95
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA MPGAP INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: O CASO DO PROGRAMA “QUELÔNIO DO UATUMÔ. PAULO HENRIQUE GUIMARÃES DE OLIVEIRA MANAUS, AMAZONAS SETEMBRO, 2015

INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

  • Upload
    volien

  • View
    220

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

i

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE ÁREAS

PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA – MPGAP

INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: O CASO DO

PROGRAMA “QUELÔNIO DO UATUMÔ.

PAULO HENRIQUE GUIMARÃES DE OLIVEIRA

MANAUS, AMAZONAS

SETEMBRO, 2015

Page 2: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

ii

PAULO HENRIQUE GUIMARÃES DE OLIVEIRA

INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: O CASO DO

PROGRAMA “QUELÔNIO DO UATUMÔ.

ORIENTADOR:

Dr. George Henrique Rebêlo

Dissertação apresentada ao Instituto Nacional

de Pesquisas da Amazônia como parte dos

requisitos para obtenção do título de mestre em

Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia.

MANAUS, AMAZONAS

SETEMBRO, 2015

Page 3: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

iii

O48i Oliveira, Paulo Henrique Guimarães de

Incentivos institucionais no manejo participativo: o caso do

programa quelônio do Uatumã. / Paulo Henrique Guimarães de

Oliveira. --- Manaus: [s.n.], 2015.

93 f. : il., color.

Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015.

Orientador: George Henrique Rebêlo . Área de concentração : Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia

1.Conservação - Quelônios. 2. Conservação da biodiversidade 3.

Quelônios – preservação. I.Título

CDD 639.39

Page 4: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

iv

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11

2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 15

2.1. Geral ........................................................................................................... 15

2.2. Específicos ................................................................................................... 15

3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 16

3.1. Área de Estudo ............................................................................................. 16

3.1.1. População da RDS Uatumã ...................................................................... 17

3.2. Coleta de dados ............................................................................................. 21

3.3.Análise dos dados .......................................................................................... 25

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 26

4.1- Determinar os recuros e serviços manejados ........................................................ 26

4.3 – Avaliação das regras e instituições locais na gestão e uso dos recursos. ............. 42

5. CONCLUSÃO .................................................................................................... 25

6. RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 65

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 66

APÊNDICE A ........................................................................................................ 71

APÊNDICE B ........................................................................................................ 72

APÊNDICE C ........................................................................................................ 77

APÊNDICE D ........................................................................................................ 79

APÊNDICE E ........................................................................................................ 80

ANEXO I ............................................................................................................... 85

ANEXO II ............................................................................................................. 87

ANEXO III ............................................................................................................ 90

Page 5: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

v

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA1. Localização das comunidades nos seus respectivos municípios. Coleta de

dados através de visita in loco entrevistas a campo, na RDSU (fevereiro de

2015......................................................................................................................................21

TABELA2. Tipologia de recursos de uso coletivo. Fonte: Pereira, (2001) adaptado de Baland e

Platteau,

(1997) ..................................................................................................................................24

TABELA3. Monitoramento de quelônios Podocnemididae na RDSU entre 1995-2014.

Fontes: Relatórios do CPPQA/Eletrobras e planilhas de campo e arquivos eletrônicos do

PQU, (setembro de 2014 à fevereiro de 2015). Legenda: PT= praias ou tabuleiros; pa = P.

expansa; pu = P. unifilis; ps = P. sextuberculata; pr = P. erythrocephala; TNC = total de

ninhos por comunidade e TNE= total de ninhos por espécie...............................................27

TABELA4. Filhotes de Podocnemidae nascidos na RDSU entre 1995-2014. Fontes:

Relatórios do CPPQA/Eletrobras, de planilhas de campo e arquivos eletrônicos do PQU,

(setembro de 2014 à fevereiro de 2015). Legenda: PT= praias ou tabuleiros; pa = P.

expansa; pu = P. unifilis; ps = P. sextuberculata; pr = P. erythrocephala; TFC = total de

filhotes por comunidade e TFE= total de filhotes por espécie.............................................28

TABELA5. Densidade relativa dos sítios de nidificação de quelônios por local. Dados

coletados através de entrevistas na RDSU, visita a campo em fevereiro de

2015......................................................................................................................................33

TABELA6. Frequência de captura de quelônios para consumo (6 meses). Dados coletados

através de entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.............................................................34

TABELA7. Coleta de ninhos e ovos de P. unifilis para consumo, (6 meses). Dados

coletados através de entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.............................................34

TABELA8. Consumo de quelônios pelas famílias entrevistadas, (agosto/2014 à

janeiro/2015).Dados coletados através de entrevistas em fevereiro de 2015.......................34

Tabela9. Áreas de terra firme e várzea. Dados coletados através de entrevistas na RDSU,

fevereiro de 2015..................................................................................................................39

TABELA10. Renda comercial da pesca do peixe gordo (matrinxã e jaraqui). Dados

coletados através de entrevistas na RDSU, fevereiro/2015. Dados coletados através de

entrevistas na RDSU, fevereiro/2015...................................................................................41

TABELA11. Renda comercial da produção agrícola. Dados coletados através de

entrevistas na RDSU, fevereiro/2015...................................................................................41

TABELA12. Agentes, intensidade de exploração comercial e tipos de acordos com os

recursos peixes e quelônios por intensidade (1 pouco; 2-medio; 3 muito). Legenda: PM=

Próprios moradores; MV= Moradores vizinhos; MC = Moradores da cidade; MM =

Moradores de outro município; ME – Moradores de outro Estado; SEE = soma de

exploradores externos. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU em fevereiro de

2015......................................................................................................................................45

Page 6: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

vi

TABELA13. Regras de Acesso e Normas de Apropriação. Legenda: Regras de Acesso

(Restrito aos membros autorizados=1, flexível ou de livre acesso=2); Esf. Cap – Esforço

de captura (não há restrições = 0, só para consumo=1, comercialização restrita=2); Tec.

Cap – Tecnologia de captura (há restrições? não=0 e sim=1). Tipo I= regras de acesso

flexível e normas de apropriação ausente; Tipo III = regras de acesso restrito aos membros

autorizados e normas de apropriação presente e Tipo IV= regras de acesso flexível e

normas de apropriação presente. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU em

fevereiro de 2015..................................................................................................................46

TABELA14. Normas de Monitoramento dos recursos. AAV = agente ambiental

voluntário; AP = Agente de praia; COM = comunidade; (não=0; sim=1) Ag EXT = agentes

externos. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU em fevereiro de

2015......................................................................................................................................47

TABELA 15. Índices relativos a participação. Coleta de dados através de entrevistas na

RDSU em fevereiro de 2015................................................................................................49

Tabela 16. Classificação dos componentes em nível de participação, segundo (Pimbert e

Pretty, 2000). Dados coletados através de entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU,

fevereiro de 2015..................................................................................................................52

Tabela 17. Instituições de maior importância para as famílias entrevistadas, indicado pelo

número de vezes que o ator social foi citado como importante. Coleta de dados através de

entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.........................................................................54

TABELA18. Grupos de interesse no manejo comunitário de Podocnemididae nas

comunidades ribeirinhas da RDS Uatumã. Fonte: Relatórios técnicos do PQU e entrevistas

in loco, fevereiro de 2015.....................................................................................................54

TABELA19. Tipologia dos grupos de interesse no manejo comunitário de Podocnemididae

nas comunidades ribeirinhas da RDS Uatumã. Fonte: Base dados do programa PQU,

Relatórios técnicos do CPPQA e entrevistas in loco. Dados coletados através de

entrevistas, fevereiro de 2015...............................................................................................55

Tabela 20. Participação das comunidades no monitoramento reprodutivo dos quelônios na

RDSU-AM. Dados coletados na RDSU através de entrevistas, e relatórios técnicos do

CPPQA, fevereiro de 2015...................................................................................................71

Tabela21. Animais silvestres caçados pelas famílias entrevistadas na RDSU. Dados

coletados na RDSU através de entrevistas em fevereiro de 2015........................................79

Page 7: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

vii

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1. Organograma do PQU na estrutura organizacional da Eletrobrás Amazonas

Energia. Fonte: Relatório do CPPQA/Eletrobrás. Legenda: CPPMQA - Centro de

Preservação e Pesquisa de Quelônios e Mamíferos Aquáticos; CPPMA - Centro de

Preservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos; CPPMA - Centro de Preservação e

Pesquisa de Quelônios Aquáticos e PQU - Programa Quelônios do Uatumã......................13

FIGURA 2. Localização do RDS Uatumã. Fonte: IDESAM (2011) .................................16

FIGURA 3. Áreas prioritárias para conservação de Podocnemididae, na RDSU, (imagem

georeferenciada em junho de 2013) Fonte: Oliveira, P.H.G................................................20

FIGURA 4. Mapa da RDSU e comunidades estudadas, pontos georeferencoados na RDSU,

janeiro de 2014.....................................................................................................................21

FIGURA 5. Ninhos e filhotes monitorados na RDSU, dados coletados de relatórios

técnicos do CPPQA e de planilhas de campo do PQU, fevereiro de 2015.......... .............27

Figuras 6. Monitoramento reprodutivo de Podocnemididae. Legenda: (A) número de

ninhos, relatórios técnicos do PQU 1995-2014; (B) número de lagos, fichas de

monitoramento dos comunitários 2003-2013; (C) monitores Agentes de Praia, entrevistas

na RDSU em 2015; (D) número de praias, fichas de monitoramento dos comunitários

2003-2014.............................................................................................................................29

FIGURA 7. Área de distribuição local Podocnemididae. Legenda: (A) Caioé, (B)

Livramento e (C) Manaain. Dados coletados através de metodologia do mapa cognitivo e

visita in loco, na RDSU, fevereiro/2015..............................................................................31

FIGURA 8. Área de distribuição local dos Podocnemididae, (D) Maracarana; (E) São

Benedito e (F) Bela Vista. Dados coletados através de metodologia do mapa cognitivo e

visita in loco, na RDSU, fevereiro/2015..............................................................................32

FIGURA 9. Percentual de consumo de quelônios pelas famílias entrevistadas. Dados da

entrevista na RDSU em fevereiro de 2015..........................................................................35

FIGURA 10. Fauna Silvestre consumo de subsistência, RDS Uatumã, agosto de 2014 a

janeiro de 2015. Dados coletados através de entrevistas (N=70) de recordação em fevereiro

de 2015.................................................................................................................................36

FIGURA 11. Procedência das famílias entrevistadas, dados coletados através de entrevistas

na RDSU, fevereiro de 2015................................................................................................37

FIGURA 12. Tempo médio de morada, escolaridade e idade dos chefes de família na

RDSU Dados coletados através de entrevistados na RDSU, fevereiro de 2015.................38

FIGURA 13. Fonte de rendas das famílias da RDSU. Dados coletados através de

entrevistas na RDSU, fevereiro/2015, n=70 famílias...........................................................39

Page 8: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

viii

FIGURA 14-Rendas mensal média das famílias por comunidade. Dados coletados através

de entrevistas na RDSU, fevereiro/2015..............................................................................44

FIGURA 15. Participação comunitária no PQU, número de lagos, praias e agentes de praia.

Legenda: Comunidades: CG – Caioé Grande; MA-Manaain; SB-São Benedito; NL- Nossa

senhora do Livramento; MR-Maracarana e BL-Bela Vista. Dados coletados através de

entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU, fevereiro de 2015..................................49

FIGURA 16. Esforço do monitoramento x incentivos por comunidade, CPPQA/PQU.

Legenda: Comunidades: CG – Caioé Grande; MA-Mannain; SB-São Benedito; NL- Nossa

senhora do Livramento; MR-Maracarana e BV-Bela Vista. AGDA – Agentes de Defesa

Ambiental. Dados coletados através de entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU,

fevereiro de 2015..................................................................................................................50

FIGURA 17-Instituições de maior importância para as famílias entrevistadas, quanto maior

o retângulo, maior grau de importância. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU

em fevereiro/2015.................................................................................................................55

FIGURA 18. Os grupos de interesse em grau de influência e aliança. Dados coletados

através entrevistas e visita in loco, realizadas nas comunidades, na RDSU em fevereiro de

2015......................................................................................................................................56

FIGURA 19. Regiões com autorização para pesquisa e exploração mineral, Itautinga Agro

Industrial. Fonte: Plano de Gestão da RSU (IDESAM, 2011) ...........................................61

FIGURA 20. Representação gráfica dos conflitos entre os grupos de interesses na

conservação e manejo comunitário de quelônios na RDS Uatumã. Dados coletados na

RDSU, entrevistas moradores, fevereiro de 2015................................................................62

FIGURA 21. Entrevistas com chefe de família, comunidade Bela Vista, RDSU, fevereiro

de 2015, (anexo)...................................................................................................................90

Figura 22. Construção dos Mapas cognitivos pelos comunitários do Caioé, RDSU,

fevereiro de 2015, (anexo)...................................................................................................90

Figura 23. Aplicação do formulário I e diagrama de Venn, para o grupo de interessa da

comunidade Nossa Senhora do Livramento, RDSU em fevereiro de 2015, (anexo)...........91

Figura 24. Lago do Jaraoacá, comunidade Nossa Senhora do livramento, RDSU, fevereiro

de 2015.................................................................................................................................91

Figura 25. Agentes de praia comunitários monitores, na RDSU, agosto de 2013. Fonte:

Oliveira, P.H.G.....................................................................................................................92

Figura 26. Soltura dos entrevistas e através do diagrama de Venn na RDSU em

fevereiro/2015......................................................................................................................92

Page 9: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

ix

ÍNDICE DE QUADROS

QUADRO 1. Níveis de participação das comunidades nos projetos de conservação. Fonte:

Pimbert e Pretty, (2000) p-197-198.....................................................................................24

QUADRO 2. Famílias entrevistadas por comunidade. Fonte: Visita de campo na RDSU,

fevereiro 2015.......................................................................................................................26

Page 10: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

x

AGRADECIMENTOS

E...

Ao Superior Deus, Antes de tudo. A todos os familiares, amigos, e moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do

Uatumã (RDSU) pela sua parcela de contribuição para este estudo.

A minha amada esposa Daniella Oliveira pelo companheirismo, pelo apoio e incentivo aos

estudos e pela paciência, apesar da distância nesta fase final do trabalho.

Aos meus lindos filhos Artur Oliveira e Sophia Maria Oliveira que são presentes divinos.

Aos Meus Pais Rosivaldo Oliveira e Salete Oliveira pela existência e pelo apoio nos

estudos.

Ao Prof. Dr. George Henrique Rebêlo, pela orientação e paciência na construção desta

pesquisa.

Às famílias das comunidades, pela receptividade em seus lares, onde a pesquisa se

realizou.

Aos meus amigos Ribamar Pinto, Dr. Thiago, Stella Maris e Raimundo Silva

“Mundaco”pelo apoio logístico.

A toda equipe do Centro de Conservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) e

Programa Quelônios do Uatumã (PQU) da Eletrobrás Amazonas Energia.

Ao Projeto Pé-de-Pincha através pelo apoio logístico.

Ao meus amigos France e Profª. MsC. Aldeniza Lima pelo apoio logístico e apoio no

estudo.

Profº MsC. Paulo Andrade pelo incentivo e apoio na pesquisa.

Aos membros da banca avaliadora.

A Profª. Drª.Rita Mesquita pela orientação nas atividades acadêmicas, e todo corpo

docente do Mestrado Profissionalizante em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia.

Aos amigos de turma do MPGAP, Aline Britto, Paulo Faiad, Aroldo Fonseca, Sergio

Sakagawa, Vinicius Moreira, Alzenilson Aquino, Rodrigo Lima, Marcio Bentes, Airton

Ferreira, Vanderson Brito, Ronaldo Jorge, Cassiano Santos, Claudio Barbosa e Danielle.

Aos ao casais, Agentes de Praia, comunitários e amigos, Josè Monteiro (papa) & Cleide;

Adalberto Costa & Rosicleide, Manuel Nobre & Claudileia Gomes (Socorro), Claudomiro

Gomes (kaká) e Kely Gomes, Donato & Preta e Renato & Clelia pelo aprendizado e a troca

de conhecimento sobre os quelônios e suas áreas de vida.

Agradeço.

Page 11: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

i

RESUMO

No Brasil, os incentivos institucionais estão voltados para ao manejo intensivo de espécies

da fauna (criação intensiva em cativeiro), são raras as iniciativas de manejo extensivo em

ambientes naturais. Os quelônios Podocnemididae são um recurso de grande importância

para as famílias da Amazônia. As atividades de programas de conservação de quelônios em

Unidades de Conservação de Uso Sustentável no Estado do Amazonas foram

intensificadas a partir das décadas de 1990 e 2000. O manejo local participativo pressupõe

a descentralização administrativa das ações de conservação e surgiu como uma alternativa

para recuperar os estoques ameaçados. O programa Quelônio do Uatumã (PQU) atua na

Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (RDSU) há dezesseis anos no

monitoramento reprodutivo dos quelônios em parceria com comunidades ribeirinhas e

instituições externas no Rio Uatumã, nos municípios de São Sebastião do Uatumã,

Itapiranga e Presidente Figueiredo. Este estudo foi um estudo de caso sobre o PQU entre

seis localidades onde o PQU atuou com diferente grau de participação das comunidades

para a promoção do monitoramento reprodutivo dos quelônios para tentar determinar qual

o conjunto de incentivos institucionais que favoreceu a participação voluntária de usuários

do recurso “quelônios” em ações de conservação e manejo extensivo e em que condições

estas iniciativas puderam ser bem sucedidas. Os resultados obtidos sugerem que o sucesso

da participação nas iniciativas de manejo, medido pelas comunidades com maior grau de

engajamento nas ações de conservação e manejo, foi daquelas que implementam práticas

restritivas do uso do recurso, incluindo acordos coletivos formais e informais apoiados por

incentivos materiais e monetários recebidos de instituições externas e, sensibilizadas pela

necessidade de protegerem seus territórios (lagos e praias) de uso comum. Estas ações

asseguraram o uso exclusivo dos recursos para as famílias destas localidades, que foram

mais beneficiadas por aderirem às propostas do PQU em relação às outras localidades. Por

outro lado, as comunidades em que os recursos “quelônios” foram menos abundantes e os

sítios reprodutivos mais raros em seus territórios, foram mais dependentes destes recursos

e menos participativas.

Palavras Chave: Podocnemididae, Instituições, Conservação

Page 12: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

ii

ABSTRACT

In Brazil, the institutional incentives are focused on the intensive management of wild

animals (captive intensive farming); there are a few extensive management initiatives in

natural environments. The fresh water Podocnemididae turtles are resources of great

importance for the Amazon households. The turtle conservation programs in sustainable

use protected areas increased in the Amazonas since the 1990s and 2000s. The

participatory local management assumes that the administrative decentralization of

conservation actions is an alternative for recovering of the threatened stocks. The Uatumã

chelonian program (PQU) operates in the Uatumã Sustainable Development Reserve

(RDSU) for sixteen years in the reproductive monitoring of turtles in partnership with

riverine villages (communities) and external institutions, along the Uatumã river, in the

municipalities of São Sebastião do Uatumã, Itapiranga and Presidente Figueiredo. This

research was a comparative study case between six PQU partners communities with

different degree of participation to foster the monitoring of turtles reproduction trying to

determine the set of institutional incentives that may encourage voluntary participation by

users of the resource "turtles" in conservation and management actions and under what

conditions these initiatives may turn out to be successful. The results suggest that

successful participation in the management initiatives was higher in communities that

implemented restrictive practices on resource usage with formal and informal collective

agreements, supported by material and monetary incentives received from external

institutions and aware of the need to protect their common use territories (lakes and

beaches). Those actions ensure the exclusive use of those resources by their households,

those that received such benefit by adhering to the PQU proposal compared to other ones.

For the other hand, communities from where turtles resource were less abundant and

breeding sites were rarer, were most dependent from these resources and less participative.

Keywords: Podocnemididae, Institutions, Conservation

Page 13: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

11

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, os incentivos institucionais estão voltados para ao manejo intensivo de

espécies da fauna (criação intensiva em cativeiro) com pouco alcance institucional sobre as

iniciativas de manejo extensivo em ambientes naturais; deste modo, servem de base

probatória desta assertiva as portarias 142/1992 e 070/1992 do IBAMA, que regulamentam

a criação com a finalidade comercial de tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) e

do tracajá (Podocnemis unifilis) em cativeiro, e mais recentemente a Instrução Normativa

169/2008 que incluiu mais duas espécies: muçuã ou jurará (Kinosternon escorpioides) e o

iaçá ou pitiú (Podocnemis sextuberculata).

O Governo Federal repassou para os Governos Estaduais a responsabilidade sobre a

gestão da fauna silvestre local (através do Artigo 8º. da Lei Complementar Nº140, e pelo

seu inciso XVII que diz que deverão ser fomentadas as atividades que conservem essas

espécies da fauna silvestre in situ). A Secretaria de Meio Ambiente do Estado do

Amazonas criou um grupo de trabalho “GT Quelônios” com objetivo de produzir:

Instrumento jurídico definindo áreas prioritárias para conservação de quelônios no Estado;

Instrumento sobre a conservação e manejo comunitário de quelônios em UC, fora de UC e

organização da cadeia produtiva diretamente ligada ao mercado regional (incluindo os

chamados quelonicultores, e das tecnologias para manejo, ração, abate e sanidade).

Enquanto a agricultura familiar, o extrativismo e a pesca são praticados e

fomentados; a caça de mamíferos, a extração de madeira e a captura de quelônios estão

entre as atividades menos aceitas nas Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Estas

atividades, quando não são ativamente combatidas, são fontes de conflitos entre as

comunidades ribeirinhas e os órgãos gestores.

Os programas de manejo e conservação de quelônios em Unidades de Conservação

de Uso Sustentável no Estado do Amazonas foram intensificados a partir da década de

1990, por meio da intensificação das pesquisas e na conservação de quelônios amazônicos

com envolvimento comunitário (Cunha, 2013).

Em 2007, foi criado o Programa de Monitoramento da Biodiversidade (PROBUC)

pelo Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC) da Secretaria de Meio

Ambiente do Estado do Amazonas (SDS), que contribuiu para o fortalecimento das

atividades de conservação dos quelônios e proteção de seus locais de desova (chamados

localmente de tabuleiros). O PROBUC procurou envolver as comunidades locais e, as

Page 14: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

12

outras instituições que já atuavam os programas de manejo nas Reservas de

Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.

Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (RDSU) as atividades de

conservação de quelônios e proteção dos sítios de nidificação começaram a receber atenção

do Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal (IBDF) na década de 1970. Ademais,

na década de 1980, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA),

consultores da MONASA/ENGERIO e Eletronorte realizando estudos prévios para a

construção da Usina Hidrelétrica de Balbina (UHEB), à montante de onde seria

estabelecida a RDSU. No estudo sugeriram a criação do Centro de Preservação e Pesquisa

de Quelônios Aquáticos (CPPQA), situado em Balbina como medida mitigadora do

impacto causado pela UHE no rio Uatumã (Eletronorte, 1979).

O CPPQA foi construído e implementado em 1989, para a proteção de habitats, ações

educativas e soltura anual de filhotes de quelônios provenientes de duas praias artificiais

próximas à barragem da UHE Balbina e, do criadouro com fins científicos licenciados pelo

IBAMA-AM. O programa Quelônio do Uatumã (PQU) foi criado por iniciativa do CPPQA no

ano de 1999 para trabalhar não só o monitoramento de quelônios, bem como a educação

ambiental, por meio de atividades socioeducativas, principalmente, nos eventos de soltura dos

filhotes. Foi criada também uma base flutuante no lago do Jaraoacá, para apoio e fiscalização

dos lagos no período da reprodução dos quelônios aquáticos. Dentre os objetivos do PQU, o

principal foi promover a proteção e monitoramento das áreas de reprodução de quelônios

no rio Uatumã, nas praias naturais com a participação das comunidades, integrando

instituições locais, associações comunitárias, comunidades ribeirinhas, prefeituras

municipais e instituições externas nas ações de manejo participativo (Oliveira et al., 2011).

