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História de uma vida aos 80 anos:
Pelo caminho da narrativa, encontrei minha mãe
QUEILA CRISTINA DE OLIVEIRA*
Palavras-chave: memórias, experiência, narrativas, identidade
Um espelho para dois olhos
“Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos...”
Carlos Drummond de Andrade
A vida é a poesia de nossa existência. Poesia, como termo etimológico, poiesis que
significa fazer, fabricar, criar. A vida revela-se no sentido humano de produção e busca de se
criar algo. Apresentarei, nesse espaço, um pouco da história de Ana Maria de Oliveira, minha
mãe, por três atos, tomando um gole de Drummond, por sua poesia “Canção Amiga”, para dizer
da canção que eu e minha mãe preparamos em “Pelo caminho” 1 - um livro de 280 páginas -
* Graduada em Pedagogia e Psicopedagogia, Mestranda na Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Apresentou Trabalho Oral em Simpósio Temático: “História Oral, Memórias e Narrativas
Biográficas", coordenado por Keila Auxiliadora Carvalho (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri), Isabel Cristina Leite (UFRJ), que ocorreu nesse XII Encontro Regional Sudeste de História Oral,
realizado em 26 a 28 Setembro de 2017, na UFMG – Campus Pampulha/Belo Horizonte.
1 OLIVEIRA, Ana Maria; OLIVEIRA, Queila Cristina. Pelo Caminho. Belo Horizonte: Promove Editora, 2017.
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com memórias e narrativas dessa linda senhorita com 80 anos de vida, sujeito na história, dotada
de sabedoria e ensinamentos.
Por essa produção em torno de suas narrativas, estou bailando com ela por sua história.
Eu sou sua filha caçula, tentando registrar sua experiência da vida. Falamos por dois olhos, sou
sua escriba, sua interlocutora, a procura de ser sua intérprete, nessa tentativa de transposição da
linguagem oral para a escrita. Quanta riqueza estou encontrando no reconhecimento de uma
alma tão vibrante! Para dizer mais sobre seus tesouros outrora latentes e agora descobertos,
tomemos já de início, um mergulho em uma das frases mais queridas de minha mãe:
“Uma alma vale mais do que o mundo inteiro!”
Ana Maria de Oliveira lança uma perspectiva amorosa quando refere-se às outras almas
que coexistem com ela, compreende que há um mistério em torno dos seres, que ultrapassa as
diferenças de nossas impressões digitais. O seu olhar é belo e contemplativo diante do ser
humano e da natureza. E alma dela eu pensava já conhecer desde que eu era bem pequenina,
mas confesso que somente hoje, consigo contempla-la mais de perto.
Deveras, cada ser tem seu imenso valor por sua singularidade. Ao vê-la, reitero - ela tem
razão - eu sinto a sua alma e não tem preço. Compartilho de suas razões, emoções, sonhos e
esperanças. Apaixonada estou por sua história real de vida! O percurso das narrativas marcou
os nossos encontros, reencontros e entrecruzamentos de maneira fecunda, íntima e afetiva.
Diante disso, por que antes não via o tamanho de sua profundidade? Será que a alma de
minha mãe antes me passava desapercebido? Talvez o melhor sentido da vida seja também
assim - simples, leve e discreto - passa o tempo todo a nossa frente, perante os nossos olhos e
precisamos de enxerga-lo, pois nem sempre o vemos.
Os olhos de sua alma, dentre tantos ensinamentos, me trouxeram este:
“O verdadeiro sentido da vida passa perto, leve e discreto. Seus movimentos são intensos e
vibrantes, frente aos nossos olhos. Ele bate à nossa porta e diz: Eu sei que tens amor aí dentro,
ofereço-te mais. Vem dançar!”
Tanto amor e vida ela tem dentro dela! Eu não poderia resistir a honra dessa dança!
Rumo a essa busca de compreender qual seria o sentido da vida, por meio de sua história oral,
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tomei o fôlego de sua experiência e, juntas, choramos, oramos, cantamos e celebramos nas
sendas da narrativa. Essa senhorita vai garimpar, pessoalmente, as questões mais profundas no
interior de sua alma por meio de cada lembrança e memória viva, das quais se recorda de tudo
que lhe passou: datas, detalhes, sonhos, visões, sensações, encontros, místicas... Dessa maneira,
mostra-se como uma mulher outra, que supera seu passado, pois dele não ressente. Ela está
revestida de maturidade, destemida, sendo ela mesma, como ela é, como apresenta sua
identidade por seus percursos históricos. Dessa forma, expõe suas narrativas, por meio de um
trabalho biográfico. O caminho que ela percorre suscita sua sobrevivência e sua esperança, pela
alegria de compartilhar com outros sua boa-fé, sua beleza e sua força.
