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I' I'

RELATORIO TECNICO FINAL

Investigação da Sífilis Congênita e

Avaliação da Qualidade do Atendimento

Materno Infantil:

uma proposta de intervenção.

Processo: 914 BRA1101 CSV: 485/05

Ministério da Saúde/Programa Nacional

DST/Aids e

Funcamp/UNICAMP

Julho de 2008

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Rúbrica Cov

Apresentação:

Este é o Relatório Final do Projeto "Investigação da Sífilis Congênita

e Avaliação da Qualidade do Atendimento Materno Infantil: uma

proposta de intervenção", referente ao período de março de 2007 a

julho de 2008, incluindo o período de prorrogação de 6 meses para

finalização das atividades.

Trata-se de um projeto que tem em seu título "uma proposta de

intervenção". Isto significou o desenvolvimento de duas etapas do

projeto:

a) Diagnóstico da situação epidemiológica da sífilis congênita na

microrregião de Sumaré e o mapeamento dos principais pontos

vulneráveis do atendimento materno-infantil.

b) Intervenção desencadeada a partir do diagnóstico do perfil

epidemiológico e características do atendimento à sífilis em gestantes e

recém-nascidos. Foram realizadas reuniões com os gestores e técnicos

municipais para "problematização" destes resultados e organização da

intervenção em cada município da microrregião.

Esta particularidade levou a equipe de pesquisadores a adequar

continuamente as agendas das atividades de educação continuada,

treinamento e pactuação entre as instituições participantes. Esta

flexibilidade muitas vezes redefiniu as prioridades de investimentos, o

formato e o conteúdo das oficinas e dos treinamentos inicialmente

propostos, embora em nenhum momento os pesquisadores perdessem

de vista os objetivos e compromissos da pesquisa.

Considerou-se positivo o impacto da intervenção, dada a ampliação

da capacidade de gestão tanto no âmbito central das Secretarias

Municipais como da atenção básica, além da melhora da interlocução

entre serviços de saúde (hospitais e centros de saúde) e da produção de

novos instrumentos que podem auxiliar a gestão local.

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Processo (j,:.t?" ::a,os~/.ç;G Rúbrica (X.'7V'

Participaram da condução desta investigação:

Dra Carolina Chaccur Abou Jamra (Núcleo Saúde Pública/HES)

Dra Dulce Maria Toledo Zanardi (Neonatologia/HES)

Dra June Barreiros Freire (Núcleo Saúde Pública/HES)

Dra Maria Luiza Nicoletti Marques (Secretaria Municipal de Saúde

Sumaré)

Dra Maria Rita Donalisio Cordeiro (coordenadora - DMPS/Unicamp)

Equipe do Núcleo de Saúde Pública do HES

Equipes de saúde da rede de serviços de saúde dos municípios de

Sumaré, Hortolândia, Monte Mor, Nova Odessa e Santa Bárbara

D'Oeste.

Neste Relatório são apresentados os seguintes tópicos:

I - Objetivos

11 - Diagnóstico Epidemiológico e do Atendimento à Sífilis

Congênita (Etapa I)

111 - Intervenção (Etapa I e 11)

111. 1. Sensibilização dos Gestores Municipais

111. 2. Educação Permanente de Gestores e Técnicos

111. 3. Educação Continuada ITreinamentos oferecidos

V - Resultados

VI- Impacto do projeto e perspectivas na microrregião

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I. Objetivos:

1.1. Objetivo Geral:

Avaliar os aspectos do programa de pré-natal, assistência ao parto

e puerpério relacionados com a incidência de sífilis na gestante e

congênita na microrregião de Sumaré e iniciar intervenção.

1.2. Objetivos Específicos

I.2.a. Identificar pontos vulneráveis da assistência ao pré-natal,

parto e puerpério na microrregião.

1.2.b. Organizar uma agenda de intervenção na qualidade da

atenção obstétrica.

1.2.c. Organizar as rotinas do atendimento à sífilis congênita na

gestante, puérpera e familiares dos casos identificados.

1.2.d. Realizar treinamentos e reciclagem das equipes de saúde dos

5 municípios da microrregião.

1.2.e. Interferir no controle de outras infecções perinatais.

11 - Diagnóstico epidemiológico e do atendimento à

sífilis congênita (resumo das atividades Etapa I)

Na primeira etapa do projeto, de março a agosto de 2007, as

atividades foram realizadas principalmente no Hospital Estadual

Sumaré, junto às Secretarias Municipais de Saúde dos municípios da

região: Sumaré, Hortolândia, Monte Mor, Santa Bárbara D/Oeste e Nova

Odessa.

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Os principais produtos desta etapa foram o diagnóstico

epidemiológico e dos serviços de assistência pré-natal da microrregião e

o início da intervenção. Foi possível a identificação dos pontos frágeis da

assistência ao pré-natal, parto e puerpério na microrregião. (Objetivo

1.2.a.)