O CPPQA/PQU possui uma equipe permanente de técnicos de nível superior (biólogos,

veterinários e agrônomos), e recebe ainda estagiários de várias universidades e instituições

de pesquisa. Os técnicos e estagiários acompanham todos os meses as atividades do PQU

na RDSU. O monitoramento anual em seis etapas inclui: 1º) Planejamento participativo

(março a junho), 2º) Oficinas de aprimoramento (julho-agosto), 3º) Monitoramento dos

ninhos (agosto a novembro), 4º) Acompanhamento do nascimento de filhotes (outubro a

janeiro), 5º) Manutenção dos filhotes em berçários (novembro a janeiro), e 6º) Soltura dos

filhotes (fevereiro ou março).

Page 15: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

13

O PQU realizou a soltura de cerca de 120 mil filhotes de quelônios na RDSU entre

1999 e 2014, em parceria com as comunidades do Maracarana e Nossa Senhora do

Livramento (do município de São Sebastião do Uatumã), da comunidade Bela Vista, (do

município de Presidente Figueiredo) e as comunidades do Caioé Grande, Jacarequara, Manaain

e São Benedito (do município de Itapiranga), (Oliveira et al., 2011).

A proposta metodológica de manejo adotada pelo programa “Quelônios do

Uatumã” chegou a ser avaliada como boas perspectivas bioecológicas se comparada a

outras experiências similares, (MARTINNEZ e RODRIGUEZ, 1997). Mas a participação

das comunidades depende das motivações individuais e essas motivações não são

resultantes exclusivas dos atributos dessas pessoas, mas também da natureza das relações

que estabelecem na construção de seu cotidiano (FONTES, 2013). Uma das condições

necessárias é que os comunitários percebam incentivos institucionais que justifiquem sua

participação nas ações do manejo.

Na Amazônia, populações ribeirinhas têm se organizado para disciplinar a

exploração de recursos, principalmente de pescado (MCGRATH et al., 1993; MCDANIEl,

1997 e BEGOSSI, 2001). Embora dependentes destes recursos naturais, estes grupos de

Figura 1. Organograma do PQU na estrutura organizacional da Eletrobrás Amazonas Energia. Fonte:

Relatório do CPPQA/Eletrobrás. Legenda: CPPMQA - Centro de Preservação e Pesquisa de

Quelônios e Mamíferos Aquáticos; CPPMA - Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos

Aquáticos; CPPMA - Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos e PQU - Programa

Quelônios do Uatumã.

Eletrobras Amazonas Energia

CPPMA CPPQA

Centro de Proteção

Ambiental

Departamento Administraçã

o

Departamento Restauração de Áreas

Degradadas

Departamento Limnologia

Educação

Ambiental PQU

CPPMQA

Page 16: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

14

usuários atingiram níveis diferenciados no desenvolvimento de instituições1 locais de

manejo.

Para Pereira e Cardoso (1999), as famílias recém-chegadas nas localidades não

desenvolvem formas de ordenamento de uso de seus recursos de uso comum, já os grupos

mais organizados desenvolvem e mantêm acordos formais e, incluem além das normas de

acesso, proibições de técnicas de captura e regras na divisão do fluxo de recurso entre os

usuários autorizados. A exploração dos quelônios amazônicos é uma atividade antiga, com

frequência exploratória até os dias atuais, sendo uma fonte de alimento e renda

principalmente para ribeirinhos e indígenas (REBÊLO et al.,2005; PEZZUT et al., 2010).

Entretanto, as regras limitando ou proibindo seu uso são impostas por instituições externas

(governo e leis).

Usuários de recursos de uso coletivos demonstraram ter capacidade de se

organização para monitorar seu próprio comportamento e para impor sanções aos

indivíduos que não respeitam as regras de uso dos recursos (OSTROM, 1990, CERNEA,

1991 e PEREIRA, 2002). Com isso, a ideia de descentralização da administração de

recursos naturais e o envolvimento de populações locais têm ganhado espaço na

formulação de políticas públicas e na elaboração de programas de desenvolvimento

regionais.

Neste estudo, o pressuposto teórico principal é o de que comunidades ou grupos de

indivíduos escolhem racionalmente suas estratégias de governança, conservação e uso dos

recursos naturais de acordo com os incentivos oferecidos pelo sistema de manejo. Tais

incentivos institucionais advém dos atributos de três componentes do sistema e das

diversas interações entre estes: o recurso ou serviço a ser manejado; usuários locais; e, as

regras e instituições que governam o uso do recurso (Thompson, 1992; Pinto 2002).

No monitoramento dos Podocnemididae na RDSU algumas comunidades aderem

com mais facilidade a proposta de monitoramento do PQU e outras não, assim queremos

entender melhor quais são esses estímulos institucionais. Baseado nesta premissa, que

conjunto de incentivos institucionais pode favorecer a participação voluntária de usuários

do recurso “quelônios” em ações de conservação e manejo extensivo no Uatumã, e em que

condições estas iniciativas podem vir a ser bem sucedidas?

1Definidas como “o conjunto de regras utilizadas por um grupo de indivíduos para organizar atividades

repetitivas que produzem resultados que afetam aqueles indivíduos e potencialmente outros” (Ostrom 1998).

Page 17: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

15

2. OBJETIVOS

2.1. Geral

Avaliar quais são os incentivos institucionais à participação voluntária dos usuários

dos recursos naturais nas ações de manejo extensivo realizadas pelas comunidades que

participam do programa “Quelônio do Uatumã” na Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Uatumã (RDSU), no Estado do Amazonas.

2.2. Específicos

(1) Descrever as características dos recursos;

(2) Caracterizar os grupos de usuários locais;

(3) Avaliar as regras e instituições locais na gestão e uso do recurso quelônio.

Page 18: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

16

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Área de Estudo

Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDSU), foi criada pelo

governo do Estado do Amazonas pelo Decreto-Lei N° 24. 295 de 25/06/2004. Localiza-se

entre as coordenadas 58º 09’ 09” W. e 2º 32’ 60” S, na margem esquerda do Rio Uatumã e

58º 08’ 46” W. e 2º 31’ 30”S na margem direita do igarapé (sem denominação); distante

cerca de 250 km em linha reta de Manaus. Tem área total de 4.244 Km2, pertencentes aos

municípios de Itapiranga, São Sebastião do Uatumã e Presidente Figueiredo (IDESAM,

2011).

Figura 2. Localização do RDS Uatumã. Fonte: IDESAM, 2011.

O Rio Uatumã é um afluente de águas pretas da margem esquerda do Rio

Amazonas. Suas cabeceiras são os igarapés Santo Antônio do Abonari e Taquari e, possui

dois afluentes importantes o Rio Pitinga, a montante do barramento, com uma área de

drenagem de 7.832 km2, e o Rio Jatapú, a jusante da barragem (Lazzarini, 2002).

O regime hidrológico do rio Uatumã tem o período de águas altas nos meses de

abril e junho e de águas baixas, nos meses de agosto a dezembro. O Uatumã é um rio de

águas pretas, ácidas e pobres em nutrientes, características dos rios que nascem no Escudo

das Guianas ou nos sedimentos terciários da bacia amazônica, cujo relevo é suave

Rio Uatumã

Lago de Balbina

UHE Balbina

Page 19: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

17

(BALDISSERI, 2005). De acordo com a classificação geral das águas amazônicas efetuada

por Sioli (1991), o rio Uatumã tem o seu enquadramento dentro do grande grupo das águas

negras com valores de pH registrados variando de 3,9 a 6,3 e relativas baixas

condutividades específicas, variando de 10 a 47 S/cm. A cor preta das águas deve-se ao

alto teor de substâncias húmicas e aos solos arenosos e pobres em nutrientes - solos

podzólicos (MONASA/ENGERIO, 1987). Aliadas à falta de cálcio e magnésio conferem o

caráter ácido às águas (Sioli, 1991). Na RDS do Uatumã, a litologia e topografia podem ser

descritas em dois compartimentos principais: o compartimento superior, regionalmente

tratado como “Terra Firme”, áreas planas e/ou dissecadas por tramas de igarapés, onde

predominam os fitofisionomias de Floresta Ombrófila Densa, com solos pobres originados

de arenitos horizontais; o compartimento inferior, planícies de inundação, é

predominantemente coberto por variações de Floresta Ombrófila Densa, localmente tratada

por igapó, além de parcialmente ser recoberto por manchas da vegetação de Campinarana e

Campina, estas associadas aos compartimentos intermediários (IDESAM, 2011).

O clima é do tipo Amw (Köppen 1948), caracterizado por ser chuvoso, úmido e

quente, com maior incidência de chuvas no período de dezembro a maio e temperaturas

durante o ano variando entre a mínima de 20ºC e a máxima de 38ºC (SILVA e SILVA,

2006). A pluviosidade anual média é de cerca de 2200 mm (BALDISSERI, 2005, CUNHA

2013).

3.1.1. População da RDS Uatumã

No último senso populacional realizado em 2007 na RDSU, pelo Instituto de

Conservação e Desenvolvimento Sustentabilidade do Amazonas (IDESAM), foi relatada a

presença de 257 famílias vivendo em 20 comunidades, com a unidade familiar média composta

de 5,1 pessoas, totalizando 1312 moradores, (Plano de Gestão da RDSU, vol.1, 2008). Na RDS

do Uatumã residem 394 famílias (Fundação Amazonas Sustentável - FAS, 2013) divididas

em 20 comunidades, ao longo de três rios principais: Uatumã, Jatapu e Caribi, e que vivem

em sintonia e dependência com o ambiente (Amazonas, 2009). A principal atividade

econômica é a agricultura, seguida da pesca do chamado peixe miúdo entre os meses de

março e junho, durante a migração reprodutiva de espécies reofílicas, jaraqui

(Semaprochilodus spp.) e Matrinxã (Brycon spp). Nos meses de setembro a novembro

Page 20: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

18

ocorre o turismo de pesca esportiva na RDS do Uatumã e as principais espécies-alvo são os

tucunarés (Cichla spp), (Guimarães, 2013).

3.1.2. O Programa Quelônio do Uatumã

O monitoramento reprodutivo dos Quelônios (Podocnemididae), no rio Uatumã

teve inicio em 1986. Segundo relatos da Eletronorte no relatório intitulado "Situação atual

dos quelônios no Rio Uatumã/BAL-50-3003-RE, estudos preliminares à construção da

Usina Hidrelétrica de Balbina (UHE) realizados por pesquisadores do Instituto Nacional de

Pesquisas da Amazônia (INPA) e consultores da MONASA/ENGERIO identificaram áreas

de desova nos rios Uatumã e Pitinga, sendo estas áreas as do tabuleiro do chapéu virado,

dos índios, do jacamim, do arraia, dos arrependidos, do iacaca, do taboca e do cachimbo, à

montante do Rio Uatumã e, à jusante, no próprio Uatumã e no Abacate. No Rio Pitinga, os

tabuleiros do folharal, água branca, japonês e sororoca.

No ano de 1995, os biólogos José Pierre Armond e Roberto Myai dos Programas

Ambientais da Eletronorte fizeram um levantamento das áreas em potencial de reprodução

natural de quelônios para implementar medidas de manejo de quelônios, baseado na

proteção da desova e manejo da eclosão de filhotes à montante do Reservatório, realizaram

estudos prévios para avaliar os possiveis impactos causados pelo represamento do rio

Uatumã na construção da UHE, (Ribeiro, 2005) .

Os tabuleiros da montante identificados nesse ano foram quase todos inundados

com a formação do Reservatório da UHE, à exceção do tabuleiro sororoca, na margem

esquerda do rio Pitinga. Segundo relatos formais de técnicos na Vila de Balbina, a

pesquisadora do INPA, Dra. Elizete, era quem coordenava esses estudos na época.

Em 1986, estimou-se que 370 tartarugas-da-Amazônia agruparam-se próximo a

barragem da UHE, impedidas de subir o rio em busca dos tabuleiros naturais para sua

nidificação. Nesse mesmo ano, no mês de setembro, buscando garantir a reprodução dessas

tartarugas, a Eletronorte construiu duas praias artificiais na margem esquerda do Rio

Uatumã, bem próximo à barragem, ambas, quase do mesmo tamanho medindo 30 metros

de comprimento, 20 metros de largura e 1 metro de altura. Estas praias foram,

imediatamente, aceitas pelas tartarugas nas quais ocorreram 41 posturas e produção de 968

filhotes. No ano seguinte foram observados cerca de 220 animais concentrados junto à

barragem, aumentando a produção para 55 o número de postura e 1530 filhotes. A partir

daí se intensificaram as atividades de manejo na reprodução desses animais, bem como a

Page 21: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

19

soltura de filhotes em lagos à montante e à jusante do Rio Uatumã e no Reservatório da

UHE (RIBEIRO, 2005).

Com base nos resultados do levantamento feito pelos pesquisadores, várias medidas

compensatórias ao impacto causado pela construção da UHE foram sugeridas, dentre as

quais se inseriu a da implantação do Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios

Aquático (CPPQA), o qual foi construído em 1989, contendo em sua estrutura física duas

praias artificiais, dois tanques circulares (criadouros científicos), dois berçários, uma

enfermaria e um escritório para atender as demandas de manejo e reprodução dos

quelônios.

No ano 1989 até 1995 o monitoramento reprodutivo se deu apenas nas praias

artificiais e nos criadouros científicos do centro sendo os filhotes da reprodução destes

recintos soltos à montante e à jusante da barragem.

Entre 1995 e 1998, o monitoramento reprodutivo dos quelônios se expandiu para

outras áreas à jusante do Uatumã atingindo os tabuleiros da comunidade Bela Vista, do

qual registra-se a participação de alguns moradores desta comunidade. Apenas tartarugas e

tracajás foram monitoradas nesse período. Em 1999 entrou nos registros do monitoramento

mais uma espécie (Podocenmis sextuberculata), conhecida por Iaçá ou pitiú que começara

a fazer parte dos registros de monitoramento reprodutivo à jusante do rio, na área da

comunidade Bela Vista. Os filhotes eram soltos nos lagos do Jatuarana e Campina nessa

localidade.

No período de 1998 ao ano 2000, a colaboradora do CPPQA, Sra. Sandra

Nascimento, retomando os estudos de monitoramento com uso de GPS, mapeou as áreas

de ocorrência de desovas de quelônios, nos Igarapés e lagos marginal ao longo do rio

Uatumã, à sua jusante, com potencial para o estabelecimento de tabuleiros protegidos. Em

parceria com o CNPT/IBAMA participou de mobilização para criação da RESEX do rio

Uatumã. Juntos, iniciaram um trabalho com as comunidades da calha do rio propondo um

monitoramento dos tabuleiros daquelas áreas e, realizando campanhas educativas voltadas

para proteção da fauna, com atenção especial para os quelônios e o peixe-boi amazônico

Thichechus inunguis, (Nascimento, 2006).

O monitoramento nas comunidades através do programa “Quelônios do Uatumã”

teve inicio em 1999, sendo a Comunidade Maracarana (02°13’33’’ S, 58°50’18’’ O) a

primeira a participar do projeto. Esta comunidade pertence ao município de São Sebastião

do Uatumã e fica na margem esquerda do rio Uatumã. Possui um complexo de lagos com

Page 22: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

20

seis praias e vários sítios de reprodução de quelônios formados pelos lagos Bonito, Piu,

Maracarana, Araçatuba, Arrozal, Xirola e Xirolinha e pelos igarapés Terra Preta, Maracarana,

Mutunquara, Igarapé-Açú, todos, afluentes da margem esquerda do rio Uatumã. Está área

possui grande importância para o monitoramento no programa e, continua participando até os

dias atuais.

Os lagos do Calabar (02º15’03” S, 58º55’16” O), na comunidade Bela Vista,

pertencente ao município de São Sebastião do Uatumã, localizada à margem esquerda do

rio Uatumã. Nesta área há inúmeros sítios e praias de reprodução de quelônios, mais,

especificamente, das espécies tartarugas-da-Amazônia e tracajás.

A comunidade Nossa Senhora do Livramento (02º19’ 50.7” S, 58º14’ 23.3” O),

localizada no município de São Sebastião do Uatumã, na margem esquerda do rio, possui um

sistema de lagos formado por três igarapés, os quais a comunidade chama de lago (Lago

Gerenaldo, Jaraoacá e Pedras).

Até o ano de 2007 o número de praias e sítios de postura nessas três comunidades

cresceu para 43. Ainda neste ano, aparece mais uma espécie nos registros do Programa, a capirã

ou irapuca (Podocnemis erythrocephala), a qual foi dada especial atenção da sua

ocorrência no complexo de lagos do jaraoacá, visto ser uma espécie de rara ocorrencia nas

demais áreas em que os trabalhos estavam sendo realizados.

Figura 3. Áreas prioritárias para conservação de Podocnemididae, na RDS Uatumã, (imagem

georeferenciada em junho de 2013). Fonte: Oliveira, P.H.G.

No ano de 2008 as comunidades do São Benedito e Mannain passaram a fazer parte

no programa, cuja ação de monitoramento não passou de três anos. Somente no ano de

2009 as seis comunidades participaram do monitoramento. A comunidade do Caioé

Grande participou desse trabalho no lago do Caioé, no período de 2009, 2011 e 2012. Nos

Page 23: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

21

anos de 2013 e 2014 a comunidade Bela Vista ficou de fora, não participou das atividades

do monitoramento por causa da migração de dois agentes para a cidade de Presidente

Figueiredo.

3.2. Coleta de dados

Figura 4. Mapa da RDSU e comunidades estudadas, pontos georeferênciados em janeiro de 2014.

Tabela 1. Localização das comunidades nos seus respectivos municípios. Coleta de dados através de

visita in loco e entrevistas a campo, na RDSU (fevereiro, 2015).

A abordagem da pesquisa foi o estudo de caso, por fazer um enquadramento

paradigmático do estudo de caso, procurando de seguida sistematizar o estudo de caso,

descrevendo as suas características e tipologia. Abordaremos também questões

Comunidade Coordenadas Geográficas Margem

do rio

Uatumã

Município Famílias

Latitude Longitude

Bela Vista 02º14’04”S 59º02’58”W esquerda São Sebastião do Uatumã 33

São Benedito 02º15’10”S 58º51’59”W direita Itapiranga 7

Maracarana 02º13’33”S 58º50’20”W esquerda São Sebastião do Uatumã 25

Manaain 02º17’27”S 58º43’24”W direita Itapiranga 5

N.Sra.do Livramento 02º22’40”S 58º15’47”W esquerda São Sebastião do Uatumã 22

Caioé Grande 02º35’13”S 58º11’58”W direita Itapiranga 17

Total - 6 comunidades

109

Page 24: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

22

relacionadas com a recolha e análise da informação, para mais à frente abordarmos os

instrumentos de recolha de dados, (YIN, 2005).

Neste sentido, foram realizadas duas viagens de campo com duração de quinze dias

cada. A primeira em dezembro de 2015 para coletar dados físicos e biológicos e a segunda

no mês de fevereiro de 2015, com tempo de permanência de três dias em cada comunidade,

para visitar os domicílios e aplicar questionários. Das técnicas de pesquisa, foram

realizadas observações diretas, para analisar o contexto social das comunidades bem como

aplicados dois formulários de entrevista semiestruturados (DRUMOND, 2012), um

direcionado a família, e o outro ao grupo de lideranças das comunidades.

O formulário I foi direcionado as famílias das comunidades, das quais o número de

entrevistas foi de 70 das seis comunidades, 10 no Caioé Grande, 12 na Nossa Senhora do

Livramento, 5 no Manaain, 22 no Maracarana, 6 no São Benedito e 16 na Bela Vista.

O formulário II foi aplicado para grupos de as lideranças das seis comunidades; isto

é, o presidente, o professor, o agente de saúde, o líder da Associação, o agente ambiental e

alguns moradores (as) mais antigos (as).

Para descrever os recursos manejados (objetivo específico foram usados os seguintes

indicadores de disponibilidade: densidade relativa e ocorrência de quelônios

Podocnemididae (nº de ninhos e de filhotes), áreas de vida, consumo nas comunidades e

sítios de posturas. Consideramos também as informações obtidas a partir de visitas a

campo nas áreas de nidificação, local de ocorrência das espécies, e do monitoramento

reprodutivo do PQU, relatos obtidos através dos formulários I e II e, de mapas cognitivos

construídos pelos comunitários (com indicação dos sítios de postura de quelônios, áreas de

ocorrência, alimentação, boiadouros, e as áreas de maior pressão de captura).

Para a construção (desenho) dos mapas foram constituídos grupos compostos por

dois membros externos (Paulo Henrique, Ribamar Silva e Renato Oliveira) e 5 a 7

comunitários (como LIMa et al., 2012), que elaboraram seis mapas cognitivos, baseado na

sua percepção de ambiente local. Foram utilizados como referência as bases cartográficas

do SIPAM e IBGE (imagem Landsat 5TM, INPE, Ferreira, H.S., 2015).

Posteriormente, as área foram visitadas e os locais georeferenciada com auxílio de

GPS Garmin MAP 76CSX e, através do Programa ArcGis 9.3.1, Pacote ArcView,

utilizando as mesmas bases cartográficas do SIPAM e IBGE, (imagem Landsat 5TM,

INPE, Ferreira, H.S., 2015), para produzir mapas ilustrativos da área de uso de cada

comunidade.

Page 25: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

23

Posteriormente, foi realizada uma visita a campo em abril de 2015, depois dos mapas

confeccionados, por colaboradores da pesquisa (Ribamar Silva e Renato Oliveira) para

minimizar os erros e distorções. Deste modo, foram realizadas correções relacionadas à

localização da comunidade do Caio Grande, a quantidade de tabuleiros nas comunidades

do Caioé Grande, Maracarana e São Benedito.

O número de ninhos e filhotes protegidos pelo PQU foi estimado com base em

análise documental, dos relatórios técnico-científicos do PQU e dos arquivos do (CPPQA).

Foram consultadas também fichas de campo arquivadas no PQU e nas comunidades,

resgatando dados da série histórica de 16 anos de monitoramento reprodutivo dos

quelônios na RDSU com participação comunitária.

O levantamento quantitativo e qualitativo da utilização dos quelônios pelas famílias

foi realizado através de entrevistas, utilizando formulários semiestruturados I e II, (Anexos

I e II). Nas entrevistas foram obtidas informações de consumo, utilizando como parâmetro

a recordação do último verão, compreendendo, o período de (agosto/2014 a janeiro/2015).

Para caracterizar os grupos de usuários locais, foi realizado um levantamento das

famílias de cada localidade e foram entrevistados os chefes de família (escolaridade, idade,

local de moradia, tamanho da terra). Depois se utilizou dados de uma sondagem

socioeconômica segundo Siar et al., (1992), das unidades familiares e do grau de aceitação

e participação (engajamento) de cada família nas atividades de manejo, em cada uma das

seis localidades (Pereira, 1999). Para este fim, ocorreu aplicação dos formulários I e II

(em anexo), com a finalidade de captar as estratégias econômicas das unidades familiares.

Para avaliar as regras e instituições locais que governam o uso dos recursos

“quelônios”, foram classificados os tipos de instituições locais e externas no manejo e o

grau de organização e de participação. Foram aplicados formulários aos líderes de

comunidades e representantes familiares das diferentes localidades, visitamos os

domicílios e alguns órgãos nas cidades de São Sebastião do Uatumã e Itapiranga.

Para identificação e caracterização das instituições ou grupos sociais de interesse

participante do PQU foi realizada analise dos formularios aplicados, observaçoes in loco,

coleta de informações através de relatórios tecnicos do PQU e através do diagrama de

Venn (Drumond, 2012). Reunimos os membros da comunidade presente, desenhamos o

circulo da comunidade e pedimos para os comunitários representarem através de circulos

as instituições parceiras ao redor do circulo da comunidade (visando conhecer as

instituições parceiras do PQU e o grau de proximidade).

Page 26: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

24

Para entender melhor a atuação das instituições no manejo e conservação de

quelônios Podocnemididae, seus interesses, sua importância, suas influências diretas, suas

alianças e identificar possíveis conflitos. Utilizamos uma classificação preliminar

semelhante à classificação dos grupos de interesse (stakeholder), (Le Tissier at al., 2011)

com tabelas adaptados de Gimble et al. (1995), porém não foi feita de forma participativa,

mas pelo pesquisador baseado em entrevistas e conversas com os comunitários e

instituições externas. Assim, primeiramente foram identificados os grupos de interesse

primários e secundários e depois selecionados os grupos chaves que são aqueles mais

influentes e importantes para a atividade de manejo extensivo e conservação dos

Podocnemididae.