“Eu tenho mais um testemunho! Pode contar isso no livro! Nossa, eu tenho mesmo
muita coisa para contar!” - Dizia isso, sempre que eu demonstrava pronta a tentar uma
conclusão para fechar a escrita do livro. Nesse processo, como escriba participante nessa
interlocução, tentei ser bem ágil, pois minha mãe estava bem adoecida com seus 80 anos, e
interpretei, a princípio, que sua enfermidade poderia ser um anúncio de uma despedida, afinal,
seu corpo se encontrava a desafiar a pouca saúde. Eu almejava que esse presente chegasse a ela,
em vida. Eu tive medo em alguns momentos difíceis no hospital, ao interpretar que seus olhos
estavam se fechando. Ao mesmo tempo, esse tipo de trabalho não é algo que se faz a toque de
caixa, rápido ou acelerado. Então, exercitei a calma, afinal, sua vida estava sendo realimentada
por essa alegria. Ela pensava ter um compromisso com suas narrativas antes de partir e o assunto
continuava duradouro. Enquanto eu colocava as palavras em seu livro, que finalizamos em um
quarto de hospital, sonhávamos juntas como seria a publicação. Nesses momentos marcados
pela dor, ao olhar para ela, naquele leito, eu pedia a Deus para ser forte e valente como ela é, e
conseguisse praticar as lições que aprendi nesse caminhar. Tantas vezes, sem dizer palavra
alguma, ela me disse:
“Não fuja do sofrimento, mas não faça dele uma morada permanente. Ao passar por ele,
aprenda algo e ao apreender, não permita que ele seja o final para uma bela história”.
Que milagre essa vida! Que alma magnífica! O seu sorriso, a sua vivacidade para narrar
o vivido por lindas lições, mesmo no limite de lidar com seu problema de saúde foi a mais pura
expressão de quem é capaz de enfrentar a dor, só para ter o gostinho de plantar mais uma
primavera. Bela coincidência, a flor brotou, no mês de setembro: O livro dela ficou pronto no
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mês das flores! Em suas últimas páginas registrei uma visão mística, que ela teve ali, em seu
leito no hospital e que a mim confiou, por suas palavras:
“Eu tive uma visão. Não foi um pensamento, não foi em sonho, foi uma revelação! Eu vi uma
estrada de terra! Eis-me aqui, para caminhar!”
Olhar para frente, para o que se depõe diante de nossos olhos, com coragem e disposição
para colocar os pés no chão para caminhar. Eis o sentido que vejo ao deparar com essa senhora
de cabelos branquinhos como algodão, que além de me oferecer tanto amor e ternura, trouxe-
me tantas respostas as minhas indagações mais profundas, na explanação das questões que
perpassaram por ela e, que coincidentemente, identificaram àquelas que tenho hoje, das quais
ela corresponde com a sua história de vida! E isso, como quem tem autoridade por sua
experiência, por seu percurso vivo e reflexivo. Seria um atalho ouvi-la, em tempo, para eu não
cometer os mesmos erros na travessia?
Senti-me, novamente, gerada por minha mãe, enquanto eu estava a gerar a escrita de
suas memórias e narrativas. Eu olhei para o sentido que estava à frente de meus olhos, quando
eu inclinei-me a ouvi-la e, ao ser traspassada pelo que sua alma tinha de mais valor, acolhi a
gentileza de seus ensinamentos atrelados a novas questões a serem respondidas, em meu tempo.
Esse elo magnífico foi possível por meio da valorização da narrativa presente em sua história
tão profunda e verdadeira, sem artifícios. Por esse percurso de construção do livro, eu completei
meus 40 anos. Dizem que a vida começa aqui... Eu cheguei a essa idade, ao finalizar o livro de
minha mãe e a sensação que passa é esta de ter sido gerada por ela e por nascer de novo a partir
de seus verdadeiros testemunhos de vida.
Contamos nessa obra alguns de seus muitos exemplos, que compreendem fatos e
situações reais, não ficcionais, colhidos a partir da narrativa oral de suas experiências. Ao
contempla-la nessa jornada, por sua vivacidade em ter o que contar e ensinar, sabendo dizer-se
de si mesma, sobre sua identidade, fica a sugestão de que a vida começa na verdade, é aos 80
anos! Mas ainda, por essa antítese, se a vida começa aos 40 ou aos 80, podemos concluir, há
sempre um nascimento por um belíssimo “enunciado”, em sentido Bakhitiniano, que suscita
novas “enunciações”. Estamos, pois todos nascendo e renascendo, temos sempre um ponto de
partida, uma estrada de terra para entrar, quiçá de pés descalços, como prevê a visão mística de
minha mãe.
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A travessia da oralidade para escrita
“Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não se veem, eu vejo
e saúdo velhos amigos...”
