorduras retiradas e pesadas. Não houve diferença no consumo ganho de peso entre os grupos, perfil lipídico o grupo amendoim apresentou um menor valor de HDL, e triglicerídeo e maiores Níveis de LDL, Colesterol total e Glicemia em jejum, gordura o grupo amendoim apresentou maior percentual,
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE ÓLEO DE AMENDOIM (ARACHIS HYPOGAEA L.) SOBRE OS PARÂMETROS MURINOMÉTRICOS E
BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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avaliação murinométrica os animais do grupo controle obtiveram valor menor para as circunferências abdominais, torácica e IMC. O óleo não interferiu na saciedade dos animais e apesar de aumentar o percentual de gordura ainda manteve os níveis de lipídeos séricos e glicemia semelhantes ao grupo controle sendo uma fonte ácidos graxos mono e poli-insaturados. Palavras-chaves: DCNT. Composição corporal. Óleo de amendoim.
1 INTRODUÇÃO
O processo de transição nutricional brasileiro é
multifatorial e caracterizam-se por alterações sequenciais do
padrão da dieta e da composição corporal dos indivíduos,
resultantes de mudanças sociais, econômicas, demográficas,
tecnológicas e culturais que afetaram diretamente o estilo de
vida e o perfil de saúde da população (SANTOS et al, 2013). As
principais mudanças ocorreram nas últimas duas décadas com
a adoção de um padrão dietético com elevado teor de gordura
saturada e açúcar, além de alimentos com baixo teor de fibras,
associado ainda a redução dos níveis de atividade física
(COUTINHO et al.,2008).
Essas alterações podem acarretar o desenvolvimento de
Doenças crônicas não transmissíveis, doenças essas que
compõem um grupo de entidades que se caracterizam por
apresentar, de uma forma geral, longo período de latência,
tempo de evolução prolongado, lesões irreversíveis e
complicações que acarretam graus variáveis de incapacidade
ou óbito, e vêm ocupando um maior espaço no perfil de
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE ÓLEO DE AMENDOIM (ARACHIS HYPOGAEA L.) SOBRE OS PARÂMETROS MURINOMÉTRICOS E
BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
548
morbimortalidade de populações latino americano (DUNCAN et
al 1993 apud MARIATH AB et al. 2007).
Buscando melhorias na qualidade de vida através da
redução dos riscos destas doenças, tem se buscado cada vez
mais a melhoria do estilo de vida e de uma alimentação
saudável, apostando na substituição dos tipos de gorduras que
compõem as refeições, aumentando consumo de gorduras
monoinsaturadas e poli-insaturadas.
As oleaginosas estão cada vez mais inseridas na
alimentação da população como mecanismo de substituição
das gorduras saturadas e diminuição dos níveis séricos de
lipídeos. Um exemplo dessas fontes de gorduras é o amendoim,
pertencente à família Leguminosae, uma das principais
oleaginosas produzidas no mundo, ocupando o quarto lugar em
termo mundial, (GRACIANO apud FREITAS et al., 2010).
Durante muito tempo foi excluído da alimentação da
maioria das pessoas por seu alto valor calórico, porém
atualmente vários pesquisadores recomendam seu consumo
diário, frente aos benefícios funcionais comprovados. Suas
propriedades nutricionais, como a alta quantidade de gordura
monoinsaturada, vitaminas e minerais são atrativos adicionais
às suas qualidades organolépticas. Pois possui qualidades
únicas que podem ser benéficas a todos os indivíduos (KRIS-
ETHERTON et al., 2008). Rico em fibras e antioxidantes,
evidências indicam que o consumo regular de amendoim leva a
uma melhora do perfil lipídico, reduzindo assim, os riscos de
doenças cardiovasculares e redução do peso devido a vários
fatores como o aumento da saciedade por exemplo. Apesar do
seu alto conteúdo calórico, não promove um balanço energético
positivo e consequentemente ganho de peso (FRASER, 1992;
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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O’BYRNE, 1997; HU, 1998; IWAMOTTO et al, apud COELHO,
2007). Com isso o presente estudo visou avaliar os efeitos do
óleo de amendoim sob a estrutura corporal, perfil lipídico, e
deposição de gordura nas células hepáticas de ratos Wistar
adultos.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Pesquisa de caráter experimental, realizada com base na
lei nº 11.794, de 08 de outubro de 2008, que estabelece
procedimentos para o uso científico de animais (BRASIL, 2008),
tendo todo o protocolo experimental desenvolvido mediante a
aprovação da Comissão de Ética no Uso de Animais - CEUA do
Centro de Saúde e Tecnologia Rural - CSTR/UFCG. Todos os
procedimentos realizados com os animais foram de acordo com
as normas de vivissecção do Colégio Brasileiro de
Experimentação Animal (COBEA).
Foram utilizados 15 ratos da linhagem Wistar provenientes
do Laboratório de Nutrição Experimental (LANEX) do Centro de
Educação e Saúde (CES) da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG) – campus Cuité-PB. Com idades entre 100
± 3 dias com peso variando entre 300 ± 20g, divididos e
distribuídos aleatoriamente em 2 grupos, grupo controle (GC) e
grupo amendoim (GA), com dieta e água fornecidas ad libitum.
Os animais foram mantidos no Laboratório de Nutrição
Experimental sobre condições-padrão: temperatura de 22 ±
1ºC, ciclo de luminosidade claro/escuro de 12 h (início da fase
clara às 6h), umidade de ± 65%, em gaiolas coletivas de
polipropileno recobertas com maravalha. O estudo foi realizado
num período de três semanas. Os animais pertencentes ao
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
550
grupo controle (GC) receberam água destilada e o grupo
Amendoim (GA) receberam suplementação com Óleo de
Amendoim por via oral, onde cada animal recebeu 1 ml da
substância (água ou óleo) para cada 100 gramas de peso
corpóreo. Sendo avaliado, consumo da dieta, feito através do
somatório de avaliações semanais entre a dieta fornecida e a
não consumida (rejeito limpo) durante o experimento, (Dieta
fornecida – rejeito limpo = dieta consumida), sendo fornecido
30g de ração (LABINA®) por dia, por animal, ganho de peso,
pesados semanalmente, sendo colocados dentro de um
recipiente transparente sob uma balança eletrônica digital,
marca Balmak (modelo ELP-25) com capacidade máxima para
10 kg/25 kg devidamente tarada.
Ao final do experimento após jejum de 6 horas os animais
foram pesados e em seguida anestesiados com cloridrato de
quetamina e de xilazina (1 unid/g de peso). Sendo aferido o
cumprimento naso- anal (do focinho até o cóccix) do animal,
circunferência torácica aferida no nível abaixo das patas
dianteiras dos animais, circunferência abdominal aferida logo
abaixo da última costela do animal, utilizando fita métrica, usou-
se o comprimento e, juntamente com o peso, para cálculo do
índice de Massa Corpóreo (IMC) que compreende a razão entre
o peso corporal (g) e o comprimento² (cm²) (NOVELLI et al.,
2007), posteriormente foram submetidos à eutanásia As
gorduras mesentéricas, retroperitonial e epididimal foram
retiradas e pesadas. Perfil lipídico (HDL, LDL, Colesterol Total,
Triglicerídeos), Glicemia em jejum e quantitativo de gordura
corporal as amostras de sangue foram coletadas em tubos de
ensaio e centrifugadas a 3500rpm, à temperatura ambiente, por
15 minutos, sendo separado o plasma e armazenado a 18ºC
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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até análise das frações lipídicas e glicose sérica por meio de
kits enzimáticos Labtest Diagnóstica.
Os dados da pesquisa foram tabelados e analisados
estatisticamente no software Sigma Stat 3.5, analisando
variância em teste T- Student, com nível de significância
considerado para rejeição da hipótese nula foi de 5% (valor p <
0,05).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 CONSUMO DA DIETA
A ração ofertada durante 3 semanas, onde não se
constatou diferença estatística entre os grupos (controle e
amendoim) (Tabela 1).
Tabela 1: Consumo semanal da dieta padrão de ratos Wistar
suplementados com óleo de amendoim
GRUPO
CONTROLE
GRUPO
AMENDOIM
1ª SEMANA 121,706± 27,758 123,094± 40,482
2º SEMANA 143,429 ± 11,759 91,000± 2,484
3º SEMANA 135,429± 34,209 96,825± 17,824
Os valores estão expressos em média ± D.P. (n=8). Teste t Student.
Ribeiro 2010, em um estudo com mulheres que receberam
o amendoim em diferentes formas (óleo, farinha, pasta e o
grão), constatou que a ingestão dos mesmos não interferiu na
saciedade das mesmas, apesar de ser um estudo em humanos
o resultado assemelha-se ao presente estudo.
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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3.2 GANHO DE PESO SEMANAL
Tendo seu peso aferido semanalmente acompanhando do
ganho de peso em relação ao consumo do óleo de amendoim.
Durante todo o experimento os animais de ambos os grupos
permaneceram com o peso corporal semelhante (Figura 1).
Figura 1: Efeito da suplementação do óleo de amendoim sobre o peso corporal semanal
Os valores estão expressos em média ± D.P. (n=15). Teste t Student.
