i
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE ÁREAS
PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA – MPGAP
INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: O CASO DO
PROGRAMA “QUELÔNIO DO UATUMÔ.
PAULO HENRIQUE GUIMARÃES DE OLIVEIRA
MANAUS, AMAZONAS
SETEMBRO, 2015
ii
PAULO HENRIQUE GUIMARÃES DE OLIVEIRA
INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: O CASO DO
PROGRAMA “QUELÔNIO DO UATUMÔ.
ORIENTADOR:
Dr. George Henrique Rebêlo
Dissertação apresentada ao Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia como parte dos
requisitos para obtenção do título de mestre em
Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia.
MANAUS, AMAZONAS
SETEMBRO, 2015
iii
O48i Oliveira, Paulo Henrique Guimarães de
Incentivos institucionais no manejo participativo: o caso do
programa quelônio do Uatumã. / Paulo Henrique Guimarães de
Oliveira. --- Manaus: [s.n.], 2015.
93 f. : il., color.
Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015.
Orientador: George Henrique Rebêlo . Área de concentração : Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia
1.Conservação - Quelônios. 2. Conservação da biodiversidade 3.
Quelônios – preservação. I.Título
CDD 639.39
iv
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11
2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 15
2.1. Geral ........................................................................................................... 15
2.2. Específicos ................................................................................................... 15
3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 16
3.1. Área de Estudo ............................................................................................. 16
3.1.1. População da RDS Uatumã ...................................................................... 17
3.2. Coleta de dados ............................................................................................. 21
3.3.Análise dos dados .......................................................................................... 25
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 26
4.1- Determinar os recuros e serviços manejados ........................................................ 26
4.3 – Avaliação das regras e instituições locais na gestão e uso dos recursos. ............. 42
5. CONCLUSÃO .................................................................................................... 25
6. RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 65
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 66
APÊNDICE A ........................................................................................................ 71
APÊNDICE B ........................................................................................................ 72
APÊNDICE C ........................................................................................................ 77
APÊNDICE D ........................................................................................................ 79
APÊNDICE E ........................................................................................................ 80
ANEXO I ............................................................................................................... 85
ANEXO II ............................................................................................................. 87
ANEXO III ............................................................................................................ 90
v
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA1. Localização das comunidades nos seus respectivos municípios. Coleta de
dados através de visita in loco entrevistas a campo, na RDSU (fevereiro de
2015......................................................................................................................................21
TABELA2. Tipologia de recursos de uso coletivo. Fonte: Pereira, (2001) adaptado de Baland e
Platteau,
(1997) ..................................................................................................................................24
TABELA3. Monitoramento de quelônios Podocnemididae na RDSU entre 1995-2014.
Fontes: Relatórios do CPPQA/Eletrobras e planilhas de campo e arquivos eletrônicos do
PQU, (setembro de 2014 à fevereiro de 2015). Legenda: PT= praias ou tabuleiros; pa = P.
expansa; pu = P. unifilis; ps = P. sextuberculata; pr = P. erythrocephala; TNC = total de
ninhos por comunidade e TNE= total de ninhos por espécie...............................................27
TABELA4. Filhotes de Podocnemidae nascidos na RDSU entre 1995-2014. Fontes:
Relatórios do CPPQA/Eletrobras, de planilhas de campo e arquivos eletrônicos do PQU,
(setembro de 2014 à fevereiro de 2015). Legenda: PT= praias ou tabuleiros; pa = P.
expansa; pu = P. unifilis; ps = P. sextuberculata; pr = P. erythrocephala; TFC = total de
filhotes por comunidade e TFE= total de filhotes por espécie.............................................28
TABELA5. Densidade relativa dos sítios de nidificação de quelônios por local. Dados
coletados através de entrevistas na RDSU, visita a campo em fevereiro de
2015......................................................................................................................................33
TABELA6. Frequência de captura de quelônios para consumo (6 meses). Dados coletados
através de entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.............................................................34
TABELA7. Coleta de ninhos e ovos de P. unifilis para consumo, (6 meses). Dados
coletados através de entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.............................................34
TABELA8. Consumo de quelônios pelas famílias entrevistadas, (agosto/2014 à
janeiro/2015).Dados coletados através de entrevistas em fevereiro de 2015.......................34
Tabela9. Áreas de terra firme e várzea. Dados coletados através de entrevistas na RDSU,
fevereiro de 2015..................................................................................................................39
TABELA10. Renda comercial da pesca do peixe gordo (matrinxã e jaraqui). Dados
coletados através de entrevistas na RDSU, fevereiro/2015. Dados coletados através de
entrevistas na RDSU, fevereiro/2015...................................................................................41
TABELA11. Renda comercial da produção agrícola. Dados coletados através de
entrevistas na RDSU, fevereiro/2015...................................................................................41
TABELA12. Agentes, intensidade de exploração comercial e tipos de acordos com os
recursos peixes e quelônios por intensidade (1 pouco; 2-medio; 3 muito). Legenda: PM=
Próprios moradores; MV= Moradores vizinhos; MC = Moradores da cidade; MM =
Moradores de outro município; ME – Moradores de outro Estado; SEE = soma de
exploradores externos. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU em fevereiro de
2015......................................................................................................................................45
vi
TABELA13. Regras de Acesso e Normas de Apropriação. Legenda: Regras de Acesso
(Restrito aos membros autorizados=1, flexível ou de livre acesso=2); Esf. Cap – Esforço
de captura (não há restrições = 0, só para consumo=1, comercialização restrita=2); Tec.
Cap – Tecnologia de captura (há restrições? não=0 e sim=1). Tipo I= regras de acesso
flexível e normas de apropriação ausente; Tipo III = regras de acesso restrito aos membros
autorizados e normas de apropriação presente e Tipo IV= regras de acesso flexível e
normas de apropriação presente. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU em
fevereiro de 2015..................................................................................................................46
TABELA14. Normas de Monitoramento dos recursos. AAV = agente ambiental
voluntário; AP = Agente de praia; COM = comunidade; (não=0; sim=1) Ag EXT = agentes
externos. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU em fevereiro de
2015......................................................................................................................................47
TABELA 15. Índices relativos a participação. Coleta de dados através de entrevistas na
RDSU em fevereiro de 2015................................................................................................49
Tabela 16. Classificação dos componentes em nível de participação, segundo (Pimbert e
Pretty, 2000). Dados coletados através de entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU,
fevereiro de 2015..................................................................................................................52
Tabela 17. Instituições de maior importância para as famílias entrevistadas, indicado pelo
número de vezes que o ator social foi citado como importante. Coleta de dados através de
entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.........................................................................54
TABELA18. Grupos de interesse no manejo comunitário de Podocnemididae nas
comunidades ribeirinhas da RDS Uatumã. Fonte: Relatórios técnicos do PQU e entrevistas
in loco, fevereiro de 2015.....................................................................................................54
TABELA19. Tipologia dos grupos de interesse no manejo comunitário de Podocnemididae
nas comunidades ribeirinhas da RDS Uatumã. Fonte: Base dados do programa PQU,
Relatórios técnicos do CPPQA e entrevistas in loco. Dados coletados através de
entrevistas, fevereiro de 2015...............................................................................................55
Tabela 20. Participação das comunidades no monitoramento reprodutivo dos quelônios na
RDSU-AM. Dados coletados na RDSU através de entrevistas, e relatórios técnicos do
CPPQA, fevereiro de 2015...................................................................................................71
Tabela21. Animais silvestres caçados pelas famílias entrevistadas na RDSU. Dados
coletados na RDSU através de entrevistas em fevereiro de 2015........................................79
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 1. Organograma do PQU na estrutura organizacional da Eletrobrás Amazonas
Energia. Fonte: Relatório do CPPQA/Eletrobrás. Legenda: CPPMQA - Centro de
Preservação e Pesquisa de Quelônios e Mamíferos Aquáticos; CPPMA - Centro de
Preservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos; CPPMA - Centro de Preservação e
Pesquisa de Quelônios Aquáticos e PQU - Programa Quelônios do Uatumã......................13
FIGURA 2. Localização do RDS Uatumã. Fonte: IDESAM (2011) .................................16
FIGURA 3. Áreas prioritárias para conservação de Podocnemididae, na RDSU, (imagem
georeferenciada em junho de 2013) Fonte: Oliveira, P.H.G................................................20
FIGURA 4. Mapa da RDSU e comunidades estudadas, pontos georeferencoados na RDSU,
janeiro de 2014.....................................................................................................................21
FIGURA 5. Ninhos e filhotes monitorados na RDSU, dados coletados de relatórios
técnicos do CPPQA e de planilhas de campo do PQU, fevereiro de 2015.......... .............27
Figuras 6. Monitoramento reprodutivo de Podocnemididae. Legenda: (A) número de
ninhos, relatórios técnicos do PQU 1995-2014; (B) número de lagos, fichas de
monitoramento dos comunitários 2003-2013; (C) monitores Agentes de Praia, entrevistas
na RDSU em 2015; (D) número de praias, fichas de monitoramento dos comunitários
2003-2014.............................................................................................................................29
FIGURA 7. Área de distribuição local Podocnemididae. Legenda: (A) Caioé, (B)
Livramento e (C) Manaain. Dados coletados através de metodologia do mapa cognitivo e
visita in loco, na RDSU, fevereiro/2015..............................................................................31
FIGURA 8. Área de distribuição local dos Podocnemididae, (D) Maracarana; (E) São
Benedito e (F) Bela Vista. Dados coletados através de metodologia do mapa cognitivo e
visita in loco, na RDSU, fevereiro/2015..............................................................................32
FIGURA 9. Percentual de consumo de quelônios pelas famílias entrevistadas. Dados da
entrevista na RDSU em fevereiro de 2015..........................................................................35
FIGURA 10. Fauna Silvestre consumo de subsistência, RDS Uatumã, agosto de 2014 a
janeiro de 2015. Dados coletados através de entrevistas (N=70) de recordação em fevereiro
de 2015.................................................................................................................................36
FIGURA 11. Procedência das famílias entrevistadas, dados coletados através de entrevistas
na RDSU, fevereiro de 2015................................................................................................37
FIGURA 12. Tempo médio de morada, escolaridade e idade dos chefes de família na
RDSU Dados coletados através de entrevistados na RDSU, fevereiro de 2015.................38
FIGURA 13. Fonte de rendas das famílias da RDSU. Dados coletados através de
entrevistas na RDSU, fevereiro/2015, n=70 famílias...........................................................39
viii
FIGURA 14-Rendas mensal média das famílias por comunidade. Dados coletados através
de entrevistas na RDSU, fevereiro/2015..............................................................................44
FIGURA 15. Participação comunitária no PQU, número de lagos, praias e agentes de praia.
Legenda: Comunidades: CG – Caioé Grande; MA-Manaain; SB-São Benedito; NL- Nossa
senhora do Livramento; MR-Maracarana e BL-Bela Vista. Dados coletados através de
entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU, fevereiro de 2015..................................49
FIGURA 16. Esforço do monitoramento x incentivos por comunidade, CPPQA/PQU.
Legenda: Comunidades: CG – Caioé Grande; MA-Mannain; SB-São Benedito; NL- Nossa
senhora do Livramento; MR-Maracarana e BV-Bela Vista. AGDA – Agentes de Defesa
Ambiental. Dados coletados através de entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU,
fevereiro de 2015..................................................................................................................50
FIGURA 17-Instituições de maior importância para as famílias entrevistadas, quanto maior
o retângulo, maior grau de importância. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU
em fevereiro/2015.................................................................................................................55
FIGURA 18. Os grupos de interesse em grau de influência e aliança. Dados coletados
através entrevistas e visita in loco, realizadas nas comunidades, na RDSU em fevereiro de
2015......................................................................................................................................56
FIGURA 19. Regiões com autorização para pesquisa e exploração mineral, Itautinga Agro
Industrial. Fonte: Plano de Gestão da RSU (IDESAM, 2011) ...........................................61
FIGURA 20. Representação gráfica dos conflitos entre os grupos de interesses na
conservação e manejo comunitário de quelônios na RDS Uatumã. Dados coletados na
RDSU, entrevistas moradores, fevereiro de 2015................................................................62
FIGURA 21. Entrevistas com chefe de família, comunidade Bela Vista, RDSU, fevereiro
de 2015, (anexo)...................................................................................................................90
Figura 22. Construção dos Mapas cognitivos pelos comunitários do Caioé, RDSU,
fevereiro de 2015, (anexo)...................................................................................................90
Figura 23. Aplicação do formulário I e diagrama de Venn, para o grupo de interessa da
comunidade Nossa Senhora do Livramento, RDSU em fevereiro de 2015, (anexo)...........91
Figura 24. Lago do Jaraoacá, comunidade Nossa Senhora do livramento, RDSU, fevereiro
de 2015.................................................................................................................................91
Figura 25. Agentes de praia comunitários monitores, na RDSU, agosto de 2013. Fonte:
Oliveira, P.H.G.....................................................................................................................92
Figura 26. Soltura dos entrevistas e através do diagrama de Venn na RDSU em
fevereiro/2015......................................................................................................................92
ix
ÍNDICE DE QUADROS
QUADRO 1. Níveis de participação das comunidades nos projetos de conservação. Fonte:
Pimbert e Pretty, (2000) p-197-198.....................................................................................24
QUADRO 2. Famílias entrevistadas por comunidade. Fonte: Visita de campo na RDSU,
fevereiro 2015.......................................................................................................................26
x
AGRADECIMENTOS
E...
Ao Superior Deus, Antes de tudo. A todos os familiares, amigos, e moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do
Uatumã (RDSU) pela sua parcela de contribuição para este estudo.
A minha amada esposa Daniella Oliveira pelo companheirismo, pelo apoio e incentivo aos
estudos e pela paciência, apesar da distância nesta fase final do trabalho.
Aos meus lindos filhos Artur Oliveira e Sophia Maria Oliveira que são presentes divinos.
Aos Meus Pais Rosivaldo Oliveira e Salete Oliveira pela existência e pelo apoio nos
estudos.
Ao Prof. Dr. George Henrique Rebêlo, pela orientação e paciência na construção desta
pesquisa.
Às famílias das comunidades, pela receptividade em seus lares, onde a pesquisa se
realizou.
Aos meus amigos Ribamar Pinto, Dr. Thiago, Stella Maris e Raimundo Silva
“Mundaco”pelo apoio logístico.
A toda equipe do Centro de Conservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) e
Programa Quelônios do Uatumã (PQU) da Eletrobrás Amazonas Energia.
Ao Projeto Pé-de-Pincha através pelo apoio logístico.
Ao meus amigos France e Profª. MsC. Aldeniza Lima pelo apoio logístico e apoio no
estudo.
Profº MsC. Paulo Andrade pelo incentivo e apoio na pesquisa.
Aos membros da banca avaliadora.
A Profª. Drª.Rita Mesquita pela orientação nas atividades acadêmicas, e todo corpo
docente do Mestrado Profissionalizante em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia.
Aos amigos de turma do MPGAP, Aline Britto, Paulo Faiad, Aroldo Fonseca, Sergio
Sakagawa, Vinicius Moreira, Alzenilson Aquino, Rodrigo Lima, Marcio Bentes, Airton
Ferreira, Vanderson Brito, Ronaldo Jorge, Cassiano Santos, Claudio Barbosa e Danielle.
Aos ao casais, Agentes de Praia, comunitários e amigos, Josè Monteiro (papa) & Cleide;
Adalberto Costa & Rosicleide, Manuel Nobre & Claudileia Gomes (Socorro), Claudomiro
Gomes (kaká) e Kely Gomes, Donato & Preta e Renato & Clelia pelo aprendizado e a troca
de conhecimento sobre os quelônios e suas áreas de vida.
Agradeço.
i
RESUMO
No Brasil, os incentivos institucionais estão voltados para ao manejo intensivo de espécies
da fauna (criação intensiva em cativeiro), são raras as iniciativas de manejo extensivo em
ambientes naturais. Os quelônios Podocnemididae são um recurso de grande importância
para as famílias da Amazônia. As atividades de programas de conservação de quelônios em
Unidades de Conservação de Uso Sustentável no Estado do Amazonas foram
intensificadas a partir das décadas de 1990 e 2000. O manejo local participativo pressupõe
a descentralização administrativa das ações de conservação e surgiu como uma alternativa
para recuperar os estoques ameaçados. O programa Quelônio do Uatumã (PQU) atua na
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (RDSU) há dezesseis anos no
monitoramento reprodutivo dos quelônios em parceria com comunidades ribeirinhas e
instituições externas no Rio Uatumã, nos municípios de São Sebastião do Uatumã,
Itapiranga e Presidente Figueiredo. Este estudo foi um estudo de caso sobre o PQU entre
seis localidades onde o PQU atuou com diferente grau de participação das comunidades
para a promoção do monitoramento reprodutivo dos quelônios para tentar determinar qual
o conjunto de incentivos institucionais que favoreceu a participação voluntária de usuários
do recurso “quelônios” em ações de conservação e manejo extensivo e em que condições
estas iniciativas puderam ser bem sucedidas. Os resultados obtidos sugerem que o sucesso
da participação nas iniciativas de manejo, medido pelas comunidades com maior grau de
engajamento nas ações de conservação e manejo, foi daquelas que implementam práticas
restritivas do uso do recurso, incluindo acordos coletivos formais e informais apoiados por
incentivos materiais e monetários recebidos de instituições externas e, sensibilizadas pela
necessidade de protegerem seus territórios (lagos e praias) de uso comum. Estas ações
asseguraram o uso exclusivo dos recursos para as famílias destas localidades, que foram
mais beneficiadas por aderirem às propostas do PQU em relação às outras localidades. Por
outro lado, as comunidades em que os recursos “quelônios” foram menos abundantes e os
sítios reprodutivos mais raros em seus territórios, foram mais dependentes destes recursos
e menos participativas.
Palavras Chave: Podocnemididae, Instituições, Conservação
ii
ABSTRACT
In Brazil, the institutional incentives are focused on the intensive management of wild
animals (captive intensive farming); there are a few extensive management initiatives in
natural environments. The fresh water Podocnemididae turtles are resources of great
importance for the Amazon households. The turtle conservation programs in sustainable
use protected areas increased in the Amazonas since the 1990s and 2000s. The
participatory local management assumes that the administrative decentralization of
conservation actions is an alternative for recovering of the threatened stocks. The Uatumã
chelonian program (PQU) operates in the Uatumã Sustainable Development Reserve
(RDSU) for sixteen years in the reproductive monitoring of turtles in partnership with
riverine villages (communities) and external institutions, along the Uatumã river, in the
municipalities of São Sebastião do Uatumã, Itapiranga and Presidente Figueiredo. This
research was a comparative study case between six PQU partners communities with
different degree of participation to foster the monitoring of turtles reproduction trying to
determine the set of institutional incentives that may encourage voluntary participation by
users of the resource "turtles" in conservation and management actions and under what
conditions these initiatives may turn out to be successful. The results suggest that
successful participation in the management initiatives was higher in communities that
implemented restrictive practices on resource usage with formal and informal collective
agreements, supported by material and monetary incentives received from external
institutions and aware of the need to protect their common use territories (lakes and
beaches). Those actions ensure the exclusive use of those resources by their households,
those that received such benefit by adhering to the PQU proposal compared to other ones.
For the other hand, communities from where turtles resource were less abundant and
breeding sites were rarer, were most dependent from these resources and less participative.
Keywords: Podocnemididae, Institutions, Conservation
11
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, os incentivos institucionais estão voltados para ao manejo intensivo de
espécies da fauna (criação intensiva em cativeiro) com pouco alcance institucional sobre as
iniciativas de manejo extensivo em ambientes naturais; deste modo, servem de base
probatória desta assertiva as portarias 142/1992 e 070/1992 do IBAMA, que regulamentam
a criação com a finalidade comercial de tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) e
do tracajá (Podocnemis unifilis) em cativeiro, e mais recentemente a Instrução Normativa
169/2008 que incluiu mais duas espécies: muçuã ou jurará (Kinosternon escorpioides) e o
iaçá ou pitiú (Podocnemis sextuberculata).
O Governo Federal repassou para os Governos Estaduais a responsabilidade sobre a
gestão da fauna silvestre local (através do Artigo 8º. da Lei Complementar Nº140, e pelo
seu inciso XVII que diz que deverão ser fomentadas as atividades que conservem essas
espécies da fauna silvestre in situ). A Secretaria de Meio Ambiente do Estado do
Amazonas criou um grupo de trabalho “GT Quelônios” com objetivo de produzir:
Instrumento jurídico definindo áreas prioritárias para conservação de quelônios no Estado;
Instrumento sobre a conservação e manejo comunitário de quelônios em UC, fora de UC e
organização da cadeia produtiva diretamente ligada ao mercado regional (incluindo os
chamados quelonicultores, e das tecnologias para manejo, ração, abate e sanidade).
Enquanto a agricultura familiar, o extrativismo e a pesca são praticados e
fomentados; a caça de mamíferos, a extração de madeira e a captura de quelônios estão
entre as atividades menos aceitas nas Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Estas
atividades, quando não são ativamente combatidas, são fontes de conflitos entre as
comunidades ribeirinhas e os órgãos gestores.
Os programas de manejo e conservação de quelônios em Unidades de Conservação
de Uso Sustentável no Estado do Amazonas foram intensificados a partir da década de
1990, por meio da intensificação das pesquisas e na conservação de quelônios amazônicos
com envolvimento comunitário (Cunha, 2013).
Em 2007, foi criado o Programa de Monitoramento da Biodiversidade (PROBUC)
pelo Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC) da Secretaria de Meio
Ambiente do Estado do Amazonas (SDS), que contribuiu para o fortalecimento das
atividades de conservação dos quelônios e proteção de seus locais de desova (chamados
localmente de tabuleiros). O PROBUC procurou envolver as comunidades locais e, as
12
outras instituições que já atuavam os programas de manejo nas Reservas de
Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.
Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (RDSU) as atividades de
conservação de quelônios e proteção dos sítios de nidificação começaram a receber atenção
do Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal (IBDF) na década de 1970. Ademais,
na década de 1980, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA),
consultores da MONASA/ENGERIO e Eletronorte realizando estudos prévios para a
construção da Usina Hidrelétrica de Balbina (UHEB), à montante de onde seria
estabelecida a RDSU. No estudo sugeriram a criação do Centro de Preservação e Pesquisa
de Quelônios Aquáticos (CPPQA), situado em Balbina como medida mitigadora do
impacto causado pela UHE no rio Uatumã (Eletronorte, 1979).