Carlos Drummond de Andrade
Ana Maria é capaz de ler textos escritos de maneira fluente, lê o mundo e a poesia da
vida, mas por não ter tido oportunidades de acesso à educação formal, ainda não aprendeu a
escrever. Eu, “a filha caçula estudada”, como ela diz com orgulho, sensibilizei-me com o seu
desejo de comunicar um testamento a seus amigos e principalmente, uma mensagem a seus
cinco filhos. Daí, comecei a escrever junto dela, a história de sua vida. Essa senhora pretende
deixar, antes de sua partida, algo precioso e profundo, tenta mostrar um ensinamento, um
enunciado reflexivo e dialógico. Essa é a principal marca de sua narrativa.
Tentei buscar uma metodologia de registro oral, a princípio, por gravações em áudio,
filmagens e transcrições, mas nada se comparou à interlocução aproximada de suas expressões
quando comecei a ouvir os sussurros de sua alma tão intensa. Quando comecei a perguntar
sobre os detalhes de sua história por meio da interlocução e de uma escuta muito íntima, sensível
e afetiva é que foi possível tecer as teias e tessituras de sua tradução. Pelo exercício da
alteridade, ouvia expressões de sentimentos profundos e colocava-me na tentativa de superar
os limites da transposição oral-escrita.
Em alguns momentos, minha mãe falava mais baixinho: “Acho que não precisa de
escrever isto. Não precisa de colocar, pois não é importante!”. Mas como, na ocasião oportuna,
ela continuava a compartilhar comigo sua sabedoria, eu inclinava ainda mais o ouvido, em que
ela revelava o que um ser humano pode alcançar de mais belo e mais profundo. Eu teimava e
escrevia e o que ela parecia ignorar, quando voltava para ela, através do espelho de meus olhos,
ela reconhecia como um reflexo de si mesma e agradecia.
Tensões também ocorreram, quando eu tive dificuldades em traduzir o que ela contava,
no modo como ela mesma avaliou toda a escrita, energicamente, apresentou sua leitura bem
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crítica. Firmamos novos diálogos e, juntas, fizemos toda a revisão dos textos. Ela não sabe
escrever, mas sabe ler muito bem e reiterava sobre o que eu deveria escrever, esclarecendo
mais, completando ou pedindo para modificar ou reescrever partes do texto. Assim, além de
narradora empenhou-se em um trabalho de crítica literária, perante o escrito e por suas leituras,
corrigia e ordenava: “Não foi isso que eu falei, vai ter que reescrever o texto!” E, após novas
tentativas e correções que eu realizava, ela celebrava: “Agora sim! Essa é a minha alma!”
Alguns de seus relatos me trouxeram recordações, pois, pessoalmente, tinha algumas
imagens dos fatos narrados, como testemunha ocular, mas confesso-me perplexa diante das
confidências dos sentimentos internos da narradora, pelo ponto de vista de quem foi traspassada
de maneira mais sensível e com maior intensidade. Ao deparar com suas paixões, retomei o
exercício de aprimorar a escuta, atenta com mais argúcia aos detalhes, principalmente, quando
a narradora falava mais baixinho, a confidenciar os segredos de sua alma. Assim, movimentava
a escrever sua história, suas concepções, suas tradições, seus sentimentos, sua vida.
A partir dessas possibilidades de registros orais, tentei permanecer atenta aos limites de
transposição de uma história oral para uma narrativa escrita. Ciente de que tal transposição pode
incorrer no risco de tornar-se empobrecida e talvez até na impossibilidade de transmitir, em um
livro, toda a expressão resplandecente de sua alma e de sua linguagem verbal tão vibrante. A
entoação modifica-se e muitas expressões corporais se perdem na escrita, mas essa é uma das
maneiras possíveis de eternizar o dito e uma tradição, de forma a aproximar o leitor de um outro
tempo, diante dessa contextura.
Primei-me pela tentativa de preservar a essência do que ela foi me trazendo, por meio
de uma idêntica entoação. Tentativas insuficientes nessa transposição oral-escrita. Após realizar
esse trabalho com ela, tomei o desafio de apresentar essa travessia, nesse XII Encontro Regional
Sudeste de História oral, em comunicação acadêmica. Interpreto como desafio, por se tratar de
narrativas que pretendem compartilhar a história de uma pessoa comum, em sua subjetividade
e contexto e, por extrapolar nossa ordem do discurso da academia: “segundo o autor...” ou, “De
acordo com a pesquisa...”. Além disso, sua história está mais próxima da “artesania” 2 do que
2 Segundo a explanação de Rafael Cardoso (2012: 247), o termo “artesania” é um neologismo inventado pelo
ceramista Gilberto Paim na tentativa de traduzir a palavra inglesa craftsmanship. Por esse sentido, “artesania”,
entende-se um grau alto de atenção ao detalhe e de cuidado na execução, oriundos de um senso peculiar de
orgulho no trabalho, do prazer em fazer bem feito. Além de colocar-se intimamente relacionada à antiga busca
de “adequação ao propósito”. (Grifos do autor). In: CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo.
São Paulo: Cosac Naify, 2012.