11.1. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

(Estas informações estão descritas com maiores detalhes no Relatório I)

II.1.a. Método

Foi realizado estudo retrospectivo descritivo do perfil epidemiológico

da sífilis congênita em 5 municípios no estado de São Paulo:

Hortolândia, Monte Mor, !\Iova Odessa, Santa Bárbara do Oeste e

Sumaré (630.000 habitantes aproximadamente).

Foram coletadas e analisadas informações sobre as gestantes, seus

parceiros e recém-nascidos infectados pelo Treponema palidum, período

de janeiro de 2003 a julho de 2007. Para tanto utilizou-se um

questionário com variáveis de interesse.

As informações foram obtidas das fichas de notificação

epidemiológica de sífilis congênita e de doenças sexualmente

transmissíveis disponíveis no Sistema de Agravos de Notificação

(SINAN) dos municípios e da instância regional da Vigilância

Epidemiológica de Campinas. Foram também analisados prontuários de

parturientes e recém nascidos nos hospitais municipais.

As variáveis analisadas foram: SÓcio-demográficas (escolaridade

materna, idade, local de moradia); dados sobre o pré-natal (data do 10

atendimento, parto, data e resultados dos exames VDRL e treponêmicos

solicitados, tratamento da gestante); dados sobre o recém-nascido

(sintomas, exames treponêmicos e não treponêmicos, investigação

clínica, tratamento e seguimento).

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o seguimento clínico e sorológico das casos na rede básica e de

acordo com as normas preconizadas pelo Ministério da Saúde, foi

investigado pelas equipes de vigilância epidemiológica municiapais.

Para montagem do banco de dados foi utilizado o programa de

informática Epiinfo versão 6.03.

II.l.b. Resultados da análise descritiva dos dados

Foram analisadas as variáveis de maior relevância no diagnóstico e

tratamento da sÍ'filis congênita. Os resultados foram descritos por meio

de tabelas e gráfico:

Foram investigados 62 casos de sífilis congênita, diagnosticados

segundo critérios do Ministério da Saúde e notificados no período de

janeiro de 2003 a julho de 2007 na região de estudo. Dois dos casos

resultou em aborto na aa e 10a semanas de gestação, respectivamente

e não foram considerados em algumas das análises.

Os gráfico 1 e 2 mostram a distribuição mensal dos casos,

evidenciando aumento progressivo em 2004 e primeiro semestre de

2005. A partir deste período nota-se uma tendência à diminuição do

número de casos, mantendo a transmissão no primeiro semestre de

2007.

Acredita-se que as primeiras discussões sobre o tema iniciadas em

2005 e 2006 junto às equipes municipais tiveram impacto na detecção

precoce e tratamento dos casos. Este possível impacto se reflete na

diminuição do número de casos notificados a partir de junho de 2006,

embora as equipes tornarem-se mais alertas que em períodos

anteriores.

Em relação ao local de moradia observa-se que a grande maioria

das gestantes (64,5% ) residia em Sumaré, seguido por 19,4%

procedentes de Hortolândia (Tabela 1). A maioria das notificações

ocorreu por ocasião do parto realizado no Hospital Estadual Sumaré.

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Gráfico 1. Distribuição mensal dos casos notificados de sífilis

congênita na microrregião de Sumaré, 2003 a julho de 2007.

A idade média das gestantes foi de 25,9 anos com desvio padrão de

8,3; a mediana foi de 25 anos, sendo a idade mínima e máxima 15 e 47

anos, respectivamente.

Sobre a escolaridade materna, nota-se que 37,1 % das gestantes

completaram de 4 a 7 anos de estudo e 16,1% de 8 até 11 anos na

escola. Porém observa-se um grande contingente de casos sem esta

informação (27,4%), sendo que o grau de escolaridade materna é

variável presente na ficha de notificação compulsória da sífilis congênita.

Com base nas fichas de notificação, foram levantadas algumas

informações referentes ao pré-natal, se o mesmo havia sido feito, se os

exames de VDRL foram realizados, se realizados se foi feito só nos

primeiros exames do perfil obstétrico e se foi repetido no

segundo/terceiro trimestre. Se o diagnóstico de sífilis foi feito durante o

pré-natal, e se o tratamento foi realizado adequadamente.

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Tabela 1. Local de moradia das gestantes investigadas na

microrregião de Sumaré; 2003 a julho de 2007.

Município Freq %

Sumaré 40 64,5

Hortolândia 12 19,4

Santa Bárbara 5 8

Monte Mor 4 6,5

Nova Odessa 1 1,6

Total 62 100

Tabela 2. Anos de escolaridade das gestantes investigadas na

microrregião de Sumaré; 2003 a julho de 2007.

Escolaridade Freq %

Zero 1 1,6

1 a 3 7 11,3

4a7 23 37,1

5a8 4 6,5

9 a 11 10 16,1

Ignorado 17 27,4

Total 62 100

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Dentre as 62 gestantes estudadas, foram identificadas 54 (87,1)

que realizaram as consultas de pré-natal, sendo que 23 gestantes

(41,8%) tiveram 5 ou menos destes atendimentos. Essa situação é

inadequada, segundo as diretrizes do Ministério da Saúde, que indica

pelo menos 6 consultas obstétricas durante a gestação.