Para classificar os esquemas de manejo de pesca e conservação dos quelônios em

cada uma das localidades foram utilizadas as respostas sobre regras de acesso e normas de

apropriação segundo a tipologia de recursos de uso coletivo de (BALAND e PLATTEAU,

1997).

Tabela 2. Tipologia de recursos de uso coletivo. Fonte: Pereira, (2001) adaptado de Baland e Platteau,

(1997).

Normas de Apropriação

Regras de acesso Ausente Presente

Flexível ou de acesso livre Tipo I Tipo IV

Restrito aos membros autorizados

Tipo II

Tipo III

Para classificar o nível de participação das comunidades no programa PQU,

utilizamos os níveis e tipologias propostos por Pimbert e Pretty, (2000), quadro 1.

Quadro 1. Níveis de participação das comunidades nos projetos de conservação. Fonte:

Pimbert e Pretty, (2000) p-197-198.

Nível Tipologia Componentes da tipologia

1

Participação

passiva

As pessoas participam por avisos do que está para acontecer, ou já

aconteceu. E uma informação unilateral através de uma administração ou

projeto; as reações das pessoas não são levadas em conta. A informação que

é dividida pertence apenas aos profissionais externos

2

Participação como

extração de

informação

As pessoas participam respondendo as questões feitas por pesquisadores e

administradores de projetos, que usam questionários de coleta de dados ou

sistemas similares. As pessoas não tem a oportunidade de influenciar os

procedimentos, já que a descoberta da pesquisa ou plano do projeto não são

compartilhados ou verificados em sua acuidade.

3

Participação por

consulta

As pessoas participam sendo consultadas, e agentes externos ouvem os

pontos de vista. Esses agentes definem os problemas e as soluções, e podem

modifica-los conforme a reação das pessoas. Tal processo consultivo não

compartilha nenhuma tomada de decisão e os profissionais não têm

Page 27: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

25

3.3.Análise dos dados

Para facilitar a análise das variáveis dependentes e independentes, os dados

coletados em campo foram organizados e armazenados em planilhas eletrônicas em dois

grupos que corresponderão aos dois tipos de formulários I e II (Apêndice D).

As análises correspondem ao estudo comparativo entre as seis comunidades, assim

visando chegar aos dados consolidados foram selecionadas entre as variáveis indicadoras

as que melhor responderam aos objetivos.

No caso de dados com dimensões (natureza) heterogêneos, usamos o índice de

normatização (PEREIRA,1999). Dividindo o valor obtido para cada família pela média

geral entre todas as famílias das localidades estudadas. Este artifício matemático permite

agrupar dados de natureza distinta para a composição do índice de contribuição

organizativa. Os demais dados foram apresentados em suas dimensões reais ou em termos

de frequência (Nº de respostas positivas / Nº de famílias entrevistadas).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

obrigações de considerarem as visão das pessoas.

4

Participação por

incentivos

materiais

A pessoas participam oferendo recursos, por exemplo, força de trabalho, em

retorno de incentivos como comida, dinheiro ou outras coisas. Muitas

pesquisas em sitos e bi prospecção caem nessa categoria, já que as

populações oferecem os recursos e não envolvidas na experiência ou no

processo de aprendizado. É muito comum encontrar essa chamada

participação ainda que as pessoas não tenham interesse em prolongar as

atividades quando os incentivos acabam.

5

Participação

funcional

As pessoas formam grupos para coincidir objetivos predeterminados

relacionados ao projeto, o que pode envolver desenvolvimento ou que

promovam organizações sociais externamente iniciadas. Tal envolvimento

não tende a acontecer nos estágios iniciais de planejamento e ciclos de

projeto e sim depois que grandes decisões foram feitas. E essas instituições

tendem a ser dependentes dos incentivos externos, mas podem tornar-se

independentes.

6

Participação

interativa

As pessoas participam em analises conjuntas que conduzem a plano de ação

e a formação de novos grupos locais ou no fortalecimento dos já existentes.

Tende a envolver uma metodologia interdisciplinar que busca múltiplas

perspectivas e faz uso de um sistemático e estruturados processo de

aprendizado. Esses grupos assumem o controle acerca das decisões locais e,

então, as pessoas adquirem o interesse em manter as estruturas e as práticas.

7

Automobilização

As pessoas participam tomando a iniciativa para mudar sistemas,

interdependente das instituições externas. Tal automobilização e ação

coletiva podem ou não desaviar a distribuição não equitativa dos recursos e

do poder.

Page 28: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

26

Foram entrevistados 70 chefes de família em seis comunidades da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Uatumã (RSDU), Quadro 2.

Quadro 2. Famílias entrevistadas por comunidade. Fonte: Visita de campo na RDSU,

fevereiro 2015.

No. Nome Localização Município Famílias

entrevistadas

1 Caioé

Grande

Igarapé Caiaué Grande, margem direita do rio

Uatumã.

Itapiranga 10

2 N. Sra. do

Livramento

Igarapé Taquera, margem esquerda do rio

Uatumã.

S. Sebastião

do Uatumã

12

3 Manaain Margem direita do rio Uatumã Itapiranga 5

4 Maracarana. Lago do Maracarana, margem esquerda do rio

Uatumã.

S. Sebastião

do Uatumã

21

5 São

Benedito

Igarapé e Lago Araraquara, margem esquerda

do rio Uatumã.

Itapiranga 6

6 Bela Vista Igarapé do Tucumanduba

Margem esquerda do rio Uatumã.

S. Sebastião 16

4.1- Determinar os recuros e serviços manejados

Para responder o objetivo (1), o principal indicador e a ocorrencia, o consumo e a

densidade do recurso Podocnemididae e dados (nº de ninhos e de filhotes) do

monitoramento reprodutivo, realizado na série histórica de 20 anos pelo Centro de

Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) e Programa Quelônios do

Uatumã (PQU).

Considerando os vinte anos de monitoramento de quelônios na RDSU, foram

registrados 6.764 ninhos e 119.980 filhotes, tabelas 3 e 4. Nos dez primeiros anos de

monitoramento a média de ninhos foi de 62 por ano e, nos ultimos dez anos a média

aumentou para 614 ninhos por ano, dez vezes maior. Deve-se ao fato de que nos ultimos

anos o numero de participação local aumentou, tanto das comunidades como do numero de

agentes de praia (monitores).

No período de 2009 a 2012 a quantidade de ninhos e filhotes monitorados pelo

programa “Quelônios do Uatumã” foi bastante expresiva em relação aos anos anteriores.

Dado a este fato, a inclusão dos lagos do Calabar rio acima, na comunidade Bela Vista e da

inclusão de outras seis comunidades participando ativamente do programa (figura 6).

O declínio no número de ninhos nos anos de 2013 e 2014 mostrados na figura 6,

ocorreu devido a falta de agentes de praia (monitores) voluntarios nos lagos do Calabar.

Page 29: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

27

As espécies com maior ocorrência no monitoramento foram o P. unifilis (5.156

ninhos e 63.918 filhotes); P. expansa (818 ninhos e 50.706 filhotes); P. sextuberculata

(541 ninhos e 4.047 filhotes) e, P. erythrocephala (259 ninhos e 1.349 filhotes), ver tabelas

3 e 4.

Nas comunidades São Benedito, Manaain e Maracarana houve maior ocorrência da

espécie tracajá (P. unifilis) em relação às demais espécies mencionadas. Nessas

comunidades a ocorrência de tartarugas se reproduzindo nos lagos ou praias é bem

reduzida. Na comunidade Bela Vista as espécies mais comuns e abundantes são P. unifilis,

P. sextuberculata e P. expansa. Nas comunidades do Caioé Grande e Nossa Sr.ª do

Livramento ocorrem às quatro espécies (P. expansa, P. unifilis, P. sextuberculata e P.

erythrocephala), ocorrendo maior quantidade de tartaruga-da-Amazônia na comunidade do

Livramento, protegendo 73% dos ninhos de P. expansa em suas praias; 63% das praias e

tabuleiros encontra-se em seu território e, protegeu apenas 29% de P. unifilis do total de

ninhos protegidos pelas comunidades que foram 76%, tabelas 3 e 4.

Tabela 3. Monitoramento de quelônios Podocnemididae na RDSU entre 1995-2014. Fontes: Relatórios do

CPPQA/Eletrobras e planilhas de campo e arquivos eletrônicos do PQU, (setembro de 2014 à fevereiro de 2015).

Legenda: PT= praias ou tabuleiros; pe = P. expansa; pu = P. unifilis; ps = P. sextuberculata; pr = P.

erythrocephala; TNC = total de ninhos por comunidade e TNE= total de ninhos por espécie.

Número de ninhos por espécie

Comunidades PT pa pu ps pr TNC

Bela Vista 6 199 952 100 5 1256

Maracarana 6 15 2194 0 1 2210

N.Srª. do

Livramento

31 602 1521 399 247 2769

Manaain 2 1

0

1

155 0 0 156 São Benedito

Caioé Grande

2

2

140

194

0

32

0

6

140

233

49 TNE 818 5156 531 259 6764

48 32 29 31 48 42 59 87 115 130 103 293 307 414 1244 1210

772 812 459 529

3765

2622 1752

853

2627

1219 1019 1189 1924

2601 2520

4293

7348 6460

16443

14782

13529

17104

8809 8635

Ninhos e filhotes de Podocnemididae monitorados na RDS Uatumã

(1995 a 2014).

ninhos filhotes

Figura 5. Ninhos e filhotes monitorados na RDSU, dados coletados de relatórios técnicos do CPPQA

e de planilhas de campo do PQU, fevereiro de 2015.

Page 30: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

28

Tabela 4. Filhotes de Podocnemidae nascidos na RDSU entre 1995-2014. Fontes: Relatórios do

CPPQA/Eletrobras, de planilhas de campo e arquivos eletrônicos do PQU, (setembro de 2014 a fevereiro de

2015). Legenda: PT= praias ou tabuleiros; pa = P. expansa; pu = P. unifilis; ps = P. sextuberculata; pr = P.

erythrocephala; TFC = total de filhotes por comunidade e TFE= total de filhotes por espécie.

Filhotes nascidos por espécies

Comunidades PT pa pu ps pr TFC

Bela Vista 6 11563 8707 1300 60 21630

Maracarana 6 1768 31938 0 12 33718

N.Srª.do Livramento 31 37245 19213 2267 1219 59904

Manaain 2 43

*

87

1059 * * 1102

São Benedito

Caioé Grande

2

2

572

2429

*

480

*

58

572

3054

49 TFE 50706 63918 4047 1349 119980

A espécie capirã ou irapuca (P. erythrocephala) ocorre mais nos igarapés de água

clara e escura do complexo de lagos do Jaraoacá e nos lagos do Caioé Grande. Essa

espécie só ocorre rio abaixo, não se tem registros rio acima.

Em 2003, o PQU começou atuar com mais frequencia na RDSU até o ano de 2012;

entretanto, o monitoramento mostra-se ascendente com maior ocorrência em 2009. Quando

foi monitorado o maior numero de ninhos e filhotes de P. unifilis, esse sucesso reprodutivo

se deu pela participação de mais comunidades no monitoramento e também pelo cenário

atipico de um verão prolongado, com o surgimento antecipado dos bancos de areia e das

margens dos lagos, favorecendo a postura em diversos sitios. Já para Podocnemis expansa

ocorreu grande dispersão dos animais, nidificaram nas praias que antes não costumavam

visitar, muitas tartarugas desovaram na margem do rio Uatumã e os ovos foram

facilemnete saqueados e predados, (Oliveita et al., 2011), (figura 6.

Os lagos do Calabar, do Jaraoacá e do Maracarana abrigam vários sítios

reprodutivos, pois são áreas com grande potencial para o turismo de conservação, por

possuir um único acesso no verão, favorecendo a prática da pesca esportiva dos tucunarés

(Cicha sp.) de maior tamanho do rio Uatumã. Para servir de base de apoio no

monitoramento de quelônios, um flutuante do projeto fica posicionado na entrada do lago

Jaraoacá. Para ter acesso ao lago, os turistas pagam R$ 50,00, sendo este acompanhado

pelo agente comunitário aos pontos de pesca esportiva permitidos no lago, respeitando às

regras deste tipo de esporte deliberadas no Regimento Interno e Estatuto do Conselho da

RDSU. A comunidade faz um revezamento nesta atividade, o que possibilita um

complemento de renda para as famílias.

Nas três comunidades Maracarana, N. Sr.ª. do Livramento e Bela Vista contempladas

e beneficiadas com o maior número de lagos (figuras 7), possuem maior quantidade de

lagos (5-4-8), maior número de monitores ou agentes de praias (5-4-2) e maior quantidade

de praias de desovas (6-31-6) respectivamente.

Page 31: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

29

Essas comunidades mostraram-se mais interessadas em proteger essas áreas, pelo

fato majoritariamente de uso exclusivo das famílias residentes dessas localidades e, são as

que mais recebem incentivos das instituições fomentadoras (Eletrobrás/CPPQA,

CEUC/Probuc e Prefeituras). Com isto, acabam levando mais vantagens no

monitoramento, pois se observam como áreas de grande relevância para a conservação de

quelônios, santuários, lagos de criação e reprodução que servem para o abastecimento da

pesca esportiva e de recursos de subsistência das famílias, isso facilita à adesão da proposta

do programa.

Figura 6. Monitoramento reprodutivo de Podocnemididae. Legenda: (A) número de ninhos, relatórios técnicos do PQU 1995-

2014; (B) número de lagos, fichas de monitoramento dos comunitários 2003-2013; (C) monitores Agentes de Praia, entrevistas

na RDSU em 2015; (D) número de praias, fichas de monitoramento dos comunitários 2003-2014.

0

1

2

3

4

5

6

7

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

Maracarana

A B C D

0

5

10

15

20

25

30

35

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

N. Sra. do Livramento

A B C D

0

1

2

3

4

5

6

7

0

100

200

300

400

500

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

Bela Vista

A B C D

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

São Benedito

A B C D

0

0,5

1

1,5

2

2,5

050

100150200250300350400450

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

Caioé Grande

A B C D

0

1

2

3

050

100150200250300350400450

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

Mannain

A B C D

Page 32: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

30

Os mapas confeccionados pelos comunitários registraram 45 praias ou tabuleiros, 9

boiadouros, 6 áreas de alimentação e 7 áreas consideradas críticas, de captura dos

quelônios, ver (figuras de 7 e 8). É importante registrar que as praias identificadas na

comunidade do Maracarana, nem sempre são formadas por bancos de areia, apenas por

barro com aspecto ferrugíneo que compromete o nascimento dos filhotes. Quando isso

ocorre, os ninhos são transferidos para praias com areia.

As localidades identificadas com praias arenosas foram às comunidades do

Livramento, Bela Vista e Maracarana. São Benedito e Manaain possuem um único ponto

de praia de areia, sendo o restante das áreas desses locais composto de barro

argilo/arenoso. Nos mapas cognitivos elaborados pelas comunidades estão identificadas

somente as praias de areia. Entre tanto, na visitação in loco, percebeu-se que há uma

concentração de novas pequenas áreas de reprodução inseridas no monitoramento, antes

não consideradas como áreas de reprodução.

O número de boiadouros ou poços, indicados pelas comunidades foram 11 com

maior ocorrência nas comunidades Maracarana e Livramento (3 e 2), respectivamente.

Estes locais servem, também, de refúgios no verão para os peixes bois (Trichechus

inunguis), Lazzarini, (2001).

As áreas de alimentação identificados no mapa foram em número de seis, são

compostas por arbustos, sendo as Mirtaceas (araçás e camu-camu), as mais comuns

presentes nessas áreas, especialmente, nas matas de igapós e nas margens de ilhas do Rio

Uatumã. Quanto à dieta alimentar desses animais, a maioria dos quelônios é onívora

(generalistas) (LAGLER, 1943), consomem os recursos disponíveis em maior abundância

em sua área de vida. Indivíduos maiores (adultos) se utilizam em sua maioria de material

vegetal (Bjondal, 2006), Cunha (2013) em sua pesquisa no Rio Uatumã encontrou a

Genipa americana a espécie vegetal mais consumida pelos Podocnemidae, demostrando

grande importância na dieta.

O mapa apresenta sete áreas de captura indicadas pelos comunitários, nota-se que no

momento da confecção do mapa, o pesquisador induziu a interpretação do termo área de

captura por área de caça. Na concepção dos comunitários, área de captura são aquelas em

que os quelônios são mais predados, também conhecidos como áreas de pesca.

A época de maior captura compreende o período de seca, quando as fêmeas estão

mais vulneráveis e ocorre o agrupamento nos boiadouros. No Parque Nacional do Jaú, a

captura para o comércio também e realizada com maior intensidade no verão. “A coleta de

Page 33: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

31

ovos é uma atividade intensa durante a estação seca, após a emersão das praias. A captura

de bichos de casco e a coleta de ovos variam de acordo com o rio ou trecho de rio e a

época” (Rebêlo, 1996).

Figura 7. Área de distribuição local dos Podocnemididae. Legenda: (A) Caioé, (B) Livramento e (C)

Manaain. Dados coletados através de metodologia do mapa cognitivo e visita in loco, na RDSU,

fevereiro/2015.

(A)

(B)

(C) (C)

(B)

(A)

Page 34: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

32

Figura 8. Área de distribuição local dos Podocnemididae, (D) Maracarana; (E) São Benedito e (F) Bela Vista.

Dados coletados através de metodologia do mapa cognitivo e visita in loco, na RDSU, fevereiro/2015.

(D)

(E)

(F)

(D)

(E)

(F)

Page 35: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

33

A tabela 5 se refere aos valores médios nos sítios de postura vistoriados

(georeferênciados) em campo por aparelhos GPS e indicados em mapas construídos a

partir de informações memorizadas. Quanto a densidade relativa, os valores médios por

comunidade apresentam diferenças, com destaque para comunidade Nossa Sr.ª do

Livramento que possui o maior número de sítios reprodutivos.

Tabela 5. Densidade relativa dos sítios de nidificação de quelônios por local. Dados coletados através

de entrevistas na RDSU visita a campo em fevereiro de 2015.

Informação memorizada

Local

famílias

(a)

nº sítios

indicados

(b) (b)/(a) média

Bela Vista 16 6 0.37

Maracarana 21 5 0.23

N.Srª.do Livramento 12 30 2.50 1.03

Manaain 5 2 0.40

São Benedito 6 3 0.50

Caioé Grande 10 3 0.30 0.40

Os valores médios das demais comunidades apresentaram diferença valores

semelhantes. As comunidades Nossa Senhora do Livramento, Maracarana e Bela Vista

possuem maior número de lagos, portanto, apresentam o maior número de sítios

reprodutivos, totalizam 43 praias, possuem ambientes ideais para a conservação dos

quelônios e, o número de famílias que monitoram os ninhos e maior do que nas

comunidades do Caioé Grande, Manaain e São Benedito, tabela 4.

As famílias das comunidades São Benedito, Caioé Grande e Manaain, declararam ser

usuários dos recursos quelônio, com média de consumo por família de (9.45±0,68)

espécimes e (7.76±2,95) covas. As comunidades N. Sr.ª do Livramento, Maracarana e Bela

Vista tiveram consumo médio por família de (4.66±1,19) espécimes e (5.00±1,41) covas.

Tabela 6 e 7.

Tabela 6. Frequência de captura de quelônios para consumo 6 ( meses). Dados coletados através de

entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.

Local

Espécimes/família Média/DP

Consumo total pr ps pa pu média

Bela Vista 65 0.00 0.00 0,00 5.40 1.35

Maracarana 85 0.00 0.00 0,00 3.90 0.98 4.66/1.19

N.Srª.do Livramento 110 0.01 1.90 3.00 4.30 2.30

Manaain 85 0.00 0.00 0.30 16.70 4.25

São Benedito 69 0.00 0.00 0.00 8.70 2.18 9.45/0.68

Caioé Grande 96 0.00 3.80 0.90 7.40 3.03

Média 152 0.00 0.99 0.70 7.73 2.35

DP 23,01 1.18

Page 36: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

34

Tabela 7. Coleta de ninhos e ovos de P.unifilis para consumo, (6 meses). Dados coletados através de

entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.

Local

Espécies

Média, ninhos

e ovos/família

ninhos ninhos/família ovos ovos/família

Bela Vista 48 5.20 864 54

Maracarana 133 6.30 2394 114 5.00/70

N.Srª.do Livramento 42 3.50 756 42

Manaain 46 9.20 828 165

São Benedito 58 9.70 1014 169 7.76/132

Caioé Grande 35 4.40 630 63

Média 60.33 6.38 1081 102.09

DP 36.39 56.60

As localidades que apresentam menor número de praias de desova dos

Podocnemididae são as comunidades com maior acesso ao recurso. Deste modo, relatos

das famílias entrevistadas afirmaram que os barcos que os conduzem com seus produtos

para as feiras dos municípios vizinhos, fazem o transporte ilegal de quelônios e ovos.

A tabela 8 identifica que além dos Podocnemididae também são consumidos os

Testudinidae, em maior quantidade pela comunidade do Livramento, Manaain e

Maracarana, respectivamente, em relação às demais localidades pesquisadas. Quando o

consumo é por família, as que mais utilizam os recursos quelônios na dieta alimentar são as

famílias da comunidade São Benedito, Caioé Grande e Nossa Senhora do Livramento

respectivamente.

Tabela 8. Consumo de quelônios pelas famílias entrevistadas, (agosto/2014 a janeiro/2015). Legenda:

Comunidades: CG – Caioé Grande; MN-Manaain; SB-São Benedito; NL- Nossa Senhora do

Livramento; MR-Maracarana e BV-Bela Vista. Dados coletados através de entrevistas, fevereiro de

2015.

Comunidades /famílias n=70

CG MN SB NL MR BV

Total

% do Total

consumido

Tracajá (P. unifilis) 59 82 49 51 81 55 377 66,14

Tartaruga (P.expansa) 7 1 0 36 2 2

48 8,42

Jabuti (Chelonoidis sp.) 0 18 6 29 15 4

72 12,63

Iaçá (P. sextuberculata) 30 0 20 23 0 0

73 12,81

Total 96 101 75 139 98 61 570

Média 24,00 25,25 18,75 34,75 24,5 15,25 142,5

DP 43,81 48,02 34,23 55,12 46,62 29,50

Consumo / Familia 9,6 5,1 12,5 11,6 4,7 3,8

Page 37: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

35

De modo geral, o consumo de quelônios pelas comunidades foi expressivo, sendo

(66%) de P. unifilis, (13%) de P. sextuberculata e Chelonoidis sp. e (8%) de P. expansa

(figura 27). Resultados similares a estes, foram citados por Andrade e Pinto et al. (2001)

no município de Terra Santa no Pará, os quais confirmam maior consumo da espécie

tracajá (79,5%), pitiú (15,5%) e tartaruga (4,5%).

Figura 9. Percentual de consumo de quelônios pelas famílias entrevistadas. Dados da entrevista na

RDSU em fevereiro de 2015.

Em relação ao consumo de quelônios já havia uma preocupação no controle do

recurso pelos comunitários, como afirma:

Antes de iniciar a preservação, não deixavam nenhuma cova

de tracajá, matavam tudo enquanto era bicho, chamei um

compadre meu presidente e falei. Agente libera para os de

fora, mas os de casa tem que dá bom exemplo, conversamos

com a comunidade e começamos o trabalho de preservação

(Fonte: morador da comunidade do Maracarana, 58).

Com relação ao consumo de animais silvestres foram relatados nas entrevistas os

seguintes fatos: o consumo de roedores caviomorfos, 310 pacas (Cuniculus paca) e 237

cutias (Dasyprocta sp.). Aves como os cracídeos, 200 mutuns (Mitu mito) e 35 Inambu

(Inhambu sp.). O que representa um alto consumo de animais silvestres nessas

comunidades, mesmo as que participam do programa, situação característica em caça de

terra-firme e em áreas agrícolas com crescimento demográfico. (Figura 10).

Dentre as espécies abatidas para o consumo, o tatu canastra (Priodontes máximus)

merece uma atenção especial por parte das instituições que normatizam a fauna silvestre no

estado e municípios, por serem abatidos com frequência na RDSU, e as comunidades

Tracajá (P.

unifilis); 66,14;

66%

Tartaruga

(P.expansa); 8,42;

8%

Jabuti (Chelonoidis

sp.); 12,63; 13%

Iaçá Podocnemis

sextuberculata);

12,81; 13%

Consumo de quelônios por espécie

Page 38: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

36

desconhecerem que a espécie consta na lista dos animais ameaçados de extinção.