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para o cientificismo, mais próximo da espiritualidade do que para uma saída racional. São
narrativas que expressam a estética de uma alma, daí decorre também a nossa dificuldade
metodológica em adaptar-se aos rigores de uma comunidade acadêmica.
Recorro a Bakhtin (2011, p. 92), como auxílio, sobre essa questão:
Em termos metodológicos, o problema da alma é uma questão de estética, não pode ser
uma questão da psicologia, ciência causal que despreza o julgamento de valor,
porquanto a alma, ainda que seu desenvolvimento e seu processo de formação ocorram
no tempo, é um todo individual, axiológico e livre; ela também não pode ser um
problema da ética, uma vez que o sujeito ético é antedado para si mesmo como valor e
por princípio não pode ser dado, estar presente, ser contemplado, é um eu-para-si.
Apesar de assumir minha dificuldade metodológica, perante as questões de vida, valores
e subjetividades, não obstante, arrisco-me a socializar as narrativas de minha mãe,
transformadas em um livro, como um convite a interação entre o presente e o passado; por se
tratar de uma narração contada por um sujeito, uma alma a ser contemplada, que é capaz de
refletir sobre o tempo vivido e sobre a própria história.
A metodologia que se pretende arriscar, talvez eu possa expressa-la, metaforicamente,
como uma espécie de ferramenta em garimpo, algo que difere de uma simples pinça na história,
pois agrega elementos da subjetividade humana, rumo as aberturas mais secretas de uma alma.
Trata-se de uma narrativa capaz de apontar caminhos possíveis para o entendimento sobre a
originalidade presente na construção da identidade e dos valores.
Ao trazer sua alma, pelo modo como esse registro foi construído, minha mãe não apenas
informa sobre fatos, interpreta por suas reflexões a partir de seus percursos. Daí o motivo pelo
qual afirmo que o registro de sua história esteja mais próximo da “artesania” ao pensar a
metodologia, dada a importância da narrativa como uma forma artesanal de comunicação.
Nesse âmbito, recorro aos trabalhos de Benjamin (1994), esse autor propõe o que seria
uma verdadeira narrativa como algo diferente da informação que só tem valor enquanto nova,
a se explicar no limite do tempo presente. Para ele, a narrativa não se entrega ao tempo, pois
conserva suas forças e depois de muito tempo ainda é capaz de ressurgir e desenvolver. Tal
como esse autor expressa, a narrativa marca encontros com a história, por suscitar mesmo
depois de milênios, espanto e reflexão.
A narrativa, que durante tanto tempo floresceu num meio de artesão – no campo, no
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mar e na cidade -, é ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de
comunicação. Ela não está interessada em transmitir o ‘puro em-si’ da coisa narrada
como uma informação ou relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em
seguida retirá-la dele. (BENJAMIN, 1994: 205)
Nesse sentido, a narrativa difere da informação. Ela a transcende, por sua imersão na
história narrada, atravessada por memórias e paixões que a traspassam. Coloca-se em exposição
os elementos vívidos de Ana Maria de Oliveira, reconhecendo-se a si mesma por um espelho
de nossos olhares. Daí, retomo a expressão de Bakhtin (2011): “um eu-para-si”, pois expõe-se
conforme deveras sente, sobre o que lhe passa, o que ainda lhe atravessa e como foi possível
interpretar a sua própria história. De alma aberta, revela elementos de como se deu o seu
processo identitário, em contato com práticas culturais diversas, passando por diferentes
contextos, interpelações e desafios, na inter-relação com os outros semelhantes ou com os entes
diferentes dela.
Por meio de sua história e narrativas, almejo contribuir, para o estudo acadêmico de
nossas humanidades e com as pesquisas em torno da História Oral, a partir da exposição da
subjetividade, em situação de abertura, sem armaduras, despida e transparente; pela maneira
como foi possível a formação de sua identidade, suas estratégias de sobrevivência e resistência
enquanto sujeito humano. São segredos por meio de suas palavras, expressões de amor, beleza
e força, de quem convive em um ambiente de sofrimento, sem permitir que o sofrimento se
tornasse sua expressão final pela vida. Muitas vezes, ao passar por um insuportável período de
dor, me deu exemplos de resiliência, acima do uso de palavras, ela me trouxe sua experiência
no exercício de superação do verbo sofrer, de modo que a palavra sofrimento tornou-se ausente
no final de cada uma de suas histórias de vida.
Palavras... palavras... palavras afetivas de nossa existência! Eu me sinto incompetente
para expressar todos os valores de uma alma! Almejaria tocar os céus dos poetas, para traduzir
melhor a alma tão esplêndida de minha mãe. Qual é o método para expressar toda a textura de
uma alma que encontra-se no exercício de sua autobiografia? Ao aproximar das palavras, digo
que preciso mais que simples matérias. Como dizer sobre o que não é corriqueiro dentre todos?