Em um estudo com outra fonte de gordura insaturada,
Sousa et al., 2013, suplementou ratos com óleo de cártamo e
não verificou nenhuma alteração no peso corporal nos animais
estudados. Já Zhang et al, 2010, tratou animais com dieta
composta de 45% de banha de porco e 5% de óleo de cártamo
o que induziu o aumento de peso, e quando invertido a dieta
45% de óleo de cártamo e 5% de banha de porco notou-se a
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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redução do peso dos animais. Em outro estudo também com
humanos Coelho, et al., 2006, demonstra que o consumo de
óleo de amendoim em indivíduos com sobrepeso resultou em
um menor aumento de peso.
3.3 AVALIAÇÃO MURINOMÉTRICA
A murinometria foi realizada no dia do sacrifício, sendo
avaliado comprimento, circunferência torácica, circunferência
abdominal e IMC em ambos os grupos os comparando. Para o
parâmetro comprimento, os grupos GC (22,7± 0,3) e GA (22,5±
0,4) não apresentaram diferença considerável (Figura 2).
Figura 2: Efeito da suplementação do óleo de amendoim sobre
o comprimento.
Os valores estão expressos em média ± D.P. (n=15). Teste t Student.
*p<0,05.
Em relação à circunferência torácica foi encontrado
diferença estatística entre os grupos, o grupo GC (14,08± 1,1),
mas não apresentou diferença quanto à circunferência
abdominal (Figuras 3).
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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Figura 3: Circunferência torácica e abdominal
E para o parâmetro IMC (Fig.4) também não foi
evidenciada diferença estatística entre os grupos controle GC
(0,61± 0,042), grupo amendoim GA (0,59± 0,029).
Figura 4: Efeito da suplementação do óleo de amendoim sob o Índice de Massa Corporal (g/cm2).
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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Os valores estão expressos em média ± D.P. (n=15). Teste t Student. *p<0,05.
3.4 ANÁLISES BIOQUÍMICAS
Comparando o perfil bioquímico dos grupos Controle e
Amendoim não se obteve diferença estatística para os
parâmetros de HDL-c [GA (26,5± 2,8) e GC (29,0± 2,8)], LDL-c
[GA (18,3± 7,4) GC (10,7± 5,4)], Colesterol total [GA (62,7± 6,7)
e GC (58,5± 7,7)] e glicemia [GA (458,6± 37,9) GC
(403,16±49,5)]; Em relação ao triglicerídios total (TG), tendo
verificado diferença estatística entre os grupos, pode-se
observar que o grupo amendoim (60,16± 13,07) apresentou
valor menor que o grupo controle (71,8± 23,6) (Tabela 2).
Tabela 2: Análise de glicemia, HDL-colesterol, LDL- colesterol,
Colesterol total e triglicerídeo total.
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ANÁLISE GRUPO CONTROLE
GRUPO AMENDOIM
GLICEMIA 403,16±49,5 458,6± 37,9 HDL- C 29,0 ± 2,8 26,5± 2,8 LDL- C 10,7± 5,4 18,3± 7,4 COLESTEROL TOTAL 58,5± 7,7 62,7± 6,7 TRIGLICCERÍDEO 71,8± 23,6 60,16± 13,07 Valores estão expressos em média ± D.P. (n=8). Teste t Student. *p<0,05.
Num estudo de Pelkman et al, (2004), que avaliou o perfil
lipídico sanguíneo de indivíduos submetidos a dietas para perda
de peso tendo o amendoim como fonte lipídica, promoveu a
redução do LDL- colesterol, e uma dieta com 33% do valor
energético de fonte lipídica promoveu a manutenção do HDL-
colesterol. Vassiliou et al, (2009), em um estudo com células β
pancreáticas, verificou que o ácido oleico foi capaz de estimular
a secreção de insulina na presença de TNF. Sendo testado em
vivo em camundongos com DM 1 e 2. Sendo suplementados
com óleo de amendoim, os animais com DM2 tiveram os níveis
de glicemia normalizados em 21 dias. O estresse pode ser uma
possível explicação para a não redução dos níveis séricos de
lipídios e glicose. Estudos mostram que fatores externos como
o exemplo do estresse pode provocar o aumento dos níveis de
LDL e redução do HDL (CANTOS et al., 2004). Nesse contexto,
pode- se dizer que fatores ambientais atuam sobre o genótipo
causando adaptações no metabolismo do indivíduo
(GOTTLIEB; CRUZ; BODANESE, 2008).
3.5 ANÁLISE DA GORDURA CORPORAL
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A gordura dos animais foi pesada separadamente em
gordura mesentérica, retroperitonial e epididimal. Em relação a
essas gorduras, os dados não apresentaram diferença
estatística entre os grupos. Gordura mesentérica GC (5,28±
1,5) GA (5,88± 0,88); gordura retroperitonial GA (5,97± 1,8) GC
(4,500± 1,8); gordura epididimal, GA (4,663± 0,95) GC (4,257±
0,99). Figura 5.
Figura 5: Efeito da suplementação do óleo de amendoim sobre o teor de gordura corporal.
Os valores estão expressos em média ± D.P. (n=15). Teste t Student. *p<0,05.
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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Sales et al., (2005) em seu estudo com 32 indivíduos
divididos em 4 grupos (AM, AZ, AÇ e C), que receberam um
milk shake no desjejum veiculando uma quantidade equivalente
a 30% da energia basal na forma de óleo de amendoim, açafrão
ou oliva, por 8 semanas, observou que houve aumento no
quantitativo de gordura, além de peso e circunferências dos
indivíduos. Apesar de se tratar de um estudo com humanos
ainda sim se pode comparar com o presente trabalho, pois
quando fora observado o efeito do óleo de amendoim em
relação aos demais óleos os ganhos de peso e gordura foi
relativamente menor.
4 CONCLUSÕES
Com base na literatura e no estudo realizado podemos
afirmar que o óleo de amendoim é uma boa fonte alternativa de
ácidos Graxos essenciais que auxiliam na melhoria do perfil
lipídico, glicêmico, bem como na composição corporal e na
saciedade dos animais de maneira a garantir melhoria na saúde
do indivíduo e/ou mantendo seu estado nutricional adequado.
Por se tratar de um produto ainda pouco utilizado no ramo
alimentício devido ainda haver tabus em relação ao produto e
seu teor calórico, se faz necessário aprofundar estudos sobre e
desmitificar a população em sua maioria a respeito do óleo de
amendoim, pois o mesmo é fonte rica de lipídios essenciais para
o bom funcionamento do metabolismo e do corpo.
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BIOQUÍMICOS DE RATOS WISTAR
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EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
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CAPÍTULO 32
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA NO TRATAMENTO DA LITÍASE RENAL
Vilma Sátiro dos SANTOS 1
Luciana Mª Martinez VAZ 2 1 Graduanda do curso de Nutrição, FPB; 2 Orientadora/Docente da FPB.
RESUMO: A litíase renal é uma doença que progride quando o
sal e substâncias minerais contidas na urina formam cristais, os
quais se ligam uns aos outros crescendo em tamanho. Estes
usualmente são expulsos do corpo pelo fluxo natural da urina,
em certas situações aderem ao tecido renal ou localizam-se em
áreas, onde não conseguem ser removidos. A descrita pesquisa
teve como objetivo investigar a luz da literatura a influência da
alimentação no tratamento, bem como descrever a
fisiopatologia, investigar os fatores alimentares que contribuem
para formação dos cálculos, citar a terapêutica usada no
tratamento, identificar os tipos de cálculos renais, construir
material educativo. O tema escolhido tem grande relevância na
saúde em geral, devido ao crescente número de casos
associados ao consumo excessivo de alimentos
industrializados, sal, maus hábitos de vida e hereditariedade.
Este trabalho tratou-se de uma pesquisa bibliográfica de
revistas indexadas em base de dados medline, lilacs, scielo,
Biblioteca Virtual em saúde (BVS). Artigos nacionais e
internacionais. A terapêutica médica expulsiva é indicada para
cálculos <10 mm. A composição da urina tem uma parcela,
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
562
determinada pela composição da dieta do indivíduo, a
terapêutica nutricional tem um papel fundamental no
tratamento. A descrita pesquisa esclarece que a nutrição é um
importante aliado ao tratamento, podemos observar que a
reincindiva é comum em pacientes que não permanecem em
terapêutica nutricional adequada.
Palavras-chave: Litíase renal. Educação Nutricional.
Alimentação.
1 INTRODUÇÃO
A litíase é uma doença que acomete o homem desde a
antiguidade e o número de casos só vem aumentando com o
passar dos anos, muitas pessoas têm litíase renal e não sabem,
porque é uma doença silenciosa que manifesta os sintomas
quando o quadro está agravado. Os cálculos renais são
formados por alguns fatores, por exemplo, hereditários,
alimentação inadequada e falta de hidratação.
Segundo Mahan (2005), a nefrolitíase, ou a existência de
cálculos renais, é um problema de saúde considerável na nossa
população. A litíase renal é denotada pelas ocorrências
frequentes entre idade de 30 e 50 anos, com dominância no
sexo masculino (três vezes mais frequente) e uma alta
incidência, o risco é duas vezes maior naqueles com histórico
familiar de cálculo renal.