Evidencias percebidas por morador da localidade:

Hoje não tem 20% de fartura que conheci neste rio

Uatumã em 1978, usavam a banha do tambaqui para

fazer óleo para iluminar as lamparinas, vi 700 pacas

saindo mortas da boca do rio Abacate (Fonte:

morador da comunidade Bela Vista, 63).

4.2 - Caracterização dos grupos de usuários

As famílias entrevistadas nas áreas de atuação do PQU são de procedências distintas

de outros municípios: Amazonas, Pará e Acre (13, 4, 1) respectivamente. Nas décadas de

1980-1990 motivadas pelo desemprego no meio urbano; retorno ao ambiente rural em

busca de melhor qualidade de vida e de terra para agricultura/extrativismo; para

acompanhar familiares (pais e cônjuges) e, em busca de emprego assalariado nas

comunidades (funcionário da escola e posto de saúde rural), (PEREIRA et al., 2001).

Nesse período, o rio Uatumã era divulgado como um rio farto com muitos peixes,

quelônios e terras disponíveis, segunda a afirmação de 42% dos entrevistados.

Das 70 (setenta) famílias entrevistadas (16%) vieram do município de Manaus-AM,

(14%) de São Sebastião do Uatumã-AM, (13%) de Parintins-AM, (11%) de Itapiranga-

AM, (10%) de Presidente Figueiredo-AM, (7%) de Itacoatiara-AM e Santarém-PA, (4%)

de Urucará-AM e (1%) os demais municípios (figura 11).

237

310

20

100

31 16 9

55

7 26

200

377

48 72 73

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Figura 10. Fauna Silvestre consumo de subsistência, RDS Uatumã, agosto de 2014 a janeiro de

2015. Dados coletados através de entrevistas (N=70) de recordação em fevereiro de 2015.

Page 39: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

37

Figura 11. Procedência das famílias entrevistadas, dados coletados através de entrevistas na RDSU,

fevereiro de 2015.

O ano de 1989 foi marcado pela abertura das comportas da barragem da UHEB

causando um grande impacto negativo na qualidade da água a jusante da barragem. As

condições tornaram-se, de tal modo, insuportáveis, que algumas famílias relataram a morte

de muitos peixes denominando esse fato de “envenenamento da água”. Nesse período

houve fuga em massa da população assentada no Uatumã para as cidades de Itapiranga,

São Sebastião e Presidente Figueiredo, (Lazzarini, 2002).

A média de idade dos 70 chefes de família entrevistados nas seis comunidades da

RDSU foi de 43 anos, com variação de 20 anos para o mais novo e 74 para o mais velho,

(Figura 38). Média de idade aproximado ao encontrado por Pereira et al, (2001) e

IDESAM (2011) no Plano de Gestão da RDSU, que foram de 40 e 48 anos,

respectivamente.

A maioria das pessoas que moram hoje na RDSU não nasceu nos municípios de

jurisdição da reserva. Dos chefes de família entrevistados (66%) imigraram de outros

munícipios do estado do Amazonas, (22%) nasceram nos municípios que limitam com o

Uatumã (Presidente Figueiredo, Itapiranga e São Sebastião do Uatumã) e de outros

estados, Pará (11%) e Acre (1%).

Segundo Pereira et al, (2001), 35% das famílias do Uatumã chegaram no local depois

da abertura das comportas da UHE, em 1989. Declararam serem originárias de outros

municípios do Estado do Amazonas. Antes desse período, o número de imigrantes era bem

maior (50%). Esse fato ajuda entender a mobilidade das famílias na RDSU, antes da

abertura das comportas ou da construção da UHE quando a migração era menor, em

Manaus - AM

16%

Itapiranga-AM

11%

S.S. Uatumã-AM

14%

Faro-PA

1% Nhamunda-PA

1%

Maues-AM

1%

Parintins-AM

13%

Humaitá - AM

1%

Urucara -AM

4%

Santarem-PA

7%

Rio Branco-AC

1%

Obidos-PA

1%

Ilha de

Marajo

1%

Tefé- AM

1%

Presidente

Figueiredo-AM

10%

Manacapuru-AM

3%

Itacoatiara-AM

7% Beruri-AM

1%

Careiro

Castanho_AM

1%

Page 40: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

38

relação ao período pós-usina na década de 2000, quando a imigração de moradores de

outros municípios foi maior.

Quanto à escolaridade média das pessoas entrevistadas nas seis comunidades, a

média escolar corresponde ao 4ª ano do ensino básico ou fundamental, coincidindo com o

que consta no Plano de Gestão da RDSU (IDESAM, 2011). O tempo de permanência das

famílias nas comunidades varia de 6 a 27 anos, em média, dos quais 16 anos por família

entrevistada. Percebe-se uma rotatividade grande de famílias nas comunidades do

Manaain, São Benedito e Bela Vista. Essas famílias, geralmente, não apresentam interesse

em participar do trabalho de conservação de quelônios. O compromisso com os lagos, os

recursos pesqueiros e da fauna não são prioridades para estas famílias, uma vez, que seu

domicílio é temporário nessas localidades.

Figura 12. Tempo médio de morada, escolaridade e idade dos chefes de família na RDSU Dados

coletados através de entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.

Quanto a propriedade de terras, as famílias entrevistadas não apresentaram diferenças

significativas relacionada à quantidade de propriedades de terra firme e várzea. Isto quer

dizer que o acesso a terra é similar para todas as comunidades. A posse da terra é do

governo e as famílias só possuem a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU). Assim, a

princípio, as oportunidades econômicas alternativas são semelhantes para as seis

comunidades, não havendo, a priori, a necessidade de avançar com a exploração sobre os

recursos aquáticos “quelônios” por esta ou outra comunidade. Os sítios declarados pelas

famílias apresentaram tamanhos que variam de 27,8 ha/família (mínimo) e 181,2

ha/família (máximo).

18

25

6

27

9 12

16

41 43 45 41 42

48 43

4 4 4 5 4 5 4

0

10

20

30

40

50

60

Tepo de moradia/RDSU

Média de Idade

Escolalaridade media

Page 41: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

39

Tabela 9. Áreas de terra firme e várzea. Dados coletados através de entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015.

As famílias entrevistadas apresentaram fontes de renda variadas, os benefícios

sociais representam 48%, constituindo-se da aposentadoria, pensão e bolsas (floresta,

família e jovem), seguido com 20% da agricultura, com especial atenção para o fabrico de

farinha de mandioca e subprodutos, considerado a principal atividade agrícola. O turismo

esportivo 9%, assalariados (professores, merendeiras, barqueiros e agente de saúde)

representam 9% da renda; comercio de animais domésticos 7%; comércio de animais

silvestres 4%; pesca do peixe miúdo (matrinxã e o jaraqui) 3%, (figura 29).

As bolsas (família e floresta) por si só, representam 44% da renda das famílias

entrevistadas. Muitas famílias migraram para as cidades de Itapiranga, São Sebastião do

Uatumã e Presidente Figueiredo motivadas pelas bolsas. Associado a este fato, a falta de

escola de ensino médio na RDSU, para a continuação dos estudos dos filhos é uma

agravante. Se os filhos não estiverem na escola, os benefícios das “bolsas” são canceladas

pelo governo federal. As alternativas encontradas para manterem seus filhos na escola foi a

migração para as cidades.

.

Figura 13. Fonte de rendas das famílias da RDSU. Dados coletados através de entrevistas na RDSU,

fevereiro/2015, n=70 famílias.

Local

Índice médio /família entrevistada

Áreas (Ha) Média DP

Bela Vista 181.2 1.06 0.25

Maracarana 122.6 1.29 0.46

N.Srª.do Livramento 20.6 1.17 0.39

Manaain 44.0 1.20 0.45

São Benedito 30.0 1.17 0.41

Caioé Grande 175,7 1.20 0.32

Bolsa jovem 1%

Bolsa Familia 22%

Bolsa floresta 22%

Salario 9%

Aposentadoria 2%

Pensão 1%

Agricultura 20%

Pesca peixe miudo 3%

Turismo 9%

Animais domesticos

7%

Animais Silvestres 4%

Page 42: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

40

As comunidades do Manaain, São Benedito e Bela Vista são as que apresentaram

maiores relatos de migração de famílias para as cidades de Itapiranga, São Sebastião do

Uatumã e Presidente Figueiredo. Os entrevistados relataram que os ex-moradores retornam

para RDSU para pescar e caçar animais silvestres para comercio nas cidades e, sempre traz

em sua companhia amigos ou parentes das cidades.

As comunidades do Manaain, São Benedito e Caioé Grande apresentam mais

resistência nas práticas restritivas do uso dos recursos, uma vez que para isso teriam que se

submeter às regras internas de manejo estabelecidas pela comunidade que tornam mais

difícil a exploração da pesca comercial e da caça ilegal de Podocnemididae.

A renda média mensal das famílias entrevistadas é de R$ 853, 033 reais; por este

víeis, entendemos que a renda mínima é de R$729,81, a renda máxima é de R$916,2 e DP=

68,63 (dados coletados entrevistas na RDSU, fevereiro de 2015). O que eleva esse valor

médio da renda para as famílias são os benefícios oriundos dos programas sociais como

Bolsa Família, Seguro Defeso, Vales etc. Este fato se traduz num agravante quando se

tornam dependentes destes benefícios, fazendo com que a produtividade agrícola diminua.

Os núcleos familiares são compostos de 4 a 6 pessoas, ademais, muitos filhos casam

e moram com os pais, dividindo o trabalhando e os lucros “trabalhando de meia2",

principalmente no preparo da farinha e de seus subprodutos.

A pesca do peixe gordo na RDSU compreende o período de 01 Março a 30 de Julho

de cada ano segundo as regras de pesca esportiva. Somente as comunidades N. Sr.ª. Do

Livramento e Caioé Grande praticam a pesca comercial do peixe gordo.

A pesca é permitida somente para pescadores moradores das comunidades da RDS

Uatumã “considera morador pessoas que tenha fixado residência na comunidade da RDS

Uatumã no tempo mínimo de 02 (dois) anos” de acordo com o Plano de Gestão (IDESAM,

2011). As Instituições que acompanham as atividades da pesca comercial é a Colônia de

pesca (Z-22 AM), do município de Itapiranga; e a colônia de pesca (Z-26 AM) que

representa o município de São Sebastião do Uatumã.

No ano de 2014 as comunidades N. Senhora do Livramento e Caioé Grande tiveram

renda anual e mensal com a venda do peixe gordo, na ordem de R$1132,00/R$94.33 e

R$792,00/R$66,00, respectivamente.

2 Trabalhando de meia – expressão utilizada por comunitários para explicar o trabalho de sociedade.

Geralmente são filhos que casam e moram com os pais, unem força de trabalho e dividem os lucros.

Page 43: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

41

Tabela 10. Renda comercial da pesca do peixe gordo (matrinxã e jaraqui). Dados coletados através

de entrevistas na RDSU, fevereiro/2015.

Local

Nº Famílias

Entrevistadas

R$ / ano Média mensal

DP

Bela Vista 16 0.00 0.00 0.00

Maracarana 21 0.00 0.00 0.00

N.Srª. do Livramento 12 1132.00 94.33 136.30

Manaain 5 0.00 0.00 0.00

São Benedito 6 0.00 0.00 0.00

Caioé Grande 10 792.00 66.00 67.34

A renda das famílias com a produção agrícola e extrativa é um indicador importante,

que informa se as comunidades desenvolvem atividades alternativas econômicas para

geração de renda.

Na tabela 11 observa-se que a renda anual e mensal por localidade com a produção

agrícola é maior nas comunidades Maracarana e Bela Vista (R$4.320,00/360,00 e

R$3.474,00/289,53) respectivamente, sugerindo que essas comunidades demonstram ter

mais habilidades em ações de alternativas econômicas para garantir sua subsistência.

Tabela 11. Renda comercial da produção agrícola. Dados coletados através de entrevistas na RDSU,

fevereiro/2015.

Local

Nº Famílias

Entrevistadas

R$ / ano Média mensal

DP

Bela Vista 16 4320.00 360.00 409,87

Maracarana 21 3474.36 289.53 344,51

N.Srª.do Livramento 12 3690.00 307.50 182,13

Manaain 5 3360.00 280.00 408,65

São Benedito 6 3864.00 322.00 117,13

Caioé Grande 10 2739.60 228.30 199,32

As famílias entrevistadas, para obter renda, praticam a atividade extrativista

(castanha, o tucumã e o buriti) em menor escala em relação à agricultura, sendo esta uma

ação alternativa de renda complementar. Isso corrobora com Lazzarini, (2001).

A produção agrícola de maior importância para as famílias entrevistadas é a

mandioca, seguida da banana, melancia e macaxeira. Dados similares foram relatados por

Pereira et al, (2001), destacando a melancia como atividade mais rentável, apesar da

mandioca ser o cultivo mais importante para as famílias.

A agricultura é praticada em sítios arqueológicos, conhecidos como terra preta de

índio, que por ser mais fértil, garante maior produtividade agrícola. Solos mais distantes

Page 44: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

42

das margens dos rios, com exceção dos sítios ancestrais, são menos produtivos por serem

pobres em matéria orgânica e nutrientes do que os solos de várzeas (Petrere, 1990). Além

do baixo potencial para agricultura e pecuária, por essas áreas serem banhadas por rios de

água preta, quando são utilizados podem causar danos ecológicos, oferecendo poucas

vantagens agrícolas a longo prazo (Junk, 1993).

As roças do Uatumã são caracterizadas como subsistemas dos sistemas

agroflorestais, onde o plantio de culturas anuais é alternado em uma mesma área. As

capoeiras são vegetações predominantes em período de “pousio”. O uso do fogo é muito

comum na abertura e formação das roças, possibilitando o plantio somente em até dois

ciclos, com maior produção da mandioca no segundo ciclo devido a maior decomposição

de raízes e resíduos com a derrubada, o que possibilita maior disponibilidade de nutrientes,

(Guimarães, 2013).

4.3. Avaliação das regras e instituições locais na gestão e uso dos recursos.

Os indicadores que melhor respondem à questão proposta pelo objetivo (3) são as

normas de apropriação dos recursos, as regras de acesso e as formas de monitoramento de

recursos de uso coletivo, ou seja, o conjunto de incentivos institucionais geridos pelos

próprios moradores locais ou instituições externas para disciplinar o consumo e uso de

recursos em sua localidade. Estes indicadores revelam quais as localidades mais bem

sucedidas em negociar, implementar, monitorar e reforçar esquemas de manejo

participativo.

No caso das localidades estudadas, os principais recursos de uso coletivo que estão

sujeitos ao controle local é o recurso pesqueiro. A pesca e os quelônios representam para a

maioria das localidades ribeirinhas do Rio Uatumã recursos estratégicos para a

sobrevivência das populações locais. A defesa de ambientes pesqueiros e de uso exclusivo

das famílias residentes cria territórios protegidos, onde é possível manterem-se os

incentivos para o manejo participativo de quelônios.

Na RDSU existem regras para pesca esportiva e pesca comercial do peixe gordo, as

regras são elaboradas de forma participativa, discutidas em assembleias e construídas pelas

21 comunidades participantes, com acompanhamento e monitoramento da Secretaria de

Meio Ambiente do Estado (SDS), Associação Agroextrativista das Comunidades da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (AACRSU) conhecida como Associação

Page 45: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

43

Mãe, Agentes Ambientais Voluntários (AAV), Instituto de Conservação Sustentabilidade

do Amazonas (IDESAM) e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM).

O período destinado para a pesca esportiva compreende ao período de 15 de agosto a

15 de dezembro de cada ano. Exceto para as pousadas comunitárias, que poderão receber

os turistas o ano inteiro. Toda embarcação deverá ter autorização da Associação Mãe da

RDSU ou realizar parceria com algum morador da RDS do Uatumã e, este ficará

responsável pela conduta da mesma. As embarcações, além de estarem devidamente

legalizadas pela capitania dos portos e sua tripulação, são obrigados pagar uma taxa para a

Associação Mãe ou CEUC. As regras de pesca são intermediadas e publicadas pelo

IPAAM e SDS.

Em algumas áreas a pesca esportiva é proibida, essas localidades recebem uma placa

e/ou bandeiras vermelhas para a sinalização. Nas localidades onde a pesca esportiva e

permitida, as embarcações somente poderão entrar no horário de 05h00minh as

17h00minh, com exceção nas comunidades do N. Sr.ª do livramento e Caioé Grande que o

horário é negociado até as 18:00h (ver regra da pesca esportiva no Anexo II).

Nas regras formais da pesca esportiva, também são incluídas algumas áreas de

tabuleiros/praias de nidificação dos Podocnemididae, nessas áreas a pesca esportiva poderá

acontecer somente até as 16h00minh para deixar a praia livre para a subida das tartarugas.

“Locais de tabuleiros/praia: Bela Vista; Calabar, Cumaitetuba, Maracarana; boca do

Arrozal, Boca do Mutunquara, Ilha do lago do Maracarana)”. Nas regras de pesca

esportiva as comunidades do Maracarana e Bela Vista conseguiram inserir seus complexos

de lagos ou tabuleiros no instrumento de regulamentação e controle de pesca esportiva.

Outra regra formal construída e discutida pelas comunidades é a “regra do peixe

gordo”, a qual exige que as embarcações de pesca comercial ao entrar e sair da RDSU

deverão parar na base de apoio da RDSU, localizada na margem esquerda do rio Uatumã,

nas coordenadas (S 02º 32’ 39,9” W 058º 09’ 39,2”), rio à baixo próximo a comunidade do

Caioé. Na Base, o responsável deverá se identificar aos técnicos do CEUC/SDS para

preencher o cadastro de acompanhamento da atividade de Pesca Comercial na RDSU,

prestando informações do barco e dos locais onde a atividade será ou foi realizada.

O acompanhamento e monitoramento são realizados em conjunto, entre CEUC/SDS

e IDESAM e a fiscalização pelo IPAAM.

Page 46: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

44

Para a atividade da pesca do peixe gordo são as comunidades que adquirem seus

próprios quites de pesca (canoa e rede), devendo ser comprovado mediante documentação

registrada em cartório, ou nota fiscal.

Ao avaliar as regras e instituições locais na gestão e uso do recurso quelônio,

percebe-se que as localidades que responderam positivamente ao esquema de manejo

participativo de quelônios, sejam também aquelas que foram mais “bem sucedidas” em

manter normas e regras internas de pesca que regulamentam o uso dos recursos pesqueiros

e que tenham sido capazes de assegurar a exclusividade do uso desses recursos aos grupos

de manejadores residentes. Os resultados evidenciam que esse fato acontece nas

comunidades do Maracarana, Nossa. Sr.ª do Livramento e Bela Vista. Estas tendem a uma

melhor forma de organizarem-se socialmente e desenvolverem práticas coletivas no

manejo de recursos locais.

A Tabela 12 informa sobre os tipos de acordo, os agentes e a intensidade de

exploração de recursos pesqueiros (comercio, pesca esportiva e quelônios).

Tabela 12. Agentes, intensidade de exploração comercial e tipos de acordos com os recursos peixes e

quelônios por intensidade (1 pouco; 2-medio; 3 muito). Legenda: PM= Próprios moradores; MV=

Moradores vizinhos; MC = Moradores da cidade; MM = Moradores de outro município; ME –

Moradores de outro Estado; SEE = soma de exploradores externos. Coleta de dados através de

entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.

Agentes e intensidade Ambientes Tipos de acordo

Comunidades PM MV MC MM ME SEE Aquáticos Verbal Formal

Bela Vista 0 0 3 3 2 8 Terra-firme 1 1

Maracarana 0 1 2 1 1 5 Terra-firme 1 1

N.Srª.do Livramento 1 0 2 3 3 8 Terra-firme 1 1

Manaain 1 3 3 2 1 9 Terra-firme 0 1

São Benedito 1 0 3 3 2 8 Terra-firme 0 1

Caioé Grande 1 1 3 3 3 10 Terra-firme 0 1

De modo geral, na tabela acima percebe-se que o SEE é maior nas comunidades do

Manaain, São Benedito e Maracarana enquanto que as atividades de pesca, sejam elas

comercial ou esportiva estão diretamente ligadas à captura dos quelônios. Na visão de

David McGrath, et al., (1993), a mudança na tecnologia pesqueira combinada com o

aumento na demanda (regional e de exploração) para o pescado amazônico, tem

aumentado substancialmente a pressão sobre o recurso.

As áreas de praia (tabuleiros) e lagos, em que há interdição de acesso para os barcos

de turismo, são sinalizados com bandeiras vermelhas, indicam restrições de acesso no

período da reprodução dos quelônios.

Page 47: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

45

No manejo de ambientes aquáticos para a pesca de subsistência o objetivo é manter a

produção da pesca relativamente alta, diminuindo o tempo necessário para suprir as

necessidades da família, e permitindo que o usuário local se dedique as outras atividades

alternativas de geração de renda, como a agricultura (David McGrath et al., 1993). As

famílias para sobreviverem às fases de transição das atividades de pesca comercial,

subsistência, ou esportiva, precisam aumentar sua produtividade na agricultura familiar, uma

vez que a eficiência da agricultura é comparada a pesca. Na RDSU as famílias, normalmente,

superam essa fase de transição e produzem bastante farinha no período em que o pescado fica

escasso (fevereiro a julho).

Em relação ao turismo, os pacotes turísticos são vendidos em Manaus e os turistas

são conduzidos em lanchas luxuosas para atividades da pesca esportiva no rio Uatumã. Há

uma pressão dos empresários do turismo, em pescar em áreas lacustres protegidas, locais

onde as comunidades fazem vigilância e o monitoramento reprodutivo dos quelônios, são

santuários e complexos de lagos, locais preferidos dos pescadores esportistas, amadores e

usuários externos.

Esse modelo de turismo de conservação está sendo organizado por outras

comunidades, e no futuro poderá ser legitimado. Na comunidade do Livramento essa

atividade gera renda para as famílias e proteção do pescado e dos quelônios. Esse lugar tem

uma grande riqueza arqueológica, paisagens edílicas e possuem cerca de trinta praias que

são visitadas pelos quelônios na época da reprodução.

Com toda essa riqueza, controle e iniciativas conservacionistas sendo realizadas

nesse conjunto de lagos, esses lugares são propícios para se implantar um novo modelo de

turismo “turismo de conservação” com a gestão e organização exclusiva das comunidades,

que poderá ser somado com o turismo de base comunitária para conservação dos recursos

locais.

Observou-se que em todas as localidades existe algum tipo de regra de acesso, das

quais as formais foram estabelecida pelos órgãos gestores da RDSU e as informais criadas

pelas próprias comunidades. As comunidades Bela Vista, Maracarana e Livramento

aplicam os dois tipos de regras. Um exemplo de regra informal criada pelas comunidades é

a de proteção das praias, uso dos quelônios e ovos, decidida em reunião comunitária. As de

uso formal são as estabelecidas nas reuniões do conselho do órgão gestor.

Page 48: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

46

Os esquemas de manejos foram classificados utilizado as respostas sobre regras de

acesso e normas de apropriação segundo a tipologia de recursos de uso coletivo de Baland

e Platteau, (1997), (Tabela 13).

Tabela 13. Regras de Acesso e Normas de Apropriação. Legenda: Regras de Acesso (Restrito aos

membros autorizados=1, flexível ou de livre acesso=2); Esf. Cap – Esforço de captura (não há

restrições = 0, só para consumo=1, comercialização restrita=2); Tec. Cap – Tecnologia de captura

(há restrições? não=0 e sim=1). Tipo I= regras de acesso flexível e normas de apropriação ausente;

Tipo III = regras de acesso restrito aos membros autorizados e normas de apropriação presente e

Tipo IV= regras de acesso flexível e normas de apropriação presente. Coleta de dados através de

entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.

Local

Regras

de

Acesso

Normas

Apropriação

Esf Cap Tec Cap TIPO Época Captura Área

Bela Vista 1 1 1 III Sazonal Terra-firme

Maracarana 1 1 1 III Sazonal Terra-firme

N.Srª.do

Livramento 1 2 1 III Anual Terra-firme

Manaain 2 0 0 I Sazonal Terra-firme

São Benedito 2 0 0 I Sazonal Terra-firme

Caioé Grande 2 2 1 IV Anual Terra-firme

Comparando-se os resultados por comunidade, observou-se que São Benedito e

Manaain possuem esquema de manejo de pesca flexível e de acesso livre sem normas de

apropriação (Tipo I), o acesso aos recursos por agentes externos pode ser permitido

mediante solicitação e a comercialização é permitida. Isto se configura como um regime de

propriedade de livre acesso.