Como reproduzir angustias e esperanças que são comuns a todos? De um enunciado novas
enunciações virão, como propõe Bakhtin (2011), esse é o meu consolo. Aprendi mais sobre a
vida, dada a experiência dela e vale o empenho do ponto de partida que me veio agora.
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Caminheiro estou, na tentativa de descrever segredos de uma aura singular, tomara por belas
palavras a compor sua biografia.
Segredos de uma vida inteira
“...Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas...”
Carlos Drummond de Andrade
“Que moribundos dizem hoje palavras tão duráveis que possam ser transmitidas como
um anel, de geração em geração? Quem é ajudado, hoje, por um provérbio oportuno? Quem
tentará, sequer, lidar com a juventude invocando sua experiência?” Essas questões prenhes de
reflexões e enunciados sobre a experiência, foram propostas por Benjamin (1994), por seu
trabalho intitulado por “Experiência e pobreza”. Por essa proposta entoa a parábola de um velho
moribundo que revela um testamento aos seus filhos, que dizia sobre a existência de um tesouro
enterrado em seus vinhedos. Os filhos cavam e nada encontram, mas as vinhas produzem muito
mais a partir desse trabalho coletivo, de maneira que aqueles jovens perceberam a felicidade de
um ensinamento transmitido pela experiência.
Por esse trabalho, ao pensar a experiência, Benjamin (1994) reitera sobre a miséria
causada pela falta de comunicação entre as gerações. Para ele, a guerra e o desenvolvimento da
técnica ultrapassou ao homem e, por isso, questiona sobre o valor de nosso patrimônio cultural,
desvinculado da experiência. Tal como pelas palavras do próprio autor: “[...] Ficamos pobres.
Abandonamos uma depois outra as peças do patrimônio humano, tivemos que empenhá-las
muitas vezes a um centésimo do seu valor para recebermos em troca a moeda miúda do ‘atual’”.
(Ibid., p. 119). Pela desconsideração sobre a experiência, advém portanto a pobreza do
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patrimônio cultural humano, como se esse desorganizasse por lacunas não preenchidas ou
pouco correspondidas.
A comunicação de Ana Maria de Oliveira ao narrar o que viveu, conforme sua
experiência, possibilita preencher as lacunas de comunicação entre gerações. Pelo caminho, eu
encontrei minha mãe e degustamos juntas os frutos dos vinhedos, em aproximação a esse
sentido Benjaminiano, pela descoberta de tesouros escondidos por meio da narrativa. Além de
minha geração e a de meus irmãos, sua experiência poderá ser lida pelos filhos dos filhos de
seus netos... Eles poderão contemplar uma vida humana, em determinado ponto da história. A
sua descendência poderá refletir sobre sentimentos possíveis de traspassa-los também, pelo
encontro entre subjetividades, por um elo tão duradouro quanto um diamante. Quem sabe
apreciarão suas tradições, a julgar sobre “salva-la” ou de supera-la em outro tempo.
Detalhes desses tesouros não faltam, como escriba contei com a sua habilidosa memória,
que guardou datas, nomes, fatos, em uma cronologia própria, priorizando a sequência do
apreendido e o que queria transmitir para a sua descendência e aos seus amigos. Além disso,
ela traz o que tem de humana, reitera como se deu a formação de sua identidade pessoal, sua
vida religiosa, sua formação moral e ética.
Algo bem interessante é que para cada expressão, ela traz uma reflexão feita para
traduzir seus desafios, sofrimentos, afetos e esperanças em suas peregrinações. Celebra algumas
tradições significativas em sua vida e ao tentar ligar-se a uma tradição mais antiga que a de seu
tempo, reinaugura a sua própria identidade.
Dessa maneira, cumpre seu objetivo principal no sentido de deixar uma bela herança,
por seus ensinamentos, seus valores, sua experiência! Sem dúvida, sua vida poderá ser
apreciada pelos mais jovens e por seus filhos, como fez o velho moribundo no provérbio
contado pelo autor Benjamin.
Ana Maria encontrou por suas experiências e percursos, muitas respostas para sua
condição humana, marcada pelo sofrimento e pela esperança. Casada com um marido
alcóolatra, suspeito de um crime de pedofilia contra sua filha mais velha, em uma sociedade
machista que proibia o divórcio, o que restou para ela, foi a façanha mais arriscada dos santos:
“Carregar a sua cruz e amar o seu inimigo”. A sua narração mostra se isso foi possível. Conviver
com o marido foi a sua cruz, o seu limite e o encontro de sua libertação.
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Em meio a muitos conflitos, ainda jovem, ela renuncia-se a si mesma e coloca-se no
exercício de amar ao seu próximo, ainda que se apresente como seu inimigo. Amor agape,
desinteressado, sem esperar algo em troca. Algo possível na ética dos santos. Desde 1966,
consagrou o exercício de sua boa-fé, quando teve uma experiência magnífica e sobrenatural,
que mudou a sua história e marcou sua conversão, da qual ela atribui como um processo de
aprender olhar para frente, para o sentido da vida, que é o amor – tido como a ciência da
eternidade - Essa sua forma de pronunciar ultrapassa os formatos das instituições religiosas por
onde ela passou.