O CPPQA foi construído e implementado em 1989, para a proteção de habitats, ações
educativas e soltura anual de filhotes de quelônios provenientes de duas praias artificiais
próximas à barragem da UHE Balbina e, do criadouro com fins científicos licenciados pelo
IBAMA-AM. O programa Quelônio do Uatumã (PQU) foi criado por iniciativa do CPPQA no
ano de 1999 para trabalhar não só o monitoramento de quelônios, bem como a educação
ambiental, por meio de atividades socioeducativas, principalmente, nos eventos de soltura dos
filhotes. Foi criada também uma base flutuante no lago do Jaraoacá, para apoio e fiscalização
dos lagos no período da reprodução dos quelônios aquáticos. Dentre os objetivos do PQU, o
principal foi promover a proteção e monitoramento das áreas de reprodução de quelônios
no rio Uatumã, nas praias naturais com a participação das comunidades, integrando
instituições locais, associações comunitárias, comunidades ribeirinhas, prefeituras
municipais e instituições externas nas ações de manejo participativo (Oliveira et al., 2011).
O CPPQA/PQU possui uma equipe permanente de técnicos de nível superior (biólogos,
veterinários e agrônomos), e recebe ainda estagiários de várias universidades e instituições
de pesquisa. Os técnicos e estagiários acompanham todos os meses as atividades do PQU
na RDSU. O monitoramento anual em seis etapas inclui: 1º) Planejamento participativo
(março a junho), 2º) Oficinas de aprimoramento (julho-agosto), 3º) Monitoramento dos
ninhos (agosto a novembro), 4º) Acompanhamento do nascimento de filhotes (outubro a
janeiro), 5º) Manutenção dos filhotes em berçários (novembro a janeiro), e 6º) Soltura dos
filhotes (fevereiro ou março).
13
O PQU realizou a soltura de cerca de 120 mil filhotes de quelônios na RDSU entre
1999 e 2014, em parceria com as comunidades do Maracarana e Nossa Senhora do
Livramento (do município de São Sebastião do Uatumã), da comunidade Bela Vista, (do
município de Presidente Figueiredo) e as comunidades do Caioé Grande, Jacarequara, Manaain
e São Benedito (do município de Itapiranga), (Oliveira et al., 2011).
A proposta metodológica de manejo adotada pelo programa “Quelônios do
Uatumã” chegou a ser avaliada como boas perspectivas bioecológicas se comparada a
outras experiências similares, (MARTINNEZ e RODRIGUEZ, 1997). Mas a participação
das comunidades depende das motivações individuais e essas motivações não são
resultantes exclusivas dos atributos dessas pessoas, mas também da natureza das relações
que estabelecem na construção de seu cotidiano (FONTES, 2013). Uma das condições
necessárias é que os comunitários percebam incentivos institucionais que justifiquem sua
participação nas ações do manejo.
Na Amazônia, populações ribeirinhas têm se organizado para disciplinar a
exploração de recursos, principalmente de pescado (MCGRATH et al., 1993; MCDANIEl,
1997 e BEGOSSI, 2001). Embora dependentes destes recursos naturais, estes grupos de
Figura 1. Organograma do PQU na estrutura organizacional da Eletrobrás Amazonas Energia. Fonte:
Relatório do CPPQA/Eletrobrás. Legenda: CPPMQA - Centro de Preservação e Pesquisa de
Quelônios e Mamíferos Aquáticos; CPPMA - Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos
Aquáticos; CPPMA - Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos e PQU - Programa
Quelônios do Uatumã.
Eletrobras Amazonas Energia
CPPMA CPPQA
Centro de Proteção
Ambiental
Departamento Administraçã
o
Departamento Restauração de Áreas
Degradadas
Departamento Limnologia
Educação
Ambiental PQU
CPPMQA
14
usuários atingiram níveis diferenciados no desenvolvimento de instituições1 locais de
manejo.
Para Pereira e Cardoso (1999), as famílias recém-chegadas nas localidades não
desenvolvem formas de ordenamento de uso de seus recursos de uso comum, já os grupos
mais organizados desenvolvem e mantêm acordos formais e, incluem além das normas de
acesso, proibições de técnicas de captura e regras na divisão do fluxo de recurso entre os
usuários autorizados. A exploração dos quelônios amazônicos é uma atividade antiga, com
frequência exploratória até os dias atuais, sendo uma fonte de alimento e renda
principalmente para ribeirinhos e indígenas (REBÊLO et al.,2005; PEZZUT et al., 2010).
Entretanto, as regras limitando ou proibindo seu uso são impostas por instituições externas
(governo e leis).
Usuários de recursos de uso coletivos demonstraram ter capacidade de se
organização para monitorar seu próprio comportamento e para impor sanções aos
indivíduos que não respeitam as regras de uso dos recursos (OSTROM, 1990, CERNEA,
1991 e PEREIRA, 2002). Com isso, a ideia de descentralização da administração de
recursos naturais e o envolvimento de populações locais têm ganhado espaço na
formulação de políticas públicas e na elaboração de programas de desenvolvimento
regionais.
Neste estudo, o pressuposto teórico principal é o de que comunidades ou grupos de
indivíduos escolhem racionalmente suas estratégias de governança, conservação e uso dos
recursos naturais de acordo com os incentivos oferecidos pelo sistema de manejo. Tais
incentivos institucionais advém dos atributos de três componentes do sistema e das
diversas interações entre estes: o recurso ou serviço a ser manejado; usuários locais; e, as
regras e instituições que governam o uso do recurso (Thompson, 1992; Pinto 2002).
No monitoramento dos Podocnemididae na RDSU algumas comunidades aderem
com mais facilidade a proposta de monitoramento do PQU e outras não, assim queremos
entender melhor quais são esses estímulos institucionais. Baseado nesta premissa, que
conjunto de incentivos institucionais pode favorecer a participação voluntária de usuários
do recurso “quelônios” em ações de conservação e manejo extensivo no Uatumã, e em que
condições estas iniciativas podem vir a ser bem sucedidas?
1Definidas como “o conjunto de regras utilizadas por um grupo de indivíduos para organizar atividades
repetitivas que produzem resultados que afetam aqueles indivíduos e potencialmente outros” (Ostrom 1998).
15
2. OBJETIVOS
2.1. Geral
Avaliar quais são os incentivos institucionais à participação voluntária dos usuários
dos recursos naturais nas ações de manejo extensivo realizadas pelas comunidades que
participam do programa “Quelônio do Uatumã” na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Uatumã (RDSU), no Estado do Amazonas.
2.2. Específicos
(1) Descrever as características dos recursos;
(2) Caracterizar os grupos de usuários locais;
(3) Avaliar as regras e instituições locais na gestão e uso do recurso quelônio.
16
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Área de Estudo
Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDSU), foi criada pelo
governo do Estado do Amazonas pelo Decreto-Lei N° 24. 295 de 25/06/2004. Localiza-se
entre as coordenadas 58º 09’ 09” W. e 2º 32’ 60” S, na margem esquerda do Rio Uatumã e
58º 08’ 46” W. e 2º 31’ 30”S na margem direita do igarapé (sem denominação); distante
cerca de 250 km em linha reta de Manaus. Tem área total de 4.244 Km2, pertencentes aos
municípios de Itapiranga, São Sebastião do Uatumã e Presidente Figueiredo (IDESAM,
2011).
Figura 2. Localização do RDS Uatumã. Fonte: IDESAM, 2011.
O Rio Uatumã é um afluente de águas pretas da margem esquerda do Rio
Amazonas. Suas cabeceiras são os igarapés Santo Antônio do Abonari e Taquari e, possui
dois afluentes importantes o Rio Pitinga, a montante do barramento, com uma área de
drenagem de 7.832 km2, e o Rio Jatapú, a jusante da barragem (Lazzarini, 2002).
O regime hidrológico do rio Uatumã tem o período de águas altas nos meses de
abril e junho e de águas baixas, nos meses de agosto a dezembro. O Uatumã é um rio de
águas pretas, ácidas e pobres em nutrientes, características dos rios que nascem no Escudo
das Guianas ou nos sedimentos terciários da bacia amazônica, cujo relevo é suave
Rio Uatumã
Lago de Balbina
UHE Balbina
17
(BALDISSERI, 2005). De acordo com a classificação geral das águas amazônicas efetuada
por Sioli (1991), o rio Uatumã tem o seu enquadramento dentro do grande grupo das águas
negras com valores de pH registrados variando de 3,9 a 6,3 e relativas baixas
condutividades específicas, variando de 10 a 47 S/cm. A cor preta das águas deve-se ao
alto teor de substâncias húmicas e aos solos arenosos e pobres em nutrientes - solos
podzólicos (MONASA/ENGERIO, 1987). Aliadas à falta de cálcio e magnésio conferem o
caráter ácido às águas (Sioli, 1991). Na RDS do Uatumã, a litologia e topografia podem ser
descritas em dois compartimentos principais: o compartimento superior, regionalmente
tratado como “Terra Firme”, áreas planas e/ou dissecadas por tramas de igarapés, onde
predominam os fitofisionomias de Floresta Ombrófila Densa, com solos pobres originados
de arenitos horizontais; o compartimento inferior, planícies de inundação, é
predominantemente coberto por variações de Floresta Ombrófila Densa, localmente tratada
por igapó, além de parcialmente ser recoberto por manchas da vegetação de Campinarana e
Campina, estas associadas aos compartimentos intermediários (IDESAM, 2011).
O clima é do tipo Amw (Köppen 1948), caracterizado por ser chuvoso, úmido e
quente, com maior incidência de chuvas no período de dezembro a maio e temperaturas
durante o ano variando entre a mínima de 20ºC e a máxima de 38ºC (SILVA e SILVA,
2006). A pluviosidade anual média é de cerca de 2200 mm (BALDISSERI, 2005, CUNHA
2013).
3.1.1. População da RDS Uatumã
No último senso populacional realizado em 2007 na RDSU, pelo Instituto de
Conservação e Desenvolvimento Sustentabilidade do Amazonas (IDESAM), foi relatada a
presença de 257 famílias vivendo em 20 comunidades, com a unidade familiar média composta
de 5,1 pessoas, totalizando 1312 moradores, (Plano de Gestão da RDSU, vol.1, 2008). Na RDS
do Uatumã residem 394 famílias (Fundação Amazonas Sustentável - FAS, 2013) divididas
em 20 comunidades, ao longo de três rios principais: Uatumã, Jatapu e Caribi, e que vivem
em sintonia e dependência com o ambiente (Amazonas, 2009). A principal atividade
econômica é a agricultura, seguida da pesca do chamado peixe miúdo entre os meses de
março e junho, durante a migração reprodutiva de espécies reofílicas, jaraqui
(Semaprochilodus spp.) e Matrinxã (Brycon spp). Nos meses de setembro a novembro
18
ocorre o turismo de pesca esportiva na RDS do Uatumã e as principais espécies-alvo são os
tucunarés (Cichla spp), (Guimarães, 2013).
3.1.2. O Programa Quelônio do Uatumã
O monitoramento reprodutivo dos Quelônios (Podocnemididae), no rio Uatumã
teve inicio em 1986. Segundo relatos da Eletronorte no relatório intitulado "Situação atual
dos quelônios no Rio Uatumã/BAL-50-3003-RE, estudos preliminares à construção da
Usina Hidrelétrica de Balbina (UHE) realizados por pesquisadores do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA) e consultores da MONASA/ENGERIO identificaram áreas
de desova nos rios Uatumã e Pitinga, sendo estas áreas as do tabuleiro do chapéu virado,
dos índios, do jacamim, do arraia, dos arrependidos, do iacaca, do taboca e do cachimbo, à
montante do Rio Uatumã e, à jusante, no próprio Uatumã e no Abacate. No Rio Pitinga, os
tabuleiros do folharal, água branca, japonês e sororoca.
No ano de 1995, os biólogos José Pierre Armond e Roberto Myai dos Programas
Ambientais da Eletronorte fizeram um levantamento das áreas em potencial de reprodução
natural de quelônios para implementar medidas de manejo de quelônios, baseado na
proteção da desova e manejo da eclosão de filhotes à montante do Reservatório, realizaram
estudos prévios para avaliar os possiveis impactos causados pelo represamento do rio
Uatumã na construção da UHE, (Ribeiro, 2005) .
Os tabuleiros da montante identificados nesse ano foram quase todos inundados
com a formação do Reservatório da UHE, à exceção do tabuleiro sororoca, na margem
esquerda do rio Pitinga. Segundo relatos formais de técnicos na Vila de Balbina, a
pesquisadora do INPA, Dra. Elizete, era quem coordenava esses estudos na época.
Em 1986, estimou-se que 370 tartarugas-da-Amazônia agruparam-se próximo a
barragem da UHE, impedidas de subir o rio em busca dos tabuleiros naturais para sua
nidificação. Nesse mesmo ano, no mês de setembro, buscando garantir a reprodução dessas
tartarugas, a Eletronorte construiu duas praias artificiais na margem esquerda do Rio
Uatumã, bem próximo à barragem, ambas, quase do mesmo tamanho medindo 30 metros
de comprimento, 20 metros de largura e 1 metro de altura. Estas praias foram,
imediatamente, aceitas pelas tartarugas nas quais ocorreram 41 posturas e produção de 968
filhotes. No ano seguinte foram observados cerca de 220 animais concentrados junto à
barragem, aumentando a produção para 55 o número de postura e 1530 filhotes. A partir
daí se intensificaram as atividades de manejo na reprodução desses animais, bem como a
19
soltura de filhotes em lagos à montante e à jusante do Rio Uatumã e no Reservatório da
UHE (RIBEIRO, 2005).
Com base nos resultados do levantamento feito pelos pesquisadores, várias medidas
compensatórias ao impacto causado pela construção da UHE foram sugeridas, dentre as
quais se inseriu a da implantação do Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios
Aquático (CPPQA), o qual foi construído em 1989, contendo em sua estrutura física duas
praias artificiais, dois tanques circulares (criadouros científicos), dois berçários, uma
enfermaria e um escritório para atender as demandas de manejo e reprodução dos
quelônios.
No ano 1989 até 1995 o monitoramento reprodutivo se deu apenas nas praias
artificiais e nos criadouros científicos do centro sendo os filhotes da reprodução destes
recintos soltos à montante e à jusante da barragem.
Entre 1995 e 1998, o monitoramento reprodutivo dos quelônios se expandiu para
outras áreas à jusante do Uatumã atingindo os tabuleiros da comunidade Bela Vista, do
qual registra-se a participação de alguns moradores desta comunidade. Apenas tartarugas e
tracajás foram monitoradas nesse período. Em 1999 entrou nos registros do monitoramento
mais uma espécie (Podocenmis sextuberculata), conhecida por Iaçá ou pitiú que começara
a fazer parte dos registros de monitoramento reprodutivo à jusante do rio, na área da
comunidade Bela Vista. Os filhotes eram soltos nos lagos do Jatuarana e Campina nessa
localidade.
No período de 1998 ao ano 2000, a colaboradora do CPPQA, Sra. Sandra
Nascimento, retomando os estudos de monitoramento com uso de GPS, mapeou as áreas
de ocorrência de desovas de quelônios, nos Igarapés e lagos marginal ao longo do rio
Uatumã, à sua jusante, com potencial para o estabelecimento de tabuleiros protegidos. Em
parceria com o CNPT/IBAMA participou de mobilização para criação da RESEX do rio
Uatumã. Juntos, iniciaram um trabalho com as comunidades da calha do rio propondo um
monitoramento dos tabuleiros daquelas áreas e, realizando campanhas educativas voltadas
para proteção da fauna, com atenção especial para os quelônios e o peixe-boi amazônico
Thichechus inunguis, (Nascimento, 2006).
O monitoramento nas comunidades através do programa “Quelônios do Uatumã”
teve inicio em 1999, sendo a Comunidade Maracarana (02°13’33’’ S, 58°50’18’’ O) a
primeira a participar do projeto. Esta comunidade pertence ao município de São Sebastião
do Uatumã e fica na margem esquerda do rio Uatumã. Possui um complexo de lagos com
20
seis praias e vários sítios de reprodução de quelônios formados pelos lagos Bonito, Piu,
Maracarana, Araçatuba, Arrozal, Xirola e Xirolinha e pelos igarapés Terra Preta, Maracarana,
Mutunquara, Igarapé-Açú, todos, afluentes da margem esquerda do rio Uatumã. Está área
possui grande importância para o monitoramento no programa e, continua participando até os
dias atuais.
Os lagos do Calabar (02º15’03” S, 58º55’16” O), na comunidade Bela Vista,
pertencente ao município de São Sebastião do Uatumã, localizada à margem esquerda do
rio Uatumã. Nesta área há inúmeros sítios e praias de reprodução de quelônios, mais,
especificamente, das espécies tartarugas-da-Amazônia e tracajás.
A comunidade Nossa Senhora do Livramento (02º19’ 50.7” S, 58º14’ 23.3” O),
localizada no município de São Sebastião do Uatumã, na margem esquerda do rio, possui um
sistema de lagos formado por três igarapés, os quais a comunidade chama de lago (Lago
Gerenaldo, Jaraoacá e Pedras).
Até o ano de 2007 o número de praias e sítios de postura nessas três comunidades
cresceu para 43. Ainda neste ano, aparece mais uma espécie nos registros do Programa, a capirã
ou irapuca (Podocnemis erythrocephala), a qual foi dada especial atenção da sua
ocorrência no complexo de lagos do jaraoacá, visto ser uma espécie de rara ocorrencia nas
demais áreas em que os trabalhos estavam sendo realizados.
Figura 3. Áreas prioritárias para conservação de Podocnemididae, na RDS Uatumã, (imagem
georeferenciada em junho de 2013). Fonte: Oliveira, P.H.G.
No ano de 2008 as comunidades do São Benedito e Mannain passaram a fazer parte
no programa, cuja ação de monitoramento não passou de três anos. Somente no ano de
2009 as seis comunidades participaram do monitoramento. A comunidade do Caioé
Grande participou desse trabalho no lago do Caioé, no período de 2009, 2011 e 2012. Nos
21
anos de 2013 e 2014 a comunidade Bela Vista ficou de fora, não participou das atividades
do monitoramento por causa da migração de dois agentes para a cidade de Presidente
Figueiredo.
3.2. Coleta de dados
Figura 4. Mapa da RDSU e comunidades estudadas, pontos georeferênciados em janeiro de 2014.
Tabela 1. Localização das comunidades nos seus respectivos municípios. Coleta de dados através de
visita in loco e entrevistas a campo, na RDSU (fevereiro, 2015).
A abordagem da pesquisa foi o estudo de caso, por fazer um enquadramento
paradigmático do estudo de caso, procurando de seguida sistematizar o estudo de caso,
descrevendo as suas características e tipologia. Abordaremos também questões
Comunidade Coordenadas Geográficas Margem
do rio
Uatumã
Município Famílias
Latitude Longitude
Bela Vista 02º14’04”S 59º02’58”W esquerda São Sebastião do Uatumã 33
São Benedito 02º15’10”S 58º51’59”W direita Itapiranga 7
Maracarana 02º13’33”S 58º50’20”W esquerda São Sebastião do Uatumã 25
Manaain 02º17’27”S 58º43’24”W direita Itapiranga 5
N.Sra.do Livramento 02º22’40”S 58º15’47”W esquerda São Sebastião do Uatumã 22
Caioé Grande 02º35’13”S 58º11’58”W direita Itapiranga 17
Total - 6 comunidades
109
22
relacionadas com a recolha e análise da informação, para mais à frente abordarmos os
instrumentos de recolha de dados, (YIN, 2005).
Neste sentido, foram realizadas duas viagens de campo com duração de quinze dias
cada. A primeira em dezembro de 2015 para coletar dados físicos e biológicos e a segunda
no mês de fevereiro de 2015, com tempo de permanência de três dias em cada comunidade,
para visitar os domicílios e aplicar questionários. Das técnicas de pesquisa, foram
realizadas observações diretas, para analisar o contexto social das comunidades bem como
aplicados dois formulários de entrevista semiestruturados (DRUMOND, 2012), um
direcionado a família, e o outro ao grupo de lideranças das comunidades.
O formulário I foi direcionado as famílias das comunidades, das quais o número de
entrevistas foi de 70 das seis comunidades, 10 no Caioé Grande, 12 na Nossa Senhora do
Livramento, 5 no Manaain, 22 no Maracarana, 6 no São Benedito e 16 na Bela Vista.
O formulário II foi aplicado para grupos de as lideranças das seis comunidades; isto
é, o presidente, o professor, o agente de saúde, o líder da Associação, o agente ambiental e
alguns moradores (as) mais antigos (as).
Para descrever os recursos manejados (objetivo específico foram usados os seguintes
indicadores de disponibilidade: densidade relativa e ocorrência de quelônios
Podocnemididae (nº de ninhos e de filhotes), áreas de vida, consumo nas comunidades e
sítios de posturas. Consideramos também as informações obtidas a partir de visitas a
campo nas áreas de nidificação, local de ocorrência das espécies, e do monitoramento
reprodutivo do PQU, relatos obtidos através dos formulários I e II e, de mapas cognitivos
construídos pelos comunitários (com indicação dos sítios de postura de quelônios, áreas de
ocorrência, alimentação, boiadouros, e as áreas de maior pressão de captura).
Para a construção (desenho) dos mapas foram constituídos grupos compostos por
dois membros externos (Paulo Henrique, Ribamar Silva e Renato Oliveira) e 5 a 7
comunitários (como LIMa et al., 2012), que elaboraram seis mapas cognitivos, baseado na
sua percepção de ambiente local. Foram utilizados como referência as bases cartográficas
do SIPAM e IBGE (imagem Landsat 5TM, INPE, Ferreira, H.S., 2015).
Posteriormente, as área foram visitadas e os locais georeferenciada com auxílio de
GPS Garmin MAP 76CSX e, através do Programa ArcGis 9.3.1, Pacote ArcView,
utilizando as mesmas bases cartográficas do SIPAM e IBGE, (imagem Landsat 5TM,
INPE, Ferreira, H.S., 2015), para produzir mapas ilustrativos da área de uso de cada
comunidade.
23
Posteriormente, foi realizada uma visita a campo em abril de 2015, depois dos mapas
confeccionados, por colaboradores da pesquisa (Ribamar Silva e Renato Oliveira) para
minimizar os erros e distorções. Deste modo, foram realizadas correções relacionadas à
localização da comunidade do Caio Grande, a quantidade de tabuleiros nas comunidades
do Caioé Grande, Maracarana e São Benedito.
