A ABORDAGEM DA HISTÓRIA LOCAL
NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA
Arlete Melo Schlickman
Profª Cesar Augusto Jungblut
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Curso/habilitação HID 0301 –
11/10/2008
RESUMO
Neste estudo não se tem a intenção de discutir todos os aspectos relativos aos livros didáticos, mas, sim, avaliar um tema de fundamental importância, que é a compreensão de como o livro didático empregado nas escolas aborda o conhecimento da história local e a afinidade entre este conhecimento e o processo de formação da identidade dos estudantes. A preocupação com este assunto tem origem ao investigar-se o ensino de História com o objetivo de compreender como a História Local é ensinada, e constatar-se que o livro didático é um recurso teórico e metodológico usado por todos os professores.
1. INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo apresentar a maneira como a história local é abordada nos
livros de história no que se refere às questões teóricas e metodológicas. O livro didático apresenta-
se como um dos subsídios indispensáveis para prática pedagógica do professor, muitas vezes sendo
utilizado como guia, outras vezes é menos utilizado, porém, o que se compreende é que essa fonte
didática tem lugar garantido nas salas de aula.
A utilização deste recurso é atribuída sob muitos argumentos: a exigência dos estudantes e
dos pais por uma referência para estudo e como garantia de que o ensino esteja sendo realizado, a
carência de fontes de pesquisa na escola, além da falta de melhores condições de trabalho, o que
dificulta o professor para disponibilizar tempo para preparação de material, entre outras.
No que abrange a análise que envolve conteúdo e a qualidade das obras didáticas pode-se
afirmar que, nos últimos anos, a produção de livros didáticos tem melhorado admiravelmente. Não
sendo a finalidade discutir os vários aspectos que abrangem os livros didáticos, procurou-se apenas
compreender como é difundida a História Local nos livros didáticos.
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2. A HISTÓRIA LOCAL
O ensino de História Local se mostra como o ponto inicial para o aprendizado da História,
pela possibilidade de demonstrar a realidade mais próxima das relações sociais que se constituem
entre o professor, o aluno e a sociedade e o lugar em que vivem e trabalham.
O local é o primeiro espaço onde o homem vive, por isso, o ensino da História Local é uma
importante oportunidade para refletir sobre as ações dos que ali convivem como as pessoas que
fazem a história e são cidadãos.
Desta forma, o ensino de História Local pode se apresentar como um lugar para a construção
de uma reflexão crítica sobre a realidade social, analisando-se que o local e o presente são
indicativos para o processo de formação da identidade dos alunos.
Ainda que, essa área de conhecimento ainda não seja bastante explorada pela pesquisa
científica, evidenciado pela escassa quantidade de trabalhos publicados sobre este assunto, o seu
estudo se estabelece como uma necessidade para aprofundamento para todas as pessoas interessadas
no ensino da História Local.
Levando em consideração que o livro didático está inserido no contexto da sala de aula
como o instrumento pedagógico de maior utilização no dia a dia das escolas, a relação entre o
conteúdo do livro e a História Local a ser ensinada constitui, pois, um problema a ser investigado.
3. OS LIVROS DIDÁTICOS E HISTÓRIA LOCAL
Os livros de História utilizados na escola foram analisados com a finalidade de encontrar os
elementos referentes ao trabalho realizado sobre do ensino de História Local nas escolas. A
afinidade entre o livro didático e ensino de História Local, auxilia a repensar sobre a missão
educativa da escola.
Desta forma, o livro didático ocupa, muitas vezes, o espaço curricular da escola, situando-se
como uma programação instituída para a concretização do ensino, dispensando a proposta
curricular. A leitura desse acervo influencia na construção do conhecimento escolar, havendo uma
forte relação entre o ensino e o livro didático, o que explica a necessidade de enfocar uma análise
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sobre esse meio de grande extensão sobre as ações pedagógicas, buscando captar os ensinos da
História Local.
Essa proximidade entre ensino e livro didático, cujo predomínio na primeira fase do Ensino
Fundamental é enorme, tem conseqüências cada vez mais graves para o processo pedagógico, de
acordo com Bittencourt (1998, p.72).
O livro didático elabora as estruturas e as condições de ensino para o professor produzir uma série de técnicas de aprendizagem: exercícios, questionários, sugestões de trabalho, enfim as tarefas que os alunos devem desempenhar para a apreensão ou, na maior parte das vezes, para a retenção dos conteúdos. Assim, os manuais escolares apresentam não apenas os conteúdos das disciplinas, mas 'como' esse conteúdo deve ser ensinado.