Dessa maneira, ela tanto vivencia as paixões religiosas, quanto relativiza e critica a
cultura do machismo e algumas formas de domínio das igrejas que marcaram o seu percurso.
Nesse sentido, ela marca a sua crítica aos “falsos profetas” e a “Teologia da Prosperidade”3,
que mercantilizam a fé - um movimento que ela elucida ser crescente, principalmente, a partir
da década dos anos 70.
A narração de minha mãe está perpassada de memórias e muito influenciada pela
principal fonte escrita que teve acesso em sua vida - a Bíblia. Esse livro é a sua principal
tradição. E isso pode tornar esse trabalho interessante e curioso para uma pesquisa acadêmica,
a suscitar questões pertinentes: Como se dá o processo identitário de um sujeito atrelado,
especificamente, por essa bibliografia? Como um ser pode pautar toda uma vida tomando essa
fonte como sua principal? Como pode influenciar outros sujeitos a partir de sua forma de vida
e discursos?
Segundo Silva (2000, p. 97), “a identidade é instável, contraditória, fragmentada,
inconsciente, inacabada”, liga-se ao discurso, as narrativas e as representações. Para esse autor,
a identidade pela diferença (o outro cultural) é desafiada por esse encontro com o estranho, isto
é, com os outros dentro de um contexto perpassado por diferentes concepções. “O poder de
definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de
poder” (Ibidem., p. 81).
Nesse último aspecto apresentado por esse autor, ao olhar os fenômenos que marcaram
a história de minha mãe, podemos avaliar como a cultura representada pelas instituições, por
3 A teologia da prosperidade é uma das doutrinas religiosas do cristianismo, que defendem o sucesso financeiro
por meio da fé, do discurso positivo e das doações às instituições, que motivam o fiel, em seu sonho e busca por
uma riqueza material. Em sua experiência, passando por estas instituições, Ana Maria de Oliveira destaca e
interpreta que esses líderes forjam a interpretação da Bíblia para benefício próprio e os intitula como falsos
profetas, figuras apresentadas e também criticadas em contexto bíblico.
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onde passou, principalmente a igreja, afetaram a construção de sua identidade e /ou diferença,
tanto pela aproximação, quanto pelo afastamento de muitas de suas práticas.
Não obstante, aos 80 anos de idade, podemos recordar de sua identidade inacabada e
instável, principalmente, quando faz alusão aos seus tempos de garota. Conta que quando era
jovem agia com impulsividade e era capaz de cometer violência aos outros, pelo uso de seu
canivete. A sua vida me mostra a possibilidade de transformação do ser humano, contraditório
até a afirmação de uma identidade mais estável, quando percebe um sentido para sua vida a
depor-se em sua frente. Ela revela sobre sua identidade, após tantas experiências e reflexões
amadurecidas, porém sem rigidez. Por asas levíssimas, o seu posicionamento atual é sinônimo
de fluidez.
Benjamin (1994, p. 213) destaca: “quem escuta história está em companhia do narrador;
mesmo quem a lê partilha dessa companhia”. Dessa maneira, pensamos a história de Ana Maria,
ora como reminiscências do passado, pelas tradições que retoma e insere; ora pela situação
presente, pois ao recuperar o vivido, mostra o que refletiu sobre ele, o que concebe sobre o
tempo passado e presente, como vai concebe-lo e conserva-lo no agora. Ela narra não apenas
os fatos e suas memórias, ela busca interpretar a si, seleciona os elementos que pretende
destacar e traduz o sentido que sua experiência trouxe para o seu processo identitário. Os seus
sentimentos são perpassados por um desejo, puramente, religioso e pela busca da resiliência e
do belo.
Minha mãe traz em sua biografia, impressões sobre sua experiência religiosa que
pretende tornar-se cada vez mais independente das instituições. Ainda inserida nesses
contextos, ela preserva uma militância, capaz de influenciar mudanças no interior delas, por
suas perspectivas de voltar-se a essência dos evangelhos por sua origem: pelo amor, que não
julga e ao preservar os valores da fé cristã, por meio da caridade, percebe aqui, que essa luta só
é perdurável de fato na identificação com a justiça. Algo difícil de angariar um consenso entre
os homens, mas ela permanece firme no que acredita por sua ética.
O sentido que ela encontra é simples e ultrapassa o pensamento religioso que pensa em
Deus como um ser distante ou ausente lá no céu e, não comunga com a preocupação de ser
tragada pelo inferno, a qualquer momento. Por sua conversão, não se entrega ao egocentrismo
e às vaidades humanas, jamais se vende a elogios, nem guia-se pelos julgamentos das pessoas.