Em 31 (50%) não havia informações disponíveis sobre o número de

consultas durante o pré-natal, tampouco sobre o trimestre de início do

seguimento. Em 5,4% dos registros não havia qualquer informação

sobre o pré-natal e 5 gestantes não realizaram nenhuma consulta.

A tabela 3 mostra que o tratamento da gestante durante o pré­

natal e pós-parto foi deficiente e, mesmo quando realizado, observou-se

um elevado percentual de inadequação.

Os registros destes dados nas fichas de notificação compulsória e

nos prontuários médicos são precários e dificultam a investigação

retrospectiva dos casos.

Os dados da tabela 3 indicam uma inaceitável falta de cobertura e

intervenção terapêutica em relação aos parceiros, o que compromete

acentuadamente a assistência e medidas de prevenção e controle da

sífilis congênita.

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Tabela 3. Tratamento dos casos de sífilis na gestante durante pré­

natal, parto e relativamente aos parceiros, na microrregião de Sumaré f'l.t::dnLdUV ,L/ "'t.;),.)

Não Realizado 20 32,3

Ignorado 15 24,2

Total 62 100

Tratamento

Parceiro

Realizado 5 8,1

Não Realizado 41 66,1

Ignorado 16 25,8

Total 62 100

Tratamento após

parto

Realizado: 44 71

Adequado* 30 48,4

Não adequado 14 22,6

Não Realizado 15 24,2

Ignorado 3 4,8

*Adequado proposto pelo Programa Nacional DSTjAIDS- Ministério

da Saúde

Na tabela 4 observa-se que apenas 24,2% das gestantes' foram

investigadas para sífilis congênita de forma adequada, segundo as

normas do Ministério da Saúde e 16,1% não foi submetida a nenhuma

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investigação sorológica durante a gestação, embora tivessem acesso ao

pré-natal.

Tabela 4. Sorologia não treponêmica (VDRL) registrada segundo

época da coleta do exame em gestantes na microrregião de Sumaré de

2003 a julho 2007.

Quando fez VDRL Freq O/o

1°, 3° Trimestres e 15

Parto

10 Trimestre e Parto 21 33,9

3° Trimestre e Parto 11 17,8

Apenas no Parto 10 16,1

Apenas no 3° Trimestre 1 1,6

Não realizou 2 3,2

Ignorado 2

Total 62 100

Tabela 5. Testes treponêmicos realizados em gestantes após VDRL

positivo na micro-região de Sumaré de 2003 a julho de 2007.

Testes treponêmicos Freq %

FTAbs 26 47,3

TPHA 12 21,8

IgG Elisa 8 14,5

Total gestantes testadas* 38 69

Nenhum 4 7,27

Ignorados 8 14,5

* Em alguns casos mais de um teste treponêmico foi realizado.

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Hubrica ~

Devido à alta sensibilidade do VDRL e da possibilidade de falsos

positivos, o Ministério da Saúde preconiza a realização de um teste

treponêmico para confirmação diagnóstica. Na tabela 5, nota-se que em

69%, pelo menos um teste treponêmico foi realizado.

Tabela 6. Sintomas clínicos em recém-nascidos expostos à infecção

pelo Treponema pallidum e notificados na microrregião de Sumaré de

2003 a julho de 2007,

Sintomas Freq 0/0

Assi ntomático 51 82,3

Hepatoesplenomegalia 2 3,2

Icterícia 2 3,2

Anemia 1 1,6

Lesões cutâneas 1 1,6

Neuro-sífilis/alter. liquór 2 3,2

Ignorado 3 4,9

Obs: Mais de um sintoma foi registrado por paciente Não foram considerados os 2 casos de aborto e 1 natimorto (N=59)

A quase totalidade dos recém nascidos expostos ao Treponema

pallidum foram investigados tratados e notificados nos primeiros cinco

dias de vida (97,7%).

A tabela 7 mostra que a investigação e tratamento do recém­

nascido foram realizados de forma adequada, não constando nenhuma

sorologia (VDRL) "não realizada", As quatro crianças não tratadas

apresentavam o VDRL negativo ao nascimento.

Os resultados das sorologias são demonstrados na tabela 8.

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Tabela 7. Sorologias para sífilis e tratamento do recém-nascido das

gestantes investigadas na microrregião de Sumaré janeiro de 2003 a

julho de 2007.

Freq %

VDRL

Realizado 57 95

Não Realizado 1 1,7

Ignorado 3 5

Total 60 100

Testes

Treponêmicos*

Realizado

Não Realizado

Ignorado

Total

23 38,3

8 13,3

22 36,7

60 100

Tratamento

Realizado 52 86,7

Não Realizado 4 6,7

Ignorado 4 6,7

Total 60 100

*Testes Treponêmicos: TPHA, FTAbs, Elisa/IgG

Não foram considerados os casos de aborto (N=60)

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Tabela 8. Resultados da sorologia VDRL dos recém-nascidos

expostos ao Treponema pallidum notificados e investigados na

microrregião de Sumaré, janeiro de 2003 a julho de 2007.