Alimentação contribui no tratamento da litíase renal de
forma direta agindo na causa da doença que pode se tornar
crônica, visto que existe uma reincidência em 50% dos casos e
apresenta-se em ascenção, sendo comum aparecer novos
casos na atenção primária (CASAS et al, 2015).
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
563
A litíase é a doença que mais acomete o trato urinário,
estudos realizados nos Estados Unidos, mostram resultados
que há uma incidência maior conforme aumenta a idade,
acometendo mais homens do que mulheres. Prevalência em
pessoas da zona tropical devido clima quente muito quente,
pessoas que trabalham exposta ao sol, sendo os brancos mais
atingidos do que os negros e o tipo de alimentação influência
diretamente para formação de cálculos renais (RODRIGUES
NETTO, JR, 2014).
O fato de a litíase renal acometer uma população em
faixa etária economicamente ativa, isto causa um impacto na
saúde pública, pois aumenta os números de pessoas que
precisam de uma atenção maior. E assim a demanda de
internações e necessidades cirúrgicas aumentam,
sobrecarregando o sistema público da saúde, causando
alteração financeira para o mesmo. O esclarecimento da
população sobre o tipo de alimentação que colabora para
formação de litíase renal ajudaria a diminuir o número de casos
que precisariam de atendimento nesta área e sem dúvida uma
população mais saudável.
Ao decorrer desta pesquisa verificamos qual o papel da
alimentação no tratamento da litíase renal com resultados,
desde que o paciente esteja disposto e consciente a colaborar
com a terapêutica nutricional. Acredita-se que a alimentação
exerce um papel importante no tratamento podendo levar o
paciente a melhorar a até mesmo reverter o quadro clínico.
O tema escolhido tem grande relevância na saúde em
geral porque se faz necessário dar atenção para este assunto,
devido ao crescente número de casos associados ao consumo
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
564
excessivo de alimentos industrializados, sal, maus hábitos de
vida e hereditariedade, tem levado ao quadro de litíase renal.
Portanto o conhecimento da importância da alimentação
associada ao tratamento trará resultados positivos.
Tendo em vista que o objetivo geral foi investigar a luz da
literatura a influência da alimentação no tratamento da litíase
renal e objetivos específicos descreverem a fisiopatologia da
litíase renal, investigar na literatura os fatores alimentares que
contribuem para formação dos cálculos, citar a terapêutica
usada no tratamento da litíase, identificar os tipos de cálculos
renais, e construir material educativo.
2 MATERIAIS E MÉTODO
O estudo foi realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica
do tipo descritiva, por ser necessário desenvolver um trabalho
científico com material que fosse possível proporcionar
ensinamento quanto ao tema proposto.
Amaral, (2007). Explica pesquisa bibliográfica é uma etapa
fundamental em todo trabalho científico que influenciará todos
os passos de uma pesquisa, na medida em que der o
embasamento teórico em que se baseará o trabalho. Consistem
no levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de
informações relacionadas à pesquisa. É imprescindível,
portanto, antes de todo e qualquer trabalho científico fazer uma
pesquisa bibliográfica exaustiva sobre o tema em questão, e
não começar a coleta de dados e depois fazer a revisão de
literatura, como algumas vezes se observa em alguns em
alguns profissionais de saúde e acadêmicos no inicio de
formação científica.
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
565
Segundo Gil (2007), pesquisa é definida como o (...)
procedimento racional e sistemático que tem como objetivo
proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A
pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias
fases, desde a formação do problema até a apresentação e
discussão dos resultados.
Pesquisa realizada com artigos de revistas indexadas em
base de dados Medline, Lilacs, Scielo, BVS. Artigos nacionais
e internacionais. Foi realizada uma revisão dos principais
artigos dos últimos dez anos. Descritores: Educação nutricional.
Litíase renal. Alimentação.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DA LITÍASE RENAL
A litíase renal é uma doença que vem se dissipando
através dos anos, ou seja, situação patológica conhecida do
homem desde a mais remota antiguidade. Foram encontrados
cálculos renais na cavidade pélvica de múmias egípcias pré-
históricas, achados arqueológicos que confirmam a patologia
em egípcios que viveram em 4.200 a.C. Com o progresso da
ciência e o aumento do conhecimento em relação à anatomia
do trato urinário e à fisiologia renal, diversas teorias foram
desenvolvidas a respeito da patogênese dos cálculos
(NARDOZZA JR, ZERATI FILHO, REIS, 2010).
Cálculo no aparelho urinário tem etiologia multifatorial
que envolve pH, fluxo urinário, fatores anatômicos, a idade mais
recorrente é a partir dos 30 anos, chegando a idades mais
avançadas atingindo idosos, pessoas do sexo masculino são
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
566
mais acometidas do que o sexo feminino. E algumas pessoas
contam com um agravante que a hereditariedade
(RODRIGUES NETO JR, 2014).
Litíase renal progride quando o sal e as substâncias
minerais contidas na urina formam cristais, os quais se ligam
uns aos outros crescendo em tamanho. Estes cristais
usualmente são removidos do corpo pelo fluxo natural da urina,
mas em certas situações, aderem ao tecido renal ou localizam-
se em áreas de onde não conseguem ser removidos. Estes
cristais podem crescer variando desde o tamanho de um grão
de arroz até o tamanho de um caroço de azeitona. A maior parte
dos cálculos inicia a sua formação dentro do rim, mas alguns
podem deslocar-se para outras partes do sistema urinário,
como o ureter ou a bexiga e lá se alojam e se desenvolvem
(MAZZUCCHI, SROUGI, 2009).
Segundo DIRETRIZES EUROPEIAS PARA
UROLITÍASE, (2012, P. 369). Entre 1200 a 1.400 pessoas
desenvolverão cálculos urinários, a cada ano a taxa de
ocorrência em homens é três vezes maior que em mulheres. Há
muitos fatores predisponentes aos cálculos urinários, todos
revisados com maior detalhamento na versão completa dos
Guidelines em Urolitíase. A precisa classificação dos cálculos é
importante para a tomada de decisão terapêutica e para a
estimativa do prognóstico. Os cálculos urinários podem ser
classificados de acordo com os seguintes aspectos: tamanho,
localização, características radiológicas, etiologia da
litogênese, composição mineral e risco de recorrência. No caso
de pacientes com histórico de expulsão de cálculos através da
urina ou procedimentos para retirada ou fragmentação dos
cálculos, estão indicados exames para investigação
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
567
radiológicos para acompanhamento e diagnóstico de excreção
de partículas do cálculo.
Os fatores epidemiológicos da urolitíase envolvem raça,
sexo, idade, aspectos nutricionais e dietéticos, clima, ocupação
profissional e atividade física, sendo os mais importantes à
herança hereditária e os fatores dietéticos.
3.1.1 Fatores intrínsecos
Hereditariedade
O caráter familiar da doença é há muito tempo conhecido. A
predisposição à litíase é decorrente da alteração poligênica, de
maneira que a gravidade da doença varia de geração para
geração, sendo rara entre negros e índios.
Idade e Sexo
O sexo masculino é mais atingindo do que o sexo feminino
com proporção de para cada três homens uma mulher
desenvolve litíase renal. Apresentado seu pico de incidência
entre os 30 e 50 anos de idade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
NEFROLOGIA; HEILBERG et al, 2015).
3.1.2 Fatores extrínsecos
Geografia
A incidência de urolitíase é maior em regiões montanhosas
e tropicais.
Condições Climáticas
A incidência da litíase está sujeita à variação sazonal; é
maior nos meses mais quentes, relacionado com o aumento da
perspiração e consequente aumento da concentração urinária.
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
568
A temperatura ambiente e a maior exposição à luz solar
constituem variáveis de risco para a litíase urinária.
Ingestão Hídrica
O aumento da ingestão hídrica com o intuito de diminuir a
ocorrência de urolitíase é uma observação clínica há muito
conhecida.
Dieta
Durante os períodos em que o consumo de proteína animal
esteve reduzido, como durante as duas guerras mundiais, a
incidência de cálculos também esteve reduzida. A incidência de
cálculo vesical endêmico está associada à desnutrição, ao
passo que o cálculo renal é mais frequente na população de
padrão de vida mais elevado.
Ocupação
Os indivíduos que trabalham em ambientes quentes
apresentam maior incidência de urolitíase (RODRIGUES NETO
JR, 2014).
3.2 FISIOPATOLOGIA DA LITÍASE RENAL
A formação de cálculos no trato urinário decorre da
supersaturação urinária, nucleação, crescimento e a agregação
dos cristais. A saturação urinária, por sua vez, depende da
concentração de solutos como cálcio, magnésio, sódio,
potássio, amônio, fosfato, oxalato e sulfato que formam
complexos de elevada força iônica. A elevação da concentração
de um destes solutos leva a uma solução saturada que
condiciona a nucleação de cristais que pode ser homogênea
(deposição de cristais semelhantes) ou mais comumente
heterogênea, que resulta da deposição dos cristais sobre um
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
569
nicho constituído por macromoléculas, impurezas ou outro
cristal quimicamente diferente (GUSSON, et al, 2009).