Ela não se prende a modelos e a consensos hegemônicos, diante deles, se porta como profeta
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que subverte, inconformada com esse mundo. Firme por sua vocação, em processo de busca a
tornar-se uma alma livre, reafirma-se:
“A libertação vai além de falar que é religioso ou conformado com o seu meio social. Converter
é desviar o olhar de todas essas direções para olhar à frente, para o sentido revolucionário e
simples, rico e humilde, leve e amoroso como é Jesus Cristo. Diante dessa conversão, dispomos
a peregrinar com Ele, firmes a prosseguir rumo ao alvo de exercitar a verdade, a justiça e,
principalmente, o amor.”
Ela demonstra fidelidade ao que acredita, em sua maneira de viver, por uma conduta
autêntica de ser fiel a si mesma pelos valores que constitui a sua maturidade. Ela expõe o tecido
de sua história ao avesso, isto é, pelo lado de dentro, pelos contrastes de sua formação. No tear
de sua narrativa, há cores alegres e tristes, desespero e força, sofrimentos e esperanças, dor e
amor. Além disso, expressa sua gratidão, pois sem aquilo que experimentou, ela não se
constituiria assim como ela é hoje. Embora, ao voltar-se a sua fé, permanece em sua busca
humilde, consciente de seu espírito “inacabado”, no sentido de guiar-se rumo ao alvo que
estabeleceu para si:
“Rumo a prosseguir em um caminho reto, olho para o alvo Jesus Cristo e permaneço a buscar
uma transformação interior, pela consciência da libertação. Posso afirmar que, a começar de
mim, quero continuar meus primeiros passos para a santificação, amando,
incondicionalmente. Coloco-me, diante do Senhor, todos os dias à disposição para uma
genuína transformação, pois quero continuar a fazer as Suas obras.”
A sua ética aproxima-se dos santos, demonstra resiliência frente as tragédias, amor ao
próximo, em total desprendimento dos valores materiais. Por vezes, ainda tenta superar os
limites de sua saúde e enfermidades para sacrificar-se em sua doação às pessoas e aos
necessitados, sem esperar algo em troca, dizendo sempre: “É melhor dar do que receber!”.
Dessa maneira, seus relatos preservam um tom místico e reflexivo, perpassados por
experiências espirituais diversas como curas espirituais aos enfermos, que marcaram o seu
testemunho, de modo a testificar a sua fé. Tornou-se uma pessoa influente em sua geração -
pelo que, verdadeiramente, a afetou, foi capaz de afetar outras pessoas e comunidades inteiras
- tanto dentro, como fora das igrejas.
A vida de Ana Maria é marcada pela experiência. Sobre a experiência Bondia (2011)
reitera que é o que nos passa, como esse autor diz: “isso que me passa”, pelo “princípio da
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alteridade” ou “princípio de alienação” contida no “ex” da palavra ex/periência, que é exterior
ou estrangeiro, isto é, radicalmente outro, pela alienação no sentido de ser alheio, que não deve
ser apropriada, mas supõe um lugar da experiência. Ainda pelas próprias palavras desse autor:
“onde se dá a experiência, onde a experiência tem lugar. Chamaremos a isso de ‘princípio de
subjetividade’. Ou, ainda, ‘princípio de reflexividade’. Ou também, ‘princípio de
transformação’”, a manifestar um movimento de ida, que vai ao encontro com o que passa ou
acontecimento; e, de volta pelo que é afetado, como sujeito da experiência que se exterioriza
em relação ao acontecimento, que se altera, que se aliena. Daí, a experiência do sujeito
vulnerável e exposto, de um modo singular, que o forma e o transforma.
Por essa perspectiva da alteridade e subjetividade, isto é, como uma passagem, reforça
Bondia (2002), que a experiência é “como algo que nos passa, o que nos acontece, o que nos
toca”, como percurso pelo sujeito (superfície de sensibilidade) e deixa nele vestígios, marcas,
rastro, ferida, tornando-o passional, agente de sua própria experiência. Nesse sentido, Bondia
(2011) vai chamar de “princípio de paixão”, pela exterioridade e transformação. A experiência
de minha mãe foi marcada pela paixão religiosa e pela paixão a Jesus Cristo como resposta a
sua condição de vida. A sua busca trouxe para si esse princípio, por essa paixão, inaugura em
si, uma fé cada vez menos institucionalizada, como uma forma de viver.
Assim, sua leitura de mundo, perpassada por sua experiência é surpreendente, original,
extrapola maneiras hegemônicas e convencionais. Transcende consensos religiosos e extrapola
formatos culturais de sua época. Por esse caminhar, como quem estabelece para si, o olhar fixo
em Jesus Cristo, como um ser perfeito, que está acima das estruturas religiosas, tomadas por
sua sinceridade, ela encontra-se consigo mesma e mostra o sentido que alcançou em sua vida.