O número de ninhos e filhotes protegidos pelo PQU foi estimado com base em
análise documental, dos relatórios técnico-científicos do PQU e dos arquivos do (CPPQA).
Foram consultadas também fichas de campo arquivadas no PQU e nas comunidades,
resgatando dados da série histórica de 16 anos de monitoramento reprodutivo dos
quelônios na RDSU com participação comunitária.
O levantamento quantitativo e qualitativo da utilização dos quelônios pelas famílias
foi realizado através de entrevistas, utilizando formulários semiestruturados I e II, (Anexos
I e II). Nas entrevistas foram obtidas informações de consumo, utilizando como parâmetro
a recordação do último verão, compreendendo, o período de (agosto/2014 a janeiro/2015).
Para caracterizar os grupos de usuários locais, foi realizado um levantamento das
famílias de cada localidade e foram entrevistados os chefes de família (escolaridade, idade,
local de moradia, tamanho da terra). Depois se utilizou dados de uma sondagem
socioeconômica segundo Siar et al., (1992), das unidades familiares e do grau de aceitação
e participação (engajamento) de cada família nas atividades de manejo, em cada uma das
seis localidades (Pereira, 1999). Para este fim, ocorreu aplicação dos formulários I e II
(em anexo), com a finalidade de captar as estratégias econômicas das unidades familiares.
Para avaliar as regras e instituições locais que governam o uso dos recursos
“quelônios”, foram classificados os tipos de instituições locais e externas no manejo e o
grau de organização e de participação. Foram aplicados formulários aos líderes de
comunidades e representantes familiares das diferentes localidades, visitamos os
domicílios e alguns órgãos nas cidades de São Sebastião do Uatumã e Itapiranga.
Para identificação e caracterização das instituições ou grupos sociais de interesse
participante do PQU foi realizada analise dos formularios aplicados, observaçoes in loco,
coleta de informações através de relatórios tecnicos do PQU e através do diagrama de
Venn (Drumond, 2012). Reunimos os membros da comunidade presente, desenhamos o
circulo da comunidade e pedimos para os comunitários representarem através de circulos
as instituições parceiras ao redor do circulo da comunidade (visando conhecer as
instituições parceiras do PQU e o grau de proximidade).
24
Para entender melhor a atuação das instituições no manejo e conservação de
quelônios Podocnemididae, seus interesses, sua importância, suas influências diretas, suas
alianças e identificar possíveis conflitos. Utilizamos uma classificação preliminar
semelhante à classificação dos grupos de interesse (stakeholder), (Le Tissier at al., 2011)
com tabelas adaptados de Gimble et al. (1995), porém não foi feita de forma participativa,
mas pelo pesquisador baseado em entrevistas e conversas com os comunitários e
instituições externas. Assim, primeiramente foram identificados os grupos de interesse
primários e secundários e depois selecionados os grupos chaves que são aqueles mais
influentes e importantes para a atividade de manejo extensivo e conservação dos
Podocnemididae.
Para classificar os esquemas de manejo de pesca e conservação dos quelônios em
cada uma das localidades foram utilizadas as respostas sobre regras de acesso e normas de
apropriação segundo a tipologia de recursos de uso coletivo de (BALAND e PLATTEAU,
1997).
Tabela 2. Tipologia de recursos de uso coletivo. Fonte: Pereira, (2001) adaptado de Baland e Platteau,
(1997).
Normas de Apropriação
Regras de acesso Ausente Presente
Flexível ou de acesso livre Tipo I Tipo IV
Restrito aos membros autorizados
Tipo II
Tipo III
Para classificar o nível de participação das comunidades no programa PQU,
utilizamos os níveis e tipologias propostos por Pimbert e Pretty, (2000), quadro 1.
Quadro 1. Níveis de participação das comunidades nos projetos de conservação. Fonte:
Pimbert e Pretty, (2000) p-197-198.
Nível Tipologia Componentes da tipologia
1
Participação
passiva
As pessoas participam por avisos do que está para acontecer, ou já
aconteceu. E uma informação unilateral através de uma administração ou
projeto; as reações das pessoas não são levadas em conta. A informação que
é dividida pertence apenas aos profissionais externos
2
Participação como
extração de
informação
As pessoas participam respondendo as questões feitas por pesquisadores e
administradores de projetos, que usam questionários de coleta de dados ou
sistemas similares. As pessoas não tem a oportunidade de influenciar os
procedimentos, já que a descoberta da pesquisa ou plano do projeto não são
compartilhados ou verificados em sua acuidade.
3
Participação por
consulta
As pessoas participam sendo consultadas, e agentes externos ouvem os
pontos de vista. Esses agentes definem os problemas e as soluções, e podem
modifica-los conforme a reação das pessoas. Tal processo consultivo não
compartilha nenhuma tomada de decisão e os profissionais não têm
25
3.3.Análise dos dados
Para facilitar a análise das variáveis dependentes e independentes, os dados
coletados em campo foram organizados e armazenados em planilhas eletrônicas em dois
grupos que corresponderão aos dois tipos de formulários I e II (Apêndice D).
As análises correspondem ao estudo comparativo entre as seis comunidades, assim
visando chegar aos dados consolidados foram selecionadas entre as variáveis indicadoras
as que melhor responderam aos objetivos.
No caso de dados com dimensões (natureza) heterogêneos, usamos o índice de
normatização (PEREIRA,1999). Dividindo o valor obtido para cada família pela média
geral entre todas as famílias das localidades estudadas. Este artifício matemático permite
agrupar dados de natureza distinta para a composição do índice de contribuição
organizativa. Os demais dados foram apresentados em suas dimensões reais ou em termos
de frequência (Nº de respostas positivas / Nº de famílias entrevistadas).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
obrigações de considerarem as visão das pessoas.
4
Participação por
incentivos
materiais
A pessoas participam oferendo recursos, por exemplo, força de trabalho, em
retorno de incentivos como comida, dinheiro ou outras coisas. Muitas
pesquisas em sitos e bi prospecção caem nessa categoria, já que as
populações oferecem os recursos e não envolvidas na experiência ou no
processo de aprendizado. É muito comum encontrar essa chamada
participação ainda que as pessoas não tenham interesse em prolongar as
atividades quando os incentivos acabam.
5
Participação
funcional
As pessoas formam grupos para coincidir objetivos predeterminados
relacionados ao projeto, o que pode envolver desenvolvimento ou que
promovam organizações sociais externamente iniciadas. Tal envolvimento
não tende a acontecer nos estágios iniciais de planejamento e ciclos de
projeto e sim depois que grandes decisões foram feitas. E essas instituições
tendem a ser dependentes dos incentivos externos, mas podem tornar-se
independentes.
6
Participação
interativa
As pessoas participam em analises conjuntas que conduzem a plano de ação
e a formação de novos grupos locais ou no fortalecimento dos já existentes.
Tende a envolver uma metodologia interdisciplinar que busca múltiplas
perspectivas e faz uso de um sistemático e estruturados processo de
aprendizado. Esses grupos assumem o controle acerca das decisões locais e,
então, as pessoas adquirem o interesse em manter as estruturas e as práticas.
7
Automobilização
As pessoas participam tomando a iniciativa para mudar sistemas,
interdependente das instituições externas. Tal automobilização e ação
coletiva podem ou não desaviar a distribuição não equitativa dos recursos e
do poder.
26
Foram entrevistados 70 chefes de família em seis comunidades da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Uatumã (RSDU), Quadro 2.
Quadro 2. Famílias entrevistadas por comunidade. Fonte: Visita de campo na RDSU,
fevereiro 2015.
No. Nome Localização Município Famílias
entrevistadas
1 Caioé
Grande
Igarapé Caiaué Grande, margem direita do rio
Uatumã.
Itapiranga 10
2 N. Sra. do
Livramento
Igarapé Taquera, margem esquerda do rio
Uatumã.
S. Sebastião
do Uatumã
12
3 Manaain Margem direita do rio Uatumã Itapiranga 5
4 Maracarana. Lago do Maracarana, margem esquerda do rio
Uatumã.
S. Sebastião
do Uatumã
21
5 São
Benedito
Igarapé e Lago Araraquara, margem esquerda
do rio Uatumã.
Itapiranga 6
6 Bela Vista Igarapé do Tucumanduba
Margem esquerda do rio Uatumã.
S. Sebastião 16
4.1- Determinar os recuros e serviços manejados
Para responder o objetivo (1), o principal indicador e a ocorrencia, o consumo e a
densidade do recurso Podocnemididae e dados (nº de ninhos e de filhotes) do
monitoramento reprodutivo, realizado na série histórica de 20 anos pelo Centro de
Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) e Programa Quelônios do
Uatumã (PQU).
Considerando os vinte anos de monitoramento de quelônios na RDSU, foram
registrados 6.764 ninhos e 119.980 filhotes, tabelas 3 e 4. Nos dez primeiros anos de
monitoramento a média de ninhos foi de 62 por ano e, nos ultimos dez anos a média
aumentou para 614 ninhos por ano, dez vezes maior. Deve-se ao fato de que nos ultimos
anos o numero de participação local aumentou, tanto das comunidades como do numero de
agentes de praia (monitores).
No período de 2009 a 2012 a quantidade de ninhos e filhotes monitorados pelo
programa “Quelônios do Uatumã” foi bastante expresiva em relação aos anos anteriores.
Dado a este fato, a inclusão dos lagos do Calabar rio acima, na comunidade Bela Vista e da
inclusão de outras seis comunidades participando ativamente do programa (figura 6).
O declínio no número de ninhos nos anos de 2013 e 2014 mostrados na figura 6,
ocorreu devido a falta de agentes de praia (monitores) voluntarios nos lagos do Calabar.
27
As espécies com maior ocorrência no monitoramento foram o P. unifilis (5.156
ninhos e 63.918 filhotes); P. expansa (818 ninhos e 50.706 filhotes); P. sextuberculata
(541 ninhos e 4.047 filhotes) e, P. erythrocephala (259 ninhos e 1.349 filhotes), ver tabelas
3 e 4.
Nas comunidades São Benedito, Manaain e Maracarana houve maior ocorrência da
espécie tracajá (P. unifilis) em relação às demais espécies mencionadas. Nessas
comunidades a ocorrência de tartarugas se reproduzindo nos lagos ou praias é bem
reduzida. Na comunidade Bela Vista as espécies mais comuns e abundantes são P. unifilis,
P. sextuberculata e P. expansa. Nas comunidades do Caioé Grande e Nossa Sr.ª do
Livramento ocorrem às quatro espécies (P. expansa, P. unifilis, P. sextuberculata e P.
erythrocephala), ocorrendo maior quantidade de tartaruga-da-Amazônia na comunidade do
Livramento, protegendo 73% dos ninhos de P. expansa em suas praias; 63% das praias e
tabuleiros encontra-se em seu território e, protegeu apenas 29% de P. unifilis do total de
ninhos protegidos pelas comunidades que foram 76%, tabelas 3 e 4.
Tabela 3. Monitoramento de quelônios Podocnemididae na RDSU entre 1995-2014. Fontes: Relatórios do
CPPQA/Eletrobras e planilhas de campo e arquivos eletrônicos do PQU, (setembro de 2014 à fevereiro de 2015).
Legenda: PT= praias ou tabuleiros; pe = P. expansa; pu = P. unifilis; ps = P. sextuberculata; pr = P.
erythrocephala; TNC = total de ninhos por comunidade e TNE= total de ninhos por espécie.
Número de ninhos por espécie
Comunidades PT pa pu ps pr TNC
Bela Vista 6 199 952 100 5 1256
Maracarana 6 15 2194 0 1 2210
N.Srª. do
Livramento
31 602 1521 399 247 2769
Manaain 2 1
0
1
155 0 0 156 São Benedito
Caioé Grande
2
2
140
194
0
32
0
6
140
233
49 TNE 818 5156 531 259 6764
48 32 29 31 48 42 59 87 115 130 103 293 307 414 1244 1210
772 812 459 529
3765
2622 1752
853
2627
1219 1019 1189 1924
2601 2520
4293
7348 6460
16443
14782
13529
17104
8809 8635
Ninhos e filhotes de Podocnemididae monitorados na RDS Uatumã
(1995 a 2014).
ninhos filhotes
Figura 5. Ninhos e filhotes monitorados na RDSU, dados coletados de relatórios técnicos do CPPQA
e de planilhas de campo do PQU, fevereiro de 2015.
28
Tabela 4. Filhotes de Podocnemidae nascidos na RDSU entre 1995-2014. Fontes: Relatórios do
CPPQA/Eletrobras, de planilhas de campo e arquivos eletrônicos do PQU, (setembro de 2014 a fevereiro de
2015). Legenda: PT= praias ou tabuleiros; pa = P. expansa; pu = P. unifilis; ps = P. sextuberculata; pr = P.
erythrocephala; TFC = total de filhotes por comunidade e TFE= total de filhotes por espécie.
Filhotes nascidos por espécies
Comunidades PT pa pu ps pr TFC
Bela Vista 6 11563 8707 1300 60 21630
Maracarana 6 1768 31938 0 12 33718
N.Srª.do Livramento 31 37245 19213 2267 1219 59904
Manaain 2 43
*
87
1059 * * 1102
São Benedito
Caioé Grande
2
2
572
2429
*
480
*
58
572
3054
49 TFE 50706 63918 4047 1349 119980
A espécie capirã ou irapuca (P. erythrocephala) ocorre mais nos igarapés de água
clara e escura do complexo de lagos do Jaraoacá e nos lagos do Caioé Grande. Essa
espécie só ocorre rio abaixo, não se tem registros rio acima.
Em 2003, o PQU começou atuar com mais frequencia na RDSU até o ano de 2012;
entretanto, o monitoramento mostra-se ascendente com maior ocorrência em 2009. Quando
foi monitorado o maior numero de ninhos e filhotes de P. unifilis, esse sucesso reprodutivo
se deu pela participação de mais comunidades no monitoramento e também pelo cenário
atipico de um verão prolongado, com o surgimento antecipado dos bancos de areia e das
margens dos lagos, favorecendo a postura em diversos sitios. Já para Podocnemis expansa
ocorreu grande dispersão dos animais, nidificaram nas praias que antes não costumavam
visitar, muitas tartarugas desovaram na margem do rio Uatumã e os ovos foram
facilemnete saqueados e predados, (Oliveita et al., 2011), (figura 6.
Os lagos do Calabar, do Jaraoacá e do Maracarana abrigam vários sítios
reprodutivos, pois são áreas com grande potencial para o turismo de conservação, por
possuir um único acesso no verão, favorecendo a prática da pesca esportiva dos tucunarés
(Cicha sp.) de maior tamanho do rio Uatumã. Para servir de base de apoio no
monitoramento de quelônios, um flutuante do projeto fica posicionado na entrada do lago
Jaraoacá. Para ter acesso ao lago, os turistas pagam R$ 50,00, sendo este acompanhado
pelo agente comunitário aos pontos de pesca esportiva permitidos no lago, respeitando às
regras deste tipo de esporte deliberadas no Regimento Interno e Estatuto do Conselho da
RDSU. A comunidade faz um revezamento nesta atividade, o que possibilita um
complemento de renda para as famílias.
Nas três comunidades Maracarana, N. Sr.ª. do Livramento e Bela Vista contempladas
e beneficiadas com o maior número de lagos (figuras 7), possuem maior quantidade de
lagos (5-4-8), maior número de monitores ou agentes de praias (5-4-2) e maior quantidade
de praias de desovas (6-31-6) respectivamente.
29
Essas comunidades mostraram-se mais interessadas em proteger essas áreas, pelo
fato majoritariamente de uso exclusivo das famílias residentes dessas localidades e, são as
que mais recebem incentivos das instituições fomentadoras (Eletrobrás/CPPQA,
CEUC/Probuc e Prefeituras). Com isto, acabam levando mais vantagens no
monitoramento, pois se observam como áreas de grande relevância para a conservação de
quelônios, santuários, lagos de criação e reprodução que servem para o abastecimento da
pesca esportiva e de recursos de subsistência das famílias, isso facilita à adesão da proposta
do programa.
Figura 6. Monitoramento reprodutivo de Podocnemididae. Legenda: (A) número de ninhos, relatórios técnicos do PQU 1995-
2014; (B) número de lagos, fichas de monitoramento dos comunitários 2003-2013; (C) monitores Agentes de Praia, entrevistas
na RDSU em 2015; (D) número de praias, fichas de monitoramento dos comunitários 2003-2014.
0
1
2
3
4
5
6
7
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Maracarana
A B C D
0
5
10
15
20
25
30
35
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
N. Sra. do Livramento
A B C D
0
1
2
3
4
5
6
7
0
100
200
300
400
500
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Bela Vista
A B C D
0
0,5
1
1,5
2
2,5
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
São Benedito
A B C D
0
0,5
1
1,5
2
2,5
050
100150200250300350400450
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Caioé Grande
A B C D
0
1
2
3
050
100150200250300350400450
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Mannain
A B C D
30
Os mapas confeccionados pelos comunitários registraram 45 praias ou tabuleiros, 9
boiadouros, 6 áreas de alimentação e 7 áreas consideradas críticas, de captura dos
quelônios, ver (figuras de 7 e 8). É importante registrar que as praias identificadas na
comunidade do Maracarana, nem sempre são formadas por bancos de areia, apenas por
barro com aspecto ferrugíneo que compromete o nascimento dos filhotes. Quando isso
ocorre, os ninhos são transferidos para praias com areia.
As localidades identificadas com praias arenosas foram às comunidades do
Livramento, Bela Vista e Maracarana. São Benedito e Manaain possuem um único ponto
de praia de areia, sendo o restante das áreas desses locais composto de barro
argilo/arenoso. Nos mapas cognitivos elaborados pelas comunidades estão identificadas
somente as praias de areia. Entre tanto, na visitação in loco, percebeu-se que há uma
concentração de novas pequenas áreas de reprodução inseridas no monitoramento, antes
não consideradas como áreas de reprodução.
O número de boiadouros ou poços, indicados pelas comunidades foram 11 com
maior ocorrência nas comunidades Maracarana e Livramento (3 e 2), respectivamente.
Estes locais servem, também, de refúgios no verão para os peixes bois (Trichechus
inunguis), Lazzarini, (2001).
As áreas de alimentação identificados no mapa foram em número de seis, são
compostas por arbustos, sendo as Mirtaceas (araçás e camu-camu), as mais comuns
presentes nessas áreas, especialmente, nas matas de igapós e nas margens de ilhas do Rio
Uatumã. Quanto à dieta alimentar desses animais, a maioria dos quelônios é onívora
(generalistas) (LAGLER, 1943), consomem os recursos disponíveis em maior abundância
em sua área de vida. Indivíduos maiores (adultos) se utilizam em sua maioria de material
vegetal (Bjondal, 2006), Cunha (2013) em sua pesquisa no Rio Uatumã encontrou a
Genipa americana a espécie vegetal mais consumida pelos Podocnemidae, demostrando
grande importância na dieta.
O mapa apresenta sete áreas de captura indicadas pelos comunitários, nota-se que no
momento da confecção do mapa, o pesquisador induziu a interpretação do termo área de
captura por área de caça. Na concepção dos comunitários, área de captura são aquelas em
que os quelônios são mais predados, também conhecidos como áreas de pesca.
A época de maior captura compreende o período de seca, quando as fêmeas estão
mais vulneráveis e ocorre o agrupamento nos boiadouros. No Parque Nacional do Jaú, a
captura para o comércio também e realizada com maior intensidade no verão. “A coleta de
31
ovos é uma atividade intensa durante a estação seca, após a emersão das praias. A captura
de bichos de casco e a coleta de ovos variam de acordo com o rio ou trecho de rio e a
época” (Rebêlo, 1996).
Figura 7. Área de distribuição local dos Podocnemididae. Legenda: (A) Caioé, (B) Livramento e (C)
Manaain. Dados coletados através de metodologia do mapa cognitivo e visita in loco, na RDSU,
fevereiro/2015.
(A)
(B)
(C) (C)
(B)
(A)
32
Figura 8. Área de distribuição local dos Podocnemididae, (D) Maracarana; (E) São Benedito e (F) Bela Vista.
Dados coletados através de metodologia do mapa cognitivo e visita in loco, na RDSU, fevereiro/2015.
(D)
(E)
(F)
(D)
(E)
(F)
33
A tabela 5 se refere aos valores médios nos sítios de postura vistoriados
(georeferênciados) em campo por aparelhos GPS e indicados em mapas construídos a
partir de informações memorizadas. Quanto a densidade relativa, os valores médios por
comunidade apresentam diferenças, com destaque para comunidade Nossa Sr.ª do
Livramento que possui o maior número de sítios reprodutivos.
Tabela 5. Densidade relativa dos sítios de nidificação de quelônios por local. Dados coletados através
de entrevistas na RDSU visita a campo em fevereiro de 2015.
Informação memorizada
Local
nº
famílias
(a)
nº sítios
indicados
(b) (b)/(a) média
Bela Vista 16 6 0.37
Maracarana 21 5 0.23
N.Srª.do Livramento 12 30 2.50 1.03
Manaain 5 2 0.40
São Benedito 6 3 0.50
Caioé Grande 10 3 0.30 0.40
Os valores médios das demais comunidades apresentaram diferença valores
semelhantes. As comunidades Nossa Senhora do Livramento, Maracarana e Bela Vista
possuem maior número de lagos, portanto, apresentam o maior número de sítios
reprodutivos, totalizam 43 praias, possuem ambientes ideais para a conservação dos
quelônios e, o número de famílias que monitoram os ninhos e maior do que nas
comunidades do Caioé Grande, Manaain e São Benedito, tabela 4.
As famílias das comunidades São Benedito, Caioé Grande e Manaain, declararam ser
usuários dos recursos quelônio, com média de consumo por família de (9.45±0,68)
espécimes e (7.76±2,95) covas. As comunidades N. Sr.ª do Livramento, Maracarana e Bela
Vista tiveram consumo médio por família de (4.66±1,19) espécimes e (5.00±1,41) covas.
Tabela 6 e 7.
Tabela 6. Frequência de captura de quelônios para consumo 6 ( meses). Dados coletados através de
entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.
Local
Espécimes/família Média/DP
Consumo total pr ps pa pu média
Bela Vista 65 0.00 0.00 0,00 5.40 1.35
Maracarana 85 0.00 0.00 0,00 3.90 0.98 4.66/1.19
N.Srª.do Livramento 110 0.01 1.90 3.00 4.30 2.30
Manaain 85 0.00 0.00 0.30 16.70 4.25
São Benedito 69 0.00 0.00 0.00 8.70 2.18 9.45/0.68
Caioé Grande 96 0.00 3.80 0.90 7.40 3.03
Média 152 0.00 0.99 0.70 7.73 2.35
DP 23,01 1.18
34
Tabela 7. Coleta de ninhos e ovos de P.unifilis para consumo, (6 meses). Dados coletados através de
entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.