A comunidade do Caioé Grande que possui normas de apropriação, participa da

pesca do peixe gordo seguindo as normas das regras da RDSU, portanto, se enquadra no

(Tipo IV). As comunidades do Maracarana, N Sr.ª do Livramento e Bela Vista são

comunidades que possuem normas de apropriação presente e o uso do recurso é de

exclusividade dos moradores, ou seja, são comunidades classificadas do (Tipo III),

apresentam maior grau de aceitação e adesão às práticas de manejo e conservação de

quelônios, por apresentarem certa organização interna para gestão dos recursos pesqueiros

e por terem criado suas próprias regras de proteção de praias e manejo dos

Podocnemididae.

A pressão de pesca ou captura de quelônios nos complexos de lagos depende do

conjunto de medidas adotadas pelas comunidades, (David McGrath et al., 1996). Para

Ostrom (1992), à medida que um grupo se comportar mais tipicamente como uma

comunidade, maior será a probabilidade de que ele venha a adotar mudanças nas regras

operacionais do uso do recurso que melhorarem a condição do recurso e o bem-estar da

comunidade.

Page 49: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

47

A tabela 14 a seguir trata das fases de monitoramento e reforço das regras de pesca e

acordo de regras verbais na proteção dos quelônios.

Tabela 14. Normas de Monitoramento dos recursos. AAV = agente ambiental voluntário; AP =

Agente de praia; COM = comunidade; (não=0; sim=1) Ag EXT = agentes externos. Coleta de dados

através de entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.

Agentes de monitoramento dos usuários locais Ocorrência

de punições Local AAV AP COM Ag EXT

Bela Vista 0 1 0 0 0

Maracarana 1 1 0 0 1

N.Srª.do Livramento 1 1 0 0 1

Manaaim 0 0 0 0 0

São Benedito 0 0 0 0 0

Caioé Grande 1 1 0 0 0

Em se tratando das normas de monitoramento dos recursos, as comunidades do

Manaain e São Benedito declararam nas entrevistas que não possuem usuários monitorados

por agentes locais. Nos casos em que membros da comunidade participam das ações de

monitoramento, esta tarefa está restrita há pequenos grupos sociais formados de moradores

ou indivíduos identificados como Agentes Ambientais Voluntários (AAV) e Agentes de

Praia (AP). Só houve relato punição de pescadores que violaram regras ou normas da pesca

nas comunidades do Maracarana e Nossa. Sra. do Livramento.

Percebe-se que as comunidades que tiveram pouca participação na atividade de

monitoramento dos quelônios, não fazem o monitoramento das regras de pesca e de outros

recursos. Assim, não havendo proteção e monitoramento dos recursos nessas localidades,

pode-se dizer que as regras não são efetivas. Segundo Ostrom, (1990) os usuários dos

recursos que atendem os três primeiros princípios de desenhos institucionais de uso dos

recursos, como, limites claramente definidos, regras adequadas e participação dos usuários

em eleições e deliberações coletivas, deveriam construir boas regras para o uso do recurso

sem custos elevados de implantação.

Nas comunidades do Maracarana e Nossa Sr.ª do Livramento, as formas de

monitoramento são patrocinadas pelos esforços próprios dos moradores locais e

instituições parceiras, e coincidentemente, houve punição independentemente da ajuda

externa de outros órgãos ou agentes reguladores.

As comunidades do Maracarana, N. Sra. do Livramento e Bela Vista apresentaram

maior índice médio da soma desses resultados nos indicativos de participação, portanto,

essas três comunidades apresentam maiores evidencias participativas (Tabela 18 em

Page 50: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

48

anexo), se mostraram mais envolvidas e mais organizadas para os trabalhos de proteção e

conservação dos recursos, (Tabela 15).

Tabela 15. Índices relativos a participação. Coleta de dados através de entrevistas na RDSU em

fevereiro de 2015.

Localidade

Participação

em Reuniões

Trabalhos

Coletivos

Soma

Total

Bela Vista 0.50 0.43 0.93

Maracarana 0.71 0.66 1.37

N.Srª.do Livramento 0.66 0.83 1.49

Manaain 0.40 0.40 0.80

São Benedito 0.33 0.50 0.83

Caioé Grande 0.60 0.40 1.00

Os trabalhos coletivos envolvem ações planejadas e organizadas, sendo um atributo

das comunidades que possuem maior participação no manejo de quelônios. Há exemplos

como; ajuri ou puxirum, outros trabalhos da comunidade ou Associação que caracterizam

essa prática. O item que se refere à participação em reuniões envolvem aos cultos

religiosos, às reuniões da Associação mãe da RDSU (AACRU) e reuniões para

planejamento de ações ligadas a jogos esportivos, festas religiosas das festividades da

comum idade, reuniões para pagar a associação e programas sociais comunitários. Os

índices foram calculados baseados nas respostas positivas dos entrevistados, referente à

participação em reuniões e formas de trabalho coletivo, o somatório dos entrevistados foi

dividido pelo número de famílias entrevistadas nas localidades.

O manejo local participativo representa uma alternativa ao modelo convencional

baseado no “sequestro social” de grandes territórios para o estabelecimento de unidades de

conservação geridos exclusivamente pelo poder público. Iniciativas de gestão local de

recursos buscam integrar e potencializar ações que objetivem a conservação da natureza e

o desenvolvimento social das populações simultaneamente (PEREIRA, 2002).

Os moradores das comunidades do Maracarana e N. Sr.ª do Livramento percebem a

noção distinta do território que lhes” pertence”, fato citado por David McGrath et al.,

(1993), como fundamental para o estabelecimento de manejo de áreas de uso comum.

Embora as comunidades da RDSU não tenham títulos definitivos, possuem a concessão do

direito real de uso (CDRU) que lhes garante o usufruto da terra.

As comunidades N. Sr.ª do Livramento, Maracarana e Bela Vista são as detentoras

de localidades com maior número de ambientes lacustres, praias ou tabuleiros, e

consequentemente possuem mais disponibilidade de recursos extrativos (peixes e

quelônios), além de outros serviços que geram rendas, como, o turismo e a agricultura

Page 51: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

49

familiar. São áreas extensas com a quantidade de praias monitoradas que variam de 6 a 31

praias ou mini tabuleiros e, possuem o maior contingente de monitores agentes de praia

comunitários, (Figura 15).

São ambientes muito requisitados pelos empresários do turismo e programas ou

instituições de iniciativas conservacionistas e de manejo (PQU, PROBUC e IDESAM), são

áreas visadas e pressionadas por usuários externos, que são ex-moradores da RDSU,

moradores das cidades de São Sebastião do Uatumã, Itapiranga, Presidente Figueiredo (

Vila de Balbina e PDS-Morena), que pressionam essas localidades tanto para formação de

assentamentos comunitários como para o uso dos recursos que são exclusividade dessas

localidades.

Essas três comunidades por ser mais requisitada para serviços e atividades

relacionadas a gestão da RDSU e por participarem com mais frequência das lutas políticas

da RDSU, possuem representantes no conselho deliberativo da reserva e lideranças, como,

a presidente e o vice-presidente da Associação Agroextrativista das Comunidades da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (AACRDRU).

Tendem ser comunidades mais organizadas por receberem mais benefícios e

incentivos tanto do órgão gestor da RDSU como de outras instituições, principalmente nas

atividades do manejo e conservação dos Podocnemididae, apresentando a maior frequência

de participação anual de (16, 16 e 8) respectivamente, (Figura 15). Os resultados

apresentados por estas comunidades confirmam com o que cita Ostrom (1990) e Pereira

Figura 15. Participação comunitária no PQU, número de lagos, praias e agentes de praia.

Legenda: Comunidades: CG – Caioé Grande; MA-Manaain; SB-São Benedito; NL- Nossa

senhora do Livramento; MR-Maracarana e BL-Bela Vista. Dados coletados através de

entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU, fevereiro de 2015.

16 16

8

3 3 2

31

6 6

2 2 2 4 5

8

1 1 2 4 5

2 2 3 1

0

5

10

15

20

25

30

35

NL MR BL MA CG SBComunidades

Tempo de participação no

PQA/ano

Nº de praias ou tabuleiros

Page 52: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

50

(2000), comunidades que se enquadram nessas características (maior grau de participação e

organização) tem maiores probabilidades para um resultado satisfatório.

A figura 16 mostra que a conservação e manejo dos Podocnemididae ou bichos de

cascos como são conhecidos pelos comunitários, está diretamente relacionada aos

incentivos recebidos pelos programas de conservação e instituições do governo, como o

programa “Quelônio do Uatumã”, CEUC/PROBUC e prefeituras. Os principais

investimentos do (PQU) na atividade, são, (gasolina, pagamento de agentes de defesa

ambiental e serviços e materiais para o evento de soltura dos filhotes), os eventos de

soltura são revezados somente duas localidades, Maracarana e N. Sr.ª. do Livramento.

As comunidades que são mais beneficiadas com os incentivos financeiros do PQU

são as comunidades N. Sr.ª. do Livramento e Maracarana. Atuam 16 anos no

monitoramento dos quelônios e recebem incentivos anuais em combustível (gasolina),

pagamento de um agente de defesa ambiental comunitário e, serviços e materiais para a

soltura dos filhotes. Vale ressaltar que os agentes de defesa pagos pelo PQU cuidam

também dos equipamentos e infraestrutura do programa na RDSU (flutuante e barco). As

outras comunidades não possuem agentes de defesa ambiental pagos pelo PQU e nem

recebem, ou receberam incentivos para serviços, e nunca promoveram a soltura dos

filhotes de quelônios, portanto, recebem menos incentivos.

Um agente de defesa ambiental que recebe um salário todo ano,

matou um pirarucu de filho, se é um agente de praia ou agente

Figura 16. Esforço do monitoramento x incentivos por comunidade, CPPQA/PQU. Legenda:

Comunidades: CG – Caioé Grande; MA-Mannain; SB-São Benedito; NL- Nossa Senhora do

Livramento; MR-Maracarana e BV-Bela Vista. AGDA – Agentes de Defesa Ambiental. Dados

coletados através de entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU, fevereiro de 2015.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

0,00

1000,00

2000,00

3000,00

4000,00

5000,00

6000,00

7000,00

8000,00

9000,00

10000,00

NL MR BV CG MA SB

Gasolina/ano (R$) 2130,00 639,00 1278,00 639,00 2130,00 426,00

Evento de Soltura/ano (R$) 2900,00 2900,00 0 0 0 0

Salario AGDA/ano (R$) 9456,00 9456,00 0 0 0 0

Esforço mon/homem/ano 344 340 152 135 114 65

dias/trab/homem/ano 86 68 76 47 57 65

Esf

orç

o/M

on

itora

men

toan

o

Ince

nti

vos

fin

ance

iros

no

mon

itora

men

to (

R$

)

Page 53: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

51

ambiental, tem que dá bom exemplo, tem mudar de atitude, se não

nunca vai ser respeitado (morador do Maracarana, 62).

As demais localidades só receberam ajuda de combustível “gasolina” para realizar o

monitoramento. Em relação ao esforço, as localidades que possuem maior esforço no

monitoramento/homem/ano na busca de ninhos são as comunidades N. Sr.ª. do Livramento

e Maracarana. No monitoramento dia/ano por unidade de esforço as localidades N. Sr.ª do

Livramento e Bela Vista apresentam maior esforço no monitoramento dos ninhos dos

quelônios. As praias são em maior quantidade e mais distantes, ficando distante do

domicílios dos agentes de praia.

As comunidades N. Sr.ª do Livramento, Maracarana e Bela Vista, além de

apresentarem maior esforço no monitoramento, são as comunidades que apresentam maior

frequência participativa no PQU, possuem mais monitores “agentes de praia” e

monitoraram mais ninhos e filhotes (tabela 20) em anexo.

No ano de 2014 foram monitoramento 13285 ovo de Podocnemididae nas

comunidades do Maracarana e Livramento. Os gastos com o monitoramento, considerando

as variáveis (gasolina + salário de agente ambiental + evento de soltura dos filhotes)

totalizaram R$ 27481,00, transformando em dólar (cotação de dezembro de 2015,

R$3.78/US$1,00) os gastos ficam em torno de US$7.270,10. Para cada ovo monitorado

foram gastos US$ 0,55 centavos de dólar.

Na estação reprodutiva de 2014 das comunidades Maracarana e Livramento da RDS

Uatumã, foram monitorados 13285 ovos de Podocnemididae dos quais foram soltos 8635

filhotes em fevereiro de 2015. Os gastos com o monitoramento, considerando as variáveis

(gasolina + salário de agente ambiental + evento de soltura dos filhotes) totalizaram R$

27481,00 o equivalente a US$7270,10 (cotação do dólar em dezembro de 2015 a R$ 3,78).

Comparando com a metodologia (US$7270,10 dólar / 13285 ovos = US$0,55)

utilizada por Caputo (2005), para cada ovo conservado nas comunidades do Maracarana e

Jaraoacá foi gasto US$ 0,55 centavos de dólar. Valor este quase insignificativo para a

empresa financiadora que é a Eletrobras Amazonas Energia.

Para classificar a participação da população local por comunidades no programa

PQU, baseou-se nos níveis e tipologias de participação propostos por Pinbert e Pretty

(2000).

Page 54: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

52

Tabela 16. Classificação dos componentes em nível de participação, segundo (Pimbert e Pretty,

2000). Dados coletados através de entrevistas, relatórios técnicos do CPPQA/PQU, fevereiro de 2015.

De o acordo com a tabela 16, as comunidades do Manaain, São Benedito e Caioé

Grande, são as que apresentaram participação parcial no PQU, ou seja, não tiveram

participação em todos os anos de monitoramento. Estas comunidades receberam ajuda com

materiais (combustível, caixa de isopor, baterias para lanternas e camiseta) e, foram

beneficiadas com a proteção das praias e lagos, sendo, por tanto, caracterizadas no nível

quatro de participação que corresponde à tipologia “por incentivos materiais”. Esta

classificação é o nível abaixo em relação às comunidades do Maracarana, N. Sr.ª do

Livramento e Bela Vista que se enquadram no nível cinco, tipologia participativa

“funcional” essas comunidades apresentam iniciativas e buscam outras formas de fonte de

renda paralelas, tendem ser dependentes dos incentivos externos, mas podem se tornar

independentes.

Para atingir níveis mais elevados de participação e se tornar um programa com

participação efetiva. Segundo Pimbert e Pretty (2000) existem várias formas de

participação das comunidades locais, acompanhadas com variação no grau de sua

incorporação. É importante definir-se o grau de participação dos comunitários por

comunidade no programa no programa PQU, pois o conceito pode levar a ilusão de que as

comunidades estão participando efetivamente nas tomadas de decisões, quando na verdade

apenas são consultadas.

A preocupação com a participação está associada com o empoderamento das

comunidades como parceiras no processo de gestão das áreas protegidas. O manejo

comunitário dos recursos naturais nas unidades de conservação (UC) no Brasil prima pelo

empoderamento das comunidades na gestão dos recursos naturais. Mas há muita

Níveis Tipologia de

participação

Participação das populações locais

por comunidade no PQU

1 Passiva

2 Como extração de

informação

3 Por consulta

4

Por incentivos

materiais

Manaain, São Benedito e Caioé Grande

5

Funcional

Maracarana, N. Sr.ª. do Livramento e

Bela Vista

6 Interativa

7 Automobilização

Page 55: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

53

interferência do governo nas tomadas de decisões, igual em alguns países como

Moçambique na África que o Estado apenas desempenha o papel de regulador/ ou

mediador, mas na pratica há intervenções diretas do governo (Matos et al., 2011).

Losekann, (2012) sugere pensar as práticas participativas a partir do conceito de

“Instituições participantes”, o qual é entendido como “formas diferenciadas de

incorporação de cidadãos e associações da sociedade civil na deliberação sobre política”,

diferenciando das “instituições políticas” que estão restrita a regras formais e legalidade

constituída. Contudo, a sociedade civil no campo ambiental tem um grau de organização

necessário para perceber e usar os mecanismos institucionais disponíveis nas suas lutas por

uma política ambiental orientada, quando associada a gestão da UC ganha mais força.

4.3.1 - Atores sociais e grupos de interesse no manejo de quelônios na RDSU.

As instituições declaradas nas entrevistas pelas famílias que atuam na RDSU, e que

possuem maior grau de aproximação com as comunidades foram no total de 8 (oito).

As prefeituras apresentam maior grau de influência nas comunidades, vários

comunitários são funcionários da prefeitura ou tem uma relação de aproximação.

A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) atua na RDSU levando alternativas

econômicas para as famílias, além de coordenar o programa bolsa floresta do governo.

|A Associação Agroextrativista das Comunidades da RDS Uatumã (AACRDSU) atua

na tomada de decisões representando as comunidades.

O Centro Estadual de Unidade de Conservação (CEUC) é o órgão gestor da RDS

Uatumã.

Instituto de Conservação e de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas

(IDESAM) atuou na cogestão da RDSU e na elaboração do plano de Manejo da RDSU,

além conduzir programas de alternativa de renda para as comunidades.

O Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) atuou no

apoio dos levantamentos biológicos e socioeconômicos para criação da RDSU na década

de 1990 e 2000 e criou o programa Quelônios do Uatumã (PQU), que coordena as

atividades de conservação e manejo de Podocnemididae na RDS Uatumã.

As instituições comunitárias que mais se destacaram e foram mais citadas nas

entrevistas, foram as Associações da Comunidade do Maracarana (ACM) e Associação das

Pousadas de Turismo Comunitárias (APTC), (figura 15).

Page 56: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

54

Tabela 17. Instituições de maior importância para as famílias entrevistadas, indicado pelo

número de vezes que o ator social foi citado como importante. Coleta de dados através de

entrevistas na RDSU em fevereiro de 2015.

Os grupos de interesses de atores sociais encontrados no manejo e conservação dos

Podocnemididae foram classificados em 6 (seis) grupos, que refletem interesses positivos e

negativos, baseado na metodologia proposta por Le Tissier et al., (2011). Diferenciado na

coleta de dados que foi realizada através de entrevistas e não em oficinas interativas e

participativa.

Tabela 18. Grupos de interesse no manejo comunitário de Podocnemididae nas comunidades

ribeirinhas da RDS Uatumã. Fonte: Relatórios técnicos do PQU e entrevistas in loco, fevereiro de

2015.

Atores sociais Grau de

importância

PREFEITURAS 34

FAS 18

AACRDSU 14

CEUC 11

IDESAM 9

CPPQA 7

ACM 4

APTC 3

Grupo de

interesse

Interesse no

Manejo e conservação de

Podocnemididae

+ve/-ve

I

Governo,

Organização da

sociedade civil de

interesse público

(OSCIP) e

Empresas publicas

Conservar os Podocnemididae;

Associar e elevar a imagem da

instituição;

Atender protocolos e metas

institucionais;

Atender as Leis de

responsabilidades

socioambientais;

+

-

-

-

II

Comunitários

Garantir o recurso para

alimento;

Proteger lagos e complexo de

lagos;

Receber incentivos financeiros

e materiais

+

+

-

III

Empresários

(turismo)

Manter lagos e as áreas de

desova conservados;

Usar ambientes lacustres o

recurso “peixe”;

+

-

IV

Usuários externos Uso e comércio dos

Podocnemididae;

-

Page 57: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

55

Os grupos de interesse são constituídos de 29 atores sociais. Foram classificados em

grau de importância e influencia no manejo e conservação dos Podocnemididae. A

influência representa o poder das partes interessadas em dificultar ou facilitar o manejo, e a

importância representa a satisfação das necessidades e interesse de cada parte interessada,

1 = pouca importância ou influência, a 6 = muita importância ou influência (Martin Le

Tissier et al, 2011).

Tabela 19. Tipologia dos grupos de interesse no manejo comunitário de Podocnemididae nas

comunidades ribeirinhas da RDS Uatumã. Fonte: Base dados do programa PQU, Relatórios técnicos

do CPPQA e entrevistas in loco. Dados coletados através de entrevistas, fevereiro de 2015.

Grupo de interesse Atores sociais Importância Influência

I

Governo, OSCIP

e Empresas

publicas

Eletrobras Amazonas Energia/CPPQA/PQU,

IPAAM, SDS/CEUC/PROBUC, Prefeituras

(Itapiranga, São Sebastião do Uatumã e Presidente

Figueiredo), Secretarias de Meio Ambiente

(SEMAS), Hidrelétrica de Balbina, Instituto de

Conservação Sustentabilidade do Amazonas

(IDESAM).

3

6

II

Comunitários

Agentes Ambientais Voluntários (AAVs),

coordenador de campo local, Agentes de Praia

(AGP), comunitários colaboradores, colaborador

eventual, professores, alunos, Associações

comunitárias,

Associação Agroextrativista das Comunidades da

RDSU (AACRU).

6

4

III

Empresários

(turismo)

Empresários de turismo, Donos de Pousadas de

Turismo comunitário (APTC)

1

5

IV

Usuários externos

Moradores das cidades (Itapiranga, São Sebastião

do Uatumã, Presidente Figueiredo), Outras

municípios, Vila de Balbina e PDS Morena.

5

2

V

Mercado

(peixe gordo)

Colônia de Pesca (Itapiranga e São Sebastião),

pescadores profissionais e pescadores do peixe

gordo

4

1

VI

Igrejas

Igrejas católicas, Igreja assembleia de Deus, Igreja

Adventista e líderes religiosos.

2

3

O grau de importância e influencia foram determinados por variáveis qualitativas.

Importância (o valor que o recurso representa pra a instituição), a influência (poder da

instituição em dificultar ou facilitar o manejo) dos Podocnemididae.

V

Mercado

(peixe gordo)

Proteção dos lagos e áreas de

desova;

Comércio de quelônios

+

-

VI

Igrejas

Proteção dos lagos e áreas de

desova;

Incentivos ao consumo e

comercio;

+

-

Page 58: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

56

Os grupos de interesse foram agrupados em grau de influência (quanto maior o

círculo o grupo e mais influente) e afinidade com representação dos círculos entrelaçados,

Figura 18 e Tabela 19, adaptados de Gimble et al. (1995) e Le Tissier et al. (2011).

Figura 18. Os grupos de interesse em grau de influência e alianças. Dados coletados através

entrevistas e visita in loco, realizadas nas comunidades, na RDSU em fevereiro de 2015.

O grupo do Governo, OSCIP e Empresas públicas (I), exerce maior poder no sistema

de conservação e manejo de Podocnemididae com (7/25%) dos atores sociais aglutinados

ao grupo; Empresários do turismo (III) com (2/6%); Comunitários (II) com (9/31%);

Igrejas (VI) com (4/13%); Usuários externos com (IV) com (4/13%) dos atores sociais e o

Mercado do peixe gordo (V) com (4/12%).

Apesar do grupo II está na terceira posição em ordem de influência, Figura 39, ele se

apresenta com maior número de atores sociais, e possui uma influência direta na gestão

local do uso dos recursos, só perdendo para os grupos I e III. O grupo II é formado por

comunitários organizados para o trabalho de conservação e de manejo dos

Podocnemididae, compreende ao grupo de lideranças da comunidade com atividades e

cargos variados (agentes ambientais voluntários, agente de praia, professores, presidente da

comunidade e presidente da associação). Esses atores apresentam relação de afinidade e

aproximação com instituições externas e com as instituições de maior influência nos

municípios, que são as prefeituras.

Dentre os grupos de interesse, os principais grupos sociais que tomam decisões e

direcionam a tomada de decisão são o grupo (I) do Governo, OSCIP e empresas públicas,

são patrocinadores, gestores e apropriadores das ações de manejo e conservação de

Podocnemididae.

II

Comunitarios

I

Governo, OCIPs e Empresas publicas

V

Mercado

(peixe gordo

III

Empresários (turismo)

IV

Usuários externos

VI

Igrejas

Page 59: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

57

O grupo (III) Empresário do turismo exerce certa influência porque propicia geração

de emprego aos comunitários e familiares, pois fornece ajuda financeiras as comunidades

(sextas básicas, brinquedos para crianças e ajuda em estrutura física comunitária) e

exercem também influência nas atividades de pesca esportiva.