Simplificadamente, como ela me encomenda, após uma longa interlocução, empenho a escrever
sobre esse sentido e depois de muitas tentativas, finalmente, ela acena agradecida e confere, no
registro da escrita, o que sua alma convida:
“O sentido da vida é como um rio que nos convida a mergulhar por seus mistérios...
Ele é amoroso, leve, discreto e simples, como um livro que chega até você!”
Por suas narrativas, em livro aberto ela propõe a refletir junto com ela a sua história.
Minha mãe tem muitos segredos, ela sorri das dores e do sofrimento que passou. Tantos golpes
de coragem e sobrevivência. Esse é o preço de sua sabedoria e de sua identidade. Ela me oferece
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gentilmente as suas asas. Quanta leveza! Possivelmente, não precisarei passar por todos os seus
percursos para compreender seus ensinamentos. Seria esse um atalho? Deveras é um segredo
de dois carinhos que se procuram na geração de sua história e nesse encontro, pelo exercício da
escrita, estou sendo, novamente, gerada por sua vida.
Ao distribuir esse segredo, posso refletir sobre a subjetividade que coexiste na
intersubjetividade e sobre a singularidade possível de existir na diversidade. Pelo caminho da
narrativa, quem de nós seres humanos não sente a necessidade de contar para o amigos os seus
segredos mais profundos, de enunciar particularidades, de cantar canções e poesias da alma?
Nós seres humanos temos muito a dizer sobre o nosso percurso, que completa com a
história de outros, por meio das interações, pela identidade e/ou diferença, de maneira que seja
possível adentrar nos labirintos do conhecimento de quem somos nós. O anseio de narrar o
vivido, possivelmente, é uma característica universal, pois dizer sobre nossas individualidades
e subjetividades é algo latente em nosso espírito humano.
Quem tendo um filho não teria algo a lhe contar? Qual filho não escutaria a sua mãe?
Trilhar esse caminho de garimpar a alma, não equivale a extrair, mas de mergulhar e tomar
goles de vida, goles de alma! Para poder ver e ouvir, compreender o passado e assim, ter a
possibilidade de rever o presente. A amizade do filho, com a tradição do velho, mesmo que
venha supera-la mais adiante, necessitará dela para sua renovação humana. Por esse percurso
na busca da alteridade, do diálogo entre as nossas subjetividades, ao dizer o que temos, pela
coincidência ou novidade, deparamos com as nossas familiaridades. Encontramos novos e
velhos amigos na humanidade de todos nós. Eis uma bela canção para a dança dos homens.
Finalizo, deixando aqui esse delicado convite para que nossa sociedade não continue a
matar o que está chamando de velho. Por meio da história oral, ao narrar o vivido, a linguagem
torna-se infinita. A transmissão de um ensinamento de um moribundo experiente é capaz de
ultrapassar a morte, voltando ao sentido Benjaminiano. "Em todas as suas fases Benjamin
pensou simultaneamente o ocaso do sujeito e a salvação do ser humano." (Adorno, apud
Gagnebin, 1999:75). A escuta de um velho pode ser a garantia de redimir o tempo humano e
garantir que as novas gerações sejam resguardadas de vãs repetições. Eis a importância da
narrativa que poderá ser lançada como semente a fazer brotar o sentindo da coletividade.
Estamos a procura de novos amigos, a partir desse enunciado que pretende, além de uma
comunicação acadêmica, encorajar outros jovens a esse exercício de escuta das histórias de seus
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ancestrais – velhos amigos que encontramos nesse curto percurso que é a vida – todos juntos,
rumo aos tesouros escondidos. A poesia de Drummond aqui citada, ao final nos vale como
alerta: “Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças”. Esse
autor bem expressa o ideal de construir uma poesia como vida, capaz de despertar a consciência
dos adultos e servir de canção de ninar para as crianças. A história de uma mãe, de um pai ou
de outro velho moribundo passa por todos os países e cada pessoa tem uma voz a dizer, por
meio de sussurros ou em alto som, os sentidos que perpassam bem perto à nossa frente.
Movimentemos para o reconhecimento de nossas humanidades pela história oral, por meio das
narrativas.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. Organizado pelo autor. 53a Edição.
Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 142
BAKHTIN, Mikhail Mikhaiovitch. Estética da Criação Verbal. 6 ª. ed. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2011.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. Obras escolhidas vol. 1. 7ª. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Rev. Bras.
Educ. [online]. 2002, n. 19, p. 20-28. ISSN 1413 – 2478.
<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782002000100003>. Acesso em: 15 jun 2017.
________. Experiência e alteridade em educação. Revista Reflexões e Ação. UNISC. 2011,
v.19, n. 2, p. 04-27. ISSN 1982-9949.
GAGNEBIN. Jeanne Marie. História e Narração em Walter Benjamin. 2 ª. ed. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1999.
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SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais/
Tomaz da Silva (org.), Stuart Hall, Kathyn Woodward. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.