Segundo Nardozza Jr, Zerati Filho, Reis, (2010, p.121)
na urina encontram-se sais formadores de cálculo em
concentrações acima do ponto de saturação sem que ocorra
cristalização. Isso acontece por causa de moléculas que
aumentam o produto de solubilidade ou que diminuem a
agregação e o crescimento do cálculo. Foram identificados
inibidores da formação de cálculos de oxalato de cálcio e fosfato
de cálcio, embora não sejam conhecidos inibidores específicos
que afetam a cristalização do ácido úrico. Dentre os diversos
inibidores, citrato, magnésio e pirofosfato são responsáveis por
20% da atividade inibitória. Citrato atua como inibidor de
cálculos de oxalato de cálcio e de fosfato de cálcio por meio da
redução de cálcio iônico disponível, reduzindo sua precipitação,
sua agregação e seu crescimento. Magnésio diminui a
concentração de oxalato iônico e eleva o ponto de saturação do
oxalato de cálcio.
De forma semelhante, o pirofosfato altera a saturação do
fosfato de cálcio, diminuindo sua cristalização.
Segundo, Sebben, Brum (2007), os cálculos renais
podem ser classificados em quatro categorias principais pela
sua composição química, quais sejam: Oxalato de cálcio,
fosfato de cálcio ou combinação das duas substâncias: os
cálculos com essa composição são os mais comuns, sendo
que, na literatura, a sua frequência varia de 60 a 90%. Dentre
estes, os de oxalato são muito mais frequentes, perfazendo um
total de até 70 a 80%. Ácido úrico: os cálculos com essa
composição podem ocorrer por hiperuricemia e hiperuricosúria
e metade deles são idiopáticos. Triplo fosfato amoníaco
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
570
magnesiano ou estruvita, normalmente, relacionados com
infecções do trato urinário em consequência da ação de
bactérias produtoras de uréase.
3.2.1 Litíase renal na infância
Litíase urinária na infância é uma doença cada vez mais
comum, que atinge com maior frequência crianças entre oito e
dez anos. Com capacidade se formar em qualquer lugar do trato
urinário, mas principalmente nos cálices renais. Bebês recém-
nascidos, com baixo peso correm risco de desenvolverem
nefrocalcinose, que pode ser detectada por ultrassom
(CAVADAS, 2013)
A origem da litíase renal na infância pode ter várias
causas desde má- formações do trato urinário à maus hábitos
alimentares, fatores ambientais e causas infecciosa em idades
cada vez mais cedo, fornecendo muitos alimentos
industrializados ricos em sódio e substâncias que não são
digeridas pelo organismo humano. É importante mencionar que
em estudo feito com cento e cinquenta e oito crianças, a
principal alteração metabólica encontrada foi a hipercalciúria
(73,4%). Análise química dos cálculos mostrou oxalato de cálcio
em 90,9% dos casos (PERES, et al 2011).
3.3 TERAPÊUTICA
A terapêutica utilizada deve ser esclarecida ao paciente
que por sua vez escolhe de acordo com a recomendação
médica a técnica aplicada. Abordaremos a terapêutica
medicamentosa e terapêutica nutricional ao decorrer deste
trabalho. A terapêutica médica expulsiva é indicada para a
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
571
maioria dos doentes com cálculos <10 mm. O estudo
imagiológico é o principal meio de caracterizar a obstrução e
alcançar o diagnóstico definitivo: a litíase urinária é o mais
comum a ser adotada (GUSSON, et al, 2009).
Algumas terapias indicadas são: A ecografia é o método
mais barato e rápido, logo deve ser primeira linha. Caso não se
alcance perspectiva realizar-se uma tomografia
computadorizada sem contraste, o exame traz um diagnóstico
com maior evidência, a radiografia renovesical está indicada. A
LEOC (litotrícia extracorporal por ondas de choque) e a
ureterolitotrícia apresentam taxas de sucesso ótimas e
comparáveis na remoção do cálculo. A nefrolitotomia
percutânea é a opção mais invasiva (MISSIMA; PEDROSO;
SINISCALCHI, 2014).
3.3.1 Terapêutica medicamentosa
A terapia expulsiva medicamentosa é uma alternativa
bastante utilizada no tratamento da litíase renal porque traz
resultados positivos e eficácia sem precisar de tratamentos
mais invasivos, isto em casos que pode ser aplicada apenas a
mesma. Como se trata de uma afecção comum, de alta
incidência e custo, a terapia expulsiva possibilita um manejo
clínico menos dispendioso e invasivo, quando comparada a
procedimentos intervencionistas. Há consenso na literatura que
a terapia expulsiva medicamentosa é efetiva e deve ser
utilizada em cálculos com cerca de cinco milímetros de
diâmetro, visto que as drogas utilizadas aumentam a taxa de
filtração e os expulsa em curto tempo, diminuindo assim a dor
e o número de internações dos pacientes. O diâmetro e
localização do cálculo são de suma importância para que se
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
572
possa considerar o tratamento conservador (MISSIMA;
PEDROSO; SINISCALCHI, 2014).
A cólica ureteral, descrita por Hipócrates, é
tradicionalmente tratada utilizando inicialmente analgésicos de
ação periférica e antiespasmódicos, como a dipirona e a
hioscina, associados ou não aos anti-inflamatórios não
hormonais. Analgésicos de ação central, como os opiáceos e
seus derivados ficam reservados para casos em que o controle
da dor é mais difícil. A hiper-hidratação é controversa uma vez
que parece não contribuir na eliminação do cálculo e pode
aumentar a dor. Uma nova abordagem no tratamento clínico
dos cálculos ureterais é a chamada terapia expulsiva que
consiste no uso de drogas relaxantes da musculatura ureteral a
fim de reduzir a peristalse e aumentar o calibre funcional do
ureter, facilitando assim a eliminação dos cálculos. Entre as
principais drogas utilizadas, citam-se os bloqueadores de
canais de cálcio (nifedipina) e os bloqueadores alfa-
adrenérgicos (doxasozina, terasozina, tansulozina), utilizados
no tratamento da hiperplasia prostática benigna (MAZZUCCHI;
SROUGI; 2009).
3.3.2 Terapêutica nutricional
A litíase renal atinge principalmente pessoas que
residem em países desenvolvidos, pois está diretamente ligada
a outros problemas de saúde como hábitos alimentares que
levam a doenças como obesidade, hipertensão e o diabetes
mellitus. Apesar de ser influenciada por outros fatores, a
composição da urina é grandemente determinada pela
composição da dieta do indivíduo (NERBASS, 2014)
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
573
3.4 ESTRATÉGIA NUTRICIONAL NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
A educação nutricional é parte importante dos cuidados
com os pacientes que sofrem com litíase renal, pois os mesmos
precisam ter conhecimento que a nutrição adequada é um dos
fatores fundamentais para melhorar a qualidade de vida e
controle da doença, com intuito de não se tornar crônica.
A dieta é um dos fatores mais importantes na formação
de cálculos. Há uma forte relação entre o aumento da
prevalência de litíase e o aumento das despesas com
alimentação por habitante.
Os fatores mais importantes que influenciam na
concentração e excreção urinárias de substâncias litogênicas e
inibidoras da formação de cálculos são a dieta e as desordens
metabólicas associadas. Uma dieta com um menor valor
energético diminui a formação de cálculos, o que foi observado
durante os períodos de guerra, quando as dietas possuíam uma
quantidade mínima de proteína animal e gordura e os índices
de litíase urinária diminuíram muito. Proteína animal: o nutriente
que claramente tem efeito universal na maioria dos parâmetros
urinários envolvidos na formação de cálculos é a proteína
(CASAS; RODRIGUES; D’AVIL, 2015).
O hábito alimentar, com grande consumo de proteína
animal, pode levar à hipercalciúria (induzida, entre outros
fatores, por uma maior reabsorção óssea), hiperoxalúria (devido
a uma maior síntese de oxalato), hiperuricosúria (pela
sobrecarga de purina), hipocitratúria (devido a maior
reabsorção tubular de citrato) e diminuição do pH urinário
(SEBBEN; BRUM, 2007).
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
574
3.4.1 A Importância da estratégia nutricional
Devido ao aumento de números expressivos de casos de
pacientes com litíase faz-se necessário a educação nutricional
com objetivo de conscientiza-los de forma clara e periódica
sobre a importância da dietoterapia no tratamento da doença
assim como prevenção para os propensos a desenvolverem
litíase renal.
Um organismo desintoxicado excreta melhor as toxinas
que podem ser excesso de substâncias e até mesmo de
nutrientes. Para haver desintoxicação é preciso seguir uma
dieta equilibrada com alimentos frescos e naturais, praticar
atividade física, aumentar a ingestão de água e manutenção do
peso corporal adequado (CASAS; RODRIGUES; D’AVIL, 2015).
Sendo assim a orientação nutricional para a prevenção do
desenvolvimento da litíase como também da reincindiva é uma
articulação adequada para o profissional e paciente por ser
economicamente acessível e segura. É válido enfatizar que,
para adquirir melhores resultados, orienta-se que as
recomendações dietéticas devem ser estabelecidas de acordo
com o tipo de cálculo e as características da análise de urina de
24h. Porque as dietas não são exatamente iguais para todos os
tipos de cálculos. De qualquer forma um hábito que deve ser
aconselhado a todos os indivíduos com nefrolitíase é o aumento
da ingestão hídrica. Indicação de consumo mínimo de 30 ml/kg
de peso por dia (VILLELA; ROCHA, 2008).