Resultados Freq O/o

1:1 9 15,3

1:2 14 23,7

1:4 14 23,7

1:8 5 8,5

1:16 2 3,4

1:32 2 3,4

1:64 2 3,4

1:256 1 1,7

Negativo 7 11,8

Ignorado 3 5,1

Total 59 100

Não foram considerados os 2 casos de aborto e 1 natimorto (N=60)

Em julho de 2006 foram estudadas 53 crianças atendidas na

microrregião com diagnóstico de sífilis congênita, até o momento.

Apenas 18 (39,9% ) foram localizadas por meio da vigilância

epidemiológica, sendo que 17 delas disseram fazer acompanhamento

mensal com pediatra no Posto de Saúde. Porém foi observado que

apenas 10 destas 17 crianças localizadas (18,1% ) estavam em

seguimento clínico e sorológico como preconiza o Ministério da Saúde

(seguimento sorológico com VDRL 1,3 6, 12 e 18 meses após

nascimento/diagnóstico ou até negativação).

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Processo Qólf. gq~ kl(; Rúbrica s::;pv

Estes dados foram disponibilizados às equipes de saúde da rede

básica e hospitalar dos municípios e apresentados em várias Oficinas,

para discussão das intervenções possíveis.

Também foi realizado um levantamento sobre a estrutura e fluxos

dos serviços obstétricos nos municípios da microrregião.

Um levantamento dos casos de moradores de Sumaré foram

distribuídos segundo a área de cobertura dos serviços de saúde

municipais, como mostra a tabela 2. Estes dados permitiram a

priorização dos locais de intervenção propostas neste projeto.

Tabela 9. Distribuição dos casos segundo áreas de cobertura dos

serviços de saúde e domicílio dos casos de sífilis congênita. I

Unidades de Saúde 2004 2005 2006 2007 I UBS Pq das Nações 3 O O O CS 11 2 O 1 1

. PSF Maria Antonia 2 2 3 O CIS Nova Veneza 8 2 O O

. UBS CAIC 1 O 1 O PSF Bandeirantes 1 1 O O

I PACS Denadai 1 O O O PSF Nova Terra 1 O 1 O

I UBS Santa Clara O 1 O O PACS Vasconcelos O 1 1 O

I PACS Picemo O 1 O O Hospital HES O 2 O O

I CAISM-Unicamp 1 O O O Consultório Privado 1 1 O O Total 21 11 7 1

Dentre os principais resultados observa-se que as gestantes

acompanhadas no pré-natal têm acesso aos serviços, porém as ações de

rotina para controle da sífilis congênita não foram realizadas de acordo

com as diretrizes preconizadas pelo Ministério da Saúde. A análise dos

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eovdurante o pré-natal e a cnança com suspell:a ut:: ::111111::1 \.VII!:jt:1 JU.IóI. D.·.kriI'Q

• Diagnóstico das gestantes

Em relação ao diagnóstico da gestante no pré-natal, é observada

uma situação inadequada, com pouca investigação no 10 trimestre da

gravidez. Grande parte das gestantes apresenta sorologia não

treponêmica (VDRL) realizada somente no 3° trimestre e no parto. Fica

evidente que a informação é tardia e, portanto, pouco eficiente para

prevenção de sífilis neonatal e, também, para prevenção de

abortamento o qual, possivelmente, é subnotificado, como atestado por

apenas 2 casos notificados neste estudo.

Outro fato é que, parcela destas gestantes não tem confirmação da

infecção com testes treponêmicos. Embora possam ocorrer falsos

positivos, considera-se indicado o tratamento de gestantes com VDRL

positivo mesmo sem confirmação, pois o tratamento de indivíduos falsos

positivos é menos danoso que o não tratamento de um caso de sífilis.

• Tratamento das gestantes

A cobertura terapêutica é baixa considerando-se a facilidade, o

acesso e a eficácia do tratamento. Mesmo as gestantes com exames

positivos não estão sendo tratadas adequadamente. Este fato indica a

necessidade de treinamentos e reciclagens das equipes de atendimento

pré-natal na rede de saúde dos municípios de estudo.

O tratamento durante o pré-natal foi realizado em 21 (38,2°/0)

gestantes, tendo que ser considerado que em 9 pacientes, o diagnóstico

(sorológico ou clínico) foi feito na ocasião do parto, em 14 pacientes não

foi possível encontrar dados nos prontuários sobre tratamento na

gestação.

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• Tratamento dos parceiros

O tratamento do parceiro foi precário, com percentual muito baixo

(8,1%) Isto pode significar risco de reinfecção da mulher durante a

gestação em curso ou mesmo constituir-se novo caso de sífilis, com

possíveis repercussões em futuras gestações.