O grupo (II) composto por comunitários são os condutores da operacionalização das

atividades, atuam diretamente na comunidade e, aparecem em todas as etapas do manejo e

conservação dos Podocnemididae, desde o planejamento até a soltura dos filhotes.

Destaca-se ainda, o PQU e comunidades por serem as instituições executoras e

coordenadoras de todo o processo, e o CEUC por ser a instituição licenciadora,

controladora e gestora da área protegida. Para que haja perspectivas futuras para modelo

da gestão participativa local na direção do estabelecimento de formas de gestão, torna-se

indispensável uma melhor compreensão das complexidades sociais e ambientais nas quais

atuam os diversos atores sociais que interagem nas ações de conservação, (Pereira, 2002).

Nas etapas de planejamento, nas oficinas de aprimoramento, no monitoramento e

coleta de ninhos (covas), destacam-se os atores sociais do grupo (II) comunitário, (agentes

de praia, associações comunitárias e agentes ambientais voluntários) pela participação e

interesse.

No grupo (I) a empresa Eletrobras/CPPQA/PQU, CEUC/PROBUC e o IPAAM, por

serem as instituições promotoras das oficinas de formação para agentes de praia

comunitários e pelo apoio na proteção e fiscalização. As prefeituras de Itapiranga e São

Sebastião do Uatumã no apoio logístico e financeiro.

O grupo (III) exerce sua influência na etapa do monitoramento dos ninhos, nos

complexos de lagos e nas atividades de pesca esportiva.

Na etapa de acompanhamento dos filhotes nos berçários, destacam-se os grupos II e I

(agentes de praia e técnicos do PQU).

Na soltura dos filhotes de quelônios, todos os seis grupos de interesse participam do

evento e exercem sua influência e política. É o momento de confraternização dos atores

sociais que participam de todo processo de conservação e manejo.

O grupo (VI) expressa influencia relacionada ao discurso religioso no uso dos

recursos.

Os atores sociais do grupo (IV) são os mais discriminados e temidos, por serem

moradores externos, são tratados como invasores, não tem vínculo direto com a gestão da

UC e são usuários potenciais do recurso Podocnemididae, tanto para o consumo, como

Page 60: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

58

para o comércio, já o grupo (V) são os que menos influenciam nas atividades de manejo e

conservação dos quelônios, por terem sua atividade de renda direcionada para a pesca do

peixe gordo, no período em que o nível do rio Uatumã está cheio (março a junho).

Os grupos de interesse no manejo dos Podocnemididae.

O interesse comum dos grupos de interesse, declarado pelos chefes de família

entrevistados nas comunidades, foi à conservação da fauna aquática “quelônios”.

O grupo (I) governo, OSCIP e empresas públicas, tem interesse no financiamento do

programa (PQU) com envolvimento comunitário, porque atende as Leis de

Responsabilidade Socioambiental, e também, é uma condicionante ambiental para o

funcionamento da UHE Balbina no caso da Eletrobrás Amazonas Energia. O centro de

Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) e o programa “Quelônios do

Uatumã” são financiados pelo Ministério de Minas Energia através da Eletrobras

Amazonas Energia. A Eletrobras é a instituição executora do programa “Quelônios do

Uatumã” através do CPPQA, que atua em parceria com as comunidades da RDS Uatumã.

O Governo do Estado do Amazonas através das Secretarias Estaduais de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS/CEUC/PROBUC) tem interesse na

formulação de politicas públicas, em ajudar nas oficinas e treinamentos para agentes de

praia comunitários, formar rede de trabalhos com conservação de quelônios

interinstitucional, coordenar o monitoramento da biodiversidade através do Programa de

Monitoramento da Biodiversidade (PROBUC).

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) tem interesse na

fiscalização. As prefeituras exercem grande influência nos atores sociais com exceção no

Governo, OSCIP e Empresas públicas.

As prefeituras mais atuantes nas atividades de manejo de Podocnemididae são as

prefeituras de São Sebastião do Uatumã, com jurisdição das comunidades N. Sr.ª. do

Livramento, Maracarana e Bela Vista. Mas as comunidades do Maracarana e Bela Vista

foram adotadas e recebem benefícios da prefeitura de Presidente Figueiredo, que ajuda no

trabalho com empréstimo de embarcações nas atividades de soltura dos filhotes e na

condução de convidados no traslado cidade comunidades.

As demais comunidades Caioé Grande, Manaain e São Benedito estão localizadas no

município de Itapiranga, que também ajuda com apoio financeiro nos preparativos para a

festividade da soltura dos filhotes. Atuam também na divulgação das ações de manejo, as

Page 61: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

59

Secretarias de Meio Ambiente (SEMAS) municipais que também fornecem apoios

eventuais e logísticos para as comunidades.

O grupo (III) representado por empresários do turismo tem interesse na exploração

da pesca esportiva do tucunaré (Clica sp.), proteção dos ambientes de pesca que estão

incluídos os complexos de lagos, incentivo ao turismo conservacionista e, geração de

emprego e renda para moradores locais e externos.

Os comunitários que pertencem ao grupo (II) tem interesse no aprendizado e difusão

do conhecimento no manejo dos Podocnemididae, em receber financiamento para

execução das ações de manejo e conservação, fortalecimento da Associação

Agroextrativista das Comunidades da RDSU (AACRDU). São responsáveis pela

operacionalização do manejo dos Podonemididae, realizam troca e difusão do

conhecimento com outras instituições, lutam pela garantia dos recursos “quelônios” e ovos,

como alimento e renda para a melhoria na qualidade de vida de suas famílias.

São responsáveis pela organização das festividades de soltura dos filhotes, assim

como, na proteção dos complexos de lagos, onde realizam o monitoramento reprodutivo

dos Podocnemididae. Os atores sociais comunitários que participam diretamente na

atividade de manejo e conservação, constituídas pelas comunidades ribeirinhas, tem

interesse na condução do trabalho em todas as suas fases (planejamento participativo,

oficinas de aprimoramento, monitoramento dos ninhos (covas), nascimento dos filhotes,

manutenção em berçários e soltura dos filhotes).

As Igrejas que correspondem ao grupo (VI) têm interesses distintos, a igreja católica

e batista tem interesse na educação ambiental e contribuição na fase de soltura dos filhotes

de Podocnemididae, já a Igreja evangélica tem influência direta no uso do recurso.

Acredita na ideologia de que “O que Deus criou nunca caba”.

“O grupo (V) mostrou interesse no comércio do pescado e no uso do recurso

quelônio” e outros recursos da fauna. Os moradores externos ou grupo (IV) exercem

pressão nos recurso “quelônios” e ovos para o consumo e o comércio nas cidades de

Itapiranga, São Sebastião do Uatumã, Presidente Figueiredo, Vila de Balbina e PDS

Morena, São muitas canoas tipo “rabeta” usadas no transporte e, cada canoa carrega duas

ou mais caixas de isopor para armazenamento do pescado, ovos, quelônios e outros

animais da fauna silvestre abatidos (observação a campo).

Os grupos de interesse em ordem de importância no manejo e conservação de

Podocnemididae, Tabela 19.

Page 62: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

60

Os Podocnemididae são recursos de grande importância para s famílias da RDSU,

principalmente o tracajá (Podocnemis unifilis) e ovos, que na pesquisa foi declaro a espécie

mais consumida pelas famílias entrevistadas, portanto, os quelônios para o grupos (II), (IV)

e (V) respectivamente, representa um recurso de maior grau de importância em relação

outros grupos de interesse. Para os demais grupos (I), (III) e (V) o recurso “quelônio” é

importante para os fins de conservação e manejo, com exceção de algumas religiões que

incentivam o consumo.

Identificação dos conflitos entre os grupos de interesse

Para realizar o trabalho de conservação e manejo de Podocnemididae há necessidade

do envolvimento de diferentes atores sociais com interesse distintos, o que causa os

conflitos entre os grupos. Nas comunidades estudadas, os conflitos são bem evidentes,

serão apresentados considerando os motivos dos conflitos:

Disputa 1: comunidades x moradores externos, entre os grupos (II) e (VI), há relatos

das famílias entrevistadas e percepção de moradores da RDSU que houve um aumento na

intensidade do uso dos recursos peixe, quelônios e mamíferos silvestres por moradores

externos, gerando um conflito entre as comunidades que protegem e participam do trabalho

de conservação e moradores externos das cidades de Itapiranga, São Sebastião do Uatumã,

Vila de Balbina, Presidente Figueiredo e assentamento do INCRA- PDS Morena. Os

agentes de praia e agentes ambientais voluntários sentem-se fragilizados e sem amparo

institucional, algumas comunidades ainda acham que o papel de proteção não é só delas e,

do IPAAM também. Há certa resistência em se organizarem para proteção dessas áreas de

uso coletivo.

“No barco da feira foi pego dois sacos com 80 tracajás e um corote

plástico até o tucupi de ovo de tartaruga e tracajá com cerca de 500

ovos” (Fonte: morador da comunidade São Benedito, 48).

Disputa 2: Prefeituras x Eletrobrás na divulgação do programa “Quelônios do

Uatumã”. Esse conflito surge na etapa de soltura dos filhotes, na divulgação do evento em

revistas e reportagens. A prefeitura reclama que a empresa não divulga o seu nome e a

parceria com o PQU, pressionam os comunitários retirando os benefícios e apoio.

“Filhotes de quelônios são soltos no rio Uatumã no Amazonas. Esta

é a 13ª soltura dos animais promovida pela Eletrobras. Os

quelônios recebem cuidados dos próprios ribeirinhos. O projeto

Quelônios do Uatumã vai soltar 17.848 filhotes de tartaruga-da-

amazônia, de iaçá, de tracajá e de irapuça no rio Uatumã” (Fonte:

Acritica.com, Amazônia Em Destaque, Manaus, 10 de março de

2011).

Page 63: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

61

Dano Ambiental 3: Comunidades x Mineradoras e Hidrelétricas, na década de 1990

as comunidades da RDSU lutaram contra a extração de seixo e hoje estão se mobilizando

para impedir a exploração de calcário no complexo de lagos do rio Abacate. Além de ser

uma ameaça às áreas de vida dos Podocnemididae, também é uma ameaça à sobrevivência

das famílias residentes nessas localidades. A hidrelétrica de Balbina até hoje é lembrada

em reuniões do conselho deliberativo e reuniões das comunidades pelo impacto que causou

no rio Uatumã. As comunidades reclamam de doenças como diarreia e culpam a empresa

pela água contaminada proveniente do lago represado. Lembram-se da morte de peixes

quando represaram o rio Uatumã, e relatam que os poços que foram construídos pela

empresa nenhum prestaram, contudo, temem a fixação de mineradoras em suas

localidades. Nesse período foram distribuídas para a população ribeirinha, salgadeiras

solares, para que se fizesse a conservação do pescado retido no leito seco do rio. O

abastecimento de água potável era realizado por caminhões pipa às 91 famílias residentes

rio acima, no trecho compreendido cachoeira da Morena e UHE Balbina, (Lazzarini,

2001).

A influência do barramento dos rios nas populações de quelônios está relacionada

com o fato de estes animais realizarem migrações sazonais, em função das áreas de

alimentação e, dependerem diretamente dos ambientes terrestres adjacentes para realizarem

suas desovas (Pezzuti et al., 2008). Assim sendo não há necessidade que ocorra a

destruição de um habitat inteiro de uma área para causar o declínio de uma população de

quelônios (Novelle, 2007). Logo a redução do sucesso reprodutivo através da eliminação

dos habitats dos ninhos pode diminuir rapidamente o tamanho da população e alterar a

estrutura demográfica, sendo a destruição de praias de desova um exemplo desta ameaça

(Mitchell e Klemens, 2000).

Page 64: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

62

Figura 19. Regiões com autorização para pesquisa e exploração mineral, Itautinga Agro Industrial.

Fonte: Plano de Gestão da RSU (IDESAM, 2008).

Posse 4: Antigo dono de terra x comunitário, os complexos de lagos do Jaraoacá e

Calabar, localizado nas comunidades N. Sr.ª do Livramento e Bela Vista, antes da criação

da RDSU em 2004 eram terras particulares, anualmente aparecem pessoas que se dizem

antigos donos, impedem os comunitários de usar os recursos extrativistas, se dizem donos

e proprietário das terras. Depois que suas terras passaram a pertencer ao Estado com a

criação da RDSU, reclamam que o Governo nunca procurou para indenizá-los, contudo,

entram em conflitos eventualmente com os comunitários.

Os conflitos na conservação e manejo de Podocnemididae na RDSU estão

relacionados ao uso do solo, para garantir o acesso aos recursos, que são à base da

economia familiar, (McGrat, 1996). Caracterizando conflitos socioambientais, por designar

as relações sociais de disputa/tensão entre diferentes grupos de interesses pela apropriação

e gestão do patrimônio natural. Essas situações de litigio, vigentes nos níveis material e

simbólico, podem ou não assumir a forma de um embate mais direto.

Figura 20. Representação gráfica dos conflitos entre os grupos de interesses na

conservação e manejo comunitário de quelônios na RDS Uatumã. Dados coletados

na RDSU, entrevistas moradores, fevereiro de 2015.

Um dos maiores desafios que enfrentado pelos gestores de Unidades de Conservação

consiste na transformação de litígios em oportunidades de aprendizagem voltadas para a

cooperação. (Vivacqua et al., 2005). Vale ressaltar que os conflitos existem, e com o

conhecimento de que eles existem é preciso evidenciá-los, encará-los e, mais que isso,

buscar táticas para superá-los. O escamoteio dessas evidencias somente mascara a difícil

Conservação e manejo comunitário de

Podocnemididae

Tecnicos do PQU

e comunitários

Eletrobrás/CPPQA/

PQU

Antigos donos

de terras.

Moradores

extrnos Comunidade

local

Prefeitura

Locais

Dano AmbientalDisputa

Posse

Disputa

Comunidade

locais

Moradores

das cidades e PDS.

Mineradoras

Comunida

de locais

Page 65: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

63

situação dos grupos sociais e contribui mais ainda para degradação dos ecossistemas,

(Michelle, et al., 2012).

5. CONCLUSÃO

Foram dezesseis anos de monitoramento reprodutivo dos Podocnemididae pelo PQU

e comunidades, registrando ocorrências de (5.156, 818, 541, e 259) ninhos e (63.918,

50.706, 4.047 e 1349) filhotes de P. unifilis, P. expansa, P. sextuberculata e P.

erythrocephala respectivamente. Com maiores densidades nas comunidades do

Maracarana, N. Sr.ª do Livramento e Bela Vista em relação às outras localidades.

Apesar de dezesseis anos de monitoramento dos Podocnemididae, há dados referente

a todas as espécies apenas nos últimos dez anos. As quatro espécies de Podocnemidae só

ocorrem nas comunidades do Caioé Grande e N. Sr.ª do Livramento.

Em apenas uma das seis comunidades (N. Sr.ª do Livramento) são protegidos 73%

dos ninhos de P. expansa e 63% das praias ou tabuleiros encontram-se em seu território.

Os usuários e manejadores do recurso Podocnemididae, constituem-se de famílias

jovens que migraram em sua maioria de outros municípios do Estado do Amazonas.

Portanto, fixam moradias temporárias com alto índice de mobilidade, dificultando a

efetividade das regras de uso dos recursos. Fato constatado nas comunidades do Manaain e

São Benedito.

A principal atividade de renda é a agricultura, com destaque para os benefícios

sociais. A mobilidade das famílias para as cidades de Itapiranga, São Sebastião do Uatumã

e Presidente Figueiredo é evidente, pois essa e uma estratégia para não perderem os

incentivos do governo (bolsa família). Isso ocorre devido à falta de escola de ensino médio

na RDSU, pois se os filhos não estiverem na escola, os benefícios das “bolsas” são

canceladas pelo governo. Esse fato é evidente nas comunidades do São Benedito e

Manaain.

As decisões sobre o manejo de Podocnemididae são tomadas por um único grupo de

interesses (I Governo, OSCIP e Empresas públicas), que é externo, mais influente.

Os principais incentivos recebidos pelos programas de conservação e instituições do

governo são: gasolina, pagamento de agentes de defesa ambiental e serviços e materiais

para o evento de soltura dos filhotes.

As comunidades do Maracarana, N. Sr.ª do Livramento e Bela Vista tendem a ter

mais interesse pelo monitoramento reprodutivo dos Podocnemidae, pois a participação

Page 66: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

64

dessas comunidades no PQU está norteada pelos incentivos materiais e monetários, além

da necessidade de proteger seus espaços geofísicos de uso comum. Por serem

contempladas com vários lagos e, com maior números de praias em seus territórios.

Nas comunidades do São Benedito, Manaain e Caioé foram identificadas baixas

densidades relativas do recurso quelônias (sítios de nidificação e espécimes). Por tanto,

apresentaram maior grau de dependência destes recursos, além de resistência nas práticas

restritivas do seu uso e, ausência de acordos coletivos no manejo e uso dos

Podocnemididae. Contudo, revelaram-se com menor grau de organização social,

classificadas na tipologia de participação “por incentivos materiais” em relação às outras

localidades.

Entre tanto, as comunidades que tiveram sucesso e mantiveram as regras de pesca e

as práticas de manejo e conservação de quelônios, certamente, esse sucesso é atribuído ao

fato dessas comunidades possuírem um nível de participação organizativa dos usuários

maior em relação às outras localidades, sendo classificadas na tipologia de participação

“funcional”, que é o caso das comunidades do Maracarana, Livramento e Bela Vista.

Os conflitos na conservação e manejo de quelônios na RDSU estão relacionados ao

uso do recurso e solo, caracterizando conflitos socioambientais, por designar as relações

sociais de disputa/tensão entre diferentes grupos de interesses pela apropriação e gestão do

patrimônio natural para garantir o acesso exclusivo aos recursos pelas famílias das

localidades.

Page 67: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

65

6. RECOMENDAÇÕES

O PQU deve repensar as metodologias participativas no manejo dos quelônios na

RDSU e compartilhar todas as etapas do monitoramento com as comunidades, inclusive o

planejamento inicial para alcançar a participação efetiva que corresponde às tipologias

“interativa” e de “automobilização”. A promoção de alternativas de renda talvez seja o

incentivo que esteja faltando para as comunidades se tornarem mais participativas,

gerenciando seus espaços e recursos para o uso coletivo.

A pressão na captura de P. unifilis para o comércio por usuários internos e externos

representa uma grande ameaça às populações desses répteis. O controle na saída do recurso

da RDSU deveria ter um mecanismo mais eficiente por parte dos usuários internos e do

órgão gestor.

Ademais, os lagos das comunidades Nossa Senhora do Livramento e Calabar são

áreas de grande importância para conservação e manejo dos Podocnemididae na RDSU.

Essas áreas deveriam ser incluídas na revisão do plano de gestão como áreas de proteção

da RDSU, além de alojarem muitas espécies de quelônios, funcionam como berçários

naturais para outras espécies, o que pode garantir a segurança dos recursos pesqueiros e da

fauna aquática para as famílias da RDSU.

Em função da escassez de informações a respeito da ecologia dos Podocnemididae

na bacia do rio Uatumã, faz-se necessário o estudo da estrutura populacional e abundância

de P. unifilis nas áreas a jusante da barragem da usina hidrelétrica de Balbina na bacia do

rio Uatumã, a fim de se ter parâmetros para avaliar a atual situação de conservação dessas

populações presentes na RDSU, com o intuito de auxiliar futuros planos de manejo, além

de contribuir para a gestão da RDSU.

Os gráficos de praias e lagos protegidos números de ninhos e filhotes indicam

crescimento e este sendo simultânea a captura artesanal, que precisa de regulamentação

para contribuir ainda mais com o manejo, inclusive deve ser incluída a regulamentação nas

regras da pesca esportiva e comercial da RDSU.

Cada ovo monitorado pelo PQU nas comunidades do Maracarana e Livramento

apresenta um custo de US$0,55 centavos de dólar. A empresa Eletrobrás tem que investir

mais nas atividades de conservação “in situ”, além de ajudar e estimular famílias que

fizerem o monitoramento dos ninhos ajuda a conservar as populações de Podocnemididae.

Page 68: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

66

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Amazonas, J. 2009. Série Técnica Planos de Gestão: Reserva de Desenvolvimento

Sustentável do Uatumã. Volumes 1 e 2. Governo do Estado do Amazonas. Itapiranga e São

Sebastião do Uatumã, Amazonas. 394 pp.

Andrade, P.C.M.; Pinto, J.R.S. 2001. Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis

unifilis, P. sextuberculata, P. expansa e P. erythrocephala) nos Municípios de Terra Santa

e Oriximiná – Pará, Nhamundá e Parintins – Am. Projeto Pé-de-pincha. UFAM. Revista

de Extensão da UFAM. 2. p. 1-25.

Arruda, R. 1999. Populações tradicionais e a proteção dos recursos naturais em unidades

de conservação. Ambiente & Sociedade, 2 (5): 79-92.

Avritzer, L. 2008. Instituições participantes e desenhos institucionais: algumas

considerações sobre a variação da participação no Brasil democrático. Revista Opinião

Pública, Campinas, 14 (1):55-56.

Barbosa, A. P. 2000. Produção de mudas de pau-rosa para uso de folhas na produção de

linalol In: I Seminário Internacional Plantas da Amazônia – Oportunidades Econômicas e

Sustentáveis Manaus, p.18.

Baldisseri, D. H. 2005. As transformações espaciais e os impactos ambientais na bacia do

rio Uatumã- AM, Brasil. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina.

Universidade de São Paulo, p.22-27.

Balensiefer, D.C. 2003. Dieta de Podocnemis unifilis (Testudines, Pelomedusidae) no

período de seca em uma várzea do médio Solimões, Amazonas. Dissertação de Mestrado,

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Amazonas. 74pp.

Baland, J. M.; Platteau, J. P. 1997. Wealth Inequality and Efficiency in the Commons. Part

1: the Unregulated Case. Oxford Economic Papers, 49: 451-482.

Bjorndal, K.A. 2006. Ontogenetic diets shifts and digestive constrainsts in the omnivorous

freshwater turtle Trachemys scripta. Physiological and Biochemical Zoology, 79:150-158.

Caputo, F.P.; Canestrelli, D.; Boitani, L. 2005. Conserving the terecay (Podocnemis

unifilis, Testudines: Pelomedusidae) through a community-based sustainable harvest of its

eggs, Biological Conservation. 84-92.

Chandler, D.; Torbert, B. 2003. Shaping the future. Transforming inquiry and action –

interweaving 27 flavors of action research. Action Research, 1 (2): 133-152.

Cunha, F.L.R. 2013. Dieta de quatro espécies do gênero Podocnemis (Testudines,

Podocnemididae) na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã, Dissertação de

Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Amazonas.71 pp.

Page 69: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

67

Drumond, M.A. 2009. Técnicas e Ferramentas Participativas para a Gestão de Unidades

de Conservação. 2ªed.GTZ. Brasília: MMA.55-69p.

Eletronorte/Monasa/Enge-Rio. 1979. Usina Hidrelétrica de Balbina-Projeto Básico. BAL-

10B-9602-RE. Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte) Brasília.

ELETRONORTE. 2007. Meio Ambiente e arqueologia. Arqueologia.asp. www.eln.gov .br

/ usinas /Balbina/MeioBalb - Acesso em 10/05/2014.

Fachín-Terán, A. 2005. Participação comunitária na preservação de praia para reprodução

de quelônios na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil.

Uacari, 1(1): 9-18.

Félix-Silva, D. 2009. Ecologia e conservação de Podocnemis unifilis Troschel 1848

(Testudines, Podocnemididae) no Reservatório da UHE Tucuruí, Pará-Brasil. Tese de

Doutorado, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. 274 pp.

Ferreira Júnior, P. D. 2003. Influência dos processos sedimentológicos e geomorfológicos

na escolha das áreas de nidificação de Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia) e

Podocnemis unifilis (tracajá), na do Rio Araguaia. Tese (Doutorado em Ciências Naturais)

Fundação Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG. 296 pp.

Fontes, B.A.S. 2003. Sobre a sustentabilidade das associações voluntárias em uma

comunidade de baixa renda. Tempo Social – USP, São Paulo, 158-189.