Local
Espécies
Média, ninhos
e ovos/família
ninhos ninhos/família ovos ovos/família
Bela Vista 48 5.20 864 54
Maracarana 133 6.30 2394 114 5.00/70
N.Srª.do Livramento 42 3.50 756 42
Manaain 46 9.20 828 165
São Benedito 58 9.70 1014 169 7.76/132
Caioé Grande 35 4.40 630 63
Média 60.33 6.38 1081 102.09
DP 36.39 56.60
As localidades que apresentam menor número de praias de desova dos
Podocnemididae são as comunidades com maior acesso ao recurso. Deste modo, relatos
das famílias entrevistadas afirmaram que os barcos que os conduzem com seus produtos
para as feiras dos municípios vizinhos, fazem o transporte ilegal de quelônios e ovos.
A tabela 8 identifica que além dos Podocnemididae também são consumidos os
Testudinidae, em maior quantidade pela comunidade do Livramento, Manaain e
Maracarana, respectivamente, em relação às demais localidades pesquisadas. Quando o
consumo é por família, as que mais utilizam os recursos quelônios na dieta alimentar são as
famílias da comunidade São Benedito, Caioé Grande e Nossa Senhora do Livramento
respectivamente.
Tabela 8. Consumo de quelônios pelas famílias entrevistadas, (agosto/2014 a janeiro/2015). Legenda:
Comunidades: CG – Caioé Grande; MN-Manaain; SB-São Benedito; NL- Nossa Senhora do
Livramento; MR-Maracarana e BV-Bela Vista. Dados coletados através de entrevistas, fevereiro de
2015.
Comunidades /famílias n=70
CG MN SB NL MR BV
Total
% do Total
consumido
Tracajá (P. unifilis) 59 82 49 51 81 55 377 66,14
Tartaruga (P.expansa) 7 1 0 36 2 2
48 8,42
Jabuti (Chelonoidis sp.) 0 18 6 29 15 4
72 12,63
Iaçá (P. sextuberculata) 30 0 20 23 0 0
73 12,81
Total 96 101 75 139 98 61 570
Média 24,00 25,25 18,75 34,75 24,5 15,25 142,5
DP 43,81 48,02 34,23 55,12 46,62 29,50
Consumo / Familia 9,6 5,1 12,5 11,6 4,7 3,8
35
De modo geral, o consumo de quelônios pelas comunidades foi expressivo, sendo
(66%) de P. unifilis, (13%) de P. sextuberculata e Chelonoidis sp. e (8%) de P. expansa
(figura 27). Resultados similares a estes, foram citados por Andrade e Pinto et al. (2001)
no município de Terra Santa no Pará, os quais confirmam maior consumo da espécie
tracajá (79,5%), pitiú (15,5%) e tartaruga (4,5%).
Figura 9. Percentual de consumo de quelônios pelas famílias entrevistadas. Dados da entrevista na
RDSU em fevereiro de 2015.
Em relação ao consumo de quelônios já havia uma preocupação no controle do
recurso pelos comunitários, como afirma:
Antes de iniciar a preservação, não deixavam nenhuma cova
de tracajá, matavam tudo enquanto era bicho, chamei um
compadre meu presidente e falei. Agente libera para os de
fora, mas os de casa tem que dá bom exemplo, conversamos
com a comunidade e começamos o trabalho de preservação
(Fonte: morador da comunidade do Maracarana, 58).
Com relação ao consumo de animais silvestres foram relatados nas entrevistas os
seguintes fatos: o consumo de roedores caviomorfos, 310 pacas (Cuniculus paca) e 237
cutias (Dasyprocta sp.). Aves como os cracídeos, 200 mutuns (Mitu mito) e 35 Inambu
(Inhambu sp.). O que representa um alto consumo de animais silvestres nessas
comunidades, mesmo as que participam do programa, situação característica em caça de
terra-firme e em áreas agrícolas com crescimento demográfico. (Figura 10).
Dentre as espécies abatidas para o consumo, o tatu canastra (Priodontes máximus)
merece uma atenção especial por parte das instituições que normatizam a fauna silvestre no
estado e municípios, por serem abatidos com frequência na RDSU, e as comunidades
Tracajá (P.
unifilis); 66,14;
66%
Tartaruga
(P.expansa); 8,42;
8%
Jabuti (Chelonoidis
sp.); 12,63; 13%
Iaçá Podocnemis
sextuberculata);
12,81; 13%
Consumo de quelônios por espécie
36
desconhecerem que a espécie consta na lista dos animais ameaçados de extinção.
Evidencias percebidas por morador da localidade:
Hoje não tem 20% de fartura que conheci neste rio
Uatumã em 1978, usavam a banha do tambaqui para
fazer óleo para iluminar as lamparinas, vi 700 pacas
saindo mortas da boca do rio Abacate (Fonte:
morador da comunidade Bela Vista, 63).
4.2 - Caracterização dos grupos de usuários
As famílias entrevistadas nas áreas de atuação do PQU são de procedências distintas
de outros municípios: Amazonas, Pará e Acre (13, 4, 1) respectivamente. Nas décadas de
1980-1990 motivadas pelo desemprego no meio urbano; retorno ao ambiente rural em
busca de melhor qualidade de vida e de terra para agricultura/extrativismo; para
acompanhar familiares (pais e cônjuges) e, em busca de emprego assalariado nas
comunidades (funcionário da escola e posto de saúde rural), (PEREIRA et al., 2001).
Nesse período, o rio Uatumã era divulgado como um rio farto com muitos peixes,
quelônios e terras disponíveis, segunda a afirmação de 42% dos entrevistados.
Das 70 (setenta) famílias entrevistadas (16%) vieram do município de Manaus-AM,
(14%) de São Sebastião do Uatumã-AM, (13%) de Parintins-AM, (11%) de Itapiranga-
AM, (10%) de Presidente Figueiredo-AM, (7%) de Itacoatiara-AM e Santarém-PA, (4%)
de Urucará-AM e (1%) os demais municípios (figura 11).
237
310
20
100
31 16 9
55
7 26
200
377
48 72 73
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Figura 10. Fauna Silvestre consumo de subsistência, RDS Uatumã, agosto de 2014 a janeiro de
2015. Dados coletados através de entrevistas (N=70) de recordação em fevereiro de 2015.
37
Figura 11. Procedência das famílias entrevistadas, dados coletados através de entrevistas na RDSU,
fevereiro de 2015.
O ano de 1989 foi marcado pela abertura das comportas da barragem da UHEB
causando um grande impacto negativo na qualidade da água a jusante da barragem. As
condições tornaram-se, de tal modo, insuportáveis, que algumas famílias relataram a morte
de muitos peixes denominando esse fato de “envenenamento da água”. Nesse período
houve fuga em massa da população assentada no Uatumã para as cidades de Itapiranga,
São Sebastião e Presidente Figueiredo, (Lazzarini, 2002).
A média de idade dos 70 chefes de família entrevistados nas seis comunidades da
RDSU foi de 43 anos, com variação de 20 anos para o mais novo e 74 para o mais velho,
(Figura 38). Média de idade aproximado ao encontrado por Pereira et al, (2001) e
IDESAM (2011) no Plano de Gestão da RDSU, que foram de 40 e 48 anos,
respectivamente.
A maioria das pessoas que moram hoje na RDSU não nasceu nos municípios de
jurisdição da reserva. Dos chefes de família entrevistados (66%) imigraram de outros
munícipios do estado do Amazonas, (22%) nasceram nos municípios que limitam com o
Uatumã (Presidente Figueiredo, Itapiranga e São Sebastião do Uatumã) e de outros
estados, Pará (11%) e Acre (1%).
Segundo Pereira et al, (2001), 35% das famílias do Uatumã chegaram no local depois
da abertura das comportas da UHE, em 1989. Declararam serem originárias de outros
municípios do Estado do Amazonas. Antes desse período, o número de imigrantes era bem
maior (50%). Esse fato ajuda entender a mobilidade das famílias na RDSU, antes da
abertura das comportas ou da construção da UHE quando a migração era menor, em
Manaus - AM
16%
Itapiranga-AM
11%
S.S. Uatumã-AM
14%
Faro-PA
1% Nhamunda-PA
1%
Maues-AM
1%
Parintins-AM
13%
Humaitá - AM
1%
Urucara -AM
4%
Santarem-PA
7%
Rio Branco-AC
1%
Obidos-PA
1%
Ilha de
Marajo
1%
Tefé- AM
1%
Presidente
Figueiredo-AM
10%
Manacapuru-AM
3%
Itacoatiara-AM
7% Beruri-AM
1%
Careiro
Castanho_AM
1%
38
relação ao período pós-usina na década de 2000, quando a imigração de moradores de
outros municípios foi maior.
Quanto à escolaridade média das pessoas entrevistadas nas seis comunidades, a
média escolar corresponde ao 4ª ano do ensino básico ou fundamental, coincidindo com o
que consta no Plano de Gestão da RDSU (IDESAM, 2011). O tempo de permanência das
famílias nas comunidades varia de 6 a 27 anos, em média, dos quais 16 anos por família
entrevistada. Percebe-se uma rotatividade grande de famílias nas comunidades do
Manaain, São Benedito e Bela Vista. Essas famílias, geralmente, não apresentam interesse
em participar do trabalho de conservação de quelônios. O compromisso com os lagos, os
recursos pesqueiros e da fauna não são prioridades para estas famílias, uma vez, que seu
domicílio é temporário nessas localidades.
Figura 12. Tempo médio de morada, escolaridade e idade dos chefes de família na RDSU Dados
coletados através de entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.
Quanto a propriedade de terras, as famílias entrevistadas não apresentaram diferenças
significativas relacionada à quantidade de propriedades de terra firme e várzea. Isto quer
dizer que o acesso a terra é similar para todas as comunidades. A posse da terra é do
governo e as famílias só possuem a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU). Assim, a
princípio, as oportunidades econômicas alternativas são semelhantes para as seis
comunidades, não havendo, a priori, a necessidade de avançar com a exploração sobre os
recursos aquáticos “quelônios” por esta ou outra comunidade. Os sítios declarados pelas
famílias apresentaram tamanhos que variam de 27,8 ha/família (mínimo) e 181,2
ha/família (máximo).
18
25
6
27
9 12
16
41 43 45 41 42
48 43
4 4 4 5 4 5 4
0
10
20
30
40
50
60
Tepo de moradia/RDSU
Média de Idade
Escolalaridade media
39
Tabela 9. Áreas de terra firme e várzea. Dados coletados através de entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.
As famílias entrevistadas apresentaram fontes de renda variadas, os benefícios
sociais representam 48%, constituindo-se da aposentadoria, pensão e bolsas (floresta,
família e jovem), seguido com 20% da agricultura, com especial atenção para o fabrico de
farinha de mandioca e subprodutos, considerado a principal atividade agrícola. O turismo
esportivo 9%, assalariados (professores, merendeiras, barqueiros e agente de saúde)
representam 9% da renda; comercio de animais domésticos 7%; comércio de animais
silvestres 4%; pesca do peixe miúdo (matrinxã e o jaraqui) 3%, (figura 29).
As bolsas (família e floresta) por si só, representam 44% da renda das famílias
entrevistadas. Muitas famílias migraram para as cidades de Itapiranga, São Sebastião do
Uatumã e Presidente Figueiredo motivadas pelas bolsas. Associado a este fato, a falta de
escola de ensino médio na RDSU, para a continuação dos estudos dos filhos é uma
agravante. Se os filhos não estiverem na escola, os benefícios das “bolsas” são canceladas
pelo governo federal. As alternativas encontradas para manterem seus filhos na escola foi a
migração para as cidades.
.
Figura 13. Fonte de rendas das famílias da RDSU. Dados coletados através de entrevistas na RDSU,
fevereiro/2015, n=70 famílias.
Local
Índice médio /família entrevistada
Áreas (Ha) Média DP
Bela Vista 181.2 1.06 0.25
Maracarana 122.6 1.29 0.46
N.Srª.do Livramento 20.6 1.17 0.39
Manaain 44.0 1.20 0.45
São Benedito 30.0 1.17 0.41
Caioé Grande 175,7 1.20 0.32
Bolsa jovem 1%
Bolsa Familia 22%
Bolsa floresta 22%
Salario 9%
Aposentadoria 2%
Pensão 1%
Agricultura 20%
Pesca peixe miudo 3%
Turismo 9%
Animais domesticos
7%
Animais Silvestres 4%
40
As comunidades do Manaain, São Benedito e Bela Vista são as que apresentaram
maiores relatos de migração de famílias para as cidades de Itapiranga, São Sebastião do
Uatumã e Presidente Figueiredo. Os entrevistados relataram que os ex-moradores retornam
para RDSU para pescar e caçar animais silvestres para comercio nas cidades e, sempre traz
em sua companhia amigos ou parentes das cidades.
As comunidades do Manaain, São Benedito e Caioé Grande apresentam mais
resistência nas práticas restritivas do uso dos recursos, uma vez que para isso teriam que se
submeter às regras internas de manejo estabelecidas pela comunidade que tornam mais
difícil a exploração da pesca comercial e da caça ilegal de Podocnemididae.
A renda média mensal das famílias entrevistadas é de R$ 853, 033 reais; por este
víeis, entendemos que a renda mínima é de R$729,81, a renda máxima é de R$916,2 e DP=
68,63 (dados coletados entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015). O que eleva esse valor
médio da renda para as famílias são os benefícios oriundos dos programas sociais como
Bolsa Família, Seguro Defeso, Vales etc. Este fato se traduz num agravante quando se
tornam dependentes destes benefícios, fazendo com que a produtividade agrícola diminua.
Os núcleos familiares são compostos de 4 a 6 pessoas, ademais, muitos filhos casam
e moram com os pais, dividindo o trabalhando e os lucros “trabalhando de meia2",
principalmente no preparo da farinha e de seus subprodutos.
A pesca do peixe gordo na RDSU compreende o período de 01 Março a 30 de Julho
de cada ano segundo as regras de pesca esportiva. Somente as comunidades N. Sr.ª. Do
Livramento e Caioé Grande praticam a pesca comercial do peixe gordo.
A pesca é permitida somente para pescadores moradores das comunidades da RDS
Uatumã “considera morador pessoas que tenha fixado residência na comunidade da RDS
Uatumã no tempo mínimo de 02 (dois) anos” de acordo com o Plano de Gestão (IDESAM,
2011). As Instituições que acompanham as atividades da pesca comercial é a Colônia de
pesca (Z-22 AM), do município de Itapiranga; e a colônia de pesca (Z-26 AM) que
representa o município de São Sebastião do Uatumã.
No ano de 2014 as comunidades N. Senhora do Livramento e Caioé Grande tiveram
renda anual e mensal com a venda do peixe gordo, na ordem de R$1132,00/R$94.33 e
R$792,00/R$66,00, respectivamente.
2 Trabalhando de meia – expressão utilizada por comunitários para explicar o trabalho de sociedade.
Geralmente são filhos que casam e moram com os pais, unem força de trabalho e dividem os lucros.
41
Tabela 10. Renda comercial da pesca do peixe gordo (matrinxã e jaraqui). Dados coletados através
de entrevistas na RDSU, fevereiro/2015.
Local
Nº Famílias
Entrevistadas
R$ / ano Média mensal
DP
Bela Vista 16 0.00 0.00 0.00
Maracarana 21 0.00 0.00 0.00
N.Srª. do Livramento 12 1132.00 94.33 136.30
Manaain 5 0.00 0.00 0.00
São Benedito 6 0.00 0.00 0.00
Caioé Grande 10 792.00 66.00 67.34
A renda das famílias com a produção agrícola e extrativa é um indicador importante,
que informa se as comunidades desenvolvem atividades alternativas econômicas para
geração de renda.
Na tabela 11 observa-se que a renda anual e mensal por localidade com a produção
agrícola é maior nas comunidades Maracarana e Bela Vista (R$4.320,00/360,00 e
R$3.474,00/289,53) respectivamente, sugerindo que essas comunidades demonstram ter
mais habilidades em ações de alternativas econômicas para garantir sua subsistência.
Tabela 11. Renda comercial da produção agrícola. Dados coletados através de entrevistas na RDSU,
fevereiro/2015.
Local
Nº Famílias
Entrevistadas
R$ / ano Média mensal
DP
Bela Vista 16 4320.00 360.00 409,87
Maracarana 21 3474.36 289.53 344,51
N.Srª.do Livramento 12 3690.00 307.50 182,13
Manaain 5 3360.00 280.00 408,65
São Benedito 6 3864.00 322.00 117,13
Caioé Grande 10 2739.60 228.30 199,32
As famílias entrevistadas, para obter renda, praticam a atividade extrativista
(castanha, o tucumã e o buriti) em menor escala em relação à agricultura, sendo esta uma
ação alternativa de renda complementar. Isso corrobora com Lazzarini, (2001).
A produção agrícola de maior importância para as famílias entrevistadas é a
mandioca, seguida da banana, melancia e macaxeira. Dados similares foram relatados por
Pereira et al, (2001), destacando a melancia como atividade mais rentável, apesar da
mandioca ser o cultivo mais importante para as famílias.
A agricultura é praticada em sítios arqueológicos, conhecidos como terra preta de
índio, que por ser mais fértil, garante maior produtividade agrícola. Solos mais distantes
42
das margens dos rios, com exceção dos sítios ancestrais, são menos produtivos por serem
pobres em matéria orgânica e nutrientes do que os solos de várzeas (Petrere, 1990). Além
do baixo potencial para agricultura e pecuária, por essas áreas serem banhadas por rios de
água preta, quando são utilizados podem causar danos ecológicos, oferecendo poucas
vantagens agrícolas a longo prazo (Junk, 1993).
As roças do Uatumã são caracterizadas como subsistemas dos sistemas
agroflorestais, onde o plantio de culturas anuais é alternado em uma mesma área. As
capoeiras são vegetações predominantes em período de “pousio”. O uso do fogo é muito
comum na abertura e formação das roças, possibilitando o plantio somente em até dois
ciclos, com maior produção da mandioca no segundo ciclo devido a maior decomposição
de raízes e resíduos com a derrubada, o que possibilita maior disponibilidade de nutrientes,
(Guimarães, 2013).
4.3. Avaliação das regras e instituições locais na gestão e uso dos recursos.
Os indicadores que melhor respondem à questão proposta pelo objetivo (3) são as
normas de apropriação dos recursos, as regras de acesso e as formas de monitoramento de
recursos de uso coletivo, ou seja, o conjunto de incentivos institucionais geridos pelos
próprios moradores locais ou instituições externas para disciplinar o consumo e uso de
recursos em sua localidade. Estes indicadores revelam quais as localidades mais bem
sucedidas em negociar, implementar, monitorar e reforçar esquemas de manejo
participativo.
No caso das localidades estudadas, os principais recursos de uso coletivo que estão
sujeitos ao controle local é o recurso pesqueiro. A pesca e os quelônios representam para a
maioria das localidades ribeirinhas do Rio Uatumã recursos estratégicos para a
sobrevivência das populações locais. A defesa de ambientes pesqueiros e de uso exclusivo
das famílias residentes cria territórios protegidos, onde é possível manterem-se os
incentivos para o manejo participativo de quelônios.
Na RDSU existem regras para pesca esportiva e pesca comercial do peixe gordo, as
regras são elaboradas de forma participativa, discutidas em assembleias e construídas pelas
21 comunidades participantes, com acompanhamento e monitoramento da Secretaria de
Meio Ambiente do Estado (SDS), Associação Agroextrativista das Comunidades da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (AACRSU) conhecida como Associação
43
Mãe, Agentes Ambientais Voluntários (AAV), Instituto de Conservação Sustentabilidade
do Amazonas (IDESAM) e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM).
O período destinado para a pesca esportiva compreende ao período de 15 de agosto a
15 de dezembro de cada ano. Exceto para as pousadas comunitárias, que poderão receber
os turistas o ano inteiro. Toda embarcação deverá ter autorização da Associação Mãe da
RDSU ou realizar parceria com algum morador da RDS do Uatumã e, este ficará
responsável pela conduta da mesma. As embarcações, além de estarem devidamente
legalizadas pela capitania dos portos e sua tripulação, são obrigados pagar uma taxa para a
Associação Mãe ou CEUC. As regras de pesca são intermediadas e publicadas pelo
IPAAM e SDS.
Em algumas áreas a pesca esportiva é proibida, essas localidades recebem uma placa
e/ou bandeiras vermelhas para a sinalização. Nas localidades onde a pesca esportiva e
permitida, as embarcações somente poderão entrar no horário de 05h00minh as
17h00minh, com exceção nas comunidades do N. Sr.ª do livramento e Caioé Grande que o
horário é negociado até as 18:00h (ver regra da pesca esportiva no Anexo II).
Nas regras formais da pesca esportiva, também são incluídas algumas áreas de
tabuleiros/praias de nidificação dos Podocnemididae, nessas áreas a pesca esportiva poderá
acontecer somente até as 16h00minh para deixar a praia livre para a subida das tartarugas.
“Locais de tabuleiros/praia: Bela Vista; Calabar, Cumaitetuba, Maracarana; boca do
Arrozal, Boca do Mutunquara, Ilha do lago do Maracarana)”. Nas regras de pesca
esportiva as comunidades do Maracarana e Bela Vista conseguiram inserir seus complexos
de lagos ou tabuleiros no instrumento de regulamentação e controle de pesca esportiva.
Outra regra formal construída e discutida pelas comunidades é a “regra do peixe
gordo”, a qual exige que as embarcações de pesca comercial ao entrar e sair da RDSU
deverão parar na base de apoio da RDSU, localizada na margem esquerda do rio Uatumã,
nas coordenadas (S 02º 32’ 39,9” W 058º 09’ 39,2”), rio à baixo próximo a comunidade do
Caioé. Na Base, o responsável deverá se identificar aos técnicos do CEUC/SDS para
preencher o cadastro de acompanhamento da atividade de Pesca Comercial na RDSU,
prestando informações do barco e dos locais onde a atividade será ou foi realizada.
O acompanhamento e monitoramento são realizados em conjunto, entre CEUC/SDS
e IDESAM e a fiscalização pelo IPAAM.
44
Para a atividade da pesca do peixe gordo são as comunidades que adquirem seus
próprios quites de pesca (canoa e rede), devendo ser comprovado mediante documentação
registrada em cartório, ou nota fiscal.