• Investigação no recém-nascido

Embora menos freqüente que nas gestantes, notam-se ainda

deficiências na investigação clínica após o parto, em crianças expostas

ao Treponema pallídum.

Há poucos registros sobre alterações liquóricas no recém-nascido. A

interpretação dos exames laboratoriais e o conhecimento sobre o

protocolo de atendimento preconizado pelo Ministério da Saúde

precisam ser revistos junto às equipes obstétricas e neonatais dos

hospitais da região de estudo. O início das atividades de capacitação em

sífilis congênita para microrregião de Sumaré ainda aguarda a liberação

dos recursos.

• Tratamento do recém-nascido

A situação do tratamento das crianças com diagnóstico de sífilis

congênita foi mais favorável que o das gestantes, principalmente pela

maior facilidade de diagnóstico e tratamento dos casos no âmbito

hospitalar. Ressalta-se o papel dos hospitais como locais privilegiados,

"sítios sentinela" para se detectar doenças não diagnosticadas ou

negligenciadas no âmbito ambulatorial.

• Seguimento do recém-nascido

Em geral, os sistemas de vigilância epidemiológica dos municípios

estudados bem como os serviços hospitalares não têm informações

sobre o seguimento das mulheres e crianças expostas ao Treponema

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pallidum, detectadas durante a gravidez e parto. A busca dessa

informação se mostrou bastante complicada, visto que foram localizadas

apenas 18 (39,90/o) das crianças diagnosticadas na ocasião do parto.

Esse dado indica possível mobilidade destas mulheres, sugerindo uma

instabilidade social dessas famílias, a maioria desfavorecida

economicamente.

Ficou evidente também que ocorrem falhas no seguimento

sorológico dessas crianças na rede básica. Foi notado que as mães

comparecem às consultas mensais e com freqüência são vistas por

médico pediatra, porém há pouca clareza sobre a periodicidade

necessária para a solicitação do exame. O VDRL, quando solicitado, com

freqüência é feito com atraso e· defasagem do seguimento clínico. Esse

fato reforça a necessidade de treinamentos e reciclagens para

profissionais da rede básica, visto que, em nível secundário e terciário

de atendimento, observou-se maior adequação do tratamento e

diagnósticos.

• Qualidade e fluxo das informações clínicas e

epidemiológicas

A falta de informação nas fichas de notificação e prontuários

médicos (particularmente os dados relativos ao pré-natal) é muito

significativa, o que dificulta um diagnóstico mais preciso da situação do

atendimento obstétrico na microrregião. A investigação dos casos e a

intervenção oportuna, a posteriori também podem ficar prejudicadas

devido à qualidade da informação.

Os dados deste trabalho foram disponibilizados para as equipes de

saúde municipais da microrregião, bem como para a equipe de vigilância

epidemiológica da instância regional da Vigilância Epidemiológica de

Campinas.

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A partir dos resultados deste diagnóstico foram desencadeadas

discussão com gestores e técnicos dos municípios envolvidos para o

planejamento da intervenção

111 - Intervenção (Objetivos I.2.b. , I.2.c. , I.2.d. , I.2.e.)

111.1. Método

Ainda na Etapa I deste projeto foram feitas as articulações

interinstitucionais para viabilizar a intervenção sobre os principais

pontos vulneráveis do atendimento à gestante e ao recém-nascido

quanto à sífilis na gestação e congênita. Partiu-se dos pontos levantados

pelo diagnóstico epidemiológico e dos serviços apresentados acima.

Por identificar problemas na organização do atendimento à gestante

no âmbito local e municipal optou-se por conduzir as reuniões para

planejamento e intervenção, garantindo a participação e o envolvimento

de gestores e técnicos locais. Treinamentos técnicos sem a

responsabilização de profissionais de saúde e gestores municipais têm

pequena chance de reverter em mudanças concretas no atendimento.

Foram organizados encontros com gestores municipais da área

materno-infantil para "problematização" do tema e levantamento dos

principais "nós críticos" a serem enfrentados no município, em conjunto

com o hospital.

Após obter-se a adesão dos técnicos em posição estratégica nas

secretarias municipais, foram agendadas Oficinas para discussão do

atendimento à sífilis congênita com profissionais das equipes de saúde

das Unidades Básicas de Saúde. A princípio realizaram-se Oficinas com o

município de Sumaré e a seguir com profissionais de saúde dos demais

municípios.

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Optou-se por garantir a participação ativa e o envolvimento dos

profissionais de saúde nas Oficinas de modo a facilitar o

comprometimento da equipe local e central das secretarias municipais

em eventuais mudanças na organização do serviço de saúde. Esta opção

metodológica definiu o formato da maioria das atividades de

intervenção. Além disso, a equipe de pesquisadores respondeu às

demandas provenientes das Oficinas, como: a organização de

treinamentos e assessorias visando obter impacto no atendimento à

sífilis congênita na microrregião. Para tanto a primeira atividade

organizada pelo Projeto foi a sensibilização dos técnicos e gestores

quanto a relevância do tema.