Guimarães, E.R. 2013. Caracterização e diagnóstico do uso da terra na Reserva de

Desenvolvimento Sustentável de Uatumã, AM. Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional

de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Amazonas.110 pp.

GRIMBLE, R. 1998. Stakeholder methodologies in natural resource management.

Socioeconomic Methodologies. Best Practice Guidelines. Chatham, UK: Natural

Resources Institute.

Hobley, M.; Shah, K. 1996. What makes a local organization robust? Evidence from India

and Nepal. ODI Natural Resources Perspectives, 11pp.

IDESAM/SDS, 2011. Plano de Gestão RDS do Uatumã. Manaus, 420 pp.

IUCN – União Mundial para a Natureza. Gland, Suíça e Cambridge, Reino Unido. 60 p.

Junk, W.J. 1983. Aquatic Habitats in Amazonia. In: The Environmentalist, Ecological

Structures and Problems of Amazonia, Switzerland, June, p.24-34.

Klemens, M. W. 2000. Turtle Conservation. Smithsonian Institution, Washington, DC.

USA. p. 4-32

Kvist, L.P.; Gram, S. Cácares, C.A. Ore-B., I. 2001. Socio-economy of flood plain

households in the Peruvian Amazon. Forest Ecology and Management, 150: 175-186.

Yin, R. 2010. O estudo de caso como estratégia de investigação em educação: Instituto

Politécnico de Bragança, revista de educação: vol.2(2), 17p.

Page 70: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

68

Lagler, K.F. 1943. Food habitats and economic relations of the turtles of Michigan with

special reference to fish management. American Midland Naturalist, 29: 257-312.

Lazzarini, S. M. 2003. Avaliação Socioambiental da pesca de subsistência no Rio Uatumã

a jusante da barragem da UHE Balbina (Amazonas, Brasil). Dissertação (Mestrado

profissional Energia e Meio Ambiente) – Centro de Ciências do Ambiente, Universidade

Federal do Amazonas, Manaus. 85 p.

Le Tissier, M.; Bavinck, M.; Visser, L. 2011. Maarten, B., Leontine E. 2011. Integrated

Coastal Management: From Post-graduate to Professional Coastal Manager: a Teaching

Manual. Eburon Uitgeverij B.V., 2011 – 205p.

Lima, J.P.; Braga, T.M.P.; Silva, D.F., Pezzut, J.B.C.; Rebêlo, G.H. 2012. Mapeamento

participativo do uso dos recursos naturais e conhecimento tradicional sobre ecologia de

quelônios na várzea do rio Purus, Brasil. Papers do NAEA 294, Belém-PA, 24pp.

Lima, D.; Pozzobon. J. 2005. Amazônia socioambiental, sustentabilidade ecológica e

diversidade social. Estudos Avançados 19 (54): .45-76.

Losekann, C. 2012. Participação da sociedade civil na política ambiental do governo

Lula. Ambiente & Sociedade, São Paulo. v.XV, n.1.p179-200.

Matos, E.A.C.; Medeiros, R.M.V. 2011. Conservação e desenvolvimento de comunidades

tradicionais: o caso de Chimanimani no centro de Moçambique. Geo UERJ 22 (1): 3-11.

Mcdaniel, J. 1997. Communal Fisheries Managment in the Peruvian Amazon. Human

Organization 56(2):167-195

Mcgrath, D.G.; Castro, F. Futemma, C. 1993. Fisheries and the Evolution of Resource

Management on the lower Amazon floodplain. Human Ecology 21(2): 167-195.

Mcgrath, D.G.; Castro. F.; Futemma, C.R.; do Amaral, B.D.; Calabria, J. A. 1993. Manejo

Comunitário da Pesca nos Lagos da Várzea do Baixo Amazonas. In: Povos das Águas:

realidade e Perceptiva na Amazônia. Orgs. Lourdes Furtado, Wilma Leitão e Alex Fiuza

de Mello. – Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, p 213-229.

Michelle, L.; Michelle, T. 2012. Territórios em tensão: O mapeamento dos conflitos

socioambientais do estado de Mato Grosso. Brasil. Ambiente & Sociedade, SP. v.XV,

n.1.p1-31.

Mitchell, J. C.; Klemens, M. W. 2000. Primary and secondary effects of habitat alteration.

Smithsonian Institution, Washington, DC. USA.p.11-13.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2011. Quarto relatório nacional para convenção

sobre a diversidade biológica: Brasil. Brasília: MMA. 248pp.

Nascimento, S.M. 2006. Reprodução de quelônios na montante e jusante da UHE Balbina.

Relatório técnico, CPPQA, Presidente Figueiredo-AM, 60p.

Page 71: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

69

Novelle, S. M. H. 2007. Relatório Final de Consultoria de Quelônios da Rebio Uatumã.

Amazonas, Brasil. Projeto Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA). Fundo Brasileiro para a

Biodiversidade (FUNBIO). Ministério do Meio Ambiente (MMA).34p.

Ostrom, E. 1998. Community and the endogenous solution of commons problems. Journal

of Theoretical Politics 4(3): 343 –351.

Oliveira, P.H.G.; Nascimento, S.M.; Lazzarini, S.M. 2011. Proteção e monitoramento das

áreas de reprodução no Rio Uatumã com participação comunitária, Amazonas, Brasil::

Estratégias para conservação de quelônios da Amazônia: proteção de praias, INPA,

Amazonas, Brasil. p.11-22 .

Pereira, H.S.; Cardoso. R.S. 1999. A Lógica dos Comuns: regimes de Propriedade Coletiva

na Pesca. XI CONBEP e do I CONLAEP Volume 2. Recife, 843-857.

Pereira, H.S. 2001. Community wealth stratification the organizational provisioning

dilemma: The case of Amazonian fishing communities. Journal of the community

development soclety. v. 32.nº 1, 1-19.

Pinto, J.R.S. 2002. Análise de incentivos institucionais no manejo de fauna silvestre

“Projeto “Pé-de-Pincha” no noroeste do Pará. Dissertação, Curso de Pós-Graduação em

Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal do Pará e

da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Oriental, 25p.

Pimbert, M.P.; Pretty, Jules N., 2000. Parques, comunidades e profissionais “participação”

no manejo de áreas protegidas. In: Diegues, A. C. (Org). Etnoconservação: novos rumos

para proteção da natureza nos trópicos. São Paulo: UCITEC, 2000. P. 183-223.

Pezzuti, J. C. B.; Félix-Silva, D.; Barboza, R. S. L.; Barboza, M. S. L.,; Knogelmann, C.;

Barboza, R. S. L.; Wairess-Figueiredo, M.; Lima, A. P.; Alcântara, A.;Martins, A.; Costa,

C.C. 2008. Estudo de impacto ambiental do aproveitamento hidrelétrico (AHEBelo

Monte), Rio Xingu. Componentes Quelônios e crocodilianos. MPEG/UFPA. Relatório

Técnico. 186 pp.

Rebêlo, G.H.; Pezzuti, J.C.B. 2000. Percepções sobre o consumo de quelônios na

Amazônia: sustentabilidade e alternativas ao manejo atual. Ambiente e Sociedade 3(6/7):

85-104.

Rebêlo, G.H.; Pezzuti, J.C.B; Lugli, L.; Moreira, G. 2005. Pesca artesanal de quelônios no

Parque Nacional do Jaú (AM). Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi, 1 (1): 111-127.

Siar, S.V.; Algibayani; R.F.; Valera; J. B. 1992. Acceptability of territorial use rights in

fisheries: towards community-based management of small-scale fisheries in the

Philippines. Fish, 295-304.

Sioli, H. 1991. Amazônia: Fundamentos da Ecologia da Maior Região de Florestas

Tropicais. Editora Vozes, Petrópolis. 72pp.

Smith, N.J.H. 1979. Aquatic turtles of Amazonia: an endangered resource. Biological

Conservation, 16 (3): 165-176.

Page 72: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

70

Scherl, L. M.; Wilson, A.; Wild R.; Blockhus, J.; Franks, P.; McNeely, J. A.; McShane,

T.O. 2000. As áreas protegidas podem contribuir com a redução da pobreza?

Oportunidades e limitações.

SNUC/MMA, 2006. Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Brasília, MMM.

76pp.

Thompson, J.T. 1992. A framework for analyzing institutional incentives in community

forestry Roma: FAO, 132p.

Vivacqua, et al., 2005. Conflitos socioambientais em Unidades de Conservação. Geo.

SP.n.7.p.139-162.

Page 73: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

71

APÊNDICE A

Tabela 20. Participação das comunidades no monitoramento reprodutivo dos quelônios na RDSU-AM.

Legenda: AGDA-Agente de Defesa Ambiental, Comunidades: CG – Caioé Grande, SB – São Benedito, MN

– Mannain, NL – N.Sra. do Livramento, MR – Maracarana, SB – São Benedito. Dados coletados na RDSU

através de entrevistas, e relatórios técnicos do CPPQA fevereiro/2015.

Comunidades Ninhos Filhotes

Agentes de

praia

Média e Desvpad

dias/trab/ano Participação no PQU Nº de

comunidades Bela Vista 1256 21630 2 76/3,46

Ano CG SB MN NL MR BV

São Benedito 140 572 1 65/2,86 1995

X 1

Maracarana 2210 33718 5 68/6,34 1996

X 1

Mannain 156 1102 2 57/2,08 1997

X 1

N.Srª. do

Livramento

2711 59509 4 86/5,10

1998

X 1

Caioé Grande 219 2482 3 45/2,52 1999

X X X 3

Comunidades

Praias ou

tabuleiros Lagos

Esforço

monitoramen Gasolina (US$) 2000

X X 2

Bela Vista 6 8 152 5751 2001

X X 2

São Benedito 2 2 65 1725 2002

X X 2

Maracarara 6 5 340 3451 2003

X X 2

Mannain 2 1 114 1725 2004

X X 2

N.Srª. do

Livramento 31 4 344 5751 2005

X X 2

Caioé Grande 2 1 135 1150 2006

X X 2

Comunidades

Soltura/ano

(US$)

Salario

AGDA/mês(US$)

Salario

AGDA/ano

(US$)

Tempo de

participação no

PQU 2007

X X 2

Bela Vista 0 0 0 8 2008

X X 2

São Benedito 0 0 0 2 2009 X X X X X X 6

Maracarara 7830 2127 25531 16 2010 X X X X X 5

Mannain 0 0 0 3 2011 X

X X X X 5

N.Srª. do

Livramento 7830 2127 25531 16 2012 X

X X X 4

Caioé Grande 0 0 0 3 2013

X X 2

2014 X X 2

Page 74: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

72

APÊNDICE B

FORMULARIO I - A LOCALIDADE /COMUNIDADE No.___

1.IDENTIFICAÇÃO:

Data da entrevista: ___/ ___ / ___

GPS - LAT: ___o ____’ ____’’ S LONG: ____

o ___’ ____’’ W

Nome(s)/cargo/idade do(s) revistado(s):_________________________________________

_________________________________________________________________________

Localidade (nome): _________________________________________________________

2.DADOS GEOGRÁFICOS

(fazer o exercício do mapa mental e comparar com a imagem e mapa cartográfico)

Deslocamento e áreas de uso dos/pelos quelônios

alimentação:_____________________________________________________________________________

_

reprodução:______________________________________________________________________________

_

captura:_________________________________________________________________________________

_

concentração

(poção):_______________________________________________________________________

Ambientes Terrestres:

Quantas famílias moram (tem propriedade) na Terra-firme: ________ Várzea: __________

Ambiente aquáticos :

Nessa região (localidade) tem:Lago de terra-firme NÃO[ ] SIM[ ] Quais?

_______________________________________________________________________________________

___

Lado de várzea (água branca) NÃO [ ] SIM [ ] Quais ?

_______________________________________________________________________________________

___

Igarapé NÃO[ ] SIM [ ] Quais ?

_______________________________________________________________________________________

___

Rio NÃO [ ] SIM [ ] Quais ?

_______________________________________________________________________________________

___

Paraná NÃO[ ] SIM [ ] Quais?

_______________________________________________________________________________________

___

3.DADOS HISTÓRICOS

Fundação da comunidade: _____/_____/_____

obs:____________________________________________________________________________________

___

Tempo de moradia do morador mais antigo:

_______________________________________________________________________________________

___

Page 75: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

73

Como era aqui quando os mais antigos chegaram ?

ano ____________

Posse:

[ ] Terra desabitada (devoluta)

[ ] Latifúndio abandonado pelo dono

[ ] Latifúndio sem morador mas com dono

[ ] Latifúndio c/morador e c/dono

[] Terra indígena

[] Outra opção. Qual?

_______________________________

Cobertura:

[] Mata virgem [ ] Castanhal

[ ] Seringal [ ] Capoeira jovem

[ ] Roças abandonadas [ ] Capoeirão

[. ] Sítios [ ] Campo para gado

[ ] Roças novas

[ ] Outro tipo.

Qual?_____________________________________

__

Obs.:

____________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

__

4.ORGANIZAÇÃO SOCIAL E DA PRODUÇÃO

Número total de famílias moradoras da localidade : NUCLEARES_________ EXTENSAS

_______________

Número de pessoas:

________________________________________________________________________

Quais as religiões das famílias desta localidade: ___________ # ____________ ;

#______________________

Organização social: As famílias moradoras desta localidade estão organizadas em

[ ] Comunidade de base [ ] Associação de produtores [ ] outra forma _________ [ ] n.r.a

Quantas famílias participam dessas organizações? (freqüentam reuniões, ajudam nos trabalhos,

etc.)Associação: Possui ? NÃO [ ] SIM [ ]

Data da fundação ____/____/____

Nome da associação :

_______________________________________________________________________

6. INSTITUIÇÕES QUE ATUAM NO MANEJO

Quais instituições prestam assistência às famílias da localidade/comunidade? (ajuda externa)

Municipais:

_____________________________________________________________________________________

Estaduais:

_____________________________________________________________________________________

Federais:

_____________________________________________________________________________________

Não-governamentais:

_____________________________________________________________________________________

7.PRODUÇÃO DE SUBSISTÊNCIA (principais produtos utilizados no local)

EXTRATIVISMO VEGETAL (não-lenhosos):

EXTRATIVISMO VEGETAL (lenhosos):

_______________________________________________________________________________________

___

AGRICULTURA:

_______________________________________________________________________________________

Page 76: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

74

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

______

CRIAÇÃO ANIMAL:

_______________________________________________________________________________________

___

_______________________________________________________________________________________

___

CAÇA:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

___

PESCA:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Desses produtos consumidos, quais são os mais importantes para a alimentação da maioria das famílias dessa

localidade?

_________________________________________________________________________________

8.PRODUÇÃO COMERCIAL (principais produtos vendidos ou trocados)

MINERAL:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

EXTRATIVISMO VEGETAL (não-lenhosos):

_______________________________________________________________________________________

EXTRATIVISMO VEGETAL (lenhosos):

________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

AGRICULTURA:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

CRIAÇÃO ANIMAL:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

CAÇA:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

PESCA:

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Desses produtos, quais são os mais importantes para a renda da maioria das famílias desta localidade?

1.____________________2.______________________3.__________________4._________

5.____________________6.______________________7.__________________8._________

Onde e com quem eles são comercializados ? (agente/local da venda/destino da produção)

1.____________________2.______________________3.__________________4._________

5.____________________6.______________________7.__________________8._________

9.ESQUEMAS DE MANEJO COLETIVO

Para quais desses recursos existe controle pela comunidade?

[ ] 1 - Pesca [ ] 2 - Madeiráveis [ ] 3- Não-madeiráveis [ ] 4 - Caça [ ] 5 - Quelônios

10.RECURSO:

Quais os principais locais de [ ] para as famílias desta localidade?

Na cheia: ____________________________________ Na seca: ____________________________

Tipos de [ ] local

Page 77: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

75

Artesanal de subsistência: Quantas famílias? _______________________

Artesanal comercial:

Quantas famílias? _______________________

Quem faz exploração comercial de [ ] nas áreas da localidade?

os próprios moradores não [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]

os moradores vizinhos não [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]

moradores da cidade não [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]

moradores de outros municípiosnão [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]

moradores de outro estado não [ ] sim [ ] poucos [ ] muitos [ ]

11.INICIATIVAS DE ORDENAMENTO [ ] (tentativas de resolver conflitos de pesca)

A comunidade já conversou sobre esse assunto? não [ ] sim [ ]

Quando? ___/___. quem puxou a reunião?_____________________________________________

Qual a conclusão? ________________________________________________________________

Possui acordo verbal? nunca [ ] sim [ ] possuiu [ ] Obs:____________________

Possui acordo formal? nunca [ ] sim [ ] possuiu [ ] Obs.: ___________________

Caso afirmativo desde quando? ___/___/___ .

12.TIPO DE ACORDO

Direito de acesso de exclusividade dos moradores: não [ ] sim [ ]

Acesso flexível (obtido mediante solicitação): não [ ] sim [ ]

Fora os moradores, quem mais pode requerer acesso?

ninguém[ ] vizinhos[ ] moradores da cidade [ ] outros [ ] ____________________

13.ESFORÇO DE CAPTURA:

não há restrições[ ] só para consumo[ ] comercialização restrita [ ]

14.TECNOLOGIA DE CAPTURA: há restrições? não [ ] sim [ ]

Quais apetrechos são proibidos? _____________________________________________________

15.ÉPOCA DE CAPTURA: Há restrições ? Não [ ] Sim [ ]

Em quais época a pesca está restrita ou proibida?_________________________________________

16.LOCAIS DE CAPTURA: Há restrições? Não [ ] Sim [ ]

Em quais locais a captura/extração está restrita ou proibida? _______________________________

Em quais locais a captura está liberada? ______________________________________________

17.FORMAS DE MONITORAMENTO:

Quem vigia? [ ] ninguém [ ] ag. ambientais [ ] associação [ ] todos da comunidade [ ] outros

No caso de algum problema, para quem denuncia? _______________________________________

18.PUNIÇÃO / AÇÃO DE CONTROLE:

Já houve casos de punição? [ ] sim [ ] não

Quem puniu? ____________________________________________________________________

19.PRESSÃO SOBRE USO DE RECURSOS [preencher com o número de famílias da localidade]

RECURSO TIPO DE USO/FREQÜÊNCIA OBSERVAÇÕES

COME VENDE

OVO NÃO SIM

[pouco]

SIM

[muito]

NÃO SIM

[pouco]

SIM

[muito]

Tartaruga

Tracajá

Iaça/Pitiú

Capirã

ADULTOS

Tartaruga

Tracajá

Page 78: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

76

Iaça/Pitiú

Capirã

TOTAIS

DISPONIBILIDADE DE RECURSOS

RECORDAÇÃO DO ÚLTIMO VERÃO / ANO

Nº COVAS POR LOCAL

ESPÉCIE / ANO

LOCAL TIPO DE

LOCAL

SÍTIOS DE POSTURA

TOTAL

COVAS/ANO

TART

TRAC IAÇÁ

CAP

NOME Nº 00 / 15 00 / 15 00 / 15 00 / 15 00 / 15

Page 79: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

77

APÊNDICE C

FORMULÁRIO DE ENTREVISTA II - A FAMÍLIA

Questionário n. data:____/____/__________

Localidade: _________________________________________

Nome e idade dos CHEFES DA FAMÍLIA:

PAI____________________________IDADE__________________________________________________

_

MAE___________________________IDADE__________________________________________________

_

Local de nascimento: (localidade, município, Estado)

PAI___________________________________MAE___________________________________

Quando veio morar neste local (comunidade) {patriarca, matriarca}? PAI:___/___/__ MAE:___/___/__

Onde morava antes ? PAI ______________________________

MAE______________________________

ESCOLARIDADE (ANOS): PAI: __________________________

MAE______________________________

1.DADOS FÏSICOS SOBRE A PROPRIEDADE

Área(s) de terra-firme : [ ] NÃO TEM ACESSO [ ] POSSUI QUANTAS

?______________tamanho:

_______________________________________________________________________________________

___

Valor: ________Tipo de

posse:_________________________________________________________________

Obs.:___________________________________________________________________________________

___

Áreas de várzea: [ ] NÃO TEM ACESSO [ ]POSSUI QUANTAS?

______________________

Tamanho:

Total:___________________________Cultivável:_________________________________________

Área não ocupada,

florestada:__________________________________________________________________

Área em descanso (capoeira);_________________________Valor:

____________________________________

Tipo de posse:

______________________________________________________________________________

Obs.:___________________________________________________________________________________

___

2.PESCA

2.1 -QUANTO Ë A RENDA ANUAL QUE O Sr. (OU SUA FAMÍLIA) OBTEM COM A VENDA DO

PESCADO/ QUELÔNIOS?

_______________________________________________________________________________________

___

3.RENDA FAMILIAR

3.1 -O Sr(a) ou alguém da sua família recebe aposentadoria, pensão ou salário?

[ ] SIM [ ]NÃO

Quem? _____________Quanto?_________.

Quem? _____________ Quanto?_________

3.2 -O Sr (a) ou alguém da sua família trabalha fora de casa? Recebe diária?

Quem? ________________ Qual a atividade? _____________Quanto recebe ?_______________________

(no ano) Quem? ______ __________ Qual a atividade? _____________ ___________________________

Quanto recebe ?___________ (no ano)

Quanto o Sr(a) calcula seja a renda de sua família ? _________________________________________

4.PRODUÇÃO ANIMAL (balanço anual, ano anterior)

Page 80: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

78

BOVINO: área de pasto: ________ #cabeças;_______ vendeu:_______ valor:______

Leite [ ]: produção média diária: _______vendeu: ________valor:_______ safra (meses):______queijo[ ]:

produção média diária:______vendeu: _______.. valor:______ safra(meses):_______

BUBALINO: área de pasto: ___________ #cabeças;_________. vendeu:______ valor:______

Leite [ ] queijo [ ]: produção média diária: _________ vendeu: ____________valor:______

CABRA/BODE: #cabeças;_________ vendeu:_______ valor:______

CARNEIRO: #cabeças;_________ vendeu:_______ valor:______

PORCO:#cabeças;_________ vendeu:_______ valor:______

GALINHA: #bicos: máximo ________ mínimo______ vendeu:_______ valor:______

PATO#bicos: máximo _________mínimo______ vendeu:_______ valor:______

OUTROS ANIMAIS: QUAL?_________________ #: _________ vendeu:_______ valor:______

5.CAÇA DE ANIMAIS SILVESTRES

Que animais

existem aqui na sua

localidade?

Quais desses o Sr.

encontrou nos

últimos 12 meses?

Quais desses o Sr

capturou nos

últimos 12 meses?

Qual a

quantidade?

Quantos

vendeu?

Tartaruga

Tracajá

Iaça

Pitiu

Capiran

OPINIÃO (Da própria família entrevistada / envolvidas no Projeto)

1) O Sr (a) acredita que sua comunidade tem o direito de criar regras próprias para governar a caça e a

preservação dos bichos de casco? Sim ( ) Não ( )

Por quê ? ............................................................................................... ........................................................

2) O Sr (a) acredita que essas regras podem trazer benefícios para as famílias de sua comunidade?; Sim (

) Não ( )

Por quê ? ............................................................................................................................. ...........................

3) O Sr (a) e a sua família são beneficiados em sua comunidade se adotar (fazer valer, funcionar) essas

regras? Sim ( ) Não ( );

Por quê ?

..........................................................................................................................................................

4) O Sr (a) colabora com sua comunidade para que essas regras (trabalho de preservação) sejam

respeitadas? Sim ( ) Não ( );

Por quê ?

............................................................................................................................................................

5) As outras famílias desta localidade colaboram com a comunidade nas tarefas de preservação dos bichos

de casco? Sim ( ) Não ( );

Por quê ? ................................................................................................................... ............

Page 81: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

79

APÊNDICE D

Tabela 21. Animais silvestres caçados pelas famílias entrevistadas na RDSU.