Fazendo a conexão entre o ensino curricular e a formação do conhecimento escolar, o livro
didático apresenta-se não somente em um recurso pedagógico para auxiliar do trabalho do
professor, mas solidifica-se como o material didático de referência para os professores, pais e
alunos que o consideram referencial básico para o estudo (Bittencourt, 1998).
A partir desta constatação, nota-se que existe um desacerto entre o ensino de história, a
proposta curricular e o livro didático, tendo em vista que os manuais utilizados estão na oposição da
História. A maioria dos livros é fabricada e editada em São Paulo, para serem distribuídos para as
escolas de todo o País. Até os que são editados em outras cidades possuem a mesma finalidade:
alcançar a toda e qualquer escola do país.
Desta forma, as informações desses livros buscam servir de estudo para os alunos de todos
os recantos do Brasil e acabam fazendo um recorte dos conteúdos da História procurando atender a
todos, porém acabam abordando nenhum assunto da forma correta. Tratam-se apenas de pinceladas
que retratam uma visão única, o que não é admissível diante de mundo com tanta diversidade.
Verifica-se uma particularidade comum entre estas obras, o fato de serem preparadas de
modo genérico, não levando em consideração as peculiaridades de cada região, as diferenças
étnicas, geográficas, culturais, históricas e tantas outras tão diversificadas, relativas à expansão
continental do Brasil.
O fato de se designarem a um grupo específico de alunos com uma linguagem
compreensível ao público alvo, os livros acabam por abreviar os assuntos e segundo Araújo (1996,
p. 62) "a simplificação dos conteúdos, quase sempre resulta em vulgarização do saber que é
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distorcida a partir de uma linguagem simplória, quase sempre apresentada nos parâmetros de uma
narrativa factual".
A generalização dos livros de História tem implicações expressivas para o ensino de História
Local, por não expor ao aluno o entendimento da história da cidade na qual ele está vivendo,
impedindo que o estudante reflita sobre os acontecimentos no seu espaço local e omitindo os fatores
sociais, políticos e culturais em volta do aluno.
4. CONCLUSÃO
Aquilo que se nota, ao verificar os livros didáticos utilizados, é que, além de não
comentarem sobre os fatores relacionados com a realidade do estudante, com sua História Local e
com os aspectos gerais da sociedade, os assuntos são apresentados com uma aparência de algo
pronto e encerrado, onde o aluno precisa apenas captar passivamente, sem refletir e pensar.
Não existem expectativas sobre a realização de um trabalho utilizando os livros didáticos,
que incentive a reflexão crítica e a participação do estudante como uma pessoa que faz parte da
história. O estudo da História Local, sob a ótica dos livros didáticos tende a reforçar e ampliar a
história daqueles que controlam o contexto da cidade ou localidade, os conhecidos como heróis
locais, escondendo a história formada pelas pessoas de classe baixa e pelos excluídos e as ações da
população que estão presentes, porém obscurecidas.
Dessa forma, os assuntos dos livros didáticos que servem de recursos para o processo
pedagógico escondem dos alunos qualquer conhecimento sobre a História Local, o que interfere
negativamente no processo de obtenção do conhecimento e não colaboram para a constituição da
identidade do aluno como um cidadão.
Deste modo, os progressos analisados no conteúdo desta proposta não acham lugar para
execução no cotidiano da sala de aula. Estes acabam se tornando obsoletos, se forem considerados
os métodos pelos quais o ensino é realizado, em grande parte das escolas, com qualificação
insuficiente dos professores, sem recursos pedagógicos e condições de trabalho.
Por este ângulo, o livro não é somente um instrumento essencial nos procedimentos de
ensino, mas ocupa um lugar fundamental no crescimento do ensino e da aprendizagem.
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A maneira como se desenvolve o processo de assimilação dos conhecimentos da escola é
dependente dos textos contidos no livro didático relacionados aos aspectos ligados à História Local
negligenciando o processo de construção de identidade do aluno.
Deste modo, o ensino de História Local, além de não estar presente na cultura escolar
contida nos livros utilizados como recurso pelos professores, demonstra que a possibilidade de
considerar a comunidade e o presente como referências para a formação da identidade dos
estudantes não se encontram validados nos livros didáticos em utilização.
5. REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Fátima Maria Leitão. Ensino de história e historiografias: mitos e ritos, silêncios e vozes nas experiências cotidianas de sala de aula. Fortaleza: UFC, 1996
BITTENCOURT, Circe. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber escolar. São Paulo: USP, 1993.
FREITAG, Bárbara, et al. O livro didático em questão. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1993.