111.2. Sensibilização dos Gestores e técnicos

Para sensibilização dos profissionais de saúde sobre a necessidade

de rever o atendimento obstétrico na rede de saúde foram organizadas

duas atividades:

... Mesa Redonda abordando os aspectos técnicos e práticos da

sífilis, revisando protocolos obstétricos e pediátricos oficiais.

".Seminário sobre a inserção do hospital de ensino na

microrregião, com grupos de trabalho focados na reflexão sobre o

cuidado materno infantil e elaboração de um conjunto de diretrizes e

pressupostos que servirão como base para futuros projetos educativos

na região.

(descritos na Etapa I deste projeto)

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111.3. Educação Permanente de gestores

(As atas das Oficinas, lista de presença e os produtos do

Planejamento Estratégico desenvolvido nesta atividade constam dos

Anexos no Relatório Final la versão)

Na segunda etapa deste projeto deu-se seguimento à intervenção

junto às equipes municipais, correspondeu ao período de setembro a

junho de 2007.

'" Reuniões com gestores da Secretarias Municipais de

Saúde para formulação do projeto político pedagógico, a princípio com

o município de Sumaré (projeto piloto) e, posteriormente com os

municípios de Nova Odessa, Hortolândia, Santa Bárbara D'Oeste e

Monte Mor. (Anexo 1 e 2)

Foram realizadas 5 Reuniões/Oficinas com Sumaré, envolvendo as

áreas de Saúde da Mulher e Criança, Núcleo de Referência para

DST/Aids, Centro de Educação Permanente em Saúde, Vigilância

Epidemiológica e Área de Informação em Saúde. Uma delas contou com

a participação de dois representantes do Programa Nacional DST/Aids

(Anexo 3). Com o conjunto dos outros municípios foram organizadas 3

Reuniões/Oficinas com o mesmo objetivo (Anexo 4). Como resultados

da Oficina com gestores (nível central) da Secretaria Municipal de Saúde

de Sumaré foram identificadas 5 unidades Básicas de Saúde a serem

priorizadas para intervenção por contribuírem com a maior parte dos

casos de RN de baixo peso e sífilis congênita dos anos de estudo (Matão,

Centro de Saúde II, Nova Veneza, Picerno e Maria Antônia)

Nestas reuniões a temática da sífilis congênita enquanto problema

de saúde pública e o diagnóstico epidemiológico da microrregião foram

apresentados aos gestores. Optou-se pela "problematização" como

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Processa oJ.\'· -3"'5 S 10G

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proposta pedagógica, buscando a partir dela, a construção de uma

agenda de intervenção sobre a realidade diagnosticada, tomando a

educação permanente como estratégia de gestão.

A participação dos municípios no projeto ficou condicionada ao

apoio dos respectivos secretários de saúde e suas equipes. A partir das

discussões, foi trabalhada junto às equipes técnicas a importância do

desenvolvimento de seus protocolos de pré-natal e organização dos

serviços. Optou-se pelo trabalho envolvendo os coordenadores de

Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou Programa de Saúde da Família

(PSF) no nível local (descritas no item III.1.b), devido à sua posição

estratégica no sistema.

Alguns municípios como Nova Odessa e Santa Bárbara D'Oeste, que

apresentaram dificuldades políticas e técnicas na condução interna deste

processo, solicitaram e receberam visitas na forma de assessorias por

parte dos pesquisadores do projeto.

Como resultados da Oficina com gestores (nível central) da Secretaria

Municipal de Saúde de Sumaré foram identificadas 5 unidades Básicas de Saúde

a serem priorizadas para intervenção por contribuírem com a maior parte dos

casos de RN de baixo peso e sífilis congênita dos anos de estudo (Matão, Centro

de Saúde 11, Nova Veneza, Picemo e Maria Antônia)

'" Assessorias e Visitas aos Municípios de !\Iova Odessa e Santa

Bárbara D'Oeste

Foram realizadas 2 visitas aos municípios a partir de demandas

identificadas nas Reuniões e Oficinas de discussão sobre a qualidade do

pré-natal, redução da sífilis congênita e do baixo peso na microrregião.

Ficaram responsáveis por esta atividade 2 enfermeiras e 2 médicas

vinculadas a este projeto de investigação.

Cada uma das visitas teve carga horária de 4 horas, total 8 horas.

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o objetivo das visitas foi oferecer assessoria técnica e apoio

político aos técnicos que participaram das Oficinas para:

• Ampliação da governabilidade dos representantes indicados para

nas diretrizes ministeriais e adaptado à realidade local.

Os participantes desta etapa foram escolhidos estrategicamente

pelos representantes dos municípios no projeto. Participaram das

reuniões em Santa Bárbara D'Oeste 4 enfermeiras e a diretora clínica do

município; em Nova Odessa estiveram presentes 2 médicos

ginecologistas, 3 enfermeiras, o diretor de saúde e a gerente de

enfermagem.

