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Page 1: Internet provoca tsunami em universidades americanas

Internetprovocatsunamiemuniversidadesamericanas

EstadodeSãoPaulo,07/05/2012

Texto para fins exclusivamente didáticos e de divulgação acadêmica. Não pode ser comercializado. Não autorizada areproduçãosemadevidaindicaçãodafonteeautoria.Disponívelem<http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,internet‐provoca‐tsunami‐em‐universidades‐americanas,869786,0.htm?reload=y>acessoem09.05.2012. Página1

Educação online modificará processos deaprendizagememtodoomundo

Educação online não é novidade. AUniversidade de Phoenix deu início ao seuprograma de graduação online em 1989.Quatro milhões de estudantesuniversitários americanos tiveram pelomenosumaaulaonlineduranteooutonode2007.

Mas, ao longo dos últimos meses, algomudou. A elite que dita o ritmo dasuniversidades abraçou a internet. Não hámuito tempo, cursos online eram sóexperiências interessantes. Agora, aatividade online está no cerne de comoessas escolas vislumbram seu própriofuturo.

Na semana passada, Harvard e oMassachusetts Institute of Technology(MIT)anunciaramoinvestimentodeUS$60milhões para oferecer cursos online. Doisprofessores de Standford, Andrew Ng eDaphne Koller, montaram uma empresa,Coursera,queoferececursosinterativosemHumanidades,CiênciasSocias,matemáticaeengenharia. Entre seus parceiros estão asUniversidades de Stanford, Michigan, PennePrinceton.

Muitas outras universidades de elite,incluindo Yale e Carnegie Mellon, estãotrabalhando agressivamente na internet.John Hennessy, presidente de Stanford,resumiu a visão emergente em um artigoescritoporKenAuletta,noNewYorkTimes:"Háumtsunamiseaproximando."

Oqueaconteceucomomercadode jornaise revistas está prestes a acontecer com aeducação superior: uma reordenação viaweb.

Muitos de nós vemos a mudança cominquietação. Será que a aprendizagemonline diminuirá o contato direto entrepessoas, relação que define a experiênciauniversitária? Será que ela vai impulsionaros cursos funcionais de Administração emarginalizartemasdedifícildigestãoonlinecomo a filosofia? A navegação onlinesubstituiráaleituraaprofundada?

Se alguns professores "estrelas" podempalestrar para milhões de pessoas, o queacontece como resto do corpo docente?Opadrãoacadêmicoserátãorigorosoquantoodehoje?Oqueacontecerácomestudantesquenãotêmmotivaçãointrínsecasuficientepara se manterem grudados ao laptopdepois de uma hora? Quanto será perdidoda comunicação ‐ gestos, humor, contatovisual ‐ quando você não está de fato emuma sala com professores e estudantespassionais?

As dúvidas são justificáveis, mas há maisrazõesparasesentirotimista.Emprimeirolugar,aaprendizagemonlinedaráamilhõesde estudantes o acesso aos melhoresprofessores do mundo. Milhares deestudantes já tiveram aulas decontabilidade com Norman Nemrow, daBrigham Young University, aulas derobóticacomSebastianThrun,deStanford,eFísicacomWalterLewin,doMIT.

A aprendizagem online pode estender ainfluência das universidades americanaspelo mundo. Somente a Índia pretendeconstruir dezenas de milhares deuniversidades na próxima década. Oscurrículos das universidades americanaspoderiampermearessasinstituições.

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EstadodeSãoPaulo,07/05/2012

Texto para fins exclusivamente didáticos e de divulgação acadêmica. Não pode ser comercializado. Não autorizada areproduçãosemadevidaindicaçãodafonteeautoria.Disponívelem<http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,internet‐provoca‐tsunami‐em‐universidades‐americanas,869786,0.htm?reload=y>acessoem09.05.2012. Página2

Pesquisas sobre aprendizagem onlinesugeremqueela,demodogeral,étãoeficazquanto a da sala de aula. É mais fáciladaptar a experiência do aprendizado aoritmo pessoal do aluno e a suaspreferências. A aprendizagem online semostra especialmente útil no ensino deidiomasenoensinosupletivo.

O fato mais importante e paradoxal quedelineiao futurodaaprendizagemonlineéeste:umcérebronãoéumcomputador.Nósnão temos espaços em branco em discosrígidos à espera de dados para serempreenchidos.Pessoasaprendemapartirdepessoasqueamame lembram‐sede coisasquedespertamemoções.Sevocêpensaemcomo o aprendizado de fato acontece, vaiidentificar muitos processos distintos. Háinformação sendo absorvida. Há reflexãosobrea informaçãoàmedidaquevocêrelêe pensa sobre ela. Há reorganização dainformação à medida que você a testa emdiscussões ou tenta relacioná‐la cominformações contraditórias. Por fim, hásíntese,àmedidaquevocêtentaorganizaroqueaprendeuemumargumentoouemumartigo.

Educação online ajuda os alunos com oprimeiro passo. ssim como Richard A.DeMillo de Georgia Tech argumentou, aeducação online transforma a transmissãode conhecimento em uma mercadoriabarata e globalmente disponível. Mastambém força as faculdades aconcentrarem‐se nos demais processos deaprendizagem, onde está o real valor. Emum mundo virtual, faculdades tem depensar seriamente sobre como estãolidandocomacomunicaçãodistribuídapelaweb e transformá‐la em aprendizagem ‐ o

que é um processo social e emocionalcomplexo.

Como mesclar informações online comdiscussões cara a cara, tutoriais, debates,orientações, escritos e projetos? Comoconstruir capital social capaz dedesenvolvercomunidadesdeaprendizagemvibrantes?Educaçãoonlinepodecolocarasinstituições de ensino superior em umaposiçãomaisaltana cadeiadevalor ‐paraalémda transmissãode informações, rumoacoisasmaiselevadas.

Em ummundo onlinemisto, um professorlocalpodeoptarnãosóporummaterialdeleitura, mas montá‐lo a partir de umconjunto de fontes, de todo o mundo, quevão fornecer diferentes perspectivas. Oprofessorseriaentãomaisresponsávelportutoria e debates e menos por aulasexpositivas. Clayton Christensen, daHarvardBusiness School, observaque serámais fácil quebrar as divisões acadêmicas,combinando leituras de cálculo e químicaouapresentaçõesdeliteraturaehistóriaemumúnicocurso.

Os primórdios da web democratizaramradicalmente a cultura,mas agora estamosvendo uma luta pela qualidade namídia eem outros lugares. As melhoresuniversidades americanas deveriam sercapazesdesetornarreferêncianaweb.

Minha aposta é de que será mais fácil serumauniversidadepéssimanainternet,mastambém será possível que as escolas ealunos mais comprometidos sejammelhoresdoquenunca.

David Brooks, de New York Times, 07 demaiode2012.