Ao avaliar as regras e instituições locais na gestão e uso do recurso quelônio,
percebe-se que as localidades que responderam positivamente ao esquema de manejo
participativo de quelônios, sejam também aquelas que foram mais “bem sucedidas” em
manter normas e regras internas de pesca que regulamentam o uso dos recursos pesqueiros
e que tenham sido capazes de assegurar a exclusividade do uso desses recursos aos grupos
de manejadores residentes. Os resultados evidenciam que esse fato acontece nas
comunidades do Maracarana, Nossa. Sr.ª do Livramento e Bela Vista. Estas tendem a uma
melhor forma de organizarem-se socialmente e desenvolverem práticas coletivas no
manejo de recursos locais.
A Tabela 12 informa sobre os tipos de acordo, os agentes e a intensidade de
exploração de recursos pesqueiros (comercio, pesca esportiva e quelônios).
Tabela 12. Agentes, intensidade de exploração comercial e tipos de acordos com os recursos peixes e
quelônios por intensidade (1 pouco; 2-medio; 3 muito). Legenda: PM= Próprios moradores; MV=
Moradores vizinhos; MC = Moradores da cidade; MM = Moradores de outro município; ME –
Moradores de outro Estado; SEE = soma de exploradores externos. Coleta de dados através de
entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.
Agentes e intensidade Ambientes Tipos de acordo
Comunidades PM MV MC MM ME SEE Aquáticos Verbal Formal
Bela Vista 0 0 3 3 2 8 Terra-firme 1 1
Maracarana 0 1 2 1 1 5 Terra-firme 1 1
N.Srª.do Livramento 1 0 2 3 3 8 Terra-firme 1 1
Manaain 1 3 3 2 1 9 Terra-firme 0 1
São Benedito 1 0 3 3 2 8 Terra-firme 0 1
Caioé Grande 1 1 3 3 3 10 Terra-firme 0 1
De modo geral, na tabela acima percebe-se que o SEE é maior nas comunidades do
Manaain, São Benedito e Maracarana enquanto que as atividades de pesca, sejam elas
comercial ou esportiva estão diretamente ligadas à captura dos quelônios. Na visão de
David McGrath, et al., (1993), a mudança na tecnologia pesqueira combinada com o
aumento na demanda (regional e de exploração) para o pescado amazônico, tem
aumentado substancialmente a pressão sobre o recurso.
As áreas de praia (tabuleiros) e lagos, em que há interdição de acesso para os barcos
de turismo, são sinalizados com bandeiras vermelhas, indicam restrições de acesso no
período da reprodução dos quelônios.
45
No manejo de ambientes aquáticos para a pesca de subsistência o objetivo é manter a
produção da pesca relativamente alta, diminuindo o tempo necessário para suprir as
necessidades da família, e permitindo que o usuário local se dedique as outras atividades
alternativas de geração de renda, como a agricultura (David McGrath et al., 1993). As
famílias para sobreviverem às fases de transição das atividades de pesca comercial,
subsistência, ou esportiva, precisam aumentar sua produtividade na agricultura familiar, uma
vez que a eficiência da agricultura é comparada a pesca. Na RDSU as famílias, normalmente,
superam essa fase de transição e produzem bastante farinha no período em que o pescado fica
escasso (fevereiro a julho).
Em relação ao turismo, os pacotes turísticos são vendidos em Manaus e os turistas
são conduzidos em lanchas luxuosas para atividades da pesca esportiva no rio Uatumã. Há
uma pressão dos empresários do turismo, em pescar em áreas lacustres protegidas, locais
onde as comunidades fazem vigilância e o monitoramento reprodutivo dos quelônios, são
santuários e complexos de lagos, locais preferidos dos pescadores esportistas, amadores e
usuários externos.
Esse modelo de turismo de conservação está sendo organizado por outras
comunidades, e no futuro poderá ser legitimado. Na comunidade do Livramento essa
atividade gera renda para as famílias e proteção do pescado e dos quelônios. Esse lugar tem
uma grande riqueza arqueológica, paisagens edílicas e possuem cerca de trinta praias que
são visitadas pelos quelônios na época da reprodução.
Com toda essa riqueza, controle e iniciativas conservacionistas sendo realizadas
nesse conjunto de lagos, esses lugares são propícios para se implantar um novo modelo de
turismo “turismo de conservação” com a gestão e organização exclusiva das comunidades,
que poderá ser somado com o turismo de base comunitária para conservação dos recursos
locais.
Observou-se que em todas as localidades existe algum tipo de regra de acesso, das
quais as formais foram estabelecida pelos órgãos gestores da RDSU e as informais criadas
pelas próprias comunidades. As comunidades Bela Vista, Maracarana e Livramento
aplicam os dois tipos de regras. Um exemplo de regra informal criada pelas comunidades é
a de proteção das praias, uso dos quelônios e ovos, decidida em reunião comunitária. As de
uso formal são as estabelecidas nas reuniões do conselho do órgão gestor.
46
Os esquemas de manejos foram classificados utilizado as respostas sobre regras de
acesso e normas de apropriação segundo a tipologia de recursos de uso coletivo de Baland
e Platteau, (1997), (Tabela 13).
Tabela 13. Regras de Acesso e Normas de Apropriação. Legenda: Regras de Acesso (Restrito aos
membros autorizados=1, flexível ou de livre acesso=2); Esf. Cap – Esforço de captura (não há
restrições = 0, só para consumo=1, comercialização restrita=2); Tec. Cap – Tecnologia de captura
(há restrições? não=0 e sim=1). Tipo I= regras de acesso flexível e normas de apropriação ausente;
Tipo III = regras de acesso restrito aos membros autorizados e normas de apropriação presente e
Tipo IV= regras de acesso flexível e normas de apropriação presente. Coleta de dados através de
entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.
Local
Regras
de
Acesso
Normas
Apropriação
Esf Cap Tec Cap TIPO Época Captura Área
Bela Vista 1 1 1 III Sazonal Terra-firme
Maracarana 1 1 1 III Sazonal Terra-firme
N.Srª.do
Livramento 1 2 1 III Anual Terra-firme
Manaain 2 0 0 I Sazonal Terra-firme
São Benedito 2 0 0 I Sazonal Terra-firme
Caioé Grande 2 2 1 IV Anual Terra-firme
Comparando-se os resultados por comunidade, observou-se que São Benedito e
Manaain possuem esquema de manejo de pesca flexível e de acesso livre sem normas de
apropriação (Tipo I), o acesso aos recursos por agentes externos pode ser permitido
mediante solicitação e a comercialização é permitida. Isto se configura como um regime de
propriedade de livre acesso.
A comunidade do Caioé Grande que possui normas de apropriação, participa da
pesca do peixe gordo seguindo as normas das regras da RDSU, portanto, se enquadra no
(Tipo IV). As comunidades do Maracarana, N Sr.ª do Livramento e Bela Vista são
comunidades que possuem normas de apropriação presente e o uso do recurso é de
exclusividade dos moradores, ou seja, são comunidades classificadas do (Tipo III),
apresentam maior grau de aceitação e adesão às práticas de manejo e conservação de
quelônios, por apresentarem certa organização interna para gestão dos recursos pesqueiros
e por terem criado suas próprias regras de proteção de praias e manejo dos
Podocnemididae.
A pressão de pesca ou captura de quelônios nos complexos de lagos depende do
conjunto de medidas adotadas pelas comunidades, (David McGrath et al., 1996). Para
Ostrom (1992), à medida que um grupo se comportar mais tipicamente como uma
comunidade, maior será a probabilidade de que ele venha a adotar mudanças nas regras
operacionais do uso do recurso que melhorarem a condição do recurso e o bem-estar da
comunidade.
47
A tabela 14 a seguir trata das fases de monitoramento e reforço das regras de pesca e
acordo de regras verbais na proteção dos quelônios.
Tabela 14. Normas de Monitoramento dos recursos. AAV = agente ambiental voluntário; AP =
Agente de praia; COM = comunidade; (não=0; sim=1) Ag EXT = agentes externos. Coleta de dados
através de entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.
Agentes de monitoramento dos usuários locais Ocorrência
de punições Local AAV AP COM Ag EXT
Bela Vista 0 1 0 0 0
Maracarana 1 1 0 0 1
N.Srª.do Livramento 1 1 0 0 1
Manaaim 0 0 0 0 0
São Benedito 0 0 0 0 0
Caioé Grande 1 1 0 0 0
Em se tratando das normas de monitoramento dos recursos, as comunidades do
Manaain e São Benedito declararam nas entrevistas que não possuem usuários monitorados
por agentes locais. Nos casos em que membros da comunidade participam das ações de
monitoramento, esta tarefa está restrita há pequenos grupos sociais formados de moradores
ou indivíduos identificados como Agentes Ambientais Voluntários (AAV) e Agentes de
Praia (AP). Só houve relato punição de pescadores que violaram regras ou normas da pesca
nas comunidades do Maracarana e Nossa. Sra. do Livramento.
Percebe-se que as comunidades que tiveram pouca participação na atividade de
monitoramento dos quelônios, não fazem o monitoramento das regras de pesca e de outros
recursos. Assim, não havendo proteção e monitoramento dos recursos nessas localidades,
pode-se dizer que as regras não são efetivas. Segundo Ostrom, (1990) os usuários dos
recursos que atendem os três primeiros princípios de desenhos institucionais de uso dos
recursos, como, limites claramente definidos, regras adequadas e participação dos usuários
em eleições e deliberações coletivas, deveriam construir boas regras para o uso do recurso
sem custos elevados de implantação.
Nas comunidades do Maracarana e Nossa Sr.ª do Livramento, as formas de
monitoramento são patrocinadas pelos esforços próprios dos moradores locais e
instituições parceiras, e coincidentemente, houve punição independentemente da ajuda
externa de outros órgãos ou agentes reguladores.
As comunidades do Maracarana, N. Sra. do Livramento e Bela Vista apresentaram
maior índice médio da soma desses resultados nos indicativos de participação, portanto,
essas três comunidades apresentam maiores evidencias participativas (Tabela 18 em
48
anexo), se mostraram mais envolvidas e mais organizadas para os trabalhos de proteção e
conservação dos recursos, (Tabela 15).
Tabela 15. Índices relativos a participação. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU em
fevereiro de 2015.
Localidade
Participação
em Reuniões
Trabalhos
Coletivos
Soma
Total
Bela Vista 0.50 0.43 0.93
Maracarana 0.71 0.66 1.37
N.Srª.do Livramento 0.66 0.83 1.49
Manaain 0.40 0.40 0.80
São Benedito 0.33 0.50 0.83
Caioé Grande 0.60 0.40 1.00
Os trabalhos coletivos envolvem ações planejadas e organizadas, sendo um atributo
das comunidades que possuem maior participação no manejo de quelônios. Há exemplos
como; ajuri ou puxirum, outros trabalhos da comunidade ou Associação que caracterizam
essa prática. O item que se refere à participação em reuniões envolvem aos cultos
religiosos, às reuniões da Associação mãe da RDSU (AACRU) e reuniões para
planejamento de ações ligadas a jogos esportivos, festas religiosas das festividades da
comum idade, reuniões para pagar a associação e programas sociais comunitários. Os
índices foram calculados baseados nas respostas positivas dos entrevistados, referente à
participação em reuniões e formas de trabalho coletivo, o somatório dos entrevistados foi
dividido pelo número de famílias entrevistadas nas localidades.
O manejo local participativo representa uma alternativa ao modelo convencional
baseado no “sequestro social” de grandes territórios para o estabelecimento de unidades de
conservação geridos exclusivamente pelo poder público. Iniciativas de gestão local de
recursos buscam integrar e potencializar ações que objetivem a conservação da natureza e
o desenvolvimento social das populações simultaneamente (PEREIRA, 2002).
Os moradores das comunidades do Maracarana e N. Sr.ª do Livramento percebem a
noção distinta do território que lhes” pertence”, fato citado por David McGrath et al.,
(1993), como fundamental para o estabelecimento de manejo de áreas de uso comum.
Embora as comunidades da RDSU não tenham títulos definitivos, possuem a concessão do
direito real de uso (CDRU) que lhes garante o usufruto da terra.
As comunidades N. Sr.ª do Livramento, Maracarana e Bela Vista são as detentoras
de localidades com maior número de ambientes lacustres, praias ou tabuleiros, e
consequentemente possuem mais disponibilidade de recursos extrativos (peixes e
quelônios), além de outros serviços que geram rendas, como, o turismo e a agricultura
49
familiar. São áreas extensas com a quantidade de praias monitoradas que variam de 6 a 31
praias ou mini tabuleiros e, possuem o maior contingente de monitores agentes de praia
comunitários, (Figura 15).
São ambientes muito requisitados pelos empresários do turismo e programas ou
instituições de iniciativas conservacionistas e de manejo (PQU, PROBUC e IDESAM), são
áreas visadas e pressionadas por usuários externos, que são ex-moradores da RDSU,
moradores das cidades de São Sebastião do Uatumã, Itapiranga, Presidente Figueiredo (
Vila de Balbina e PDS-Morena), que pressionam essas localidades tanto para formação de
assentamentos comunitários como para o uso dos recursos que são exclusividade dessas
localidades.
Essas três comunidades por ser mais requisitada para serviços e atividades
relacionadas a gestão da RDSU e por participarem com mais frequência das lutas políticas
da RDSU, possuem representantes no conselho deliberativo da reserva e lideranças, como,
a presidente e o vice-presidente da Associação Agroextrativista das Comunidades da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (AACRDRU).
Tendem ser comunidades mais organizadas por receberem mais benefícios e
incentivos tanto do órgão gestor da RDSU como de outras instituições, principalmente nas
atividades do manejo e conservação dos Podocnemididae, apresentando a maior frequência
de participação anual de (16, 16 e 8) respectivamente, (Figura 15). Os resultados
apresentados por estas comunidades confirmam com o que cita Ostrom (1990) e Pereira
Figura 15. Participação comunitária no PQU, número de lagos, praias e agentes de praia.
Legenda: Comunidades: CG – Caioé Grande; MA-Manaain; SB-São Benedito; NL- Nossa
senhora do Livramento; MR-Maracarana e BL-Bela Vista. Dados coletados através de
entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU, fevereiro de 2015.
16 16
8
3 3 2
31
6 6
2 2 2 4 5
8
1 1 2 4 5
2 2 3 1
0
5
10
15
20
25
30
35
NL MR BL MA CG SBComunidades
Tempo de participação no
PQA/ano
Nº de praias ou tabuleiros
50
(2000), comunidades que se enquadram nessas características (maior grau de participação e
organização) tem maiores probabilidades para um resultado satisfatório.
A figura 16 mostra que a conservação e manejo dos Podocnemididae ou bichos de
cascos como são conhecidos pelos comunitários, está diretamente relacionada aos
incentivos recebidos pelos programas de conservação e instituições do governo, como o
programa “Quelônio do Uatumã”, CEUC/PROBUC e prefeituras. Os principais
investimentos do (PQU) na atividade, são, (gasolina, pagamento de agentes de defesa
ambiental e serviços e materiais para o evento de soltura dos filhotes), os eventos de
soltura são revezados somente duas localidades, Maracarana e N. Sr.ª. do Livramento.
As comunidades que são mais beneficiadas com os incentivos financeiros do PQU
são as comunidades N. Sr.ª. do Livramento e Maracarana. Atuam 16 anos no
monitoramento dos quelônios e recebem incentivos anuais em combustível (gasolina),
pagamento de um agente de defesa ambiental comunitário e, serviços e materiais para a
soltura dos filhotes. Vale ressaltar que os agentes de defesa pagos pelo PQU cuidam
também dos equipamentos e infraestrutura do programa na RDSU (flutuante e barco). As
outras comunidades não possuem agentes de defesa ambiental pagos pelo PQU e nem
recebem, ou receberam incentivos para serviços, e nunca promoveram a soltura dos
filhotes de quelônios, portanto, recebem menos incentivos.
Um agente de defesa ambiental que recebe um salário todo ano,
matou um pirarucu de filho, se é um agente de praia ou agente
Figura 16. Esforço do monitoramento x incentivos por comunidade, CPPQA/PQU. Legenda:
Comunidades: CG – Caioé Grande; MA-Mannain; SB-São Benedito; NL- Nossa Senhora do
Livramento; MR-Maracarana e BV-Bela Vista. AGDA – Agentes de Defesa Ambiental. Dados
coletados através de entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU, fevereiro de 2015.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0,00
1000,00
2000,00
3000,00
4000,00
5000,00
6000,00
7000,00
8000,00
9000,00
10000,00
NL MR BV CG MA SB
Gasolina/ano (R$) 2130,00 639,00 1278,00 639,00 2130,00 426,00
Evento de Soltura/ano (R$) 2900,00 2900,00 0 0 0 0
Salario AGDA/ano (R$) 9456,00 9456,00 0 0 0 0
Esforço mon/homem/ano 344 340 152 135 114 65
dias/trab/homem/ano 86 68 76 47 57 65
Esf
orç
o/M
on
itora
men
toan
o
Ince
nti
vos
fin
ance
iros
no
mon
itora
men
to (
R$
)
51
ambiental, tem que dá bom exemplo, tem mudar de atitude, se não
nunca vai ser respeitado (morador do Maracarana, 62).
As demais localidades só receberam ajuda de combustível “gasolina” para realizar o
monitoramento. Em relação ao esforço, as localidades que possuem maior esforço no
monitoramento/homem/ano na busca de ninhos são as comunidades N. Sr.ª. do Livramento
e Maracarana. No monitoramento dia/ano por unidade de esforço as localidades N. Sr.ª do
Livramento e Bela Vista apresentam maior esforço no monitoramento dos ninhos dos
quelônios. As praias são em maior quantidade e mais distantes, ficando distante do
domicílios dos agentes de praia.
As comunidades N. Sr.ª do Livramento, Maracarana e Bela Vista, além de
apresentarem maior esforço no monitoramento, são as comunidades que apresentam maior
frequência participativa no PQU, possuem mais monitores “agentes de praia” e
monitoraram mais ninhos e filhotes (tabela 20) em anexo.
No ano de 2014 foram monitoramento 13285 ovo de Podocnemididae nas
comunidades do Maracarana e Livramento. Os gastos com o monitoramento, considerando
as variáveis (gasolina + salário de agente ambiental + evento de soltura dos filhotes)
totalizaram R$ 27481,00, transformando em dólar (cotação de dezembro de 2015,
R$3.78/US$1,00) os gastos ficam em torno de US$7.270,10. Para cada ovo monitorado
foram gastos US$ 0,55 centavos de dólar.
Na estação reprodutiva de 2014 das comunidades Maracarana e Livramento da RDS
Uatumã, foram monitorados 13285 ovos de Podocnemididae dos quais foram soltos 8635
filhotes em fevereiro de 2015. Os gastos com o monitoramento, considerando as variáveis
(gasolina + salário de agente ambiental + evento de soltura dos filhotes) totalizaram R$
27481,00 o equivalente a US$7270,10 (cotação do dólar em dezembro de 2015 a R$ 3,78).
Comparando com a metodologia (US$7270,10 dólar / 13285 ovos = US$0,55)
utilizada por Caputo (2005), para cada ovo conservado nas comunidades do Maracarana e
Jaraoacá foi gasto US$ 0,55 centavos de dólar. Valor este quase insignificativo para a
empresa financiadora que é a Eletrobras Amazonas Energia.
Para classificar a participação da população local por comunidades no programa
PQU, baseou-se nos níveis e tipologias de participação propostos por Pinbert e Pretty
(2000).
52
Tabela 16. Classificação dos componentes em nível de participação, segundo (Pimbert e Pretty,
2000). Dados coletados através de entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU, fevereiro de 2015.
De o acordo com a tabela 16, as comunidades do Manaain, São Benedito e Caioé
Grande, são as que apresentaram participação parcial no PQU, ou seja, não tiveram
participação em todos os anos de monitoramento. Estas comunidades receberam ajuda com
materiais (combustível, caixa de isopor, baterias para lanternas e camiseta) e, foram
beneficiadas com a proteção das praias e lagos, sendo, por tanto, caracterizadas no nível
quatro de participação que corresponde à tipologia “por incentivos materiais”. Esta
classificação é o nível abaixo em relação às comunidades do Maracarana, N. Sr.ª do
Livramento e Bela Vista que se enquadram no nível cinco, tipologia participativa
“funcional” essas comunidades apresentam iniciativas e buscam outras formas de fonte de
renda paralelas, tendem ser dependentes dos incentivos externos, mas podem se tornar
independentes.
Para atingir níveis mais elevados de participação e se tornar um programa com
participação efetiva. Segundo Pimbert e Pretty (2000) existem várias formas de
participação das comunidades locais, acompanhadas com variação no grau de sua
incorporação. É importante definir-se o grau de participação dos comunitários por
comunidade no programa no programa PQU, pois o conceito pode levar a ilusão de que as
comunidades estão participando efetivamente nas tomadas de decisões, quando na verdade
apenas são consultadas.
A preocupação com a participação está associada com o empoderamento das
comunidades como parceiras no processo de gestão das áreas protegidas. O manejo
comunitário dos recursos naturais nas unidades de conservação (UC) no Brasil prima pelo
empoderamento das comunidades na gestão dos recursos naturais. Mas há muita
Níveis Tipologia de
participação
Participação das populações locais
por comunidade no PQU
1 Passiva
2 Como extração de
informação
3 Por consulta
4
Por incentivos
materiais
Manaain, São Benedito e Caioé Grande
5
Funcional
Maracarana, N. Sr.ª. do Livramento e
Bela Vista
6 Interativa
7 Automobilização
53
interferência do governo nas tomadas de decisões, igual em alguns países como
Moçambique na África que o Estado apenas desempenha o papel de regulador/ ou
mediador, mas na pratica há intervenções diretas do governo (Matos et al., 2011).
Losekann, (2012) sugere pensar as práticas participativas a partir do conceito de
“Instituições participantes”, o qual é entendido como “formas diferenciadas de
incorporação de cidadãos e associações da sociedade civil na deliberação sobre política”,
diferenciando das “instituições políticas” que estão restrita a regras formais e legalidade
constituída. Contudo, a sociedade civil no campo ambiental tem um grau de organização
necessário para perceber e usar os mecanismos institucionais disponíveis nas suas lutas por
uma política ambiental orientada, quando associada a gestão da UC ganha mais força.
4.3.1 - Atores sociais e grupos de interesse no manejo de quelônios na RDSU.