Visando que a prevenção de reincidivas nos pacientes
que já tiveram cálculos é importante o esclarecimento sobre os
cuidados que devem ser tomados, através de campanhas
preventivas e educativas em forma de comunicação, panfletos,
palestras, em unidades de atendimento à saúde e locais de
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
575
trabalhos onde são mais suscetíveis ao desenvolvimento de
litíase renal, como por exemplo, os trabalhadores da construção
civil (FERRAZ; AQUINO, 2014).
Locais de trabalho onde os trabalhadores ficam
expostos a altas temperaturas, a exposição solar merece um
pouco mais de atenção porque se torna ambiente de risco
(COUTINHO, et al 2013).
A precaução é o conjunto de métodos que visam proteger
e melhorar a saúde de uma população e, por
consequentemente sua qualidade de vida. Encontram-se três
fases da prevenção, primária é o período pré-patogênico como
campanhas preventivas e educativas, prevenção secundária
interrompe a evolução e minimiza as consequências; e
prevenção terciária promove a reabilitação (DAMASIO, 2012).
Importante ressaltar que as pessoas quando conseguem
eliminar os cálculos renais não procuram conduzir um
tratamento preventivo adequado para não formar novos
cálculos aumentando a chance de recorrência. Considerando-
se que a maioria dos indivíduos litiásicos procura apenas
resolver o quadro agudo de dor e não se importa ou talvez não
tenha sido adequadamente orientado em como prevenir a
recorrência dos episódios calculosos (GUSSON, et al, 2009).
4 CONCLUSÕES
A litíase renal é uma doença que pode ser causada por
alguns fatores que abrange desde a hereditariedade, raça,
idade, sexo, baixa ingestão de água associada à dieta
inadequada. A terapia expulsiva, contribui para aumentar a
eliminação de cálculos renais menores que 8 mm e reduzir o
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO ESTRATÈGIA NO TRATAMENTO DA
LITÍASE RENAL
576
número de episódios de dor dos pacientes. A nutrição tem papel
fundamental para o sucesso do tratamento, como controle da
doença para que não volte a se desenvolver, por isto é
importante à adesão da dietoterapia e acompanhamento
nutricional. Sabendo que a educação como estratégia no
tratamento é primordial, pois um paciente bem informado é mais
fácil à adesão ao tratamento.
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PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
579
CAPÍTULO 33
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES DO CURSO DE NUTRIÇÃO SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
Samara Lígia Madruga Cavalcante GILBERTO1
Kalyanne Marcelino de MEDEIROS1
Camila Figueiredo GOMES2 Giselle Medeiros da Costa ONE2,3
1 Graduandos do curso de Nutrição, IESP; 2Docente do Curso de Nutrição, IESP; 2,3Orientadora/Docente do Curso de Nutrição do IESP.
RESUMO: Alimentos funcionais são aqueles que, além da função nutritiva, oferecem benefícios através dos compostos bioativos, devido sua capacidade de reduzir o surgimento e/ou combater o aparecimento de doenças. O objetivo desta pesquisa foi investigar o nível de conhecimento de discentes a respeito dos alimentos funcionais. O trabalho foi desenvolvido através de estudo de campo, por meio de questionário constituído por perguntas objetivas, realizado entre setembro e outubro do ano corrente, com alunos de uma faculdade particular de João Pessoa/PB. Os resultados mostram que 70% dos entrevistados concordam plenamente com os benefícios dos alimentos funcionais para a saúde, além da nutrição básica e 30% concordam um pouco com esta afirmação. Em relação à ideia de alimentos funcionais, frutas e legumes foram os mais citados (84%). De acordo com conhecimento sobre alimentos funcionais, os enriquecidos em fibras apareceram com 37%, enquanto prebióticos e probióticos, apenas 7% dos apresentados. Referente à opinião sobre a eficácia destes alimentos, 62% considera eficazes, 33% muito eficazes e 5% pouco eficazes. Ao comprar um alimento, verificou-se que 63% das pessoas raramente buscam características funcionais, seguido por 23% que procuram frequentemente. Ficam
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
580
evidenciados osbenefícios dos alimentos funcionaisao organismo, apesar de fatores dificultarem o alcance destes. São necessárias intervenções que propiciem aos usuários maiores informações, possibilitando melhores condições de escolhas alimentares saudáveis, consequentemente, mais qualidade de vida. Palavras-chave:Alimentos Funcionais. Qualidade de vida.
Prevenção de doenças.
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, com o desenvolvimento mundial, a
alimentação deixou de ser um item de sobrevivência, mera
saciação da fome, isenção de doenças relacionadas com
deficiência de nutrientes e passou a tendenciar uma escolha
voltada à promoção da saúde e bem-estar, promovendo uma
maior longevidade.
Carvalho et al. (2013); Ferrão (2012); Pacheco e
Sgarbieri (2001) e Perin (2015); Vidal, et al. (2012) definem
alimentos funcionais como aqueles que possuem em sua
constituição, substâncias nutrientes ou não nutrientes, aptas a
articular as respostas metabólicas e fisiológicas no
desenvolvimento e manutenção do organismo, sucedendo em
maior proteção e estímulo à saúde, favorecendo a redução dos
riscos de doenças.
Cançado e Santos (2009) apontam que devido à
importância desses alimentos para a saúde do homem, têm-se
destacados os componentes bioativos que dão função aos
alimentos, podendo exercer efeitos que potencializam as
propriedades benéficas desejadas.
Quanto aos probióticos, Saad (2011) os conceituam
como alimentos compostos por microorganismos vivos
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
581
(bactérias benéficas e leveduras). Além disso, Coppola; Gil-
Turnes, 2004, complementam que eles atuam na microbiota
intestinal, sendo aplicados na prevenção e tratamento de
doenças, inibição da carcinogênese e em distúrbios do
metabolismo gastrintestinal (lactobacilos e bifidobactérias).
Referente às fibras, Rodriguez, et al.(2003), as definem
como prebióticos de origem vegetal não digeríveis por enzimas
digestivas, porém, fermentáveis e que distribuem nutrientes e
armazenam energia. Para Santos (2011), elas auxiliam no
funcionamento do intestino e sua ingestão deve estar
relacionada a uma alimentação balanceada e prática de vida
saudável.
No tocante aos ácidos graxos, são compostos orgânicos
degradados, podendo ser utilizados como fontes energéticas
pelas células. Sendo eles poliinsaturados ou ácidos graxos
essenciais (ácidos linoléicos e ômega 3 e 6), têm por finalidade
diminuir processos inflamatórios e os níveis séricos do
colesterol LDL, contribuir positivamente com os triglicerídeos e
a pressão sanguínea, impedindo a formação de coágulos e
aterosclerose. (SOUZA, et al., 2003; VIDAL, 2012).
Sobre os carotenóides, são pigmentos identificados nas
células vegetais que agem na fotossíntese. São responsáveis
pela prevenção do câncer de próstata e são fundamentais no
retardamento do envelhecimento, no restringir o risco de
maturação macular e atuam como antioxidante. (COSTA;
ROSA, 2010; FERRÃO, 2012; LAJOLO, 2002).
Os compostos fenólicos são considerados antioxidantes
e o grande interesse por eles advêm dos efeitos
antimicrobianos. Podem ser classificados como flavonóides e
não flavonóides. Preservam as propriedades dos alimentos e
minimiza o risco de propagação de patologias (FAITH et al.,
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
582
1992; NICHOLS; KATIYAR, 2010; RODRIGO et al., 2011;
GIAMPIERI et al., 2014).
Quanto às vitaminas, são substâncias relevantes na
alimentação em função da competência antioxidante que
podem operar de forma direta sobre os radicais livres ou
indiretamente com sistemas enzimáticos com essa função. As
mais importantes são C e E, portam peculiaridades para o
funcionamento do organismo. (SHAMI; MOREIRA, 2004;
SOARES, 2002).
Baseado no contexto supracitado, busca-se
compreender qual a percepção dos discentes sobre alimentos
funcionais e diante da concepção abordada, a escolha dessa
temática ocorreu pela escassez ao acesso de informações
referentes às funcionalidades que estes alimentos oferecem à
nossa saúde.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Este artigo foi desenvolvido mediante um estudo de
campo, caracterizado por uma pesquisa quantitativa, por meio
de um questionário com perguntas objetivas, intitulado
“Percepção dos alimentos funcionais”, entre setembro a outubro
do ano corrente, no turno da noite, com alunos do curso de
nutrição de uma faculdade particular de João Pessoa/PB. A
coleta de dados aconteceu na própria Instituição, concedida por
uma professora responsável pela aula no referente dia da
entrega dos questionários.
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
583
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Contribuíram para essa pesquisa 44 discentes dos 1º e
2º períodos, com idades entre 17 e 39 anos, prevalecendo o
sexo feminino com 52,27% da amostra contra 47,72% do
masculino.
Analisando o questionário “Percepção dos alimentos
funcionais”, verificou-se que 70% dos alunos concordam
plenamente e 30% concorda um pouco sobre os benefícios dos
alimentos funcionais para a saúde além da nutrição básica
(Figura 1).
Figura 1. Descrição do conhecimento sobre os benefícios dos alimentos
funcionais para a saúde além da nutrição básica.