Comunidades (famílias, N=70)

CG MN SB NL MR BV Total

% do Total

Abatido

Cutia (Dasyprocta sp.) 46 13 31 9 82 56 237 14,99

Paca (Cuniculus paca) 35 44 23 49 101 58 310 19,61

Queixada (Pecari pecari) 11 5 0 0 4 0 20 1,27

Catitu (Pecari tajacu) 1 11 10 26 20 32 100 6,33

Pato (Carina moschata) 0 2 8 1 20 0 31 1,96

Inambu (Inhambu sp.) 0 0 0 0 16 0 16 1,01

Jacu (Penelope sp.) 0 0 0 0 2 7 9 0,57

Tatu (Dasypus sp.) 12 17 2 0 8 16 55 3,48

Anta (Tapirus terrestres) 0 4 0 1 2 0 7 0,44

Veado (Mazama sp.) 2 9 2 1 2 10 26 1,64

Mutum (Mitua mito) 8 63 9 55 37 28 200 12,65

Tracajá (P. unifilis) 59 82 49 51 81 55 377 23,85

Tartaruga (P.expansa) 7 1 0 36 2 2 48 3,04

Jabuti (Chelonoidis sp.) 0 18 6 29 15 4 72 4,55

Iaçá (P. sextuberculata) 30 0 20 23 0 0 73 4,62

Total 211 269 160 281 392 268 1581

Desvipad 17,74 26,90 13,99 20,95 22,94 17,27

Consumo/ família 21,1 53,80 32,0 23,4 18,67 12,76

Comunidades: CG – Caioé Grande; MN-Manaain; SB-São Benedito; NL- Nossa senhora do Livramento;

MR-Maracarana e BV-Bela Vista. Dados coletados na RDS Uatumã, fevereiro de 2015.

Page 82: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

80

APÊNDICE E

Metodologia utilizada pelo projeto quelônios do Uatumã para monitorar os ninhos

Atividades preliminares

São realizadas reuniões nas comunidades da área de abrangência do projeto, na

RDS Uatumã para expor objetivos e metodologia do (PQU).

São estabelecemos contatos com as instituições parceiras para expor objetivos e

metodologia do Projeto, como as Secretarias Municipais de Meio Ambiente e Educação

das Prefeituras dos municípios de Presidente Figueiredo, Itapiranga e São Sebastião do

Uatumã AM.

Nesse período também são realizadas ações de limpeza das praias de desovas, um

mês antes do início da reprodução dos quelônios, junho ou julho;

Treinamento dos Agentes de Praia Comunitários

Todos os anos são realizados treinamentos para os novos agentes de praia, nesse

treinamentos, são abordados temas como: Criação da RDS Uatumã, histórico dos

quelônios Amazônicos, biologia e habitat das espécies que ocorrem no Brasil, espécies que

ocorrem na RDS Uatumã, legislação, uso e comércio ilegal, proposta do plano de trabalho,

monitoramento e marcação de quelônios, manejo de quelônios em praias conservadas,

construção de praia artificial ou chocadeira, função e comportamento dos comunitários

Agentes de Praia, função dos Fiscais Voluntários e predadores de quelônios

O Monitoramento dos ninhos é realizado pelos agentes de praia comunitários

treinados, segundo a metodologia adotada pelo Centro de Manejo e Conservação de répteis

e Anfíbios/RAN/ICMBIO e o Projeto Pé-de-Pincha. Com acompanhamento do técnico do

CPPQA/Eletrobrás Amazonas Energia e do PROBUC.

São monitorados ninhos das praias conservadas e monitoradas a jusante do Rio Uatumã na

RDS Uatumã, nãos complexos de lagos do Maracarana e do Jaraoacá, na RDS Uatumã.

Sinalização das praias conservadas

São confeccionadas placas e fixadas próximo as praias protegidas na RDS Uatumã.

A placa é um método de sinalização explicativo, onde é especificado o objeto da

conservação e as logomarcas das instituições parceiras como: Eletrobrás Amazonas

Energia/ICMbio/IPAAM, Corredores Ecológicos e prefeituras municipais. Em cada praia

protegida são fixadas uma ou duas placas indicando que é uma praia de conservação.

Page 83: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

81

No acordo da pesca esportiva que acontece no mesmo período da reprodução dos

quelônios, técnicos do (PQU) e comunidades encontraram uma metodologia para proteger

os ninhos de possíveis invasores. Usando bandeiras brancas nas principais praias

protegidas para reforçar a segurança dos ninhos. A bandeira é um método de sinalização

herdado dos seringueiros, onde o patrão demarcava a área de uso e de conservação da praia

na época de reprodução dos quelônios, usando bandeiras brancas e vermelhas.

Agentes de Praia Comunitários

Os Agentes de Praia são comunitários que receberam um treinamento para aturem

nos trabalhos de conservação dos quelônios nas praias protegidas.

Realizam monitoramentos diários nas praias protegidas, nas primeiras horas da manhã, nos

locais de desova, e abordagem de eventuais invasores nas áreas de conservação sob

proteção da comunidade, com o objetivo de mantê-los informados sobre o trabalho.

Obter informações sobre a quantidade, densidade e frequência das desovas dos tabuleiro

naturais. Monitorar diariamente os ninhos registrando em planilhas, dados como: local da

postura, data, número de ovos, total de covas por espécie, marcando o local das covas com

piquetes em madeira ou de sobras de ramos da palmeira inajá;

Isolar os ninhos com madeira e/ou telas plásticas para protegê-los de predadores naturais

como o jacurarú, (Tupinambis sp ) e outros, e para o controle do nascimento dos filhotes;

Proceder estritamente quando necessário no transplante dos ninhos, para proteger da

predação humana e evitar o alagamento por repiquete;

Os ninhos encontrados nas praias monitoradas são protegidos e marcados na

própria praia pelos comunitários (agentes de praias) treinados, monitorado por técnicos do

CPPQA/Eletrobrás Amazonas Energia ou PROBUC.

No treinamento para os comunitários são repassadas algumas técnicas de transferência

de ninhos, essa atividade requer alguns cuidados especiais como:

• abrir os ninhos nas horas mais frias do dia;

• pegar os ovos com cuidado evitando movimentos rotativo dos ovos;

• acondicioná-los e os transportar em caixas de isopor;

• forrar a caixa de isopor com substrato leve (areia, vegetação seca etc);

• carregar a caixa de isopor evitando balançá-la;

• fazer uma imitação do ninho natural, cavando as covas com as mãos;

• fazer uma câmara no ninho para acondicionar e aerar melhor os ovos;

Page 84: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

82

• acondicionar os ovos no ninho e preencher com areia, pressionando a areia e

evitando a formação de bolsa de ar.

Eclosão (nascimento dos filhotes) nas praias naturais e artificiais

O nascimento dos filhotes nas áreas protegidas é monitorado através do registro em

fichas de campo, onde são avaliados os seguintes parâmetros:

• Data de nascimento;

• quantidade média de filhotes nascidos por ninho;

• quantidade média de ovos gorados por ninho;

• quantidade média de ovos não fertilizados por ninho;

• quantidade média de ovos fungados por ninho;

• quantidade média de natimortos por ninho;

• quantidade média de ninhos predados;

• taxa de eclosão;

• identificação de predadores;

Os dados são coletados em praias com maior potencial para a realização de

acompanhamento e monitoramento mais criteriosos, praias que já estão sendo trabalhadas.

Os filhotes eclodidos nas praias naturais a jusante na RDS Uatumã, são colocados

em berçários (tanques de madeira ou plásticos) nas comunidades por um período de três

semanas a um mês, até o término do nascimento de todos os filhotes na praia protegida,

período este, em que a carapaça dos filhotes estarão mais rígidas, e os filhotes estão mais

espertos para se proteger de predadores em ambiente natural, sem perder a capacidade

natatória ao retornar aos corpos d’água.

A alimentação fornecida aos filhotes mantidos nos berçário das comunidades, são

macrófitas aquáticas (aguapés, capim memeca e murerús), frutos de igapó (murici, goiaba

de anta, abiorana etc). Procura-se fornecer alimentos que os filhotes eventualmente irão

encontrar na natureza, duas vezes por semana e fornecido uma ração a base de peixe para

crescimento com 25% de PB como fonte de vitamina e sais minerais, uma vez que esses

filhotes estarão sob guarda dos comunitários em um espaço limitado.

Realiza-se nos berçários a biometria dos filhotes recém nascidos, sendo que de cada

praia conservada, será retirada uma amostra aleatória de 100 filhotes. As medidas

morfométricas realizadas serão:

• Comprimento e largura da carapaça (mm);

• Comprimento e largura do plastrão (mm);

Page 85: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

83

• Altura (mm);

• Massa (g).

• Soltura dos Filhotes com participação comunitária

Os filhotes, mantidos nos berçário, são soltos nos meses de janeiro ou fevereiro de

cada ano RDS Uatumã.

O dia da liberação dos filhotes de quelônios é definido pelos comunitários em

reuniões, e as solturas são organizadas pelas comunidades. Nesse dia procura-ses envolver

outras comunidades a participar, usando como atrativo suas atividades de lazer rotineiras

como: salva de fogos, jogo de futebol, café da manhã, culto religioso, apresentação de

poesias, sátiras, paródias e outras.

Os filhotes são soltos nas praias onde nasceram em ressacas ou lagos próximo a

praia protegida, é acordado com as comunidades os locais de soltura, mas orienta-se a

soltá-los nos locais onde nasceram, com 10m de distância da água.

Coleta de dados pelos comunitários

Os comunitários que participaram do curso ficam responsáveis pela coleta dos

dados nas praias protegidas, com acompanhamento dos técnicos do CPPQA, cada

comunitário recebe um Kit (pasta, caneta, lápis, borracha, apontador, caderno de campo e

fichas de campo), esse material é repassado no treinamento.

Parte dos dados, são coletados por técnicos do CPPQA, serão tabulados em

planilhas eletrônicas e depois serão analisados.

Campanha de Educação Ambiental

O Projeto promove campanhas de educação e informação ambiental nas

comunidades ao longo do Rio Uatumã, com temática de manejo e uso racional de

quelônios, através de palestras com uso de recursos audiovisuais como slides, vídeo, data

show, painéis e distribuição de cartazes e folders educativos.

O método utilizado é o “Método Participativo” utilizando-se o trabalho em equipe

como instrumento essencial, envolvendo crianças jovens, adultos, homens e mulheres,

agentes ambientais, escolas comunitárias e as cidades ao entorno da RDSU como São

Sebastião, Itapiranga e Urucará.

Na fase do nascimento dos filhotes, o projeto envolve as comunidades e as escolas

ribeirinhas, fazendo desse momento um momento de reflexão ambiental.

São realizadas algumas atividades como: confecção de painéis fotográficos

(registrando todos os passos do trabalho comunitário), exposição de vídeos educativos

Page 86: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

84

(durante a noite nas visitas das comunidades, palestras nas escolas e no dia da soltura dos

filhotes), palestras voltadas para temas ambientais (nas escolas das comunidades),

atividades de modelagem na areia e pinturas em papel representando a praia preservada da

criançada, brincadeiras e teatro de fantoches com os alunos das comunidades.

Apresentação de vídeos sobre outras experiências com conservação de quelônios aquáticos

na Amazônia, treinamento de preenchimento das fichas de coleta e marcação de ninhos

com piquetes.

As fases do manejo, compreende 6 (seis) etapas:

1) Planejamento participativo, são realizadas reuniões anuais com as comunidade na

qual é feito um convite de participação ao programa;

2) Oficina de aprimoramento, é destinada a formação de novos agentes de praia,

possibilitando a estes agentes conhecimento e troca de saberes.

3) Monitoramento dos ninhos (covas), fase em que os agentes monitoram os ninhos

(identificando, registrando e marcando), em parceria com instituições que apoiam o

projeto.

4) Nascimento dos filhotes, compreende ao tempo de emergência dos filhotes, em

que recebem cuidados especiais até a sua transferência para os berçários.

5) Manutenção em berçários, nessa fase os filhotes são cuidados até a soltura.

6) Soltura dos filhotes, é o momento em que os filhotes são soltos em áreas

protegidas com a participação comunitária. Dia em que varias atividades sociais acontecem

com a participação do público interessado. Compreende o fechamento das atividades de

monitoramento do programa. Nessa fase as comunidades têm a oportunidade de mostrar

para as instituições parceiras o resultado de seu trabalho e, também é o momento dos atores

sociais envolvidos se confraternizarem pelo trabalho desenvolvido, (Oliveira et al, 2011).

São soltos, na fase final somente uma quantidade simbólica de filhotes, e participam do

evento da soltura todos os atores sociais que constituem os grupos de interesses.

Page 87: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

85

ANEXO I

Regras da Pesca Comercial na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do

Uatumã

Estas regras foram elaboradas de forma participativa em assembléias comunitárias

com apoio técnico especializado na RDS do Uatumã em reunião ocorrida no dia 21 de

fevereiro de 2015, sendo as que seguem:

a) Ao entrar e sair da RDS Uatumã a embarcação deverá parar na Base de Apoio da

RDS, localizada na margem esquerda do rio Uatumã, nas coordenadas ( S 02º 32’

39,9” W 058º 09’ 39,2” ). Na Base, o responsável deverá se identificar aos técnicos

do CEUC/SDS para preencher o Cadastro de Acompanhamento da atividade de Pesca

Comercial na RDS, prestando informações do barco e dos locais onde a atividade será

ou foi realizada;

b) O acompanhamento e monitoramento serão realizados em conjunto entre CEUC/SDS

e IDESAM e a fiscalização pelo IPAAM;

c) O período da pesca do peixe gordo vai do dia 01 Março a 30 de Julho de cada ano;

d) A Pesca será permitida somente para pescadores moradores das comunidades da RDS

Uatumã (considera morador pessoas que tenha fixado residência na comunidade da

RDS Uatumã no tempo mínimo de 02 (dois) anos, de acordo com o Plano de Gestão);

e) Não serão permitidas pessoas de fora pescando junto com pescadores moradores das

comunidades da RDS Uatumã.

f) Os presidentes junto com os moradores das comunidades são responsáveis pela

organização da pesca na comunidade e devem tomar providências a respeito do

descumprimento das regras da pesca na equipe da comunidade, podendo nomear um

comunitário responsável pela atividade.

g) Os barcos compradores/encarregados e comunitários/pescadores que descumprirem as

regras serão retirados da pesca de automaticamente, não sendo permitidos mais pescar

nem comprar pescado num período mínimo de 02 (dois) anos;

h) A comunidade Jacarequara terá 03 e a Bom Jesus 02 redes e as demais somente uma;

i) As comunidades deverão adquirir seus próprios quites de pesca, sendo canoa e rede,

devendo ser comprovado mediante documentação de registrada em cartório ou nota

fiscal;

Page 88: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

86

j) As comunidades que não adquiriram sua rede no ano de 2014, poderão pescar somente

se fizerem parceria com alguma equipe de pesca da RDS do Uatumã.

k) O tamanho máximo da rede permitido será 160 braças com manga;

l) Os barcos poderão entrar com 03 pessoas e se necessário poderá contratar uma pessoa

da comunidade;

m) Os barcos/compradores não poderão entrar com canoa no reboque, nenhum apetrecho

de pesca, arma de fogo, munição e bebida alcoólica;

n) O barco poderá ter um bote para apoio;

o) Os barcos entrarão somente para comprar, gelar e transportar o pescado na área da

RDS Uatumã;

p) Não será permitida a pesca de caixinha na área da RDS;

q) Capacidade máxima por barco será de 15ton;

r) Não poderá ficar mais de um barco na comunidade;

s) O lixo produzido pelos barcos de pesca deverá ser levado para fora da RDS;

t) Os comunitários poderão comercializar o pescado da forma que for mais rentável, mas

respeitando as regras do acordo;

u) Proibida a pesca do tucunaré para comercialização na área da RDS Uatumã durante

todos os meses do ano;

v) Proibido fazer batição na área da RDS Uatumã;

w) Permitida a pesca do peixe ornamental para moradores da RDS Uatumã mediante

autorização previa do órgão Gestor e plano de manejo da espécie;

x) Proibir o uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas na equipe sob pena de suspensão

da pesca de dois (2) anos.

y) Repassar para a comunidade no mínimo 10% do que for arrecadado com a atividade

da pesca.

z) Há uma comissão, composta por representantes do CEUC, AARDSU, AAV, e 2

comunidades, ficará responsável pela atividade da pesca e irá tomar as

medidas necessárias para cada caso.

__________________________ Cristiano Gonçalves

Engenheiro de Pesca

Chefe de Unidade de Conservação

Page 89: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

87

ANEXO II

REGRAS PARA A PESCA ESPORTIVA NA RDS DO UATUMÃ – 2015

Estas regras foram elaboradas de forma participativa em oficinas comunitárias com apoio

de técnicos especializados no mês de março de 2015, sendo as que seguem:

O acompanhamento e monitoramento serão realizados em conjunto entre Secretaria de

Meio Ambiente do Estado, Associação Mãe, AAVs e IDESAM e a fiscalização pelo

IPAAM.

a. O período de Pesca Esportiva iniciará no dia 15 de agosto e finalizará no dia 15 de

dezembro. Exceto para as pousadas comunitárias, que poderão receber os turistas o

ano inteiro.

b. Para entrada das embarcações na RDS do Uatumã: Toda embarcação deverá ter

autorização da Associação Mãe ou realizar parceria com algum morador da RDS do

Uatumã e este morador ficará responsável pela conduta da mesma.

i. Ao entrar na RDS do Uatumã via Balbina as embarcações deverão realizar o

cadastro no posto de monitoramento da Associação Mãe, pagar a taxa de entrada

e receber identificação.

ii. Entrada via São Sebastião do Uatumã e Itapiranga deverão realizar o cadastro na

base do CEUC, pagar a taxa de entrada e receber identificação.

c. Ao ingressar na RDS do Uatumã o responsável pela embarcação deverá apresentar o

Certificado de Registro de Pesca do IPAAM (barco), os documentos da Capitania

referentes à embarcação e apresentar a licença de Pesca Esportiva dos pescadores.

d. É obrigatório que toda embarcação (barco-hotel) tenha a presença de pelo menos um

(01) morador da reserva, seja como guia, piloteiro, monitor ou acompanhante para as

atividades da pesca esportiva.

e. Não havendo moradores disponíveis para trabalhar com turismo, poderá ser utilizada

mão de obra externa; assim como no caso de equipamentos (embarcações, motor,

etc).

f. Horário permitido para a prática da pesca esportiva do tucunaré: 05 às 17 hs e

no pólo 3, é permitido até as 18 hs. Proibido que os piloteiros transitem após este

horário.

Page 90: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

88

g. No caso da pesca esportiva de peixe de couro, o responsável deverá avisar no posto

de monitoramento os dias, horários e locais em que a prática será realizada, sendo

admitido somente 1 dia durante toda a estadia do turista.

h. Toda embarcação que trafegar durante a noite deverá ter luzes de sinalização.

i. Nas comunidades Maracarana, Cesaréia, São Benedito, Monte das Oliveiras, Bela

Vista, Ararinha, Mannain, Santa Luzia do Jacarequara, Deus Ajude do Boto, Nossa

Senhora de Fátima do Caioé Grande e Bom Jesus deve ser respeitado o limite de 200

m de raio da sede das mesmas para a prática da atividade de pesca esportiva.

j. Fica proibida a pesca esportiva nas seguintes áreas:

i. Comunidade Nova Jerusalém do Amaro: igarapé do Amarozinho.

ii. Comunidade Nossa Senhora de Fátima do Caioé Grande: lago Caioé Grande e

lago do Leocádio.

iii. Comunidade Bom Jesus do Angelim: igarapé do Leandrinho.

iv. Comunidade Santa Luzia do Jacarequara: igarapé do Lauacazinho, igarapé do

Corrido, lago da Castanha, lago do Tambaqui Grande.

v. Comunidade Nossa Senhora do Livramento: Igarapé do Itaquera e Igarapé

Curara.

vi. Comunidade Cesaréia: igarapé Letradinho, igarapé Letradão e igarapé da

Bárbara.

vii. Comunidade São Francisco do Caribi: rio Caribi até a confluência com igarapé

do Laguinho, após é permitido na Comunidade Monte das Oliveiras.

viii. Comunidade Santa Luzia do Caranatuba: igarapé Caranatubinha.

ix. Comunidade Maanaim: igarapé Tafulão e igarapé Jacaré.

x. Comunidade São Benedito: igarapé Araraquarinha e igarapé Araraquara Grande.

xi. Comunidade Maracarana: lago do Pio e lago Bonito.

xii. Comunidade Bela Vista: lago Corocorozinho e lago do Bicho.

k. Os locais proibidos para a prática de pesca esportiva serão identificados com

bandeiras vermelhas e placas.

l. Em áreas de tabuleiros, a pesca esportiva poderá acontecer somente até as 16h para

deixar o tabuleiro livre para a subida dos quelônios. (Locais de tabuleiros: Bela Vista

:caraba, cumaitetuba, maracarana: boca do arroizal, boca do mutunquara, ilha do lago

do maracarana)

Page 91: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

89

m. Reduzir a velocidade do motor das voadeiras ao passar nos portos das casas dos

moradores da RDS do Uatumã.

n. As comunidades participarão ativamente do monitoramento de sua área, contando com

a presença e apoio dos Agentes Ambientais Voluntários na orientação aos pescadores

esportivos sobre as regras da pesca esportiva 2015 na RDS do Uatumã e no registro de

atividades irregulares quando aconteçam.

o. É proibido:

i. Transportar peixes vivos ou mortos de qualquer espécie para fora da RDS do

Uatumã.

ii. A pesca usando tarrafa e malhadeira, bem como a entrada de embarcação de pesca

esportiva com tarrafas e malhadeiras em seu interior.

iii. O uso de isca viva nas pescarias.

iv. Pescar o peixe que estiver cuidando de ninhada (no choco).

v. Praticar a pesca de mergulho.

p. Ao capturar o peixe, deve-se manuseá-lo cuidadosamente, retirando o anzol

delicadamente; utilizar fisga amassada e deixar o peixe fora da água o tempo mínimo

possível.

q. O consumo de tucunarés capturados pelos próprios pescadores esportivos em sua

estada na RDS do Uatumã, só poderá ser realizado respeitando o tamanho de 40 cm a

50 cm para o tucunaré açu ou paca (Ciclha temensis). Respeitar o limite de um (01)

peixe por pescador, por semana.

r. Só será permitida a observação de jacarés por meio de focagem com lanternas, com

acompanhamento de turistas e em áreas permitidas (Áreas proibidas: Santa Luzia do

Jacarequara; Bom Jesus do Angelim, Nova Jerusalém do Amaro e Deus Ajude do

Boto).

s. Se necessário, poderá fazer fogo nas praias com acompanhamento dos guias, sendo que

as fogueiras deverão ser obrigatoriamente apagadas no final da atividade.

t. É obrigatória a retirada do lixo produzido na área da RDS do Uatumã e em seu entorno.

u. Aqueles que não cumprirem as regras estabelecidas para a atividade de pesca esportiva

ficarão suspensos por até 2 anos da atividade, sejam estes moradores ou empresários

_________________

Page 92: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

90

ANEXO III

Figura 21. Entrevistas com chefe de família, comunidade Bela Vista, RDSU, fevereiro de 2015.

Figura 22. Construção dos Mapas cognitivos pelos comunitários do Caioé, RDSU, fevereiro de 2015.

Page 93: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

91

Figura 24. Lago do Jaraoacá, comunidade Nossa Senhora do livramento, RDSU, fevereiro de 2015.

Figura 23. Aplicação do formulário I e diagrama de Venn, para o grupo de interessa da comunidade

Nossa Senhora do Livramento, RDSU em fevereiro de 2015.

Page 94: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

92

Figura 25. Agentes de praia comunitários monitores, na RDSU, agosto de 2013. Fonte: Oliveira,

P.H.G.

Figura 26. Soltura dos filhotes de quelônios na RDSU, comunidade do Livramento, fevereiro de

2012. Fonte: Oliveira, P.H.G.

Page 95: INCENTIVOS INSTITUCIONAIS NO MANEJO PARTICIPATIVO: … final Paulo... · Organograma do PQU na estrutura organizacional da ... para o grupo de interessa da comunidade Nossa ... A

93

“Chegou o verão, chegou a confusão, o peixe sofre com a

pressão, bichos de casco nem se fala, coloca seus ovos no

meio do folhiço para esconder do bicho homem. Os

predadores descem o rio Uatumã fazendo arrastão, nesse bolo

vai até pirarucu e, o coitado do peixe-boi, que é acostumado

colocar só o focinho pra fora, mais é surpreendido com arpão

no lombo. O pompom canta, mas não indica mais vazante,

agente não sabe mais o que é verão e inverno, nem a terra

mais e da gente, tudo virou confusão”(Fonte: morador da

comunidade Nossa Srª. do Livramento, 63 -RDSU).