As instituições declaradas nas entrevistas pelas famílias que atuam na RDSU, e que
possuem maior grau de aproximação com as comunidades foram no total de 8 (oito).
As prefeituras apresentam maior grau de influência nas comunidades, vários
comunitários são funcionários da prefeitura ou tem uma relação de aproximação.
A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) atua na RDSU levando alternativas
econômicas para as famílias, além de coordenar o programa bolsa floresta do governo.
|A Associação Agroextrativista das Comunidades da RDS Uatumã (AACRDSU) atua
na tomada de decisões representando as comunidades.
O Centro Estadual de Unidade de Conservação (CEUC) é o órgão gestor da RDS
Uatumã.
Instituto de Conservação e de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas
(IDESAM) atuou na cogestão da RDSU e na elaboração do plano de Manejo da RDSU,
além conduzir programas de alternativa de renda para as comunidades.
O Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) atuou no
apoio dos levantamentos biológicos e socioeconômicos para criação da RDSU na década
de 1990 e 2000 e criou o programa Quelônios do Uatumã (PQU), que coordena as
atividades de conservação e manejo de Podocnemididae na RDS Uatumã.
As instituições comunitárias que mais se destacaram e foram mais citadas nas
entrevistas, foram as Associações da Comunidade do Maracarana (ACM) e Associação das
Pousadas de Turismo Comunitárias (APTC), (figura 15).
54
Tabela 17. Instituições de maior importância para as famílias entrevistadas, indicado pelo
número de vezes que o ator social foi citado como importante. Coleta de dados através de
entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.
Os grupos de interesses de atores sociais encontrados no manejo e conservação dos
Podocnemididae foram classificados em 6 (seis) grupos, que refletem interesses positivos e
negativos, baseado na metodologia proposta por Le Tissier et al., (2011). Diferenciado na
coleta de dados que foi realizada através de entrevistas e não em oficinas interativas e
participativa.
Tabela 18. Grupos de interesse no manejo comunitário de Podocnemididae nas comunidades
ribeirinhas da RDS Uatumã. Fonte: Relatórios técnicos do PQU e entrevistas in loco, fevereiro de
2015.
Atores sociais Grau de
importância
PREFEITURAS 34
FAS 18
AACRDSU 14
CEUC 11
IDESAM 9
CPPQA 7
ACM 4
APTC 3
Grupo de
interesse
Interesse no
Manejo e conservação de
Podocnemididae
+ve/-ve
I
Governo,
Organização da
sociedade civil de
interesse público
(OSCIP) e
Empresas publicas
Conservar os Podocnemididae;
Associar e elevar a imagem da
instituição;
Atender protocolos e metas
institucionais;
Atender as Leis de
responsabilidades
socioambientais;
+
-
-
-
II
Comunitários
Garantir o recurso para
alimento;
Proteger lagos e complexo de
lagos;
Receber incentivos financeiros
e materiais
+
+
-
III
Empresários
(turismo)
Manter lagos e as áreas de
desova conservados;
Usar ambientes lacustres o
recurso “peixe”;
+
-
IV
Usuários externos Uso e comércio dos
Podocnemididae;
-
55
Os grupos de interesse são constituídos de 29 atores sociais. Foram classificados em
grau de importância e influencia no manejo e conservação dos Podocnemididae. A
influência representa o poder das partes interessadas em dificultar ou facilitar o manejo, e a
importância representa a satisfação das necessidades e interesse de cada parte interessada,
1 = pouca importância ou influência, a 6 = muita importância ou influência (Martin Le
Tissier et al, 2011).
Tabela 19. Tipologia dos grupos de interesse no manejo comunitário de Podocnemididae nas
comunidades ribeirinhas da RDS Uatumã. Fonte: Base dados do programa PQU, Relatórios técnicos
do CPPQA e entrevistas in loco. Dados coletados através de entrevistas, fevereiro de 2015.
Grupo de interesse Atores sociais Importância Influência
I
Governo, OSCIP
e Empresas
publicas
Eletrobras Amazonas Energia/CPPQA/PQU,
IPAAM, SDS/CEUC/PROBUC, Prefeituras
(Itapiranga, São Sebastião do Uatumã e Presidente
Figueiredo), Secretarias de Meio Ambiente
(SEMAS), Hidrelétrica de Balbina, Instituto de
Conservação Sustentabilidade do Amazonas
(IDESAM).
3
6
II
Comunitários
Agentes Ambientais Voluntários (AAVs),
coordenador de campo local, Agentes de Praia
(AGP), comunitários colaboradores, colaborador
eventual, professores, alunos, Associações
comunitárias,
Associação Agroextrativista das Comunidades da
RDSU (AACRU).
6
4
III
Empresários
(turismo)
Empresários de turismo, Donos de Pousadas de
Turismo comunitário (APTC)
1
5
IV
Usuários externos
Moradores das cidades (Itapiranga, São Sebastião
do Uatumã, Presidente Figueiredo), Outras
municípios, Vila de Balbina e PDS Morena.
5
2
V
Mercado
(peixe gordo)
Colônia de Pesca (Itapiranga e São Sebastião),
pescadores profissionais e pescadores do peixe
gordo
4
1
VI
Igrejas
Igrejas católicas, Igreja assembleia de Deus, Igreja
Adventista e líderes religiosos.
2
3
O grau de importância e influencia foram determinados por variáveis qualitativas.
Importância (o valor que o recurso representa pra a instituição), a influência (poder da
instituição em dificultar ou facilitar o manejo) dos Podocnemididae.
V
Mercado
(peixe gordo)
Proteção dos lagos e áreas de
desova;
Comércio de quelônios
+
-
VI
Igrejas
Proteção dos lagos e áreas de
desova;
Incentivos ao consumo e
comercio;
+
-
56
Os grupos de interesse foram agrupados em grau de influência (quanto maior o
círculo o grupo e mais influente) e afinidade com representação dos círculos entrelaçados,
Figura 18 e Tabela 19, adaptados de Gimble et al. (1995) e Le Tissier et al. (2011).
Figura 18. Os grupos de interesse em grau de influência e alianças. Dados coletados através
entrevistas e visita in loco, realizadas nas comunidades, na RDSU em fevereiro de 2015.
O grupo do Governo, OSCIP e Empresas públicas (I), exerce maior poder no sistema
de conservação e manejo de Podocnemididae com (7/25%) dos atores sociais aglutinados
ao grupo; Empresários do turismo (III) com (2/6%); Comunitários (II) com (9/31%);
Igrejas (VI) com (4/13%); Usuários externos com (IV) com (4/13%) dos atores sociais e o
Mercado do peixe gordo (V) com (4/12%).
Apesar do grupo II está na terceira posição em ordem de influência, Figura 39, ele se
apresenta com maior número de atores sociais, e possui uma influência direta na gestão
local do uso dos recursos, só perdendo para os grupos I e III. O grupo II é formado por
comunitários organizados para o trabalho de conservação e de manejo dos
Podocnemididae, compreende ao grupo de lideranças da comunidade com atividades e
cargos variados (agentes ambientais voluntários, agente de praia, professores, presidente da
comunidade e presidente da associação). Esses atores apresentam relação de afinidade e
aproximação com instituições externas e com as instituições de maior influência nos
municípios, que são as prefeituras.
Dentre os grupos de interesse, os principais grupos sociais que tomam decisões e
direcionam a tomada de decisão são o grupo (I) do Governo, OSCIP e empresas públicas,
são patrocinadores, gestores e apropriadores das ações de manejo e conservação de
Podocnemididae.
II
Comunitarios
I
Governo, OCIPs e Empresas publicas
V
Mercado
(peixe gordo
III
Empresários (turismo)
IV
Usuários externos
VI
Igrejas
57
O grupo (III) Empresário do turismo exerce certa influência porque propicia geração
de emprego aos comunitários e familiares, pois fornece ajuda financeiras as comunidades
(sextas básicas, brinquedos para crianças e ajuda em estrutura física comunitária) e
exercem também influência nas atividades de pesca esportiva.
O grupo (II) composto por comunitários são os condutores da operacionalização das
atividades, atuam diretamente na comunidade e, aparecem em todas as etapas do manejo e
conservação dos Podocnemididae, desde o planejamento até a soltura dos filhotes.
Destaca-se ainda, o PQU e comunidades por serem as instituições executoras e
coordenadoras de todo o processo, e o CEUC por ser a instituição licenciadora,
controladora e gestora da área protegida. Para que haja perspectivas futuras para modelo
da gestão participativa local na direção do estabelecimento de formas de gestão, torna-se
indispensável uma melhor compreensão das complexidades sociais e ambientais nas quais
atuam os diversos atores sociais que interagem nas ações de conservação, (Pereira, 2002).
Nas etapas de planejamento, nas oficinas de aprimoramento, no monitoramento e
coleta de ninhos (covas), destacam-se os atores sociais do grupo (II) comunitário, (agentes
de praia, associações comunitárias e agentes ambientais voluntários) pela participação e
interesse.
No grupo (I) a empresa Eletrobras/CPPQA/PQU, CEUC/PROBUC e o IPAAM, por
serem as instituições promotoras das oficinas de formação para agentes de praia
comunitários e pelo apoio na proteção e fiscalização. As prefeituras de Itapiranga e São
Sebastião do Uatumã no apoio logístico e financeiro.
O grupo (III) exerce sua influência na etapa do monitoramento dos ninhos, nos
complexos de lagos e nas atividades de pesca esportiva.
Na etapa de acompanhamento dos filhotes nos berçários, destacam-se os grupos II e I
(agentes de praia e técnicos do PQU).
Na soltura dos filhotes de quelônios, todos os seis grupos de interesse participam do
evento e exercem sua influência e política. É o momento de confraternização dos atores
sociais que participam de todo processo de conservação e manejo.
O grupo (VI) expressa influencia relacionada ao discurso religioso no uso dos
recursos.
Os atores sociais do grupo (IV) são os mais discriminados e temidos, por serem
moradores externos, são tratados como invasores, não tem vínculo direto com a gestão da
UC e são usuários potenciais do recurso Podocnemididae, tanto para o consumo, como
58
para o comércio, já o grupo (V) são os que menos influenciam nas atividades de manejo e
conservação dos quelônios, por terem sua atividade de renda direcionada para a pesca do
peixe gordo, no período em que o nível do rio Uatumã está cheio (março a junho).
Os grupos de interesse no manejo dos Podocnemididae.
O interesse comum dos grupos de interesse, declarado pelos chefes de família
entrevistados nas comunidades, foi à conservação da fauna aquática “quelônios”.
O grupo (I) governo, OSCIP e empresas públicas, tem interesse no financiamento do
programa (PQU) com envolvimento comunitário, porque atende as Leis de
Responsabilidade Socioambiental, e também, é uma condicionante ambiental para o
funcionamento da UHE Balbina no caso da Eletrobrás Amazonas Energia. O centro de
Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) e o programa “Quelônios do
Uatumã” são financiados pelo Ministério de Minas Energia através da Eletrobras
Amazonas Energia. A Eletrobras é a instituição executora do programa “Quelônios do
Uatumã” através do CPPQA, que atua em parceria com as comunidades da RDS Uatumã.
O Governo do Estado do Amazonas através das Secretarias Estaduais de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS/CEUC/PROBUC) tem interesse na
formulação de politicas públicas, em ajudar nas oficinas e treinamentos para agentes de
praia comunitários, formar rede de trabalhos com conservação de quelônios
interinstitucional, coordenar o monitoramento da biodiversidade através do Programa de
Monitoramento da Biodiversidade (PROBUC).
O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) tem interesse na
fiscalização. As prefeituras exercem grande influência nos atores sociais com exceção no
Governo, OSCIP e Empresas públicas.
As prefeituras mais atuantes nas atividades de manejo de Podocnemididae são as
prefeituras de São Sebastião do Uatumã, com jurisdição das comunidades N. Sr.ª. do
Livramento, Maracarana e Bela Vista. Mas as comunidades do Maracarana e Bela Vista
foram adotadas e recebem benefícios da prefeitura de Presidente Figueiredo, que ajuda no
trabalho com empréstimo de embarcações nas atividades de soltura dos filhotes e na
condução de convidados no traslado cidade comunidades.
As demais comunidades Caioé Grande, Manaain e São Benedito estão localizadas no
município de Itapiranga, que também ajuda com apoio financeiro nos preparativos para a
festividade da soltura dos filhotes. Atuam também na divulgação das ações de manejo, as
59
Secretarias de Meio Ambiente (SEMAS) municipais que também fornecem apoios
eventuais e logísticos para as comunidades.
O grupo (III) representado por empresários do turismo tem interesse na exploração
da pesca esportiva do tucunaré (Clica sp.), proteção dos ambientes de pesca que estão
incluídos os complexos de lagos, incentivo ao turismo conservacionista e, geração de
emprego e renda para moradores locais e externos.
Os comunitários que pertencem ao grupo (II) tem interesse no aprendizado e difusão
do conhecimento no manejo dos Podocnemididae, em receber financiamento para
execução das ações de manejo e conservação, fortalecimento da Associação
Agroextrativista das Comunidades da RDSU (AACRDU). São responsáveis pela
operacionalização do manejo dos Podonemididae, realizam troca e difusão do
conhecimento com outras instituições, lutam pela garantia dos recursos “quelônios” e ovos,
como alimento e renda para a melhoria na qualidade de vida de suas famílias.
São responsáveis pela organização das festividades de soltura dos filhotes, assim
como, na proteção dos complexos de lagos, onde realizam o monitoramento reprodutivo
dos Podocnemididae. Os atores sociais comunitários que participam diretamente na
atividade de manejo e conservação, constituídas pelas comunidades ribeirinhas, tem
interesse na condução do trabalho em todas as suas fases (planejamento participativo,
oficinas de aprimoramento, monitoramento dos ninhos (covas), nascimento dos filhotes,
manutenção em berçários e soltura dos filhotes).
As Igrejas que correspondem ao grupo (VI) têm interesses distintos, a igreja católica
e batista tem interesse na educação ambiental e contribuição na fase de soltura dos filhotes
de Podocnemididae, já a Igreja evangélica tem influência direta no uso do recurso.
Acredita na ideologia de que “O que Deus criou nunca caba”.
“O grupo (V) mostrou interesse no comércio do pescado e no uso do recurso
quelônio” e outros recursos da fauna. Os moradores externos ou grupo (IV) exercem
pressão nos recurso “quelônios” e ovos para o consumo e o comércio nas cidades de
Itapiranga, São Sebastião do Uatumã, Presidente Figueiredo, Vila de Balbina e PDS
Morena, São muitas canoas tipo “rabeta” usadas no transporte e, cada canoa carrega duas
ou mais caixas de isopor para armazenamento do pescado, ovos, quelônios e outros
animais da fauna silvestre abatidos (observação a campo).
Os grupos de interesse em ordem de importância no manejo e conservação de
Podocnemididae, Tabela 19.
60
Os Podocnemididae são recursos de grande importância para s famílias da RDSU,
principalmente o tracajá (Podocnemis unifilis) e ovos, que na pesquisa foi declaro a espécie
mais consumida pelas famílias entrevistadas, portanto, os quelônios para o grupos (II), (IV)
e (V) respectivamente, representa um recurso de maior grau de importância em relação
outros grupos de interesse. Para os demais grupos (I), (III) e (V) o recurso “quelônio” é
importante para os fins de conservação e manejo, com exceção de algumas religiões que
incentivam o consumo.
Identificação dos conflitos entre os grupos de interesse
Para realizar o trabalho de conservação e manejo de Podocnemididae há necessidade
do envolvimento de diferentes atores sociais com interesse distintos, o que causa os
conflitos entre os grupos. Nas comunidades estudadas, os conflitos são bem evidentes,
serão apresentados considerando os motivos dos conflitos:
Disputa 1: comunidades x moradores externos, entre os grupos (II) e (VI), há relatos
das famílias entrevistadas e percepção de moradores da RDSU que houve um aumento na
intensidade do uso dos recursos peixe, quelônios e mamíferos silvestres por moradores
externos, gerando um conflito entre as comunidades que protegem e participam do trabalho
de conservação e moradores externos das cidades de Itapiranga, São Sebastião do Uatumã,
Vila de Balbina, Presidente Figueiredo e assentamento do INCRA- PDS Morena. Os
agentes de praia e agentes ambientais voluntários sentem-se fragilizados e sem amparo
institucional, algumas comunidades ainda acham que o papel de proteção não é só delas e,
do IPAAM também. Há certa resistência em se organizarem para proteção dessas áreas de
uso coletivo.
“No barco da feira foi pego dois sacos com 80 tracajás e um corote
plástico até o tucupi de ovo de tartaruga e tracajá com cerca de 500
ovos” (Fonte: morador da comunidade São Benedito, 48).
Disputa 2: Prefeituras x Eletrobrás na divulgação do programa “Quelônios do
Uatumã”. Esse conflito surge na etapa de soltura dos filhotes, na divulgação do evento em
revistas e reportagens. A prefeitura reclama que a empresa não divulga o seu nome e a
parceria com o PQU, pressionam os comunitários retirando os benefícios e apoio.
“Filhotes de quelônios são soltos no rio Uatumã no Amazonas. Esta
é a 13ª soltura dos animais promovida pela Eletrobras. Os
quelônios recebem cuidados dos próprios ribeirinhos. O projeto
Quelônios do Uatumã vai soltar 17.848 filhotes de tartaruga-da-
amazônia, de iaçá, de tracajá e de irapuça no rio Uatumã” (Fonte:
Acritica.com, Amazônia Em Destaque, Manaus, 10 de março de
2011).
61
Dano Ambiental 3: Comunidades x Mineradoras e Hidrelétricas, na década de 1990
as comunidades da RDSU lutaram contra a extração de seixo e hoje estão se mobilizando
para impedir a exploração de calcário no complexo de lagos do rio Abacate. Além de ser
uma ameaça às áreas de vida dos Podocnemididae, também é uma ameaça à sobrevivência
das famílias residentes nessas localidades. A hidrelétrica de Balbina até hoje é lembrada
em reuniões do conselho deliberativo e reuniões das comunidades pelo impacto que causou
no rio Uatumã. As comunidades reclamam de doenças como diarreia e culpam a empresa
pela água contaminada proveniente do lago represado. Lembram-se da morte de peixes
quando represaram o rio Uatumã, e relatam que os poços que foram construídos pela
empresa nenhum prestaram, contudo, temem a fixação de mineradoras em suas
localidades. Nesse período foram distribuídas para a população ribeirinha, salgadeiras
solares, para que se fizesse a conservação do pescado retido no leito seco do rio. O
abastecimento de água potável era realizado por caminhões pipa às 91 famílias residentes
rio acima, no trecho compreendido cachoeira da Morena e UHE Balbina, (Lazzarini,
2001).
A influência do barramento dos rios nas populações de quelônios está relacionada
com o fato de estes animais realizarem migrações sazonais, em função das áreas de
alimentação e, dependerem diretamente dos ambientes terrestres adjacentes para realizarem
suas desovas (Pezzuti et al., 2008). Assim sendo não há necessidade que ocorra a
destruição de um habitat inteiro de uma área para causar o declínio de uma população de
quelônios (Novelle, 2007). Logo a redução do sucesso reprodutivo através da eliminação
dos habitats dos ninhos pode diminuir rapidamente o tamanho da população e alterar a
estrutura demográfica, sendo a destruição de praias de desova um exemplo desta ameaça
(Mitchell e Klemens, 2000).
62
Figura 19. Regiões com autorização para pesquisa e exploração mineral, Itautinga Agro Industrial.
Fonte: Plano de Gestão da RSU (IDESAM, 2008).
Posse 4: Antigo dono de terra x comunitário, os complexos de lagos do Jaraoacá e
Calabar, localizado nas comunidades N. Sr.ª do Livramento e Bela Vista, antes da criação
da RDSU em 2004 eram terras particulares, anualmente aparecem pessoas que se dizem
antigos donos, impedem os comunitários de usar os recursos extrativistas, se dizem donos
e proprietário das terras. Depois que suas terras passaram a pertencer ao Estado com a
criação da RDSU, reclamam que o Governo nunca procurou para indenizá-los, contudo,
entram em conflitos eventualmente com os comunitários.
Os conflitos na conservação e manejo de Podocnemididae na RDSU estão
relacionados ao uso do solo, para garantir o acesso aos recursos, que são à base da
economia familiar, (McGrat, 1996). Caracterizando conflitos socioambientais, por designar
as relações sociais de disputa/tensão entre diferentes grupos de interesses pela apropriação
e gestão do patrimônio natural. Essas situações de litigio, vigentes nos níveis material e
simbólico, podem ou não assumir a forma de um embate mais direto.
Figura 20. Representação gráfica dos conflitos entre os grupos de interesses na
conservação e manejo comunitário de quelônios na RDS Uatumã. Dados coletados
na RDSU, entrevistas moradores, fevereiro de 2015.
Um dos maiores desafios que enfrentado pelos gestores de Unidades de Conservação
consiste na transformação de litígios em oportunidades de aprendizagem voltadas para a
cooperação. (Vivacqua et al., 2005). Vale ressaltar que os conflitos existem, e com o
conhecimento de que eles existem é preciso evidenciá-los, encará-los e, mais que isso,
buscar táticas para superá-los. O escamoteio dessas evidencias somente mascara a difícil
Conservação e manejo comunitário de
Podocnemididae
Tecnicos do PQU
e comunitários
Eletrobrás/CPPQA/
PQU
Antigos donos
de terras.
Moradores
extrnos Comunidade
local
Prefeitura
Locais
Dano AmbientalDisputa
Posse
Disputa
Comunidade
locais
Moradores
das cidades e PDS.
Mineradoras
Comunida
de locais
63
situação dos grupos sociais e contribui mais ainda para degradação dos ecossistemas,
(Michelle, et al., 2012).
5. CONCLUSÃO
Foram dezesseis anos de monitoramento reprodutivo dos Podocnemididae pelo PQU
e comunidades, registrando ocorrências de (5.156, 818, 541, e 259) ninhos e (63.918,
50.706, 4.047 e 1349) filhotes de P. unifilis, P. expansa, P. sextuberculata e P.
erythrocephala respectivamente. Com maiores densidades nas comunidades do
Maracarana, N. Sr.ª do Livramento e Bela Vista em relação às outras localidades.
Apesar de dezesseis anos de monitoramento dos Podocnemididae, há dados referente
a todas as espécies apenas nos últimos dez anos. As quatro espécies de Podocnemidae só
ocorrem nas comunidades do Caioé Grande e N. Sr.ª do Livramento.
Em apenas uma das seis comunidades (N. Sr.ª do Livramento) são protegidos 73%
dos ninhos de P. expansa e 63% das praias ou tabuleiros encontram-se em seu território.