Fonte: Ferrão. 2012
Zeraik et al. (2010); Ferrari e Torres, (2010); e Salgado
(2001), apontam que estes alimentos além de corresponderem
aos efeitos nutricionais, desempenham grande potencial
metabólico e fisiológico, se referindo à redução do risco de
doenças, propiciando melhor bem-estar.
70%
30%
0%
0%
0%
Concordo plenamente
Concordo um pouco
Indiferente
Não concordo muito
Em desacordo total
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
584
Ao defrontarem-se os entrevistados com uma relação de
alimentos e ao ser-lhes pedido que enumerassem por grau de
importância, os que identificam como funcionais, constatou-se
que 84% deles acreditam ser as frutas e legumes os mais
significantes, outros 59%, consideram os peixes e produtos de
pesca e 52% os cereais integrais (Figura 2).
Figura 2. Identificação, por ordem de importância, dos alimentos
funcionais.
Fonte: Ferrão, 2012
Afirmam Horst; Lajolo, (2005); Moreira, et al. (2013), Who
(2013), do ponto de vista nutricional que as frutas e legumes
são fundamentais para uma dieta balanceada, tendo um papel
primordial na prevenção do excesso de peso e,
consequentemente, doenças crônicas.
Ortega (2006); Souza, et al. (2003) declaram que os
ácidos graxos poliinsaturados encontrados regulam a
homeostase e protegem contra arritmias hipertensão e
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Frutas e legumes
Peixes e produtos da pesca
Lacticínios
Ervas/Especiarias
Cereais integrais
Carnes e derivados
Chá
Frutos Oleaginosos (nozes, amêndoas, amendoins, etc...)
Gorduras Vegetais
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
585
possuem papel na manutenção de funções neurais,
favorecendo o aprendizado.
Quando solicitados a optarem sobre o conhecimento dos
alimentos funcionais, 37% afirmaram identificar os enriquecidos
com fibras, 26% com ômega 3 e em similar proporção os com
nutrientes com propriedades antioxidantes (Figura 3).
Figura 3. Conhecimento sobre alimentos funcionais.
O enriquecimento dos produtos foi uma estratégia do
mercado para favorecer o valor nutritivo dos industrializados
incrementando com os itens apontados. Assim, eles contribuem
para a evolução infantil, controle dos recursos metabólicos
básicos, proteção contra o estresse oxidativo, aumento da
performance e boa forma física, além de outros efeitos
fisiológicos (SANTOS, 2011).
37%
15%
26%
7%
15%
Alimentos enriquecidos em
fibras
Alimentos enriquecidos em
nutrientes com propriedades
antioxidantes
Alimentos enriquecidos com
ômega 3
Alimentos enriquecidos em
probióticos/prebióticos
Alimentos enriquecidos em
cálcio
Outro. Quais?
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
586
Quando indagados quanto à frequência com do
consumo, 42% ingerem semanalmente, 28%,
diariamente/frequentemente, 18%, mensalmente e 12% nunca
ou raramente (Figura 4).
Figura 4. Frequência com que se costuma consumir alimentos funcionais.
Segundo Cançado; Santos (2009), para obter um
resultado benéfico e prolongados, os alimentos funcionais
devem ser consumidos diariamente, precisando sua ingestão
estar acompanhada a uma dieta diversificada e equilibrada.
Em relação à eficácia desses alimentos, os que
consideraram ser eficazes e muito eficazes, contabilizaram 62%
e 33%, respectivamente (Figura 5).
12%
18%
42%
28%
Nunca ou raramente
Mensalmente
Semanalmente
Diariamente/Frequentemente
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
587
Figura 5. Opinião sobre a eficácia dos alimentos funcionais.
Para que um alimento seja considerado eficaz, os efeitos
que ele traz para saúde, necessita ser cientificamente
comprovado, não podendo ser caracterizado como suplemento
e sim, alimento. Além disso, precisa ter como função a proteção
da saúde pública, atribuindo às substâncias específicas
contidas nele, um fator que contribua para a saúde, como
componente de uma dieta variada, reconhecendo assim, seu
papel potencial, quando consumida de forma regular
(CARDOSO; OLIVEIRA, 2010).
Quando analisada a procura por atributos funcionais,
63% responderam que raramente se preocupam com isso, 23%
frequentemente, seguidos de nunca e sempre, com 9% e 5%
cada (Figura 6).
33%
62%
5%
0%
Muito Eficazes
Eficazes
Pouco Eficazes
Nada Eficazes
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
588
Figura 6. Verificação sobre a existência de características funcionais ao
comprar um alimento.
Fonte: Ferrão. 2012
Deliza (2012) expressa a importância do consumidor
eleger um alimento funcional, o fazendo quando reconhecê-lo
saudável. Dessa forma, necessitam informar-se sobre os
benefícios e identificá-los como seguro.
Acerca dos pontos que mais influenciam na hora da
compra, 91% apontou os benefícios que trazem à saúde como
maior prevalência, sendo os demais pontos pouco
contemplados (Figura 7).
9%
63%
23%5%
Nunca
Raramente
Frequentemente
Sempre
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
589
Figura 7. Fator de maior influência na compra do alimento funcional.
Fonte: Ferrão. 2012
Na perspectiva de Mark-Herbert (2003) e Santos (2011)
as principais estratégias de compra passam pela ideia de
consumir substâncias que sejam saudáveis, preocupação maior
dos consumidores, que os buscam cada vez mais.
Dentre as principais barreiras identificadas ao se
comprar este alimento, o preço ocupou o ápice com 35%, o
conhecimento dos alimentos/benefícios de saúde associados,
23% e o sabor, 22% (Figura 8).
91%
4%
5%
0%
Benefício para a saúde
Marca
Sugestão de amigos
Publicidade e marketing que
rodeia o produto
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
590
Figura 8. Barreiras encontradas quando pensa em consumir alimentos
funcionais.
Em oposição aos dados encontrados, Basho; Bin, (2010)
atestam que os alimentos funcionais mostram um baixo custo e
podem ser aderidos por indivíduos de baixa renda, não sendo,
portanto, um fator que os impeçam de ser utilizados. Quanto ao
conhecimento, o autor citado corrobora com os resultados
encontrados.
4 CONCLUSÕES
PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS
591
Diante da abordagem apresentada quanto aos alimentos
funcionais, pode-se observar a contribuição que os mesmos
oferecem tanto à nutrição básica quanto aos efeitos favoráveis,
a longo prazo, quando se almeja prevenir ou mesmo estabilizar
doenças. Ademais, apesar de serem consumidos, fica visível a
necessidade de uma maior divulgação, devido à carência de
informações existentes, a fim de promover maiores
esclarecimentos quanto sua utilidade, para que tenham mais
apreciação no mercado, ampliação de sua ingestão e assim,
favorecer uma melhor qualidade de vida.
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594
CAPÍTULO 34
DESNUTRIÇÃO ENERGÉTICO-PROTEÍCA COMO IMPORTANTE PREDITOR DE MORBIMORTALIDADE EM
PACIENTES COM DOENÇA RENAL CRÔNICA EM HEMODIÁLISE
Daniella Kumamoto Pereira de Melo¹ ¹ Graduada em Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba.
Especializada em Nutrição Clínica pela Universidade Federal da Paraíba. Especializada em Alta Gastronomia pela Faculdade Internacional da
Paraíba. E-mail: [email protected].
RESUMO: A Doença Renal Crônica (DRC) constitui-se pela perda lenta, progressiva e irreversível das funções renais excretoras, endócrinas e metabólicas. A desnutrição energético-proteica (DEP) prevalece entre os pacientes com doença renal crônica (DRC), apresentando um impacto negativo sobre a morbimortalidade. O desenvolvimento desta doença nestes pacientes se relaciona com a diminuição da ingestão alimentar e o hipercatabolismo. Não existe ainda um método
capaz de identificar com primazia a desnutrição energético-protéica em pacientes em hemodiálise (HD), pelo que se utiliza uma avaliação do estado nutricional dos
pacientes por meio de diferentes métodos objetivos e subjetivos. Outras complicações graves da desnutrição podem ser evidenciadas, como infecções, insuficiência cardíaca, redução da síntese protéica e comprometimento da cicatrização e aumento da taxa de hospitalização em pacientes em hemodiálise. A desnutrição energético-protéica, desse modo, configura-se como importante preditor da morbimortalidade em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise, razão pela qual se faz pertinente o seu estudo. Assim, o profissional de nutrição tem o
595
dever de acompanhar todos os parâmetros indicadores de morbimortalidade entre esta população, para que, adotando medidas dietéticas e educativas, possam atuar na melhora do perfil nutricional destes pacientes e na diminuição dos riscos de morbimortalidade. Palavras-chave: Desnutrição Energético-Protéica. Doença Renal Crônica. Hemodiálise. Avaliação Nutricional. Morbimortalidade. 1 INTRODUÇÃO
Os rins são órgãos fundamentais para a manutenção da
homeostase do corpo humano, e sua importância revela-se na
execução de funções como a filtração glomerular, a produção e
secreção de hormônios, como a eritropoietina, e de enzimas,
como a 1,25-dihidroxivitamina D e a renina, entre outras. Na
doença renal crônica, diversos órgãos do indivíduo são
acometidos, devido à queda contínua da filtração glomerular, o
que faz diminuírem as funções regulatórias, excretórias e
endócrinas, podendo levar o paciente a óbito (POERSCH,
2015).