Atividades desenvolvidas

• Apresentação do projeto e dos dados sobre sífilis congênita da

microrregião.

• Relato de experiências do município de Sumaré.

• Discussão sobre as particularidades de Nova Odessa e Santa

Bárbara D'Oeste para a elaboração de protocolo de pré-natal

(embasado nas diretrizes do Ministério da Saúde) e de estratégias

de ação para redução da sífilis congênita e do baixo peso e da

mortalidade materna.

O processo de educação permanente para os coordenadores de

UBSs e PSFs formulado junto aos gestores do nível central contou com a

participação destes coordenadores em todas as Oficinas. Foram

utilizadas estratégias de aprendizagem significativa e planejamento

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estratégico resultando em mudanças nos serviços e na atenção à saúde

da mulher dos municípios.

Estas atividades foram realizadas em 2 etapas. Na primeira optou­

se por iniciar as atividades com o município de Sumarél segundo

critérios apresentados no primeiro Relatório. Foram realizadas 4 Oficinas

com este município e 1 com os outros 4 municípios. (Anexo 5 e 6)

No primeiro caso a equipe de pesquisa propôs-se a acompanhar e

apoiar a execução do planejamento estratégico criado na la Oficina l

inclusive participando da construção de novos instrumentos gerenciais.

2aNa etapa foi dada maior autonomia às equipes técnicas na

condução do planejamento estratégico. A Oficina se desenvolveu a partir

do fluxograma apresentado pelos gestores do nível central das

Secretarias dos municípios. Os problemas e dificuldades foram colocados

pelos participantes e sistematizados segundo o método do planejamento

estratégico. Os itens abordados na Oficina foram: Quais as ações a

serem desencadeadas? Quais os níveis de governabilidade de cada ação

para serem cumpridas?

A continuidade deste processo para o detalhamento desta discussão

foi realizado no âmbito das Unidades Básicas de Saúde e equipes de

Saúde da Família. (Anexo 6)

O instrumento de avaliação proposto por Sumaré foi revisto e

adaptado às realidades dos outros municípios.

III.4. Educação Continuada/Treinamentos

Os treinamentos oferecidos foram decorrentes da demanda por

aprimoramentos técnicos identificada durante o processo de Educação

Permanente de gestores do nível local e central (item III.2 e III.3). O

formatol conteúdos e metodologia foram sugeridos pela equipe de

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pesquisadores e aprovados em reuniões com os gestores. Este grupo

priorizou os treinamentos em obstetrícia (pré-natal) para enfermeiros

com o objetivo de:

• Dar maior segurança à equipe em assumir o pré-natal junto com o

médico intercalando consultas conforme protocolos municipais.

• Facilitar maior envolvimento da equipe inclusive em relação à

organização do serviço para a atenção à mulher.

• Propiciar maior interlocução entre as equipes das unidades e do

Hospital Estadual Sumaré, inclusive com treinamento de algumas

enfermeiras dentro do hospital. Em casos especiais viabilizou-se a ida da

supervisora de enfermagem da maternidade do HES até algumas

unidades de saúde

Foram oferecidos 2 treinamentos para cerca de 80 enfermeiros,

sendo que no primeiro, realizado no município de Sumaré, foram

treinadas apenas enfermeiras de UBSs e PSFs que solicitaram este tipo

de apoio durante as Oficinas. No segundo, foi oferecido treinamento

para a totalidade dos enfermeiros de UBS e PSF dos 4 municípios.

Estes treinamentos tiveram carga horária total de 12 horas, sendo 4

horas de aula teórica com ênfase na identificação de sinais de alerta

para gestação de alto risco, seguida de 8 horas de treinamento prático

em pré-natal realizados nas UBS dos municípios em grupos de no

máximo 8 pessoas.

IV - Resultados

Serão apresentadas as principais questões a serem enfrentadas nos

serviços de saúde para enfrentamento da sífilis congênita e os

encaminhamentos decorrentes das Oficinas com gestores municipais e

das Oficinas realizadas com as equipes locais (coordenadores de UBS e

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profissionais diretamente envolvidos com o atendimento obstétrico das

redes municipais)

Como resultado geral decorrente do processo desencadeado por

este projeto, destaca-se o consenso por parte dos gestores municipais

sobre a necessidade de intervenção no pré-natal e no controle da sífilis

congênita e do baixo peso ao nascer na microrregião.

As principais questões levantadas nas Oficinas por parte dos

técnicos e gestores das UBS sobre a sífilis congênita e seu

enfrentamento foram:

• Falta de legitimidade do coordenador das Unidades Básicas de

Saúde (UBS) para a intervenção na organização dos serviços de saúde e

nas agendas de médicos obstetras.

• Baixa capacitação da enfermagem para atendimento pré-natal e

identificação de sinais de risco da gestante.

• Pequena formação dos coordenadores das UBS na área de gestão

e planejamento em saúde.

• Inadequada resposta (atrasos de resultados) por parte de

laboratórios de análise clínica de referência da rede básica.