Os usuários e manejadores do recurso Podocnemididae, constituem-se de famílias
jovens que migraram em sua maioria de outros municípios do Estado do Amazonas.
Portanto, fixam moradias temporárias com alto índice de mobilidade, dificultando a
efetividade das regras de uso dos recursos. Fato constatado nas comunidades do Manaain e
São Benedito.
A principal atividade de renda é a agricultura, com destaque para os benefícios
sociais. A mobilidade das famílias para as cidades de Itapiranga, São Sebastião do Uatumã
e Presidente Figueiredo é evidente, pois essa e uma estratégia para não perderem os
incentivos do governo (bolsa família). Isso ocorre devido à falta de escola de ensino médio
na RDSU, pois se os filhos não estiverem na escola, os benefícios das “bolsas” são
canceladas pelo governo. Esse fato é evidente nas comunidades do São Benedito e
Manaain.
As decisões sobre o manejo de Podocnemididae são tomadas por um único grupo de
interesses (I Governo, OSCIP e Empresas públicas), que é externo, mais influente.
Os principais incentivos recebidos pelos programas de conservação e instituições do
governo são: gasolina, pagamento de agentes de defesa ambiental e serviços e materiais
para o evento de soltura dos filhotes.
As comunidades do Maracarana, N. Sr.ª do Livramento e Bela Vista tendem a ter
mais interesse pelo monitoramento reprodutivo dos Podocnemidae, pois a participação
64
dessas comunidades no PQU está norteada pelos incentivos materiais e monetários, além
da necessidade de proteger seus espaços geofísicos de uso comum. Por serem
contempladas com vários lagos e, com maior números de praias em seus territórios.
Nas comunidades do São Benedito, Manaain e Caioé foram identificadas baixas
densidades relativas do recurso quelônias (sítios de nidificação e espécimes). Por tanto,
apresentaram maior grau de dependência destes recursos, além de resistência nas práticas
restritivas do seu uso e, ausência de acordos coletivos no manejo e uso dos
Podocnemididae. Contudo, revelaram-se com menor grau de organização social,
classificadas na tipologia de participação “por incentivos materiais” em relação às outras
localidades.
Entre tanto, as comunidades que tiveram sucesso e mantiveram as regras de pesca e
as práticas de manejo e conservação de quelônios, certamente, esse sucesso é atribuído ao
fato dessas comunidades possuírem um nível de participação organizativa dos usuários
maior em relação às outras localidades, sendo classificadas na tipologia de participação
“funcional”, que é o caso das comunidades do Maracarana, Livramento e Bela Vista.
Os conflitos na conservação e manejo de quelônios na RDSU estão relacionados ao
uso do recurso e solo, caracterizando conflitos socioambientais, por designar as relações
sociais de disputa/tensão entre diferentes grupos de interesses pela apropriação e gestão do
patrimônio natural para garantir o acesso exclusivo aos recursos pelas famílias das
localidades.
65
6. RECOMENDAÇÕES
O PQU deve repensar as metodologias participativas no manejo dos quelônios na
RDSU e compartilhar todas as etapas do monitoramento com as comunidades, inclusive o
planejamento inicial para alcançar a participação efetiva que corresponde às tipologias
“interativa” e de “automobilização”. A promoção de alternativas de renda talvez seja o
incentivo que esteja faltando para as comunidades se tornarem mais participativas,
gerenciando seus espaços e recursos para o uso coletivo.
A pressão na captura de P. unifilis para o comércio por usuários internos e externos
representa uma grande ameaça às populações desses répteis. O controle na saída do recurso
da RDSU deveria ter um mecanismo mais eficiente por parte dos usuários internos e do
órgão gestor.
Ademais, os lagos das comunidades Nossa Senhora do Livramento e Calabar são
áreas de grande importância para conservação e manejo dos Podocnemididae na RDSU.
Essas áreas deveriam ser incluídas na revisão do plano de gestão como áreas de proteção
da RDSU, além de alojarem muitas espécies de quelônios, funcionam como berçários
naturais para outras espécies, o que pode garantir a segurança dos recursos pesqueiros e da
fauna aquática para as famílias da RDSU.
Em função da escassez de informações a respeito da ecologia dos Podocnemididae
na bacia do rio Uatumã, faz-se necessário o estudo da estrutura populacional e abundância
de P. unifilis nas áreas a jusante da barragem da usina hidrelétrica de Balbina na bacia do
rio Uatumã, a fim de se ter parâmetros para avaliar a atual situação de conservação dessas
populações presentes na RDSU, com o intuito de auxiliar futuros planos de manejo, além
de contribuir para a gestão da RDSU.
Os gráficos de praias e lagos protegidos números de ninhos e filhotes indicam
crescimento e este sendo simultânea a captura artesanal, que precisa de regulamentação
para contribuir ainda mais com o manejo, inclusive deve ser incluída a regulamentação nas
regras da pesca esportiva e comercial da RDSU.
Cada ovo monitorado pelo PQU nas comunidades do Maracarana e Livramento
apresenta um custo de US$0,55 centavos de dólar. A empresa Eletrobrás tem que investir
mais nas atividades de conservação “in situ”, além de ajudar e estimular famílias que
fizerem o monitoramento dos ninhos ajuda a conservar as populações de Podocnemididae.
66
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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71
APÊNDICE A
Tabela 20. Participação das comunidades no monitoramento reprodutivo dos quelônios na RDSU-AM.
Legenda: AGDA-Agente de Defesa Ambiental, Comunidades: CG – Caioé Grande, SB – São Benedito, MN
– Mannain, NL – N.Sra. do Livramento, MR – Maracarana, SB – São Benedito. Dados coletados na RDSU
através de entrevistas, e relatórios técnicos do CPPQA fevereiro/2015.
Comunidades Ninhos Filhotes
Agentes de
praia
Média e Desvpad
dias/trab/ano Participação no PQU Nº de
comunidades Bela Vista 1256 21630 2 76/3,46
Ano CG SB MN NL MR BV
São Benedito 140 572 1 65/2,86 1995
X 1
Maracarana 2210 33718 5 68/6,34 1996
X 1
Mannain 156 1102 2 57/2,08 1997
X 1
N.Srª. do
Livramento
2711 59509 4 86/5,10
1998
X 1
Caioé Grande 219 2482 3 45/2,52 1999
X X X 3
Comunidades
Praias ou
tabuleiros Lagos
Esforço
monitoramen Gasolina (US$) 2000
X X 2
Bela Vista 6 8 152 5751 2001
X X 2
São Benedito 2 2 65 1725 2002
X X 2
Maracarara 6 5 340 3451 2003
X X 2
Mannain 2 1 114 1725 2004
X X 2
N.Srª. do
Livramento 31 4 344 5751 2005
X X 2
Caioé Grande 2 1 135 1150 2006
X X 2
Comunidades
Soltura/ano
(US$)
Salario
AGDA/mês(US$)
Salario
AGDA/ano
(US$)
Tempo de
participação no
PQU 2007
X X 2
Bela Vista 0 0 0 8 2008
X X 2
São Benedito 0 0 0 2 2009 X X X X X X 6
Maracarara 7830 2127 25531 16 2010 X X X X X 5
Mannain 0 0 0 3 2011 X
X X X X 5
N.Srª. do
Livramento 7830 2127 25531 16 2012 X
X X X 4
Caioé Grande 0 0 0 3 2013
X X 2
2014 X X 2
72
APÊNDICE B
FORMULARIO I - A LOCALIDADE /COMUNIDADE No.___
1.IDENTIFICAÇÃO:
Data da entrevista: ___/ ___ / ___
GPS - LAT: ___o ____’ ____’’ S LONG: ____
o ___’ ____’’ W
Nome(s)/cargo/idade do(s) revistado(s):_________________________________________
_________________________________________________________________________
Localidade (nome): _________________________________________________________
2.DADOS GEOGRÁFICOS
(fazer o exercício do mapa mental e comparar com a imagem e mapa cartográfico)
Deslocamento e áreas de uso dos/pelos quelônios
alimentação:_____________________________________________________________________________
_
reprodução:______________________________________________________________________________
_
captura:_________________________________________________________________________________
_
concentração
(poção):_______________________________________________________________________
Ambientes Terrestres:
Quantas famílias moram (tem propriedade) na Terra-firme: ________ Várzea: __________
Ambiente aquáticos :
Nessa região (localidade) tem:Lago de terra-firme NÃO[ ] SIM[ ] Quais?
_______________________________________________________________________________________
___
Lado de várzea (água branca) NÃO [ ] SIM [ ] Quais ?
_______________________________________________________________________________________
___
Igarapé NÃO[ ] SIM [ ] Quais ?
_______________________________________________________________________________________
___
Rio NÃO [ ] SIM [ ] Quais ?
_______________________________________________________________________________________
___
Paraná NÃO[ ] SIM [ ] Quais?
_______________________________________________________________________________________
___
3.DADOS HISTÓRICOS
Fundação da comunidade: _____/_____/_____
obs:____________________________________________________________________________________
___
Tempo de moradia do morador mais antigo:
_______________________________________________________________________________________
___
73
Como era aqui quando os mais antigos chegaram ?
ano ____________
Posse:
[ ] Terra desabitada (devoluta)
[ ] Latifúndio abandonado pelo dono
[ ] Latifúndio sem morador mas com dono
[ ] Latifúndio c/morador e c/dono
[] Terra indígena
[] Outra opção. Qual?
_______________________________
Cobertura:
[] Mata virgem [ ] Castanhal
[ ] Seringal [ ] Capoeira jovem
[ ] Roças abandonadas [ ] Capoeirão
[. ] Sítios [ ] Campo para gado
[ ] Roças novas
[ ] Outro tipo.
Qual?_____________________________________
__
Obs.:
____________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
__
4.ORGANIZAÇÃO SOCIAL E DA PRODUÇÃO
Número total de famílias moradoras da localidade : NUCLEARES_________ EXTENSAS
_______________
Número de pessoas:
________________________________________________________________________
Quais as religiões das famílias desta localidade: ___________ # ____________ ;
#______________________
Organização social: As famílias moradoras desta localidade estão organizadas em
[ ] Comunidade de base [ ] Associação de produtores [ ] outra forma _________ [ ] n.r.a
Quantas famílias participam dessas organizações? (freqüentam reuniões, ajudam nos trabalhos,
etc.)Associação: Possui ? NÃO [ ] SIM [ ]
Data da fundação ____/____/____
Nome da associação :
_______________________________________________________________________
6. INSTITUIÇÕES QUE ATUAM NO MANEJO
Quais instituições prestam assistência às famílias da localidade/comunidade? (ajuda externa)
Municipais:
_____________________________________________________________________________________
Estaduais:
_____________________________________________________________________________________
Federais:
_____________________________________________________________________________________
Não-governamentais:
_____________________________________________________________________________________
7.PRODUÇÃO DE SUBSISTÊNCIA (principais produtos utilizados no local)
EXTRATIVISMO VEGETAL (não-lenhosos):
EXTRATIVISMO VEGETAL (lenhosos):
_______________________________________________________________________________________
___
AGRICULTURA:
_______________________________________________________________________________________
74
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
______
CRIAÇÃO ANIMAL:
_______________________________________________________________________________________
___
_______________________________________________________________________________________
___
CAÇA:
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
___
PESCA:
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
Desses produtos consumidos, quais são os mais importantes para a alimentação da maioria das famílias dessa
localidade?
_________________________________________________________________________________
8.PRODUÇÃO COMERCIAL (principais produtos vendidos ou trocados)
MINERAL:
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
EXTRATIVISMO VEGETAL (não-lenhosos):
_______________________________________________________________________________________
EXTRATIVISMO VEGETAL (lenhosos):
________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
AGRICULTURA:
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
CRIAÇÃO ANIMAL:
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
CAÇA:
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
PESCA:
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
Desses produtos, quais são os mais importantes para a renda da maioria das famílias desta localidade?
1.____________________2.______________________3.__________________4._________
5.____________________6.______________________7.__________________8._________
Onde e com quem eles são comercializados ? (agente/local da venda/destino da produção)
1.____________________2.______________________3.__________________4._________
5.____________________6.______________________7.__________________8._________
9.ESQUEMAS DE MANEJO COLETIVO
Para quais desses recursos existe controle pela comunidade?
[ ] 1 - Pesca [ ] 2 - Madeiráveis [ ] 3- Não-madeiráveis [ ] 4 - Caça [ ] 5 - Quelônios
10.RECURSO:
Quais os principais locais de [ ] para as famílias desta localidade?
Na cheia: ____________________________________ Na seca: ____________________________
Tipos de [ ] local
75
Artesanal de subsistência: Quantas famílias? _______________________
Artesanal comercial:
Quantas famílias? _______________________
Quem faz exploração comercial de [ ] nas áreas da localidade?
os próprios moradores não [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]
os moradores vizinhos não [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]
moradores da cidade não [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]
moradores de outros municípiosnão [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]
moradores de outro estado não [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]
11.INICIATIVAS DE ORDENAMENTO [ ] (tentativas de resolver conflitos de pesca)
A comunidade já conversou sobre esse assunto? não [ ] sim [ ]
Quando? ___/___. quem puxou a reunião?_____________________________________________
Qual a conclusão? ________________________________________________________________
Possui acordo verbal? nunca [ ] sim [ ] possuiu [ ] Obs:____________________
Possui acordo formal? nunca [ ] sim [ ] possuiu [ ] Obs.: ___________________
Caso afirmativo desde quando? ___/___/___ .
12.TIPO DE ACORDO
Direito de acesso de exclusividade dos moradores: não [ ] sim [ ]
Acesso flexível (obtido mediante solicitação): não [ ] sim [ ]
Fora os moradores, quem mais pode requerer acesso?
ninguém[ ] vizinhos[ ] moradores da cidade [ ] outros [ ] ____________________
13.ESFORÇO DE CAPTURA:
não há restrições[ ] só para consumo[ ] comercialização restrita [ ]
14.TECNOLOGIA DE CAPTURA: há restrições? não [ ] sim [ ]
Quais apetrechos são proibidos? _____________________________________________________
15.ÉPOCA DE CAPTURA: Há restrições ? Não [ ] Sim [ ]
Em quais época a pesca está restrita ou proibida?_________________________________________
16.LOCAIS DE CAPTURA: Há restrições? Não [ ] Sim [ ]
Em quais locais a captura/extração está restrita ou proibida? _______________________________
Em quais locais a captura está liberada? ______________________________________________
17.FORMAS DE MONITORAMENTO:
Quem vigia? [ ] ninguém [ ] ag. ambientais [ ] associação [ ] todos da comunidade [ ] outros
No caso de algum problema, para quem denuncia? _______________________________________
18.PUNIÇÃO / AÇÃO DE CONTROLE:
Já houve casos de punição? [ ] sim [ ] não
Quem puniu? ____________________________________________________________________
19.PRESSÃO SOBRE USO DE RECURSOS [preencher com o número de famílias da localidade]
RECURSO TIPO DE USO/FREQÜÊNCIA OBSERVAÇÕES
COME VENDE
OVO NÃO SIM
[pouco]
SIM
[muito]
NÃO SIM
[pouco]
SIM
[muito]
Tartaruga
Tracajá
Iaça/Pitiú
Capirã
ADULTOS
Tartaruga
Tracajá
76
Iaça/Pitiú
Capirã
TOTAIS
DISPONIBILIDADE DE RECURSOS
RECORDAÇÃO DO ÚLTIMO VERÃO / ANO
Nº COVAS POR LOCAL
ESPÉCIE / ANO
LOCAL TIPO DE
LOCAL
SÍTIOS DE POSTURA
TOTAL
COVAS/ANO
TART
TRAC IAÇÁ
CAP
NOME Nº 00 / 15 00 / 15 00 / 15 00 / 15 00 / 15
77
APÊNDICE C
FORMULÁRIO DE ENTREVISTA II - A FAMÍLIA
Questionário n. data:____/____/__________
Localidade: _________________________________________
Nome e idade dos CHEFES DA FAMÍLIA:
PAI____________________________IDADE__________________________________________________
_
MAE___________________________IDADE__________________________________________________
_
Local de nascimento: (localidade, município, Estado)
PAI___________________________________MAE___________________________________
Quando veio morar neste local (comunidade) {patriarca, matriarca}? PAI:___/___/__ MAE:___/___/__
Onde morava antes ? PAI ______________________________
MAE______________________________
ESCOLARIDADE (ANOS): PAI: __________________________
MAE______________________________
1.DADOS FÏSICOS SOBRE A PROPRIEDADE
Área(s) de terra-firme : [ ] NÃO TEM ACESSO [ ] POSSUI QUANTAS
?______________tamanho:
_______________________________________________________________________________________
___
Valor: ________Tipo de
posse:_________________________________________________________________
Obs.:___________________________________________________________________________________
___
Áreas de várzea: [ ] NÃO TEM ACESSO [ ]POSSUI QUANTAS?
______________________
Tamanho:
Total:___________________________Cultivável:_________________________________________
Área não ocupada,
florestada:__________________________________________________________________
Área em descanso (capoeira);_________________________Valor:
____________________________________
Tipo de posse:
______________________________________________________________________________
Obs.:___________________________________________________________________________________
___
2.PESCA
2.1 -QUANTO Ë A RENDA ANUAL QUE O Sr. (OU SUA FAMÍLIA) OBTEM COM A VENDA DO
PESCADO/ QUELÔNIOS?
_______________________________________________________________________________________
___
3.RENDA FAMILIAR
3.1 -O Sr(a) ou alguém da sua família recebe aposentadoria, pensão ou salário?
[ ] SIM [ ]NÃO
Quem? _____________Quanto?_________.
Quem? _____________ Quanto?_________
3.2 -O Sr (a) ou alguém da sua família trabalha fora de casa? Recebe diária?
Quem? ________________ Qual a atividade? _____________Quanto recebe ?_______________________
(no ano) Quem? ______ __________ Qual a atividade? _____________ ___________________________
Quanto recebe ?___________ (no ano)
Quanto o Sr(a) calcula seja a renda de sua família ? _________________________________________
4.PRODUÇÃO ANIMAL (balanço anual, ano anterior)
78
BOVINO: área de pasto: ________ #cabeças;_______ vendeu:_______ valor:______
Leite [ ]: produção média diária: _______vendeu: ________valor:_______ safra (meses):______queijo[ ]:
produção média diária:______vendeu: _______.. valor:______ safra(meses):_______
BUBALINO: área de pasto: ___________ #cabeças;_________. vendeu:______ valor:______
Leite [ ] queijo [ ]: produção média diária: _________ vendeu: ____________valor:______
CABRA/BODE: #cabeças;_________ vendeu:_______ valor:______
CARNEIRO: #cabeças;_________ vendeu:_______ valor:______
PORCO:#cabeças;_________ vendeu:_______ valor:______
GALINHA: #bicos: máximo ________ mínimo______ vendeu:_______ valor:______
PATO#bicos: máximo _________mínimo______ vendeu:_______ valor:______
OUTROS ANIMAIS: QUAL?_________________ #: _________ vendeu:_______ valor:______
5.CAÇA DE ANIMAIS SILVESTRES
Que animais
existem aqui na sua
localidade?
Quais desses o Sr.
encontrou nos
últimos 12 meses?
Quais desses o Sr
capturou nos
últimos 12 meses?
Qual a
quantidade?
Quantos
vendeu?
Tartaruga
Tracajá
Iaça
Pitiu
Capiran
OPINIÃO (Da própria família entrevistada / envolvidas no Projeto)
1) O Sr (a) acredita que sua comunidade tem o direito de criar regras próprias para governar a caça e a
preservação dos bichos de casco? Sim ( ) Não ( )
Por quê ? ............................................................................................... ........................................................
2) O Sr (a) acredita que essas regras podem trazer benefícios para as famílias de sua comunidade?; Sim (
) Não ( )
Por quê ? ............................................................................................................................. ...........................
3) O Sr (a) e a sua família são beneficiados em sua comunidade se adotar (fazer valer, funcionar) essas
regras? Sim ( ) Não ( );
Por quê ?
..........................................................................................................................................................
4) O Sr (a) colabora com sua comunidade para que essas regras (trabalho de preservação) sejam
respeitadas? Sim ( ) Não ( );
Por quê ?
............................................................................................................................................................
5) As outras famílias desta localidade colaboram com a comunidade nas tarefas de preservação dos bichos
de casco? Sim ( ) Não ( );
Por quê ? ................................................................................................................... ............
79
APÊNDICE D
Tabela 21. Animais silvestres caçados pelas famílias entrevistadas na RDSU.
Comunidades (famílias, N=70)
CG MN SB NL MR BV Total
% do Total
Abatido
Cutia (Dasyprocta sp.) 46 13 31 9 82 56 237 14,99
Paca (Cuniculus paca) 35 44 23 49 101 58 310 19,61
Queixada (Pecari pecari) 11 5 0 0 4 0 20 1,27
Catitu (Pecari tajacu) 1 11 10 26 20 32 100 6,33
Pato (Carina moschata) 0 2 8 1 20 0 31 1,96
Inambu (Inhambu sp.) 0 0 0 0 16 0 16 1,01
Jacu (Penelope sp.) 0 0 0 0 2 7 9 0,57
Tatu (Dasypus sp.) 12 17 2 0 8 16 55 3,48
Anta (Tapirus terrestres) 0 4 0 1 2 0 7 0,44
Veado (Mazama sp.) 2 9 2 1 2 10 26 1,64
Mutum (Mitua mito) 8 63 9 55 37 28 200 12,65
Tracajá (P. unifilis) 59 82 49 51 81 55 377 23,85
Tartaruga (P.expansa) 7 1 0 36 2 2 48 3,04
Jabuti (Chelonoidis sp.) 0 18 6 29 15 4 72 4,55
Iaçá (P. sextuberculata) 30 0 20 23 0 0 73 4,62
Total 211 269 160 281 392 268 1581
Desvipad 17,74 26,90 13,99 20,95 22,94 17,27
Consumo/ família 21,1 53,80 32,0 23,4 18,67 12,76
Comunidades: CG – Caioé Grande; MN-Manaain; SB-São Benedito; NL- Nossa senhora do Livramento;
MR-Maracarana e BV-Bela Vista. Dados coletados na RDS Uatumã, fevereiro de 2015.
80
APÊNDICE E
Metodologia utilizada pelo projeto quelônios do Uatumã para monitorar os ninhos
Atividades preliminares
São realizadas reuniões nas comunidades da área de abrangência do projeto, na
RDS Uatumã para expor objetivos e metodologia do (PQU).