A doença renal crônica (DRC) é uma doença progressiva
e irreversível que acomete as funções glomerular, tubular e
endócrina, considerada um problema de saúde pública mundial
com elevadas taxas de morbimortalidade, tendo impacto
negativo sobre a qualidade de vida e saúde do paciente
(BÖHM, MONTEIRO e THOME, 2012). É assim considerada,
também, pelo contínuo aumento de pacientes, pela
complexidade do tratamento e pelos seus elevados custos
(CRISTÓVÃO, 2015).
Estima-se um total de 112.004 pacientes no país, em
julho de 2014, com doença renal crônica em programa de
diálise nos centros de diálise cadastrados na Sociedade
596
Brasileira de Nefrologia (SBN), que realiza anualmente um
inquérito nacional coletando informações básicas destes
pacientes. Este número representa um aumento de 20 mil
pacientes nos últimos quatro anos, visto que, em 2010, os
pacientes somavam o total de 92.091. Segundo estatísticas da
SBN, houve um aumento anual médio no número de pacientes
de 5% nos últimos quatro anos. Do total de pacientes
prevalentes, 91% estavam em hemodiálise e 9% em diálise
peritoneal, sendo 58% do sexo masculino. Em relação ao índice
de massa corpórea, os pacientes foram assim classificados:
10% como desnutridos, 53% como normais e 37% como
sobrepeso, obeso ou obeso mórbido. A taxa anual de
mortalidade bruta atingiu o percentual de 19% (SESSO et al.,
2016).
O estado nutricional de pacientes com doença renal
crônica em programa de hemodiálise (HD) preocupa e desafia
as equipes multidisciplinares que lhes dão assistência. A
desnutrição, bastante comum nestes pacientes, corrobora para
a menor sobrevida e para maiores índices de morbidade, de
limitações funcionais e piores níveis de qualidade de vida, daí a
importância de se monitorar e promover o estado nutricional
desses pacientes (FERRAZ et al., 2015).
2 DOENÇA RENAL CRÔNICA: DEFINIÇÃO E
ESTAGIAMENTO
Segundo Silva (2014, p. 9), a Doença Renal Crônica
(DRC) é uma “síndrome clínica caracterizada pela perda
progressiva e irreversível das funções renais”. Considerada
como um problema de saúde pública mundial, a DRC atinge em
597
média 1,4 milhões de brasileiros, que apresentam algum grau
de disfunção renal.
Recentemente, a Sociedade Brasileira de Nefrologia
referendou a definição de DRC proposta pela National Kidney
Foundation (NKF), em seu documento Kidney Disease
Outcomes Quality Initiative (K/DOQI). Tal definição se baseia
em dois critérios: a) lesão presente por um período igual ou
superior a três meses, definida por anormalidades estruturais
ou funcionais do rim, com ou sem diminuição da filtração
glomerular (FG), evidenciada por anormalidades
histopatológicas ou de marcadores de lesão renal, incluindo
alterações sanguíneas ou urinárias, ou ainda de exames de
imagem; e b) FG <60 mL/min/1,73 m2 por um período igual ou
superior a três meses com ou sem lesão renal (BASTOS,
BREGMAN e KIRSZTAJN, 2010, p. 249).
Assim, segundo as diretrizes norte-americanas, a
doença renal crônica é caracterizada pela presença de lesão
renal ou redução das funções renais por um período igual ou
superior a 3 (três) meses, independente da etiologia (MELO et
al., 2015).
Bastos, Bregman e Kirsztajn (2010) afirmam que os rins
são órgãos fundamentais para manutenção da homeostase do
corpo humano. Por assim ser, não é surpresa a constatação de
que a diminuição progressiva da função renal provoca o
comprometimento de todos os órgãos, essencialmente. Com
base nos mesmos autores, avalia-se a função renal pela
filtração glomerular (FG) e a sua diminuição é observada na
DRC, associada à perda de funções regulatórias, excretórias e
endócrinas do rim (BASTOS, BREGMAN E KIRSZTAJN, 2010).
598
Sendo assim, com base na definição retro mencionada,
foi proposta a seguinte classificação para a DRC, apresentada
por Bastos, Bregman e Kirsztajn, (2010) na tabela seguinte:
Tabela 1 Estagiamento da DRC.
ESTÁGIO DESCRIÇÃO FG
1 LesLes Lesão renal com FG normal ou
aumentada
≥~90
2 Lesão renal com FG levemente
diminuída
60 – 89
3 Lesão renal com FG
moderadamente diminuída
30-59
4 Lesão renal com FG severamente
diminuída
15- 29
5 Falência funcional renal estando ou
não em terapia renal substitutiva
≤ 15
De acordo com Casas, Rodrigues e D’Ávila (2015, p. 37),
os pacientes, em fase final de insuficiência renal crônica (IRC),
tem a possibilidade de sobrevida em razão da introdução dos
métodos dialíticos e dos transplantes renais, apesar de ainda
serem elevados os índices de mortalidade nessa população.
Entre os métodos de tratamento dialítico, o mais comum
é a hemodiálise. Sua necessidade revela-se quando da
incapacidade orgânica de excretar substâncias tóxicas
(D’AMICO et al., 2013, p. 17).
A hemodiálise é, assim, uma terapia de substituição
consistente no processo de filtração pelo qual são eliminados
metabólitos e líquidos, que podem causar prejuízos ao
organismo, se presentes em excesso. É utilizada, nesse
tratamento, uma máquina denominada “rim artificial ou
599
hemodialisador”, por meio da qual o sangue entra em contato
com uma membrana semipermeável que remove por difusão os
produtos de excreção e por ultrafiltração, os líquidos. Apesar de
ser possível restabelecer o equilíbrio ácido-básico do
organismo, não substitui as funções endócrinas dos rins
(MARTINS e RIELLA, 2001).
Por oportuno, D’Amico et al. (2013, p. 18) afirmam que,
apesar de a hemodiálise apresentar benefícios para os
pacientes com IRC, como, por exemplo, o prolongamento da
vida, as condições impostas pela doença e pelo próprio
tratamento dialítico resultam em uma série de alterações no
organismo humano, alterações estas que podem prejudicar a
condição nutricional desses pacientes.
3 A DESNUTRIÇÃO ENERGÉTICO-PROTÉICA E OS
PACIENTES COM DOENÇA RENAL CRÔNICA EM
HEMODIÁLISE
Pode-se definir a desnutrição energético-protéica (DEP)
como uma doença multifatorial de alta letalidade, com
capacidade para promover diversas alterações fisiológicas na
tentativa de adaptar o organismo à escassez de nutrientes
(SARNI e MUNEKATA, 2002).
Segundo Cuppari e Kamimura (2009, p. 29), a
desnutrição energético-proteíca está presente em cerca de 23%
a 76% dos pacientes em hemodiálise.
Essa elevada prevalência da DEP é de grande
preocupação por ser um importante preditor de
morbimortalidade. O processo inflamatório é uma importante
causa desse quadro, além de diversos outros fatores que
600
contribuem para essa condição nutricional. Vegine et al. (2011,
p. 56) apontam outras:
Dentre as diversas causas da DEP podemos citar
ainda a baixa ingestão energética e protéica; a
perda de nutrientes e aminoácidos pelo dialisato;
o catabolismo muscular induzido pela própria
diálise e pela acidose metabólica; o aumento do
gasto energético que ocorre durante e até 2 horas
após o procedimento dialítico; a resistência à
insulina e aos hormônios anabólicos, como o
hormônio do crescimento; o estresse oxidativo e a
inflamação.
As abordagens nutricionais de recuperação ou
manutenção de um bom estado nutricional são necessárias
ainda nos estágios iniciais da doença renal crônica, tendo em
vista que a pior condição nutricional, evidenciada no início do
tratamento dialítico, contribui para pior sobrevida ao longo dos
anos nesses pacientes (Cuppari e Kamimura, 2009, p. 29).
Desse modo, a monitoração periódica do estado
nutricional deve fazer parte do seguimento dos pacientes em
diálise, pois é fundamental para prevenção, diagnóstico e
tratamento da doença renal crônica. Identificar e tratar o déficit
nutricional de maneira precoce pode reduzir o risco de
infecções e outras complicações, além da própria mortalidade
desses pacientes. Um marcador nutricional ideal deve ser
associado à morbimortalidade, como hospitalização e óbito, e
também deve identificar pacientes que devem receber
intervenção nutricional (OLIVEIRA et al., 2010).
De acordo com Valenzuela et al. (2003, p. 72), o
conhecimento e a caracterização adequada do estado
nutricional de uma população em diálise é fundamental tanto
601
para prevenir a desnutrição quanto para intervir
apropriadamente nos pacientes que já se apresentam
desnutridos.
A desnutrição é, pois, um marcador de mau prognóstico
na doença renal crônica. O estado nutricional dos pacientes
está inversamente associado ao risco de hospitalização e de
mortalidade aumentados, pelo que constitui fator de risco
importante na evolução clínica desses pacientes. Para que haja
êxito na terapia dialítica faz-se necessária uma nutrição
adequada (ANDRADE et al., 2012, p. 241).