• Problemas no fluxo dos resultados de exames laboratoriais no pré­

natal da UBS

• Precária informação por parte dos hospitais de referência

obstétrica na microrregião quanto a complicações durante o parto e

atendimento ao recém-nascido.

Os principais encaminhamentos às questões levantadas foram:

• Incentivo à incorporação pelo coordenador do seu papel estratégico na

organização do serviço para a qualificação do pré-natal.

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• Ampliação da capacidade técnica do coordenador na organização do

serviço para um pré-natal de qualidade (treinamentos).

• Ampliação da sua capacidade em problematizar a realidade local,

identificando nós críticos a partir da experiência nas Oficinas.

• Revisão por parte da secretaria municipal de Sumaré de seu contrato

com o Laboratório de referência para exames sorológicos.

• Aceleração da implantação dos protocolos de pré-natal nos municípios

de acordo com a realidade de cada um e de cada unidade deste.

• Elaboração de planejamento estratégico na gestão local a partir da

reprodução, pelo coordenador, das oficinas junto às suas equipes.

• Descentralização da "via rosa" da Declaração de Nascidos Vivos para as

UBS.

• Definição de condições traçadoras (sífilis congênita, internação maior

que 48 hs da mãe e/ou RN, óbito fetal, natimorto, SC, baixo peso, Apgar

menor que 5 no 50 minuto) para serem trabalhadas junto às equipes

locais como evento sentinela

• Criação de instrumento de avaliação da qualidade do pré-natal,

desenvolvido a partir do protocolo do município, utilizado pelo

coordenador na avaliação de eventos sentinela, discussão de casos com

as equipes e, em algumas unidades, como estratégia de organização e

acompanhamento do pré-natal sendo aplicada em 100% das gestantes.

(Anexo 7)

v - Impacto do projeto e perspectivas futuras na

microrregião

A erradicação de doenças preveníveis com as particularidades da

sífilis congênita exige das equipes locais de saúde, Secretarias

Municipais, Estaduais e Ministério da Saúde, criatividade para o

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saúde, entre muitas outras, devem ser encaradas pelos gestores,

gerentes e profissionais de saúde não apenas como fundamentais, mas

estratégicas para que este objetivo seja alcançado.

A experiência aqui apresentada demonstra um dos percursos

percorridos por este projeto de investigação e intervenção na tentativa

tomar para si a responsabilidade da ação sobre a realidade

diagnosticada por meio da articulação com outras áreas da rede de

serviços de saúde da microrregião, provocando, incentivando e

apoiando-os no enfrentamento de seus problemas de saúde.

Uma das principais estratégias operadas foi a aposta na

articulação entre pessoas. Durante todo o processo, foram inúmeros os

grupos que se encontraram nas mais diferentes composições, trazendo

para a equipe de pesquisadores a responsabilidade de aglomerar as

pessoas certas e coordenar a construção e execução de um projeto

coletivo de intervenção a partir da articulação dos diferentes saberes e

das diferentes necessidades que se apresentaram. Teve sua

governabilidade construída junto aos Secretários Municipais de Saúde e

suas equipes e trouxe intrinsecamente a responsabilização dos atores

envolvidos. Operou com diversas tecnologias como, por exemplo, a

epidemiologia, o planejamento estratégico, a educação permanente, a

medicina baseada em evidências, entre outras, o que possibilitou a

construção de propostas concretas para o enfrentamento da realidade, e

a experimentação de novas práticas por alguns gestores e gerentes das

unidades de saúde, em um processo ativo de ampliação da capacidade

destes atores em implementar políticas e resolver conflitos.

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Folhas .~ ;t.. 4 Processo OJ.'?3P1~Ya'd3 Rúbrica Cov

A sífilis congênita foi abordada, em grande parte do projeto, a

partir dos diagnósticos epidemiológicos produzidos e da qualificação da

linha do cuidado da saúde da mulher em sua questão obstétrica. A

iniciativa de implementar ações mais integrais de saúde a partir do

gerenciamento de um determinado cuidado concreto, mostrou-se de

grande potência para ser utilizado como dispositivo para

problematização e mudança de práticas.

Como fruto deste projeto foi encaminhado e publicado artigo na

Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde do Ministério da Saúde sobre

o tema com os primeiros dados levantados por esta investigação.

Considerações Finais

A eliminação da sífilis congênita ainda não é uma realidade na

região de estudo, apesar da meta nacional assumida em 1993 para o

fim dos casos novos em 2000. Entretanto, é importante levar em

consideração a ampliação dos critérios de definição da doença para fins

de vigilância epidemiológica ocorrida em 2004, fato que talvez colabore

para o aumento das notificações de casos na região do estudo nos

últimos anos.

Os resultados aqui apresentados referem-se à totalidade dos casos

notificados na região e no período, não constituindo, portanto, uma

amostra. Refletem em parte o que ocorre com o atendimento dos casos

de sífilis na gestante e de sífilis congênita na região e talvez em outras

regiões do estado de São Paulo.

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