São estabelecemos contatos com as instituições parceiras para expor objetivos e
metodologia do Projeto, como as Secretarias Municipais de Meio Ambiente e Educação
das Prefeituras dos municípios de Presidente Figueiredo, Itapiranga e São Sebastião do
Uatumã AM.
Nesse período também são realizadas ações de limpeza das praias de desovas, um
mês antes do início da reprodução dos quelônios, junho ou julho;
Treinamento dos Agentes de Praia Comunitários
Todos os anos são realizados treinamentos para os novos agentes de praia, nesse
treinamentos, são abordados temas como: Criação da RDS Uatumã, histórico dos
quelônios Amazônicos, biologia e habitat das espécies que ocorrem no Brasil, espécies que
ocorrem na RDS Uatumã, legislação, uso e comércio ilegal, proposta do plano de trabalho,
monitoramento e marcação de quelônios, manejo de quelônios em praias conservadas,
construção de praia artificial ou chocadeira, função e comportamento dos comunitários
Agentes de Praia, função dos Fiscais Voluntários e predadores de quelônios
O Monitoramento dos ninhos é realizado pelos agentes de praia comunitários
treinados, segundo a metodologia adotada pelo Centro de Manejo e Conservação de répteis
e Anfíbios/RAN/ICMBIO e o Projeto Pé-de-Pincha. Com acompanhamento do técnico do
CPPQA/Eletrobrás Amazonas Energia e do PROBUC.
São monitorados ninhos das praias conservadas e monitoradas a jusante do Rio Uatumã na
RDS Uatumã, nãos complexos de lagos do Maracarana e do Jaraoacá, na RDS Uatumã.
Sinalização das praias conservadas
São confeccionadas placas e fixadas próximo as praias protegidas na RDS Uatumã.
A placa é um método de sinalização explicativo, onde é especificado o objeto da
conservação e as logomarcas das instituições parceiras como: Eletrobrás Amazonas
Energia/ICMbio/IPAAM, Corredores Ecológicos e prefeituras municipais. Em cada praia
protegida são fixadas uma ou duas placas indicando que é uma praia de conservação.
81
No acordo da pesca esportiva que acontece no mesmo período da reprodução dos
quelônios, técnicos do (PQU) e comunidades encontraram uma metodologia para proteger
os ninhos de possíveis invasores. Usando bandeiras brancas nas principais praias
protegidas para reforçar a segurança dos ninhos. A bandeira é um método de sinalização
herdado dos seringueiros, onde o patrão demarcava a área de uso e de conservação da praia
na época de reprodução dos quelônios, usando bandeiras brancas e vermelhas.
Agentes de Praia Comunitários
Os Agentes de Praia são comunitários que receberam um treinamento para aturem
nos trabalhos de conservação dos quelônios nas praias protegidas.
Realizam monitoramentos diários nas praias protegidas, nas primeiras horas da manhã, nos
locais de desova, e abordagem de eventuais invasores nas áreas de conservação sob
proteção da comunidade, com o objetivo de mantê-los informados sobre o trabalho.
Obter informações sobre a quantidade, densidade e frequência das desovas dos tabuleiro
naturais. Monitorar diariamente os ninhos registrando em planilhas, dados como: local da
postura, data, número de ovos, total de covas por espécie, marcando o local das covas com
piquetes em madeira ou de sobras de ramos da palmeira inajá;
Isolar os ninhos com madeira e/ou telas plásticas para protegê-los de predadores naturais
como o jacurarú, (Tupinambis sp ) e outros, e para o controle do nascimento dos filhotes;
Proceder estritamente quando necessário no transplante dos ninhos, para proteger da
predação humana e evitar o alagamento por repiquete;
Os ninhos encontrados nas praias monitoradas são protegidos e marcados na
própria praia pelos comunitários (agentes de praias) treinados, monitorado por técnicos do
CPPQA/Eletrobrás Amazonas Energia ou PROBUC.
No treinamento para os comunitários são repassadas algumas técnicas de transferência
de ninhos, essa atividade requer alguns cuidados especiais como:
• abrir os ninhos nas horas mais frias do dia;
• pegar os ovos com cuidado evitando movimentos rotativo dos ovos;
• acondicioná-los e os transportar em caixas de isopor;
• forrar a caixa de isopor com substrato leve (areia, vegetação seca etc);
• carregar a caixa de isopor evitando balançá-la;
• fazer uma imitação do ninho natural, cavando as covas com as mãos;
• fazer uma câmara no ninho para acondicionar e aerar melhor os ovos;
82
• acondicionar os ovos no ninho e preencher com areia, pressionando a areia e
evitando a formação de bolsa de ar.
Eclosão (nascimento dos filhotes) nas praias naturais e artificiais
O nascimento dos filhotes nas áreas protegidas é monitorado através do registro em
fichas de campo, onde são avaliados os seguintes parâmetros:
• Data de nascimento;
• quantidade média de filhotes nascidos por ninho;
• quantidade média de ovos gorados por ninho;
• quantidade média de ovos não fertilizados por ninho;
• quantidade média de ovos fungados por ninho;
• quantidade média de natimortos por ninho;
• quantidade média de ninhos predados;
• taxa de eclosão;
• identificação de predadores;
Os dados são coletados em praias com maior potencial para a realização de
acompanhamento e monitoramento mais criteriosos, praias que já estão sendo trabalhadas.
Os filhotes eclodidos nas praias naturais a jusante na RDS Uatumã, são colocados
em berçários (tanques de madeira ou plásticos) nas comunidades por um período de três
semanas a um mês, até o término do nascimento de todos os filhotes na praia protegida,
período este, em que a carapaça dos filhotes estarão mais rígidas, e os filhotes estão mais
espertos para se proteger de predadores em ambiente natural, sem perder a capacidade
natatória ao retornar aos corpos d’água.
A alimentação fornecida aos filhotes mantidos nos berçário das comunidades, são
macrófitas aquáticas (aguapés, capim memeca e murerús), frutos de igapó (murici, goiaba
de anta, abiorana etc). Procura-se fornecer alimentos que os filhotes eventualmente irão
encontrar na natureza, duas vezes por semana e fornecido uma ração a base de peixe para
crescimento com 25% de PB como fonte de vitamina e sais minerais, uma vez que esses
filhotes estarão sob guarda dos comunitários em um espaço limitado.
Realiza-se nos berçários a biometria dos filhotes recém nascidos, sendo que de cada
praia conservada, será retirada uma amostra aleatória de 100 filhotes. As medidas
morfométricas realizadas serão:
• Comprimento e largura da carapaça (mm);
• Comprimento e largura do plastrão (mm);
83
• Altura (mm);
• Massa (g).
• Soltura dos Filhotes com participação comunitária
Os filhotes, mantidos nos berçário, são soltos nos meses de janeiro ou fevereiro de
cada ano RDS Uatumã.
O dia da liberação dos filhotes de quelônios é definido pelos comunitários em
reuniões, e as solturas são organizadas pelas comunidades. Nesse dia procura-ses envolver
outras comunidades a participar, usando como atrativo suas atividades de lazer rotineiras
como: salva de fogos, jogo de futebol, café da manhã, culto religioso, apresentação de
poesias, sátiras, paródias e outras.
Os filhotes são soltos nas praias onde nasceram em ressacas ou lagos próximo a
praia protegida, é acordado com as comunidades os locais de soltura, mas orienta-se a
soltá-los nos locais onde nasceram, com 10m de distância da água.
Coleta de dados pelos comunitários
Os comunitários que participaram do curso ficam responsáveis pela coleta dos
dados nas praias protegidas, com acompanhamento dos técnicos do CPPQA, cada
comunitário recebe um Kit (pasta, caneta, lápis, borracha, apontador, caderno de campo e
fichas de campo), esse material é repassado no treinamento.
Parte dos dados, são coletados por técnicos do CPPQA, serão tabulados em
planilhas eletrônicas e depois serão analisados.
Campanha de Educação Ambiental
O Projeto promove campanhas de educação e informação ambiental nas
comunidades ao longo do Rio Uatumã, com temática de manejo e uso racional de
quelônios, através de palestras com uso de recursos audiovisuais como slides, vídeo, data
show, painéis e distribuição de cartazes e folders educativos.
O método utilizado é o “Método Participativo” utilizando-se o trabalho em equipe
como instrumento essencial, envolvendo crianças jovens, adultos, homens e mulheres,
agentes ambientais, escolas comunitárias e as cidades ao entorno da RDSU como São
Sebastião, Itapiranga e Urucará.
Na fase do nascimento dos filhotes, o projeto envolve as comunidades e as escolas
ribeirinhas, fazendo desse momento um momento de reflexão ambiental.
São realizadas algumas atividades como: confecção de painéis fotográficos
(registrando todos os passos do trabalho comunitário), exposição de vídeos educativos
84
(durante a noite nas visitas das comunidades, palestras nas escolas e no dia da soltura dos
filhotes), palestras voltadas para temas ambientais (nas escolas das comunidades),
atividades de modelagem na areia e pinturas em papel representando a praia preservada da
criançada, brincadeiras e teatro de fantoches com os alunos das comunidades.
Apresentação de vídeos sobre outras experiências com conservação de quelônios aquáticos
na Amazônia, treinamento de preenchimento das fichas de coleta e marcação de ninhos
com piquetes.
As fases do manejo, compreende 6 (seis) etapas:
1) Planejamento participativo, são realizadas reuniões anuais com as comunidade na
qual é feito um convite de participação ao programa;
2) Oficina de aprimoramento, é destinada a formação de novos agentes de praia,
possibilitando a estes agentes conhecimento e troca de saberes.
3) Monitoramento dos ninhos (covas), fase em que os agentes monitoram os ninhos
(identificando, registrando e marcando), em parceria com instituições que apoiam o
projeto.
4) Nascimento dos filhotes, compreende ao tempo de emergência dos filhotes, em
que recebem cuidados especiais até a sua transferência para os berçários.
5) Manutenção em berçários, nessa fase os filhotes são cuidados até a soltura.
6) Soltura dos filhotes, é o momento em que os filhotes são soltos em áreas
protegidas com a participação comunitária. Dia em que varias atividades sociais acontecem
com a participação do público interessado. Compreende o fechamento das atividades de
monitoramento do programa. Nessa fase as comunidades têm a oportunidade de mostrar
para as instituições parceiras o resultado de seu trabalho e, também é o momento dos atores
sociais envolvidos se confraternizarem pelo trabalho desenvolvido, (Oliveira et al, 2011).
São soltos, na fase final somente uma quantidade simbólica de filhotes, e participam do
evento da soltura todos os atores sociais que constituem os grupos de interesses.
85
ANEXO I
Regras da Pesca Comercial na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do
Uatumã
Estas regras foram elaboradas de forma participativa em assembléias comunitárias
com apoio técnico especializado na RDS do Uatumã em reunião ocorrida no dia 21 de
fevereiro de 2015, sendo as que seguem:
a) Ao entrar e sair da RDS Uatumã a embarcação deverá parar na Base de Apoio da
RDS, localizada na margem esquerda do rio Uatumã, nas coordenadas ( S 02º 32’
39,9” W 058º 09’ 39,2” ). Na Base, o responsável deverá se identificar aos técnicos
do CEUC/SDS para preencher o Cadastro de Acompanhamento da atividade de Pesca
Comercial na RDS, prestando informações do barco e dos locais onde a atividade será
ou foi realizada;
b) O acompanhamento e monitoramento serão realizados em conjunto entre CEUC/SDS
e IDESAM e a fiscalização pelo IPAAM;
c) O período da pesca do peixe gordo vai do dia 01 Março a 30 de Julho de cada ano;
d) A Pesca será permitida somente para pescadores moradores das comunidades da RDS
Uatumã (considera morador pessoas que tenha fixado residência na comunidade da
RDS Uatumã no tempo mínimo de 02 (dois) anos, de acordo com o Plano de Gestão);
e) Não serão permitidas pessoas de fora pescando junto com pescadores moradores das
comunidades da RDS Uatumã.
f) Os presidentes junto com os moradores das comunidades são responsáveis pela
organização da pesca na comunidade e devem tomar providências a respeito do
descumprimento das regras da pesca na equipe da comunidade, podendo nomear um
comunitário responsável pela atividade.
g) Os barcos compradores/encarregados e comunitários/pescadores que descumprirem as
regras serão retirados da pesca de automaticamente, não sendo permitidos mais pescar
nem comprar pescado num período mínimo de 02 (dois) anos;
h) A comunidade Jacarequara terá 03 e a Bom Jesus 02 redes e as demais somente uma;
i) As comunidades deverão adquirir seus próprios quites de pesca, sendo canoa e rede,
devendo ser comprovado mediante documentação de registrada em cartório ou nota
fiscal;
86
j) As comunidades que não adquiriram sua rede no ano de 2014, poderão pescar somente
se fizerem parceria com alguma equipe de pesca da RDS do Uatumã.
k) O tamanho máximo da rede permitido será 160 braças com manga;
l) Os barcos poderão entrar com 03 pessoas e se necessário poderá contratar uma pessoa
da comunidade;
m) Os barcos/compradores não poderão entrar com canoa no reboque, nenhum apetrecho
de pesca, arma de fogo, munição e bebida alcoólica;
n) O barco poderá ter um bote para apoio;
o) Os barcos entrarão somente para comprar, gelar e transportar o pescado na área da
RDS Uatumã;
p) Não será permitida a pesca de caixinha na área da RDS;
q) Capacidade máxima por barco será de 15ton;
r) Não poderá ficar mais de um barco na comunidade;
s) O lixo produzido pelos barcos de pesca deverá ser levado para fora da RDS;
t) Os comunitários poderão comercializar o pescado da forma que for mais rentável, mas
respeitando as regras do acordo;
u) Proibida a pesca do tucunaré para comercialização na área da RDS Uatumã durante
todos os meses do ano;
v) Proibido fazer batição na área da RDS Uatumã;
w) Permitida a pesca do peixe ornamental para moradores da RDS Uatumã mediante
autorização previa do órgão Gestor e plano de manejo da espécie;
x) Proibir o uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas na equipe sob pena de suspensão
da pesca de dois (2) anos.
y) Repassar para a comunidade no mínimo 10% do que for arrecadado com a atividade
da pesca.
z) Há uma comissão, composta por representantes do CEUC, AARDSU, AAV, e 2
comunidades, ficará responsável pela atividade da pesca e irá tomar as
medidas necessárias para cada caso.
__________________________ Cristiano Gonçalves
Engenheiro de Pesca
Chefe de Unidade de Conservação
87
ANEXO II
REGRAS PARA A PESCA ESPORTIVA NA RDS DO UATUMÃ – 2015
Estas regras foram elaboradas de forma participativa em oficinas comunitárias com apoio
de técnicos especializados no mês de março de 2015, sendo as que seguem:
O acompanhamento e monitoramento serão realizados em conjunto entre Secretaria de
Meio Ambiente do Estado, Associação Mãe, AAVs e IDESAM e a fiscalização pelo
IPAAM.
a. O período de Pesca Esportiva iniciará no dia 15 de agosto e finalizará no dia 15 de
dezembro. Exceto para as pousadas comunitárias, que poderão receber os turistas o
ano inteiro.
b. Para entrada das embarcações na RDS do Uatumã: Toda embarcação deverá ter
autorização da Associação Mãe ou realizar parceria com algum morador da RDS do
Uatumã e este morador ficará responsável pela conduta da mesma.
i. Ao entrar na RDS do Uatumã via Balbina as embarcações deverão realizar o
cadastro no posto de monitoramento da Associação Mãe, pagar a taxa de entrada
e receber identificação.
ii. Entrada via São Sebastião do Uatumã e Itapiranga deverão realizar o cadastro na
base do CEUC, pagar a taxa de entrada e receber identificação.
c. Ao ingressar na RDS do Uatumã o responsável pela embarcação deverá apresentar o
Certificado de Registro de Pesca do IPAAM (barco), os documentos da Capitania
referentes à embarcação e apresentar a licença de Pesca Esportiva dos pescadores.
d. É obrigatório que toda embarcação (barco-hotel) tenha a presença de pelo menos um
(01) morador da reserva, seja como guia, piloteiro, monitor ou acompanhante para as
atividades da pesca esportiva.
e. Não havendo moradores disponíveis para trabalhar com turismo, poderá ser utilizada
mão de obra externa; assim como no caso de equipamentos (embarcações, motor,
etc).
f. Horário permitido para a prática da pesca esportiva do tucunaré: 05 às 17 hs e
no pólo 3, é permitido até as 18 hs. Proibido que os piloteiros transitem após este
horário.
88
g. No caso da pesca esportiva de peixe de couro, o responsável deverá avisar no posto
de monitoramento os dias, horários e locais em que a prática será realizada, sendo
admitido somente 1 dia durante toda a estadia do turista.
h. Toda embarcação que trafegar durante a noite deverá ter luzes de sinalização.
i. Nas comunidades Maracarana, Cesaréia, São Benedito, Monte das Oliveiras, Bela
Vista, Ararinha, Mannain, Santa Luzia do Jacarequara, Deus Ajude do Boto, Nossa
Senhora de Fátima do Caioé Grande e Bom Jesus deve ser respeitado o limite de 200
m de raio da sede das mesmas para a prática da atividade de pesca esportiva.
j. Fica proibida a pesca esportiva nas seguintes áreas:
i. Comunidade Nova Jerusalém do Amaro: igarapé do Amarozinho.
ii. Comunidade Nossa Senhora de Fátima do Caioé Grande: lago Caioé Grande e
lago do Leocádio.
iii. Comunidade Bom Jesus do Angelim: igarapé do Leandrinho.
iv. Comunidade Santa Luzia do Jacarequara: igarapé do Lauacazinho, igarapé do
Corrido, lago da Castanha, lago do Tambaqui Grande.
v. Comunidade Nossa Senhora do Livramento: Igarapé do Itaquera e Igarapé
Curara.
vi. Comunidade Cesaréia: igarapé Letradinho, igarapé Letradão e igarapé da
Bárbara.
vii. Comunidade São Francisco do Caribi: rio Caribi até a confluência com igarapé
do Laguinho, após é permitido na Comunidade Monte das Oliveiras.
viii. Comunidade Santa Luzia do Caranatuba: igarapé Caranatubinha.
ix. Comunidade Maanaim: igarapé Tafulão e igarapé Jacaré.
x. Comunidade São Benedito: igarapé Araraquarinha e igarapé Araraquara Grande.
xi. Comunidade Maracarana: lago do Pio e lago Bonito.
xii. Comunidade Bela Vista: lago Corocorozinho e lago do Bicho.
k. Os locais proibidos para a prática de pesca esportiva serão identificados com
bandeiras vermelhas e placas.
l. Em áreas de tabuleiros, a pesca esportiva poderá acontecer somente até as 16h para
deixar o tabuleiro livre para a subida dos quelônios. (Locais de tabuleiros: Bela Vista
:caraba, cumaitetuba, maracarana: boca do arroizal, boca do mutunquara, ilha do lago
do maracarana)
89
m. Reduzir a velocidade do motor das voadeiras ao passar nos portos das casas dos
moradores da RDS do Uatumã.
n. As comunidades participarão ativamente do monitoramento de sua área, contando com
a presença e apoio dos Agentes Ambientais Voluntários na orientação aos pescadores
esportivos sobre as regras da pesca esportiva 2015 na RDS do Uatumã e no registro de
atividades irregulares quando aconteçam.
o. É proibido:
i. Transportar peixes vivos ou mortos de qualquer espécie para fora da RDS do
Uatumã.
ii. A pesca usando tarrafa e malhadeira, bem como a entrada de embarcação de pesca
esportiva com tarrafas e malhadeiras em seu interior.
iii. O uso de isca viva nas pescarias.
iv. Pescar o peixe que estiver cuidando de ninhada (no choco).
v. Praticar a pesca de mergulho.
p. Ao capturar o peixe, deve-se manuseá-lo cuidadosamente, retirando o anzol
delicadamente; utilizar fisga amassada e deixar o peixe fora da água o tempo mínimo
possível.
q. O consumo de tucunarés capturados pelos próprios pescadores esportivos em sua
estada na RDS do Uatumã, só poderá ser realizado respeitando o tamanho de 40 cm a
50 cm para o tucunaré açu ou paca (Ciclha temensis). Respeitar o limite de um (01)
peixe por pescador, por semana.
r. Só será permitida a observação de jacarés por meio de focagem com lanternas, com
acompanhamento de turistas e em áreas permitidas (Áreas proibidas: Santa Luzia do
Jacarequara; Bom Jesus do Angelim, Nova Jerusalém do Amaro e Deus Ajude do
Boto).
s. Se necessário, poderá fazer fogo nas praias com acompanhamento dos guias, sendo que
as fogueiras deverão ser obrigatoriamente apagadas no final da atividade.
t. É obrigatória a retirada do lixo produzido na área da RDS do Uatumã e em seu entorno.
u. Aqueles que não cumprirem as regras estabelecidas para a atividade de pesca esportiva
ficarão suspensos por até 2 anos da atividade, sejam estes moradores ou empresários
_________________
90
ANEXO III
Figura 21. Entrevistas com chefe de família, comunidade Bela Vista, RDSU, fevereiro de 2015.
Figura 22. Construção dos Mapas cognitivos pelos comunitários do Caioé, RDSU, fevereiro de 2015.
91
Figura 24. Lago do Jaraoacá, comunidade Nossa Senhora do livramento, RDSU, fevereiro de 2015.
Figura 23. Aplicação do formulário I e diagrama de Venn, para o grupo de interessa da comunidade
Nossa Senhora do Livramento, RDSU em fevereiro de 2015.
92
Figura 25. Agentes de praia comunitários monitores, na RDSU, agosto de 2013. Fonte: Oliveira,
P.H.G.
Figura 26. Soltura dos filhotes de quelônios na RDSU, comunidade do Livramento, fevereiro de
2012. Fonte: Oliveira, P.H.G.
93
“Chegou o verão, chegou a confusão, o peixe sofre com a
pressão, bichos de casco nem se fala, coloca seus ovos no
meio do folhiço para esconder do bicho homem. Os
predadores descem o rio Uatumã fazendo arrastão, nesse bolo
vai até pirarucu e, o coitado do peixe-boi, que é acostumado
colocar só o focinho pra fora, mais é surpreendido com arpão
no lombo. O pompom canta, mas não indica mais vazante,
agente não sabe mais o que é verão e inverno, nem a terra
mais e da gente, tudo virou confusão”(Fonte: morador da
comunidade Nossa Srª. do Livramento, 63 -RDSU).