A desnutrição está associada a uma série de
complicações graves, entre elas infecções, insuficiência
cardíaca, redução da síntese protéica e comprometimento da
cicatrização e aumento da taxa de hospitalização em pacientes
em hemodiálise. A internação hospitalar dos pacientes
desnutridos representa um percentual 45% maior, sendo os
custos de tratamento, em média, 24% mais elevados em
relação aos pacientes bem nutridos, em razão da
hospitalização. Por isso, é de fundamental importância a análise
da relação entre a desnutrição e o risco de hospitalização em
pacientes com doença renal cronica em hemodiálise, para que
sejam identificados os indicadores associados a esse risco e
reduzido o número de internações hospitalares através da
intervenção precoce (SZUCK et al., 2016).
Ribeiro et al. (2015, p. 933) mencionam que o paciente
em diálise deve ser submetido a avaliação nutricional e
monitoriamento periódicos desde o início do tratamento, como
sugere o ‘Clinical Practice Guidelines for Chronic Kidney
Disease: Evaluation, Classification, and Stratification’, da
National Kidney Foundation.
602
Os mesmos autores afirmam, no entanto, que não existe
um padrão-ouro que possibilite a avaliação do estado
nutricional do paciente com DRC, razão pela qual são utilizados
vários métodos simultaneamente, possibilitando melhores
propostas de intervenções e adequações dietéticas adequadas
(RIBEIRO et al., 2015, p. 933)
Segundo a definição da American Dietetic Association
(ADA), o Processo de Assistência Nutricional (PAN) é um
método sistemático para resolução de problemas, adotados por
profissionais de nutrição, como forma de pensar de modo
crítico, tomar decisões para solução de problemas nutricionais
e prestar atenção nutricional de qualidade, segura e eficaz. O
PAN é utilizado principalmente em condições graves, em
cuidados ampliados e na prática ambulatorial, e também se
revela útil em vários contextos de prática comunitária. Quatro
etapas formam o processo de assistência nutricional, sendo
elas: avaliação nutricional, diagnóstico nutricional, intervenção
nutricional e monitoração e reavaliação nutricionais (WIDHT e
REINHARD, 2010).
Conforme visto anteriormente, nos dias atuais, inexiste
um marcador que forneça o diagnóstico nutricional de maneira
inequívoca e completa, sendo necessário, para tanto, o
emprego de diferentes parâmetros com métodos clínicos,
bioquímicos e antropométricos que, uma vez analisados em
conjunto, permitem identificar os riscos ou distúrbios
nutricionais já instalados (MONTENEGRO et al., 2015, p. 269).
Nesse contexto, Kamimura et al. (2004) afirmam que os
métodos antropométricos utilizados são o Índice de Massa
Corporal (IMC), Circunferência Abdominal, Circunferência do
Braço, Circunferência Muscular do Braça, Área Muscular do
Braço Corrigida, área da gordura do Braço e Prega Cutânea de
603
Tríceps. Os marcadores bioquímicos (reserva de proteínas
viscerais) mais utilizados, por sua vez, são a albumina, a pré-
albumina, a transferrina e creatinina.
Os mesmos autores complementam que “recentemente,
tem-se dado ênfase à Avaliação Subjetiva Global (ASG), por ser
um método simples, de baixo-custo e validado para avaliação
do estado nutricional nessa população” (KAMIMURA et al.,
2004).
Assim, podem ser empregados vários métodos de
inquérito alimentar, a exemplo do recordatório alimentar de 24
horas e do registro alimentar de três dias, segundo Cuppari e
Kamimura (2009, p. 32).
A Portaria n° 389 do Ministério da Saúde, publicada em
março de 2014, ratificando a alta preocupação com o estado
nutricional, definiu os critérios para a organização da linha de
cuidado da pessoa com doença renal crônica pelo Sistema
Único de Saúde. A respeito desse documento, Figueiredo
(2014) acentua um dos indicadores de qualidade do programa:
a proporção de pacientes em tratamento dialítico com albumina
sérica acima de 3,0 mg/dl deve ser maior do que 70% ao final
de dois anos após a implementação da política.
A referida portaria também assegura ao paciente o direito
ao recebimento do aporte nutricional no dia do tratamento, sob
a orientação do nutricionista e/ou por prescrição médica, o que
pode minimizar as alterações nutricionais encontradas nessa
população, capazes de influir na sua morbimortalidade
(FIGUEIREDO, 2004).
Com base nesses aspectos, Mahan, Escott-Stump e
Raymond (2012) discriminam as metas da terapia nutricional no
tratamento da Doença renal em estágio terminal (DRET). São
elas:
604
1. Evitar a deficiência nutricional e manter o bom
estado de nutrição(e, no caso de crianças,
crescimento) por meio da ingestão adequada
de proteínas, energia, vitaminas e minerais.
2. Controlar o edema e o desequilíbrio eletrolítico
pela regulação do consumo de sódio, potássio
e líquido.
3. Evitar ou retardar o desenvolvimento da
osteodistrofia renal pelo controle da ingestão
de cálcio, fósforo, Vitamina D e PTH.
4. Capacitar o paciente a ingerir uma dieta
palatável, atraente e adequada a seu estilo de
vida.
5. Coordenar o cuidado com a família,
nutricionista, enfermeiro e médicos em
instalações de cuidados agudos, ambulatórios
ou casas de repouso especializadas.
6. Fornecer educação nutricional inicial,
aconselhamento periódico e monitoramento de
longo prazo de pacientes.
Por tudo exposto, depreende-se que, para evitar a
ocorrência da doença renal crônica, é necessário,
principalmente, o atendimento as necessidades nutricionais do
indivíduo em macro e micronutrientes, por meio de uma
ingestão alimentar adequada. Ademais, a terapia hemodialítica
deve ser eficiente, uma vez que o estado urêmico causado pela
sua deficiência leva a estados de anorexia, náuseas e vômitos,
com consequente diminuição do consumo alimentar (MARTINS
e RIELLA, 2001).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O grande número de pacientes em tratamento de
hemodiálise é bastante vulnerável a morbidades, portanto, o
605
mesmo deve estar em permanente acompanhamento, visto que
o estado nutricional tem grande influência sobre as
morbimortalidades.
Entre os parâmetros nutricionais usados para avaliar o
estado nutricional de pacientes em hemodiálise não existe
nenhum padrão-ouro, sendo necessária a utilização de vários
métodos para se chegar a um diagnóstico. Observa-se que o
uso de diferentes métodos de avaliação nutricional, com
variáveis subjetivas e objetivas, demonstra uma melhoria
significativa do padrão diagnóstico de pacientes com doença
renal crônica.
O profissional de nutrição, logo, tem o dever de
acompanhar todos os parâmetros indicadores de
morbimortalidade entre esta população, para que, adotando
medidas dietéticas e educativas, possam atuar na melhora do
perfil nutricional destes pacientes e na diminuição dos riscos de
morbimortalidade.
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pacientes renais crônicos em hemodiálise. Revista Brasileira de
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608
CONGRESSO NACIONAL DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE
Os desafios da interdisciplinaridade nos ciclos da vida humana:
evoluindo com saúde
O CONGRESSO NACIONAL DE SAÚDE MEIO AMBIENTE está
destinado a estudantes e profissionais da área saúde (nutrição, farmácia,
enfermagem, fisioterapia, educação física) e áreas afins e tem como
objetivo de proporcionar, por meio de um conjunto de palestras, mesa
redonda e apresentações de trabalhos, subsídios para que os
participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e da
educação no contexto atual. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito
Educacional, Biológico e Ambiental de inserir todos que formam a
Comunidade Acadêmica para uma Educação sócio-ambiental para a
Vida.
Foram abordados diversos temas durante o evento, entre eles: Os
desafios da interdisciplinaridade nos ciclos da vida humana: COMO
PROMOVER O BEM-ESTAR; Promoção da saúde e alimentação
adequada e saudável; Promoção da saúde e alimentação adequada e
saudável” ; Doenças no adulto com raízes na criança; Atuação da
estética no processo de envelhecimento nos ciclos da vida; A fisioterapia
no processo de amadurecimento humano: uma abordagem prospectiva;
Impactos na saúde e no envelhecimento causados por substâncias
químicas:disruptores endógenos; Interdisciplinaridades: as ciências da
saúde e as engenharias sanitárias e ambiental permitindo o homem viver
com saúde em ambientes saudáveis; Aspectos multiprofissionais do
cuidado em saúde da criança e o adolescente; Cuidar do outro é o
reflexo do meu cuidado por mim; Exercício superestimado: Adinâmica
utilizada pelo nosso corpo para sabotar seu emagrecimento,
Diante da grandiosa contribuição dos artigos aprovados, os livros
frutos desse Evento: SAÚDE E MEIO AMBIENTE: os desafios da
interdisciplinaridade nos ciclos da vida humana, NUTRIÇÃO E SAÚDE:
os desafios da interdisciplinaridade nos ciclos da vida humana e
tecnologia e ODONTOLOGIA: os desafios da interdisciplinaridade
contribuirão para o conhecimento dos alunos da área de Ciencias
biológicas e Saúde.
609
Este livro foi publicado em 2017
Rua: Eng. Lourival de Andrade,1405- Bodoncongó
Campina Grande-PB 58.430-030 Fone: (83) 3321.4575